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INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE RIO VERDE – IESRIVER DIREITO LEONARDO HENRIQUE DE JESUS DA SILVEIRA PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA VERSUS PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO EXERCIDA PELA IMPRENSA RIO VERDE – GOIÁS 2010

PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA VERSUS PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO EXERCIDA PELA IMPRENSA

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Page 1: PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA VERSUS PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO EXERCIDA PELA IMPRENSA

INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE RIO VERDE – IESRIVER

DIREITO

LEONARDO HENRIQUE DE JESUS DA SILVEIRA

PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA VERSUS PRINCÍPIO DA

LIBERDADE DE EXPRESSÃO EXERCIDA PELA IMPRENSA

RIO VERDE – GOIÁS

2010

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LEONARDO HENRIQUE DE JESUS DA SILVEIRA

PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA VERSUS PRINCÍPIO DA

LIBERDADE DE EXPRESSÃO EXERCIDA PELA IMPRENSA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Ensino Superior de Rio Verde, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Profª. Ms. Erika Bernades Palazzo Ribeiro Cruvinel.

RIO VERDE – GOIÁS

2010

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LEONARDO HENRIQUE DE JESUS DA SILVEIRA

PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA VERSUS PRINCÍPIO DA

LIBERDADE DE EXPRESSÃO EXERCIDA PELA IMPRENSA

Monografia apresentada ao Instituto de Ensino Superior de Rio Verde como requisito

parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, sob orientação do Prof.

Erika Bernades Palazzo Ribeiro Cruvinel, aprovada em___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

Orientador:__________________________________________

Prof. Ms. Erika Bernardes Palazzo Ribeiro Cruvinel

IESRIVER

Membro:__________________________________________

Profa. Ms.

Membro:_________________________________________

Prof. Ms.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a influência da mídia, através dos meios de comunicação, com a exposição de suas opiniões, influindo positivamente ou negativamente sobre a sociedade, fazendo com que o acusado seja condenado previamente formando assim, um pré-conceito, desrespeitando desta forma, a sua presunção de inocência. Também falará das influências da mídia na sociedade dentro do processo penal, com ênfase no Tribunal do Júri, onde a sociedade que já obtêm uma opinião formada seja pela a mídia ou por sua própria consciência, julgará o acusado, o qual não teve ainda seu direito de defesa, ferindo a sua inocência. Palavra chave: Liberdade de expressão. Presunção de Inocência. Mídia. Influência no processo penal.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 5

1 PRINCÍPIOS .................................................................................................... 6

1.1 Princípios da presunção de inocência .......................................................... 6

1.1.1 Histórico .................................................................................................... 6

1.1.2 Conceito .................................................................................................... 7

1.1.3 Objetivo ..................................................................................................... 8

1.2 Princípio da liberdade de expressão exercida pela imprensa .................... 10

1.2.1 Histórico .................................................................................................. 10

1.2.2 Conceito .................................................................................................. 14

1.2.3 Responsabilidades .................................................................................. 14

2 A INTERFERÊNCIA DO PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE

EXPRESSÃO EXERCIDA PELA IMPRENSA NO PRINCÍPIO DA

PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA .................................................................... 16

2.1 Por meio da mídia ...................................................................................... 16

2.2 Comunicação de massa ............................................................................. 17

2.3 As influências da mídia nos tribunais do júri ............................................... 18

3 A PUBLICAÇÃO DE CASOS AINDA NÃO JULGADOS ............................. 20

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 23

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 25

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INTRODUÇÃO

O Direito brasileiro tem como princípios, além de outros muito importantes, o

princípio da presunção da inocência e o princípio da liberdade de expressão. Ambos

os princípios são garantias constitucionais fundamentais para a realização da justiça.

O princípio da presunção de inocência e o princípio da liberdade de

expressão exercido pela imprensa, surgiram, a partir do Direito Natural, sem o qual

não se pode pensar numa vida em sociedade de forma harmônica e feliz.

De um lado, o princípio da presunção da inocência é a base do processo

judicial no Brasil, pois todo cidadão é considerado inocente até prova em contrário.

Sem esses princípios não poderíamos pensar em um Estado Democrático de Direito.

Por outro lado, também não se poderia pensar em uma sociedade livre sem o

princípio da liberdade de expressão, pois a liberdade de se expressar, pensar,

questionar, discutir é a base da democracia. No entanto, a liberdade de expressão

não pode ser usada para ferir o princípio da presunção da inocência, mas não é isso

que vem ocorrendo nos dias atuais.

A imprensa por meio da utilização na difusão de informações jornalísticas e a

mídia pelo o conjunto dos meios de comunicação social de massas abrangendo

esses meios o rádio, o cinema, a televisão, a imprensa, os satélites de

comunicações, os meios eletrônicos e telemáticos de comunicação etc, tem se

valido dessa liberdade para veicular notícia sobre crimes e quem os cometeu já

apresentando um pré-julgamento do caso. Isso não seria problema, se a mídia e a

imprensa não tivessem um grande poder em suas mãos que é o de formar opiniões.

Nesse artigo, busca-se discutir a necessidade de uma limitação da liberdade

de expressão exercida pela mídia sob pena de o princípio constitucional da

presunção da inocência ser ferido em sua amplitude. E, para a realização do

trabalho, foi realizada pesquisa bibliográfica e documental nos livros, doutrinas e nas

leis e sítios eletrônicos que tratam sobre o tema.

Para a melhor elucidação dos conceitos abordados, primeiramente passa-se

à conceituação dos princípios abordados, bem como a uma breve retomada histórica

do reconhecimento legal destes princípios. Posteriormente, aborda-se a questão da

interferência da mídia na presunção de inocência dos acusados de crimes no Brasil.

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1 PRINCÍPIOS

1.1 Princípio da presunção de inocência

1.1.1 Histórico

Como ensina Moraes (2002), a garantia da presunção de inocência já era

prevista desde a Declaração francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão,

promulgada em 26 de agosto de 1789, no seu artigo 9º da referida Declaração, que

diz:

Artigo 9º: Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei. (MORAES, 2002, p. 385).

Outra convenção que prevê este princípio é o Tratado feito na Convenção

Americana sobre Direitos Humanos, ora conhecido como Pacto de San José da

Costa Rica, ocorrido em novembro de 1969, em seu artigo 8º, II, que reza os

seguintes dizeres:

Artigo 8º: Garantia judiciais. (...) II – Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma inocência, enquanto não for legalmente comprovada culpada. Durante o processo, toda pessoa tem direito em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas. (MORAES, 2002, p.387).

Este princípio veio a ser inserido na Constituição Federal do Brasil em 1988,

após a sua promulgação.

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1.1.2 Conceito

Atualmente, o princípio da presunção de inocência está previsto no artigo 5º

da Constituição brasileira de 1988 em seu inciso LVII, que versa como mostrado a

seguir:

Artigo 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LVII - ninguém será considerado culpado até o transito em julgado de sentença penal condenatória.

Princípio este, que visa tão somente tutela da liberdade pessoal, como

Moraes (2004):

A constituição Federal estabelece que ninguém será considerado culpado até o transito em julgado de sentença penal condenatória, consagrando a presunção de inocência, um dos princípios basilares do Estado de Direito como garantia processual penal, visando à tutela da liberdade pessoal. (MORAES, 2004, p. 385).

Em virtude disso, Moraes (2004), aponta três exigências decorrentes da

previsão constitucional, a saber:

1 – o ônus da prova dos fatos constitutivos da pretensão penal pertence com exclusividade à acusação, sem que se possa exigir a produção por parte da defesa de provas referentes a fatos negativos (provas diabólicas); 2 – necessidade de colheita de provas ou de repetição de provas já obtidas perante o órgão judicial competente, mediante o devido processo legal, contraditório e ampla defesa; 3 – absoluta independência funcional do magistrado na valoração livre das provas.

Então, o Estado será responsável por comprovar a culpa do indivíduo. Esta

presunção é uma presunção juris tantum1, que é exigida para que haja a existência

de um mínimo necessário de provas produzidas por meio do devido processo legal.

1 Juris tantum – (latim): Presunção relativa ou condicionada, que se admite até prova em contrário;

que resulta do próprio direito ou só a ele pertence. Guimarães (2006, p. 382).

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Moraes (2004), ressalta que o direito de ser presumido inocente tem como função

básica 4 (quatro) itens, a saber:

1 - limitação à atividade legislativa;

2 - critério condicionador das interpretações das normas vigentes;

3- critério de tratamento extraprocessual em todos os seus aspectos

(inocente);

4- obrigatoriedade de o ônus da prova da prática de um fato delituoso ser

sempre do acusador.

Isto quer dizer, que o acusado tem direito de ser presumido inocente pelo

Poder legislativo na hora da criação das leis e judiciário durante o processo e até

mesmo pela polícia antes mesmo de prender o acusado e assim consecutivamente

até o Ministério Público, quando terá que provar a culpa do agente, garantindo assim

a presunção de inocência do acusado.

Como mostra ainda, Tavares (2007, p. 629-630),

naquilo que se pode denominar “Direito Constitucional Penal”, há uma grande riqueza de detalhes presente na Constituição de 1988, que institui alguns direitos fundamentais sendo como um dos principais o princípio da presunção de inocência.

1.1.3 Objetivo

Este princípio tem como maior objetivo a garantia de que ninguém poderá ser

considerado culpado pela prática de qualquer ato ilícito sem antes ter sido julgado

pelo o juiz natural devidamente togado, ou em caso de júri popular que deverá ser

julgado por representantes da sociedade e com uma ampla oportunidade de defesa.

(TAVARES, 2007).

Segundo Tavares (2007), o Estado, deve proceder a sua acusação formal,

com o devido processo legal, para provar a autoria do crime. Por isso que os

doutrinadores dizem que este princípio está relacionado com o Estado Democrático

de Direito, se não fosse assim, o Estado estaria regredindo ao mais puro e total

arbítrio estatal.

Portanto a presunção de inocência não se circunscreve ao âmbito do

processo penal, mas também, no foro criminal e no âmbito extraprocessual. Por isso,

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a autoridade policial, carcerária, administrativa e outras não podem considerar

culpado o indivíduo que não foi ainda julgado pela a autoridade jurisdicional.

(TAVARES, 2007).

Entretanto, cabe bem lembrar, como já dito logo acima, fica com o Estado o

ônus de comprovar a culpa do indivíduo. Esta presunção é uma presunção juris

tantum, que é exigida para ser afastada a existência de um mínimo necessário de

provas produzidas por meio o devido processo legal. (MORAES, 2004).

Segundo Moraes (2004), o principio da presunção da inocência muitas vezes

é confundido com o principio In dúbio pro reo2, por serem ambos do mesmo gênero

Favor rei3.

A culpabilidade interfere diretamente na presunção de inocência. Segundo

Tavares (2007), é compreendida como fundamento da pena e do próprio jus

puniendi4.

De acordo com Moraes (2004, p. 386), o Supremo Tribunal Federal em

plenário, entendeu que a regra do artigo 594, 1º parte, caput do Código de Processo

Penal, que diz taxativamente:

Artigo 594: O réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, ou prestar fiança, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença condenatória, ou condenado por crime de que se livre solto.

Entretanto, não foi revogada pela presunção de inocência do artigo 5º, LVII,

da Constituição Federal do Brasil. O mesmo entendimento teve o Superior Tribunal

de Justiça, em reunião no seu plenário, redigiu a Súmula 9:

Súmula 9: A exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência. (MORAES, 2004, p.386).

Ou seja, a referida súmula em tela, nos diz que mesmo se o agente apelar,

caberá a prisão do mesmo e este aprisionamento não ofende o princípio da

presunção de inocência, como era alegado pelos os seus defensores.

2 In Dubio Pro Reo – (latim) Na dúvida, decida-se a favor do réu. Guimarães (2006, p. 363). 3 Favor Rei – (latim) Favorável ao réu. Guimarães (2006, p. 322). 4 Jus Puniendi - (latim) Direito de punir privado do Estado. Guimarães (2006, p. 383).

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Ainda de acordo com Moraes (2004), o lançamento do nome do acusado no

rol dos culpados, fere o princípio constitucional denominado de presunção de

inocência.

Isto quer dizer, que o acusado não poderá ter seu nome inserido no rol dos

culpados, antes da sentença condenatória transitada em julgada, mesmo que este

se encontre preso, seja o motivo qual for, e qual seja a espécie da sua prisão, como

exemplo: prisão preventiva, prisão em flagrante delito e qualquer outra forma.

Moraes (2004), nos mostra algumas hipóteses em que o princípio da

presunção de inocência, mantém-se o réu preso e não fere o princípio em tela.

1.2 Princípio da liberdade de expressão exercida pela imprensa

1.2.1 Histórico

O princípio da liberdade de expressão foi assegurado no seu artigo 7º na

constituição federal de 1793, que possuía os seguintes dizeres conforme Farias

(2004, p. 60):

Artigo 7º: O direito de manifestar seu pensamento e suas opiniões, pela imprensa ou por qualquer outra via, o direito de se reunir pacificamente e o livre exercício dos cultos não podem ser proibidos.

Entretanto, a liberdade de expressão foi inserida como direito fundamental em

um período histórico relativamente recente. Sua proclamação como direito foi

consolidada pelo Estado liberal, (MIRANDA, 1963).

Por outro lado, a Constituição do Império veio preservando o princípio da

liberdade de expressão até o ano de 1937, quando instaurou o período conhecido

como Estado Novo durante o governo do presidente Getulio Vargas, o qual, este

princípio vem a desaparecer vigorando a Censura como meio de impedir a

publicação, Farias (2004).

Em assembléia geral quando a Organização das Nações Unidas (ONU)

ocupou-se com o tema da liberdade da expressão e comunicação aprovando a

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Resolução nº. 59 de 14 de dezembro de 1946, que estabelece: “a liberdade de

informação é um direito humano fundamental e pedra de toque de todas às

liberdades as quais estão consagradas as Nações Unidas”.

Sob este fundamento, iniciou-se um processo de redemocratização e a

inserção deste princípio na Constituição Federal de 1946, assegurando o direito à

liberdade de expressão no novo ordenamento jurídico. Entretanto, o presidente

Getulio Vargas se preocupou em editar a Lei nº. 2.083 de 1953, restringindo em

parte o princípio da liberdade de expressão. (FARIAS, 2004).

Posteriormente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em

1948, pela ONU, no seu artigo 19, proclama:

Todo homem tem direito a liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser incomodado por suas opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias, por quaisquer meios de expressão, independentemente de fronteiras.

Outro documento foi o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos,

adotado em assembléia geral da ONU, em dezembro de 1966, prescreve no seu

artigo 19:

1 Ninguém poderá ser molestado pelas suas opiniões. 2 Todas e qualquer pessoa terá direito a liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e idéias de toda espécie, sem consideração de fronteiras, sob forma escrita ou oral, impressa ou artística, ou qualquer outro meio a sua escolha. 3 O exercício das liberdades previstas no parágrafo 2 do presente artigo comporta deveres e responsabilidades especiais. Pode, em consequência, ser submetido a certas restrições, as quais, todavia, devem ser expressamente previstas em lei e serem necessárias para: a) garantir o respeito dos direitos ou da reputação de outros; b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral publicas.

Também, o tratado pactuado na Convenção Americana sobre Direitos

Humanos, conhecido também como (Pacto de San José de Costa Rica), ocorrido em

novembro de 1969, estipula no seu artigo 13:

Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.

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Este item apenas resguarda o direito de ser informado e de informar,

garantido pelo princípio da liberdade de expressão podendo ser expandido por

qualquer parte.

2 O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito a censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem se expressamente fixadas pela lei e ser necessárias para assegurar: a) o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou b) a proteção da segurança nacional, da ordem publica, ou da saúde ou da moral públicas.

Este inciso garante a proteção do princípio, afastando de vez a censura, que

perdurou por muitos anos no Brasil, devendo ainda, proteger o respeito com as

pessoas, a proteção nacional, a ordem pública e diversos outros direitos.

Uma ressalva refere-se à censura governamental, isto quer dizer, os meios de

comunicação são regulamentados por órgãos governamentais, ficando nas mãos

desses órgãos a autorização para a sua licença de funcionamento, tornando uma

censura pública governamental.

4 A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso II 5 A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitação à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência.

Diante o exposto, conclui-se que a responsabilidade que a imprensa possui,

tendo que respeitar a proteção moral das crianças e adolescentes e principalmente a

nação brasileira e a União, não se enquadra no rol da censura.

Vindo daí, o preparativo para a inserção deste princípio na Constituição

Federal de 1988, dando uma maior amplitude nos direitos e garantias individuais,

que é um requisito essencial na existência da sociedade democrática de direito.

(FARIAS, 2004).

Estes são os enormes prestígios apresentados à liberdade de expressão e

comunicação, que é considerada como uma das estrelas dos direitos fundamentais

na constituição dos Estados democráticos de Direito.

Cabe ressaltar que, com a promulgação da Constituição Federal de 1988,

este princípio veio se tornar cláusula pétrea, no artigo 60, § 4º, I a IV, da referida lei,

Artigo 60: A constituição poderá ser emendada mediante proposta. (...)

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§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – os direitos e garantias individuais.

Podemos concluir, com tudo isso, que hoje em dia, este princípio, não poderá

ser mais retirado da Constituição Federal, pois, é considerada como cláusula pétrea,

tendo em vista, que todos os Estados Democráticos de Direito possuem estes

princípios defendendo os direitos individuais e humanos dos homens.

1.2.2 Conceito

O princípio da liberdade de expressão 5 exercida pela imprensa hoje em dia,

está tipificado no artigo 5º, IX, na Constituição da República Federativa do Brasil,

desde 1988, e nos diz:

Artigo 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. (...) IX- “é livre a expressão de atividade intelectual, artística, cientifica, e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

Entretanto como ressalta Tavares (2007, apud SILVA, 2002, p. 240): “trata-se

de liberdade de conteúdo intelectual e supõe o contacto do individuo com seus

semelhantes”.

De acordo com Moraes (2002) o direito de liberdade de informação é um

direito essencial por estar dirigido à toda a sociedade, independentemente de

qualquer classe social, crença ou convicção, com o objetivo de levar informações.

O termo liberdade de expressão não se inclui sensações e sentimentos. Ele

abrange tanto a liberdade de pensamento que se limita aos juízos intelectivos,

(TAVARES, 2007).

5 Liberdade de expressão: é a liberdade que tem o indivíduo de exteriorizar os próprios sentimentos e

pensamentos. Guimarães (2006, p. 395).

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Tal princípio supracitado é um direito genérico que abarca em seu gênero, os

seguintes modos para o exercício de tal liberdade, aqui mencionados: liberdade de

manifestação de pensamento; de comunicação; de informação; de acesso à

informação; de opinião; de imprensa; de mídia; de divulgação e de radiodifusão.

(TAVARES, 2007).

Então, o princípio da liberdade de expressão traz para a sociedade por meio

da comunicação de massa, uma enorme influência na sociedade, e ainda, uma

responsabilidade para a imprensa que alicia grande parte da sociedade formando

uma opinião pública.

Assim, ”O conceito de opinião pública, purificada pela discussão crítica na

área pública, em conseqüência da união dos vocábulos públicos e opinião em uma

única expressão”. (FARIA, 2004, p. 123).

1.2.3 Responsabilidades

De acordo com Tavares (2007, apud JUNIOR, 1997, p. 28-29), o intermédio

da imprensa exterioriza sua sensação, sentimentos e sua criatividade, independente

de convicção e formulando valores ou conceitos.

Observa-se ainda, que a imprensa tem uma relação bem próxima com a

opinião pública, e estes meios de comunicação podem realizar uma idéia para

construir uma opinião pública para diversas esferas, em um Estado Democrático de

Direito. (FARIA, 2004).

Trazendo assim, uma responsabilidade para a imprensa transigir, como pode

nos mostrar o Código de Ética dos Jornalistas no seu artigo 4º, 6º, VIII e X, do

referido.

Artigo 4º O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, deve pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação. Artigo 6º É dever do jornalista: (...) VIII respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão. (..)

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X defender os princípios constitucionais e legais, base do estado democrático de direito.

Entretanto, as informações trazidas para a sociedade, podem formar uma

opinião, esta opinião pode ser interpretada como um senso comum dominante da

população a respeito de um juízo, sentimento e convicção de uma ideia. (FARIAS,

2004).

Este conceito supramencionado permite notarmos que é possível claramente

vislumbrar que existe uma grande quantidade de opiniões na coletividade formada

pela a mídia, seja qual for o meio de comunicação. (FARIAS, 2004).

Ainda de acordo com o autor, entre todos os meios de comunicação a

televisão é o meio mais influente sobre os outros, embora também, todos os outros

são formadores de opiniões podem aliciar os seus espectadores.

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2 A INTERFERÊNCIA DO PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO

EXERCIDA PELA IMPRENSA NA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

2.1 Por meio da mídia

A mídia consiste basicamente, na atividade veicular de informação. Ela

representa uma liberdade de expressão e de pensamento, dentro desta, destaca-se

a atividade jornalística, que tem como objetivo informar a sociedade através dos

seus meios de comunicação. Mas o que se mostra, é que hoje em dia, os jornalistas

não querem somente informar, mas também desenvolver o papel de julgadores,

julgando casos, as pessoas e os crimes levando a sociedade a um pré-julgamento,

antes mesmo, de existir um devido processo legal. A imprensa não quer mais

somente informar e quer sim, intervir diretamente para o curso dos acontecimentos.

(CICERO, 2010).

Conforme Farias (2004), a Constituição Federal estabelece que compete ao

poder Executivo outorgar e renovar concessão, e autorização para o serviço de

radiodifusão sonora e de sons e imagens, ou seja, de rádios e televisões,

conhecidos como mídia.

Assim, em outras palavras, o exercício da liberdade de expressão e

comunicação pela mídia deve ser delineado como serviço público, já que o mesmo é

de competência do Poder Executivo, Como é mencionado o transcrito artigo 223 da

Constituição Federal, pode ser sucedido pelo:

► sistema estatal, no qual o Estado explora diretamente as estações de rádio e televisão; ►pelo sistema público, quando o serviço de radiodifusão é explorado por órgão autônomo do Poder Executivo, normalmente uma fundação pública, com estatuto próprio, gerido por conselhos com mandatos definidos, escolhidos democraticamente, como é o caso da BBC de Londres; ► pelo sistema privado, em que a exploração da mídia eletrônica é realizada por particulares e cujo escopo maior é a obtenção de lucro.

Isto nos mostra que o Estado tem poderes regulamentadores do sistema de

comunicação de massa, seja ele, radiodifusão, televisão, jornal impresso e televisivo

e etc.

Page 18: PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA VERSUS PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO EXERCIDA PELA IMPRENSA

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O que mais deve ser observado é o caso do sistema privado de radiodifusão,

que é o predominantemente do Brasil. É o que pode sofrer maior pressão dos

poderes estatais, tendo em vista, que a liberação para o seu funcionamento é

dependente do poder governamental por seu órgão regulamentador, no caso da

imprensa pela Anatel.

Sem dúvida, a concepção mal compreendida da transparência, prejudica

todos os meios de comunicação. A transparência significa em sua essência,

publicidade esta que evita a crise, nascendo a partir daí, a verdade democrática.

Assim, o papel da mídia fica bem claro, que é fazer com que a noticias cheguem às

pessoas de forma objetiva e bem clara e sobre tudo, narrar os fatos da maneiras em

que elas realmente ocorreram. Mais para isso seria necessário que a mídia

obtivesse um mínimo de conhecimento de justiça, pois a mídia não pode julgar algo

que não é de seu saber. (CICERO, 2010).

Portanto, podemos concluir que a mídia, ao transmitir atos judiciais, de certa

forma, pode acabar influenciando nas decisões judiciais. (CICERO, 2010).

2.2 Comunicação de Massa

No cumprimento de suas funções, os meios de comunicação de massa

relacionam-se com a opinião pública diretamente. Costuma-se dizer ainda, que, a

liberdade de comunicação social é servir a opinião pública. (FARIAS, 2004).

Desse modo, é conhecido que a opinião pública possui duas características

básicas como: a sua difusão ao público em geral e sua referência à administração

do patrimônio público. Entretanto o conceito típico da democracia é o senso comum

dominante da sociedade na coletividade referente a juízos e sentimentos. É possível

mostrar que na verdade existe uma devasta pluralidade de opiniões na coletividade,

embora possa haver uma tendência. (FARIAS, 2004).

Page 19: PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA VERSUS PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO EXERCIDA PELA IMPRENSA

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2.3 As influências da mídia nos tribunais do júri

As pautas jornalísticas atualmente massacram e pré-julgam os possíveis

acusados em um processo penal que levarão ao Tribunal do Júri. Nesse processo, o

julgamento não compete ao Juiz, e sim às pessoas que representam a sociedade no

júri popular.

Este júri e composto pelas pessoas, que, desde o início do processo penal,

assistem os noticiários que abordam o caso e taxamos acusados de assassinos, não

possibilitando aos jurados uma devida isenção e são essas decisões que podem

sofrer diretamente a influência da mídia. (CICERO, 2010).

Isto quer dizer que, não cabe ao Juiz julgar os casos que estão previstos para

serem julgados no tribunal do júri, pois o magistrado é uma pessoa que possuiu

técnicas para os julgamentos, ou seja, embora os jurados estão representando a

força da sociedade estes não possuem uma precisão técnica.

Podemos concluir que depois da imprensa ter taxado centenas de vezes o

acusado de culpado, de assassino e outros nomes mais, os jurados já estão com

sua opinião formada, tendo em vista que a mídia é capaz de formar as opiniões,

antes do julgamento.

Podemos citar como exemplo o conhecido caso no Brasil, como foi noticiado

pela imprensa brasileira nomeado como caso Nardoni. (CICERO, 2010).

o caso Nardoni, onde antes mesmo de serem julgados pela justiça, eles já tinham sido julgados pela sociedade, pois o caso foi mostrado de tal maneira pela mídia que era quase impossível achar alguém que não dissesse que eles eram culpados pela morte de Isabela Nardoni, que foi jogada do prédio, da onde seu pai e sua madrasta moravam.

E agora o mais recente divulgado pela a imprensa brasileira, o caso do goleiro

Bruno, que tudo está sendo encaminhado para o mesmo rumo do caso citado

anteriormente. Que ao convencer a opinião pública dos horrores ocorridos, a

empresa televisiva terá maior ganho econômico.

Isto quer dizer, que a mídia, ao lançar um furo de reportagem obterá pontos

de audiência ou vendas de jornais, assim, por isso fica claramente demostrado, que

o motivo pelo qual a imprensa interfere no poder judiciário, ao informar furos de

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reportagem esta obterá uma vasta audiência ou venda de jornal, elevando o seu

ganho econômico trazendo.

Assim, pode-se falar que esta interferência da mídia no poder judiciário,

narrando para a sociedade casos macabros e prejudicando o acusado, não tem

nenhuma intenção de acusá-los, mas tão somente de conseguir, ganho de capital.

Por isso, os legisladores, prevendo essa situação, no ano de 1969 tentaram

instituir no projeto do Código Penal brasileiro do referido ano, embora o motivo fosse

outro na época, a opressão da imprensa seria crime tipificado no artigo 215, que diz:

Art 215. Comete crime de concorrência desleal quem: I - publica pela imprensa, ou por outro modo, falsa afirmação, em detrimento do concorrente, com o fim de obter vantagem indevida;

Legislação essa que não veio a entrar em vigor pelo motivo que não foi

aprovada, pelas duas casas legislativas.

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3 A PUBLICAÇÃO DE CASOS AINDA NÃO JULGADOS

Ribeiro (2010) demonstra claramente que a mídia é determinante em

decisões judiciais, principalmente nos julgamentos criminais e ao mostrar com são

narrados os fatos noticiados pelos meios de comunicação, exaltando o medo. O

acusado já se torna condenado pela mídia e pela sociedade, antes mesmo de ser

julgado, muitas vezes até o juiz sofre influência dos meios de comunicação,

adquirindo uma convicção de que o acusado é culpado e fazendo um julgamento

sob a pressão da mídia.

Tais fatos se agravam quando há necessidade de decretar uma prisão

preventiva aonde surge, com maior ênfase, o chamado clamor social no qual o juiz

se fundamenta para decretar prisão. Esta espécie de prisão é mais recorrente

quando o acusado é exposto pela mídia. (RIBEIRO, 2010).

Por tudo isso, mostrado logo acima podemos chegar à conclusão que a mídia

deve exercer o poder que tem em mãos para trazer benefícios à sociedade, sendo

por isto que foi criado o principio da liberdade de expressão para garantir este

benefício e não para trazer informações que a prejudiquem o julgamento dos

cidadãos, como informações errôneas ou falsas.

Por isso é necessário que a mídia aja com mais cautela e precisão, pois,

muitas vezes, essas informações, condenam e acabam agravando a condenação de

acusados que em alguns casos podem ser até inocentes. (RIBEIRO, 2010).

As informações exageradas, falsas ou precipitadas podem levar ao erro

judiciário, que embora busque realizar a justiça, pode ser induzido ao erro. Pode ser

melhor errar absolvendo um culpado, do que, condenando um inocente.

A imprensa tem que ter os seus limites estabelecidos em uma lei especial,

pois só assim, conseguirão utilizar o poder que a mídia tem nas suas mãos para o

benefício da sociedade, como é previsto no principio da liberdade de expressão.

(CICERO, 2010).

Portanto, conclui-se que, para evitar a interferência da liberdade de expressão

na presunção de inocência, devemos traçar certos limites para que a imprensa não

possa transigir, sobre casos tão complexos e publicá-los na mídia.

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Uma tentativa de resolver o problema da interferência da imprensa no Poder

Judiciário foi buscado pelo o Ministro do Superior Tribunal de Justiça e também

presidente do Conselho Nacional de Justiça em 1999. (RIBEIRO, 2010).

De acordo com RIBEIRO (2010):

Tive ensejo em 1999, quando presidia o Superior Tribunal de Justiça e o Conselho da Justiça Federal, de receber em Brasília alguns dos nomes mais importantes da imprensa brasileira, num Seminário sobre as relações entre o Poder Judiciário e a Imprensa. Jornalistas de peso, como Luiz Nassif, Boris Casoy, Alexandre Garcia, Helena Chagas, André Gustavo Stumpf, Jairo Viana, Ari Ribeiro, durante três dias de intensos debates e participação maciça de representantes dos dois lados, tentaram identificar os pontos de estrangulamento e os tópicos que seriam necessários remover para um melhor entendimento entre esses dois setores vitais para a vida democrática. (RIBEIRO, 2010).

O diagnóstico extraído dessa ocasião no Seminário, não ocorreu como o

esperado. Estes dois setores não se entendiam e as relações institucionais eram, na

verdade, de desconfiança, de ressentimentos e distância.

Foi necessário reconhecer que o Judiciário e a imprensa precisavam

modificar alguns de seus comportamentos rotineiros para a melhoria das relações,

disse o presidente do Superior Tribunal de Justiça: “os jornalistas com os juízes, dos

magistrados com os noticiaristas”. Tornando assim possível de obter um bom

convívio, entre a imprensa e o judiciário.

Assim nos mostra ainda o Ministro do Superior Tribunal de Justiça e

Presidente do Conselho Nacional de Justiça, Antônio de Pádua Ribeiro (2010) que:

é preciso que todos, jornalistas e magistrados, tomem muito cuidado para não serem vítimas da manipulação política ou econômica. É com angústia e preocupação que se vê hoje operações midiáticas de aparatos policiais cada vez mais numerosos, menos preocupados em apurar do que em aparecer, com batalhões de repórteres secundando-os, milagrosamente informados da hora e do local da diligência, embriagados pelo barulho ensurdecedor das sirenes e das viaturas freando violentamente nas calçadas, com o estrépito das portas dos lares sendo postas abaixo, com pessoas franzinas e frágeis sendo retiradas de casa à força, algemadas, no meio de imensos agentes com coletes de letras garrafais, quando não escondidos por trás de capuzes assustadores, que sonegam ao cidadão detido o direito elementar de identificar pelo menos a autoridade que o está levando.

Pode-se concluir com o Ministro do Superior Tribunal de Justiça, que a

imprensa embora tenha direito de narrar os fatos para a sociedade, deverá agir

sempre com clareza dos fatos, analisando-os primeiramente, antes de narrá-los,

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para que a sociedade possa receber as informações de maneira mais clara possível,

evitando assim, um pré-julgamento errôneo da sociedade e uma possível injustiça

com o acusado.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo presente estudo, podem se concluir que, o princípio da presunção de

inocência e o princípio da liberdade de expressão exercido pela imprensa, rezam

sobre coisas completamente distintas e defendem ideais diferentes.

O princípio da liberdade de expressão exercido pela imprensa pode interferir

em muito no princípio da presunção de inocência, por meio de televisão, rádio,

internet e etc., ou seja, pelos os meios de comunicação. Entretanto, é de

conhecimento no senso comum que os meios de comunicação, interferem

diretamente na opinião pública, fazendo com que o dever de informar e ser

informado, garantido pelo princípio da liberdade de expressão exercido pela

imprensa, estabeleça uma influência sobre toda a sociedade alienando os seus

espectadores e interferindo em suas ideias.

Entretanto, a presunção de inocência é ferida sempre quando a imprensa

narra diuturnamente os possíveis crimes cometidos pelos os acusados, fazendo com

que a sociedade se revolte com o suposto crime cometido pelo acusado.

Como exemplo, vimos isso acontecer, claramente no caso conhecido como

“caso Nardoni”, onde os acusados foram ao tribunal do júri praticamente

condenados, tendo em vista, que a imprensa os condenou durante toda a fase de

inquérito policial, onde os mesmos permaneceram presos por precaução no

entendimento do juiz, para que a sociedade não se revoltasse contra os acusados,

pela tamanha divulgação na mídia, até ao fim do processo quando transitou em

julgado, condenando-os.

Pode-se dizer ainda, que os acusados no caso em tela, se tivessem como

provar a sua inocência, ainda seriam considerados culpados pela sociedade, pelo

simples fato de que quem os julga serem os cidadãos que representam a sociedade,

pessoas simples que não possuem nenhuma técnica para julgar, ou seja, a

sociedade que é alienada pela imprensa e obtém uma opinião já formada, muitas

vezes contra os acusados, vão ao júri já com o intuito de condenar.

Tendo isso em vista, os acusados não possuem chances para se defender,

por causa da mídia que os incriminou.

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Outro caso, em que a imprensa vem abordando e discutindo constantemente

é o famoso caso “do goleiro Bruno”, no qual os acusados, mesmos sem um prova

material, estão presos, devido ao percurso que a imprensa fez o caso traçar.

Por isso, os casos penais deveriam correr em segredo de justiça para que a

imprensa se afaste um pouco dos casos e deixe que o judiciário trabalhe livremente

e, propiciando que os jurados descubram somente na hora em que ver o réu no

tribunal do júri, os réus e os fato que ele julgará e de forma imparcial e sem

nenhuma opinião formada antes.

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REFERÊNCIAS

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RIBEIRO, Antônio de Pádua. O Judiciário e a Imprensa. Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/9565/O_Judici%c3%a1rio_e_a_Imprensa.pdf?sequence=1> Acesso em: 22 out. 2010. TAVARES, André Ramos, Curso de direito constitucional. 5. ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007.