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Os pastores de Virgílio tocavam avenas e outras coisas e cantavam de amor
literariamente.(Depois eu nunca li Virgílio.Para que o havia eu de ler?)
Mas os pastores de Virgílio, coitados, são Virgílio.
E a natureza é bela e antiga.
Autor: Alberto Caeiro
A flor tem linguagem de que a sua semente não falaA raiz não parece dar aquele fruto.
Não parece que a flor e a semente sejam da mesma linguagem.
Retirada a linguagem a semente é igual a flor a flor igual a fruto, fruto igual a semente, destino igual
a devir.E era o que se podia: igual.
Autor: Alberto Caeiro
Leve, breve, suave, um canto de aveSobe no ar com que principia o dia.
Escuto, e passou…Parece que foi só porque escutei que parou.Nunca, nunca, em nada, raie a madrugada,Ou splenda o dia, ou doire no declive, tive
prazer a durar mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir gozar.
Autor: Alberto Caeiro
Hoje de manhã saí muito cedo,por ter acordado ainda mais cedo
e não ter nada para fazer…Não sabia por que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um ladoe segui o caminho para onde o vento me
soprava nas costas.Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser semprevou onde o vento me leva e não me
sinto pensar.
Autor: Alberto Caeiro
Autor: Alberto Caeiro
Toda esta arquitectura, lenta percussão, perpassa;Sobre cerros sonoros; com o seu contorno infixo,
Fulgurando. Detenham-se as estrelas quando for noite;Preguem-se outros pregos de prata fora do céu visível.Sons já sem luz. Pastores poisam as ocarinas, bebem;
Entre colinas ocas; o frio coalhado pelas tetas das cabras.
Autor: Alberto Caeiro