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DESATANDO OS NÓS DO CAPITALISMO VÍRUS PLANETÁRIO Porque neutro nem sabonete, nem a Suíça R$ 2 edição digital nº 29 janeiro 2013 Com conteúdo do MEDIA FAZENDO Rolezinhos nos shoppings derrubam um muro invisível e revela o preconceito contra a periferia e juventude negra “Esse é um momento histórico, muito mais que quando os caras pintadas que tiraram o Collor.” ENTREVISTA INCLUSIVA: Marcelo D2 Rolezinho: Quem tem medo da periferia? Edição Digital reduzida Clique aqui - www.tinyurl.com/29impressa para adquirir a edição impressa pela internet e receber em casa Clique aqui - www.tinyurl.com/29digital para comprar a edição digital completa. Clique aqui - www.tinyurl.com/revistavirusplanetario para assinar a Vírus!

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desatando os nós do capitalismo

Vírus PlanetárioPorque neutro nem sabonete, nem a Suíça

R$2edição digital

nº 29janeiro

2013

Com conteúdo do

MEDIAFAZEN

DO

Rolezinhos nos shoppings derrubam um muro invisível e

revela o preconceito contra a periferia e juventude negra

“Esse é um momento histórico, muito mais que quando os caras pintadas que tiraram o Collor.”EntrEvista INclusiva: Marcelo D2

Rolezinho: Quem tem medo da periferia?

Edição Digital reduzida

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ExpEdiEntE:Rio de Janeiro: Alexandre Kubrusly, Ana Chagas, André Camilo, Artur Romeu, Bruna Barlach, Bruno Costa, Caio Amorim, Camille Perrisé, Catherine Lira, Chico Motta, Débora Nunes, Eduardo Sá, Joyce Abbade, Julia Campos, Julia Maria Ferreira, Livia Valle, Marcelo Araújo, Mariana Gomes, Mariana Moraes, Miguel Tiriba, Pedro Campos, Raquel Junia , Rodrigo Noel e Seiji Nomura | São paulo: Ana Carolina Gomes, Duna Rodríguez, Gustavo Morais, Jamille Nunes, Jéssica Ipólito e Luka Franca | Brasília: Alina Freitas, Edemilson Paraná, Luana Luizy, Mariane Sanches e Thiago Vilela | Minas Gerais: Ana Malaco, Laura Ralola e Paulo Dias | Ceará: Iorran Aquino, Joana Vidal, Livino Neto, Lucas Moreira e Rodrigo Santaella | piauí: Nadja Carvalho, André Café, Sarah Fontenelle, Mariana Duarte e Diego Barbosa | Bahia: Mariana Ferreira | paraíba: Mariana Sales | Mato Grosso do Sul: Marina Duarte, Tainá Jara, Jones Mário, Fernanda Palheta, Eva Cruz e

Juliane Garcez diagramação: Caio Amorim | Foto capa: Elvert Barnes

Conselho Editorial: Adriana Facina, Amanda Gurgel, Ana Enne, André Guimarães, Claudia Santiago, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, Henrique Carneiro, João Roberto Pinto, João Tancredo, Larissa Dahmer, Leon Diniz, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Mauro Iasi, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Repper Fiell, Sandra Quintela, Tarcisio Carvalho, Virginia Fontes, Vito Gianotti e Diretoria de Imprensa do

Sindicato Estadual dos Profissionais de Edução do Rio de Janeiro (SEPE-RJ)

Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principal-

mente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas

necessária para os virgens de Vírus Planetário:

Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é

nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso

estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcia-

lidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim,

parciais, com orgulho de darmos visibilidade a pessoas exclu-

ídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opres-

são. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível

gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor

é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas

batalhas do cotidiano.

Afinal, o que é a Vírus planetário?

Curta nossa página! facebook.com/virusplanetario

A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação e Editora com sede no Rio de Janeiro. Telefone: 3164-3716#Impressão: SmartPrinter

www.virusplanetario.com.br

Anuncie na Vírus: [email protected]

Siga-nos: twitter.com/virusplanetario

ComuniCação e editora

O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem

o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a

humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acredi-

tamos que com mobilização social, uma sociedade em que

haja felicidade para todos e todas é possível.

Recentemente, unificamos os esforços com o jornal alternativo Fazendo Media (www.fazendome-dia.com) e nos tornamos um único coletivo e uma única publicação impressa. Seguimos, assim, mais fortes na luta pela democratização da comunicação para a construção de um jornalismo pela diferença, contra a desigualdade.

Correio

>Envie colaborações (textos, desenhos, fotos), críticas, dúvidas, sugestões, opiniões gerais e sobre nossas reportagens para

[email protected]

Queremos sua participação!

Viral

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editorial

2014 chega arrebentando os tapumes

O período que se abriu após as jornadas de junho tem sido, desde então, estudado e discutido. As esperanças e anseios para o ano de 2014 chegaram tão fortes como há tempos não se via. Esse ano em que o Brasil sediará a Copa do mundo, a repressão aos movimentos sociais já começou forte, assim como a violência contra os segmentos mais pobres, oprimidos e explorados da nossa sociedade.

Com assassinatos, remoções e novas leis para aumentar a repres-são, a primeira edição do ano da Vírus nos lembra que os ataques contra a população não vem de hoje. Relembrando o golpe militar e a deposição do presidente Jango, acompanhamos a exumação do seu corpo que, décadas depois, finalmente aconteceu para verificar se houve ou não assassinato.

De Jango até os rolezinhos, muitos anos se passaram, mas a de-sigualdade social não passou. Mexendo com as estruturas da socie-dade, os rolezinhos tem trazido à tona uma realidade muito tris-te: a segregação racial e social. Os shoppings centers, palco desses eventos, estão no centro do debate. Se por um lado são a meca do consumo, por outro, o consumo, ali, não é para todos. Com portas fechadas, seguranças por todas as partes e auxílio policial, os empresários donos de shoppings e lojistas têm feito de tudo para conseguir excluir e garantir que tudo continue como deveria ser pra eles.

Felizmente vivemos tempo onde “o que é, exatamente por ser como é, não vai ficar tal como está”, como diria o poeta alemão Bertolt Brecht. Os rolezinhos não devem parar tão cedo, aliás, prometem fazer parte de um cenário onde as manifestações, de todos os tipos, prometem varrer o país. Se a luta contra a copa é a bandeira que se expressa de forma mais veemente em todos os protestos, a luta contra as más condições de vida é que está por trás desse movimento.

Se outros junhos virão, só o tempo dirá. Mas é importante que comecemos o ano firmes na luta, sem nos esquecer que “nada deve parecer natural, nada de parecer impossível de mudar”, como diria novamente Brecht. Que 2014 entre pra história não só como o ano que sucedeu 2013 e as jornadas de junho, mas como o ano que as lutas tomaram o país permanentemente.

Venha dar um rolezinho pelas lutas Brasil afora com a Vírus

sumário *da edição reduzida

8 Jango Vive

10 Hamilton Octavio de Souza_2013

foi apenas o ensaio de 2014?

14 CAPA_Quem tem medo da

periferia?

18 DIreitos Humanos_Esse tal Chópi

Centis

20 MS_QUando vendemos todas as

almas dos nossos índios num leilão

24 CE_Greve Geral, interior e capital

28 Inculsiva_Marcelo D2

32 Fazendo Media_Mandela além da

mídia grande

34 Bula Cultural

38 Sórdidos Detalhes

Edição Digital reduzida

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Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias

limpas.

Vamos barrar os leilões do petróleo!

www.sindipetro.org.br

Notícias da campanha:www.apn.org.br | www.tvpetroleira.tv

organização:

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traço livre

por Gustavo Morais | Veja mais em: www.gusmorais.com

COntinUA >>>>

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jango vive40 anos depois, restos mortais do ex-presidente

João Goulart estão sendo examinados. Suspeita-se de que ele fora assassinado.

Caixão de João Goulart sendo retirado | foto: thiago Vilela

Com quase quatro décadas de atraso, foi realizada, no final do ano passado (14/11), a exumação do ex-presidente João Goulart. De-posto no golpe civil-militar de 1964, Jango morreu durante o exílio, em 1976, e a família acredita que ele possa ter sido envenenado. Desde 2007, os familiares já haviam solici-tado ao Ministério Público Federal que investigasse o caso.

A exumação, coordenada pela Comissão Nacional da Verdade e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, começou às 8h da manhã e só terminou por vol-ta das 2h do dia seguinte. Jango foi sepultado no jazigo da família Goulart, com outras nove pessoas, dentre elas Leonel Brizola. Realiza-da por peritos brasileiros e estran-geiros, a operação foi inspecionada pela Cruz Vermelha Internacional.

Até o fechamento desta edição os restos mortais de Jango ainda estavam no Instituto de Crimina-lística da Polícia Federal, em Brasí-lia, e ainda não há prazos para os resultados da investigação.

De acordo com a versão oficial da época, Jango teria sido vítima de um ataque cardíaco. O corpo do ex-presidente, entretanto, nun-ca passou por uma autópsia. As suspeitas aumentaram depois que Enrique Foch Diaz, amigo do ex-presidente e autor do livro “João Goulart, el Crimen Perfecto”, des-cobriu que 18 pessoas diretamente envolvidas no caso morreram – 15 de ataque cardíaco. As demais também morreram em circus-tâncias obscuras. “O médico que atestou a morte de Jango e pedira

uma autópsia, por exemplo, mor-reu num ‘estranho acidente de carro’. Um piloto de Jango, quando se encaminhava para prestar de-poimento sobre o caso, perdeu a vida numa viagem de barco. Sua pasta com documentos desapa-receu”, afirma em seu livro. Diaz faleceu em 2005, vítima de um ataque cardíaco.

Mário Neira Barreiro, uruguaio detido desde 2003 na Penitenci-ária de Alta Segurança de Char-queadas, por assalto a banco e tráfico de armas no Brasil, é um dos protagonistas desta história. Sob o codinome Tenente Tamuz, ele pertenceu ao serviço de inte-ligência uruguaio. Segundo depoi-mento gravado em 2006, de 1973 até a morte do ex-presidente foi ele quem teria vigiado Jango, 24 horas por dia.

Assassinato?

por thiago Vilela

comissão da verdade

vírus planetário - janeiro 20148

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Enterro de João Goulart em São Borja (RS) - 07/12/1976 foto: reprodução

“ O corpo do ex-presidente,

entretanto, nunca passou por uma

autópsia”

Goulart fazia uso de medica-mentos importados da França, e segundo Neira Barreiro foi assim que ele fora envenenado. “Nós colocamos uma pessoa para tra-balhar no hotel [em que chega-vam os remédios], que se chama-va Heitor Rodríguez, que roubou os remédios de uma caixa que tinha uma trava, uma espécie de cofre forte do hotel. (...) Ele pe-gou da gerência e deu para nós, e o doutor Carlos Milles fez a colocação de um comprimido em cada êmbolo, com um hiperten-sor, que continha, em sua fórmu-la, potássio e um cloreto desidra-tado”, disse. Milles teria sido um legista uruguaio com outros ca-sos de envenenamento em seu currículo, e foi morto, conforme conta Barreiro, numa espécie de queima de arquivo.

Envenenado ou não, em de-zembro o professor Luiz Antonio Dias, chefe do Departamento de História da PUC-SP, descobriu os responsáveis por outro crime: o assassinato político do ex-presi-dente.

Para um estrangeiro que che-gasse no Brasil em 1964, Jango estaria isolado e divorciado da opinião pública, e as reformas propostas pelo governo eram ex-

Aprovação popular

tremamente impopulares. Grande parte da imprensa, inclusive, jul-gava ser necessário uma intervenção militar para pôr fim “à ameaça comunista”. O famoso editorial do Globo, apoiando o golpe, traduz bem o sentimento da mídia grande sobre o momento político do país.

As pesquisas de opinião encomendadas na época, entretanto, provam o contrário. O historiador analisou uma série de pesquisas feitas pelo Ibope às vésperas do golpe e, de acordo com Luiz An-tonio, 72% da população aprovava o governo Goulart em São Paulo. Entre os mais pobres, a popularidade chegava a 86%. Segundo o Ibope, as pesquisas contaram com procedimentos metodológicos e estatísticos bastante semelhantes aos atuais, e foram mantidas ocultas até 2003, quando foram doadas ao acervo do Arquivo Ed-gard Leuenroth, da Unicamp.

A ideia de um presidente popular, que tentava aplicar reformas que afetavam diretamente as classes mais abastadas foi mais do que o suficiente para descontentar o empresariado e parte das For-ças Armadas. Será que os militares teriam dado o golpe se as pes-quisas de opinião tivessem sido divulgadas? Ou eles deram o golpe exatamente por saber dos resultados das pesquisas? Como afirmou Victor Leonardo, da Carta Maior, há alguns dias atrás: “Depois de Jango, falta exumar as reformas de base”.

>>As Reformas de Base foram um conjunto de propostas que tinham como objetivo a diminuição das de-sigualdades sociais no Brasil. Dentre as principais estava a Reforma Agrá-ria, num modelo inspirado em paí-ses como a Itália e o Estados Unidos, onde terras foram distribuídas a pe-quenos produtores rurais

Jango em atividade com amplo apoio popular | foto: reprodução

vírus planetário - janeiro 2014 9

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2013 foi apenaso ensaio de 2014?

O descontentamento da sociedade indica que os protestos populares e os confrontos sociais serão mais agudos neste

ano de Copa do Mundo e eleições gerais no País.

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Sob o coro ruidoso das multi-dões que ocuparam as ruas das principais cidades brasileiras, ao longo de 2013, movidas pela ex-plosão de protestos e demandas represadas durante muito tempo, ficaram as marcas de uma nova conjuntura política e social, na qual, o povo, acordado, se dá con-ta de que o Brasil ainda precisa mudar muito para se tornar um lugar minimamente decente para se viver com dignidade, respeito aos direitos e menos desigualda-de, injustiça e impunidade.

Tanto é que as últimas pes-quisas de opinião, realizadas em novembro, sobre a perspectiva das pessoas nas eleições de 2014, atestam que a maioria clama por mudanças profundas – mesmo quando no leque das candidatu-

ras colocadas até o momento não tenha nenhuma claramente identi-ficada com um programa sério de mudanças. Mas vale registrar que o anseio por novos tempos esteve presente nas manifestações que sacudiram o País nos últimos me-ses.

Se a luta contra o aumento nos transportes públicos ser-viu de estopim para as primeiras mobilizações nas principais capi-tais, muitos outros fatores con-tribuíram para colocar milhares de pessoas em movimento, entre os quais antigas demandas populares por melhores serviços públicos de educação e saúde, investimentos em moradia e mobilidade urbana – tudo aquilo que tem a ver com o eterno descaso dos governos em relação às precárias condições de vida dos trabalhadores.

Ao lado de reivindicações bá-sicas e fundamentais, sempre adiadas pelas desculpas dos tec-nocratas e a insensibilidade dos políticos subordinados ao receitu-

ário neoliberal (Estado mínimo, pri-vatizações, prioridade para a eco-nomia e o ganho dos mercados), as ruas engrossaram os protestos contra a violência policial (prati-camente inalterada nos governos pós Ditadura Militar), por liberda-des democráticas e contra a des-carada corrupção que contamina os vários escalões da República.

Está cada vez mais claro – para boa parte da sociedade – que o modelo atual favorece a concen-tração da renda e da riqueza, transfere recursos do Estado para beneficiar o capital financeiro (Se-lic com juros a 10% a.a.) e o em-presariado (BNDES, PAC, Copa do Mundo). A farra se estende com “desonerações” (isenções e redu-ções de impostos) de vários se-tores industriais, incentivos ao agronegócio (sem contar o novo Código Florestal e a invasão de reservas indígenas), privatizações de rodovias e aeropostos e anistia do Banco do Brasil nas dívidas dos ruralistas.

Do outro lado, continua a “fle-xibilização” da legislação trabalhis-ta, a ameaça de novo processo de terceirização e precarização (PL 4330), a ausência de fiscalização e de proteção ao trabalhador, o au-mento das situações de trabalho escravo (no campo e na cidade), o aumento da informalidade e do “precariado” (milhões de jovens es-tudantes explorados como estagi-

“ O anseio por novos tempos esteve presente nas manifestações que

sacudiram o país nos últimos meses”

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ários e outros mecanismos de rebaixamento salarial) – tudo com a conivência dos poderes do Estado e a cumplicidade da grande mídia.

Após as grandes manifestações de junho, que conseguiram reverter – pelo menos – os aumentos nas tarifas dos transportes públi-cos em várias cidades, alguns governos en-saiaram medidas mais sintonizadas com o grito das ruas. Mas logo em seguida, após o período do pânico, recolocaram as promes-sas no fundo do baú e trataram de reforçar o esquema repressivo com a brutal escalada da violência policial contra o direito de ma-nifestação.

Assistimos, no segundo semestre, por todo o Brasil, os mais sórdidos métodos do “Estado Democrático de Direito” para enfren-tar os protestos de estudantes, professores, trabalhadores, desempregados, sem terra e sem teto, entre outros que ousaram con-quistar as ruas. O sistema repressivo usou agentes infiltrados, provocadores e todo tipo de armamento (bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, balas de borracha, casse-tetes, pistolas de choque etc) para conter o descontentamento popular. Além disso, a repressão executou milhares de prisões arbi-trárias pelo País afora, com acusações falsas, inquéritos forjados, especialmente para dis-criminar os manifestantes que não se intimi-daram diante da brutalidade policial.

O Brasil chega a 2014 – na visão dos grupos dirigentes – com o quadro político, econômi-co e social praticamente inalterado. Não há

2013 foi um ano marcante para

diversas lutas. Acima, e ao lado, imagens

da marcha das vadias no Rio de Janeiro (27/7/13). Acima, à

direita, ação de black blocs em repúdio

à repressão policial praticada contra os professores no dia 7 de outubro nos

arredores da Câmara Municipal do Rio de

janeiro

Fotos: Erick dau / Oilo

Manifestantes enfrentam forte repressão no dia 7 de setembro no grito dos excluídos no RioFoto: Fernando Frazão/Abr

Promessas vazias

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periência própria, que o caminho e a força das ruas representam possibilidades reais de conquistas e transformações. Isso, evidente-mente, dá uma nova qualidade ao movimento social. Quem viver, verá.

À direita, ativistas ocupam câmara municipal do Rio no dia 31 de julho. A ocupação,

que depois passou para o lado de fora, resistiu até o dia 15 de

outubro, quando, no dia d@ Professor(a), foi expulsa pela

mais brutal repressão da polícia desde o início das jornadas de junho que acabou prendendo

mais de 200 pessoas aleatoriamente.

Logo abaixo, o manifestante Bruno Telles sendo preso sob

a alegação de porte de um molotov que foi provado ser de

um Policial infiltrado.

nenhuma proposta de mudança substancial no modelo vigente. Os casos de corrupção abundam nos noticiários. Os partidos e as lide-ranças políticas estão alvoroçados em articulações para o pleito de outubro. O empresariado se posi-ciona no leilão de quem oferece mais. Está interessado nos gran-des negócios que o Estado tem proporcionado. Todos comemo-ram os lucros da Copa do Mun-do e a vitória nas urnas. O que importa, para eles, é abocanhar as

máquinas públicas para o butim dos amigos e aliados. As priorida-des do povo ficam para depois.

É nesse contexto que a grande maioria da população vai enfren-tar o novo ano. Certamente com as mesmas migalhas dos progra-mas sociais que enganam a fome, mas sem demandas transforma-das em direitos. A diferença agora é que muita gente já sabe, por ex-

Na esquerda inferior, o ato do dia 2/7 na Maré em protesto contra a chacina de mais de 12 pessoas assassinadas pela Polícia no dia 24/6 na Favela Nova Holanda. Por ser em meio às jornadas de junho, a população conseguiu um fato inédito de expulsar o caveirão (que continuava a ocupar a favela no dia seguinte) com palavras de ordem e apoio de manifestantes de diversas partes da cidade do Rio. Dificilmente, isso seria possível em outra conjuntura.

Na direita inferior, o ato do dia 30/6 na final da Copa das Confederações que protestava também contra a privatização do Maracanã, onde ocorria o jogo. Fotos: Erick dau / Oilo

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Quando adolescentes da periferia de São Paulo fazem grandes encontros nos shoppings para nada mais do que se divertir, o racismo e preconceito de uma

sociedade gerida pelos valores do capital são exposto

“Vamos dar um rolê?”, esse ter-mo cotidiano da vida da juventude paulistana de todas as classes so-ciais tem, nas últimas semanas, to-mado uma proporção que ninguém poderia antes imaginar. Quando um grupo de jovens de 14, 15, 16 anos da periferia de São Paulo marcou o seu rolezinho no shopping, o objeti-vo era “encontrar a galera, conhe-cer gente, beijar na boca, comer um lanche”, é o que diz T.S., 15 anos, que participou do segundo rolezi-nho no shopping Itaquera no dia 11 de janeiro. Assim como os outros participantes, T.S. queria fazer aqui-lo que qualquer jovem tem vonta-de de fazer em qualquer parte do mundo, certamente eles não pode-riam imaginar o que viria a seguir.

Quando os muros reais e ima-ginários do shopping deixam de cumprir a sua função que é de se-parar a classe média dos pobres a

realidade entra em colapso e a face mais brutal do capitalismo se revela. Longe de querer se manifestar ou lutar por alguma coisa, conversando com os meninos que participaram e participam dos rolezinhos fica mui-to claro quais os interesses deles. O interesse é ser um adolescente normal e se divertir acima de tudo. E isso, no capitalismo, também en-globa consumir e ostentar, como demonstram os Mcs do funk os-tentação, que são os ídolos da gale-ra que começou com essa onda de rolezinhos.

“O ato de ir ao shopping é um ato político: porque esses jovens estão se apropriando de coisas e espaços que a sociedade lhes nega dia a dia.” diz a antropóloga e professora de Antropologia do De-

por Bruna Barlach e Caio Amorim

quem tem medo da periferia?

senvolvimento na Universidade de Oxford, Inglaterra Rosana Pinheiro-Machado. Rosana, que estuda o consumo das camadas populares desde antes dos rolezinhos, afirma que sente certo prazer em ver a apropriação que esses jovens têm feito do espaço. Mas entre apro-priação e resistência há um abismo significativo.

Quando o consumo vira contra o consumo

direitos humanos

Confira a reportagem na edição completa digital ou impressa

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Page 15: Prévia Edição 29 Revista Vírus Planetário

“Quando vendermos todas as almas dos

nossos índios num leilão”

Quem dá mais? Quem dá mais para o extermínio indígena no mato grosso do sul?

mato grosso do sul

por Fernanda palheta, Rafael de Abreu, tainá Jara

Mato Grosso do Sul possui a segunda maior população indíge-na do Brasil e o menor número de terras demarcadas. Contexto mais que propício para sangrentos con-flitos fundiários, que acabaram o colocando também como o Esta-do com maior índice de lideranças indígenas assassinadas. Apesar da condição desfavorável, os índios persistem em retomar seus terri-tórios tradicionais. A iniciativa des-perta cada vez mais o ódio dos latifundiários, levando a disputa por terras até as últimas consequ-ências.

Diante da inércia do governo do PT em solucionar os conflitos a situação se agravou. A ocupação da Terra Indígena Buriti, em Si-drolândia, distante 72 km de Cam-po Grande, em maio deste ano e a reintegração desastrosa feita pela Polícia Federal, que culminou na morte do Terena Oziel Gabriel, acirraram os ânimos.

Confira a reportagem na edição completa digital ou impressa

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Page 16: Prévia Edição 29 Revista Vírus Planetário

EntrEvista INclusiva:

marcelo d2

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Page 17: Prévia Edição 29 Revista Vírus Planetário

Suas músicas têm a alma do Rio de Janeiro, as letras transpiram as ruas da cidade. Carioca da gema, ao completar vinte anos de estrada nos palcos do Brasil e do mundo Marcelo D2 diz que ainda tem muitos projetos pela frente. Marcelo Maldonado Gomes Peixoto nasceu no subúrbio, viveu boa parte de sua vida no Catete em torno da Lapa, núcleo da boemia e berço cultural do Rio, mas já andou por todo canto da cidade. No meio da malandragem se tornou um expoente do rap nacio-nal, mas nunca deixou de beber nas raízes no samba.

Na entrevista a Eduardo Sá, D2 fala sobre a impor-tância do rap, e qual papel esse gênero vai representar na história da música nacional. Em relação às drogas, reconhece as dificuldades de um país continental mas propõe a legalização em alguns estados.

Na defesa dos black blocs, critica o governo do Rio de Janeiro e a mídia tradicional. Segundo ele, essa onda de protestos que está ocorrendo na cidade é histórica e possibilita alguns avanços contra as injustiças num território extremamente desigual. “Esse é um momento histórico, muito mais que os caras pintadas que tiraram o Collor”, afirmou.

Fotos: Eduardo Sá

por Eduardo Sá

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sórdidos detalhes...

A verdade varrida pra debaixo do tapete

Negro, gay... 16 anos. Torturado, espancado, sua vida e sua dignidade destruídas por agressores que continuam incógnitos. E continuarão, no que depender da polícia de São Paulo. Encontrado com o rosto desfigura-do, sem dentes e com uma barra de ferro atravessada em sua perna, sua morte foi registrada como suicídio! Diversas manifestações estão sendo marcadas pelo país para que sua morte seja investigada e não engavetada como suicídio e para lutar contra a homofobia, que infelizmente ainda não é crime, graças à bancada religiosa que está com as mãos tão sujas de san-gue quanto os agressores. Até o fechamento da edição 18 pessoas foram assassinadas neste ano em crimes de ódio contra pessoas LGBTT. Quantos mais precisaram morrer para que a sociedade de conjunto encampe a luta contra as opressões?

suícidio???? “vende-se negro para todos os serviços”

Algo parecido com isso era o anúncio encontra-do em um portal de venda onde as pessoas vendem, bem, qualquer coisa. Qualquer coisa que estiver à venda. Logo o anúncio foi denunciado e retirado do site, que lavou as mãos de qualquer responsabilidade, lembrando que os anúncios são feitos pelos usuários. O responsável pelo anúncio, um jovem de 15 anos do Rio de Janeiro diz que foi motivado pelo fato de não ter conseguido ingressar num curso técnico por causa das cotas. Não, caro jovem, sua motivação foi o seu ra-cismo, claro e escancarado. Pelo jeito ainda temos um longo trabalho pela frente na luta contra o racismo e na afirmação da necessidade da políticas de cotas... Esse caso demonstra que as cotas, longe de “criar” o racis-mo só faz com ele seja escancarado. Pelo menos dessa vez o caso foi a julgamento, mas sendo o réu menor de idade, foi registrado como ato infracional no Artigo 20 da Lei 7.716, por ‘praticar, induzir ou incitar a discri-minação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”

Ato contra a homofobia em protesto pela morte do garoto Kaíque reu-niu cerca de 500, no Largo do Arouche em São Paulo. O cartunista Laerte Coutinho marca presença. Os ativistas fizeram uma caminhada até o local onde o corpo do garoto foi encontrado. Revoltados, ecoa-ram os gritos de:

“Kaique, eu vou lutar/a sua morte o Estado vai pagar!” “Ei, PM, não foi suicídio!” “Ô Dilma pisou na bola / homofobia continua nas escolas!”Fotos: PSTU

Abaixo, o ilustrador Paulo Marcelo Oz ( www.facebook.com/tirinhasoz ) expressa sua revolta em tirinha

vírus planetário - janeiro 201418

Page 19: Prévia Edição 29 Revista Vírus Planetário

Agora tá liberado chamar manifestantes de “forças oponentes”. Tá liberado também usar de violências e métodos extremos para garantir que os manifestantes, desculpe, forças oponentes, não se manifestem, ou melhor, não cometam ameaças contra a lei e a ordem. Lei e ordem de quem, seria bom nos perguntarmos.

Fecharam a rua? Não tem problema, só dar um toque nas forças armadas e rapidamente a manifestação será contida e os manifes-tantes identificados e presos. Claro, presos, pra garantir que não aconteça de novo.

Parece ditadura militar mas é uma realidade que iremos enfren-tar ao longo de 2014. A presidenta Dilma assinou a portaria que permite essa e outras peripécias às forças armadas. Afinal, garantir que a Copa aconteça, e que aconteça de preferência sem que apa-reçam nas redes internacionais de TV nenhuma manifestação, é o maior objetivo do governo do PT para esse ano.

Além de lutar contra a Copa, será preciso lutar novamente pelo direito à livre manifestação, assim como as gerações anteriores fizeram.

Na África do Sul o pastor Daniel Lesego líder do Ministério Centro Rabone, em Garankuwa, ao norte da Pretória, incen-tivou, de maneira bastante enfática, podemos dizer, os seus fiéis a comerem grama.

Guiados pelo discurso do pastor os fiéis se ajoelharam no chão e começaram a comer grama. Para o pastor essa forma de imitar os animais faz com que os homens estejam mais próximos de Deus. Tão próximos que comendo grama até mesmo seria possível conseguir milagres! Uma fiel afirma que teria voltado a andar depois de comer grama como o pastor mandou.

Criticado pelos seus próprios pares religiosos, a atitude do pastor parece que de fato não agradou. Outros pastores di-zem que de forma alguma nenhum fiel deve ser tratado dessa forma e nem degradado.

Só vamos esperar que esse tipo de atitude não vire moda. Seja qual for a religião, respeito pelas pessoas deveria ser condição básica para qualquer sacerdote. Infelizmente não é isso que temos visto por aí.

lei e ordem

“Quer estar mais perto de deus? coma grama!”

no calor do maranhão, as coisas vão muito bem

Pelo menos é isso que diz a queridíssima Ro-seana Sarney. Depois de ter caído na internet, na boca do povo e em todos os jornais a situação escandalosa que acontece nos presídios, onde presos foram assassinados por facções rivais e sofreram degolação (e que isso foi filmado) a si-tuação da governadora, que já não vinha conse-guindo segurar mais as pontas há tempos, ficou insustentável.

Para tentar tirar o foco do problema que são os presídios do estado do Maranhão, Roseana disse que a violência do estado tinha aumentado porque o estado estava mais rico e mais riqueza, é claro, quer dizer mais criminalidade. Só esque-ceram de contar dessa lógica muito louca para o presidente da Suíça. Foi pedido o impeachment da governadora, mas é claro que o pedido foi ar-quivado, afinal, a justiça certamente não é para todos.

Após comer grama, fiéis passaram mal. | Foto: reprodução

vírus planetário - janeiro 2014 19

Page 20: Prévia Edição 29 Revista Vírus Planetário

A Educação Pública nunca esteve tão na pauta como em 2013. As greves e paralisações realizadas por

diversas redes municipais e pela rede estadual, com assembleias e passeatas massivas que ocupa-

ram o espaço dos diferentes municípios onde elas se realizaram e a pauta de discussão da população que deu amplo apoio à mobilização por uma escola

pública e de qualidade foram uma prova de que nossas reivindicações são justas.

Uma greve que entra para a história da rede mu-nicipal do Rio de Janeiro, considerando o nível de

adesão, além da greve da rede estadual no mesmo período, unificando as lutas, além das greves rea-

lizadas em diferentes redes municipais ao longo do ano, com conquistas para nossas pautas de reivin-

dicações são uma prova de que é possível mudar a realidade e garantir a educação pública de qualida-

de por que tanto lutamos.

Em 2014, o Sepe convoca os profissionais de edu-cação para a luta. No ano da Copa do Mundo no

Brasil, vamos exigir dos governos federal, estadual e municipal a valorização que a escola pública

merece. Queremos uma escola “padrão Fifa”! Veja o calendário de mobilização:

Educação Estadual na luta!

36 anos

Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro

Redes estadual e municipais irãoà luta em 2014

Calendário de mobilização:

>>>15/02: Assembleia unificada das redes estadual e municipal do Rio de

Janeiro, 14h, em local a confirmar.

>>>24/02: Aula pública inaugural – com a participação das redes

estadual, municipal do Rio e demais redes municipais, no Centro do Rio, para marcar o início da mobilização

da educação pública em 2014.