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P rtela magine Distribuição gratuita Fevereiro 2013 Periodicidade Bimestral 8 # Revista da Associação dos Moradores da Portela Pass Coelho na Portela Declarações exclusivas à Portela Magazine

Portela magazine n.º 8

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A Associação de Moradores da Portela recebeu o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, que fez declarações exclusivas a revista, no âmbito das celebrações de encerramento do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações. Entre um vasto leque de artigos, a revista conta ainda com uma entrevista a Sara Butler, a portelense do Inspector Max, e ainda a Antónia Ferreira Monteiro Ramos Costa, a sócia número 1 da AMP.

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Distribuição gratuitaFevereiro 2013 Periodicidade Bimestral8#

Revista da Associação dos Moradores da Portela

Passos Coelho na PortelaDeclarações exclusivas à Portela Magazine

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MENSAGEM DA PRESIDENTE

Carla MarquesPresidente da Associação dos Moradores da Portela

Caros leitores:

Em cada começo de ano, enchemo--nos de esperanças renovadas, en-frentamos novos desafios, idealiza-mos novos projectos e desejamos alcançar novas metas, enfim… Que-remos Mais…

E o ano de 2013 não pode ser ex-cepção.

Muito se tem falado na malfadada crise que atingiu este velho conti-nente e em particular o nosso país. Nos meios de comunicação, nas conversas de café, entre amigos e em família, este é o tema.

De facto, nos últimos anos, temos sido assaltados por grandes dificul-dades e contingências adversas que têm provocado o crescente empo-brecimento das populações. O fla-gelo do desemprego, o crescente au-mento de impostos e dos preços dos bens essenciais, o descalabro econó-mico que temos assistido no nosso país tem originado um sentimento generalizado de falta de esperança, de revolta, de desilusão e desmoti-vação, entristecendo o nosso povo.

Mas é este Nobre Povo e esta Nação Valente, como dita o Hino Nacional,

que não pode «baixar os braços», que não pode desistir, que não se pode conformar a esta sentença de morte.

Somos um povo lutador, determina-do, corajoso, honesto e trabalhador. Sempre o fomos e sempre o seremos. E vamos «dar a volta por cima» por-que é assim que tem de ser.

Estamos conscientes de que não é fácil, nunca o é…Sabemos que o nosso bem-estar é cada vez menor e que se apresenta como um objectivo longínquo.

A realidade é que, nestes tempos de incertezas, quase nos bastamos se tivermos saúde, um emprego e um salário no final do mês que garanta a nossa subsistência e da nossa fa-mília.

Mas não nos podemos bastar com tal realidade, nem descurar a ambi-ção de ir mais longe.

Devemos tomar as rédeas da nossa vida.Devemos projectar um futuro me-lhor.

Porque este é o ensinamento que os nossos pais e avós nos deixaram.Também eles não desistiram.Também eles não se resignaram.Também eles não «baixaram os bra-ços» e corajosamente lutaram por um Portugal melhor.E conseguiram…

A liberdade é um bem supremo e essa é a nossa grande vitória, a qual temos a obrigação de prosseguir.

Sem dúvida, o maior bem que as ge-rações anteriores nos deixaram foi a liberdade de escolha, a liberdade de expressão… o poder dizer «Não» sem medo.

A nossa obrigação neste momento difícil é mantermo-nos despertos e unidos, conscientes do nosso papel na sociedade, agarrar o nosso futuro, ser rigorosos com os que nos gover-nam, exigir que sejam competentes

nas suas funções, foi para isso que foram eleitos e porque fomos nós que os elegemos.

Não podemos continuar a eximir-mo-nos das nossas responsabilida-des enquanto elementos de uma so-ciedade e deixarmos que entreguem nas mãos de outrem o nosso futuro.

O futuro deste nobre povo, o futuro da nossa amada pátria, somos nós que temos de construir.

Levantemo-nos hoje de novo, en-quanto povo valente, corajoso e vi-torioso.

E com a criatividade que nos carac-teriza, iremos conseguir (re)inventar o nosso amanhã, conscientes de que somos capazes, porque sempre o fo-mos…

Somos uma nação valente e vamos levantar a cabeça, vamos lutar com todas as nossas forças por um país melhor, pelo nosso futuro e pelo fu-turo dos nossos filhos.

Ficar parado…NUNCA.Resignarmo-nos à nossa malfadada sorte… NUNCA.

Vamos dizer BASTA.Vamos honrar os nossos ANTEPAS-SADOS.

PORQUE ESTE É E SEMPRE FOI O NOSSO DESÍGNIO.

Carla MarquesPresidente de Direcção da AMP

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cartas dos leitores

Portela Magazine – Revista Bimestral – Proprietário Associação dos Moradores da Portela – Director Manuel Monteiro – Redacção Eva Falcão, Filipa Assunção, Leonor Noronha – Colaboradores Armando Jorge Domingues, Bonifácio Silva, Carla Marques, Fernando Caetano, Filipa Lage, Humberto Tomaz, José Alberto Braga, Miguel Esteves Pinto, Miguel Matias, Patrícia Guerreiro Nunes, Rui Garção, Rui Rego – Sede de Redacção Associação dos Moradores da Portela, Urbanização da Portela, Parque Des-portivo da AMP, Apartado 548, 2686-601 Portela LRS – Telefone 219 435 114 – Site www.amportela.pt – E-mail [email protected] – Email Comercial – [email protected] – Direcção Comercial Keep In Touch, Lda. – Grafismo ITW-Ideas That Work, Lda. – Impressão Nova Gráfica do Cartaxo – Tiragem 6500 exemplares – Depósito Legal n.o 336956/11 – ISSN N.o 126156

Ficha Técnica

Sr. Director do Portela Magazine,Ao abrigo do direito do contraditó-rio e pelo interesse da comunidade da Portela relativamente ao tema “Biblioteca Cardeal Ribeiro”, tenho acompanhado com curiosidade a novela jornalística em que transfor-mou a sua história. Uma leitura de-sapaixonada sobre os vários textos publicados nos últimos números fa-cilmente levam a concluir que, atra-vés dos livros, se pretendem resol-ver questões de outro foro e espantar fantasmas sem proteger o essencial.Não me compete a mim discutir o que foi feito ou os contornos desta polémica nem este é o espaço para abordar questões de natureza biblio-teconómica ou de política cultural, que deveriam ser prévias a toda esta discussão entre os directamente in-teressados e envolvidos.E para não ficar apenas pelas opi-niões que qualquer um, em função dos seus interesses ou sensibilidade, poderá tomar sobre o assunto deci-di conhecer a realidade concreta e juntei-me a outros voluntários que de forma generosa se propuseram ajudar a reabrir a Biblioteca. E foi por isso com espanto que li as opi-niões expressas no último número! De facto, com o devido respeito pela opinião contraria, não entendo o que pretende um outro leitor quando afirma que “anda tudo às aranhas…e não saibam nada sobre autores ou onde se encontram os livros”Conforme refere Humberto Eco, a Biblioteca também serve para “des-cobrir livros de cuja existência não

se suspeitava e que, todavia, se reve-lam extremamente importantes para nós.” E para isso nem é necessário dispor dos computadores que pare-ce tanto são reclamados pois bastará deambular pelas estantes, que estão em livre acesso, devidamente iden-tificadas por grandes áreas /temas e com rapidez seleccionar a obra que se procurava.Por isso ou estamos a falar de rea-lidades diferentes ou então só pode tratar-se de um equívoco, quando se misturam acusações com conceitos de uma biblioteca ficcionada levan-do os leitores/moradores a acreditar numa anterior realidade inexistente. Todos sabemos que as não verdades repetidas sistematicamente se tor-nam em verdades.Desde já, permita-me Dr. Manuel Monteiro que o aconselhe a visitar a Biblioteca para que possa veri-ficar por si, para depois nos ajudar a esclarecer, onde estão os mais de 28.000 livros que no seu Editorial afirma existirem, pois não encontrei em nenhum local prova de tal núme-ro. A base de dados existente no com-putador apenas contem 9.345 obras, trabalho realizado entre 4 de Janeiro de 2007 e 16 de Dezembro de 2010. Onde estarão registadas as restan-tes? E onde se encontram?Fazendo fé no que afirma o desa-parecimento de 18.655 exemplares é grave e quero acreditar que não foram lançadas no lixo até porque tal volume daria seguramente nas vistas. Mas ainda concedendo que possam existir “algures” quero afir-mar que um inventário exaustivo aos 28.000 livros teria levado pelo menos cerca de 1000 horas (1 ano de trabalho a tempo parcial). Então interroguemo-nos: Será que alguém fez este inventário? Onde se encon-

tra? Ou trata-se apenas um número opinativo ou “mágico”?E a propósito de números gostaria também de salientar outras realida-des que são muito relevantes para a discussão séria deste tema. Ao pre-ço de mercado, a catalogação das obras já registadas em computador, 9.345, correspondem a um investi-mento aproximado de 27.000 euros, ora se de facto existem os 28.000 li-vros, como se diz, para os restantes 18.655 alguém teria de despender mais cerca de 50.000 euros.Não querendo ser injusto, por não se conhecerem os indicadores dos anos anteriores (não foi encontrada infor-mação disponível) sobre a afluência de público, no caso da contratação de um bibliotecário mesmo em ho-rário parcial o custo médio actual por leitor atendido rondaria os 20 euros. Haverá alguém disposto a financiar estas realidades?Aproveito a oportunidade para su-gerir aos responsáveis da Portela Sábios a organização de uma confe-rência/ encontro sobre “Bibliotecas e Arquivos”, onde todos os Porte-lenses interessados poderiam apro-veitar para aprender e debater um tema que tantas paixões tem desper-tado na colunas do Magazine.

Os meus melhores cumprimentos,Rafael António

Dr.Manuel Monteiro,Diretor da revista “Portela Magazi-ne”, é na qualidade de mera ex-fun-cionária da Biblioteca Cardeal Ri-beiro propriedade do Centro Social e Cultural da Paróquia da Portela e na plenitude de todas as minhas fa-culdades mentais que lhe escrevo.Cabe ao Sr. Diretor o direito da pu-blicação ou não desta carta.Em virtude de me ter chegado ás mãos cartas lesivas á minha pessoa e ao trabalho que efetuei durante 6 anos na referida biblioteca(na espe-cialidade de documentalista) con-sidero por bem esclarecer, a quem interessar os referidos pontos:Quando cheguei á Biblioteca em 2006 existiam 80 metros lineares de

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CARTAS DOS LEITORES

estantes com livros espalhadas por 3 salas e com um acervo de 11.000 livros.No dia em que informei o Sr. Vice--Presidente que tinha recebido uma carta do Hospital(26/01/2012) a in-formar que iria ser operada no dia 15 de Fevereiro de 2012,por im-posição do Presidente do Centro Social e Cultural da Portela e pela mão do seu Vice -Presidente foi-me apresentado ,nesse mesmo dia,uma rescisão de contrato amigavél. Não assinei a rescisão de contrato nesse dia,quis levar o contrato para casa para ler e conferir o montante em causa.No dia seguinte,fui confron-tada com o facto de o Presidente do Centro Social e Cultural da Portela exigir o reconhecimento da minha assinatura,coisa que fiz de bom gra-do na companhia do sempre porta-voz Sr. Manuel Fiel,o Vice-Presi-dente da Instituição.Quando saí , no dia 31 de Janeiro de 2012, deixei mais de 240 metros lineares de estantes com livros es-palhadas por 4 salas e um depósito a abarrotar tendo deixado um acer-vo de mais de 28.000 volumes.Este número não era um número mágico era a realidade.Facto que pode ser facilmente comprovado na medida em que para além de fazermos parte da rede concelhia de bibliotecas da Camara Municipal de Loures con-corríamos á atribuição de um peque-no subsidio anual.Como para opinar e falar do que não se sabe há sempre muita gente,dirigi-me no dia 17 de Janei-ro de 2013 á Biblioteca a fim de constatar o que se estava a passar.Quando passei os olhos pelas salas e especialmente pelo depósito, senti que aquele já não era o espaço que tinha concebido com a ajuda de pre-ciosos e sábios voluntários,alguns infelizmente já não estão entre nós.Não encontrei resposta para o de-saparecimento de inúmeros livros

e publicações periodicas, como por ex: a” Revista Flama”,”O tempo e o modo”,ou livros de David Lodge ,Philip Roth,Tom Sharpe,Camilla Lackberg,entre outros.No meu últi-mo dia de trabalho,recebi uma doa-ção de 30 sacos de livros sobre ioga, medicinas alternativas,e das mais variadas religiões e sinceramente não os detectei em lado nenhum.Não querendo ferir suscetibilidades nem fazer juízos de valor injustos tudo me leva a quer que tenha sido criado um outro depósito noutro local.Recordo que no nº 1 da Portela Ma-gazine foi escrito um texto sobre a Biblioteca da autoria da Sr.ª Jor-nalista Leonor Noronha.Mais uma vez, o vice-presidente,a mando do Sr. Padre Alberto Gomes (Presi-dente da Instituição) informou-me que teria de ser eu a dar a entrevis-ta.Deste modo,o protagonismo de que os ilustres membros do Centro Social e Cultural tanto reclamam que a revista me proporcionou foi-me concedido pelo seu mais ilustre membro.A revista “portela Magazi-ne” não se colou a mim...foram os senhores que me colaram a ela.Re-cordo ainda a maioria dos elementos que compõem tão prestigiado orgão social nunca “pôs os pés” na biblio-teca logo as suas palavras e atitudes devem ser entendidas como um acto de desespero ou uma assinatura em cruz.Quanto aos números apresentados pelo sr.Júlio Rafael António,são descabidos e irrealistas.Eu era a úni-ca funcionária,limpava e encerrava as estantes,registava,catalogava,classificava e indexava livros das mais variadas áreas.Para além disso,fazia atendimento, recebia as doações, aconselhava os leitores.Perante um número tão estonteante,nem me atrevo a perguntar qual a estimativa para um utilizador da Biblioteca Na-cional.Se porventura a conferência/encontro sobre “Bibliotecas e Arqui-vos” se concretizar pode contar com a minha presença.Aprender sempre com os bons é o meu lema.Durante a minha função de mera funcionária, tive o prazer de ter na Biblioteca Sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarcal de Lisboa,D.

José Policarpo e Monsenhor Carlos Azevedo,tendo eu recebido os maio-res elogios sobre o meu trabalho.Sobre a Biblioteca ainda ficou muito por dizer.E, sinceramente, se alguém dizer continuar esta trágico-comédia o melhor mesmo é avançar para as entidades competentes.Terei todo o gosto em mostrar todas as fotos que ao longo dos tempos fui tirando, os livros técnicos que fui pagando do meu bolso e os cursos e conferên-cias em que participei para os quais tinha de tirar férias,também será fá-cil provar que a sala juvenil (da qual já foram tiradas fotos para ilustrar uma entrevista dada para toldar os espíritos mais fracos)foi inteiramen-te organizada por mim.Está na hora de acabarem as acusa-ções, difamações e mentiras.Nada tenho contra o padre Alberto Gomes enquanto pároco, irei continuar a fre-quentar a Igreja tal como tenho feito ao longo da vida.No entanto,tendo sofrido na pele humilhações e ati-tudes impróprias para com a minha pessoa não o considero a pessoa indicada para estar á frente de uma instituição tão rica em termos cul-turais e humanitários,o que não me impede se o respeitar e cumprimen-tar se assim houver ocasião.Que fique bem claro:NÃO FINAN-CIO MENTIRAS.A todos os que voluntariamente me ajudaram,a todos os leitores e a to-dos os utilizadores umgrande abraço e o meu sincero obri-gado pelos momentos únicos e ines-quecíveis.Com os meus melhores cumprimen-tos,

Irene Tarouca

Carta Aberta do director da Portela Magazine ao Centro Social e Cultu-ral da Paróquia da PortelaA Portela Magazine convidou duas vezes Sua Reverência Pároco Al-berto Gomes para uma entrevista. O primeiro convite foi recusado, o segundo teve a resposta de que a entrevista só seria dada se não se falasse da biblioteca. Tendo Sua Re-verência manifestado a preferência pela entrevista escrita (por e-mail),

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esta possibilidade foi-lhe concedida em ambos os casos. Sublinhe-se ain-da que entreguei duas cartas na se-cretaria da Igreja para que o direito de resposta fosse exercido da vossa parte. Porque não se pronunciam sobre questões que tanta polémica têm suscitado e continuam a susci-tar? Do que fogem? Porque adop-tam a política da avestruz? Refira- -se ainda, em abono da verdade – e vossas excelências sabem-no –, que me reuni duas vezes na Igreja de Cristo-Rei da Portela com o Pároco Alberto Gomes, que mostrou dis-ponibilidade e capacidade de ouvir, para falar sobre o encerramento da biblioteca. Procurei também falar de viva voz com um dos membros do Centro Social e Cultura da Paró-quia da Portela que teve o máximo do despudor de me dizer que eu não queria ouvir ninguém da Igreja, não dialogando comigo.Ouvi inúmeras fontes sobre a ques-tão do encerramento da bibliote-ca. Só cartas, recebemos, quer eu quer a Associação dos Moradores da Portela (AMP), mais de duas centenas contra o encerramento da biblioteca. Lamentavelmente, uma parte da Igreja, quer por es-crito, quer em conversas comigo, procurou sempre a mesma nar-rativa. Não acreditavam que tais pessoas «existissem mesmo» e só podia ser alguém a utilizar o mes-mo e-mail várias vezes. Nem o facto de vos chamar a atenção para que também recebíamos cartas físicas com remetente e morada na sede da AMP produziu qualquer eco na razão. Foram igualmente várias e eminentes figuras da Igreja, insisto, várias e eminentes figuras da Igreja a manifestar-se extremamente in-dignadas contra o encerramento da biblioteca.Sobre os livros encontrados no lixo, só me resta repetir a verdadade. E repeti-la-ei sempre que voltarem a questionar a notícia. Uma quan-tidade impressionante de livros foi mesmo encontrada nos contentores junto da Igreja da Portela. Mais: entre eles, figuravam inúmeros li-vros religiosos. Espanta-me que so-bre isto nada esclareçam, quando

eu próprio entreguei na secretaria da Igreja da Portela uma carta soli-citando que exercessem o direito de resposta após a edição de Julho, na qual os livros encontrados no lixo foram noticiados. Falei com pesso-as da Igreja, designadamente o Dr. Victor Adragão, actual responsável pela biblioteca. Primeiro, disseram-me que de nada sabiam. Depois, di-ziam que tinha sido alguém de fora que deitara livros da sua biblioteca pessoal no lixo. Depois, fora, afinal, uma incauta funcionária (quem? quando?) que tendo encontrado um saco de doações para a bibliote-ca de alguém que desconhecia que a biblioteca já fechara os depositara inadvertidamente nos contentores. Sobre a notícia, os registos que te-nho da fonte não permitem des-mentidos.Entendem vossas excelências que deveria ter silenciado o assunto do encerramento da biblioteca? Enten-dem que após uma reportagem de-vidamente autorizada de divulgação da biblioteca pela Portela Magazine

em Dezembro de 2011 não poderia falar sobre o seu fecho inesperado no mês seguinte? Consideram que deveria ter censurado as centenas de cartas que recebi, não fazendo eco neste órgão de comunicação social de nenhuma das preocupações ex-pressas pelos leitores e doadores da biblioteca? Deveria ter ignorado o pedido do doador de livros que exi-gia que os livros do seu pai falecido doados à biblioteca não poderiam fi-car a apodrecer fechados? Será que o património afectivo e familiar não vale nada? Porque era uma decisão da Igreja, entendem que deveria ter censurado todas as vozes conside-rando a Igreja acima de todo e qual-quer escrutínio? Consideram que um jornalista deve tratar apenas de defender o bom-nome das pessoas e instituições, sem quaisquer preocu-pações adicionais com o bem-estar da comunidade em que estão inseri-das?Mais me espanto que tendo a repor-tagem sobre a biblioteca saído em Dezembro de 2011, e devidamente

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autorizada pelo Centro Social e Cultural da Pa-róquia da Portela, nin-guém tenha questiona-do os 28 000 livros senão agora. Porque durante mais de um ano nunca se questionaram estes números? Já sabiam quando a reportagem foi feita que a biblioteca ia fechar no mês seguinte? São muitas as perguntas a que infelizmente não dão resposta. Porque esteve a biblio-teca fechada? Comunicaram que esta iria fechar antes de consuma-rem o seu encerramento? Avisaram a comunidade? Se sim, onde divul-garam a notícia? Só as pessoas que vão à missa têm o direito de estar informadas? Que resposta davam às pessoas que iam questionar o fe-cho da biblioteca à igreja? Contac-taram os doadores de livros para saber o que achavam? E os leitores? E a comunidade da Portela? E agora porque a reabriram? E porque este-ve esta entretanto fechada durante cerca de dez meses?A anunciada colaboração da Junta de Freguesia da Portela não teve afinal qualquer papel? Porque não chegaram a um entendimento? No vigésimo aniversário da dedica-ção da Igreja de Cristo-Rei da Por-tela e vigésimo quinto aniversário da comunidade católica da Portela, no qual marquei presença, realiza-do no dia 15 de Novembro de 2012, e no qual estranhei o facto de apenas o primeiro pároco estar presente (o Padre Manuel Marques), o Pároco Alberto Gomes afirmou que a biblio-teca reabria com uma nova identi-dade, apenas com livros de natureza evangelizadora. O actual responsável pela biblioteca, o Dr. Victor Adragão, afirmou numa entrevista ao Notícias da Portela que é necessário proceder a uma limpeza da biblioteca.

O que acontecerá aos outros livros que decretarem não serem evangeli-zadores? Para que querem então os livros que entendem excedentários? Porque não responderam sequer ao apelo da presidente da AMP, Carla Marques, no sentido de a biblioteca da AMP acolher os livros que con-siderassem excedentários? Se não querem os livros, porque não per-mitem que os seus doadores os vão recolher? A biblioteca é um serviço à Igreja ou um serviço à comunidade? Admitindo que é apenas um serviço à Igreja, consideram que as pesso-as que frequentam a Igreja só estão interessadas em ler os livros que os vossos doutos entendimentos decre-tam ser de natureza evangelizado-ra? Que nada mais lhes interessa? Supõem que ter um curso de biblio-tecário é uma inutilidade? Que qual-quer pessoa pode catalogar e servir o público numa biblioteca? Estas questões vão ao encontro das interrogações de muitos portelenses. O silêncio e a omissão absoluta não resolvem nenhum dos problemas. Expliquem à comunidade. Não é um favor que fazem, é uma exigência. Muitos livros foram doados pela co-munidade portelense. Continuamos na Portela Magazine a receber cartas críticas sobre as con-dições de reabertura da biblioteca. Porque decidiram fechar ao sábado e encurtar o horário das 19.30 para

as 18.00, sabendo que grande parte das pessoas que trabalha ficará pri-vada de poder assim frequentar a biblioteca?Fui à biblioteca. É um acervo impres-sionante que está lá. De literatura portuguesa, estrangeira, infanto-ju-venil, de grandes clássicos, nomea-damente em edições que já não se en-contram nas livrarias, mas também de bastante autores actuais, de livros políticos, de História, de grafologia, de tudo. E de religião também. Folgo em ver autores tão diferentes como Salazar, Mao Zedong, Hayek. Folgo em ver tantos autores ateus. É uma grande biblioteca. E com bastantes DVD também. Merece ser conheci-da pelos portelenses (e não só). Es-pero que continue assim, espero ar-dentemente que não se libertem dos livros «não evangelizadores». Que alarguem o horário. Que divulguem a biblioteca. Que promovam iniciati-vas culturais, com exibição de filmes, debates, tertúlias. Que continuem a organizar e a catalogar a biblioteca. Que punham todos os livros visíveis nas estantes. E que peçam fichas de inscrição e de quotização. A mim, foi-me dito pela voluntária de servi-ço que não havia.Contem connosco, Portela Magazine, em tudo o que reporte à divulgação de actividades da biblioteca. O que recebermos será publicado.

Manuel Monteiro

CARTAS DOS LEITORES

Se quer publicar uma carta de leitor, envie-a para: [email protected]. Ou para a sede de redacção desta revista. Publicamos as cartas TAL QUAL RECE-

BEMOS, pelo que pedimos atenção à ortografia e à sintaxe. Visite-nos em www.facebook.com/portelamagazine. (Sítio criado e gerido por Filipa Assunção.)

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FIGURAS DA PORTELA

Filipa Assunção

xam de vir quando chove, mas tenho outros que, mesmo assim, vêm aqui comprar o seu jornal. Se não vêm um dia ou dois, sente-se falta e vai-se à procura deles, para saber se está tudo bem.» Nos dias que correm, em que a crise se acentua a cada dia que passa, este tipo de negócio acaba por sofrer as consequências. Antigamente, existia uma parede cheia de gomas, mas nos últimos tempos, tem-se verificado que os jovens compram menos, não compensando ter a quanti-dade que tinha outrora. «Nota-se bem a crise. Os jornais ainda se vendem bem, mas houve uma grande quebra em relação às revistas, principalmente as mensais. As pessoas compram muito menos», diz. Apesar de gostar muito de morar na Portela e de gostar da experiência que abraçou ao ter trocado o seu trabalho pelo quiosque e pela proxi-midade aos clientes, conta ainda que por vezes há alturas difíceis. Em Outubro, o quiosque foi assaltado pela pri-meira vez, tendo sido roubadas as caixas das sobras: «Os homens vêm cá deixar os jornais e levam as sobras. Nesse dia, quando chegaram, já não estavam cá as caixas». Con-ta ainda que, ao ler um artigo da Portela Magazine sobre o guarda-nocturno, optou por recorrer aos seus serviços. Apesar de ter um sistema de segurança da Prosegur, não se torna excessivo ter mais alguém atento ao quiosque, que durante a noite fica muito isolado. «O grande problema que existe aqui perto é a falta de iluminação. As pessoas também se queixam muito desta descida que vai para a AMP, porque há muita gente a utilizar este trajecto. Como está escuro, as pessoas de mais idade tropeçam e acabam por cair. Já falei com a Junta de Freguesia, mas disseram-me que esta zona é da responsabilidade da AMP», diz. De-pois da Associação de Moradores da Portela ter sido con-tactada, pôde concluir-se que, apesar da iluminação estar no espaço da AMP, esta é gerida autonomamente pela Câ-mara. Desse modo, a AMP, que anteriormente nunca rece-bera nenhuma queixa, prontificou-se a alertar as entidades competentes para se proceder à colocação de candeeiros e solucionar o problema.

Um quiosque especial com uma pessoa especial...

Além do Centro Comercial da Portela, o quiosque da D.Cristina tem-se tornado numa referência para quem todos os dias lá passa. Seja de forma apres-

sada, a caminho do centro, ou no regresso a casa depois de um longo dia de trabalho, a verdade é que se tornou quase obrigatório fazer uma paragem no quiosque, perto do cen-tro, para trocar algumas palavras. Apesar de ser moradora da Portela há 20 anos, só há cerca de dois é que o quiosque lhe pertence. «Era de uma amiga minha que já cá estava há cerca de 30 anos, mas que ia deixar o negócio. Durante 15 anos, fui fazendo os fins-de-semana e fui criando uma ligação muito forte com os clientes. Na altura, achei que se isto fechasse, a pessoa que para aqui viesse não ia ter uma ligação tão grande com os clientes como a que eu já tinha criado. Falei com a AMP e propus ficar com o quiosque. Apesar de estar efectiva no meu trabalho, optei por largar tudo para vir trabalhar para aqui. Foi um grande risco», conta D.Cristina. Desde essa altura, o seu dia começa mais cedo, abrindo o quiosque por volta das 6h45, quando ainda há pouco mo-vimento na rua. «O meu quiosque serve como posto de in-formação e posto de ajuda, onde as pessoas se vão ajudan-do umas às outras. Já me pediram uma colher para comer a sopa ou até para carregar o telemóvel. Às vezes, também fico com os cães das pessoas que vão ao centro e, em dias de feira, há pessoas que deixam aqui os saquinhos. Acon-tece de tudo um pouco», diz. Entre notícias boas e menos boas, são inúmeras as que passam pelo seu quiosque e vão dando vida aos dias que passa, rodeada de jornais e revis-tas. Ao contrário do que se podia esperar, confessa que não tem por hábito ler as revistas, mas quando os clientes pe-dem para saber alguma coisa, lê e depois conta-lhes: «São muitos anos e ganha-se muita afinidade com as pessoas. Isto aqui é uma espécie de aldeia, onde nos conhecemos todos uns aos outros, e até já sei o que as pessoas querem comprar quando aqui vêm. Aliás, a maior parte das pesso-as que aqui vêm não são clientes, são amigos. Para mim, os clientes são aqueles que passam. Há pessoas que dei-

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SOLIDARIEDADE

Elo Social, solidário há 30 anos

A Associação Elo Social – Associação para a Integração e Apoio ao Deficiente Jovem e Adulto – fará já, em Outubro próximo, 30

anos de existência. Uma instituição fundada com o intuito de promover o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas com deficiência mental na idade jovem e adulta. Adquiriu o estatuto de Ins-tituição Particular de Solidariedade Social exacta-mente há dez anos e desde então tem celebrado acordos de cooperação com o Instituto de Se-gurança Social e com o Instituto do Emprego e Formação Profissional por forma a levar a cabo os projectos do Centro de Actividades Ocupacio-nais, o Serviço de Apoio Residencial e o Cen-tro de Emprego Protegido. Em Junho último, na cerimónia oficial das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portu-guesas, o Elo Social foi agraciado pelo Presidente da República com o título de Membro Honorário da Ordem de Mérito.

Clientes precisam-se O Centro de Emprego Protegido é composto por uma série de unidades de prestação de serviços à comunidade. O objectivo passa por permi-tir às pessoas com deficiência, e que não têm oportunidade de integrar o mercado aberto de trabalho, o desempenho de uma actividade pro-dutiva e, sempre que possível, a transição para o mercado de emprego normal. «Neste centro, estão integradas 29 pessoas com deficiência sendo os serviços coordenados por profissionais competentes em cada uma das áreas: lavandaria industrial, estofamento, carpintaria, jardinagem e outros serviços», explica Cremilde Zuzarte, pre-sidente da direcção. Devido aos actuais cortes orçamentais transversais a todos os sectores da economia nacional, a lavandaria do Elo Social encontra-se deficitária de trabalho. Esta unidade com capacidade de lavagem de turcos, farda-mentos e roupas de cama (edredons, cobertores, etc) na ordem dos 300 kg por dia perdeu o seu

Eva Falcão

Câmara Municipal de Lisboa. «Finalmente, temos os jovens que fazem o acompanhamento das carrinhas de pessoas com mobilidade reduzida e que resulta de uma parceria com o pelouro da Acção Social da Câmara Municipal de Lisboa. Um protocolo que tem já doze, treze anos.» Todas estas funções inerentes ao Centro de Emprego Protegido são «uma prova de que eles são ca-pazes de desempenhar uma tarefa como outra pessoa qualquer desde que a deficiência esteja num grau ligeiro, porque embora não tenham ca-pacidade para tirar um grau de ensino, na prática são muito competentes e responsáveis. São as pessoas mais assíduas da casa, extremamente pontuais. E é muito importante para eles sabe-rem que têm um sítio onde se sentem úteis e onde podem vir ganhar o seu ordenado mínimo nacional».

Manter utentes activos e interessadosO Centro de Actividades Ocupacionais apoia 74 beneficiários divididos em dois sectores: o Cen-tro de Actividades Ocupacionais Úteis e o Cen-

Promover o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas com deficiência é o lema do Elo Social – Associação para a Integração e Apoio ao Deficiente Jovem e Adulto. Uma instituição que convive, há

30 anos, paredes-meias com a freguesia da Portela.

principal cliente, o exército, que teve de reac-tivar as suas próprias lavandarias. «Para além dos clientes particulares, precisamos de arranjar clientes como lares, restaurantes, corporações de bombeiros, clínicas, etc». Já nas oficinas de estofamento, encomendas não faltam. Tudo se deve à qualidade do trabalho e ao passa-palavra dos clientes satisfeitos. «Também fazemos os sofás de novo, o seu restauro, tirando e voltando a pôr pele, ou tirando e voltando a pôr tecido. A pessoa pode escolher cá o tecido e nós enco-mendamos ou pode trazer o tecido depois de falar com o nosso encarregado e ele aconselhar quais as quantidades necessárias.» Nesta unida-de, também se executam cortinados de todos os tipos. Desde japonesas a reposteiros. Fazem-se ainda colchas iguais aos cortinados e cabeceiras de cama.* As brigadas de jardinagem são bas-tante afamadas. «Também somos contactados para arranjo de jardins de vivendas, podas, etc.» Estes trabalhos só podem ser executados pontu-almente quando os utentes se encontram liber-tos das funções resultantes das parcerias com a

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tro de Actividades estritamente Ocupacionais, nos quais é prestado apoio terapêutico, pedagó-gico e assistencial às pessoas com deficiência que não possuam capacidade de execução de um trabalho com carácter produtivo. Os utentes são integrados num conjunto de actividades de natureza útil e lúdico- recreativa, por forma a mantê-los activos e interessados. «Falamos de dois tipos de pessoas: as que são portadoras de uma deficiência grave e que não têm capa-cidade de executar qualquer tarefa relacionada com trabalho, e outras – uma grande faixa de população que temos no centro de actividades ocupacionais, cerca de 45 a 50 utentes – com capacidade de desenvolver tarefas rotineiras», esclarece a dirigente. «Aí, temos muita difi-culdade em encontrar no mercado tarefas que eles possam fazer.» Desenvolvem-se activida-des úteis subcontractadas às empresas, como a embalagem dos bucins para os cabos elétri-cos, a escolha e embalagem de talheres para os aviões (cerca de dez mil talheres por dia) e a embalagem e expedição de materiais via correio. «Temos um protocolo com a BP que perdura há muitos anos. Fazemos a expedição de todos os kits para recolha de óleos que vão para análise, normalmente fora do país. São dez frasquinhos que vão dentro de uma cai-xa expedida por Express Mail para uma oficina que trabalha com óleos BP. Eles pagam-nos a matéria-prima e por cada kit que sai eles pagam-nos um valor variável em função do próprio kit», acrescenta. Estes protocolos repre-sentam uma mais-valia económica permitindo que os utentes possam, no final do mês, re-ceber uma gratificação que varia em função da tarefa desempenhada. «Essa gratificação tem como base uma avaliação diária conse-guindo, assim, controlar os comportamentos menos adequados e estimular a assiduidade e o arranjo pessoal.» Alguns dos utentes têm pais muito idosos e, por isso, torna-se impor-tante tentar que ganhem, por eles, o gosto de se arranjarem. Além destas ocupações, são desenvolvidas ac-tividades de Artesanato, Horticultura Biológica e Cozinha Pedagógica. «Temos uma horta de produtos biológicos fertilizados com estrume de cavalo. Temos os legumes relativos a cada época para consumo próprio nas residências, e para venda.» Esta actividade, tal como as desenvolvidas no âmbito do Centro de Em-prego Protegido, promove uma maior abertura da instituição. «Toda a gente vem cá comprar. Temos um hortelão, os utentes ajudam-no apanhando os legumes e entregando-os aos clientes que já os conhecem.» Uma ligação de extrema importância quer para utentes, quer para a própria instituição cujo objectivo passa por promover uma relação estreita com a co-munidade envolvente. Complementarmente, os utentes usufruem de apoios especializados nas áreas do Serviço Social, Psicologia, Educação Física, Ginástica/Desporto, Natação, Hipoterapia,

Remo Adaptado, Fisioterapia, Animação Musical, Desenvolvimento Pessoal e Social, Estimulação e Relaxação (Snoozelen).«Têm muitas actividades, mas quando não es-tão em nenhuma, temos, de facto, dificulda-de na ocupação destes jovens. É muito difícil encontrar no mercado pequenas tarefas para eles desempenharem», lamenta Cremilde Zu-zarte. «São homens e mulheres para os quais é muito importante dizerem que vão trabalhar e que recebem um ordenado mesmo sendo uma pequena gratificação. Dá-lhes muita alegria», conclui.

Reequilibrar a família O Apoio Residencial surge como um serviço de apoio às pessoas com deficiência e suas famí-lias, mas que não pretende substituir-se a estas. «Chamam-se apoios residenciais precisamente porque o nosso objectivo nunca foi substituir-mo-nos à familia sempre que ela exista e sem-pre que ela funcione. Valorizamo-las muito e trabalhamos com as famílias em ordem a uma maior autonomia afectiva, pessoal e social do utente e como um elemento reequilibrador do sistema familiar na maioria das vezes abalado quer física, quer psicologicamente.» Nos casos em que os utentes fiquem desprovidos do apoio familiar por falta dos pais ou de outras figuras de substituição, esta valência funciona como lar com carácter permanente e definitivo inte-grando três tipos de respostas. O Apoio Residencial propriamente dito de natu-reza mais assistencial para os indivíduos com maior nível de dependência. «Temos quatro residências: três, dentro da instituição com ca-pacidade para dez utentes cada, e uma fora. 35 camas ao todo.As Residências Supervisionadas e Autónomas, no exterior da Instituição, para integração das pessoas que possam aceder a um maior nível de autonomia e vida independente. «Temos uma

no Bairro da Encarnação para pessoas com mais autonomia, que vão e vêm todos os dias. Tentamos sempre que possível que eles fiquem integrados na comunidade e não aqui a viver dentro da instituição. São apartamentos super-visionados. Há uma pessoa que orienta, mas a autonomia permite-lhes ficarem sós. Essa pes-soa retira-se e está apenas contactável.» A Residência de Transição tem como objectivo a formação do utente para a autonomia e vida in-dependente. «Estas residências são para os uten-tes que vêm 4 dias por mês numa aprendizagem com vista a melhorar as suas competências e a sua autonomia. Aprendem a desvincular-se daquela mãe que os superprotege e nunca es-teve um dia sem eles e aprendem, também, os próprios pais a desligarem-se e a viverem sem eles por uns dias. Tem funcionado lindamente.» Nestas residências, os utentes vão comprar a sua alimentação à praça, fazem o seu jantar, limpam a sua residência. «São treinados tal como aqueles que já passaram para o exterior para poderem dar o salto para uma residência autónoma.»

Aposta para 2013Mais recentemente, a Instituição estendeu a possibilidade de vir a apoiar os pais dos uten-tes da Associação, quando, por motivo de idade e de saúde, venham a necessitar de apoio dos serviços de Centro de Dia, Apoio Domiciliário e Lazer. O grande projecto a arrancar ainda nes-te ano será uma estrutura com 24 quartos e uma capacidade de cerca de 40 lugares. «Uma residência geriátrica na qual daremos sempre a prioridade aos pais dos nossos utentes nes-ta fase da vida onde ficarão ligados aos filhos até ao final, mas que se destina também a ex-funcionários e sócios que necessitem deste tipo de cuidados». *Pode requisitar estes serviços por telefone contactando o 21 854 03 60 ou através do e-mail: [email protected]

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AMP HISTÓRIA

Leonor Noronha

«Uma Associação com estas características é sempre importante»Maria Antónia Ferreira Monteiro Ramos Costa é a sócia n.o 1 da Associação dos Moradores da

Portela (AMP), número que «herdou» do marido, Ramiro Carlos Ramos Costa, um dos fundadores. Conversei com a sócia mais antiga da AMP sobre a Associação e a Portela.

«E se entrevistasses o primeiro sócio da Associação?» sugeriu uma co-lega numa reunião. Da sugestão à

prática foi um ápice e rapidamente cheguei ao contacto com a minha entrevistada. Discreta, tímida, voz tranquila, foram as pri-meiras impressões que tive de Maria Antónia Ramos Costa. Conversámos sobre os primei-ros tempos da Portela e da Comissão de Mo-radores, actualmente AMP, da qual o marido foi um dos sócios-fundadores.Foi em 1974 que se mudou para a Portela; o casal vivia no Bairro Alto, em Lisboa, e mu-dou-se para a Portela porque «era um bairro novo, a nascer, que iria ter espaços verdes segundo se supunha na altura. A casa onde vivíamos era pequena, mas tivemos que mu-dar porque a família ia começar a crescer». A escolha recaiu sobre a Portela, uma vez que foi aqui que encontraram uma casa que reu-nia as condições que procuravam. «Uma casa mais ampla e com mais luz», explica a sócia número um da AMP.A entrevistada relembra que a mudança foi radical, porque na altura «os jornais nasciam no Bairro Alto e era um local que fervilhava de gente interessante».

A ligação com a AssociaçãoAo fim de cerca de um ano a viverem na Portela, começaram a «surgir alguns proble-mas na urbanização, que estava a começar. E em 1975 surgiu a Comissão de Moradores e Trabalhadores da Portela da qual o meu marido foi um dos grandes impulsionadores e entusiastas e, como consequência, o sócio número 1».Na altura, não havia espaço próprio nem sede, mas «os responsáveis pelo Seminário facul-

Sócia N.º 1 da AMP, Maria Antónia Ferreira Monteiro Ramos Costa

taram uma sala para as reuniões da Comis-são e abriram também os jardins para nosso usufruto. De maneira que o nosso espaço de lazer era a mata do Seminário que era um sítio maravilhoso, muito maior do que aquilo que é hoje.»Maria Antónia Ramos Costa realça a im-portância de uma organização destas para a comunidade e relembra uma história que demonstra o poder de acção da Associação à época da sua criação: «Ninguém tinha tele-fone na Portela e foi por intervenção da Co-missão que se conseguiu a primeira cabina telefónica que ficou colocada à entrada da rua do Seminário.» A entrevistada referiu que a existência de uma estrutura destas é uma mais-valia para a freguesia e salientou que «as condições e os motivos mais fortes do início são dife-rentes dos de agora. Hoje, os objetivos são diferentes: pro-mover actividades desportivas, de música e de lazer associa-das às artes e música».Na opinião de Maria Antónia, este tipo de instituição «agrega as pessoas criando laços entre elas e contribui para se conhecerem. Inicial-mente, havia convívios entre os associados; não participei muito na altura devido aos meus afazeres familiares e profissionais, mas as pessoas começaram a conhecer-se a partir daí. Sobretudo aquelas que moravam na parte mais antiga, a dos prédios mais baixos junto do Seminário e que foram os primeiros a ser construídos, começaram a falar entre elas, a juntar-se, a perceber os problemas que exis-tiam na freguesia e a Comissão teve um papel muito importante nessa altura» e acrescenta «uma Associação com estas características é sempre importante e daí eu nunca ter deixado de ser sócia».

A entrevistada relembra o início do bairro da Portela quando o comércio era muito escasso, o que não facilitava a vida dos moradores. «O Centro Comercial ainda não estava aberto e não havia nada. Antes tínhamos que ir com-prar tudo a outros sítios. Onde é hoje a Igreja havia uma tabernazinha, uma tasca pequeni-na, onde os trabalhadores das obras iam nas suas horas de lazer tomar um café, mas era a única coisa que existia. Quando o Centro abriu foi uma grande mudança.»

Laços de amizadeHá quase 40 anos na Portela, Maria Antónia, é peremptória quando afirma «continuo a gostar de viver na Portela, apesar de a freguesia pre-cisar de algumas mudanças, está-se e vive-

se bem aqui». A hipótese de mudar de casa para outro local já foi pensa-da várias vezes, tendo a últi-ma ocorrido no ano passado, mas «acabo por ficar. No meu prédio, criámos um núcleo de amizade, podemos até ser um exemplo porque como somos todos do início, funciona como

uma família. Há uma grande ligação entre nós todos e, como tal, sinto-me bem aqui tam-bém por essa razão. Há um forte sentido de comunidade e entreajuda» e conclui, com um brilho nos olhos, «o mais importante que me prende à Portela é o bom ambiente familiar que existe no prédio, penso que é o que pesa mais na decisão final. Mas a verdade é que sempre que começo à procura acabo por fi-car». A entrevistada não põe totalmente de parte a mudança, mas para já continua adiada e sem data marcada.No final da conversa, lançou um repto ao Por-tela Sábios: a criação de uma disciplina de Italiano.

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CRIME

Filipa Assunção Ao tentarem provocar uma forte explosão para a concre-tização do roubo, foram accionados os meios policiais, que rapidamente se deslocaram para o local. Perante a aproximação policial, os indivíduos iniciaram a sua fuga, mas sempre perseguidos pela PSP, que acabou por conseguir a sua detenção. «Eram cerca das 4h15 quando circulava na Avenida Alfredo Bensaúde, em direcção à Portela, e verifiquei o despiste de uma carrinha Audi de cor cinzenta, na rotunda de acesso à Portela/Jardins do Cristo Rei. Dentro dessa viatura saíram 3 indivíduos encapuzados que, de imediato, se puseram em fuga em direcção à Portela. Encetei perseguição aos mesmos, enquanto contactava a central de Polícia através do 112. Já com a presença da PSP no local e depois de mais algumas descrições por mim fornecidas, foi feita uma busca nas imediações do local do acidente, onde um dos indivíduos acabou por ser detectado e detido pela PSP», conta o guarda-nocturno da Portela, que foi crucial para que esta operação tenha sido bem sucedida. É certo que estava montado um enorme trabalho de investiga-ção por parte da PSP/DIAP, mas «apesar de a Polícia ter a vigilância apertada aos criminosos, os indivíduos conseguiram fugir por outros locais, até se despistarem. O patrulhamento do guarda-nocturno é sempre impor-tante, e tendo verificado o acidente seguido da fuga, a detenção de pelo menos um indivíduo acabou por ficar mais facilitada», conta ainda António Matias.Após terem sido realizadas as detenções, procedeu-se também a duas buscas domiciliárias que permitiram a apreensão de uma arma de caça com os canos serrados, uma botija de gás, uma bateria com cabos e manguei-ras, três viaturas, quatro automóveis e cerca de 200 € do Banco Central Europeu em dinheiro. Os detidos foram convocados para o 1.º Interrogatório Judicial no Tri-bunal de Instrução Criminal de Lisboa, para a aplica-ção as respectivas medidas de coacção, sendo que um dos detidos já cumprira anteriormente pena de prisão efectiva pela prática de crimes de roubo. Os indivíduos tinham como refúgio a Quinta da Vitória.

Há cerca de dois meses, a Divisão de Investiga-ção Criminal, com o apoio da Unidade Espe-cial de Combate ao Crime Especialmente Vio-

lento do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, deu início a uma operação de investigação que tinha como objectivo a captura e detenção de um grupo de indivíduos que se dedicava ao roubo de via-turas, recorrendo a violência física sobre os conduto-res. Durante o mês de Dezembro, através da Divisão de Investigação Criminal, o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP deteve três homens suspeitos pela prática do crime de Furto Qualificado de um ATM. Os indivíduos, com idades compreendidas entre os 28 e os 33 anos, foram identificados na tentativa de fazer explodir um ATM na zona do Lumiar (Avenida Nuno Krus Abecassis).Na madrugada do dia 6 de Dezembro de 2012, foi mon-tado um dispositivo policial para vigilância e conse-quente detenção dos suspeitos, quando se verificou que estes se deslocavam para o local, numa viatura roubada, e com recurso a uma bateria e uma botija de gás, com o intuito de fazer explodir uma caixa ATM ali existente.

Guarda-Nocturno da Portela ajuda na detenção de 3 indivíduos depois de tentarem fazer explodir uma caixa ATM

Guarda-Nocturno da Portela - António MatiasUsufrua dos seus serviços: [email protected] e 968 033 815 (a partir das 17h)

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ENTREVISTA

«Eu tenho três vidas: o curso, a música e a representação»

Portela Magazine – Começou a sua carreira de modelo aos seis anos; como é que isso aconteceu?

Sara Butler – Foi um processo interessante; o meu irmão era modelo e eu como irmã mais nova sentia uma pontinha de ciúme e também queria fazer o mesmo. Então a minha mãe fez-me a vontade e inscreveu-me numa agência de mode-los e a partir daí fui fazendo catálogos de fotogra-fia e alguns anúncios para a televisão. Lembra-se de como reagiu ao mundo da moda?Perfeitamente; eu andava na escola e era uma criança igual às outras, mas que fazia coisas di-ferentes das outras crianças. Por vezes, não era bem visto por parte dos colegas. Normalmente, eles não compreendiam, não entendiam que era uma criança que trabalhava e que tinha uma vida de adulto.Da moda saltou para o mundo da televisão onde participou em vários projectos. Mas foi no Ins-pector Max que ganhou mais visibilidade, cer-to?Sim, sim, sem dúvida; ainda hoje sou reconheci-da na rua como a «menina» do Inspector Max, o que por vezes me causa algum desconforto; já passaram tantos anos e as pessoas crescem e evoluem e é sempre constrangedor estar num sítio qualquer e ser sempre conhecida como «a rapariga daquela série». Por outro lado, é bom, porque o nosso trabalho é reconhecido e é sinal que os miúdos vêm, acompanham e gostam.Mas as séries que passam são as antigas?Sim, sim; e continuam a transmitir na TVI, é porque teve sucesso e as crianças gostam e só temos que ficar contentes pelo facto de o nosso trabalho ser reconhecido.Nessa altura, era uma menina de 13 anos; como é que se sentiu a trabalhar ao lado de nomes

Sara Butler, a portelense do Inspector Max

Chegou ao mundo da moda, porque queria imitar o irmão. Seguiram-se a música e a representação. Sem tirar os olhos e a concentração dos estudos, que considera muito importantes, Sara Butler tem

uma vida cheia e preenchida. Apresento-lhe mais uma actriz que nasceu na Portela.

Leonor Noronha

consagrados como Ruy de Carvalho ou Fernan-do Luís?Confesso que sempre fui uma grande fã destes dois actores. Acompanhava o trabalho do Fernan-do Luís no Médico de Família, na SIC. Esta série teve um sucesso gigante e todas as pessoas da minha geração, e até mais velhas, acompanha-ram o crescimento da série, a evolução dos ac-tores e eu era uma grande fã de todo o elenco, adorava-os e vir a trabalhar com eles, com os meus ídolos, foi excelente.Como é que eles são como colegas?São óptimos colegas de trabalho. Ali funciona-se

como uma família; uma série com um núcleo familiar acaba por ser mesmo a nossa segunda família. Nós passamos a maior parte do nos-so dia dentro de um estúdio a trabalhar com pessoas que não conhecemos de lado nenhum, mas que depois com o decorrer do tempo se tornam amigos. Aprendeu muito com eles?Sim, aprendi muito. Foi uma grande escola. Enquan-to a maioria dos actores da minha geração tem a escola dos Morangos com Açúcar, eu tenho a es-cola do Inspector Max, que é um pouco diferente, mas que acaba por ser uma escola também.

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Também participou na Floribela…Sim, sim (risos); isto é uma coisa que pouca gente sabe. Entrei na segunda temporada e ainda gra-vei durante três meses, no entanto por causa da escola a minha personagem teve de acabar. Na altura, eu andava no secundário, já tinha escolhido a área de estudos, já tinha outra responsabilidade e era complicado porque em termos de estudos era difícil. Eu teria gostado muito de continuar na série, mas seria impossível estar a faltar à esco-la; além disso, eu não queria fazê-lo, porque os meus estudos estão sempre em primeiro lugar e sempre estiveram.Voltemos um pouco atrás. Na altura do Inpector Max, como é que conciliou os estudos com as gravações?Não foi fácil e devo dizer, para todas as pessoas, que tem que se ter muita cabeça para se entrar neste mundo. Mesmo que comecem cedo e que tenham os pais e a família por trás é sempre complicado, porque tem de se saber gerir o tem-po. Estava no colégio, tinhas testes e tinha traba-lhos para entregar, obviamente não tinha o mes-mo nível de exigência requerido no secundário, mas estava a estudar e acabava por faltar muito às aulas. Gravávamos a semana inteira e houve semanas em que nem sequer fui às aulas. Os professores compreenderam a situação?Sim, tive muita compreensão da parte dos profes-sores. Fui falar com eles, explicar a situação e eles apoiavam-me imenso. Marcavam-me os testes para dias diferentes dos dos meus colegas, de-vido à minha falta de disponibilidade. Não admito que tenha sido uma fase fácil, foi complicado; foi um período difícil, mas que me fez crescer muito, ganhar responsabilidade e acabei por amadurecer muito cedo. Fui uma criança diferente das outras no sentido em que não ia para casa brincar ou ao cinema com os meus amigos; eu saía das aulas para ir trabalhar e foi sempre assim até hoje.Sente que o seu crescimento ficou, de alguma forma, prejudicado devido a esta situação? Não, de todo. Ganhei responsabilidade, o que até se verificou nas classificações escolares: em vez de baixar as notas, o que é normal, as minhas notas subiram, porque estudava mais. Eu era uma excelente aluna, mas reforço que tem que se ter cabeça para entrar neste mundo, porque não é fácil.Até porque neste meio o deslumbramento é fácil, não é?É, mas eu nunca fui pessoa de me deslum-brar. Sempre tive os pés muito assentes na terra, sempre fui muito low profile, nunca gostei de multidões à minha volta nem de pessoas a apontarem-me o dedo. Gosto quando me fazem críticas construtivas, que venham ter comigo e que me falem do meu trabalho, mas não gos-to de estar exposta. Sempre tive a minha vida, sempre resguardei a minha vida privada até ao nível das faculdade e dos estudos. São vidas completamente diferentes. Faço o meu trabalho e se alguma coisa não está bem gosto que me digam de forma a tentar melhorar e superar as

dificuldades. Nunca me sobrevalorizei ou mostrei que tenho mais que os outros; sempre fui igual às outras crianças com uma diferença: era uma miúda que trabalhava e que gostava daquilo que fazia. Neste mundo é preciso ter muito cuidado, porque é muito competitivo e perigoso.Os seus estudos continuaram e neste momento está a estudar Ciências da Comunicação. Que área pretende seguir?Entrei no curso com a ideia de seguir jornalismo, mas também gostei muito de marketing. Quan-do entrei no curso, a minha ideia era mais tarde vir a ter a minha própria revista ou outro tipo de negócio relacionado com o jornalismo. Mas o marketing também me agrada e estou um pouco dividida, contudo há sempre formas de conjugar-mos tudo. Por exemplo, eu também tiro fotografia, sou uma apaixonada por fotografia, e reconheço que já tirei fotos com alguma qualidade, não sou uma profissional e nunca tirei nenhum curso. Mas gostava muito de poder conciliar todas estas áreas: o jornalismo, o marketing e a fotografia. Na situação económico-financeira em que es-tamos acho que a nossa polivalência é sempre importante e valorizada; temos que nos adaptar às situações e aprender a fazer várias coisas ao mesmo tempo. A Sara é muito versátil e tem mais uma paixão: a música. Como é que entrou neste mundo?Havia dois produtores franceses que andavam à procura de crianças para formar uma ban-da juvenil ao estilo dos Onda Choc. E queriam implementar o formato em Portugal e andavam à procura de crianças que fossem extrovertidas e tivessem o desejo de aliar a representação, a expressão corporal e a expressão vocal a uma coreografia e formar um projecto interessante com miúdos de várias nacionalidades.Como é que entrou nessa banda?Houve um casting, em Lisboa, eu fui, mas nunca pensei que fosse seleccionada. Nunca tinha can-tado na vida, nunca tinha pensado ir para o mun-do da música e nem me sentia vocacionada para esta área. Mas, de facto, fui escolhida para integrar o projecto e daí para a frente passei a ter aulas de dança todos os fins-de-semana, a ter concertos agendados regularmente e ensaios atrás de en-saios. Tudo isto me deu uma grande bagagem e

a partir daí o gosto pela música foi crescendo, apesar de sempre ter gostado de música mas apenas do ponto de vista de quem ouve, culmi-nando numa paixão que ainda hoje tenho, e é isso que, realmente, eu gosto de fazer. Tem algum projecto musical agora?Tenho, tenho, aliás a minha segunda paixão é se-guramente a música. Tenho uma banda chama-da The Ballard Pond e já actuámos na Junta de Freguesia. Existimos desde 2011, somos um trio, conhecemo-nos na faculdade e juntámo-nos. Eles já tiveram outros projectos musicais e como temos esta paixão em comum decidimos formar um projecto. Como foi o início?Achámos que íamos ser uma banda que só to-caria para os amigos, para nos divertirmos como hobby, mas foi tudo evoluindo na direcção certa e acabámos por comprar os nossos instrumentos, o nosso material técnico, investimos bastante di-nheiro e trabalho. Começámos a dar concertos e entretanto participámos no Festival Termómetro, no Porto, o que nos levou a um outro público e a sair da nossa zona de conforto. Fazem versões de outras canções ou só tocam originais?É tudo originais. Estamos a gravar alguns e espe-ramos, agora que vamos ter mais reconhecimen-to, poder divulgar mais o nosso trabalho através de EP e das redes sociais.Como funciona o vosso processo criativo?É um processo complicado. Cada um de nós pode ter melodias diferentes na cabeça e depois no ensaio cada um revela as suas ideias e jun-tamos tudo e caminhamos de forma a encontrar uma melodia que agrade a todos. Ficamos horas a improvisar em estúdio e depois surgem coisas interessantes que podem realmente transformar-se em canções. A letra vem sempre depois da composição; nós fazemos sempre a música, por-que o nosso principal objectivo é jogar com sons e com sonoridades e depois vem a letra, porque a voz é encarada como mais um instrumento do que o factor primordial das nossas composições Pode sizer-se que a Sara tem uma vida muito preenchida?Eu tenho três vidas: o curso, a música e a repre-sentação.

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REPORTAGEM

A AMP foi, por ocasião das celebrações do encerramen-to do Ano Europeu do En-

velhecimento Activo e da Solidarie-dade entre Gerações, palco da visita do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. Presentes na cerimónia es-tiveram, também, além dos órgãos sociais da instituição, o ministro da Solidariedade e Segurança Social, Pedro Mota Soares, a vereadora da Câmara Municipal de Loures, Maria Geni Veloso das Neves, em repre-sentação do Presidente da Câmara e Reitor da Universidade Sénior – Portela Sábios, os presidentes das juntas de freguesia de Moscavide e de Bucelas e Joaquina Madeira, pre-sidente da Comissão Nacional do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Ge-rações. Carla Marques, presidente da direcção da AMP, depois de uma breve apresentação sobre a institui-ção, falando mais em particular do projecto Universidade Sénior, moti-vo da cerimónia, lembrou que «nos últimos anos, a associação, tem vindo a desenvolver um importante trabalho ao nível da responsabilida-de social, incrementando diversas actividades de cariz social e cultu-

ral, das quais destacamos pela sua relevância, os projectos Portela Jo-vem e Portela Sábios». Este último direccionado à população sénior. «É uma universidade para a Tercei-ra Idade com 4 anos de existência e mais de 300 alunos distribuídos pelas 38 disciplinas leccionadas por mais de 28 professores voluntários.» Um projecto que visa proporcionar aos cidadãos a possibilidade de aprenderem e/ ou ensinarem, assim como o convívio e a comunicação entre pares por forma a combater a solidão e o isolamento. «Num mun-do onde o individualismo e o cor-porativismo dão origem à exclusão, é importante sublinhar o espírito no qual se exerce a actividade humana de várias organizações de solidarie-dade social, cuja missão é lutar con-tra essa exclusão. Este é também o

Eva Falcão

Envelhecer de forma activaA Associação dos Moradores da Portela recebeu, no passado

dia 21 de Dezembro, a visita de Pedro Passos Coelho. O primeiro-ministro deslocou-se às instalações da AMP

no âmbito das celebrações do encerramento do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações.

Pedro Passos Coelho na Portela

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papel que a AMP pretende desem-penhar, por uma solidariedade ac-tiva e responsável na sociedade», acrescenta Carla Marques.

Sementes lançadas«À medida que envelhecemos, é normal deixarmos de fazer aquilo que não podemos fazer. O proble-ma é deixarmos de fazer aquilo que ainda podemos fazer.» Foi com as palavra do filósofo romano Cícero que Joaquina Madeira, presidente da Comissão Nacional para o En-velhecimento Activo, deu início ao balanço das actividades da comis-são que preside. «O balanço é muito positivo para lançar sementes na re-solução de problemas.» Em jeito de desafio, afirma que falta ao país um observatório que saiba o que está a acontecer neste campo para que se tenha uma visão integrada e global. «Uma estratégia nacional que des-se sentido e coerência a tanto que se está a fazer.» Disse ainda que o país «está dinâmico e com ener-gia» e que o envelhecimento activo veio para ficar. Atribui à sociedade a criação de barreiras na idade que afastaram os mais velhos para o ter-ritório da inutilidade, mas sublinha não haver um período específico para uma participação activa e cí-

coisas, desligam-se delas, e quando o fazem desligam-se de si próprias. O envelhecimento activo parte do princípio de que esta curiosidade pelo que está à nossa volta é uma das razões para prolongarmos a nossa cidadania e viver com muita digni-dade a relação social em que vamos construindo o nosso próprio ser. Deixar de ler, deixar de conversar, passar ao papel passivo da leitura da realidade é um dos primeiros passos para o isolamento e envelhecimento precoce.» Mas o governante garan-te ser possível evitar este salto que vem com a reforma e com o facto de se deixar de ter um trabalho re-gular. «Somos úteis até mais tarde e sendo úteis damos a nós próprios mais sentido durante mais tempo. As universidades seniores são uma das expressões desta forma de po-der envelhecer activamente. E esta experiência que aqui na Portela tem sido um sucesso é um dos muitos exemplos no país do aparecimento desta nova visão sobre o papel que aqueles que se reformaram podem, ainda, desempenhar.»

Substituir o EstadoEm jeito de resposta a Joaquina Ma-deira, o governante recomenda a instituição do observatório desejado

vica. Por isso, aponta a necessidade de juntar gerações. «Há uma ener-gia dinâmica que está a nascer em Lisboa que já deu o seu contributo, mas que agora está a dar de si de outra maneira», afirmou Joaquina Madeira, referindo-se à disponibili-dade para o voluntariado que mui-tos reformados têm apresentado, nomeadamente no que respeita ao apoio escolar aos mais novos. Actividades já promovidas pela AMP e confirmadas por Carla Marques. «Começamos a promo-ver actividades intergeracionais, nomeadamente ao nível do auxílio ao estudo promovido por alunos do Portela Sábios ao Portela Jovem.» Acções que têm o intuito de promo-ver uma solidariedade sustentável entre jovens e seniores com base na dinamização de projectos e acções lúdicas, culturais e de convívio in-crementando a relação de troca e de partilha entre gerações. Pedro Passos Coelho lamenta que à medida que o tempo passa, perca-mos a natural curiosidade por tudo o que nos rodeia. «Começamos a tra-tar o mundo como se fosse tão fami-liar, que não nos suscita já grandes dúvidas. É vulgar as pessoas perde-rem interesse pelo conhecimento e deixarem de se questionar sobre as

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REPORTAGEM

sem que tenha de ser o Estado a de-terminá-lo. «Hoje em dia, há capaci-dade para instituir mecanismos dessa natureza que não tenham necessaria-mente que ser públicos, embora se-jam de apropriação pública, de ma-neira a que todos possam seguir pela Internet e pelos meios tecnológicos que hoje estão ao alcance da socie-dade. Cada um pode acrescentar um elemento para essa informação. As redes de informação que hoje exis-tem podem permitir-nos tratar esses elementos de forma estruturada e sis-temática sem que tenha de caber ao Estado essa responsabilidade.» Pe-dro Passos Coelho critica a tendência para a segmentação das instituições na sociedade civil e questiona que papel se deve atribuir ao Estado e às instituições sociais. «Em bom ri-gor, estas segmentações não deviam existir. O Estado só existe porque nós existimos e confiamos-lhe um cer-to tipo de funções. Chama-se a isto o princípio da subsidiariedade. Nós só delegamos um determinado nível de acção quando vemos que outros o podem fazer melhor que nós. E o melhor quer dizer à escala própria, de forma mais eficiente do que nós conseguimos». E elogia o trabalho da AMP. «O facto de esta associação de moradores ter uma obra tão assinalá-vel só significa que esta comunidade não espera que outros possam reali-zar o que lhes diz mais directamente respeito.» Dirigiu um cumprimento especial à actual direcção e àqueles que desde 1975 se têm envolvido na vida da associação «e que sabem que o papel que esta desenvolve é mui-to importante para as suas vidas, que não é um corpo estranho, é alguma coisa que lhes pertence, que é delas, que depende delas para ser bem su-cedida. Isso significa uma cidadania activa e deve ser elogiada». Deixa a promessa do fortalecimento de me-canismos referentes ao voluntariado de todo o sector social. «Nós temos tido um diálogo muito importante com todo o sector social, vamo-nos apercebendo que existe hoje uma energia muito maior, uma disponi-bilidade muito maior para valorizar este tipo de iniciativas e precisamos de mudar. Na medida em que caiba

aos poderes públicos facilitar esses processos, nós estamos disponíveis para fazê-lo.»

2014, ano de crescimentoO governante teve oportunidade, ain-da, para desejar as Boas Festas aos presentes, esperando que 2013 seja um ano melhor do que o anterior. «Sabemos que ainda vai ser difícil, mas temos de olhar para as adversi-dades, para as dificuldades em que vi-vemos, e aprendermos a dominá-las.» O governante lamenta haver quem acrescente dificuldades às coisas. «Às vezes, fica a impressão que em alguns sectores, em alguns domínios se acrescentam dificuldades, se põe mais pessimismo do que aquele que é razoável ter. E de cada vez que al-guém quer combater esse excesso de pessimismo atribui-se-lhe o epíteto de irrealista, de optimista, de viver fora da realidade. Por outro lado, de cada vez que alguém quer sublinhar as difi-culdades apenas para que se note que elas têm que ser ultrapassadas, diz-se que estamos a carregar demasiado no cinzento e no preto, estando a tirar a esperança às pessoas e a cavar debai-xo dos próprios pés.» Espera que o ano de 2013, além de ser um ano de viragem, de preparação para o cres-cimento em 2014, regressando a um padrão de criação de emprego seja, também, um ano em que as pessoas esqueçam o pessimismo e não acres-centem dificuldades às já existentes. «Esse espírito não é um espírito que a sociedade portuguesa precisa. E quando as dificuldades são muitas nós temos que encontrar o melhor dentro de nós próprios para conseguirmos vencê-las num trabalho que é colec-tivo.» Garante não estar, com isto, a «sacudir a água» do capote e a «lavar as mãos» de responsabilidades. «Cla-ro que tenho responsabilidades espe-ciais como primeiro-ministro, todos aqueles que desempenham funções públicas têm essas responsabilidades, assim como toda a sociedade que tem a responsabilidade na construção do seu futuro.» Lembra que o país é dos mais velhos da Europa, mas que, no entanto, tem tido sempre a capacida-de de se rejuvenescer, de se reinventar e de se reconstruir.

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«Há um trabalho de natureza praticamente comunitária extraordinário na Portela»

Declarações exclusivas de Pedro Passos Coelho à Portela Magazine

Moradores da Portela, Carla Mar-ques, que entregasse a edição de Dezembro da Portela Magazine ao primeiro-ministro. Vi-o folhear a re-vista, exclamando: «Olha o António [o cartunista entrevistado na edição anterior], muito bem, muito bem! E a Dra. Maria José Morgado! Ela é re-sidente cá?»Eu tinha de o entrevistar. Mas eu não tinha permissão para o entrevis-tar. Claro que perguntas ao primeiro--ministro não me faltariam. Basta pensar que apenas 7,6% dos Portu-gueses se declararam favoráveis à promulgação do Orçamento do Esta-do pelo Presidente da República na Eurosondagem para o Expresso e a SIC do mês de Dezembro. Disse-lhe então: «Deixe-me fazer a pergunta mais inócua que algum jornalista já lhe fez.» Educada e simpaticamente, sem nunca deslizar um átomo no seu tom formal, disse-me: «Então, faz fa-vor, faz favor. Força.» Em baixo, transcreve-se o diálogo.

A sua relação com a Portela já tem uns anos?Conhecia a Portela nos primeiros anos em que o bairro, em que toda a urbanização cresceu e tenho muito gosto em revisitar aqui a Portela e ver que há um trabalho de natureza pra-ticamente comunitária extraordinário que foi desenvolvido ao longo destes anos e que deixou uma obra muito importante que eu hoje quis homena-gear também.

Costumava ir a casa do Miguel Matias quando vinha à Portela?O Miguel Matias [advogado e mem-

bro da direcção da AMP] é um amigo de longa data, fomos os dois colegas de escola em Silva Porto que agora se chama Quíto [ou Kuíto], um pla-nalto central em Angola. E é verdade que quando ele veio viver aqui para a Portela de Sacavém volta, meia- -volta, eu vinha cá passar férias com ele, e houve mesmo um ano em que estive cá quase um mês. Perdia-me um bocado por cá, perdemo-nos de resto com muitas coisas, mas não nos chegámos a perder de todo...E a casa do Ângelo Correia?A casa do Ângelo Correia aqui nunca vim.No final da conversa, o primeiro- -ministro disponibilizou-se ainda para uma sessão fotográfica com um dos fotógrafos da Portela Magazine, Fer-nando Caetano. Antes de abandonar a Portela, dirigiu-se aos manifestantes para lhes desejar um bom Natal e um bom ano de 2013, seguido de per-to pela polícia. Entre vários apupos e vários cartazes, algumas dezenas de manifestantes gritavam contra o Executivo, a troika e o primeiro-mi-nistro. «Governo ladrão rouba-nos o pão» era o mote. Depois dos votos do primeiro-ministro, os manifestantes protestaram: «Rodeado pela polícia, o gajo é muito corajoso», «A ver se ele fala com os trabalhadores sem ser com a polícia atrás».Como o primeiro-ministro se dirigira a um dos manifestantes enquanto seu interlocutor, fui ouvi-lo. Manuel Gló-ria disse à Portela Magazine: «Lá o recomendaram a minha pessoa, não sei por que razão. Veio pedir-me para ser o porta-voz dos desejos de boas festas e de bom Natal e eu respondi que com melhores políticas para o povo português. Foi provocatório e gratuito, eu estou aqui como ou-tra pessoa qualquer. Nós estamos a manifestar-nos no âmbito dos nossos direitos. Que necessidade tem o pri-meiro-ministro de vir fazer isto cheio de polícias à paisana a rodeá-lo?»

Dirigi-me à Associação dos Moradores da Portela [AMP] algumas horas an-

tes da chegada do primeiro-ministro. Queria cheirar o terreno. Percebi logo que não se tratava de mais um dia na vida da nossa freguesia. O aparato policial era já extenso e uma par-te considerável da Portela estava já «cercada». Perceberia mais tarde que os polícias eram muito mais do que os fardados, dada a quantidade de jo-vens de boné, fato de treino, brinco que trocaram sorrisos e piscares de olhos quase imperceptíveis com os polícias fardados. Sabia de antemão que o primeiro-mi-nistro não prestaria declarações à Co-municação Social. Sabia também que não poderia conceder uma entrevista à Portela Magazine porquanto tinha recusado inúmeras entrevistas recen-temente. Aguardei pacientemente pelo final dos discursos, acompanhei Pedro Passos Coelho e Pedro Mota Soares à sala da direcção da AMP, na qual se realizaria o «Porto de Honra» e na qual não estariam presentes jor-nalistas. Passos Coelho viu os troféus da AMP, fez uma dedicatória no livro de visitas da AMP e brindou com a direcção fazendo votos de um «bom Natal». Fui informado de que dentro de dois minutos o primeiro-ministro teria de sair da Portela, sendo que nesse mesmo dia ainda estava agen-dada a sua deslocação à Associação dos Deficientes das Forças Armadas. A minha missão estava dificílima.Pedi à presidente da Associação dos

Manuel Monteiro

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entrevista

Um homem culto, afável, seguro, aberto, desempo-eirado. Sua Eminência D.

José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, refere-se ao padre Ma-nuel Marques Gonçalves no texto «Uma Homenagem Justa» que ser-ve de prefácio ao livro A Palavra do Pároco, em tom muito elogioso, destacando o seu «largo currículo de serviço à Igreja, na actividade missionária, na Faculdade de Teo-logia, na Reitoria do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Pa-ris, nas Paróquias de que foi Páro-co, nos serviços centrais da Cúria Diocesana».

Uma viagem no tempo aos pri-mórdios da Portela«A urbanização da Portela de Saca-vém é anterior ao 25 de Abril, com um projecto avançado e com o cen-tro comercial ao centro», afirma o padre Manuel Marques Gonçalves. Com o 25 de Abril, «uma parte sig-nificativa dos portugueses de Ango-la vieram viver para a Portela». No início, a Portela pertencia às fregue-sias de Moscavide e de Sacavém e quem superintendia religiosamente eram as paróquias de Sacavém e de Moscavide. «Um território, duas freguesias, duas paróquias», sinte-tiza o Padre Manuel.Por contactos que tinha com o car-deal António Ribeiro, com António Marcelino, entretanto nomeado bis-po auxiliar de Lisboa, «houve uma

série de convergências e quando surge a avalancha de portugueses de Angola e de Moçambique, há a necessidade de dar o apoio espiritu-al cristão a essas pessoas que eram pessoas muito dinâmicas e muito vivas, mesmo cristãmente».«O Cardeal Ribeiro pediu-me a mim em Agosto de 1975 para ser o congregador de uma comunidade cristã na Portela com um estatuto já canónico e assim fui nomeado o primeiro animador sacerdotal de uma comunidade que não existia, mas que se ia formar. Pretendia-se criar um espaço cristão que congre-gasse as pessoas na sua fé, mas ao mesmo tempo um espaço onde as pessoas se encontrassem porque não havia nada aqui na Portela. O centro estava em construção. No terreno da igreja, havia uma grande taberna com uma espécie de can-tina, onde iam beber uns copos os trabalhadores das obras. Não havia telefones na Portela, o telefone da Portela era o do seminário. Du-

rante anos, as pessoas dirigiam-se à recepção do seminário, e antes dirigiam-se ao palácio. A Portela não tinha acessos, eram duas viela-zinhas e não havia transportes, não havia autocarro. Até 1978, a coisa era complicada.»

O papel da AMP e da Igreja no início dos inícios«Houve duas acções muito impor-tantes: da Associação dos Morado-res da Portela [AMP] e da comuni-dade cristã incipiente. Lembro-me muito bem do primeiro autocarro que veio para a Portela. A AMP teve uma grande acção na parte social, de estruturas. Por outro lado, a comuni-dade cristã começa a avançar e tem um papel importante, quanto à for-mação de crianças, à congregação dos jovens e um pouquinho também quanto ao aspecto cultural e do con-vívio porque não havia nada, não havia lugar.» Recorda o bem-suce-dido Carnaval de 1976 e os santos populares. «O primeiro carnaval fei-

Padre Manuel Marques Gonçalves

Apresentação da maque-ta da Igreja Cristo-Rei com o arquitecto Luiz Cunha num salão do Seminário de Cristo-Rei

«A biblioteca estava projectada desde o princípio do projecto que

foi concluído em 1983»Manuel Monteiro

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to na Portela, um Carnaval de porta aberta, realizou-se no seminário e tudo correu bem. Os santos popula-res também, várias vezes ao lado e à frente do palácio.» Destaca ainda a acção caritativa realizada. «Havia aqui uma coroa de pobreza e desem-penhámos uma acção social consi-derável, nomeadamente com férias para crianças pobres.»

A primeira pedra da igreja «De 27 de agosto a 3 de Setembro de 1981, parti-cipei numa peregrinação trazendo pedras para in-troduzir na primeira pedra da igreja. A primeira pedra da igreja tem lá dentro pe-dras de Jerusalém, Belém, Nazaré.»

A construção da igreja«A ideia original foi minha, em diá-logo com o arquitecto Pimentel, de que devíamos convidar o arquitecto Luiz Cunha, um arquitecto moder-no, porque a Igreja precisava de um igreja moderna. Houve um projecto que esteve à discussão pública e que recebeu muitas sugestões. O centro comercial era frio, era um redon-del, sem o jardim e a abertura inte-rior que tinham prometido. A igreja seria um contraste com esse espaço monolítico, impositivo, algo que seria mais arejado, mais apelativo. Queria que a igreja fosse visível, contrária ao tempo das igrejas-ca-tacumbas. Veja-se a diferença que há entre esta igreja e a dos Olivais. Acompanhei o projecto até ao fim, até estar tudo acabado.» Em 1983, acabou o projecto e foi para Lovaina terminar o doutoramento, na altura em que era professor na Universi-dade Católica, só se desvinculando

– o iniciador da Paróquia de Cristo-Rei da PortelaPadre Manuel Marques Gonçalves

juridicamente da Portela em 1985. Durante o seu período em Lovaina, o serviço pastoral foi assegurado pelos padres Pinheiro e Virgínio, já falecidos, e pelo ex-padre Matias. Em 1985/1986, o Pároco designa-do pelo Patriarca Cardeal Ribeiro foi o padre Joaquim Lopes. A se-guir, veio o padre João Rocha, que muitos portelenses conhecem, «que dinamizou a comunidade sem alte-rar o projecto» e ergueu o templo projectado.O projecto inicial da igreja«O projecto inicial abrangia a par-te social e cultural, o auditório é precisamente para isso, as salas para jovens, as salas para encontro, tudo. A função pastoral, catequéti-ca e a função social, cultural, isso está tudo no projecto. A biblioteca estava projectada desde o princípio do projecto que foi concluído em 1983. A biblioteca era um serviço à comunidade.»

A Constituição da República e o Evangelho«Há valores que estão na Constituição que são evan-gélicos. A Constituição da República tem valores de fraternidade, de solidarieda-de que são essencialmente evangélicos.» Bênção e assinatura de João Paulo II

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ACONTECEU NA AMP

No dia 21 de Dezembro, a AMP teve a honra de ter sido a ins-

tituição escolhida pela Comissão Nacional do Ano Europeu do En-velhecimento Activo e da Solida-riedade entre Gerações para aí re-alizar a cerimónia de encerramento das comemorações deste ano Euro-peu. No âmbito das referidas cele-brações, a AMP foi agraciada com a presença de Sua Excelência o Sr.

Primeiro-ministro do Governo Por-tuguês, Dr. Pedro Passos Coelho, de Sua Excelência o Ministro da Segurança Social, Dr. Pedro Mota Soares, da Sra. Vereadora da Câ-mara Municipal de Loures, Dra. Maria Gani Veloso das Neves em representação do Senhor Presiden-te da Câmara Municipal de Loures e Reitor da Universidade Sénior da AMP – Portela Sábios, da Dra.

Joaquina Madeira presidente da Comissão Nacional de Comemo-rações do Ano Europeu do Enve-lhecimento Activo e da Solidarie-dade entre Gerações. Estiveram ainda presentes na cerimónia os senhores Presidentes das Juntas de Freguesias de Moscavide e de Bucelas, os elementos dos corpos dirigentes da AMP e muitos dos nossos associados.

Cerimónia de Encerramento do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações

A campanha do Banco Alimentar intitulada «Papel por Alimen-

tos», à qual a AMP se associou, continua a ser desenvolvida. Com a preciosa colaboração dos nossos associados, congratulamo-nos de ter procedido no passado mês de Dezembro à entrega de mais de 500 kg, a qual será convertida em alimentos para quem mais deles ne-cessita.A AMP continua a ser ponto de re-colha de papel, e contamos com a boa vontade dos portelenses que poderão deixar o papel de que já não necessitam no edifício do Por-tela Sábios.

A Portela continua Solidária

Entre os dias 3 de Dezembro e o dia 4 de Janeiro, a AMP e o Portela Wellness (PW) associaram-se às Lojas Solidárias da Câmara Mu-

nicipal de Loures para uma campanha de Natal de recolha de bens, em especial roupas e produtos de higiene pessoal (inclusive fraldas) para crianças e adultos. No âmbito desta campanha, foi entregue no passado dia 6 de Janeiro na Loja Solidária de Moscavide uma enorme quantidade de bens doados pelos nossos associados.Também a AMP e o PW contribuíram para esta causa, tendo doado às Lojas solidárias de Loures o valor correspondente a 1% das mensalida-des pagas durante o mês de Dezembro pelos utentes do PW, da aquisição de outros serviços PW SPA e das inscrições, valor que foi revertido tam-bém ele em produtos de higiene pessoal e alimentos, reforçando assim o stock de bens que as lojas solidárias posteriormente disponibilizam às famílias que mais necessitam. Foi ainda realizada uma outra campanha de Natal de recolha de brinque-dos, com os quais se construiu uma árvore de Natal de brinquedos, a qual os nossos associados puderam ver nas nossas instalações e que foram distribuídos também pelas lojas solidárias e por duas instituições de soli-dariedade social que se dedicam ao acompanhamento de crianças. A Direcção da AMP agradece a todos os nossos associados que se dispo-nibilizam a ajudar nestas boas causas.

Campanhas de Solidariedade

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No dia 20 de Janeiro, a nossa classe de acrobática participou com alguns dos

seus atletas no TORNEIO «ANO NOVO» ACROMIX CAMARATE CLUBE. Podemos dizer que a AcroPortela iniciou o ano de 2013 da melhor forma possível, considerando os ex-celentes resultados obtidos no MINITRAM-POLIM E SOLO: – No ESCALÃO B (disputado por 14 equipas),

as equipas da AMP constituídas pelos atletas Francisco Rodrigues; Sofia Pinto; Sara Agui-lar e Carolina Leiria (equipa 1) e pelos atle-tas Carolina Crispim; Leonor Rocha; Diogo Dias e Laura Mendes (equipa 2), obtiveram respectivamente as taças correspondentes ao 4.º e 5.º lugares;

– No ESCALÃO C (disputado por 16 equipas) os nossos atletas Maria Miranda; Mariana Pereira; Catarina Rebelo; Maria Dias; Gui-lherme Sousa; Gonçalo Sampaio, obtiveram o 5.º lugar;

– No ESCALÃO D (disputado por 5 equipas), a AMP subiu ao pódio e recolheu a taça cor-respondente ao 1.º Lugar, com os nossos atletas Patrícia Aguiar; Ana Silva; Vasco Al-ves; Alexandra Moura; Catarina Aguiar.

De destacar ainda o papel das nossas atletas mais experientes na modalidade: Joana Fate-la; Mariana Garção, Maria Inês Pereira e Rita Marçal que também honraram a bandeira da AMP ao integrarem, a convite da organização, o conjunto de juízes deste torneio. Estão de parabéns os nossos Atletas.

Acrobática – AcroPortela

No passado dia 7 de Janeiro, os nossos alunos da disciplina de

História Local leccionada pela Dra. Ana Paula Assunção, na sequência da abordagem do tema Importân-cia da Maçonaria em Portugal e da relevância das mulheres maçons do Conselho de Loures, foram ao Bair-ro Alto, visitar o Museu Maçónico.

Fórum sobre a história da Portela

No mês de Janeiro, foi apresentado nas aulas do Forúm, Sociedade e Cultura um intensivo e meritoso trabalho de

investigação desenvolvido pelos nossos sábios Álvaro Santos e António Mesquita, que já integraram várias direcções da AMP e que muito deram e têm dado à nossa associação. Os nossos sábios realizaram várias pesquisas junto do Arquivo Municipal de Loures e consultaram os estudos havidos desde os anos 50 do seculo passado até ao Anteplano da urbanização das quintas da Portela, à expansão do Aeroporto da Portela e ao planeamento das vias rápidas que foram a Auto Estrada do Vale do Tejo, a 1.ª Circular de Lisboa e a Circular Externa de Lisboa.Estão previstas mais duas sessões sobre esta temática, sendo mais tarde apresentadas as histórias da Urbanização da Portela, da Associação de Moradores e a Criação da Junta de Freguesia.Um trabalho de grande valor para a Portela e os Portelenses que a Portela Magazine não deixará de divulgar assim que os seus autores entendam que está concluído.

No dia 6 de Fevereiro, foi realizada mais uma visita no âmbito das disciplinas de Francês e do Fórum Sociedade, Actualidade e Cultura, desta vez à Casa Museu Leal da Câmara.

Também as aulas de Direito, lecciona-das pelo Dr. Miguel Matias, têm sido muito participadas e os nossos sábios puderam contar no dia 15 de Janeiro com a presença do Procurador da Re-pública João Aibéo que veio falar sobre o papel do Ministério da Público no Direito Português. No dia 15 de Janeiro, os nossos sábios tiveram uma aula prática deslocando-se ao Campus da Justiça onde visita-ram as Varas Criminais e tiveram oportunidade de assistir a uma sessão de julgamento.

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ACONTECEU NA AMP

Baile de Máscaras AMP 2013

No dia 9 de Fevereiro, em cele-bração do Carnaval, realizou-

-se o já habitual Baile de Máscaras da AMP, que vai na sua 3.ª edição e que contou com a presença dos alunos do Portela Sábios e muitos associados e amigos da AMP. No dia 23 de Janeiro, realizou-se no Portela Sábios

o Workshop intitulado «Ser com Positividade», que teve como oradora a Dra. Tânia Baptista, licenciada em Psicologia das Organizações, pelo ISCTE e que actual-mente é formadora e coach nas áreas de desenvolvimento pessoal e positividade. Foi uma sessão muito participada e que teve a lotação máxima de 20 participantes. No dia 16 de fevereiro, foi realizada pela Dra. Ana Tere-sa Ferreira, psicóloga do GAAF da Portela, uma Palestra sobre «Bullying», um tema bastante preocupante, actual e dirigido aos jovens e educadores do Portela Jovem, aos sábios e à população portelense no geral.

Palestras PORTELA SÁBIOS

No dia 26 de Janeiro, aconteceu a 9.ª Tertúlia «Alimentar o Ser», desta vez subordinada ao tema «Valores na Sociedade Contemporânea».

Estas tertúlias têm uma periodicidade mensal e realizam-se em regra no último sábado de cada mês nas instalações da Universidade Sénior – Por-tela Sábios da Associação dos Moradores da Portela. São tertúlias abertas a quem nelas queira participar e destinam-se a reunir amigos num ameno debate sobre temas diversos, em que se pode declamar, cantar, tocar, de-bater ideias ou apenas ouvir, fique atento à data da próxima e se estiver interessado e quiser juntar-se a nós é só… aparecer.

Nas férias de Natal, os nossos jovens realizaram diversas ac-

tividades e passeios: foram à Vila Natal Óbidos, ao Cinema, conhecer Lisboa, ao Pavilhão do Conheci-mento e ainda tiveram tempo para a desenvolver Dinâmicas de Grupo e alguns trabalhos manuais alusivos à época.

Tertúlia «Alimentar o Ser»

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VAI ACONTECER NA AMP

Acrobática – AcroPortelaEstaremos ainda presentes no 1.º

troneio de Desenvolvimento de Acrobática, nos dias 23 e 24 de Fe-vereiro, novamente no Pavilhão do Catujal.Em Março, vamos participar nas qualificativas de Iniciados, Infan-tis, Juvenis, Juniores e Seniores e, em Abril, durante as férias da Pás-coa, será realizado um estágio da equipa na Faculdade de Motricida-de Humana.

Espectáculo de Dança – «Gente da Rua»No dia 27 de Abril, a AMP vai

mais uma vez apresentar um es-petáculo de dança, cor e música, nes-te ano no auditório do Cinema da En-carnação. Esta será a 3.ª edição deste espetáculo de palco, e que irá contar com as actuações das prestigiadas classes de Dança Jazz e Acrobática da nossa associação, assim como de outros artistas convidados Será sem dúvida uma mostragem de qualidade que esperamos seja do agrado de todos.

Grupo de Teatro AMPDrama ou comédia? AMP cria

grupo de teatro…Tem veia de artista? Gostava de subir a um palco e interpretar um personagem? A AMP está em pro-cesso de formação de um grupo de teatro, mas para isso precisamos de actrizes e actores. Se está interessa-do em representar para uma plateia e vestir uma personalidade diferen-te, então envie-nos um e-mail para [email protected]

As Férias de Páscoa estão a chegar – e o Portela Jovem tem já o plano de actividades a desen-volver com os nossos jovens durante esta pausa lectiva e muitas são as novidades, visitas e di-vertimentos que estão programados, como por exemplo, geocaching, oficinas de desenho e pin-tura, caças ao tesouro, piqueniques, actividade de karts em Palmela, visitas ao centro de recupera-ção do Lobo Ibérico, às filmagens Flash Mob, ao Museu do Mar, à casa Paula Rego. As inscrições estão já abertas e destinam-se a todos os jovens, quer os que estão connosco du-rante todo o ano no nosso Centro de Actividades para Jovens, quer para jovens que apenas se jun-tam a nós nos períodos de férias escolares.Para mais informações, contactar a secretaria da AMP – telef. 21 943 51 14 ou 918 552 954, ou através de e-mail: [email protected] ou [email protected]

No dia 27 de Fevereiro, será realizado um workshop de Shiatsu, com Inês Figueira, terapeuta e aluna de Shiatsu, na Escola de Shiatsu de Portugal, através do Instituto de Macrobiótica de Portugal. «Pressão do dedo» é o significado do termo japonês Shiatsu, um método de tratamento que visa a recuperação e manutenção da saúde, através do reequilíbrio da rede energética do nosso corpo. Esta rede dirige o nosso crescimento, funções vitais, actividade e consciência ao longo de toda a vida.Ainda em Março, em data a definir, será realizada uma Sessão de Esclarecimento por Técnicas de Apoio ao Consumidor da ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, subordinada ao tema da mudança de comercializador ante a liberalização do sector da electricidade e do gás natural. No mês de Março, o Portela Sábios está a organizar uma viagem de quatro dias a Paris e no dia 13 de Março está planeado um passeio de dia inteiro a Sangalhos, com almoço incluído e visita às Caves Aliança. Não deixe de participar.Continuam abertas as INSCRIÇÕES DO PORTELA SÁBIOS e do PORTELA JOVEM para o ANO LECTIVO 2012-2013 e para as MODALIDADES DESPORTIVAS DA AMP – para mais informa-ções contactar a secretaria da AMP – telef. 21 943 51 14 ou 918 552 954, ou através de e-mail [email protected] ou [email protected] ou [email protected]

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Amar um livro

Patrícia Guerreiro Nunes

CULTURA

No início, havia o campo, os Invernos rigorosos e uma estranha guerra ocupava os

dias. O corpo era muito magro e frá-gil, mas vingou ao abrigo da comu-nhão com os livros, os cães e os ir-mãos. Assim se constituiu a sua ideia pessoal de felicidade: uma cama, um livro, um cão e um amante que fos-se também um camarada. Terá sido então que os livros se entrelaçaram com o erotismo numa enigmática, mas bela coincidência.

[O pai estava ausente: sentado no sofá, fumava cigarro atrás de cigarro e lia um livro grosso. Complexo de Electra. Livros e cigarros: uma compulsão fálica de inspiração-expiração.]

Dos livros, recebeu, portanto, a sua educação sentimental e o gos-to pelas palavras certeiras. A sua segunda pele. Anos mais tarde, ao deixá-los empacotados num sótão amigo para viajar durante um ano, sentir-se-á estranhamente livre e nua. A doença do livro colou-se aos ossos. As noites serão perdidas para a insónia, na angústia de a vida não durar nem para metade dos livros que deseja. Sentirá sempre que não se pode ler um livro sem ter lido to-dos. Por consolo, conceberá a ideia de paraíso-biblioteca. No entanto, terá sempre as suas poupanças em-penhadas, penará sempre que muda de casa e irá cometer muitas impru-dências na vida, tentando igualar a beleza da arte.Irá sofrer, mas nos ombros sentirá sempre asas prestes a despontar. Aprende-se mulher, cativa-se na ideia de um amor louco. Enterne-ce-se com os desvarios de uma tal Madame Bovary, parece que esco-lheram ambas viver mal, mas poe-ticamente. Às vezes, vacila, as per-nas já não prestam para andar, mas sempre acha novo vigor em poemas

(ou serão elegias?) como o de Ale-xandre O’Neill:

Gosto de Ofélia ao sabor da corrente.Contigo é que me entendo,piquena que te matas por amora cada novo e infeliz amore um dia morres mesmoem «grande parva, que ele há tanto homem!»

A sua história da leitura confunde-se com os seus amores e desamores. O primeiro será amado com todo o arsenal literário da adolescência, um amor nietzscheano incapaz de durar porque consagrado ao fogo violen-to. Depois, virão as noites das pai-xões nómadas e cada aurora a acha-rá, deitada num desalinho etílico, com um amante-livro diferente. O coração será um caçador solitário e o amor uma faca que ela usará para se esventrar, procurando acertar em si mesma. Partilhará o sono com mil amores emprestados até que um dia acordará esvaindo-se em sangue. Vermelho-imperfeito.

[Os encontros fortuitos na biblio-teca. Traz o livro para casa, bem junto ao peito, como quem se orgulha de um crime. As mãos seguras da sua textura. Duran-te dias, não faz mais do que olhá-lo, acariciá-lo e adormecer junto dele. Sonha com a fantasia de um sexo de ler: um texto-car-ne a penetrá-la, a doer-lhe fundo e um orgasmo acontecendo pelas palavras.]

As noites seguintes serão assom-bradas pelo chamamento de sereias impiedosas. Conseguirá sobreviver apenas graças às terríveis palavras de Herberto Helder. Ele nunca sa-berá, mas salvará a sua vida numa altura em que mão alguma a poderia alcançar. Numa noite de Primavera adiada, virá esse amor louco e bru-to, tão arduamente sonhado. Os dias serão então fartos em fomes e en-fartes e o corpo, inquieto, cirandará pela cidade, buscando as suas pala-vras. Será finalmente um livro de pernas abertas que alguém conse-guirá ler. Mas de novo a desilusão. Desta vez quase fatal. Vermelho- -perfeito. Atravessará então a mor-te desértica, acompanhada apenas pela indignação de Raskólnikov. Sobrevirá depois a grande solidão e, durante a travessia desse deserto inumano, nenhum homem ou livro será amado.Os livros continuarão lá, à espera do seu regresso, amantes leais que ela saberá reencontrar quando regressar à casa que o coração construiu para se abrigar. Com um livro bem junto do peito, ela sentirá por fim a sua alma junta, adormecendo contente e satisfeita, como se tivesse tido uma noite inteira de amor. Um acto de amor diferido, mediado pela solidez do papel, consumado na liquidez da tinta. As frases indizíveis acharão por fim aconchego nos corpos de-sencontrados no Tempo. E carne e letra fundir-se-ão num só Livro.

leiturasdemadamebovary.blogspot.com

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Hoje, conto-vos uma his-tória que data de 1997, quando eu tinha 13 anos,

e que acho espelha o que é crescer na Portela.Foi no início do Verão, Junho, um dos meses mais quentes de que ha-via memória. Recordo-me de al-guém o descrever como «igual ao Deserto do Saara, mas sem “aque-la” brisa».Eu e o Rui (ou o Tiago, não sei bem, não sou muito bom com no-mes) saímos do nosso prédio com uma bola de futebol debaixo do braço e com destino ao prédio do Ricardo (ou seria do Pedro?).Eu e o Rui/Tiago tínhamos sido desafiados para uma jogatana. Não, ele chamava-se Diogo. Acho eu... Exacto, eu e o Rui/Tiago/Dio-go tínhamos sido desafiados para uma futebolada. Em jogo, estava o desafio lançado na escola no dia anterior:«O Sporting é melhor do que o Benfica!» – disse ele. «Não é nada!» – respondi assertivamente.Além disso, havia a possibilida-de de a mãe do Ricardo/Pedro, a

Crescer na Portela Hugo Rosa Dona Ana, nos convidar para subir

e oferecer um lanche com as suas míticas panquecas com chocolate.Naquela altura, bastava dizer aos meus pais: Olha, vou jogar futebol para o prédio do Ricardo/Pedro e volto para jantar. A minha mãe, que confundia com muita facilidade os nomes dos meus amigos, pergun-tava sempre: Quem é o Ricardo/Pedro? É o irmão do João, ou Ma-nuel, ou lá como ele se chama? E eu lá esclarecia: Não, o João/Ma-nuel é irmão do Rui/Tiago/Diogo, com quem eu vou. Mas o prédio é do Ricardo/Pedro.É incrível como naquela altura também se faziam planos, mesmo sem telemóvel, Internet ou Se-gways.Ao chegar ao prédio do Ricardo/Pedro, ele apresentou-nos a sua irmã, Diana, que tinha uma gémea de seu nome Andreia. A Diana/Andreia era a sua parceira no nos-so épico confronto de dois con-tra dois. Eu e o Rui/Tiago/Diogo pensámos logo uma rapariga? Isto assim vai ser fácil. O que não sa-bíamos é que a Diana/Andreia jogava futebol desde os cinco no Sporting.

Não me recordo ao certo em que posição ela jogava no Marítimo, mas devia ser ponta-de-lança. Creio que nos marcou quatro go-los. Foi uma das mais divertidas partidas de ténis da minha vida.O resultado final escapa-me, mas sei que no fim a Dona Ana/Joana ofereceu o lanche. Foram os me-lhores crepes da minha vida. E com geleia de morango, tal como eu gosto.Porque é que esta história é rele-vante? Porque na semana passada encontrei o Rui/Tiago/Diogo no Centro Comercial. Estava com a sua esposa, a Diana/Andreia, a co-mer um croissant misto da Tarik, tal como naquela manhã fria de 1997. Relembrámos as circunstân-cias de como eles se conheceram e revelaram que tinham acabado de comprar casa na Portela.Voltaram, porque querem que a fi-lha tenha as mesmas experiências que nós tivemos.

HUMOR

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Bonifácio Silva

Novas TecNologias

Hoje, veio ter comigo uma amiga a lamentar-se de que tinha deixado cair o

portátil. Na loja, informaram-na de que o disco ficara severamente danificado, pelo que teria de ser substituído. O que a incomodava não era o valor da reparação, mas a perda das fotografias que tinha do tempo da universidade e da fi-lha. Eram milhares e milhares de fotografias, das quais nem uma centena tinha em formato de pa-pel.Muitos são os que hoje em dia transportam uma «máquina» foto-gráfica digital. Longe vão os tem-pos em que este hobby nos obri-gava a carregar um equipamento pesado e volumoso. Entrámos há algum tempo na era em que os amadores facilmente conseguem tornar-se em verdadeiros profis-sionais. Com um investimento reduzido, conseguimos adquirir equipamentos necessários para captar aquela imagem que outrora parecia impossível, com ou sem

fotómetro (equipamento utilizado para a medição de luz), as experi-ências com os filtros, o minucio-so trabalho de revelar as próprias fotos, a escolha do papel e muito mais.Hoje, não damos valor a tudo isso, porque, em poucos segun-dos, podemos captar milhares de fotografias, e a nossa mente dis-torcida permite-nos pensar que facilmente usamos 10 ou 20 para enviar por correio eletrónico, en-viar por mensagem multimédia ou até apenas para mostrar no visor o resultado de algo que não custou nada.Já perdemos o hábito de as visitas consultarem os nossos álbuns fo-tográficos, já não existe a verda-deira arte de captar aquele olhar, o sorriso no momento certo, no ângulo certo e com as cores e tons correctos. Se quisermos ver foto-grafias, ligamos o portátil e tudo o que vemos são imagens tratadas pelas máquinas e corrigidas com recurso a programas. Muitos são os que nem se lembram de guar-dar uma cópia de segurança e isto porquê? Porque não custou nada, logo, não damos valor.Para evitar estas situações, o meu conselho é que imprimam as me-lhores fotografias e façam cópias de segurança, um DVD custa me-nos de 1 euro e armazena dezenas de milhares de fotografias.

Analógico vs. Digitalrecurso a programas de melhora-mento e edição de imagem.Esta mudança deve-se em muito aos grandes investimentos que as grandes marcas de outros tempos fazem para inundar o mercado de máquinas de topo a preço da uva mijona. Vemos lentes de marca de elite num vulgar equipamento de telemóvel, vemos a guerra dos tão afamados megapixels em máqui-nas compactas, vemos telemóveis que filmam em HD, até onde irá esta guerra?Muitos desconhecem o prazer do analógico, a consulta dos gráficos de exposições, o uso e cálculos do

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Shampô - 18 frascosGel de banho - 27 frascosPasta de dentes - 12 embalagensSabonetes - 13 unidadesFraldas séniores - 5 pacotesPensos incontinência - 4 pacotesFraldas bebés - 27 pacotesEscovas de dentes - 3 unidadesÓleo Johnson-1 frascoPacote de algodão - 1Sabonete líquido - 1 frascoPó de Talco - 1 embalagemPapel Higiénico - 12 rolosÁgua oxigenada - 1 frascoPapas infantis - 6 pacotesLeite - 24 lLatas de salsichas - 39Esparguete - 12 pacotesMassinhas - 14 pacotesArroz - 20 kgAtum - 5 latasDetergente para roupa - 5 l

E ainda dezenas de brinquedos e centenas de peças de vestuário para bebé, criança e adulto.

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LOJAS SOLIDÁRIAS

A Loja Solidária de Saca-vém, situada na Casa da Cultura da freguesia, foi

palco, no passado dia 7 de Janeiro, da doação de bens resultantes da campanha levada a cabo durante a época natalícia pela AMP jun-to de associados e funcionários. Produtos de higiene pessoal, rou-pa, brinquedos, bens alimentares e roupa serão entregues a famílias carenciadas do concelho. Famí-lias com baixos rendimentos, pes-soas em situação de desemprego prolongado, doença ou separação, vítimas de violência doméstica ou abandono, idosos com fracos recursos económicos e crianças e jovens que apresentem necessida-des básicas de subsistência podem deslocar-se às Lojas Solidárias do concelho. No seu todo – Sacavém, Moscavide e Camarate – apoiam regularmente cerca de quinhen-tas famílias, encaminhadas pelos serviços de Acção Social da Câ-mara Municipal de Loures. Pre-sentes na cerimónia de entrega estiveram Sónia Paixão, vereado-ra responsável pelo Departamento de Coesão Social e Habitação, e Carla Marques, presidente da di-recção da AMP. «Conhecemos e apoiamos este projecto. Lançá-mos esta campanha no princípio do mês de Dezembro. Solicitámos aos nossos sócios e aos morado-res da Portela produtos de higie-

Eva Falcão

AMP doa bens a Lojas Solidárias do concelho de Loures

A Associação dos Moradores da Portela (AMP) doou, no passado dia 7 de Janeiro, artigos de higiene, alimentos, roupa e brinquedos às Lojas Solidárias do concelho de Loures, resultado da campanha

levada a cabo durante a época natalícia e que mobilizou sócios e funcionários da AMP.

ne pessoal, fraldas para crianças e adultos, roupas e brinquedos. Sabíamos que eram estes os bens que as lojas mais necessitavam na altura e que, tendencialmen-te, são menos doados», explicou a dirigente que esclareceu «não queremos substituir-nos às enti-dades existentes que já fazem este tipo de trabalho, queremos, sim, juntar esforços e ajudar a mini-mizar o impacto negativo que o actual contexto socioeconómico do país tem tido nas famílias do concelho. Estamos inclusivamen-te em vias de assinar um protoco-lo com a Câmara de Loures que fará da AMP um centro de recolha de bens de primeira necessidade, ajudando assim a fornecer com regularidade as lojas solidárias do concelho».Uma percentagem dos produtos entregues resultou das doações de sócios e funcionários. A restante resultou do valor angariado (400 €) pelo Portela Wellness através da campanha «Presentes Solidá-rios» promovida durante o mês de Dezembro e para a qual revertia 1 € por cada nova inscrição no Por-tela Wellness e 1 € por cada 20 € em vales de oferta do Well SPA.Entretanto, e paralelamente, o PW, na pessoa do professor Humberto Tomaz, levou a cabo, no Dia de Reis, uma doação de brinquedos e livros infantis e juvenis, resul-tado da construção de uma árvore de Natal com estes bens ofereci-

Doações

dos pelos sócios e funcionários da AMP. Estes brinquedos e livros foram doados à Casa do Infanta-do e à Casa da Palmeira. No en-tanto, a campanha terá superado todas as expectativas, tendo sido, assim, possível doar brinquedos também às Lojas Solidárias.

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