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POSSE NA PRESIDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL MINISTRO GILMAR FERREIRA MENDES – PRESIDENTE MINISTRO ANTONIO CEZAR PELUSO – VICE-PRESIDENTE SESSÃO SOLENE REALIZADA EM 23 DE ABRIL DE 2008 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL BRASÍLIA – 2008

POSSE NA PRESIDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - … · voto secreto, na segunda sessão ordinária do mês anterior ao da expiração do mandato, ou na segunda sessão ordinária

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POSSE NA PRESIDÊNCIADO SUPREMO TRIBUNALFEDERAL

MINISTRO GILMAR FERREIRA MENDES – PRESIDENTE

MINISTRO ANTONIO CEZAR PELUSO – VICE-PRESIDENTE

SESSÃO SOLENE REALIZADA EM 23 DE ABRIL DE 2008

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

BRASÍLIA – 2008

Composição Plenária do Supremo Tribunal Federal

Da esquerda para a direita, sentados: Ministra Ellen Gracie e Ministros Celso de Mello, Gilmar Mendes (Presidente), Marco Aurélio e Cezar Peluso (Vice-Presidente). Na mesma ordem, de pé: Ministros Menezes Direito, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa, Carlos Britto, Eros Grau e Cármen Lúcia e Doutor Antonio Fernando Barros e Silva de Souza (Procurador-Geral da República).

Diretoria-GeralSérgio José Américo Pedreira

Secretaria de DocumentaçãoAltair Maria Damiani Costa

Coordenadoria de Divulgação de JurisprudênciaNayse Hillesheim

Seção de Padronização e RevisãoRochelle Quito

Seção de Distribuição de EdiçõesLeila Corrêa Rodrigues

FotografiasGervásio Carlos Baptista, Gilmar Gomes Ferreira, Nelson Gontijo Resende Júnior e Ubirajara Dettmar

Capa e Diagramação: Jorge Luis Villar Peres

Catalogação na Publicação (CIP)(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal: Ministro Gilmar Ferreira Mendes, Presidente; Ministro Antonio Cezar Peluso, Vice-Presidente: sessão solene realizada em 23 de abril de 2008. – Brasília: Supremo Tribunal Federal, 2008.

1. Tribunal Supremo, Brasil. 2. Ministro do Supremo Tribunal Federal, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF).

CDD-341.419104

Vista do Plenário na solenidade de posse.

O Excelentíssimo Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República, e o Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes, Presidente do Supremo Tribunal Federal, na cerimônia de posse.

O Ministro Gilmar Mendes assina o termo de posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal.

Os Ministros Gilmar Mendes e Cezar Peluso tomam posse, respectivamente, na Presidência e na Vice-Presidência do Supremo Tribunal Federal.

O Ministro Gilmar M e n d e s a s s u m e a Presidência do Supremo Tribunal Federal.

Da esquerda para a direita: o Excelentíssimo Senhor Deputado Arlindo Chinaglia Júnior, Presidente da Câmara dos Deputados; o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; o Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes, Presidente do Supremo Tribunal Federal; e o Excelentíssimo Senhor Senador Garibaldi Alves Filho, Presidente do Senado Federal, na cerimônia de posse.

O Ministro Gilmar Mendes, Presidente, e o Ministro Cesar Peluzo, Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal.

O Excelentíssimo Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República, e o Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes, Presidente do Supremo Tribunal Federal, deixam a cerimônia de posse.

SUMÁRIO

Eleição para Presidente e Vice-Presidente doSupremo Tribunal Federal ................................................. 9

Sessão solene de posse:

Palavras da Senhora Ministra Ellen Gracie, Presidente doSupremo Tribunal Federal ..................................................... 13

Palavras do Senhor Ministro Gilmar Mendes, Presidente doSupremo Tribunal Federal ..................................................... 16

Discurso do Senhor Ministro Celso de Mello .......................... 18

Discurso do Doutor Antonio Fernando Barros e Silva deSouza, Procurador-Geral da República ..................................... 38

Discurso do Doutor Raimundo Cezar Britto Aragão, Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil ......... 43

Discurso do Senhor Ministro Gilmar Mendes, Presidente doSupremo Tribunal Federal ................................................... 52

Eleição para Presidente e Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal

Sessão de 12 de março de 2008

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A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – Senhores Ministros, vamos dar início à nossa sessão pela votação prevista no artigo 12 do nosso Regimento Interno, segundo o qual Presidente e Vice-Presidente têm mandato por dois anos, vedada a reeleição para o período imediato, procedendo-se à eleição, por voto secreto, na segunda sessão ordinária do mês anterior ao da expiração do mandato, ou na segunda sessão ordinária imediata-mente posterior à ocorrência de vaga – que não é o caso.

O Senhor Secretário fará distribuir as cédulas. Nos-so escrutinador será o Ministro Menezes Direito.

O Sr. Ministro Menezes Direito – Ministro Gilmar Mendes, nove votos; Ministro Cezar Peluso, um voto.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – Proclamo, portanto, a eleição do Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes para o próximo biênio na Presidência do Supremo Tribunal Federal.

Quero, em nome do Tribunal, fazer o registro da nossa confiança, Senhor Ministro Gilmar Mendes, na condução se-gura dos trabalhos desta Casa, que toda a tradição, toda a bagagem que Vossa Excelência traz de grande administrador e de jurista de renome internacional faz por esperar.

Tenha a certeza de que seus Colegas estarão ao seu lado para lhe dar, durante todo o período do mandato, assim como fizeram comigo, o apoio necessário a uma boa gestão.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes – Senhora Presi-dente, agradeço enormemente a confiança dos meus Pares e, mais ainda, a oportunidade de estar ao inteiro dispor desta Corte para a tarefa de contribuir para a consolidação do Estado de Direito no Brasil e do nosso Estado constitucional.

Muito obrigado.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – O Ministério Público pede a palavra.

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O Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Sou-za (Procurador-Geral da República) – Uso da palavra para, em nome do Ministério Público, aderir às palavras de Vossa Excelência e exteriorizar a certeza na condução segura que será adotada pela Presidência que assumirá em breve.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – Senhores Ministros, devemos, com a eleição do Ministro Gilmar Mendes, seguindo a tradição que já se firma na Casa, agora para um terceiro mandato, também entender que essa eleição significa a sua designação como Presidente do Conselho Nacional de Justiça.

Creio que há concordância de todos os Colegas para esse efeito e farei, então, a comunicação imediata ao Senado, que deverá sabatinar o Ministro Gilmar Mendes e aprovar seu nome para a Presidência do Conselho.

O Sr. Ministro Marco Aurélio – Presidente, apenas um registro, tendo em conta essa submissão do nome do Presidente eleito do Supremo para ocupar o cargo de Presidente do Conse-lho Nacional de Justiça ao Senado da República. Tarda a Emenda Constitucional suprimindo a necessidade dessa formalidade.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – Já está em tramitação, Ministro Marco Aurélio. Nós temos cuidado com as lideranças no Congresso que a sua aprovação seja breve, para que a próxima Presidência não precise passar por essa solenidade.

Agora, então, cabe-nos um segundo escrutínio, para eleição da Vice-Presidência.

Peço ao Senhor Secretário que faça distribuir as cé-dulas. Nosso escrutinador segue sendo o Ministro Menezes Direito, que tem desempenhado brilhantemente as funções.

O Sr. Ministro Menezes Direito – Senhora Pre-sidente, seguimos com dez eleitores. Ministro Cezar Peluso, nove votos; Ministro Carlos Britto, um voto.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – O Ministro Carlos Britto não fez campanha.

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O Sr. Ministro Carlos Britto – Mesmo assim, ainda recebo um voto.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – Proclamo o resultado:

Eleito para a Vice-Presidência do Tribunal, no pró-ximo biênio, o Ministro Cezar Peluso, a quem desejamos, todos os Colegas, grande satisfação pessoal ao lado de realização no exercício dessa missão – que não é simples – de Vice-Presidência desta Corte.

O Sr. Ministro Cezar Peluso – Senhora Presidente, Senhores Ministros, também agradeço a confiança e, sobretudo, a generosidade dos Colegas, mas quero, da mesma forma, cumpri-mentar o Tribunal, não apenas pela sua simples subsistência em si, mas pelo apoio ativo à vigência de um sistema de eleição dos dirigentes desta mais alta Corte, o qual a põe a salvo de todos os conflitos de ambições pessoais que desprestigiariam o Poder Judiciário.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – Agradeço a Vossa Excelência.

Sessão solene realizada em 23 de abril de 2008 Palavras da Senhora Ministra

ELLEN GRACIE, Presidente

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A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – Declaro aberta a sessão solene destinada à posse dos novos Presidente e Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal.

Suspendo a sessão para, juntamente com Sua Excelência o Procurador-Geral da República, recepcionarmos o Excelentíssimo Senhor Presidente da República.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – Nes-te momento, convido os presentes a celebrarmos o Hino Nacio-nal, a ser executado pela pianista Beatriz Salles, Chefe do Departamento de Música da UnB, com interpretação da Soprano Denise Tavares.

(Execução do Hino Nacional.)

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – Convido Sua Excelência o Senhor Ministro Gilmar Ferreira Mendes a prestar o compromisso de posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes – Prometo bem e fielmente cumprir os deveres do cargo de Presidente do Supremo Tribunal Federal, de conformidade com a Constituição e as leis da República.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – So-licito ao Senhor Diretor-Geral que leia o termo de posse.

O Dr. Sérgio José Américo Pedreira (Diretor-Geral) – Termo de posse do Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Ferreira Mendes, no cargo de Presidente do Supremo Tribunal Federal.

Aos vinte e três dias do mês de abril do ano de dois mil e oito, reuniram-se os Senhores Membros do Supremo Tribunal Federal, presente Sua Excelência o Senhor Procurador-Geral da República, Doutor Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, em sessão solene sob a Presidência da Excelentíssima Senhora Ministra Ellen Gracie Northfleet, para empossar, no cargo de Presidente do Supremo Tribunal Federal, o Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Ferreira Mendes, para o qual foi eleito na sessão de doze de março de dois mil e oito, para o biênio dois mil e oito a dois mil e dez.

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Sua Excelência tomou posse e entrou em exercício após prestar o compromisso regimental de bem e fielmente cumprir os deveres do cargo, nos termos da Constituição e das leis da República. E, para constar, lavrou-se este termo, que vai assinado pela Senho-ra Presidente, pelo empossado, pelos demais Membros da Corte, pelo Senhor Procurador-Geral da República e por mim, Sérgio José Américo Pedreira, Diretor-Geral da Secretaria.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) – Declaro empossado, no cargo de Presidente do Supremo Tribunal Federal, o Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Ferreira Mendes.

Palavras do Senhor MinistroGILMAR MENDES,

Presidente

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O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente) – Convido Sua Excelência o Senhor Ministro Cezar Peluso a prestar o compromisso de posse na Vice-Presidência do Supremo Tribunal Federal.

O Sr. Ministro Cezar Peluso – Prometo bem e fielmente cumprir os deveres do cargo de Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal, de conformidade com a Constituição e as leis da República.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente) – Solicito a Sua Senhoria o Senhor Diretor-Geral que leia o termo de posse.

O Dr. Sérgio José Américo Pedreira (Diretor-Geral) – Termo de posse de Sua Excelência o Senhor Ministro Antonio Cezar Peluso, no cargo de Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal.

Aos vinte e três dias do mês de abril do ano de dois mil e oito, perante os Senhores Membros do Supremo Tribunal Fe-deral, reunidos em sessão solene, presente o Senhor Procurador-Geral da República, Doutor Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Ferreira Mendes, tomou posse Sua Excelência o Senhor Ministro Antonio Cezar Peluso, no cargo de Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal, para o qual foi eleito em sessão de doze de março de dois mil e oito, para o biênio dois mil e oito a dois mil e dez, e entrou em exercício, após prestar o compromisso regimental de bem e fielmente cumprir os deveres do cargo, nos termos da Constituição e das leis da República. E, para constar, lavrou-se este termo, que vai assinado pelo Senhor Presidente, pelo empossado, pelos demais Membros da Corte, pelo Senhor Procurador-Geral da República e por mim, Sérgio José Américo Pedreira, Diretor-Geral da Secretaria.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente) – Declaro empossado, no cargo de Vice-Presidente do Supremo Tri-bunal Federal, o eminente Ministro Cezar Peluso.

Discurso do Senhor MinistroCELSO DE MELLO

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O Sr. Ministro Celso de Mello – Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Gilmar Mendes; Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; Excelentíssimo Senhor Deputado Arlindo Chinaglia, Presidente da Câmara dos Deputados; Excelentíssi-mo Senhor Senador Garibaldi Alves Filho, Presidente do Senado Federal; Excelentíssimos Senhores Ministros do Supremo Tribunal Federal em atividade e aposentados; Excelentíssimos Senhores Senador Fernando Affonso Collor de Mello e Professor Fernando Henrique Cardoso, ex-Presidentes da República; Excelentíssimo Senhor Senador José Sarney, que presidiu esta República nos anos delicados de consolidação da ordem democrática em nosso País; Excelentíssimos Senhores Ministros Presidentes dos egrégios Tribunais Superiores da União, dos Tribunais Regionais e dos Tribunais de Justiça dos Estados, do Distrito Federal e Territórios; Excelentíssimos Senhores Senadores da República e Deputados Federais; Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral da República, Doutor Antonio Fernando Barros e Silva de Souza; Excelentíssimo Senhor Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advoga-dos do Brasil, Doutor Cezar Britto; Senhores Advogado-Geral e Defensor Público-Geral da União; Senhores Ministros e Secretá-rios de Estado; Senhor Prefeito do Município de Diamantino; Excelentíssimos Senhores Governadores de Estado e do Distrito Federal; Excelentíssimos Senhores Governadores dos Estados de Mato Grosso, Blairo Maggi, e de São Paulo, José Serra, tão unidos na gloriosa e histórica jornada da Revolução Constitucionalista de 1932, Estados de nascimento, respectivamente, dos novos Presi-dente e Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal; Senhores Magistrados; Senhores membros do Ministério Público; Senhores Advogados; Excelentíssimo Senhor Núncio Apostólico, decano do Corpo Diplomático; Senhores Chefes de Missões Diplomáticas acre-ditadas junto ao Governo brasileiro; eminentíssimas autoridades presentes; minhas Senhoras e meus Senhores.

Esta cerimônia, Senhor Ministro GILMAR MENDES, eminente Presidente do Supremo Tribunal Federal, mais do que a celebração de um ritual que se renova desde 28-2-1891, quando se empossou na Presidência deste Tribunal o Ministro FREITAS HENRIQUES, que foi o seu primeiro Presidente, constitui, na solenidade deste instante, o símbolo da continuidade e da pe-renidade desta Corte Suprema, tal como foi ela conce-bida, em momento de feliz inspiração, pelos Fundadores da República.

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O espírito deste Supremo Tribunal, que nos en-volve a todos, Juízes do passado e do presente, confere-nos uma identidade comum, confirmada, a cada momento, pelos desafios, pelas crises e pelos dilemas de gerações de magistra-dos, que, tendo assento nesta Suprema Corte – e agindo com dignidade e notável percepção das exigências éticas impostas pela consciência democrática – foram sempre capazes de se opor, em instantes cruciais da vida política nacional, a estruturas autoritárias que buscavam monopolizar, com absoluta arrogância e avidez de poder, o controle institucional do Estado e o domínio político da sociedade civil.

O legado desta Corte Suprema, transmitido, continuamente, de geração a geração, a todos os Juízes que transpuseram os seus umbrais, é imenso e é indestrutível, pois desse legado resulta a lição – tão cuidadosamente preservada nas decisões deste Tribunal – de que o respeito à ordem consti-tucional legítima, a proteção das liberdades e a repulsa ao arbí-trio qualificam-se como fins superiores que devem inspirar a conduta daqueles que pretendem construir e consolidar, no Brasil, o Estado Democrático de Direito.

Há, pois, uma linha ininterrupta que forma um elo contínuo entre os Juízes de hoje e os de ontem, todos imbuídos do desejo de construir, pela permanente renovação da esperança, o sonho alimentado pelos ideais de Justiça que pulsam intensamente no espírito dessas sucessivas gerações de magis-trados do Supremo Tribunal Federal que sempre souberam conservar viva, em seus corações, a chama ardente da liber-dade.

Vossa Excelência, Senhor Ministro GILMAR MENDES, sucede, na Presidência do Supremo Tribunal Federal, à eminente Senhora Ministra ELLEN GRACIE, que desenvolveu importante trabalho à frente desta Corte Suprema, realizando uma administração extremamente operosa, que visou, sobretudo, a adoção de medidas destinadas a modernizar, a racionalizar e a agilizar, no plano interno, as práticas processuais, com o objetivo de conferir real efetividade à prestação jurisdicional no âmbito deste Supremo Tribunal.

A modelar administração desta Corte, pela eminente Ministra ELLEN GRACIE, evidencia-se pelos resultados

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obtidos e por inúmeras atividades que realçam, por seus aspec-tos de excelência e de compromisso com a contemporaneidade, os projetos implementados por Sua Excelência, tais como a constante preocupação com o processo de informatização do Tribunal, a criação e a ampliação das bases de dados de jurispru-dência, a digitalização dos acórdãos anteriores a 1950, a publi-cação – geralmente nas versões impressa e virtual – da coleção “Memória Jurisprudencial”, dos livros versando os encontros de Cortes Supremas dos Estados-Partes do MERCOSUL e Associados, o lançamento da Biblioteca Digital, contendo obras raras, obras de domínio público e as Obras Completas de Rui Barbosa, além da promoção de seminários com a presença de juristas eminentes e de presidentes e Juízes de Cortes Supremas e Tribunais Consti-tucionais das Américas e da Europa, dentre outras inúmeras e expressivas realizações no plano administrativo.

Como já deixei registrado em anterior sau-dação, a investidura da eminente Ministra ELLEN GRACIE na Presidência do Supremo Tribunal Federal (e na Chefia simbó-lica do Poder Judiciário nacional) mostrou-se emblemática, pois constituiu um marco impregnado de profunda significação histórica, além de haver inaugurado um novo tempo em nossas práticas sociais e institucionais, com clara repulsa às discrimi-nações de gênero e aberta consagração do princípio democrático e republicano da igualdade.

Mais do que um dia de renovação, eminente Mi-nistro GILMAR MENDES, esta data representa um momento de confirmação de nossa fé nos valores consagrados pela Constituição.

É por isso que o exercício ritual da transmissão de poder, nesta Suprema Corte, no momento em que Vossa Excelência, Senhor Ministro GILMAR MENDES, assume o ele-vadíssimo cargo de Presidente do Supremo Tribunal Federal, permite e estimula reflexões sobre o significado institucional, para a vida de nosso País, do Poder Judiciário, que não pode despojar-se da condição de fiel depositário da permanente confiança do povo brasileiro, que deseja preservar o sentido democrático de suas instituições, e, mais do que nunca, deseja ver respeitada, em plenitude, por todos os agentes e Poderes do Estado, a supremacia da Constituição da República e a integri-dade dos valores ético-jurídicos e político-sociais que ela consagra na imperatividade de seus comandos.

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A posse de Vossa Excelência, Senhor Ministro GILMAR MENDES, na Presidência do Supremo Tribunal Federal, inicia-se, hoje, sob a égide virtuosa da comemoração de duas datas de significativa importância e de alto relevo político e social na história de nosso País.

Refiro-me, de um lado, ao bicentenário de cria-ção do primeiro órgão de cúpula da Justiça nacional e, de outro, ao 20º Aniversário de promulgação da Constituição democrá-tica de 1988.

As comemorações em torno do bicentenário evo-cam um expressivo momento da história judiciária de nosso País, cujo processo de independência teve início efetivo com a transmi-gração da Família Real portuguesa para o Brasil, motivada pelas Guerras Peninsulares, que irromperam em decorrência da invasão napoleônica dos Reinos da Espanha e de Portugal.

O Supremo Tribunal Federal, como se sabe, é, numa linha histórica de sucessão direta, o legítimo conti-nuador – na condição de órgão de cúpula do sistema judiciá-rio brasileiro – da Casa da Suplicação do Brasil, que, investida da mesma alçada e competência da Casa da Suplicação de Lisboa, foi instituída, logo após a chegada da Corte Real portuguesa ao nosso País, pelo Príncipe-Regente D. João, mediante Alvará régio de 10-5-1808, “para se findarem ali todos os pleitos em ultima Instancia, por maior que seja o seu valor, sem que das ultimas sentenças proferidas em qualquer das Mezas da sobredi-ta Casa se possa interpor outro recurso (...)”, estendendo-se a sua competência a todas as causas julgadas no Brasil e, também, durante o período de um ano, àquelas oriundas das “Ilhas dos Açôres, e Madeira (...)”.

Esse evento, que vem sendo comemorado, desde maio de 2007, por iniciativa da Senhora Ministra ELLEN GRACIE, então Presidente desta Corte, impõe reflexões sobre o papel ins-titucional, as funções constitucionais e a responsabili-dade política e social do Supremo Tribunal Federal no contexto do processo de consolidação e aperfeiçoamento da ordem democrática em nosso País.

De outro lado, nada mais oportuno e necessário do que celebrar o 20º aniversário da promulgação da Consti-

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tuição da República de 1988, que é um dos mais significativos estatutos constitucionais de todos quantos regeram o sistema político-jurídico brasileiro ao longo de quase dois séculos de existência soberana e de vida independente de nosso País como Estado nacional.

O exame comparativo da Constituição de 1988 com aquelas que a precederam revela e permite ressaltar a importância, a originalidade e o caráter inovador que qualificam a nossa vigente Lei Fundamental, elaborada e aprovada, em ambiente de plena liberdade, pelos representantes do Povo brasileiro reuni-dos em Assembléia Nacional Constituinte, num momento histórico impregnado de densas significações, em que o Brasil, situando-se entre o seu passado e o seu futuro, rompeu, vitorio-samente, os instrumentos autocráticos outorgados por um regime sombrio que havia aniquilado a ordem democrática em nosso País e frus-trado os sonhos de liberdade de toda uma geração.

É justo, portanto, que esta Suprema Corte, torna-da fiel depositária da preservação da autoridade e da supremacia dessa nova ordem constitucional, por deliberação soberana da própria Assembléia Nacional Constituinte, reafirme, uma vez mais, o seu respeito, o seu apreço e a sua lealdade ao texto sagrado da Constituição democrática do Brasil.

É por essa razão, Senhor Presidente, que o Poder Judiciário brasileiro há de se manter fiel à sua alta missão constitucional, devendo ser uma instituição livre de injunções marginais e imune a pressões ilegítimas, para que possa cum-prir, com incondicional respeito ao interesse público e com absoluta independência moral, os elevados objetivos que pauta-ram a sua criação, consistentes em servir, com reverência e integridade, ao que proclamam e determinam a Constituição e as leis da República.

Nesse contexto, incumbe, aos Juízes e Tribunais, notadamente a esta Corte Suprema, o desempenho do dever que lhes é inerente: o de velar pela integridade dos direitos fundamentais de todas as pessoas, o de repelir condutas governamentais abusivas, o de conferir prevalência à essencial dignidade da pessoa humana, o de fazer cumprir os pactos internacionais que protegem os grupos vulneráveis expostos

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a práticas discriminatórias e o de neutralizar qualquer ensaio de opressão estatal.

Esta Suprema Corte, Senhor Presidente, possui a exata percepção dessa realidade e tem, por isso mesmo, no desempenho de suas funções, um grave compromisso com o Brasil e com o seu povo, e que consiste em preservar a intan-gibilidade da Constituição que nos governa a todos, sendo o garante de sua integridade, impedindo que razões de pragmatis-mo ou de mera conveniência de grupos, instituições ou estamentos prevaleçam e deformem o significado da própria Lei Fundamental.

Já o disse, certa vez, Senhor Presidente, que o Supremo Tribunal Federal – que é o guardião da Constituição, por expressa delegação do poder constituinte – não pode renunciar ao exercício desse encargo, pois, se esta Suprema Corte falhar no desempenho da gravíssima atribuição que lhe foi outorgada, a integridade do sistema político, a proteção das liberdades públicas, a estabilidade do ordenamento normativo do Estado, a segurança das relações jurídicas e a legitimidade das instituições da República restarão profundamente comprometidas.

Nenhum dos Poderes da República, Senhor Presi-dente, pode submeter a Constituição a seus próprios desígnios ou a manipulações hermenêuticas ou, ainda, a avaliações discricionárias fundadas em razões de conveniência política ou de pragmatismo institucional, eis que a relação de qualquer dos Três Poderes com a Constituição há de ser, necessariamente, uma relação de respeito incondicional, sob pena de juízes, legisladores e administradores converterem o alto significado do Estado Demo-crático de Direito em uma palavra vã e em um sonho frustrado pela prática autoritária do poder.

A consciência da alta responsabilidade insti-tucional de que é depositária esta Corte não nos permite des-considerar o fato de que nada compensa a ruptura da ordem constitucional, porque nada recompõe, Senhor Presidente, os gravíssimos efeitos que derivam do gesto de infidelidade ao texto da Lei Fundamental.

É por isso que posso afirmar, Senhor Presidente, que esta Suprema Corte – que não se curva a ninguém nem tolera a prepotência dos governantes nem admite os excessos e abusos

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que emanam de qualquer esfera dos Poderes da República – de-sempenha as suas funções institucionais e exerce a jurisdição que lhe é inerente de modo compatível com os estritos limites que lhe traçou a própria Constituição.

Isso significa reconhecer que a prática da jurisdição, quando provocada por aqueles atingidos pelo arbítrio, pela violência e pelo abuso, não pode ser considerada – ao contrário do que muitos erroneamente supõem e afirmam – um gesto de indevida interferência desta Suprema Corte na esfera orgânica dos demais Poderes da República.

Nem se censure eventual ativismo judicial exercido por esta Suprema Corte, especialmente porque, den-tre as inúmeras causas que justificam esse comportamento afirmativo do Poder Judiciário, de que resulta uma positiva cria-ção jurisprudencial do direito, inclui-se a necessidade de fazer prevalecer a primazia da Constituição da República, muitas vezes transgredida e desrespeitada por pura, simples e conve-niente omissão dos poderes públicos.

Na realidade, o Supremo Tribunal Federal, ao su-prir as omissões inconstitucionais dos órgãos estatais e ao adotar medidas que objetivem restaurar a Constituição violada pela inércia dos poderes do Estado, nada mais faz senão cum-prir a sua missão constitucional e demonstrar, com esse gesto, o respeito incondicional que tem pela autoridade da Lei Fundamental da República.

Práticas de ativismo judicial, Senhor Presiden-te, embora moderadamente desempenhadas por esta Corte em momentos excepcionais, tornam-se uma necessidade institu-cional, quando os órgãos do Poder Público se omitem ou retar-dam, excessivamente, o cumprimento de obrigações a que estão sujeitos por expressa determinação do próprio estatuto consti-tucional, ainda mais se se tiver presente que o Poder Judiciário, tratando-se de comportamentos estatais ofensivos à Constitui-ção, não pode reduzir-se a uma posição de pura passividade.

A omissão do Estado – que deixa de cumprir, em maior ou em menor extensão, a imposição ditada pelo texto constitucional – qualifica-se como comportamento revestido da maior gravidade político-jurídica, eis que, mediante inércia,

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o Poder Público também desrespeita a Constituição, também ofende direitos que nela se fundam e também impede, por au-sência (ou insuficiência) de medidas concretizadoras, a própria aplicabilidade dos postulados e princípios da Lei Fundamental.

O fato inquestionável é um só: a inércia esta-tal em tornar efetivas as imposições constitucionais traduz inaceitável gesto de desprezo pela Constituição e configura comportamento que revela um incompreensível sentimento de desapreço pela autoridade, pelo valor e pelo alto significado de que se reveste a Constituição da República.

Nada mais nocivo, perigoso e ilegítimo do que elaborar uma Constituição, sem a vontade de fazê-la cumprir integralmente, ou, então, de apenas executá-la com o propósi-to subalterno de torná-la aplicável somente nos pontos que se mostrarem convenientes aos desígnios dos governantes, em detrimento dos interesses maiores dos cidadãos.

De outro lado, Senhor Presidente, a crescente judicialização das relações políticas em nosso País resulta da expressiva ampliação das funções institucionais conferidas ao Judiciário pela vigente Constituição, que converteu os juízes e os Tribunais em árbitros dos conflitos que se registram na arena política, conferindo, à instituição judiciária, um protagonis-mo que deriva naturalmente do papel que se lhe cometeu em matéria de jurisdição constitucional, como o revelam as inú-meras ações diretas, ações declaratórias de constitucionalidade e argüições de descumprimento de preceitos fundamentais ajuiza-das pelo Presidente da República, pelos Governadores de Estado e pelos partidos políticos, agora incorporados à “sociedade aberta dos intérpretes da Constituição”, o que atribui – considerada essa visão pluralística do processo de controle de constitucionalidade – ampla legitimidade democrática aos julgamentos proferidos pelo Supremo Tribunal Federal, inclusive naqueles casos em que esta Suprema Corte, regularmente provocada por grupos par-lamentares minoritários, a estes reconheceu – pelo fato de o direito das minorias compor o próprio estatuto do regime democrá-tico – o direito de investigação mediante comissões parlamentares de inquérito, tanto quanto proclamou, em respeito à vontade soberana dos cidadãos, o dever de fidelidade partidária dos parlamentares eleitos, assim impedindo a deformação do modelo de representação popular.

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Ninguém ignora que o regime democrático, anali-sado na perspectiva das delicadas relações entre o Poder e o Direito, não tem condições de subsistir, quando as institui-ções políticas do Estado falharem em seu dever de respeitar a Constituição e as leis, pois, sob esse sistema de governo, não poderá jamais prevalecer a vontade de uma só pessoa, de um só estamento, de um só grupo ou, ainda, de uma só instituição.

Não se desconhece, de outro lado, Senhor Presi-dente, que o controle do poder constitui uma exigência de ordem político-jurídica essencial ao regime democrático.

Ainda que em seu próprio domínio institucional, nenhum órgão estatal pode, legitimamente, pretender-se su-perior ou supor-se fora do alcance da autoridade suprema da Consti-tuição Federal.

É que o poder não se exerce de forma ilimitada. No Estado Democrático de Direito, não há lugar para o poder absoluto.

Como sabemos, o sistema constitucional brasi-leiro, ao consagrar o princípio da limitação de poderes, teve por objetivo instituir modelo destinado a impedir a formação de instâncias hegemônicas de poder no âmbito do Estado, em ordem a neutralizar, no plano político-jurídico, a possibilidade de dominação institucional de qualquer dos Poderes da República (ou daqueles que os integram) sobre os demais órgãos e agentes da soberania nacional.

É imperioso assinalar, em face da alta missão de que se acha investido o Supremo Tribunal Federal, que os desvios jurídico-constitucionais eventualmente praticados por qualquer instância de poder – mesmo quando surgidos no contexto de processos políticos – não se mostram imunes à fiscalização judicial desta Suprema Corte, como se a autorida-de e a força normativa da Constituição e das leis da República pudes-sem, absurdamente, ser neutralizadas por meros juízos de conveniência ou de oportunidade, não importando o grau hierár-quico do agente público ou a fonte institucional de que tenha emanado o ato transgressor de direitos e garantias assegurados pela própria Lei Fundamental do Estado.

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O que se mostra importante reconhecer e rea-firmar, Senhor Presidente, é que nenhum Poder da República tem legitimidade para desrespeitar a Constituição ou para ferir direitos públicos e privados de seus cidadãos.

Isso significa, na fórmula política do regime democrático, que nenhum dos Poderes da República está acima da Constituição e das leis. Nenhum órgão do Estado – situe-se ele no Poder Judiciário, no Poder Executivo ou no Poder Legislativo – é imune ao império das leis e à força hierárquico-normativa da Constituição.

Constitui função do Poder Judiciário preservar e fazer respeitar os valores consagrados em nosso sistema jurídico, especialmente aqueles proclamados em nossa Consti-tuição, em ordem a viabilizar os direitos reconhecidos aos ci-dadãos, tais como o direito de exigir que o Estado seja dirigido por administradores íntegros, por legisladores probos e por juízes incorruptíveis, pois o direito ao governo honesto traduz uma prerrogativa insuprimível da cidadania.

É preciso, pois, reafirmar a soberania da Cons-tituição, proclamando-lhe a superioridade sobre todos os atos do Poder Público e sobre todas as instituições do Estado, o que permite reconhecer, no contexto do Estado Democrático de Direito, a plena legitimidade da atuação do Poder Judiciário na restauração da ordem jurídica lesada e, em particular, a inter-venção do Supremo Tribunal Federal, que detém, em tema de interpretação constitucional, e por força de expressa delegação que lhe foi atribuída pela própria Assembléia Nacional Consti-tuinte, o monopólio da última palavra, de que já falava RUI BARBOSA, em discurso parlamentar que proferiu, como Senador da República, em 29 de dezembro de 1914, em resposta ao Senador gaúcho Pinheiro Machado, quando RUI definiu, com precisão, o poder desta Corte em matéria consti-tucional, dizendo:

“(...) Em tôdas as organizações políticas ou judiciais há sempre uma autoridade extrema para errar em último lugar.

(...)

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O Supremo Tribunal Federal, Senhores, não sendo infalível, pode errar, mas a alguém deve ficar o direito de errar por último, de decidir por último, de dizer alguma cousa que deva ser con-siderada como êrro ou como verdade.” (Grifei.)

A importância do Poder Judiciário na estrutura institucional em que se organiza o aparelho de Estado assume significativo relevo político, histórico e social, pois não há, na história das sociedades políticas, qualquer registro de um Povo, que, despojado de um Judiciário independente, tenha consegui-do preservar os seus direitos e conservar a sua própria liberdade.

É significativo que se discuta, portanto, o tema pertinente aos direitos humanos, pois se comemora, neste ano, o 60º aniversário da promulgação, pela III Assembléia Geral da ONU, especialmente reunida, para esse fim, em Paris, da Decla-ração Universal dos Direitos da Pessoa Humana.

Esse estatuto das liberdades públicas represen-tou, no cenário internacional, importante marco histórico no processo de consolidação e de afirmação dos direitos fundamen-tais da pessoa humana, pois refletiu, nos trinta artigos que lhe compõem o texto, o reconhecimento solene, pelos Estados, de que todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direi-tos, são dotadas de razão e consciência e titularizam prerrogativas jurídicas inalienáveis que constituem o fundamento da liberdade, da justiça e da paz universal.

Com essa proclamação formal, os Estados com-ponentes da sociedade internacional – impulsionados pelo estí-mulo originado de um insuprimível senso de responsabilidade e conscientes do ultraje representado pelos atos hediondos come-tidos pelo regime nazifascista e pelos gestos de desprezo e de desrespeito sistemáticos praticados pelos sistemas totalitários de poder – tiveram a percepção histórica de que era preciso forjar as bases jurídicas e éticas de um novo modelo que consagrasse, em favor das pessoas, a posse da liberdade em todas as suas dimensões, assegurando-lhes o direito de viverem protegidas do temor e a salvo das necessidades.

O Brasil – que subscreveu esse documento ex-traordinário no próprio ato de sua promulgação – ainda está em

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débito com o seu povo na efetivação das promessas essenciais contidas na Declaração Universal, cujo texto, mais do que sim-ples repositório de verdades fundamentais e de compromissos irrenunciáveis, deve constituir, no plano doméstico dos Estados nacionais, o instrumento de realização permanente dos direitos e das liberdades nele proclamados.

É preciso, pois, que o Estado, ao magnificar e valorizar o significado real que inspira a Declaração Universal dos Direitos das Pessoas Humanas, pratique, sem restrições, sem omissões e sem tergiversações, os postulados que esse extraor-dinário documento de proteção internacional consagra em favor de toda a humanidade.

Torna-se essencial, portanto, ter consciência de que se revela inadiável conferir real efetividade, no plano interno, aos compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro em tema de direitos humanos, aqui compreendidos os direitos dos Povos Indígenas, tais como consagrados em documentos promulgados sob os auspícios da Assembléia Geral da ONU e, sobretudo, no texto de nossa própria Constituição.

A questão dos direitos essenciais da pessoa humana – precisamente porque o reconhecimento de tais prer-rogativas funda-se em consenso verdadeiramente universal (“consensus omnium gentium”) – não mais constitui problema de natureza filosófica ou de caráter meramente teórico, mas representa, isso sim, tema fortemente impregnado de signi-ficação política, na medida em que se torna fundamental e inadi-ável instituir meios destinados a protegê-los, conferindo-lhes efetividade e exeqüibilidade no plano das relações entre o Estado e os indivíduos.

É esse, pois, o grande desafio com que todos – governantes e governados – nos defrontamos no âmbito de uma sociedade democrática: extrair, das declarações internacionais e das proclamações constitucionais de direitos, a sua máxima eficácia, em ordem a tornar possível o acesso dos indivíduos e dos grupos sociais a sistemas institucionalizados de proteção aos direitos fundamentais da pessoa humana.

Há a considerar, de outro lado, Senhor Presi-dente, agora na perspectiva dos problemas que hoje com-

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prometem o adequado funcionamento do aparelho judiciário do Estado, a existência de situações responsáveis pela verdadeira crise de funcionalidade que vem afetando, de maneira sensível, a normalidade dos trabalhos desenvolvidos pelo Tribunal, hoje assoberbado por um volumoso índice de processos e de recursos. A gravidade dessa situação de crise constitui um dos tópicos de reflexão concernentes à presente agenda política nacional, em cujo contexto se buscam novas fórmulas que não só viabilizem o acesso integral de todos às diversas instâncias judiciárias, mas que incidam sobre as causas geradoras do congestionamento do aparelho judiciário, com o conseqüente efeito de atribuir celeridade aos processos em curso perante juízes e Tribunais.

Todas essas reformas, portanto, mais do que um simples problema de ordem técnica ou de caráter burocrático, representam, no plano político-institucional, um fator decisivo para o pleno exercício da cidadania em nosso País, a significar que a questão pertinente à reforma da Justiça constitui tema que envolve, de modo solidário, a responsabilidade de todos, tanto dos Poderes da República quanto das instituições da sociedade civil e dos próprios cidadãos.

A crise de funcionalidade que hoje incide sobre o aparelho judiciário brasileiro representa situação extremamente grave, que, além de comprometer a regularidade do funcio-namento dos corpos judiciários, pode propiciar a formação de condições objetivas que culminem por afetar – ausente a neces-sária base de credibilidade institucional – o próprio coeficiente de legitimidade político-social do Poder Judiciário.

Tenho, por isso mesmo, como inteiramente pertinentes e dignas de toda a reflexão, Senhor Presidente, recentíssimas observações feitas pelo eminente Professor JOAQUIM FALCÃO a propósito da questão judiciária:

“É do interesse nacional que um dos campos para a reforma da administração da Justiça, além do próprio Poder Judiciário, seja, justamente, o Poder Executivo – municipal, estadual ou federal. O atual modelo permite que os Executivos transfiram custos orçamentários e custos de legi-timidade política para e através do Poder Judici-ário. Estimula uma cultura de judicialização do

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déficit público. A estatização da pauta do Judici-ário, o financiamento compulsório invisível dos tesouros, verdadeiros impostos recônditos, atra-vés dos depósitos judiciais e dos precatórios, são alguns dos exemplos destas práticas. Neces-sitam ser corrigidos. Mais do que uma estra-tégia processual do Executivo, trata-se de verdadeira cultura antidemocrática de veladas transferências de ineficiências. Necessita-se, pois, de mobilização política e imaginação institucional para corrigir estes rumos. Sem o que o interesse nacional não progride.” (Grifei.)

O processo não pode ser manipulado para viabilizar o abuso de direito, especialmente quando praticado por órgãos e agentes do Poder Público, pois essa é uma idéia que se revela frontalmente contrária ao dever de probidade que se impõe à observância das partes, quaisquer que sejam.

A questão do Poder Judiciário, que se revela impregnada de forte componente político-institucional, é de-masiadamente importante para ser apenas discutida pelos operadores do Direito. É por tal razão que se impõe a ativa participação de todos os cidadãos e instituições da sociedade civil nesse debate, pois a possibilidade de ampla reflexão social em torno da questão judiciária – que hoje constitui dado re-velador da própria crise do Estado –, além de dar significado real à fórmula democrática, terá a virtude de atribuir plena e essencial legitimação aos processos destinados a superar os deficits crônicos que tanto inviabilizam o regular funciona-mento do Poder Judiciário.

Estes, Senhor Presidente, são alguns dos graves desafios que Vossa Excelência irá enfrentar no biênio que hoje se inicia.

Para tanto, Senhor Ministro GILMAR MENDES, eminente Presidente do Supremo Tribunal Federal, não lhe faltam títulos nem competência e qualificação, para, juntamente com os demais Poderes da República, formular soluções, adotar deci-sões e implementar medidas que efetivamente permitam superar os gravíssimos problemas com que se defronta, hoje, o sistema judiciário nacional, especialmente em relação à questão da

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celeridade dos processos judiciais e da resolução dos litígios em tempo socialmente adequado.

Ninguém ignora, porque de conhecimento geral, os altos predicados do eminente Ministro GILMAR MENDES como grande jurista e doutrinador constitucional, revelados ao longo de brilhante carreira acadêmica como professor universitário e notável pensador do Direito, responsável, nessa condição, pela formu-lação teórica das bases doutrinárias que dão suporte, no âmbito legislativo e na esfera jurisprudencial, ao processo de construção e aperfeiçoamento dos mecanismos de controle de constituciona-lidade, que representam, hoje, não apenas no Brasil mas no plano de direito comparado, um dos mais complexos e engenhosos sistemas de fiscalização jurisdicional de constitucionalidade das leis e atos do Poder Público.

Essa especial inclinação e esse particular in-teresse intelectual pelos processos constitucionais já se mostra-vam presentes nas anteriores atividades profissionais do eminente Ministro GILMAR MENDES, como Procurador da República, como Subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República e, finalmente, como Advogado-Geral da União.

O Ministro GILMAR MENDES teve ativa parti-cipação em Comissões, que, instituídas para deliberar sobre matéria constitucional, elaboraram estudos e anteprojetos de lei referentes ao processo e julgamento da ação direta de incons-titucionalidade, da ação declaratória de constitucionalidade e da argüição de descumprimento de preceito fundamental, que serviram de base à aprovação, pelo Congresso Nacional, de proposições legislativas que se transformaram nas importantís-simas e vigentes Leis 9.868/99 e 9.882/99.

Mais do que isso, o eminente Ministro GILMAR MENDES – que tem desenvolvido intensa atividade docente (como professor, orientador de mestrado e de monografias, membro de bancas examinadoras de dissertação de mestrado e de teses de doutorado), tanto quanto atividades acadêmicas (como membro de importantes instituições, como a Academia de Direito Internacio-nal e Economia, a Academia Brasileira de Letras Jurídicas, o Ins-tituto Brasiliense de Direito Público, a Academia Mato-grossense de Letras, dentre outras), a que se soma uma vasta produção intelectual na área jurídica, como estudos sobre teoria da legislação,

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interpretação constitucional, reforma constitucional e reforma do Judiciário, além de seus importantes livros sobre controle de constitucionalidade, jurisdição constitucional, direitos fundamen-tais, argüição de descumprimento de preceito fundamental e, mais recentemente, o seu valioso “Curso de Direito Constitucional”, este em co-autoria com os Professores Inocêncio Mártires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco – também teve decisiva partici-pação, ao lado de eminentes juristas, como Ives Gandra da Silva Martins, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Ives Gandra Filho e Ruy Rosado de Aguiar, na elaboração de propostas de emenda consti-tucional e de projetos de lei que se converteram, posteriormen-te, em Emendas à Constituição (sobre a ação declaratória de constitucionalidade e a instituição dos Juizados Especiais Federais) e em diplomas legislativos sobre outros temas de alto relevo jurídico e social.

Nada mais adequado, portanto, do que ter, agora, na Presidência do Supremo Tribunal Federal, um grande jurista e formulador de idéias e propostas novas na área constitu-cional, como o eminente Ministro GILMAR MENDES, ainda mais se se tiver presente que esta Corte Suprema foi especialmente incumbida da proteção da integridade e da defesa da supremacia da ordem constitucional.

Defensor da Constituição – e seu maior intér-prete –, o Supremo Tribunal Federal dela extrai os seus poderes, nela encontra a gênese de sua criação e dela fazderivar, também, a legitimidade e a autoridade inquestionáveis de suas decisões, que a todos os Poderes e instituições obrigam, a todas as pessoas e formações sociais vinculam, porque repre-sentam, na imperatividade de que se revestem tais julgamentos, a manifestação mais expressiva da hegemonia e do primado absolutos da ordem constitucional.

Dessa relevante função institucional do Supre-mo Tribunal Federal – certamente a mais significativa de to-das quantas se incluem na esfera de sua competência e de seus poderes – tem nítida percepção o eminente Ministro GILMAR MENDES, cuja atuação nesta Corte, ao longo dos (poucos) anos de sua já brilhante judicatura, é bem um fato revelador dessa gra-ve preocupação que lhe inquieta, permanentemente, o espírito de magistrado e de cultor responsável do Direito.

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A admiração dos seus pares, o respeito de todos os seus jurisdicionados, a cordialidade no convívio ameno com que nos distingue a todos, a integridade moral em cada passo de sua vida pessoal e profissional e a seriedade de sua erudita criação intelectual –, eis aí, Senhoras e Senhores, as virtudes de um verdadeiro Magistrado e de um homem exemplar que honra a Suprema Corte a que pertence e que é fiel, no desempenho do seu cargo judiciário, às mais caras tradições desta Augusta Casa.

Tenho plena convicção, eminente Senhor Minis-tro GILMAR MENDES, de que o Supremo Tribunal Federal – sob o permanente e qualificado estímulo intelectual de Vossa Excelência – aprofundará a percepção de que precisa, cada vez mais, desenvolver e consolidar uma consciência crítica sobre a realidade social e as práticas institucionais deste País, em ordem a viabilizar, no tema sensível dos direitos humanos e da demo-cracia constitucional, uma práxis libertadora, que abra caminho e intensifique o sentido real das garantias básicas que amparam e resguardam os cidadãos, notadamente aqueles que compõem os grupos vulneráveis, protegendo-os da opressão do poder e do estigma da exclusão social e jurídica.

Mais do que isso, Senhor Presidente, esta Supre-ma Corte, sob a liderança de Vossa Excelência, haverá de con-tinuar pautando a sua atuação – permanentemente imune a confessionalismos, a fundamentalismos e a dogmatismos, que tanto oprimem o pensamento e sufocam o espírito – pelo elevado sentido ético do pluralismo, da diversidade e da alte-ridade, dando prevalência ao respeito pelo Outro, pelo dife- rente, por aquilo com que não concordamos, estimulando e pra-ticando a crença de que, na visão da totalidade, há de sempre haver espaço para o Outro e para o dissenso, pois somente esse sentimento de respeito pelo Outro, por suas diferenças e por idéias das quais divergimos traduzirá uma prática jurisdicional essencialmente democrática e verdadeiramente libertadora, que repudia o “ethos” da dominação, que atribui relevo à “voz do outro” e que dá significado efetivo às medidas que rejeitam e que dizem não – sempre na perspectiva generosa dos direi-tos fundamentais da pessoa humana – a condutas discrimina-tórias, não importando que se trate, porque igualmente odiosas e inaceitáveis, de discriminação étnica, de discriminação social, de discriminação de gênero, de discriminação por orientação sexual, de discriminação de índole confessional ou, ainda, de quaisquer

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outros atos, advindos do Poder Público ou de meros particulares, que afetem, comprometam, restrinjam ou busquem suprimir a prática de outras prerrogativas essenciais, tais como os direitos sexuais e reprodutivos da Mulher e o exercício pleno, sem arbi-trárias limitações, da liberdade de pesquisa científica, pois, como todos sabemos, desde Galileu e Copérnico, a Terra se move e não mais é o centro do Universo!!!

Por isso mesmo, é pleno de significação este momento em que esta Corte, solenemente reunida em sessão especial, empossa, hoje, no cargo de Presidente, o eminente Ministro GILMAR MENDES, que é o primeiro filho do grande Es-tado de Mato Grosso a assumir a Presidência do Supremo Tribunal Federal.

Registro, ainda, Senhor Presidente, o fato aus-picioso de Vossa Excelência poder contar com o apoio seguro e competente do eminente Ministro CEZAR PELUSO, que, para honra desta Corte, exercerá o cargo de Vice-Presidente do Su-premo Tribunal Federal.

Tenho certeza, Senhor Presidente, considerados os atributos que realçam a figura do Ministro CEZAR PELUSO, de que, ao seu lado, está um Juiz dotado de elevada qualificação e de irrecusável fidelidade à causa da Justiça.

O ilustre Ministro CEZAR PELUSO, que foi Desem-bargador do E. Tribunal de Justiça paulista, desenvolveu brilhan-te carreira judiciária no Estado de São Paulo, onde exerceu o magistério superior, sempre merecendo, de todos, respeito e reconhecimento por suas altas virtudes como uma figura eminen-te do Poder Judiciário, e que se tem destacado, com particular brilho, por seu talento e sólida formação jurídica, como um dos grandes Juízes desta Suprema Corte.

Quero apresentar, ainda, Senhor Presidente, em gesto de especial saudação, os cumprimentos respeitosos desta Corte Suprema à sua digníssima esposa, Doutora Guiomar Feito-sa Albuquerque Lima Mendes e aos filhos Laura e Francisco Schelder Mendes, bem assim à Doutora Lúcia de Toledo Piza Peluso, às Senhoras Glaís e Luciana Toledo Piza Peluso, digníssimas esposa e filhas do eminente Ministro CEZAR PELUSO, e à sua querida neta Manuela Peluso Marques, com quem temos o privilégio de

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partilhar este momento tão expressivo em suas vidas e tão pleno de significação na história do Supremo Tribunal Federal.

Concluo este pronunciamento, Senhor Presidente. E, ao fazê-lo, tenho a honra de saudar, em nome do Supremo Tribunal Federal, Vossa Excelência, Senhor Ministro GILMAR MENDES, e o eminente Senhor Vice-Presidente, Ministro CEZAR PELUSO, desejando-lhes uma gestão eficiente e estendendo-lhes a soli-dariedade de nosso integral apoio na resolução dos problemas e na superação dos desafios, notadamente daqueles representa-dos pela adoção, em comunhão com os demais Poderes da Repú-blica, das medidas que permitam estabelecer, no contexto da reforma judiciária, em nosso País, um sistema de administração da Justiça que se revele processualmente célere, tecnicamen-te eficiente, politicamente independente e socialmente eficaz.

Discurso do DoutorANTONIO FERNANDO BARROS E SILVA DE SOUZA,

Procurador-Geral da República

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O Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza (Procurador-Geral da República) – Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes, Presidente do Supremo Tribunal Federal; Excelentíssimo Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República do Brasil; Excelentíssimo Senhor Senador Garibaldi Alves Filho, Presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional; Excelentíssimo Senhor Deputado Arlindo Chinaglia, Presidente da Câmara dos Deputados; Senhores Ministros desta Corte Suprema; demais autoridades nominadas pelo orador que me antecedeu; Senhoras e Senhores.

Estamos testemunhando e participando de sole-nidade que festeja a tradicionalmente previsível e rotineira mudança na Presidência da mais alta Corte de Justiça do País. A circunstância de ser previsível e rotineira, ao invés de lhe reduzir a importância, engrandece o Supremo Tribunal Federal. É que a escolha para os cargos de direção da mais alta Corte de Justiça e, ao mesmo tempo da Chefia do Poder Judiciário brasileiro, realiza-se inspirada em razão republicana que advoga a alternância nas posições de comando e em respeitosa atenção ao critério da anti-guidade, método que providencialmente imuniza pretensões indivi-dualistas e políticas que poderiam infirmar a plena eqüidistância que se exige de uma Corte de Justiça. É com satisfação pessoal e institucional, portanto, que estamos presentes, em nome do Ministério Público, nesta cerimônia de posse do Ministro Gilmar Mendes na Presidência do Supremo Tribunal Federal e do Ministro Cezar Peluso na Vice-Presidência.

Inicialmente, não posso deixar de registrar o reco- nhecimento do Ministério Público do trabalho excepcional desen-volvido pela Ministra Ellen Gracie no exercício da Presidência do Supremo Tribunal Federal. A grandiosidade da tarefa que lhe foi confiada em 2006 ficou reduzida diante dos seus talentos jurídico e intelectual e da sua reconhecida capacidade gerencial. Os resul-tados da sua atuação na Presidência dessa Corte, que são públi-cos, foram proveitosos para o Judiciário, para a sociedade e para o próprio Estado. Ministra Ellen Gracie, receba os cumprimentos do Ministério Público pelos serviços prestados ao Poder Judiciário e à sociedade brasileira.

A jurisdição é manifestação do poder do Estado, de sorte que a aferição de sua legitimidade não pode ser realizada

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independente da legitimidade das outras manifestações do poder estatal, que é uno. Da mesma forma, os desarranjos axiológicos vivenciados no mundo contemporâneo, causadores de uma sensí-vel crise de autoridade, provocam questionamentos em todas as manifestações de poder, incluída a jurisdicional.

O exacerbado formalismo e a morosidade dos proce-dimentos, as restrições ao acesso da Justiça, não só em razão de causas fáticas que se situam no campo econômico ou psicossocial, mas igualmente de causa jurídica que se verifica na compreensão jurisdicional estreita da legitimidade ad causam nas ações coletivas, e a impunidade decorrente de interpretações jurisdicionais que, muitas vezes, desconsiderando a função instrumental do proces-so, prestam culto a fórmulas absolutamente irrelevantes para a concretização do devido processo legal, especialmente em período em que a violência urbana provoca verdadeira neurose no corpo social, são elementos que podem causar gravame à legitimidade do Poder Judiciário. A persistência de tais fatores pode refletir negativamente na confiança da sociedade no Judiciário.

A realidade contemporânea revela que a demanda de participação popular não se limita mais às instâncias estatais em que tradicionalmente atua, vale dizer, nas atividades administrativa e legislativa, mas também se verifica na atividade jurisdicional, seja de forma direta, mediante a participação na administração da Jus-tiça, seja de forma indireta, pelo controle do exercício da função jurisdicional, seja, finalmente, mediante a participação por meio da Justiça, quando o processo é utilizado como veículo de realização do princípio participativo, viabilizando a tutela de interesses supra- individuais.

Nessa perspectiva, até porque os meios de comu-nicação de massa possibilitam uma maior aproximação do corpo social com a realidade do Estado, constata-se uma atitude crítica mais contundente em face das instituições estatais, que são com-pelidas a atuar no sentido de concretizar as promessas constitu-cionais, nas suas respectivas áreas de atuação.

É certo que algumas iniciativas, como as de incen-tivo à adoção de soluções conciliatórias e de previsão de juizados especiais para causas de menor expressão econômica, geram expectativas favoráveis de acesso mais fácil à Justiça, pela rapi-dez, informalidade e gratuidade. É positiva a expectativa quanto

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aos efeitos da implementação da repercussão geral e da súmula vinculante. A melhor compreensão dos Tribunais e Juízes a res-peito das tutelas coletivas de direitos e interesses veiculadas por ações coletivas, que constitui fator de destaque no que se refere ao propósito constitucional de universalização da Justiça, também contribui para o aperfeiçoamento da Justiça.

Todavia, não se pode perder de vista que essa jus-tiça gratuita e informal ainda permanece como uma promessa e, exclusivamente, para as causas de pequeno valor. E também já dá sinais de congestionamento em algumas localidades. O processo civil tradicional continua oneroso e demorado. De instrumentos como a súmula vinculante e a repercussão geral, porque recentes, ainda não se pode fazer avaliação segura da respectiva eficácia. Por outro lado, o descrédito no sistema repressivo, em parte atribuído à liberalização de decisões de natureza criminal, especialmente nos delitos com violência e os da macrocriminalidade, tem provocado a sensação de impunidade.

Felizmente, esses fatores de descrédito, no sis-tema judiciário, não têm maculado, de modo contundente, a legitimidade do Poder Judiciário, que é fundamental para a preservação do Estado de Direito e para a garantia dos direitos individuais.

Liderar as iniciativas destinadas a provocar efetivo aperfeiçoamento no sistema judiciário, a partir da remoção dos fatores que provocam o seu descrédito e da implementação de mecanismos que contribuam para o integral cumprimento das promessas constitucionais de amplo acesso à Justiça e rápida solução dos conflitos e, ao mesmo tempo, conduzam à substancial efetividade da atividade jurisdicional, é um dos desafios que se apresenta ao novo Chefe do Poder Judiciário.

O Ministro Gilmar Mendes, graduado e Mestre pela Universidade de Brasília e Doutor pela Universidade de Münster, na Alemanha, além do cabedal teórico como um dos mais respeitados constitucionalistas do Brasil, é dotado de substancial experiência na advocacia pública como Advogado-Geral da União e membro do Ministério Público Federal.

O denso e substancioso curriculum vitae de Vossa Excelência revela o seu consistente e esmerado preparo intelectual,

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a sua extensa e substanciosa produção acadêmica, a sua intensa atividade docente e o exercício de relevantes cargos públicos da área do direito. Foi membro do Ministério Público Federal, Adjunto e Consultor Jurídico da Secretaria-Geral da Presidência da República, Subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil e Advogado-Geral da União. Tudo está a demonstrar que lhe sobram qualidades para equacionar e superar todos os desafios e dificuldades que se apre-sentam ao Presidente dessa Corte Suprema.

No exercício dos cargos de membro do Ministério Público Federal, Subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil e Advogado-Geral da União, bem como na atuação como Assessor Técnico, seja na Relatoria da Revisão Constitucional na Câmara dos Deputados, seja no Ministério da Justiça, o Ministro Gilmar Mendes teve oportunidade de vivenciar as dificuldades e os obs-táculos encontrados por aqueles que desempenham suas funções perante o Judiciário. O resultado dessas experiências, submeti-do à reflexão em face dos conhecimentos hauridos na atividade docente e confrontado com o exercício da judicatura nesta Corte Suprema desde 2002, certamente será de extrema utilidade para o desempenho da nova função.

Nesta sessão também aplaudimos a posse do Minis-tro Cezar Peluso na Vice-Presidência dessa Corte. Magistrado por vocação e permanente dedicação. Dotado de aguçado senso de Justiça, profundo conhecimento do Direito e consistente cultura humanística. Tem consciência de que a magistratura bem exercida é um serviço relevante para o povo, de modo que sempre a exerce com entusiasmo. A experiência adquirida ao longo do exercício da magistratura, em todos os seus níveis, será fundamental para o sucesso no novo cargo. Tenho certeza que Vossa Excelência prestará inestimável contribuição ao Supremo Tribunal Federal e ao Poder Judiciário. Receba a homenagem respeitosa do Ministério Público.

Ministro Gilmar Mendes, em nome do Ministério Público Federal e no dos demais ramos do Ministério Público, cumprimento Vossa Excelência, desejando-lhe muito sucesso e felicidades no desempenho das novas atribuições.

Discurso do DoutorRAIMUNDO CEZAR BRITTO ARAGÃO,

Presidente do Conselho Federalda Ordem dos Advogados do Brasil

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O Dr. Raimundo Cezar Britto Aragão (Presi-dente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil) – Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes, Presi-dente do Supremo Tribunal Federal; Excelentíssimo Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República; Excelentíssimo Senador Garibaldi Alves Filho, Presidente do Congresso Nacional; Excelentíssimo Senhor Deputado Arlindo Chinaglia; Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral da República, Doutor Antonio Fernando Barros e Silva de Souza; Excelentíssimo Senhor Ministro Cezar Peluso, Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal; Excelentís-sima Senhora Ministra Ellen Gracie; Senhores Ministros, colegas advogados; membros do Ministério Público e da Magistratura; autoridades presentes; Senhoras e Senhores.

Inicialmente saúdo, em nome da advocacia brasi-leira, os personagens centrais desta cerimônia: os novos Presidente e Vice-Presidente deste Supremo Tribunal Federal, Ministros Gilmar Ferreira Mendes e Antonio Cezar Peluso.

Trata-se de duas eminências do Direito e da ma-gistratura no Brasil, que dispensam maiores apresentações ou acréscimos biográficos.

O que posso dizer, em síntese, é que estão à altura dos cargos de que hoje se investem.

Da mesma forma, saúdo a Ministra Ellen Gracie Northfleet pela gestão impecável à frente desta Corte, em que figurou como a primeira mulher a presidi-la. Honrou a história do Supremo e, simultaneamente, derrotou aqueles que, teimosa-mente, se recusam a acreditar na igualdade entre todos os seres humanos.

Foi, durante dois anos, interlocutora solícita da advocacia, enfrentando com firmeza os múltiplos desafios que lhe foram encaminhados.

A Ordem dos Advogados do Brasil sente-se honrada em participar deste ato solene, no papel institucional que lhe cabe de representante da sociedade civil brasileira e da advocacia.

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Por sua importância, ninguém pode ficar insen-sível ao que ocorre neste momento tão especial para a República. Não sem razão, reúne a atenção dos representantes dos seus três Poderes, de diversas autoridades e dos cidadãos espalhados pelos cantos e recantos deste Brasil continental.

É, por isso mesmo, ocasião preciosa e rara, e favorece o diálogo franco, direto e cortês, que deve e precisa ser a essência do Estado Democrático de Direito.

Democracia pressupõe diálogo, convívio civilizado de contrários, transparência de atitudes e fidelidade absoluta aos preceitos republicanos e ao interesse público.

Democracia implica, sobretudo, um Poder Judiciá-rio ativo, altivo e preparado para fazer da Justiça palavra conhe-cida de todos.

Requer um Supremo Tribunal Federal consciente da sua importantíssima missão de guardião da Constituição Federal, o responsável pela última palavra na vida de um país.

Eis por que não poderia a sociedade brasileira deixar de registrar a sua esperança de que esta Corte, agora renovada em sua direção, conserve o espírito e a força de uma Constituição, que é fruto de momento raro na vida da República.

Foi concebida quando a cidadania ousou romper com o período obscuro centrado na lógica autoritária de uma ditadura militar. Gerada quando passamos a rejeitar a intromis-são externa, sobre a nossa política econômica; quando se tornou inaceitável a concentração de terras improdutivas em um país de bóias-frias; quando tenebrosas transações, furando a rígida censura à imprensa, se tornavam conhecidas da Nação; quando nos cansamos de ouvir que era preciso primeiro crescer o bolo para dividi-lo depois.

Germinou, enfim, quando fomos à rua pedindo a volta daqueles que partiram no “rabo de foguete”; quando cami-nhávamos contra o vento, querendo nos reunir em associações e sindicatos e exprimir o nosso pensamento, sem medo de censu-ra, prisões ou perseguições políticas; quando pleiteávamos, em praça pública, votar livremente para Presidente da República, sem

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eternização de mandatos e com alternância de poder, jamais co-gitando de recorrer a casuísmos.

Enfim, uma Constituição que nasceu quando a Na-ção queria de volta a liberdade roubada, sonhava com a igualdade ainda não conquistada e apostava na fraternidade como melhor forma de solução de conflitos.

Duas décadas depois, governo após governo, emen-das após emendas, pasmos, percebemos que a Constituição foi sendo modificada, diminuída, esquartejada em seu espírito.

A globalização econômica passou a deixar suas impressões digitais no que parecia ser uma terra mais garrida.

O capital financeiro fez substituir o sonho social tão esperançosamente projetado. O Brasil foi privatizado; estatais vendidas; a educação mercantilizada e a saúde pública condenada à inanição. Até mesmo o trabalho, orgulhosamente exibido como fator de dignidade humana, transformou-se em mero custo de produção.

Essa assombrosa mudança de paradigma fez o eminente jurista Celso Antonio Bandeira de Melo registrar, desa-pontado, que as novas emendas criaram uma Constituição com-pletamente diferente daquela aprovada em 1988.

O seu espírito já não é o mesmo. De defensora da soberania, a Constituição de 1988 se transformou em espec-tro do que pretendia ter sido. Rendeu-se ao capital especulativo antes mesmo da sua maioridade.

Basta que observemos as históricas taxas de juros praticadas no Brasil para compreendermos que a Constituição foi mutilada em um de seus principais fundamentos.

Definitivamente, após 56 (cinqüenta e seis) emen-das, esta não é a Constituição que Ulysses Guimarães, no dia 5 de outubro de 1988, batizou de Constituição-Cidadã.

E, para agravar, o Congresso Nacional ainda não cumpriu sua obrigação constitucional de realizar a Auditoria da

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Dívida Externa, que, hoje mais do nunca, se faz urgente porque está sendo paga com o aumento assustador da dívida interna.

Se o Parlamento deseja efetivamente uma pauta positiva, deveria cuidar melhor dessa questão, antes mesmo do julgamento da Argüição de Descumprimento de Preceito Funda-mental, ajuizada pela OAB com esta finalidade. Tempo não lhe falta.

E, se lhe faltasse, poderia retirar da pauta a fami-gerada PEC 12 – a PEC do Calote –, proposta que desmoraliza as decisões do Poder Judiciário, legaliza a inadimplência do Estado para com os seus cidadãos e transfere para estes a responsabilidade pela má gestão, descaso ou corrupção na condução da coisa pública.

Se a questão é pagar a dívida, que se pague pri-meiro a dívida para com o cidadão! Descumprir um precatório des-respeita não apenas a cidadania mas também o Poder Judiciário, já que é uma decisão sua que estará sendo violada.

A OAB espera que o Congresso Nacional assuma o compromisso que lhe atribuiu a Constituição, tão logo, é claro, produza um novo instrumento legal de controle das medidas pro-visórias, que têm provocado sua permanente paralisia.

Medida provisória é exceção – não regra. Trans-formou-se em rotina o que deveria existir apenas em casos de urgência e relevância.

Nada mais urgente e relevante, hoje, que rever essa distorção, transmitida – e aceita – como herança de governo para governo, desde o primeiro da redemocratização.

Mudar isso é não apenas questão de honra para o Poder Legislativo, mas imperativo constitucional. A banalização das medidas provisórias é agressão permanente à Constituição, a que espantosamente nos acostumamos.

Senhoras e Senhores,

É evidente que nem tudo tem sido derrota ou revés. O Brasil, hoje, constata melhoras concretas nos mais

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diversos índices sociais. A inclusão social começa a ganhar corpo nas pautas de formulação das políticas públicas.

São dados que nos alentam.

Alentam-nos e animam a um novo desafio: o de enfrentar o Estado Policial, que, embora revogado pela Constituição de 1988, tem mostrado suas garras com assustadora assiduidade.

A democracia vive, hoje, em nosso Planeta, o de-safio de sobreviver às investidas da “lógica policialesca”. Desde o atentado às torres gêmeas, nos Estados Unidos, em 2001, as liberdades civis, a pretexto do combate ao terrorismo, têm sido alvo de ataques preocupantes.

Prisões clandestinas se espalham pelo mundo. Revoga-se o direito de defesa. Países são invadidos ou economi-camente boicotados. A tortura ganha a proteção legal da admis-sibilidade. Quebram-se os sigilos que protegem o ser, embora se mantenham os que guardam o ter. Até mesmo assassinatos, como o do brasileiro Jean Carlos, em Londres, são admitidos.

Fernando Amalric, representante do papa Inocên-cio III, na Cruzada dos Albigenses, que legitimou o massacre de quinze mil homens, mulheres e crianças, com a máxima “mate-os todos, Deus reconhecerá os seus”, seria um grande teólogo deste Estado Policial.

Certamente a nova palavra de ordem será: “Prenda, torture e assassine todos; deixe que a história no futuro aponte os inocentes.”

Nós, que não vivemos esse tipo de drama, não estamos, no entanto, preservados de seus efeitos. Aqui, a “lógica policialesca” também ousa se instaurar. Volta-se a dizer que ban-dido bom é bandido morto, especialmente quando metralhado, exemplarmente, do alto de um helicóptero.

Começa-se a pregar que, no combate ao crime, tudo é permitido.

Dados da CPI dos Grampos revelam que mais de

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quatrocentas mil escutas telefônicas foram autorizadas judicialmen-te. E, longe de combatê-las ou coibir o seu abuso, as autoridades, hoje, disputam quem tem o maior poder de bisbilhotagem sobre a vida dos outros.

O Ministério Público gaba-se dos seus aparelhos, as polícias federal e estaduais da mesma forma. Até mesmo a Abin, que não tem poder de investigação, também quer meter o bedelho neste mundo de controle.

Instaurou-se no Brasil um clima de medo e terror entre os cidadãos. Ninguém escapa das garras dos grampeadores de plantão. Investiga-se tudo e a todos. Nem mesmo esta Corte, ou qualquer autoridade ou cidadão presente, nem mesmo o Presidente da República está a salvo.

O Estado de bisbilhotagem, subproduto do Estado Policial, rasga a Constituição, sepulta a democracia, atropela a cidadania e nos remete a tempos obscuros da ditadura.

Parece até que estamos a ler uma fotografia do Grande Irmão, criada por George Orwell, com a legenda “O Grande Irmão está a observar-te”.

Por essa razão, a OAB tem se empenhado em de-nunciar ações que atropelam fundamentos elementares do Estado Democrático de Direito, a começar pelas prerrogativas da advocacia – que são, na verdade, prerrogativas do cidadão, já que a ele, à sua defesa, se destinam.

Deflagram-se operações que põem em cena um arsenal de práticas ilegais e autoritárias: grampos ambientais em escritórios de advocacia, prisões espalhafatosas, cerceamento do trabalho dos advogados e a criminalização da própria atividade advocatícia.

Quase sempre essas operações findam na libertação da maioria dos detidos, com ações de reparação junto à Justiça, por danos morais, a serem pagas pelo contribuinte.

O resultado, como se vê, sai pela culatra em todos os sentidos, gerando frustração e descrença na eficácia do Estado no combate ao crime – e, por extensão, fortalecendo o próprio crime.

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A busca de eficiência operacional no combate ao crime é meta permanente de qualquer sociedade que se preze – e tem na Ordem dos Advogados do Brasil uma de suas instâncias de sustentação mais obstinadas.

Entretanto, para que se cumpra, sem danos cola-terais, é preciso que não se ceda à tentação de obtê-la fora dos limites constitucionais. Quando isso acontece, repito, o triunfo é apenas aparente.

Sempre que a lei é violada, o triunfo é do crime e consolida-se a nefasta idéia de que o mal é mais poderoso que o bem e só pode ser combatido pela contramão.

O Brasil, que viveu duas décadas de ditadura mili-tar, sabe bem o que significa fortalecer os que detêm o poder das armas, o controle da imprensa e as rédeas de julgamentos.

Não podemos – repito – restabelecer uma mentali-dade revogada pela Carta Constitucional de 1988.

Senhoras e Senhores,

Sabemos que nenhum de nós é isoladamente res-ponsável pela crise de identidade que atinge a Constituição Federal. Mas cada um de nós, fazendo a parte que nos cabe. Desde que não fiquemos calados, pois, como bem ressaltou Martin Luther King Jr.,

“O que me preocupa não é o grito dos maus e sim o silêncio dos bons...”

A advocacia conclui esta saudação reiterando sua esperança e expectativa no aprimoramento das relações entre as instituições.

Desse bom relacionamento, depende a preservação dos fundamentos da democracia, cuja reconquista custou suor, sangue e lágrimas ao povo brasileiro. Não podemos trair essa luta.

Democracia e cidadania são palavras-chaves nesse processo. Que sejam nossa Guia na construção de um país mais justo e próspero. E que a geração que ousou pensar uma nova Constituição para o seu país, agora ocupando os postos mais rele-

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vantes e estratégicos, nunca possa dizer, parodiando Belchior, “que, apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.

Afinal, como complementou Bertolt Brecht, “o que devemos aprender com os antigos é como fazer o novo”.

Muito obrigado.

Discurso do Senhor Ministro GILMAR MENDES,

Presidente do Supremo Tribunal Federal

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O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente) – Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; eminente Presidente do Congresso Nacional, Garibaldi Alves Filho; eminente Presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia Júnior; Excelentíssimos Senhores Ministros do Supremo Tribunal Federal de hoje, de ontem e de sempre; Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral da República; Senhores ex-Presidentes da República, José Sarney, Fernando Affonso Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso; Excelentíssimos Senhores Presi- dentes dos Tribunais Superiores; Excelentíssimos Senhores Pre-sidentes de Corte de Justiça dos países do Mercosul; Excelentís-simo Senhor Vice-Presidente da Corte Constitucional de Portugal; Senhores Governadores dos Estados de Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Alagoas, Espírito Santo, Mara-nhão, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina; Excelentíssimos Senhores Juízes de Cortes Federais e Estaduais; Senhores Embaixadores, Senhor Núncio Apostólico do Brasil; Senhoras e Senhores aqui presentes.

Vistos sob a perspectiva da História do constitu-cionalismo, os vinte anos do Estado brasileiro sob a Constituição de 1988 não passam de um instante, brevíssimo piscar de olhos. No entanto, representam o mais longo período de estabilidade democrática e normalidade institucional de nossa vida republicana iniciada em 1889.

E não se cuida de experiência vivida sob um clima de absoluta tranqüilidade econômica e política.

Ao contrário, o País passou por dificuldades graves nesses campos.

Não obstante, nem a inflação descontrolada e os desvarios da desordem econômica por ela causada, nem os sérios casos de corrupção no estamento político deixaram de ser equa-cionados dentro dos marcos institucionais mais ortodoxos, sem qualquer contestação ou reclamo relevante.

Passadas quase duas décadas da promulgação da Constituição Federal – e muitas reformas depois, feitas em quadro de absoluta normalidade –, creio que é chegado o momento opor- tuno de reflexão e de balanço.

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A opção do Constituinte de 1988 pelo exercício simultâneo e harmonioso do poder por diversos agentes políticos, em sua complexa tessitura, parece ser o grande responsável por esse equilíbrio institucional.

É certo, por outro lado, que, a despeito das mais diversas dificuldades, a Constituição tem mantido a sua capacidade regulatória.

Nesse sentido, refira-se não só ao papel singular dos Poderes e das instituições como o Ministério Público, a Advo-cacia, mas também ao dos organismos vitais da democracia, como a imprensa livre, as associações e as organizações que formam a base de uma sociedade aberta e plural.

Há sempre que se destacar a importância do Judi-ciário independente nesse modelo institucional. Em verdade, no Estado constitucional, a independência judicial é mais relevante do que o próprio catálogo de direitos fundamentais.

As conquistas alcançadas com o modelo demo-crático estabelecido em 1988 estimulam a sua expansão. E o quadro formal da democracia conta com uma vantagem específica entre nós, que é a inexistência de adversários radicais ao modelo.

Não tenho dúvida de que, a partir da Carta de 1988, estão presentes aquelas condições que a ciência política enuncia como pressupostos para que seja atingida a democracia plena, entre as quais ressalto a existência de uma cultura política e de convicções democráticas.

Há uma crença no modelo democrático, até porque as vias democráticas de conciliação têm-se mostrado mais lucra-tivas que o conflito e a ruptura.

Assim, não resta dúvida de que a democracia brasi-leira adquiriu autonomia funcional, uma vez que todas as forças políticas relevantes aceitam submeter – e não há alternativa – seus interesses e valores às incertezas do jogo democrático1.

1 PRZEWORSKI, Adam. Democracy and the market. 7. reimpressão. Cambridge: University Press, 2003. p.26.

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Efetivamente, até aqui – e isso há de continuar assim – tais forças políticas não colocam em xeque as linhas bási-cas do Estado de Direito, ainda que alguns movimentos sociais de caráter fortemente reivindicatório atuem, às vezes, na fronteira da legalidade.

Nesses casos, é preciso que haja firmeza por parte das autoridades constituídas. O direito de reunião e de liberdade de opinião devem ser respeitados e assegurados.

A agressão aos direitos de terceiros e da comuni-dade em geral deve ser repelida imediatamente com os instru-mentos fornecidos pelo Estado de Direito, sem embaraços, sem tergiversações, sem leniências.

O Judiciário tem grande responsabilidade no con-texto dessas violações e deve atuar com o rigor que o regime democrático impõe.

Não tem sido pequeno o desafio confiado a esta Corte.

Dia após dia, o Supremo Tribunal Federal vê-se confrontado com a grande responsabilidade política e econômica de aplicar uma Constituição repleta de direitos e garantias funda-mentais de caráter individual e coletivo.

A Corte tem respondido à demanda cada vez maior da sociedade e demonstrado profundo compromisso com a reali-zação dos direitos fundamentais.

Temos julgado casos históricos, em que discutidas questões relacionadas ao racismo e ao anti-semitismo, à progressão de regime prisional, à fidelidade partidária e ao direito da minoria de requerer a instalação de comissões parlamentares de inqué-ritos, entre outras.

Já iniciamos o julgamento de temas relevantes sobre aborto, pesquisas com células-tronco e prisão civil do depo-sitário infiel, no qual estamos a discutir o significado dos tratados de direitos humanos na ordem jurídica brasileira.

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A propósito, ressalte-se a necessidade de que esta Corte esteja atenta aos avanços do Direito Internacional, especial-mente no contexto da integração regional. Urge contribuir para a consolidação das comunidades sul-americana e latino-americana também no plano jurídico e judicial.

Os direitos fundamentais de caráter processual e as garantias objetivas para a proteção da ordem constitucional têm merecido tratamento ímpar por parte desta Corte, a ponto de formarem, nesse aspecto, um dos sistemas constitucionais mais completos do mundo.

Ao exigir o respeito às garantias do devido proces-so legal e às liberdades em geral, o Supremo, além de agir como guardião da Constituição, impede que o Estado Constitucional seja transformado em Estado de Polícia.

O cumprimento dessas complexas tarefas, todavia, não tem o condão de interferir negativamente nas atividades do legislador democrático.

Não há “judicialização da política”, pelo menos no sentido pejorativo do termo, quando as questões políticas estão configuradas como verdadeiras questões de direitos.

Essa tem sido a orientação fixada pelo Supremo desde os primórdios da República.

É certo, por outro lado, que esta Corte tem a real dimensão de que não lhe cabe substituir-se ao legislador, muito menos restringir o exercício da atividade política, de essencial importância ao Estado Constitucional.

Democracia se faz com política e mediante a atua-ção de políticos.

Quando se tenta depreciar ou execrar a atividade política, está-se a menosprezar a consciente opção de todos os brasileiros pelo regime democrático.

De igual forma, qualquer obstáculo erguido em opo-sição ao poder-dever de legislar – de que é exemplo o já desgastado

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modelo de edição de medidas provisórias – afeta a construção de um processo democrático livre e dinâmico.

Nesse sentido, é necessário que se encontre um modelo de aplicação das medidas provisórias que possibilite o uso racional desse instrumento e viabilize, assim, tanto a condução ágil e eficiente dos governos quanto a atuação independente dos legisladores.

Os Poderes da República encontram-se preparados e maduros para o diálogo político inteligente, suprapartidário, no intuito de solucionar um impasse que, ao paralisar o Congresso, embaraça o processo democrático.

De fato, nos Estados constitucionais contempo-râneos, legislador democrático e jurisdição constitucional têm papéis igualmente relevantes. A interpretação e a aplicação da Constituição são tarefas cometidas a todos os Poderes, assim como a toda a sociedade.

A imanente e aparente tensão dialética entre demo-cracia e Constituição, entre direitos fundamentais e soberania popu-lar, entre jurisdição constitucional e legislador democrático, é o que alimenta e engrandece o Estado de Direito, tornando-lhe possível o desenvolvimento no contexto de uma sociedade aberta e plural, baseada em princípios e valores fundamentais.

A ênfase em uma agenda social, que em muito transcende aspectos meramente formais, está estampada logo no início da Carta Constitucional.

A ampla proclamação de direitos pela Constituição serviu de estímulo a que as instituições de representação da socie-dade civil se mobilizassem em favor da concretização daquelas promessas constitucionais. Não há dúvida de que, a partir de 1988, a sociedade civil brasileira saiu fortalecida.

A verdade é que essa constitucionalização, para muitos de caráter simbólico2, engendrou o surgimento de organi-

2 NEVES, Marcelo. A Constitucionalização Simbólica. São Paulo: Acadêmica, 1994. p. 162.

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zações sociais envolvidas criticamente na realização dos valores proclamados solenemente no texto constitucional.

Convive-se hoje com uma multiplicação de movi-mentos sociais voltados à defesa de diversos interesses, como o da igualdade racial, o do meio ambiente, o da reforma agrária, o dos indígenas, o do consumidor, entre outros.

Na luta política pela ampliação da cidadania, reivin-dica-se diuturnamente a concretização desses programas, até mesmo mediante a judicialização das mais diversas pretensões.

Por certo, em um país como o Brasil, em que o acesso a direitos sociais básicos ainda não é garantido a milhões de pessoas, não surpreende a generosidade do Poder Constitu-inte, a refletir a perspectiva de que o Estado constitucional tam-bém é um espaço de síntese e de proclamação de esperanças que, historicamente, foram esquecidas.

Nesse contexto, também mostra-se relevante o papel da jurisdição constitucional na consolidação desse ambiente democrático. O Brasil tem talvez uma das mais ativas jurisdições constitucionais do mundo, com amplo controle de constituciona-lidade concreto e abstrato.

O Supremo está desafiado a buscar o equilíbrio ins-titucional, a partir de procedimentos que permitam uma conciliação entre as múltiplas expectativas de efetivação de direitos com uma realidade econômica muitas vezes adversa.

Daí invocarem-se, não raramente, o chamado “pen-samento do possível” e o próprio limite do financeiramente possí-vel. Nessa perspectiva de análise institucional, o Supremo tem-se mostrado peça-chave na concretização das referidas promessas sociais da Constituição de 1988.

Uma das linhas de aperfeiçoamento da Carta refere-se especificamente à busca de uma ampliação do acesso ao Poder Judiciário pelos setores menos favorecidos da sociedade brasileira.

Há no País uma imensa demanda reprimida, que vem a ser a procura daqueles cidadãos que têm consciência de

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seus direitos, mas que se sentem impotentes para os reivindicar, porque intimidados, quer pela obsoleta burocracia judicial, quer pelo hermetismo dos ritos processuais e da linguagem jurídica3.

Em tempos de responsabilidade social, cabe ao Judiciário assumir também a sua cota-parte, saindo do isolamento, e tornar-se social e politicamente relevante na luta pela inclusão dessas pessoas, assegurando-lhes seus direitos fundamentais e, por conseqüência, fortalecendo-lhes a crença no valor inquestionável da cidadania.

Não se há de descuidar, entretanto, do contínuo es-forço em vencer, vez por todas, a lendária e secular morosidade atribuída à Justiça, a despeito da notória reformulação de quadros e meios do Poder Judiciário brasileiro, com avanços expressivos no tocante à racionalização máxima de procedimentos, sem qualquer prejuízo às garantias constitucionais dos cidadãos.

De fato, são visíveis os acertos representados por medidas como a criação de juizados especiais, a implementação das súmulas vinculantes, e, mais recentemente, do instituto da repercussão geral, que hoje representa a grande possibilidade de descompressão no ritmo de atuação do Supremo.

Todo o Judiciário está desafiado a contribuir para esse esforço de racionalização, sem que para isso se efetive, neces-sariamente, a expansão das estruturas existentes. Assim, a ênfase há de ser colocada na otimização dos meios disponíveis.

A busca incessante pela melhoria da gestão admi-nistrativa, com a diminuição de custos e a maximização dos recur-sos, resultará seguramente no aperfeiçoamento do serviço público de prestação da Justiça.

Se, por um lado, a multiplicação de processos em escala exponencial corrobora o forte protagonismo do sistema judicial, ou seja, a ampla aceitação, pelos brasileiros, do primado do Direito, da jurisdição como via institucional de resolução de conflitos, por outro é grave indício de que há necessidade de se

3 SANTOS, Boaventura de Sousa. A Universidade do Século XXI: Para uma reforma democrática e emancipatória da Universidade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005. (Questões de nossa época, v. 120.)

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debelar a cultura “judicialista” que se estabeleceu fortemente no País, segundo a qual todas as questões precisam passar pelo crivo judicial para serem resolvidas, o que faz o Judiciário ser chamado a atuar na solução de questões cotidianas, mais afetas às atribuições de competência de setores administrativos.

Somente dessa maneira o Judiciário deixará de ser o único escoadouro – como se tivesse entre as próprias funções a de atuar como provedor social – dos reclamos mais iminentes da cidadania, das demandas impulsionadas pelo direito de resistência de comunidades carentes.

Sob esse aspecto, é hora de a sociedade civil, as organizações não-governamentais, as entidades representativas de classe e órgãos como a Defensoria Pública, por exemplo, mobi-lizarem-se para combater esse quase hábito nacional de exigir a intermediação judicial para fazer-se cumprir a lei.

Na imensa maioria dos casos, a conciliação e a aplicação direta do Direito pelos diversos órgãos e agentes se afiguram alternativas vantajosas para os envolvidos na contenda, dada a minimização dos procedimentos, dos custos e do tempo despendido.

Por mais eficiente que se torne, o Judiciário não pode tudo. Não devemos cair na tentação da onipotência e da onipresença em todas as questões de interesse da sociedade.

À esfera da política cabe a formulação de políticas públicas, cumprindo ao Poder Judiciário, nessa seara, o papel de guardião da Constituição e dos direitos fundamentais.

A intervenção judicial assume aqui caráter mar-cadamente corretivo, até mesmo em face de determinações consti-tucionais.

Juntos, afinados com o fundamental objetivo de aprimorar as instituições, de maneira a ajustá-las às inevitáveis mudanças socioculturais compatíveis com o desenvolvimento tecno-lógico do mundo pós-moderno, os Poderes da República hão de continuar trabalhando de maneira harmônica para a expansão do modelo democrático estabelecido em 1988, que, apesar de jovem, comprova incontestável e definitiva consolidação.

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De minha parte, agradeço a oportunidade que me foi dada – e nisso relembro a honrosa indicação para esta Corte, do Presidente Fernando Henrique Cardoso –, para parti-cipar mais diretamente desse contínuo processo de construção e aperfeiçoamento da democracia constitucional brasileira.

Saúdo a Ministra Ellen Gracie pela proficiente gestão à frente desta Corte e a todos os meus pares, a quem agradeço a confiança e com quem continuo contando para bem conduzir o Poder Judiciário brasileiro.

Muito obrigado a todos.

Senhoras e Senhores, os discursos proferidos, que honram o Poder Judiciário da Nação, integrarão a história e os anais do Supremo Tribunal Federal.

Agradeço a honrosa presença do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; do Ex-celentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional, Garibaldi Alves Filho; do Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia Júnior; dos Excelentíssimos ex- Presidentes da República José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Fernando Affonso Collor de Mello; dos Excelentíssimos Ministros do Supremo Tribunal Federal de ontem, de hoje e de sempre; do Excelentíssimo Ministro da Justiça e demais Ministros de Estado; dos Excelentíssimos Presidentes dos Tribunais Superiores, dos Tribunais Regionais Federais, Eleitorais e do Trabalho, dos Tribunais de Justiça e demais Membros do Judiciário Brasileiro; do Excelentís-simo Presidente do Tribunal de Contas da União; do Excelentíssimo Procurador-Geral da República e dos membros do Ministério Público da União, dos Estados e do Distrito Federal; de Sua Excelência Reve-rendíssima, o Núncio Apostólico do Brasil, Embaixador da Santa Sé e dignos representantes do Corpo Diplomático; dos Governadores dos Estados e do Distrito Federal e demais autoridades estaduais, distritais e municipais – também menciono, aqui, a presença do Senhor Governador de Minas Gerais Aécio Neves –; do Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, e dos demais advogados; dos Presidentes dos Partidos Políticos e Líderes Partidários no Congresso Nacional; dos Senadores da República, Deputados Federais, Estaduais e demais membros do Legislativo; das autoridades civis e militares; dos representantes da sociedade civil; dos representantes de associações de classe; dos advogados

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militantes; dos servidores desta e de outras Cortes; dos nossos queridos familiares e co-estaduanos; e saúdo a presença de todos na pessoa de Edson Arantes Nascimento, o Pelé.

Para o encerramento desta sessão solene, a soprano Denise Tavares interpretará as “Bachianas”, do compositor Heitor Villa-Lobos.

(Execução das “Bachianas”, do compositor Heitor Villa-Lobos.)

Solicito a todos que permaneçam em seus lugares até a retirada do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, das autoridades que compõem a Mesa e o tablado, bem como dos familiares, para o hall principal deste edifício, onde serão recebidos os cumprimentos.

Está encerrada esta sessão solene.