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ISSN 1984-9583 Edição Especial Ano II - n. 6 -out/dez 2010 P P Por um or um or um or um or um Garantismo Garantismo Garantismo Garantismo Garantismo P P Penal Integral enal Integral enal Integral enal Integral enal Integral P P Por um or um or um or um or um Garantismo Garantismo Garantismo Garantismo Garantismo P P Penal Integral enal Integral enal Integral enal Integral enal Integral

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Fato Típico - out/dez 2010

ISSN 1984-9583

Edição Especial

Ano II - n. 6 -out/dez 2010

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Fato Típico - Goiânia, ano II, n° 6, out/dez 20102

Ano II - n. 6 - 2010

Fato TípicoRevista do Núcleo de Persecução Criminal daProcuradoria da República em Goiás (PR/GO)

Chefe da PR/GOMarco Túlio de Oliveira e Silva

Coordenador do Núcleo de Persecução CriminalMarcelo Ribeiro de Oliveira

Conselho EditorialDaniel de Resende SalgadoLéa Batista de OliveiraWladimir Ferreira LimaViviane Sousa Lima Ribeiro de OliveiraLucas Carvalho de OliveiraMarcos Lee Araújo Matsunaga

ColaboraçãoMartha Izabel de Sousa Duarte

Produção jornalística(projeto gráfico, diagramação, reportagens e fotos)Ascom da PR/GOAldo RizzoJoanatha MoreiraMurillo Buaretto

RevisãoLudmila Pavlovna Déroulède

EndereçoAvenida Olinda, Edifício Rosângela Pofahl Batista,Quadra “G”, Lote 2, Park Lozandes, Goiânia/GOCEP 74884 120Fone: (62) 3243-5400E-mail: [email protected]

Internetwww.prgo.mpf.gov.br/fato_tipico

Tiragem1.000 exemplares

Expediente

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04 Persecução e Investigação

Nesta edição

ISSN 1984-9583

Quem está preso noBrasil?14

Para modificar opensamento

Opinião

Congresso

08 Entraves ao cambate àcorrupção

O fenômeno dasorganizações criminosas10

Quando a colaboração docriminoso é a solução12

Interceptação telefônica nasolução de crimes13

Opinião

Raquel Dodge

Artur Gueiros

Janice Ascari

Gilton Brito

Abel Gomes

Ouça na internet o áudio das palestras docongresso “Liberalismo, Comunitarismo eGarantismo Penal Integral: perspectivas

contemporâneas” em:www.prgo.mpf.gov.br/fato_tipico

Fato Típico - out/dez 2010 3

Editorial

Prezado leitor,

A Procuradoria da República em Goiás e aEscola Superior do Ministério Público daUnião realizaram, pelo terceiro ano

consecutivo, seu congresso sobre o sistema penal.Neste ano, com o tema “Liberalismo,Comunitarismo e Garantismo Penal Integral:perspectivas contemporâneas”, buscou-se debatera atuação do Estado no enfrentamento àcriminalidade e suas novas perspectivas. Comonão poderia deixar de ser, a Revista Fato Típicovem colaborar com a renovação da culturajurídico-penal, multiplicando as discussões e osconhecimentos teóricos e práticos apreendidosdurante o congresso.

Como resultado desses debates, auferiu-se que odireito penal deve reagir de modo equânime àdanosidade social da ação criminosa. Essaexigência é irrenunciável do ponto de vista ético-político. Ao partir de um fator diferencial(macrocriminalidade), estabelece-se umtratamento desigual (utilização de técnicasespeciais de investigação, por exemplo) que ensejea igualização material do sistema penal. Nessesentido, o enfrentamento à macrocriminalidadeconstitui uma exigência de igualdade, requerendoforte atuação dos agentes do Estado.

Deveras, sabe-se que a persecução àcriminalidade graúda não terá eficácia se osagentes estatais a enfrentarem nos mesmosmoldes do delinquente comum. Logicamente, outrasaída não há senão a utilização dos meiosnecessários à investigação e à persecução dessescrimes. Em muitos casos, as técnicas especiaisde investigação, como a interceptação telefônicae a colaboração premiada, são instrumentosessenciais ao desfecho do caso concreto. Arealidade exige uma postura diferente do Estado,rechaçando a impunidade decorrente dadificuldade de se produzir provas, que, inclusive,é um dos maiores entraves ao combate à corrupçãono Brasil.

De fato, os crimes relacionados à corrupção

impedem o desenvolvimento socioeconômico dopaís ao desviar os recursos estatais que seriamutilizados para a execução de políticas públicasque intentam efetivar os objetivos fundamentaisda República. Malgrado inúmeros obstáculos,como o foco excessivo na criação de leis, osórgãos responsáveis pela persecução penal devemsuperar essas barreiras, empregando meios paraa aplicação da norma, fazendo-a valer para todos.

Nesse sentido, não pode o direito penal continuarsendo aplicado como um mero mecanismo dedivisão social, selecionando um perfil específicode criminosos a serem punidos. Há de se repelir atolerância com os criminosos de colarinho branco.A punição não deve ater-se aos crimes tradicionais,mas ser também aplicada à criminalidadeeconômica e aos crimes cometidos pororganizações criminosas.

Entretanto, essas perspectivas de mudança noordenamento jurídico-penal acarretam forteresistência no establishment doutrinário e político,que contesta a efetividade do direito penal comoinstrumento de proteção de direitos fundamentaisdifusos ou coletivos. Calha asseverar que o projetogarantista, quando aferido de forma integral, nãose coaduna com um minimalismo radical, masresulta de uma síntese entre a proibição de excessoe a proibição de insuficiência do Estado, ou seja,da coexistência das funções dos direitosfundamentais. Sendo assim, o Estado tem o deverde proteger a sociedade sem, contudo, violar osdireitos fundamentais.

Portanto, os direitos de liberdade, de um lado, e asatisfação de necessidades fundamentais, de outro,não devem formar um quadro de rivalização, masde complementação. Defende-se, desse modo,que a legitimação da Justiça criminal passe poruma revisão tanto da teoria quanto da práticapenal, consentâneo aos valores do EstadoDemocrático de Direito, vale dizer, que alcance acriminalidade de efetiva lesividade social.

Lucas Carvalho de Oliveira

Fato Típico - Goiânia, ano II, n° 6, out/dez 20104

Julya Sotto

Persecução e investigação:Instrumentos para a efetividade

do Sistema Penal

Sálua Omais

Congresso

No terceiro ano em que Goiás é colocadono centro das discussões sobre o SistemaPenal no Brasil, a Escola Superior do

Ministério Público da União (ESMPU) apostouem uma abordagem mais prática para asdiscussões com o tema “Liberalismo,Comunitarismo e Garantismo Penal Integral:perspectivas contemporâneas” (de 14 a 16 desetembro de 2010). Após discutir, em 2008, osistema na dialética do Estado protetor/coibidor, oCongresso voltou-se, em 2009, para uma buscapelo equilíbrio. Neste ano, o trabalho centrou-sena discussão das práticas que asseguram, mesmoque deficientemente, o alcance da efetivapersecução e punição dos criminosos.

“Pelo terceiro ano discutimos o sistema penal.Esses eventos começaram em 2008, quandoverificamos que as concepções do sistema penalestavam sendo disseminadas de forma unilaterale monocular. Naquele ano, com o temaPerspectivas Relegitimadoras do Sistema Penal,debatemos o sistema a partir do princípio daproibição da proteção deficiente. Até então, asdiscussões se pautavam somente no princípio daproibição do excesso, ou seja, o sistema apenascomo instrumento de contenção do poder punitivodo Estado e não como instrumento de legítimadefesa da sociedade. Em 2009, com o temaSistema Penal no Estado Social e Democráticode Direito, procuramos nos afastar um pouco doideário liberal-iluminista e apresentar o Estado

como garantidor dos direitos fundamentais e nãocomo um violador desses direitos. Neste ano,tratamos o Sistema Penal sob uma perspectivaanalítica da atuação dos agentes de persecuçãocriminal, bem como avaliamos a validação de algunsmétodos especiais de investigação”, justifica oprocurador da República em Goiás, Daniel deResende Salgado, idealizador dos congressos.

Para o chefe da Procuradoria da República emGoiás (PR/GO), Marco Túlio de Oliveira e Silva,foi uma satisfação abrir, pelo terceiro anoconsecutivo, o congresso. “Os temas tratados sãoimportantes para a compreensão da ineficácia dosistema penal brasileiro. O que considero maisimportante nesse congresso é que os palestrantesnão falam distanciadamente dos problemas, poisvivem no dia a dia a realidade do sistema penal,trabalham com casos de grande repercussão, nãosão apenas acadêmicos, mas aliam a teoria àprática penal”, pontua.

AberturaPara compor a mesa de abertura do evento, o chefeda Procuradoria da República em Goiás (PR/GO),Marco Túlio de Oliveira e Silva, convidou o juizfederal diretor do Foro, Carlos Augusto TôrresNobre; o promotor de Justiça e coordenadorcriminal do Ministério Público do Estado de Goiás,José Carlos Miranda Nery Júnior; osuperintendente da Polícia Federal em Goiás,Carlos Antônio da Silva e o diretor da Faculdadede Direito da Universidade Federal de Goiás,

Fato Típico - out/dez 2010 5

Cleuler Barbosa das Neves.

O perfil do público do evento foi de operadoresdo Direito, estudantes e representantes dediversas instituições (Ministério Público Federal,Justiça Federal, Polícia Federal, Polícia RodoviáriaFederal, Ministério Público Estadual). Com maisde 200 participantes, o congresso marcoudefinitivamente a sua presença na pauta doseventos jurídicos no Brasil que debatem o sistemapenal na atualidade.

PalestrasAo todo, foram cinco palestras. Para abrir ostrabalhos, foi escolhido o tema “Avanços eRetrocessos no Enfrentamento à Corrupção”,proferido pela subprocuradora-geral da RepúblicaRaquel Elias F. Dodge, que abordou os hiatosentre a lei e a aplicação prática da norma comoum dos entraves ao combate dessa mazela social.

A segunda palestra do primeiro dia foi ministradapelo desembargador federal do Tribunal RegionalFederal da 2ª Região (TRF-2), Abel Gomes. Como tema “Crime do Colarinho Branco e Seletividadedo Sistema Penal”, o magistrado criticou aexistência de uma casta pouco alcançada peloSistema Penal. “Se alguns praticam crimes, maspara certas situações nada acontece, o sistemacai no descrédito, não sendo bom para asociedade”, lamenta.

No segundo dia de evento, com a palestra “CrimeOrganizado: mito ou realidade”, o procuradorregional da República no Rio de Janeiro e doutorem Direito, Artur de Brito Gueiros de Souza,constatou que os “vazios” deixados pelo Estadosão ocupados pelo crime organizado, colocandoem pauta as máfias brasileiras, principalmente asmilícias existentes nos morros cariocas.

No último dia, duas palestras trataram das práticasde persecução e dos métodos especiais deinvestigação. A procuradora regional da Repúblicaem São Paulo, Janice Agostinho Barreto Ascari,debateu a colaboração premiada. Ela apresentouum pequeno histórico do uso deste instrumentono Brasil e em outros países. “Não nos cabe avaliaro motivo que leva o réu a colaborar”, assevera.

O juiz federal em Pernambuco, Gilton BatistaBrito, proferiu a última palestra. O tema foi ainterceptação telefônica. Com um toque dedescontração, o magistrado iniciou suaapresentação com um vídeo embalado pelo “funkproibidão”. A didática serviu para expor comoessas técnicas especiais de investigação sãocruciais para a solução de muitos delitos cometidospor uma camada graduada de criminosos.

Ao longo desta edição da Fato Típico serádetalhado o conteúdo das palestras, bem comoressaltados os debates e opiniões sobre o evento.Boa leitura!

Composição da Mesa por ocasião da abertura do congresso (da esquerda para a direita):Carlos Antônio da Silva (Superintendente da Polícia Federal/GO),Carlos Augusto Tôrres Nobre (Juiz Federal Diretor do Foro),Marco Túlio de Oliveira e Silva (Procurador da República,Chefe da PR/GO), José Carlos Miranda Nery Júnior (Promotorde Justiça e Coordenador do Centro de ApoioOperacional Criminal do MinistérioPúblico Estadual de Goiás) eCleuber Barbosadas Neves (Diretorda Faculdade deDireito da UFG)

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“Um evento como esse é a grande forma que temos para modificar o pensamento,contribuindo com mais ideias e instigando mais mentes a pensarem, a fim demodificar esse quadro”, Abel Gomes, Desembargador Federal.

Para modificar o pensamentoOpinião

Opinião de alguns dos palestrantessobre o congresso:

“A Procuradoria da República em Goiás está de parabéns pela terceira ediçãodo evento. É uma contribuição muito importante para todos nós que atuamosna área criminal – que é a função mais relevante do Ministério Público, pois éa única que lhe é exclusiva, vez que titular da ação penal. Nesses eventospodemos realizar uma análise coletiva e tirar dúvidas, trocar experiências. Éum momento salutar”, Janice Ascari, Procuradora Regional da República.

“Eu vejo positivamente eventos como esse e para mim é uma satisfação enormeparticipar deste momento ímpar”, Artur Brito, Procurador Regional da República.

“Eu acho esse evento uma ideia extremamente feliz e oportuna da Procuradoriada República no Estado de Goiás. Aqueles que o conceberam com esseobjeto de estudo estão estimulando uma atitude mais cuidadosa e crítica domodelo de sistema penal que temos atualmente no Brasil”, Raquel Dodge,Subprocuradora-Geral da República.

O Congresso “Liberalismo, Comunitarismo e Garantismo Penal Integral: perspectivas contemporâneas”aconteceu no auditório da Procuradoria da República em Goiás.

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“É muito importante discutirmos organizações criminosas porque, dado um contexto em que a violênciaestá cada vez mais imiscuída com o Estado, é preciso criar mecanismos para efetivamente enfrentá-la. E,com certeza, um dos meios que acredito mais eficaz seria a utilização dos métodos especiais deinvestigação. Com relação às palestras, elas foram úteis por discutirem, entre outros, o conceito deorganização criminosa, ou seja, se é uma norma penal em branco ou se é um método de interpretaçãoadotado por nosso ordenamento jurídico.” Lucas Carvalho – Estagiário PR/GO.

“As palestras foram muito esclarecedoras. Gostei das exposições. No último dia, por exemplo,gostei da palestra sobre interceptação telefônica. Sem dúvida, a apresentação da procuradoraJanice Ascari (colaboração premiada) esclareceu muito sobre o tema, especialmente parapessoas como nós, que militam, na prática e no dia a dia, o sistema penal.” Divino Donizette– Procurador da República.

“As palestras foram essenciais, pois expuseram aquilo de que estamos precisando: a doutrina com análisespráticas. O que podemos, o que não podemos, como chegar à efetivação dos processos. Foi excelente.Gostaria que houvesse mais eventos assim!” Noilma Silva – Subtenente na Corregedoria da PM/GO.

“Achei excelente porque nos ajuda a pensar de maneira mais ampla o fenômeno dacriminalidade organizada. Para mim, que tenho interesse na questão do setor público, foibastante elucidativa e informativa. Gostei da oportunidade de um debate qualificado, quetrouxe uma conceituação por parte dos teóricos do direito em relação ao formato do crimeorganizado e discussões novas, no campo jurídico e sociológico, sobre a evolução docombate à essa questão.” Paula Covo – Antropóloga.

“Este é um evento que já está criando uma tradição em Goiás, um congresso que se propõe a discutir odireito penal crítico, algo muito carente na sociedade em geral. Eu o avalio de uma maneira bem positiva,principalmente após a palestra de Janice Ascari. E o que ela traz de mais útil é a abertura de novoshorizontes, pois isso gera pensamento crítico quanto ao sistema penal no sentido de buscar sua melhoria,efetividade e legitimação.” Diogo de Araújo Aguiar – Advogado.

“Achei o evento excelente e bem organizado. Os temas são atuais e continuarão a ser, poistrata-se de um trabalho contínuo que vem sendo executado sob todos os aspectos discutidosno congresso. Eventos como este, inicialmente, trazem e aproximam pessoas que trabalhamcom um mesmo objetivo nas instituições: Polícia Federal, Ministério Público Federal e outrosórgãos. O segundo ponto interessante é o repasse de novas informações, muitas vezesdispersas. Momentos assim permitem a convergência de ideias e se tornam fonte de dadosnão facilmente disponíveis corriqueiramente.” Rodrigo de Lucca – Delegado da Polícia Federal.

Comentários do público

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Entraves aocombate àcorrupção

Raquel Elias Ferreira Dodge. Mestre em Direito porHarvard (EUA), subprocuradora-geral da República,com atuação em matéria criminal e coordenadorada 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF.

Atuou na equipe que obteve a condenação dosmembros da quadrilha liderada por Hildebrando

Pascoal no Acre e no “Panettonegate” que afastouo Governador Arruda em Brasília.

Raquel Dodge

Basta acompanhar diariamente o noticiáriona mídia para se informar sobre uma sériede escândalos de corrupção que ocorrem

no Brasil. Lavagem de dinheiro, superfaturamentode obras públicas e desvio de verbas são apenasalgumas das tipificações dessa prática, realizada,na maioria das vezes, no interior de gabinetes ede forma dissimulada. Diante desse quadropeculiar é que essa temática foi escolhida paraabrir o Congresso, com a palestra “Avanços eretrocessos no enfrentamento à corrupção”,proferida pela subprocuradora-geral da República,Raquel Elias Ferreira Dodge.

De acordo com a palestrante, os prejuízoscausados por essa prática são enormes e atingemtoda a sociedade, seja ao se tentar realizar uma

cirurgia em um hospital público e não conseguir, por faltados aparelhos necessários não comprados por desvio deverbas, seja ao sofrer um acidente numa estrada malpavimentada, já que governantes não aplicaram o dinheirocomo deveriam nesse serviço.

Com o objetivo de apontar motivos que dificultam oenfrentamento a essas práticas e levantar possíveis soluçõesao problema, Raquel Dodge elencou as razões que devemser resolvidas com urgência para garantir maior eficiênciana luta contra as condutas corruptoras. “A corrupção afetaobras, serviços e a moral públicos. É uma prática insidiosaque dilacera direitos, cidadãos e instituições.”

MotivosSegundo ela, um dos fatores de grande responsabilidade noprocesso de enfrentamento à corrupção é a dedicaçãoexcessiva dada, ao longo das décadas, à descrição legal.

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“A corrupção é uma práticainsidiosa que dilacera direitos,

cidadãos e instituições”

Em mais de 50 anos, houve grande aprimoramento da leipenal a respeito das práticas classificadas como corrupção.Crimes de mais diversas naturezas – desde os que envolvemquestões eleitorais até processos de licitação – foram, poucoa pouco, entrando no rol da corrupção.

Esse aperfeiçoamento apresentou ganhos institucionais, deforma que a lei penal brasileira é reconhecidamenteexemplar. Entretanto, segundo a subprocuradora-geral daRepública, as práticas irregulares por parte de políticos e decidadãos em geral não acompanharam esse aprimoramento.“Não há sinais de que a corrupção tenha diminuído”, declaraRaquel Dodge, que completa: “Acabamos desviando nossaatenção do judiciário para o legislativo e procurando na leiuma solução quando já temos leis excelentes, mas há umadívida na aplicação”.

Outro entrave ao combate a práticas ilícitas é a distinçãofeita na aplicabilidade das leis. De acordo com Raquel Dodge,ainda é difícil fazer com que a lei seja aplicada igualmentepara todos. Isso se deve, de início, à impunidade decorrenteda dificuldade de se acessar a prova do crime, por falta deuma investigação eficiente, de peritos treinados e disponíveis.

Além disso, o foro privilegiado é outro elemento quediferencia a aplicação da lei entre os indivíduos. Esseprivilégio permite que autoridades políticas sejam julgadasem tribunais diferentes dos de primeira instância. “Enquantonão eliminarmos o foro privilegiado, deveremos em termosde cultivo de valores republicanos e democráticos”, defendeRaquel Dodge.

Segundo a subprocuradora-geral da República, outra questãodeve ser analisada com grande dedicação pelos operadoresdo Direito. É preciso verificar se os obstáculos que têmsido apontados pelos tribunais com relação à aplicação dalei penal podem ser superados sem a reforma da lei. Énecessário, ainda, haver coerência na definição da pena justaa ser aplicada aos infratores que cometem corrupção.Diferentes teorias geram interpretações diferenciadas comrelação às sanções penais. De acordo com Raquel Dodge,esse processo complica ainda mais a punição dos corruptos.

Diante de tais problemas, é fundamental que os operadoresdo Direito os analisem com profundidade e ajam no sentidode promover a maior eficiência do sistema penal. Casocontrário, os mesmos problemas já apontados pelo penalistaNelson Hungria há mais de 60 anos jamais serão superados.Com isso, um dos direitos mais importantes do cidadão nãoserá praticado: o direito de não ser vítima da corrupção.

Procurador da RepúblicaRaphael Perissé Rodrigues Barbosa

foi o debatedor na palestrade Raquel Dodge.

Procurador da RepúblicaDaniel de Resende Salgado

presidiu a mesa.

Os entraves- Foco excessivo na criação deleis, gerando inflação legislativa;

- Dificuldade de fazer a lei valer paratodos;

- Dificuldade na aplicação da lei.

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O fenômeno dasorganizaçõescriminosas

Elas podem atuar apenas em nível localcomo também podem agir nas esferasnacional e internacional. Podem envolver

poucos ou centenas de agentes. Algumas agemmomentaneamente enquanto outras constroemgrandes estruturas capazes de durar muito tempo.Seja como for, fato é que as organizaçõescriminosas são uma realidade no Brasil e no mundomoderno. Embora a conceituação do termo e omodo de atuação do sistema judiciário no seucombate ainda sejam discutidas, segundo oprocurador regional da República no Rio deJaneiro, Artur de Brito Gueiros, uma coisa é certa:o Sistema Penal precisa possuir mecanismosadequados para enfrentá-las.

Em sua palestra, ocorrida no segundo dia doCongresso, o procurador ressaltou a necessidadede uma normatização adequada desse fenômeno.“Há a lei 9.034/95, emendada em 2000, mas elatrata do processo penal, de técnicas de

investigação; não conceitua adequadamente asorganizações criminosas”, explica. Segundo ele,é preciso que haja a inserção de um artigo noCódigo Penal que defina melhor e estabeleçapenas adequadas para esse tipo de crime.

De acordo com o Federal Bureau of Investigations(FBI), o crime organizado ocorre quando qualquergrupo se estrutura para agir ilegalmente com oobjetivo de obter lucros. Para isso, esses gruposnormalmente usam da violência, da coerção e dacorrupção de agentes públicos. Segundo oprofessor de Direito Penal da Universidade deFrankfurt, Winfried Hassemer, uma dasmotivações que levam as organizações criminosas,em todo o mundo, a se constituírem é a busca depoder econômico e político.

MilíciasPara exemplificar esse fenômeno, Artur Gueiroscitou, ao longo da palestra, um dos casos maisconhecidos no país: as milícias. Presentes emgrande parte das 600 favelas no Rio de Janeiro,as milícias surgem pregando a ideia de que sãouma oposição ao narcotráfico e que existem pararestaurar a ordem pública em certos locais nacidade carioca.

Apesar de levantarem essas bandeiras, o que seconstata é que os milicianos se dedicam a explorareconomicamente os moradores das comunidades.Isso ocorre por meio da prestação de uma sériede serviços àquelas populações: transportepúblico, fornecimento ilegal de gás, de internetem lan houses, de canais a cabo, entre outros.Outro problema é que, em algumas comunidades,as milícias exploram até mesmo o narcotráficoque elas prometeram combater.

Artur Gueiros

Artur de Brito Gueiros.Procurador Regional da República na 2ª Região, com

atuação na área criminal e professor da UERJ. Doutor emDireito pela USP. Atuou nos escândalos dos bancos

Marka/Fonte Cindam, Banco Nacional, Caso Papatudo,Escândalo da Previdência, Grampo do BNDES e

Escândalo dos Precatórios. Obras: “As novas tendênciasdo direito extradicional” e “Presos Estrangeiros no Brasil”.

Fato Típico - out/dez 2010 11

Uma série de estudos cruzam dados da atuaçãoda milícia com a incidência de serviços, tais comoredes de água, escolas, proximidades de hospitaise saneamento. “Quanto mais debilitados osserviços básicos, mais presentes as milícias ou osseus opositores, os narcotraficantes. O avanço dosmilicianos demonstra uma omissão do Estado.”

Segundo Artur Gueiros, há semelhanças entre asmilícias e o tráfico. Tanto quanto o traficante, amilícia tem controle territorial, age impondo a suapresença e explora economicamente outros. Nocaso do tráfico, trata-se de uma “monocultura” –só se vende drogas. Já na milícia, há umapluralidade de serviços e produtos explorados. Umfator que diferencia os dois fenômenos é que amilícia busca se legitimar perante a comunidade.“É como se os milicianos dissessem: 'estamos aquipara a acabar com o caos causado pelo tráfico' ”,explica o procurador regional da República.

Possível alternativaEstudiosos do tema apontam as chamadasUnidades de Polícia Pacificadoras (UPP) comouma alternativa ao problema das milícias. Segundoa Secretaria de Segurança Pública do RJ, as UPPspromovem a aproximação entre a população e apolícia e fortalece políticas sociais nascomunidades. Embora sejam um fenômenorecente – estouraram em 2006, implementadaspelo governo estadual –, Artur Gueiros ressaltaque elas podem, sim, ser uma saída para o ambientesocial de narcotraficantes e milicianos. Mas oprocurador pondera: “elas não são a saída mágica.Trata-se de um projeto de longo prazo”.

PercepçõesSegundo o procurador regional da República, navertente criminológica há uma visão que considerao crime organizado como um mito; outra que oconsidera um “Leviatã” (monstro mitológico) queirá devorar o Estado e uma última linha depensamento que não nega a existência dessasorganizações, mas as vê como algo inerente àsociedade e que deve ser combatido.

Já na esfera político-criminal, há três correntes:1) o Direito Penal não deveria tratar do crimeorganizado, pois a matéria caberia à esferaadministrativa; 2) o Direito Penal até pode tratar

do assunto, mas não deve aplicar penas privativasde liberdade; 3) é necessária a intervenção penalnesse fenômeno, inclusive aplicando penas deprisão para os milicianos. Para Artur de BritoGueiros, embora não se trate de uma realidadesimples, “o Poder Judiciário, o Ministério Públicoe as agências de segurança pública precisamenfrentá-la, fortalecendo os instrumentos aptosa esse enfrentamento”.

Procuradora da República Léa Batista de Oliveira presidiu amesa na palestra de Artur Gueiros. O Promotor de JustiçaAdriano Godoy Firmino (abaixo) foi o debatedor.

Características das Milícias- controle territorial;

- coação da presença;- exploração econômica;

- legitimação.

“O avanço dos milicianos demonstrauma omissão do Estado”

Fato Típico - Goiânia, ano II, n° 6, out/dez 201012

O tema é polêmico. Exatamente por isso,gera acaloradas discussões entre osoperadores do Direito e a sociedade. Para

tratar do assunto e contribuir para o debate, ocongresso “Liberalismo, Comunitarismo eGarantismo Penal Integral: perspectivascontemporâneas” recebeu a procuradora regionalda República em São Paulo, Janice AgostinhoBarreto Ascari. Em sua palestra, a procuradora,que é membro da Academia Brasileira de DireitoPenal, defendeu a prática conhecida como“colaboração premiada”.

Grosso modo, essa técnica de investigação –também chamada de “delação premiada” –consiste na concessão de algum benefício aocriminoso que resolva colaborar com a Justiça nainvestigação de um fato. Essa colaboração podeocorrer das mais diversas maneiras: quando apessoa entrega seus companheiros, informaesconderijos, elucida manobras arquitetadas pelogrupo ou quadrilha, entre outras.

De acordo com Janice Ascari, a concessão dessebenefício ocorreu primeiramente na Itália. Após,a prática começou a ser comum em países comoEstados Unidos e Inglaterra. No Brasil, as

Janice Ascari

primeiras alterações no ordenamento jurídico a respeitodesse tema ocorreram no final do século passado. Segundoa palestrante, em outras nações a colaboração premiadanão só é aceita, como bastante incentivada.

Aqui, o benefício está previsto em diversas leis, entre elas:8.072/90 – Crimes Hediondos e equiparados; 9.034/95 –Organizações Criminosas; 7.492/86 – Crimes contra oSistema Financeiro Nacional; 8.137/90 – Crimes contra aOrdem Tributária, Econômica e contra as Relações deConsumo; 9.613/98 – Lavagem de Dinheiro; 9.807/99 –Proteção a Testemunhas; 8.884/94 – Infrações contra aOrdem Econômica e 11.343/06 – Drogas e afins.

A depender do teor da colaboração, o acusado pode serbeneficiado com a diminuição de pena e, até mesmo, com operdão judicial. “É uma prática benéfica para toda asociedade e interessante para todos os envolvidos: elucida-se um crime, previne-se a prática de outros e dá-se umbenefício ao réu que colaborou”, defende a procuradoraregional da República.

Há quem aponte a colaboração premiada como uma traição.Há também aqueles que afirmam que a delação é antiéticae antipedagógica, vez que prega que trair traz benefícios.Apesar dos contrapontos, a procuradora regional daRepública defende uma outra ótica, que ressalta os aspectospositivos que essa prática traz para o processo penal. Janice

Quando acolaboraçãodo criminosoé a solução

Janice Agostinho Barreto Ascari. Procuradora Regional da República. Mestre em Direito, especialista emMercado Financeiro e de Capitais. É membro da Academia Brasileira de Direito Criminal.

Fato Típico - out/dez 2010 13

“Os administradores daAvestruz Master tentavam, de

todas as formas, burlar e escaparda fiscalização da CVM”

Julya Sotto

Ascari afirma que, a partir do momento em que oréu ou investigado resolveu colaborar, não se deveavaliar as razões que o levaram a isso. “O queimporta é que ele está colaborando com aelucidação dos crimes e contribuindo para orestabelecimento da ordem jurídica.”

Quanto às funções inerentes ao Ministério PúblicoFederal nessa pauta, a palestrante ressalta quecabe ao órgão – titular exclusivo da ação penal –incentivar ainda mais a prática. Segundo JaniceAscari, para que a colaboração ocorra comeficácia, o órgão deve formalizar e fazer cumpriros benefícios que foram acertados com o réu emtroca da colaboração. “Desde que a colaboraçãoseja efetiva e de qualidade, nada mais natural queos colaboradores sejam beneficiados”, finaliza.

Gilton Brito

Não há como desvincular a persecução penal docontexto no qual ela é aplicada. Foi com essa ideiaque o juiz federal em Pernambuco Gilton Batista

Brito proferiu a palestra sobre o tema “Interceptaçãotelefônica: aspectos polêmicos” no último dia do Congresso.Para compreender claramente o que o magistrado quis dizer,é preciso resgatar a maneira descontraída com que ele abriua sua palestra.

Com um vídeo embalado pelo “funk proibidão”, o “mundocão” foi exposto inicialmente como um gancho para revelarque sem essas técnicas especiais de investigação boa partedos crimes graves ficaria sem solução. “A interceptaçãotelefônica tem sido um meio de prova muito utilizadoatualmente pelos agentes de persecução. Em crimes gravestrata-se de um instrumento muito importante porque, emregra, em se tratando de crime organizado, não hátestemunha, não há prova documental. A interceptação supreessa deficiência. Claro que a lei trouxe alguns limites. Porexemplo, diálogos que não interessam à investigação sãodestruídos”, esclarece.

Interceptaçãotelefônica na

solução de crimes

Gilton Batista de Brito.Juiz Federal em Pernambuco.

Ex-Defensor Público em Sergipe eex-Advogado da União em Brasília.

Procurador daRepública

Marcelo Ribeirode Oliveira

presidiu a mesana palestra deJanice Ascari.

Juiz FederalPaulo AugustoMoreira Lima

compôs a mesacomo debatedor.

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NOTÍCIASPontos PolêmicosAs controvérsias dessa temática também foram exploradasna apresentação do magistrado. A primeira polêmica foicompreender se a interceptação telefônica restringe aintimidade ou a privacidade. O palestrante explicou que comomedida invasiva, essa técnica não se trata, por exemplo, deinvasão de intimidade (direito de estar só) ou privacidade(direito de se relacionar com outro em segredo, semparticipação de terceiros). Previsto na lei 9.296/1996, ométodo de investigação trata-se de ligação telefônicagravada sem conhecimento dos interlocutores.

Outra polêmica foi entender qual o objeto da interceptaçãotelefônica. Para o juiz federal Gilton Batista, trata-se decomunicação telefônica de qualquer natureza. “Oentendimento mais razoável é aquele que não fazdiferenciação entre interceptação telefônica e telemática(parágrafo único, artigo 1º, lei 9.206/96), pois é inegável aconvergência de tecnologias de comunicação de voz e dedados ”, detalha.

A interceptação telefônica como reserva da jurisdiçãocriminal também foi outra controvérsia debatida. “É certoque é uma prática que serve à persecução criminal. Decisõesdemonstram que CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito)não pode usar a técnica, apesar de ter poderes instrutóriospróprios de magistrados. Mesmo que tenhamos exemplosde uso de interceptação na área trabalhista e cível, parece-nos, em um primeiro momento, inconstitucional”, polemiza.

O relatório da transcrição também gera polêmica: deve-sefazer a transcrição literal ou integral? Para Gilton Batista, énecessária a reprodução fiel. Segundo a lei, a autorizaçãoda interceptação telefônica pela Justiça está condicionadaà demonstração da impossibilidade de outros meios de prova,à existência de indícios razoáveis de autoria ou participaçãoe a que o fato constitua infração penal punida com pena dereclusão. O tempo de duração da interceptação é de 15dias renováveis.

Delegado da Polícia FederalTalles Amaral Machado

foi debatedor na palestrade Gilton Brito.

Jovem de 18 a 35 anos, que não concluiu onível médio e cometeu crimes contra opatrimônio ou tráfico de entorpecentes. Esse

é o perfil do preso no Brasil, apresentado pelodesembargador federal Abel Gomes, durante ocongresso. Hoje, já ultrapassa 260 mil o númerode encarcerados no país, 154 mil só em São Paulo.O palestrante tinha como desafio responder seexiste ou não seletividade no sistema penalbrasileiro. Para tanto, optou pela definição deconceitos, apresentação de pesquisas e umareflexão crítica das razões que levam o Estado apunir apenas parcela da população.

“Se alguns praticam crimes, mas para certassituações nada acontece, o sistema cai nodescrédito, não sendo bom para a sociedade. Parapunir, é preciso encontrar um equilíbrio racionale ético que supere a simples indignação e rompacom o equívoco de não enxergar uma gravidadeconcreta em práticas criminosas como as docolarinho branco”, pontua Abel Gomes.

A criminalidade dos poderosos – tanto econômicaquanto social – já é um problema antigo, masapenas em 1939, com os estudos do sociólogoamericano Edwin Sutherland, que a expressão écunhada para referir-se ao perfil de crimes denatureza profissional, praticados por pessoasinfluentes e com status social elevado.

Apesar das críticas, para o palestrante esseconceito, a partir da década de 1930, tem o méritode trazer com mais ênfase a problemática: o queo Sistema Penal realmente tem punido? “Outraimportância é mostrar que nem sempre quempratica crime é o pobre, punido socialmente. Comisso, surge uma forte crítica a todas as correntescriminológicas que existiam anteriormente.Pessoas importantes e bem colocadassocialmente também praticam crimes.”

Abel Gomes

Quem estápreso noBrasil?

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Outros estudos vieram complementar esse conceito, comcritérios mais objetivos. Porém, o palestrante procuroumostrar até que ponto há uma seletividade e a importânciade se extingui-la. Nesse sentido, lançou a seguinte hipótese:“existem pessoas que por sua condição social ou econômicanão são atingidas pelo sistema de justiça criminal – desde oconhecimento do delito à execução penal.''

Após citação bibliográfica sobre o assunto, Abel Gomesapresentou o levantamento que realizou para traçar o perfildos condenados. O trabalho utilizou três fontes deinformação (Ministério da Justiça, Secretaria deAdministração Penitenciária de São Paulo e Corregedoria-Geral da Justiça do TJRS) e limitou-se apenas aos apenadosnos anos de 2008 e 2009.

Diante do perfil revelado de quem está preso no Brasil, opalestrante levantou outra hipótese: “será que, em virtudede não terem antecedentes e as sanções a que sãocondenados serem menores, os criminosos do colarinhobranco não estariam cumprindo somente penasalternativas?” A resposta a esse questionamento aponta queo perfil dos que cumprem penas alternativas é semelhanteao daqueles que estão presos. “Isso, entre outros fatores,demonstra um nível de seletividade que ultrapassa a distinçãodas espécies de pena”.

De acordo com o desembargador federal Abel Gomes, asrazões para a existência dessa casta devem-se, entre outras,a uma certa homogeneidade entre quem pune e quem praticao crime. Além de semelhanças de classe social, ocorporativismo, o clientelismo e até o aspecto inconsciente

s Abel Fernandes Gomes.Desembargador Federal do TRF-2ª Região.Especialista em Direito Penal pela UnB.

Obras publicadas: “Temas de Direito Penal eProcesso Penal, em especial na Justiça

Federal”; “Crime Organizado e suas conexõescom o poder público”; “Nova Lei Antidrogas –

Teoria, Críticas e Comentários à Lei nº 11.346/2006” e “Lavagem de Dinheiro – comentários à

lei pelos juízes das varas especializadas”.

Daniel SalgadoPerfil dos condenados nos anos de

2008 e 2009 à pena privativa de liberdade

- Faixa etária: maioria entre 18 e 29 anos;- Instrução: maioria possui apenas o ensinofundamental incompleto;- Tipo: roubo, tráfico, furto e homicídio;- Área de procedência: zona urbana;- Cor da pele: maioria é parda;- Ocupação: autônomos e desempregados;- Faixa de renda: de um a quatro saláriosmínimos.

Advogado e Professorda UFG

Gaspar AlexandreMachado de Sousa

foi debatedor durantea palestra deAbel Gomes.

(“ele é muito semelhante a mim”) contribuem,segundo o palestrante, para a impunidade aocolarinho branco e para a seletividade do sistema.Lidar com isso é um desafio proposto pelopalestrante aos presentes no evento.

Fato Típico - Goiânia, ano II, n° 6, out/dez 2010

Ministério Público FederalGrupo de Controle Externo da Atividade Policial

Conheça a cartilha“Polícia Cidadã”.

Denuncie a Violência ea Corrupção Policial.

Saiba mais sobre esta atuação do MPF em:http://coex.prpr.mpf.gov.br