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Primeira edição do Jornal MPL Joinville

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Primeira edição do Jornal MPL Joinville

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Page 1: Primeira edição do Jornal MPL Joinville

mpljoinville.blogspot.com [email protected]

Idosos perdem passe livre

pág. 2

Outra maneira de se pensar o transporte

pág. 3

Aumento da passagem interfere na vida do cidadão

pág. 4

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A concessão de um bene-fício justo - a gratuidade na tarifa para idosos entre 60 e 64 anos – seguido de sua retirada, é um dos sintomas que provam que nosso modelo de transporte está cheio de problemas. Tarifa alta, desconforto, poucas li-nhas, falta de segurança, ônibus ruins e lotados são característi-cas de um transporte nada de-mocrático, controlado por duas empresas privadas que fazem o que bem entendem, com autori-zação da prefeitura de Joinville.

Sendo o nosso transporte uma fonte sem controle de lu-cros para os empresários, não espanta que qualquer benefício que diminua esse lucro seja retirado. Acesso à cidade, ao entretenimento, ao lazer, a arte e respeito ao direito de ir e vir, que um transporte de qualidade e democrático deve atender, não faz sentido quando o sistema está à serviço do lucro de indiví-duos. O que conhecemos como transporte coletivo público de Joinville não existe. Se pagamos para usá-lo, não é público. Se dá lucros a indivíduos, não é nosso!

A prefeitura, ao conceder a gratuidade para os idosos, quis aplicar uma melhoria no sistema, mas o MPL, apesar de lutar pelo passe livre, sempre indicou que esse benefício - para qualquer setor, categoria

ou classe da população - só seria possível com uma trans-formação no sistema.

Apesar de ser uma injus-tiça a retirada do benefício, dentro da lógica que estamos inseridos, as empresas podem sim recorrer e cancelar qual-quer medida que não atenda aos seus interesses. Fica claro que não poderemos caminhar livres enquanto estivermos dominados por empresas pri-vadas. A iniciativa da gratui-dade por parte da prefeitura foi uma tentativa de tapar o sol com a peneira. Uma farsa, pois qualquer tipo de passe livre é incompatível com o atual mo-delo de transporte.

Assim, as ações da prefei-tura caminham sempre para manter essa lógica, desviando da necessidade de retirada das empresas Gidion e Trantusa, que há 40 anos exploram o transporte sem licitação.

Agora, a prefeitura prome-te retornar o benefício, dizen-do ser uma questão de honra. Algumas medidas são apon-tadas como solução: criação de um fundo municipal para o transporte ou até o uso de recursos financeiros de outras áreas. Mas o que para eles re-solveria o problema não pas-sa de mais uma maneira de continuar satisfazendo as em-

presas – colocando dinheiro público no bolso dos empre-sários. Acabaremos pagando pelo transporte duas vezes: di-retamente quando compramos uma passagem e indiretamen-te quando parte do orçamento de nossos impostos for para o bolso dos empresários.

Se for pra honrar com-promisso, o atual prefeito deve se lembrar que anos atrás entrou com uma ação no Ministério Público contra as empresas e que em cam-panhas passadas criticava o atual sistema de transporte, prometendo mudança se fos-se eleito. Manter o benefício com o dinheiro público é, na verdade, manter um compro-misso com as empresas – um compromisso de exploração.

Todos os idosos merecem a gratuidade, mas esse bene-fício só pode ser implantado com uma transformação no sistema, que pode ser capaz de dar passe livre a toda popu-lação. Um transporte público, sem exploração privada, com tarifa zero. É em torno dessa proposta que deve girar a dis-cussão para a implantação de um novo sistema, não em sim-ples medidas, como subsídios e abertura de concessão para exploração das mesmas e até de novas empresas.

Artigo

Passe livre para idosos?

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Artigo

Entre os anos de 1989 e 1993, São Paulo teve um grande debate sobre a ques-tão do transporte coletivo. Desde aquela época, trans-porte já era sucateado e tinha tarifa altíssima, não atenden-do assim as necessidades da população. A Prefeitura, ven-do as dificuldades encontra-das no sistema de transporte, encabeçou dois projetos para mudar essa realidade: o tarifa zero e a munipalização.

Tarifa ZeroNo Tarifa Zero não eram

mais os usuários que paga-vam o transporte coletivo, mas sim as camadas mais ricas da população, através de impostos. Esses impostos funcionavam de maneira pro-gressiva, ou seja, paga mais quem tem mais, paga menos quem tem menos. Já quem não tinha nada, nada pagava.

Essa idéia parte da lógica que é os donos das empresas e comércios são quem re-almente se beneficiam com o transporte, pois, é graças a ele que as pessoas podem chegar aos seus locais de trabalhos e/ou consumir os produtos. Então nada mais justo que eles arquem com essa despesa.

Um projeto piloto do Tari-

fa Zero foi testado com suces-so no Conjunto Habitacional Cidade Tiradentes, na cidade de São Paulo, em 1991 - onde moravam aproximadamen-te 200 mil pessoas. Porém a ideia não foi implantada em toda cidade pois não foi apro-vada na Câmara de Vereado-res, onde a Governo Munici-pal tinha minoria, e não ouve pressão popular suficiente para manter o projeto.

MunicipalizaçãoNa municipalização,

muda a forma de pagar as empresas de transporte cole-tivo. Hoje em dia elas são pa-gas diretamente através dos usuários - sem fiscalização da Prefeitura ou da população.

No sistema municipaliza-do, as empresas não ganha-riam por usuário, mas sim por viagem e quilômetro rodado - dessa forma, quanto mais as empresas colocarem ônibus nas ruas, mais elas ganhariam.

Esse sistema também prevê a criação de um cai-xa municipal do transporte, onde estaria o dinheiro para ser repassado para as em-presas, vindo dos impostos progressivos.

É impossível pensar no Tarifa Zero com o atual mo-delo de transporte. A munipa-

lização é uma das formas de viabilizar essa prosposta.

A municipalização já foi implantada em todo o siste-ma de transporte na cidade de São Paulo, em 1991. Ela proporcionou um aumento na qualidade do transporte e maior controle da prefeitura sobre as empresas. Apesar disso, por pressão das empre-sas de ônibus, o projeto não passou de três mandatos.

Participação PopularNós do Movimento Passe

Livre sempre defendemos que precisamos de transpor-te “gratuito, abundante e de qualidade” para que todos possam usufruir da cidade. Por isso acreditamos que só o Tarifa Zero e a Munipali-zação resolverão de uma vez o problema do transporte. Acreditamos que a popula-ção deva participar de forma direta na administração e na organização do transporte coletivo, para assim termos não só um transporte gratui-to, mas também abundante e de qualidade.

Cabe a nós, a população, pensarmos em formas para viabilizar essa participação e discutir propostas que real-mente melhore nossas condi-ções de vida.

Experiências testadas

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Matéria

Pequeno aumento que pesa no bolso do cidadãoAs duas sacolas de ali-

mentos que Márcia traz ao sair do supermercado po-deriam estar mais cheias. O estudante Cláudio não apre-cia mais o sabor da comida de sua mãe. Agora ele mora sozinho no centro da cidade. Nos dois casos, a pequena diferença diária no aumen-to do preço da passagem do transporte público mudou o rumo desses cidadãos joinvi-lenses. Os 12,2% de acrésci-mo no valor do passe, feito na metade de 2009, adicio-nou apenas R$ 0,25 por uni-dade, diferença que no final de cada mês, pesa bem mais que poucos centavos.

Márcia trabalha como se-cretária. Usa o ônibus como meio de transporte do bairro onde mora para seu traba-lho. Além dela, sua mãe, que trabalha como diarista, utiliza o transporte coleti-vo para sua locomoção. O gasto diário fixo é de quatro bilhetes. Com a média men-sal de 22 dias úteis, Márcia e sua mãe gastam R$ 202,40

com passagens de ônibus so-mente para locomoção até o trabalho. Antes do aumento, o gasto era R$ 180,40. Com a diferença de R$ 22,00, equivalente aos R$ 0,25 de aumento por unidade de passe, a secretária poderia comprar cinco quilos de ar-roz, cinco quilos de açúcar, um quilo de feijão, um quilo de sal, cinco quilos de fari-nha de trigo e um quilo de macarrão. Segundo o Procon de Joinville, a soma do va-lor desses alimentos custa-ria R$21,99 – um centavo a menos que a diferença após o aumento. “Isso sem contar com os 6% de aumento de água”, completa Márcia.

Márcia mora de aluguel. Paga R$ 300,00 por mês. São quatro pessoas morando na casa. Como o bairro onde mora é afastado do centro da cidade e pouco se encontra de lazer e cultura na região, é preciso utilizar o transpor-te coletivo se tiver interesse por teatro, cinema, shows e outros eventos. “É compli-

cado, às vezes quero levar meu filho no parquinho, mas não tem como. A passagem ta muito cara”, explica.

Para o estudante Cláudio, a alternativa para diminuir os gastos, foi morar próxi-mo ao trabalho e com fácil locomoção de bicicleta para faculdade. “Morava do outro lado da cidade, é complicado usar a bicicleta todo o trecho. Morando no Centro, fica mais fácil”, disse. O estudante utili-zava três passagens diariamen-te nos dias de semana. Nos finais de semana, costumava usar quatro passes. A média de R$ 168,10 gastos durante o mês, já o fazia pensar em se mudar. Quando o valor para usar o transporte passou para R$ 188,60, decidiu fazer as malas e sair do bairro Floresta. “Gasto R$180,00 de aluguel e acabo economizando no al-moço também”, completa. A única tristeza do estudante é a falta do “feijãozinho da mãe”. “Agora tenho que me virar, mas economicamente vale mais a pena”, comenta.

Joinvilenses mudam rotina para economizar na passagem de ônibus

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