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Quer ouvir Boss AC de graça? E Vanessa da Mata? Para assistir a um concerto de Pedro Abrunhosa paga apenas 2,5 euros. As autarquias oferecem durante as festas de Verão. Uma câmara pode gastar até 25 mil euros por noite para animar os eleitores. Por Sara Capelo Os autarcas defendem-se dizendo que não podem tirar as festas locais às populações Por todo o País, Julho e Agosto são meses de festas - muitas delas com entrada livre para eventos gastro- nómicos, animações de rua, expo- sições ou concertos com artistas nacionais e internacionais ( Vanessa da Mata, por exemplo, esteve em Vila Real a 14 de Ju- lho). Mas quanto custam, de facto, os con- certos grátis das câmaras? A SÁBADO falou com várias autarquias para conhecer os seus orçamentos para as festas deste Verão. Águeda iomileurospordia ¦ Em Águeda, os 23 dias da festa deste ano custaram cerca de 230 mil euros. Ou seja, dez mil euros por noite, com direito a concertos e animação de rua, explica Edson Santos, che- fe de gabinete do presidente da Câmara e or- ganizador do Agitágueda: - É um orçamento avultado... -Fazemos afestaporquetemos condições. Não nos passaria pela cabeça fazer cortes na educação ou na acção social para fazer a festa. Enquanto pudermos... - Mas recebem críticas da oposição? - As críticas são pontuais. Fazem um apro- veitamento para dizer que se faz festas em tempos de crise. Mas não têm eco na popula- ção, que quer a festa. E se o povo quer, as autarquias fazem. Em Águeda, estiveram os Blasted Mechanism, Mónica Ferraz, Adelaide Ferreira (que apro- veitou a actuação para filmar o videocMpe) ou Boss AC - cujo agenciamento, de acordo com o site que publica os ajustes directos, custou 8.800 euros àquela câmara socialista. Pela contratação de outros artistas, o aluguer do palco e de equipamento de som e ilumi- nação, a autarquia pagou mais 52.390 euros à empresa Cor do Som. Mas uma das maiores despesas, segun- do contas de Edson Santos, foi a segurança: as festas realizaram-se nas ruas, onde esti- veram entre sete a oito mil pessoas pornoi- te. "Num espaço aberto temos de ter GNR", diz. A crise fez com que ponderassem não fazer as festas? Edson Santos responde que essa hipótese não seria favorável à econo- mialocal. E não só: entende que estes even- tos servem também para fixar população. "Todas as cidades fazem festas de Verão e se não fizéssemos nada, as pessoas não esco- lhiam Águeda para viver." Em Baião, pensou-se em não contratar artistas nacionais. Os comerciantes deram menos Baião ORÇAMENTO DE 75 MIL H José Luís Carneiro, presidente da Câ- mara Municipal de Baião, admite que pen- sou em não contratar artistas. "Mas os comerciantes reagiram mal, não queriam os músicos da terra Por questões financeiras, o autar- ca socialista que organizou, en- tre 27 e 29 de Julho, o Festival do Anho Assado e do Arroz no For- no, acabou por ceder. É que Car- neiro detectou um padrão: todos os anos a Câmara faz um peditó- rio para financiar a festa e "os co- merciantes dão mais em função do artista". Reduziu o orçamento deste ano em cinco mil euros, para os A brasileira Vanessa da Mata actuou em Vila Real. O concerta custou 15 mil euros 75 mil - 50 mil dos quais pagos pela autar- quia e o resto obtido através de patrocina- dores e do aluguer dos espaços. Em regra, segundo diz, dois terços deste orçamento vai para os músicos. "Trazemos artistas de 10 ou 12 mil euros. É a primeira vez que tra- zemos o Emanuel!" Caldas da Rainha MÓNICA SINTRA, CLEMENTE E BROA DE MEL POR 5.400 EUROS Fernando Costa pagou 15 mil euros a todos os artistas que vão estar na Expotur. Mónica Sintra foi nego- ciada num pacote onde se in- cluem Clemente e os Broa de Mel: vão receber 5.400 euros. 0 resto do orçamento dos espectáculos é dividido por artistas como Jaime Ferreira, um músico popular que animou o bailarico dos emigrantes nesta quarta-feira. Nesse dia, a autarquia pagou também cerca de mil almoços (a sete euros cada) ofereci- dos aos emigrantes. A Expotur foi criada para promover a gastronomia e ajudar fi- nanceiramente as associações e clubes lo- cais. São elas que ali montam tasquinhas e servem as refeições. O público não paga i entrada, só o que consome. O autarca do PSD assume que não vê um cêntimo da festa que termina dia 15 e que tem um orçamento total de 100 mil euros mais IVA. Todo o dinheiro que ali se faz com a venda de bacalhau à tiboma ou chícharos com respos vai para as associações locais. "A despesa da montagem e da publicidade é da Câmara e todos os lucros são das as- sociações. Algumas tiram 10 a 15 mil euros", explica. Assim, foi o muni- cípio que pagou os anúncios que passaram na RTP (8.076,82 euros)

Press Review page - ClipQuick · do palco ede equipamento de som ilumi-nação, a autarquia pagou mais 52.390 euros ... segundo diz, dois terços deste orçamento vai para os músicos

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Quer ouvir Boss AC de graça? E Vanessa da Mata? Para assistir a um concerto de Pedro

Abrunhosa paga apenas 2,5 euros. As autarquias oferecem durante as festas de Verão. Uma

câmara pode gastar até 25 mil euros por noite só para animar os eleitores. Por Sara Capelo

Os autarcas

defendem-se dizendo

que não podem tirar

as festas locais

às populações

Portodo o País, Julho e Agosto são

meses de festas - muitas delas com

entrada livre para eventos gastro-nómicos, animações de rua, expo-

sições ou concertos com artistas

nacionais e internacionais (Vanessa da Mata,

por exemplo, esteve em Vila Real a 14 de Ju-

lho). Mas quanto custam, de facto, os con-

certos grátis das câmaras? A SÁBADO falou

com várias autarquias para conhecer os seus

orçamentos para as festas deste Verão.

Águedaiomileurospordia¦ Em Águeda, os 23 dias da festa deste ano

custaram cerca de 230 mil euros. Ou seja, dez

mil euros por noite, com direito a concertos

e animação de rua, explica Edson Santos, che-

fe de gabinete do presidente da Câmara e or-

ganizador do Agitágueda:- É um orçamento avultado...

-Fazemos afestaporquetemos condições.Não nos passaria pela cabeça fazer cortes na

educação ou na acção social para fazer a festa.

Enquanto pudermos...- Mas recebem críticas da oposição?-As críticas são pontuais. Fazem um apro-

veitamento para dizer que se faz festas em

tempos de crise. Mas não têm eco na popula-ção, que quer a festa.

E se o povo quer, as autarquias fazem. Em

Águeda, estiveram os Blasted Mechanism,Mónica Ferraz, Adelaide Ferreira (que apro-veitou a actuação para filmar o videocMpe)ou Boss AC - cujo agenciamento, de acordo

com o site que publica os ajustes directos,

custou 8.800 euros àquela câmara socialista.

Pela contratação de outros artistas, o aluguerdo palco e de equipamento de som e ilumi-

nação, a autarquia pagou mais 52.390 euros

à empresa Cor do Som.

Mas uma das maiores despesas, segun-

do contas de Edson Santos, foi a segurança:as festas realizaram-se nas ruas, onde esti-

veram entre sete a oito mil pessoas pornoi-te. "Num espaço aberto temos de ter GNR",diz. A crise fez com que ponderassem não

fazer as festas? Edson Santos responde queessa hipótese não seria favorável à econo-

mialocal. E não só: entende que estes even-

tos servem também para fixar população."Todas as cidades fazem festas de Verão e se

não fizéssemos nada, as pessoas não esco-

lhiam Águeda para viver."

Em Baião, pensou-se em nãocontratar artistas nacionais.Os comerciantes deram menos

BaiãoORÇAMENTO DE 75 MILH José Luís Carneiro, presidente da Câ-

mara Municipal de Baião, admite que pen-sou em não contratar artistas. "Mas os

comerciantes reagiram mal, não

queriam só os músicos da terraPor questões financeiras, o autar-

ca socialista que organizou, en-

tre 27 e 29 de Julho, o Festival do

Anho Assado e do Arroz no For-

no, acabou por ceder. É que Car-

neiro detectou um padrão: todos

os anos a Câmara faz um peditó-rio para financiar a festa e "os co-

merciantes dão mais em funçãodo artista".

Reduziu o orçamento deste

ano em cinco mil euros, para os

A brasileira Vanessa da Mata

actuou em Vila Real. O concerta

custou 15 mil euros

75 mil - 50 mil dos quais pagos pela autar-

quia e o resto obtido através de patrocina-dores e do aluguer dos espaços. Em regra,segundo diz, dois terços deste orçamentovai para os músicos. "Trazemos artistas de

10 ou 12 mil euros. É a primeira vez que tra-

zemos o Emanuel!"

Caldas da RainhaMÓNICA SINTRA, CLEMENTE E BROADE MEL POR 5.400 EUROS

Fernando Costa pagou 15 mil euros a

todos os artistas que vão estar na

Expotur. Mónica Sintra foi nego-ciada num pacote onde se in-cluem Clemente e os Broa de Mel:

vão receber 5.400 euros. 0 resto

do orçamento dos espectáculos é

dividido por artistas como Jaime

Ferreira, um músico popular que animou o

bailarico dos emigrantes nesta quarta-feira.Nesse dia, a autarquia pagou também cerca

de mil almoços (a sete euros cada) ofereci-

dos aos emigrantes. A Expotur foi criada

para promover a gastronomia e ajudar fi-nanceiramente as associações e clubes lo-

cais. São elas que ali montam tasquinhase servem as refeições. O público não paga

i entrada, só o que consome.

O autarca do PSD assume que não vê

um cêntimo da festa que termina dia 15

e que tem um orçamento total de 100mil euros mais IVA. Todo o dinheiro

que ali se faz com a venda de bacalhau

à tiboma ou chícharos com respos vai

para as associações locais. "A despesada montagem e da publicidade é da

Câmara e todos os lucros são das as-

sociações. Algumas tiram 10 a 15 mil

euros", explica. Assim, foi o muni-

cípio que pagou os anúncios que

1 passaram na RTP (8.076,82 euros)

À esq., os Azeitonas, de Miguel Araújo, actuam

na Mah/eira. Os Amor Electro passaram por

Castro Verde e estarão em Correios

? ou o aluguer de estruturas (21.470 euros). "A

Câmara faz o investimento e não pretendever um curo de retomo, porque assim há

maior movimento e o dinheiro vai para as

associações", explica. É para não afugentarturistas (que diz virem de Guimarães ou do

Algarve) que não quer cobrar entrada.

Oleiros59 MIL EUROS PARA CANTORES

H O objectivo das festas de Oleiros tam-

bém é chamar turismo. Este ano, gastou-se

59.676,50 euros em artistas: Roberto Leal,

Quinta do Bill e The Gift actuam na Feira do

Pinhal, que termina dia 12, e no dia do con-

celho que se comemora logo a seguir. 0 alu-

guer do palco custou 6.750 euros.

Malveira, Mafra30 A 35 MIL EUROS PARA ARTISTAS

H Na freguesia da Malveira "o grande bolo

do orçamento" de 100 a 125 mil euros vai

para os artistas, reconhece Carla Galráo, da

comissão de festas que este ano contratou os

Azeitonas, Rosinha e Romana. Mesmo ten-

do reduzido em 40% o que pagavam (o pre-sidente de [unta, Joaquim Costa, explica queeste ano "os artistas são mais baratinhos") o

valor total ficanos 30 a 35 mil euros. Mais os

custos com aluguer e montagem de ilumina-

ção e sistema de som. "No ano passado, rou-baram metros de fios e tivemos de compraroutra vez", lamenta-se Carla Galrão. Levaram

também pratos e talheres do restaurante, quesão mais uma despesa. Ao contrário de ou-

tras juntas de freguesia, não precisam de alu-

gar palco, porque já está feito na Mata Paro-

quial onde decorre aFexpomalveira, de 10 a

15 de Agosto.

Apesar de os expositores (parte são supor-tados por empresas locais) serem montados

pela máo-de-obra da [unta de Freguesia, a

comissão tem ainda de pagar a um electricis-

ta e um carpinteiro a tempo inteiro - "falta

sempre um preguinho", diz Carla Galrão.

- Não são funcionários?

- Não. Mas os outros são. Há uma funcio-

nária que só trabalha nisto desde Junho. Tra-

tadas licenças, que sãopagaspela Câmara de

Mafra. É uma ajuda que a Câmara nos dá.

- Quanto paga a junta?- É difícil calcular, porque também há um

custo para a freguesia: os funcionários

enquanto trabalham na festa não trabalham

na freguesia, mas recebem salário.

- Será que fica nos 60 mil euros ?

- Fazendo as contas ao combustível, orde-

nados... é possível que seja por aí.

Em Correios não há bilhetes

porque "uma autarquianão está para o lucro"

Vila RealVANESSA DA MATA POR 15 MIL EUROS¦ Em Vila Real, os concertos gratuitosacontecem no auditório exterior do teatro

municipal. 0 orçamento da edição deste ano

ronda os 100 mil euros, em parte comparti-

cipados por fundos comunitários: "Senão,

Balancete da festaVEJA QUANTO CUSTA COMPRAR FOGO-DE-

ARTIFICIO OU ALUGAR UM PALCO

PALCO. 9.910 euros se for coberto.

Este foi o valor pago pela Câmara

do Pombal para as Festas do Bodo.

FOGO-DE-ARTIFÍCIO. Para o dia do

Município (que se comemora a 19 de

Agosto), Esposende pagou 5 mil euros

por um espectáculo "piro-musical".

DECORAÇÃO. No Pombal, pagaram-se6 mil euros pela concepção da ilumina-

ção decorativa nas Festas do Bodo.

LIMPEZAS. Em Crândola, a prestaçãode serviços de limpeza durante a Feira

de Agosto vai custar 5.520 euros

seria impossível haverprogramaçáo", expli-ca o gabinete de imprensa da Câmara. Em

Julho, 2.700 pessoas assistiram ao espectá-culo de Vanessa da Mata (mais recente foi a

actuação de Maria João e Mário Lagi-nha). Por este concerto, de acordo com

o portal onde estão publicados os ajus-tes directos, a Câmara pagou 15 mil eu-

ros. Existem outros truques para trazer

artistas pagando menos ou nada: emPorto Moniz, naMadeira, o concerto de

José Cid em Julho, durante a Semana do Mar,foi pago porum privado. No ano passado, do

orçamento de 160 mil euros, a câmara terá

pago entre 10 e 12 mil euros, avança Valter

Correia, presidente deste município.

Correios, Seixal25 MIL EUROS POR DIAH Em Corroios, os dez dias de festa vão

custar perto de 250 mil euros. "No ano pas-sado, perguntaram-me se o dinheiro não se-

ria mais bem aplicado noutro sítio. Era, mas

as festas pagam-se aelas próprias", justificaEduardo Rosa, presidente da junta de fre-

guesia lisboeta, e que organiza este evento

há cinco anos. Como ? A junta cobra aos fei-

rantes que queiram ocupar o recinto de 100mil metros quadrados. As 24 caravanas de

farturas pagam 1.500 euros, os 15 bares 1.750

euros, as diversões para crianças e adultos

entre 1.000 e 3.000 euros, e as empresas da

Freguesia que queiram umstand (com alca-

tifa e luz) também pagam.O autarca diz ter a receita para gastar me-

nos em tempos de crise: "É preciso rentabi-

lizar o que temos. Tendo todo o equipamen-

to, gasto menos dinheiro." É por isso queestá a construir casas de banho, que deverão

estar prontas a tempo das festas do próximoano. Assim, evitaria ter de pagar 25.979,80

euros a uma empresa para a gestão dos espa-

ços de apoio na festa ou 22.350 para o aluguerde tendas, como fez este ano. Ou 17.500 eu-

ros de aluguer de som e iluminação e 10. 106

euros para electrificação do recinto.

- Nunca pensou cobrar, nem que fosse 1

europeia entrada?

Não, porque uma autarquia não está para o

lucro. Desde há dois anos que um dos espec-

táculos tem o custo simbólico de 2,5 euros

para a construção das infra-estruturas [nolocal da festa]. Este ano vai ser o concerto do

Pedro Abrunhosa.

- O Pedro Abrunhosa vai cobrar-lhe 21 mil

euros.

- E fez um preço especial! Ele leva 26 mil

euros. Eu disse que isso não podia pagarEduardo Rosa conta que

Abrunhosa não foi o único abai-

xar o cache. "Nunca cá tive a Áu-

rea. Disse que não lhe podia pa-

gar aquelepreço.Affw/M,gerveio

ver o espaço." Pelos vistos gos-

tou. A contratação da cantora

(que actua a 2 de Setembro) ficou em 13.900euros. José Cid leva menos 400 euros, os Amor

Electro custam 8.500 e Carminho 7.000.

Castro VerdeANJOS A l 5MIL EUROS

H As Festas da Vila de Castro Verde rea-

lizam-se em função do feriado municipal,de 29 de Junho, que este ano foi a uma sex-

ta-feira. Desta vez começaram na sexta à

noite e terminaram no domingo à tarde.

São sempre organizadas em parceria entre

a junta de freguesia de Castro Verde (que pa-

gou a actuação dos Amor Electro) e a câma-

ra (que custeou 15 mil euros para os An-

jos). Ao comércio local, como os bares quedurante as festas se mudam para o recinto,

a autarquia cobra pelos espaços. Apesar de

todo o evento - concertos incluídos - ser de

Em Agueda, há críticas sobrefestas organizadas em tempo decrise. "Mas a população quer"

graça, Carlos Pedro, chefe do gabinete do ve-

reador da cultura, explica que este ano hou-

ve uma quebra de visitantes, porque as pes-soas têm medo de "gastar o dinheiro numabebida".

- Nunca pensaram em ter bilhetes ?

- Não, porque as festas realizam-se no

espaço da feira de Castro e isso implicava gas-tos com a vedação, emissão, venda e cobran-

ça de bilhetes. E estes são um preço simbóli-

co e não costumam custear os gastos. •