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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA ROBERTO SILVEIRA FECCHIO PREVALÊNCIA DE LESÕES ORAIS EM MACACOS-PREGO (Cebus apella) MANTIDOS EM CATIVEIRO NO ESTADO DE SÃO PAULO São Bernardo do Campo 2005

PREVALÊNCIA DE LESÕES ORAIS EM MACACOS-PREGO orais em macacos... · universidade metodista de sÃo paulo faculdade de medicina veterinÁria roberto silveira fecchio prevalÊncia

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA

ROBERTO SILVEIRA FECCHIO

PREVALÊNCIA DE LESÕES ORAIS EM MACACOS-PREGO

(Cebus apella) MANTIDOS EM CATIVEIRO NO ESTADO DE

SÃO PAULO

São Bernardo do Campo 2005

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ROBERTO SILVEIRA FECCHIO

PREVALÊNCIA DE LESÕES ORAIS EM MACACOS-PREGO (Cebus

apella) MANTIDOS EM CATIVEIRO NO ESTADO DE SÃO PAULO

Monografia apresentada para conclusão de curso de graduação em Medicina Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Metodista de São Paulo.

Orientador: Prof. Dr. Nilton Abreu Zanco Co-orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Gioso (FMVZ-USP)

São Bernardo do Campo 2005

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RESUMO

A Foram examinadas as cavidades orais de 42 animais (N=42), dos quais 19 eram jovens (45%), 23 eram adultos (55%), 18 eram machos (43%) e 24 eram fêmeas (57%), oriundos de seis instituições no Estado de São Paulo. Dentre os animais avaliados, 57% (24) apresentaram gengivite, 52% (22) apresentaram cálculo dental, 48% (20) apresentaram ausência dental, 26% (11) apresentaram fratura dental, 14% (6) apresentaram retração gengival, 14% (6) apresentaram exposição de polpa, 7% (3) apresentaram desgaste dental, 2% (1) apresentaram bolsa periodontal, 2% (1) apresentaram hiperplasia gengival, 2% (1) apresentaram dentes supra-numerários, 2% (1) apresentaram giro-versão, 2% (1) apresentaram apinhamento dental, 2% (1) apresentaram maloclusão e 2% (1) apresentaram fístula infra-orbital. O presente trabalho pôde evidenciar o alto índice de prevalência de lesões orais em macacos-prego mantidos em cativeiro no estado de São Paulo, onde 57% dos animais apresentavam algum tipo de lesão. Dentre as lesões, aquelas relacionadas à doença periodontal (57%) e as fraturas dentais (26%) mostraram-se mais prevalentes. Além disso, pôde-se evidenciar que a profundidade do sulco gengival variou entre 0,5 e 1,0 mm. Palavras-chave: Macaco-prego, Cebus apella, lesões orais.

ABSTRACT

The oral cavity of 42 animals (N=42) were examined, of which 19 were young (45%), 23 were adult (55%), 18 were male (43%) and 24 were female (57%), origineted from six institutions of the State of São Paulo, Brazil. Among the examined animals, 57% (24) presented gingivitis, 52% (22) presented dental calculus, 48% (20) presented dental abscence, 26% (11) presented dental fracture, 14% (6) presented gingival retraction, 14% (6) presented pulp exposure, 7% (3) presented dental wear, 2% (1) presented periodontal pocket, 2% (1) presented gingival hiperplasia, 2% (1) presented super-numerary teeth, 2% (1) presented teeth version, 2% (1) presented dental crowding, 2% (1) they presented maloclusion and 2% (1) they presented infra-orbital fistula. The present work could evidence the high prevalence of oral lesions in capuchin monkey maintained in captivity in the state of São Paulo, where 57% of the animals presented some type lesion. Among the lesions, those related to the periodontal disease (57%) and the dental fractures (26%) were more prevalent. Besides, it could be evidenced that the depth of the gengival sulcus varied between 0,5 and 1,0 mm. Key-words: Capuchin monkey, Cebus apella, oral diseases.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Extração de um incisivo fraturado de hipopótamo, no Zoológico de Londres, em 1873

...............................................................................................................................

4

Figura 2: Capa da revista Lê Pêle-Mêle, publicada na França em 1913 ............................ 5

Figura 3: Desenvolvimento e ciclo vital dentário em primata ........................................... 7

Figura 4: Etapa de broto do desenvolvimento dental ......................................................... 7

Figura 5: Etapa de capuz do desenvolvimento dental ........................................................ 8

Figura 6: Etapa de campânula do desenvolvimento dental ................................................. 9

Figura 7: Secção horizontal de dente jovem, demonstrando a formação da cavidade pulpar com seus vasos,

nervos e odontoblastos; circunscritos por pré-dentina ..................

11

Figura 8: Secção dental horizontal demonstrando a aglomeração de ameloblastos entre a pré-dentina e o

primeiro estágio de formação do esmalte ...................................................

12

Figura 9: Etapa de cementogênese durante o desenvolvimento dental .............................. 14

Figura 10: Componentes do órgão dental .......................................................................... 15

Figura 11: Anatomia do órgão dental humano, demonstrando dente e periodonto ........... 16

Figura 12: Elemento dental (canino) de Macaco-prego (Cebus apella), com visualização da porção

radicular e da porção coronal .............................................................................

17

Figura 13: Micrografia eletrônica de cortes transversais de prismas de esmalte humano maduro

................................................................................................................................

18

Figura 14: Dentina e processos odontoblásticos ................................................................ 20

Figura 15: Sistema endodôntico demonstrando a disposição dos odontoblastos, os túbulos dentinários e o

forame apical em delta ..................................................................

22

Figura 16: Histologia do periodonto de um incisivo central superior humano, demonstrando camada de

cemento conectado ao osso alveolar adjacente por um fino ligamento periodontal e a gengiva protegendo o

osso .......................................................

23

Figura 17: Osso alveolar de canino e incisivos de Macaco-prego ..................................... 25

Figura 18: Anodontia de pré-molares e molares por provável osteodistrofia fibrosa em Macaco-aranha-de-

testa-branca (Ateles belzebuth marginatus) ........................................

28

Figura 19: Lesões herpéticas em língua e mucosa oral de Sagüi ...................................... 29

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Figura 20: Exposição pulpar traumática em dente canino evidenciada com auxílio de explorador clínico

em Macaco-prego (Cebus apella) .......................................................

30

Figura 21: Doença periodontal generalizada associada à fratura dental em Macaco-aranha-de-testa-branca

(Ateles belzebuth marginatus), onde se notam: gengiva eritematosa, edemaciada e retração gengival nos

caninos .................................................

32

Figura 22: Cárie dental em incisivos superiores de Gorila (Gorilla gorilla), evidenciada radiograficamente

..............................................................................................................

33

Figura 23: Ausência de incisivo lateral inferior direito em Macacos-prego (Cebus apella)

...............................................................................................................................

42

Figura 24: Doença periodontal generalizada, onde se notam: gengiva eritematosa e edemaciada,

além de retração gengival e acúmulo de cálculo dental nos dentes caninos de Macaco-prego

(Cebus apella) ..............................................................

42

Figura 25: Dente supra-numerário em hemiarcada inferior direita .................................. 43

Figura 26: Fratura dental com exposição de polpa em dente canino, evidenciada com auxílio de explorador

clínico odontológico ......................................................................

43

Figura 27: Fístula infra-orbital decorrente de lesão endodôntica de canino superior esquerdo (203), com

exposição do ápice radicular ..........................................................

44

Figura 28: Retração gengival de 4 mm em dente canino inferior esquerdo evidenciada com auxílio da

sonda periodontal milimetrada. Notar também severa retração gengival em dente canino inferior direito e

ausência de incisivo lateral inferior direito ................

45

Figura 29: Vestibularização dos dentes incisivos superiores, caracterizando maloclusão. Notar a

diferenciada anatomia craniana decorrente da lesão ......................

46

Figura 30: “Ausência” de incisivo central superior direito em Macaco-prego (Cebus apella), porém

evidenciada radiograficamente a presença da porção radicular do elemento dental

...........................................................................................................

49

Figura 31: Radiografia intra-oral evidenciando dentes caninos não erupcionados em Macaco-prego (Cebus

apella) .....................................................................................

50

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Distribuição percentual dos animais avaliados segundo sexo e faixa etária ..... 34

Gráfico 2 – Prevalência das lesões orais dentre os 18 machos avaliados ........................... 38

Gráfico 3 - Prevalência das lesões orais dentre as 24 fêmeas avaliadas ............................. 39

Gráfico 4 – Prevalência das lesões orais dentre os 23 adultos avaliados ........................... 40

Gráfico 5 – Prevalência das lesões orais dentre os 19 jovens avaliados ............................ 41

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número de animais e porcentagem das lesões encontradas ............................ 37

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SUMÁRIO

RESUMO ........................................................................................................................ VII ABSTRACT .................................................................................................................... VIII LISTA DE ILUSTRAÇÕES ......................................................................................... IX LISTA DE GRÁFICOS ................................................................................................ XII LISTA DE TABELAS ................................................................................................... XIII 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1 2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 2 2.1 HISTÓRICO DA ODONTOLOGIA VETERINÁRIA ............................................. 2 2.2 HISTOGÊNESE DENTAL ....................................................................................... 6 2.2.1 Estágio de broto ...................................................................................................... 7 2.2.2 Estágio de casquete ................................................................................................. 8 2.2.3 Estágio de campânula ............................................................................................. 9 2.2.4 Órgão do esmalte .................................................................................................... 10 2.2.5 Papila dental ............................................................................................................ 10 2.2.6 Saco dental .............................................................................................................. 10 2.2.7 Dentinogênese .......................................................................................................... 11 2.2.8 Amelogênese ........................................................................................................... 12 2.2.9 Cementogênese ....................................................................................................... 13 2.3 ANATOMIA DENTAL ............................................................................................. 14 2.3.1 Dente ....................................................................................................................... 16 2.3.1.1 Esmalte ................................................................................................................. 17 2.3.1.2 Dentina ................................................................................................................. 18 2.3.1.3 Polpa .................................................................................................................... 20 2.3.2 Periodonto ............................................................................................................... 22 2.3.2.1 Cemento ............................................................................................................... 23 2.3.2.2 Ligamento periodontal ......................................................................................... 24 2.3.2.3 Osso alveolar ....................................................................................................... 25 2.3.2.4 Gengiva ................................................................................................................ 26 2.4 PRINCIPAIS AFECÇÕES ESTOMATOLÓGICAS EM PRIMATAS .................... 26 2.4.1 Osteodistrofia fibrosa .............................................................................................. 27 2.4.2 Herpesvirose ........................................................................................................... 28 2.4.3 Exposição pulpar traumática ................................................................................... 29 2.4.4 Doença periodontal ................................................................................................. 31 2.4.5 Cárie dental ............................................................................................................. 32 3 MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 34 4 OBJETIVOS ................................................................................................................ 36 5 RESULTADOS ........................................................................................................... 37 6 DISCUSSÃO ................................................................................................................ 47 7 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 53 ANEXO: Odontograma específico para primatas ....................................................... 56

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1 INTRODUÇÃO

Dentre os primatas, o homem (Homo sapiens) é o único de distribuição

cosmopolita, enquanto que os demais se distribuem em função do meio ambiente que lhes

forneça condições de alimentação, proteção e reprodução. Ao todo, a ordem Primata é

subdividida em 13 famílias, 71 gêneros e 233 espécies ao redor do mundo (NOWAK, 1991).

O Brasil figura como o país onde existe a maior diversidade de fauna e flora do

planeta, possuindo o maior número de espécies de primatas do mundo (70), divididas em 16

gêneros (35% endêmicos) e agrupadas em 4 famílias (Callitrichidae, Callimiconidae, Cebidae

e Atelidae). Isso compreende um total de 120 formas (entre espécies e subespécies)

(AURICCHIO, 1995).

Doenças orais que afetam animais em cativeiro são resultado de um ou mais fatores:

trauma, dieta inadequada, ação de microorganismos patogênicos que destróem tecidos

calcificados e geram inflamação de tecidos moles, maloclusão dental e degeneração dental

(desgaste, abrasão, erosão e reabsorção); no entanto, a prevalência de lesões orais em primatas

não humanos ainda é desconhecida.

O manejo e a avaliação da cavidade oral de 42 macacos-prego (Cebus apella) cativos

no estado de São Paulo forneceram dados essenciais para a conservação ex situ da espécie,

gerando informações que contribuem para a prevenção de problemas médicos

estomatológicos e, consequentemente, contribuem para a preservação da eficiência dos

processos digestivos e manutenção da saúde geral, melhorando suas habilidades reprodutivas,

aumentando sua expectativa de vida e melhorando substancialmente a qualidade de vida

destes animais.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 HISTÓRICO DA ODONTOLOGIA VETERINÁRIA

O interesse pela “arte dental” se manifesta desde as antigas civilizações. Assim, no

Egito descobriu-se o documento mais antigo sobre este tema, que data do ano 1550 a.C. e se

trata do papiro de Ebers, mantido na biblioteca da Universidade de Leipzig, no qual estão

escritos numerosos remédios para abscessos bucais, gengivites e implantes a base de cominho

e mel (SAN ROMAN, 1999).

As primeiras referências escritas sobre odontologia em animais datam do período

antigo chinês, em 600a.C., na qual "conhecia-se" a idade dos cavalos graças ao estudo da

coroa de seus dentes incisivos. Mas a importância que tinha o estudo da arcada dental eqüina,

durante essa época, demonstra-se em um dos mais antigos livros chineses ainda conservados,

o Zuo Zhuan ou “Livro dos Animais”. Neste se explica como cada cavalo se diferencia, a

partir de sua arcada dental, realçando a importância da identificação equina por este método

(PEYER, 1968).

Na Grécia Antiga e Império Romano, a figura de Hipócrates é conhecida como de um

grande médico da arte dental. No Indicus é citada a extração dos dentes caninos e a

amputação parcial da língua para uma melhor adaptação à mordida nos eqüinos (SAN

ROMAN, 1999; PEYER, 1968).

Pelagonius, 350 a.C., reuniu um catálogo de notas e cartas sobre o tratamento médico

em cavalos e entitulou o capítulo XVIII de “De Dentibus”, no qual descrevia as enfermidades

dentais. Aristóteles (384 - 322 a.C.), em Animaliu, descreveu a enfermidade periodontal do

cavalo como um sintoma e não como uma síndrome, advertindo que, se a condição não

desaparecesse espontaneamente, seria incurável (SAN ROMAN, 1999; PEYER, 1968).

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No reinado de Trajano (100 a.C.), Archigene utilizava um trépano para perfurar os

dentes. Trepanava-se a face lingual da coroa dental e penetrava-se na câmara pulpar. Nessa

época, a obturação era realizada com uma cera a base de um pó de excremento de rato e

fígado de lagarto (RING, 1985).

A princípios do século XVII ocorre o auge das universidades na Espanha e começam

proliferar-se as publicações. Em 1602 F. Calvo, em seu livro De Albeyteria, dedica dois

capítulos de grande extensão ao estudo das enfermidades da boca e dentes, do mesmo modo

que A. Redondo fez em seu Obras de Albeyteria, publicado em 1677, e no entitulado Arte de

Albeyteria, além de outro autor chamado Conde, em 1707, com sua obra De Albeyteria

(PEYER, 1968).

No início do iluminismo é fundada a primeira Faculdade de Veterinária em Lyon

(França), no ano de 1762, graças a Claude Bourgelat (1712 – 1779). Iniciava-se a Veterinária

com base científica para o conhecimento racional das enfermidades. Edward Mayhew publica

em 1862 O Ilustrado Doutor de Cavalos, no qual descreve, já de uma maneira mais profunda

e racional, o interesse e a necessidade do tratamento das enfermidades orais no cavalo e como

essas influenciam sua saúde (SAN ROMAN, 1999).

No início do século XIX ocorrem alguns fatos notórios que contribuem para a

importância das enfermidades dentais. Um deles é o auge dos zoológicos e todo interesse que

produz os aspectos relacionados a eles, sendo um dos casos mais publicados pelos jornais da

época o de um elefante chamado Chunie, do Change Strand (Londres), que foi eutanasiado

em 1826 por sua agressividade, fruto de uma “presa” fraturada e infeccionada (SAN

ROMAN, 1999; PEYER, 1968).

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Figura 1: Extração de um incisivo fraturado de hipopótamo, no Zoológico de Londres, em 1873.

Fonte: SAN ROMAN (1999).

Com a chegada do século XX é realizada uma série de investigações metódicas e

precisas. Investigam-se novas técnicas, materiais e modelos experimentais em animais,

obtendo-se assim um melhor conhecimento da etiologia, fisiopatologia e tratamento. Em 1930

muitas publicações já mostram o interesse pelos cuidados orais preventivos em pequenos

animais e, a partir de 1939, a literatura veterinária produz regularmente artigos sobre o

tratamento das doenças dentais dos animais de companhia (SAN ROMAN, 1999).

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Figura 2: Capa da revista Lê Pêle-Mêle, publicada na França em 1913. Fonte: SAN ROMAN (1999).

Mas o verdadeiro desenvolvimento da Odontologia Veterinária moderna deu-se nos

Estados Unidos, onde um grupo de veterinários criou, em 1976, a “American Veterinary

Dental Society”, na cidade de Michigan e, em 1987 e 1988, foram criadas a “Academy of

Veterinary Dentistry” e o “American Veterinary Dental College”, respectivamente. Este

último capaz de outorgar o título de especialista em Odontologia Veterinária, após uma série

de requisitos e exames teórico-práticos (GIOSO, 1997).

No Brasil, esta especialidade já é desenvolvida há algumas décadas, tendo alguns

marcos importantes, como a criação, em 1994, do segundo centro especializado

exclusivamente em Odontologia Veterinária do mundo, o Odontovet e, em 2002, foi fundada

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a primeira entidade latino-americana de odontologia animal, a ABOV – Associação Brasileira

de Odontologia Veterinária (GIOSO, 2003).

2.2 HISTOGÊNESE DENTAL

As modificações sofridas pelos dentes desde o início de sua formação até sua erupção

e oclusão nos arcos dentais (figura 3), estão intimamente relacionadas à formação e

crescimento da face (HARVEY, 1985; DELLA SERRA, 1976; SICHER, 1966).

Os dentes originam-se de dois folhetos embrionários: ectoderma e mesoderma. O

folheto ectodérmico contribui para a formação do órgão do esmalte. O mesoderma que

circunda este órgão, chamado saco dental, originará o cemento e o ligamento periodontal

(WIGGS e LOBPRISE, 1997; HARVEY, 1985; PICOSSE, 1977; SICHER, 1966).

No início da formação da face, há intensa diferenciação ectodérmica, formando a

lâmina dental (WIGGS e LOBPRISE, 1997; HARVEY, 1985; PICOSSE, 1977; SICHER,

1966), a partir da qual formam-se os órgãos do esmalte (HARVEY, 1985; PICOSSE, 1977;

SICHER, 1966). Cada órgão do esmalte passa por três estágios distintos durante sua evolução:

broto, capuz ou casquete e sino ou campânula (WIGGS e LOBPRISE, 1997; HARVEY,

1985; DELLA SERRA, 1976; SICHER, 1966). A ele é atribuída grande importância na

morfogênese da coroa e da raiz, bem como a histogênese do esmalte (DELLA SERRA, 1976).

GODFREY et al (2005) relatam haver relação entre a erupção dental e o rápido

crescimento corporal e maturação sexual em lêmures folívoros.

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Figura 3: Desenvolvimento e ciclo vital dentário em primata.

Fonte: BHASKAR (1978).

2.2.1 Estágio de Broto

Caracteriza-se por intensa proliferação celular da área adamantina, situada na porção

vestibular da lâmina dental, próximo a sua borda livre. Concomitantemente as células do

mesênquima se multiplicam conglomerando-se frente à adamantina (DELLA SERRA, 1976;

SICHER, 1966)

Figura 4: Etapa de broto do desenvolvimento dental.

Fonte: BHASKAR (1978).

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2.2.2 Estágio de Capuz (taça ou casquete)

Nota-se um desenvolvimento marcante das bordas da área adamantina, que vai se

conformando em “capuz”. O tecido conjuntivo jovem, que se diferencia do mesênquima,

acumula-se na concavidade do capuz, formando a papila dental. O nódulo ou polpa do

esmalte corresponde à área central do disco adamantino (DELLA SERRA, 1976; SICHER,

1966).

Figura 5: Etapa de capuz do desenvolvimento dental.

Fonte: BHASKAR (1978).

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2.2.3 Estágio de Sino (campânula)

O órgão do esmalte, dado seu papel na morfogênese da coroa, mostra-se

campanuliforme devido à multiplicação ativa das células de sua borda livre. O pedículo que

mantém o órgão do esmalte vai sendo perfurado pelo mesênquima circunjacente, que acaba

por liberar o órgão da lâmina dental que lhe deu origem (DELLA SERRA, 1976; SICHER,

1966).

Nesta fase do desenvolvimento pode-se reconhecer três estruturas: o órgão do esmalte,

a papila dental e o saco dental (WIGGS e LOBPRISE, 1997; HARVEY, 1985; PICOSSE,

1977; DELLA SERRA, 1976; SICHER, 1966).

Figura 6: Etapa de campânula do desenvolvimento dental.

Fonte: BHASKAR (1978).

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2.2.4 Órgão do Esmalte

Constituído por uma camada de células planas (epitélio externo), uma camada de

células cilíndricas (epitélio interno) e uma zona intermediária, cujas células poliédricas se

transformam em “estreladas”, emitindo prolongamentos protoplasmáticos (retículo estrelado)

(SICHER, 1966).

2.2.5 Papila Dental

Formada por tecido mesenquimático contido na cavidade do órgão do esmalte. Suas

células diferenciam-se adotando a forma primária e dispondo-se em uma só fileira – os

odontoblastos (PICOSSE, 1977; SICHER, 1966). A papila dental está intimamente

relacionada à dentinogênese e formação da polpa (HARVEY, 1985; PICOSSE, 1977;

SICHER, 1966).

2.2.6 Saco Dental

Formado pelo tecido mesenquimático que envolve o órgão do esmalte. O saco dental

originará o cemento, o periodonto e a tábua cribiforme do processo alveolar (HARVEY,

1985; DELLA SERRA, 1976; SICHER, 1966).

A partir deste ponto, inicia-se a diferenciação final das estruturas que compõem o

órgão dental.

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2.2.7 Dentinogênese

A dentina é formada pelos odontoblastos, a partir do tecido mesenquimal da papila

dental. A matriz dentinária é secretada e, depois, impregnada pela deposição de sais de cálcio,

inicialmente na forma de glóbulos (calcosferitos) que se homogenizam. Os prolongamentos

citoplasmáticos dos odontoblastos se anastomosam no interior dos canalículos dentinários. O

tecido remanescente forma os vasos, nervos e tecido conjuntivo que compões a polpa

(HARVEY, 1985; SICHER, 1966).

Figura 7: Secção horizontal de dente jovem, demonstrando a formação da cavidade pulpar com seus vasos, nervos e odontoblastos (a); circunscritos por pré-dentina (b).

Fonte: PEYER (1968).

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2.2.8 Amelogênese

O esmalte é formado pelos ameloblastos a partir da camada interior do órgão do

esmalte. Na formação da matriz orgânica, os prismas de esmalte são formados por secreções

dos ameloblastos (HARVEY, 1985). A cristalização da matriz ocorre na forma de cristais de

apatita, em direção centrifuga, desaparecendo os ameloblastos quando cumprida sua função.

A formação da coroa ocorre antes da formação da raiz. (HARVEY, 1985; SICHER, 1966).

Figura 8: Secção dental horizontal demonstrando a aglomeração de ameloblastos (b) entre a pré-dentina (a) e o primeiro estágio de formação do esmalte (c).

Fonte: PEYER (1968).

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2.2.9 Cementogênese

Inicialmente as células mesenquimais indiferenciadas dispõem-se ao longo da

superfície externa da dentina e diferenciam-se em cementoblastos. Em seguida, os

cementoblastos elaboram cementóide no qual haverá deposição de sais minerais. Sucessivas

lâminas de cemento vão se formando em direção centrífuga, retendo fibras perfurantes, as

fibras periodontais (DELLA SERRA, 1976; SICHER, 1966).

A conformação da raiz ocorre após ter sido formada a coroa. A deposição de dentina

radicular vai se processando gradualmente e, no início, o canal radicular é bastante amplo. À

medida que progride a dentinificação, observa-se a diminuição da luz do canal (WIGGS;

LOBPRISE, 1997; HARVEY, 1985; PICOSSE, 1977; SICHER, 1966). Spencer (2003)

aponta uma relação entre a superfície radicular e o tipo de alimentação, na qual os primatas

com itens alimentares mais duros em sua dieta, teriam maior superfície radicular,

provavelmente pela influência da força ântero-posterior que ocorre durante a mastigação.

A porção apical do dente inicialmente é muito ampla e infundibiliforme, limitada

perifericamente por cemento. Posteriormente, talvez pela ação de forças mecânicas, ao se

restringir o ápice, há deposição de cemento na porção interna e apical do ducto radicular,

formando o ápice radicular (SICHER, 1966). Muitas vezes, na dentinogênese, os vasos e

nervos com ramificação dispersa são circundados por dentina, formando-se os ductos de um

delta apical, e não a formação de um único forame (DELLA SERRA, 1976; SICHER, 1966).

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Figura 9: Etapa de cementogênese durante o desenvolvimento dental. Fonte: BHASKAR (1978).

2.3 ANATOMIA DENTAL

A anatomia dental constitui um dos mais vastos e importantes capítulos da anatomia

humana e comparada, sobre a qual estão baseadas outras ciências de não menor mérito

(DELLA SERRA, 1976).

A principal função das estruturas da cavidade oral é promover o início da alimentação,

por meio da obtenção de alimentos e da ação de fluidos salivares, iniciando o processo

digestivo por todo trato gastrointestinal (HARVEY, 1993).

No que tange às diversas classificações da arcada dental das diferentes espécies

animais, os primatas são classificados como: Heterodontes (do grego heteros = diferente),

animais cujos dentes possuem morfologia diversa, de acordo com seu aspecto, função e

situação, divididos em incisivos, caninos, pré-molares e molares; Diplodontes, possuindo a

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formação de duas arcadas dentais consecutivas durante a vida (descíduos e permanentes);

Anelodontes, dentes com crescimento limitado, cessando após atingir a maturidade;

Bunodontes (bunos = colina, altura), dentes cuja superfície mastigatória é formada por

tubérculos distintos com ápice arredondado; e Braquiodontes, dentes de coroa baixa e

crescimento limitado (WIGGS; LOBPRISE, 1997; HARVEY, 1985; DELLA SERRA, 1976;

PEYER, 1968). Isso permitiu grande avanço evolutivo, já que, não sendo especializada, sua

dentição é capaz de trabalhar uma grande variedade de alimentos. Cientificamente, a fórmula

dental geral dos primatas é apresentada da seguinte forma:

2x (3121

−−

1010

−−

3031

−−

3232

−− ) (AURICCHIO, 1995), sendo a dos macacos-prego (Cebus

apella): 2x (22

11

33

33 ) (WIGGS; LOBPRISE, 1997).

Na concepção atual, o dente deve ser considerado como parte de um órgão muito

importante e complexo - o órgão dental - constituído pelo elemento dental (dente) e pelo

periodonto (WIGGS; LOBPRISE, 1997; HARVEY, 1985; PICOSSE, 1977; DELLA SERRA,

1976; SICHER, 1966).

{ Esmalte

{ Dente { Dentina

{ { Polpa

Órgão dental {

{ { Cemento

{ Periodonto { Ligamento periodontal

{ Osso alveolar

{ Gengiva

Figura 10: Componentes do órgão dental.

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Figura 11: Anatomia do órgão dental humano, demonstrando dente e periodonto. Fonte: adaptado de: www.odontogeral.hpg.ig.com.br/ anatomiadental.html.

2.3.1 Dente

Os dentes são órgãos mineralizados, resistentes, esbranquiçados e implantados em

ossos próprios (ossos alveolares), anexados à maxila e à mandíbula; dispostos em duas fileiras

harmônicas (superior e inferior), formando as arcadas dentárias (PICOSSE, 1977).

Funcionalmente, os dentes são destinados a colher, reter, cortar, perfurar, dilacerar,

esmagar, moer e/ou triturar os alimentos (WEST-HYDE; FLOYD, 1997; DELLA SERRA,

1976); além de promoverem proteção (ataque e defesa), locomoção e côrtes sexuais

(HARVEY, 1993; PEYER, 1968). Nesta última, parece haver correlação entre a assimetria

dos dentes caninos e a seleção do parceiro sexual, por parte das fêmeas de 21 espécies de

primatas do velho mundo (MANNING; CHAMBERLAIN, 1993).

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Figura 12: Elemento dental (canino) de Macaco-prego (Cebus apella), sendo A a porção radicular e B a porção coronal. Fonte: arquivo pessoal (2005).

2.3.1.1 Esmalte

O esmalte ou substância adamantina é a mais dura e mais densamente mineralizada

das estruturas do organismo (WIGGS; LOBPRISE, 1997). Composto por 96% de sais

inorgânicos (cristais de hidroxiapatita) e 4% de matéria orgânica (escleroproteínas) e água

(WIGGS; LOBPRISE, 1997; GIOSO, 2003).

Anatomicamente, o esmalte reveste o exterior da coroa dental até o colo do dente,

terminando na junção amelocementária (JAC) (WEST-HYDE; FLOYD, 1997; PICOSSE,

1977).

Funcionalmente, o esmalte protege a superfície dental externa, veda os túbulos

dentinários e permite a adesão de materiais (WEST-HYDE; FLOYD, 1997).

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Figura 13: Micrografia eletrônica de cortes transversais de prismas de esmalte humano maduro.

Fonte: BHASKAR (1978).

2.3.1.2 Dentina

A dentina, de origem mesenquimal, possui cor branco-amarelada e relaciona-se com a

polpa (internamente) e com o esmalte e cemento (externamente) (DELLA SERRA, 1976).

Quimicamente, a dentina é formada por 70% de substâncias minerais (hidroxiapatita), 20% de

substâncias orgânicas (colágeno e mucopolissacarídeos) e 10% de água (WIGGS;

LOBPRISE, 1997; WEST-HYDE; FLOYD, 1997; DELLA SERRA, 1976).

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Dentre os vertebrados há diversos tipos de dentina (pseudodentina, vasodentina,

osteodentina, vitrodentina e ortodentina), sendo a dos primatas classificada como ortodentina

e caracterizada pela presença de túbulos ou canalículos regulares que se irradiam

perpendicularmente a partir da cavidade do dente (câmara pulpar e canal radicular) e com

trajeto paralelo entre si. Além disso, possuem uma matriz calcificada onde, no interior dos

canalículos, destacam-se prolongamentos de odontoblastos (PICOSSE, 1977).

Três tipos de dentina estão presentes durante a vida do animal: dentina primária,

presente nos dentes decíduos; dentina secundária, formada ao longo da vida do animal; e a

dentina terciária ou reparadora, formada em resposta a irritações ou traumatismos pulpares

(WIGGS; LOBPRISE, 1997; WEST-HYDE; FLOYD, 1997; PEYER, 1968).

Funcionalmente, a dentina permite a redistribuição hidráulica da tensão mastigatória

("absorve choques"); possui resposta protetora da dor, via movimentação de fluido nos

túbulos dentinários (teoria hidrodinâmica); e protege a polpa, via formação de dentina

terciária (WIGGS; LOBPRISE, 1997; WEST-HYDE; FLOYD, 1997).

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Figura 14: Dentina e processos odontoblásticos humanos.

Fonte: BHASKAR (1978).

2.3.1.3 Polpa

É o tecido conjuntivo frouxo encontrado no interior da câmara interna do dente

(câmara pulpar e canal radicular), constituído de odontoblastos, vasos sangüíneos e linfáticos,

nervos e fibroblastos (WEST-HYDE; FLOYD, 1997).

A polpa é dividida em duas partes: polpa coronária, que reproduz a forma exterior da

coroa e a polpa radicular, que preenche o canal radicular e se comunica com os tecidos

periapicais ao nível do forame apical. É através deste orifício que penetram e saem os

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elementos vasculares, nervosos e o tecido conjuntivo. O forame apical permite a relação entre

a polpa e os tecidos periodontais (WIGGS; LOBPRISE, 1997; PICOSSE, 1977). Em cães e

gatos, o forame apical não é único, possuindo inúmeras foraminas que conferem uma

disposição em delta, o delta apical (WIGGS; LOBPRISE, 1997); em macacos-prego (Cebus

apella) a morfologia da comunicação entre a polpa radicular e os tecidos periapicais ainda não

foi descrita, porém acredita-se que seja um forame apical único, como na maioria dos

primatas.

Os odontoblastos formam uma camada celular contínua nas paredes da cavidade

pulpar e são responsáveis pela produção de dentina. Da extremidade dentinária dos

odontoblastos destacam-se prolongamentos que penetram no interior dos canalículos

dentinários ("prolongamento de Tomes") e prolongamentos laterais que unem os

odontoblastos entre si (PICOSSE, 1977; DELLA SERRA, 1976).

A cavidade pulpar, inicialmente ampla no dente jovem, vai diminuindo de volume pela

produção de novas camadas de dentina. A polpa, pela diminuição de seus elementos figurados

e acúmulo de fibras colágenas, torna-se cada vez mais reduzida (DELLA SERRA, 1976).

Funcionalmente, a polpa é responsável pela elaboração da dentina primária, secundária

e terciária; pela resposta de dor nervosa à irritação do dente (teoria hidrodinâmica somada à

estimulação dos nervos sensitivos não mielinizados); além de manter a nutrição e oxigenação

dos constituintes celulares dentais (WEST-HYDE; FLOYD, 1997).

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Figura 15: Sistema endodôntico demonstrando a disposição dos odontoblastos (a), os túbulos dentinários (b) e o forame apical em delta (c).

Fonte: LEON ROMAN & GIOSO (2003).

2.3.2 Periodonto

Periodonto é o complexo de fixação e sustentação do elemento dental, constituído de

tecido mole (gengiva e ligamento periodontal) e tecido duro (osso alveolar e cemento), todos

partilhando relações evolutivas, topográficas e funcionais (GIOSO, 2003; WEST-HYDE;

FLOYD, 1997).

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Figura 16: Histologia do periodonto de um incisivo central superior humano, demonstrando camada de cemento (CE) conectado ao osso alveolar adjacente (AB) por um fino ligamento

periodontal (PDL) e a gengiva (G) protegendo o osso. Fonte: http://www.fosjc.unesp.br/periodontia.

2.3.2.1 Cemento

O cemento é uma camada osteóide que reveste a porção radicular da dentina, desde o

colo dental até o ápice radicular (WIGGS; LOBPRISE, 1997; PICOSSE, 1977), mantendo

diferentes relações com o esmalte, ao nível do colo (DELLA SERRA, 1976).

O cemento apresenta composição química semelhante ao osso: 30% de substâncias

orgânicas (cementoblastos e colágenos), 50% de sais minerais (hidroxiapatita) e 20% de água

(WEST-HYDE; FLOYD, 1997; DELLA SERRA, 1976).

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O cemento é dividido em duas porções: cemento acelular, formado por cementoblastos

e reveste toda porção radicular da dentina, exceto o ápice radicular; e o cemento celular,

formado por cementócitos (semelhantes aos osteócitos) e reveste o ápice radicular (PICOSSE,

1977; DELLA SERRA, 1976)

Funcionalmente, o cemento serve como local de inserção para os feixes de fibras

colágenas do ligamento periodontal; protege a dentina e veda os túbulos dentinários na porção

radicular (WEST-HYDE; FLOYD, 1997).

2.3.2.2 Ligamento Periodontal

São feixes de fibras colágenas que abarcam o espaço entre o osso alveolar e o cemento

(WEST-HYDE; FLOYD, 1997).

O ligamento periodontal, como todo tecido conjuntivo fibroso, é constituído por

células, substâncias intercelulares e líquido (DELLA SERRA, 1976). O que difere o

ligamento periodontal dos demais tecidos conjuntivos fibrosos é sua arquitetura particular,

pois as fibras colágenas são mais numerosas e agrupam-se em feixes que se dispõem da raiz

ao alvéolo, obedecendo às forças de pressão e tração que se exercem sobre a peça dental

(PICOSSE, 1977). Tais feixes são divididos em: feixe gengival, partem do colo dental e

irradiam-se para a derma gengival; feixe transeptal, irradiam-se sobre o septo alveolar em

direção ao colo dental vizinho; e feixe da crista alveolar, fixam-se na parte mais alta dos

septos inter-alveolares, dirigindo-se ao dente (DELLA SERRA, 1976).

O ligamento periodontal possui quatro funções básicas: função mecânica (absorve

cargas transmitidas pelo dente durante o ato da mastigação, transforma as forças de pressão

exercidas sobre a coroa do dente em forças de tração sobre o cemento e a parede alveolar,

sustenta o dente em seu alvéolo); função biológica (confere higidez ao elemento dental);

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função formadora (estimula a formação dos cementoblastos e osteoblastos); e função sensitiva

(reflete os estímulos ocorridos no elemento dental) (PICOSSE, 1977).

2.3.2.3 Osso Alveolar

O osso alveolar é o osso subjacente ao dente, que abriga suas raízes e desenvolve

interrelações com o elemento dental (WEST-HYDE; FLOYD, 1997).

Basicamente, o osso alveolar é formado por: osso alveolar da cavidade, com a lamina

dura radiograficamente diferenciada; osso cortical ou compacto, que forma a parede externa

do processo alveolar; e osso trabecular inter-radicular, localizado entre as raízes dentais (entre

osso alveolar e osso cortical) (PICOSSE, 1977; DELLA SERRA; 1976).

Figura 17: Osso alveolar de canino e incisivos de Macaco-prego (Cebus apella). Fonte: arquivo pessoal (2005).

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2.3.2.4 Gengiva

É o termo aplicado aos tecidos epiteliais e conjuntivos que cicurdam e aderem-se aos

dentes e processo alveolar (WEST-HYDE; FLOYD, 1997).

A gengiva consiste de: gengiva interdental, entre os dentes adjacentes; epitélio

juncional, que adere à superfície dental via hemidesmossomos na junção amelo-cementária

(JAC); epitélio juncional, extendendo-se desde a margem gengival até a linha mucogengival;

e o epitélio sucular, que reveste o sulco gengival (DELLA SERRA, 1976).

A mucosa gengival pertence mais ao aparelho dental e mastigatório do que às mucosas

em geral (DELLA SERRA, 1976). A mucosa gengival acha-se sujeita, frequentemente, às

forças de atrito e pressão, durante o ato mastigatório, sobretudo quando os alimentos possuem

certo grau de dureza. Por isso, esta parte da mucosa bucal diferencia-se do restante

(PICOSSE, 1977). Ademais, a gengiva é fundamental para a vitalidade dentária ou, ao menos,

para a manutenção dos dentes nas arcadas alveolares (PICOSSE, 1977; DELLA SERRA,

1976).

2.4 PRINCIPAIS AFECÇÕES ESTOMATOLÓGICAS EM PRIMATAS

Os primatas são a terceira maior ordem utilizada em pesquisas odontológicas

(AMAND; TINKELMAN, 1985), servindo como modelo aos estudos que envolvem

odontologia humana (LEVY, 1980); podem apresentar diversos problemas estomatológicos

como osteodistrofia fibrosa, herpesviroses, exposição pulpar traumática, doença periodontal e

cáries (PACHALY; GIOSO, 2001). Entretanto, novas lesões têm sido recentemente

documentadas, como a hipoplasia de esmalte, comprometendo cerca de 64% dos grandes

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primatas (HANNIBAL; GUATELLI-STEINBERG, 2005), podendo estar associada ao

estresse fetal, que comprometeria a amelogênese (LUKACS, 2001).

Os procedimentos dentais envolvendo primatas não-humanos apresentam diversos

agravantes, como a grande variação na morfofisiologia dental e oral e as zoonoses associadas

e, portanto, necessitam de apropriado conhecimento, treinamento, equipamento, rapidez e

precisão (WIGGS e HALL, 2003).

2.4.1 Osteodistrofia Fibrosa

A osteodistrofia fibrosa possui como agente etiológico o desequilíbrio mineral (erros

de dieta e manejo), apresentando como manifestações clínicas: deformidades, como aumento

de volume dos ossos da mandíbula, maxila e pré-maxila; incapacidade de preensão e

mastigação de alimento; e exfoliação dentária (PACHALY; GIOSO, 2001).

Como terapêutica, recomenda-se a correção dietética, administração de cálcio,

vitamina D3 e exposição à luz solar UV (PACHALY, 1997).

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Figura 18: Anodontia de pré-molares e molares por provável osteodistrofia fibrosa em Macaco-aranha-de-testa-branca (Ateles belzebuth marginatus).

Fonte: Arquivo pessoal (2005).

2.4.2 Herpesvirose

O herpesvírus humano (Herpesvirus hominis e Herpesvirus simplex) causa graves

quadros em saguis e macacos da noite; e a transmissão ocorre pelo contato com humanos

portadores do vírus. A manifestação clínica é evidenciada pela presença de lesões orais,

conjuntivite e doença respiratória, podendo evoluir para quadros neurológicos e óbito em dois

a cinco dias. A prevenção é de extrema importância e deve ser feita com o isolamento de

humanos com lesões ativas (PACHALY; GIOSO, 2001; PACHALY, 1997).

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O herpesvírus T (Herpervirus tamarindus) pode causar um quadro similar, e sua

transmissão ocorre principalmente por portadores sadios de macaco aranha (Ateles sp) e mico

de cheiro (Saimiri scireus) (PACHALY e GIOSO, 2001; PACHALY, 1997).

Figura 19: Lesões herpéticas em língua e mucosa oral de Sagüi (Callithrix sp). Fonte: DINIZ (1997).

2.4.3. Exposição Pulpar Traumática

A causa mais comum de exposição pulpar em primatas são as fraturas acidentais e o

"corte" intencional dos dentes caninos (iatrogenia) (PACHALY; GIOSO, 2001; PACHALY,

1997; ROBINSON, 1979). A infecção bacteriana instalada na polpa exposta gera abscesso

dento-alveolar, podendo originar fístula sinusal malar (arcada superior) ou fístula mandibular

(arcada inferior) (PACHALY; GIOSO, 2001; PACHALY, 1997; ROBINSON, 1979); além

de manifestações sistêmicas, pelo fenômeno da anacorese.

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Normalmente, as exposições pulpares traumáticas necessitam de tratamento

endodôntico, mas, de acordo com a evolução do processso, a extração dental torna-se a

melhor opção. Ambos os procedimentos devem ser associados à antibioticoterapia (AMAND;

TINKELMAN, 1985; FOREEST, 1986; ROBINSON, 1979). No caso da realização de

tratamento endodôntico, recomenda-se a pulpectomia total, devido ao grande insucesso da

pulpectomia parcial em primatas (LOMMER; VERSTRAETE, 2001).

Figura 20: Exposição pulpar traumática em dente canino evidenciada com auxílio de explorador clínico em Macaco-prego (Cebus apella).

Fonte: arquivo pessoal (2005).

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2.4.4 Doença Periodontal

A doença periodontal localizada é comum em todas as espécies de primatas, mas a

doença periodontal generalizada possui maior prevalência em primatas do gênero Ateles

(Macaco aranha) (PACHALY; GIOSO, 2001; PACHALY, 1997).

A diferença entre a dieta oferecida em cativeiro e aquela que o animal tinha acesso em

vida livre parece predispor ao acúmulo de placa bacteriana e, conseqüentemente, à doença

periodontal em animais cativos (AMAND; TINKELMAN, 1985).

O tratamento adequado para a doença periodontal em animais selvagens inclui

antibioticoterapia, remoção de cálculo supra e subgengival e polimento de toda superfície

dental (FOREEST, 1986; ROBINSON, 1979).

As semelhanças anatômicas e biológicas entre humanos e primatas parecem contribuir

para o avanço da periodontologia, beneficiando as diversas espécies acometidas por tal

enfermidade (SCHOU et al, 1993).

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Figura 21: Doença periodontal generalizada associada à fratura dental em Macaco-aranha-de-testa-branca (Ateles belzebuth marginatus), onde se notam: gengiva eritematosa, edemaciada

e retração gengival nos caninos. Fonte: arquivo pessoal (2005).

2.4.5 Cárie Dental

Diferentes ordens e gêneros de animais apresentam variados graus de suceptibilidade à

cárie e esta é muito mais encontrada em animais cativos do que em animais de vida livre

(AMAND; TINKELMAN, 1985).

Por definição, cárie é a desmineralização de esmalte, dentina ou cemento, pela ação de

bactérias e seus metabólitos ácidos (PACHALY; GIOSO, 2001; AMAND; TINKELMAN,

1985; ROBINSON, 1979). Diversos fatores contribuem para a instalação da cárie, como as

fraturas; o mal posicionamento dental, criando áreas de impactação de comida (ROBINSON,

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1979); anatomia dental (profundidade de sulco gengival, fossulas, fissuras e cicatriculas); e as

dietas inadequadas (com altos índices de carboidratos), principalmente em primatas idosos

(PACHALY; GIOSO, 2001; ROBINSON, 1979).

O tratamento consiste no debridamento do tecido necrótico e restauração do foco de

cárie, com materiais do tipo amálgama de prata ou resinas compostas. Em casos mais

avançados, que afetam a polpa dental, deve-se associar ao tratamento endodôntico

(ROBINSON, 1979).

De qualquer forma, a cárie não é freqüentemente observada. Num estudo com 85

lêmures, apenas dois apresentaram a enfermidade (AMAND; TINKELMAN, 1985).

Figura 22: Cárie dental em incisivos superiores (seta) de Gorila (Gorilla gorilla), evidenciada radiograficamente (foto menor).

Fonte: Foto gentilmente cedida por João Luiz Rossi Jr.

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

Foram examinados 42 animais (N=42), entre jovens e adultos (Gráfico 1), oriundos de

seis instituições no Estado de São Paulo, contidos quimivamente com Tiletamina/Zolazepan

(5 mg/Kg) associado a Acepromazina (0,1 mg/Kg).

Sexo e faixa etária dos animais

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Jovens

Adultos

Macho

Fêmea

Série1 45% 55% 43% 57%

Jovens Adultos Macho Fêmea

Gráfico 1 - Distribuição percentual dos animais avaliados segundo sexo e faixa etária.

Na realização do exame clínico odontológico foram utilizados odontogramas

específicos para primatas (anexo 1). Nestes odontogramas consta o exame do órgão dental,

que compreende o periodonto e o dente propriamente dito, apresentado em duas formas

diferentes: uma com a vista vestibular dos dentes e outra com a vista oclusal. A numeração

dos dentes no odontograma segue o sistema de Triadan (mais aceito na veterinária).

A partir desta resenha odontológica foi realizado o exame físico propriamente dito.

Este exame consistiu em anamnese específica (após realizada anamnese geral), abrangendo os

aspectos prévios da problemática do animal, como o histórico dental (se existir), o histórico

médico, a realização de exames prévios e o tipo de alimentação. No âmbito alimentar,

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observou-se imensa variedade na dieta destes animais, tanto entre as diferentes instituições

como dentro da mesma instituição; porém, os itens alimentares eram basicamente: ração

canina, frutas e ovos.

Realizada a anamnese específica, foram avaliados os aspectos clínicos que tangiam à

esfera odontológica com o animal sob anestesia geral, possibilitando, desta forma, detalhado

procedimento. Cada elemento dental foi rigorosamente examinado, objetivando-se identificar

tipo de oclusão, presença de salivação excessiva (ptialismo), coloração de mucosa oral,

assimetrias, bem como a avaliação do periodonto e do dente por inspeção visual direta e

exploração com sonda periodontal milimetrada, explorador e espelho clínico odontológico.

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4 OBJETIVOS

Objetivou-se com este trabalho relatar a prevalência diferenciada dos variados tipos de

afecções estomatológicas como: gengivite, cálculo dental, exposição de furca, mobilidade

dental, retração gengival (mm), bolsa periodontal (mm), desgaste dental, escurecimento

dental, exposição de polpa, cárie, hiperplasia gengival, maloclusão dental, ausência dental e

úlcera de mucosa oral.

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5 RESULTADOS

Foram examinadas as cavidades orais de 42 animais (N=42), oriundos de seis

instituições no Estado de São Paulo. A tabela 1 ilustra os resultados obtidos.

Tabela 1 – Número de animais e porcentagem das lesões encontradas.

Lesões N° de animais Porcentagem

Gengivite 24 57%

Cálculo dental 22 52%

Ausência dental 20 48%

Fratura dental 11 26%

Retração gengival 6 14%

Exposição de polpa 6 14%

Desgaste dental 3 7%

Bolsa periodontal 1 2%

Hiperplasia gengival 1 2%

Supra- numerários 1 2%

Giro- versão 1 2%

Maloclusão 1 2%

Fístula infra-orbital 1 2%

Apinhamento dental 1 1%

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Avaliando-se isoladamente os machos, 50% (9) apresentaram cálculo dental, 50% (9)

apresentaram gengivite, 6% (1) apresentaram bolsa periodontal, 28% (5) apresentaram

retração gengival, 56% (10) apresentaram ausência dental, 39% (7) apresentaram fratura

dental, 11% (2) apresentaram exposição de polpa, 6 % (1) apresentaram dentes supra-

numerários, 6% (1) apresentaram desgaste dental e 6% (1) apresentara maloclusão. O gráfico

1 ilustra a prevalência das lesões nos machos.

Prevalência de lesões orais nos machos

50%

50%6%28%

56%

39%11% 6% 6%6%

CálculoGengiviteBolsa periodontalRetração gengivalAusência dentalFratura dentalExposição de polpaSupra numerárioDesgasteMaloclusão

Gráfico 2 – Prevalência das lesões orais dentre os 18 machos avaliados.

Já entre as fêmeas avaliadas, 58% (14) apresentaram cálculo dental, 67% (16)

apresentaram gengivite, 8% (2) apresentaram retração gengival, 42% (10) apresentaram

ausência dental, 21% (5) apresentaram fratura dental, 13% (3) apresentaram exposição de

polpa, 4% (1) apresentaram giro-versão, 4% (1) apresentaram apinhamento dental, 8% (2)

apresentaram desgaste dental e 4% (1) apresentaram fístula infra-orbital. O gráfico 1 ilustra a

prevalência das lesões nas fêmeas.

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Prevalência de lesões orais nas fêmeas

58%

67%8%

42%

21% 13% 4%4% 8%4%

CálculoGengiviteRetração gengivalAusência dentalFratura dentalExposição de polpaGiro-versãoApinhamento dentalDesgasteFistula infra-orbital

Gráfico 3 - Prevalência das lesões orais dentre as 24 fêmeas avaliadas.

Dentre os adultos observados, 91% (21) apresentaram cálculo dental, 83% (19)

apresentaram gengivite, 4% (1) apresentaram bolsa periodontal, 26% (6) apresentaram

retração gengival, 4% (1) apresentaram hiperplasia gengival, 22% (5) apresentaram ausência

dental, 57% (13) apresentaram fratura dental, 26% (6) apresentaram exposição de polpa, 4%

(1) apresentaram dentes supra-numerários, 4% (1) apresentaram giro-versão, 4% (1)

apresentaram apinhamento dental e 13% (3) apresentaram desgaste dental. O gráfico 3 ilustra

a prevalência das lesões nos adultos.

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Prevalência de lesões orais no adultos

91%

83%4%26%4%

22%

57%

26% 4%4%4% 13%

Cálculo Gengivite Bolsa periodontalRetração gengival Hiperplasia gengival Ausência dentalFratura dental Exposição de polpa Supra numerárioGiro-versão Apinhamento dental Desgaste

Gráfico 4 – Prevalência das lesões orais dentre os 23 adultos avaliados.

Dentre os jovens avaliados, 16% (3) apresentaram cálculo dental, 26% (5)

apresentaram gengivite, 79% (15) apresentaram ausência dental, 5% (1) apresentaram fratura

dental e 5% (1) apresentaram maloclusão. O gráfico 4 ilustra a prevalência das lesões nos

jovens.

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Prevalência de lesões orais no jovens.

16%

26%

79%

5% 5%

Cálculo Gengivite Ausência dental Fratura dental Maloclusão

Gráfico 5 – Prevalência das lesões orais dentre os 19 jovens avaliados.

Por meio da utilização do Teste Exato de Fisher, pôde-se estabelecer uma comparação,

das lesões encontradas, entre machos e fêmeas; e entre jovens e adultos. Empiricamente,

foram considerados jovens aqueles animais com idade inferior a três anos. Tal padrão foi

estabelecido considerando o tempo de vida em que ocorre a erupção de todos os dentes

permanentes, a qual ocorre entre dois anos e seis meses e três anos de vida (FLEAGLE;

SCHAFFLER, 1982). Desta forma, foi possível caracterizar a faixa etária de animais com

idade desconhecida com certa acurácia, considerando-se adultos aqueles com dentição

permanente completa.

Além disso, pôde-se evidenciar que a profundidade do sulco gengival variou entre 0,5

e 1,0 mm.

As próximas figuras ilustram as principais lesões observadas em macacos-prego

(Cebus apella) durante a realização do presente trabalho.

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Figura 23: Ausência de incisivo lateral inferior direito.

Fonte: arquivo pessoal.

Figura 24: Doença periodontal generalizada, onde se notam: gengiva eritematosa e edemaciada, além de retração gengival e acúmulo de cálculo dental nos dentes caninos.

Fonte: arquivo pessoal.

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Figura 25: Dente supra-numerário (seta) em hemiarcada inferior direita.

Fonte: arquivo pessoal.

Figura 26: Fratura dental com exposição de polpa em dente canino, evidenciada com auxílio de explorador clínico odontológico.

Fonte: arquivo pessoal.

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Figura 27: Fístula infra-orbital decorrente de lesão endodôntica de canino superior esquerdo, com exposição do ápice radicular (evidenciado no detalhe).

Fonte: arquivo pessoal.

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Figura 28: Retração gengival de 4 mm em dente canino inferior esquerdo evidenciada com auxílio da sonda periodontal milimetrada. Notar também severa retração gengival em dente

canino inferior direito e ausência de incisivo lateral inferior direito.

Fonte: arquivo pessoal.

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Figura 29: Vestibularização dos dentes incisivos superiores, caracterizando maloclusão. Notar a diferenciada anatomia craniana decorrente da lesão (foto menor).

Fonte: arquivo pessoal.

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6 DISCUSSÃO

Poucos projetos realizados apontam algum índice estatístico na prevalência de

afecções odontológicas em animais selvagens, sinalizando a necessidade de atenção mútua no

sentido de analisar e divulgar todo e quaisquer dados de pesquisa relacionado à esfera

odontológica veterinária. Além disso, diversos fatores podem interferir na saúde geral e oral

dos animais selvagens, como estresse, alimentação inadequada, mudanças comportamentais,

disputas territoriais e sociais, dentre outras. Isto deve ser considerado em todas as instâncias,

visto que a manifestação clínica de alguma enfermidade pode estar relacionada a estes fatores

e possuir etiologia diferenciada da etiologia clássica da doença.

O presente trabalho pôde evidenciar o alto índice de prevalência de lesões orais em

macacos-prego mantidos em cativeiro no estado de São Paulo, onde 57% dos animais

apresentavam algum tipo de lesão. Dentre as lesões, aquelas relacionadas à doença

periodontal (57%) e as fraturas dentais (26%) se mostram mais prevalentes.

Por meio da utilização do Teste Exato de Fisher, comparou-se a prevalência das lesões

orais entre machos e fêmeas; e entre jovens e adultos. Cada lesão foi analisada isoladamente

e não observou-se correlação estatística quando comparadas as prevalências entre machos e

fêmeas. Porém, observou-se maior índice percentual de fratura dental em machos, podendo

estar relacionada a diversos fatores, como brigas na disputa de melhor condição hierárquica

no bando, tendo como armas de luta, principalmente, os dentes e, portanto, sujeitos

constantemente aos traumas e fraturas. Além disso, o comprimento dos dentes caninos dos

machos é maior do que nas fêmeas, ficando sujeitos às maiores forças de tração e,

consequentemente, às fraturas dentais. Outro fator a ser considerado é a alimentação, visto

que são fornecidos em cativeiro itens alimentares diferentes daqueles obtidos pelos animais

em vida livre. Essa mudança nos itens alimentares parece diminuir a ação abrasiva dos

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alimentos, frente à placa bacteriana, durante a mastigação e, consequentemente, predispor o

animal à doença periodontal. Sob este ponto de vista, os adultos parecem ter maior

manifestação de doença periodontal por estarem sujeitos a essa mudança durante um maior

período de tempo.

Quando comparada a prevalência das lesões orais entre jovens e adultos, nota-se maior

predisposição dos adultos ao cálculo dental, à gengivite, à retração gengival, à fratura dental e

à exposição de polpa. Porém, há maior predisposição dos jovens à ausência dental. Tais dados

são pouco conclusivos por si só, dada a variedade de componentes que podem interferir. De

um modo geral, a analise comparativa entre jovens e adultos portou-se como esperado, pois

evidenciou-se maior prevalência das lesões associadas à doença periodontal e traumas nos

adultos. Tal fato decorre dos adultos estarem expostos aos fatores etiológicos e agravantes

das lesões orais por mais tempo, dada idade mais avançada. Além disso, os jovens possuem a

vantagem dos cuidados maternos, diminuindo sua exposição aos conflitos por território,

comida e posição social, que podem predispor às lesões orais traumáticas. A predisposição

dos jovens à ausência dental é pouco, ou quase nada, conclusiva, pois caracterizou-se

ausência dental a não visualização do elemento dental. Ou seja, tais dados foram

contabilizados juntamente com dentes não erupcionados ou fraturas completas de coroa, visto

que em ambos os casos não há visualização do elemento dental. Portanto, acredita-se que na

grande maioria dos jovens, o elemento dental não havia erupcionado, porém não foi possível a

constatação por meio de radiografia.

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Figura 30: “Ausência” de incisivo central superior direito (seta) em Macaco-prego (Cebus apella), porém evidenciada radiograficamente (foto menor) a presença da porção

radicular do elemento dental. Fonte: arquivo pessoal.

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Figura 31: Radiografia intra-oral evidenciando dentes caninos não erupcionados em Macaco-prego (Cebus apella).

Fonte: arquivo pessoal.

Quando comparados os dados encontrados durante a realização do trabalho e

aqueles descritos pela literatura, nota-se consenso na prevalência de lesões indicativas de

doença periodontal e fratura dental com exposição pulpar, porém não foram observadas lesões

indicativas de osteodistrofia fibrosa, herpesvirose e cárie dental em macacos-prego (Cebus

apella).

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7 CONCLUSÃO

O presente trabalho pôde evidenciar a prevalência diferenciada dos variados tipos de

afecções estomatológicas em macacos-prego (Cebus apella) cativos no estado de São Paulo,

dado inédito na literatura nacional e internacional referente à espécie.

A posse dos dados gerados com o desenvolvimento do trabalho permitiu apontar o alto

índice de lesões orais nos animais, atentando a necessidade de medidas corretivas

relacionadas ao manejo, alimentação e acompanhamento clínico. Acredita-se que a cavidade

oral ainda é negligenciada durante a realização do exame clínico geral destes animais, pois

muitos animais apresentam lesões estomatológicas antigas, mesmo sendo contidos para a

realização de procedimentos diversos há pouco tempo. Além disso, nota-se grande

preocupação nos valores nutricionais da dieta fornecida aos animais, porém pouca, ou

nenhuma, atenção nas características abrasivas dos itens alimentares que compõem a dieta,

podendo predispor estes animais à doença periodontal. A condição física dos recintos em que

se encontram os animais parece predispor às lesões traumáticas, pois os animais mantidos em

ilhas parecem manifestar comportamento esteriotipado em menor grau que aqueles mantidos

em recintos fechados; e, uma forma comum de manifestação do comportamento estereotipado

destes animais é a mordedura de grades, barras e utensílios rígidos, predispondo às lesões.

Conclui-se, dessa forma, que a atual condição oral dos macacos-prego (Cebus

apella) cativos no estado de São Paulo é insatisfatória e indica a necessidade de medidas a

serem tomadas no que tange a profilaxia, diagnóstico e tratamento das lesões orais, de forma a

diminuir o impacto negativo das conseqüências locais e sistêmicas, oriundas da problemática

oral, fazendo com que os animais possam viver mais e melhor quando a saúde oral for

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mantida em estado perto da higidez, além de promover a conscientização desta problemática a

todos aqueles que circundam e influenciam a qualidade de vida dos animais, como

profissionais especializados e técnicos envolvidos.

Prevenindo-se problemas médicos estomatognáticos preserva-se a eficiência dos

processos digestórios, contribuindo para a manutenção da saúde geral, melhorando suas

habilidades reprodutivas, aumentando sua expectativa de vida e melhorando substancialmente

a qualidade de vida dos animais.

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ANEXOS

Anexo 1: Odontograma específico para primatas.