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Portugues Instrumental

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Curso de Português Instrumental Completo

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CARGA HORÁRIA60 horas

COnteudIstAProfa. Me. Sandra Mara Bessa e Profa. Dra. Andréa

Márcia M. Coutinho

RevIsãO téCnICAMe. Lydiane Maria Azevedo (SENASP/PCMG)

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Apresentação do Curso

Muitas vezes, as reflexões sobre a lín-gua, seu uso, o que consideramos correto ou não, advêm das inquietações vividas no momento em que precisamos utilizá-la em nosso ambiente profissional, acadêmico ou mesmo em situações pessoais. Afinal, vive-mos em uma sociedade letrada. Nem sempre é tão simples fazer escolhas para comunicar aquilo que pensamos, sentimos ou precisa-mos informar.

No curso de Português Instrumental, propomos uma série de temas para ajudá--lo a superar esses obstáculos e dúvidas, de maneira a organizar melhor o seu texto, bem como para compreender as nuanças de ou-tros tantos textos com os quais temos con-tato cotidianamente. Salientamos que repen-sar continuamente nossa postura em relação à língua é fundamental, pois é essa postura curiosa e inquieta diante de um conhecimen-to que, em certa medida já trazemos conos-

co, que dará as condições necessárias para, a partir de novos conhecimentos, melhorar a qualidade de nossa comunicação e assumir plenamente a condição de quem está sempre em evolução.

Para alcançar esse intuito, apresentamos o conteúdo em quatro módulos, a fim de que você possa aprofundar seus conhecimentos e associar o que discutirmos à sua prática profissional. Ao início de cada módulo, são indicados os temas a serem abordados e os objetivos a serem alcançados. Portanto, va-mos ultrapassar o que trazemos à primeira vista, como nos fala a canção de Chico César, (http://letras.mus.br/chico-cesar/43885/)em busca do aprofundamento teórico de questões que envolvem a leitura e a produ-ção de textos em Língua Portuguesa em favor da construção autônoma de uma prática que se quer, acima de tudo reflexiva e, portanto, consciente e intencional.

Bom trabalho!

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Objetivos do Curso

Ao final do curso, você será capaz de:

• compreender e desenvolver a comunicação oral e escrita em situações diversas, considerando o seu estilo pessoal e o contexto comunicativo;

• ampliar os conhecimentos a respeito da Língua Portuguesa de forma a aprimorar as habilidades comunicativas orais e escritas para: informar, ar-gumentar, persuadir, emocionar e se relacionar com os outros;

• revisar aspectos fundamentais à construção de textos em Língua Portuguesa; e

• fortalecer uma atitude crítica frente à produção de texto.

estrutura do CursoEste curso compreende os seguintes módulos:

MÓduLO 1 – Comunicação: uma experiência pesso-al e coletiva

MÓduLO 2 – Produzindo textos

MÓduLO 3 – Cuidados a serem observados

MÓduLO 4 – Texto ideal

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Módulo 1

Comunicação: uma experiência pessoal e coletiva

Apresentação do móduloA linguagem é a mais eficaz forma de

ação interindividual e é sempre orientada por uma finalidade específica. Ao nos comu-nicarmos, temos como objetivo estabelecer contato e trocar conhecimentos com outros indivíduos. A linguagem é, portanto, um pro-cesso de interlocução que se realiza nas prá-ticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua história. E como ato de interlocução, passa a ser uma experiência pessoal, pois se

estabelece a partir de nossas experiências pessoais e escolhas que fazemos, enquanto decisores linguísticos.

É, também, uma experiência coletiva que se só se concretiza no contato com o ou-tro a partir das escolhas comunicativas que fizemos. Neste módulo, trabalharemos tais questões na perspectiva dos cuidados que devemos ter aos nos comunicarmos, espe-cialmente, ao produzirmos textos.

Objetivos do móduloAo final do módulo, você será capaz de:

• identificar aspectos conceituais que ajudem a comunicar melhor as ideias, no momento da produção de textos;

• identificar as funções da linguagem presentes no processo de comunicação;

• utilizar, no conjunto do texto, recursos comunicacionais para que se possa con-vencer o interlocutor sobre as ideias defendidas; e

• analisar um texto tendo como subsídios os elementos argumentativos utilizados.

estrutura do móduloEste módulo compreende as seguintes aulas:

AuLA 1 – Cuidando da comunicação

AuLA 2 – Argumentação e a produção de texto

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Aula 1

Cuidando da comunicaçãoAntes de escrever, portanto, aprendei a pensar.

Nicolas Boileau

1.1 Pressupostos teóricosComo ponto de partida de um curso que

trata do uso adequado da Língua Portugue-sa em diferentes contextos, é necessário es-tabelecer alguns pressupostos teóricos que ajudarão, ao longo deste estudo, na compre-ensão dos conceitos envolvidos / utilizados em uma pro

-

língua.

Língua é um sistema arbitrado que se concretiza a partir da interação verbal feita por meio de práticas discursivas.

-damental a interlocução, que é a ação lin-guística entre sujeitos:

inter + locução

Assim, a linguagem é tomada como pro-cesso propício à comunicação de pensamen-tos, ideias, conhecimentos, sentimentos, va-lores... A língua é considerada, dessa forma,

como código formado por palavras e por leis combinatórias que caracteriza o grupo social

possível reconhecer a existência de diferen-tes combinações possíveis. Assim, cada um de nós é sujeito ativo que decide, intencio-nalmente ou não, entre as múltiplas possibi-lidades de construção linguística.

É importante neste momento reportar--se ao título deste módulo, pois trata da lín-gua como sistema e o sujeito como interlo-

como uma experiência essencialmente social, a língua se concretiza a partir de uma ação individual de um sujeito que mobiliza sabe-res sociais, linguísticos e cognitivos. A esse uso individual da língua, denomina-se fala, da qual surgem as variedades linguísticas. Parece complicado, mas não é! No cotidiano,

você recorre a discursos com as mais dife-rentes características, determinados sempre pelo contexto comunicativo em que está in-serido. Veja:

Ao enviar um e-mail a um amigo íntimo ou um e-mail a um delegado a que você está subordinado:

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>>oiii, Fulano.

>>

>>blz?

>>Mi manda akele doc q eu t pedi ainda hj. x]

>>

>>abraçao ai ^^

>>

>>Sandra

>>Excelentíssimo Senhor Delegado,

>>

>>Solicito-lhe o envio do documento ane-xo, devidamente preenchido, para que possamos tomar as providências requeri-das.

>>

>>Respeitosamente,

>>

>>Sandra Mara

São diversos os fatores que determinam essa variação linguística e se relacionam às vivências particulares de cada falante. Den-tre eles, é possível citar os fatores socioe-conômicos (trazem implicações para as di-ferenças advindas do nível de escolaridade e do acesso a bens culturais), profissionais, subjetivos, regionais e situacionais.

A pluralidade cultural e a diversidade socioeconômica evidenciadas na população brasileira superdimensionam os aspectos mencionados e, por isso, é preciso refletir so-bre os conceitos adotados em relação ao que é linguagem certa ou errada. Pessoas que supervalorizam a língua culta, considerando--a como única forma a ser aceita socialmen-te, muitas vezes, agirão de maneira discrimi-nadora e intolerante, restringindo o conceito de língua e de seu uso.

Por isso, os linguistas afirmam que não existe certo ou errado, mas uso dos regis-tros padrão ou não padrão. Dessa forma, quando você diz: Me empreste o seu docu-mento de identificação..., está usando o re-gistro não padrão, pois, conforme as regras gramaticais, não se inicia frase com pronome pessoal oblíquo, certo? Já na frase: Dê-me o seu documento de identificação..., você está usando o registro padrão, atendendo à regra gramatical que acabou de ser citada. No en-tanto, qual das duas opções você mais uti-liza? A maior parte dos brasileiros, em seu dia-a-dia, usa mais o registro não padrão. Pode-se dizer que estão errados? Que não podem falar assim em suas casas, com seus familiares?

Essas questões deverão ser analisadas a partir do conceito de adequação. A lingua-gem utilizada deve ser adequada aos dife-rentes contextos de comunicação. Veja: se você está no meio familiar, poderá fazer uso de um registro coloquial (não padrão); se for apresentar um relatório ou uma palestra no trabalho, deverá utilizar o registro culto, considerado como padrão para situações for-mais.

Reconhecer a importância de adequação aos inúmeros contextos possíveis é o primei-ro passo que damos em direção a uma comu-nicação eficiente, seja no âmbito profissional ou pessoal.

Seja qual for o ambiente em que se encontre e as pesso-as com as quais se comuni-ca, é primordial reconhecer a necessidade de adaptação da linguagem utilizada en-tre os interlocutores, o que envolve a reelaboração dis-cursiva.

Na tirinha a seguir, com muito humor e muita perspicácia, o cartunista trata exata-mente disto. Da forma que você deve falar para que seja entendido?

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Aproveitando o exemplo da tirinha ante-rior, você estudará agora o processo de co-municação .

Dentre os diferentes aspectos envolvi-dos no processo comunicativo, destaca-se a intenção do emissor no momento da comu-nicação, o que implica definir o que se quer comunicar; para quem; como se vai comuni-car; qual canal de comunicação será utilizado e em que contexto ela ocorrerá.

Tais aspectos nos reportam às funções da linguagem, propostas por Roman Jako-bson, quais sejam: emotiva ou expressiva; referencial ou denotativa; apelativa ou cona-

tiva; fática; poética e metalinguística. Todo processo comunicativo, nessa perspectiva, implica intencionalidade, o que significa di-zer que as intenções do emissor determinam os recursos linguísticos que utilizará. Ao se comunicar, você utiliza, concomitantemente, vários desses recursos e, consequentemen-te, seu discurso serve a diversas funções. É fundamental definir qual seu objetivo de comunicação para estabelecer o foco a ser dado, a partir das funções possíveis. Obser-ve, a seguir, um esquema que apresenta as funções de linguagem e os elementos da co-municação a que se reportam:

Fonte: http://tirasdoeuricefalo.blogspot.com.br/2008/06/tira-do-euricfalo-n-110-pedro.html

1.2 O processo de comunicação e a sua efetividade

Fonte: http://www.graudez.com.br/literatura/funling.htm

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Função emotiva (ou expressiva) Centralizada no emissor, revelando sua

opinião, sua emoção. Nela prevalece a 1ª pessoa do singular, interjeições e exclama-ções. É a linguagem das biografias, memó-rias, poesias líricas e cartas de amor.

Função referencial (ou denotativa) Centralizada no referente, quando o emis-

sor procura oferecer informações da realidade. Objetiva, direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular. Linguagem usada nas notí-cias de jornal e livros científicos.

Função apelativa (ou conativa) Centraliza-se no receptor; o emissor

procura influenciar o comportamento do re-ceptor. Como o emissor se dirige ao recep-tor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da pessoa, além dos vocativos e imperativo. Usada nos discursos, sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor.

Função fática Centralizada no canal, tendo como ob-

jetivo prolongar ou não o contato com o re-ceptor, ou testar a eficiência do canal. Lin-guagem das falas telefônicas, saudações e similares.

Função poética Centralizada na mensagem, revelando

recursos imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, sugestiva, conotativa,metafórica. Valorizam-se as palavras, suas combinações. É a linguagem figurada apresentada em obras literárias, letras de música, em algu-mas propagandas etc.

Função metalinguística Centralizada no código, usando a lin-

guagem para falar dela mesma. A poesia que fala da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. Principal-mente os dicionários são repositórios de me-talinguagem, pois explicam a própria palavra a que se referem.

Conhecer a língua é, portanto, uma ne-cessidade, pois é a consciência de suas múl-tiplas possibilidades que nos dá condições de

fazer escolhas, de optar por esta ou aque-la forma, por esta ou aquela palavra, por esta ou aquela postura comunicativa. Enfim, quando você conhece a língua, pode se posi-cionar criticamente, por exemplo, diante da dinâmica de sua evolução.

O que influencia as pesso-as a usarem vícios de lingua-gem novos como o gerundismo e incorporá-los à maneira de fa-lar com tanta rapidez? Talvez a resposta esteja no fato de que, muitas vezes, as pessoas não analisam como falam ou como escrevem e apenas agem por intuição.

Cabe, portanto, pensar em como utili-zar os conhecimentos que temos a respeito da língua em favor de uma comunicação efi-ciente.

Compreenda melhor essa questão, lendo o artigo Escrever, argumen-tar, seduzir da professora Beth Brait, publicado na Revista Língua.

Veja que a consciência de que escrever exigirá muito trabalho, mas, não quer dizer que tal ação se configure impossível. Ao con-trário, você é chamado a uma atividade que impõe reflexão e conhecimento. É necessária a definição do que escrever e como fazê-lo e, também, que se pense sobre a natureza dessa escritura como algo dirigido a mais al-guém e, portanto, coletivo.

Ao se remeter à intencionalidade do autor, remete-se também à consciência do potencial comunicativo do texto. Assim, inerente ao ato da escrita, está a necessi-dade de socializar nossas idéias, sentimen-tos, certezas e incertezas sobre os mais diferentes assuntos. Por isso é preciso con-siderar, no momento da produção escrita, os elementos da comunicação e suas impli-cações na construção textual. Quando você escreve um texto, seu papel é o de emis-sor e, como tal, torna-se responsável pela elaboração da mensagem e a escolha mais adequada dos elementos que permearão todo o texto e que determinarão o interes-se do receptor. Em síntese, a eficiência co-municativa do seu texto está irremediavel-mente ligada a todo um trabalho consciente e bem executado.

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Esta aula traz informações importantes sobre como estabelecer uma boa argumen-tação, utilizando, no conjunto do texto, uma série de recursos para convencer o interlocu-tor sobre as ideias que defende.

Em seu cotidiano, das mais diversas maneiras e com os mais diversos propósitos, você pensa e argumenta, seja no trabalho para apresentar uma nova ideia aos colegas ou ao chefe; seja em época de eleição para

convencer que o seu voto em determinado político tem razão de ser; seja no comércio, ao tentar convencer alguém de que é preciso lhe dar um desconto; seja em casa, ao tentar convencer os filhos de que ler é melhor do que conversar com os amigos no Facebook...

Veja o quadrinho abaixo que possibilitará a reflexão sobre consistência argumentativa.

É possível argumentar sobre o que não conhece?

Aula 2

Argumentação e a produção de texto Quanto mais consciência você tem do valor das palavras, mais fica exigen-

te no emprego delas.Carlos Drummond de Andrade

2.1 A argumentação e seus componentes

Fonte: http://www.depositodocalvin.blogspot.com/

Assim, é possível afirmar que a argu-mentação é um recurso cujo propósito se centra na tentativa de persuadir alguém. Ao argumentarmos, objetivamos convencer al-guém a pensar como nós ou, simplesmen-te, desejamos apresentar nossas ideias. Para tanto, utilizamos muitas vezes as funções apelativa ou referencial da linguagem, sendo

que a primeira busca os recursos linguísti-cos para chamar a atenção do receptor e a última subsidia a argumentação com infor-mações relevantes, concretas. Ao se produ-zir textos, o uso adequado de argumentos é crucial, pois eles representarão os funda-mentos de ideias, as quais serão validadas e defendidas pela sua argumentação, a fim

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de convencer o leitor de que essa ideia é a correta ou de que essa é apresentada de ma-neira mais aceitável.

Em um discurso argumentativo, distin-gue-se variados componentes, dentre eles:

• A tese;

• Os argumentos;

• As premissas;

• A conclusão.

Observe:A tese ou proposição é a idéia funda-

mental defendida pelo autor de um texto e,

portanto, passível de discussão, já que ex-pressa um ponto de vista. Daí a necessida-de de acrescentar-lhe uma argumentação eficiente, pois são os argumentos que ga-rantirão a aceitação da idéia apresentada. Considera-se um argumento válido quando este é formado por premissas, razões que o sustentam. As premissas, quando aceitáveis, dão suporte para a conclusão, alegação final que encerra o texto.

2.1.1 desenvolvendo a tese A tese é sempre produto de opções que

seguem a seguinte hierarquia:

Fonte: REDE EAD. Português instrumental.

Tal definição antecipada evita que o texto se torne um amontoado de ideias que pouco se correlacionam ou que não contri-buam efetivamente para a construção de um tecido argumentativo, que produza o sentido desejado.

O desenvolvimento da tese exige que em primeiro lugar se delimite o tema, o que possibilita a reflexão sobre o pressuposto do qual se partirá. O pressuposto está ir-remediavelmente ligado ao capital cultural, às ideologias, às vivências, às leituras... O pressuposto traduz a visão sobre o assunto e norteia toda a argumentação na medida em que define a coerência interna do texto. A ordenação adequada dos argumentos deter-mina seu encadeamento e conduz à unidade de sentido.

Leia o poema (atribuído a Clarice Lispector):Não te amo maisEstarei mentindo dizendo que Ainda te quero como sempre quisTenho certeza que Nada foi em vãoSinto dentro de mim queVocê não significa nadaNão poderia dizer mais queJá te esqueci!E jamais usarei a fraseEu te amo!Sinto, mas tenho que dizer a verdadeÉ tarde demais.

Agora, leia-o de cima para baixo.

Percebeu a diferença? Viu como a orde-nação das afirmações feitas muda completa-mente o sentido final do texto.

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É possível utilizar vários recursos para -

tre eles, destacam-se:

2.2.1 Citação:apresentação, no corpo do texto, de

uma informação extraída de outra fonte de-vidamente indicada e que dá autoridade ao texto. Pode acontecer de duas formas:

• Direta – refere-se à transcrição lite-ral do texto pesquisado. Nesse caso, indica-se obrigatoriamente sua fonte.

Exemplo: O fenômeno bullying, termo

comportamento cruel intrínseco nas relações interpessoais, em que os mais fortes conver-tem os mais frágeis em objetos de diversão e prazer, através de ‘brincadeiras’ que dis-farçam o propósito de maltratar e intimidar” (FANTE, 2005, p.29).

• Indireta – refere-se à transcrição das idéias do autor consultado, po-rém usando as suas palavras, ou seja, parafraseando.

Exemplo:que o agressor compraz-se em oprimir, hu-milhar, subjugar os mais fracos. Geralmen-te, pertence a uma família desestruturada,

de se adaptar às normas.

Lembre-se de que as citações devem ter relação direta com o assunto tratado no texto, reforçando as idéias apresentadas. O uso adequado das citações evita que ocorra o plágio. Fazer um link para o texto pi_mod_ plágio.

2.2.2 Evidências:apresentação de informações (dados,

estatísticas, percentuais) que comprovem as

ideias apresentadas. As informações devem

Você só persuadirá seu interlocutor apresen-tando informações verdadeiras, que tenham respaldo na realidade.

2.2.3 Exemplos e ilustraçõesapresentação de exemplos conhecidos e

de fatos que ilustrem ou facilitem a compre-ensão das ideias expostas.

2.2.4 Argumentos de valor universal:apresentação de ideias universalmente

aceitas sobre as quais não haja contestação.

2.2.5 Relação de causalidade:estabelecimento das relações de causa e

consequência.

Além desses recursos, lembre-se de que a construção de textos é uma atividade rela-cionada diretamente à capacidade argumen-tativa, o que implica o estabelecimento de relações, confronto de ideias, análise, pro-blematização e criticidade. Assim como ocor-re no ato de leitura, a aquisição dessas ha-bilidades é um processo paulatino que exige, portanto, a prática insistente de exercícios que instiguem o raciocínio e oportunizem a maturação intelectual.

ou concludentes sobre o as-sunto abordado, apenas o consenso de que o trabalho árduo só pode trazer resul-tados profícuos.

Antes de terminar o estudo desta aula, leia o texto “10 Dicas para aumentar seu poder de persua-são.” (fazer um link para o texto.pi_mod1_10_dicas)

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Finalizando...Neste módulo, você estudou que...

• se concretiza a partir de uma ação individual de um sujeito que mobiliza saberes sociais, linguísticos e cognitivos.

• Reconhecer a importância de se adequar aos inúmeros contextos é o primeiro -

• Dentre os diferentes aspectos envolvidos no processo comunicativo, destaca-se

do que se quer comunicar; para quem; como se vai comunicar; qual canal de comunicação será utilizado e em que contexto ela ocorrerá.

• Conhecer a língua é uma necessidade, pois é a consciência de suas múltiplas possibilidades que nos dá condições de fazer escolhas, de optar por esta ou aquela forma, por esta ou aquela palavra, por esta ou aquela postura comuni-cativa.

• Quando você escreve um texto, seu papel é de emissor e como tal, se torna responsável pela elaboração da mensagem e a escolha mais adequada dos ele-mentos que permearão todo o texto e que determinarão o interesse do receptor.

• A argumentação é um recurso cujo propósito se centra na tentativa de persuadir alguém.

• Em um discurso argumentativo, distinguem-se variados componentes, dentre eles, a tese, os argumentos, as premissas e a conclusão.

• dentre eles, destacam-se: a citação, as evidências, os exemplos, as ilustrações, os argumentos de valor universal e a relação de causalidade.

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Apresentação do módulo

Módulo 2

Produzindo textos

Quando falamos de produção de textos, falamos da necessidade que temos, em uma sociedade letrada, de nos comunicarmos por escrito. Para tanto, serão requisitadas habili-dades e competências para falar com o outro por meio de textos (escritos) eficientes, sob o ponto de vista comunicativo. A percepção de que os textos escritos resultam de uma

prática de interação, de interlocução e de di-álogo, entre aquele que escreve e aquele que lê, é fundamental para alcançar tal intuito. Neste módulo, refletiremos sobre como co-locar no papel o que pensamos, o que senti-mos, o que precisamos, de maneira consis-tente e adequada à atividade profissional que exercemos.

Objetivos do móduloAo final deste módulo, você será capaz de:

• caracterizar os tipos textuais: narração, descrição e dissertação;

• diferenciar gêneros e tipos textuais, reconhecendo a importância de compreen-der as características textuais a eles inerentes;

• elaborar textos dissertativos; e

• compreender os recursos que poderão contribuir para a efetividade de produção de textos.

estrutura do móduloEste módulo compreende as seguintes aulas:

AuLA 1 – Modalidades discursivas: gêneros e tipos textuais

AuLA 2 – Recursos a serem considerados em uma dissertação

AuLA 3 – Organização textual

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Comunicar ideias, pensamentos e sentimentos parece, a priori, algo fácil e simples para qualquer pessoa, principal-mente se você considerar que todos, des-de crianças, usam cotidianamente a lin-guagem. Essa comunicação se realiza sem que se reflita sobre as teorias e as regras mobilizadas intuitivamente nesse proces-so. Especialmente ao nos comunicarmos oralmente, priorizamos a expressão do que queremos, em detrimento do cuidado com os aspectos gramaticais. Utilizamos, na maior parte das vezes, as estruturas que estão internalizadas e sobre as quais não precisamos nos deter.

EXEMPLO: Ao participar de um bate-papo no Facebook, as pessoas não se atêm às normas gramaticais, como uso de maiúsculas ou pon-tuação; abreviam as palavras e preocupam-se sobremaneira com a agilidade do que se quer dizer. Utilizados na comunicação interpessoal, esses textos caracterizam-se, especialmente, por se aplicarem a situações sociocomunica-tivas, configurando-se, assim, como gênero textual. São gêneros textuais, por exemplo, e--mails, poemas, bilhetes, postais, artigos, ora-ções, anúncios, avisos, memorandos, requeri-mentos, editais, resenhas, crônicas, relatórios, listas, ofícios, propagandas, receitas, notícias, provérbios, cartas, bulas, dentre outros.

Aula 1

Modalidades discursivas: gêneros e tipos textuaisToda boa escrita consiste em mergulhar e prender a respiração.

F. Scott Fitzgerald

Muitos são os desafios de se produzir um texto com uma “boa escrita”. Você já mergulhou de fato nesse desa-fio? Já prendeu a respiração? Esse é um bom momento para refletir sobre esse processo de escrita. Vamos lá?

1.1 Gêneros textuais

1.2 Modalidades textuaisObserve que as pessoas, de maneira

geral, organizam os enunciados e interagem com o outro a partir de um determinado gê-nero textual, considerando, para isso, as ca-racterísticas desse gênero e os objetivos que querem alcançar naquela determinada situ-ação comunicativa. Os diferentes gêneros textuais, no entanto, muitas vezes não são considerados como ponto de partida para a aprendizagem da produção de textos na es-cola. É muito comum aprendermos a utilizar os textos, considerando apenas sua tipologia: narração, descrição e dissertação. O pro-

blema é que essa concepção é válida como modalidade utilizada no processo de compo-sição dos diversos gêneros discursivos, mas não dá conta da classificação e análise de todos os textos utilizados pelos falantes de uma língua.

Reveja a seguir as características das três modalidades textuais.

narração: Contar histórias faz parte da nature-

za humana. As pessoas contam o que lhes

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acontece de bom e de ruim, partilham expe-riências, compartilham acontecimentos. As-sim, a narração se vincula irremediavelmen-te à vida cotidiana nas diferentes relações que estabelecemos. Narrar impõe o relato de histórias e acontecimentos, reais ou fictícios, com marcante coerência interna para que a história seja verossímil e, portanto, convin-cente ao receptor.

O texto narrativo contém os seguintes elementos:

a) o enredo: também chamado de fato, trama ou ação desenvolvida em torno dos personagens. Deve apresentar sequência es-pacial e temporal ordenada.

b) a personagem: quem participa do enredo. É usualmente pessoa, mas pode ser coisa ou animal.

c) o ambiente: o espaço onde ocorre o enredo. Pode, naturalmente, variar muito no desenrolar da narrativa.

d) o tempo: o momento em que se dá o enredo. Pode ser presente, passado ou fu-turo.

e) o narrador: quem narra o enredo. Pode ou não participar da história como per-sonagem.

Veja um exemplo de narração em um texto cujo domínio discursivo é o jornalístico.

Traficantes trocam tiros com a polícia e invadem hotel no Rio(...) O confronto começou por volta das 8 horas. Segundo a polícia, um “bonde” de

traficantes da Rocinha, que fica no bairro, estava voltando para a favela depois de ter passado a noite no Vidigal, morro próximo, dominado pela mesma facção criminosa. Na Avenida Niemeyer, que liga Leblon a São Conrado, o grupo encontrou com policiais do 23º BPM (Leblon). Começou então o tiroteio, que durou em torno de 10 minutos. Na fuga, 10 fugitivos armados com fuzis invadiram o Hotel Intercontinental, em frente à praia, e fizeram 35 reféns na cozinha.

Foram quase duas horas de negociação com policiais do Batalhão de Operações Poli-ciais Especiais (Bope). A mãe de um dos sequestradores, morador da Rocinha, chegou a ser chamada para convencer o filho a se entregar. “Eu pedi, mas ele não quis me ouvir”, disse Dinalva, chorando muito na porta do hotel. Mesmo assim, minutos depois, o grupo libertou os reféns e se entregou à policia. (...)

Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/traficantes-trocam-tiros-com-a-policia-e-invadem-hotel-no-rio/n1237755546405.html. Acesso em: 10 de junho de 2013. (Texto adaptado para fins didáticos).

Observe agora um exemplo de narração em um texto cujo domínio é o literário.

Maneira de amarO jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava

manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, en-tretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na oca-sião devida.

O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho. Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. “Você o trata-va mal, agora está arrependido?” “Não, respondeu, estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava.”

(ANDRADE, Carlos Drummond de. A cor de cada um. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 12)

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Observe um exemplo de poema em que o autor apresenta uma narrativa.

Pequena crônica policial

Jazia no chão, sem vida,

E estava toda pintada!

Nem a morte lhe emprestara

A sua grave beleza...

Com fria curiosidade,

Vinha gente a espiar-lhe a cara,

As fundas marcas da idade,

Das canseiras, da bebida...

Triste da mulher perdida

Que um marinheiro esfaqueara!

Vieram uns homens de branco,

Foi levada ao necrotério.

E quando abriam, na mesa,

O seu corpo sem mistério,

Que linda e alegre menina

Entrou correndo no Céu?!

Lá continuou como era

Antes que o mundo lhe desse

A sua maldita sina:

Sem nada saber da vida,

De vícios ou de perigos,

Sem nada saber de nada...

Com a sua trança comprida,

Os seus sonhos de menina,

Os seus sapatos antigos!

(QUINTANA, Mário. Prosa & verso. São Paulo: Globo, 1978. p. 17)

descrição: O texto descritivo captura verbalmente

as características, de maneira mais ou menos pormenorizada, de pessoas, estados de espí-rito, objetos ou cenas. A descrição aparece recorrentemente em narrações para trazer pormenores dos personagens, do ambiente ou de algum objeto. Por isso, poucas vezes você verá descrições isoladas em outras mo-dalidades textuais.

A descrição pode ser objetiva (quando se restringe a descrever a realidade, sem julga-mento de seu valor) ou subjetiva (quando as percepções do autor são impressas a essa re-alidade). Não raras vezes, as descrições ultra-passam o mero retrato da realidade, apresen-tando uma interpretação dessa. As pinturas e as fotografias são um grande exemplo de como isso acontece. Embora retratem a reali-dade, permitem a expressão de um sem-nú-mero de percepções. Veja o exemplo a seguir:

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Dois velhinhosDois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo.

Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia olhar lá fora.

Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede úmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz. Com inveja, perguntava o que acontecia. Deslumbrado, anun-ciava o primeiro:

— Um cachorro ergue a perninha no poste.

Mais tarde:

— Uma menina de vestido branco pulando corda.

Ou ainda:

— Agora é um enterro de luxo.

Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela. Não dormiu, antegozando a manhã. Bem desconfiava que o outro não revelava tudo. Cochilou um instante — era dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço: entre os muros em ruína, ali no beco, um monte de lixo.

(TREVISAN, Dalton. Dois velhinhos. Disponível em:http://www.releituras.com/daltontrevisan_doisvelhinhos.asp>. Acesso em: 10 jun. 2013).

Fonte:https://www.google.com.br/search?hl=ptPT&site=imghp&tbm=isch&source=hp&biw=1366&bih=641&q=policiais&oq=poliais

Observe a seguir outro exemplo de texto descritivo:

A percepção da realidade pode, sem dúvi-da, variar de uma pessoa para outra, por isso é que nos textos técnicos prevalece a objetivida-de e, em outros textos, a subjetividade. Nesse sentido, Leonardo Boff, ao falar da leitura, nos traz um belo quadro do que representa a sub-jetividade no uso da linguagem, sejamos nós leitores ou produtores do discurso:

“Ler significa reler e compreender, inter-pretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.

Todo ponto de vista é a vista de um pon-to. Para entender como alguém lê, é neces-sário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sem-pre uma releitura.

A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender é essencial conhe-cer o lugar social de quem olha. Vale dizer, como alguém vive, com que convive, que experiências tem, em que trabalha, que de-sejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma inter-pretação.

Sendo assim, fica evidente que cada lei-tor é coautor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem, pois compreende e inter-preta a partir do mundo que habita.”

(BOFF, L. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petropólis, RJ: Vozes, 1997. p.9).

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dissertaçãoO texto dissertativo objetiva expor, ex-

plicar ou interpretar determinada ideia e, para tanto, recorre a argumentos que a com-provem ou a justifiquem. Assim como na descrição e na narração, dissertar pressupõe uma intencionalidade discursiva que agrega-rá informações que evidenciam nossa forma de ver o mundo e nossas vivências. Trata-se, antes de tudo, de questionar a realidade, posicionando-se a respeito de um assunto. Portanto, o conhecimento do assunto é con-dição imprescindível à dissertação. Você não poderá refletir sobre o que não conhece.

A intencionalidade determina que tipo de texto você produzirá:

Dissertação expositiva: nesse tipo de dissertação você apenas apresenta os fatos e as ideias sem se posicionar criticamente a respeito.

Dissertação argumentativa: nesse tipo de dissertação você agrega, aos fatos apresentados, o seu posicionamento em re-lação ao tema abordado.

Veja os exemplos a seguir que falam do mesmo tema, mas de forma diversa.

Dissertação expositiva:

A droga: como surgiuO crack surgiu nos Estados Unidos na década de 1980 em bair-

ros pobres de Nova Iorque, Los Angeles e Miami. O baixo preço da droga e a possibilidade de fabricação caseira atraíram consumidores que não podiam comprar cocaína refinada, mais cara e, por isso, de difícil acesso. Aos jovens atraídos pelo custo da droga juntaram-se usuários de cocaína injetável, que viram no crack uma opção com efeitos igualmente intensos, porém sem risco de contaminação pelo vírus da Aids, que se tornou epidemia na época.

No Brasil, a droga chegou no início da década de 1990 e se dis-seminou inicialmente em São Paulo. “O consumo do crack se alas-trou no País por ser uma droga de custo mais baixo que o cloridrato de coca, a cocaína refinada (em pó). Para produzir o crack, os tra-ficantes utilizam menos produtos químicos para fabricação, o que a torna mais barata”, explica Oslain Santana, diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal.

Segundo estudo dos pesquisadores Solange Nappo e Lúcio Gar-cia de Oliveira, ambos da Universidade Federal de São Paulo (Uni-fesp), o primeiro relato do uso do crack em São Paulo aconteceu em 1989. Dois anos depois, em 1991, houve a primeira apreensão da droga, que avançou rapidamente: de 204 registros de apreensões em 1993 para 1.906 casos em 1995. Para popularizar o crack e aquecer as vendas, os traficantes esgotavam as reservas de outras drogas nos pontos de distribuição, disponibilizando apenas as pe-dras. Logo, diante da falta de alternativas, os usuários foram obriga-dos a optar e aderir ao uso.

Hoje, a droga está presente nos principais centros urbanos do País. Os dados mais recentes sobre o consumo do crack estão sendo coletados e indicarão as principais regiões afetadas, bem como o perfil do usuário. Segundo, no entanto, pesquisa domiciliar realiza-da pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, em parceria com o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psico-trópicas (Cebrid) em 2005, 0,1% da população brasileira consumia a droga.

Fonte: http://www.brasil.gov.br/enfrentandoocrack/a-droga/como-surgiu. Acesso em: 07 nov. 2013.

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Polícia ComunitáriaA nossa Carta Magna, a atual Constituição Federal de 1988

plantou a semente de uma nova polícia, uma polícia voltada para o povo, para efetivamente proteger o povo, para ser a guardiã das Leis Penais e da sociedade e, com o intuito principal de manter a ordem estabelecida pelo Estado Democrático do Direito.

Da semente plantada nasceu a polícia cidadã. Cresceu, flores-ceu e já vem dando alguns bons frutos para a sociedade brasileira, embora muito ainda falte para o colhimento de uma ótima safra advinda desta frondosa árvore protetora do povo. A nossa Carta Magna recebeu o título carinhoso de Constituição Cidadã pelo fato do primor em prática relacionado aos direitos fundamentais e sociais de cada um, alicerçados na cidadania e na dignidade do ser humano.

A polícia cidadã é a transformação pela qual passou a polícia de outrora por exigência da Constituição cidadã. Essa polícia estabelece um sincronismo entre o seu labor direcionado verdadeiramente a serviço da comunidade, ou seja, uma polícia sempre em defesa do cidadão e não ao combate do cidadão como ocorrera nos anos de chumbo da ditadura militar.

Não há como confundir o termo polícia cidadã, como sendo uma polícia benevolente, negligente, que trata os infratores com flores, delicadamente... Muito pelo contrário, a polícia cidadã é uma polícia forte, destemida, honrada, justa, capaz de realizar qualquer ato le-gal possível para defender os direitos ultrajados do cidadão cumpri-dor dos seus deveres e obrigações.

O estrito cumprimento do dever legal, a legítima defesa de ter-ceiros ou a sua própria defesa devem caminhar sempre juntos com a polícia cidadã. Quando confronto houver com marginais em atos contrários a estes três itens, deve sair sempre vitoriosa a polícia cidadã.

A paz é a aspiração, o desejo fundamental de toda pessoa de bom senso, entretanto, só pode ser atingida com a ordenação da po-tencialidade da comunidade em somação ao poder público em torno do ideal digno de uma segurança justa, cooperativa e interativa. A paz deve estar em constante ação no seio da sociedade, de maneira duradoura, não fugaz.

O estudo das relações humanas constitui uma verdadeira ci-ência complementada por uma arte, a de se obter e conservar a cooperação e a confiança das partes envolvidas, por isso a necessi-dade preeminente de uma verdadeira e efetiva interatividade entre a polícia e a sociedade.

Partindo do princípio de que a nossa polícia, a polícia cidadã vivencia tudo isso, a polícia comunitária vivencia muito mais, pois as suas ações são galgadas na amizade, na confiança mútua e na parceria com o cidadão em benefício da própria comunidade.

(MARQUES, Archimedes José Melo.Polícia comunitária. Disponível em:http://www.infoescola.com/sociedade/policia-comunitaria. Acesso em: 10 de jun.

2013) - Texto adaptado para fins didáticos.

Dissertação argumentativa:

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1.2.1 estrutura do texto dissertativoO texto dissertativo estrutura-se em

três partes:

• Introdução: é a parte em que se apresenta a ideia central que será progressivamente desenvolvida no decorrer do texto. A ideia central traz uma declaração breve e sintética do assunto, de forma a evidenciar o po-sicionamento a respeito do tema tra-tado.

• Desenvolvimento: é nessa eta-pa que a ideia central ganha corpo, uma vez que são apresentados os argumentos que comprovarão a va-lidade do posicionamento inicial do autor. Essa é a parte mais exten-sa do texto dissertativo, pois é aqui que se apresentam causas e con-

sequências, detalhamento do as-sunto, análise de dados e situações que sirvam de exemplos, analogias, dentre outros.

• Conclusão: essa parte, também cha-mada de desfecho, retoma a questão mais relevante do assunto tratado, apresentando as considerações finais do autor. Deve-se ter um cuidado es-pecial ao concluir, pois retomar não significa restringir-se a repetir o que é óbvio. Deve, a um só tempo, fechar o raciocínio apresentado, como tam-bém propiciar condições de reflexão ao leitor.

Lembre-se de que as partes que compõem a dissertação são complementares e irre-mediavelmente interconec-tadas.

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O primeiro passo é pensar sobre o tema que nos foi apresentado. É preciso que você questione: sei o suficiente sobre o assunto? Diante da resposta a essa questão, você de-verá, se preciso for, buscar textos que subsi-diem sua argumentação. Lembre-se sempre de que, os textos que você lê não são apenas fonte de informação, são também modelo de escrita. Normalmente, as pessoas que lêem muito têm maior facilidade ao escrever, até por estarem habituadas aos diferentes tex-tos socialmente disponibilizados, como bons livros, jornais e revistas.

A partir desse ponto, você deverá de-limitar o assunto. Muitas vezes são ofer-tados temas amplos e é preciso, então, restringi-los, evitando que se fique perdi-do em meio a um emaranhado de possibi-lidades e ideias.

Delimitado o tema, é preciso definir o pressuposto que gerará a ideia central do texto, o que possibilitará a análise do ponto de vista adotado, sua forma e suas variantes.

Você já estudou sobre isso na Aula 1, lembra?

Aula 2

Recursos a serem considerados em uma dissertação

A partir de agora, você estudará alguns recursos que poderão lhe auxiliar ao escrever textos. Nesta aula, são apresentados inúmeros recursos que podem ser utiliza-dos na produção de textos dissertativos de qualidade.

2.1 Refletindo sobre o tema:

2.2 elaborando um esquemaA dissertação exige planejamento. A

reflexão cuidadosa e antecipada das partes que compõem o texto facilita a escrita, prin-cipalmente, por permitir separar as duas ati-vidades complexas que envolvem esse ato: pensar e escrever. Você já estudou na aula 1 que quando se escreve, é preciso definir três questões fundamentais:

O que escrever? Como escrever?Para que escrever?

Quando se elabora um esquema, ou seja, se planeja um texto, já se está preven-do o que se vai escrever. Só depois é que se pensa em como fazê-lo... Se você não plane-jar o texto, vivenciará duas atividades com-plexas, pensar no assunto e escrever sobre ele, simultaneamente, o que gera maior di-ficuldade.

O esquema é um recurso que permite planejar as ideias do texto, ordenando-as hierarquicamente: daquelas de sentido mais amplo até as mais específicas. Ele deve ser expresso de maneira simplificada para que se possa ter uma ideia clara sobre o conteúdo a ser desenvolvido. Os esquemas podem ser organizados de diferentes maneiras: em cha-

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ve, numeração progressiva ou mapa concei-tual. Vejamos alguns exemplos:

esquema em chaveO título expressa a ideia central do tex-

to e os argumentos são apresentados com os de sentido mais amplo ficando à esquerda dos de sentido menos amplo; as ideias que têm o mesmo tipo de relação ficam umas so-bre as outras. Observe:

A violência nos grandes centros urbanos 1 – Causas

1.1 Condições socioeconômicas.

1.2 Impunidade.

1.3 Precariedade da educação básica.

2 – Consequências

2.1 Aumento de crimes bárbaros.

2.2 Descontrole social.

2.3 Fragilização das instituições.

3 – Soluções

3.1 Políticas de prevenção à vio-lência.

3.2 Ações intersetoriais.

Mapa conceitual:Mapas conceituais são representações

gráficas, que indicam relações entre concei-tos ligados por palavras.

Exemplo:

numeração progressivaAs ideias são apresentadas hierarquica-

mente em forma de texto. Exemplo:

A violência nos grandes centros urbanos

1 – Causas

1.1 Condições socioeconômicas

1.2 Impunidade

1.3 Precariedade da educação básica

2 – Consequências

2.1 Aumento de crimes bárbaros

2.2 Descontrole social

2.3 Fragilização das instituições

3 – Soluções

3.1 Políticas de prevenção à vio-lência

3.2 Ações intersetoriais

3.3 Integração de programas go-vernamentais

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Como você estudou na aula 1, cada pes-soa se expressa de uma forma bastante par-ticular, a partir de sua vivência. Dessa ma-neira, os textos escritos também serão um reflexo do que se sabe, se pensa e se sente. Por isso, evite regras rígidas de produção de texto que não permitam a mobilidade ne-cessária para expressar com liberdade suas ideias. Não se prenda a números definidos de parágrafos ou a uma extensão pré-deter-minada para cada parágrafo, pois tal postura intimida seu processo criativo.

Uma boa maneira de sedimentar seu estilo é observar os textos que você lê. Quando se deparar com textos que julgar agradáveis, bem construídos e cuja argu-mentação seja apropriada, analise como o autor iniciou o texto, que recursos utili-zou, como concluiu sua ideia. Dessa forma, você se identificará com alguns modelos aos quais terá acesso e a eles incorporará novos elementos. Assim, criará seu estilo pessoal de escrever.

2.3 elaborando a primeira versão: o rascunho O rascunho é um esboço do texto defi-

nitivo. É fundamental exercitar a elaboração do rascunho, pois tal ação é fruto da compre-ensão de que o texto não fica pronto logo em sua primeira versão, mas é uma construção

refletida que permite o repensar de trechos inteiros, o acréscimo de informações, a subs-tituição de palavras, a eliminação de vícios e repetições, a revisão dos aspectos gramati-cais e até das ideias apresentadas.

2.4 Refletindo sobre seu estilo de escrever

2.5 Revisando o textoUm dos aspectos que deve ser conside-

rado antes de definirmos a versão final de um texto é a revisão dos aspectos textuais, dos quais se destacam os seguintes:

Adequação:analisar se o texto está adequado ao

tema e se atende ao objetivo que se quer alcançar;

Coerência:analisar se há, ao longo do texto, um fio

condutor do sentido;

Clareza:verificar se as ideias são expostas de for-

ma a serem plenamente compreendidas; e

Coesão:verificar se as diversas partes do texto

estão interligadas de maneira a criar textua-lidade (rede lógica de sentido), ou seja, veri-ficar se as partes do texto se ligam umas às outras. Quando, por exemplo, iniciamos um parágrafo com a expressão “dessa forma”, estamos associando o que diremos a seguir com o que já foi dito anteriormente.

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Nesta aula, serão apresentados os ele-mentos que devem constar em um texto e como organizá-los.

A dissertação é uma grande unidade textual composta por unidades textuais me-nores, denominadas parágrafos, os quais são constituídos por um ou mais períodos inter-ligados semântica e sintaticamente. Os pa-rágrafos são o maior indicativo da organiza-ção das ideias de um texto. Nesse sentido, a cada parágrafo, o leitor é chamado a parar e refletir sobre o assunto ali exposto.

O planejamento de textos em esquemas é estruturado, via de regra, a partir dos pa-rágrafos que você construirá. Assim, apre-senta-se a ideia principal a ser abordada, em seguida as ideias de apoio ou secundárias e, facultativamente, a conclusão, que pode ser um desfecho ou a preparação para o início do parágrafo seguinte.

Não há regras rigorosas no que tange à extensão do parágrafo, mas sua formula-

ção exige bom senso: que não seja tão curto a ponto de fragmentar a apresentação das ideias e empobrecer a argumentação, nem tão longo que se torne cansativo e disperse a atenção do leitor. Para reconhecer o mo-mento adequado de se mudar de parágrafo, é oportuno lembrar que ele deve conter ape-nas uma ideia principal apoiada pelos argu-mentos que a justificam, ou seja, que lhe dão ênfase.

Como estudou anteriormente, a disser-tação apresenta três partes básicas: a in-trodução, o desenvolvimento e a conclusão. Normalmente, temos um parágrafo de aber-tura para a introdução; um ou mais parágra-fos para o desenvolvimento da ideia central apresentada na introdução; e um parágrafo de encerramento para a conclusão.

Fique atento! Pois a partir daqui você estudará alguns recursos que poderá utilizar nas diferentes partes que compõem a disser-tação...

Aula 3

Organização textual

3.1 O parágrafo de introduçãoUm parágrafo inicial bem formulado fa-

cilita o trabalho do escritor e do leitor, pois orienta o desenvolvimento de todo o texto. Pode antecipar a ideia central do texto ou, de forma criativa, gerar no leitor diferentes expectativas em relação ao teor do que está por vir. Dentre as possibilidades de constru-ção inicial de um texto, optamos pelas se-guintes:

Alusão históricaAtos de violência e atrocidades, que hoje

chamamos de violações de direitos humanos, fazem parte da história da humanidade – e do Brasil também. Desde o massacre e es-cravização dos povos indígenas, assim como dos povos africanos, mesmo a história de um País jovem como o Brasil é cheia de episódios

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trágicos e violentos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos somente foi criada em 1948, como forma de reação contra as atro-cidades cometidas durante a Segunda Guer-ra Mundial, quando Hitler comandou o geno-cídio de judeus e outras minorias nos campos de concentração. (Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/mediar_con-flitos/curso_m_conflitos_modulos_1_10.pdf. Acesso em: 10 jun. 2013).

Raciocínio dedutivo: sair de uma afirmação geral para o particular

O tráfico de pessoas é considerado uma das mais graves violações dos direitos hu-manos neste século e deve ser compreendi-do como um fenômeno social complexo, al-tamente violador e que envolve, em muitos casos, a privação de liberdade, a explora-ção, o uso da violência. Hoje, este fenômeno representa um tema de grande importância para o Brasil, pela sua incidência dentro do país e entre os seus nacionais vivendo no exterior.Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/invis%C3%ADvel-realidade-do-tr%C3%A1fico-de-pessoas. Acesso em: 10 jun. 2013).

Raciocínio indutivo: sair de uma afirmação particular para o geral – a narração de um fato, por exemplo

Segundo Pesquisa Nacional por Amos-tra de Domicílios (PNAD) de 2006, cerca de 83% dos brasileiros vivem em cidades. Esse “inchaço” dos centros urbanos é re-sultante de um modelo de desenvolvimen-to econômico que, desde o início do século 20 até hoje, vem diminuindo o emprego no campo e atraindo muita gente para as cidades em busca de melhores condições de vida. Isso ocorre no mundo inteiro, não só no Brasil.Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/mediar_con-flitos/curso_m_conflitos_modulos_1_10.pdf. Acesso em: 10 jun. 2013).

InterrogaçãoComo dissemos antes, nenhum direi-

to humano pode ser usado para justificar a violação de outro. As pessoas começam a identificar que os seus próprios direitos

podem converter-se em conflitos com os direitos de outras pessoas. Diante da se-guinte reflexão

“Como estes conflitos podem ser re-solvidos”?, convém explicitar que “Todos os conflitos devem ser resolvidos dentro de um contexto de direitos humanos”.Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/mediar_con-flitos/curso_m_conflitos_modulos_1_10.pdf. Acesso em: 10 jun. 2013).

Analogia e paraleloUma área da psicologia diz que a agres-

sividade faz parte da energia humana e que, dependendo da circunstância, pode se trans-formar em violência. A agressividade é como água, pode irrigar ou inundar, depende de como focamos essa energia; podemos usá--la para coisas boas, colhendo bons frutos, ou para coisas ruins, gerando a violência. A energia que faz um militante ir à rua para uma passeata é, muitas vezes, a mesma que faz outra pessoa quebrar um ônibus numa greve ou queimar pneus na rua, para impe-dir a passagem de carros. Como dissemos, os conflitos fazem parte do ser humano, mas podem ser violentos ou não-violentos, de-pendendo da atitude das pessoas.(Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/mediar_con-flitos/curso_m_conflitos_modulos_1_10.pdf. Acesso em: 10 jun. 2013).

CitaçãoSegundo Ana Paula Corti, pesquisadora

da Ação Educativa, de São Paulo, “a ques-tão está muito presente no horizonte das gerações mais novas, mas as escolas não a incorporaram como fonte de intervenção pedagógica”. O desconforto em relação ao assunto é fácil de entender. Trazer os temas do medo e da agressividade para a sala de aula não parece combinar com o papel construtivo e pacificador que o universo es-colar, com razão, costuma chamar para si. Mas algumas experiências, descritas nas próximas páginas, indicam que vale a pena abandonar essa suposta neutralidade e en-carar uma realidade que, de um modo ou de outro, interfere diretamente na vida de todos nós.(Fonte: http://www.codic.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=174. Acesso em: 10 jun. 2013).

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Há diversos processos para se desenvol-ver as ideias de um texto dissertativo. Esses processos variam de acordo com a natureza do assunto e o objetivo traçado, desde que as ideias sejam formuladas de maneira clara, objetiva e conveniente. Veja que os exem-plos que seguem foram retirados de um mes-mo texto. Nosso intuito é que você perceba que pode usar a combinação de vários des-ses recursos em um mesmo texto:

Apresentar relação de causalidadeÉ claro que estas condições e fatores

como a pobreza, a busca por melhores opor-tunidades de trabalho, necessidade de sus-tentar a família, motivos ambientais (secas ou inundações) estão entre as motivações que levam a pessoas a cair em falsas pro-messas que se revelam em situações de ex-ploração posterior. Mas as motivações podem ser mais complexas como, por exemplo, o desejo de conhecer novas culturas, o desejo de transformar o corpo, o casamento com um estrangeiro, ou a necessidade de sair de uma condição de violação de direitos (violência doméstica, abuso sexual intrafamiliar, homo-fobia). Assim, o tráfico se aproveita daquilo que é o bem mais precioso do ser humano - a capacidade de sonhar, de querer mais, de ir mais longe. Ele entra exatamente nos espa-ços onde os sonhos ainda são negados, onde restam poucas ou nenhuma alternativa, com uma promessa que parece aceitável.(Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/invis%C3%ADvel-realidade-do-tr%C3%A1fico-de-pessoas. Acesso em: 10 jun. 2013).

enumerar fatos que comprovem uma opinião - exemplificar

Contudo, fatores culturais e políticos também reforçam esta ambiência para a ocorrência do crime, como: demanda por serviços sexuais; aspectos culturais como a desigualdade e iniquidades de gênero e raça, geracionais, a cultura patriarcal e a homo-fóbica; políticas migratórias restritivas que criam barreiras à migração regular; modelos de desenvolvimento econômico como fatores de expulsão e atração de pessoas e serviços; a corrupção e conivência de funcionários pú-blicos; e deficiências de respostas estatais no

enfrentamento a este crime entre outros.(Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/invis%C3%ADvel-realidade-do-tr%C3%A1fico-de-pessoas. Acesso em: 10 jun. 2013).

Confrontar ideias, dados, estudos ou características

A pena do crime de tráfico de pessoas (pena de reclusão, de três a oito anos) é me-nor do que as penas impostas ao crime do tráfico internacional de armas e de drogas. E, por mais que o tipo penal “tráfico de pesso-as” tenha passado por diversas alterações le-gislativas, ainda permanece insuficiente para contemplar as características do fenômeno e todas as suas formas de exploração. Ain-da convivemos com a distância entre o que compreende o tráfico de pessoas e a pers-pectiva criminal que o caracteriza.(Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/invis%C3%ADvel-realidade-do-tr%C3%A1fico-de-pessoas. Acesso em: 10 jun. 2013).

Apresentar conceitos, citações, alusões ou fatos históricos:

Vale ressaltar que no caso brasileiro, as respostas públicas a este fenômeno estão se estruturando há mais de uma década. Ratifi-camos o Protoloco de Palermo, que é a dire-triz internacional para o tema, contamos com uma Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas que é indutora de ações de prevenção, repressão ao crime e atenção e proteção às vítimas. Estamos sob a égide de um segundo plano nacional que envol-ve 17 Ministérios na implementação de 115 metas até 2016. E a cooperação com Esta-dos e Municípios, organismos internacionais, ministério público e os poderes judiciário e legislativo, e a necessária articulação e per-manente diálogo com a sociedade civil refor-çam a característica democrática e integra-da da atuação brasileira no enfrentamento a este crime. O alerta e a sensibilização da sociedade sobre a existência deste fenômeno são importantes para desmistificar que a sua ocorrência não está tão longe assim da nossa realidade.(Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/invis%C3%ADvel-realidade-do-tr%C3%A1fico-de-pessoas. Acesso em: 10 de jun. 2013).

3.2 O parágrafo de desenvolvimento (a argumentação):

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A conclusão encerra o texto dissertativo, recorrendo a basicamente três possibilidades de variação, a saber:

Retomada: ratifica a tese apresentadaO envolvimento de distintos atores go-

vernamentais e não governamentais, de se-tores da mídia, aumenta a visibilidade e co-meça a provocar a desejada indignação para que a sociedade brasileira não aceite que seus cidadãos sejam vendidos como merca-doria e tampouco que cidadãos estrangeiros vivam em nosso território em condições de exploração. Liberdade não se compra. Digni-dade não se vende. E com este lema o Bra-sil pede que a sociedade esteja atenta, saiba reconhecer o tráfico de pessoas e denuncie.(Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/invis%C3%ADvel-realidade-do-tr%C3%A1fico-de-pessoas. Acesso em: 10 de jun. 2013).

Proposição de soluçõesNo mundo moderno, onde a mulher al-

cança os mais altos cargos políticos e empre-sariais, não se permite mais discutir sobre a equiparação das oportunidades profissionais entre homem e mulher. Urge, cada vez mais, o debate acerca da estruturação das corpo-rações, para que, em havendo situações ad-versas, gestões sejam concebidas para que as mulheres sejam incluídas, a fim de que a sociedade possa cada vez mais usufruir da sua sensibilidade, como a segurança pública baiana já vem usufruindo.(Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/node/35549. Acesso em: 10 de jun. 2013).

Reflexiva: propõe um questionamento:Se esse episódio não foi o primeiro, que

seja o último. Se houver disposição de en-frentar realmente a corrupção da polícia, haverá disposição renovada do lado de cá de trabalhar junto, construir caminhos para uma nova realidade. Se há compromisso com a vida, se há indignação real por trás dos dis-cursos inflamados, que comecem agora as reformas estruturais das polícias, de limpeza das instituições, sem desculpas burocráticas ou medo de retaliação. Apoio não faltará. E coragem?(Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/node/22828. Acesso em: 10 de jun. 2013).

Lembre-se de que os exemplos apresen-tados não encerram todas as possibilidades de que dispomos para a construção discursi-va, mas são indicativos para ajudá-lo na es-critura de textos...

Ao iniciar esta aula, você estudou que os parágrafos são unidades textuais que em conjunto formam o texto. Não basta, portan-to, que você elabore bem os parágrafos como se fossem unidades isoladas, pois se assim o fizer construirá, na verdade, uma enorme colcha de retalhos.

Para que um texto não seja apenas um amontoado de palavras e frases que fazem sentido separadamente, mas não como um conjunto, é preciso que você cuide dos as-pectos relacionados à coesão que estabelece a ligação, a relação entre os elementos de um texto. Observe o seguinte trecho:

Levantamos muito cedo. Fazia frio e a água havia congelado nas torneiras. Até os animais, acostumados com baixas tempera-turas, permaneciam, preguiçosamente, em suas tocas. Apesar disso, deixamos de fazer nossa caminhada matinal com as crianças.

(AQUINO, Renato. Interpretação de textos. 10. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2008. p.14.

O trecho acima é composto por vários períodos e apresenta dois segmentos distin-tos. O primeiro segmento refere-se à con-dição de frio intenso e suas consequências. O segundo apresenta a decisão de não fazer a caminhada com as crianças. O que temos para ligar esses dois segmentos? A locução “apesar disso” liga os períodos. Essa locução possui valor de concessão, liga ideias opos-tas, no entanto, o que temos no segundo seg-mento é mais uma consequência do frio que fazia naquela manhã. Sendo assim, no lugar de “apesar disso”, deveríamos usar: por isso, por causa disso, em virtude disso, etc.

A coesão textual pode ser:

• Referencial: quando um componen-te do texto faz remissão, referência a outro elemento, tais como epítetos; palavras ou expressões sinônimas; repetição de uma palavra, nome ou parte dele; um termo síntese; prono-mes, numerais e advérbios pronomi-nais que substituem um nome; elip-se; dentre outros.

3.3 O desfecho: parágrafo de conclusão

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• Sequencial: quando são estabeleci-das relações semânticas ou pragmá-ticas à medida que o texto se consti-tui, tais como em frases ligadas por conjunções: Gostei da roupa, mas não posso comprá-la. Nesse perío-do, a conjunção mas é elemento de coesão por impulsionar o prossegui-mento do texto, imprimindo-lhe novo sentido.

A coesão liga termos e orações dentro de um parágrafo, bem como liga um pará-grafo a outro. A seguir, será apresentada uma série de recursos de coesão que o aju-darão a dar maior unidade aos textos, além de chamar atenção para o sentido que neles está implícito:

• Causa e consequência: como re-sultado; em virtude de; em função de; em razão de; de fato; assim; portanto; por causa de; por motivo de; porquanto; etc.

• Comparação por contraste ou por semelhança: ao contrário de; em contraste com; como contraponto; em comparação com; igualmente a; analogamente; assim também; do mesmo modo que; da mesma forma que; de maneira similar; de forma idêntica; nessa mesma perspectiva; em consonância com; etc.

• Acréscimo: além disso; outrossim; ainda mais; por outro lado; desta fei-ta; nesse sentido; em função disso; a esse respeito; não só... mas ainda; etc.

Além desses recursos, é possível recor-rer à utilização de palavras ou expressões re-lacionais para:

• Iniciar uma análise: é fundamen-tal inicialmente observar; há que se analisar, primeiramente; a primeira questão se referirá a; é fato; inicie-

mos a análise observando; em pri-meira instância, cabe analisar; etc.

• Ratificar a análise: não podemos deixar de lado a questão de; é pre-ciso frisar ainda que; não podemos nos esquecer também; é essencial lembrar ainda; é fundamental insis-tir; não há como negar que; é possí-vel alegar ainda que; além do mais; paralelamente; acrescente-se a isso; é inegável; é provável também; há ainda a possibilidade de; etc.

• Encerrar a análise: por conseguin-te; consequentemente; por isso; dessa forma; em suma; em síntese, é possível dizer que; portanto; defi-nitivamente; a partir desse contexto, é plausível afirmar; finalmente; etc.

• Enumerar outros fatores: não po-demos excluir; uma segunda causa a ser apontada é; outro aspecto a ser considerado; além desse fator, cha-ma a atenção; como terceira razão, é preciso salientar; etc.

• Estabelecer oposição: a despeito dessa posição; ao passo que; não obstante sua avaliação; vai de en-contro a; malgrado; em que pese tal afirmação... é preciso considerar; ainda que; muito embora reconhe-ça... há que se levar em conta; en-tretanto, no entanto; etc.

Como você estudou, são muitas as pos-sibilidades de uso de elementos de coesão. O uso correto deles é que dará ao seu texto a coerência necessária para que a comunica-ção se efetive, pois o texto só faz sentido se todos os envolvidos nesse processo de inte-ração reconhecerem sua lógica interna.

Agora é com você. Ler e escrever bem são habilidades e, portanto, requerem treino para serem adquiridas...

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Finalizando...Neste módulo, você estudou que ...

• Aprendemos na escola a utilizar os textos segundo sua tipologia, qual seja nar-ração, descrição e dissertação. Essa concepção é válida como modalidade utili-zada no processo de composição dos diversos gêneros discursivos, mas não dá conta da classificação e análise de todos os textos utilizados pelos falantes de uma língua.

• Narrar impõe o relato de histórias e acontecimentos, reais ou fictícios, com mar-cante coerência interna para que a história seja verossímil e, portanto, convin-cente ao receptor.

• O texto descritivo se caracteriza por capturar verbalmente as características, de maneira mais ou menos pormenorizada, de pessoas, estados de espírito, obje-tos ou cenas.

• O texto dissertativo objetiva expor, explicar ou interpretar determinada ideia e, para tanto, recorre-se a argumentos que a comprovem ou justifiquem.

• O texto dissertativo estrutura-se em três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão.

• Dentre os recursos que poderão auxiliar na escrita de textos é possível citar: reflexão sobre o tema, elaboração de um esquema, elaboração de rascunho, reflexão sobre seu estilo pessoal e revisão de texto.

• Os parágrafos são unidades textuais que em conjunto formam o texto. A coesão liga termos e orações dentro de um parágrafo, bem como liga um parágrafo a outro.

• A coesão textual pode ser referencial ou sequencial.

• Ler e escrever bem são habilidades e, portanto, requerem treino para serem adquiridas.

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Apresentação do módulo

Módulo 3

Cuidados a serem observados

Além dos aspectos sobre os quais re-fletimos até aqui, quando nos comunica-mos, precisamos elaborar um discurso cla-ro e convincente. Isso faz toda a diferença, especialmente no meio profissional, para a credibilidade de nossos projetos e ideias. Ar-gumentar de maneira eficiente, evitando ví-

cios, falácias e outros desvios, nos conduz ao papel de interlocutores que merecem ser ouvidos. A qualidade dos textos que produzi-mos, sejam eles orais ou escritos, passa pela qualidade de nossa argumentação e pela ca-pacidade de utilizarmos a lógica e a norma culta ao nosso favor.

Objetivos do móduloAo final deste módulo, você será capaz de:

• Identificar vícios e desvios de linguagem;

• Reconhecer que a qualidade do texto é influenciada pela forma que se escreve;

• Compreender, identificar e evitar o uso de argumentos falaciosos.

estrutura do móduloEste módulo compreende as seguintes aulas:

AuLA 1 – Vícios e desvios de linguagem

AuLA 2 – Depreensão do implícito: pressupostos e subentendidos

AulA 3 – Falácias: pensando logicamente

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A frase acima está ambígua, concor-da? É possível pensar que “muda” é verbo (embora não apareça como pronominal), ou seja, a família vai transferir-se para outro lo-cal, ou, ainda pensar “muda” é adjetivo, as pessoas que compõem essa mesma família, não falam, não têm a capacidade de falar. Claro que, como uma placa que apresenta

visivelmente um registro coloquial, o sentido é cômico. Mas, pense você no mesmo pro-cesso em um texto escrito que tenha uma construção mais formal. A ambiguidade irá prejudicar o sentido do escrito e, neste caso, nada restará do cômico, pois o texto provo-cará o não entendimento, ou mesmo, uma enorme confusão.

Aula 1

vícios e desvios de linguagemAi, palavras, ai, palavras,

que estranha potência a vossa!Cecília Meireles

Nesta aula, serão apresentados maus hábitos que adquiri-mos ao nos comunicarmos e como podemos evitá-los.

3.1 vícios de linguagemObserve a placa abaixo:

(In:http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/20070424familiamuda2.jpg&imgrefurl)

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Agora, leia a charge abaixo.

(In:http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://ser-geicartoons.blogs.sapo.pt/arquivo/ManuelD.jpg&imgrefurl)

O autor da charge usa a imagem asso-ciada à fala das personagens para, também, criar um sentido “duplo”. A oração “Não te vejo há anos e estás na mesma” refere-se ao fato das personagens não se encontrarem há muito tempo, mas pode ser entendida, não com um sentido cômico, mas crítico e irônico, contra o uso da burca, pois ambas não se veriam mes-mo que se encontrassem todos os dias.

Antes de prosseguir, observe nova-mente os dois exemplos apresentados.

Há uma diferença entre a ambiguidade da placa e a possível ambiguidade da charge. Na charge, a linguagem foi trabalhada para se obter um efeito crítico, o que não parece ter acontecido no exemplo da placa. Assim, é preciso conhecer mais do que a estrutura gramatical de uma língua para que se seja um bom leitor e um bom “escritor”.

A preocupação deste curso é com a pro-dução do texto escrito. É necessário que você tenha a consciência de que não basta ape-nas conhecer a gramática de uma língua ou ter o dicionário como constante material de consulta. É importante perceber e entender a forma como você escreve, além das questões de estilo, pois ela influenciará na qualidade do texto. No caso dos profissionais da segurança pública, isso se torna ainda mais importante na medida em que são, a todo tem-po, requeridos a produzir textos técnicos que primem pela obje-

tividade, pela clareza das informações e pela correção textual.

Existem diversos “desvios de lingua-gem”, alguns mais, outros menos comuns; alguns mais, outros menos utilizados, que podem comprometer tanto a qualidade e es-trutura de um texto quanto a sua clareza e permissão de entendimento.

Os vícios de linguagem são a catalogação desses desvios e é importante conhecê-los para sempre evitá-los. Dentre eles, destacam-se:

1. Solecismo – desvio da norma culta de uma língua, por exemplo, erros de concordância, de regência, de colo-cação, dentre outros.

Exemplo: Fazem cinco anos que pa-rei de estudar (“fazem” no lugar de “faz”).

2. Ambiguidade ou Anfibologia: obs-curidade no sentido das palavras, das expressões o que provoca uma hesita-ção entre duas ou mais possibilidades.

Exemplo: Paulo pegou o táxi correndo. (Quem “corria”? O “táxi” ou “Paulo”?)

Há alguns fatores linguís-ticos que são responsáveis pela ambiguidade. Reflita.

• Diferentes referências para um único pronome.

Exemplo: Ele foi para sua casa. (Para a casa de quem?).

• Uma oração aceita mais de uma construção sintática.

Exemplo: O juiz julga os réus culpados.

a) O juiz julga que os réus são culpados.

b) O juiz julga os réus que são culpados.

• Há dúvidas quanto ao significado de-notativo ou conotativo das palavras.

Exemplo: Campo é usado aqui em sen-tido conotativo de espaço para tra-balho e denotativo como espaço para agricultura e pecuária.

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3. Pleonasmo - repetição desnecessá-ria de palavras ou ideias.

Exemplo: Ele desceu lá embaixo à pro-cura de um estacionamento. (“des-cer”, no exemplo em questão, só pode ser para baixo).

O pleonasmo tem empre-go legítimo em muitos ca-sos. Quando afirmo “vi com meus próprios olhos”, há um pleonasmo, pois só pos-so ver com os olhos. No en-tanto, posso querer reforçar a ideia de que “realmente”, “verdadeiramente” vi. Cla-ro que em textos objetivos é melhor não utilizá-lo, mas fica aqui a ressalva de que nem sempre onde encontro um pleonasmo encontro um erro. O mesmo vale para ou-tros desvios.

4. Barbarismo – uso de formas inexis-tentes na norma culta por:

• Troca ou omissão de fonemas

Exemplo: “adevogado” em vez de ad-vogado; “pobrema” em vez de pro-blema

• Troca de letras

Exemplo: “atrazo” em vez de atraso.

• Inadequação de flexões

Exemplo: Sairei “menas” vezes em vez de menos vezes.

• Inadequação de sentido

Exemplo: “acerca” de (que significa “a respeito de”) no lugar de cerca de (que significa “aproximadamente”).

5. Estrangeirismo – uso de palavras ou expressões de outra língua. Para muitos, o estrangeirismo é um tipo de barbarismo.

Exemplo: self-service; recall; mouse; on-line

É preciso ter cuidado para que o uso dos estrangeiris-mos não seja exacerbado (o que muitas vezes ocorre no Brasil, sobretudo em rela-ção à língua inglesa). Dessa

forma, sempre que possível, a palavra estrangeira deve ser substituída pela corres-pondente em Português. O texto “A Gestação do Por-tinglês” faz uma crítica ao estrangeirismo.

Quando optamos por utilizar uma pa-lavra estrangeira em nossos textos, deve-mos obrigatoriamente colocá-las em itálico. Na tentativa de sanar ou amenizar dúvidas quanto ao uso de itálico para palavras es-trangeiras, empregamos o itálico somente em palavras não incorporadas ao vocabulário da Língua Portuguesa.

dICA: Pode-se confirmar se determina-da palavra já esta incorporada realizando a consulta no Vocabulário Ortográfico da Lín-gua Portuguesa (http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23).

6. Prolixidade – uso de palavras em demasia e impossibilidade de ser su-cinto e objetivo. O discurso acaba se tornando difícil e enfadonho.

Exemplo: Com o propósito de centra-lizar e agregar os nossos atendimen-tos, no que tange potencialmente às resoluções de problemas emergentes e específicos, coloco à disposição de todos dois caminhos para o encami-nhamento das solicitações corretivas ou problemas. Peço somente que no-meiem uma pessoa dentro de sua estrutura para que esta seja o pon-to focal de controle das solicitações. Utilizaremos a ferramenta corrente para alinharmos todos os assuntos e versões vinculadas ao andamento dos trabalhos, bem como para solici-tações de alterações específicas nos aplicativos envolvidos no sistema de controle.

No site humorístico (site é um estrangei-rismo, mas como já se encontra dicionariza-do, não é obrigatória a grafia em itálico) “eu falo difícil”, há uma seção que brinca com a prolixidade. Veja: Aquele que se deixa pren-der sentimentalmente por criatura destituída de dotes físicos de encanto ou graça acha--a dotada desses mesmos dotes que outros não lhe veem. = Quem ama o feio bonito lhe parece.

(In: http://www.gun.com.br/eufalodificil/?author=3)

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7. Lugar-comum ou clichê – expres-são de uma língua que, de tão repe-tida, se banaliza. Por isso, não é re-comendável fazer uso de clichês em redações e demais textos formais.

Exemplo: E eles viveram felizes para sempre.

O texto “Enchente de Clichê” apre-senta bons exemplos. Leia-o!

Antes de concluir o assunto, é preciso acrescentar que alguns desvios da lingua-gem podem funcionar como recursos estilís-ticos, sobretudo, quando se trata de textos literários. Assim, o que é aparentemente um erro pode se transformar em um recurso ex-pressivo, como poderá verificar no texto “A Eficiência da Ambigüidade”

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Veja o quadrinho.

Repare que no texto há um juízo sobre a situação mundial que não está expresso ex-plicitamente no texto, ou seja, os quadrinhos não afirmam “com todas as letras” que “o panorama mundial é feio”, mas as ideias es-tão implícitas, pois são subentendidas. Des-sa forma, é possível entender que, para que você descubra o real sentido do que está es-crito, é imprescindível saber ler.

A leitura não é um procedimento sim-ples. Muitos acreditam que sabem ler, mas na verdade o que fazem é decodificar códi-gos. Contudo, ler é muito mais do que isso. Envolve o conhecimento da linguagem, é fato, mas envolve também a experiência do ser. Lida com a capacidade de compreensão do mundo, requer esforço do cérebro e en-volve emoção. A leitura deve provocar o pen-samento e não se pode considerar apenas o

que está visivelmente escrito (ou nos é fala-do), é preciso ler (e ou-vir) nas entrelinhas.

São três os con-textos que garantem a compreensão do que se lê e daquilo que se fala. Confira!

1. Contexto linguís-tico – é formado pelo

material linguístico que estrutura os enunciados. Por exemplo, em ativi-dades de leitura o contexto linguístico nos ajuda a inferir o significado de pa-lavras que não conhecemos.

2. Contexto situacional – são os sig-nificados acessíveis aos participantes de uma comunicação que se encon-tram no mesmo espaço físico. Quan-do digo: “Abaixe a música” o enun-ciado só terá sentido dentro de um contexto específico (alguém está com uma música alta).

3. Contexto sociocultural – são enuncia-dos que demandam condicionamen-tos sociais e culturais. Como decidir, por exemplo, se trato uma pessoa por “você” ou “senhor”?

Aula 2

depreensão do implícito: pressupostos e subentendidos

Quem muito lê e muito anda, vai muito longe e sabe muito.M. de Cervantes

Nesta aula, será discutido o quanto podemos depreender dos textos que lemos para além do que está na superfície. E conhecendo os recursos que outros autores utilizam, podere-mos refletir sobre o impacto das ideias que estão subjacentes ao texto e aprender a fazer o mesmo quando produzimos nos-sos próprios textos.

2.1 Contextos e leituras

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Dessa forma, quando se domina uma língua, no nosso caso a língua portuguesa, é forçoso ler as mensagens, mas para com-preendê-las, é preciso ir além da simples leitura de palavras. É preciso entender os pressupostos e os subentendidos, ou seja, descobrir o implícito. O mesmo processo acontece com o ato de escrever. É necessá-rio perceber a adequação do que está pres-suposto e conferir possíveis subentendidos para evitar que se comunique uma ideia que não se deseja.

Assim: a. Pressuposto – é uma ideia que se

supõe antecipadamente. “Quando se afirma que “Pedro lamentou ter bebi-do muito”, há o pressuposto de que “ Pedro bebeu muito”.

Da mesma forma, quando afirmo que:

1. O policial afirmou que Pedro não era o culpado pelo choque dos automó-veis.

2. Finalmente, o policial afirmou que Pedro não era o culpado pelo choque dos automóveis.

3. Felizmente, o policial afirmou que Pe-dro não era o culpado pelo choque dos automóveis.

O pressuposto identificado na oração (1) é de que “Pedro se envolveu em um aci-dente”, nas orações (2) e (3) as ideias ex-pressas se modificam, pois na (2) pode-se extrair a informação implícita pela palavra “finalmente” de que, só após diversas análi-ses e observações é que o policial reconheceu a inocência de Pedro. E, na (3), há a constru-ção de outra informação advinda do vocábulo “felizmente” que se traduz por “por sorte”, ou seja, apenas por um acaso feliz é que Pedro não era culpado pelo acidente.

b. Subentendido – é ideia não expres-sa, que não foi dita ou escrita, mas que se deduz. Millôr Fernandes escreveu que “A corrupção é, indubitavelmente, uma das muitas línguas pelas quais o demônio – um poliglota! – fala.” (Re-vista Veja. 14/11/2007, p.33). Ao afir-mar que “a corrupção é um demônio poliglota” fica subentendido que a cor-rupção atinge todas as “línguas”, ou seja, todas as sociedades.

2.2 Mecanismos de produção textual

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Quando se afirma que: “Reconheço que não é este o trabalho que deveria ser apre-sentado, mas mesmo que seja inadequado, devo ser reconhecido pelo meu esforço e pelo tempo que empenhei neste projeto.” – O que é preciso perceber?

É preciso perceber que os argumentos utilizados pelo enunciador são irrelevantes, pois o que este deseja é sobrepor o esfor-ço à competência em relação à execução de um trabalho. Na verdade ele apresenta argu-mentos que são incompatíveis (não é possí-vel justificar com seu esforço a não qualidade do trabalho), ou seja, há um erro de argu-mentação.

Assim, são construídas as falácias, ou seja, enunciados que reproduzem raciocínios falsos, mas que, entretanto, simulam um “ar” de verdade.

Você estudou que quando se busca con-vencer e fazer aceitar determinada hipótese, utiliza-se da argumentação. Se as premissas que você utilizar forem legítimas, então a ar-gumentação tem fundamento e se justifica. No entanto, se as premissas forem duvidosas ou não se justificarem, a argumentação será falaciosa.

Ser capaz de entender e identificar um argumento falacioso é imprescindível para que não se aceitem

alegações sem fundamento, o que nos levaria ao engano, a sermos ludibriados.

Dessa forma, as falácias devem ser evi-tadas em textos escritos e orais, mas não o são, ao contrário, têm um uso bem amplo e, para aumentarem sua força de argumento falho, têm um grande poder psicológico. O que é importante em face disso é, ao menos, saber identificá-las, para que não se seja lu-dibriado por argumentos falsos.

Não confunda um argumen-to falacioso com uma men-tira. Quando você “mente”, comete um erro proposital em relação aos fatos da re-alidade, afirma ser verda-deiro o que é falso; enga-na, dissimula. Quando você constrói uma assertiva fala-ciosa, afirma uma verdade, mas manipula certas evi-dências e provoca determi-nadas conclusões que são erradas.

Por exemplo, verifique a situação: Um homem cometeu um crime (assaltou

uma loja) e foi condenado por isso. Vejam as situações abaixo que ocorreram quando ele estava sendo julgado e que nos permitem di-ferenciar mentira de falácia.

Aula 3

Falácias: pensando logicamenteA verdade alivia mais do que machuca. E estará sempre acima

de qualquer falsidade, como o óleo sobre a água. Miguel de Cervantes

Nesta aula, será destacada a importância do pensamento ló-gico na argumentação. Conhecer as principais falácias no proces-so argumentativo nos ajudará a evitá-las em nosso discurso, bem como a usar isso em nosso favor ao reconhecermos sua presença no discurso do outro.

3.1 As falácias

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Situação 1: MentiraO réu afirmou que era inocente.

Se ele afirmou ser inocen-te, tendo assaltado a loja, co-meteu “um erro proposital em

relação à verdade”, portanto ele mentiu.

Situação 2: FaláciaO advogado que defendia esse homem

afirmou que o réu não poderia ter cometido o crime por ser um homem casado que tem esposa e filhos.

Ora, o argumento “casado e com filhos” não exime o réu de poder cometer um crime e tê-lo, realmente, cometido, ou seja, o ad-vogado afirma uma verdade “homem casado e com filhos” e tenta descaracterizar o crime (repare que ele afirmou: “não poderia co-meter” e não: “não cometeu”). O advogado mente? Não, mas “manipula” os fatos.

É por isso que, escrevendo ou lendo, falando ou ouvindo, é importante conhecer de sua língua mais do que a reprodução de estruturas gramaticalmente corretas. É pre-ciso identificar todos os elementos que pos-sam interferir na compreensão dos discursos para que não engane ou não seja “engana-do”. Quando você começar a identificar as falácias, vai perceber que elas aparecem por todos os lados: nos discursos dos políticos, na voz de vendedores, nos jornais e revistas, dentre tantas outras situações. Por isso, é tão importante entendê-las.

O texto “Argumentos Falaciosos: um pequeno compêndio para evitar a compra de gatos por lebres”(Fazer um link para o texto- Falta) exem-plifica bem a utilização das falácias. Leia-o.

Ao ouvir ou ler um argumento, é preci-so verificar se as premissas são relevantes. Fique atento, então, e se pergunte sempre quais seriam as razões para considerar e acei-

tar determinada afirmação. Para isso é preci-so também ser uma pessoa bem informada.

Outra característica de um argumento que pode levá-lo a não ser considerado como aceitável é quando sua conclusão é mera-mente a afirmação da premissa. Isso é o que faz um argumento ser classificado como uma “petição de princípio”.

Repare no exemplo:

Se Deus existe, há um ser bom que criou o mundo. Logo, Deus existe.

O argumento inicial apresenta um condi-cional “se” que nos faz pensar se Deus existe ou não. A conclusão afirma que “Deus existe” como verdade, partindo da premissa “um ser bom que criou o mundo”, ou seja, ela apenas afirma de forma conclusiva uma possibilida-de da premissa sem apresentar nenhum ou-tro argumento mais consistente.

Leia o texto “O Discurso da Inocência”(Fazer um link- Falta), pois ele exemplifica bem as ideias que foram desenvolvidas no curso.

Na falácia da petição de princípio, o autor pressupõe diretamente as ideias apresenta-das como conclusões no mesmo argumento. Há ainda outras “táticas” como, por exemplo, a conhecida “ignorância da questão”. Alguém, por exemplo, lança uma questão a qual outro responde com uma afirmação que não tem relação alguma com o que foi perguntado.

O texto “Principais Falácias” (Fazer um link para o texto-Falta) ilustra os diversos tipos de falácias. Claro que não há qualquer necessidade de memorizar todas elas. Leia ape-nas com a curiosidade e a percep-ção de quem será capaz de, a partir de agora, identificar recursos uti-lizados que possam induzir a uma compreensão incorreta de um dis-curso qualquer.

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Neste módulo, você aprendeu que...

• A preocupação deste curso é com a produção do texto escrito. É importante que você tenha a consciência de que não basta apenas conhecer a gramática de uma língua ou ter o dicionário como constante material de consulta. É importante perceber e entender que a forma como você escreve, além das questões de es-tilo, pois ela influenciará na qualidade do texto.

• Existem diversos “desvios de linguagem” que podem comprometer tanto a qua-lidade e estrutura de um texto quanto a sua clareza. Os vícios de linguagem mais comuns são: solecismo, ambiguidade ou anfibiologia, pleonasmo, barba-rismo, estrangeirismo, prolixidade e lugar-comum ou clichê.

• A compreensão do que se lê e daquilo que se fala pode ser garantida pelos se-guintes contextos: linguístico, situacional e sociocultural.

• A compreensão de uma mensagem exige que se vá além da simples leitura. É preciso entender os pressupostos e os subentendidos, ou seja, descobrir o im-plícito. Para escrever é o mesmo processo. É necessário perceber a adequação do que está pressuposto e conferir possíveis subentendidos para evitar que se comunique uma ideia que não se deseja.

• Falácias são enunciados que reproduzem raciocínios falsos, mas que, entretan-to, simulam um “ar” de verdade.

• É por isso que, escrevendo ou lendo, falando ou ouvindo, é importante conhecer de sua língua mais do que a reprodução de estruturas gramaticalmente corre-tas. É preciso identificar todos os elementos que possam interferir na compre-ensão dos discursos para que não engane ou não seja “enganado”.

Finalizando...

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O estudo da língua depende da impor-tância que cada um confere a sua profici-ência linguística, ou seja, seu desejo de ser capaz de falar e escrever cada vez melhor. Se você colocar esse desejo como uma prioridade, paulatinamente, pois é preci-so ter consciência que esse é um processo contínuo e lento, essa capacidade de uso da língua com correção, seja ela oral ou es-

crita, se concretizará. Neste módulo, você terá acesso a inúmeras informações que podem contribuir efetivamente para que você alcance essa proficiência ao se comu-nicar, especialmente, pelas características das diversas funções que pode ocupar no âmbito da segurança pública, que reque-rem de você a produção constante de tex-tos técnicos.

Módulo 4

texto Ideal

Apresentação do módulo

Objetivos do módulo:Ao final deste módulo, você será capaz de:

• listar as principais características que devem ser identificadas em um texto, para se saber o nível de informação que será disponibilizado ao interlocutor;

• interpretar um texto a partir dos conceitos trabalhados; e,

• reconhecer que um dos pontos de importância para se dominar o próprio idioma é ser capaz de executar diversas leituras de um mesmo texto.

estrutura do móduloEste módulo compreende a seguinte aula:

AuLA 1 – A relação da leitura com a produção de textos

AuLA 2 – Consciência discursiva

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Ler textos de forma consciente nos aju-da muito a construir nosso próprio modelo de escrita. Os textos lidos nos auxiliam em duas direções, a saber: servem de modelos, espe-cialmente aqueles técnicos, e nos subsidiam com conhecimentos a serem mobilizados, no momento da produção textual. Daí a impor-tância de pensarmos, em um curso que se deteve até aqui a falar de produção, a leitura de textos como tarefa imprescindível ao do-mínio da língua.

É muito importante pensar a leitura como processo de interação entre interlocu-tores. Dessa forma, o leitor deixa de ser pas-sivo e assume um papel ativo, pois dialoga com o autor no texto. Essa atividade de lei-tura/diálogo com o autor é bastante comple-xa e deve levar em consideração os diversos contextos envolvidos: o do autor; o do leitor e o do próprio texto.

Lucília Garcez, conhecida linguista, afir-ma que, para a compreensão efetiva e res-ponsiva de um texto, percorre-se um longo caminho que envolve, dentre outras coisas os seguintes fatores:

• Decodificação dos signos: compre-ensão do nível superficial do texto;

• Interpretação de itens lexicais e gramaticais: compreensão da es-trutura gramatical do texto;

• Agrupamento de palavras em blocos conceituais e identificação

de palavras-chave: organização do vocabulário a ser utilizado no texto;

• Seleção e hierarquização de ideias: organização das ideias utiliza-das em um texto por ordem de impor-tância. O uso de mapas conceituais e esquemas é útil para a compreensão plena dessa hierarquização;

• Associação com informações an-teriores; antecipação de informa-ções; elaboração de hipóteses; construção de inferências; com-preensão de pressupostos: pro-cesso de análise e síntese da leitura realizada, tendo em vista todos os contextos envolvidos;

• Avaliação do processo realizado: revisão da leitura realizada para a construção de uma síntese;

• Reorientação dos procedimentos mentais: retomada dos pontos ante-riores que considerou deficitários na avaliação.

Como se vê, não é fácil. Claro que aque-le que conhece bem sua língua faz tudo isso “mentalmente” em processos “interioriza-dos”, mas para se tornar um bom “usuário” de uma língua, é preciso um estudo contínuo e a consciência do tempo que se leva para que determinado conhecimento realmente se torne de nosso domínio.

Existem habilidades essenciais à intelec-

Aula 1

A relação da leitura com a produção de textosOnde eu não estou, as palavras me acham.

Manoel de Barros

Nesta aula, serão salientados o papel da leitura no desenvolvi-mento de competências discursivas e as possibilidades de leituras de um mesmo texto.

1.1 A compreensão do texto

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ção textual e as principais características que devem ser identificadas em um texto, para se saber o nível de informação que será dis-ponibilizado ao interlocutor são:

• delimitação• coerência• relevância• clareza

• economia• cooperação• simetria• exatidão• convicção/ assertividade• objetividade• correção

(Fonte: L. Comunicação. U. Católica Virtual)

1.2 Literalidade do texto e pressupostosUm texto, então, não é apenas o resulta-

do da soma de diversas partes, já que pres-supõe uma organização interna construída exatamente por essa seqüência de “partes” e por uma articulação lógica das palavras e

das ideias. Quando se lê um texto, é impor-tante saber responder todas as indagações que advêm de sua literalidade e de todos os seus pressupostos.

Leia, então:

A fábula inumanaEm 1929, a revista Documents publica dois pequenos artigos anônimos, ambos in-

titulados “Homem”. Lê-se no primeiro deles: “Homem. – Um eminente químico inglês, o Dr. Charles Henry Maye, empenhou-se em estabelecer de forma exata de que é feito o homem e qual é seu valor químico. Eis os resultados de suas sábias pesquisas. A gordura de um corpo humano de constituição normal seria suficiente para fabricar sete porções de sabonete. Encontram-se no seu organismo quantidades suficientes de ferro para fabricar um prego de espessura média e de açúcar para adoçar uma xícara de café. O fósforo daria para 2.200 palitos de fósforo. O magnésio forneceria matéria para se tirar uma fotografia. Ainda um pouco de potássio e de enxofre, mas em quantidade inutilizável. Essas diversas matérias-primas, avaliadas na moeda corrente, representam uma soma em torno de 25 francos”(...)

(MORAES, Eliane Robert. O corpo impossível. São Paulo: Iluminuras, 2002, p. 125).

Após a leitura, procure responder a se-qüência de perguntas a seguir:

• O texto se refere a quantos artigos? Em que revista foram publicados? Quem publicou o primeiro artigo? Qual seu título? Qual é o tema cen-tral? Qual é especificamente o valor químico de um homem? Quais as matérias que compõem um homem? Qual é o valor das diversas “matérias--primas” que compõem um homem?

Todas as respostas seriam dadas seguin-do a literalidade do texto. No entanto, é pre-ciso seguir também as indagações que deter-minam os pressupostos:

• Em que área específica de conheci-mento o pesquisador trabalha? Qual é o seu objeto de estudo? Quais são as características dos elementos químicos citados tais como fósforo, magnésio, potássio, enxofre? O que

representa a soma de “25 francos?”.

A seguir, deve-se fazer as perguntas em torno dos subentendidos, excluindo as pos-síveis falácias que, neste ponto, devem ser percebidas e entendidas, ou seja, deve-se pensar sobre:

• A imagem que decompõe o homem em porções para definir “de forma exata do que ele é feito” reduz o cor-po humano a um quase nada, poucas qualidades de matéria e quantidades irrisórias?

• O artigo publicado na revista Do-cuments, assinado pelo “eminente químico inglês, o Dr. Charles Henry Maye” parte de um princípio radical-mente materialista?

• De acordo com as quantidades de gordura, fósforo, ferro e magnésio imagina-se o potencial correspon-dente de sabonetes, palitos, pregos

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e fotografias, reduzindo o homem a nada além de 25 francos?

• No título, a palavra “inumana” refe-re-se à degradação dos corpos que parecem não pertencer à condição humana já que desprovidos de senti-mentos?

Para terminar, é importante reparar no vocabulário empregado e nas estruturas de construção do texto. O uso de construções corretas e objetivas é sempre aconselhável. Uma forma de ilustrar o uso de uma lingua-gem mais “complicada” é seguir o que mui-tos chamam hoje de juridiquês, ou seja, a linguagem daqueles que pertencem à área do Direito.

Siga o exemplo:

Leia abaixo dois exemplos de textos ju-rídicos genuínos - na versão original, em “ju-ridiquês” e, em seguida, simplificado. O pri-meiro pela professora Helide Santos Campos e o segundo pelo advogado Sabatini Giam-pietro Netto:

Tradução simultânea• V. Ex.a, data maxima venia, não

adentrou às entranhas meritórias doutrinárias e jurisprudenciais aco-pladas na inicial, que caracterizam, hialinamente, o dano sofrido.

Tradução: V. Ex. não observou devida-mente a doutrina e a jurisprudência citadas na inicial, que caracterizam, claramente, o dano sofrido.

• Com espia no referido precedente, plenamente afincado, de modo con-suetudinário, por entendimento tur-mário iterativo e remansoso, e com amplo supedâneo na Carta Política, que não preceitua garantia ao con-tencioso nem absoluta nem ilimitada,

padecendo ao revés dos tempera-mentos constritores limados pela dic-ção do legislador infraconstitucional, resulta de meridiana clareza, tornan-do despicienda maior peroração, que o apelo a este Pretório se compade-ce do imperioso prequestionamento da matéria abojada na insurgência, tal entendido como expressamen-te abordada no Acórdão guerreado, sem o que estéril se mostrará a ir-resignação, inviabilizada ab ovo por carecer de pressuposto essencial ao desabrochar da operação cognitiva.

Tradução: Um recurso, para ser rece-bido pelos tribunais superiores, deve abordar matéria explicitamente toca-da pelo tribunal inferior ao julgar a causa. Isso não ocorrendo, será pura e simplesmente rejeitado, sem exa-me do mérito da questão.

Para o desembargador Rodrigo Colla-ço, presidente da Associação de Magistrados Brasileiros, “depois da morosidade dos pro-cessos, o que incomoda a população é a lin-guagem usada pelos operadores do Direito”.

Retomando o artigo “A fábula inumana”, mesmo com pressupostos e subentendidos, vale ressaltar, que trata-se de um exemplo de texto marcado pela clareza, consideran-do-se também que o vocabulário é conhecido e a estrutura das frases é bem simples. Além disso, há objetividade, correção gramatical e coesão textual. Assim, o importante para se dominar o próprio idioma é ser capaz de exe-cutar diversas leituras de um mesmo texto. Com a prática, isso se torna cada vez mais “automático” e você se tornará um verdadei-ro leitor, ou seja, aquele capaz de ler, enten-der, analisar e interpretar um texto escrito. E, com isso, sua capacidade de escrita se ampliará enormemente.

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Como afirmamos na Aula 1, a intelecção de um texto é fruto da interlocução do leitor com o autor. Ao texto, quando lemos, impri-mimos nossas impressões pessoais. É muito comum que um mesmo autor ou texto pos-sa causar diferentes reações do leitor. Isso fica muito evidente nas cartas ao autor que lemos nas revistas e jornais ou mesmo na opinião que temos sobre determinado livro.

Podemos ainda citar como exemplo as histórias e os fatos que contamos. Já ouviu falar naquele ditado: Quem conta um conto, aumenta um ponto? Uma coisa é o que nos contaram e outra é o que passamos à frente. Será que conseguimos contar tal história de maneira fidedigna?

Veja o exemplo dado a seguir:

Bernardo confidenciou a Maurício:

- Estive na manifestação naquele dia.

Mais tarde, Maurício relata o ocorrido a um amigo:

- Fiquei muito triste com o envolvi-mento de Bernardo nos atos de vandalismo. Ele me confessou sua participação.

Maurício reproduziu a história de Ber-nardo? Foi fidedigno ao fato contado a ele?

Como se pode ver, os textos são resul-tado de uma criação coletiva: a voz do autor

se manifesta ao lado de outras tantas vozes que participam direta ou indiretamente da-quele momento de interação. Os textos ar-gumentativos nos permitem perceber tais vozes com muita clareza, pois se tratam de textos que partem de um fato social ou de uma demanda social por reflexão a respeito de um tema.

Um discurso sobre políticas públicas para inserção social do jovem infrator só exis-te porque há a criminalidade juvenil. Dessa forma, nossa perspectiva sobre o tema será determinada por nosso olhar como sujeitos históricos marcados por nossas vivências em um contexto social determinado. Quando trazemos para os textos outras vozes, esta-belecemos um processo a que chamamos de intertextualidade. Podemos mostrar a pre-sença das múltiplas vozes num texto de duas formas:

ImplicitamenteÉ muito comum que os textos tragam a

presença de outras vozes de forma implícita. Essa presença ocorre sem que se faça uma citação expressa da fonte, mas se evidencie a partir das vivências do leitor. Vejam que essa omissão da fonte acontece de forma proposital, pois há o pressuposto de que o leitor reconheça o texto. Se o leitor não re-conhecer a associação de tal ideia, o sentido global fica prejudicado, ou seja, é necessário que elas façam parte do repertório discursivo

Aula 2

Consciência discursiva “Quando eu ainda não sabia ler, brincava

com os livros e imaginava-os cheios de vozes, contando o mundo.”

Cecília Meireles

Nesta aula, serão apresentadas informações importantes que podem contribuir efetivamente para que você tome as melhores decisões ao ler e ao escrever textos.

2.1 O leitor e o texto: múltiplas leituras

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do leitor para que ele realmente entenda as referências e compreenda bem o texto.

Exemplo: Ser a violência a parteira da História significa que as forças ocultas do desenvolvimento da produtividade humana, na medida em que dependem da ação hu-mana livre e consciente, somente vêm à luz através de guerras e revoluções. Unicamente nesses períodos violentos, a História mostra sua autêntica face e dissipa a névoa de mera conversa ideológica e hipócrita. Novamente, o desafio à tradição é evidente. A violência é, tradicionalmente, a última ratio nas rela-ções entre nações e, das ações domésticas, a mais vergonhosa, sendo considerada sempre a característica saliente da tirania.Fonte: https://docs.google.com/folderview?id=0B-YLV8e-gGwSudGJCc2NQTHJVVVk

Nesse exemplo (parágrafo retirado isola-damente para fins didáticos), o autor não cita que a violência como parteira da História é uma alusão implícita à fala de Marx e Engels, muito conhecida, assim como não cita que a referência à expressão ultima ratio remete ao Direito e significa “última razão” ou “último recurso”. Dessa forma, a intertextualidade acontece de forma implícita, pois há a expec-tativa de que o leitor conheça as alusões.

explicitamentePodemos trazer as múltiplas vozes para

a “cena”, demarcando explicitamente seu lu-gar e seu limite: esse recurso é comumente usado por meio de citações diretas e indire-tas, bem como por meio de alusões a textos, a autores, a personalidades, a outros tantos meios de cultura. A indicação da fonte é obri-gatoriamente requisitada em textos acadê-micos e formais.

Exemplo: Da Filosofia, além de Fou-cault, preciosas inspirações alimentam o pro-cesso de Mediação. Dentre elas encontra-se o principal instrumento de trabalho do media-dor, as perguntas, que devem ser oferecidas como na maiêutica socrática. Filho de uma parteira, Sócrates desejava, pela maiêutica, que as pessoas ‘parissem’ as próprias ideias, após refletirem, em lugar de repetirem, indis-criminadamente e sem análise crítica, pensa-mentos e ideias do senso comum. Esse é o principal objetivo das perguntas na Mediação: gerar informação para os mediandos – aque-les que têm poder decisório e serão os autores das soluções – de forma a provocar reflexão. Fonte: http://www.mediare.com.br/08artigos_13mediacaodeconflitos.html

Observe que, nesse trecho, a autora cita claramente Foucault e Sócrates, estabe-lecendo diálogo direto com esses autores e suas obras, o que caracteriza uma intertex-tualidade explícita.

Como você pode perceber, as múltiplas vozes presentes no texto contribuem efeti-vamente para a construção do sentido que essa interação possibilita para a leitura que se faz. Quanto maior a experiência de leitu-ra, o acesso aos bens culturais disponíveis e as vivências daquele que escreve e daque-le que lê, tanto maiores serão as possibili-dades de diálogo enriquecedor e produtivo. Todo esse processo só é possível porque a leitura nos permite ativar nossos conheci-mentos escolares e não escolares, nossas vivências sociais.

A charge a seguir é bastante elucidativa a esse respeito. Veja que faz referência aos problemas que a sociedade brasileira enfrenta hoje, abordando desde questões trabalhistas, até as de segurança pública, climáticas e am-bientais. Para ler bem a imagem dada, o leitor precisará recorrer ao conhecimento que tem desses problemas sociais, assim, sua percep-ção será influenciada por suas vivências. Des-sa forma, se sou um operário, provavelmente me chamará maior atenção a placa da greve; se sou policial, a placa referente à falta de se-gurança é que ganhará destaque.

Fonte: http://www.diariodepernambuco.com.br/app/galeria--de-fotos/2012/05/16/interna _galeriafotos,2125/char-

ges-2013.shtml

Enfim, um mesmo texto permite múlti-plas leituras. Isso não quer dizer, entretanto, que possamos ler qualquer coisa em um tex-to, pois a leitura consiste na interação entre o autor, o texto e o leitor. Também é funda-mental pensar que o texto não alcança da mesma maneira todos os leitores, pois passa por nosso filtro pessoal.

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Vale lembrar, que além dos aspectos relacionados às experiências do autor e do leitor, devemos observar, ainda, os aspectos afetos à constituição material do texto, que dizem respeito a sua organização, à legibi-lidade, à apresentação das idéias, enfim, a todos aqueles elementos que estudamos ao longo dos dois primeiros módulos.

Além dos diferentes olhares que pode-mos deitar sobre um texto, é preciso obser-var os diferentes sentidos que podemos dar aos elementos que constituem esse texto e que também são constantemente fontes de inspiração e enriquecimento no que diz res-peito aos modos de ler, de sentir e de expor nossas ideias. Muitas dessas possibilidades são geradas, por exemplo, pelos diversos sentidos que uma mesma palavra pode as-sumir dentro dos textos. A isso chamamos de polissemia. Veja que resultado interessante

temos na charge abaixo, referente à discus-são sobre a censura às biografias não autori-zadas pelas personalidades biografadas:

Fonte: http://www.chargeonline.com.br/index.htm

2.2. Polissemia

2.3 Consciência discursivaQuando falamos de consciência discur-

siva, tratamos do reconhecimento do po-tencial dialógico dos textos que trazem, em si mesmos, diferentes vozes, dos autores e daqueles a quem eles remetem e, espe-cialmente, as vozes trazidas pelos leitores que dão vida aos textos. São muitos os que reconhecem no leitor um coautor. A charge a seguir faz muito sentido para você que vivencia os desafios postos à segurança pú-blica no Brasil:

Para finalizar, convido você a pensar na situação evocada pela música de Arnal-do Antunes, a partir do uso de palavras do cotidiano. Perceba que o importante nes-se texto, tanto na perspectiva de quem lê, como para o autor, é o que se consegue produzir como sentido, como comunicação do que se pensa e do que se sente. É o va-lor da língua em pleno uso por quem tem consciência discursiva...

Fonte: http://www.matutando.com/charge-para-melhorar-a-

-seguranca-publica/

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Não me falta cadeiraNão me falta sofáSó falta você sentada na salaSó falta você estarNão me falta paredeE nela uma porta pra você entrarNão me falta tapeteSó falta o seu pé descalço pra pisarNão me falta camaSó falta você deitarNão me falta o sol da manhãSó falta você acordarPras janelas se abrirem pra mimE o vento brincar no quintalEmbalando as flores do jardimBalançando as cores no varalA casa é suaPor que não chega agora?Até o teto tá de ponta-cabeçaPorque você demoraA casa é suaPor que não chega logo?Nem o prego aguenta maisO peso desse relógio

Não me falta banheiro, quartoAbajur, sala de jantarNão me falta cozinhaSó falta a campainha tocarNão me falta cachorroUivando só porque você não estáParece até que está pedindo socorroComo tudo aqui nesse lugarNão me falta casaSó falta ela ser um larNão me falta o tempo que passaSó não dá mais para tanto esperarPara os pássaros voltarem a cantarE a nuvem desenhar um coração flechadoPara o chão voltar a se deitarE a chuva batucar no telhadoA casa é suaPor que não chega agora?Até o teto tá de ponta-cabeçaPorque você demoraA casa é suaPor que não chega logo?Nem o prego aguenta maisO peso desse relógio

A casa é suaArnaldo Antunes

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Finalizando...Neste módulo, você estudou que...

• Existem habilidades essenciais à intelecção textual e as principais características que devem ser identificadas em um texto, para se saber o nível de informação que será disponibilizado ao interlocutor são: delimitação, coerência, relevância, clareza, economia, cooperação, simetria, exatidão, convicção/assertividade, ob-jetividade e correção;

• O importante para se dominar o próprio idioma é ser capaz de executar diversas leituras de um mesmo texto.