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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’O S S E RVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Ano LI, número 38 (2.663) Cidade do Vaticano terça-feira 22 de setembro de 2020 Formar os jovens no cuidado da dignidade humana e da casa comum APELO NO ANGELUS NESTE NÚMERO Pág. 2: Discurso a uma delegação do projeto europeu Snapshots from the borders; Um site por semana; pág. 3: Audiência ge- ral de quarta-feira, 16 de setembro; pág. 4: Para contemplar o mundo é preciso entrar nele, por Andrea Monda; Encíclica para todos os irmãos e irmãs, por Andrea Tornielli; pág. 5: Aos participantes no encontro anual da Sociedade internacional de gine- cologia oncológica; pág. 6: Discurso às Comunidades Laudato si’; pág. 7: Prefácio do Papa Francisco ao livro «Per un sapere della pace» (“Por um saber da paz”); pág. 8: Carta da Congregação para o culto divino e a disciplina dos sacramentos; pág. 9: Discurso aos familiares das vítimas da tragédia de Corinaldo (Itália); pág. 10: Em Aparecida, a oração nunca parou; pág. 11: In- formações; Novo embaixador do Iraque apresentou credenciais; pág. 12: Angelus de domingo, 20 de setembro.

Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 OL’ S S E RVATOR E ROMANO · este cuidado à nossa casa comum: à terra e a cada criatura. Todas as formas de vida estão interligadas

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Page 1: Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 OL’ S S E RVATOR E ROMANO · este cuidado à nossa casa comum: à terra e a cada criatura. Todas as formas de vida estão interligadas

Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00

L’O S S E RVATOR E ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suum

EM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Ano LI, número 38 (2.663) Cidade do Vaticano terça-feira 22 de setembro de 2020

Formar os jovens no cuidadoda dignidade humana e da casa comum

APELO NO ANGELUS

NESTE NÚMEROPág. 2: Discurso a uma delegação do projeto europeu Snapshots from the borders; Um site por semana; pág. 3: Audiência ge-ral de quarta-feira, 16 de setembro; pág. 4: Para contemplar o mundo é preciso entrar nele, por Andrea Monda; Encíclica paratodos os irmãos e irmãs, por Andrea Tornielli; pág. 5: Aos participantes no encontro anual da Sociedade internacional de gine-cologia oncológica; pág. 6: Discurso às Comunidades Laudato si’; pág. 7: Prefácio do Papa Francisco ao livro «Per un saperedella pace» (“Por um saber da paz”); pág. 8: Carta da Congregação para o culto divino e a disciplina dos sacramentos; pág. 9:Discurso aos familiares das vítimas da tragédia de Corinaldo (Itália); pág. 10: Em Aparecida, a oração nunca parou; pág. 11: In-formações; Novo embaixador do Iraque apresentou credenciais; pág. 12: Angelus de domingo, 20 de setembro.

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página 2 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 22 de setembro de 2020, número 38

L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suumEM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Cidade do Vaticanoredazione.p ortoghese.or@sp c.va

w w w. o s s e r v a t o re ro m a n o .v a

ANDREA MONDAd i re t o r

Giuseppe Fiorentinov i c e - d i re t o r

Redaçãovia del Pellegrino, 00120 Cidade do Vaticano

telefone +390669899420fax +390669883675

TIPO GRAFIA VAT I C A N A EDITRICEL’OS S E R VAT O R E ROMANO

Serviço fotográfico

telefone +390669884797fax +390669884998p h o t o @ o s s ro m .v a

Assinaturas: Itália - Vaticano: € 58.00; Europa: € 100.00 - U.S. $ 148.00; América Latina, África,Ásia: € 110.00 - U.S. $ 160.00; América do Norte, Oceânia: € 162.00 - U.S. $ 240.00.

Administração: telefone +390669899480; fax +390669885164; e-mail: assinaturas.or@sp c.va

Para o Brasil: Impressão, Distribuição e Administração: Editora Santuário, Televendas:08000160004 ou 00551231042000. E-mail: [email protected]

Publicidade Il Sole 24 Ore S.p.A, System Comunicazione Pubblicitaria, Via Monte Rosa, 91,20149 Milano, [email protected]

Discurso a uma delegação do projeto europeu Snapshots from the borders

As fronteiras não sejam barreiras de divisãomas janelas abertas ao acolhimento

«As fronteiras, desde sempreconsideradas como barreiras de divisão,podem ao contrário tornar-se “janelas”,espaços de conhecimento mútuo, deenriquecimento recíproco, de comunhãona diversidade; lugares nos quais seexperimentam modelos para superar asdificuldades que os recém-chegadosrepresentam para as comunidadesautóctones». Foram os votos do Papano discurso que dirigiu a umadelegação de pessoas comprometidas noprojeto europeu Snapshots from theborders que recebeu em audiência namanhã de 10 de setembro na SalaClementina.

Estimados irmãos e irmãs!Dou as boas-vindas a vós que ade-ristes ao projeto “Snapshots from theb o rd e rs ”. Agradeço ao senhor Salva-tore Martello, presidente da câmaramunicipal de Lampedusa e Linosa,as palavras que me dirigiu em nomede todos. E agradeço também poresta bonita cruz, tão significativa,que trouxestes. Obrigado.

O vosso é um projeto clarividente.O seu objetivo é promover umacompreensão mais profunda da mi-gração, permitindo que as socieda-des europeias deem uma respostamais humana e coordenada aos de-safios da migração contemporânea.A rede de autoridades locais e orga-nizações da sociedade civil, que nas-ceu deste projeto, visa contribuir po-sitivamente para o desenvolvimentode políticas migratórias que respon-dam a esta finalidade.

O atual cenário da migração écomplexo e muitas vezes tem impli-cações dramáticas. As interdepen-dências globais que determinam osfluxos migratórios precisam de serestudadas e melhor compreendidas.Há múltiplos desafios que interpe-lam todos. Ninguém pode ficar indi-ferente às tragédias humanas quecontinuam a verificar-se em diferen-tes regiões do mundo. Entre elas, so-mos frequentemente interpelados pe-las que têm como teatro o Mediter-râneo, um mar de fronteira, mastambém um mar onde as culturas seencontram.

Em fevereiro passado, durante oEncontro — muito positivo — com osBispos do Mediterrâneo, em Bari,recordei que «entre as pessoas maisatribuladas na área do Mediterrâneo,contam-se as que fogem da guerraou deixam a sua terra em busca du-ma vida digna do homem. [...] Esta-mos cientes de que, em vários con-textos sociais, se difundiu um senti-do de indiferença e até de rejeição[...]. A comunidade internacional li-mitou-se às intervenções militares,quando deveria construir instituições

que garantissem oportunidadesiguais e situações onde os cidadãostivessem possibilidades de se encar-regar do bem comum [...]. Ao mes-mo tempo não aceitaremos jamaisque pessoas que procuram por mar aesperança morram sem receber so-corro [...]. Obviamente, a hospitali-dade e uma integração digna sãoetapas dum processo não fácil; masé impensável poder enfrentá-lo le-vantando muros» (D i s c u rs o , 23 de fe-vereiro de 2020).

Face a estes desafios, é evidenteque a solidariedade concreta e a res-

ponsabilidade partilhada, tanto a ní-vel nacional como internacional, sãoindispensáveis. «A atual pandemiapôs em evidência a nossa interde-pendência: estamos todos ligadosuns aos outros, tanto no mal comono bem» (Audiência geral, 2 de se-tembro de 2020). Devemos agir emconjunto, não sozinhos.

Também é essencial mudar a for-ma de ver e narrar a migração: trata-se de colocar no centro pessoas, ros-tos, histórias. Nisto consiste a im-portância de projetos, como aqueleque promoveis, que procuram pro-

por abordagens diferentes, inspira-das na cultura do encontro, que é ocaminho para um novo humanismo.E quando digo “novo humanismo”não o quero dizer apenas como umafilosofia de vida, mas também comouma espiritualidade, como um estilode comportamento.

Os habitantes das cidades e terri-tórios fronteiriços — as sociedades,as comunidades, as Igrejas — estãochamados a ser os primeiros atoresdesta viragem, graças às contínuasoportunidades de encontro que ahistória lhes oferece. As fronteiras,que sempre foram consideradas co-mo barreiras de divisão, ao contrá-rio, podem tornar-se “janelas”, espa-ços de conhecimento recíproco, deenriquecimento mútuo, de comu-nhão na diversidade; podem tornar-se lugares onde se experimentammodelos para superar as dificuldadesque os recém-chegados representampara as comunidades autóctones.

Encorajo-vos a continuar o traba-lho em conjunto pela cultura do en-contro e da solidariedade. Que o Se-nhor abençoe os vossos esforços nes-te sentido, e que Nossa Senhoraproteja a vós e às pessoas a favordas quais trabalhais. Rezo por vós, evós, por favor, não vos esqueçais derezar por mim. Que o Senhor vosabençoe a todos, ao vosso trabalho eaos vossos esforços para ir em frentenesta direção. Obrigado.

Um site por semana

Caritas internationalis

Em primeiro plano, a atualemergência no Líbano. Inaugu-rado em 2000, o website da Ca-ritas internationalis é publicadoem três línguas e foi redefinidovárias vezes, até alcançar atual-mente uma média de cinquentamil utilizadores por mês, origi-nários de mais de 200 países. Osprincipais visitantes do site sãodos Estados Unidos, do Méxicoe da Espanha. O abraço da Con-federação de 162 organizaçõescaritativas, fundada em 1951, cu-jo “comp etente” é o Dicastériopara o serviço do desenvolvi-mento humano integral, não conhece fronteiras e alar-ga-se aos cinco continentes com uma organização que,no momento da manifestação de uma crise, é capaz dese colocar prontamente em ação a favor dos mais frá-geis. Como o Papa Francisco realçou na audiência de27 de maio de 2019, concedida aos participantes na XXIassembleia geral da Caritas internationalis: «Se conside-rássemos a caridade como uma prestação, a Igreja tor-nar-se-ia uma agência humanitária, e o serviço da cari-

dade um seu “departamento logístico”. Mas a Igrejanão é nada disto, é algo diferente e muito maior: é, emCristo, o sinal e o instrumento do amor de Deus pelahumanidade e por toda a criação, nossa casa comum».Uma das páginas mais visitadas de caritas.org é um ar-tigo publicado em 2016, que contém dez perguntas fre-quentes a respeito da migração. E está constantementeentre as três páginas mais lidas do site.

w w w. c a r i t a s . o rg

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número 38, terça-feira 22 de setembro de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 3

Uma revolução pacíficapara curar a casa comum

Abusar da natureza é um um pecado grave

C AT E Q U E S E

Um elogio àqueles «movimentos, associações, grupos populares, que secomprometem para tutelar o próprio território com os seus valores naturais eculturais»; às «realidades sociais nem sempre apreciadas» — aliás por «vezesaté impedidas» — mas que «contribuem para uma revolução pacífica» parapoder «deixar uma herança à futura geração», foi feito pelo Papa Franciscona audiência geral de quarta-feira, 16 de setembro, no Pátio de São Dâmasodo Palácio apostólico do Vaticano. Prosseguindo o ciclo de catequeses sobre otema «Curar o mundo» neste tempo de pandemia, o Pontífice, partindo daleitura bíblica tirada de Génesis 2, 8-9.15, ofereceu uma reflexão sobre «Cu rada casa comum e atitude contemplativa».

para os descobrirmos, precisamosde estar em silêncio, precisamos deouvir, e precisamos de contemplar.Também a contemplação cura a al-ma.

Sem contemplação, é fácil cairnum antropocentrismo desequili-brado e soberbo, o “Eu” no centrode tudo, que sobredimensiona onosso papel como seres humanos,posicionando-nos como dominado-res absolutos de todas as outrascriaturas. Uma interpretação distor-cida dos textos bíblicos sobre acriação contribuiu para esta má in-terpretação, que leva à exploraçãoda terra a ponto de a sufocar. Ex-ploração da criação: este é o peca-do. Julgamos que estamos no cen-tro, pretendendo ocupar o lugar deDeus e assim arruinamos a harmo-nia da criação, a harmonia do de-sígnio de Deus. Tornamo-nos pre-dadores, esquecendo a nossa voca-ção como guardiões da vida. Certa-mente, podemos e devemos traba-lhar a terra para viver e nos desen-volver. Mas trabalho não é sinóni-mo de exploração, e está sempreacompanhado de cuidado: lavrar eproteger, trabalhar e cuidar... Estaé a nossa missão (cf. Gn 2, 15).Não podemos pretender continuara crescer a nível material, sem cui-darmos da casa comum que nosacolhe. Os nossos irmãos e irmãsmais pobres e a nossa mãe terra ge-mem pelos danos e injustiças que

causámos e reclamam outro rumo.Reclamam de nós uma conversão,uma mudança de rumo: cuidartambém da terra, da criação.

É, pois, importante recuperar adimensão contemplativa, ou seja,olhar para a terra, para a criaçãocomo um dom, e não como algo aser explorado para fins lucrativos.Quando contemplamos, descobri-mos nos outros e na natureza algomuito maior do que a sua utilida-de. Eis o cerne do problema: con-templar é ir além da utilidade deuma coisa. Contemplar a belezanão significa explorá-la: contem-plar é gratuidade. Descobrimos ovalor intrínseco das coisas que lhesfoi dado por Deus. Como muitosmestres espirituais nos ensinaram,o céu, a terra, o mar, cada criaturapossui esta capacidade icónica, estacapacidade mística de nos recondu-zir ao Criador e à comunhão coma criação. Por exemplo, Santo Iná-cio de Loyola, no final dos seusExercícios espirituais, convida-nosa “Contemplar para chegar aoamor”, ou seja, a considerar comoDeus olha para as suas criaturas ealegrar-se com elas; a descobrir apresença de Deus nas suas criatu-

ras e, com liberdade e graça, amá-las e cuidar delas.

A contemplação, que nos leva auma atitude de cuidado, não signi-fica olhar para a natureza de fora,como se não estivéssemos imersosnela. Mas estamos dentro da natu-reza, somos parte da natureza. Pelocontrário, partimos do interior, re-conhecendo-nos como parte dacriação, tornando-nos protagonistase não meros espetadores de umarealidade amorfa apenas para serexplorada. Aqueles que contem-plam desta forma sentem-se mara-vilhados não só pelo que veem,mas também porque se sentem par-te integrante desta beleza; e inclu-sive se sentem chamados a preser-vá-la, a protegê-la. E há uma coisaque não devemos esquecer: quemnão sabe contemplar a natureza e acriação, não sabe contemplar aspessoas na sua riqueza. E quem vi-ve para explorar a natureza, acabapor explorar as pessoas e tratá-lascomo escravas. Esta é uma lei uni-versal: se não se sabe contemplar anatureza, será muito difícil sabercontemplar as pessoas, a beleza daspessoas, o irmão, a irmã.

Quem sabe contemplar, mais fa-cilmente se porá em ação para mu-dar o que produz degradação e da-nos à saúde. Comprometer-se-á aeducar e promover novos hábitosde produção e consumo, a contri-buir para um novo modelo de cres-cimento económico que garanta orespeito pela casa comum e o res-peito pelas pessoas. O contemplati-vo em ação tende a tornar-se oguardião do meio ambiente: isto émuito bom! Cada um de nós deveser guardião do meio ambiente, dapureza do meio ambiente, procu-rando conjugar saberes ancestraisde culturas milenares com novosconhecimentos técnicos, de modo aque o nosso estilo de vida seja

Amados irmãos e irmãs, bom dia!Para sair de uma pandemia, é pre-ciso cuidar-se e cuidar uns dos ou-tros. E devemos apoiar aqueles quecuidam dos mais débeis, dos doen-tes e dos idosos. Há o hábito dedeixar os idosos de lado, de osabandonar: isso é mau. Estas pes-soas — bem definidas pelo termoespanhol “c u i d a d o re s ”, aqueles quecuidam dos doentes — desemp e-nham um papel essencial na socie-dade atual, mesmo que muitas ve-zes não recebam o reconhecimentonem a remuneração que merecem.Cuidar é uma regra de ouro danossa condição humana, e trazconsigo saúde e esperança (cf. Enc.Laudato si’ [LS], 70). Cuidar dosdoentes, dos necessitados, dosabandonados: esta é uma riquezahumana e também cristã.

Devemos de igual modo dirigireste cuidado à nossa casa comum:à terra e a cada criatura. Todas asformas de vida estão interligadas(cf. ibid., 137-138), e a nossa saúdedepende da saúde dos ecossistemasque Deus criou e dos quais Ele nosencarregou de cuidar (cf. Gn 2, 15).Por outro lado, abusar deles, é umpecado grave que prejudica, que éprejudicial e que nos deixa doentes(cf. LS, 8; 66). O melhor antídotocontra este mau uso da nossa casacomum é a contemplação (cf. ibid.,85; 214). Mas porquê? Não há vaci-na para isto, para o cuidado da ca-sa comum, para não a pôr de lado?Qual é o antídoto contra a doençade não tomar conta da casa co-mum? É a contemplação. «Quan-do não se aprende a parar a fim deadmirar e apreciar o que é belo,não surpreende que tudo se trans-forme em objeto de uso e abusosem escrúpulos» (ibid., 215). Tam-bém no respeitante ao “descartá-vel”. No entanto, a nossa casa co-mum, a criação, não é um mero“re c u r s o ”. As criaturas têm um va-lor em si mesmas e «refletem, cadauma à sua maneira, um raio da in-finita sabedoria e bondade deDeus» (Catecismo da Igreja Católi-ca, 339). Este valor e este raio deluz divina devem ser descobertos e, CO N T I N UA NA PÁGINA 5

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página 4 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 22 de setembro de 2020, número 38

Para contemplar o mundoé preciso entrar nele

Encíclica para todosos irmãos e irmãs

ANDREA TORNIELLI

«F ratelli tutti» (“Todos irmãos”) éo título que o Papa escolheu pa-ra a sua nova encíclica dedicada,

como se lê no subtítulo, à “fraternidade” eà “amizade social”. O título original emlíngua italiana permanecerá tal — e portan-to sem ser traduzido — em todas as línguasem que o documento for divulgado. Comose sabe, as primeiras palavras da nova “car-ta circular” (este é o significado do termo“encíclica”) inspiram-se no grande Santode Assis de quem o Papa Francisco esco-lheu o nome.

Enquanto esperamos conhecer o conteú-do desta mensagem, que o Sucessor de Pe-dro pretende dirigir a toda a humanidade eque assinará no próximo dia 3 de outubrodiante do túmulo do Santo, nos últimosdias assistimos a debates a propósito doúnico dado disponível, isto é, o título e oseu significado. Dado que se trata de umacitação de São Francisco (que se encontranas Ad m o e s t a ç õ e s , 6, 1: FF 155), o Papa ob-viamente não a modificou. Mas seria ab-surdo pensar que o título, na sua formula-ção, contém alguma intenção de excluirdos destinatários mais de metade dos sereshumanos, ou seja, as mulheres.

Pelo contrário, Francisco escolheu as pa-lavras do Santo de Assis para inauguraruma reflexão com a qual se preocupa mui-to, sobre a fraternidade e a amizade sociale, portanto, tenciona dirigir-se a todas asirmãs e irmãos, a todos os homens e mu-lheres de boa vontade que povoam a terra.A todos, de modo inclusivo e nunca exclu-sivo. Vivemos num tempo marcado porguerras, pobreza, migrações, alterações cli-máticas, crise económica, pandemia: reco-nhecer-nos irmãos e irmãs, ver em quemencontramos um irmão e uma irmã; e paraos cristãos, reconhecer no outro que sofre aface de Jesus, é uma maneira de reafirmara dignidade irredutível de cada ser huma-no criado à imagem de Deus. É tambémuma forma de recordarmos que das dificul-dades correntes nunca poderemos sair sozi-nhos, uns contra os outros, o Norte contrao Sul do mundo, ricos contra pobres.

No passado dia 27 de março, em plenapandemia, o Bispo de Roma rezou pelasalvação de todos numa praça de São Pe-dro vazia, sob a chuva torrencial, acompa-nhado unicamente pelo olhar doloroso doCrucificado de São Marcelo e pelo olharamoroso de Maria Salus Populi Romani.«Com a tempestade — disse Francesco —desfez-se a maquilhagem dos estereótiposcom que mascaramos o nosso “eu” s e m p repreocupado com a própria imagem; e ficoua descoberto, uma vez mais, aquela (aben-çoada) pertença comum a que não nos po-demos subtrair: a pertença como irmãos».O tema central da carta papal é esta“abençoada pertença comum” que nos tor-na irmãos e irmãs.

Fraternidade e amizade social, os temasapontados no subtítulo, indicam o que unehomens e mulheres, um afeto que se esta-belece entre pessoas que não são parentesde sangue e que se exprime através de ges-tos benevolentes, com formas de ajuda eações generosas em momentos de necessi-dade. Um afeto abnegado pelos outros se-res humanos, prescindindo de qualquer di-ferença e pertença. Por este motivo, não épossível que haja interpretações erradasnem leituras parciais da mensagem univer-sal e inclusiva das palavras “Todos ir-mãos”.

“Fratelli tutti”, um texto universal dirigido ao coração de cada pessoa

ANDREA MONDA

Num recente tweet enviadoatravés da conta Pontifex,o Papa Francisco quis re-

cordar que «O crente contemplao mundo não como alguém queestá fora dele, mas dentro, reco-nhecendo os laços com que o Painos uniu a todos os seres».

Apesar da sua necessária brevi-dade, o texto é tão denso que émuito imprudente, com um arti-go de jornal, ter a pretensão deesgotar todo o seu tesouro de sig-nificados escondidos, mas vale apena destacar alguns dos seus as-p etos.

Em primeiro lugar, o Papaconvida-nos a contemplar o mun-do. Isto pode surpreender quemestá habituado a olhar para omundo com sentimentos mistosde medo e desconfiança, que le-vam a atitudes de defesa e de jul-gamento.

Não, não olhar, diz o Papa,mas contemplar. O termo escolhi-do é particular, exato, exigente.Há poucos dias, neste jornal, oteólogo Giovanni Cesare Pagazzirecordou a primeira carta pastoraldo cardeal Martini, há 40 anosnovo arcebispo de Milão, sobre a“dimensão contemplativa da vi-da”, concentrando-se no significa-do etimológico do verbo paraquem «a contemplação é uma ati-vidade que visa o céu, o depois,o além, a profundidade... em re-lação àquilo que normalmente es-tá disponível. O que na vida écomum e diário seria superficial,enquanto que a contemplação as-pira à profundidade ou à altura.Ao contrário, afirmar que a vidaé inteiramente contemplável sig-nifica admitir a profundidade doque emerge na superfície de to-dos os dias».

Este é o ponto de partida tam-bém da redação deste jornal,«L’Osservatore Romano» que,todos os dias, não quer olhar mas“contemplar” o mundo, indoalém do que sobressai na superfí-

cie e procurando ser “inteligen-te”, i n t u s - l e g e re . Deste ponto devista, o projeto que nas próximassemanas levará a um reinício dodiário também na edição em pa-pel, move-se precisamente nestalinha, privilegiando a dimensãodo aprofundamento sobre aquelado simples noticiário.

Portanto, ler dentro, exatamen-te como o Papa pede no seu twe-et. O que significa que «o mun-do não se contempla como al-guém que está fora dele, masdentro»? A imagem, frequente-mente utilizada em função domistério da Igreja, é a dos vitrais:permanecendo fora de uma igrejanão se capta a beleza de um vi-tral, mas entrando na igreja (e naIgreja), os vitrais brilham em to-do o seu esplendor graças à luzque passa através deles. Só en-trando na vida da Igreja é possí-vel apreender toda a sua profun-didade e riqueza, caso contráriocorre-se o risco de a julgar apli-cando categorias que não têm emconsideração esta complexidade ede a reduzir a uma realidade me-ramente humana, sociopolítica, auma “ONG caritativa”, comoFrancisco repetiu frequentemente,desde o início do seu pontificado.Contudo, neste tweet o Papa nãofala da Igreja mas do mundo econvida o crente a atravessá-lo, aentrar nele para o contemplar apartir de dentro. E o crente nãopode deixar de o fazer, não sóporque é o Papa que o pede, masporque foi isto que Deus fez emJesus. É o mistério da Encarna-ção, cerne da fé cristã. Deus nãoficou fora do mundo por Elecriado, não parou para o admirarcomo se fosse um “esp etáculo”,mas mergulhou nele, imergindo-se até ao abismo mais profundo,à morte e à morte de cruz, parafazer resplandecer aquele desíg-nio de amor inscrito no ato dacriação. Projeto de amor consti-tuído pelos “laços” de que o Papafala: laços verticais, entre nós ho-mens e o Pai Criador, e laços ho-rizontais, que nos unem a todos

os seres, em primeiro lugar o laçoda fraternidade. Este é o tema danova carta encíclica do Papa, daqual até agora o mundo conheceapenas as duas primeiras pala-vras, tiradas de uma citação deSão Francisco de Assis: «Fratellitutti» (“Todos irmãos”). Este éum nó, o dos vínculos, centralpara o Papa, que o abordou mui-tas vezes; e também na sua Men-sagem para o dia mundial das co-municações sociais convidou oshomens a redescobrir o gosto pe-la narração de histórias, daqueles“tecidos” que mantêm unidos osfios que ligam todas as existên-cias umas às outras no espaço, as-sim como todas as gerações notemp o.

É sobretudo este o caminho dakenosis de Jesus, que se fez ho-mem e viveu a condição humanaem todas as suas dimensões. Ocrente, a Igreja, são convidados afazer o mesmo; não podem agirde outro modo. É muito signifi-cativo o detalhe que, no Evange-lho de Mateus, Jesus usa o termo“irmãos” para indicar os seusamigos na última página, no fi-nal, depois da sua paixão e mor-te, quando ressuscita e diz: «Idedizer aos meus irmãos que par-tam para a Galileia, lá me verão»(Mt 28, 10). Quer dizer que ser“irmãos/irmãs” não é unicamenteuma condição inicial, uma condi-ção “h e rd a d a ”, dado que todostêm uma origem comum na cria-ção de Deus, mas é inclusive umprocesso, uma meta que deve epode ser conquistada, mas con-tanto que compartilhemos em tu-do, “a partir de dentro”, a vidados outros seres aos quais já esta-mos unidos. Significa carregar acruz (e por conseguinte tambémmorrer) por amor aos outros se-res. Portanto, podemos dizer “ir-mãos/irmãs”, unicamente se tiver-mos contemplado o mundo apartir de dentro, não se tivermosolhado para ele de fora, comoum espetáculo para julgar e tal-vez condenar.

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número 38, terça-feira 22 de setembro de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 5

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 3

sempre sustentável.Por fim, contemplar e cuidar: estas

são duas atitudes que mostram ocaminho para corrigir e reequilibrara nossa relação como seres huma-nos com a criação. Muitas vezes, anossa relação com a criação pareceser uma relação entre inimigos: des-truir a criação em meu benefício;explorar a criação em meu proveito.Não esqueçamos que isto se pagacaro; não esqueçamos aquele ditadoespanhol: “Deus perdoa sempre;nós perdoamos de vez em quando;a natureza nunca perdoa”. Hoje es-tava a ler no jornal sobre aquelesdois grandes glaciares na Antártida,perto do Mar de Amundsen: elesestão prestes a desabar. Será terrí-vel, porque o nível do mar subirá eisto causará muitas, muitas dificul-dades e muito mal. E porquê? Porcausa do sobreaquecimento, pornão se cuidar do meio ambiente,por não se cuidar da casa comum.Por outro lado, quando tivermosesta relação — deixem-me dizer apalavra — “fraterna” no sentido fi-gurativo com a criação, tornar-nos-emos guardiões da casa comum,

guardiões da vida e guardiões daesperança, preservaremos o patri-mónio que Deus nos confiou paraque as gerações futuras o possamdesfrutar. E alguns podem dizer:“Mas, eu safo-me desta maneira”.Mas o problema não é como te sa-fas hoje — isto foi dito por um teó-logo alemão, protestante, compe-tente: Bonhoeffer — o problemanão é como te desenrascas hoje; oproblema é: qual será a herança, avida da geração futura? Pensemosnos filhos, nos netos: que lhes dei-xaremos se explorarmos a criação?Protejamos este caminho para nostornarmos “g u a rd i õ e s ” da casa co-mum, guardiões da vida e da espe-rança. Preservemos o patrimónioque Deus nos confiou, para que asgerações futuras possam usufruirdele. Penso de modo especial nospovos indígenas, com os quais to-dos nós temos uma dívida de grati-dão — até de penitência, para repa-rar o mal que lhes fizemos. Mas es-tou também a pensar nos movimen-tos, associações, grupos populares,que estão comprometidos a tutelaro próprio território com os seus va-lores naturais e culturais. Estas rea-lidades sociais nem sempre são

apreciadas, por vezes são até impe-didas, porque não produzem di-nheiro; mas na realidade contri-buem para uma revolução pacífica,poderíamos chamar-lhe a “re v o l u -ção do cuidado”. Contemplar paracuidar, contemplar para salvaguar-dar, preservar a nós, a criação, osnossos filhos, os nossos netos, e tu-telar o futuro. Contemplar para cui-dar e para preservar e deixar umaherança à futura geração.

Mas não se deve contudo delegara alguns: aquilo que é tarefa de ca-da ser humano. Cada um de nóspode e deve tornar-se um “g u a rd i ã oda casa comum”, capaz de louvar aDeus pelas suas criaturas, de con-templar as criaturas e de as prote-g e r.

No final da catequese, saudando osfiéis, disse aos de língua portuguesa.

Dirijo uma cordial saudação aosfiéis de língua portuguesa. Convidoa cada um a descobrir a presençade Deus nas suas criaturas, apren-dendo sempre mais a amá-las, cui-dá-las e protegê-las. Que Deus vosabençoe a vós e a vossos entes que-ridos!

Uma revolução pacífica para curar a casa comum

Francisco preocupado com o risco de que a dimensão humana do tratamento seja deixada à “boa vontade” de cada médico

O doente é sempre mais que um protocolo clínicoA economia não entre no sector dos cuidados de saúde penalizando a relação com os pacientes

«A pessoa doente é sempre mais —muito mais! — do que o protocolodentro do qual se enquadra sob umponto de vista clínico», realçou o Papano discurso aos participantes noencontro anual da Sociedadeinternacional de ginecologia oncológica,recebidos em audiência a 11 desetembro, na Sala Paulo VI.

Prezados Senhores e Senhoras,bom dia!Saúdo-vos cordialmente e agradeço-vos esta visita por ocasião do encon-tro anual da International GynecologicCancer Society. Isto dá-me a oportu-nidade de conhecer e apreciar o em-penho da vossa Associação em favordas mulheres que enfrentam doençastão difíceis e complexas. Agradeço asaudação do vosso Presidente, Prof.Roberto Angioli, que promoveu estainiciativa.

Sinto-me feliz por receber as re-presentantes de várias associações, es-pecialmente as ex-pacientes, que en-corajam a partilha e o apoio mútuo.No vosso valioso serviço, estais bemconscientes da importância de criarlaços de solidariedade entre doentescom patologias graves, envolvendofamiliares e profissionais de saúdenuma relação de ajuda mútua. Istotorna-se ainda mais valioso quandose confronta com doenças que po-dem comprometer seriamente, ouprejudicar, a fertilidade e a materni-dade. Nestas situações, que têm umprofundo impacto na vida de umamulher, é essencial cuidar, com gran-de sensibilidade e respeito, da condi-

ção — psicológica, relacional, espiri-tual — de cada paciente.

Por esta razão, não posso deixarde encorajar o vosso empenho emconsiderar estas dimensões de cuida-dos integrais, mesmo nos casos emque o tratamento é essencialmentepaliativo. Nesta perspetiva, torna-semuito útil envolver pessoas que sãocapazes de partilhar o percurso dacura, dando uma contribuição deconfiança, esperança e amor. Todossabemos — e também foi demonstra-do — que viver em boas relações aju-da e apoia os doentes ao longo detodo o caminho dos tratamentos,reacendendo ou aumentando a espe-rança. É precisamente a proximidadedo amor que abre as portas à espe-rança, e também à cura.

A pessoa doente é sempre muitomais do que protocolo — muitomais! — dentro do qual ela é enqua-

drada sob um ponto de vista clínico— e deve ser feito —. É prova dissoque quando o doente vê reconhecidaa sua singularidade — a vossa expe-riência pode confirmá-lo — aumentaainda mais a confiança na equipamédica e num horizonte positivo.

É meu desejo, e não tenho dúvi-das de que também é o vosso, quetudo isto não só continue a ser a ex-pressão de um ideal, mas encontrecada vez mais espaço e reconheci-mento dentro dos sistemas de saúde.Frequentemente com razão afirma-seque a relação, o encontro com o pes-soal da saúde, faz parte dos cuidados.Que grande benefício oferece aosdoentes ter a oportunidade de abrirlivremente os seus corações e confiarna sua condição e situação! Tambéma possibilidade de chorar com con-fiança. Isto abre horizontes e ajuda a

curar. Ou, pelo menos, a suportarbem a doença terminal.

No entanto, em termos concretos,como desenvolver esta grande neces-sidade dentro da organização hospi-talar, que está fortemente condicio-nada por exigências de funcionalida-de? Permiti que eu expresse tristezae preocupação sobre o risco bastantegeneralizado de deixar a dimensãohumana do cuidado de pessoasdoentes à “boa vontade” do médico,em vez de a considerar — tal como é— parte integrante da atividade decuidados oferecida pelas estruturasde saúde.

Não se deve permitir que a econo-mia entre de maneira tão prepotenteno mundo dos cuidados médicos, aponto de penalizar aspetos essenciaistais como a relação com os doentes.Neste sentido, são louváveis as vá-rias associações sem fins lucrativosque colocam os doentes no centro,apoiando as suas necessidades equestões legítimas e dando vozàqueles que, devido à fragilidade dasua condição pessoal, económica esocial, não conseguem fazer-se ouvir.

Sem dúvida, a pesquisa requer umforte compromisso económico, isto éverdade. Contudo, penso que se po-de encontrar um equilíbrio entre osvários fatores. No entanto, o primei-ro lugar deve ser dado às pessoas,neste caso às mulheres doentes, mastambém — não esqueçamos — aopessoal que lida com elas diariamen-te, para que possam trabalhar emcondições adequadas, e dispor detempo para descansar e recuperar assuas forças para poderem continuar.

Encorajo-vos a divulgar os valio-sos resultados dos vossos estudos epesquisas no mundo, em benefíciodas mulheres das quais vos ocupais.Mas apesar das suas dificuldades,elas lembram-nos aspetos da vidaque por vezes esquecemos, tais comoa precariedade da nossa existência, anecessidade uns dos outros, a insen-satez da vida centrada apenas emnós mesmos, a realidade da mortecomo parte da própria vida. A con-dição de doença recorda aquela ati-tude decisiva para o ser humano queé confiar-se: confiar-se ao outro ir-mão e irmã, e ao Outro com letramaiúscula que é o nosso Pai celes-tial. Recorda também o valor da p ro -ximidade, de se tornar próximo, comoJesus nos ensina na parábola doBom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37).Quanto, quanto cura uma carícia nomomento certo! Sabeis isto melhordo que eu.

Caros amigos, desejo-vos o me-lhor para o vosso trabalho. Sobrevós e as vossas famílias, sobre osvossos associados e sobre aquelesdos quais cuidais, invoco a bênçãode Deus. Abençoo-vos a todos. To-dos vós, cada um com a própria fé,a própria tradição religiosa. MasDeus é Único para todos. Abençoo-vos a todos. Invoco a bênção deDeus, fonte de esperança, força epaz interior. Asseguro-vos a minhaoração e — dizem que os padres pe-dem sempre! — concluo pedindo-vosque rezeis por mim, porque precisodisto. Obrigado.

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página 6 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 22 de setembro de 2020, número 38

No discurso às Comunidades Laudato si’, o Papa fez votos de que ecologia e equidade prossigam de mãos dadas

A saúde do homemnão pode prescindir daquela do meio ambiente

«A saúde do homem não podeprescindir daquela do ambiente ondevive», reiterou Francisco durante aaudiência aos participantes no encontrodas Comunidades Laudato si’,recebidos a 12 de setembro. CarloPetrini — um dos promotores dainiciativa juntamente com o bispo deRieti, D. Domenico Pompili, quetambém estava na Sala Paulo VI —saudou o Papa em nome dos presentes,ilustrando as linhas-guia domovimento, que hoje está empenhadoem três frentes: a educativa, com «adifusão da encíclica e da educaçãoambiental»; a das «boas e pequenaspráticas quotidianas, que têm um valorincrível»; e a da denúncia, quando«há abusos perpetrados contra a nossamãe terra». Petrini salientou também ovalor da fraternidade universal,lembrando que a fraternidade «semafeto e sem amor» não se torna«substância». Em seguida o discursopronunciado pelo Papa.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!Saúdo-vos e, ao saudar-vos, desejoalcançar todos os membros das Co-munidades Laudato si’ em Itália e emtodo o mundo. Agradeço ao SenhorCarlo Petrini na minha língua pater-na, não materna: “Carlìn”. Colocas-tes a ecologia integral proposta pelaEncíclica Laudato si’ como força mo-triz por detrás de todas as vossasiniciativas. Integral, porque somostodos criaturas e tudo na criação es-tá em relação, tudo está interligado.De facto, ouso dizer, tudo é harmo-nioso. Até a pandemia demonstrouisto: a saúde do homem não podeser separada daquela do meio am-biente em que ele vive. É tambémevidente que as alterações climáticasnão só perturbam o equilíbrio danatureza, mas também causam po-breza e fome, atingem os mais vul-neráveis e por vezes os obriga aabandonar as suas terras. A negli-gência da criação e as injustiças so-ciais influenciam-se reciprocamente:pode dizer-se que não há ecologiasem equidade e que não há equida-de sem ecologia.

Estais motivados a cuidar dos últi-mos e da criação, em conjunto, equereis fazê-lo seguindo o exemplode São Francisco de Assis, commansidão e industriosamente. Agra-deço-vos por isto, e renovo o meuapelo para que vos comprometais asalvaguardar a nossa casa comum.Esta é uma tarefa que diz respeito atodos, especialmente aos responsá-veis pelas nações e pelas atividadesprodutivas. É necessária uma vonta-de real de abordar as causas profun-das das atuais convulsões climáticas.Os compromissos genéricos não sãosuficientes — palavras, palavras... — enão se pode olhar apenas para oconsentimento imediato dos pró-prios eleitores ou financiadores. Épreciso ser clarividente, caso contrá-rio, a história não perdoará. Precisa-mos de trabalhar hoje para o ama-nhã de todos. Os jovens e os pobrespedir-nos-ão contas. Esse é o nossodesafio. Cito uma frase do teólogo

mártir Dietrich Bonhoeffer: o nossodesafio de hoje não é “como nos de-s e n r a s c a re m o s ”, como vamos sairdesta realidade; o nosso verdadeirodesafio é “como poderá ser a vidada próxima geração”: temos de pen-sar nisto!

Caros amigos, agora gostaria departilhar convosco duas palavras-chave da ecologia integral: contem-plação e compaixão.

Contemplação. Hoje, a natureza ànossa volta já não é admirada, con-templada, mas “devorada” To r n á m o -nos vorazes, dependentes do lucro edos resultados imediatos e a qual-quer preço. O olhar sobre a realida-de é cada vez mais rápido, distraído,superficial, enquanto em pouco tem-po se queimam as notícias e as flo-restas. Doentes de consumo. Esta éa nossa doença! Doentes de consu-mo. As pessoas atormentam-se pelaúltima “app”, mas já não sabem osnomes dos seus vizinhos, muito me-nos sabem distinguir uma árvore deoutra. E, o que é mais grave, comeste estilo de vida perdemos as nos-sas raízes, perdemos a gratidão peloque existe e por aqueles que no-loderam. Para não esquecer, é precisovoltar à contemplação; para não serdistraído por mil coisas inúteis, épreciso encontrar o silêncio; paraque o coração não fique doente, épreciso parar. Não é fácil. É necessá-rio, por exemplo, libertar-nos da pri-são do telemóvel, para olhar nosolhos dos que estão ao nosso lado ea criação que nos foi dada.

Contemplar é dedicar tempo ao si-lêncio, à oração, para que a harmo-nia, o equilíbrio saudável entre cabe-ça, coração e mãos, entre pensamen-to, sentimento e ação, regresse à al-ma. A contemplação é o antídoto pa-ra escolhas precipitadas, superficiaise inconclusivas. Aqueles que contem-plam aprendem a sentir o terrenoque os sustenta, compreendem quenão estão sozinhos e sem sentido nomundo. Descobrem a ternura doolhar de Deus e compreendem quesão preciosos. Cada um é importanteaos olhos de Deus, cada um pode

transformar um pequeno mundo po-luído pela voracidade humana naboa realidade desejada pelo Criador.Aqueles que sabem contemplar, defacto, não ficam de braços cruzados,mas fazem algo concreto. A contem-plação leva-os a agir, a fazer.

Eis agora a segunda palavra: com-paixão. É o fruto da contemplação.Como compreender que se é con-templativo, que se assimilou o olharde Deus? Tem-se compaixão pelosoutros — compaixão não é dizer:“Tenho pena de ti...”, compaixão é“sofrer com” — se se vai além dedesculpas e teorias, para ver nos ou-tros irmãos e irmãs a serem protegi-dos. Aquilo que disse Carlo Petrinino final sobre a irmandade. Esta é aprova, porque é isto que o olhar deDeus faz, não obstante o mal quepensamos e fazemos, vê-nos semprecomo filhos amados. Ele não vê in-divíduos, mas filhos, ele vê-nos co-mo irmãos e irmãs de uma única fa-mília, que vivem na mesma casa.Nunca somos estranhos aos seusolhos. A sua compaixão é o opostoda nossa indiferença. A indiferença— permiti que o diga por outras pa-lavras — é aquele desinteresse queentra no coração, na mentalidade, eque termina com um “que se desen-rasque”. A compaixão é o oposto dai n d i f e re n ç a .

Também nos diz respeito: a nossacompaixão é a melhor vacina contraa epidemia da indiferença. “Não mediz respeito”, “não depende demim”, “não tenho nada a ver com oassunto”, “é um problema dele”: es-tes são os sintomas da indiferença.Há uma bela fotografia — já o disseoutras vezes — tirada por um fotó-grafo romano, está na Esmolaria.Numa noite de inverno, vê-se umasenhora de uma certa idade a sair deum restaurante de luxo, usando umcasaco de peles, chapéu, luvas, bemagasalhada, sai depois de ter comidobem — o que não é pecado, comerbem! [riem-se] — e há outra mulherà porta, com uma muleta, mal vesti-da, pode ver-se que ela sente ofrio... uma desabrigada, com a mão

estendida... E a senhora que sai dorestaurante olha para o outro lado.A fotografia chama-se “I n d i f e re n ç a ”.Quando vi a fotografia, chamei o fo-tógrafo para lhe dizer: “Fizeste bemem fotografar isto espontaneamen-te”, e disse-lhe para a colocar na Es-molaria. Para não cair no espírito daindiferença. Em vez disso, quemsente compaixão, passa do “eu nãome importo contigo” para “tu és im-portante para mim”. Ou pelo menos“comoves o meu coração”. Mas acompaixão não é uma sensação agra-dável, não é pena, é criar uma novaligação com o outro. Consiste emocupar-se dele, como o Bom Samari-tano que, movido pela compaixão, to-ma conta do infeliz que nem sequerconhece (cf. Lc 10, 33-34). O mundoprecisa desta caridade criativa e ati-va, pessoas que não ficam na frentede um ecrã a comentar, mas que su-jam as mãos para remover a degra-dação e restaurar a dignidade. Tercompaixão é uma escolha: é escolhernão ter inimigos para ver em cadaum o meu próximo. E isto é uma es-colha.

Não significa tornar-se indolente enão lutar. Pelo contrário, aquelesque têm compaixão entram numadura luta diária contra o descarte e od e s p e rd í c i o , o descarte do próximo eo desperdício de coisas. Dói pensarquantas pessoas são descartadas semcompaixão: idosos, crianças, traba-lhadores, pessoas com deficiência...Mas o desperdício de coisas é tam-bém escandaloso. A FA O do cumen-tou que, nos países industrializados,mais de um bilião de alimentos édeitado fora — mais de um bilião!Esta é a realidade. Ajudemo-nos unsaos outros, em conjunto, a lutar con-tra o descarte e o desperdício; exija-mos escolhas políticas que conju-guem progresso e equidade, desen-volvimento e sustentabilidade paratodos, a fim de que ninguém sejaprivado da terra em que vive, dobom ar que respira, da água que temdireito a beber e dos alimentos quetem direito a comer.

Estou certo de que os membrosde cada uma das vossas comunida-des não se contentarão com viver co-mo espetadores, mas serão sempreprotagonistas mansos e determina-dos na construção do futuro de to-dos. E tudo isto faz fraternidade.Trabalhar com e como irmãos.Construir a fraternidade universal. Eeste é o momento, este é o desafiode hoje. Desejo que alimenteis acontemplação e a compaixão, ingre-dientes indispensáveis da ecologiaintegral. Mais uma vez obrigado pe-la vossa presença e pelo vosso empe-nho. Obrigado pelas vossas orações.Àqueles de vós que rezam, peço-vosque rezeis, e àqueles que não rezam,pelo menos enviai-me boas vibra-ções, preciso delas! [Risos, aplausos]

E agora gostaria de pedir a Deusque abençoe cada um de vós, aben-çoe o coração de todos, crentes ounão, seja qual for a sua tradição reli-giosa. Deus vos abençoe a todos.Amém.

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número 38, terça-feira 22 de setembro de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 7

Francisco recomenda que se invista no estudo e na pesquisa para a formação dos jovens

Peritos em pazatentos aos sinais dos tempos

A Virgem das Dores que choroucom o coração trespassado

a morte de Jesus, agora se compadecedo sofrimento dos pobres crucificados

e das criaturas deste mundoexterminadas pelo poder humano.

# Te m p o D a C r i a ç ã o

(@Pontifex_pt)

«Per un sapere della pace» (“Por um saber da paz”), é o título do livropublicado pela Libreria editrice vaticana (Cidade do Vaticano, 2020, 124páginas) que começa com um prefácio do Papa Francisco. Editado por GilfredoMarengo, vice-decano e professor ordinário de Antropologia teológica no pontifícioInstituto teológico João Paulo II para as ciências do matrimónio e da família, ovolume contém algumas reflexões dedicadas essencialmente ao tema da formaçãode “p a c i f i c a d o re s ” autênticos. Publicamos em seguida o texto do Pontífice queintroduz a publicação.

A mudança de época que a humani-dade vive é habitada por aquela queindiquei várias vezes como «umaterceira guerra mundial em peda-ços». Bem sabemos como o receiode um conflito mundial, capaz dedestruir a humanidade inteira, mar-cou o nosso passado recente. SãoJoão XXIII dedicou a sua última En-cíclica ao tema da paz, dirigindo-a atodos os homens de boa vontade.1 Ecomo deixar de recordar o apelo sin-cero lançado por São Paulo VI à As-sembleia das Nações Unidas: «Ja-mais uns contra os outros, nuncamais!» (4 de outubro de 1965)?

Infelizmente, devemos constatarque hoje o mundo ainda está mergu-lhado num clima de guerra e violên-cia recíproca: esta dolorosa realidadenão só exige que mantenhamos vivoo apelo à paz, mas quase nos obrigaa colocar-nos interrogações decisi-vas.

Por que num mundo onde a glo-balização derrubou tantas fronteiras,onde todos — diz-se — estamos inter-ligados, ainda se continua a praticarviolência nas relações entre os indiví-duos e as comunidades?

Por que quem é diferente de nósmuitas vezes nos assusta, de tal for-ma que tomamos uma atitude de de-fesa e suspeita que demasiadas vezesse torna agressão hostil?

Por que os governos dos Estadosjulgam que mostrar a própria força,até com atos de guerra, pode confe-rir-lhes maior credibilidade aos olhosdos seus cidadãos e aumentar o con-senso de que gozam?

A estas e a outras perguntas nãose pode responder de maneira gené-rica e apressada. É necessário umcompromisso de estudo, é precisoinvestir também a nível da pesquisacientífica e da formação das novasgerações. Foi por estes motivos queconsiderei necessário instituir naPontifícia Universidade Lateranenseum Ciclo de estudos sobre Ciências dapaz, a partir da convicção de que aIgreja é chamada a empenhar-se «nasolução de problemas que afetam apaz, a concórdia, o meio ambiente, adefesa da vida, os direitos humanose civis».2

Neste compromisso «desempenhaum papel central o mundo universi-tário, lugar símbolo daquele huma-nismo integral que tem continua-mente necessidade de ser renovadoe enriquecido, para que saiba pro-duzir uma corajosa renovação cultu-ral que o momento atual exige. Estedesafio interpela inclusive a Igrejaque, com a sua rede mundial deUniversidades eclesiásticas, pode“oferecer o decisivo contributo defermento, sal e luz do Evangelho deJesus Cristo e da Tradição viva daIgreja, sempre aberta a novos cená-rios e propostas”, como recordei re-centemente, reformando o ordena-

mento dos estudos académicos nasInstituições eclesiásticas.3 Sem dúvi-da, isto não significa alterar o senti-do institucional e as tradições con-solidadas das nossas realidades aca-démicas mas, pelo contrário, orien-tar a sua função na perspetiva deuma Igreja mais acentuadamente“em saída” e missionária. Com efei-to, é possível enfrentar os desafiosdo mundo contemporâneo comuma capacidade de resposta ade-quada nos conteúdos e compatívelna linguagem, antes de tudo diri-gindo-se às novas gerações».4

O presente volume oferece umaprimeira revisão de alguns dos cen-tros de interesse deste novo empre-endimento académico. É necessaria-mente interdisciplinar e expressa umfecundo diálogo entre filosofia, teo-logia, direito e história. Estou con-victo de que um aprofundamento ri-goroso destas linhas de investigação,alimentadas também pelas contribui-ções das ciências humanas, poderáfomentar o crescimento de um “sa-ber da paz”, a fim de formar pacifi-cadores verdadeiramente valiosos,prontos a colocar-se em jogo nosmais diversificados âmbitos da vidadas nossas sociedades.

Gostaria de realçar que um bompacificador deve ser capaz de amadu-recer um olhar sobre o mundo e ahistória, que não caia num «“excessode diagnóstico”, que nem sempre éacompanhado por propostas resolu-tivas e realmente aplicáveis».5 Comefeito, trata-se de ir além de umaabordagem puramente sociológica,que tenha a pretensão de abrangertoda a realidade de uma forma neu-tra e assética. Quem deseja tornar-seespecialista em Ciências da Paz temnecessidade de aprender a estaratento aos sinais dos tempos: o gos-to pela investigação científica e peloestudo deve ser acompanhado porum coração capaz de compartilhar«as alegrias e as esperanças, as tris-tezas e as angústias dos homens de

hoje»,6 a fim de saber fazer um ver-dadeiro discernimento evangélico.

Precisamos realmente de homense mulheres bem preparados, dota-dos de todos os instrumentos neces-sários para ler e interpretar as dinâ-micas sociais, económicas e políticasdo nosso tempo. Comprometer-senestes percursos de formação pode-rá ser uma válida ajuda para muitosjovens descobrirem que «a vocaçãolaical é, antes de mais nada, a cari-dade na família, a caridade social ea caridade política: é um compro-misso concreto nascido da fé para aconstrução de uma sociedade nova,é viver no meio do mundo e da so-ciedade para evangelizar as suas di-versas instâncias, fazer crescer a paz,a convivência, a justiça, os direitoshumanos, a misericórdia, e assim es-tender o Reino de Deus no mun-do».7

Estou grato ao Prof. Marengo,que editou este volume, assim comoaos relatores cujas contribuiçõesabrem o caminho para o amadureci-mento deste campo indispensável dainvestigação científica, destinado aalimentar práticas de paz e de con-córdia entre os homens e os povos.

1. Carta enc. Pacem in terris, 11 deabril de 1963.

2. Exort. ap. Evangelii gaudium,65.

3. Cf. Const. ap. Veritatis gaudium,2.

4. Carta ao Cardeal De Donatis,por ocasião da instituição do Curso deestudos sobre “Ciências da Paz”, 12 denovembro de 2018.

5. Exort. ap. Evangelii gaudium,50.

6. Conc. Ecum. Vat. II, Const.Gaudium et spes, 1.

7. Exort. ap. pós-sinodal Christusvivit, 168.

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página 8 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 22 de setembro de 2020, número 38

Carta aos presidentes das Conferências episcopais sobre a celebração da liturgia durante e após a pandemia de Covid-19

«Voltemos com alegriaà Eucaristia!»

A Congregação para o culto divino e adisciplina dos sacramentos enviou aospresidentes das Conferências episcopaisuma carta — divulgada na manhã de12 de setembro — sobre a celebração daliturgia durante e após a pandemia deCovid-19. Publicamos a seguir o texto.

A pandemia causada pelo vírus Co-vid-19 causou transtornos não só nasdinâmicas sociais, familiares, econó-micas, e nos campos da educação edo trabalho, mas também na vida dacomunidade cristã, inclusive na di-mensão litúrgica. A fim de impedir apropagação do vírus, foi necessárioum distanciamento social rígido, queteve repercussões sobre um elementofundamental da vida cristã: «Ondedois ou três estiverem reunidos emmeu nome, Eu estarei no meio de-les» (Mt 18, 20); «Eles perseveravamno ensinamento dos apóstolos, navida em comunidade, na fração dopão e nas orações. Todos os queacreditavam permaneciam unidos econservavam tudo em comum» (At2, 42.44).

A dimensão comunitária tem umsignificado teológico: Deus é a rela-ção de Pessoas na Santíssima Trin-dade; cria o homem na complemen-taridade relacional entre masculino efeminino, porque «não é bom que ohomem esteja só» (Gn 2, 18), coloca-se em relação com o homem e a mu-lher, chamando-os por sua vez à re-lação com Ele: como bem intuiuSanto Agostinho, o nosso coraçãoestá inquieto enquanto não encontraDeus e descansa n’Ele (cf. Confissões,I, 1). O Senhor Jesus deu início aoseu ministério público, convocandoum grupo de discípulos para parti-lhar com Ele a vida e o anúncio doReino; a Igreja nasce deste pequenorebanho. Para descrever a vida eter-na, a Escritura recorre à imagem deuma cidade: a Jerusalém celeste (cf.Ap 21); uma cidade é uma comuni-dade de pessoas que compartilhamvalores, realidades humanas e espiri-tuais fundamentais, lugares, tempose atividades organizadas, concorren-do para a construção do bem co-mum. Enquanto os pagãos edifica-vam templos dedicados apenas à di-vindade, aos quais as pessoas não ti-nham acesso, os cristãos, assim quecomeçaram a gozar da liberdade deculto, construíram imediatamente lu-gares que eram domus Dei et domusecclesiae, onde os fiéis pudessem re-conhecer-se como comunidade deDeus, povo chamado para o culto econstituído em assembleia santa.Portanto, Deus pode proclamar:«Eu sou o vosso Deus, vós sereis omeu povo» (cf. Êx 6, 7; Dt 14, 2). OSenhor permanece fiel à sua Aliança(cf. Dt 7, 9) e por isso Israel torna-se Morada de Deus, lugar santo dasua presença no mundo (cf. Êx 29,45; Lv 26, 11-12). Por isso, a casa doSenhor pressupõe a presença da fa-mília dos filhos de Deus. Ainda ho-je, na oração da dedicação de umanova igreja, o Bispo pede que ela se-ja o que deve ser pela sua natureza:

«[...] seja sempre para todos umlugar santo [...].

Aqui a fonte da graça lave as nos-sas culpas,

a fim de que os teus filhos mor-ram para o pecado

e renasçam para a vida no teu Es-pírito.

Aqui a santa assembleiacongregada em volta do altar,celebre o memorial da Páscoae se alimente no banquete da pa-

lavrae do corpo de Cristo.Aqui ressoe alegremente a liturgia

de louvore a voz dos homens se una aos co-

ros dos anjos;aqui se eleve a ti a prece incessan-

tepela salvação do mundo.Aqui o pobre encontre misericór-

dia,o oprimido obtenha a verdadeira

lib erdadee cada homem goze da dignidade

dos teus filhos,até que todos alcancem a plena

alegriana santa Jerusalém celeste».A comunidade cristã nunca procu-

rou o isolamento e jamais fez daigreja uma cidade de portas fecha-das. Formados para o valor da vidacomunitária e a busca do bem co-mum, os cristãos procuraram inserir-se sempre na sociedade, não obstan-te a consciência acerca da alteridade:estar no mundo sem pertencer aomundo, sem se reduzir a ele (cf.Carta a Diogneto, 5-6). E inclusivena emergência pandémica sobressaiuum grande sentido de responsabili-dade: à escuta e em colaboraçãocom as autoridades civis e os peritos,os Bispos e as suas Conferências ter-ritoriais estavam prontos a tomar de-cisões difíceis e dolorosas, chegandoaté à prolongada suspensão da parti-cipação dos fiéis na celebração daEucaristia. Esta Congregação estáprofundamente grata aos Bispos pe-lo seu compromisso e esforço aoprocurar responder da melhor ma-neira possível a uma situação impre-vista e complexa.

Contudo, assim que as circunstân-cias o permitirem, é necessário e ur-gente voltar à normalidade da vidacristã, que tem o edifício da igrejacomo casa e a celebração da liturgia,de modo particular da Eucaristia,como «a meta para a qual se enca-minha a ação da Igreja e a fonte deonde promana toda a sua força»(Sacrosanctum concilium, 10).

Conscientes de que Deus nuncaabandona a humanidade por Elecriada, e que até as provações maisárduas podem dar frutos de graça,aceitamos o distanciamento do altardo Senhor como um tempo de jejumeucarístico, útil para nos fazer redes-cobrir a sua importância vital, a suabeleza e a sua preciosidade incomen-surável. Mas assim que for possível,é preciso voltar à Eucaristia com ocoração purificado, com enlevo reno-vado, com um desejo crescente deencontrar o Senhor, de estar comEle, de o receber para o levar aos ir-mãos mediante o testemunho de

uma vida cheia de fé, amor e espe-rança.

Este tempo de privação pode pro-porcionar-nos a graça de compreen-der o coração dos nossos irmãosmártires de Abitene (início do séculoIV), que responderam aos seus juízescom serena determinação, até diantede uma sentença de morte certa:«Sine Dominico non possumus». Oabsoluto non possumus (não podemos)e a expressividade de significado doneutro substantivado Dominicum(aquilo que é do Senhor) não podemser traduzidos com uma única pala-vra. Uma expressão extremamenteconcisa sintetiza uma grande riquezade matizes e significados, que hojesão oferecidos à nossa meditação:

—Não podemos viver, ser cristãos,realizar plenamente a nossa humani-dade e os desejos de bem e de felici-dade que habitam o nosso coração,sem a Palavra do Senhor, que na ce-lebração adquire forma tornando-sepalavra viva, dirigida por Deusàqueles que hoje abrem o coração àescuta;

— Não podemos viver como cris-tãos sem participar no Sacrifício daCruz, no qual o Senhor Jesus se en-trega sem reservas para salvar, me-diante a sua morte, o homem queestava morto por causa do pecado; oRedentor associa a si a humanidade,reconduzindo-a ao Pai; no abraço doCrucificado todo o sofrimento hu-mano encontra luz e conforto;

— Não podemos sem o banquete daEucaristia, mesa do Senhor à qualsomos convidados como filhos e ir-mãos para receber o próprio CristoRessuscitado, presente em corpo,sangue, alma e divindade, naquelePão do Céu que nos sustenta nasalegrias e dificuldades da peregrina-ção terrena;

— Não podemos sem a comunidadecristã, a família do Senhor: necessita-mos de encontrar os irmãos que par-tilham a filiação de Deus, a fraterni-dade de Cristo, a vocação e a busca

da santidade e da salvação das suasalmas, na abundante diversidade deidades, histórias pessoais, carismas evo cações;

— Não podemos sem a casa do Se-n h o r, que é a nossa casa, sem os lu-gares santos onde nascemos para afé, onde descobrimos a presençaprovidente do Senhor e encontramoso abraço misericordioso que volta aerguer quantos caíram, onde consa-gramos a nossa vocação ao segui-mento religioso ou ao casamento,onde suplicamos e demos graças,onde nos alegramos e choramos, on-de confiamos ao Pai os nossos entesqueridos que completaram a peregri-nação terrena;

— Não podemos sem o dia do Se-n h o r, sem o Domingo, que confereluz e sentido à sucessão dos dias detrabalho e das responsabilidades fa-miliares e sociais.

Embora os meios de comunicaçãosocial prestem um atendimento va-lioso aos doentes e a quantos nãopodem ir à igreja, e tenham ofereci-do um grande serviço na transmissãoda Santa Missa durante o períodoem que não havia a possibilidade decelebrar em comunidade, nenhumatransmissão é comparável com a par-ticipação pessoal nem pode substi-tuí-la. Aliás, sozinhas, estas transmis-sões correm o risco de nos afastar deum encontro pessoal e íntimo com oDeus encarnado que se ofereceu anós não de modo virtual, mas real-mente, dizendo: «Quem come a mi-nha carne e bebe o meu sangue per-manece em mim e Eu nele» (Jo 6,56). Este encontro físico com o Se-nhor é vital, indispensável, insubsti-tuível. Uma vez identificadas e ado-tadas as medidas concretas para re-duzir ao mínimo o contágio do ví-rus, é necessário que todos retomemo seu lugar na assembleia dos ir-mãos, redescubram a preciosidade ea beleza insubstituíveis da celebra-

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número 38, terça-feira 22 de setembro de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 9

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 8

O Pontífice recebeu os familiares das vítimas da tragédia de Corinaldo

Não há adjetivospara a morte de um filho

«Quando se perde um filho, não háadjetivos. A perda de um filho éimpossível de “adjetivar”. Perdi o filho:o que sou? Não, não sou órfão nemviúvo... E esta é a vossa grandetristeza», disse o Papa — com umacréscimo improvisado ao discursopreparado — ao receber em audiênciaas famílias das seis vítimas datragédia que ocorreu na discoteca deCorinaldo (Itália), na noite de 8 dedezembro de 2018. No final docomovedor encontro — realizado namanhã de 12 de setembro, na Sala doConsistório — o Papa pediu aospresentes que recitassem juntos uma“Av e - Ma r i a ” por Asia, Benedetta,Daniele, Emma, Mattia e Eleonora.

Estimados irmãos e irmãs!Obrigado por terdes vindo partilharcomigo também a vossa dor e ora-ção. Lembro-me que quando a tra-gédia aconteceu, fiquei abalado. Mascom o passar do tempo — e infeliz-mente com a sucessão de muitas, de-masiadas tragédias humanas — c o r re -mos o risco de esquecer. Este encon-tro ajuda a mim e à Igreja a não es-quecer, a conservar no coração, e so-bretudo a confiar os vossos entesqueridos ao coração de Deus Pai.

Cada morte trágica traz consigogrande dor. Mas quando rapta cincoadolescentes e uma jovem mãe, éimenso, insuportável sem a ajuda deDeus. Não entro no mérito das cau-sas que determinaram os acidentesnaquela discoteca onde morreram osvossos familiares. Mas uno-me detodo o coração ao vosso sofrimentoe ao vosso legítimo desejo de justiça.

Também gostaria de vos dizeruma palavra de fé, consolação e es-p erança.

Corinaldo, o lugar da tragédia, si-tua-se num territorio sobre o qualNossa Senhora de Loreto vigia: oseu Santuário não fica longe. E porisso quero — queremos — pensar queela, como Mãe, nunca desviou o seuolhar deles, especialmente naquelemomento de confusão dramática;que os tenha acompanhado com asua ternura. Quantas vezes a invoca-ram na Ave-Maria: “Rogai por nóspecadores, agora e na hora da nossamorte”! E mesmo que naqueles mo-mentos caóticos eles não tenham si-do capazes de o fazer, Nossa Senho-ra não esquece, não esquece as nos-sas súplicas: é Mãe. Ela acompa-

nhou-os certamente ao abraço mise-ricordioso do seu Filho Jesus.

Esta tragédia aconteceu durante anoite, na madrugada de 8 de dezem-bro de 2018, festa da Imaculada. Na-quele mesmo dia, no final da recita-ção do An g e l u s , rezei com o povopelas jovens vítimas, pelos feridos epor vós, familiares. Sei que muitos, acomeçar pelos vossos Bispos, aquipresentes, os vossos sacerdotes e asvossas comunidades, vos têm apoia-do com oração e afeto. A minha ora-ção por vós também continua, e euacompanho-a com a minha bênção.

Quando perdemos um pai ouuma mãe, somos órfãos. Existe um

adjetivo: órfão, órfã. Quando nomatrimónio se perde um cônjuge,quem permanece é viúvo ou viúva.Também neste caso há um adjetivo.Mas quando se perde um filho, nãohá adjetivo. A perda de um filho éimpossível de “adjetivar”. Perdi o fi-lho: o que sou...? Não, eu não souórfão nem viúvo. Perdi um filho.Sem adjetivos. Não existe. E esta é avossa grande tristeza.

Agora gostaria de recitar convoscoa Ave-Maria por Asia, Benedetta,Daniele, Emma, Mattia e Eleonora.

[Ave Maria...][Bênção]

ção, convoquem e atraiam com ocontágio do entusiasmo os irmãos eirmãs desanimados, assustados, hádemasiado tempo ausentes ou dis-traídos.

Este Dicastério tenciona reiteraralguns princípios e sugerir determi-nadas linhas de conduta, para pro-mover um regresso rápido e seguro àcelebração da Eucaristia.

A devida atenção às normas de hi-giene e de segurança não pode levarà esterilização dos gestos e dos ritos,à indução, até inconsciente, do me-do e da insegurança nos fiéis.

Confia-se na ação prudente masfirme dos Bispos, para que a partici-pação dos fiéis na celebração da Eu-caristia não seja reduzida pelas auto-ridades públicas a uma “aglomera-ção” nem comparável ou até subor-dinável a formas de agregação re-c re a t i v a s .

As normas litúrgicas não são ma-téria sobre a qual possam legislar asautoridades civis, mas apenas ascompetentes autoridades eclesiásticas(cf. Sacrosanctum concilium, 22).

A participação dos fiéis nas cele-brações deve ser facilitada, mas semexperimentações rituais improvisadase no pleno respeito pelas normas,contidas nos livros litúrgicos, que re-gulam a celebração. Na liturgia, ex-periência de sacralidade, de santida-de e de beleza que transfigura, ante-goza-se a harmonia da bem-aventu-rança eterna: portanto, deve-se cui-dar da dignidade dos lugares, dosobjetos sagrados, das modalidadesda celebração, de acordo com as in-dicações fidedignas do Concílio Va-ticano II: «Brilhem os ritos pela suanobre simplicidade» (S a c ro s a n c t u mconcilium, 34).

Que, segundo as modalidadesprevistas, aos fiéis seja reconhecido odireito de receber o Corpo de Cristoe de adorar o Senhor presente naEucaristia, sem limitações que vãoaté além do que está previsto pelasnormas de higiene emanadas pelasautoridades públicas ou pelos Bis-p os.

Na celebração eucarística os fiéisadoram a presença de Jesus Ressus-citado; e vemos que com grande fa-cilidade se perde o sentido da adora-ção, a prece de adoração. Pedimos

aos Pastores que, nas suas cateque-ses, insistam sobre a necessidade daadoração.

Um princípio seguro para não er-rar é a obediência. Obediência àsnormas da Igreja, obediência aosBispos. Em tempos de dificuldade(por exemplo, pensemos nas guer-ras, nas pandemias), os Bispos e asConferências episcopais podem esta-belecer regulamentos provisórios aosquais se deve obedecer. A obediên-cia salvaguarda o tesouro confiado àIgreja. Estas medidas ditadas pelosBispos e Conferências episcopais ca-ducam quando a situação voltar ànormalidade.

A Igreja continuará a amparar apessoa humana na sua totalidade.Ela dá testemunho da esperança,convida a confiar em Deus, recordaque a existência terrena é importan-te, mas muito mais importante é avida eterna: partilhar a própria vidacom Deus para a eternidade é a nos-sa meta, a nossa vocação. Esta é a féda Igreja, testemunhada ao longodos séculos por plêiades de mártirese de santos, um anúncio positivoque liberta de reducionismos unidi-mensionais, das ideologias: à devida

preocupação pela saúde pública, aIgreja une o anúncio e o acompa-nhamento rumo à salvação eternadas almas. Portanto, continuemos aconfiar-nos firmemente à misericór-dia de Deus, a invocar a intercessãoda Bem-Aventurada Virgem Maria,salus infirmorum et auxilium christia-norum, por todos aqueles que sãoduramente provados pela pandemiae qualquer outra aflição; persevere-mos na oração por quantos deixa-ram esta vida; e, ao mesmo tempo,renovemos o propósito de ser teste-munhas do Ressuscitado e anuncia-dores de uma esperança segura, quetranscende os limites deste mundo.

Vaticano, 15 de agosto de 2020,Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria.

Na Audiência concedida a 3 desetembro de 2020 ao abaixo assina-do Cardeal Prefeito da Congregaçãopara o Culto Divino e a Disciplinados Sacramentos, o Sumo PontíficeFrancisco aprovou a presente Cartae determinou a sua publicação.

Robert Cardeal SarahP re f e i t o

Prot. n.432/20

Carta aos presidentes das Conferências episcopaissobre a celebração da liturgia durante e após a pandemia de Covid-19

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página 10 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 22 de setembro de 2020, número 38

Em viagem pelos grandes santuários que em todo o mundo devem confrontar-se com a pandemia

Em Aparecida, a oração nunca parouAviso: a viagem que estamos prestes a fazer pode ter alguns efeitos secundá-rios. E até algumas surpresas. Porque descobrir como a pandemia está a mu-dar profundamente a vida dos santuários em todo o mundo e como tem for-çado as peregrinações a mudar de forma e consistência, pode causar algumpequeno transtorno, alguma compreensível desilusão. Mas não irá certamen-te obscurecer a esperança e o otimismo gerados pelo conhecimento de quemilhões de fiéis não abandonaram as pequenas ou grandes comunidades aoredor destes lugares santos, apoiando-as de todas as formas e com todos osmeios. Mesmo estando a distâncias siderais uns dos outros. Das Américas àEuropa, passando pela Ásia, os santuários que visitaremos procurarão contaro impacto do vírus no seu acolhimento, na sua pastoral, na sua precária eco-nomia. E eles tentarão desenhar um possível futuro próximo. A primeiraetapa é o Brasil.

FEDERICO PIANA

No Estado de São Paulo existe omunicípio de Aparecida, com apenas35 mil habitantes. Ali ergue-se ma-jestosamente a basílica de Nossa Se-nhora Aparecida, padroeira do país.De acordo com os dados mais recen-tes, a estrutura detém a primazia deum dos santuários mais visitados domundo: antes da crise sanitária, 13milhões de peregrinos atravessavamtodos os anos o seu limiar. Numúnico fim de semana, registavam-se200.000. As celebrações eucarísticaseram muito participadas, numa igre-ja onde até 20 mil fiéis podiam as-sistir à Santa Missa. «Hoje tudo setornou um deserto», admite o padreJosé Ulysses da Silva, porta-voz dosantuário. «Já não podemos permitir— explicou desolado — a chegada deperegrinações organizadas. Agora,com a reabertura após o confina-mento e no respeito do protocolopara a saúde, podemos acolher nomáximo mil peregrinos por dia. Umnúmero verdadeiramente simbólico,de mera representação».

Em vez dos milhares de autocar-ros de fiéis, muitas vezes estrangei-ros, o santuário voltou a encher-sede famílias locais, que redescobrirama oração e a participação nos sacra-mentos. As grandes peregrinações,no entanto, não serão realizadas du-rante muito tempo, talvez possamrecomeçar por completo com a che-gada de uma vacina eficaz. Entretan-to, são precisamente os responsáveispelo santuário que desencorajam a

chegada de grupos organizados:«Fazemo-lo — disse o porta-voz dosantuário — pedindo a todos aquelesque gostariam de vir, que rezem on-de estão, que não se ponham a ca-minho para chegar a Aparecida. Nóssacerdotes temos medo, não nos sen-timos seguros em acolher tanta gentee não queremos que os nossos fiéissofram qualquer dano». A única for-ma de responder às necessidades es-pirituais dos peregrinos continua aser a utilização dos meios de comu-nicação do santuário, que durante olockdown se demonstraram os ins-trumentos ideais para acompanhar,apoiar e encorajar. «Durante o lock-down — explicou José Ulysses daSilva — as celebrações foram trans-mitidas pela nossa televisão, rádio eredes sociais: a participação do povoaumentou vertiginosamente. Naque-le momento, para permitir a partici-pação de todos, multiplicámos asmissas».

A festa da Virgem de Aparecida,que será celebrada a 12 de outubropróximo e que está no coração detodos os brasileiros, será realizadasobretudo de forma virtual, mesmoque seja permitida uma pequenaparticipação física no santuário. Nes-te caso, prevê-se que as redes sociaisvão ser literalmente invadidas por-que a oração, neste tempo dramáti-co, nunca diminuiu. «Pelo contrário— afirmou José Ulysses da Silva —aumentou. As pessoas sentem a pre-sença viva de Nossa Senhora. A Vir-gem de Aparecida sempre foi vistacomo Nossa Senhora dos pobres,

dos negros, do povo atingido pelasdificuldades da vida. E ninguém ja-mais pensou que a pandemia fosseum castigo divino. As pessoas vêmao santuário para agradecer a NossaSenhora e para mostrar confiançanela». Uma confiança sem limites,se calcularmos que todos os dias hácentenas de intenções de oração quemuitas pessoas enviam para o san-tuário, também por telefone, que to-ca incessantemente mesmo durante anoite. Os sacerdotes, para estaremainda mais próximos dos fiéis, cele-bram semanalmente uma missa pararecordar as vítimas da pandemia eaqueles que não puderam ter umadigna sepultura por causa do confi-namento. Um momento muitoaguardado e apreciado.

A propagação do vírus está tam-bém a mudar a dimensão social eeconómica do santuário e da cidadede Aparecida. Ambos vivem das re-ceitas geradas pelas peregrinações ea sua inatividade prolongada está alançar grandes sectores numa criseprofunda: dos hotéis aos transportes,dos restaurantes às simples lojas delembranças. Só a basílica empregamais de 2.000 pessoas, um terço dasquais se encontra agora em casa.«Não poderíamos fazer de outromodo, comentou José Ulysses daSilva, perdemos as ofertas dos pere-grinos e as nossas lojas internas es-tão fechadas. Um drama para muitasfamílias que vivem apenas disto».

Para não fazer precipitar a situa-ção, há os devotos que, de todo omundo, aliviam o sofrimento econó-mico do santuário com as suas ofer-tas. José Ulysses da Silva relatou:«Graças a Deus, permaneceram mui-to fiéis e estão a ajudar-nos. São elesque nos permitem manter a rádio ea televisão e apoiar os colaborado-res. Sem este grande empenho, nãopoderíamos fazer nada».

No final da primeira etapa destaviagem aos santuários do mundoatingidos pela violência do vírus, umdado parece incontroverso: se a or-ganização e a estrutura da basílicade Nossa Senhora Aparecida tevenecessariamente de se curvar às alte-radas necessidades sanitárias, não foipor causa da sua essência íntima, àqual permaneceu fiel. O aumento daoração, da solidariedade, da compai-xão e do apoio mútuo, é testemunhode como o santuário está a sair vito-rioso da batalha contra a pandemia.Uma batalha difícil mas sem dúvidanão impossível que certamente tam-bém diz respeito a outros lugaressantos que procuraremos narrar. Aviagem continua.

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número 38, terça-feira 22 de setembro de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 11

INFORMAÇÕES

AudiênciasO Papa Francisco recebeu em audiên-cias particulares:

No dia 10 de setembroOs Senhores Cardeais Luis Francis-co Ladaria Ferrer, Prefeito da Con-gregação para a Doutrina da Fé;Jean-Claude Hollerich, Arcebispo deLuxemburgo (Luxemburgo), Presi-dente da Comissão dos Episcopadosda União Europeia (COMECE); e An-tonio María Rouco Varela, Arcebis-po Emérito de Madrid (Espanha); eD. Bertram Johannes Meier, Bispode Augsburg (Alemanha).

No dia 11 de setembroSua Ex.cia o Senhor Rahman FarhanAbdullah Al-Ameri, Embaixador doIraque, para a apresentação das Car-tas Credenciais.O Senhor Cardeal Lorenzo Baldisse-ri, Secretário-Geral do Sínodo dosBispos; e D. Adriano Bernardini,Núncio Apostólico.Sua Ex.cia o Senhor Joseph KojoAkudibillah, Embaixador do Gana,em visita de despedida.

No dia 12 de setembroO Senhor Cardeal Marc Ouellet,Prefeito da Congregação para osBispos; e D. Jean-Cripin KimbeniKi Kanda, Bispo Titular Eleito deDragonara, Auxiliar de Kinshasa(República Democrática do Congo),com os Familiares.

No dia 14 de setembroD. Giorgio Demetrio Gallaro, Arce-bispo Titular de Tricala, Secretárioda Congregação para as IgrejasO rientais.

RenúnciasO Sumo Pontífice aceitou a renúncia:

A 10 de setembroDe D. Denis Wiehe, C.S.S.p., ao go-verno pastoral da Diocese de PortVictoria o Seychelles (Seychelles).

A 14 de setembroDe D. Ioannis Spiteris, O.F.M. Cap.,ao governo pastoral da ArquidioceseMetropolitana de Corfu, Zante eCefalónia, e ao cargo de Administra-

dor Apostólico “ad nutum SanctaeSedis” do Vicariato Apostólico deThessaloniki (Grécia).

A 15 de setembroDo Senhor Cardeal Lorenzo Baldis-seri, ao cargo de Secretário-Geral doSínodo dos Bispos.De D. Felipe Padilla Cardona, aogoverno pastoral da Diocese de Ciu-dad Obregón (México).

NomeaçõesO Santo Padre nomeou:

No dia 10 de setembroBispo da Diocese de Port Victoria oSeychelles (Seychelles), D. AlainHarel, até esta data Vigário Apostó-lico de Rodrigues (Maurícia).

No dia 11 de setembroBispo da Diocese de Gweru (Zimbá-bue), D. Rudolf Nyandoro, até ago-ra Bispo de Gokwe.Bispos Auxiliares da ArquidioceseMetropolitana de Chicago (EstadosUnidos da América):— o Rev.do Pe. Jeffrey S. Grob, doclero da mesma Sede, até hoje Vigá-rio Judicial, simultaneamente eleitoBispo Titular de Abora.

D. Jeffrey S. Grob nasceu a 19 demarço de 1961, em Madison, Wiscon-sin (EUA), e foi ordenado Sacerdote nodia 23 de maio de 1992.

— o Rev.do Pe. Kevin M. Bir-mingham, do clero da mesma Sede,até à presente data Secretário admi-nistrativo do Senhor Cardeal BlaseJ. Cupich, Arcebispo Metropolitano

de Chicago, simultaneamente eleitoBispo Titular de Dolia.

D. Kevin M. Birmingham nasceuno dia 10 de outubro de 1971, em OakLawn, Arquidiocese de Chicago (EUA),e recebeu a Ordenação sacerdotal em24 de maio de 1997.

— o Rev.do Pe. Robert J. Lombardo,C.F.R., Membro da Congregação dosFranciscan Friars of the Renewal, atéagora Vigário forâneo do DecanatoIII-A e Diretor do «Our Lady of theAngels Mission Center» em Chica-go, simultaneamente eleito Bispo Ti-tular de Munatiana.

D. Robert J. Lombardo, C.F.R., nas-ceu a 4 de setembro de 1957, emStamford, Diocese de Bridgeport, Con-necticut (EUA). Emitiu os votos perpé-tuos na ordem dos Frades menores ca-puchinhos em 1986 e foi ordenadoPresbítero no dia 12 de maio de 1990.

No dia 12 de setembroBispo da Diocese de Bougainville(Papua-Nova Guiné,) D. DariuszPiotr Kałuża, M.S.F., até agora Bispode Goroka.Bispo da Diocese de Querétaro(México), D. Fidencio López Plaza,até esta data Bispo de San AndrésTu x t l a .No dia 14 de setembroArcebispo Metropolitano de Corfu,Zante e Cefalónia, e AdministradorApostólico do Vicariato Apostólicode Thessaloniki (Grécia), o Rev.do

Pe. Georgios Altouvas, até hoje Pá-roco da Catedral de São Dionísio,em Atenas.

D. Georgios Altouvas nasceu emAtenas, na Grécia, no dia 28 de setem-bro de 1973 e recebeu a Ordenaçãopresbiteral a 3 de outubro de 1998.

No dia 15 de setembroSecretário-Geral do Sínodo dos Bis-pos, D. Mario Grech, Bispo Emérito

da Diocese de Gozo, até hoje Pró-Secretário-Geral do Sínodo.Bispo da Diocese de Ciudad Obre-gón (México), D. Rutilo Felipe Po-zos Lorenzini, até à presente dataBispo Titular de Satafis e Auxiliarde Puebla.Administrador Apostólico “sede va-cante” da Diocese de Nikopol (Bul-gária), o Rev.mo Mons. Strahil Vese-linov Kavalenov, até agora Vigário-Geral da mesma Circunscrição.

Prelados falecidosAdormeceu no Senhor:

A 14 de setembroD. Petko Jordanov Christov, da Or-dem dos Frades Menores Capuchi-nhos, Bispo da Diocese de Nikopol,na Bulgária.

O saudoso Prelado nasceu no dia 9de outubro de 1950, em Velchevo, Dio-cese de Nikopol (Bulgária). Foi orde-nado Sacerdote em 15 de outubro de1985 e recebeu a Ordenação episcopala 6 de janeiro de 1995.

Igrejas Orientais Católicas

O Sínodo dos Bispos da Igreja Pa-triarcal de Antioquia dos Sírios ele-geu Exarca de Baçorá e Golfo, naIraque, o Rev.do Pe. Firas Mundher,DRDR, a quem o Santo Padre tinhaconcedido o seu Consentimento, si-multaneamente eleito Bispo Titularde Tagritum, Takrit dos Sírios.

D. Firas Mundher, DRDR, nasceuem Qaraqosh (Iraque), a 3 de janeirode 1975, e foi ordenado Sacerdote nodia 30 de abril de 2009.

Início de missãode núncio apostólico

De D. Celestino Migliore, ArcebispoTitular de Canosa, na França (27 deagosto).

Novo embaixador do Iraqueapresentou credenciais

A 11 de setembro, o Papa Franciscorecebeu Sua Excelência o senhorRahman Farhan Abdullah Al-Ameri,novo embaixador do Iraque,por ocasião da apresentação das cartascom as quais é acreditadojunto da Santa Sé

Sua Excelência o senhor Rahman Farhan AbdullahAl-Ameri, novo embaixador do Iraque junto da SantaSé, nasceu em Diyala a 1 de janeiro de 1962.

É casado. Licenciou-se em química na Universida-de estatal de Bagdad (1983) e ensinou essa disciplinaaté 1986. Desempenhou, entre outros, os seguintescargos: funcionário administrativo, primeiro no minis-tério da Juventude e do Desporto (2004-2005) e de-pois no ministério dos Negócios estrangeiros (2005-

2006); diplomata da embaixada em Mascate, Omã(2006-2010); diretor da secção do Golfo Pérsico eMédio Oriente e depois vice-diretor do departamentopara os Países Árabes no ministério dos Negócios es-trangeiros (2010-2014); cônsul-geral em Manchester,Reino Unido (2014-2018); vice-diretor e depois dire-tor do departamento para as Organizações e Con-gressos internacionais no ministério dos Negócios es-trangeiros (2018-2020).

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página 12 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 22 de setembro de 2020, número 38

Formar os jovensno cuidado da dignidadehumana e da casa comum

Apelo do Pontífice

ANGELUS

«As novas gerações sejam formadas para o cuidado da dignidade humana eda casa comum». No final do Angelus de domingo, 20 de setembro, data emque na Itália se celebrava o Dia da universidade católica do SagradoCoração, o Papa manifestou este desejo, encorajando o trabalho de formaçãolevado a cabo por esta instituição académica. Precedentemente, o Santo Padrepropôs aos fiéis reunidos na praça de São Pedro uma reflexão sobre o trechoevangélico da liturgia dominical (Mt 20, 1-16), dedicado à parábola dostrabalhadores da vinha.

Também as nossas comunidadessão chamadas a sair dos vários ti-pos de “f ro n t e i r a s ” que possamexistir, para oferecer a todos a pa-lavra de salvação que Jesus veiotrazer. É uma questão de aberturaa horizontes de vida que ofereçamesperança àqueles que estão esta-cionados nas periferias existenciaise ainda não experimentaram, ouperderam, a força e a luz do en-contro com Cristo. A Igreja deveser como Deus: sempre em saída; equando a Igreja não está em saída,adoece com os tantos males que te-mos na Igreja. E por que há estasdoenças na Igreja? Porque não estáem saída. É verdade que quandosaímos há o perigo de um acidente.Mas é melhor uma Igreja acidenta-da, por sair, por anunciar o Evan-gelho, do que uma Igreja que estádoente por fechamento. Deus saisempre, porque é Pai, porque ama.A Igreja deve fazer o mesmo: sem-pre em saída.

A segunda atitude do proprietá-rio, que representa a de Deus, é asua forma de re c o m p e n s a r os traba-lhadores. Como paga Deus? Oproprietário concorda «um dená-rio» (v. 2) com os primeiros traba-lhadores contratados pela manhã.

Àqueles que começaram mais tar-de, ele diz: «tereis o salário que forjusto» (v. 4). No final do dia, o do-no da vinha manda dar a todos omesmo pagamento, ou seja, um de-nário. Aqueles que trabalharamdesde a manhã ficam indignados elamentam-se contra o proprietário,mas ele insiste: quer dar a máximarecompensa a todos, mesmo aosque chegaram por último (vv. 8-15).Deus paga sempre o máximo: nãopaga só metade. Paga tudo. E aquicompreende-se que Jesus não falado trabalho nem do salário justo,que é outro problema, mas do Rei-no de Deus e da bondade do Paiceleste que continuamente sai paraconvidar e paga o máximo a todos.

De facto, Deus comporta-se des-ta forma: não olha para o temponem para os resultados, mas para adisponibilidade, olha para a gene-rosidade com a qual nos colocamosao Seu serviço. A sua ação é maisdo que justa, no sentido de que vaialém da justiça e manifesta-se naG ra ç a . Tudo é Graça. A nossa sal-vação é Graça. A nossa santidade éGraça. Ao conceder-nos a Graça,Ele dá-nos mais do que merecemos.E assim, quem raciocina com lógi-ca humana, isto é, a de mérito ad-quirido com a própria habilidade,de primeiro torna-se último. “Mas,trabalhei tanto, fiz tanto na Igreja,ajudei tanto, e sou pago da mesmaforma que este que veio por últi-mo”. Recordemos quem foi o pri-meiro santo canonizado na Igreja:o Bom Ladrão. Ele “roub ou” oCéu no último momento da sua vi-da: isto é Graça, assim é Deus.Também com todos nós. Por outrolado, aqueles que procuram pensarnos próprios méritos falham; aque-les que humildemente se confiam àmisericórdia do Pai, de últimos, —como o Bom Ladrão — acabam porser os primeiros (cf. v. 16).

Que Maria Santíssima nos ajudea sentir todos os dias a alegria e aadmiração de sermos chamadospor Deus a trabalhar para Ele, no

Seu campo que é o mundo, na Suavinha que é a Igreja. E ter comonossa única recompensa o seuamor, a amizade com Jesus.

No final da prece mariana, antes defalar sobre o Dia da universidadecatólica, o Papa Francisco exortou ospastores e fiéis húngaros a preparar-se espiritualmente para o Congressoeucarístico internacional, que deveriarealizar-se em Budapeste nestes dias,mas devido à pandemia foi adiadopara o próximo ano.

Queridos irmãos e irmãs!De acordo com os programas feitosantes da pandemia, nos dias passa-dos deveria ter sido realizado oCongresso Eucarístico Internacio-nal em Budapeste. Por esta razão,desejo dirigir as minhas saudaçõesaos Pastores e fiéis da Hungria e atodos aqueles que esperavam comfé e alegria por este evento eclesial.O Congresso foi adiado para opróximo ano, de 5 a 12 de setem-bro, novamente em Budapeste.Continuemos, unidos espiritual-mente, o caminho de preparação,encontrando na Eucaristia a fonteda vida e da missão da Igreja.

Hoje, em Itália, é o dia da Uni-versidade Católica do Sagrado Co-ração. Encorajo o apoio a esta im-portante instituição cultural, cha-mada a dar continuidade e novovigor a um projeto que tem sidocapaz de abrir as portas do futuroa muitas gerações de jovens. É im-portante como nunca que as novasgerações sejam formadas para cui-dar da dignidade humana e da ca-sa comum.

Saúdo todos vós, romanos e pe-regrinos de vários países: famílias,grupos paroquiais, associações efiéis.

Desejo a todos bom domingo.Por favor, não vos esqueçais de re-zar por mim. Bom almoço e até àvista.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!A página do Evangelho de hoje(cf. Mt 20, 1-16) narra a parábolados trabalhadores contratados aodia pelo dono da vinha. Atravésdesta narração, Jesus mostra-nos asurpreendente maneira de agir deDeus, representada por duas atitu-des do proprietário: a chamada e are c o m p e n s a .

Primeiro a chamada. Cinco vezeso proprietário de uma vinha vai àpraça e chama para trabalhar paraele: às seis, nove, doze, três e cincoda tarde. É comovedora a imagemdeste proprietário que vai várias ve-zes à praça à procura de trabalha-dores para a sua vinha. Esse pro-prietário representa Deus que cha-ma todos e chama s e m p re , a toda ahora. Deus também age desta for-ma hoje: Ele continua a chamar to-dos, a qualquer hora, e convida atrabalhar no Seu Reino. Este é oestilo de Deus, que por nossa vezsomos chamados a aceitar e imitar.Ele não está fechado no seu mun-do, mas “sai”: Deus está sempreem saída, à nossa procura; Ele nãoestá fechado: Deus sai. Ele sai con-tinuamente à nossa procura, por-que não quer que ninguém seja ex-cluído do seu desígnio de amor.