4
Portugal é dos países onde menos alunos passam para o superior Diferença entre inscritos no secundário e universidades é das maiores da OCDE PSD promete dar mais liberdade a universidades para escolher alunos e contratar docentes Maria Graça Carvalho: "0 superior precisa de mudanças radicais" Arranca hoje Convenção Nacional do Ensino Superior Destaque, 2/3 epB/9

Portugal é dos países alunos para o superior · Portugal é dos países onde menos alunos passam para o superior Diferença entre inscritos no secundário e universidades é das

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Portugal é dos países alunos para o superior · Portugal é dos países onde menos alunos passam para o superior Diferença entre inscritos no secundário e universidades é das

Portugal é dos países onde menosalunos passam para o superiorDiferença entre inscritos no secundário e universidades é das maiores da OCDE • PSD promete dar maisliberdade a universidades para escolher alunos e contratar docentes • Maria Graça Carvalho: "0 superiorprecisa de mudanças radicais" • Arranca hoje Convenção Nacional do Ensino Superior Destaque, 2/3 epB/9

Page 2: Portugal é dos países alunos para o superior · Portugal é dos países onde menos alunos passam para o superior Diferença entre inscritos no secundário e universidades é das

EDUCAÇÃO

Muitos alunos nosecundário mas

poucos no superiorApenas 37% dos jovensentre os 20 e os 24 anosportugueses frequentama universidade.Na média da OCDE são 42%

Page 3: Portugal é dos países alunos para o superior · Portugal é dos países onde menos alunos passam para o superior Diferença entre inscritos no secundário e universidades é das

Há mais estudantes no 12.° do que nos parceiros da OCDE,mas os que entram na universidade ficam aquém da médiainternacional. Modelo dos cursos profissionais e diversidadereduzida de ofertas no superior ajudam a explicar o fenómenoSamuel Silva

Poucos

países no mundotêm uma diferença tãoacentuada quanto Portu-gal entre o número deestudantes inscritos noensino secundário e aqueles

que acabam por ingressar num curso

superior. Mais de metade dos jovensde 20 anos não está a estudar e,para os atrair, o país terá de fazermudanças nos cursos profissionais,mas também nas formas de acessoe nas ofertas do superior, defendeCláudia Sarrico, especialista daOrganização para a Cooperação e

Desenvolvimento Económico (OCDE),

que fará a conferência de aberturada Convenção Nacional do Ensino

Superior, hoje, em Lisboa.Os dados do último Education at

a Glance, o relatório anual sobre

educação da OCDE, publicado emSetembro, mostram que, na popu-lação entre os 15 e os 19 anos, que é

aquela que tipicamente está em ida-de de frequentar o ensino secundá-rio, Portugal tem uma percentagemde alunos inscritos em instituições deensino superior à média internacio-nal - 89% contra 85% na OCDE.

No intervalo seguinte, dos 20 aos24 anos, idade em que a maioria dosalunos que segue para o ensino supe-rior está a frequentar uma licencia-

tura, a situação inverte-se. A percen-tagem de população inscrita numainstituição de ensino, em Portugal,é de 37%, ao passo que, na OCDEé de 42%. Se o paralelo for traçadoem relação aos restantes parceiros daUnião Europeia, o país perde aindamais na comparação: a média euro-peia é de 43%.

Um outro dado do Education at aGlance 2018 permite perceber a evo-

lução deste fenómeno. Se, aos 16 eaos 17 anos, Portugal tem 98% da po-pulação inscrita em instituições deensino - contra 95% e 92%, respec-tivamente para cada uma dessas ida-

des, na OCDE -, a partir dos 18 anos o

indicador cai de forma abrupta: 82%de inscritos aos 18 anos, 65% aos 19 e

apenas 54% aos 20 anos.Quando o país apostou em alar-

gar a população inscrita no ensinosecundário, "fê-lo sobretudo por viados cursos profissionais", que hojerepresentam cerca de metade dosinscritos do 10.° ao 12.° anos, con-textualiza Cláudia Sarrico, analista de

políticas de ensino superior da OC-

DE, que vai comentar estes dados na

Convenção do Ensino Superior. "Só

que os cursos profissionais foramconcebidos a pensar na transição pa-ra o mercado de trabalho, e não noprosseguimento de estudos", afirma.

Muitos dos alunos que vão para oensino profissional estarão, por isso,

previamente menos disponíveis paraprosseguir estudos, "porque queriamum tipo de ensino diferente de modoa ingressar no mercado de trabalho",admite Sarrico. Além disso, mesmo

que a dada altura possam pensar emcontinuar a estudar no superior, te-rão dificuldades.

Desde logo porque o concurso na-cional de acesso se baseia em largamedida nos exames do ensino secun-dário e, nos cursos profissionais, osalunos não têm algumas das discipli-nas em que há provas nacionais ou,quando as têm, os currículos são dife-rentes. Para responder a esta dificul-dade, o Governo comprometeu-se,em 2017, a fazer mudanças na formade acesso ao ensino superior para osalunos do ensino profissional, queaté agora não foram concretizadas.O Ministério do Ensino Superior, não

respondeu às questões do PÚBLICO.Além disso, a especialista da OCDE

questiona se estes alunos estarão, de

facto, "preparados para ter sucesso

no ensino superior", tendo em contaa forma como os cursos profissionaisforam desenhados. E dá o exemploda Holanda onde os alunos do profis-sional têm licenciaturas mais longas(de quatro anos em vez de três) do

que os alunos que chegam ao ensino

superior vindos do ensino regular.Diversificar os públicosO que também resulta evidente da

comparação internacional que Cláu-dia Sarrico vai apresentar na Con-

venção do Ensino Superior é quePortugal tem um défice de qualifica-ções neste nível de educação. Entrea população que tem 25 a 34 anossó 34% tem formação superior. NaOCDE são 44%.

0 país "precisa de mais gente noensino superior" e o que aconteceuno ensino secundário pode servir de

modelo, defende a investigadora. "Damesma forma como, quando se fez

Page 4: Portugal é dos países alunos para o superior · Portugal é dos países onde menos alunos passam para o superior Diferença entre inscritos no secundário e universidades é das

uma massificação no secundário teve

que ser feita uma diversificação daoferta, também no caso do superiorterá de acontecer o mesmo", propõeCláudia Sarrico.

Um exemplo relativamente recen-te do que podem ser as novas ofer-tas de universidades e politécnicossão os cursos técnicos superioresprofissionais. Portugal também temmargem para aumentar o número deestudantes em regime de tempo par-cial - em que é um dos países com

menos alunos inscritos, com 5,19%contra 19,65% de média da OCDE -,mas também públicos adultos queestejam já no mercado de trabalho.

"A oferta tem de se adaptar paraque seja uma oferta de qualidade e os

alunos não só entrem como também

progridam e saiam com as compe-tências", defende a investigadora daOCDE. A conferência de abertura da

Convenção Nacional do Ensino Supe-rior será partilhada por Cláudia Sar-rico e Pedro Teixeira, do Centro de

Investigação de Política do Ensino Su-

perior. Na mesa de comentário a essa

intervenção estarão a investigadorado Instituto de Medicina Molecularde Lisboa Maria Mota, vencedora doPrémio Pessoa em 2014, o antigo mi-nistro do Desenvolvimento Regional,Miguel Poiares Maduro, e o politólo-go Pedro Adão e Silva, bem como oministro dos Negócios Estrangeirose antigo ministro da Educação, Au-

gusto Santos Silva, em representaçãodo Governo.

O Governo tem um elemento emcada um dos seis painéis de discus-são previstos para hoje, em que vãoser debatidos temas como o acessoao ensino superior, a acção social eo financiamento do sector. Entre os

participantes estão membros de to-

dos os partidos com assento na Co-missão de Educação da Assembleiada República, bem como represen-tantes dos estudantes. O Presidenteda República fará o discurso de en-cerramento.

A sessão de hoje da convenção é

a primeira de seis de uma iniciativacom a qual os reitores vieram recla-mar um pacto de dez anos contra a

"estagnação" no sector. A discussão

prossegue em Março, na Universi-dade de Aveiro, onde o tema será a

articulação do ensino com a investi-

gação. A terceira sessão acontece nomês seguinte no Porto e vai debatera aproximação do ensino superioràs empresas, administração públicae agentes culturais.

Esta iniciativa do Conselho de Rei-tores das Universidades Portuguesasvai parar durante o período eleito-ral e será retomada, no final do ano,após a tomada de posse do Governo

que resultar das próximas legislati-vas. Serão então debatidos outrostrês temas: o papel das universida-des no combate às alterações climá-ticas, a modernização pedagógica doensino superior e a coesão territorialdo país.

[email protected]