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ntes de começarmos, retiremos já um dos entraves A terminológicos que mais frequentemente costuma surgir: Manufatura Aditiva, (MA), e Impressão 3D são, fundamen- talmente, a mesma coisa. Com o decorrer do tempo e o uso das diversas técnicas de Impressão 3D, foram sendo usadas diferentes terminologias por diferentes entidades, mas, no fundo, todas se referem a um processo produtivo onde um objeto é fabricado através da deposição, (adição), sucessiva de camadas de material. Analogamente às técnicas de fabrico tradicionais, existem também diversas técnicas de Impressão 3D. Alguns exemplos são as técnicas FDM, SLS, SLA, entre outras; acrónimos estes que por vezes variam de marca para marca por serem tecnologias patenteadas, mas que fundamentalmente acabam por serem muito similares no seu princípio de funcionamento. Note-se que não existe “a melhor técnica de Impressão 3D”. Cada uma tem os seus prós e contras assim como campos de aplicabilidade. Olhemos então para o mercado da Impressão 3D. Este tem vindo a apresentar taxas de crescimento anuais na ordem dos dois dígitos e, mesmo os mais reconhecidos analistas têm vindo a observar as suas projeções serem superadas ano após ano. Como qualquer mercado que se demonstre ter um potencial de crescimento enorme, este já foi alvo de especulação e consequentemente uma bolha, que rebentou no início de 2014. Desde então os índices, (SSYS e DDD), dos dois maiores fabricantes mundiais de impressoras 3D à data, têm vindo a descer, sendo que apenas começaram a estabilizar no inicio de 2016. Ao mesmo tempo, alguns gigantes da Impressão 2D começam a revelar os seus avanços e intenções de entrarem no mercado do 3D. A HP, por exemplo, já o fez em 2016 e existem rumores de que a Xerox e a Canon estão a caminho. Paralelamente a todo este universo corporativo, com a queda progressiva das patentes que protegiam o uso de determinadas técnicas de impressão, o verdadeiro boom iniciou-se pelas mãos do movimento, comummente chamado, maker. A informação tornou-se pública, de acesso mais fácil, as pessoas gostavam de partilhar e desenvolver sobre o que já existia e, numa primeira fase, resumia-se a isto. Contudo, rapidamente passamos para o ntes de começarmos, retiremos já um dos entraves A terminológicos que mais frequentemente costuma surgir: Manufatura Aditiva, (MA), e Impressão 3D são, fundamen- talmente, a mesma coisa ponto onde nos encontramos hoje: onde inúmeras empresas monetizam essa oportunidade de poder utilizar a informação disponível e constroem e vendem Impressoras 3D. Sendo este tema da Impressão 3D tão inovador e disruptivo, rodeia-se de inúmeros paradigmas, e para um melhor entendimento, convém definir certos pressupostos. Existem dois lados do mercado: o da impressora de secretária, (Desktop/Pessoal), e o da impressora Industrial. As impressoras do segmento Desktop vendem-se entre €150 e €5000, dependendo da qualidade que apresentam, ou não. Foram vendidas cerca de 263 mil destas impressoras no ano de 2016. Estas são cada vez mais comuns e fáceis de encontrar, e o mercado está absolutamente inundado de cópias e clones de determinados modelos “base”; a Impressão 3D vai-se tornando cada vez mais um fenómeno entre o público em geral e os preços deste tipo de impressoras só tende a baixar uma vez que são fabricadas em massa. Com as impressoras do segmento Industrial surge outra situação particular, pois temos as de primeira geração, (que começavam aproximadamente nos €100.000 e podiam alcançar os €750.000), - onde tínhamos dois ou três fabricantes - e temos as mais atuais, de segunda geração, onde começam a aparecer, também, cada vez mais fabricantes - e assim nasce um novo segmento, o Profissional. O aparecimento destes veio criar concorrência às primeiras, o que levou à descida de preços e obrigou a ligeiros reajustes de posicionamento no mercado. Esta abordagem de primeira e segunda geração também é válida para prestadores de serviço de Impressão 3D, porém há que prestar atenção ao tipo de Impressoras 3D que possuem. O cenário que aqui se retrata é que existe um grande fosso entre os segmentos Desktop e Industrial; e o segmento Profissional começa a preencher esse fosso. Aqui começa-se a demonstrar, em parte, a morfologia - altamente mutante - do mercado da Impressão 3D. Não é um mercado tradicional onde se criam produtos que esperamos produzir durante 5 anos e só criaremos uma nova versão então. Para o bem e para o mal, não é um mercado onde seja difícil a concorrência entrar. É um mercado altamente dinâmico, onde os produtos, (neste caso Impressoras 3D), em certos casos, têm uma nova versão a cada 6 meses - o que pode ser visto como um pesadelo por ter de alterar linhas de produção ou como a beleza de todo o setor onde tudo acontece muito mais rapidamente e as soluções estão sempre na vanguarda da tecnologia - e onde todos os anos emerge uma nova técnica de impressão, duas vezes, cinco vezes, dez vezes mais rápida do que as existentes. Vindo eu a seguir este mercado, numa base diária, desde o início de 2014, foi desta forma que iniciei a minha atividade neste setor e, em certa medida, sinto-me um nativo no sentido em que já “nasci” com este próprio mindset tão caraterístico e disruptor. Através de uma pesquisa exaustiva e muito detalhada do estado da arte do setor, muito benchmarking e acompanhando as suas constantes alterações - assim como a constituição, (no início de 2015), de uma equipa multi-disciplinar que abrange diversas áreas da Engenharia e Design - fomos, (na XPIM - 3D Printing), Portugal 3D - Onde estamos e para onde vamos? Portugal 3D - Onde estamos e para onde vamos? 3 1

Portugal 3D - Onde estamos e para onde vamos - cenfim.pt · é fabricado através da deposição, (adição), sucessiva de camadas de material. Analogamente às técnicas de fabrico

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Page 1: Portugal 3D - Onde estamos e para onde vamos - cenfim.pt · é fabricado através da deposição, (adição), sucessiva de camadas de material. Analogamente às técnicas de fabrico

ntes de começarmos, retiremos já um dos entraves A terminológicos que mais frequentemente costuma surgir:

Manufatura Aditiva, (MA), e Impressão 3D são, fundamen-

talmente, a mesma coisa. Com o decorrer do tempo e o uso das

diversas técnicas de Impressão 3D, foram sendo usadas

diferentes terminologias por diferentes entidades, mas, no

fundo, todas se referem a um processo produtivo onde um objeto

é fabricado através da deposição, (adição), sucessiva de

camadas de material.

Analogamente às técnicas de fabrico tradicionais, existem

também diversas técnicas de Impressão 3D. Alguns exemplos

são as técnicas FDM, SLS, SLA, entre outras; acrónimos estes

que por vezes variam de marca para marca por serem

tecnologias patenteadas, mas que fundamentalmente acabam

por serem muito similares no seu princípio de funcionamento.

Note-se que não existe “a melhor técnica de Impressão 3D”.

Cada uma tem os seus prós e contras assim como campos de

aplicabilidade.

Olhemos então para o mercado da Impressão 3D. Este tem vindo

a apresentar taxas de crescimento anuais na ordem dos dois

dígitos e, mesmo os mais reconhecidos analistas têm vindo a

observar as suas projeções serem superadas ano após ano.

Como qualquer mercado que se demonstre ter um potencial de

crescimento enorme, este já foi alvo de especulação e

consequentemente uma bolha, que rebentou no início de 2014.

Desde então os índices, (SSYS e DDD), dos dois maiores

fabricantes mundiais de impressoras 3D à data, têm vindo a

descer, sendo que apenas começaram a estabilizar no inicio de

2016. Ao mesmo tempo, alguns gigantes da Impressão 2D

começam a revelar os seus avanços e intenções de entrarem no

mercado do 3D. A HP, por exemplo, já o fez em 2016 e existem

rumores de que a Xerox e a Canon estão a caminho.

Paralelamente a todo este universo corporativo, com a queda

progressiva das patentes que protegiam o uso de determinadas

técnicas de impressão, o verdadeiro boom iniciou-se pelas mãos

do movimento, comummente chamado, maker. A informação

tornou-se pública, de acesso mais fácil, as pessoas gostavam de

partilhar e desenvolver sobre o que já existia e, numa primeira

fase, resumia-se a isto. Contudo, rapidamente passamos para o

ntes de começarmos, retiremos já um dos entraves A terminológicos que mais frequentemente costuma surgir:

Manufatura Aditiva, (MA), e Impressão 3D são, fundamen-

talmente, a mesma coisa

ponto onde nos encontramos hoje: onde inúmeras empresas

monetizam essa oportunidade de poder utilizar a informação

disponível e constroem e vendem Impressoras 3D.

Sendo este tema da Impressão 3D tão inovador e disruptivo,

rodeia-se de inúmeros paradigmas, e para um melhor

entendimento, convém definir certos pressupostos.

Existem dois lados do mercado: o da impressora de secretária,

(Desktop/Pessoal), e o da impressora Industrial.

As impressoras do segmento Desktop vendem-se entre €150 e

€5000, dependendo da qualidade que apresentam, ou não.

Foram vendidas cerca de 263 mil destas impressoras no ano de

2016. Estas são cada vez mais comuns e fáceis de encontrar, e

o mercado está absolutamente inundado de cópias e clones de

determinados modelos “base”; a Impressão 3D vai-se tornando

cada vez mais um fenómeno entre o público em geral e os preços

deste tipo de impressoras só tende a baixar uma vez que são

fabricadas em massa.

Com as impressoras do segmento Industrial surge outra

situação particular, pois temos as de primeira geração, (que

começavam aproximadamente nos €100.000 e podiam

alcançar os €750.000), - onde tínhamos dois ou três fabricantes

- e temos as mais atuais, de segunda geração, onde começam a

aparecer, também, cada vez mais fabricantes - e assim nasce

um novo segmento, o Profissional. O aparecimento destes veio

criar concorrência às primeiras, o que levou à descida de preços

e obrigou a ligeiros reajustes de posicionamento no mercado.

Esta abordagem de primeira e segunda geração também é válida

para prestadores de serviço de Impressão 3D, porém há que

prestar atenção ao tipo de Impressoras 3D que possuem.

O cenário que aqui se retrata é que existe um grande fosso entre

os segmentos Desktop e Industrial; e o segmento Profissional

começa a preencher esse fosso.

Aqui começa-se a demonstrar, em parte, a morfologia -

altamente mutante - do mercado da Impressão 3D. Não é um

mercado tradicional onde se criam produtos que esperamos

produzir durante 5 anos e só criaremos uma nova versão então.

Para o bem e para o mal, não é um mercado onde seja difícil a

concorrência entrar. É um mercado altamente dinâmico, onde

os produtos, (neste caso Impressoras 3D), em certos casos,

têm uma nova versão a cada 6 meses - o que pode ser visto como

um pesadelo por ter de alterar linhas de produção ou como a

beleza de todo o setor onde tudo acontece muito mais

rapidamente e as soluções estão sempre na vanguarda da

tecnologia - e onde todos os anos emerge uma nova técnica de

impressão, duas vezes, cinco vezes, dez vezes mais rápida do

que as existentes.

Vindo eu a seguir este mercado, numa base diária, desde o início

de 2014, foi desta forma que iniciei a minha atividade neste setor

e, em certa medida, sinto-me um nativo no sentido em que já

“nasci” com este próprio mindset tão caraterístico e disruptor.

Através de uma pesquisa exaustiva e muito detalhada do estado

da arte do setor, muito benchmarking e acompanhando as suas

constantes alterações - assim como a constituição, (no início de

2015), de uma equipa multi-disciplinar que abrange diversas

áreas da Engenharia e Design - fomos, (na XPIM - 3D Printing),

Portugal 3D - Onde estamos e para onde vamos?Portugal 3D - Onde estamos e para onde vamos?

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Page 2: Portugal 3D - Onde estamos e para onde vamos - cenfim.pt · é fabricado através da deposição, (adição), sucessiva de camadas de material. Analogamente às técnicas de fabrico

capazes de desenvolver um protótipo, absolutamente de raiz, no

espaço de apenas 6 meses. Este protótipo foi funcional desde o

primeiro dia e conseguia produzir resultados que rivalizavam com

equipamentos de qualidade Industrial.

O objetivo não era criar mais uma Impressora 3D, mas sim um

produto de qualidade, de grande formato (nunca menos de

60x60x60cm de volume de impressão), que viesse colmatar

lacunas detetadas no mercado, fosse de encontro às

necessidades do cliente, fácil de usar, rápido, robusto e

compacto. Algo que completasse a lacuna de mercado

mencionada anteriormente.

O nosso plano à data era prestar serviço de impressão 3D -

sempre de grande formato, como fator diferenciador - para

alavancarmos a produção de equipamentos. Mas, novamente,

num exemplo da rapidez com que este mercado opera, o plano

inicial de fazer essa transição nos dois anos seguintes, acabou

por acontecer em 6 meses; desde então que evoluímos o

protótipo para uma versão melhorada, recorrendo apenas a

componentes de qualidade industrial e já temos unidades

entregues desde meados de 2016.

No nosso caso foi por interesse e demanda súbita do nosso

equipamento durante a nossa presença no primeiro, (de quatro),

programas de formação em gestão de empresas - da Tecminho

na Universidade do Minho e da Associação Nacional de Jovens

Empresários - em que temos vindo a participar, mas, novamente,

é só um exemplo de como realmente este mercado funciona a

um ritmo muito acelerado.

Apesar de todos os três segmentos mencionados anteriormente

estarem a registar crescimento, o grosso das vendas recai no

segmento Desktop.

Este público tende a estar mais informado sobre a oferta

existente, o que faz sentido tendo em conta que o tema da

Impressão 3D tem mais visibilidade online e particularmente nas

redes sociais. Estes adquirem os equipamentos por ser uma

tecnologia inovadora e também porque já representa um

investimento reduzido; sendo que a procura tende, em grande

parte, a ir de encontro ao produto mais barato.

Do lado do público profissional, a situação é completamente

diferente. Em primeiro lugar o conhecimento, (awareness), da

tecnologia ainda não está tão disseminado quanto isso. Em

segundo lugar, existe um desconhecimento generalizado das

possibilidades que a tecnologia tem para oferecer, e mais

importante ainda, de como recorrer à impressão 3D pode

acrescentar valor à sua organização. Este desconhecimento não

é particular de Portugal, mas sim um fator generalizado; ainda

que em menor medida em certos países, como os EUA, por

exemplo, onde a tecnologia já tem uma presença mais forte no

tecido empresarial.

Apesar de erróneas, a perceção de o custo ser elevado e da

qualidade dos resultados produzidos por uma impressora 3D ser

reduzida também são fatores detratores que têm influência na

recetividade ou adoção da tecnologia.

Quem está a comprar impressoras 3D?Quem está a comprar impressoras 3D?

Vendo para além da venda de impressoras, começa a ser

percebido, globalmente, que a Impressão 3D tem um impacto

muito maior no setor Profissional e na Indústria. Não só no

sentido de potencial de negócio, mas mais no sentido de

acrescentar valor às organizações!

A Impressão 3D vem dar resposta a questões que são

extremamente valorizadas nas empresas, seja qual for o seu

ramo de atividade.

Os benefícios mais comuns são a redução drástica dos tempos

de prototipagem, a facilidade com que podemos prototipar, a

abertura das portas da customização, a eliminação de limitações

de design e a otimização dos mesmos; todos estes vão

globalmente contribuir para uma redução de custos e conse-

quentemente um aumento da produtividade e competitividade.

Por ter um grau de envolvimento na compra relativamente

elevado nem sempre se justificará adquirir uma impressora para

a Empresa. Nestes casos fará mais sentido recorrer a um

serviço de impressão 3D e gradualmente avaliar o impacto e os

benefícios que esta solução aporta.

Neste sentido, e tendo em conta a matriz do nosso tecido

empresarial, o facto de possuirmos um mercado de exportação

grande e de sermos muito fortes ou únicos em determinados

setores de atividade, é importante que se comece a divulgar mais

a Impressão 3D como um fator de inovação e distintividade.

Para nós, em Portugal, este é um ótimo momento para

modernizar a nossa indústria através, (mas não só), da

Impressão 3D. Do lado do mercado produtor de impressoras,

temos cada vez mais oferta, (inclusive fabricantes em Portugal),

e do lado do Estado temos inúmeros incentivos para a

modernização da nossa Indústria. A boa notícia é que a

Impressão 3D se enquadra na tão badalada Indústria 4.0 para a

qual existem apoios, nomeadamente, para a Inovação e

Qualificação.

Este enquadramento também se revelará uma excelente

oportunidade de nos distinguirmos, em termos de mão de obra

qualificada, pois os esforços que serão feitos para adaptar e

inovar os sistemas de ensino e conteúdos programáticos, por

forma a incluírem estas tecnologias emergentes, (como a da

impressão 3D), mais cedo nas escolas, vão acabar por confluir.

Sabemos que a Indústria está a caminhar para uma matriz de

base cada vez mais tecnológica, e como tal, temos de estar a

par, conhecer e dominar essas tecnologias para mantermos as

nossas Empresas competitivas e, idealmente, elevá-las. Um

desses caminhos vai passar, inevitavelmente, pela Impressão

3D.

Nuno Marques de Oliveira, Diretor Executivo da XPIM - 3D Printing

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