Upload
others
View
2
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
E^t^^^^^^^^^J^^^S^^^^^^^^^^^^J^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^A^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^B^^^^^^^^^M S^^^^^^^^^^^^^^^^^^L^^^^^^Sjj
Foi há precisamente oitoanos que milhares de jovens
saíram às ruas a pedirmelhores salários e menos
precariedadeSARA MATOS
Mudam-seos temposmas poucose mudamas oportunidades
Há menos desemprego entre os jovens, há mais populaçãocom ensino superior, mas os problemas de 201 1 estão longede estar resolvidos. Docente de direito da Universidade deLisboa explica porque são necessários mais gritos dos jovens
CARLOS DIOGO SANTOScarlos.santos(í£wnline.pt
Quando há oito anos o país parou commilhares nas ruas a gritar por mais e
melhores oportunidades a esperança eraa de que tudo mudasse. Para melhor. A
Geração à Rasca pedia emprego estável,melhores salários e mais educação. Nemtudo foi conseguido e nem as alteraçõeslegislativas acabaram com o problema,mas há indicadores que mostram quehoje as coisas estão melhores.
O desemprego entre os jovens que naque-le ano afetava um em cada três - e dois
anos depois estava ainda pior, com umataxa de 38,1% - fixou-se em dos 20,3% noano passado. E mesmo a taxa dos queentre os 15 e os 35 anos não trabalhamnem estudam atingiu em 2018 o patamarmínimo desde 1998 - 9,9%. No ano em
que centenas de milhares de pessoasencheram as ruas de norte a sul dandoum significado à expressão Geração à Ras-
ca a taxa era superior a 14%, tendo maistarde vindo a subir: 17,1% em 2013.
O movimento que se organizou nas redes
sociais e veio em força para as ruas da
capital, da invicta e de muitas outras cida-
des a 12 de marco de 2011. Consideradaa maior manifestação apartidária desdeo 25 de Abril - ainda que os número nãotenham sido confirmados oficíahnente,há quem fale em mais de 300 mil pessoas-, a verdade é que aos protestos se junta-ram diversos políticos de esquerda e da
extrema direita.Em Lisboa os protestos que acalmaram
só perto das 18h contaram com a partici-pação dos Homens da Luta, sendo que a
voz de Ana Bacalhau também se tornouum símbolo destas ações: Braga, Funchal,Coimbra, Ponta Delgada, Castelo Branco,Viseu e até Barcelona viram os jovens por-tugueses dar um grito de revolta A revol-ta por serem quinhentoseuristas - naque-le ano o salário mínimo era de 485 euros,menos 115 do que atualmente.
A grande qualificação e a não corres-pondência com as condições de trabalhoforam o mote, num país que na alturatinha 13,2% de pessoas com ensino supe-rior, população que em 2017 já tinha subi-do para 18,1%.
Os problemas dos jovens acompanha-vam o de um país que tinha uma taxa de
desemprego de 12,7% - quase o dobro dos
6,7% registados no primeiro mês deste ano.Olhar os dados isoladamente pode dar
até a sensação de que o Portugal de hojejá é para os jovens. Mas não é isso que acon-
tece, segundo o estudo "Juventude(s); DoLocal ao Nacional. Que intervenção?", doObservatório Permanente da Juventude -Instituto de Ciências Sociais e Humanas,
O inquérito foi feito aos municípios entreo fim de 2017 e o início de 2018 e mostra
que três quartos dos municípios que res-
ponderam (251) elencaram o desempre-
go como o principal problema. De segui-da surgem problemas com o empregoprecário e com o acesso à habitação.
No que toca à habitação, o problemanão é exclusivo do interior, bem pelo con-
trário, com a especulação imobiliária queLisboa e Porto enfrentam são cada vezmais os jovens que não conseguem tor-nar-se independentes dos pais nestes gran-des centros urbanos.
E mais do que as dificuldades no acessoà habitação ou ao mercado de trabalho,
salienta-se no mesmo estudo a ausênciade planos municipais de juventude - 90%
das câmaras não tem qualquer plano.Mas então como defende hoje a lei estes
jovens da precariedade? Mais do que em2011? "Aos jovens, que têm associado a si
uma precariedade ou vínculos mais ins-
táveis, acho que defende mais, julgo queforam dados passos na tentativa de reco-nhecimento de que quando há um con-trato de trabalho ele tem de ser assegu-rado", explica ao i Luís Gonçalves da Sil-
va, professor da Faculdade de Direito daUniversidade de Lisboa.
Segundo o docente, "a geração à rascavai continuar aflita enquanto não for fei-
ta uma aposta na qualificação, ou seja,não existir um projeto nacional e dura-douro, de várias gerações": "Este é umproblema transversal mas que se mani-festa muito nos jovens. Diz-se que esta é
a geração mais qualificada, mas isso nãosignifica que seja a mais preparada. Pre-cisamos de uma qualificação que os pre-pare para o mundo real, não mantendoa ideia de que a licenciatura é a aberturade uma porta com futuro".
12 de março de 2011
Há oito anos foramcerca de 200 mii osque saíram às ruasem Usboa e 80 mil
no Porto. Em Farocalcula-se quetenham sido duas mil
pessoas a participarno protesto,enquanto que emBraga terão sido mil.
O que mudou
5%Em 201 7 havia mais 5%de população com ensino
superior do que em 201 1
115.A evolução do salário mínimonacional entre 201 1 e 201 9foidellseuros
9,9%Taxa de jovens que nãotrabalham nem estudam é amais baixa desde 1 998
115Um quinto da populaçãojovem está desempregada,menos do que em 201 1
Sem tal projeto "continuaremos compaliativos", adianta.
E se por um lado, Luís Gonçalves daSilva acredita que "é possível sempremelhorar a legislação", por outro afirma
que "antes deveria fazer-se um estudosobre quais os entraves dos jovens noacesso ao mercado de trabalho e à manu-tenção nesse mercado. Um estudo trans-versal a todo o país".
O professor de direito acredita que o
12 de março de 2011 "foi um grito dealerta importante", mas que "acabou
por ser um epifenómeno porque nãoteve continuidade nem estabilidade":"Estamos a falar de problemas estrutu-rais da nossa sociedade e precisamosde mais gritos de alerta dos nossosjovens, muitos têm vontade e não têmoportunidade,".
A concluir lembra ainda que essa faltade oportunidade tem uma perversidadepouco debatida: "São milhões do eráriopúblico que são deitados fora quando não
aproveitamos o investimento no conhe-
cimento humano. Essa é, por exemplo,uma conta que está por fazer".