208
i Dissertação de autoria de Mario Henrique Dorileo de Freitas Rondon, intitulada “a formação e o exercício profissional de piloto da aviação civil: uma política em questão”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em educação da Universidade Católica de Brasília, em (data da aprovação), defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em Educação A FORMAÇÃO E O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE PILOTO DA AVIAÇÃO CIVIL: UMA POLÍTICA EM QUESTÃO Brasília - DF 2012 Autor: Mario Henrique Dorileo de Freitas Rondon Orientadora: Prof a . Dra. Clélia de Freitas Capanema

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

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Page 1: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

i

Dissertação de autoria de Mario Henrique Dorileo de Freitas Rondon,

intitulada “a formação e o exercício profissional de piloto da aviação civil: uma política em

questão”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em educação

da Universidade Católica de Brasília, em (data da aprovação), defendida e aprovada pela

banca examinadora abaixo assinada:

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em Educação

A FORMAÇÃO E O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE

PILOTO DA AVIAÇÃO CIVIL: UMA POLÍTICA EM

QUESTÃO

Brasília - DF

2012

Autor: Mario Henrique Dorileo de Freitas Rondon

Orientadora: Profa. Dra. Clélia de Freitas Capanema

Page 2: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

ii

MARIO HENRIQUE DORILEO DE FREITAS RONDON

A FORMAÇÃO E O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE

PILOTO DA AVIAÇÃO CIVIL: UMA POLÍTICA EM QUESTÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Stricto Sensu em Educação da

Universidade Católica de Brasília, como

requisito parcial para obtenção do Título de

Mestre em Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Clélia de Freitas

Capanema

Brasília

2012

Page 3: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

iii

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

29/06/2012

M838p Rondon, Mario Henrique Dorileo de Freitas.

A formação e o exercício profissional de piloto da aviação civil: uma

política em questão. / Mario Henrique Dorileo de Freitas Rondon – 2012.

207f. il. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2012.

Orientação: Profa. Dra. Clélia de Freitas Capanema

1. Formação profissional. 2. Aeronáutica civil. 3. Automação. 4. Política e

educação. I. Capanema, Clélia de Freitas, orient. II. Título.

CDU 377:004

Page 4: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

iv

Dissertação de autoria de Mario Henrique Dorileo de Freitas Rondon, intitulada “A

FORMAÇÃO E O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE PILOTO DA AVIAÇÃO CIVIL:

UMA POLÍTICA EM QUESTÃO”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau

de Mestre em Educação da Universidade Católica de Brasília, em 16 de abril de 2012,

defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

______________________________________________

Profa. Dra. Clélia de Freitas Capanema

Orientadora

Mestrado em Educação – UCB

______________________________________________

Profa. Dra. Jacira da Silva Câmara

Examinador interno

Mestrado em Educação – UCB

______________________________________________

Prof. Dr. Éder Henriqson

Examinador externo

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS

Faculdade de Ciências Aeronáuticas

Brasília

2012

Page 5: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

v

A Deus, companheiro sábio e orientador

supremo da minha existência.

Aos meus pais e pais-avós, pelo amor, carinho,

respeito, força e dedicação.

Ao meu filho, Filippo, por ter propiciado uma

nova forma de ver a vida e ter orientado novas

mudanças em meu pensamento.

Obrigado por me permitirem fazer parte da

vida de vocês!

Page 6: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

vi

AGRADECIMENTO

A gratidão é umas das maiores virtudes que o ser humano pode apresentar como

agradecimento a pessoas que fizeram diferença em sua vida.

Neste momento, quero parar todo meu trabalho para trazer o meu pedacinho de

gratidão ao mundo e às pessoas que fazem com que eu permaneça em constante caminhar.

Diversas vezes, tive a intenção de parar, mas Você esteve ao meu lado.

Em alguns momentos, senti o peso, nas costas, das dificuldades nos apresentadas para

crescermos, e Você estava lá.

Obrigado meu Pai, primeiramente ao Senhor, por estar tão presente em minha vida,

que a todo momento em que penso em parar, o Senhor me diz: prossegue meu filho, eu estou

aqui.

Agradeço a minha família, tias, tios, irmãos, irmãs, primos e primas, mesmo que

distante, sempre confiaram seu amor, carinho e crença em meu potencial. Não sei o que seria

de mim sem as pessoas fantásticas que compõe minha família.

Meu pai Rondon, minha mãe Neusa, meu avô Jose Daniel e a minha avó Dona Branca.

Vocês são combustível para minha vida. Obrigado!

Obrigado filho, por você ter me motivado a percorrer novos caminhos e novos

horizontes, além de me dar novos motivos para caminhar... para voar.

Outra grande família, essa escolhida, são os amigos que escolhemos ao longo de nossa

caminhada. Os amigos são tesouro que nos fortalecem nos principais momentos de nossa

vida.

Obrigado a você, Regina, minha amiga e minha irmã, por ter me oportunizado este

trabalho, e me dado tanta força ao longo do caminho, que fizemos juntos e juntos

permanecemos nessa jornada.

Obrigado a você João Junior, por ter me possibilitado um olhar diferente do meu

trabalho em diversos momentos, com suas pontuações pertinentes e riquíssimas em críticas.

O grande problema em se agradecer nominalmente é a possibilidade de se esquecer de

pessoas que são fundamentais para mim. Espero que o meu carinho e apreço, mesmo que aqui

não expressos diretamente, chegue até o coração das pessoas que a mim, são caras.

Aos meus amigos do mestrado, obrigado pelo apoio e carinho. Vocês foram essenciais

para a realização dessa conquista.

E, possivelmente, nada disso seria possível, se uma grande professora não me desse a

chance de conviver com ela e aprender com toda sua experiência e competência.

Profa. Clélia, lembro ainda do dia em que aceitou meu pedido para ser minha

orientadora. Lembro com muito carinho, de sua primeira orientação... sentados em uma mesa

de bar, escrito em um papel de guardanapo, em uma noite muito feliz em São Luiz – MA,

o tema de nossa dissertação.

Obrigado pelos momentos dedicados a mim, com tanto capricho e carinho. Aos dias

de orientação, dias inteiros de leitura e conversa sobre um assunto que para senhora seria,

também, um desafio.

Obrigado por confiar em mim, querida professora!

Agradeço igualmente a todos os professores do programa de mestrado da UCB. Vocês

são simplesmente maravilhosos. Tenho em mim o quão importante para minha formação

como profissional, e em especial, como pessoa vocês se tornaram para mim.

Com igual gratidão, agradeço aos membros da banca, que fazem parte dessa vitória, e

com suas contribuições e ponderações enriqueceram sobremaneira a pesquisa.

Obrigado querida profa. Jacira Câmara e caríssimo prof. Éder Henriqson por aceitarem

em fazer parte dessa conquista.

Page 7: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

vii

Obrigado a todos os profissionais envolvidos nesta pesquisa. Agradeço pela atenção,

pela disponibilidade, pela confiança e pelo tempo cedido para este trabalho.

Sozinhos não somos ninguém. Sou rico por ter pessoas tão maravilhosas ao meu lado.

Obrigado, mais uma vez, meu Deus, por me dar a possibilidade de viver uma vida repleta de

desafios, de alegrias e tristezas e, ao mesmo tempo, ter a companhia de anjos do Senhor ao

meu lado.

Obrigado. Obrigado. Obrigado.

Page 8: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

viii

“As coisas são mais belas quando vistas de

cima”

(Santos Dumont)

Quando você chega ao limite de toda luz que

você conhece, e está a ponto de dar um passo

na escuridão, FÉ é saber que uma dessas

coisas vai acontecer: vai haver chão, ou você

vai ser ensinado a voar.

(Richard Bach)

Page 9: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

ix

RESUMO

RONDON, Mario Henrique Dorileo de Freitas Rondon. A formação e o exercício

profissional de piloto da aviação civil: uma política em questão. Brasília. 2012. 203 fls.

Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2012.

Na busca pela eficiência, por mais economia e maior segurança, a indústria aeronáutica, bem

como todo o setor aéreo, entra em uma fase de elevada, progressiva e inevitável modernização

de seus equipamentos. Sistemas de controle de tráfego e de gerenciamento de voo,

tecnologicamente avançados, fazem cada vez mais parte das rotinas operacionais dos

profissionais do setor aéreo. As novas perspectivas alavancam a utilização de aeronaves

tecnologicamente avançadas (TAA) e exigem de pilotos novas competências para o uso dessa

automação. Diferentes tipos de automação, em seus diferentes níveis, estão requerendo

formas diversificadas de interação do homem com a máquina e, com isso, exigem novas

perspectivas do processo de ensino-aprendizagem para esses pilotos. O suporte

epistemológico educacional voltado para uma formação tida como tradicional, com conteúdos

desconectados e sem a manutenção de um processo interdisciplinar na formação do piloto,

não mais responde às expectativas sociotécnicas requeridas para o setor aeronáutico. Não

adianta, da mesma forma, elaborar uma Política com conceitos amplos, complexos e

modernos, se não se viabiliza a operacionalidade de suas propostas. O engessamento do

processo de atualização da formação do piloto dificulta a resposta desse profissional às novas

exigências do mercado. Um novo paradigma educacional merece atenção para a formação

desse piloto. Na possibilidade de existirem, atualmente, novas competências para se atuar

como piloto, as políticas de formação respondem eficazmente a essas novas exigências? Ao

analisarmos o arcabouço teórico e compará-lo com as percepções dos agentes envolvidos no

processo de formação do piloto, percebe-se que o processo que orienta a formação de pilotos

no Brasil encontra-se defasado e obsoleto. Uma Política de Estado se faz necessária para a

restauração de um processo formativo mais adequado à nova realidade que, inevitavelmente,

apresentar-se-á ainda mais complexa na próxima década.

Palavras-chave: Automação. Política. Formação.

Page 10: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

x

ABSTRACT

In pursuit of efficiency, for more economy and greater security, aviation industry, as well as

the entire airline industry, enters a phase of high, progressive and inevitable modernization of

their equipment. Traffic control systems and flight management, technologically advanced,

are increasingly part of the routine operations of the airline industry professionals. New

perspectives leverage the use of technologically advanced aircraft (TAA) and require new

skills to pilot the use of automation. Different types of automation at different levels are

calling for diversified form of human interaction with machine and thereby requiring new

perspective on the teaching-learning process for these pilots. Support education facing an

epistemological formation seen as ‘traditional’, with content and disconnects without

maintaining an interdisciplinary process in the formation of the pilot, no longer meets the

expectations socio-technical requirements for the aeronautical sector. There´s no point in the

same way, develop a policy with broad concepts, complex and modern, if not to enable the

operation of their proposals, the inflexibility of the updates process of the pilot training

hinders the response of work ahead to new market requirements. A new educational

paradigm deserves attention for the formation of this pilot. The possibility that there are

currently new skills to act as pilot training policies responds effectively to these new

requirements? By analyzing the whole theoretical framework and compare it with the

perceptions of those involved in the pilot training process, it is clear that the process that

guides the training of pilots in Brazil is outdated and obsolete. A state policy is needed for the

restoration of training process to fit the new reality, which inevitably will be far more

complex over the next decade.

Keywords: Automation. Policy. Formation.

Page 11: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

xi

LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS

ADF – Automatic Direction Finder

ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil

AOPA – Aircraft Owners and Pilots Association

CANSO – Civil Air Navigation Service organization

CENIPA – Centro de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos

CONAC – Conselho Nacional de Aviação Civil

DAC – Departamento de Aviação Civil

DECEA – Departamento de controle do espaço aéreo

DME - Distance Measuring Equipament

EGPWS - Enhanced Ground Proximity Warning System

FAA – Federal Aviation Administration

FMS – Flight management system

FMC – Flight management computer

GPS – Global position system

GPWS – Ground Proximity Warning System

IAC – Instrução da aviação civil

ICAO – International Civil Aviation Organization

IFATCA – International Federation od Air Traffic Controller´s

IFR – Instrument flight rules ou regras de voo instrumento

INVA – Instrutor de voo de avião

INSPAC – Inspetor da aviação civil

MCA – Manual de curso da aviação

MCDU – Multifunction computer display unit

MMA – Manual do Ministério da Aeronáutica

MPL – Multi-crew Pilot Licence (Licença de Piloto de Tripulação Múltipla)

NTSB – National Transportation Safety Board

OACI – Organização da aviação civil internacional

PC – Piloto comercial

PFD – Visor Primário de Voo ou Primary Flight Display.

PLA – Piloto de Linha Aérea

PNAC – Política Nacional de Aviação Civil

PP – Piloto privado

RBHA – Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica

RBCA – Regulamento Brasileiro de Aviação Civil

SAC – Secretaria de Aviação Civil

VOR - Very high-frequency Omnidirectional Ranger

VFR – Visual flight rules (regras de voo visual)

TAA – Technically or technlogically advaced aircraft (aeronaves tecnicamente ou

tecnologicamente avançadas)

TCAS - Traffic Collision Avoidance System (Sistema Anticolisão de Tráfego)

Page 12: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

xii

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Cabine de aeronave convencional/Analógico. .................................................... 51

Figura 2 - Imagem da cabine de voo da aeronave Boeing 777 ............................................ 52

Figura 3 - Cabines da aeronave Airbus A380 ...................................................................... 52

Figura 4 - Cabine da aeronave King Air C-90. .................................................................... 53

Figura 5 - Atuação do equilíbrio no uso entre as funções cognitivas e manuais ................. 56

Figura 6 - Evolução da automação nas aeronaves de transporte .......................................... 60

Figura 7 - Estágios de dependência homem-máquina ......................................................... 61

Figura 8 - Elementos que integram um sistema cognitivo de engenharia. .......................... 65

Figura 9 - Importantes fatores que afetam a complexidade nos modernos sistemas ........... 70

Figura 10 - Metáfora do rio .................................................................................................... 72

Figura 11 - Ciclo de complexidade autoreforçado ................................................................. 80

Figura 12 - cabine de aeronave com instrumentos analógicos. ............................................ 124

Figura 13 - Primary Fligh Display (PFD) ............................................................................ 125

Page 13: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

xiii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Resumo da evolução tecnológica das aeronaves ................................................. 57

Quadro 2 - Características para as diferentes graduações da formação de um piloto ........... 94

Quadro 3 - Análise de categorias da entrevista com as empresas aéreas ............................ 112

Quadro 4 - Análise de categorias da entrevista com os pilotos. .......................................... 121

Page 14: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

xiv

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15

JUSTIFICATIVA ................................................................................................................... 19

CAPÍTULO 1 SOBRE A PESQUISA .............................................................................. 23

1.1 SITUAÇÃO PROBLEMA .............................................................................................. 23

1.2 PRESSUPOSTOS ........................................................................................................... 26

1.3 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 26

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................................... 26

CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................... 28

2.1 SISTEMA DE AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRO E A FORMAÇÃO DO PILOTO ..... 28

2.1.1 Sistema de aviação civil brasileiro e a formação do piloto ........................................ 28

2.1.2 Secretaria de Aviação Civil - SAC ............................................................................... 29

2.1.3 Conselho Nacional de Aviação Civil (CONAC) ......................................................... 31

2.1.4 Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) ............................................................... 32

2.1.4.1 ANAC e a formação do piloto .................................................................................... 34

2.1.4.2 Regulamentos Brasileiros de Homologação Aeronáutica (RBHA) e Regulamentos

Brasileiros de Aviação Civil (RBAC) ...................................................................................... 36

2.1.4.3 Manuais de cursos ...................................................................................................... 37

2.2 REFORMULAÇÃO DO RBHA 61 – A MPL E A FORMAÇÃO DOS PILOTOS ...... 40

2.3 A POLÍTICA DE FORMAÇÃO DO PILOTO NO BRASIL ......................................... 41

2.4 A FORMAÇÃO DO PILOTO E O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – MEC .............. 44

2.5 PRÓXIMA GERAÇÃO DA AVIAÇÃO PROFISSIONAL .......................................... 45

2.6 COMPETÊNCIAS: DEFINIÇÕES E PARTICULARIDADES .................................... 46

2.6.1 Competências – habilidade, conhecimentos e atitudes – no uso da automação ...... 49

2.7 AUTOMAÇÃO: DEFINIÇÕES E NOVAS DEMANDAS ........................................... 51

2.7.1 Novas perspectivas para o sistema aéreo .................................................................... 51

2.7.2 Aeronaves tecnologicamente/tecnicamente avançadas: o conceito de TAA

(technically/technologically advanced aircraft) ..................................................................... 55

2.8 AUTOMAÇÃO: DEFINIÇÃO, NÍVEIS E NECESSIDADES ...................................... 58

2.8.1 Níveis de automação ...................................................................................................... 60

2.8.2 Interação homem-máquina: mudando o paradigma ................................................. 64

Page 15: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

xv

2.9 REFLEXÕES SOBRE AUTOMAÇÃO E A NECESSIDADE DE NOVAS

COMPETÊNCIAS ................................................................................................................... 67

2.9.1 O ‘controle do sistema’ como ferramenta essencial ................................................... 67

2.9.2 O ‘controle cognitivo’ para os sistemas tecnologicamente avançados ..................... 73

2.9.3 Novas competências para um efetivo ‘controle cognitivo’ ........................................ 74

2.9.4 Novas demandas curriculares ...................................................................................... 78

CAPÍTULO 3 COMPONENTES METODOLÓGICOS ................................................ 82

3.1 REFERENCIAL METODOLÓGICO ............................................................................ 82

3.1.1 Complexidade como componente metodológico ......................................................... 84

3.2 SOBRE A MODELAGEM DA PESQUISA E A GERAÇÃO DE DADOS ................. 86

3.2.1 As ferramentas da pesquisa.......................................................................................... 86

3.2.2 Tratamento dos Dados .................................................................................................. 89

CAPÍTULO 4 ANÁLISES E DISCUSSÃO ..................................................................... 91

4.1 ANÁLISE DOCUMENTAL DOS COMPONENTES CURRICULARES DA

FORMAÇÃO DO PILOTO ..................................................................................................... 91

4.2 A POLÍTICA DE FORMAÇÃO DO PILOTO E OS AGENTES DO SISTEMA DE

AVIAÇÃO CIVIL – ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ........................................................ 103

4.2.1 A política de formação e as empresas aéreas ............................................................ 105

4.2.2 A política de formação e os pilotos ............................................................................ 112

4.2.3 A formação de pilotos e os coordenadores de curso................................................. 121

4.2.4 A política de formação e os representantes do governo........................................... 130

4.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO POR COMPETÊNCIA: ALGO NOVO

OU UM VELHO ARRUMADO? .......................................................................................... 137

CAPÍTULO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 141

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 145

APÊNDICES ......................................................................................................................... 155

ANEXOS ............................................................................................................................... 167

ANEXO I - REGIMENTO SECRETARIA DE AVIAÇÃO CIVIL ...................................... 168

ANEXO II - RESOLUÇÃO Nº 11/2007 DO CONAC .......................................................... 171

ANEXO III - DECRETO Nº 6.780, DE 18 DE FEVEREIRO DE 2009 ............................... 174

ANEXO IV - MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PILOTO PRIVADO AVIÃO – PP-A .. 189

ANEXO V - MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PILOTO PRIVADO

HELICÓPTERO – PP-H ........................................................................................................ 190

ANEXO VI - MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PILOTO COMERCIAL AVIÃO – PC-A191

Page 16: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

xvi

ANEXO VII - MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PILOTO COMERCIAL

HELICÓPTERO – PC-H ........................................................................................................ 192

ANEXO VIII - MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PILOTO DE LINHA AÉREA –

PLA-A .............................................................................................................................. 193

ANEXO IX - MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PILOTO DE LINHA AÉREA

HELICÓPTERO – PLA-H ..................................................................................................... 194

ANEXO X - DESCRIÇÃO DA UNIDADE 4 DO MÓDULO II DO CURSO DE PILOTO DE

LINHA AÉREA AVIÃO – PLA-A ........................................................................................ 195

ANEXO XI - DESCRIÇÃO DA UNIDADE 4 DO MÓDULO II DO CURSO DE PILOTO

DE LINHA AÉREA HELICÓPTERO – PLA-H ................................................................... 200

GLOSSÁRIO .......................................................................................................................... 203

Page 17: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

15

INTRODUÇÃO

A aviação brasileira vem apresentando expressivo crescimento, de acordo com dados

apresentados pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Na contramão desse

crescimento, faltam profissionais qualificados dispostos a seguir carreira, seja no chão ou nos

ares, de acordo com especialistas do setor aéreo (dado identificado pelas entrevistas com as

empresas aéreas).

No tocante à qualificação dos profissionais, a FAA alerta para o número de incidentes

e acidentes aeronáuticos que têm como fator/causa/sintoma o denominado ‘FATOR

HUMANO’ (FAA, 1996, grifo nosso).

Dekker, Dahlstrom e Nahlinder (2006), entretanto, propõem uma avaliação do conceito

de fator humano no que se refere à participação dos operadores/pilotos nos acidentes e

incidentes aeronáuticos e uma modificação na percepção da sensação de segurança

estabelecidas pelos sistemas tecnológicos.

Um dos pontos importante ressaltados por Dekker, Dahlstrom e Nahlinder (2006) é a

questão do preparo desses profissionais para terem condições ideais para interagir com os

modernos equipamentos presentes nas cabines de voo das aeronaves de transporte.

Dentre todos os pontos de intersecção, quando de uma investigação de incidentes e/ou

acidentes aéreo, como, por exemplo, a cultura organizacional, a filosofia de uso da

automação, o conceito e operacionalização de gerenciamento de risco da empresa, o desenho

para interface dos equipamentos de voo com o piloto, o treinamento é um fator primordial e

relevante no tocante ao fator humano.

Este trabalho não tem a intenção de adentrar nos conceitos ligados ao fator humano

para os modernos sistemas de gerenciamento operacional de segurança. Entretanto, faz-se

fundamental a modificação na percepção da presença do fator humano como causador

principal de incidentes e/ou acidentes aeronáuticos.

Para Dekker, Dahlstrom e Nahlinder (2006), o erro humano é um sintoma das falhas

latentes dentro dos diversos sistemas altamente avançados. E, ao contrário do que se

propunha, a segurança não é um elemento inerente aos sistemas tecnológicos, e os

responsáveis por ‘criarem’ um momento de segurança são os pilotos.

A Federal Aviation Administration (FAA, 1996), examinando as causas ou possíveis

fatores que resultaram em incidentes ou acidentes aeronáuticos, reconheceu a necessidade de

se observar, atentamente, a forma como uma tripulação interpretou ou compreendeu

Page 18: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

16

determinada situação não usual1 e de emergência, e entendeu como fatores contribuintes,

dentre alguns, o desenho das cabines de voo, a qualificação e o treinamento da tripulação.

Como apontam Vieira, Silva e Mattos (2009), o Fator Humano compreende o homem

sob o ponto de vista biológico em seus aspectos fisiológicos e psicológicos. Como resultado

de diversas investigações de acidentes e incidentes aeronáuticos, entre 65% a 80% dos

acidentes têm como fator principal o fator humano (FAA, 1996; BILLINGS, 1997).

Das evidências extraídas do estudo realizado pela FAA, algumas preocupações são

apontadas, dentre elas, a compreensão de que os pilotos devem ter dos diversos sistemas

automatizados nas cabines de voo, bem como o conhecimento dos limites, modos de uso,

princípios e técnicas de operação dos sistemas modernos.

É frequente, nos estudos que abordam a interação dos pilotos com a máquina,

encontrar a expressão “surpresas da automação” (SARTER, WOODS e BILLINGS, 1997)

que, em determinados casos, demonstram a inaptidão dos pilotos quando de ações realizadas

pela máquina e não esperadas por estes.

Perguntas como: Por que o avião está fazendo isso? O que ele (o avião) está fazendo

agora? O que ele (o avião) vai fazer? São questões frequentes expressas por equipes de pilotos

com determinada experiência operacional (FAA, 1996).

Como afirmado, as ‘surpresas’ geradas pelos complexos sistemas tecnológicos podem

ser encaradas como sendo uma das consequências da formação não adequada dos pilotos.

Entretanto, um ponto igualmente importante a destacar, é a compreender de que a própria

complexidade dos sistemas de controle e a não padronização dos elemtnos pela indústria

aeronáutica pode vir a se tornar um fator contribuinte na ocorrência de acidentes e/ou

incidentes aeronáuticos.

Com o intuito de se discutir o processo de formação dos pilotos no Brasil, dando

ênfase a questões ligadas aos cursos de pilotos, serão abordados, neste trabalho, temas ligados

à automação, definições e novas demandas curriculares, ao processo de desenvolvimento de

competências essenciais aos modernos sistemas cognitivos e à apresentação da Política de

formação no Brasil, bem como a operacionalização de suas diretrizes.

Para isto, esta dissertação será dividida em cinco Capítulos. O Capítulo 1 refere-se aos

componentes da pesquisa. No qual serão apresentados a situação problema, os pressupostos e

os objetivos geral e específicos. O Capíluto 2 dedica-se à fundamentação teórica. O Capítulo

1Situações não usuais é como são chamados os momentos que, embora não representem uma emergência, não

condizem com a operação normal ou de rotina enfrentada pelos pilotos. Tradução do que em inglês se reconhece

como non normal situations.

Page 19: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

17

3 trata dos componentes metodológicos que orientaram a condução do trabalho. O Capítulo 4

apresentará os resultados e as análises da pesquisa. O Capítulo 5 tecerá algumas

considerações finais.

No Capítulo 2 é apresentada a nova estrutura do sistema aéreo no Brasil e como se

organiza o processo legal para formação do piloto. Apresenta, ainda, a Secretaria de Aviação

Civil (SAC), com status de Ministério, criada em agosto de 2011, a qual estabelece uma nova

relação dos órgãos de controle e fiscalização do setor.

Cabe ressaltar, neste momento, a diferença para o trabalho dos seguintes termos:

comunidade aeronáutica, sistema aeronáutico, setor aeronáutico, Autoridade Aeronáutica e

Autoridade da Aviação Civil.

Para a finalidade desta dissertação, comunidade aeronáutica será entendida como

sendo o conjunto de pessoas que trabalham no setor aeronáutico, bem como aqueles que

fazem uso dos serviços do setor, os passageiros.

Quando se tratar de sistema aeronáutico, entender-se-á como o serviço aeronáutico

propriamente dito, que engloba empresas, tripulantes, controladores e infraestrutura

aeroportuária, somando a esta a estrutura de controle das operações aéreas.

Neste trabalho, quando for considerado o setor aeronáutico, acrescentar-se-á uma

conotação econômica no sistema, e tratar-se-á de questões ligadas ao desenvolvimento

econômico do setor.

Por Autoridade Aeronáutica, com a criação da Agência Nacional de Aviação Civil

(ANAC), a ser apresentada no Capítulo 2, entende-se apenas aos órgãos militares da Força

Aérea que regulam os diversos serviços do setor.

Como Autoridade da Aviação Civil entende-se, por fim, as autoridades civis que

fiscalizam e regulam o setor da aviação civil, como exemplo a SAC e a ANAC.

Serão apresentadas, ainda, algumas definições e novas demandas da automação no

sistema da aviação civil, bem como os níveis de automação e a necessidade de se desenvolver

um novo paradigma para a integração homem-máquina.

O Capítulo 2 fará uma reflexão sobre a necessidade de novas competências para o uso

dessa automação cada vez mais presentes nos serviços aéreos. Serão discutidas novas

demandas curriculares e a existência de competências para o uso dessa automação.

O Capítulo 3 apresenta a modelagem metodológica e os elementos da pesquisa e como

se processou a análise dos dados gerados, para que dessa forma pudessem ser analisados e

apresentados os resultados do trabalho.

Page 20: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

18

O Capítulo 4 fará uma análise dos componentes curriculares da formação do piloto com

o auxílio das ‘grades curriculares’ propostas pelos documentos da ANAC. Bem como, serão

apresentados os resultados gerados pelas entrevistas com diversos agentes do sistema de

aviação civil, órgãos do governo, empresas aéreas, coordenadores de curso e pilotos.

Com isso, pretende-se realizar uma análise das políticas de formação dos pilotos no

Brasil, frente à demanda gerada pelo uso contínuo e progressivo da automação nas cabines de

voo das modernas aeronaves.

Page 21: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

19

JUSTIFICATIVA

Diante de acontecimentos trágicos, nos últimos anos, amplamente divulgados pela

mídia e da cobrança da sociedade por um serviço de transporte aéreo pautado na segurança de

voo e no respeito aos direitos dos consumidores, as Autoridades de Aviação Civil vêm

tomando uma postura de reconfiguração dos serviços aéreos, modernizando o setor com o

intuito de ampliar os níveis de segurança nas operações aéreas (CARVALHO, 2011).

Em apenas poucos anos, como aponta o estudo realizado pela National Transportation

Safety Board – NTSB (2010), a cabine de voo dos aviões teve uma considerável transição na

tecnologia em que são baseados o controle e o gerenciamento de um voo. Inicialmente, os

aviões tinham, em seu cockpit, aviônicos tidos como convencionais, os instrumentos de voo

analógicos, e atualmente, as aeronaves modernas, chamadas hoje de aeronaves glasscockpit,

possuem instrumentos digitais e todo um sistema integrado de gerenciamento do voo.

Esses instrumentos, ou displays eletrônico-digitais, integram todas as informações

referentes ao voo; controlam a aeronave, o piloto automático, a comunicação, a navegação e o

sistema de verificação dessas informações.

São várias as vantagens com a introdução da automação no setor aeronáutico. Dentre

elas podem-se citar a vantagem econômica, proporcionada pela redução no consumo de

combustível e ainda na diminuição nas rotas de navegação; proporciona maior segurança com

a preocupação de diminuir possíveis falhas humanas, tendo a intenção de reduzir a carga de

trabalho dos pilotos, ainda que estudos apontem para o fato de que, em determinados

momentos, em especial nos mais críticos – pousos e decolagens – a carga de trabalho até

aumente (ICAO, 1998; FAA, 1996).

Essas novas características provocadas pela introdução de tecnologias avançadas no

setor, como aponta estudo realizado pela Federal Aviation Administration – Human Factors

Team (FAA, 1996), trazem a necessidade de novas competências aos pilotos. Portanto, não

apenas as empresas, compreendidas aqui como o mercado de trabalho, mas também o

ambiente de trabalho, os complexos sistemas sociotécnicos exigem novas competências

desses profissionais.

Essas novas características que o setor apresenta, ocasionadas com a introdução

progressiva de complexas tecnologias nas cabines de voo, exigem do piloto novas habilidades

e ainda, como apontam Sacomano Neto, Nakamura e Escrivão Filho (200-), capacidade de

resolver problemas com flexibilidade e adaptabilidade diante dos desafios organizacionais;

Page 22: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

20

capacidade de lidar com modelos inovadores de gestão; capacidade de atuar em equipes

interdisciplinares e de comunicação interpessoal; capacidade de interagir criativamente em

diferentes contextos organizacionais e sociais; capacidade de compreender a organização

como um todo e de suas relações com o ambiente; e, por fim, muito importante, a capacidade

de “relacionar-se” com os dados apresentados pelos computadores que administram e

controlam o voo nas aeronaves modernas.

É relevante analisar se a formação de pilotos nos cursos de aviação civil, no Brasil,

formação prevista pela Política Nacional de Aviação Civil – PNAC, e orientada por diversos

documentos como apresentados no Capítulo 2, tem atendido às expectativas de um mercado

de trabalho em contínua transformação tecnológica.

É importante verificar se a formação proposta no desenho curricular atual propicia a

aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes, enfim de competências adequadas à

realização de um trabalho eficiente, eficaz, seguro e transformador, no tocante às exigências

atuais da sociedade.

Atualmente, os pilotos devem não apenas conhecer aspectos técnicos ligados a sua

profissão, mas também aspectos relacionados a pontos básicos do comportamento e

características dos fatores humanos e sua relação com a profissão de piloto. Pede-se que os

pilotos reconheçam suas particularidades e suas limitações, bem como se percebam como

parte integrante de um grupo, de uma tripulação (ORLANDY, 1994).

Orlandy (1994) afirma, ainda, que os pilotos necessitam entender de gerenciamento

comportamental e possuir habilidades gerenciais para lidar com os mais diversos e avançados

sistemas.

Cabe salientar, neste ponto, o termo fator humano para aviação. As investigações de

acidentes e incidentes aeronáuticos têm apontados como um dos principais fatores nas causas

dos acidentes o fator humano (BILLINGS, 1997).

Considerando o homem mais como um sintoma em um acidente que propriamente

causa ou fator, como exploram Dekker, Dahlstrom e Nahlinder (2006), as investigações de

acidentes, incidentes e/ou mesmo de ocorrências de solo são concentradas basicamente nos

denominados fatores contribuintes (BRASIL, 2009d). Fator contribuinte é uma, de acordo

com Brasil (2009d, p.23):

[...] condição (ato, fato ou uma combinação deles) que, aliada a outras condições, em sequência

ou como consequência, conduz à ocorrência de um acidente aeronáutico, de um incidente

aeronáutico ou de uma ocorrência de solo, ou que contribui para o agravamento de suas

consequências.

Page 23: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

21

Os fatores contribuintes classificam-se de acordo com a área de abordagem da

segurança operacional que a depender da ênfase dada pode ser denominada de FATORES

HUMANOS (FH) ou de FATORES MATERIAIS (FM) (BRASIL, 2009d).

Os fatores materiais (FM) referem-se à aeronave, incluindo seus componentes, e

equipamentos e sistemas de tecnologia da informação empregados no controle do espaço

aéreo, nos seus aspectos de projeto, de fabricação, de manuseio do material e de falhas não

relacionadas à serviço de manutenção.

Os fatores humanos (FH) dizem respeito ao complexo biológico do ser humano e que

compreende aspectos médicos, psicológicos e operacionais.

Cabe destacar que tais aspectos abrangem áreas que traduzem a complexidade que

envolve o ambiente dos profissionais da aviação. Apontam variáveis psicossociais ou

organizacionais no desempenho psíquico, como também aspectos ligados ao desempenho do

ser humano nas atividades diretamente afetas às operações aéreas (BRASIL, 2009d).

A formação e a qualificação do fator humano adequados são fundamentais para a

manutenção da segurança na aviação, uma vez verificada a abrangente área de conhecimento

que permeia o ambiente do piloto (VIEIRA, SILVA e MATTOS, 2009).

Para Vieira, Silva e Mattos (2009, p. 6), um bom comandante de aeronave, para que

exerça sua profissão de forma segura e profissional, necessita utilizar em seu dia a dia uma

gama de conhecimentos extraídos de inúmeros ramos de diferentes ciências: “aerodinâmica,

ciência dos materiais, termodinâmica, psicologia, administração, direito, fisiologia, medicina,

nutrição, eletrônica, informática, meteorologia, cartografia, geografia, linguística, didática,

teoria dos sistemas e cibernética, entre outros”.

O autor afirma ainda que a conjunção de todos esses conhecimentos não é suficiente

para formar um competente piloto, existem outros pontos “relativos à aeronáutica, à aviação,

à pilotagem e ao gerenciamento do tráfego aéreo, imprescindíveis para a condução segura dos

voos” (VIEIRA, SILVA e MATTOS, 2009, p. 6).

A realidade do setor aeronáutico mudou, e com ela, as necessidades para se exercer tal

profissão. Antes, o que bastava era um paradigma analógico (HENRIQSON; CARIM e

GAMERMANN, 2011) no qual exigiam-se habilidades apenas técnicas que já não mais

atendem a um paradigma digital, no qual as necessidades de gerenciamento de recursos

humanos e de sistemas apresentam-se essenciais.

Urge, pois, analisar a eficiência das políticas na formação de um profissional que tem

grande responsabilidade na preservação de vidas humanas. Este estudo oportuniza identificar

nas políticas de formação/capacitação parâmetros de garantia de que os egressos de cursos de

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22

pilotagem, de cunho teórico e/ou prático, sejam formados com competências adequadas à

complexidade da profissão, que envolve diferentes aspectos tecnológicos, humanos,

gerenciais, políticos, entre outros.

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CAPÍTULO 1 SOBRE A PESQUISA

1.1 SITUAÇÃO PROBLEMA

O estudo da National Transportation Safety Board – NTSB (2010) verificou que nos

acidentes envolvendo aeronaves tecnologicamente avançadas – TAA, dotadas com as cabines

comumente conhecidas como glasscockpit, pilotadas por pilotos com formação e treinamento

para operar apenas aeronaves equipadas com instrumentos ou aviônicos convencionais, estes

pilotos não estavam adequadamente preparados para operar, com segurança, os complexos e

variados sistemas instalados nas aeronaves.

Outrossim, a falta de habilidade para interpretar informações advindas dos sistemas de

controle dos aviões glasscockpit podem resultar em incompreensão ou em incorreta

interpretação de um evento como falha do sistema, com consequências desastrosas.

Com o advento da automação, tendo como foco a segurança de voo e a economia das

operações aéreas, questiona-se a eficácia e a eficiência das políticas em curso no setor.

Indaga-se se essas políticas de formação promovem adequadamente as competências

necessárias à qualificação e interação dos pilotos com os sistemas automáticos de voo.

Estudo realizado pela Federal Aviation Administration – Human Factors Team (FAA,

1996) mostra que, segundo estatísticas, os pilotos são os principais responsáveis em mais de

60% dos acidentes aéreos.

Pode-se entender por política de formação, todos os documentos que abordam

orientações e diretrizes políticas que orientam, direcionam e legislam sobre os componentes

básicos de formação de um piloto como exposto no Capítulo 2.

Segundo NTBS (2010) e a ICAO (1998), a introdução de modelos que automatizaram

tarefas de pilotagem tem reduzido ou eliminado vários tipos de erros dos pilotos. Entretanto,

outros tipos de erros foram introduzidos. Numerosos acidentes e incidentes têm enfatizado as

contínuas dificuldades da interação dos pilotos com o painel automatizado. Outros

indicadores de problemas potenciais de segurança são o treinamento e as dificuldades

operacionais.

O estudo realizado pela NTSB (2010) aponta que, com a introdução de novas

tecnologias, a Federal Aviation Adminstration – FAA e os construtores de aeronaves

anteciparam a necessidade de promover treinamento específico para a transição dos pilotos

nas operações em aeronaves com displays digitais (Digital Flight Displays), ou por conceito,

Page 26: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

24

pilotos de aeronave de cabine com desenho glasscockpit, ou ainda, como definido neste

trabalho, aeronaves TAA.

Em 26 de abril de 1994, o acidente do Airbus A300-600 em Nagoya, Japão, operado

pela China Airlines, matando 264 passageiros e tripulantes, e o acidente de 20 de dezembro de

1995, do Boeing 757, da American Airlines, em Cali, Colômbia, tendo como contribuintes

principais o conflito de ação dos pilotos com a automação das aeronaves, aumentaram o nível

de atenção para a necessidade de interação dos pilotos com os sistemas computadorizados dos

aviões (FAA, 1996).

Em 2001, um estudo conduzido pelo Laboratório de Pesquisas Médicas do Exército

dos Estados Unidos, como aponta o estudo realizado pela NTSB (2010), verificou como a

mudança para aeronaves computadorizadas, ou glasscockpit, afetam a segurança nas

operações aéreas.

O estudo analisou a razão de acidentes ocorridos com 4 tipos de helicópteros que

utilizavam instrumentos convencionais e cabine com automação. os resultado apontaram que

os pilotos preferem voar em aeronaves computadorizadas, pelo design e também pela

segurança apresentados. Entretanto, consideraram que o conhecimento necessário para

operação em aeronaves mais modernas faz com que a execução das ações se torne mais difícil

em virtude de esse tipo de conceito de aeronave requisitar do piloto um trabalho cognitivo

maior que o necessário para aeronaves convencionais.

BILLINGS e REYNARD (1984 apud RIBEIRO, 2008) afirmam que, nos 62% dos

acidentes registrados pela Boeing Co. ‘causados’ por erros humanos, muitos dos fatores

contribuintes existem em virtude de operações indevidas dos equipamentos. A falta de

conhecimento, por parte dos pilotos, das peculiaridades na operação por meio das novas

tecnologias, segundo os autores, constitue-se fator fundamental para o alto índice da presença

do fator humano nos acidentes aéreos.

Ribeiro (2008) aponta na mesma direção, quando afirma que estudos similares

indicam que 86% dos incidentes aéreos são decorrentes da soma de erros da tripulação técnica

e dos controladores de Tráfego Aéreo. Portanto, cabe a afirmação de Reason (1990) de que a

automação não eliminou o erro humano, mas mudou apenas a sua natureza.

Pode-se ainda questionar a presença do fator humano ou a inadequação do uso do

termo – fator humano - em acidentes e incidentes envolvendo a automação e o homem, uma

vez que, como analisam Dekker, Dahlstrom e Nahlinder (2006), diversos podem ser os

fatores/causas/sintomas que levam a ocorrência de um incidente ou acidente aeronáutico.

Page 27: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

25

Como aponta a ICAO (1998) e FAA (2011), a perspectiva é de que, por diferentes

razões, sejam elas econômicas (economia de combustível para as empresa aéreas e maior

precisão nas rotas de navegação com emprego da tecnologia), sejam por razões de segurança

(diminuição de erros nas operações aéreas) ou ainda por razões sócio ambientais (queima de

menos combustível, consequentemente menor emissão de gases na atmosfera). Nesse sentido,

o uso de complexos sistemas tecnológicos é estimulado, uma vez que busca, em tese,

promover melhora nas condições de trabalho.

Entretanto, com pouca ou muita automação, o fator humano continua sendo

fundamental para assegurar a manutenção das operações, em especial, nos momentos não

previstos pela tecnologia.

Cabe, pois, reforçar a ideia de uma automação centrada no homem, com preocupações

voltadas tanto para o desenho das cabines de voo em aeronaves tecnologicamente avançadas

quanto para o treinamento dos pilotos para operação nessas cabines, a fim de promover uma

melhor relação entre ambos e com isso possa se tornar e manter positivo o binômio

automação versus segurança.

A FAA (2003) afirma que os métodos que atualmente orientam a formação e o

treinamento dos pilotos são inadequados e não promovem o desenvolvimento de

competências necessárias para operar uma aeronave com todas as habilidades que se fazem

necessárias.

Tal estudo aponta que a formação tradicional, na qual não eram previstos ambientes

das aeronaves de alto desempenho, com elevado uso da automação, não favorece o

desenvolvimento das habilidades cognitivas essenciais à condução de um voo com segurança

e total consciência situacional.

Por meio de uma abordagem qualitativa, procurou-se verificar se as políticas de

formação do piloto no Brasil têm propiciado o aprimoramento da formação desses

profissionais, frente aos avanços tecnológicos, que exigem competências específicas, bem

como às exigências humanísticas da profissão.

A ausência de políticas públicas que viabilizem uma adequada formação pode vir a ser

considerada fator contribuinte para a estabilidade ou elevação dos índices de acidentes e

incidentes “causados” pelo denominado fator humano, ou, ao menos, com elevada

participação desse elemento no sistema aéreo.

A questão basilar é se os pilotos, após completarem sua formação básica e cumprirem

os estágios de formação para PP, PC e PLA – propostos pelos documentos apresentados no

Page 28: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

26

Capítulo 2 – possuem competências suficientes e necessárias de forma a compreenderem a

operação dos diversos sistemas tecnológicos que compõe atualmente uma cabine de voo.

A aquisição dessas competências certamente contribui para a manutenção de uma

doutrina de segurança nas operações aéreas em um sistema cada vez mais automatizado e

‘complexo’ – entendendo-se por competências o conjunto formado pelas habilidades –

perceptuais, motoras e cognitivas – pelos conhecimentos (específicos e gerais) e pelas

atitudes.

Pode-se inferir que essas atitudes incluem aspectos emocionais fundamentais para a

formação de profissionais cuja atuação envolve oum elevado gerenciamento de risco para a

manutenção da segurança em atividade que um grande contigente humano (BRASIL, 2010).

1.2 PRESSUPOSTOS

As necessidades, no setor aeronáutico, requeridas atualmente dos pilotos, pelo

mercado de trabalho, sofreram significativas mudanças nos últimos 30 anos.

Os atuais sistemas sociotecnológicos para gerenciamento e controle do voo requerem

novas competências.

Existem políticas voltadas para uma adequada formação dos pilotos, entretanto de

eficácia questionável.

Para atuar no sistema da aviação civil atual, o piloto deve ser considerado mão-de-obra

qualificada.

1.3 OBJETIVO GERAL

Analisar a aplicação das políticas para a formação/capacitação de pilotos da Aviação

Civil, frente às novas exigências da automação e do mercado de trabalho.

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Identificar as competências exigidas dos pilotos, pelo mercado de trabalho do setor

aeronáutico, em virtude da automação nas modernas aeronaves.

b) Identificar se a política vigente para o setor aeronáutico civil é capaz de atender às

novas exigências oriundas da modernização dos equipamentos aéreos.

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27

c) Identificar nas diretrizes curriculares que orientam atualmente a formação do piloto,

elementos que atendam às exigências da modernização dos equipamentos aéreos.

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28

CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 SISTEMA DE AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRO E A FORMAÇÃO DO PILOTO

2.1.1 Sistema de aviação civil brasileiro e a formação do piloto

Os acidentes aeronáuticos ocorridos e amplamente divulgados pela mídia, nos últimos

anos, apontam para a necessidade de se observar os diversos elementos que compõem o

sistema de aviação, a fim de ser promovido um incremento na chamada doutrina de segurança

do voo importante para o setor da aviação civil.

O crescimento no setor aeronáutico aponta para maior demanda na profissão. Este

trabalho enfoca a necessidade de pilotos melhor qualificados em virtude do crescente

aprimoramento dos equipamentos envolvidos na atividade.

Cabe ao Poder Público, representado pelos Ministérios da Educação e do Trabalho,

“garantir a definição e aplicação de normas e critérios públicos que conciliem as aspirações

dos indivíduos e as necessidades coletivas” (MORAES e LOPES NETO, 2005, p.1437).

Para que seja possível alcançar uma sólida formação profissional e, dessa forma,

atender aos requisitos de qualidade, segurança e prestação de serviços em uma sociedade

competitiva, faz-se necessária a elaboração de uma política que oriente, de maneira eficaz e

eficiente, a formação profissional no sistema nacional de educação (MORAES e LOPES

NETO, 2005).

Para os autores, ainda é importante superar a dicotomia existente entre a

educação/certificação escolar e a formação/certificação profissional, dando possibilidade de

os candidatos/cidadãos adquirirem certificação profissional, reconhecimento social, bem

como ser possível melhor aproveitamento de seus conhecimentos para fins, tanto de

“continuidade de estudos e certificação escolar, quanto de inserção e progressão profissional”

(MORAES e LOPES NETO, 2005, p. 1436).

A concretização dessa orientação para a formação nos diversos níveis escolares –

fundamental, médio e superior, incluindo o ensino médio técnico – é fundamental para o

enfrentamento de diferentes questões conceituais e dificuldades de ordem prática, tais como:

“o acesso à formação e à certificação, a dissociação entre certificação e formação, a

desarticulação entre formação geral e formação profissional, e entre certificação e

classificação brasileira das ocupações (CBO), que estão no centro dos debates atuais”

(MORAES e LOPES NETO, 2005, p. 1437).

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29

A formação do piloto no Brasil, em especial nas últimas décadas, representa um dos

gargalos para a economia, como se pode verificar na mídia em geral, ao se tratar da falta de

piloto para o mercado (MENDES, 2009).

Como aponta a reportagem:

[...] mais do que nunca, o mercado da aviação está nas alturas. E não é para menos.

O tráfego aéreo de passageiros cresceu 6,5% no primeiro semestre deste ano,

comparado ao mesmo período de 2008, de acordo com a Agência Nacional de

Aviação Civil (ANAC). Hoje, são mais de 12 mil aeronaves — incluindo aviões e

helicópteros civis de todas as categorias — responsáveis por transportar mais de 50

milhões de pessoas por ano. Mas na contramão do crescimento, faltam profissionais

qualificados dispostos a seguir carreira seja no chão ou nos ares, apontam

especialistas do setor (MENDES, 2009).

Para que seja possível uma melhor compreensão sobre o processo de formação do

piloto da aviação civil no Brasil, é importante conhecer a estrutura atual do Sistema Aéreo

Brasileiro, sendo possível uma visualização da constituição e finalidade dos principais órgãos

relacionados à Aviação Civil brasileira, bem como a disposição dos documentos que orientam

a formação desse profissional.

Cabe salientar o momento de transição que os órgãos e autoridades aeronáuticas vêm

passando, em especial a partir de 2005, com a criação da ANAC, bem como em 2011, com a

criação da Secretaria de Aviação Civil (SAC) com status de ministério.

2.1.2 Secretaria de Aviação Civil - SAC

Criada pela Lei n° 12.462, de 05 de agosto de 2011, a Secretaria de Aviação Civil –

SAC – nasce com a missão de organizar futuras concessões de aeroportos e terminais à

iniciativa privada, que podem vir através de diversas modalidades, conforme explicou a

Presidente Dilma Rousseff, em entrevista à revista Valor Econômico (2011):

[...] vamos fazer concessões, aceitar investimentos da iniciativa privada que sejam

adequados aos planos de expansão necessários. Vamos articular a expansão de

aeroportos com recursos públicos e fazer concessões ao setor privado. Não temos

preconceito contra nenhuma forma de investimento nessa área, como não tivemos

nas rodovias.

É importante salientar que a Lei acima citada promove uma mudança importante para

o setor da aviação civil. Como pode ser observado, a Lei (BRASIL, 2011c) promulga:

Conversão da Medida Provisória nº 527, de 2011, Institui o Regime Diferenciado de

Contratações Públicas – RDC; altera a Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, que

dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, a

legislação da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e a legislação da Empresa

Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero); cria a Secretaria de Aviação

Civil, cargos de Ministro de Estado (grifo nosso), cargos em comissão e cargos de

Controlador de Tráfego Aéreo; autoriza a contratação de controladores de tráfego

Page 32: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

30

aéreo temporários; altera as Leis nos 11.182, de 27 de setembro de 2005, 5.862, de

12 de dezembro de 1972, 8.399, de 7 de janeiro de 1992, 11.526, de 4 de outubro de

2007, 11.458, de 19 de março de 2007, e 12.350, de 20 de dezembro de 2010, e a

Medida Provisória no 2.185-35, de 24 de agosto de 2001; e revoga dispositivos da

Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998.

A criação dessa Lei visa superar alguns gargalos presentes em toda infraestrutura da

aviação civil, no intuito de compatibilizar a modernização e a compatibilização do setor com

o desenvolvimento econômico apresentado pelo Brasil nos últimos anos (CARVALHO,

2011).

Independente dos futuros desdobramentos, pode-se elencar, no mínimo, dois pontos

com a criação da SAC-PR. Um é a desvinculação da estrutura da aviação civil no Brasil da

tutela militar, uma vez que a Agência Nacional de Aviação Civil estava vinculada ao

Ministério da Defesa; outro ponto é o reconhecimento da importância estratégica do setor,

vinculando a SAC diretamente à Presidência da República (CARVALHO, 2011).

Em um momento em que os meios midiáticos divulgaram e a sociedade vivenciou,

conhecido como ‘caos aéreo’, é fundamental a definição clara e transparente de Políticas para

o setor aeronáutico civil.

A Secretaria de Aviação Civil passa a ter a seguinte estrutura organizacional

(BRASIL, 2011):

I – órgãos de assistência direta e imediata ao Ministro de Estado Chefe da Secretaria

de Aviação Civil:

a) Gabinete;

b) Secretaria-Executiva;

1. Departamento de Administração Interna; e

2. Assessoria Jurídica;

II – órgãos específicos singulares:

a) Secretaria de Política Regulatória de Aviação Civil:

1. Departamento de Regulação e Concorrência da Aviação Civil;

2. Departamento de Outorgas; e

3. Departamento de Política de Serviços Aéreos;

b) Secretaria de Aeroportos:

1. Departamento de Planejamento e Estudos;

2. Departamento de Gestão Aeroportuária; e

3. Departamento de Gestão do Programa Federal de Auxílio a Aeroportos;

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31

c) Secretaria de Navegação Aérea Civil: Departamento de Gestão e Planejamento da

Navegação Aérea Civil;

III – unidade descentralizada: Escritório de Representação no Rio de Janeiro;

IV – entidades vinculadas:

a) Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC; e

b) Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária – INFRAERO.

Cabe a órgãos de assistência direta e imediata ao Ministro de Estado Chefe da

Secretaria de Aviação a responsabilidade de “formular, coordenar e supervisionar as políticas

para o desenvolvimento do setor de aviação civil e das infraestruturas aeroportuária e

aeronáutica civil, em articulação, no que couber, com o Ministério da Defesa” (BRASIL,

2011c).

2.1.3 Conselho Nacional de Aviação Civil (CONAC)

O Conselho de Aviação Civil – CONAC é o órgão de assessoramento do Presidente da

República para a formulação da Política nacional de aviação civil, conforme disposto pela Lei

n° 12.462 (BRASIL, 2011c). Compete ao CONAC:

[...] estabelecer as diretrizes para a representação do Brasil em convenções, acordos,

tratados e atos de transporte aéreo internacional com outros países ou organizações

internacionais de aviação civil, propor o modelo de concessão de infraestrutura

aeroportuária, submetendo-o ao Presidente da República, aprovar as diretrizes de

suplementação de recursos para linhas aéreas e aeroportos de interesse estratégico,

econômico ou turístico, promover a coordenação entre as atividades de proteção de

voo e as atividades de regulação aérea, aprovar o plano geral de outorgas de linhas

aéreas e estabelecer as diretrizes para a aplicabilidade do instituto da concessão ou

permissão na exploração comercial de linhas aéreas.

A principal função deste Conselho é traçar as diretrizes da Política da aviação civil. O

Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Aviação Civil é o responsável por presidi-lo.

A Resolução CONAC nº 011/2007, de 20 de julho de 2007 (ANEXO II) apresenta

uma série de diretrizes referentes à formação e capacitação de recursos humanos, dentre elas a

“ampliação das ações de formação e capacitação de recursos humanos por meio da adição de

novos recursos e parcerias, com o objetivo de ampliar a capacidade profissional na área de

aviação civil”.

Pode-se observar, e cabe salientar, que a resolução do CONAC antecede a criação

deste pela Lei n° 12.462. Esta Lei, entretanto, não menciona a revogação do Decreto Lei nº

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32

3.564/00, de 17 de agosto de 2000, que cria o Conselho de Aviação Civil – CONAC, na

ocasião ainda subordinada ao Ministério da Defesa.

Com isso, entende-se que as Resoluções daquele Conselho permanecem em vigor até

novas alterações.

Dentre as diversas orientações apresentadas, o CONAC recomenda, na Resolução n

011/2007, ao Ministério da Defesa que atue junto aos Ministérios da Educação, de Ciência e

Tecnologia, e do Planejamento, Orçamento e Gestão, no âmbito de suas competências,

visando estabelecer o adequado suporte às ações de formação e capacitação de recursos

humanos da aviação civil, conforme as diretrizes aprovadas.

Vale ressaltar que, no entendimento atual do modelo dos órgãos da aviação civil, a

responsabilidade pela realização da política, visando à busca de alternativas e propostas para

fornecer adequada formação para os recursos humanos do setor, passa do Ministério da

Defesa para a Secretaria de Aviação Civil, em conjunto com a ANAC, entidade vinculada à

SAC e executora das Políticas apresentadas.

2.1.4 Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC)

Em 2003, como aponta Oliveira (2007, p. 18), o Brasil passou a vivenciar um

momento denominado período de ‘Re-regulação’:

[...] uma fase onde pedidos de importação de novas aeronaves, novas linhas e

mesmo de entrada de novas companhias aéreas, voltaram a exigir estudos de

viabilidade econômica prévia, configurando-se uma situação semelhante ao do

período regulatório típico; a grande diferença, nesse caso, foi que não houve

interferência na precificação das companhias aéreas, ou seja, não houve re-regulação

tarifária.

Verifica-se, também, que, com a constante modernização do Estado, passa a haver

necessidade de uma verificação dos serviços públicos ou privados em especial quanto à

prestação de um serviço de qualidade.

Como aponta Carvalho (2001), para que seja mantido o princípio de ‘Estado de Bem-

Estar’, ao mesmo tempo em que sejam oferecidos serviços regulados e de boa qualidade,

surgiu a necessidade de se orientar as políticas públicas de forma descentralizada.

Verificando, dessa forma, a incapacidade de prover, de maneira eficiente e eficaz,

atendendo as expectativas de constantes mudanças ocorridas no mercado, o Estado acreditou

ser interessante transferir a responsabilidade ao setor privado de determinados serviços e

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33

assim ser possível a realização competente de determinadas tarefas, entre elas, o serviço de

telecomunicações e de energia (CARVALHO, 2001).

De acordo com Carvalho (2001), serviços que se entendem como essenciais ao bem

comum foram, portanto, transferidos às mãos do setor privado, para que pudessem ser

realizados de forma menos burocrática, mais eficaz e eficiente e pudessem apresentar

características mais flexíveis para atuarem em um setor competitivo e de rápido crescimento.

Para que tais serviços se mantivessem de forma segura, evitando-se os abusos

econômicos, e promovessem continuamente a manutenção da qualidade, foram criadas

Agências Reguladoras, cuja função é fiscalizar, regular, orientar, promover normas de

condução entre os agentes envolvidos – o Poder Público, o prestador dos serviços e os

usuários (CARVALHO, 2001).

A ANAC, de forma análoga, fora criada para se manter, fiscalizar e regular um setor

de enorme importância econômica e de constante evolução e transformação, o setor de

aviação civil.

No início da década de 90, como aponta Siewerdt (2008), em virtude do constante

crescimento da aviação civil, tanto com relação à utilização de novas tecnologias, como ao

volume de voos, a comunidade aeronáutica, sob a coordenação da Organização da Aviação

Civil Internacional (OACI), deu andamento a um processo evolutivo para um novo sistema

aeronáutico, e de acordo com Siewerdt (2008), estes sistemas modernos de controle dos

espaços aéreos estão em estudo para serem implantados globalmente.

A ANAC (BRASIL, 2011c), como apresentada na estrutura organizacional da SAC, é

uma entidade vinculada a essa Secretaria, sendo uma autarquia especial, caracterizada “pela

independência administrativa, autonomia financeira, ausência de subordinação hierárquica e

mandato fixo de seus dirigentes que atuam em regime de colegiado”.

Esta Agência tem, entre suas atribuições, a responsabilidade de regular e fiscalizar as

atividades de aviação civil e de infraestrutura aeronáutica e aeroportuária. O órgão deve, pois,

observar e implementar as orientações, diretrizes e políticas estabelecidas pelo Governo

Federal, adotando todas as medidas possíveis e necessárias ao atendimento do interesse

público e ao desenvolvimento da aviação (BRASIL, 2011c).

O papel regulatório da ANAC pode ser dividido em duas vertentes: a regulação

técnica e a regulação econômica. Essa manutenção regulatória, técnica ou econômica, pode

ser identificada no planejamento estratégico da Agência que identifica a missão como sendo a

de “promover a segurança e a excelência do sistema de aviação civil, de forma a contribuir

para o desenvolvimento do País e bem-estar da sociedade brasileira” (BRASIL, 2005a).

Page 36: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

34

A manutenção da qualidade decorre da necessidade de se manter as operações aéreas

em rígidos requisitos de segurança e de treinamento de mão-de-obra para o setor. A diretoria

colegiada, formada por cinco diretores, é nomeada pelo presidente da República e tem

mandato de cinco anos, segundo dados da própria Agência em seu site (BRASIL, 2005).

Como afirma a Agência:

A ANAC tem sua origem nas competências do Departamento de Aviação Civil

(DAC), que eram estabelecidas no art. 18 do Anexo I do Decreto nº 5.196, de 26 de

agosto de 2004, que dispunha: “...ao Departamento de Aviação Civil compete

planejar, gerenciar e controlar as atividades relacionadas com a aviação civil”.

Portanto, em virtude dessa competência, o DAC qualificava-se como “autoridade

aeronáutica”, exercendo, por via de conseqüência, as atividades relacionadas a essa

função pelo Código Brasileiro de Aeronáutica – Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de

1986 – (BRASIL, 2011a).

Com a Lei nº 11.182, de 2005, a atividade de autoridade aeronáutica foi transferida,

com todas as suas responsabilidades, para a ANAC, pelo disposto no §2º do art. 8º desse

dispositivo legal, confirmado pelo texto do art. 3º do Anexo I ao Decreto nº 5.731, de 20 de

março de 2006, sendo reconhecida como autoridade de aviação civil (BRASIL, 2011a).

Cabe salientar que as atividades voltadas para a investigação de acidentes aeronáuticos

e o controle do espaço aéreo, ficam a cargo, respectivamente, do Centro de Investigação e

Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) e do Departamento de Controle do Espaço

Aéreo (DECEA), ambos subordinados ao Comando da Aeronáutica, vinculado ao Ministério

da Defesa (BRASIL, 2011c).

2.1.4.1 ANAC e a formação do piloto

Dentre as diversas responsabilidades que competem à ANAC, pode-se destacar as

seguintes, relacionadas basicamente à formação e capacitação do pessoal do setor aéreo:

I. estabelecer diretrizes, normas e padrões técnicos para o desenvolvimento, a

aprovação e a execução de planos diretores, planos aeroviários e projetos de

infraestrutura aeronáutica e aeroportuária e suas alterações relativos à construção,

reforma, modernização e expansão de capacidade de aeródromos civis, públicos e

privados, observadas, no que couber, as orientações, diretrizes e políticas

estabelecidas pelo Conselho de Aviação Civil – CONAC;

II. estabelecer rotinas pertinentes à vigilância operacional no que concerne às

operações de voo, às licenças de pessoal, à habilitação técnica e à capacidade física

Page 37: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

35

e mental de tripulantes e funcionários de empresas aéreas e da aviação geral e

desportiva;

III. avaliar e qualificar os dispositivos de treinamento de voo, com vistas à sua

qualificação e ao controle recorrente dessa qualificação;

IV. supervisionar o cumprimento dos requisitos relativos a operações de voo,

proficiência técnica de tripulantes e do pessoal de terra dos operadores aéreos sob

sua área de competência;

V. propor políticas técnicas e diretrizes para os processos de emissão de licenças e de

habilitações técnicas;

VI. certificar, fiscalizar e autorizar o funcionamento de escolas de aviação civil, centros

de instrução da aviação civil e de aeroclubes;

VII. controlar as licenças de tripulantes e certificados de habilitação técnica;

VIII. coordenar a fiscalização do cumprimento das normas, padrões e requisitos de

segurança operacional da aviação civil, relativos à área de licenças de pessoal;

IX. proceder à verificação do cumprimento dos requisitos de conhecimentos teóricos

necessários à emissão de licenças e certificados de habilitação técnica, bem como

outras atividades inerentes à área;

X. propor políticas técnicas e diretrizes para os processos de emissão de licenças e de

habilitações técnicas;

XI. certificar e autorizar escolas de aviação civil, centros de instrução da aviação civil e

aeroclubes;

XII. fiscalizar o cumprimento das normas, padrões e requisitos de segurança operacional

da aviação civil, relativos à área de licenças de pessoal;

XIII. orientar e proceder aos estudos para o desenvolvimento de projetos na área de

fatores humanos e ergonomia, no âmbito da aviação civil, em coordenação com a

Gerência de Licenças de Pessoal;

XIV. planejar, realizar, supervisionar e avaliar programas, cursos e eventos de

capacitação técnico-profissional;

XV. supervisionar a elaboração, a revisão, a padronização e a atualização de planos

curriculares e manuais de instrução;

XVI. desenvolver a aplicação de novas metodologias e tecnologias de ensino e

estabelecer normas e padrões de ensino; e

XVII. supervisionar a autorização e o desenvolvimento de cursos na área de segurança da

Aviação Civil.

Page 38: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

36

2.1.4.2 Regulamentos Brasileiros de Homologação Aeronáutica (RBHA) e Regulamentos

Brasileiros de Aviação Civil (RBAC)

São os seguintes regulamentos que orientam, basicamente, a formação no Brasil:

1. RBHA 61 – Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica 61 –

REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE LICENÇAS DE PILOTOS E INSTRUTORES DE

VOO (BRASIL, 2006).

Este regulamento estabelece as normas concernentes à concessão de licenças e

habilitações técnicas para pilotos e instrutores de voo, os requisitos e padrões mínimos que

devem ser cumpridos para que um profissional se habilite à concessão e revalidação desses

documentos e as prerrogativas e condições relativas a cada licença ou habilitação.

Este regulamento não se aplica à emissão de certificado de piloto desportivo (CPD) e

de piloto de recreio (CPR), as quais são regida pelo RBHA 103.

2. RBHA 142 – Regulamento Brasileiro de homologação Aeronáutica 142 - RBHA

142 – CENTROS DE TREINAMENTO DE AVIAÇÃO CIVIL (BRASIL, 2001).

Este regulamento estabelece os requisitos que regem a homologação e o

funcionamento de centros de treinamento de aviação civil. Com exceção feita ao previsto para

a condução de treinamentos requeridos pelos RBHA 61, 1212 e 135

3, os quais fornecem um

meio alternativo para a sua condução.

3. RBHA 141 – Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica 141 –

ESCOLAS DE AVIAÇAO CIVIL (BRASIL, 2004b).

Este regulamento estabelece normas, procedimentos e requisitos concernentes ao

processo de concessão de autorização para funcionamento de escolas de preparação de

pessoal para a aviação civil brasileira. Estabelece, ainda, os padrões mínimos que devem ser

atendidos pelas diferentes entidades para a homologação dos diversos cursos a serem

ministrados, a saber:

1) pilotos de avião e de helicóptero;

2) instrutores de voo de avião e helicóptero;

3) mecânicos de manutenção aeronáutica, nas diferentes habilitações;

4) mecânicos de voo;

2 RBHA 121 – Requisitos Operacionais: Operações domésticas, de bandeira e suplementares.

3 RBHA 135 – Requisitos Operacionais: complementares e por demanda.

Page 39: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

37

5) despachantes operacionais de voo; e

6) comissários de voo.

Ainda neste Regulamento, o item HOMOLOGAÇÃO DE CURSOS, artigo 141.45 –

APLICABILIDADE – aponta as exigências para homologação de cursos em todas as escolas

de aviação civil e caracteriza a obrigatoriedade do cumprimento das normas contidas nos

manuais de curso desenvolvidos pelo então IAC4, Instituto de Aviação Civil, que teve suas

atribuições incorporadas pela ANAC.

2.1.4.3 Manuais de cursos

Os currículos mínimos propostos para cada habilitação e licença de piloto, atendendo

aos padrões e requisitos mínimos previstos pela ANAC, como recomenda o RBHA 61, são

previstos nos manuais de curso, nos quais são estabelecidas, também, a finalidade e as

disposições normativas de cada curso, bem como a orientação didática e a formação do corpo

docente.

Cabe salientar que, atualmente no Brasil, são autorizados 3 tipos de licenças técnicas

para o exercício da atividade na aviação civil, como se pode verificar no RBHA 61, no item

61.9. São licenças e habilitações técnicas requeridas para o exercício de atividade na aviação

civil para o desempenho de funções de piloto nas seguintes graduações5 (ANAC, 2006, p. 12):

1) piloto privado (PP);

2) piloto comercial (PC); e

3) piloto de linha aérea (PLA).

Para cada “graduação” existem prerrogativas do detentor da licença e condições que

devem ser observadas para exercê-la, conforme esclarece o RBHA 61.

No tocante ao piloto privado (PP),

as prerrogativas do detentor de uma licença de piloto privado são atuar como piloto

em comando, ou como copiloto, não podendo prestar serviços aéreos remunerados a

terceiros. Adicionalmente, quanto à classificação das aeronaves segundo a subparte

D do RBHA 476, o detentor de uma licença de piloto privado não pode atuar como

piloto de qualquer aeronave pública ou privada (BRASIL, 2006a, p. 30).

4 IAC - A Superintendência de Estudos, Pesquisas e Capacitação reuniu as atribuições do extinto Instituto de

Aviação Civil (IAC) concernentes ao desenvolvimento da instrução profissional para Aviação Civil e aos

estudos de meio ambiente e economia do transporte aéreo, bem como as atribuições do extinto Instituto de

Ciências da Atividade Física da Aeronáutica (ICAF) concernentes a estudos e pesquisas relativos aos campos de

Ergonomia e Fatores Humanos no âmbito da aviação. (BRASIL, 2005a) 5 Graduação aqui pode ser compreendida como tipo de licença e habilitação técnica, não tendo relação com um

curso de nível superior. Nota do autor. 6 RBHA 47 – Funcionamento e atividade do sistema de registro aeronáutico brasileiro.

Page 40: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

38

Para o piloto comercial (PC),

as prerrogativas do detentor de uma licença de piloto comercial são:

1) exercer todas as prerrogativas do detentor de uma licença de piloto privado;

2) atuar como piloto em comando de aeronave não empregada em voos de transporte

aéreo público;

3) atuar como piloto em comando em serviços de transporte aéreo público, em

aeronave homologada para operação com somente um piloto; e

4) atuar como copiloto em serviços de transporte aéreo público em aeronaves

homologadas para operação com, no mínimo, dois pilotos (BRASIL, 2006a, p.35)

E para o piloto de linha aérea (PLA),

as prerrogativas do detentor de uma licença de piloto de linha aérea são:

a) exercer todas as prerrogativas do detentor de uma licença de piloto privado e de

piloto comercial e de uma habilitação de voo por instrumentos de aeronave da

categoria para a qual é concedida a licença; e

b) atuar como piloto em comando ou copiloto em aeronaves de empresas de

transporte aéreo.

c) O exercício das prerrogativas da licença de piloto de linha aérea em voos

internacionais é condicionado ao atendimento, pelo seu detentor, aos requisitos

estabelecidos no parágrafo 61.10 do RBHA 61 (BRASIL, 2006a, p. 40).

A essas licenças, são averbadas de forma agregada, habilitações técnicas para cada

tipo ou característica de atividade na aviação civil (BRASIL, 2006a, p. 12).

Para as formações nas categorias apresentadas acima, enfatizando a formação do

piloto para o voo em avião e helicóptero, os seguintes manuais orientam as diretrizes

curriculares no Brasil:

Piloto privado:

1. “Piloto Privado-Avião” (PP-A), MCA7 58-3, aprovado pela portaria DAC n°

954/DGAC, de 27 de agosto de 2004 (BRASIL, 2004a);

2. “Piloto Privado-Helicóptero” (PP-H), MMA8 58-4, Portaria n° 71/DGAC, de 14 de

Fevereiro de 1995 (BRASIL, 1995).

Piloto Comercial:

1. “Piloto Comercial-Avião” (PC-A), 15 dez 1990 (BRASIL, 1990a);

2. “Piloto Comercial-helicóptero” - PC-H (BRASIL, 1990b).

Piloto de linha aérea:

1. “Piloto de Linha Aérea-Avião” (PLA-A), aprovado pela portaria DGCA n°

207/DGAC, de 25 de junho de 1991 (BRASIL, 1991a);

2. “Piloto de Linha Aérea-Helicóptero” (PLA-H), aprovado pela portaria DGCA n°

208/DGAC, de 25 de junho de 1991 (BRASIL, 1991b).

7 MCA – Manual do Comando da Aeronáutica

8 MMA – Manual do Ministério da Aeronáutica

Page 41: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

39

Além dos cursos básicos, voltados para as licenças técnicas como citadas acima – PP,

PC e PLA, seja para avião ou helicóptero – outros manuais ainda direcionam as bases

curriculares para algumas outras habilitações como é o caso das seguintes: MMA 58-9,

Manual de curso de voo por instrumento e o MMA 58-16, manual de curso de instrutor de

voo – INVA.

Esses manuais, de forma geral, tanto para licença como para habilitação técnica, têm

as seguintes finalidades:

a) apresenta a fundamentação do curso;

b) estabelece as disposições normativas básicas referentes à/ao(s): competência para

ministrar o curso; objetivo(s) geral(ais) e duração do curso; conteúdos programáticos mínimos

obrigatórios, carga horária, bem como objetivos específicos de cada disciplina; corpo

discente; recursos humanos e materiais; desenvolvimento do currículo; avaliação do aluno e

avaliação do curso; revisão/atualização do manual;

c) fornece ao corpo docente orientação didática para desenvolver a instrução;

d) apresenta o glossário dos termos básicos usados no âmbito do sistema de instrução

profissional da aviação civil; e

e) indica as referências bibliográficas relacionadas ao conteúdo do manual.

Como pode ser verificado nos documentos da ANAC, apenas o curso de PC, tanto

para avião como helicóptero, tem a obrigatoriedade de ser realizado em uma instituição

aprovada pela ANAC (BRASIL, 2006a).

Os cursos, portanto, de PP e PLA, podem ser realizados por conta dos interessados,

sem a necessidade de realizarem um curso em uma instituição aprovada e autorizada pela

ANAC. A obrigatoriedade para obtenção dessas licenças fica, apenas, estabelecida para a

realização das ‘bancas de verificação técnica’, por meio de uma prova teórica aplicada pela

Agência e um voo de avaliação realizado por um inspetor de aviação civil – INSPAC ou um

examinador credenciado após a conclusão de seu curso prático (BRASIL, 1990a).

Como afirma a ANAC (BRASIL, 1990a, p. 9):

O curso de Piloto Comercial – Avião deve ser homologado pelo Departamento de

Aviação Civil – DAC, só podendo ser ministrado por entidades autorizadas por este

órgão. Para se submeter aos exames teóricos e práticos do DAC, com vista à

obtenção da licença de PC-Avião, o candidato deve comprovar Ter concluído um

curso homologado.

Ainda (BRASIL, 2006a, p. 16):

[...] o requisito de conhecimento é atendido mediante a realização, pelo requerente,

de um exame escrito envolvendo os assuntos pertinentes à qualificação requerida,

conforme o previsto neste regulamento, e pela realização de curso específico nos

Page 42: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

40

termos do RBHA 141. Desta forma, torna-se compulsória a realização de um curso

homologado para prestar exame, exceto para piloto privado e piloto de linha aérea

(grifo nosso).

Os Regulamentos e manuais, acima comentados, compõem a legislação básica que

orientam a formação do piloto no Brasil, formação garantida pelo Decreto Nº 6.780, de 18 de

fevereiro de 2009, no qual é aprovada a Política Nacional de Aviação Civil – PNAC (ANEXO

III) – e dá outras providências (BRASIL, 2009b).

2.2 REFORMULAÇÃO DO RBHA 61 – A MPL E A FORMAÇÃO DOS PILOTOS

A ANAC colocou em consulta pública, em 2010, a minuta para a nova redação do

Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica (RBHA) 61, o qual seria atualizado

para o Regulamento Brasileiro de Aviação Civil (RBAC) 61, que trata sobre os requisitos

para a concessão de licenças de pilotos e instrutores de voo, bem como os mínimos para a

formação desses profissionais (BRASIL, 2010a).

Ainda que não possua uma edição final, esse documento, sem data para sua

publicação, aponta para a intenção da Agência em adotar uma nova licença de piloto no

Brasil, a Multi-crew Pilot Licence (MPL) – Licença de Piloto de Tripulação Múltipla.

Alguns países da Europa, Oceania e Ásia adotam essa licença para o processo de

formação de seus pilotos. Essa licença tem a intenção de possibilitar que companhias aéreas

criem um programa específico, devidamente autorizado e referenciado pela ICAO, de acordo

como o Doc 9868 de 2006, com o intuito de atender às peculiaridades das operações aéreas

das modernas aeroanaves (TRANSPORT CANADA LOCATOR, 2010; CIVIL AVIATION

SAFETY AUTHORITY, 2008; ICAO, 2006).

Um dos objetivos para a homologação dessa nova licença é a criação de condições que

conduzam para a melhoria na eficiência do treinamento, nas competências de pilotagem e no

nível de segurança operacional (ICAO, 2006).

O treinamento da MPL é baseado em maior número de horas em simulador, com

ênfase no gerenciamento de equipamentos eletrônicos e no CRM, com o intuito de atender às

necessidades da aviação atual, formando pilotos ‘adequados’ a operarem nas modernas

aeronaves das companhias aéreas.

Uma vez que a MPL não está autorizada pela ANAC e requer maior análise para

compreensão e crítica, esta pesquisa não apresentará detalhes sobre a licença. Este trabalho,

Page 43: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

41

independente da licença homologada pelo órgão responsável, intenciona analisar o processo

atual de formação de piloto no Brasil.

A MPL pode vir a ser um modelo de formação que atenda às necessidades do setor

aéreo, entretanto faz-se necessária uma análise mais apurada dos documentos que regulam tal

licença, bem como a experiência dos países que já fazem uso dela, para efetivamente afirmar

se a formação baseada na outorga das licenças denominadas MPL atende às necessidades do

setor.

2.3 A POLÍTICA DE FORMAÇÃO DO PILOTO NO BRASIL

A ordenação legal do Direito Aeronáutico tem seu início na Convenção de Chicago,

ocorrida a 7 de dezembro de 1944. Essa Convenção constituiu um marco fundamental na

evolução do Direito Internacional Aéreo, em um momento no qual o mundo saía da segunda

Grande Guerra. Coube, assim, à Conferência de Chicago a tarefa de estabelecer um novo

esquema no tratamento jurídico-internacional da navegação aérea internacional, assim como

as atividades relativas ao setor (SALINAS, 1993).

Além disso, ficaram estabelecidas a organização e a finalidade do órgão que, ainda

hoje, norteia todas as questões relacionadas à aviação internacional, inclusive questões acerca

da formação/capacitação de pilotos, a International Civil Aviation Organization - ICAO – ou

Organização da Aviação Civil Internacional - OACI (SALINAS, 1993).

A ICAO teve seu estatuto elaborado durante a Convenção de Chicago, e com ele

passou a ter a finalidade, de acordo com o art. 44, do Tratado, de aperfeiçoar os princípios e a

técnica da navegação aérea internacional e a de estimular o mercado aeronáutico (ICAO,

2006). De acordo com Monteiro (2007), os artigos definidos e anexos decorrentes entraram

em vigor em 1947. Dos 18 anexos definidos desta convenção, o Anexo I trata especificamente

das Licenças de Pessoal do setor aeronáutico.

Em atendimento aos anexos que estabelecem as diretrizes basilares da aviação,

reorientadas pelo DOC7300/9 da OACI, legalmente, no Brasil, o sistema aeronáutico foi

orientado, após a Convenção, pelo Código Brasileiro Aeronáutico – CBA (BRASIL, 1986).

De acordo com o CBA, Lei n° 7.565, de 19 de dezembro de 1986, que deve atender

aos requisitos estabelecidos em acordos internacionais (BRASIL, 1986, p. 22):

Art 100. Os programas de desenvolvimento de ensino e adestramento de pessoal

civil vinculado à infra-estrutura aeronáutica compreendem a formação,

aperfeiçoamento e especialização de técnicos para todos os elementos

indispensáveis, imediata ou mediatamente, à navegação aérea, inclusive à

fabricação, revisão e manutenção de produtos aeronáuticos ou relativos à proteção.

Page 44: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

42

Em 2007, o Conselho de Aviação Civil – CONAC, no uso das atribuições, resolve

aprovar diretrizes referentes à formação e capacitação de recursos humanos para a aviação

civil, expressas na Resolução n° 011/2007, de 20 de junho, diretrizes que norteariam novas

ações referentes ao sistema aéreo para o fomento do setor e atendimento de novas demandas

do mercado.

Tais diretrizes se referem à formação e capacitação de recursos humanos para a

aviação civil. Têm o escopo de estimular as universidades públicas e os colégios técnicos

federais e instituições de ensino vinculados aos órgãos e às entidades que integram o sistema

de aviação civil para oferecimento de cursos afins, com especial atenção às regiões mais

carentes. Incentivam a realização de estudos com vistas a propor uma Lei de Incentivo à

Formação e Capacitação de Recursos Humanos para Aviação Civil, de forma a viabilizar

investimentos de pessoas físicas e jurídicas em projetos de instrução e treinamento.

Em 2009, é aprovada a Política Nacional de Aviação Civil (PNAC) – que tem como

principal propósito (BRASIL, 2009b, p. 1):

[...] assegurar à sociedade brasileira o desenvolvimento de sistema de aviação civil

amplo, seguro, eficiente, econômico, moderno, concorrencial, compatível com a

sustentabilidade ambiental, integrado às demais modalidades de transporte e

alicerçado na capacidade produtiva e de proteção de serviços nos âmbitos nacional,

sul-americano e mundial.

Para alcançar tal objetivo, o desenvolvimento da aviação civil brasileira, a PNAC

(BRASIL, 2009b) admite que, diante da complexidade do setor aéreo, é necessária uma

adequada coordenação das atividades da indústria aeronáutica, da formação de profissionais

em todos os níveis, da infraestrutura aeronáutica civil e dos serviços aéreos.

Uma vez mais, nos termos expressos na PNAC, o grande beneficiário dos avanços

tecnológicos deverá ser o gerenciamento moderno e dinâmico do tráfego aéreo, capaz de

minimizar as limitações impostas ao usuário do espaço aéreo.

A segurança constitui o objetivo permanente que orienta e aprimora as ações da

aviação civil, sendo considerada pré-requisito para o funcionamento do setor. O marco

regulatório da aviação civil, em todos os segmentos, deve ser desenhado de maneira a buscar

maior eficiência econômica, novamente sem prejuízo da segurança e observados os interesses

estratégicos do País (BRASIL, 2009b).

Dentre as ações estratégicas propostas pela PNAC para a manutenção da segurança no

setor aéreo, está a promoção da formação, da capacitação e da atualização dos profissionais,

de forma a garantir a implementação adequada de medidas em proveito da segurança.

Page 45: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

43

No tocante à formação, capacitação e atualização de recursos humanos, a PNAC

propõe fomentar a adequada formação de recursos humanos, visando atender às necessidades

nacionais e regionais do sistema, ampliar continuamente as ações de formação e capacitação

de recursos humanos, inclusive por meio de novos recursos e parcerias; estimular a formação

de profissionais por meio de incentivos às instituições de ensino, da ampliação de programas

governamentais de concessão de bolsas de estudo e do fomento à instalação de polos de

qualificação profissional.

Da mesma forma que, para a infraestrutura Aeronáutica Civil, propõe, entre outras

questões, garantir a constante modernização dos sistemas de gerenciamento do tráfego aéreo,

mantendo-os em conformidade com as mais avançadas tecnologias e padrões internacionais.

Para alcançar com sucesso os objetivos propostos, faz-se necessário e fundamental coordenar

essas diversas ações.

Possivelmente, segurança, formação/capacitação, economia e avanço tecnológico

devam caminhar com estratégias inter-relacionadas, a fim de se obter um desempenho

positivo no desenvolvimento do setor aeronáutico.

No Brasil, atendendo também a exigências internacionais, ninguém pode atuar como

piloto em comando ou copiloto a bordo de aeronaves civis registrados no Brasil, a menos que

seja detentor de uma licença de piloto expedida em conformidade com o RBHA-61, na

graduação apropriada à função que desempenha a bordo (BRASIL, 2006a).

Da mesma forma, nenhuma pessoa pode atuar como piloto de um avião monomotor ou

multimotor homologado para ser operado por um só piloto, sem uma “habilitação técnica de

classe”, nem tão pouco atuar como piloto de um tipo de avião homologado para ser operado

por uma tripulação mínima de dois pilotos, ou de qualquer helicóptero, sem uma ‘habilitação

técnica de tipo’ (BRASIL, 2006a).

Atentando para a finalidade deste trabalho, com o intutito de apontar de quais Políticas

está a se tratar o objetivo proposto, foram consideradas “Políticas” o conjunto de documentos

que compreende a PNAC (Decreto), Resoluções, Regulamentos e manuais que orientam a

formação do piloto.

Page 46: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

44

2.4 A FORMAÇÃO DO PILOTO E O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – MEC

De 1993, com a criação do primeiro curso9 na área das Ciências Aeronáuticas em uma

instituição de ensino superior, até os dias de hoje, considerando o crescente número das

instituições de ensino superior aprovados pelo MEC e/ou pela ANAC, o Brasil vem

apresentando uma mescla na formação do piloto, basicamente, em três modalidades

(RIBEIRO, 2008).

A formação do piloto no Brasil ocorre em modalidade profissionalizante, mediante

cursos oferecidos por escolas e aeroclubes aprovados apenas pela ANAC; e em nível superior,

nas modalidades de bacharelado e tecnológico oferecidos por instituições de ensino aprovadas

e homologadas tanto pelo MEC quanto pela ANAC (BRASIL, 2011b).

Atualmente, o MEC orienta de forma oficial apenas os cursos indicados no Catálogo

Nacional de Cursos superiores de Tecnologia.

Como aponta em suas diretrizes, o catálogo (BRASIL, 2010b, p. 9).

[...] organiza e orienta a oferta de cursos superiores de tecnologia, inspirado nas

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível

Tecnológico e em sintonia com a dinâmica do setor produtivo e os requerimentos da

sociedade atual. Configurado, deste modo, na perspectiva de formar profissionais

aptos a desenvolver, de forma plena e inovadora, as atividades em determinado eixo

tecnológico e com capacidade para utilizar, desenvolver ou adaptar tecnologias com

a compreensão crítica das implicações daí decorrentes e das suas relações com o

processo produtivo, o ser humano, o ambiente e a sociedade.

Neste catálogo, o curso de formação de pilotos é denominado Curso Superior de

Tecnologia em Pilotagem Profissional de Aeronaves, da área de atuação a qual compreende

tecnologias relacionadas à construção civil e ao transporte, área esta denominada

Infraestrutura.

Estabelece orientações como carga mínima para o curso de 1.600 horas e recomenda

uma biblioteca com acervo específico e atualizado, laboratório de física, laboratório de

informática com programas específicos e laboratório de simulação de voo (BRASIL, 2010b).

Para o MEC, o profissional que vai atuar no mercado da Aviação Civil e for realizar a

formação no curso tecnológico deverá, da mesma forma, atender às exigências dos órgãos

nacionais e internacionais de aviação civil, como a ANAC e a Organização Internacional de

Aviação Civil (OACI), e para a obtenção do diploma, o graduando deve buscar aprovação em

testes específicos da Agência (BRASIL, 2010b).

9 O curso de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio grande do Sul – PUCRS.

Page 47: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

45

No tocante à formação do piloto, em instituições de nível superior, no grau acadêmico

de bacharel, não foram ainda definidas diretrizes curriculares pelo MEC. Isto justifica a

diversidade apresentada nas matrizes curriculares dos cursos de formação de piloto das

universidade/faculdades autorizadas a oferecer os cursos de formação de piloto na área de

Aviação Civil, o que pode ser constatado nos desenhos curriculares das instituições

autorizadas10

pelo MEC e pela ANAC.

2.5 PRÓXIMA GERAÇÃO DA AVIAÇÃO PROFISSIONAL11

Sabe-se que a era digital, como aponta o estudo realizado pela CANSO – Civil Air

Navigation Services Organization e IFATCA – International Federation of Air Traffic

Controller´s Associations (2010), revolucionou de forma irreversível toda a indústria e a vida

social.

A indústria aeronáutica é caracterizada pela globalização acelerada, pelo aumento da

flexibilidade e da mobilidade, bem como a aceitação e a introdução, em seus postos, de novas

tecnologias para a execução de suas atividades (CANSO e IFATCA, 2010) e foi igualmente

afetada pela introdução progressiva de complexos sistemas sociotécnicos para o

gerenciamento de um voo.

Essas características do mundo aeronáutico – flexibilidade, mobilidade, velocidade,

automatização, dentre outras – afetam diretamente todo o setor aéreo, como aponta CANSO e

IFATCA (2010). Modificam a relação entre os diversos integrantes do sistema da aviação – a

infraestrutura aeronáutica, tripulantes, controladores, empresas aéreas – resultando em uma

tensão criativa, própria de sociedades que estão em um momento de transição para uma era de

conhecimento e informação.

Essas modificações no sistema aeronáutico, em virtude especialmente da introdução

de inúmeros artefatos tecnológicos para o aumento da segurança e da economia, melhoraram

a qualidade do serviço ao mesmo tempo em que apontam inúmeros desafios aos envolvidos

na atividade aérea.

Esses desafios são caracterizados pela necessidade de se compreender a existência de

novas competências para lidar com os complexos sistemas sociotecnológicos e a exigência de

se “desenvolver” tais habilidades nos profissionais do setor.

10

A relação das instituições de ensino autorizadas pelo MEC e pela ANAC pode ser encontrada no seguinte

endereço eletrônico: <http://www2.anac.gov.br/educator/Index2.aspx>. 11

Título do estudo realizado pela CANSO e IFATCA, 2010

Page 48: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

46

Vivencia-se um momento de transição quanto à utilização e à inserção de novos

artefatos tecnológicos no processo de gerenciamento e controle do espaço aéreo e das

operações aéreas a partir das modernas cabines de voo.

Períodos de transição podem ser encarados como um momento de crise ou de

oportunidade. Para que o incremento de novas tecnologias, novas formas de gerenciamento do

espaço aéreo e a evolução das tecnologias para gerenciamento das aeronaves (AOPA, 2005;

CANSO e IFATCA, 2010) resulte em operações aéreas seguras, torna-se fundamental

compreender o que se requer para se ter um gerenciamento adequado de todo o sistema

aeronáutico, bem como quais competências são necessárias desenvolver nos homens e nas

mulheres responsáveis pela operacionalidade do setor para que um momento de segurança

seja criado pelos operadores.

Entender, pois, o termo ‘competência’ é essencial para que seja possível identificar

alternativas no processo de formação de um piloto. Quais são as competências essenciais para

serem desenvolvidas na próxima geração de profissionais da aviação?

2.6 COMPETÊNCIAS: DEFINIÇÕES E PARTICULARIDADES

O ambiente aeronáutico é caracterizado como sendo um ‘sistema complexo’12

, como

define Perrow (1999 apud HENRIQSON, CARIM e GAMERMANN, 2011), uma vez que

múltiplos fatores estão associados à operação de uma aeronave. Essa diversidade de fatores

exige, no processo de se gerenciar um voo, uma adequada interação entre os diversos

elementos envolvidos: homem-máquina (piloto-avião), empresa aérea e piloto, controladores

e pilotos, controladores e sistemas de controle, entre outros.

O sistema aéreo, como afirma Perrow (1999 apud HENRIQSON, CARIM e

GAMERMANN, 2011), é caracterizado pela presença constante de um desequilíbrio, seja

12

Complexidade sendo entendida como o fenômeno apresentado por MORIN e LE MOIGNE (2000). Sistema

complexo pode ser encarado como o relacionamento integrado de diversos outros sistemas, os quais, ‘tecidos

juntos, formam um único sistema ainda mais completo e repleto de peculiaridades. Ao ser composta por diversas

outras Ciências, a Ciência Aeronáutica já se caracteriza como um campo complexo do conhecimento. O Meio

aeronáutico, por sua vez, é composto por diversos elementos cuja complexidade, ou particularidades, apontam

para a necessidade de se trabalhar o conjunto atentando para as nuancias de cada um desses elementos. No

ambiente aeronáutico vários elementos se interrelacionam, nas relações humanas, por exemplo, pilotos,

comissários, passageiros, controladores, empresa aérea e Governo e nas relações de ‘inteligências distintas’

como é o caso da interação do Homem com a máquina. Além dessas, apontam-se as relações indiretas, cuja

importância para o comportamento do sistema faz diferença, como a cultura organizacional formal e informal

criada pelo relacionamento homem-instituição, visto a finalidade lucrativa que orienta as ações das empresas

aéreas.

Page 49: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

47

pela complexidade dos modernos sistemas, seja pela dificuldade de interação do piloto com a

máquina, em virtude de sua incapacidade em lidar com avançados sistemas tecnológicos.

Tal desequilíbrio caracteriza o chamado ‘ambiente complexo’ (PERROW, 1999 apud

HENRIQSON, CARIM e GAMERMANN, 2011). Essa complexidade no setor aéreo, por sua

vez, tem suas raízes na dinamicidade do próprio setor.

Muitas vezes, esse desequilíbrio é manifestado na relação do homem com a máquina,

e, como aponta Orlandy (1994), pendendo negativamente para o lado do piloto, já que este

não possui, em muitos casos, adequada formação para operar avançados sistemas.

Resolvem-se problemas e conflitos, problemas de desequilíbrio sistêmico, sejam eles

pessoais ou profissionais, nos diversos setores da vida, por meio de um ‘pensamento

complexo’, um pensamento que abranja a maior gama de variáveis possíveis em determinado

contexto (LE BOTERF, 2003).

O processo de ensino-aprendizagem, pois, deve, como um de seus objetivos, atentar

para uma formação que atenda e entenda tal complexidade. Deve estabelecer por meta o

desenvolvimento de um profissional que saiba utilizar, em especial, nos momentos não

previstos em procedimentos padronizados, todos os recursos de seu arcabouço pessoal;

adquiridos tanto pela formação como por sua experiência pessoal (LE BOTERF, 2003).

Importante destacar que competência é uma combinação de recursos a fim de se

atingir bons resultados em um estado futuro desejado. É importante o ‘saber-fazer’, as

aptidões e experiências. O mais relevante é reconhecer a importância do homem em todos os

processos (LE BOTERF, 2003).

Para Le Boterf (2003) e Hollnagel e Woods (2005), o sistema cognitivo não funciona

como um computador numérico, pois o processo combinatório escapa à visibilidade e não

corresponde a uma programação lógica. Por isso, o homem, independente da complexidade

que o sistema apresentar a fim de diminuir as possibilidades de falhas, deve ser capaz de

assumir o controle e responder de maneira eficaz ao estado indesejado, caso ocorra.

Considera-se, nesse caso, a ideia de que os sistemas não são necessariamente seguros,

e podem vir a promover contradições em suas operações, até mesmo em virtude dos diversos

processos em andamento. Em virtude disto, é necessário que o homem/piloto ‘crie’ o

momento de segurança (DEKKER, 2002).

Para uma atuação de forma competente, é fundamental serem desenvolvidos, nos

pilotos, habilidades essenciais à pilotagem, conhecimentos fundamentais para execução da

tarefa e atitudes que direcionem a um estado de consciência situacional permanente.

Page 50: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

48

Competência está relacionada a uma mobilização de saberes. Constituem padrões de

articulação do conhecimento a serviço da inteligência para a execução proficiente de

determinada atividade, e as formas de realização das competências são denominadas

habilidades (PERRENOUD et al, 2002).

Habilidade de se conduzir determinada atividade, ou o nível de proficiência em

determinada atividade, pode ser descrita como sendo o desempenho em determinada atividade

direcionada por resultado cujo desempenho pode ser aprimorado por meio de um treinamento

ou da prática (RESEARCH INTEGRATIONS INC, 2003).

Research Integrations Inc (2003) aponta para a possibilidade de se analisar três classes

de habilidades: as habilidades perceptuais, as motoras e as cognitivas.

As habilidades perceptuais estão ligadas a capacidade de um profissional em ‘detectar’

determinados estímulos como odores e luzes; ‘descriminar’ formas e figuras, como por

exemplo, identificar diferenças entre um quadrado e um triângulo; ‘reconhecer’ algo

previamente apresentado, como uma palavra, uma letra ou um padrão; ‘identificar’ após a

detecção determinado som ou odor; ‘localizar pelo uso da memória’ determinado item

solicitado em uma relação ou lista apresentada (RESEARCH INTEGRATIONS INC, 2003).

Habilidades motoras estão ligadas à capacidade de obter bons desempenhos em tarefas

que requeiram complexos movimentos de corpo ou coordenação física, de forma a ser

possível uma adequada integração do corpo com os estímulos e demandas do ambiente

(PROCTOR & DUTTA, 1995 e WELFORD, 1976 apud RESEARCH INTEGRATIONS

INC, 2003).

Quanto às habilidades cognitivas, Research Integrations Inc. (2003) considera que se

trata do processo mental do homem para a realização de maneira eficaz, eficiente e segura de

determinada atividade. Sugere-se que as habilidades cognitivas estão relacionadas à tradução

das ações interpretadas pelas habilidades perceptuais e motores por meio de decisões

apropriadas.

Bailey (1996 apud RESEARCH INTEGRATIONS INC., 2003), refere-se às habilidades

cognitivas como habilidades intelectuais, e este estado inclui dois pontos importantes para um

melhor uso da cognição, a ‘resolução de problemas’ e o ‘processo decisório’.

Como resolução de problemas entende-se a capacidade de combinar os conhecimentos

previamente adquiridos para formar novos conhecimentos a fim de se promover novas formas

de resolver qualquer questão inesperada.

Como processo decisório, a questão está ligada ao processo de escolhas de possíveis

alternativas para resolver determinada questão ou dificuldade apresentada.

Page 51: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

49

A diferença entre resolução de problema e processo decisório está no fato de que

enquanto o primeiro envolve a criação de possíveis alternativas para sanar panes e

dificuldade, a segunda refere-se ao processo de escolha do melhor caminho a seguir em

determinado contexto (RESEARCH INTEGRATIONS INC, 2003; DEKKER, 2006).

2.6.1 Competências – habilidade, conhecimentos e atitudes – no uso da automação

Em um ambiente altamente tecnológico, como se apresenta a cabine de voo nas

modernas aeronaves – TAA, em alguns momentos há a necessidade de se conviver com um

processo decisório múltiplo, no qual diversas variáveis estão envolvidas, de sistemas

distintamente avançados (Pessoas, meteorologia, computadores, social, organizacional, entre

outros).

Decisões competentes, ou seja, decisões que reflitam segurança, economia e uma boa

operação com a automação nas cabines de comando de uma TAA, envolvem diversas

variáveis, ou melhor, diferentes modos dos sistemas de automação das aeronaves, em

diferentes situações ao longo de um voo.

É imprescindível para a mais adequada tomada de decisão ao longo de um voo,

atitudes como a manutenção acurada da consciência situacional, um acurado processo mental,

a compreensão da operação dos sistemas automatizados e o conhecimento dos requisitos nas

diferentes fases de um voo e situações operacionais (RESEARCH INTEGRATIONS INC.,

2003).

Fadden (1990) e Billing (1997 apud RESEARCH INTEGRATIONS INC., 2003),

apresentam três tipos de automação presentes nas cabines de voo automatizadas:

1. Automação de controle;

2. Automação de informação; e

3. Automação de gerenciamento.

Afirma-se ainda que as habilidades associadas ao uso da automação, independente do

tipo apresentado, estão relacionadas diretamente às habilidades cognitivas.

O estudo apresentado por Research Integrations Inc. (2003, p. 8), enumera algumas

habilidades cognitivas relacionadas a cada um dos tipos de automação apresentados:

a) Automação de controle

a. Automação de monitoramento

b. Navegação da aeronave de um lugar para o outro usando a automação

c. Gerenciamento das falhas de automação

Page 52: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

50

b) Automação de informação

a. Modo de gerenciamento ou processo de decisão para o uso dos modos de

automação de informação.

c) Automação de gerenciamento

a. Gerenciamento do voo por meio da automação (interação homem-máquina).

Todas essas nuances presentes em um voo de uma TAA, nas quais habilidades

perceptuais e motoras, esta última vulgarmente conhecida no meio aeronáutico como

habilidade de “pé e mão”, são agrupadas às necessidades de se vivenciar maior habilidade

cognitiva, tornam as preocupações acerca da formação dos pilotos, questão fundamental para

a promoção de uma atividade aérea que atenda as atuais demandas sociais, tecnológicas e

econômicas (DEKKER, DAHLSTROM e NAHLINDER, 2006).

A FAA (2003) recomenda o aprimoramento do treinamento e da formação dos pilotos

quanto aos conteúdos relativos aos sistemas das TAA, incluindo também procedimentos e

particularidades específicos das TAA, bem como o gerenciamento do risco.

Como causa principal dessa recomendação, a FAA aponta que o treinamento

tradicional é inadequado para atender todas as novas exigências de segurança e

particularidades quanto ao funcionamento dos complexos sistemas sociotécnicos.

Como um dos pontos necessários a uma boa condução das operações aéreas em

aeronaves automaticamente avançadas, é fundamental o desenvolvimento, nos pilotos, das

competências ligadas à habilidade de se ‘voar’ um ‘avião físico’ e um ‘avião mental’ (FAA,

2003).

Por avião físico entende-se a compreensão teórica das estruturas e sistemas das

aeronaves, a utilização das habilidades perceptuais e motoras, abarcando tanto os

conhecimentos teóricos quanto a capacidade de voar a aeronave; já como avião mental,

entende-se a combinação das habilidades cognitivas para o uso adequado da automação e o

conhecimento de suas limitações e peculiaridades (FAA, 2003).

Utilizando métodos tais como treinamento baseado em cenários reais ou simulações, a

integração de treinamento básico com o de abordagem mais tecnológica e o desenvolvimento

de competências perceptuais, motoras e cognitivas, a FAA (2003) recomenda a introdução de

um treinamento que explore a maior gama de possibilidades no ambiente tão diverso como

cabine de voo de uma TAA.

A manutenção de uma estrutura curricular tradicional, portanto, na qual não é

reconhecida a interdependência dos diversos componentes curriculares que abarcam

Page 53: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

51

determinada formação, impede a formação de competências requeridas para uma realidade

com toda complexidade como a vivenciada em um ambiente aéreo (RUÉ e ALMEIDA, 2009;

FAA, 2003).

2.7 AUTOMAÇÃO: DEFINIÇÕES E NOVAS DEMANDAS

2.7.1 Novas perspectivas para o sistema aéreo

Da Convenção de Chicago aos dias atuais decorreram 57 anos de história da aviação.

Nesse período, a inserção de novas tecnologias para o gerenciamento de voo nas cabines das

aeronaves, com o intuito de se obter maior economia de tempo e recursos financeiros, fez com

que novas competências para os pilotos fossem requeridas (ICAO, 1998).

As aeronaves deixaram de ser operadas apenas por instrumentos convencionais ou

analógicos, e passaram a fazer uso de instrumentos de voo integrados e displays13

computadorizados, gerenciadas por um computador de voo, o qual capta de seus diversos

sensores as informações do ambiente e da aeronave e as analisa para um melhor

gerenciamento do voo. Essas aeronaves são atualmente conhecidas como aeronaves

glasscockpit (NTSB, 2010), conforme pode ser verificado nas figuras abaixo.

Cabine de aeronave com instrumentos de controle e de gerenciamento de voo

analógicos

Figura 1 - Cabine de aeronave convencional/Analógico.

Fonte: Google Images (2011a).

13

Este termo será empregado em inglês uma vez que é normalmente utilizado no meio aeronáutico, e tem o

sentido de tela de computadores.

Page 54: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

52

Cabines de voo com Displays para integração de dados

Figura 2 - Imagem da cabine de voo da aeronave Boeing 777

Fonte: Google Images (2011b).

Figura 3 - Cabines da aeronave Airbus A380

Fonte: Google Images (2011c).

Page 55: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

53

Figura 4 - Cabine da aeronave King Air C-90.

Fonte: Google Images (2011d).

Há 30 anos, a aviação possuía características diferentes das que se vivenciam nos dias

de hoje. As decisões de um comandante de aeronave, como exemplo, eram feitas em um

espaço de tempo maior que o existente atualmente. Dentre os motivos, pode-se citar o

incremento das velocidades empregadas nas aeronaves mais modernas (BENT, 2011).

Para os próximos anos, prevê-se a implantação de um sistema de gerenciamento de

tráfego aéreo mais ágil, com uma infraestrutura aeroespacial composta por equipamentos mais

complexos e eficientes, requerendo de operadores e usuários um comportamento mais

proativo e consciente em relação à atividade aérea (FAA, 2011).

A implantação desses sistemas de gerenciamento mais avançados se dá por certas

demandas econômico-sociais, dentre as quais podemos citar: a economia de combustível e a

consequente diminuição de poluentes lançados na atmosfera; a diminuição de gastos

operacionais das empresas aéreas; a diminuição nos atrasos, com sistemas de controle mais

refinados e eficientes, possibilitando a definição de rotas de navegação mais precisas, com

erros de navegação lateral e vertical menores; e maior segurança nas operações, com

informações, por exemplo, de tráfego aéreo, por meio de equipamentos como o TCAS, e

condições meteorológicas instantâneas (FAA, 2011).

Como alertam CANSO e IFATCA (2010), uma nova realidade se apresenta no mundo

da aviação. Sabe-se que a revolução digital está alterando rápida e profundamente a indústria

aeronáutica. Pode-se admitir que a revolução na aviação é caracterizada pela globalização,

com o incremento na mobilidade e flexibilidade e com a incorporação frequente de novas

tecnologias.

Page 56: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

54

A CANSO e a IFATCA (2010) afirmam que o mundo da navegação aérea está

mudando, tal como sua profissionalização. Novas competências são exigidas para a operação

no ambiente aeronáutico, a fim de que se possam alcançar resultados positivos nas operações

aéreas.

Dessa forma, com o intuito de se obter bons índices de produtividade e segurança na

aviação, além de habilidade técnica, proatividade, comunicação eficaz e padronização nas

operações, é necessária uma estratégia no setor voltada para a formação de profissionais

capazes de trabalhar em um ambiente continuamente mutável (BENDER, 2010).

Para Bender (2010), para atender as exigências de um ambiente de elevada

complexidade tecnológica, há necessidade de se enfatizar a formação e o aprimoramento do

que ela denomina de Geração Y – GEN Y. Uma geração de força de trabalho que encontra

energia e ambição para trabalhar em um mercado de trabalho cheio de novos desafios, com

características voltadas para a demanda desse mercado inconstante, o qual requisita de seus

trabalhadores criatividade, independência no pensar e profissionalismo para agir.

Para essa autora, essa geração mostra maior intimidade no manuseio de novas

tecnologias, possui condições de operar em um ambiente multitarefas e anseia por

conhecimentos frente aos novos desafios do setor. Cabe ressaltar que o aprimoramento dessas

características, sejam elas pessoais ou profissionais, depende, em parte, do processo de

formação desses profissionais.

Josefsson (2010) acredita que a nova geração de profissionais no setor aéreo, além de

bem formada tecnicamente, deve necessariamente ser aberta a novas questões, multicultural,

comunicativa, proativa, sociável e rica em ideias e iniciativas.

Monteiro (2007) afirma que o aprimoramento tecnológico resulta em uma nova

prescrição de qualificação específica. O ensino deve atentar para um modelo que garanta o

conhecimento proposto pela ciência, ao mesmo tempo em que se dedica à prática das

operações indispensáveis para compreender e pensar as variáveis envolvidas no processo

tecnológico.

Como aponta Fabre (2004 apud MONTEIRO, 2007, p. 61), pilotar aeronaves de

última geração significa, também, “entrar em contato com filosofias que substituam a destreza

manual pelo uso de habilidades cognitivas na relação áudio/visual/tátil, sem os requisitos

físicos ou anatômicos”.

Monteiro (2007) ainda afirma que o profissional engajado no uso de aeronaves

glasscockpit deve possuir as mesmas habilidades que lhe permitem a pilotagem convencional,

Page 57: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

55

mas estar preparado para a convivência, cada vez maior, com a tecnologia em seu posto de

comando.

A PNAC (BRASIL, 2009) afirma que poucos setores econômicos abrangem conjunto

de atividades tão complexas quanto às da aviação civil. Trata-se de um setor marcado por

regulação (técnica e econômica) e fiscalização intensas; intensivo em capital, mão-de-obra

qualificada e tecnologia de ponta, vulnerável a condições meteorológicas e geográficas

adversas; estruturado em rede dependente de acordos internacionais; extremamente

diversificado quanto ao estágio de desenvolvimento das empresas; e fornecedor de bens e

serviços de elevado valor específico.

Este complexo ambiente tende a apresentar uma nova realidade no tocante a sua

interação homem e meio aéreo, bem como a interação homem-máquina (HOLLNAGEL e

WOODS, 2005). Uma vez que para se operar neste ambiente de elevada utilização

tecnológica estão sendo empregadas aeronaves tecnologicamente/tecnicamente avançadas –

TAA (Technicologic Advanced Aircraft) com características operacionais bastante peculiares

em virtude da presença, em parte ou na totalidade, de sistemas tecnológicos para o

gerenciamento do voo (AOPA, 2005).

2.7.2 Aeronaves tecnologicamente/tecnicamente avançadas: o conceito de TAA

(technically/technologically advanced aircraft)

A cabine de uma aeronave ou cockpit vem apresentando ao longo dos últimos 30 anos,

uma considerável elevação no uso de tecnologias responsáveis pelo controle e gerenciamento

de um voo (NTSB, 2010).

Por volta dos anos 70 e 80, as aeronaves apresentavam alguns instrumentos, tais como

o VOR, DME e o ADF, que eram responsáveis pelo direcionamento e orientação de um voo

sem, contudo, retirar do piloto a necessidade de controle direto e constante, contendo pouco

ou nenhum dispositivo eletrônico para o gerenciamento informatizado da operação aérea.

Atualmente, entretanto, o ato de voar é considerado por muitos especialistas mais um

processo de gerenciamento de sistemas que um processo de destreza manual, em virtude da

elevada presença de computadores e dispositivos eletrônicos em suas cabines de comando

para um gerenciamento mais seguro, eficaz e econômico (AOPA, 2005).

Hollnagel e Woods (2005) afirmam que houve uma diminuição na utilização das

habilidades motoras e um incremento das habilidades cognitivas na realização de operações

aéreas, como pode ser identificado na Figura 5, abaixo.

Page 58: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

56

100%

~2000~1950

Thinking Thinking Thinking Thinking (cognitive (cognitive (cognitive (cognitive functions)functions)functions)functions)

~1700

Fazer (trabalho manual)

Pensar (trabalho cognitivo)

Atuação do equilíbrio no uso entre as funções cognitivas e manuais Figura 5 - Atuação do equilíbrio no uso entre as funções cognitivas e manuais

Fonte: Adaptado de Hollnagel e Woods (2005).

A Federal Aviation Administration – FAA (2003) define aeronaves com elevada

presença de componentes digitais e computacionais em suas cabines de voo, como aeronaves

tecnicamente ou tecnologicamente avançadas – TAA.

TAA, de acordo com FAA (2003), pode ser definida como sendo uma aeronave que

possua, no mínimo, as seguintes características:

1. Certificado IFR14

com equipamento GPS de navegação com mapa móvel;

2. Um mostrador multifunção (MFD – multifunction displays), com mostrador

meteorológico, de tráfego e gráfico de terreno; e

3. Um piloto automático integrado.

Em geral, as TAA´s são aeronaves nas quais os pilotos interagem com um ou mais

computadores para navegar e gerenciar os diversos sistemas do avião, bem como se

comunicar com os outros elementos que compõem o sistema aéreo (FAA, 2003).

Esses instrumentos eletrônicos são apresentados em telas eletônico-digitais que

justificam, dessa forma, a denominação de cabines de vidro ou glasscockpit, como são

comumente conhecidas as cabines das modernas aeronaves.

De acordo com a AOPA Air Safety Foundation (2003), para poder se considerar uma

aeronave glasscockpit deve-se incluir, ainda, além dos requisitos apresentados pela FAA, o

mostrador primário de voo – PFD (primary flight display), o qual substitui os mostradores

analógicos de instrumentos essenciais para a navegação, quais sejam: o horizonte artificial, o

14

IFR – Instrument flight rules (regras de voo por instrumento), uma habilitação reconhecida ao piloto que o

habilita a realizar voos fora das condições de voo visual fazendo uso de dados provenientes dos instrumentos de

voo. No Brasil essa habilitação é orientada pelo MMA 58-9, ANAC.

Page 59: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

57

velocímetro, o altímetro, o indicador de atitude, o indicador de curva e derrapagem e o

indicador de razão de subida e descida.

O conceito glasscockpit começou a ser testado pela National Aeronautics and Space

Administration (NASA), em 1974, com as aeronaves modelo Boeing 737. Displays integrados

e com elevada automação foram criados e introduzidos para possibilitar diminuição nos

custos e um aumento nos índices de segurança das operações aéreas (NTSB, 2010).

Cabe salientar a importância nos aprendizados adquiridos em diversos acidentes e

incidentes aeronáuticos ocorridos na aviação comercial, em especial, após a Segunda Guerra

Mundial. Com a expectativa de crescimento da aviação, fazia-se necessária a melhoria nos

equipamentos de controle das operações aéreas e do controle das aeronaves em voo.

É notória e irreversível a introdução de aeronaves tecnologicamente avançadas no

setor de transporte aéreo, bem como em todos os setores da aviação, tais como as aeronaves –

Airbus 320/330/340/380 e o Boeing 747/777 – equipadas com um avançado sistema de

automação, o qual tem incorporado em sua lógica de controle cálculos que previnam, dentre

outros pontos, a aeronave de exceder seus limites operacionais, fazendo com que os aviões

permaneçam, durante a operação, dentro de seu envelope estrutural15

e dentro de limites mais

econômicos de voo (ICAO, 1998).

PERÍODO INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS EX. DE

AERONAVES

Década de 30 Desenvolvimento do giroscópio e sua utilização nos

instrumentos de bordo. Junkers F-13

Década de 50 e 60 Desenvolvimento de sistemas aeronáuticos

relacionados com a operação das aeronaves Douglas DC-3

Década de 60 e 70 Desenvolvimento e consolidação de grandes aviões

de transporte propulsados com motores a reação. Boeing 707

Década de 70 e 80

Desenvolvimento e consolidação de sistemas

autônomos de navegação e redução de tripulantes

técnicos a bordo através da automação de funções.

Boeing 767

Década de 80 e 90 Desenvolvimento e consolidação de sistemas de

navegação por satélites. Airbus 330

Década de 90 aos

dias atuais

Desenvolvimento e consolidação de sistemas de

gerenciamento em cabines de alta tecnologia

digital.

Boeing 787

Quadro 1 - Resumo da evolução tecnológica das aeronaves

Fonte: Ribeiro (2008).

15

Envelope estrutural - limitações estruturais que devem ser consideradas durante a realização de uma operação

aérea respeitando os limites propostos durante o projeto estrutural de uma aeronave.

Page 60: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

58

2.8 AUTOMAÇÃO: DEFINIÇÃO, NÍVEIS E NECESSIDADES

De acordo com Kaber, Riley e Tan (2002), um dos maiores desafios para os pilotos na

operação das avançadas aeronaves glasscockpit é a efetiva compreensão e a interação bem

sucedida como todo o sistema de automação.

Billings (1997) relata que 65% a 80% dos acidentes ou incidentes no transporte aéreo

são atribuídos em parte, ou totalmente, ao erro humano. E a automação, de acordo com o

autor, ingressou na aviação com o intuito de diminuir a frequência de erros humanos nas

operações aéreas, automatizando as tarefas dos pilotos.

O termo automação tem sido trabalhado com exaustão ao longo desse trabalho. Mas

enfim, qual seria uma definição adequada para o vocábulo no campo da aviação?

De acordo com Billings (1997, p. 6), automação refere-se ao “sistema ou método que

em quase na totalidade seus processos de produção são executados automaticamente ou

controlados por sistemas autônomos”.

A primeira revista científica a utilizar o termo automação foi a Scientific American

Article, em 1952. Atualmente, o termo está amplamente difundido em todos os campos do

conhecimento, e em um sentido contemporâneo, de forma bem completa, de acordo com

Sheridan e Parasuraman (2005), o termo automação refere-se:

a) À mecanização e integração dos dados captados referentes às variáveis do ambiente

envolvido, por meio de sensores artificiais;

b) Ao processamento de dados e ao “processo de decisão” realizado por

computadores;

c) À ação mecânica por motores ou equipamentos; e

d) À “ação informacional” quando da apresentação, para o operador, por meio das

telas digitais, das diversas informações e dos dados referentes a determinado momento de um

voo.

Para Kaber, Riley e Tan (2002), uma aeronave moderna será considerada

“glass”cockpit (cabine de vidro) em virtude das telas nas quais se apresentam as informações

de navegação, da utilização a bordo de um sistema de gerenciamento de voo, denominado

FMS (Flight Management System), bem como da disposição de uma unidade de controle

multifuncional – MCDU (Multifunction computer display unit).

Bhana (2010) apresenta a automação como algo que se refere ao controle de um

processo ou mesmo de um sistema por meio de uma máquina ou equipamento eletrônico.

Page 61: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

59

A utilização de artefatos16

eletrônicos nas mais diversas atividades, neste caso na

atividade aérea, define o que Hollnagel e Woods (2005) denominaram de sistemas cognitivos

de engenharia, caracterizados pelo uso crescente de complexos sistemas sociotecnológicos

para a execução das mais diversas tarefas.

Para os autores, o uso da automação vem se fazendo presente desde a década de 30.

Entretanto, é a partir da década de 70, com o surgimento dos computadores e suas facilidades,

que houve uma revolução no que diz respeito à presença da tecnologia para o uso na aviação

e, consequentemente, a transformação na interação da aeronave com o homem, criando assim

novas demandas cognitivas para a realização da atividade (HOLLNAGEL e WOODS, 2005).

Como já comentado, a cabine de voo de uma aeronave glasscockpit ou TAA

caracteriza-se por possuir inúmeros displays de instrumentos eletrônicos com telas em LCD

(cristal líquido) ou CRT (tubos de raios catódicos). Enquanto um painel de uma aeronave

tradicional depende de instrumentos mecânicos para a exibição das informações referentes ao

voo, conforme se observa nas Figuras 1, 2, 3 e 4.

Mais que caracterizar um tipo de aeronave, o termo ‘glasscockpit’ define uma nova

forma de se fazer voar, dando ênfase ao gerenciamento de diversos sistemas que apresentam o

resultado dos dados obtidos pelos computadores dos aviões e são repassados para análise dos

pilotos (BILLINGS, 1997).

Essa característica atual das operações aéreas, a mudança de um paradigma analógico

para um ‘paradigma digital’, modifica o modus operandi da aviação. Pilotos precisam agora

aprender a lidar com as técnicas de gerenciamento dos sistemas automatizados e obter

informações precisas do enorme volume de dados obtidos pelos computadores das aeronaves

em tempo real (BHANA, 2010).

Cabe ressaltar que para diferentes tipos de sistema de automação existe um nível

diferenciado e característico de ingerência em seu uso. Alguns sistemas requerem a presença e

intervenção constante de seus operadores enquanto outros já são absolutamente independentes

(BHANA, 2010).

16

Denominação utilizada por Hollnagel e Woods (2005) para todo e qualquer equipamento que amplia ou

amplifica a potencialidade do homem na execução de determinada tarefa ou atividade.

Page 62: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

60

2.8.1 Níveis de automação

Billings (1997) afirma que a interação do piloto com a cabine automatizada é

fundamental para a execução das tarefas de pilotagem, tais como controle de voo, navegação

e comunicação.

Sarter (1991 apud KABER, RILEY E TAN, 2002), em um estudo com pilotos,

identificou na interação desses com o Sistema de Gerenciamento de Voo – FMS, que 67% dos

pilotos continuavam surpresos com sua operacionalidade e pouco mais de 45% não entendiam

completamente a operação e a funcionalidade do FMS.

A partir da década de 1960, com a instalação de sistemas automatizados, iniciou-se o

afastamento do piloto do comando manual das aeronaves (MONTEIRO, 2007), como

apresenta a Figura 6 abaixo.

Figura 6 - Evolução da automação nas aeronaves de transporte17

Fonte: Adaptado de ICAO (1998).

Pode-se observar, na figura acima, que os pilotos possuíam maior contato com os

sistemas e controles das aeronaves, e agora possuem responsabilidade no gerenciamento dos

17

NAVAID – auxílios de navegação

CADC – CENTER AIR DATA COMPUTER (computador central de geração de dados).

INS - Inertial navigation system. Um sistema baseado em giroscópio que sente a aceleração e a desaceleração,

analisa e computa a posição da aeronave em latitude e longitude com muita precisão. Usado normalmente para a

aviação de longo raio, aeronaves militares e sofisticados jatos. Também conhecido como IRS – inertial reference

system.

PMS - performance management system (sistema de gerenciamento de desempenho).

Page 63: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

61

complexos sistemas tecnológicos que controlam a operação das aeronaves por meio das telas

de interface (ICAO, 1998).

Como já comentado, a automação tem se justificado em virtude, muito especial, da

manutenção benéfica entre a segurança nas operações e a economia para o setor

(HENRIQSON, CARIM e GAMERMANN, 2011).

No tocante à segurança, aponta-se para a contribuição quanto à redução nas possíveis

falhas humanas, à redução da carga de trabalho, em determinados momentos, à maior precisão

nas operações, promovendo, por exemplo, uma separação mais efetiva entre as aeronaves no

espaço aéreo.

Para a economia aponta-se a redução dos custos nas operações e do desgaste

prematuro em componentes da aeronave (HENRIQSON, CARIM e GAMERMANN, 2011).

O distanciamento apresentado entre homens e máquinas é também analisado por

Hollnagel e Woods (2005), como apresentado na Figura 7 abaixo.

Automação

Mostrador Controle

Sensor Atuator

Automação Automação Automação

Sensor Atuator Sensor Atuator Sensor Atuator Sensor Atuator

Tarefa

Controle ManualControle total

automáticoControle Supervisionado

Mostrador Controle Mostrador Controle Mostrador Controle Mostrador

Tarefa Tarefa Tarefa Tarefa

Figura 7 - Estágios de dependência homem-máquina

Fonte: Adaptado de Hollnagel e Woods (2005)

Nesta figura, pode-se identificar a existência de quatro estágios ou gerações relativos à

utilização da tecnologia. No primeiro, chamado de “controle manual”, homens atuam de

forma direta com o artefato, ou seja, o piloto atuava diretamente nos controles das aeronaves,

e mesmo que houvesse a presença de uma tecnologia simples, as informações eram pelo

piloto, identificadas, analisadas, trabalhadas e direcionavam por meios próprios as ações a

serem efetivadas (HOLLNAGEL e WOODS, 2005).

No segundo estágio, denominado ‘controle supervisionado’, verifica-se certa

diminuição na interação do homem com o processo direto, proporcionado pela utilização de

Page 64: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

62

tecnologia em algumas áreas. O piloto, por exemplo, passa a atuar nas aeronaves por meio do

piloto automático, que então atuava na aeronave (figura 06).

Hollnagel e Woods (2005) afirmam que, a partir desse estágio, a relação do homem

com a máquina começa a sofrer uma alteração natural, o que justificaria uma mudança de

paradigma na forma como se identifica a automação, suas peculiaridades e a interação

daquela com o homem.

Para os autores, neste estágio, o relacionamento passa a ter uma conotação mais

cognitiva, uma vez que o artefato, neste caso o piloto automático, passa a ter um controle

diretivo sobre a aeronave.

No próximo estágio – o terceiro – como pode ser identificado na Figura 7, o piloto

passou a atuar em controladores, que por sua vez, agiam no piloto automático e então atuavam

nos controles da aeronave.

Por fim, no quarto estágio, percebe-se a presença da automação de forma mais ou

menos completa no processo, e o operador tendo sua possibilidade de intervenção bastante

reduzida e, em alguns casos, totalmente reduzida.

Como aponta Hollnagel e Woods (2005), uma das consequências diretas da evolução

no uso da automação nos diversos setores é a mudança na forma como se lida com essas

tecnologias.

Endsley e Kaber (1999 apud SHERIDAN e PARASURAMAN, 2005),

demonstraram que os níveis de automação afetam diretamente o desempenho, a consciência

situacional e a carga de trabalho na dinâmica de controle de uma tarefa.

Sheridan e Parasuraman (2005) e Hollnagel e Woods (2005) afirmam que já com o

advento do segundo estágio, o controle supervisionado, tem-se uma questão central a ser bem

trabalhada no processo de automação de qualquer setor, a relação ou relacionamento entre

homem e a máquina, que de forma rudimentar pode-se afirmar que a máquina, aqui, pode ser

considerada como tendo certa ‘inteligência’.

A relação com uma máquina provida de certa ‘inteligência’ promove uma diferença

radical quanto à maneira com que o homem interage com aquele artefato.

Para Sheridan e Parasuraman (2005), sistemas tecnológicos com diferentes níveis de

participação da automação tem sua utilização orientada de acordo com os diversos estágios de

uma atividade qualquer, de forma a atender diferenças em sua filosofia e/ou necessidade de

uso.

Os autores identificaram oito níveis relacionados ao uso da automação:

1. O computador não oferece assistência, o operador deve fazer tudo;

Page 65: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

63

2. O computador sugere formas alternativas para se executar uma tarefa;

3. O computador seleciona uma forma para se executar determinada tarefa e

4. Executa o que foi sugerido se o operador autorizar; ou

5. Permite que o operador tenha um tempo restrito para vetar determinada tarefa

antes que execute automaticamente; ou

6. Executa a tarefa proposta automaticamente, e então necessariamente informa ao

operador; ou

7. Executa automaticamente a tarefa, então informa ao operador se o sistema for

questionado.

8. O computador seleciona o método, executa a tarefa e ignora o operador.

Na aviação, a automação é desenhada de forma a responder em um espectro mediano,

ou seja, ‘executa’ a ação automaticamente, e então necessariamente informa ao operador, o

piloto (BHANA, 2010).

A automação na aviação tem sofrido incrementos quanto à sofisticação e integração

nos diversos sistemas. A questão central na discussão do uso da automação é a interação do

homem/operador/piloto com a máquina/avião e sistemas automatizados (BHANA, 2010).

E nesse ponto, o paradigma digital requer do piloto habilidades diferentes das que

eram exigidas em um ambiente caracterizado pelo paradigma analógico (BHANA, 2010;

HENRIQSON, CARIM e GAMERMANN, 2011).

Hoje, pilotos programam os computadores de suas aeronaves para gerenciarem os

sistemas de voo utilizando um teclado digital, para que o piloto automático calcule os

parâmetros necessários em sua decolagem, e então os levem para uma nova altitude ou nível

de voo, em certa proa ou certo rumo; voando por sobre determinados pontos de controles

previamente programados e inseridos em seus computadores, e daí poderem realizar um

padrão de descida a fim de pousarem em outro aeroporto (SHERIDAN e PARASURAMAN,

2005).

Todos esses procedimentos trabalhados com parâmetros que garantam a segurança na

operação aérea. Do ponto de vista da aeronave/piloto, a permanência de uma atividade dentro

de envelopes estruturais de desempenho seguro; do ponto de vista do tráfego aéreo, que

definam distanciamento entre aeronaves e sequenciamento aéreo seguros; e que garantam

economia no setor, tanto quanto a melhor definição de rotas aéreas como no menor consumo

de combustível.

Page 66: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

64

2.8.2 Interação homem-máquina: mudando o paradigma

Para Hollnagel e Woods (2005), mais importante que um processo de

desenvolvimento e aumento na complexidade dos sistemas tecnológicos para atender as

expectativas de seus operadores, é a mudança no paradigma utilizado para se entender esse

processo de interação entre o homem e a máquina.

Apontam que, normalmente, as interpretações das mensagens são reconhecidas de

acordo com um padrão apresentado pela proposta do modelo Shannon-Weaver, na qual o

homem responderia a estímulos, basicamente de forma linear e por meio de inputs (entradas)

e outputs (saídas) de informações na interação com o sistema envolvido, em um padrão

conhecido como S-O-R (Stimulus, Organism and Response) ou (estímulo, organismo e

resposta).

Portanto, um piloto, voando sua aeronave, sentiria, por exemplo, uma modificação no

vento relativo18

da navegação; tal estímulo proveniente da interação direta piloto-avião, faria

com que o piloto, em um processo interno, dinâmico e particular, compreendesse a

necessidade de se realizar uma correção de proa a fim de manter-se corretamente em um

rumo, o que resultaria na reposta do piloto, atuando nos controles da aeronave.

Para Hollnagel e Woods (2005), o paradigma típico do processo de informação, dava-

se basicamente dentro da mente do homem, sem considerar, entretanto, outros fatores e

variáveis envolvidas, um paradigma que Henriqson, Carim e Gamermann (2011)

denominaram de analógico.

Hollnagel e Woods (2005) propõem, portanto, um novo paradigma para a percepção

da interação do homem-máquina, o que para eles seria uma forma mais ativa e integrada do

conceito de “diálogo” entre ambos. Tal paradigma deixaria de ser entendido como um simples

processo interno de informação e passaria a ser percebido como um processo de ‘cognição

mental’.

Essa mudança na percepção do processo busca mais que uma modificação na

interpretação do envolvimento homem-máquina, mas também possibilitar a compreensão de

que as respostas do homem a um determinado evento devam ser analisadas em determinado

contexto, com ferramentas cognitivas e adequada formação dos operadores.

18

Tem o mesmo valor que a velocidade aerodinâmica, mas não representa o deslocamento. Representa o

escoamento de ar em relação à asa. O sentido do vento relativo é oposto ao da Velocidade aerodinâmica. É o

vento aparente que sopra sobre um corpo em movimento na atmosfera, geralmente no sentido contrário ao objeto

em movimento.

Page 67: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

65

Mais que um processo de interação, para Hollnagel e Woods (2005), a relação

homem-máquina deve ser percebida como uma ‘ação coordenada’ entre homem e tecnologia,

sendo compreendida ação coordenada como o estado de ‘estar em ação’, de estar em

constante supervisão.

Ao se aceitar um modelo no qual as ações do homem, para se alcançar determinado

fim, são percebidas como cíclicas e não lineares, e, portanto, devam ser compreendidas como

ações coordenadas homem-máquina, algumas consequências diretas se assumem de acordo

com Hollnagel e Woods (2005), dentre elas:

1 – as ações são percebidas em conjunto e não independentemente. O paradigma

cíclico enfatiza que ações são tidas por um processo de experiência e que antecipem atitudes

futuras.

2 – foca-se a antecipação mais que a resposta. Como pode ser percebido na Figura 8, o

modelo cíclico para entendimento do processo de ação coordenada entre homem e tecnologia

não possui início ou fim, o que sugere que qualquer esforço para um bom desempenho se faça

por meio da interpretação de fatos passados, e da expectativa do que pode vir a ocorrer em

diferentes momentos no futuro.

Evento / feedback

Lidando com a Complexidade

Sistema cognitivo

Integrado

Uso de um artefato

Modifica

Interpretação atual

(desenho)

Promover / produzir

Conduz a

Próxima ação

Elementos que integram um Sistema cognitivo de engenharia

Figura 8 - Elementos que integram um sistema cognitivo de engenharia.

Fonte: Adaptado de Hollnagel e Woods (2005).

O modelo cíclico de compreensão da interação entre homem e tecnologia, portanto,

combina retroalimentação de fatos passados e previsões com possíveis eventos.

Page 68: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

66

3 – usuários de sistemas tecnológicos são percebidos como parte de um conjunto

maior. O modelo cíclico foca na ação coordenada, em como usuários e ambiente estão

dinamicamente envolvidos, e como as ações e os eventos estão mutuamente dependentes.

4 – é direta a influência do contexto e das situações. Neste modelo, entende-se que o

contexto pode afetar a forma de trabalho e interação homem-tecnologia, especificamente

como os eventos são avaliados e de que forma as ações são selecionadas.

5 – modelos são mais funcionais que estruturais. A ênfase do modelo cíclico é no

desempenho, mais que no processo interno.

Para Hollnagel e Woods (2005), é importante a percepção cognitiva na interação

homem-máquina como se homem e máquina fosse um único sistema de forma a se alcançar o

resultado esperado.

Cada um com suas peculiaridades e limitações, a relação homem-máquina pode ser

entendida como sendo a operação de um Sistema Cognitivo Integrado – Joint Cognitive

System (JCS), no qual duas ‘inteligências’ se interagem para alcançar determinado fim

(HOLLNAGEL E WOODS, 2005).

Afinal, para Hollnagel e Woods (2005), um ‘Sistema Cognitivo’ diz respeito a um

sistema que consegue modificar seu comportamente com base em ‘experiência adquirida’ e,

com isso, manter o controle das diversas situações, sejam normais ou anormais, esperadas ou

não, atingindo, ao término de um processo ou uma fase determinado fim.

Para Hollnagel e Woods (2005), um Sistema Cognitivo Integrado apresenta uma ou

mais das seguintes características:

1. Um funcionamento não trivial, no qual geralmente exige mais que uma simples

ação para atingir um resultado ou obter uma resposta do artefato. Para artefatos mais

complexos, para tecnologias mais complexas, uso adequado vai requerer um melhor

planejamento ou ‘agendamento’ – antecipação e conhecimento do funcionamento do artefato.

2. O funcionamento do artefato é, até certo ponto, imprevisível ou ambíguo, para

qualquer uma das razões acima mencionadas.

3. O uso do artefato implica em um processo dinâmico, no qual o ritmo ou

desenvolvimento dos eventos não é orientado para o utilizador/operador. Como consequência

tem-se que tempo é um recurso limitado.

Entendendo-se, para esta pesquisa, artefato como sendo qualquer tecnologia que

amplifique a capacidade de o homem executar uma atividade. Especificamente para este

trabalho, o uso de complexos sistemas sociotécnicos na condução das modernas aeronaves.

Page 69: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

67

Por sistemas cognitivos pode-se entender, portanto, como sendo um sistema

direcionado e focado em resultados, com base em símbolos manipuláveis, adaptável e capaz

de analisar um mesmo problema de diversas formas e operar com base em seus dados e nas

informações obtidas do ambiente, além de ser capaz de planejar e modificar determinadas

ações com base em seu conhecimento prévio, obtendo feedbacks de informações e

experiências passadas e prevendo alternativas para futuros eventos.

É imprescindível, pois, uma nova interpretação na relação homem-máquina, para que

se possam obter melhores resultados nas diversas áreas que fazem uso da automação para sua

execução. Na era digital, entender o binômio homem-máquina como sendo um sistema

cognitivo, possibilitaria ao operador dos diversos equipamentos tecnológicos maior controle

sobre os resultados esperados e melhor efetividade nas situações não usuais ou anormais.

2.9 REFLEXÕES SOBRE AUTOMAÇÃO E A NECESSIDADE DE NOVAS

COMPETÊNCIAS

2.9.1 O ‘controle do sistema’ como ferramenta essencial

Os resultados de algumas investigações de acidentes aeronáuticos apontam como um

dos fatores contribuintes, o despreparo da tripulação em monitorar adequadamente o

automatismo da aeronave (HENRIQSON et al, 2009); ou seja, o aumento no número de

informação sobre a condição de um voo sem um adequado tratamento dessas a fim de que

seja possível, por exemplo, sanar uma situação imprevista causada por falha do sistema

tecnológico ou condição adversa.

Embora as medições e os dados sejam necessários para se controlar, compreender e

prever o comportamento dos sistemas tecnológicos, os dados em si não são suficientes. A

crença de que mais dados ou informações automaticamente levam a melhores decisões é

provavelmente um dos maiores erros da sociedade da informação (HOLLNAGEL e WOODS,

2005).

Hollnagel e Woods (2005) apontam 3 (três) consequências significativas do

crescimento da complexidade dos sistemas tecnológicos:

1ª. consequência – A busca por maior eficiência, inevitavelmente, traz o sistema mais

próximo dos limites de seu desempenho seguro. Mesmo possuidores de diferentes conceitos

sobre riscos, preocupações com a segurança nas atividades, ou mesmo levando-se em

Page 70: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

68

consideração a opinião pública ou o senso de negócio da indústria aeronáutica, pode-se aceitar

o aumento dos riscos em uma operação que envolve sistemas automatizados, quando se

vislumbra um ganho de eficiência.

Riscos maiores são combatidos por meio de aplicação de sistemas de segurança

automatizada e sistemas de avisos, embora estes possam aumentar a complexidade do sistema

tecnológico e, em virtude disto, levar a riscos ainda maiores, criando um ciclo vicioso que

gira em torno da busca de meios mais seguros de se fazer voar, e formas mais diretas de se ter

sistemas com operações mais seguras.

Cabe salientar que os autores apontam para o fato de que o aumento na utilização de

complexos sistemas tecnológicos pode manter constante o número de acidentes, ou até

diminuir, entretanto, os acidentes que ocorrerem podem vir a ter consequências ainda mais

graves, uma vez que, com a complexidade dos sistemas, tem-se maior necessidade de

compreensão por parte dos operadores do funcionamento dos modernos equipamentos.

2a. consequência – Aumento da dependência no adequado desempenho dos sistemas

tecnológicos. Uma falha de sistema pode levar a consequências muito além do ambiente

natural de trabalho no qual o operador/piloto está acostumado a viver.

O incremento na interdependência entre os diversos sistemas de controle de voo traz a

necessidade de questões relacionadas à interação do homem com tecnologia serem, também,

estendidas para assuntos ligados ao desenho dos sistemas tecnológicos nos diversos

ambientes, à implementação dos sistemas nas atividades, ao gerenciamento e à manutenção

desses sistemas.

3a. consequência – Por fim, o incremento significativo na quantidade de dados

gerados. Tem-se aumentado o número de sistemas e com isso a quantidade de dados que se

pode obter de cada um deles. Graças ainda, dentre outros pontos, à melhoria no sistema de

medição e na capacidade de transmissão. Os computadores têm auxiliado tanto na produção

de mais dados, quanto em uma maior flexibilização no armazenamento, transformação,

transmissão e apresentação desses dados.

Esses apontamentos determinam novas demandas para os modelos e métodos que

descrevem a interação homem-máquina, bem como um novo paradigma para a ciência que

descreve esse processo.

O paradigma digital modificou sobremaneira a relação do homem com as diversas

máquinas que com ele interagem. Novas competências são necessárias para atenderem às

demandas apresentadas por esses complexos sistemas (STATON et al, 2005 apud

HENRIQSON, 2011; RIBEIRO, 2008).

Page 71: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

69

As mudanças no ambiente de trabalho dos pilotos, tanto em suas cabines, com a

crescente utilização de complexos sistemas tecnológicos por parte da indústria aeronáutica,

quanto no crescente uso da automação como filosofia de controle das operações aéreas,

apontam para uma progressiva e contínua transferência quanto ao tipo de atividade exercida

por esses profissionais, uma tarefa que antes apresentava uma natureza tipicamente física ou

mecânica, o ato de voar, passa a ser tratada, cada vez mais, com uma natureza mental ou

cognitiva (BILINGS, 1996, 1997; SARTER e WOODS, 1997 apud HENRIQSON et al,

2009).

Nove grandes categorias foram descritas pela ICAO (1998) em um estudo realizado

pelo G-10 subcomitê, da Sociedade de Engenharia automotiva, que abordou as deficiências

nos sistemas de informação e as possíveis razões em alguns ‘reportes’ de acidentes. As

categorias apontam algumas preocupações importantes a serem analisadas:

1. Consciência Situacional;

2. Complacência com a automação;

3. Intimidação para com a automação;

4. Manutenção da autoridade do piloto em comando;

5. Desenho de interface piloto-sistema das aeronaves;

6. Seleção de pilotos;

7. Treinamento e procedimentos;

8. A ‘relação’ do piloto com a automação das aeronaves; e

9. Outras questões abordadas.

Essas categorias de estudo revestem a preocupação dos responsáveis pelo sistema na

modificação do caráter da atividade. As nove categorias versam, direta ou indiretamente,

sobre a natureza mental ou cognitiva da atividade aérea. A atenção de operadores do sistema

deve ser direcionada para uma melhor interação desses com as máquinas ou equipamentos

tecnológicos.

Como afirma Ribeiro (2008), a evolução dos sistemas de automação tem feito as

operações aéreas cada vez mais seguras e eficientes, reduzindo drasticamente o número de

acidentes devidos a falhas em equipamentos. Esses sistemas auxiliam os pilotos no

desempenho da aeronave e ao alcance da segurança no voo e da economia de combustível.

Page 72: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

70

Entretanto, a complexidade dos atuais sistemas de automação exige decisões que

demandam conhecimento e domínio de todos os recursos automatizados disponíveis nas

cabines de voo.

Importante salientar, como afirma Ribeiro (2008), ainda que as estatísticas apontem os

erros humanos como os maiores responsáveis pelos acidentes, sabe-se que estes erros são

decorrentes de um cenário que envolve, além do piloto, o seu treinamento, a organização onde

trabalha e o projeto de engenharia do sistema de automação.

Considerando a complexidade dos sistemas tecnológicos, alguns pontos devem ser

observados para que seja possível melhorar o relacionamento homem-máquina. Entende-se

complexidade aqui, como aponta Hollnagel e Woods (2005), de uma forma mais estrutural,

que envolve o desenvolvimento de sistemas e sistemas de controle em busca de operações

cada vez mais seguras.

A questão complexidade e os fatores que a afetam podem ser visualizados na Figura 9

abaixo.

Modifica

Ocasiona

Treinamento Experiência insuficientes

Eventos inesperados

Controles

Atividade

Importante fatores que afetam a complexibilidade.

Tempo e conhecimentoinsuficientes

Compreensão

Parcial /comprometida

Planos

inesperados

Desenho deinterface deficientes

Eventos /experiências

Arquitetura/ desenho

Figura 9 - Importantes fatores que afetam a complexidade nos modernos sistemas

Fonte: Adaptado de Hollnagel e Woods (2005).

Nesta figura, Hollnagel e Woods (2005) buscam identificar três momentos relevantes

na comunicação homem-máquina. A primeira é percebida na identificação e avaliação dos

eventos que ocorrem em determinada atividade. Neste ponto, dois fatores apontados são o

treinamento insuficiente e a falta de experiência; essas deficiências de avaliação e

interpretação dos eventos podem direcionar a uma compreensão da situação de maneira

incompleta, parcial ou mesmo indevida.

Page 73: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

71

Um segundo fator a ser apontado são o tempo e o conhecimento insuficientes; o que

quer dizer que, ainda que seja possível a identificação de um problema, fica muito difícil

manter uma correta atitude na execução de determinada tarefa, caso o tempo para

determinado contexto e/ou o conhecimento de determinada reação não forem suficientemente

satisfatórios. Esses fatores são imprescindíveis, em especial, para momentos anormais ou de

respostas inadequadas do equipamento.

Por fim, o terceiro fator apontado na figura é a complexidade no momento da

interação do homem com a informação apontada pelo equipamento ou dispositivos de

interação que, após analisar os dados obtidos dos diversos sensores da aeronave, mostra ao

operador qual melhor atitude a ser tomada em determinada situação, isso quando operando de

maneira adequada e sem panes no sistema.

Entretanto, como apontam Hollnagel e Woods (2005), se os dispositivos de interação

do homem com a máquina forem de difícil interpretação ou compreensão, a implementação

de uma ação corretiva ou diretiva pode ser incompleta ou mesmo incorreta.

A ICAO (1998) afirma que diversas questões podem ser observadas quando a

utilização da automação não é promovida com uma adequada interação homem-máquina de

maneira a atender às necessidades e particularidades de determinado momento do voo.

Para Hollnagel e Woods (2005), essas deficiências elencadas por diversos estudos

caracterizam certa perda de controle por parte dos operadores, justificada seja pela falta de

tempo para agir, pela falta de conhecimentos quanto aos diversos equipamentos e seu modus

operandi, ou ainda pela falta de competências essenciais para o entendimento de avançados

sistemas cognitivos.

Essa ausência de habilidades, conhecimentos e atitudes no trato com os equipamentos

altamente avançados pode ocasionar a sensação de perda de controle do sistema por parte do

operador.

Dentre os diversos motivos que justificariam a sensação de perda de controle e

incorreta interpretação desses equipamentos, podem-se citar: os eventos inesperados ou

desconhecidos que ocorrem ao longo de uma operação; a pressão em agir em um curto espaço

de tempo em casos de emergências ou situações anormais; não saber compreender ou

reconhecer o que ocorre em determinados momentos da operação; não saber o que se fazer em

determinado contexto; e também não possuir recursos, materiais ou cognitivos, necessários

para agir em determinado momento, especialmente, em situações anormais, ou mesmo,

momentos em que a ausência dos sistemas automatizados for inevitável.

Page 74: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

72

O processo de se manter no controle de um equipamento se dá conhecendo-se e

compreendendo-se o que acontece (supervisão constante), o que aconteceu (feedback) e o que

acontecerá (feedforward), em um determinado momento, por determinada razão, com um

contexto específico (HOLLNAGEL e WOODS, 2005).

Para facilitar o entendimento do processo de se manter o controle por meio de uma

supervisão constante, Hollnagel e Woods (2005) apresentam a metáfora do rio, de forma a se

reconhecer os elementos de feedback e feedforward, como pode ser visto na Figura 10 abaixo.

PASSADO

PRESENTE

FUTUROLOCALIZAÇÃO

PROCESSO ENTIDADE

CONTROLE

Metáfora do Rio

Estar no controle é comodescer um rio.

Necessidade de antever o que irá

acontecer (curvas, pedras,corredeiras...)

Necessidade de identificaronde você está e de que

forma o rio está fluindo

Necessidade de olharpara trás (lembrar)

a fim de ser possívelantecipar o quepode vir ocorrer

Figura 10 - Metáfora do rio

Fonte: Adaptado de Hollnagel e Woods (2005).

Outros pontos importantes para a manutenção do controle dos sistemas cognitivos

seriam ainda a clareza de alternativas nas ações e nos procedimentos e a capacidade de

planejar e avaliar determinada situação, habilidades que podem e devem ser desenvolvidas em

um operador de sistemas cognitivos avançados.

A crescente complexidade dos sistemas cognitivos pode apontar para uma

incompatibilidade entre a demanda nas tarefas desses sistemas e a capacidade operativa de

seus ‘controladores’19

. Essa deficiência pode ser diminuída ou mesmo extinta, com a

simplificação dos sistemas cognitivos ou com uma melhora na capacitação de seus

operadores, ou mesmo, na execução de ambos (HOLLNAGEL e WOODS, 2005).

19

Assume-se aqui a necessidade de o operador ou piloto de aeronaves altamente avançadas ter o controle dos

sistemas das aeronaves em todos os momentos de um voo. Considerando controle a ato de conhecer sua

operacionalidade, analisar seus dados e antever possíveis falhas.

Page 75: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

73

No tocante ao treinamento, Hollnagel e Woods (2005) defendem que é fundamental o

desenvolvimento e o aprimoramento das competências essenciais à manutenção ou mesmo

retomada de controle dos diversos sistemas tecnológicos por parte dos operadores/pilotos.

Para a ICAO (1998), os pilotos possuem ferramentas novas e tecnologicamente

complexas para lidarem em seu dia a dia. Essas novas ferramentas, ou novos artefatos

tecnológicos, representam, claramente, novos desafios, particularmente, no processo de

formação desses profissionais.

Esses desafios relacionam-se, em grande parte, com a interação deste piloto com a

máquina, em uma abordagem que amplie a consciência situacional, dê condições de o piloto

responder às demandas da automação e manter-se consciente de sua responsabilidade durante

um voo, no qual, atualmente, atua de forma mais contundente como um gerenciador de

sistemas (ICAO, 1998).

2.9.2 O ‘controle cognitivo’ para os sistemas tecnologicamente avançados

Segundo Reason (1990), a automação não eliminou o erro humano, apenas modificou

sua natureza. O fator humano teve como vantagens na introdução da automação, entre outros

pontos, a redução de sua carga de trabalho físico, em alguns momentos do voo, e da

diminuição da fadiga, com a liberação de algumas cargas repetitivas no controle da aeronave.

Entretanto, a carga de trabalho mental foi ampliada nas diversas fases de um voo. Faz-

se necessário o controle cognitivo por parte do piloto para a execução segura e mais eficaz no

relacionamento com os sistemas tecnológicos (HENRIQSON et al, 2009).

Para Staton et al. (2005 apud HENRIQSON et al, 2009), as capacidades cognitivas a

serem consideradas são a percepção de determinada informação, a compreensão do dado

trabalhado pelos diversos sistemas e a capacidade de entendimento dessa informação, por

parte do piloto, para projeção futura.

O que é corroborado por Endsley (1999) e Endsley e Tillburry (2004 apud

HENRIQSON et al, 2009), quando afirmam que as compreensões das diversas situações ou a

permanência positiva de uma consciência situacional se processa cognitivamente em três

níveis:

1° nível – a percepção dos elementos da situação corrente;

2° nível – a compreensão dos elementos percebidos pela ativação dos mecanismos da

memória e associação direta ou indireta com modelos mentais (esquemas e planos) mais

próximos da situação percebida; e

Page 76: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

74

3° nível – a manifestação dos mecanismos de antecipação, como aponta Hollnagel e

Woods (2005) o feedforward, estado futuro do sistema.

Esse controle cognitivo, mediado pela consciência situacional mantida pelo piloto

quando da realização do voo, é o que indica o esforço cognitivo desse profissional, esforço

este classificado em três níveis de controle estabelecidos por Rasmussen (1982 apud

HENRIQSON et al, 2009).

Para Rasmussen (1982), o controle cognitivo pode se dar de forma consciente,

inconsciente ou misto, dependendo do tipo de solicitação cognitiva nas mais variadas

situações que se processam em um voo.

Os níveis de controle cognitivo apresentados por Rasmussen (1982) são:

1° nível – Skill-based behavior – SBB: um momento no qual o grau de previsibilidade

das situações são maiores, e o piloto poderá contar com suas habilidades ou aptidões

psicomotoras para responder às diferentes situações;

2° nível – Rule-based behavior – RBB: situações predeterminadas por procedimentos

estabelecidos ou contidos em legislação vigente; e

3° nível – Knowledge-based behavior – KBB: situações imprevistas que necessitarão

dos conhecimentos adquiridos, sejam eles tácito ou teórico, para serem solucionadas.

Como aponta Dekker, et al (2006), um dos desafios mais cruciais na aviação comercial

nesses tempos tem sido o treinamento de transição dos pilotos de uma paradigma analógico,

de cabine tradicional e pensamento mecânico, para um ambiente altamente automatizado e

sofisticado como das aeronaves glasscockpit. A introdução de conceitos relacionados à

automação e seu uso deve ocorrer já nos primeiros momentos da formação de um piloto.

A tecnologia emerge como uma “faca de dois gumes’ (AOPA, 2005), que, ao mesmo

tempo em que amplifica as potencialidades e capacidades do piloto e das aeronaves, promove

um incremento na carga de trabalho mental e na necessidade de investimentos na formação

dos pilotos (DEKKER, DAHLSTROM, NAHLINDER, 2006; ICAO, 1998).

2.9.3 Novas competências para um efetivo ‘controle cognitivo’

Diante de novas exigências no mundo tecnológico, a formação de pilotos da aviação

civil deverá assumir uma postura na qual atenda às demandas de um mundo no qual os

complexos sistemas sociotecnológicos estão cada vez mais presentes, necessitando redefinir

características e finalidades da formação, bem como as competências exigidas para um ‘novo’

aviador.

Page 77: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

75

A necessidade de mudança no quadro de formação de pilotos civis, em especial,

devido às constantes e contínuas evoluções no mundo tecnológico, levanta a necessidade de

se repensar nas políticas educacionais para o aprimoramento desses aeronautas na utilização

das novas ferramentas de trabalho e no novo e mais complexo ambiente de voo no qual estão

inseridos, desde o primeiro momento da formação do piloto (DEKKER, 2006).

No setor da aviação, não diferente de outros setores que “sofrem” com o incremento

da automação para a execução de suas tarefas, os pilotos têm sentido os reflexos dessa nova

conjuntura que permeia os setores que utilizam a tecnologia com vistas, dentre outros pontos,

a aumentar a segurança e diminuir os custos operacionais.

Como aponta Pezzi (2001), o trabalhador de um setor, com elevado uso de tecnologia,

deve desenvolver habilidades, tais como, ser criativo e adaptável a novas situações, saber

realizar multitarefas, tomar atitudes proativas, ter confiança em sua capacidade de decisão,

uma formação humanística, habilidade de encontrar soluções em situações de risco e

capacidade de manter relações interpessoais.

Saber dialogar sobre um determinado tema significa receber uma determinada

informação e processá-la em um nível que possa ser transformada ou conhecimento tácito em

ação ou conhecimento expresso, possibilitado pela criação de novas relações com a

articulação entre os diversos conteúdos estudados (ALESSANDRINI, 2002).

Quando se fala de competência, alguns pontos devem ser levantados. Primeiramente, é

necessário conceituar o termo competência. Para Alessandrini (2002, p. 164), “competência

refere-se à capacidade de compreender uma determinada situação e reagir adequadamente

frente a ela”.

Competência pode ser entendida, portanto, como a capacidade de avaliar a situação

enfrentada, estabelecer um parâmetro com o que foi vivenciado, identificar anormalidades,

reagir de forma proporcional ao momento e sugerir/agir a fim de atuar da melhor maneira

possível, na intenção de mitigar ou sanar qualquer problema existente.

Como aponta Ferreira (1999 apud por ALESSANDRINI, 2002, p. 164), competência

“é a qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa;

capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade. [Está relacionada à] oposição, conflito, luta”.

Machado (2002, p. 151) afirma que:

[...] já algum tempo, as transformações no quadro de ocupações ocorrem em um

ritmo acelerado. Já não se aprende a manejar certo tipo de máquina, que logo se

tornará obsoleto, mas sim a ler e a entender o manual de instruções de um novo

equipamento, a aprender padrões gerais de funcionamento de variados tipos de

equipamentos, ou mesmo a buscar no help dos novos softwares os elementos

fundamentais para uma utilização competente.

Page 78: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

76

Portanto, é de fundamental importância que a formação escolar possa dar condições

aos profissionais das mais diversas áreas de possuírem as competências básicas para um

melhor agir frente às novas exigências dos setores.

Dentre as diversas competências, pode-se destacar:

[...] capacidade de expressão, de compreensão do que se lê, de interpretação de

representações, a capacidade de mobilização de esquemas de ação progressivamente

mais complexos e significativos nos mais diferentes contextos, a capacidade de

construção de mapas de relevância das informações disponíveis, tendo em vista a

tomada de decisão, a solução de problemas ou o alcance de objetivos previamente

traçados, a capacidade de colaborar, de trabalhar em equipe e, sobretudo, a

capacidade de projetar o novo, de criar em um cenário de problemas, valores e

circunstâncias no qual se é lançado e não qual deve-se agir solidariamente

(MACHADO, 2002, p. 151).

De acordo com o relatório DeSeCo20

(RUCHEN E TIANA, 2004 apud SACRISTÁN,

2009, p. 37), “a competência é um conceito holístico que integra a existência de demandas

externas, os atributos pessoais (incluída a ética e os valores), bem como o contexto”.

Para o relatório (RUCHEN E TIANA, 2004 apud SACRISTÁN, 2009), competência

se torna o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes adequadas para enfrentar uma

determinada situação e ainda “a habilidade de satisfazer com êxito as demandas de um

contexto ou situação, mobiliando os recursos psicológicos necessários (de caráter cognitivo e

metacognitivo)”.

Como afirma Sacristán (2001), as competências básicas são aquelas que capacitam os

indivíduos para participar, de modo ativo, em múltiplos contextos ou âmbitos sociais.

Constata-se a importância de desenvolver nos profissionais os aspectos ligados à

competência – conhecimentos, habilidades e atitudes – para que assim tenham condições de

responderem às demandas sociais de acordo com as necessidades de um dado problema, seja

de ordem técnica seja de ordem pessoal.

Como aponta o relatório final do programa da Organização para a cooperação e

desenvolvimento econômico – OCDE, explicitadas no DeSeCo, as competências básicas

podem ser agrupadas em 3 (três) categorias (SACRISTÁN, 2009, p. 45):

a) Interatuar no cerne de grupos socialmente heterogêneos.

1. Habilidade para se relacionar adequadamente com outras pessoas;

2. Habilidade para cooperar; e

20

DeSeco (Definição e seleção de competências-chaves) é um documento seminal elaborado pela OCDE no ano

de 2000 e revisado e difundido para todos os países da OCDE em 2003.

Page 79: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

77

3. Habilidade para manejar e resolver conflitos.

b) Atuar autonomamente

1. Habilidade para agir dentro de um marco geral; e

2. Habilidade para planejar e executar planos e projetos pessoais.

c) Utilizar os recursos ou instrumentos interativamente

1. Habilidade para usar a linguagem, símbolos e textos de forma interativa;

2. Habilidade para usar o conhecimento e a informação de forma interativa; e

3. Usar a tecnologia.

Competência, pois, pode ser entendida dentre tantas possibilidades como a capacidade

de mobilizar o conhecimento adquirido, no uso de habilidades essenciais, com determinada

atitude, no intuito de enfrentar situações diversas das submetidas em treinamentos, ou

situações padronizadas, a fim de que possam obter bons resultados nas mais diferentes

situações vivenciadas em seu ambiente de trabalho, em especial nas inesperadas.

Muito mais importante que aprender os conteúdos das diversas disciplinas nas escolas,

é essencial que a formação profissional dê condições à pessoa de ter pleno desfrute de suas

potencialidades.

Como defende Machado (2002), a formação profissional deve possibilitar uma

“incorporação com a consciência propiciada pela construção de canais de emergência, de

mobilização do que se aprendeu, do que se sabe”. Faz-se necessário, pois, dar, ao profissional,

condições afetivo-cognitivas de explicitar o que antes teria apenas como conhecimento tácito

ou implícito.

O espectro de competências que Machado (2002) denominou de ‘pessoais’ não é

desenvolvido em uma metodologia na qual está presente apenas o tecnicismo e a valorização

independente de conteúdos.

A formação tecnicista, como afirma Machado (2002), inviabiliza o ‘enraizamento’ do

conhecimento tácito, impossibilitando ao profissional a capacidade de articular conhecimento

teórico com a habilidade prática, ou seja, pôr em prática o que se aprendeu na teoria.

Para Machado (2002), esse enraizamento pode ser viabilizado inserindo todo o

conhecimento disciplinar, conteudista, fixo e tecnicista em um contexto mais amplo, podendo

ser caracterizado como uma contextualização no processo de ensino-aprendizagem.

Contextualizar significa “enraizar uma referência em um texto do qual foi extraída e

longe do qual perde parte substancial de seu significado”. É, pois, para o autor, uma estratégia

fundamental para a construção de significações (MACHADO, 2002, p.150).

Page 80: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

78

O que se pode dizer de um ambiente com elevado uso de tecnologia?

Não seriam necessárias competências básicas que permitissem, sempre que necessário,

a resolução de conflitos entre informações?

Não é esperado do piloto, por exemplo, que seu conhecimento esteja ‘enraizado’ a fim

de ter condições de pôr em prática o que se aprendeu na teoria?

Como já apontadas com relação às reações baseadas no conhecimento

(RASMUSSEN, 1982), o piloto deve ter condições físicas, psicológicas e cognitivas de forma

a responder adequadamente a uma situação inesperada em qualquer fase de seu voo.

O uso de novas tecnologias não exigiria, pois, a ‘contextualização’ dos diversos

saberes para o uso devido em determinado momento?

Para Machado (2002, p.152):

[...] a formação profissional que vise ao universo de trabalho, tal como hoje se

configura, deve necessariamente situar no foco das atenções algo que não é novo,

que sempre existiu, mas que produziu seus efeitos de modo coadjuvante ou

colateral: as competências básicas a serem desenvolvidas dizem respeito à formação

pessoal, às capacidades pessoais que transcendem os temas estudados, que

sobrevivem às transformações cada vez mais rápidas nos cenários dos equipamentos

e da produção material.

2.9.4 Novas demandas curriculares

A despeito de todo esforço para se manterem os elevados índices de segurança no

sistema aeronáutico de forma geral, e ainda que se saiba que o desempenho dos pilotos é um

ponto crítico para a segurança na aviação, o treinamento desses permanece mais reativo e

voltado para aspectos motores que proativo e preocupado em criar e desenvolver nos pilotos

melhor preparo para sua atuação como operadores de sistemas tecnológicos complexos

(BENT, 2011).

Um estudo realizado pela Center for Asia pacif Aviation – CAPA, em 2009, apontou

que o treinamento para as empresas aéreas é visto mais como um custo que pode ser evitado,

que uma prioridade para as políticas empresariais (BENT, 2011).

Entretanto, a transformação tecnológica no ambiente aeronáutico requer das políticas

de formação um olhar mais ativo, no sentido de fazer da formação um ponto fundamental para

o desenvolvimento seguro da aviação, trazendo mais pontos favoráveis para o uso da

automação no ambiente aéreo (FAA, 2003).

Atualmente, como afirma Bent (2011), as aeronaves possuem sistemas de

gerenciamento de voo tão complexos, que dificilmente pode se esperar que os pilotos

Page 81: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

79

conheçam ou entendam todos os sistemas com a profundidade que seria ideal para se operar

de forma segura e eficaz. Isso já considerando uma adequada formação.

A despeito da complexidade de um sistema, espera-se que um piloto saiba conduzir de

forma competente uma aeronave em todas as situações. Em especial, nas situações anormais,

quando a tecnologia ‘passa’ a responsabilidade para o piloto (BENT, 2011).

A indústria aeronáutica, na tentativa de manter as atividades aeronáuticas em altos

patamares de segurança, cria softwares para cercarem por todos os lados a falibilidade

humana.

A tecnologia, ao longo do tempo, vem se desenvolvendo de maneira exponencial,

enquanto os pilotos, humanos, mantêm, normalmente, suas limitações, ampliando suas

habilidades, sua cognição, ao menos no que concerne às questões de ordem técnicas, de

acordo com sua formação, ainda que de forma limitada (BENT, 2011).

É certo que a introdução da automação na aviação reduziu o número de acidentes e

incidentes. Entretanto, falhas e erros ainda permanecem, por parte do desenho do projeto, da

programação dos sistemas ou mesmo por falha na regulação do setor.

A fim de salvaguardar a segurança na aviação, sistemas mais complexos são criados,

como forma de barreira para se certificarem que erros não ocorrerão, aumentando dessa forma

a complexidade do sistema e com isso as demandas por parte dos pilotos para a interação com

as máquinas (HOLLNAGEL e WOODS, 2005).

Incrementando sistemas com vistas a diminuir falhas latentes e potenciais, aumenta-se

a complexidade das tarefas e da compreensão exigidas por parte dos pilotos e do

envolvimento cognitivo deste em uma operação aérea, criando um ciclo sem início e fim

definidos, e explicando o paradoxo da automação (HOLLNAGEL e WOODS, 2005).

Na figura abaixo, pode-se identificar o denominado ‘paradoxo da automação’. Com

vistas a diminuir a possibilidade de falhas, o sistema é incrementado, ou melhor, recebe

adaptações para melhorar suas funcionalidades. Com isto, aumenta-se a complexidade das

diversas tarefas disponíveis; aumentando da mesma forma as exigências aos operadores, estes,

por fim, caso não tenham preparo necessário para lidar com os aplicativos dos complexos

sistemas, estão sujeitos a não conseguirem lidar com falhas inesperadas, o que acarretará em

consequências também inesperadas, o que leva a nova reavaliação do sistema, e

possivelmente, retornar a se incrementar suas funcionalidades.

Page 82: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

80

Exigências de desempenho

Task complexitydas tarefas

Complexidade

Opportunities

malfunction

Oportunidades ou

malfuncinamento

Potencial do sistema

System complexity

Complexidade do sistema

System functionality

Funcionalidadedo sistema

Unwanted consequences

(failures)

Consequências inesperadas

(falhas)

Ciclo de complexidade auto-reforçado.

Figura 11 - Ciclo de complexidade autoreforçado

Fonte: Adaptado de Hollnagel e Woods (2005).

O piloto, mais que um condutor de aeronave, passa a ser um gerenciador e supervisor

de modernos e complexos sistemas (BHANA, 2010).

O desafio, portanto, é promover um treinamento eficiente, eficaz e efetivo de forma a

possibilitar que um piloto compreenda e anteveja as peculiaridades da automação, suas

nuanças e limitações e incorpore essa vasta gama de conhecimentos à variedade de desenhos

de cabine, às características diferenciadas de cada tipo de avião, aos sistemas integrados de

controle da aeronave e aos procedimentos padronizados pelas empresas, e ainda agrupe a

essas características o fato de se operar em um ambiente diverso do natural - o ambiente

aéreo.

Para que seja possível responder a tamanha complexidade, a formação do piloto deve

abarcar elementos que favoreçam o desenvolvimento de competências que o auxiliem a

realizar, com segurança e eficiência, as atividades de uma operação aérea.

Mas como deve ser o modelo de formação de competências de um piloto? Baseando-

se na complexidade, tecnológica e social, qual seria a formação mais adequada a ser

implantada por uma instituição? Como entender competências no mundo altamente

tecnológico como o meio aeronáutico? Quais competências são necessárias para uma

condução segura dos sistemas tecnológicos complexos em uma cabine de voo?

Esses e outros questionamentos tornam-se desafios para essa e outras pesquisas.

Nessas discussões e pesquisas deve-se atentar para as peculiaridades da profissão de piloto,

Page 83: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

81

com o intuito de promover uma formação que atenda à ‘complexidade’ apresentada pela

atividade.

Page 84: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

82

CAPÍTULO 3 COMPONENTES METODOLÓGICOS

3.1 REFERENCIAL METODOLÓGICO

A ciência se faz quando o pesquisador aborda os fenômenos aplicando recursos

técnicos, seguindo um método e apoiando-se em fundamentos epistemológicos. Cada

modalidade de conhecimento pressupõe um tipo de relação entre sujeito e objeto e,

dependendo dessa relação, obtêm-se conclusões diferentes para momentos diferentes

(SEVERINO, 2007).

Primeiramente, vale apresentar algumas posições referentes à definição de ciência,

visto que, de acordo com Galvão (2001), a ciência, em suas diferentes configurações,

desenvolve-se por meio de projetos e pesquisa científicos. De acordo com Galvão (2001), a

prática científica parece ser muito mais criativa e construtiva do que tem sido veiculada por

versões objetivistas da ciência. A ciência, tal qual é concebida, foi defendida por diferentes

teóricos em diversos momentos históricos. O positivismo de Comte, por exemplo, afirma que

todo conhecimento genuíno é baseado na experiência sensível e somente pode avançar por

meio da experimentação e da observação.

Ainda hoje, alguns profissionais percebem a ‘real’ ciência, como afirma Galvão

(2001), somente aquela realizada por cientistas de jaleco branco em seu laboratório, cercados

de todo rigor e isentos de todo tipo de valor, a não ser os princípios científicos ditos como

verdadeiros e embasados em ideais positivistas.

Woogar (1988 apud Galvão, 2001) diz que cientistas não se engajam meramente na

descrição passiva de fatos pré-existentes sobre o mundo. Ao contrário, se preocupam com

uma formulação ativa e com uma construção do caráter do mundo. Tal colocação contribui

para o entendimento da ideia resultante da pesquisa de Woogar (1988 apud Galvão, 2001), de

que na prática científica a presença da criatividade e da construção está mais presente do que

pensam os positivistas e a maioria das pessoas.

Para Galvão (2001), a ciência hermenêutica estabelece uma diferença entre explicação

e interpretação, entre verdade e significado, diz ainda, o autor, que o cientista que adota este

paradigma não busca a verdade lá fora, tal como o cientista natural. Antes, acredita que há um

processo de criação do objeto de estudo, o mundo é interpretado de alguma forma antes que

seja estudado.

Para melhor entendimento, poder-se-ia dizer que, em pesquisas realizadas no âmbito

das Ciências Naturais, há a ocorrência, basicamente, de um único paradigma teórico-

Page 85: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

83

metodológico, que é aquele representado pelo positivismo, coetâneo à constituição da

ciência, enquanto nas pesquisas das Ciências Humanas/Sociais ocorre o que se denominaria

de pluralismo paradigmático (SEVERINO, 2007).

De acordo com Severino (2007), o conhecimento de todo fenômeno era limitado por

uma relação funcional de causa e efeito, que só podia ser medida como uma função

matemática. Em virtude disso, acreditava-se que toda lei científica somente poderia ser

entendida, como lei e ciência se pudesse ser expressa em uma formulação matemática e

observável, daí a necessidade de todo método científico ter sua configuração experimental-

matemática.

As leis físicas, a sociedade, nada é constante, e nem tudo pode ser explicado por meio

da lógica. O positivismo se torna ultrapassado no contexto atual na medida em que finca seus

alicerces em conceitos ligados radicalmente ao determinismo, à hierarquia e à obediência.

Para Bauer, Gaskell e Alumm (2002), não há ‘um modo ótimo’ de fazer pesquisa

social. O interessante é superar o que chamam de ‘lei do instrumento’ (DRUCKER, 1995),

segundo a qual uma criança que só conhece o martelo pensa que tudo deve ser tratado a

marteladas.

Uma vez que o objetivo de fazer ciência e tratá-la de forma qualitativa tem por

objetivo não reduzir a complexidade por meio de um processo de decomposição em variáveis,

mas, ao contrário, ampliar a complexidade ao incluir o contexto (FLICK, 2009).

De acordo com Sandin-Esteban (2003 apud Moraes, 2008), uma perspectiva

epistemológica “é uma forma de compreender e explicar como conhecemos, o que sabemos”.

Ainda para os autores citados, toda e qualquer opção metodológica feita por um pesquisador

pressupõe, implicitamente, uma tomada de posição ontológica e epistemológica.

Ao analisar a aplicação de uma política, neste caso, a PNAC do Brasil, é preciso,

como afirma Moraes (2008), examinar a congruência paradigmática existente entre as teorias

que fundamentam a pesquisa, o método selecionado para a busca de possíveis alternativas e

os respectivos procedimentos estratégicos planejados. Para a autora, todo problema de

pesquisa reflete um contexto epistemológico e uma compreensão de natureza ontológica da

realidade estudada.

Denzin e Lincoln (2000) caracterizam o pesquisador qualitativo como um bricoleur e

um confeccionador de colchas, momento em que esse pesquisador assume imagens múltiplas,

podendo ser entendido como um cientista naturalista, pesquisador de campo e jornalista, o que

tenta refletir a característica da abordagem qualitativa na tentativa de assegurar uma

compreensão em profundidade do fenômeno em questão.

Page 86: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

84

O pesquisador bricoleur entende que a pesquisa é um processo interativo influenciado

pela história pessoal, pela biografia, pelo gênero, pela classe social, pela raça e pela etnicidade

dele e daquelas pessoas que fazem parte do cenário (DENZIN e LINCOLN, 2000).

Para Denzin e Lincoln (2000), a abordagem qualitativa é um campo interdisciplinar e,

às vezes, contradisciplinar, que atravessa as humanidades, as ciências sociais e as ciências

físicas. Possui ainda um foco multiparadigmático, tendo o compromisso com a perspectiva

naturalista e a compreensão interpretativa da experiência humana.

Perceber a ciência como algo mutável, instável e complexo é essencial em um

ambiente tão peculiar quanto o setor aéreo, o qual envolve o relacionamento de tripulações,

controladores de voo, passageiros e um ambiente com elevada (re)evolução sociotecnológica.

3.1.1 Complexidade como componente metodológico

Silva e Cunha (2002, p.81) defendem que “os novos perfis profissionais privilegiam a

criatividade, a interatividade, a flexibilidade e o aprendizado contínuo. Além disso, os novos

profissionais devem ser capazes de operacionalizar seu conhecimento de modo integrado às

suas aptidões e vivências culturais”. Segundo os autores, essas competências imbricadas para

exercer uma profissão caracterizam a complexidade que envolve o processo de formação do

indivíduo em um mundo ‘gerenciado’ por sistemas artificiais.

De acordo com Morin (2009), pode-se definir complexidade como o que se refere à

quantidade de informações que possui um organismo ou um sistema qualquer, indicando a

existência de uma grande quantidade de interações e interferências nos mais diversos níveis.

Para Morin (1990 apud Moraes, 2008. p. 118), ”complexo significa aquilo que é tecido em

conjunto”, já complexus, em latim, quer dizer abraçar.

Possivelmente, toda e qualquer política voltada para a formação e geração de novas

competências deve atentar para a construção de um indivíduo complexo, aquele que “abraça”

as diversas variáveis que formam seu ambiente de trabalho, sejam elementos humanos,

técnicos, tecnológicos, sociais, políticos ou econômicos, e, no caso da formação de pilotos, a

formação consciente de sua responsabilidade para a sociedade, no transporte de vidas e no

trato com as novas tecnologias.

Perrenoud (2000) define competência como o ‘ato’ de mobilizar recursos cognitivos

para enfrentar situações pela inteligência, habilidade e atitudes. Para o setor aeronáutico, na

formação de pilotos, o essencial é mobilizar recursos cognitivos para, dentre outros pontos,

promover o desenvolvimento de competências necessárias à diminuição da ‘distância’ do

Page 87: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

85

piloto para a cabine dos modernos aviões, melhorando, assim, a comunicação desses

profissionais com os sistemas automáticos dos aviões.

Como aponta Endsley (1996), o crescimento da automação tem aumentado a distância

entre os pilotos e os sistemas computadorizados das aeronaves. A autora defende que a

contínua e constante modernização das aeronaves, com o imperativo da tecnologia, tem

exigido, além das percepções, preparo físico e perceptual, condições cognitivas propícias ao

entendimento de todos os sistemas das aeronaves.

Como citado por Silvia e Cunha (2002 apud ASSMMAN, 2000, p. 7-15), “a

construção do conhecimento já não é mais produto unilateral de seres humanos isolados, mas

de uma vasta colaboração cognitiva distribuída, da qual participam aprendentes humanos e

sistemas cognitivos artificiais”.

Acredita-se, como afirma Moraes (2008), na necessidade de se acrescentar às

dimensões construtivistas, interacionistas, socioculturais, questões acerca das emoções e da

espiritualidade que fazem parte da totalidade do homem. Para isso possivelmente seja

imprescindível um diálogo para reestruturação das implicações didáticas, epistemológicas e

curriculares que direcionam a formação/capacitação do piloto civil no Brasil.

Possivelmente, a reforma necessária para a formação de um piloto está orientada nas

palavras de Morin (2009), que aponta a necessidade de uma reforma não pragmática, e sim

paradigmática, concernente à aptidão para organizar o conhecimento e direcioná-lo para

determinado resultado. Uma reforma que possibilite a geração de um pensamento de contexto

mais complexo, no qual estão envolvidos, no caso do setor aéreo, os mais diversos elementos,

sejam os controladores, seja o pessoal de solo, a manutenção, a direção da empresa, os

passageiros, o moderno avião e o piloto.

Para Morin (2009), o complexo requer um pensamento que capte relações, inter-

relações mútuas, ‘fenômenos multidimensionais’, realidades que são simultaneamente

solidárias e conflitivas, que respeite a diversidade, ao mesmo tempo em que a unidade, um

pensamento organizador que conceba a relação recíproca entre todas as partes.

É fundamental em uma pesquisa qualitativa que o pesquisador assuma uma postura de

‘possibilidades’ para poder conhecer, reconhecer, identificar, analisar e promover a

elaboração de algo que seja, ou possa ser visualizado, como novo (FLICK, 2009).

Esse entendimento da pesquisa foi defendido por Freud (1958 apud Flick, 2009, p.

97), o qual afirma que essa atitude, conhecida por “atenção uniformemente suspensa” pode

evitar alguns problemas tais como:

Page 88: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

86

[...] Pois assim que alguém, até certo ponto, concentra deliberadamente sua atenção,

essa pessoa inicia uma seleção a partir do material a sua frente; um ponto estará

fixado em sua mente com particular clareza, e outro será, igualmente,

desconsiderado - ao fazer essa seleção, a pessoa estará seguindo suas expetativas ou

propensões. Isso, no entanto, é precisamente o que não deve ser feito (grifo nosso).

Ao fazer essa seleção, se ela seguir suas expectativas, correrá o risco de nunca

descobrir nada além do que já sabe; e, se seguir suas inclinações, com certeza,

falsificará aquilo que pode perceber.

3.2 SOBRE A MODELAGEM DA PESQUISA E A GERAÇÃO DE DADOS

3.2.1 As ferramentas da pesquisa

Como ferramentas de pesquisa, foi utilizada para geração de dados, entrevistas

semiestruturadas, no intuito de analisar a aplicação das políticas para a formação/capacitação

de pilotos da aviação civil, frente às novas exigências dos complexos sistemas tecnológicos a

bordo das modernas aeronaves e do mercado de trabalho. As entrevistas buscaram também,

identificar possíveis lacunas e dificuldades encontradas no processo de formação do piloto no

Brasil.

A entrevista semiestruturada ou semipadronizada teve a intenção, como afirmam

Lüdke e André (1986), de captar a informação desejada de forma imediata e corrente,

permitindo aprofundamento de pontos levantados por outras técnicas ou mesmo durante a

própria entrevista.

A entrevista semipadronizada tem sua riqueza na geração de dados advindos dos

entrevistados, os quais possuem uma excelente e complexa ‘reserva’ de conhecimento sobre o

tópico pesquisado (FLICK, 2009).

Outra ferramenta utilizada foi a análise documental dos seguintes documentos:

Resoluções emitidas pelo Conselho Nacional de Aviação Civil - CONAC, Política Nacional

de Aviação Civil – PNAC, Manuais da Agência Nacional da Aviação Civil, dos

Regulamentos Brasileiro da Aviação Civil (RBAC) e Regulamento Brasileiro de

Homologação Aeronáutica (RBHA), do Código Brasileiro Aeronáutico, documentos da OACI

(Organização da Aviação Civil Internacional), matrizes curriculares presentes nos manuais de

cursos de formação de pilotos.

Na análise documental, a intenção é, conforme defende Caulley (1981 apud LÜDKE E

ANDRÉ, 1986), a de identificar informações factuais nos documentos a partir dos

pressupostos de interesse levantados neste trabalho, além de ser uma fonte de onde se podem

retirar evidências que fundamentem afirmações e declarações da pesquisa.

Page 89: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

87

Como afirma Flick (2009), os documentos devem ser vistos como uma forma de

contextualização da informação. Portanto, é fundamental que sejam analisadas as intenções

para as quais os documentos foram elaborados.

Com o intuito de antender, responsavelmente, às questões ligadas à formação dos

pilotos no Brasil, a escolha dos documentos foi determinada com base nos critérios

apresentados por Flick (2009). Assim sendo, buscou-se verificar a autenticidade, a

credibilidade, a representatividade e a significação dos documentos que compõem o corpus da

pesquisa.

Vale destacar que a análise dos documentos envolveu não apenas seus conteúdos

como também o contexto, a utilização e a função desses documentos.

5.2.1 Participantes da pesquisa

Com o intuito de possibilitar melhor contextualização do material analisado, com a

prática do treinamento de pilotos, foram entrevistados “agentes” participantes diretos do

processo de formação de pilotos no Brasil.

Os seguintes profissionais e instituições participaram da pesquisa:

– 4 representantes da Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC

Foram entrevistados setores que apresentaram caminhos metodológicos para a

execução da política de formação de pilotos no Brasil e suas características, bem como as

possíveis alterações previstas para o futuro da profissão.

Para que se pudesse compreender a formação, do ponto de vista do órgão responsável

pela regulação e fiscalização do processo de formação dos pilotos no Brasil, foram

entrevistados 4 (quatro) representantes de 3 (três) setores da Agência que, a partir desse

momento, a fim de preservar suas identidades, serão denominados da seguinte forma:

RG1 (Representante do Governo 1);

RG2 (Representante do Governo 2);

RG3 (Representante do Governo 3); e

RG4 (Representante do Governo 4).

– 01 responsável ou representante legal pelo Departamento de treinamento de 2 (duas)

empresas aéreas brasileiras que fazem uso de alta tecnologia para o gerenciamento de um voo.

Page 90: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

88

Foram selecionadas duas empresas, representantes do que se pode denominar

“mercado de trabalho”, a fim de serem identificadas peculiaridades requeridas para a seleção

de pilotos e o interesse no tipo de formação destes. As empresas selecionadas fazem uso de

duas aeronaves conceito no quesito uso da automação.

Cabe salientar que as empresas apresentam filosofias distintas para o uso da

automação no gerenciamento do voo. O escopo deste trabalho não é adentrar em diferenças na

filosofia de uso das tecnologias para controle de voo, e sim, na interação do piloto com estas

tecnologias.

Para garantir o anonimato das empresas e de seus representantes, os mesmos serão

identificados como E1 (empresa aérea 1) e E2 (empresa aérea 2).

– 08 pilotos da aviação comercial regida pelo RBAC 12121

, sendo que 5 (cinco) com

formação universitária e 3 (três) com formação em cursos profissionalizantes (aeroclubes e

escolas de aviação civil autorizadas apenas pela ANAC).

Os pilotos foram entrevistados com o intuito de possibilitar diferentes percepções no

processo de formação de cada um. A importância das entrevistas dos pilotos está na

identificação da diferença na formação universitária com uma escola profissionalizante, bem

como a percepção de ambos com relação à familiarização, ou não, com a automação em seu

processo formativo.

Nas entrevistas dos pilotos, o relevante é a identificação de suas facilidades e/ou

dificuldades no uso da automação e se o processo de formação auxiliou, ou não, levando em

consideração a presença da automação nas aeronaves em que voam independente do tipo de

avião a ser voado.

Os pilotos foram identificados da seguinte forma:

P1S (Piloto 1 com nível Superior);

P2S (Piloto 2 com nível Superior);

P3S (Piloto 3 com nível Superior);

P4S (Piloto 4 com nível Superior);

P5S (Piloto 5 com nível Superior);

P1P (Piloto 1 com formação Profissionalizante);

P2P (Piloto 2 com formação Profissionalizante); e

P3P (Piloto 3 com formação Profissionalizante).

21

Regulamento Brasileiro de Aviação Civil 121: REQUISITOS OPERACIONAIS: OPERAÇÕES

DOMÉSTICAS, DE BANDEIRA E SUPLEMENTARES.

Page 91: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

89

– Coordenadores de Curso.

Como integrantes diretos da comunidade acadêmica e formadores de opinião no

processo de formação, foram entrevistados professores responsáveis por cursos da área da

aviação civil.

Das 25 universidades no Brasil (ANAC, 2011), foram escolhidas e entrevistadas 4

(quatro) universidades (16% do total) na figura de seus coordenadores de curso e de 1 (um)

Diretor de faculdade do curso de Ciências Aeronáuticas de uma das instituições – para

apresentarem suas percepções quanto à aplicação das políticas de formação do piloto.

Fora entrevistado também um diretor da Escola de Aviação Civil autorizada e

homologada apenas pela ANAC, a qual estrutura seu curso com base somente nos manuais de

curso de piloto outorgados pela Agência, sem a necessidade da autorização do MEC para seu

funcionamento.

Referente às instituições de ensino foram entrevistados:

– 1 (um) diretor de Faculdade do curso de Ciências Aeronáuticas;

– 1 (um) Coordenador de formação prática do curso de ciências aeronáuticas;

– 4 (quatro) Coordenadores de curso de Aviação Civil; e

– 1 diretor da Escola de Aviação Civil.

3.2.2 Tratamento dos Dados

Para tratar os dados gerados e identificados ao longo da pesquisa, foram utilizadas

duas técnicas da análise de modo a relacionar dados reais com os dados ideais. Os dados da

pesquisa foram tratados por meio da Análise de conteúdo e análise textual.

As análises textuais, preocupando-se em manter abordagens qualitativas e

quantitativas quando do tratamento das informações, tem a intenção de realizar um estudo

detalhado e crítico das peças relevantes, no caso desse estudo, para o processo de formação

dos pilotos no Brasil.

Foram analisados trechos dos documentos sem, entretanto, diminuir sua legitimidade

perante a Lei ou o documento integral.

Tanto para a análise documental como para as entrevistas, o método de análise de

conteúdo pode ser definido como sendo “uma operação ou um conjunto de operações visando

representar o conteúdo de um documento sob uma forma diferente da original, a fim de

facilitar, num estado ulterior, a sua consulta e referenciação” (BARDIN, 2011, p. 51).

Page 92: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

90

Cabe, no entanto, diferenciar os métodos de análise documental ou textual dos da

análise de conteúdo quanto aos procedimentos a serem adotados e aos objetos a serem

trabalhados.

A análise documental exigiu a documentação, a classificação desses documentos e

mesmo a indexação de forma a se poder obter um “documento secundário” a fim de que fosse

possível a identificação de elementos considerados relevantes aos temas ligados à automação,

enquanto na análise de conteúdo trabalhou-se a mensagem (comunicação), utilizando-se, por

vezes, de categorias de palavras que surgiram ao longo das entrevistas.

A análise de conteúdo pode ser entendida como sendo a manipulação de mensagens

sem que se perca a imparcialidade do pesquisador e, assim, aponte, de forma a mais fidedigna

possível, as intenções e os conhecimentos dos entrevistados, preocupando-se em manter as

dúvidas, os pensamentos políticos e ideológicos e as sugestões destes quanto ao tema

trabalhado.

A análise documental teve como objetivo a representação condensada da informação

procurada a partir do corpus de documentos pré-selecionados dentro dos documentos

relacionados à Política de formação do piloto no Brasil (BARDIN, 2009).

A análise de conteúdo teve como objetivo a “manipulação” de mensagens, além do

conteúdo destas, das expressões apresentadas pelos entrevistados que possibilitaram inferir

diferentes indicadores do objetivo procurado (BARDIN, 2009).

No Capítulo 4, serão discutidas inferências e expectativas extraídas e apontadas ao

longo tanto da análise documental quanto da análise de conteúdo.

Page 93: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

91

CAPÍTULO 4 ANÁLISES E DISCUSSÃO

4.1 ANÁLISE DOCUMENTAL DOS COMPONENTES CURRICULARES DA

FORMAÇÃO DO PILOTO

Como apontado no Capítulo 2, o Anexo I da Convenção de Chicago, com data de

1947, identifica as diretrizes gerais para a formação dos pilotos para todos os países

signatários do acordo internacional do sistema aeronáutico.

No Brasil, o RBHA 61, como já abordado, estabelece (BRASIL, 2006a):

[...] as normas para concessão de licenças e habilitações técnicas para pilotos e

instrutores de voo; os requisitos e padrões mínimos que devem ser cumpridos para

que uma pessoa se habilite à concessão; e revalidação desses documentos e as

prerrogativas e condições relativas a cada licença ou habilitação.

No RBHA 141 – Escolas de Aviação Civil – encontra-se a orientação de que os cursos

de piloto, de acordo com cada graduação pertinente – PP, PC e PLA, para aviões ou

helicópteros – serão descritos nos respectivos manuais e devem atender aos requisitos

exigidos nesses documentos (BRASIL, 2004b).

As exigências para o processo de formação de um piloto (BRASIL, 2006),“requisitos

para concessão de licenças de pilotos e instrutores de voo” – são pormenorizadas nos manuais

de cursos e detalhadas conforme os conteúdos programáticos para cada curso (Anexos IV, V,

VI, VII, VIII e IX).

O manual do curso de piloto privado afirma que a habilitação de PP constitui o

primeiro degrau da carreira de um piloto. Os candidatos ao curso de PP devem atender,

comprovadamente, aos seguintes requisitos (BRASIL, 2004a, p. 16):

a) Ter curso fundamental completo;

b) Idade mínima de 18 anos, completos até a data da realização de exame prático de

voo; e

c) Possuir certificado de capacidade física (CCF) de 1ª ou 2ª classe, obtido em órgão

de saúde da Aeronáutica. De acordo com o novo RBAC 67, o CCF passa a se

denominado Certificado médico aeronáutico - CMA (BRASIL, 2011d).

Este curso, entretanto, como afirma o RBHA 61, no item 61.17 – subitem 1 – não é

obrigatório ser realizado em uma escola homologada por uma Autoridade da aviação civil.

Page 94: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

92

O RBHA 61 (BRASIL, 2006) aponta que o nível de conhecimentos requerido é aquele

apropriado às competências previstas para o detentor de uma licença na graduação de piloto

privado, abrangendo, no mínimo, os seguintes aspectos:

1) regulamentação aeronáutica;

2) conhecimentos técnicos sobre aeronaves;

3) desempenho e planejamento de voo;

4) desempenho e limitações humanas;

5) meteorologia;

6) navegação aérea;

(7) procedimentos operacionais;

8) teoria de voo; e

9) radiocomunicações.

É importante salientar que o plano curricular estabelecido pelo RBHA 61 (BRASIL,

2006) e descrito no manual do curso de piloto privado (BRASIL, 2004a), estabelece os

mínimos de carga horária e de conteúdo (Anexos IV e V).

Neste documento, a Autoridade de Aviação Civil ainda permite que as escolas

acrescentem conteúdos e ampliem cargas horárias aos currículos propostos pelos manuais

estabelecidos pela ANAC desde que devidamente autorizadas (BRASIL, 2004a).

A estrutura dos cursos de piloto privado, piloto comercial e do piloto de linha aérea é

constituída de duas partes: a parte teórica (instrução teórica) e a parte prática (instrução

prática), com algumas variações, como podem ser identificadas na grade curricular de cada

curso (Anexos V, VI, VII, VIII, IX e X).

A parte teórica é dividida em três áreas curriculares, as quais se compõem de uma

palestra e dez disciplinas assim apresentadas (BRASIL, 2004a, p. 32):

1. Área básica: “palestra e disciplinas que tratam das regulamentações (ou

legislações) que norteiam o funcionamento da aviação civil, a formação do piloto privado e a

estrutura e o funcionamento do sistema de segurança de voo”;

2. Área técnica: “disciplinas diretamente voltadas para a atividade de voo, destinadas

a desenvolver a capacitação funcional e a preparação operativa (ou operacional) dos futuros

pilotos”; e

3. Área complementar: “disciplinas exclusivamente voltadas para a proteção e a

preservação da saúde do piloto, ao mesmo tempo em que o conscientizam e o preparam para

Page 95: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

93

agir com correção em situações adversas, após a ocorrência de um sinistro, se as condições o

permitirem”.

A formação do piloto comercial (Anexos VI e VII) difere pouco em relação à estrutura

da matriz curricular do piloto privado. Observa-se a ocorrência de algumas disciplinas

entendidas como necessárias para a formação de um piloto que, após adquirir a habilitação,

poderá exercer profissionalmente a atividade de aviador.

Acrescenta-se na matriz curricular do piloto comercial disciplinas como inglês técnico;

matemática; física; segurança da aviação civil, no tocante a atos de interferência ilícita; e

regulamentação da profissão do aeronauta (BRASIL, 1990a).

Para a formação de piloto comercial, as matérias da área técnica incluem os conteúdos

do curso de PP, e conforme recomenda o manual do curso de PC, as disciplinas devem ser

apresentadas de forma mais complexa, para atender às necessidades do voo para essa nova

fase (BRASIL, 1990a).

Nos manuais de curso observa-se a preocupação, em teoria, de apontar a

interdependência das matérias, e apresentá-las em um grau de dificuldade crescente a fim de

possibilitar ao aluno maior absorção dos diferentes tópicos.

Nenhum dos manuais de cursos, de PP e PC, apresenta em seu conteúdo programático

itens sobre a familiarização com os modernos equipamentos eletrônicos de gerenciamento de

voo e o uso da automação (Anexos IV, V, VI e VII). Tais assuntos, entretanto, aparecem no

currículo mínimo proposto pelo manual de curso do piloto de linha aérea, que será tratado

mais adiante (Anexos VIII, IX, X e XI).

Mesmo quando se consulta o manual de curso de voo por instrumento (MMA 58-9),

que rege a obtenção da habilitação de voo por instrumento, não é encontrado conteúdo de

familiarização à automação e seu uso. Descreve um curso de formação do piloto no uso dos

auxílios à navegação e aproximações para pouso com auxílios de equipamentos, sem adentrar

em questões ligadas ao uso, por exemplo, do GPS22

.

Importante salientar que a maior parte dos copilotos das empresas aéreas e da aviação

geral que fazem uso de aviões altamente avançados tecnologicamente são detentores, apenas,

da licença de piloto comercial, não tendo obtido a licença de piloto de linha aérea teórica e/ou

prática (Dado obtido em entrevista, de acordo com C5).

22

Global Positioning System (GPS) – Sistema Global de posicionamento.

Page 96: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

94

Nível de escolaridade

exigido

Obrigatoriedade do curso

em uma escola homologada

Conteúdo de familiarização

com a automação

FORMAÇÃO

PP Fundamental Não Não

PC Ensino Médio Sim Não

PLA Ensino Médio Não Sim

Quadro 2 - Características para as diferentes graduações da formação de um piloto

Da tabela acima, algumas questões são apontadas. Com relação à formação de PP, na

qual, ainda que em grau mais simplificado, ocorre o desenvolvimento de disciplinas como

teoria de voo, peso e balanceamento e conhecimentos básicos de sistemas de aeronaves, a

escolaridade em nível fundamental é suficiente?

Os conteúdos da ‘física’ e da ‘matemática’ envolvidos na formação de um PP, os quais

compõem a base teórica de disciplinas como a teoria de voo e o peso e balanceamento, por

exemplo, relacionam-se, no mínimo, com os conteúdos das disciplinas de ‘física’ e

‘matemática’ abordados no Ensino Médio, tornando a formação de PP orientada pelos

Regulamentos e manuais atuais, questionável, uma vez que há a exigência apenas da

escolaridade em nível fundamental para essa licença.

Outro ponto é a ausência na formação inicial de uma cultura ligada à segurança de voo

e ao gerenciamento do risco, pontos que devem sustentar a base de uma atividade tão peculiar

quanto à aviação.

A ausência de conteúdos de familiarização com o uso da automação pode ser

explicada pela crença de que pilotos privados não terão contato com aviões tecnologicamente

avançados nem durante a instrução nem em sua atividade aérea rotineira.

Entretanto, com a crescente modernização das cabines de voo, mesmo nas aeronaves

de pequeno porte, a interação do homem com a máquina, como afirma DEKKER,

DAHLSTROM, NAHLINDER (2006), poderia ser melhor desenvolvida caso fosse realizada

desde o início da formação de um piloto, a fim de ser ‘construído’, no piloto, melhor

entendimento da filosofia de uso da automação.

Identificar em que grau e de que forma poder-se-ia operar a interação da formação

analógica com a formação digital, com o intuito de possibilitar o desenvolvimento adequado

de habilidades tanto motoras e perceptuais quanto cognitivas, pode vir a ser foco de um novo

estudo.

Para a formação de PP, ou seja, a não obrigatoriedade da realização do curso em

escola homologada, não propicia o desenvolvimento de uma cultura aeronáutica embasada em

Page 97: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

95

uma forte doutrina de segurança de voo e gerenciamento do risco, bem como, de fato, prioriza

apenas as 5 (cinco) disciplinas técnicas cobradas na prova exigida pela ANAC para a

liberação da licença de PP.

Para a formação de PC, atenta-se para a inexistência de conteúdos ligados à

familiarização com o uso da automação.

Sabe-se que o RBHA 61 e os manuais de curso deixam aberta a possibilidade de as

instituições de ensino acrescentarem conteúdos que considerarem relevantes para cada

formação, sendo para isso necessária apenas autorização da ANAC.

Entretanto como fica evidenciado nas entrevistas com os pilotos, é “normal” somente

serem abordados nos cursos de formação os conteúdos mínimos exigidos nos manuais.

Destacam-se as instituições autorizadas apenas pela ANAC, uma vez que a maior parte dessas

instituições apresenta em seu conteúdo programático, disciplinas tal como apontam os

manuais de cada curso.

No tocante à formação de PLA, entende-se que esse curso “se propõe a fornecer

subsídios teórico-práticos fundamentais destinados a capacitar o aluno para atuar como piloto

em comando de aviões em serviços de transporte aéreo, com eficiência e segurança, na

qualidade de representante da empresa e do país de origem” (BRASIL, 1991, p.10).

No entanto, a não obrigatoriedade do curso em escola homologada suscita uma dúvida

quanto à eficácia para a formação de uma cultura profissional ao piloto que exercerá a função

de comandante em uma aeronave.

Igualmente importante, é a existência, no curso de PLA, de conteúdo ligado à

familiarização com o uso da automação. Embora a automação esteja presente no curso de

PLA, a prova exigida para verificação da proficiência teórica dessa licença não contempla

assuntos ligados ao uso dos avançados sistemas de gerenciamento de voo, tornando

irrelevante ao piloto que deseja ser detentor da licença teórica de PLA estudar os temas

ligados à automação.

O que geralmente ocorre é que esse piloto tem contato com a automação e suas

peculiaridades somente por meio das aeronaves que opera nas empresas que trabalha e nem

sempre possui o conhecimento adequado para assegurar uma operação aérea segura e

consciente.

Como aponta a FAA (2003), é importante serem adotadas estratégias para o

treinamento de pilotos em aeronaves altamente avançadas tecnologicamente – TAA. O estudo

elaborado pela FAA indica que um dos pontos relevantes na causa de incidentes e acidentes

Page 98: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

96

aeronáuticos em aeronaves modernas é a obsolescência no treinamento tradicional sem levar

em considerações características essenciais para se voar em aeronaves TAA.

O sistema tradicional, considerado inadequado para treinamento, não especifica

métodos que explorem as características de operação com segurança das novas tecnologias,

nem como se operar essa nova tecnologia dentro de seus limites operacionais. Além disso,

não inclui em seu componente curricular o treinamento da percepção do risco e seu

gerenciamento de forma apropriada (FAA, 2003).

A FAA (2003) sugere algumas técnicas de treinamento para se realizar em aeronaves

altamente modernizadas. Dentre esses métodos, pode-se citar o treinamento baseado em um

cenário real, ou simulado, enfatizando momentos de crise e anormalidades dos sistemas, a fim

de possibilitar melhor visualização do gerenciamento do risco durante uma falha do sistema

de controle automático do voo.

O estudo ainda recomenda que seja realizado treinamento com diferentes níveis de

automação de forma que os pilotos conheçam o funcionamento e as particularidades dos

sistemas, bem como suas limitações.

O treinamento, por sugestão da FAA (2003), pode se dar inicialmente apresentando

individualmente os sistemas computadorizados das aeronaves e suas peculiaridades, e de

forma gradual, integrar todos os sistemas para simular uma operação aérea real, por meio de

programas de treinamento específicos.

O importante é possibilitar ao piloto o desenvolvimento de competências essenciais

para se pilotar a ‘aeronave física’ e a ‘aeronave mental’, ou seja, que o piloto tenha condições

de obter e aprimorar competências motoras, perceptuais e cognitivas para uma segura e

adequada condução de uma operação aérea em um cenário de voo altamente tecnológico

(FAA, 2003).

De acordo com Dekker, Dahlstrom e Nahlinder (2006), é interessante que, ao menos, a

familiarização do piloto com as novas e modernas tecnologias das quais dependem o

gerenciamento de um voo seja ministrado no início de sua formação.

Não se percebe, entretanto, nos desenhos curriculares dos cursos de PP e PC no Brasil,

conteúdos que se detenham na familiarização dos componentes tecnológicos envolvidos em

um voo.

Seja nos cursos de PP ou de PC, não foram apresentados temas sobre informática e

suas particularidades, nem quanto ao uso de sistemas tecnológicos de gerenciamento de voo.

Page 99: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

97

A FAA (2003) afirma que o treinamento deve dar condições de o piloto saber ‘voar’ a

“aeronave física” tanto quanto a “aeronave mental”, deixando claro que os sistemas das

aeronaves não substituem as habilidades de voo do piloto e o bom julgamento aeronáutico.

Para atender ao impacto da rápida modernização e do emprego de novas tecnologias

no transporte aéreo, a autoridade aeronáutica competente, em 1991, aprovou o manual do

curso de piloto de linha aérea – MMA 58-7 e MMA 58-8 (BRASIL, 1991a/b).

Os manuais de curso de piloto de linha aérea possuem finalidades semelhantes às do

manual de PP e PC, estabelecendo mínimos obrigatórios de conteúdo programático e carga

horária de cada matéria, bem como a duração do curso.

Um dos objetivos do curso de PLA é capacitar o piloto para que tenha condições de

responder às exigências da evolução tecnológica quando no comando de aeronaves de última

geração e de administrar eficazmente os recursos na cabine de comando, propiciando, dentre

outros pontos, o desenvolvimento de habilidades pertinentes à competência interpessoal

(BRASIL, 1991).

O manual de PLA afirma, pois, existir a necessidade de serem desenvolvidas novas

habilidades e competências para o comando das aeronaves modernas.

Como pode ser constatado no MMA 58-7 e MMA 58-8, o curso de PLA compõe-se de

4 (quatro) módulos, sendo sugerido no documento que seja realizado em, no mínimo, 5

(cinco) semanas (Anexos VIII e IX):

Dentre os diversos objetivos a serem alcançados ao final do curso, podem-se citar a

capacidade de caracterizar, quanto às suas funções, os diferentes elementos constitutivos

essenciais do computador elementar, caracterizar hardware e software, citar as vantagens dos

sistemas digitais sobre os analógicos, conhecer a importância e a forma de manusear o

computador central de gerenciamento das informações de voo, entre outros (BRASIL, 1991).

Da mesma forma pode ser identificada, no manual de curso de PLA, a finalidade da

disciplina ‘aviônica’ é despertar no piloto a importância do conhecimento e do discernimento

na utilização dos computadores de bordo para uma operação aérea segura (BRASIL, 1991a).

O manual defende a necessidade de se conhecer o funcionamento e as principais

características e limitações dos computadores de bordo com o intuito de melhorar a integração

do homem com a máquina, quando afirma que (BRASIL, 1991a, p.82):

[...] esta integração – que inclui, por exemplo, a familiarização do piloto com os

problemas e possíveis falhas dos diferentes sistemas, capacitando-o a administrá-los

e, assim, a evitar acidentes – é o fator de essencial importância para a segurança do

vôo [sic]: conhecendo os problemas e falhas dos sistemas com informatizados, o

piloto estará em melhores condições de operar estes sistemas com segurança,

evitando problemas ou contornando-os e, depois, reportando corretamente.

Page 100: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

98

O manual de curso de PLA (BRASIL, 1991A) ainda salienta a importância de se

conhecer as características e limitações dos diversos sistemas tecnológicos a fim de o piloto

não se tornar meramente um ‘apertador de teclas’, mas, sim, fazer desses recursos avançados

de gerenciamento uma valiosa ferramenta na manutenção da segurança de voo.

Alguns pontos apontam a formação de um piloto com eficácia questionável, como

exemplo, a não obrigatoriedade da realização do curso de PLA em uma escola homologada, já

comentado; bem como o fato de a maioria dos copilotos - que voam seja na aviação geral,

com aeronaves menores e com avançados sistemas, seja nas grandes empresas aéreas –

possuírem apenas a licença de PC, e não terem sido abordados, nesse curso, temas ligados ao

uso de complexos sistemas de gerenciamento de voo.

Apesar da ausência de componentes curriculares voltados para a familiarização no uso

dessas novas tecnologias de gerenciamento de voo nos manuais do curso de PP e PC, a

Secretaria de Aviação Civil e o CONAC, por meio de decretos e resoluções, apontam para a

necessidade de se rever o processo de formação do piloto no Brasil.

É relevante salientar o momento em que os manuais de cursos foram propostos como

currículos mínimos para a formação de pilotos. Na data de suas proposituras, vivia-se uma

realidade bem diferente da atual, ainda que o futuro indicasse um contínuo e constante uso de

tecnologia no controle das operações aéreas, dentro e fora das cabines de voo.

Hoje, o ambiente aeronáutico teve sua trajetória alterada pela elevada automatização

do setor em busca de operações aéreas mais seguras e mais econômicas.

Em virtude dessa (re)evolução no ambiente aeronáutico, a fim de se promover uma

melhor formação dos recursos humanos do setor da aviação para essa nova fase da aviação,

em julho de 2007, foi aprovada a Resolução 011 do CONAC (Anexo II) que tem como

objetivo fomentar uma “ampliação das ações de formação e capacitação de recursos humanos

por meio da adição de novos recursos e parcerias, com o objetivo de ampliar a capacidade

profissional na área de aviação civil”.

Como pode ser verificada no documento, a Autoridade da Aviação Civil percebe, por

meio do Conselho, a necessidade de se investir em uma formação mais adequada para o

pessoal do setor aeronáutico com vistas a atender às exigências de um ambiente de

complexidade tecnológica cada vez maior.

Em 2009, por sua vez, a Autoridade da Aviação Civil, aprovou a Política Nacional de

aviação civil – PNAC (ANEXO III), na qual, dentre diversos pontos, aponta como diretriz o

aprimoramento dos processos de certificação profissional por meio da revisão periódica dos

Page 101: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

99

requisitos, das diretrizes curriculares e do sistema de avaliação e de verificação do

conhecimento, de forma participativa com o segmento da aviação civil relacionado.

Em um ambiente tão complexo e mutável como o aeronáutico, é imprescindível que o

processo de formação de um piloto aponte para a possibilidade de formar profissionais que

atendam às exigências do setor (BRASIL, 2009b).

Diante de tal complexidade, a PNAC afirma que a formação de profissionais, em todos

os níveis, com a busca de um excelente padrão de excelência “constitui tarefa de fundamental

importância para o desenvolvimento da aviação civil brasileira” (BRASIL, 2009b, p.4).

Como ação estratégica, dentro da política de desenvolvimento da aviação civil, no

item ‘Formação, Capacitação e Atualização de Recursos Humanos’, a PNAC apresenta a

proposta de “fomentar a adequada formação de recursos humanos, visando atender às

necessidades nacionais e regionais do Sistema [aeronáutico]” (BRASIL, 2009b, p. 12).

Uma questão imprescindível é identificar o que pode ser definido por ‘formação

adequada’ para a Autoridade aeronáutica, uma vez que a realidade encontrada nos

Regulamentos e manuais e a teoria proposta pela Política não convergem para um mesmo

ponto.

A intenção de se promover operações aéreas cada vez mais seguras, com maiores

responsabilidades socioambientais, bem como mais econômicas requer da Autoridade de

Aviação Civil constante adequação das diretrizes que orientam a formação de um piloto.

A robótica e a computação fizeram com que muitas das habilidades requeridas por

trabalhadores fossem transferidas para as máquinas (hardwares e robôs). Isso fez com que

fossem geradas novas demandas formativas e novas competências para exercer um

determinado trabalho (RUÉ e ALMEIDA, 2009).

Assim, como afirmam Rué e Almeida (2009), para se formar um homem competente é

necessário fazê-lo centro de preocupações das políticas de formação, focando suas

possibilidades e a capacidade desse homem saber resolver os diversos problemas em

determinado contexto.

Percebe-se, por meio da análise documental, a preocupação das Autoridades em

estabelecer em termos políticos a necessidade de se realizar uma formação voltada para as

necessidades atuais do sistema aéreo. Entretanto, a operacionalização dessas políticas, ou

ações específicas ou mesmo diretrizes da Política, não são elaboradas de forma a atenderem a

essas mesmas necessidades.

Enquanto a Resolução do CONAC e a PNAC apontam para a diversidade e

complexidade do setor e a exigência de se manter uma formação adequada dos recursos

Page 102: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

100

humanos, os manuais que orientam a formação, em particular, dos pilotos nas graduações de

PP e PC, estabelecem ainda uma formação tradicional e com parâmetros mínimos que não

atendem à complexidade tecnológica nas modernas aeronaves.

Além de mínimos não satisfatórios para a formação de um piloto, a não

obrigatoriedade da realização do curso de PP em uma escola homologada não propicia uma

formação com embasamento sólido de segurança de voo e o gerenciamento do risco.

A inexistência, ainda, de diretrizes curriculares que especifiquem as características da

profissão também se torna um entrave para estabelecer mínimos necessários para a formação

do piloto no contexto atual do setor.

No Brasil existem 339 (trezentos e trinta e nove) centros de ensino de aviação civil

(aeroclubes, escolas de aviação civil, faculdades, universidades), dentre os quais 25 (vinte e

cinco) são instituições de ensino superior (ANAC, 2011b).

A discussão da obrigatoriedade, ou não, da formação em uma instituição superior é

questão a ser abordada em outra pesquisa. O que se torna relevante é a divergência nas mais

variadas matrizes curriculares dos cursos de aviação, ainda que se percebam pontos em

comum nestes programas.

A intersecção de todos os cursos está nos mínimos estabelecidos pela ANAC,

descritos em seus manuais, ainda que os mínimos estejam dispostos de forma diferenciada

para cada instituição em suas matrizes curriculares.

Soma-se a isto a falta de adequação do curso de ciências aeronáuticas em determinada

área do conhecimento, dificultando o estabelecimento de parâmetros que distinguem essa

ciência de outras áreas.

É importante o entendimento do termo ‘ciência de transição’, como aponta um dos

representantes do Governo entrevistado. O contexto aeronáutico caracteriza-se por ser, como

afirma a PNAC (2009b), um ambiente complexo e que compreende diversas outras ciências.

Uma ‘ciência de transição’ é caracterizada pelo encontro de várias ciências, como é o

caso da ciência aeronáutica. Meteorologia, navegação, física, matemática, geografia,

informática, administração, todas essas ciências fazem parte da formação de um piloto.

Ainda que necessária, torna-se, pois, uma difícil tarefa, o estabelecimento de uma

linha de trabalho para caracterizar o que viria a definir o profissional piloto com formação de

qualidade.

Outro ponto interessante a ser identificado, ao menos em sentido axiológico, é a

denominação dada, pela Agência, ao conjunto de disciplinas estabelecidas nos manuais para a

formação de pilotos por ‘grade curricular’.

Page 103: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

101

Denominar o conjunto de disciplinas de um curso por ‘grade’ é estabelecer, a rigor,

um engessamento filosófico no processo de ensino-aprendizagem. O termo grade carrega um

valor que aprisiona e torna o processo de transformação mais lento. Deve-se, portanto, atentar

para o uso da linguagem e o que seu sentido carrega, como aponta Sacristán (2011).

Uma sugestão com o intuito de propor uma visão mais dinâmica e proativa é a

elaboração de ‘matrizes curriculares’, ou ainda, ‘desenho curricular’ em lugar das propostas

‘grades curriculares’.

Essa mudança de paradigma, por meio inicialmente da linguagem, possibilitaria aos

documentos que orientam a formação de um piloto maior flexibilidade e dinamicidade com o

intuito de conseguirem manter seu conteúdo programático mais atual e condizente com o

contexto aeronáutico.

Entende-se aqui que a PNAC é um documento de ordem geral e que aponta para

grandes necessidades do setor. Questões mais específicas e/ou complementares devem ser

tratadas em outros documentos, como ocorre com os Regulamentos e manuais, ao

especificarem todo processo formativo do piloto.

Destaca-se também na PNAC a ausência de direcionamento tácito de responsáveis

para as diversas diretrizes e estratégias apontadas na Política. No contexto atual, pode-se

inferir que o responsável pela execução, fiscalização, controle e atualização das diversas

diretrizes propostas seja a Secretaria de Aviação Civil – SAC que, em conjunto com a ANAC,

possuem a responsabilidade de operacionalizar as propostas apresentadas.

Atentando para a hierarquia documental, infere-se que da PNAC (2009b)

desmembram-se os Regulamentos (RBHA, RBAC) que pormenorizam o processo de

formação de um piloto no Brasil, e desses últimos, advém os manuais de curso, que

especificam cada licença e habilitação da profissão, documentos já apresentados no Capítulo

2.

Após a análise dos Regulamentos e manuais, ficou patente o não atendimento, por

parte desses documentos, às atuais necessidades do setor, não respondendo nem mesmo às

orientações apontadas pela PNAC, quanto à necessidade de se promover uma revisão nos

requisitos de formação e nas diretrizes curriculares para a formação dos pilotos.

Entende-se, como apresentado por representantes da ANAC, que o quadro de

funcionários não é adequado para se ter constante e continuadamente a atualização de

documentos que orientam a formação de profissionais para um setor tão complexo e

dinâmico, como o aeronáutico.

Page 104: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

102

Sugere-se, pois, dentro de uma perspectiva política, tornar prioridade de Estado,

investir em um movimento de atualização no processo de formação do piloto.

Em uma perspectiva pedagógica, as atualizações de Regulamentos e manuais devem

ocorrer de maneira multidisciplinar, a fim de se atentar para as particularidades na formação

de um piloto. A criação de uma cultura de segurança e profissionalismo em um profissional é

criada contínua e dependentemente de seu processo de ensino-aprendizagem.

Em que momento seria ideal introduzir assuntos ligados à automação na formação de

um piloto? Não seria interessante para o embasamento teórico e a criação de uma cultura de

segurança mais sólida a realização do curso do PP em uma escola homologada? Que tipo de

processo avaliativo poderia ser mais adequado para mensurar a aquisição e o entendimento

dos saberes necessários para se “construir” um piloto consciente?

O ideal é um trabalho conjunto com os diversos agentes envolvidos no sistema de

formação de um piloto, Agência, Ministério da Educação, instituições de ensino, bem como a

manutenção de um diálogo produtivo entre esses agentes para a resolução de inúmeras

questões relacionadas ao setor aéreo.

Sugere-se, pois, que o canal de comunicação entre órgão do Governo e agentes do

setor aeronáutico deve ser estreitado. Da mesma forma que o MEC e a ANAC devam estreitar

laços de diálogo a fim de proporem requisitos básicos para a formação de pilotos.

Page 105: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

103

4.2 A POLÍTICA DE FORMAÇÃO DO PILOTO E OS AGENTES DO SISTEMA DE

AVIAÇÃO CIVIL – ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

Como já apontado, a ferramenta selecionada para tratar os dados gerados pelas

entrevistas semiestruturadas foi a análise de conteúdo.

Sabe-se que o tratamento dos dados gerados em uma pesquisa social, obtidos por meio

de um processo rico e subjetivo como a entrevista, é uma tarefa muito difícil. Buscou-se,

entretanto, não distanciar do objetivo proposto para este trabalho.

Com esse escopo, sob a orientação das técnicas oferecidas por Bardin (2009), foram

analisadas as diversas informações extraídas dos diálogos com os ‘agentes’ que participam

diretamente da formação de pilotos no Brasil.

Para facilitar a análise de conteúdo das entrevistas desses ‘agentes’ e não se perder na

quantidade infindável de possíveis discussões, foram estabelecidas categorias de tratamento

relacionadas aos objetivos específicos deste trabalho, as quais nortearam a análise.

Foram considerados, nesta dissertação, ‘agentes’ participantes do processo de

formação de um piloto: O mercado de trabalho, na figura das empresas aéreas; a instituição

responsável pela formação teórica e/ou prática do piloto, representada pelas universidades e

escolas de aviação civil; o Órgão de Governo responsável pela aplicação e fiscalização das

Políticas e diretrizes orientadoras do processo de ensino e aprendizagem do aluno, bem como

o estabelecimento de currículos mínimos desse profissional, representados por 3 (três) setores

da ANAC; e também o próprio piloto, responsável direto pelo seu processo de formação,

‘objeto e sujeito’ (FREIRE, 1996) de seu processo de ensino-aprendizagem.

Para relembrar – como objetivo geral – esta pesquisa tem a intenção de analisar a

aplicação das Políticas estabelecidas pelos órgãos do Governo responsáveis pela

formação/capacitação de pilotos da aviação civil, frente às novas exigências da automação e

do mercado de trabalho.

Com a intenção de se alcançar tal objetivo, foram estabelecidos 3 (três) objetivos

específicos:

1. Identificar as competências exigidas dos pilotos, pelo mercado de trabalho do setor

aeronáutico, em virtude da automação nas modernas aeronaves;

2. Identificar se a política vigente para o setor aeronáutico civil é capaz de atender às

novas exigências oriundas da modernização dos equipamentos aéreos; e

3. Examinar as diretrizes curriculares que orientam atualmente a formação do piloto.

Page 106: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

104

Para auxiliar o tratamento dos dados gerados ao longo das entrevistas, 3 (três)

categorias de análise foram propostas, relacionadas diretamente aos objetivos específicos.

Esses objetivos, pois, foram “transformados” em perguntas a fim de que fosse possível

reverter as análises em quadros demonstrativos com as percepções dos agentes, bem como

auxiliar no processo de identificação do cenário atual da formação de um piloto.

As categorias discutidas foram:

1. Existe a necessidade de novas competências para se operar as modernas aeronaves

das empresas aéreas?

2. Os currículos, no Brasil, atendem às exigências requeridas para se operar

complexos sistemas tecnológicos?

3. A Política de formação atende às atuais necessidades do mercado?

Nota-se também que, ao longo das análises das categorias propostas, alguns agentes

apontaram relevantes pontos, diversos dos indicados pelas categorias acima descritas, os quais

se tornaram subcategorias de análise, em virtude de sua relevância para este estudo. Essas

subcategorias serão apresentadas em momento oportuno e de acordo com o aparecimento na

discussão do material gerado.

Fazendo um paralelo com a aviação, todo voo que decola de um aeródromo23

e pousa

em outro (o que normalmente ocorre), deve apresentar um plano de voo, em local apropriado,

para a realização segura e controlada da operação aérea.

Antes de se iniciar o ‘voo’ da análise dos dados da pesquisa, é interessante que seja

traçado um planejamento e apresentado um plano de voo para a execução do trabalho.

Portanto, o voo da análise dos dados fora idealizado da seguinte forma:

1º. Todas as entrevistas foram gravadas; devidamente autorizadas;

2º. As entrevistas foram transcritas para facilitar a análise;

3º. Foi realizada uma leitura flutuante em todo o material, para localizar os pontos de

intersecção e as diferenças nas falas dos agentes;

4º. Esses pontos de interseção e divergência confirmaram as categorias e

subcategorias definidas;

5º. As entrevistas foram separadas por ‘agentes’ no processo de formação;

6º. A sequência de análise respeitou uma ordem que facilitasse o alcance do objetivo

proposto:

23

Área definida de terra ou de água (que inclui todas suas edificações, instalações e equipamentos) destinada

total ou parcialmente à chegada, partida e movimentação de aeronaves na superfície (BRASIL, 2009c).

Page 107: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

105

a. Iniciou-se com as empresas aéreas, para que se pudesse identificar a exigência

de novas competências pelo mercado de trabalho.

b. Com um perfil próximo do esperado pelas empresas aéreas, as falas dos pilotos

foram analisadas, na sequência, quanto suas dificuldades, ou não, em se

adaptar às exigências desse mercado de trabalho e suas particularidades.

c. Posteriormente, com o intuito de identificar as visões do setor que

operacionaliza as diretrizes do processo de formação, foram analisadas as falas

de coordenadores e diretores do curso de formação de pilotos de universidade e

escola de aviação civil.

d. Por fim, as falas dos setores do Órgão do Governo responsável pela aplicação

das Políticas de formação foram analisadas.

7º. Dando prosseguimento ao “plano de voo”, foi realizada uma análise com todos os

dados gerados, culminando em uma conclusão geral das categorias, de forma a

visualizar mais facilmente, a análise feita quanto à aplicação das Políticas para a

formação do piloto, encerrando por fim o “voo” ao longo da análise do conteúdo

das entrevistas.

4.2.1 A política de formação e as empresas aéreas

Como representantes diretos do mercado de trabalho, as empresas aéreas têm um papel

fundamental na orientação do perfil do profissional exigido para o setor aeronáutico.

O mercado aeronáutico é marcado por constante e contínua transformação, uma vez

que a evolução de equipamentos com vistas, especialmente, à manutenção da segurança aérea

é um traço marcante do setor.

Dinamicidade, complexidade, inovação, tecnologia são alguns pontos que descrevem o

setor aeronáutico.

Em virtude disto, foi constatada, ao longo das entrevistas, que as empresas aéreas

acreditam que há, sim, a necessidade de novas competências para se operar as modernas

aeronaves que compõem sua frota.

Foram entrevistadas duas empresas aéreas que possuem em sua frota aeronaves de

última geração no tocante à utilização de avançados sistemas de gerenciamento de voo.

A título de garantir a confidencialidade e o anonimato das informações referentes às

empresas, serão tratadas de E1 e E2 a partir desse momento.

Page 108: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

106

1ª categoria: Existe a necessidade de novas competências para se operar as modernas

aeronaves das empresas aéreas?

A E1 é clara e direta ao afirmar que “pede novas” competências sim ao piloto o

trabalho nas aeronaves que fazem uso de elevada automação.

A E1 afirma que “vamos ter que criar uma forma de treinamento pra que ele [o piloto]

adquira essas competências de forma adequada”.

Para a E1, “tecnicamente os pilotos hoje têm que entender mais da interação com a

tecnologia. Em relação ao voo em si, ao voo básico, que é a pilotagem, os próprios fabricantes

das aeronaves estão deixando isso mais por conta dos próprios sistemas de automação” (E1).

Pode-se entender que a E1 considera, no mínimo, incompleta a formação do piloto nos

moldes que hoje é estabelecida, sem levar em consideração diferenças no processo de

formação de universidade e escolas de aviação profissionalizantes.

E1 aponta ainda:

[...] que os fabricantes estão tentando incorporar, dentro das aeronaves, o maior

número de proteções possíveis pra que o voo seja sempre bem sucedido. Avisos, etc.

e os voos cada vez. Nós treinamos cada vez para ser mais conservativos no voo. Já

não se exige tanto aquela habilidade do voo como se exigia a 20 anos em relação às

aeronaves.

E2, por sua vez, afirma que “hoje o copiloto é mais um programador de uma aeronave,

um gerente, né? [sic] Um gerenciador da aeronave, do sistema da aeronave... do que

propriamente dito a pilotagem”.

Pode-se inferir que o termo ‘pilotagem’ utilizado por ambas as empresas em suas

falas, refere-se ao que os teóricos tratam de habilidades motoras, em detrimento do uso da

habilidade cognitiva, que atualmente é mais requisitada.

Isso fica mais claro quando a E2 aponta que “ele [o piloto] tem que muito mais

interpretar o que a tecnologia passa pra ele do que pilotar o avião. O que é diferente do

passado... no passado era mais a ‘pilotagem’ (grifo nosso) mesmo do que a ‘interpretação’

(grifo nosso), do que a parte tecnológica do avião, que não existia”.

Para a E1, a questão da diferença na pilotagem está no paradigma que envolve a

utilização da tecnologia:

[...] no treinamento a gente vê a dificuldade, porque o passo de sair de uma aviação

analógica – do sistema analógico para o digital – é um passo bem grande. Então a

dificuldade que se tem é de pegar toda a informação que a gente tinha dos vários

instrumentos e concentrar toda essa informação numa tela. Essa é uma dificuldade.

A outra é interagir com os sistemas novos da aeronave.

Page 109: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

107

Um dos problemas apontados pela E2 é a ausência de pilotos disponível no mercado

que atendas às exigências desse “novo tipo de aviação”.

E2 afirma que a “automação é bem recebida. O maior problema é que quanto mais se

passa, menos pilotos têm no mercado disponível com este perfil de pilotagem”.

No tocante ao perfil do piloto que não atende aos requisitos das empresas, a E2

continua explicando:

[...] porque, hoje em dia, os pilotos que tem no mercado disponível, são pilotos que

voaram só monomotor – a maioria deles. Então a gente [o setor de treinamento] tem

que fazer um treinamento muito mais complexo pra atender a pilotagem da

[aeronave empregada pela empresa] que é totalmente tecnológico, né?

Essas afirmações são confirmadas por Hollnagel e Woods (2005), quando apontam

que o incremento no uso das habilidades cognitivas é um lembrete de que a natureza do

trabalho transformou-se consideravelmente.

Hollnagel e Woods (2005) analisam que o trabalho sempre apresentou características

cognitivas ou a necessidade de uso de tais habilidades. Entretanto nos últimos tempos, com o

advento de modernos sistemas tecnológicos para o gerenciamento das mais variadas tarefas, o

uso de habilidades cognitivas tornou-se muito mais necessária que em outros momentos

históricos. Como pode ser constatado nas falas dos representantes dos setores de treinamento

das empresas aéreas.

Esse aumento no uso da cognição e diminuição nas habilidades motoras e perceptuais

– aqui denominadas de ‘pilotagem’ pelas empresas – pode ser contatado na discussão

proposta pela figura 5.

Para Hollnagel e Woods (2005), o uso de habilidades cognitivas refere-se à capacidade

do homem de manter controle do ambiente no qual está envolvido, na tarefa pela qual está

responsável.

Além da capacidade em saber lidar com a automação, a E2 aponta para outro ponto no

perfil do piloto necessário para as empresas. Como fala E2, a necessidade de uma “nova

postura” desse piloto.

E2 afirma que:

[...] estamos trocando informações com a ANAC e fabricante pra gente verificar o

quê que pode ser aperfeiçoado no simulador de voo e também com relação a fatores

humanos, que é o que, às vezes, acaba pegando um pouco mais [sic]. Fatores

humanos que a gente tem dado uma ênfase um pouco maior. CRM24

.

24

Gerenciamento de Recursos de Equipes (Corporate Resource Management - CRM), o termo Corporate

(Equipes) é utilizado para expressar todas as equipes que compõem uma organização envolvida na atividade

aérea, tais como, mas não limitado a, tripulantes técnicos e de cabine, pessoal da manutenção, despachantes

operacionais de voo e de terra, pessoal de rampa, pessoal de check-in/check-out, alta direção, pessoal

Page 110: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

108

relacionamento. Relacionamento entre comandantes, copilotos, comissário e

agregado a situações do cockpit mesmo.

Esse complexo perfil de um profissional que atenda às exigências da empresa aérea

frente ao uso da automação e à gestão de conflitos, seja de caráter técnico – com as surpresas

ocasionadas pela automação – seja de caráter comportamental – ligada às questões pessoais e

emocionais dos tripulantes, exige do piloto uma formação ampla e que possibilite o

desenvolvimento de competências essenciais para lidar com tais situações.

E2 é clara ao afirmar que o piloto que está disponível, atualmente, para o mercado da

aviação, que cresce em número e qualidade, “não se encaixa no perfil” exigido pela empresa

(E2).

O que remete à segunda categoria.

2a categoria: Os currículos no Brasil atendem às exigências requeridas para operar

complexos sistemas tecnológicos?

Para E2, “o problema maior é a ‘bagagem’ mesmo. Ele atinge as horas, mas não tem a

‘bagagem’ para uma aeronave adequada, pra fazer a transição” [sic].

E1 aponta que “muita coisa que ele [o piloto] deveria ter praticado ou aprendido lá

atrás na vida do tripulante – na vida profissional do tripulante – não foi feita. Então a gente

tem que voltar a essa instrução básica pra depois avançar a automação...a utilização da

automação da aeronave”.

Por ‘bagagem’ pode-se inferir que se trata da formação básica do piloto e da

familiarização deste com os modernos equipamentos de gerenciamento de voo.

Para E2:

[...] o foco tem que ser um pouco revisto, reformular currículo, conteúdo

programático, carga horária, pra que vá se tirando as carteiras, mas com uma

qualidade um pouco mais focada, um pouco mais refinada para a situação atual do

país – o que ajudaria bastante as empresas, não só agora, mas futuramente, pois a

gente entende que a curto, médio prazo aí, a gente vai ter bastante dificuldade em

captar copilotos no mercado com qualidade.

E1 corrobora ao afirmar que “então a gente [o setor de treinamento] nota que falta uma

base – eu não sei como resolver. A gente resolve de uma forma diferente aqui. A gente tem

que dar estrutura pra capacitar essa tripulação pra ‘voar’ da forma mais adequada”. E ainda

administrativo e outros segmentos, de acordo com a IAC 060-1002A - treinamento em gerenciamento de

recursos de equipes (corporate resource management – CRM) (BRASIL, 2005b).

Page 111: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

109

afirma que se o treinamento se mantiver estruturado teoricamente como era nas décadas de

“60, 70 e 80, talvez esteja desatualizado” (E1).

As empresas 1 e 2 afirmam, pois, que a estrutura curricular para a formação do piloto

deve ser revisada.

Um ponto muito interessante trazido nas entrevistas das duas empresas foi a questão

da qualidade da ‘hora voada’ pelo piloto em sua formação. Isso dirige a discussão para uma

subcategoria relacionada à matriz de formação prática do piloto.

Subcategoria: Qualidade versus quantidade da hora de voo.

No Brasil, existe a cultura de que quantidade de “horas voadas” remete a uma boa

formação e, consequentemente, boa capacitação para exercer a profissão de piloto.

As empresas aéreas, da mesma forma como será discutida na fala dos coordenadores

de curso, entendem que nem sempre quantidade pode ser entendida como uma boa qualidade

na formação.

A E1 afirma que:

[...] ainda depende muito da base de cada um, ou seja, qual é a formação que cada

um teve antes de entrar na empresa? Isso é importante. De onde ele veio? O que

‘interessa, no geral, pro treinamento é a qualidade da hora de voo do tripulante e não

a quantidade’ (grifo nosso), quando ele entra na empresa.

Ainda que considere mais importante para o setor de treinamento a qualidade da hora

de voo, aponta, entretanto, que, para o ingresso na empresa nos dias atuais, “o que existe são

critérios quantitativos” (E1).

Justifica o fato informando que a “instrução [o setor de treinamento] não participa” do

processo de seleção da empresa. Relata que “quem participa é o setor de operações, ou seja, o

[setor de] operações está ligado à instrução de voo [são dois setores ligados ao mesmo

diretor], mas não existe um requisito em relação à qualidade da hora de voo”.

Afirma que “está tentando ver isso [os critérios de seleção] de outra forma, procurando

a qualidade da mão de obra quando eles entrem na empresa [sic]” (E1).

Prosseguindo na discussão de qualidade versus quantidade, E2 afirma que:

[...] é diferente você pegar um copiloto que tenha 800 horas de avião monomotor,

que sabe-se lá como é que foi feita essas horas [sic]. A gente [a empresa] sabe que

ele fez, mas como foi feita na realidade, né? E pegar um copiloto com 200 horas

totalmente direcionadas numa aeronave a jato. Porque a tecnologia tá muito

avançada. [sic] [...]

Page 112: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

110

E relata que:

[...] nós já pegamos situações em que o piloto tinha 2.000 horas. Aí você pensa:

poxa 2.000 horas são bastante horas [sic]. Mas são aviões pequenos. Então a

filosofia de alta velocidade, a performance de velocidades diferentes, até vem a

questão de adaptação também. Tem que ver se o copiloto irá se adaptar.

Cabe salientar nesta discussão que, por vezes, o termo “aeronave pequena” foi citado.

O relevante para a discussão da formação é a presença, ou não, da automação na aeronave,

independente do tipo de avião ou sua dimensão.

Sabe-se hoje que, com o intuito de garantir uma operação segura no espaço aéreo,

todas as aeronaves – de pequeno, médio ou grande porte – estão sendo equipadas com

sofisticados sistemas de gerenciamento de voo.

Nestas discussões, o relevante, pois, é a inferência de que as exigências de se pilotar

um avião automatizado são diferentes das de se operar uma aeronave sem automação,

independente de seu tipo e dimensões.

Acrescem-se a esse fator, para as empresas aéreas, as peculiaridades de os pilotos

terem de operar aeronaves a jato, as quais possuem características aerodinâmicas bem

diferentes das equipadas com outros tipos de motores.

Essa discussão sobre a qualidade na formação dos pilotos, nos dias de hoje, direciona a

análise para a terceira e última categoria.

3a categoria: A Política de formação atende às atuais necessidades do mercado?

Com relação à Política de formação frente às atuais necessidades do mercado, a E2

aponta que:

[...] seria mais também [um problema] em termos de escola de aviação. Fazer um

treinamento um pouco mais direcionado pra esse público que vem vindo... esse

mercado que tá grande e poucos pilotos... então se exigissem um pouco mais que as

escolas de aviação já fizessem um treinamento um pouco mais direcionado para a

realidade do país hoje [sic].

De acordo com a E1 foi constatado que “quem tem dificuldade no treinamento do

simulador ou do treinamento em rota, é normalmente o tripulante que não teve o contato

prévio com os equipamentos mais modernos da aviação. Isso também é um fato”.

A E2 recomenda que as diretrizes curriculares sejam orientadas para melhorar a

familiarização dos tripulantes com os diversos equipamentos que gerenciam o voo.

Page 113: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

111

Independentemente do tipo de curso, a Política de formação, como aponta as

empresas, deve orientar para a “construção” de um profissional que atente para a

dinamicidade do setor.

E1 afirma que, independente de onde o piloto realizou o curso de aviação civil, deve-

se preocupar “primeiramente em determinar qual é o tipo de curso que ele [o piloto] fez”.

Continua em sua formulação dizendo que “se a gente for generalizar como curso

superior, não viria muito diferença” quanto à construção de requisitos para a construção de

um arcabouço de competências necessárias às empresas aéreas.

E1 aponta o seguinte:

[...] o curso superior especificamente na área da aviação – especificamente na área

da aviação civil, vamos dizer assim – nessa formação mesmo. Não na formação

gerencial e não administração de aeroportos, que seria um pouco fora do nosso

foco... quem tem esse tipo de formação vai ter uma facilidade maior do que quem se

formou, por exemplo, num curso de administração de empresas. O raciocínio de

quem é administrador de empresas vai ajudar na nossa lógica do voo. Porém serve

somente pra lógica e ao para o conhecimento prévio.

Esse trabalho não tem a intenção de avaliar qual melhor tipo de formação para o

piloto, se com nível superior, ou sem. As empresas, em seu discurso, valorizam o piloto

formado em uma instituição de ensino superior como apontam seus depoimentos.

“E isso [um curso superior], na entrada da empresa, abateria o número de horas pra

efeito de curso superior”, como afirma E1.

Para a empresa E2, o curso superior “agrega valor” ao profissional.

Entretanto, para ambas as empresas o importante é a ênfase do curso no processo de

formação. As políticas devem se preocupar em acompanhar o quão possível, a dinamicidade

do setor com toda sua inovação e tecnologia, atentando para as competências essenciais na

formação de um piloto.

E1 afirma que: “Se no curso de ciências aeronáuticas [independente da instituição]

tiver um módulo [...], por exemplo, utilização de um FTD25

, Jet training26

, etc, eu acredito

que facilitaria”.

Afirma, ainda, que tiveram exemplos de pilotos, os quais atualmente ocupam a função

de comandantes na empresa, egressos tanto de instituições de ensino superior quanto de

instituições de ensino profissionalizantes, que tiveram uma trajetória muito boa na carreira.

25

Flight traning displays (FDT) – Dispositivos de treinamento de voo, utilizados par familiarizar o piloto aluno

com os equipamentos tecnológicos das cabines de voo. 26

Processo de treinamento que trata da familiarização com o voo em aeronave a jato. Introduzindo questões

cobre a aerodinâmica, peso e balanceamento e o uso de modernos sistemas tecnológicos para o gerenciamento do

voo.

Page 114: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

112

Os pontos levantados, portanto, apontam para a necessidade de se verificar o trabalho

de formação dos pilotos no Brasil, de forma a atender às exigências de um mercado tão

dinâmico como o aéreo. Para as empresas, as políticas de formação não vêm atendendo às

necessidades do setor.

E os pilotos? Tais exigências são sentidas por eles? Os pilotos acreditam que os

currículos atendam aos requisitos operativos das empresas que fazem uso de modernos

sistemas de gerenciamento de voo?

Essas questões foram trabalhadas na análise dos discursos dos pilotos no próximo

item.

‘AGENTES’ E1 E2

CATEGORIA

1 Existe a necessidade de novas competências para se

operar as modernas aeronaves das empresas aéreas? SIM SIM

2

Os currículos no Brasil atendem às exigências

requeridas para operar complexos sistemas

tecnológicos?

NÃO NÃO

3 A Política de formação atende às atuais necessidades

do mercado? NÃO NÃO

Quadro 3 - Análise de categorias da entrevista com as empresas aéreas

4.2.2 A política de formação e os pilotos

Dentre outros pontos relevantes para as empresas aéreas, a necessidade de um perfil de

piloto que consiga interagir de forma eficiente com as pessoas e com a máquina.

Verificou-se a dificuldade de as empresas encontrarem, disponíveis, pilotos com a

adequada qualificação frente às novas demandas do setor.

A fim de identificar as percepções desse piloto, bem como sua dificuldade, ou não,

para entender os processos de interação com os diversos sistemas tecnológicos, foram

entrevistados 8 (oito) pilotos de empresa aérea.

Todos os pilotos entrevistados tinham cerca de 1 (um) ano a 1 (um) ano e meio de

empresa. Alguns deles encontravam-se ainda em ‘instrução de rota’27

no processo de

27

As empresas aéreas possuem um processo de qualificação do piloto contratado, que atende às exigências da

ANAC. Normalmente, cada empresa apresenta um processo particular da qualificação para os pilotos

contratados. Uma das fases dessa qualificação, e que antecede à verificação realizada pela ANAC, é a instrução

em rota. Momento no qual o piloto tem um instrutor que o acompanha e põe em prática, durante os voos da

empresa, seus conhecimentos.

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113

qualificação que a empresa apresenta, o que facilitou a identificar as dificuldades, ou não,

sentidas por eles no momento da transição para o tipo de aeronaves que hoje operam.

Para esta análise, os pilotos entrevistados foram identificados da seguinte forma:

– os 5 (cinco) pilotos que possuem formação em curso em instituição de ensino

superior na área das ciências aeronáuticas,

P1S (Piloto 1 com nível Superior);

P2S (Piloto 2 com nível Superior);

P3S (Piloto 3 com nível Superior);

P4S (Piloto 4 com nível Superior); e

P5S (Piloto 5 com nível Superior).

– os 3 (três) pilotos que possuem formação em curso de escolas de aviação civil

homologadas apenas pela ANAC;

P1P (Piloto 1 com formação Profissionalizante);

P2P (Piloto 2 com formação Profissionalizante); e

P3P (Piloto 3 com formação Profissionalizante).

1a categoria: Existe a necessidade de novas competências para se operar as modernas

aeronaves das empresas aéreas?

É unânime a percepção de novas necessidades para se operar uma aeronave que utiliza

a automação como princípio de voo. Todos os pilotos entrevistados acreditam que sejam

necessárias novas competências para a interação com a automação nas aeronaves.

Percebe-se a dúvida em algumas falas com relação à definição do que viria ser

habilidade e competências para se voar.

Entretanto, é perceptível nos discursos, o entendimento de que a automação requer do

piloto uma nova maneira de se ‘pilotar’ um avião.

O P1S afirma que “antes exigia mais pilotagem mesmo, né? Mais ‘pé e mão’. Hoje é

mais uma questão de gerenciamento. Você tem que entender o que está acontecendo, se

planejar e gerenciar aquele voo, né, por FMS28

e, enfim, não é tanto pé e mão”.

28

Flight Management System (FMS) – Sistema de gerenciamento de voo.

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114

Em outro trecho da entrevista, P1S acredita “que ele [o piloto] tem que ter facilidades

com máquinas, saber operar computadores.”

Para P2S:

[...] hoje a gente é muito mais um gestor de cabine do que um piloto em si [...] Eu

enxergo, hoje, um gestor de um gestor de máquina, um gestor de cabines, que toma

decisão, que tem atitudes, que tem que pensar rápido, que tem que gerenciar, às

vezes, não só a cabine, como a gente conhece, mas fatores externos.

Mais a frente, em sua análise, P2S ainda compara o piloto que operava aeronaves sem

automação, e os pilotos que hoje tripulam aeronaves automatizadas.

“O piloto de antigamente, quando não existia essa automação, vamos dizer assim, era

muito mais habilidade” (P2S). E afirma que essa habilidade, a qual repetidas vezes comenta,

tratava-se de habilidade psicomotora.

Em diversos trechos das entrevistas, percebe-se a identificação, por parte dos pilotos,

da necessidade de diferentes habilidades para operar aeronaves com e sem automação.

Por exemplo, quando o P1S afirma que antes se usava muito mais ‘pé e mão’, quer

dizer, em um jargão comumente utilizado no meio aeronáutico, que os pilotos de outrora

faziam maior uso de habilidade psicomotora e perceptual, em comparação à habilidade

cognitiva.

Essa habilidade cognitiva, apontada por diversos autores, está presente na atividade

que faz uso de automação, em virtude das diversas funções disponíveis pelos sistemas que

substituem algumas tarefas antes realizadas apenas pelos operadores, neste caso, pelos pilotos.

P2S aponta que “90% do voo é a automação que faz, é o piloto automático”,

possibilitando, então, que se tenha “muito mais tempo pra pensar e pra tomar decisões”. E

continua a afirmar que “devido a toda essa automação, que a cada dia tá maior, a gente

tornou-se um gestor de cabine” [sic].

Para o P3S, o “[...] gerenciamento em si é o mesmo, a gente [o piloto] gerencia da

mesma forma. A única diferença é que eu tenho uma facilidade maior no gerenciamento [...]”.

Para ele, a percepção de gerenciamento está no controle constante do voo por parte do

piloto, independente de a aeronave possuir, ou não, automação. Reconhece que o “voo” em

uma aeronave glasscockpit possui características distintas. Entretanto acredita que a diferença

não esteja propriamente no gerenciamento e sim “o que muda é a forma como eu vou

gerenciar [...]” (P3S).

P4S, por sua vez, não deixa clara a necessidade de novas habilidades. Todavia, quando

questionado sobre o processo de familiarização da aeronave glasscockpit, afirma que “é um

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115

processo longo. Ground school, simulador e depois a prática. Demora um pouco pra você se

familiarizar, mas uma vez que você se familiariza [...] fica bem mais fácil a operação.”

Quando questionado acerca da dificuldade encontrada para se operar uma aeronave

glasscockpit, P4S aponta que ‘voar’ um avião glasscockpit “é um novo conceito... A

automação é o novo conceito de voar. Então, muda um pouco a filosofia do voo, né... é uma

nova filosofia de voar”.

Ainda que para P4S, em seu entendimento, não sejam necessárias novas habilidades

para se operar uma aeronave tecnologicamente avançada, acredita na existência de um novo

conceito para esse tipo de voo. Pode-se inferir, pois, que para P4S existem diferenças nos

tipos de voo com e sem o uso de complexos sistemas tecnológicos.

No tocante a novas habilidades para se ‘voar’ uma aeronave automatizada, para P5S:

[...] é bem diferente de um avião menor. Bem diferente. todo mundo, por mais que

um piloto tenha mais, tenha muita experiência num avião menor, quando ele chega

num avião de grande porte, com automatismo, ele vai sofrer quase a mesma coisa do

que o avião, do que um piloto com pouco experiência. Por quê? Porque o

automatismo, não exige muita pilotagem, é mais conhecimento [...] exige mais

gerenciamento de cabine [...].

No entendimento do P1P, existe “uma carga maior de informação, mas a carga de

trabalho em si, ela é diminuída e você [o piloto] não precisa tá voltando sua atenção pra outras

coisas (SIC) [...] você se preocupa mais com o gerenciamento e na continuidade do voo e não

em ta calculando (P1P)”.

Em outro trecho ainda, P1P resgata a ideia da necessidade de mais habilidades

cognitivas que as habilidades psicomotoras para se operar aeronaves glasscockpit:

[...] antes a aviação era muito ‘pé e mão’, né? Hoje é mais gerenciamento. Você tem

que tá ligado a gerenciar o que tá acontecendo com o avião – aquela questão

situacional – saber o que está acontecendo em sua volta. Por que hoje, basicamente

você não precisa mais dessa habilidade – pé e mão – pra voar. Você precisa saber o

gerenciamento, consciência situacional [sic] (P1P).

Os pilotos conseguem perceber, e expressam em suas falas, a modificação apresentada

por Hollnagel e Woods (2005) na qual apontam para a linha de equilíbrio no uso de

habilidades motoras e cognitivas ao longo dos anos (figura 5).

Para P2P, as “[...] grandes companhias aéreas se utilizam da automação e, a cada dia

mais, da tecnologia, na qual já não tem tanta necessidade da sua capacidade, daquilo que a

gente chama de ‘pé e mão’; e agora está voltada mais para um gerenciamento [...]”.

Com relação à percepção de novas habilidades, o P3P afirmou que ele está “muito

aquém do que deveria estar” no tocante às habilidades necessárias para se operar a aeronave

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na qual trabalha atualmente, ainda que seja percebida certa dúvida quanto ao conceito do

termo habilidade em sua fala.

Todas as falas analisadas apontam, pois, para uma modificação nas características de

voo quanto à operação em uma aeronave glasscockpit, o que direciona a discussão para a

subcategoria a seguir.

1a subcategoria: Facilidade no uso da automação

A empresa E1 apontou que se deve identificar o tipo de formação acadêmica, para

depois se ter uma ideia se ela influencia positiva ou negativamente a qualificação de um

piloto.

Essa perspectiva é corroborada nas experiências identificadas nas entrevistas com os

pilotos, uma vez que, mesmo tendo realizado um curso de ciências aeronáuticas em

Instituição de Ensino Superior, um dos pilotos relatou ter encontrado muita dificuldade para

manipular a automação presente na aeronave.

Dos 8 (oito) pilotos, 4 (quatro) afirmaram não terem tido dificuldade no uso da

automação, quando de seu ingresso em uma empresa aérea.

Constata-se que os 4 (quatro) pilotos que dizem não terem encontrado dificuldade

tiveram sua formação em uma instituição que apresentava em sua matriz curricular disciplinas

ligadas à familiarização das ferramentas tecnológicas, componentes curriculares que, em

teoria, auxiliam no desenvolvimento das habilidades cognitivas necessárias para se operar

uma aeronave glasscockpit.

P1S considera que por ter tido contato desde cedo com manuais de aviônicos, e

disciplinas nas quais explicavam o funcionamento dos diversos sistemas tecnológicos, não

teve dificuldade no seu processo de transição para operar um jato glasscockpit.

P1S afirma que:

[...] o EMBRAER29

é uma aeronave bem automatizada. Por isso eu acho que tem

que ter um bom preparo teórico, um bom preparo antes de encarar a situação; porque

o automatismo, a meu ver, é ótimo quando está tudo funcionando, fica perfeito!

Porém quando tem alguma coisa que não está prevista, às vezes, tu não consegue

entender o que está acontecendo no avião e isso acontece às vezes. Então tu tem que

ter um bom preparo [sic] [...] eu acho que por eu ter o contato desde cedo, me

ajudou bastante. Foi bem melhor que se eu não tivesse estudado.

29

O piloto quer dizer as aeronaves da empresa EMBRAER, aviões comercial a jato e bimotor, nas versões: o

EMB-190/100 e ERJ-190/200, para 70, 98 e 108 passageiros e o EMB-195.

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P2S afirma: “[...] toda facilidade que eu tive no emprego em voar uma aeronave

complexa e praticamente toda automatizada, eu credito a minha formação acadêmica, toda

que eu tive na faculdade [...]”.

P2S aponta que “antes mesmo de acabar o curso de piloto comercial, ou seja, de ter

habilitação de piloto comercial, já tinha muito conhecimento de automação e sabia

praticamente como se operava, a teoria da automação”.

P3S relata: “[...] a formação que eu tive, ela foi meio a meio. Metade dela foi toda em

analógico e a outra metade toda em digital, facilitou muito a minha vida e o meu

entendimento hoje pra chegar num Boeing30

, chegar e olhar aquele painel do Boeing

totalmente glasscockpit”.

Os outros 4 (quatro) pilotos que não tiveram, entretanto, em sua formação, disciplinas

que trabalhassem a relação deles com a automação e suas particularidades, apontaram

dificuldade em seu processo de transição para operarem uma aeronave glasscockpit.

P1P relata: “[...] foi realmente quando entrei na aviação comercial [ao ingressar na

empresa que trabalha atualmente] que eu tive o contato com a automação que nós temos hoje

– que é da conta da tecnologia oferecida [...]”.

A única experiência com automação, antes de ingressar em uma grande companhia

aérea, fora o contato que teve com o GPS e comenta que: “tanto que a primeira vez que eu

tive contato com GPS, o próprio comandante não sabia usar” (P1P).

P2P conta que teve acesso ao flight Simulator no início de sua formação, e afirma que

“nunca estudei a fundo assim, mais a título de brincadeira mesmo”.

P3P afirma que não teve contato com tópicos relacionados ao uso da automação e suas

peculiaridades em nenhum momento ao longo de todo o seu processo de formação. Comenta

ainda:

[...] quando eu fiz o PC, obviamente eu nem vi isso [tópicos ligadas à familiarização

com a automação]. Quando eu fui fazer, quando eu fui fazer o PLA, eu não tive

nenhum contato com isso aí. Pra mim foi tudo novo, desde o momento em que eu

pisei pra fazer o ground31

na [a empresa onde trabalha] tudo foi novo pra mim. Eu

nunca tinha visto o glass, nunca tinha visto o MCP32

e nada disso [...].

Cabe relembrar que no manual que orienta o curso de PLA, tanto para avião quanto

para helicóptero, a unidade IV – Aviônica (Anexos X e XI) – tem a intenção de familiarizar o

30

Boeing 737, avião comercial a jato e bimotor. 31

Esse termo está relacionado à instrução teórica oferecida pela empresa aérea ao contratar o piloto para

adaptação deste na aeronave que irá operar, como exige Regulamento da ANAC. 32

Multi Control Pannel (Painel multicontrole).

Page 120: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

118

piloto com conceitos ligados à automação. E um ponto importante a ser destacado é o fato de

todos os pilotos entrevistados terem, no mínimo, a parte teórica da formação de PLA.

Todavia, pode-se acreditar que a não obrigatoriedade em se realizar o curso em uma

escola homologada pela ANAC, deixa livre a forma como se processa a aquisição desses

conhecimentos importantes para o piloto que intenciona trabalhar em aeronaves

tecnologicamente avançadas.

P3P afirma que não identificou, no estudo para realizar a prova de verificação da

ANAC para obtenção da licença de PLA, nenhuma disciplina que abordasse assuntos ligados

à automação. E relatou:

[...] o que eu vi de diferente no PLA, até porque a prova exige é a questão da

aerodinâmica que é diferente. Porque a prova que regulamenta a teoria de voo é o

peso e balanceamento. Então quer dizer, eu foquei nisso aí. Eu não procurei assim se

abrangeu outras coisas. Foquei só no que estava pedindo [a prova da aplicada pela

ANAC]. Pra mim foi tudo novidade [sic] [assuntos ligados à automação].

Interessante notar ainda que 1 (um) dos 4 (quatro) pilotos com dificuldade no uso da

automação era egresso de uma instituição de ensino superior, na área de Ciências

Aeronáuticas, e P5S afirma categoricamente, ao ser questionado se acredita que a sua

formação em um curso superior de Ciências Aeronáuticas o auxiliou quanto à utilização da

automação, que:

Não. Nenhum pouco, sabe. Pelo menos no curso onde eu fiz... [...] Não foi focado

nessa área de automação, foi muito voltada pra aviação, mesmo geral. [...] mas no

automatismo, da aeronave onde eu voo, hoje, não [sic]. Nenhum pouco! Pelo menos

na universidade onde eu fiz, eu não tive essa formação.

P5S afirma: “[...] eu tive muita dificuldade [...], por quê? Porque essas aeronaves de

grande porte exigem muito conhecimento na área do automatismo, eu, por exemplo, tive

muita dificuldade [...]”.

O que dirige a atenção para a terceira categoria de análise, a matriz curricular dos

cursos de aviação civil.

2a categoria: Os currículos no Brasil atendem às exigências requeridas para operar

complexos sistemas tecnológicos?

Todos os pilotos das instituições homologadas apenas pela ANAC apontaram que as

diretrizes curriculares não beneficiaram na formação de requisitos, os quais auxiliariam no

uso da automação cada vez mais presente nas modernas aeronaves.

P1P afirma:

Page 121: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

119

[...] o ensino no aeroclube, eu fiz aeroclube há doze anos atrás [sic], mas eu acredito

que até hoje seja da mesma maneira. Pode ser que algum aeroclube ou outro seja

diferente. Eu acredito que a grande maioria, os que ainda existem, ainda são

bitolados naquilo que há duas gerações atrás se aprendeu. Se você for analisar bem,

se você for em qualquer livraria de aviação, são os mesmos livros. A grade

curricular é a mesma.

Não se trata, portanto, apenas de se ter em sua matriz curricular a presença de

disciplinas para estudo, mas também da necessidade de ser identificada a importância de

determinada matéria para a ‘construção’ do perfil profissional do piloto.

Por exemplo, todos os pilotos, sem nível superior, possuíam a habilitação de PLA.

Tinham, pois, teoricamente percorrido todo o caminho apresentado pelo órgão competente

para a formação do piloto no Brasil. Entretanto, todos afirmaram não terem trabalhado pontos

que descrevam a operação da automação e suas peculiaridades.

Não se trata, da mesma forma, de ser formado, ou não, em uma instituição de ensino

superior, uma vez que P5S apontou para o fato de ter se formado em uma instituição de nível

superior e, ainda assim, estar vivenciando muita dificuldade para entender a operação da

automação nas aeronaves. Cabe ressaltar que o curso realizado pelo P5S foi da área da ciência

aeronáutica.

O que se pode inferir com isso é que a formação de um piloto deve atender a requisitos

de mercado, sim, e não apenas, mas também, requisitos que facilitem o processo de ensino-

aprendizagem destes, para que consigam operar de forma segura e consciente as modernas

aeronaves e não se tornar um mero ‘apertador de teclas’.

A formação de um piloto deve atender às peculiaridades da profissão, apresentando

disciplinas de caráter técnico e operativo, além de mesclar conteúdos que permitam ao piloto

uma formação que dê condições de se relacionar com as pessoas a sua volta e os complexos

sistemas tecnológicos embarcados nas aeronaves que opera.

Um importante fator salientado nas falas dos pilotos que fizeram curso nas escolas de

aviação homologadas apenas pela ANAC foi a dificuldade de interação com automação hoje

presente nas cabines das modernas aeronaves.

Possivelmente, a não obrigatoriedade da realização do curso de PLA em uma escola

homologada promova essa lacuna na formação de pilotos para a licença de PLA. Outros

pontos podem ser inferidos, tais como: a falta de uma bibliografia mais atual e abrangente; a

formação de instrutores teóricos mais qualificados; e a realização de uma avaliação mais

condizente com a proposta apresentada para a formação de um PLA.

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120

Como comentado na análise do manual de curso de PLA, é prevista, na unidade IV, a

disciplina ‘Aviônica’, a qual contempla os itens ligados à familiarização com a automação.

Entretanto, como afirmam os pilotos entrevistados, nenhum deles teve contato com conteúdo

de automação em seu processo de formação.

Como justificativa, os pilotos apontam que, como não é obrigatória a realização do

curso de PLA em uma escola, eles focaram apenas nas disciplinas que seriam cobradas na

banca da Agência para aquisição da licença.

Portanto, por mais importante que seja considerado o componente curricular para a

formação do piloto, até chegar a um grau com elevada experiência e amadurecimento, como

teoricamente seria o piloto de linha aérea – PLA, percebe-se que, na prática, essa formação

fica muito aquém das necessidades requerida pelas demandas sociotécnicas, bem como da

proposta apresentada nos manuais de curso do PLA.

Esse prejuízo pode se refletir na segurança das operações aéreas, ou, no mínimo, nos

custos de qualificação dos pilotos para as empresas aéreas.

Existe a ideia de que a lacuna gerada na formação do piloto possa ser sanada na

qualificação realizada pela empresa aérea ao ingresso desse piloto em seu quadro de

tripulantes. Contudo, como comentado por alguns pilotos, a empresa espera que eles cheguem

com conhecimentos tidos como básicos que, em muitos casos, nunca tiveram nenhum contato.

Ou, ainda, como relatam as empresas, sem poder, por tempo ou por custo, elas tem que

demandar um tempo precioso para qualificar o piloto com conhecimentos que eles já

deveriam ter domínio. Em alguns casos, essa qualificação restringe-se a uma grande revisão

de assuntos ligados a temas que, teoricamente, deveriam ser trabalhados nos cursos de

formação de pilotos.

Em algum ponto, esse processo de formação está prejudicado e ineficaz.

A maior parte dos copilotos contratados pelas empresas, atualmente, são apenas

pilotos comercias (PC) ou, no máximo, possuem também a licença de PLA teórico.

Qual foi a formação desse copiloto para o relacionamento com a automação? O estudo

“autodidático” é suficiente para a formação desse piloto como piloto de linha aérea?

Esses questionamentos levantam outra dúvida: O que se espera de um piloto que tenha

realizado o curso de PLA, nos moldes atuais, e tenha ‘conquistado’ a licença de PLA ao

realizar a ‘prova de verificação’ proposta pela ANAC?

Não seria interessante que as disciplinas ligadas à automação e suas particularidades

fossem ministradas já na formação do piloto comercial – PC?

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121

Todos os pilotos entrevistados tinham ao menos o curso teórico de PLA e já haviam

realizado a banca da ANAC. Entretanto, foram unânimes a apontar suas dificuldades na

interação com a automação e a ausência de tópicos ligados aos complexos sistemas

tecnológicos ao longo de sua formação.

Independente da forma como o piloto conquistou o certificado teórico de PLA, assim

que ele atingir as horas necessárias e exigidas por Regulamento específico e comprovar ao

Órgão responsável, esse piloto receberá sua licença de PLA e com as competências básicas

para se portar como comandante desenvolvidas de maneira questionável.

Evidencia-se que as Políticas de formação, na experiência vivenciada em especial

pelos pilotos que tiveram sua formação em instituições de ensino homologadas apenas pela

ANAC, não atendem às atuais necessidades do mercado (Quadro, categoria 3).

CATEGORIA 1 2 3

AGENTES

P1S SIM SIM SIM

P2S SIM SIM SIM

P3S SIM SIM SIM

P4S SIM SIM SIM

P5S SIM NÃO NÃO

P1P SIM NÃO NÃO

P2P SIM NÃO NÃO

P3P SIM NÃO NÃO

Quadro 4 - Análise de categorias da entrevista com os pilotos.

Legenda:

Categoria 1 - Existe a necessidade de novas competências para se operar as modernas aeronaves das empresas

aéreas?

Categoria 2 – Os currículos no Brasil atendem às exigências requeridas para operar complexos sistemas

tecnológicos?

Categoria 3 - As diretrizes curriculares de sua formação auxiliaram na facilidade para compreensão do uso da

automação? Evidenciando se a Política de formação atende às atuais necessidades do mercado

4.2.3 A formação de pilotos e os coordenadores de curso

O terceiro grupo de agentes entrevistado foi o grupo dos coordenadores de curso.

Entende-se que a formação de um piloto possui característica multidisciplinar, com o

desenvolvimento de diversas outras ciências dentro do campo da aviação, tais como Física,

Matemática, Geografia, Meteorologia, Climatologia, dentre outras.

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122

O Coordenador de um curso é o responsável, entre outros pontos, por “manter o nível

de qualidade das técnicas, procedimentos e padrões de instrução, conforme estabelecido pelas

normas da ANAC” (BRASIL, 2006a, p. 20).

Responsáveis por “fazerem acontecer” as diretrizes curriculares, os coordenadores dos

curso de aviação civil, seja ele na categoria, profissionalizante, tecnológico ou bacharelado,

vivencia as dificuldades existentes na formação de um piloto, bem como as peculiaridades

dessa formação.

Foram entrevistados sete coordenadores: 4 (quatro) dos sete são coordenadores de

curso de nível superior, 1 (um) coordenador de práticas de voo do curso de aviação de uma

universidade, 1 (um) diretor de uma Faculdade de Aviação Civil e 1 (um) diretor da uma

escola de aviação civil a qual oferta o curso na categoria profissionalizante.

Os coordenadores dos cursos, de forma aleatória, foram identificados da seguinte

forma, a fim de ser garantido o anonimato desses profissionais:

Coordenador 1 (C1)

Coordenador 2 (C2)

Coordenador 3 (C3)

Coordenador 4 (C4)

Coordenador 5 (C5)

Coordenador 6 (C6)

Coordenador 7 (C7)

Ao longo das entrevistas, foi identificada a preocupação de todos os coordenadores

com os rumos da formação de pilotos no Brasil.

O C7 afirma, de forma categórica, a necessidade de se efetivar uma Política de Estado

para o processo de formação do piloto no Brasil: “O ensino de aviação civil, a aviação civil,

tinha que ser uma política de Estado e não de Governo. Se ela fosse uma Política de Estado, a

gente não estava com os problemas de estrutura que estamos enfrentando hoje” (C7).

1ª categoria: Existe a necessidade de novas competências para se operar as modernas

aeronaves das empresas aéreas?

Todos os coordenadores apontaram para a existência e a necessidade de se formar

pilotos para uma nova fase da aviação. Com habilidades distintas das que se entendiam

essenciais anos atrás.

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O C1 aponta a diferença no conceito de voar entre uma aeronave que faz uso de

automação e uma aeronave mais simples:

[...] o que eu vejo, o que acontece. O piloto quando ele voa uma aeronave mais

simples, ou uma aeronave visual com, não tem piloto automático, não tem nada, ele

é muito mais, vamos dizer assim, um executor. Então o voo depende muito da

habilidade manual dele. É o que os mais antigos aí falavam: olha o piloto é muito

bom, ele tem ‘pé e mão’ [...].

C1 prossegue sua defesa na identificação de novas habilidades apontando que “hoje

em dia [...] o piloto, ele é muito mais um gestor do que um cara que tem ‘pé e mã’”.

Vale lembrar que ao dizer ‘pé e mão’, um jargão normalmente utilizada na aviação

menos automatizada, infere-se, como já comentado, na habilidade motora e perceptual do

piloto. A ênfase reconhecida em um tipo de aviação que faz uso de aeronaves mais simples

em seu conceito, com instrumentos mais analógicos que digitais.

C1 continua sua explicação, apontando para a importância das habilidades cognitivas

nos dias de hoje, ao firmar que “[...] então você passa a ser mais um gestor que você tem que

conhecer todos os recursos que você tem a bordo [da aeronave], do que ser um piloto pé e

mão, como era no passado”.

C2 aponta que “cada implemento tecnológico que você faz na aviação, você vai

despertar a necessidade de adaptação a esse novo processo. Consequentemente, você fala em

aprendizado, esse piloto precisa aprender a lidar com isso”.

Traz um exemplo no uso de equipamentos que auxiliam a navegação do piloto,

comparando a utilização em aeronaves com equipamentos analógicos e aeronaves equipadas

com equipamentos digitais.

C2 continua “Vou te dar um exemplo clássico disso: antigamente pra você voar em

instrumento33

, você se baseava em 4 (quatro) instrumentos: o horizonte [artificial], o CLIMB,

o altímetro e o GIRO”.

Para melhor identificar esses instrumentos, é apresentada a Figura 12 abaixo, na qual

os 4 instrumentos citados pelo C2 e outros fazem-se fundamentais para a ocorrência de um

voo em aeronave equipada por equipamentos analógicos.

33

O coordenador aponta para a realização de voos que os pilotos referenciam seu voo apenas nas indicações dos

instrumentos de auxílio à navegação, uma vez que não possui referências visuais com o terreno, atendendo às

regras de voo por instrumento.

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Figura 12 - cabine de aeronave com instrumentos analógicos.

Fonte: Google (2012)

Da esquerda para a direita, começando pela parte superior, tem-se: 1º, o velocímetro;

ao seu lado o horizonte artificial; 3º, o altímetro e 4º, um dos modelos utilizados para indicar

uma estação de VOR (VHF Omnidirectional Range). Na parte inferior, da esquerda para a

direita, tem-se o “turn and bank” (indicador de curva e derrapagem, o qual orienta uma forma

mais coordenada de realizar uma curva no avião), na sequência o Giro direcional, que orienta

o curso ou proa desejados pelo piloto, o “climb” (orienta a razão de subida ou descida da

aeronave) e, por fim, o indicador de ADF (Automatic Direction Finder).

Prosseguindo, C2 aponta que:

[...] hoje em dia, você juntou isso num instrumento só: O PFD (Primary flight

Display -) [figura 13], tá. Então ele olha pra um lugar só e tem essas quatro

informações. Isso exigiu o quê? isso exigiu uma adaptação do piloto a esse tipo de

equipamento. Isso levou a quê? Isso demandou um tempo, demandou treinamento

pra ele chegar e interpretar isso tudo em um instrumento só. Por quê? Existem “n”

interpretações diferentes, ou seja, a cada implemento que você faz em tecnologia,

você tem que ter instrução, você tem que ter uma capacidade de compreensão do

equipamento. Porque não é só você saber ler o equipamento. Tem que compreender

onde ele tá [sic] inserido dentro do teu voo.

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Figura 13 - Primary Fligh Display (PFD)

Fonte: Google (2012).

Para C3, quando questionado sobre a necessidade de novas competências para se

operar em aeronaves automatizadas:

[...] antigamente o piloto era praticamente um herói. Ele tinha que pilotar, ele tinha

que fiscalizar, ele tinha... é o ‘pé e mão’. Ele tinha que ter habilidades mecânicas,

excelência em habilidades mecânicas, a visão excelente; ele tinha que ter uma série

de cuidados. Ele era praticamente responsável pelo avião todo. Hoje, o piloto é um

gerente, né? Ele faz um gerenciamento do voo.

C6 entende a existência de novas habilidades e percebe como sendo uma ‘troca’:

[...] é mais uma troca. Antes, você tinha que ter muito mais habilidades, entre aspas,

de ‘pé e mão’. Hoje, em função da automação, você tem que ter muito mais

habilidades gerenciais, de domínio sistêmico. Isso significa dizer que hoje, você tem

que ter muito mais conhecimento do que ontem. Que você não faz gerenciamento

sistêmico sem saber com o que o sistema é capaz de lidar. E, anteriormente, você,

pra controlar o avião plenamente de maneira satisfatória pelas suas habilidades

motoras e manuais, era muito mais acessível.

E para o C7 indica em uma palavra a evidência de novas competências. ‘Cognição’.

De acordo com o coordenador:

[...] o piloto de hoje é um homem cognitivo. Eu [C7] era um operador enquanto

piloto. Era um técnico de uma qualidade interessante. Hoje o piloto precisa pensar,

raciocinar e interagir com um padrão de automação muito sofisticado. Nem sempre é

muito fácil você entender como resolver determinadas coisas. [...] eu acho que o

piloto, mais do que tudo, é um profissional cognitivo hoje, o que não precisava ser

na minha época. Você podia ser ou não. Levar o avião de A para B, você não

precisava ser tão inteligente. Você podia ser o que a gente chamava na minha época

de ‘pé e mão’. Hoje é necessário mais do que ‘pé e mão’. Talvez muito mais

inteligência do que’ pé e mão’.

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126

Percebe-se a recorrência do termo ‘pé e mão’ nas falas dos coordenadores para

identificar a existência de competências diferentes das que se necessitava em tempos que a

automação era inexistente nas cabines das aeronaves.

Para além da discussão do que venha ser mais importante – habilidades motoras,

perceptuais ou cognitivas – a questão é identificar e compreender a existência de

competências diferenciadas para a formação de um piloto que irá operar aeronaves com

complexos sistemas tecnológicos embarcados.

Essa primeira categoria de análise, a de identificar a existência de novas habilidades

em virtude da automação nas modernas aeronaves, claramente reconhecidas pelos

coordenadores dos cursos, direciona para as segunda e terceira categorias.

2a e 3ª categorias: Os currículos no Brasil atendem às exigências requeridas para operar

complexos sistemas tecnológicos? e A Política de formação atende às atuais necessidades

do mercado?

Para o C1, a dificuldade de análise do curso de aviação civil, para o Ensino Superior,

começa com a não identificação do curso de ciências aeronáuticas em uma área do

conhecimento específica, como afirma: “O curso de aviação civil dentro da universidade está

pendurado dentro da área de engenharia e tecnologia”.

C2 afirma que:

[...] não existem diretrizes curriculares para o ensino de aviação civil no Brasil no

nível superior. Nem na ANAC, nem no MEC. Por quê? O MEC, ele não entende, ou

não entendeu até hoje, a necessidade de criação de currículos mínimos pra esses

cursos. Então cada universidade, pode fazer aquilo que quiser.

C3, da mesma forma, aponta que:

[...] nós estamos instituindo as diretrizes curriculares, porque o curso de ciências

aeronáuticas não tem diretriz curricular, principalmente a acadêmica, não existe.

Então qualquer forma de formatação do curso, desde que seja apresentado um

projeto pedagógico, nós temos que aceitar como [...].

C1 afirma que, no tocante à ausência de diretrizes curriculares:

Você tem cursos superiores na área de aviação... você tem praticamente em quase

todos os estados. Alguns cursos menores, outros maiores, mas não existe

uniformidade de ensino nenhum. Se você pega a grade curricular. Eu recebo alunos

do Brasil inteiro aqui. Todas as universidades eu já recebi aluno pra cá. Então o que

acontece? O aluno começa e cada instituição tem sua grade própria.

A ausência de diretrizes curriculares permite uma variada e diferente gama de

formação de profissionais na aviação civil. Levanta o questionamento se a Política Nacional

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127

de Aviação Civil sabe que tipo de profissional o setor aeronáutico deseja. E abre possibilidade

para fatos como o relatado pelo P5S, que mesmo com curso superior em ciências

aeronáuticas, não se sentia apto para o uso da automação presenta na aeronave que opera.

Para C4 é importante trabalhar no piloto o embasamento em três áreas, como aponta:

“a teoria, a técnica e o gerenciamento”. Para o coordenador é fundamental ser desenvolvido

no piloto uma forte base teórica, apontando para as diferenças de voo entre aeronaves com

diferentes motores, suas características aerodinâmicas e as qualidades essenciais a um piloto

de aeronaves.

Outra questão apontada por C4 é a necessidade de possibilitar ao piloto o

entendimento da interpretação nos diferentes níveis de automação, bem como a coordenação

dentro da cabine e o gerenciamento com os sistemas técnicos e humanos que envolvem uma

operação aérea.

Para C4, “a formação tradicional hoje no Brasil, sem uma definição de uma política

clara, está completamente defasada”. Aponta ainda que:

[...] a gente não tem condição de fazer uma formação de um piloto pra uma Cia

Aérea, se nem a nossa estrutura mínima oferecida, ela é condizente com o

treinamento da década de 40. Mesmo com a tecnologia da década de 40, a gente não

conseguiria formar um piloto adequadamente. É tudo obsoleto, muito ultrapassado.

C4 identifica que os cursos de formação estabelecidos pela ANAC são orientados por

manuais elaborados na década de 90, com algumas ou poucas alterações após sua publicação.

C7 aponta que o mercado de trabalho está necessitando de profissionais que consigam

interagir mais adequadamente com a automação. Relata que durante uma reunião com uma

empresa aérea, o representante da empresa questionou: “Vocês [a universidade] tem um jeito

de formar seus alunos em aviões glasscockpit pequenos, de treinamento básico?”.

O mercado de trabalho está orientando a real necessidade do setor. E são os manuais

de curso da ANAC que orientam os conteúdos mínimos de cada curso.

C1 aponta que “os manuais da ANAC, se você pegar muitos manuais que a ANAC

utiliza hoje, são ainda da época do DAC34

[sic]. Tem questões que são de aeronaves muito

ultrapassadas. São formações antigas”.

C7 atenta para a responsabilidade das instituições de ensino em trabalharem além dos

manuais, apontando para o fato que “os documentos estabelecem padrões mínimos e as

escolas [...] as escolas adoram esse padrão mínimo”.

34

Departamento de Aviação Civil (DAC), foi um órgão brasileiro criado para estudar, orientar, planejar,

controlar, incentivar e apoiar as atividades da aviação civil, pública e privada, permanecendo assim até março de

2006 quando foi extinto, sendo absorvido pela Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC.

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128

Extrapolar os mínimos estabelecidos pela Agência, assegurando sempre a segurança e

a qualidade na formação, deve ser uma atitude positiva e presente nos projetos pedagógicos

dos cursos da aviação civil.

Para C7:

[...] o padrão mínimo não precisa ser abolido, nós que somos profissionais que

tentam trabalhar com a formação, nós temos de entender que se existe um padrão

máximo no mundo, e eu não sei qual é, eu procuro ele todos os dias... se existe um

padrão máximo é exatamente o que a gente precisa trabalhar [sic].

Nessas entrevistas com os coordenadores, foi identificada a necessidade de modificar

o currículo mínimo para a formação dos pilotos. Para os coordenadores, a formação atual

ainda se baseia em uma formação tradicional, na qual não se pressupõe uma

interdisciplinaridade.

Os coordenadores, em sua fala, compreendem o processo de transição pela qual a

ANAC vem passando. Entretanto, afirmam que as políticas para o processo de formação de

um piloto devem ser revisitadas o mais rápido possível.

Outro aspecto importante, apresentado como subcategoria na análise das entrevistas

das empresas, é a questão ligada aos parâmetros de formação voltados para quantidade versus

qualidade de horas voadas por um piloto-aluno.

Existe no Brasil uma cultura, como afirmam os coordenadores e pode-se inferir dos

documentos que regem a formação do piloto, de que as competências necessárias para a

execução da atividade são desenvolvidas e aprimoradas com a aquisição de horas de voo

basicamente.

Entretanto, os coordenadores de curso apontam que alunos formados com uma visão

mais ampla do gerenciamento de complexos sistemas, com ênfase para o gerenciamento de

cabine e das equipes, podem apresentar uma melhor desenvoltura na cabine de uma aeronave

tecnologicamente avançada, em comparação àqueles com muitas horas práticas de voo e

menor desenvolvimento das competências cognitivas.

No Brasil, como se verificam pelos Regulamentos, os parâmetros se restringem, de

maneira geral, à quantificação de horas de voo, horas específicas para cada uma das licenças

apresentadas no RBHA 61 (BRASIL, 2006a).

Infere-se que essa prioridade voltada para a quantidade de horas de voo exista em

função de se se acredita ser possuidor de maior experiência e vivência aeronáutica, além de

amadurecimento, um piloto que possua um número ‘x’ de horas de voo como determinado

pela legislação.

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129

Entranto como pode ser constatado ao longo de toda pesquisa, o avanço dos

equipamentos que integram as atuais cabines de comando requer um profissional melhor

qualificado em aspectos voltados para a interação com as máquinas e com as pessoas,

portanto mais cognitivo, e não apenas voltado a aspectos ligados às habilidades motoras e

perceptuais – o ‘pé e mão’.

Nem sempre, a quantidade dessas horas aponta para uma qualidade na formação do

profissional, como já identificado nas falas das empresas aéreas e dos pilotos.

Compreende-se a necessidade de serem determinados parâmetros a fim de se

estabelecerem critérios para o desenvolvimento de competências essenciais. No entanto,

questiona-se se realizar uma análise a partir apenas da quantidade seja adequada para a

formação de profissionais nas condições atuais de trabalho, com amplo envolvimento de

sistemas avançados sociotécnicos para o gerenciamento de voo.

Outro fator muito importante a ser levantado quanto à discussão ‘qualidade versus

quantidade de horas’ é a busca por métodos paliativos, em detrimento de uma transformação

efetiva da estrutura de formação do piloto. Como defendido por Sacristán (2011), deve-se

tomar cuidado com modismos ou propostas, sem estudos e adaptações inapropriadas, que

pretendam servir de miraculosos remédios para os problemas da formação de pilotos no

Brasil.

Como já apontado, DEKKER, DAHLSTROM e NAHLINDER (2006) defendem ser

necessária para o piloto, já em seus primeiros contatos com a formação de piloto, a

familiarização com a automação.

Para os coordenadores de curso, portanto, é identificada a necessidade de desenvolver

novas competências aos pilotos para atuarem em um cenário diferente do que se configurava

quando da elaboração dos manuais.

Outro ponto importante é o fato de que a maior parte dos copilotos de uma empresa

aérea possui efetivamente apenas a licença de PC, no máximo, o curso teórico de PLA, como

já comentado em outros momentos da análise.

C5 aponta que “hoje em dia, praticamente todos os pilotos que procuram a escola pra

checar o PLA são pilotos que adquiriram essa experiência, mais de 50%, em Cia. aéreas

voando como copilotos”.

Infere-se, pois, que como apenas o curso de PC é obrigatório ser realizado em uma

instituição de ensino, esses pilotos nunca tiveram, se não por interesse próprio ou em curso

realizado pela empresa, contato com informações sobre a automação, seu uso e

peculiaridades.

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Para os coordenadores, é fundamental fazer com que a Política de formação torne-se

questão de Estado, com o intuito de promover uma formação mais dinâmica e condizente com

as demandas atuais.

Como a ANAC percebe a formação do piloto nos dias atuais e sua responsabilidade

como fiscalizadora e promotora de um processo contínuo na formação desse piloto?

No próximo item será abordada a visão da Agência quanto às novas exigências na

formação do piloto e suas colocações quanto à Política de formação.

4.2.4 A política de formação e os representantes do governo

Nas três primeiras análises, das empresas aéreas (representantes diretos do mercado de

trabalho), dos pilotos e dos coordenadores de curso, foi apontada a necessidade de se revisar o

processo de formação de pilotos no Brasil.

C4 aponta para a necessidade de se rever o que foi denominado, por ele, de “formação

tradicional” e aponta para uma formação voltada para a “formação de competências”. E

declara que tem trabalhado em cima das habilidades, dos conhecimentos e atitudes para

definir o conjunto de disciplinas teóricas, simuladas e práticas para fazer parte da formação de

um piloto.

É clara a posição de empresas aéreas, pilotos e coordenadores de curso quanto à

necessidade de se rever a formação de pilotos, fazendo dessa formação algo mais abrangente

com relação às atuais necessidades do setor aéreo.

Foram entrevistados 4 (quatro) representantes do Governo ligados ao setor de escolas

e formação de pilotos no Brasil dentro da ANAC.

Com o intuito de se manter a confidencialidade das informações dos entrevistados, os

representantes serão apresentados neste trabalho da seguinte forma:

Representante do Governo 1 (RG1)

Representante do Governo 2 (RG2)

Representante do Governo 3 (RG3)

Representante do Governo 4 (RG4)

A análise das entrevistas desses agentes respeitaram as 3 (três) categorias enfatizadas

neste material. Entretanto, foram apresentadas de forma distinta. Foram mesclados os dados

gerados nas entrevistas para, dessa forma, responder aos questionamentos levantados.

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131

Os quatro representantes deixam clara a necessidade de se revisar o processo de

formação dos pilotos. Ao longo das 4 (quatro) entrevistas foi enfatizado a necessidade de se

revisarem os manuais de curso.

RG 2, ao descrever o processo de formação de um piloto, aponta que o setor que

representa possui como uma meta a revisão dos manuais dos cursos que orientam a formação

do piloto no Brasil.

Quando questionado sobre a preocupação dos manuais de atender a formação de

competências básicas em um piloto, o RG2 afirma que:

[...] o manual de curso ficou defasado ao longo do tempo e foi feito numa época em

que a aviação não era um mercado tão expandido como é hoje e que também não há

tanta falta de piloto, mecânico no mercado como tem hoje. Então assim, a gente tem

que pensar como eu te falei no início [o início o qual se refere aqui, trata-se do início

desta entrevista], de uma forma mais abrangente e não só visando a qualidade, como

também, visando o mercado.

Percebe-se a preocupação da ANAC em manter em equilíbrio a relação existente entre

a necessidade do mercado quanto à necessidade de profissionais qualificados e o custo dessa

formação para as diversas instituições que oferecem curso de aviação.

Todos os representantes foram unânimes ao afirmar que não existe, no Brasil, um

documento que oriente sobre as competências necessárias para a formação de um piloto. E

acrescentam que o manual que orienta o curso de PP está sendo revisado.

RG2 aponta que a formação do piloto no Brasil começa com a licença de PP, e que

considera um erro permanecer não obrigatória a realização desse curso em uma escola

homologada. Por isso, o RBHA 61 está sendo, também, revisado, para que o curso de PP seja

realizado, nos moldes do PC, em uma escola homologada pela Agência.

Para essa reformulação, o RG1, o RG2, o RG3 e o RG 4 apontaram a criação de um

grupo de trabalho (GT) que se compõe de duas superintendências da Agência, da

Superintendência de Capacitação e desenvolvimento (SCD) e Superintendência de Segurança

Operacional (SSO), com aproximadamente 10 pessoas de formação variada, o que assegura

um olhar multidisciplinar na revisão do processo de formação de um piloto.

O RG2 afirmou que “a própria formação da matriz curricular, ela [a revisão] mudou a

diretriz. Agora ela [a matriz curricular] passou a ser formada em cima das competências”.

Um ponto importante a ser levantado aqui é a forma como o RG2 entende o currículo

do piloto. Nos manuais dos cursos, o conjunto de disciplinas que orientam a formação é

denominado de ‘grade curricular’, a mudança na linguagem, por parte do representante, para

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132

matriz curricular aponta, possivelmente, um novo caminho no processo de formação dos

pilotos.

A RG2 afirma que:

[...] historicamente, no Brasil, a gente tem um ensino conteudista, formado a partir

da ideia de que o aluno precisa ter um conhecimento, mas não necessariamente saber

aplicá-lo. Então hoje, você tem um ensino muito conteudista, mas pouco aplicável. E

assim seguiu as ‘matrizes curriculares’ (grifo nosso) da aviação também. Então hoje

a ideia, a partir das competências que o piloto precisa desenvolver, quais seria os

conteúdos necessários pra que essas competências sejam desenvolvidas, incluindo

entre as competências: atitudes e habilidades. Então assim, a ideia é formar mais

solidamente esse profissional pra atuar em qualquer tipo de situação. Uma situação

normal ou anormal, mas que ele tenha um preparo tal de modo a saber aplicar aquele

conhecimento que ele adquiriu [sic].

Percebe-se a consciência do RG2 em transformar o processo de formação de um piloto

em virtude das atuais necessidades do setor. Entende que os manuais, atualmente, não

atendem às atitudes, habilidades e conhecimentos essenciais para o desenrolar da profissão do

aeronauta.

O RG2 aponta que a “construção da nova matriz curricular não começou pela parte

técnica, ela começou pela parte das competências que o piloto precisa desenvolver e, a partir

daí, foram montados os conteúdos que desenvolvem essas competências”.

Na mesma linha de raciocínio, o RG3 afirma que os “modelos de currículos que

existem, na maioria dos lugares, hoje em dia, no Brasil, são modelos que a gente chama de

conteudista”.

RG3 questiona: “Como é que era o modelo conteudista?” E responde: “você sentava

com um monte de gente, inclusive pessoas da área, e você fazia a pergunta: o que esse

profissional tem que estudar para virar um bom profissional?”.

RG3 aponta uma falha nesse processo, mais especificamente, na forma como se

pergunta. Para ele, a pergunta mais adequada a ser feita de forma a garantir o

desenvolvimento de competências essenciais a um profissional é: “o que esse profissional

fará?”.

Para o representante, a diferença está no fato de que um profissional pode saber um

monte de coisas, isso em um paradigma conteudista, e ser incapaz de converter em ações.

Esse representante acredita que quando se passa a identificar o que será feito por esse

profissional e buscar atingir as competências essenciais para a sua formação, em um processo

denominado por ele de “engenharia reversa”, consegue-se formar um profissional que atenda,

efetivamente, as demandas da atividade aérea.

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133

Com todos esses conceitos: matriz curricular, formação por competência, engenharia

reversa, o RG3 apontou que, por mais necessária que seja a reformulação dos documentos que

orientam a formação dos pilotos, essa revisão, hoje, restringe-se ao manual de PP e não deve

contemplar assuntos ligados à automação, uma vez que se entende que a maior parte das

aeronaves utilizadas para a formação inicial, no Brasil, não possuem automação que

justifiquem tal modificação.

Aqui cabe um questionamento: os documentos devem atender apenas uma realidade

existente ou devem se preocupar com a formação de forma a dar suporte teórico e prático para

as demandas do setor? Ou seja, por existirem apenas aeronaves que fazem uso de

instrumentos analógicos nas escolas de formação prática, o embasamento teórico, para uma

melhor interação com a tecnologia, não se torna necessária?

Entende-se a preocupação da Agência em respeitar aquele piloto que não tem o

interesse em assumir a aviação como profissão e, por isso, apenas a licença de PP seria

suficiente. Mas, uma dúvida: pilotos privados não voarão aeronaves pequenas que fazem uso

de automação?

Tendo como exemplo o Global Position System (GPS), um equipamento amplamente

utilizado para a navegação, para não citar outros presentes em aeronaves pequenas, não seria

necessária uma formação que desse suporte teórico para o uso dos mais diferentes sistemas

tecnológicos em seus mais variados níveis de automação?

O RG3 aponta que:

[...] em nenhum lugar do mundo, um PP vai começar treinando numa aeronave mega

sofisticada, não é viável economicamente e nem faz sentido... a grande questão é a

seguinte: como é que você insere na formação desse profissional uma preocupação

com essas questões: da automação, da segurança e desses temas. Uma vez que não é

viável ele vivenciar isso na prática, ou seja, ele não vai ter uma aeronave em que

acontece tudo isso, você tem que de certa forma, criar uma cultura. Fazer com que

ele internalize uma cultura de segurança, onde esses aspectos que você aponta da

automação seja uma questão relevante. E como fazer isso? [...] temos que procurar

inserir na forma de cultura de segurança aeronáutica, de segurança operacional, na

formação desse profissional... desde o piloto privado [...].

O RG3 afirmou que “a aviação no mundo demorou pra perceber uma mudança de

paradigma na concepção de como é um treinamento”. Com essa demora, espera-se uma

revisão que atenda às exigências de um futuro que já chegou e tende a se transformar.

A formação de um profissional, como o piloto, que vive em um ambiente de

constantes transformações, requer dos órgãos responsáveis pelo direcionamento de suas

posições formativas maior dinamicidade e atenção.

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134

Como apontam diversos estudos já apresentados neste trabalho, as aeronaves

altamente avançadas tecnologicamente – TAA – estão se tornando uma realidade cada vez

mais presente na vida de um piloto, em especial, para garantir a operacionalidade do fluxo de

tráfego aéreo a ser implantado para a próxima década.

Obviamente, este estudo não pretende afirmar se já no manual do curso de PP seria

ideal apresentar conceitos sobre automação, mas, ao menos, levantar o questionamento da

necessidade, ou não.

Para os representantes do governo, existem três pontos que devam ser observados para

a elaboração de qualquer revisão de conteúdo responsável por orientar a formação de piloto.

De acordo com RG3 “existem obviamente demandas no mercado [1º ponto], a qualidade da

educação [2º ponto], mas na aviação a gente tem a palavrinha mágica que a tudo precede,

chamada segurança [3º ponto]”.

Em nome dessa segurança e da busca por uma formação de maior qualidade para os

pilotos, a revisão apontada pelos quatro representantes indica que o “percurso educacional”

para se formar um PP, um PC e uma PLA deva ser atualizado. Como cita o RG3:

[...] a Autoridade Aeronáutica tem que ter, muito claro em mente, o que ela entende

como sendo o que são as competências do piloto privado, quais são as competências

do piloto comercial, quais as do piloto de linha aérea e qual caminho uma pessoa

tem que fazer pra passar por toda essa trajetória.

Para RG3, a formação que é desenvolvida nos moldes atuais não possui uma

interconexão com um processo formativo que não proporciona um desenvolvimento de

habilidades, conhecimentos e atitudes de forma gradual e contínua na formação do piloto.

Como aponta RG3:

[...] a preocupação das licenças de PP e PC nunca foram...vamos dizer assim, não

havia uma preocupação com a continuidade do desenvolvimento pessoal do piloto.

Do mesmo jeito que nós temos os conteúdos conteudista, eles pensavam na vida

daquele piloto num instante congelado do tempo. Ou seja, o currículo de PP forma o

PP. O currículo de PC forma o PC. A nova visão é: o currículo de PP tem que

formar o PP e tem que formar uma base sólida pra esse PP virar PC. O novo

currículo de PC tem que formar o PC e tem que dar a base sólida pra ele virar PLA

depois. ‘E eu acho que isso não era uma característica dos currículos, né, antigos,

vamos chamar assim... e eu diria assim, que claramente há uma tendência pra que

isso mude pra esse novo modelo’ (grifo nosso).

Como pode ser identificado, os próprios representantes consideram necessária a

modificação dos textos que orientam a formação de pilotos no Brasil. Não somente do

caminho educacional, bem como em outros pontos que compõem a estrutura de formação de

um profissional, como é o caso da ‘avaliação’.

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135

Para RG3, os currículos devem expressar áreas do conhecimento que apontem

questões relevantes para a segurança de voo e o desenvolvimento de um profissional que

atenda as novas exigências sociais e do mercado.

Como o RG3 afirma:

[...] inclusive há uma ideia nossa que essa mudança vai ser retratada tanto na

assistência aos currículos novos, que têm as áreas curriculares de fatores humanos,

segurança operacional, etc, como uma provável mudança da filosofia dos exames da

ANAC. O que seria isso? Bom... se a gente acha que essas áreas são importantes,

essa mudança de visão do que é importante tem que ser sinalizada mediante uma

modificação dos exames também.

Uma mudança na filosofia de elaboração dos componentes curriculares, que

necessitará refletir no processo de avaliação desse aluno, é uma preocupação dos

representantes, como aponta o RG1, “a gente sente também que, muitas vezes, foi depoimento

de muitas escolas que, às vezes, o aluno procura uma escola de aviação só pra... que o diretor,

instrutor ministra só as disciplinas que vão cair na banca, que não é o que a ANAC deseja”.

Com vistas a atender essas transformações nos paradigmas educacionais, o RG3

informa que estão sendo realizados trabalhos para se atualizar os Regulamentos e os manuais

de curso.

Como afirma RG3:

[...] o que a gente tá revisando hoje, são tanto esses Regulamentos [aqui está

querendo citar o RBHA 61, RBHA 141, o RBHA 142, entre outros ligados à

formação] quanto esses manuais. Esses manuais tendem a desaparecer com o nome

‘manual’ e eles vão aparecer com uma coisa que a gente chama, aqui dentro, de IS

(instrução suplementar).

RG4 afirma que a IS é um modo de cumprimento das diretrizes. “Ela não obriga

ninguém a nada, digamos assim. Quem obriga, quem cria requisitos é o RBAC, RBHA”

(RG4).

Completa RG3 que a IS é:

[...] uma sugestão da forma de cumprimento dos mínimos. Os mínimos são tais, e

nós sugerimos esse jeito de cumprimento. Se você, escola, quiser fazer diferente,

você pode, desde que você faça pra gente um documento que nos convença de que

você demonstrou um nível de segurança equivalente àquele que a gente propôs.

Seja manual ou IS, o RG3, quando questionado se os manuais que orientam a

formação dos pilotos atendem às necessidades atuais do setor, afirma que:

[...] vem uma clássica discussão... se o aeroclube fizer o mínimo previsto pode ser

que não. Agora tem um detalhe... ‘os manuais sempre apontaram o mínimo, ou seja,

nunca houve um impedimento legal para ir além do manual, tá?’ (grifo nosso) Que a

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136

gente sente, às vezes, é que há uma tendência de se colocar mínimo estabelecido

como o máximo executado. Isso é um problema!

Já o RG1 e o RG2 afirmam que “esse manual, ele tá um pouco defasado. Alguns são

de 2004, outros são de 2002... até o processo tecnológico, o desenvolvimento das aeronaves,

avançam em muito pouco tempo e esses manuais não acompanham a evolução” [sic].

E os representantes apontam que a ideia agora é justamente “fazer a revisão desses

manuais, pra que as escolas estejam melhor preparadas pra ministrar esses cursos” [sic].

Questionados sobre a data prevista para a atualização dos Regulamentos e manuais de

curso, o RG1 e o RG2 declararam que não se tem um prazo para entregar revisado o conteúdo

desses documentos. Esperava-se que, até o final do ano de 2011, fossem entregues as

atualização de alguns Regulamentos e do manual de PP. Entretanto, até a data de término

deste Capítulo nem o Regulamento nem o manual revisados foram apresentados.

Como constatado, essa revisão limita-se às orientações de formação de PP.

Possivelmente, o Regulamento revisado, o RBHA 61, que versa sobre as licenças, será

atualizado apenas na parte relacionada à formação de PP sem, entretanto, verificar a

necessidade de inclusão da interação da automação para o processo.

Pode-se inferir, portanto, das entrevistas com os representantes do Governo:

1° – Percebe-se a competência técnica, dos representantes, da discussão pedagógica e

filosófica do ‘caminho educacional’ para a formação do piloto; bem como a intenção positiva

em promover uma formação de qualidade para os pilotos.

2° – Os representantes do Governo, ligados ao processo de formação de pilotos,

sentem a necessidade de atualizar os documentos que orientam a formação de pilotos, visto

que percebem a existência de novas competências para a atividade e que não são

contemplados nos atuais manuais de curso;

3° – Entendem que o processo de formação do piloto deve atender a uma formação

mais global e continuada;

4° – Os representantes acreditam que a formação de um piloto privado deve ser

realizada, obrigatoriamente, em uma escola homologada, para que se crie uma cultura de

segurança de voo mais sólida neste piloto, e com mínimos modificados, por exemplo, o PP

passaria de mínimo com nível fundamental de escolaridade, para mínimo com nível médio.

5° - Como as falas deram especial atenção à atualização dos manuais e Regulamentos,

infere-se que acreditam que a operacionalização atual da Política de formação do piloto não

atende às necessidades do setor; e

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137

6° – Não existem prazos definidos para revisar, atualizar e entregar à sociedade os

documentos essências à formação do piloto ligados aos cursos de PC e PLA.

4.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO POR COMPETÊNCIA: ALGO NOVO

OU UM VELHO ARRUMADO?

Como afirma Sacristán (2011, p. 7), “moderno não é aquilo que é recente ou novidade,

ou aquilo que fazemos com que assim pareça, mas sim o que perdura e o que transforma a

vida e a realidade”.

Da mesma forma, a discussão de uma educação por competências deve propiciar uma

transformação verdadeiramente capaz de prover aos homens condições de serem criadores de

sua realidade.

Essa realidade diz respeito, no caso deste trabalho, ao poder de se operar modernas

aeronaves de forma consciente e agir nas mais diversas situações, promovendo condições

seguras para as operações aéreas.

O uso simplesmente do termo competências com o intuito de modernizar o sistema

educacional pode ser encarado como uma falácia (SACRISTÁN, 2011).

Modificar nomes com o intuito de “melhorar” não é suficiente para promover a

mudança requisitada e apresentada por diversos pesquisadores educacionais.

Como afirma Barnett (2001 apud SACRISTÁN, 2011, p. 16):

[...] o novo vocabulário da educação superior evidencia que a sociedade moderna

está chegando a outras definições de conhecimento e raciocínio. As noções de

habilidades, vocação, capacidades de transmissão, competências, resultados,

aprendizagem pela experiência, capacidade e iniciativa, tomadas em conjunto, são

sinais de que as definições tradicionais de conhecimento já não são consideradas

adequadas para os problemas da sociedade contemporânea... O novo vocabulário

não é um mero enfeite, mas representa uma mudança epistemológica, do que na

universidade é chamado de razão.

Ainda que Barnett (2001 apud SACRISTÁN, 2011, p. 16) tenha citado claramente a

universidade no trecho acima, a mudança na perspectiva epistemológica do processo de

ensino aprendizagem pode ser expandido para todos os níveis educacionais.

Entretanto, como afirma Sacristán (2011), mudar apenas semanticamente o processo

de educar não traz naturalmente uma melhora significativa para o desenvolvimento de um

profissional.

Cabe, da mesma forma, o repensar com a estrutura que coordena o sistema

educacional. Formação de professores, infraestrutura das escolas, políticas públicas de

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138

incentivo, entre outros pontos, são fundamentais para um aprimoramento no desenvolvimento

de profissionais que atendam às atuais necessidades da sociedade.

Quando se traz a discussão de pôr em prática uma educação que vise ao

desenvolvimento de competências, vale ressaltar que não se trata de propor um modismo ou

mesmo uma nova roupagem para conceitos antigos.

Esses pontos não tiram importância da mudança, muito menos menospreza ou

desqualifica a competência técnica dos representantes do Governo responsáveis pelos

documentos que estabelecem as diretrizes da formação do piloto.

Ao contrário, ao longo das falas dos representantes do governo, notou-se a

preocupação com a qualidade pedagógica para a formação do piloto atualmente, e a intenção

de se promover um processo educativo eficaz.

Percebe-se que a intenção técnica, muitas vezes, esbarra na questão política do

processo de aprovação das mudanças dos Regulamentos. Ao ser afirmado por representantes

que a atualização estava sendo realizada, entretanto a efetiva homologação dos documentos

não poderia ser estipulada, uma vez que se tratava de um processo que não dependia apenas

dos pontos de vista técnicos.

A Política Nacional de Aviação Civil (PNAC, 2009b) aponta para a necessidade de se

fazer atual e moderno o sistema de aviação civil. Entretanto, se forem mantidas engessadas os

meios de atualização desse setor – destaca-se aqui o setor de treinamento – a realidade nunca

se refletirá na prática.

Ao longo das entrevistas foram percebidos muitos pontos convergentes sobre as

opiniões dos agentes que participam diretamente do processo de formação dos pilotos, tais

como: a formação da forma como se processa não atende às necessidades da sociedade; a

ausência de uma cultura de estudo no meio aeronáutico não auxilia o desenvolvimento do

setor; a Política do setor deve visar maior flexibilidade e dinamicidade para a atividade, sendo

asseguradas a segurança e a qualidade.

Ao mesmo passo, verificam-se também, questões que foram inferidas como

divergentes ao longo da análise dos dados gerados pela pesquisa.

Nota-se, após análise do conteúdo das entrevistas, certo ‘ruído’ no canal de

comunicação entre os agentes entrevistados e os órgãos do Governo. Em diversos momentos,

nas entrevistas, percebeu-se que a ideia apresentada por um agente (piloto, coordenador de

curso e empresa aérea) não condizia com a noção ou mesmo intenção proposta inicialmente

pela ANAC.

Page 141: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

139

Isso pode ser corroborado, por exemplo, quando questionado a um membro

representante do Governo sobre a existência de um grupo de professores que trabalhava junto

ao MEC na elaboração de diretrizes curriculares, e o setor ligado ao aprimoramento de

currículo alegou desconhecer a existência de tal grupo de estudo para elaboração das

diretrizes.

Outro ponto identificado é quanto à qualificação do piloto. Para as empresas aéreas, o

piloto deveria ser contratado com competência técnica assegurada para atuar como um

tripulante capaz de operar modernas aeronaves. Apontaram como sendo muito prejudicial,

dedicarem tempo de instrução, além do que consideram suficiente, em pontos que teriam que

ser trabalhados durante o processo de formação inicial do piloto, como aponta a E1.

Já para a Agência, as empresas têm a responsabilidade de formar, instruir e dotar de

competências os pilotos que vierem a contratar, como afirmam os RG1 e RG2. Acreditando

existir uma realidade de centro de treinamento nas empresas, como prevê o RBHA 142.

Não se trata de eleger quem está, ou não, correto, mas sim de aprimorar o canal de

comunicação entre Agência reguladora e agentes regulados. Trata-se de propor um meio de

troca mais efetivo de forma a possibilitar um real crescimento para o setor. No tocante à

formação do piloto, trata-se, não de buscar culpados, mas sim de buscar caminhos adequados

para entregar profissionais qualificados ao mercado de trabalho.

Nem mesmo no “Planejamento estratégico” da ANAC, de 2010, foram explicitadas

preocupações quanto à formação de pilotos e a atualização dos documentos que orientam o

processo. Deve-se ter em mente que a formação com qualidade de um piloto é diretamente

proporcional à manutenção dos índices de segurança em voo e, por isso, deve ser considerada

prioridade em uma Política Nacional de Aviação Civil.

Cabe destacar neste momento, o que afirmam Belo et al. (2011), em seu trabalho de

conclusão de curso, que analisa a adequação do treinamento dos pilotos comerciais (PC)

frente à evolução das aeronaves com relação à automação de cabine, estudo estreitamente

ligado à pesquisa aqui realizada, e tiram como conclusão que:

[...] os regulamentos brasileiros que estabelecem os mínimos para a formação do

piloto comercial, incluindo aí o Manual do Curso de Piloto Comercial, permanecem

os mesmos desde duas ou três décadas atrás, portanto encontram-se defasados e não

abordam o tema automação de cabine como requisito mínimo para formação,

propiciando uma falha latente no sistema com relação à segurança de voo. Desta

forma conclui-se que a revisão destes regulamentos se faz extremamente necessária

para o acompanhamento da evolução tecnológica das aeronaves. É importante

também que seja programada a atualização de toda a regulamentação referente ao

treinamento e capacitação dos pilotos, sempre que necessário em função da evolução

de novas tecnologias (BELO et al, 2011, p. 84).

Page 142: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

140

A Política proposta por órgãos competentes pode ser elaborada em bases

completamente modernas, visionárias, amplas e preocupada com o desenvolvimento do setor.

Todavia, ficará apenas como belas palavras expostas em um documento se não forem

apresentada caminhos contínuos de efetivação de suas orientações, diretrizes e propostas.

E ao contrário do que se pode imaginar, mesmo que a inclusão da automação tenha

transformado as técnicas de voo utilizadas pelos pilotos nas modernas cabines de voo, não se

reduziu a necessidade de se investir na formação da perícia dos pilotos (SARTER, WOODS e

BILLINGS 1997 apud RIGNÉR E DEKKER, 1999).

Rignér e Dekker (1999) apontam que poucos sabem de que forma e como

precisamente deve ser realizado o investimento na formação dos pilotos para que possam

atender de maneira eficaz as novas exigências do local de trabalho automatizado.

Page 143: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

141

CAPÍTULO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dificilmente encontrar-se-á uma formação profissional na qual tantas ciências se

interseccionam como a profissão de piloto. Física, com aerodinâmica e teoria dos transportes;

matemática com seu raciocínio lógico; cartografia e geografia por meio da navegação;

meteorologia e a climatologia; o gerenciamento de pessoas e administração de conflitos,

sejam de pessoas sejam de máquinas.

Os gregos já trabalhavam com ideia de ‘homem integral’, um conceito no qual as

disciplinas, tal como são conhecidas hoje, eram desenvolvidas naturalmente e de forma

integrada. Sem adentrar nas definições e parâmetros de ‘homem integral’, ser um piloto

requer, como apontado ao longo de todo trabalho, uma formação tão global que permita que

esse profissional tenha condições de conduzir um voo, prezando pela técnica e atentando para

as falhas latentes dos diversos sistemas envolvidos em uma operação aérea, particularmente as

falhas humanas.

Como identificado, por muitos anos, a formação de um piloto baseava-se, e ainda

perdura esse paradigma, na quantidade de horas de voo para se desenvolver as habilidades

psicomotoras essenciais a uma segura e eficiente condução da aeronave.

Por muitos anos, o chamado paradigma analógico pode ter sido considerado suficiente

para a formação desses profissionais do ar.

Entretanto, com o progressivo e inevitável ingresso de ferramentas tecnológicas para a

condução mais segura, mais eficaz e mais econômica das aeronaves, apenas habilidade ‘pé e

mão’ – psicomotora – já não atende às necessidades de uma profissão na qual envolve a

segurança de tantas vidas.

Documentos de outrora apontam para requisitos mínimos julgados suficientes para a

formação de um piloto, na qual a técnica motora era necessária e se fazia suficiente. Já em um

ambiente de alta complexidade tecnológica, as habilidades psicomotoras vêm se mostrando

insuficientes, ainda que necessárias.

Diversas investigações de acidentes ou incidentes aeronáuticos apontam a falta de

preparo das tripulações em respostas ao mau funcionamento dos sistemas de gerenciamento

de voo, ou mesmo a incompreensão ou incorreta compreensão desses equipamentos como

causas desses incidentes ou acidentes.

A formação tradicional comprovadamente já não mais atende às necessidades de uma

realidade tecnológica de alta complexidade como a que se configura no sistema aeronáutico.

Page 144: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

142

Diversos estudos, bem como os agentes participantes do sistema aéreo (pilotos, setores

de treinamento das empresas, coordenadores do curso de ciências aeronáuticas), apontam para

a existência de novas competências a serem desenvolvidas pelos pilotos em virtude da

automação presente nas modernas aeronaves. Essas novas competências requerem desses

pilotos habilidades cognitivas, somadas às habilidades motoras e perceptuais, que

possibilitariam maior segurança na condução dessas operações.

A política vigente para o setor aeronáutico é capaz de atender a essas novas exigências

oriundas da modernização dos equipamentos aéreos, se for proposta uma reforma nas

diretrizes curriculares para a formação do piloto no Brasil, atentando para o paradigma digital

no qual se encontra o atual setor.

A formação aeronáutica não tem uma herança científica, uma cultura acadêmica, com

diretrizes curriculares definidas e áreas de atuação determinadas como verificadas ao longo da

pesquisa.

Empresas aéreas, pilotos e coordenadores de curso concordam com a ineficiência do

processo de formação de pilotos em vigor.

Representantes do Governo sinalizam para uma modificação tanto na filosofia

educacional, como no percurso educacional para a formação de um piloto.

É deveras interessante que se pense em modificar as estruturas de formação de pilotos.

Entretanto, como defende Sacristán (2011), não adianta somente mudar a nomenclatura, a

linguagem do processo educacional, e não promover uma mudança estrutural do processo.

Diversos pontos são necessários para se ter uma boa formação: estrutura das escolas,

material didático, formação de instrutores/educadores, atualização constante do material que

orienta a formação, sejam denominados manuais ou instrução suplementar.

Não adianta, apenas, mudar a linguagem que dá ênfase na tecnologia, tão pouco

adianta promover uma mudança profunda no sistema, por meio de uma Política de Estado

para a formação. O que realmente faz a mudança acontecer é o comprometimento dos

envolvidos no processo de mudança, decorrente de sua participação e envolvimento nas

definições, sejam elas estruturais, epistemológicas, metodológicas, emocionais e

principalmente filosóficas.

Esta dissertação trabalhou com o termo competência, um termo diferente do que se

encontra nos Regulamentos e manuais de curso, com a intenção de propor uma reflexão no

processo de ensino aprendizagem de um piloto, e não apenas “mais do mesmo”, ou seja, não

apenas uma linguagem diferente para se trabalhar da mesma forma.

Page 145: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

143

Nos diversos meios midiáticos discute-se a falta de mão-de-obra qualificada para

alguns setores e a necessidade de se criar alternativas de se formar um maior número de

profissionais para algumas áreas.

O setor aéreo é um desses setores que, com constante evolução e aprimoramento em

seus sistemas de controle e fluxo de tráfego e gerenciamento de um voo, necessita de pessoal

qualificado para manter um nível ótimo de segurança para as operações aéreas.

A mídia cita ainda a possibilidade de um ‘apagão de pilotos’; e por mais necessária

que seja a formação de um número maior de pilotos, sendo verdadeiro ou não a falta desses

profissionais, o fundamental é atentar para qual tipo de piloto, que tipo de profissional a

sociedade precisa para manter elevados os índices de segurança no setor aeronáutico.

Como apresentado nas entrevistas com os representantes do Governo, é uma questão

de tempo a reformulação no processo de formação de pilotos.

Mas que tipo de piloto se deseja formar?

Basta mudar o nome do processo pedagógico utilizado para se ter uma formação mais

ampla e eficaz? Basta propor novas licenças para se ter um piloto melhor qualificado e

rapidamente disponível para o mercado de trabalho?

A quantidade não remete, necessariamente, a uma qualidade no processo. Quando o

interesse na formação se torna uma urgência, muitas vezes, deixa-se de lado a qualidade dessa

formação em detrimento da necessidade da mão-de-obra especializada.

Uma grande preocupação que o Estado deve ter, em prol da manutenção de operações

aéreas seguras, é a qualidade da formação desses pilotos.

A qualidade de um piloto perpassa por diversos ramos, como apresentado ao longo de

todo o trabalho. Não depende apenas de uma formação técnica e conteudista. Nem depende,

da mesma forma, de uma mudança na linguagem utilizada para fundamentar uma

transformação não evidenciada efetivamente em sua estrutura.

Com o intuito de promover mudanças no processo de formação de pilotos, e entregar à

sociedade uma resposta imediata, podem ser apresentados “modelos” paliativos nos processos

de aquisição das licenças homologadas pela ANAC sem a devida análise e sem o devido

estudo quanto à efetividade e qualidade de formação desses profissionais.

Reconhece-se a necessidade de formar profissionais que tenham condições de

responder às demandas sociotécnicas e que consigam lidar de maneira equilibrada com a

complexidade social. Mas como essas novas demandas influenciam o processo de formação

de competências nesses indivíduos? E quais seriam tais competências? E qual a melhor forma

Page 146: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

144

de se formar um profissional que responda positivamente às novas e exigentes demandas

sociais?

Competência é muito mais que conhecimento e habilidade. Envolve condições de o

profissional mover recursos psicológicos e cognitivos a fim de responder a contextos em

particular, sejam esses envolvendo conflitos de ordem pessoais, organizacionais, tecnológicos

ou sociais.

Essa pesquisa que teve como objetivo analisar a aplicação das políticas para a

formação/capacitação de pilotos da Aviação Civil, frente às novas exigências da automação e

do mercado de trabalho, identificou que são exigidas novas competências para se operar em

um ambiente tão complexo como o que envolve os pilotos em suas modernas cabines de voo.

Tal realidade é vislumbrada pela Política Nacional de Aviação Civil – PNAC.

Entretanto, mesmo apresentando possibilidade teórica em atender às novas demandas sociais,

ao se examinar as diretrizes curriculares do processo de formação do piloto, encara-se uma

realidade completamente ultrapassada e obsoleta.

Admite-se que, por algumas razões, essa pesquisa tenha apresentado limitações que

impeçam definir quais as competências essenciais a serem desenvolvidas no processo de

formação dos pilotos.

Próximas pesquisas podem enfatizar esse campo do saber com o intuito de possibilitar

a identificação dessas competências gerenciais e cognitivas amplamente relatadas na pesquisa.

Com essa pesquisa percebeu-se que diversos outros pontos essenciais devem ser

analisados no processo de ensino-aprendizagem dos profissionais do setor aéreo. Questões

sobre os métodos de ensino, sobre os recursos necessários a se investir no setor, sobre a

operacionalização das Políticas de formação, as competências necessárias para a atividade, a

estrutura escolar, a formação de professores, da teoria e da prática, entre outros pontos são

primordiais serem discutidos, pesquisados e analisados com o intuito de possibilitar novos

olhares e ações eficaz, efetiva e eficiente para o campo aeronáutico.

Acredita-se que a ausência de uma Política de Estado – clara, dinâmica e contínua –

para o setor aéreo engesse e faz com que a revisão e a atualização necessárias ao sistema não

atendam a sua dinamicidade e flexibilidade.

Urge, pois, viabilizar um processo sério e comprometido com o desenvolvimento do

setor a fim de que seja propiciada uma adequada formação a uma parcela importante de

profissionais dessa sociedade moderna – os pilotos.

Page 147: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

145

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APÊNDICES

Page 158: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

156

APÊNDICE A

CARTA CONVITE PARA ENTREVISTA

De: Clélia de Freitas Capanema

Para:

Brasília, 11 de março de 2011

Prezado(da) Sr.(a) Diretor(a).

Sou Professora Pesquisadora da Universidade Católica de Brasília – UCB e,

atualmente, desenvolvo uma pesquisa com meu orientando, Mario Henrique Rondon, piloto

de Linha Aérea e aluno do programa de pós-graduação strictu senso Mestrado em Educação

da UCB, sobre formação e exercício profissional do piloto da Aviação Civil. O objetivo da

pesquisa é analisar a aplicação da Política Nacional de Aviação Civil no que tange à formação

e capacitação dos pilotos brasileiros.

Como ferramentas de pesquisa, serão realizadas entrevistas semiestruturadas para

geração de dados que venham identificar possíveis lacunas e dificuldades encontradas no

processo de formação do piloto no Brasil.

As entrevistas dar-se-ão com pessoas envolvidas no processo de formação e

capacitação dos pilotos, tais como: 01 responsável ou representante legal do Departamento de

Política de Aviação Civil, da Secretaria de Aviação Civil do Ministério da Defesa; 01 (um)

responsável ou representante legal da Superintendência de Capacitação e Desenvolvimento de

Pessoas (SCD) da ANAC; 01 responsável ou representante legal pelo Departamento de

Treinamento de 3 empresas aéreas brasileiras; 08 pilotos da aviação comercial regida pelo

RBAC 121, sendo que 4 com formação universitária e 4 com formação em cursos

profissionalizantes (aeroclubes e escolas de aviação civil autorizadas apenas pela ANAC); e

03 coordenadores de cursos de Aviação Civil de Instituições de ensino superior.

Buscar-se-á entender como essas pessoas compreendem, avaliam, participam e se

envolvem com a política e com o processo de formação de pilotos no Brasil, bem como a

forma com que vivenciam suas experiências.

A participação será totalmente voluntária, estando garantida a liberdade de participar

ou não da pesquisa, bem como interromper a qualquer momento a própria participação. As

entrevistas serão realizadas em locais e datas previamente acordados, gravadas em um

gravador digital, caso autorizada a gravação, e, posteriormente, transcritas. A versão final das

Page 159: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

157

transcrições estará à disposição dos(as) entrevistados(as). As informações obtidas são

confidenciais, resguardado o anonimato no uso das mesmas.

Isto posto, solicito a V. S.a a gentileza de conceder uma entrevista ao mestrando Mario

Henrique Rondon, para consecução da pesquisa proposta.

Com agradecimentos antecipados,

Atenciosamente,

Prof Dra Clélia de Freitas Capanema

Docente titular do Programa de Pós-Graduação strictu senso, Mestrado e Doutorado em

Educação da Universidade Católica de Brasília – UCB

Prof. Dra. Clélia de Freitas Capanema

Universidade Católica de Brasília

Programa de Pós-Graduação strictu senso, Mestrado e Doutorado em Educação

(61) 3448 7000 (61) 3348

CEP 70790-160 – Brasília – DF

Page 160: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

158

APÊNDICE B

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Piloto

Roteiro de entrevista - Piloto

Data: _____/_______/________ Local: ___________

1ª PARTE – Perfil do entrevistado

Nome:

Idade:

Descrição da experiência profissional:

Formação acadêmica:

2ª PARTE – Processo de formação

1. Quando de sua formação acadêmica, teve orientação/capacitação acerca dos princípios que

envolvem a automação?

2. Acredita que sua formação acadêmica tenha auxiliado o uso da automação?

i. Caso afirmativo, de que forma?

ii. Quais habilidades acredita ter desenvolvido no processo de formação acadêmica?

iii. Caso negativo, acredita que um processo de formação com disciplinas voltadas à

familiarização com essas novas tecnologias iriam auxiliá-lo? Por quê?

3. Que sugestão teria para melhorar o processo de formação do piloto no Brasil?

3ª PARTE – O ambiente de trabalho e a automação

1. Como percebe a automação em seu meio de trabalho?

2. Sente-se à vontade no uso da automação?

4ª PARTE – Automação e novas competências

1. Acredita que a automação requeira novas competências aos pilotos? Caso afirmativo, quais

seriam?

5ª PARTE – Programas de treinamento

1. Participou de algum treinamento em sua empresa com vistas a prepará-lo para o uso da

automação? O treinamento atendeu a suas expectativas e necessidades?

2. Quais as habilidades, acredita, terem sido desenvolvidas com o treinamento?

Page 161: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

159

APÊNDICE C

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Representante de Órgão do Governo

Roteiro de entrevista - Representante do setor de treinamento de empresa aérea

Data: _____/_______/________ Local: ___________

1ª PARTE – Perfil do entrevistado

Nome:

Idade:

Descrição da experiência profissional:

Descrição do setor que trabalha e suas funções:

2ª PARTE – Estrutura de formação no Brasil

1. Descrição da estrutura para a formação do piloto no Brasil? (Estrutura e processo –

teoria e prática).

2. Quais órgãos estão ligados à formação e capacitação de recursos humanos, em

especial, a de pilotos?

3. Qual(is) documento(s) regula(am) o processo de formação do piloto no Brasil?

4. Existe algum documento que compare a formação do Brasil com outros países, ou

mesmo que seja um parâmetro para o Brasil estabelecer seus requisitos?Qual seria?

5. Quais os requisitos para se tornar piloto no Brasil? Esses requisitos atendem a algum

parâmetro de organismos internacionais? Qual órgão e qual seria o documento?

3ª PARTE – Características da formação de um piloto

1. De acordo com a PNAC, deve-se “Aprimorar o processo de fiscalização dos

requisitos e das condições para o funcionamento das instituições de formação de pessoal, de

modo a garantir a qualidade da capacitação, por meio de procedimentos de avaliação

periódica”. O que poderia ser compreendido como qualidade na formação de um piloto? Teria

algum documento que oriente acerca de competências ligadas à profissão?

2. Que competências são esperadas desenvolver em um piloto em seu processo de

formação?

3. As competências requeridas aos pilotos estão orientadas em algum documento?

Page 162: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

160

4. A formação de pilotos é estruturada, basicamente, pela parte teórica e prática, sendo

dividida em três categorias – PP, PC e PL – existem diferenças nas competências a serem

desenvolvidas em cada fase?

5. Essas diferenças estão descritas em algum documento?

6. Qual o motivo dessas diferenças, caso existam, no tocante às competências, na

formação de um piloto?

7. A formação do piloto pode ser considerada multidisciplinar? Como a política

Nacional de Aviação Civil contempla essa característica?

4ª PARTE – Automação e novas competências

1. De acordo com a PNAC, no item Ciência e Tecnologia, são levantados alguns pontos

como:

• Fomentar o desenvolvimento de tecnologias para uso na aviação civil, por meio de

programas governamentais e do incentivo à participação privada.

• Buscar a integração da política de Ciência e Tecnologia do governo com as demandas da

aviação civil.

• Incentivar o desenvolvimento de estudos de tecnologia de combustíveis alternativos para uso

nos diversos segmentos da aviação civil.

• Promover a participação de instituições de ensino e pesquisa no desenvolvimento de

tecnologias para uso na aviação civil.

Essas tecnologias dizem respeito à automação no setor. Como está sendo trabalhada

a questão da formação do piloto nesse ambiente de complexidade tecnológica?

2. A literatura que se refere à utilização da automação afirma que novas competências

são exigidas. No setor aeronáutico, quais seriam essas novas competências, caso existam?

3. Caso sejam exigidas novas competências, a política de formação de um piloto

contempla essa necessidade? De que forma?

5ª PARTE – Programas de implementação de políticas de formação

1. Existem programas, em andamento ou em análise, para implementação de um

modelo de formação voltado para a nova fase da aviação, com relação à automação?

2. Existe um setor na ANAC que acompanhe o atendimento dessas novas competências

no processo de formação do piloto no Brasil? Qual seria e como é determinada sua função?

3. Com a nova estrutura da Secretaria de Aviação Civil, como se estabelecem as

diretrizes para formação de um piloto no Brasil?

Page 163: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

161

4. Existe algum grupo de estudo para analisar a necessidade ou não de novas

competências para o piloto atualmente?

5. A PNAC aponta alguma diretriz para o atendimento dessas novas competências?

6. Se possível, expressar a opinião desse órgão: a formação do piloto no Brasil atende

aos requisitos satisfatórios para a execução da profissão?

a. Caso positivo, de que forma?

b. Caso negativo, como poderia ser diferente? O que acrescentar?

Page 164: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

162

APÊNDICE D

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Coordenador do Curso de Ciências Aeronáuticas

Roteiro de entrevista - Coordenador do Curso de Ciências Aeronáuticas

Data: _____/_______/________ Local: ___________

1ª PARTE – Perfil do entrevistado

Nome:

Idade:

Descrição da experiência profissional:

Descrição do curso que coordena:

Características do curso de ciências aeronáuticas:

2ª PARTE – Aspectos relacionados à Política Nacional de Aviação Civil – PNAC

1. Considera que o regulamento da Política Nacional de Aviação Civil, especificamente

o item acerca da formação e capacitação de recursos humanos, aponta diretrizes que

englobem as atuais necessidades da aviação no tocante à formação?

2. Considerações sobre a política de formação dos pilotos.

3. De acordo com a PNAC, no item Ciência e Tecnologia, são levantados alguns pontos

como:

• Fomentar o desenvolvimento de tecnologias para uso na aviação civil, por

meio de programas governamentais e do incentivo à participação privada.

• Buscar a integração da política de Ciência e Tecnologia do governo com as

demandas da aviação civil.

• Incentivar o desenvolvimento de estudos de tecnologia de combustíveis

alternativos para uso nos diversos segmentos da aviação civil.

• Promover a participação de instituições de ensino e pesquisa no

desenvolvimento de tecnologias para uso na aviação civil.

Essas tecnologias dizem respeito à automação no setor. Como está sendo trabalhada a

questão da formação do piloto nesse ambiente de complexidade tecnológica?

3ª PARTE – Formação e automação

1. De que forma um curso de formação superior pode auxiliar o

desenvolvimento dessas novas competências, caso existam?

Page 165: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

163

4ª PARTE – Automação e novas competências

1. A literatura que se refere à automação, afirma que novas competências são exigidas.

No setor aeronáutico, quais seriam essas novas competências, caso existam em sua opinião?

2. Caso sejam exigidas novas competências, a política de formação de um piloto

contempla essa necessidade? De que forma?

3. Parasuraman e Sheridan, dois autores sobre automação e sua interação com o

Homem, no livro Human-Automation Interaction, afirmam que há níveis de automação, do

mais simples ao mais complexo, e a cada um exigindo-se habilidades e comportamentos

diferenciados. Existe algum estudo em andamento, no Brasil, que identifique como a aviação

está inserida nesse contexto e quais habilidades e comportamentos devem ser desenvolvidos

nos pilotos?

4. Como está sendo trabalhado o desenvolvimento dessas competências na

Universidade?

Page 166: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

164

APÊNDICE E

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Representante do setor de treinamento de empresa aérea

Roteiro de entrevista - Representante do setor de treinamento de empresa aérea

Data: _____/_______/________ Local: ___________

1ª PARTE – Perfil do entrevistado

Nome:

Idade:

Descrição da experiência profissional:

Descrição do setor que trabalha e suas funções:

2ª PARTE – Seleção de pilotos

8. Existem requisitos mínimos a serem cumpridos/exigidos na seleção de um piloto de

Linha Aérea?

3ª PARTE – Automação na empresa aérea

1. Como é percebida a automação pela empresa aérea?

2. A automação favorece a pilotagem?

4ª PARTE – Automação e novas competências

1. Acredita que a automação requeira novas competências aos pilotos? Caso

afirmativo, quais seriam?

2. Todos os pilotos selecionados estão aptos a operar as ferramentas disponíveis na

automação das aeronaves?

3. Se não, quais seriam as competências necessárias, na visão do setor de treinamento,

a serem desenvolvidas nos pilotos no processo de capacitação da empresa?

4. O processo de formação, universitária ou profissionalizante, atende a todos os

requisitos para essas novas exigências, na visão da empresa?

5. Quais seriam as sugestões da empresa para o processo de formação de um piloto no

Brasil?

6. Quais seriam as competências necessárias para a atuação de um piloto com vistas

ao trabalho em um ambiente de com elevado uso da automação?

Page 167: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

165

APÊNDICE F

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pesquisador(es):

Profa Orientadora: Clélia de Freitas Capanema

Mestrando: Mario Henrique Dorileo de Freitas Rondon

Título da pesquisa: A formação e o exercício profissional de piloto da Aviação Civil: uma

política em questão.

Nome do Participante: _________________________________________________________

Prezado(a) participante:

Conforme carta convite, a qual recebe juntamente a este termo, estamos realizando

uma pesquisa sobre a formação do piloto no Brasil, analisando a Política Nacional de Aviação

Civil – PNAC. Esta pesquisa é realizada sob a orientação da Profa. Dr

a. Clélia de Freitas

Capanema, da Universidade Católica de Brasília – UCB.

Sua participação envolve uma entrevista, que será gravada se assim você permitir, e

que tem a duração aproximada de 1 (uma) hora.

A participação nesse estudo é voluntária e se V.Sa. decidir não participar ou quiser

desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo.

Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no mais

rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-lo(a), bem como

identificar o Órgão Federal ou Empresa Aérea a que pertence

Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente V.Sa estará

contribuindo para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de conhecimento

científico.

Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pelos pesquisadores:

Profa Dr

a Clélia de Freitas Capanema: (61) 3448 7000 e (61) 3346 6809 e Mario Henrique

Rondon: (11) 8666 6590 ou pelo e-mail [email protected].

Atenciosamente,

Page 168: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

166

_______________________________

Mario Henrique D. de Freitas Rondon

____________________________

Local e data

Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia deste termo de

consentimento.

_____________________________

Nome e assinatura do participante

______________________________

Local e data

Page 169: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

167

ANEXOS

Page 170: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

168

ANEXO I - REGIMENTO SECRETARIA DE AVIAÇÃO CIVIL

Presidência da República

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

DECRETO No 3.564, DE 17 DE AGOSTO DE 2000.

Vide Decreto nº 7.476, de 2011.

Dispõe sobre a estrutura e o funcionamento do

Conselho de Aviação Civil - CONAC e dá

outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84,

incisos IV e VI, da Constituição, e tendo em vista o disposto no § 4o do art. 16 da Lei

no 9.649, de 27 de maio de 1998, alterada pela Medida Provisória n

o 2.049-21, de 28 de julho

de 2000,

DECRETA :

Art. 1o O Conselho de Aviação Civil - CONAC é órgão de assessoramento do

Presidente da República para a formulação da política de ordenação da aviação civil.

Art. 2o Compete ao Conselho:

I – estabelecer as diretrizes para a representação do Brasil em convenções, acordos,

tratados e atos de transporte aéreo internacional com outros países ou organizações

internacionais de aviação civil;

II – propor o modelo de concessão de infra-estrutura aeroportuária, submetendo-o ao

Presidente da República;

III – aprovar as diretrizes de suplementação de recursos para linhas aéreas e aeroportos

de interesse estratégico, econômico ou turístico;

IV – promover a coordenação entre as atividades de proteção de vôo e as atividades de

regulação aérea;

V – aprovar o plano geral de outorgas de linhas aéreas; e

VI – estabelecer as diretrizes para a aplicabilidade do instituto da concessão ou

permissão na exploração comercial de linhas aéreas.

Art. 3o São membros do Conselho: (Redação dada pelo Decreto nº 6.815, de 2009).

I – o Ministro de Estado da Defesa; (Redação dada pelo Decreto nº 6.815, de 2009).

II – o Ministro de Estado das Relações Exteriores; (Redação dada pelo Decreto nº

6.815, de 2009).

III – o Ministro de Estado da Fazenda; (Redação dada pelo Decreto nº 6.815, de 2009).

IV – o Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

Exterior; (Redação dada pelo Decreto nº 6.815, de 2009).

V – o Ministro de Estado do Turismo; (Redação dada pelo Decreto nº 6.815, de 2009).

VI – o Chefe da Casa Civil da Presidência da República; (Redação dada pelo Decreto nº

6.815, de 2009).

Page 171: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

169

VII – o Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão (Redação dada pelo

Decreto nº 6.815, de 2009).

VIII – o Ministro de Estado da Justiça; (Redação dada pelo Decreto nº 6.970, de 2009).

IX – o Ministro de Estado dos Transportes; e (Redação dada pelo Decreto nº 6.970, de

2009).

X – o Comandante da Aeronáutica. (Incluído pelo Decreto nº 6.970, de 2009).

§ 1o O Ministro de Estado da Defesa presidirá o Conselho, cabendo-lhe: (Vide Lei nº

10.683, de 2003).

I – convocar e presidir suas reuniões; e

II – manifestar voto próprio e de qualidade nas deliberações do Conselho sobre as

proposições a serem encaminhadas ao Presidente da República.

§ 2o O Conselho deliberará mediante resoluções publicadas no Diário Oficial da União,

por maioria de votos, cabendo ao Presidente a prerrogativa de deliberar nos casos de urgência

e relevante interesse, ad referendum dos demais membros.

§ 3o Quando deliberar ad referendum do Conselho, o Presidente submeterá a decisão

ao colegiado na primeira reunião que se seguir àquela deliberação.

§ 4º Os Ministros de Estado serão substituídos, nos seus impedimentos, pelos

Secretários-Executivos dos respectivos Ministérios, o Ministro de Estado das Relações

Exteriores pelo Secretário-Geral das Relações Exteriores e o Comandante da Aeronáutica pelo

Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica. (Redação dada pelo Decreto nº 3.955, de 2001)

§ 5º O Conselho, por meio de seu Presidente, poderá convidar outros Ministros de

Estado a participar das reuniões do CONAC. (Incluído pelo Decreto nº 3.955, de 2001)

Art. 4o O Conselho instituirá, mediante resolução, a Comissão Técnica de Coordenação

das Atividades Aéreas, de natureza consultiva, voltada para o suporte de suas atividades.

Art. 5o O Conselho poderá constituir comitês técnicos, para analisar e opinar sobre

matérias específicas.

Art. 6o A Secretaria-Executiva do Conselho será exercida pela Secretaria de Aviação

Civil do Ministério da Defesa, nos termos do regimento interno do colegiado, competindo-

lhe:(Redação dada pelo Decreto nº 6.223, de 2007)

I – organizar as pautas das reuniões;

II – dar suporte aos trabalhos dos comitês técnicos; e

III – cumprir outras atribuições que lhe forem conferidas.

Art. 7o O regimento interno, aprovado pelo Conselho, disporá sobre sua organização, a

forma de apreciação e deliberação das matérias, bem como o funcionamento dos comitês

técnicos.

Art. 8o O Conselho avaliará as atividades desenvolvidas pelos diversos setores ligados

à aviação civil no País, elaborando relatório anual sobre o setor e suas perspectivas, a ser

encaminhado ao Presidente da República.

Art. 9o As atividades dos integrantes do Conselho, inclusive dos comitês técnicos que

vierem a ser constituídos, serão consideradas serviço público relevante e não serão

remuneradas.

Page 172: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

170

Art. 10. As despesas relativas ao funcionamento do Conselho correrão à conta de

dotações orçamentárias do Ministério da Defesa, cabendo a este adotar as providências

necessárias a sua inclusão no Orçamento da União.

Art. 11. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 17 de agosto de 2000; 179o da Independência e 112

o da República

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Geraldo Magela da Cruz Quintão

Pedro Malan

Alcides Lopes Tápias

Pedro Parente.

Este texto não substitui o publicado no DOU de 18.8.2000

Page 173: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

171

ANEXO II - RESOLUÇÃO Nº 11/2007 DO CONAC

RESOLUÇÃO Nº 011/2007 Brasília, 20 de julho de 2007.

DOS RECURSOS HUMANOS PARA AVIAÇÃO CIVIL

O Conselho de Aviação Civil – CONAC, criado pelo Decreto nº 3.564, de 17 de agosto de

2000; no uso das atribuições que lhe confere o parágrafo 3º do art. 29 da Lei nº 10.683, de 28

de maio de 2003; e considerando o disposto na Lei nº 11.182, de 27 de setembro de 2005,

RESOLVE:

1. APROVAR as seguintes diretrizes referentes à formação e capacitação de

recursos humanos para a aviação civil:

1.1 Ampliação das ações de formação e capacitação de recursos humanos por

meio da adição de novos recursos e parcerias, com o objetivo de ampliar a capacidade

profissional na área de

aviação civil.

1.1.1 Incremento da participação do Poder Público na formação e capacitação,

por meio de estímulo às universidades públicas, colégios técnicos federais e instituições de

ensino vinculados aos órgãos e entidades que integram o sistema de aviação civil para

oferecimento de cursos afins, com especial atenção às regiões mais carentes.

1.1.2 Estímulo ao oferecimento de cursos de especialização, mestrado e

doutorado em ciências e engenharia aeronáuticas, com objetivo de formação de pesquisadores

e, conseqüente, ampliação das pesquisas científicas do setor.

1.1.3 Estímulo à criação de uma rede nacional em pesquisa, visando à

formação de parcerias para fomento, execução de atividades de pesquisa científica e

desenvolvimento tecnológico.

1.1.4 Incentivo para fortalecimento das ações de formação e capacitação de

pessoal, por meio de extensão de programas governamentais de concessão de bolsas de estudo

para pagamento da formação prática de vôo do aluno; desenvolvimento de linhas de

financiamento, com condições especiais, para investimento em formação e capacitação

teórica, estimulando o estabelecimento de pólos de formação e capacitação com tecnologia de

ponta em simulação e escolas de aviação civil para as diversas carreiras.

1.1.5 Realização de estudos com vistas a propor uma Lei de Incentivo à

Formação e Capacitação de Recursos Humanos para Aviação Civil, de forma a viabilizar

investimentos de pessoas físicas e jurídicas em projetos de instrução e treinamento.

1.1.6 Estímulo à utilização de combustíveis alternativos em aeronaves, na

formação de recursos humanos, como medida de redução de custos, assim como a priorização

na certificação de produtos aeronáuticos com o uso dessas fontes de energia, para fins

agrícolas e de instrução.

Page 174: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

172

1.1.7 Fomento e desenvolvimento de ações para formação e capacitação dos

profissionais na língua inglesa, por meio de parcerias com organizações públicas e privadas,

para permitir que estes atinjam os critérios de proficiência lingüística estabelecidos em

acordos internacionais.

1.1.8 Fomento ao estabelecimento de parcerias entre os órgãos e entidades

governamentais, universidades e faculdades para realização e publicação de pesquisas,

aperfeiçoamento de currículos, desenvolvimento de soluções informatizadas para a educação

e promoção de estágios em áreas carentes de profissionais.

1.1.9 Estabelecimento de investimentos públicos na formação e capacitação de

recursos humanos por meio de pólos de formação e capacitação que congreguem entidades do

setor, segundo critérios de região e/ou atividade, priorizando aquelas mais carentes.

1.2 Desenvolvimento das ações de formação e capacitação de recursos

humanos de aviação civil, com o objetivo de aperfeiçoar as estruturas existentes.

1.2.1 Aprimoramento do processo de certificação profissional, por meio da

revisão periódica dos requisitos, das diretrizes curriculares e do sistema de avaliação e

aperfeiçoamento do processo de verificação do conhecimento, para os cursos de nível técnico,

de forma participativa com o segmento da aviação civil relacionado.

1.2.2 Aprimoramento do processo de certificação profissional para os cursos de

nível superior, por meio de ações da Autoridade de Aviação Civil e do Comando da

Aeronáutica, por intermédio do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes

Aeronáuticos, junto ao Ministério da Educação, visando revisões periódicas das diretrizes

curriculares e do sistema de avaliação, e de forma participativa com o segmento da aviação

civil relacionado.

1.2.3 Aprimoramento do sistema de repasse de recursos federais, verbas e

equipamentos, para os pólos de formação e capacitação, escolas de aviação civil, aeroclubes e

clubes de vôo à vela, que venham a atender padrões mínimos de qualidade e eficiência,

observados o interesse público e os recursos disponíveis. A definição de critérios para repasse

deve abranger, entre outros, o número de alunos formados e as condições de

aeronavegabilidade das aeronaves já mantidas por estas instituições. Deve-se também

estimular a utilização de aeronaves nacionais nas atividades de treinamento de pilotos.

1.2.4 Fomento à formação e capacitação dos profissionais em segurança da

aviação civil (aeronavegabilidade, operações, infra-estrutura aeroportuária e contra atos

ilícitos), por meio do desenvolvimento de cursos e estímulo à reciclagem dos profissionais.

1.3 Regulação do mercado de formação e capacitação com o objetivo de

promover a melhoria de sua qualidade e adequação às demandas do mercado de trabalho.

1.3.1 Aprimoramento dos processos de fiscalização e certificação das escolas

de aviação civil e estabelecimento de critérios objetivos de classificação das instituições,

incluindo o desempenho dos alunos, garantindo-se a revisão periódica e constante publicidade

dos resultados alcançados, bem como podendo as escolas perder a sua certificação com base

nesta avaliação periódica.

1.3.2 Aprimoramento dos processos de fiscalização e certificação dos cursos

superiores para a aviação civil oferecidos em faculdades e universidades e estabelecimento de

Page 175: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

173

critérios objetivos de classificação destas instituições, incluindo o desempenho dos alunos,

garantindo-se a sua avaliação periódica e constante publicidade dos resultados, bem como

podendo as instituições perder sua certificação com base nesta avaliação periódica.

2. RECOMENDAR à Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC,

conforme previsto no art 3º, da Lei 11.182, de 27 de setembro de 2005, que observe,

regulamente por atos específicos e implemente as orientações e diretrizes emanadas nesta

Resolução.

3. DETERMINAR à Comissão Técnica de Coordenação das Atividades

Aéreas - COTAER que acompanhe o desenvolvimento e a realização de estudos e a

regulamentação dessas políticas e diretrizes, prestando o apoio e as informações necessárias.

4. RECOMENDAR ao Comando da Aeronáutica, por intermédio do

Departamento de Controle do Espaço Aéreo – DECEA e do Centro de Investigação e

Prevenção de Acidentes Aeronáuticos – CENIPA, e à Agência Nacional de Aviação Civil –

ANAC, que apresentem, no âmbito de suas competências, proposta de ampliação das

atividades do Programa de Formação de Recursos Humanos, mediante a elaboração de

proposta técnico-financeira que permita a incorporação de novos recursos, conforme as

diretrizes aprovadas.

5. RECOMENDAR ao Ministério da Defesa que atue junto aos Ministérios da

Educação, de Ciência e Tecnologia, e do Planejamento, Orçamento e Gestão, no âmbito de

suas competências, visando estabelecer o adequado suporte às ações de formação e

capacitação de recursos humanos da aviação civil, conforme as diretrizes aprovadas.

6. RECOMENDAR à Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC, em

coordenação com o Ministério da Educação, a avaliação da oportunidade e conveniência de

estimular as universidades públicas e colégios técnicos federais para o oferecimento de cursos

na área de aviação civil; proceder à revisão periódica de diretrizes curriculares dos cursos de

nível técnico e superior.

7. RECOMENDAR ao Comando da Aeronáutica, por intermédio do Centro de

Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos – CENIPA, em coordenação com o

Ministério da Educação, a avaliação da oportunidade e conveniência de estimular as

universidades públicas e colégios técnicos federais para o oferecimento de cursos na sua área

de atuação; proceder à revisão periódica de diretrizes curriculares dos cursos de nível técnico

e superior.

8. REVOGAR a Resolução nº 015, de 30 de outubro de 2003.

WALDIR PIRES

Presidente

Publicado no DOU de 24/07/2007, Seção 1.

Page 176: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

174

ANEXO III - DECRETO Nº 6.780, DE 18 DE FEVEREIRO DE 2009

Aprova a Política Nacional de Aviação Civil

(PNAC)

e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art.

84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição,

DECRETA:

Art. 1° Fica aprovada a Política Nacional de Aviação Civil (PNAC), formulada pelo

Conselho de Aviação Civil (CONAC), anexa a este Decreto.

Art. 2o A Secretaria de Aviação Civil do Ministério da Defesa deverá acompanhar a

implementação da PNAC por parte dos órgãos e entidades responsáveis pela gestão, regulação

e fiscalização da aviação civil, da infraestrutura aeroportuária civil e da infraestrutura de

navegação aérea civil vinculados àquele Ministério.

Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 18 de fevereiro de 2009; 188o da Independência e 121o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Nelson Jobim

Este texto não substitui o publicado no DOU de 19.2.2009

DA POLÍTICA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL

1 - INTRODUÇÃO

A Política Nacional de Aviação Civil (PNAC) corresponde ao conjunto de diretrizes e

estratégias que nortearão o planejamento das instituições responsáveis pelo desenvolvimento

da aviação civil brasileira, estabelecendo objetivos e ações estratégicas para esse setor, e

integra-se ao contexto das políticas nacionais brasileiras.

O principal propósito da PNAC é assegurar à sociedade brasileira o desenvolvimento

de sistema de aviação civil amplo, seguro, eficiente, econômico, moderno, concorrencial,

compatível com a sustentabilidade ambiental, integrado às demais modalidades de transporte

e alicerçado na capacidade produtiva e de prestação de serviços nos âmbitos nacional, sul-

americano e mundial.

Cabe destacar que a aviação civil é fator de integração e desenvolvimento nacional.

Um dos propósitos da PNAC é, pois, caracterizar a importância do desenvolvimento e

aumento da disponibilidade de infraestrutura aeronáutica e aeroportuária civis, com vistas a

aumentar a oferta de serviços de transporte aéreo. Tal condição permitirá ampliação da

disponibilidade de serviços, possibilitando, dessa maneira, aumento do bem-estar da

sociedade brasileira, bem como maior integração do País no contexto internacional, em face

da excepcional importância da aviação para as atividades sociais e econômicas modernas.

A PNAC tem como premissas os fundamentos, objetivos e princípios dispostos na

Constituição e harmoniza-se com as convenções e tratados internacionais ratificados pelo

Brasil. Cumpre notar, pois, que a observância da legislação nacional e a consideração das

normas e melhores práticas internacionais relacionadas com a aviação civil é um

compromisso indispensável para o bom ordenamento da atividade. Do mesmo modo, a

manutenção de um marco legal atualizado e a fiscalização de seu cumprimento são requisitos

essenciais ao desenvolvimento do setor aéreo brasileiro.

Page 177: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

175

Os recursos necessários e os prazos envolvidos nas complexas e interdependentes

atividades produtivas, operacionais, técnicas e administrativas – fundamentais para o sucesso

da aviação nacional –, reclamam a efetiva atuação do Estado brasileiro para coordenar, sob a

ótica do interesse público, a atuação dos diversos órgãos e entidades públicas e privadas. Cabe

a ele estabelecer os objetivos a serem perseguidos, com vistas a disciplinar as escolhas,

harmonizar as realizações interdependentes e prevenir as disparidades em prol da maior

eficiência conjunta.

A consecução dos objetivos da PNAC demanda interação com organizações

internacionais, acordos com outros países e relações comerciais com empresas estrangeiras.

Tais atividades sublinham a necessidade de atuação política do Estado brasileiro na defesa dos

interesses nacionais.

Nesses termos, este documento reflete as intenções políticas da sociedade brasileira

para o desenvolvimento do Sistema de Aviação Civil. Tem, igualmente, a virtude de fazer

chegar a todo cidadão, de forma organizada e sistêmica, os objetivos e as estratégias

aplicáveis ao setor.

Este documento compõe-se de uma parte política, que contempla os objetivos da

PNAC; de uma parte estratégica, em que são apresentadas as ações estratégicas, gerais e

específicas, e de uma parte final, em que é apresentada a metodologia de acompanhamento,

avaliação e revisão da PNAC.

Finalmente, ressalta-se a importância de que a PNAC seja observada pelos governos

federal, estadual e municipal, bem como demais responsáveis pelo desenvolvimento da

aviação civil, de forma a ser implementada harmônica e coordenadamente por todos.

2 – OBJETIVOS

2.1. A SEGURANÇA

O objetivo permanente que orienta e aprimora as ações da aviação civil é a segurança,

sendo essa, portanto, pré-requisito para o funcionamento do setor.

O conceito da segurança compreende um estado permanente de garantia da integridade

física e patrimonial dos usuários do sistema de aviação civil. A segurança abrange a

SEGURANÇA OPERACIONAL e a PROTEÇÃO CONTRA ATOS ILÍCITOS, que são

objetivos permanentes nas atividades de aviação civil.

Os atores do sistema atuarão de forma coordenada, dentro de suas atribuições, para

assegurar a implementação do maior grau praticável de segurança na adequada prestação do

serviço de transporte aéreo público.

2.2. A PRESTAÇÃO DO SERVIÇO ADEQUADO

A prestação adequada do serviço de transporte aéreo público regular por operadores

pressupõe CONTINUIDADE, REGULARIDADE e PONTUALIDADE DO SERVIÇO, entre

outros, sem os quais se descaracteriza.

Concorrem para a garantia da prestação de serviços adequados a disponibilidade e a

continuidade dos serviços prestados pelos provedores da infraestrutura aeronáutica e

aeroportuária civis.

Para a garantia da continuidade, da regularidade e da pontualidade do serviço é

necessário estabelecer medidas que identifiquem e eliminem as ameaças a estes preceitos e

que respondam rápida e positivamente aos fatores naturais, materiais ou humanos que possam

interromper a prestação do serviço de transporte aéreo. A cooperação entre órgãos e entidades

Page 178: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

176

da administração pública e do setor privado deve ser incentivada de modo a assegurar a

continuidade, regularidade e pontualidade do serviço de transporte aéreo.

2.3. A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

Minimizar os efeitos prejudiciais da aviação civil sobre o meio ambiente é dever de

todos, principalmente dos órgãos, entidades e pessoas vinculados à aviação, particularmente

no que diz respeito a ruídos e emissão de gases dos motores das aeronaves e impactos da

infra-estrutura. Estimular a adoção de mecanismos visando atenuar tais efeitos é ação que se

faz necessária para a proteção do meio ambiente.

Esforços também devem ser envidados no sentido de estabelecer ou fazer cumprir

acordos com órgãos nacionais e internacionais que contribuam para a conservação e a

manutenção do meio ambiente.

2.4. A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR

O atendimento às necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e

segurança, a proteção de seus interesses econômicos, bem como a transparência e harmonia

das relações de consumo, constituem-se em importante marco nas relações entre

consumidores e fornecedores de bens e serviços.

As peculiaridades da aviação civil impõem a necessidade de normatização própria, que

contemple os princípios vigentes no Código de Defesa do Consumidor e garanta, clara e

adequadamente, os direitos do usuário do serviço de transporte aéreo, sem que esse tenha de

recorrer à via judicial, com vistas à harmonia em suas relações com os prestadores do serviço

de transporte aéreo público.

Assim, é dever do Estado assegurar a existência dos mecanismos necessários à

proteção do consumidor do serviço de transporte aéreo, em consonância com os preceitos da

Constituição, da legislação infraconstitucional, da jurisprudência e dos acordos vigentes.

2.5. O DESENVOLVIMENTO DA AVIAÇÃO CIVIL

Poucos setores econômicos abrangem conjunto de atividades tão complexas quanto às

da aviação civil.

Trata-se de setor marcado por regulação (técnica e econômica) e fiscalização intensas;

intensivo em capital, mão-de-obra qualificada e tecnologia de ponta; vulnerável a condições

meteorológicas e geográficas adversas; estruturado em rede; dependente de acordos

internacionais; extremamente diversificado quanto ao estágio de desenvolvimento das

empresas; e fornecedor de bens e serviços de elevado valor específico.

Diante de tal complexidade, a adequada coordenação das atividades da indústria

aeronáutica, da formação de profissionais em todos os seus níveis, da infraestrutura

aeroportuária civil, da infraestrutura aeronáutica civil e dos serviços aéreos constitui tarefa de

fundamental importância para o desenvolvimento da aviação civil brasileira.

Medidas como o estímulo à formação e capacitação de profissionais, à abertura de

empresas de fabricação e manutenção de componentes aeronáuticos, à ampliação de oferta da

infraestrutura aeronáutica civil, ao crescimento do transporte aéreo, à competitividade e à

elaboração e manutenção de marco legal atualizado, transparente e adequado devem ser, entre

outras, objeto de políticas públicas específicas, mas que guardem entre si grande correlação

quanto aos objetivos a serem colimados.

O Estado brasileiro deve ser capaz, portanto, de prever adequadamente a demanda por

bens e serviços aeronáuticos e propiciar as condições para que o desenvolvimento da aviação

Page 179: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

177

civil se faça de maneira harmônica, equilibrada e adequada. Tal condição torna-se ainda mais

relevante no que tange ao provimento da infra-estrutura necessária ao desenvolvimento da

aviação civil.

O provimento de infraestrutura, seja pelo Poder Público ou por agentes privados por

meio de delegação, conforme disposto na Constituição, deve proporcionar o desenvolvimento

das atividades de transporte aéreo. Há que superar os óbices que impedem o crescimento da

aviação civil de maneira ordenada e em sintonia com os objetivos nacionais de integração e

ampliação do acesso ao serviço, de forma a promover a prosperidade equitativamente.

2.6. A EFICIÊNCIA DAS OPERAÇÕES DA AVIAÇÃO CIVIL

A eficiência das operações da aviação civil beneficia a todos e é um objetivo a ser

perseguido. Para tanto, o aperfeiçoamento da navegação aérea, a otimização do uso do espaço

aéreo e da infraestrutura aeroportuária civil, de maneira coordenada e harmônica, e a melhoria

dos métodos, processos e práticas de gestão, devem ser continuamente buscados.

O grande beneficiário dos avanços tecnológicos deverá ser o gerenciamento moderno

e dinâmico do tráfego aéreo, capaz de minimizar as limitações impostas ao usuário do espaço

aéreo. Sem comprometimento da segurança, o usuário deverá ser capaz de aderir ao seu perfil

de vôo conforme planejado e solicitado.

O Sistema de Aviação Civil deverá ser capaz de acompanhar o desempenho dos seus

elementos constitutivos e de equipar-se de maneira compatível com os avanços e inovações

introduzidas no sistema.

No mesmo sentido, o marco regulatório da aviação civil, em todos os seus segmentos,

deve ser desenhado de maneira a buscar maior eficiência econômica, novamente sem prejuízo

da segurança e observados os interesses estratégicos do País.

A obtenção de maior eficiência econômica permite a ampliação do bem-estar social e

possibilita melhor alocação de recursos produtivos. A alocação eficiente dos recursos

possibilita maior oferta dos serviços de transporte aéreo, o que, sob a égide dos apropriados

instrumentos regulatórios, resulta na ampliação da concorrência. A maior concorrência, por

sua vez, ao incentivar maiores níveis de qualidade e menores preços, age no sentido de

agregar novos usuários ao modal de transporte aéreo.

3 – AÇÕES ESTRATÉGICAS

3.1. A SEGURANÇA

Ações Gerais

• Promover a permanente atualização e aperfeiçoamento da legislação, incorporando,

quando praticável, as normas e procedimentos e as práticas recomendadas, emitidas pela

Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) ou decorrentes de outros tratados,

convenções e atos internacionais, dos quais o Brasil seja parte.

• Ampliar a conscientização pública sobre prevenção de acidentes aeronáuticos e a

proteção contra atos ilícitos.

• Garantir a melhoria da segurança por meio de fiscalização e constante

aperfeiçoamento de padrões operacionais.

• Promover a melhoria da segurança por meio do constante aperfeiçoamento de ações

e fiscalização da manutenção dos padrões operacionais, assim como a busca pela consecução

dos objetivos e das metas de segurança estabelecidas.

Page 180: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

178

• Aprimorar os sistemas brasileiros de segurança, integrando as suas premissas e

mecanismos ao planejamento dos órgãos e entidades do setor.

• Garantir a realização periódica de auditorias externas, quando programadas pela

OACI, e internas por órgão reconhecido pelo governo brasileiro, visando à melhoria dos

mecanismos de segurança.

• Promover a formação, a capacitação e a atualização dos profissionais, de forma a

garantir a implementação adequada de medidas em proveito da segurança.

• Aprimorar a proteção contra atos ilícitos em todos os elos do Sistema de Aviação

Civil, mediante a concepção de medidas proativas, que levem em conta os conceitos de

facilitação, principalmente no que tange a aplicação de novas tecnologias para o

processamento de passageiros, suas bagagens e carga aérea.

Ações Específicas

Segurança Operacional

• Promover a atualização de normas, padrões, métodos e procedimentos para assegurar

o gerenciamento da segurança operacional.

• Gerenciar o risco e implantar medidas mitigadoras e de supervisão e fiscalização

continuada dos serviços.

• Realizar auditorias periódicas por órgão reconhecido pelo governo brasileiro, para

identificar deficiências e corrigi-las.

• Promover a atualização constante da documentação sobre segurança operacional.

• Garantir a segurança operacional, inclusive prevenção de acidentes e incidentes

aeronáuticos, como disciplina curricular nos programas de formação e capacitação dos

profissionais do Sistema de Aviação Civil.

• Fiscalizar regularmente as condições de aeronavegabilidade, oficinas e capacitação

técnica de pessoal.

• Promover ações integradas na área de certificação aeronáutica e segurança

operacional.

• Estimular maior consciência pública, por meio de campanhas educativas e

promocionais sobre segurança operacional.

• Atuar junto às autoridades competentes no sentido de adotar medidas para reduzir

atividades urbanas que se constituem ou venham a se constituir em potenciais focos de

atração de aves nas áreas de influência de aeródromos.

• Estimular a coordenação entre os órgãos de âmbito federal, estadual e municipal

visando ao cumprimento da legislação que trata da zona de proteção de aeródromos, de ruídos

e de auxílios à navegação aérea.

• Garantir a coordenação, controle, aprimoramento e execução das atividades de

prevenção e investigação de acidentes e incidentes aeronáuticos.

• Promover a atualização constante da regulamentação sobre a prevenção de acidentes

e incidentes aeronáuticos.

• Promover a supervisão permanente da identificação de perigos e o gerenciamento

preventivo dos riscos à segurança operacional.

• Promover a coordenação das atividades de prevenção de acidentes e incidentes

aeronáuticos junto aos órgãos e entidades da administração pública e do setor privado.

• Realizar avaliações periódicas de prevenção de acidentes e incidentes aeronáuticos

na aviação civil, por órgão reconhecido pelo governo brasileiro, para identificar deficiências e

corrigi-las.

Page 181: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

179

• Aprimorar e garantir a aplicação dos procedimentos de supervisão para o

cumprimento das medidas estabelecidas em prol da prevenção de acidentes e incidentes

aeronáuticos.

• Assegurar o tratamento adequado das informações no âmbito da investigação de

acidentes e incidentes, observado o sigilo da sua utilização exclusiva para fins de

prevenção de acidentes aeronáuticos, em conformidade com os tratados, convenções e

atos internacionais, de que o Brasil seja parte.

• Fomentar o intercâmbio de informações entre instituições nacionais e estrangeiras

para promover a permuta de experiências sobre a prevenção de acidentes e incidentes

aeronáuticos.

Proteção contra Atos Ilícitos

• Promover permanentemente a avaliação do grau de risco para a aviação civil, no

intuito de identificar e eliminar ameaças e atos ilícitos.

• Garantir a aplicação das disposições referentes à proteção contra atos ilícitos,

observados os tratados, convenções e atos internacionais dos quais o Brasil seja parte.

• Aprimorar e garantir a aplicação dos procedimentos de fiscalização para o

cumprimento das medidas estabelecidas em prol da proteção contra atos ilícitos.

• Realizar auditorias periódicas de proteção contra atos ilícitos, por órgão reconhecido

pelo governo brasileiro, para identificar deficiências e corrigi-las.

• Promover a atualização constante da documentação sobre a proteção contra atos

ilícitos.

• Aprimorar os métodos e procedimentos que garantam a segurança dos passageiros,

tripulações, pessoal em terra e público geral contra atos ilícitos.

• Fomentar o intercâmbio de informações entre instituições nacionais e estrangeiras

para promover a confiança mútua e a permuta de experiências sobre a proteção contra atos

ilícitos.

• Aprimorar a segurança contra atos ilícitos em todos os elos da aviação civil,

incentivando o uso de novas tecnologias, no intuito de incorporar os requisitos de facilitação

correlatos.

• Promover a inclusão, nas políticas de segurança pública, de ações para a proteção

contra atos ilícitos.

• Estimular a interação entre os órgãos de segurança pública e os órgãos e entidades da

aviação civil, visando coordenar as ações de proteção contra atos ilícitos.

• Estimular maior consciência pública, por meio de campanhas educativas e

promocionais sobre a proteção contra atos ilícitos.

• Buscar a inclusão da proteção da aviação civil contra atos ilícitos na formação e

capacitação dos profissionais do Sistema de Aviação Civil.

3.2. A PRESTAÇÃO DO SERVIÇO ADEQUADO

Ações Gerais

• Promover esforços conjuntos no sentido de que os serviços prestados pelos órgãos e

entidades públicas e privadas que compõem o Sistema de Aviação Civil sejam pautados pela

segurança, eficiência, continuidade, regularidade e pontualidade, de forma a assegurar a

previsibilidade aos seus usuários.

• Estimular o uso de novas tecnologias para assegurar a regularidade e a pontualidade

ao transporte de passageiros, carga e mala postal.

Page 182: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

180

• Desenvolver capacidade para responder de forma rápida e efetiva aos fatores

adversos – naturais, materiais ou humanos – que possam interromper a prestação do serviço

de transporte aéreo adequado.

• Garantir a prestação do serviço adequado, por meio da fiscalização dos prestadores

de serviços aéreos, de infraestrutura aeroportuária e aeronáutica civis.

• Aperfeiçoar, continuamente, os parâmetros para a adequada prestação dos serviços

de transporte aéreo.

Ações Específicas

• Estabelecer normas e procedimentos para que os serviços de transporte aéreo sejam

prestados com respeito aos seus usuários em geral e, especificamente, aos com necessidades

especiais.

Continuidade

• Fiscalizar as empresas prestadoras de serviços aéreos de modo a permitir ao órgão

regulador construir planos de contingências para possíveis eventos de descontinuidade.

Regularidade

• Promover medidas que identifiquem e eliminem as ameaças à continuidade da

prestação de serviços de transporte aéreo e que respondam rápida e efetivamente aos fatores

naturais, materiais ou humanos que possam afetar a sua regularidade.

Pontualidade

• Promover a integração entre os órgãos e entidades públicas e empresas, de forma a

evitar atrasos decorrentes de suas funções.

3.3. A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

Ações Gerais

• Estimular a redução dos níveis de ruídos de motores das aeronaves.

• Minimizar o impacto das emissões de gases de motores das aeronaves na qualidade

do ar.

• Promover o envolvimento das entidades relacionadas à aviação civil na proteçãodo

meio ambiente.

• Estimular o desenvolvimento e o uso de tecnologias que reduzam os impactos da

atividade aeronáutica no meio ambiente.

Ações Específicas

• Assegurar a inclusão dos aspectos ambientais no planejamento, implantação e

operação dos aeródromos.

• Buscar permanentemente a redução dos impactos adversos provocados pelo ruído

aeronáutico e emissões de gases de motores das aeronaves no meio ambiente.

• Adotar, nas questões relativas a ruído, uma abordagem equilibrada, que consista nos

seguintes elementos: redução do ruído na fonte, planejamento do uso do solo no entorno dos

Page 183: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

181

aeródromos, adoção de medidas mitigadoras, e restrições operacionais, de acordo com os

interesses nacionais.

• Incentivar o desenvolvimento de tecnologias no âmbito da aviação civil, com

destaque para indústria aeronáutica, respeitando o meio ambiente.

• Promover e aprimorar medidas que desestimulem o adensamento populacional em

áreas sujeitas a níveis significativos de emissão de ruídos e gases por parte de motores de

aeronaves, em conformidade com a legislação referente às zonas de proteção de aeródromos,

de ruídos, de auxílios à navegação e à área de segurança aeroportuária.

• Estimular e apoiar a adoção de políticas relacionadas ao meio ambiente nas áreas de

entorno dos aeródromos nas esferas federal, estadual e municipal, visando ao estabelecimento

de condições mais adequadas para a prática das atividades aeronáuticas.

• Aprimorar os procedimentos de navegação aérea em rota e em área terminal e de

técnicas de vôo que resultem em redução do impacto de ruído e emissões de gases de motores

de aeronaves.

• Fomentar a educação ambiental junto à comunidade aeroportuária, às comunidades

residentes em áreas de entorno de aeródromos.

3.4. A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR

Ações Gerais

• Promover a segurança jurídica nas relações de consumo existentes no setor de

aviação civil.

• Garantir a previsibilidade, precisão e clareza das obrigações das empresas

prestadoras de serviços aéreos.

• Assegurar a adequada regulamentação dos direitos e obrigações dos usuários, dos

prestadores de serviços aéreos, da infraestrutura aeronáutica e aeroportuária civis, de forma a

prover o equilíbrio no relacionamento entre as partes e minimizar o contencioso

administrativo e judicial.

• Assegurar a transparência e a provisão de informações referentes à relação de

consumo pelos diversos segmentos participantes do Sistema de Aviação Civil.

• Minimizar diferenças de tratamento jurídico nas relações de consumo existentes na

provisão de serviços de transporte aéreo doméstico e internacional.

Ações Específicas

Direito à informação

• Assegurar ao usuário dos serviços de transporte aéreo o direito a informações

relativas à sua relação de consumo.

• Aperfeiçoar procedimentos para que as informações essenciais acerca do serviço

contratado pelos usuários do transporte aéreo sejam prestadas de forma correta, clara, precisa,

ostensiva e tempestiva.

• Reduzir a assimetria de informações entre usuários, prestadores de serviços, órgãos

reguladores e demais órgãos governamentais.

• Garantir meios que propiciem o fornecimento de informações precisas sobre horários

de voos e motivos de eventuais atrasos ou cancelamentos.

Page 184: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

182

3.5. O DESENVOLVIMENTO DA AVIAÇÃO CIVIL

Ações Gerais

• Garantir a exploração do mercado doméstico de transporte aéreo às empresas

constituídas sob as leis brasileiras.

• Aprimorar a coordenação dos assuntos e ações dos agentes do setor de aviação civil,

de infraestrutura aeroportuária civil e de infra-estrutura aeronáutica civil.

• Identificar e estudar tendências, coordenar o planejamento e elaborar diretrizes e

políticas que garantam crescimento sustentável da aviação civil e o cumprimento de serviço

público seguro, regular, eficiente, abrangente e pontual.

• Estimular a gestão eficaz e a consolidação de ambiente institucional e regulatório

favorável ao desenvolvimento da aviação civil.

• Garantir a segurança jurídica e a redução dos riscos regulatórios, visando incentivar

investimentos na aviação civil brasileira.

• Promover o desenvolvimento da aviação civil mediante a cooperação entre os elos do

Sistema, garantindo que seus planejamentos sejam elaborados de forma integrada.

• Promover a expansão do transporte aéreo internacional com vistas a aumentar o

fluxo de pessoas e mercadorias entre o Brasil e outros países.

• Promover a integração dos serviços aéreos no âmbito da América do Sul.

• Assegurar regulação econômica clara e bem definida, que propicie a estabilidade aos

investidores públicos e privados, visando ao aumento dos investimentos e a ampliação da

oferta de serviços de transporte aéreo.

• Assegurar a fiscalização eficaz e contínua em prol da regular prestação do serviço e

do desenvolvimento da aviação civil.

• Acompanhar o desenvolvimento do Sistema de Aviação Civil por meio de avaliação

e divulgação permanentes de indicadores.

• Manter atualizados e coordenados os planejamentos da infraestrutura aeronáutica

civil, da infraestrutura aeroportuária civil e dos demais elos do Sistema.

• Buscar a adequação contínua da capacidade da infraestrutura à expansão do

transporte aéreo, inclusive por meio de delegação, conforme disposto na Constituição.

• Incentivar o intercâmbio de informações e tecnologias entre instituições nacionais e

internacionais.

• Incentivar a integração da aviação civil com os setores do turismo e do comércio.

• Facilitar a circulação de pessoas e bens na região sul-americana por meio da criação

de procedimentos específicos e unificados de controle de fronteira.

• Reconhecer a especificidade da maioria das funções inerentes ao gerenciamento do

tráfego aéreo e adotar medidas que promovam a adequada capacitação dos recursos humanos

de que o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB) necessite.

• Estimular o desenvolvimento das ligações de baixa e média densidade de tráfego.

• Reconhecer a especificidade e promover o desenvolvimento das atividades de

aviação agrícola, experimental e aerodesportiva, desenvolvendo regulamentação específica

para os setores e estimulando a difusão de seu uso.

• Assegurar a transparência e a publicidade da atividade regulatória.

• Considerar a operação internacional de empresas aéreas brasileiras instrumento de

projeção econômica e comercial de importância política e estratégica para o País e para a

integração regional, devendo ter tratamento fiscal, tributário e creditício semelhante ao das

atividades de exportação e de infra-estrutura.

• Promover as iniciativas requeridas para assegurar a execução do planejamento das

infra-estruturas aeronáutica e aeroportuária civis.

Page 185: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

183

• Considerar as compras governamentais no interesse do desenvolvimento da infra-

estrutura aeronáutica.

Ações Específicas

Organização Institucional

• Definir as competências e atribuições dos órgãos e entidades do setor, a fim de que

as atividades sejam desenvolvidas eficientemente e sem duplicidade de esforços.

• Garantir a coordenação do setor, visando à integração, harmonização e interação dos

órgãos e entidades ligados à aviação civil.

• Alocar adequadamente os recursos financeiros nos órgãos e entidades do setor, de

forma a garantir que todos executem suas funções, considerando seus diferentes graus de

autonomia.

• Zelar pelo cumprimento das obrigações assumidas em tratados, convenções e atos

internacionais.

• Promover a adequada interação entre os órgãos governamentais essenciais ao

transporte aéreo, responsáveis pelas atividades de polícia federal, de vigilância sanitária, de

controle aduaneiro, entre outros, buscando-se o planejamento conjunto de suas atividades.

• Manter atualizado o marco legal que rege a aviação civil brasileira, promovendo

consulta junto aos agentes do setor.

Formação, Capacitação e Atualização de Recursos Humanos

• Fomentar a adequada formação de recursos humanos, visando atender às

necessidades nacionais e regionais do Sistema.

• Incentivar a formação de recursos humanos pelo setor público e pela iniciativa

privada.

• Ampliar continuamente as ações de formação e capacitação de recursos humanos,

inclusive por meio da adição de novos recursos e parcerias.

• Aprimorar o processo de fiscalização dos requisitos e das condições para o

funcionamento das instituições de formação de pessoal, de modo a garantir a qualidade da

capacitação, por meio de procedimentos de avaliação periódica.

• Promover o adequado funcionamento dos aeroclubes e das escolas de aviação para

garantir a formação prática dos profissionais, buscando o aprimoramento do sistema de

repasse de recursos e equipamentos, selecionando aquelas entidades que atendam aos padrões

de qualidade e de eficiência estabelecidos.

• Aprimorar os processos de certificação profissional por meio da revisão periódica

dos requisitos, das diretrizes curriculares e do sistema de avaliação e de verificação do

conhecimento, de forma participativa com o segmento da aviação civil relacionado.

• Estimular a formação de profissionais por meio de incentivos às instituições de

ensino, da ampliação de programas governamentais de concessão de bolsas de estudo e do

fomento à instalação de pólos de qualificação profissional.

• Fomentar a capacitação e atualização de pessoal docente, por meio do

estabelecimento dos requisitos profissionais, do incentivo a programas governamentais e a

realização de parcerias nacionais e internacionais entre os entes da aviação civil.

• Fomentar as redes de pesquisas em centros de ensino, incentivando o intercâmbio

internacional dos profissionais do setor e apoiando a produção científica e

os programas de formação especializados no País e no exterior.

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184

• Fomentar ações para formação e capacitação dos profissionais na língua inglesa, por

meio de parcerias com organizações públicas e privadas, para permitir que esses atinjam os

critérios de proficiência linguística estabelecidos em acordos internacionais.

• Prover a qualificação dos profissionais da administração pública para atuação no

setor.

• Ampliar a atuação dos órgãos de regulamentação e fiscalização trabalhistas no

desenvolvimento das atividades dos profissionais que atuam nos diversos ramos da aviação

civil, no sentido de garantir as adequadas condições de trabalho.

• Incentivar a participação da comunidade acadêmica no desenvolvimento da aviação

civil por meio de convênios com universidades, patrocínios, desenvolvimento de pesquisas,

projetos e outros.

Infra-Estrutura Aeroportuária Civil

• Promover a adequada provisão, ampliação e otimização da infraestrutura

aeroportuária civil, por meio do direcionamento estratégico de investimentos, visando ao

desenvolvimento econômico, à integração nacional e ao atendimento de regiões de difícil

acesso.

• Harmonizar a capacidade e a demanda da infraestrutura aeroportuária civil, com base

em planos de investimento que considerem os planejamentos de curto, médio e longo prazo

baseados em estudos específicos e informações integradas.

• Assegurar a racionalidade da habilitação de aeroportos para o tráfego internacional,

sempre justificada com base na projeção de demanda, em estudos de viabilidade econômico-

financeira e em interesses estratégicos do País.

• Desenvolver incentivos econômicos e regulatórios de forma a gerir a demanda e

otimizar o uso dos aeroportos, ordenando os serviços de transporte aéreo.

• Garantir a preservação e proteção dos sítios aeroportuários e a compatibilização do

planejamento urbano com as zonas de proteção e da área de segurança aeroportuária, por meio

do desenvolvimento e aprimoramento de mecanismos de controle junto aos municípios.

• Estimular o investimento privado na construção e operação de aeródromos.

• Planejar o uso de áreas aeroportuárias, de forma a garantir a completa utilização do

potencial de seus sítios.

• Manter as instalações aeroportuárias civis em condições de atender adequadamente

aos usuários do transporte aéreo, garantindo a realização tempestiva e apropriada de

manutenção da infraestrutura.

• Promover a intermodalidade dos transportes, buscando a constante integração do

planejamento do setor de aviação civil com o dos modais rodoviário, ferroviário e aquaviário.

• Incentivar a instalação de atividades econômicas adequadas nas proximidades ou no

sítio aeroportuário, observadas as restrições impostas pelas zonas de proteção, e sem prejuízo

às operações das atividades aéreas.

• Promover junto aos respectivos entes federados o provimento da infraestrutura

necessária à implantação e operação dos aeródromos, incluindo o acesso viário.

Ciência e Tecnologia

• Fomentar o desenvolvimento de tecnologias para uso na aviação civil, por meio de

programas governamentais e do incentivo à participação privada.

• Buscar a integração da política de Ciência e Tecnologia do governo com as

demandas da aviação civil.

Page 187: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

185

• Incentivar o desenvolvimento de estudos de tecnologia de combustíveis alternativos

para uso nos diversos segmentos da aviação civil.

• Promover a participação de instituições de ensino e pesquisa no desenvolvimento de

tecnologias para uso na aviação civil.

Indústria Aeronáutica

• Incentivar a participação da indústria nacional em programas internacionais de

desenvolvimento e produção de serviços, sistemas e componentes.

• Promover o adensamento da cadeia produtiva por meio do incentivo e apoio às

indústrias conexas.

• Incentivar a cooperação internacional visando à integração produtiva da cadeia de

fornecedores nacionais.

• Aprimorar os mecanismos de financiamento e a política tributária para impulsionar o

desenvolvimento do setor.

• Desenvolver condições para que a indústria aeronáutica brasileira atenda

competitivamente às necessidades dos diversos segmentos da aviação civil.

• Fortalecer e otimizar as atividades de certificação, homologação e fiscalização de

produtos e serviços aeronáuticos, de forma que o Brasil se qualifique como referência

internacional nestas atividades.

• Estimular a promoção comercial de produtos e serviços aeronáuticos nacionais.

Infra-Estrutura Aeronáutica Civil

• Garantir a constante modernização dos sistemas de gerenciamento do tráfego aéreo,

mantendo-os em conformidade com as mais avançadas tecnologias e padrões internacionais.

• Garantir a segurança operacional dos serviços de gerenciamento do tráfego aéreo.

• Manter a supervisão das atividades de controle do espaço aéreo, assegurando o

atendimento dos requisitos técnico-operacionais estabelecidos.

• Monitorar a relação entre a demanda de serviços aéreos e a capacidade instalada,

visando planejar a ampliação ou adequação da infraestrutura e minimizar possíveis

desequilíbrios.

• Garantir a adequada formação e capacitação de recursos humanos necessários à

prestação dos serviços essenciais ao gerenciamento seguro, regular e eficiente do tráfego

aéreo.

Serviços Aéreos

• Estimular o desenvolvimento de serviços aéreos em todo o território brasileiro.

• Incentivar o desenvolvimento e a expansão dos serviços aéreos prestados em ligações

de baixa e média densidade de tráfego, a fim de aumentar o número de cidades e municípios

atendidos pelo transporte aéreo.

• Estimular o desenvolvimento da aviação geral.

• Promover regulamentação adequada para cada tipo de serviço aéreo.

• Estimular o uso do modal aéreo para transporte de passageiros, carga e mala postal.

• Garantir a fiscalização dos serviços aéreos explorados pela aviação regular, não

regular, geral, experimental, aerodesportiva e agrícola.

• Estimular a concorrência no setor de aviação civil.

• Incentivar o desenvolvimento dos serviços aéreos internacionais como vetor de

integração com os demais países.

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186

• Aperfeiçoar mecanismos de negociação buscando evitar restrições à oferta nos

serviços aéreos internacionais e estimular o comércio, o turismo e a conectividade do Brasil

com os demais países.

3.6. A EFICIÊNCIA DAS OPERAÇÕES DA AVIAÇÃO CIVIL

Ações Gerais

• Melhorar a eficiência das operações da aviação civil, inclusive mediante programas

de cooperação técnica.

• Elaborar normas, métodos, orientações e planos para apoiar a implantação dos

conceitos de organização e gestão do tráfego aéreo, de projeto e operação de aeródromos, de

gerenciamento de segurança operacional e de atividades dos operadores da aviação civil.

• Buscar a expansão antecipada e coordenada da oferta de infra-estrutura aeronáutica e

aeroportuária civis para atendimento da demanda de serviços aéreos.

• Promover o crescimento do setor por meio da regulação eficiente do mercado, de

estímulos a investimentos privados e do incentivo à concorrência, visando coibir práticas

anticoncorrenciais e assegurar a prestação adequada de serviços, a modicidade dos preços e a

garantia dos direitos dos usuários.

• Aprimorar o marco regulatório da aviação civil que promova, estimule e incentive a

competição.

Ações Específicas

Infra-Estrutura Aeronáutica Civil

• Monitorar e avaliar o desempenho das operações aéreas com o propósito de

aprimorar os serviços e a infra-estrutura aeronáutica civil.

• Introduzir novas tecnologias, métodos e processos de gerenciamento do tráfego aéreo

que, comprovadamente, produzam ganhos de eficiência sem comprometimento da segurança

das operações aéreas.

• Adequar a infra-estrutura aeronáutica civil aos requisitos operacionais mais

favoráveis aos ganhos de eficiência.

• Garantir a capacitação e o treinamento de recursos humanos em consonância com a

necessidade de aprimorar a eficiência do SISCEAB.

• Coordenar adequadamente a transição para a utilização eficiente dos vários

elementos que compõem o conceito CNS/ATM (Comunicação, Navegação e

Vigilância/Gerenciamento do Tráfego Aéreo) da OACI.

• Harmonizar os programas de trabalho dos setores da aviação civil, mediante

planejamento integrado do desenvolvimento da infra-estrutura aeronáutica civil.

Planejamento

• Manter atualizados e integrados a regulação da aviação civil e os planejamentos de

infra-estrutura aeronáutica e aeroportuária civis.

• Identificar, criar e desenvolver ferramentas interativas de planejamento para ajudar o

processo analítico.

• Estimular a integração das bases de dados de interesse comum a todos os integrantes

do Sistema de Aviação Civil.

Page 189: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

187

Infra-Estrutura Aeroportuária Civil

• Promover a concorrência no setor, de forma a garantir aos usuários melhor qualidade

de serviços e menores tarifas.

• Promover a participação da iniciativa privada na construção, operação e exploração

de aeroportos, no todo ou em partes.

• Propor medidas que permitam a utilização eficiente da infra-estrutura aeroportuária,

tais como diferenciação tarifária entre os diversos aeroportos ou em um mesmo aeroporto nos

horários de maior demanda.

Serviços de Transporte Aéreo

• Estimular a competição nos serviços, de forma a possibilitar o acesso a maior parcela

da população.

• Estimular a expansão dos serviços, para atender ao maior número de localidades.

• Manter atualizadas as normas e condições para a exploração dos serviços com vistas

ao aprimoramento da segurança, à sua melhoria e à modicidade dos preços.

• Assegurar a múltipla designação de empresas nos serviços internacionais.

• Buscar a redução das barreiras à entrada de novas empresas no setor.

Regulação

• Estabelecer diretrizes que confiram ao mercado o papel de equilibrar a oferta e a

demanda, prevalecendo a liberdade tarifária nos serviços de transporte aéreo.

• Acompanhar o comportamento do mercado de transporte aéreo visando à adoção de

medidas para atender a demanda com base na eficiência econômica, buscando o incremento

da oferta e a ampliação da capacidade da infraestrutura aeronáutica e aeroportuária civis.

• Apoiar o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) no combate às

infrações contra a ordem econômica no âmbito do setor de aviação civil.

• Elaborar normas e procedimentos para facilitar o acesso de potenciais entrantes

naqueles aeródromos que apresentem saturação de tráfego com vistas à ampliação da

competição.

• Permitir a utilização da infraestrutura aeronáutica e aeroportuária civis até o limite da

capacidade estabelecida, segundo regras previamente estipuladas e em coordenação com os

usuários e sem comprometimento da segurança operacional.

• Estabelecer procedimentos de saída do mercado de transporte aéreo e de

descontinuidade dos serviços.

• Estabelecer normas legais para a desocupação de áreas e instalações aeroportuárias

civis ocupadas por empresas que deixaram de operar.

4 – ACOMPANHAMENTO, AVALIAÇÃO E REVISÃO

A implantação da PNAC deverá ser acompanhada continuamente pelo Ministério da

Defesa, por intermédio da Secretaria de Aviação Civil, auxiliado pelos demais órgãos e

entidades que integram o Conselho de Aviação Civil (CONAC).

Para tanto, deverão ser elaborados indicadores referentes aos objetivos e às ações

estabelecidas, que serão avaliados anualmente, buscando verificar a repercussão da PNAC no

setor de aviação civil, dentro de uma visão sistêmica e intersetorial.

Page 190: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

188

A Política e seus objetivos e ações estratégicas deverão ser constantemente atualizados

conforme mudanças no contexto nacional, regional e internacional, garantindo-se que seus

resultados sejam adequados às necessidades do Sistema de Aviação Civil.

Page 191: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

189

ANEXO IV - MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PILOTO PRIVADO AVIÃO – PP-A

PARTE TEÓRICA

Áreas Curriculares Palestra/Disciplinas

Carga Horária

Horas-aula Horas de

voo

Básica

Palestra “O Piloto Privado-Avião” 03 -

A Aviação Civil 03 -

Regulamentação da Aviação Civil 09 -

Segurança de Voo 12 -

Técnica

Conhecimentos Técnicos das

Aeronaves 33 -

Meteorologia 42 -

Teoria de Voo 48 -

Regulamentos de Tráfego Aéreo 39 -

Navegação Aérea 66 -

Complementar Medicina de Aviação 12 -

Combate ao Fogo em Aeronave 03 -

TOTAL PARTE TEÓRICA 270 -

Fonte: BRASIL, 2004a.

Page 192: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

190

ANEXO V - MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PILOTO PRIVADO HELICÓPTERO –

PP-H

PARTE TEÓRICA

Áreas Curriculares Palestra/Disciplinas

Carga Horária

Horas-aula Horas de

voo

Básica

O Piloto Privado – Helicóptero:

preparação e atividade 02 -

Segurança de Voo 08 -

Técnica

Conhecimentos Técnicos das

Aeronaves 33 -

Meteorologia 40 -

Teoria de voo – Aerodinâmica de

Helicóptero 50 -

Regulamentos de Tráfego Aéreo 40 -

Navegação Aérea 65 -

Complementar

A Aviação Civil 04 -

Regulamentação da Aviação Civil 08

Instrução aeromédica 10 -

TOTAL PARTE TEÓRICA 260 -

Fonte: BRASIL, 1995.

Page 193: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

191

ANEXO VI - MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PILOTO COMERCIAL AVIÃO – PC-A

INS

TR

ÃO

TE

ÓR

ICA

ÁREAS

CURRICULARES MATÉRIAS

CARGA HORÁRIA

Horas-

aula

Horas/

simulado

r

Horas

de voo

SIC

A

O Piloto Comercial-Avião:

preparação e atividade 02

- -

Matemática 15

Física 15

Segurança de Voo 06

Inglês Técnico 30

CN

ICA

Conhecimentos Técnicos das

Aeronaves 40

Meteorologia 40

Teoria de Voo 40

Regulamentos de Tráfego Aéreo 50

Navegação Aérea 60

CO

MP

LE

ME

NT

AR

A Aviação Civil 04

Segurança da Aviação Civil contra

Atos de Interferência Ilícita 04

Regulamentação da Aviação Civil 04

Regulamentação da Profissão de

Aeronauta 06

Instrução Aeromédica 04

SUBTOTAL 32

0

Fonte: BRASIL,1990a.

Page 194: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

192

ANEXO VII - MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PILOTO COMERCIAL

HELICÓPTERO – PC-H

I N

S T

R U

Ç Ã

O T

E Ó

R I

C A

ÁREA

CURRICULA

R

M A T É R I A S

CARGA HORÁRIA

HORAS – AULA 1

SIC

A O Piloto Comercial – Helicóptero:

preparação e atividade

Segurança de Voo

Inglês Técnico

02

06

30

CN

ICA

Conhecimentos Técnicos da

Aeronave

Meteorologia

Teoria de Voo/Aerodinâmica de

Helicóptero

Regulamentos de Tráfego Aéreo

Navegação Aérea

30

40

30

40

60

CO

MP

LE

ME

NT

A

R

A Aviação Civil

Noções de Direito Aeronáutico

Regulamentação da Profissão de

Aeronauta

Segurança para Helicópteros contra

Atos de Interferência Ilícita

Instrução Aeromédica

04

04

06

04

04

SUBTOTAL 260

Fonte: BRASIL, 1990b.

Page 195: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

193

ANEXO VIII - MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PILOTO DE LINHA AÉREA – PLA-

A

MÓDULOS CARGA HORÁRIA h-

a

I – ASPECTOS ORGANIZACIONAIS, JURÍDICOS E

DE SEGURANÇA DA AVIAÇÃO CIVIL

II – TÉCNICAS MODERNAS NOS SISTEMAS DE

AERONAVES

III – UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO AÉREO

IV – O COMANDANTE E SUA FUNÇÃO

ADMINISTRATIVA

22

80

40

38

Avaliação do desempenho do aluno 08

TOTAL 188

Fonte: BRASIL, 1991a.

Page 196: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

194

ANEXO IX - MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE PILOTO DE LINHA AÉREA

HELICÓPTERO – PLA-H

M Ó D U L O S

CARGA

HORÁRIA

h-a

I - ASPECTOS ORGANIZACIONAIS, JURÍDICOS E DE

SEGURANÇA DA AVIAÇÃO CIVIL 22

II - TÉCNICAS MODERNAS NOS SISTEMAS DE

AERONAVES 75

III - UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO AÉREO 48

IV - O COMANDANTE E SUA FUNÇÃO

ADMINISTRATIVA 37

Avaliação do desempenho do aluno 08

TOTAL 190

Fonte: BRASIL, 1991b.

Page 197: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

195

ANEXO X - DESCRIÇÃO DA UNIDADE 4 DO MÓDULO II DO CURSO DE PILOTO DE

LINHA AÉREA AVIÃO – PLA-A

MÓDULO II - TÉCNICAS MODERNAS NOS SISTEMAS DE AERONAVES

Papel do Módulo no Curso (MMA 58-7, manual do curso “Piloto de Linha Aérea – Avião”).

Este módulo se destina a contribuir para que o aluno:

adquira subsídios fundamentais a respeito dos principais fatores de ordem

técnica, relacionados ao avanço tecnológico das aeronaves, que conduzem a um

voo mais seguro, eficiente e econômico;

compreenda os princípios básicos de funcionamento dos modernos

equipamentos de comando e controle atualmente instalados nas aeronaves;

adquira subsídios relativos ao funcionamento, às vantagens e às limitações de

cada um dos modernos sistemas de navegação e de aproximação.

Unidade 4 Disciplina: Aviônica

Unidade (4.1)

distinguir vetor de grandeza vetorial;

reconhecer as aplicações práticas dos vetores na representação de forças,

velocidades e aceleração;

explicar a importância, para a precisão da navegação, da aplicação das

coordenadas geográficas no omega navigatior system (ONS), no inertial

navigation system (INS) e no inertial reference system (IRS);

Unidade (4.2)

definir velocidade e aceleração;

identificar os processos usualmente utilizados em aviação para medição de

velocidade e de aceleração;

enunciar as leis da inércia e da força;

enunciar o principio básico do raio laser;

citar aplicações do raio laser na navegação aérea;

Unidade (4.3)

sumariar a evolução ocorrida no campo da eletrônica;

explicar a importância da aplicação dos servomecanismos no sistemas utilizados

no avião;

Page 198: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

196

Unidade (4.4)

caracterizar, quanto às suas funções, os diferentes elementos constitutivos

essenciais do computador elementar;

caracterizar hardware e software;

explicar a importância da qualidade da programação;

explicar a finalidade da utilização, no computador, dos sistemas de expressão

numérica de bases diversas da decimal;

explicar a finalidade das conversões de um sistema de expressão numérica para

outro, efetuadas no computador;

citar as vantagens dos sistemas digitais sobre os analógicos;

sumariar as principais fases da evolução do computador;

explicar a relação existente entre a segurança do voo e a eficiência do piloto na

inserção de dados de posição nos computadores usados no avião;

nomear os principais instrumentos e sistemas empregados no avião e que utilizam

computador: indicador de IAS, de VMO e de Número Mach, indicador de

instantaneous vertical speed (IVSI), altímetro servo, indicador de true air speed

(TAS), indicador de static air temperature (SAT), sistema de comunicação em

VHF, sistema de entretenimento do passageiro, passenger address (PA), central air

data computer (CADC), omega navigation system (ONS), inertial navigation

system (INS), inertial reference system (IRS), ground proximity warning system

(GPWS), eletronic flight instrument system (EFIS), auto flight control system

(AFCS), performance management system (PMS), flight management system

(FMS), traffic alert and collision avoidance system (TCAS);

citar as vantagens do uso do computador no avião;

Unidade (4.5)

caracterizar o central air data computer (CADC) quanto à finalidade, ao

princípio básico de funcionamento, às infor-mações de entrada, ao

relacionamento com o sistema pitot-static, bem como quanto às informações de

saída e ao relacionamento com o ONS, o INS, o IRS, o GPWS, o EFIS, o AFCS,

o PMS, o IRS, o FMS e o TCAS;

identificar falhas do CADC;

descrever o procedimento de transferência de um CADC para outro;

caracterizar o omega navigation system (ONS) quanto à finalidade, ao princípio

básico de funcionamento, aos elementos constitutivos e respectivas funções, às

informações de entrada, ao relacionamento com o compass e o CADC, bem

como quanto às informações de saída e ao relacionamento com o AP-FD e os

HSI;

citar as vantagens do ONS em relação ao sistema Loran;

citar as desvantagens do ONS em relação do INS e ao IRS;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o ONS;

identificar possíveis falhas do ONS;

Page 199: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

197

descrever os procedimentos do piloto em caso de falha do ONS;

citar as diferenças básicas existentes entre os diversos modelos de ONS

utilizados;

citar as diferenças básicas existentes entre os diversos modelos de ONS

utilizados;

citar as vantagens e outras diferenças apresentadas, em relação aos modelos mais

antigos, pelos modelos de ONS que possuem as rotas previamente armazenadas na

memória do computador;

caracterizar, quanto à finalidade, o data loader e o disquete que contém

informações do NAV DATA;

identificar a necessidade de recarregamento dos dados de navegação nos

modelos modernos de ONS;

caracterizar navegação inercial;

caracterizar o inertial navigation system (INS) quanto à finalidade, ao princípio básico de

funcionamento, aos elementos constitutivos e respectivas funções, às informações de

entrada, ao relaciona-mento com o compass e o CADC, bem como quanto às informa-

ções de saída e ao relacionamento com os HSI e o AP-FD;

citar as vantagens do INS em relação ao ONS;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o INS;

identificar possíveis falhas do INS;

procedimentos do piloto em caso de falha do INS;

caracterizar o inertial reference system (IRS) quanto à finalidade, ao princípio

básico de funcionamento, aos elementos constitutivos e respectivas funções, às

informações de entrada, ao relacionamento com o CADC e o FMS, bem como

quanto às informações de saída e ao relacionamento com o AP-FD, os EHSI, os

EADI e o FMS;

citar as vantagens do IRS em relação ao INS;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o IRS;

identificar possíveis falhas do IRS;

descrever os procedimentos do piloto em caso de falha do IRS;

caracterizar o ground proximity warning system (GPWS) quanto à finalidade, ao

princípio básico de funcionamento, aos elementos constitutivos e respectivas

funções, às informações de entrada, ao relacionamento com o CADC, o AP

(canal de pitch), o low range radio altimeter (LRRA), os flaps e o landing gear,

bem como quanto às informações de saída;

citar as diferenças básicas existentes entre os diversos modelos de ONS

utilizados;

citar as vantagens da utilização do GPWS;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o GPWS;

identificar possíveis falhas do GPWS;

descrever os procedimentos do piloto em caso de falha do GPWS;

Page 200: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

198

caracterizar o eletronic flight instrument system (EFIS) quanto à finalidade, ao

princípio básico de funcionamento, aos elementos constitutivos e respectivas

funções, às informações de entrada, ao relacionamento com o VOR, o DME, o

LOC, o ADF, o CADC, o LRRA, o G/S, o flight control computer (FCC), o IRS,

o auto-throttle (A/T) e os discretes, bem como quanto às informações de saída;

citar as vantagens do EFIS em relação ao ADI, ao HSI e ao RMI;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o EFIS;

identificar possíveis falhas do EFIS;

descrever os procedimentos do piloto em caso de falha do EFIS;

identificar, nos EHSI, a simbologia utilizada na navegação de área;

caracterizar o auto flight control system (AFCS) quanto à finalidade, ao princípio

básico de funcionamento, aos elementos constitutivos e respectivas funções, às

informações de entrada, ao relacionamento com o compass, o CADC, o VOR, o

LOC, o G/S, o LRRA, o IRS, o A/T, os discretes e o FMS, bem como quanto às

informações de saída e ao relacionamento com os EHSI, os EADI e o FMS;

citar as vantagens do AFCS em relação ao sistema auto-pilot (AP);

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o AFCS;

identificar possíveis falhas do AFCS;

descrever os procedimentos do piloto em caso de falha do AFCS;

caracterizar o performance management system (PMS) quanto à finalidade, ao princípio

básico de funcionamento, aos elementos constitutivos e respectivas funções, às infor-

mações de entrada, ao relacionamento com o sistema pitot-static, a sonda (ou sensor) de

TAT, o motor, os compres-sores de alta e de baixa velocidade (N1 e N2), os discretes, o

sistema de combustível (fuel quantity), a navegação verti-cal (V NAV), o alpha vane, os

flaps, o IRS, o INS, o giro ver-tical, o compass, o VOR, o DME, o radioaltímetro, o

ONS, o pressure controller a altitude alert, o AP (canal de pitch) e o FD, bem como

quanto às informações de saída, ao relacio-namento com os ADI, o indicador de desvio

de velocidade (fast-slow), o indicador de gerenciamento de performance (PMI), o

computador do canal de pitch do AP, o throttle serve motor e o approach progress

display (APD);

citar as vantagens do uso do PMS;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o PMS;

identificar possíveis falhas do PMS;

descrever os procedimentos do piloto em caso de falha do PMS;

caracterizar o flight management system (FMS) quanto à finalidade, ao princípio

básico de funcionamento, aos elementos constitutivos e respectivas funções, às

informações de entrada, ao relacionamento com o relógio, o total fuel, o CADC,

o VOR, o DME, o ILS, o sistema pneumático, o safety relay, o IRS, o EFIS, o

A/T e o AP-FD, bem como quanto às informações de saída e ao relacionamento

com os mach airpeed (indicadores de Mach), os flight mode annunciators

(FMA), os HSI, os compressores de alta veloci-dade (N1), o VOR, o DME, os

EADI, os EHSI e o trust mode annunciator;

Page 201: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

199

caracterizar, quanto à finalidade, o data loader e a fita cassete que contém

informações do NAV DATA;

explicar a aplicação, no FMS, da navegação vertical (V NAV) e da navegação

lateral (L NAV);

citar as vantagens do uso do FMS;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o FMS;

identificar possíveis falhas do FMS;

reconhecer o excesso de confiabilidade no FMS como uma da causas do descuido do

piloto no monitoramento do sistema;

descrever os procedimentos do piloto em caso de falha do FMS;

caracterizar o traffic alert and collision avoidance system (TCAS) quanto à

finalidade, ao princípio básico de funcionamento, aos elementos constitutivos e

respectivas funções, às informações de entrada, ao relacionamento com o

sistema AT (modo S), o radioaltímetro, o DME e o marker beacon, bem como

quanto às informações de saída e ao relacionamento com outro(s) TCAS de

outra(s) aeronave(s);

citar as vantagens do uso do TCAS;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o TCAS;

identificar possíveis falhas do TCAS;

descrever os procedimentos do piloto em caso de falha do TCAS;

Page 202: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

200

ANEXO XI - DESCRIÇÃO DA UNIDADE 4 DO MÓDULO II DO CURSO DE PILOTO DE

LINHA AÉREA HELICÓPTERO – PLA-H

MÓDULO II - TÉCNICAS MODERNAS NOS SISTEMAS DE AERONAVES

Papel do módulo no curso (MMA 58-8 - "MANUAL DE CURSO DE PILOTO DE LINHA

AÉREA - HELICÓPTERO"): Este módulo se destina a fornecer subsídios básicos sobre

fatores de ordem técnica, modernos equipamentos e sistemas que conduzem a um voo mais

seguro, eficiente e econômico.

Unidade 4: Matéria: Aviônica

Unidade (4.1)

discriminar as diferentes bases numéricas utilizadas nas operações do

computador;

distinguir vetor de grandeza vetorial;

reconhecer as aplicações práticas dos vetores na representação de forças,

velocidades e aceleração;

explicar a importância, para a precisão da navegação, da aplicação das

coordenadas geográficas no sistema de navegação ômega (ONS), no sistema de

navegação inercial (INS) e no sistema de referência inercial (IRS);

Unidade (4.2)

definir velocidade e aceleração;

identificar os processos usualmente utilizados para medição de velocidade e de

aceleração;

enunciar as leis de Newton;

enunciar os princípios básicos do raio laser;

identificar as aplicações do raio laser;

Unidade (4.3)

sumariar a evolução ocorrida no campo da eletrônica durante os últimos anos;

explicar a importância da aplicação dos servomecanismos nos sistemas

utilizáveis no helicóptero;

Unidade (4.4)

caracterizar o computador quanto à finalidade;

Page 203: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

201

discriminar as principais fases da evolução do computador;

caracterizar, quanto às suas funções, os diferentes elementos constitutivos

essenciais do computador elementar;

caracterizar hardware, software e programa;

explicar a relação existente entre a segurança de voo e a eficiência do piloto na

inserção de dados de posição no computador;

Unidade (4.5)

caracterizar o sistema de alarme de proximidade do solo (GPWS) quanto à

finalidade, aos elementos constitutivos, ao funcionamento e às vantagens;

explicar a relação existente entre o GPWS e o central air data computer

(CADC), o radioaltímetro, o sistema de navegação VHF e a configuração do

helicóptero para o pouso;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto destinados a manter a

segurança de voo, de acordo com os diferentes sinais emitidos pelo GPWS;

identificar possíveis falhas do GPWS;

descrever o procedimento do piloto em caso de falha do GPWS;

caracterizar o sistema automático de voo (AFCS) quanto à finalidade, aos

subsistemas e ao funcionamento;

caracterizar o sistema de navegação ômega (ONS) quanto à finalidade, aos

elementos constitutivos, ao funcionamento, às vantagens e às desvantagens;

explicar a relação do ONS com os instrumentos de navegação, com o piloto

automático (AP) e com o diretor de voo (FD);

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o ONS;

identificar possíveis falhas do sistema;

descrever o procedimento do piloto em caso de falha do ONS;

caracterizar o sistema de navegação inercial (INS) quanto à finalidade, aos

elementos constitutivos, ao funcionamento e às vantagens;

explicar a relação do INS com os instrumentos de navegação e com o piloto

automático/diretor de voo (AP/FD);

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o INS;

identificar possíveis falhas do INS;

descrever o procedimento do piloto em caso de falha do INS;

caracterizar o sistema de referência inercial (IRS) quanto à finalidade, aos

elementos constitutivos, ao funcionamento e às vantagens;

explicar a relação do IRS com os instrumentos de navegação e com o piloto

automático/diretor de voo;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o IRS;

identificar possíveis falhas do IRS;

descrever o procedimento do piloto em caso de falha do IRS;

Page 204: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

202

caracterizar o sistema eletrônico de instrumentos de voo (EFIS) quanto à

finalidade, aos elementos constitutivos, ao funcionamento e às vantagens;

explicar a relação do EFIS com os instrumentos de navegação e com o piloto

automático/diretor de voo;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o EFIS;

identificar possíveis falhas do EFIS;

descrever o procedimento do piloto em caso de falha do EFIS;

caracterizar o sistema de gerenciamento da performance (PMS) quanto à

finalidade, aos elementos constitutivos, ao funcionamento e às vantagens;

explicar a relação do PMS com o motor, com o piloto automático e com o

diretor de voo;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o PMS;

identificar possíveis falhas do PMS;

descrever o procedimento do piloto em caso de falha do PMS;

caracterizar o sistema de gerenciamento de voo através do computador (FMS)

quanto à finalidade, aos subsistemas, aos elementos constitutivos, ao

funcionamento e às vantagens;

explicar a relação do FMS com os instrumentos de navegação, com o ATS e

com o piloto automático/diretor de voo;

caracterizar navegação vertical e navegação lateral;

explicar a relação existente entre a navegação vertical e o PMS;

descrever resumidamente os procedimentos do piloto para operar o FMS;

identificar possíveis falhas do FMS;

explicar a influência, na segurança de voo, do excesso de confiança no FMS;

descrever o procedimento do piloto em caso de falha do FMS.

Page 205: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

203

GLOSSÁRIO

Page 206: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

204

Acidente Aeronáutico – é toda ocorrência relacionada com a operação de uma aeronave,

havida entre o período em que qualquer pessoa entra na aeronave com a intenção de realizar

um voo até o momento em que todas as pessoas tenham desembarcado, em consequência da

qual, de acordo com RBHA 61:

(1) qualquer pessoa tenha sofrido lesões graves ou morrido, exceto quando as lesões

resultarem de causas naturais ou forem auto ou por outrem infligidas;

(2) a aeronave tenha sofrido danos ou falha estrutural:

(i) afetando adversamente a resistência estrutural, desempenho ou características de voo; ou

(ii) exigindo substituição ou reparos importantes do componente afetado, ou

(3) a aeronave tenha sido considerada desaparecida.

ADF – Automatic Direction Finder: navegação mais antiga e simples ainda em uso na

aviação. Radio receptor instalado no painel dos aviões, que captam ondas de baixa freqüência

não direcionais, entre a faixa 200 a 415 Khz emitidas por um radio farol NDB (No Directional

Beacon) ou ondas de faixas de 560 a 1600 Khz emitidas por uma emissora AM

(Broadcasting). Sendo um instrumento de navegação de não Precisão.

Aviônicos – Conjunto de sistemas eletrônicos a bordo dos aviões. O termo provém de

AVIation electrONICS (eletrônica de aviação). Neste grupo de equipamento incluem-se os

sistemas de navegação e comunicação, Piloto automático, e os sistemas de controlo de voo.

Copiloto – é o piloto, membro da tripulação de uma aeronave, cujas funções são as de

auxiliar o comandante ou piloto em comando durante a operação da aeronave. Não se

enquadram nesta definição os pilotos cuja função a bordo tenha como finalidade o

recebimento de instrução de voo.

DME – Distance Measuring Equipament: equipamento eletrônico, transreceptor que nos

informa a distancia da aeronave em milhas náuticas NM a antena do DME. Sua função é o

medir a distancia da aeronave com a estação que será bloqueada.

FMS – Flight Manegement System: é o sistema que permite o gerenciamento de todas as

informações de voo e controle da aeronave. Aeronaves equipadas com FMS possibilitam aos

pilotos concentrarem-se em aspectos mais pertinentes à operação aérea, proporcionando maior

segurança na atividade aérea.

Page 207: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

205

Glasscockpit – refere-se ao uso de computadores e telas nos painéis de voo nas cabines dos

aviões. Com utilização de sistemas computadorizados e integrados. Usa-se para designer as

cabines de voo das aeronaves que dispõem de displays com instrumentos eletrônicos.

Enquanto nas cabines das aeronaves tradicionais possuem instrumentos analógicos, as

modernas aeronaves as informações de voo são fornecidas pelos Sistemas de gerenciamento

de voo ou Flight Manegemente Systems (FMS), como é mais comumente conhecimento o

computador de voo.

Habilitação de voo – é a autorização associada a uma licença onde são especificadas as

qualificações e respectivas validades, condições especiais, atribuições ou restrições relativas

ao exercício das prerrogativas da referida licença. São averbadas no certificado de habilitação

técnica agregado às licenças indicadas no parágrafo desta seção, e de acordo com os preceitos

estabelecidos neste regulamento, as seguintes habilitações: Habilitação de categoria, de classe

e de tipo, conforme apresentado pelo RBHA 61 Requisitos para conceção de licenças de

pilotos e instrutores de voo.

Horizonte artificial – mostra as variações de atitude de uma aeronave em torno do eixo

transversal (arfagem) e longitudinal (inclinação lateral) e é conseguido através da conexão

mecânica de um giro com a escala de atitude. Na parte superior são gravados graus de

inclinação à esquerda e direita. Normalmente são representados 10º/20º/30º/45º e 90º.

Incidente Aeronáutico – Toda ocorrência associada à operação de uma aeronave que não

chegue a se caracterizar como um acidente aeronáutico, mas que afete ou possa afetar a

segurança da operação.

Licenças de voo – Ninguém pode atuar como piloto em comando ou co-piloto a bordo de

aeronaves civis registradas no Brasil, a menos que seja detentor de uma licença de piloto

expedida em conformidade com este regulamento, na graduação apropriada à função que

desempenha a bordo. São regulas de acordo com o RBHA 61 - Requisitos para conceção de

licenças de pilotos e instrutores de voo.

MCDU - Multifunction Computer Display Unit. É a interface da edição de dados de entrada e

exibição do computador de gerenciamento de voo. O plano de voo e informações sobre o peso

Page 208: Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em

206

e balanceamento é inserido ou recebido via rádio nesta interface. As informações são

calculadas pelo computador de gerenciamento de voo e apresentadas ao piloto.

PFD - Primary flight display – Mostrador primário de voo. Varia de avião para avião, mas é

uma tela no painel do piloto que sempre inclui o horizonte artificial o mostrador do diretor de

voo, o “glide slope” e o desvio de “localizador”, instrumentos utilizados em um procedimento

de aproximação por instrumento. Em algumas aeronaves o FMA (Flight mode annunciator –

modo anunciador de voo) também aparece. Em outros a “fita de velocidade”, o radar altímetro

e até mesmo o ângulo de ataque podem ser exibidos.

Piloto em comando – é o membro da tripulação designado pelo proprietário ou explorador da

aeronave como seu preposto durante todo o voo. Ele deve ser habilitado sem restrições para a

aeronave e a operação a ser conduzida, sendo responsável pela segurança da operação, da

aeronave e das pessoas a bordo.

Sistema Aéreo – Sistema aeronáutico que incorpora os órgãos que controlam, coordenam,

regulam e fiscalizam a aviação no mundo dentre eles: OACI (Organização da Aviação Civil

Internacional), ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), Secretaria de Aviação Civil,

CONAC (Conselho Nacional de Aviação Civil); bem como as empresas aéreas regidas pelos

RBAC 91, 121 e 135.

VOR – Very high-frequency Omnidirectional Ranger: transmissor de frequência muito alta

opera no VHF entre 108.0 ao 117.95 Khz, transmitindo sinais direcionais em todas as

direções sendo mais preciso do que um NDB. Pelo motivo de transmitir sinais VHF o alcance

do VOR é Prejudicado quando ondas de radio não conseguir acompanhar as elevações das

superfícies, quanto mais alto voar a aeronave maior o alcance do VOR.