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Privilege - Livro 02 - Belo Desastre - Kate Brian

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Ela está de volta... Depois de definhar em uma instituição psiquiátrica por um ano e meio, Ariana Osgood está finalmente de volta a onde ela pertence. Ela tem uma nova aparência, um novo nome e uma nova vida — tudo graças a sua ex -amiga Briana Leigh Covington. Agora inscrita no penúltimo ano no exclusivo internato Atherton-Pryce nos arredores de D.C., Ariana dorme em lençóis Frette, flerta com o capitão da equipe de remo e fofoca com as meninas mais bonitas do campus. Ela matou para voltar a sua vida de privilégios. Até que ponto ela vai mantê-la?

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KATE BRIAN

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Ela está de volta... Depois de definhar em uma instituição psiquiátrica por um ano

e meio, Ariana Osgood está finalmente de volta a onde ela pertence. Ela tem uma nova aparência, um novo nome e uma

nova vida — tudo graças a sua ex-amiga Briana Leigh Covington.

Agora inscrita no penúltimo ano no exclusivo internato Atherton-Pryce nos arredores de D.C., Ariana dorme em lençóis Frette, flerta com o capitão da equipe de remo e fofoca com as meninas mais bonitas do campus. Ela matou para voltar a sua

vida de privilégios. Até que ponto ela vai mantê-la?

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Traduzido por Ivana

i, eu sou Briana Leigh Covington, mas vocês podem me chamar de Ana.

Ariana Osgood estava diante de um trio de garotas no centro do campus iluminado pelo sol do Atherton-Pryce Hall e prendia a respiração. Ela sentia o peso deste momento em todos os ossos, em cada músculo, em cada tendão de seu corpo. O primeiro momento de sua vida nova.

Era como se tivesse levado uma eternidade para chegar a este lugar. As memórias sombrias de tudo que ela tinha passado — os meses e meses trancada na Penitenciária Feminina Brenda T. Trumbull, as horas passadas planejando sua fuga, os dias na estrada, trilhando seu caminho do oeste da Virgínia ao Texas — todas as imagens e emoções lotavam seu cérebro, ameaçando sufocá-la. Ariana tinha arriscado tudo para chegar até ali, para ganhar uma nova chance na vida. Ela tinha enganado, roubado, e até mesmo matado Briana Leigh Covington, para que ela pudesse assumir a identidade da garota e ser real e verdadeiramente livre. E agora ela estava finalmente aqui.

— Você disse Briana Leigh Covington? — perguntou uma menina alta e esbelta. Como se já tivesse ouvido o nome antes. O coração de Ariana parou. Será que essa garota conhecia Briana Leigh? Ariana tinha acabado de chegar à escola privada consagrada por muitos ridículos privilégios. Ela havia pisado pela primeira vez no lindo campus tão bem cuidado. A parte boa não poderia passar tão rápido.

— Sim — ela disse com firmeza, de forma constante. Seus dedos agarraram a alça de sua bolsa mais apertado, mas não com tanta força para que alguém notasse. — Mas eu prefiro ser chamada de Ana.

Os olhos castanhos da menina encararam a roupa de Ariana rapidamente. Ela olhou o seu vestido castanho chocolate de bom gosto Theory e suas sandálias Gucci. Ela também olhou para seu conjunto de malas Louis Vuitton, então deslizou de volta até seu rosto, demorando-se por um momento em seu longo cabelo ruivo, que ela havia tingido para combinar com a tonalidade natural de Briana Leigh. Ao longo deste tão breve processo, Ariana sentiu-se cada vez mais quente, mas ela não se moveu. Esta era uma prática normal e aceita entre seu povo. A menina tinha o direito de ter um momento para refletir sobre o valor de conhecer a garota estranha à sua frente.

— Interessante — disse ela, por fim, sem se comprometer. Ela olhou para cada uma de suas amigas, a menina chinesa impecavelmente arrumada à sua direita,

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e a robusta loira amante de joias à sua esquerda. A loira sorriu quase imperceptivelmente, e a outra menina de repente se tornou muito interessada em seu BlackBerry. Ariana tinha a sensação desconfortável de que estavam zombando dela silenciosamente na sua própria cara. Algo que ela tinha feito para muitas meninas desafortunadas, mas nunca ninguém tinha feito com ela.

— Eu sou Brigit Rhygsted — a loira falou, dando um passo para frente e oferecendo sua mão. Ela tinha uma pitada de sotaque norueguês e o brilho mais saudável que Ariana já tinha visto. — Esta é Ahn Soomie e Maria Stanzini.

Ariana apertou a mão de Brigit e assentiu enquanto as outras duas meninas disseram olá. Pela primeira vez em muito tempo, ela não tinha ideia do que dizer em seguida. O que uma pessoa diz para as pessoas que podem ou não estar zombando dela? Ela não tinha ideia, e ela detestava aquele sentimento. Um grupo de meninas mais jovens passou e gritou saudações para o trio, e Maria e as outras responderam com breves acenos e sorrisos vagos. Eram saudações insignificantes, mas que, no entanto, provocavam sorrisos orgulhosos naquelas que haviam recebido. Claramente, Ariana tinha escolhido sabiamente. Estas eram as garotas que todas as outras admiravam. As que você não poderia se aproximar sem um convite. Mas ela se aproximou. Ela tinha mostrado que acreditava ser igual a elas. Isso tinha que contar para alguma coisa.

— Em que ano você está? — Brigit ajustou a alça em sua bolsa, e suas pulseiras de plástico coloridas tilintavam juntas.

— No penúltimo ano — Ariana respondeu. Mesmo que ela tivesse estado no penúltimo ano há três anos. Briana Leigh teria sido uma júnior, então ela seria uma júnior. — E voc...

— Sério? Nós também! Bem, eu e Soomie. Maria é uma sênior. Em que dormitório você está? — perguntou Brigit.

Ariana hesitou por ter sido cortada. Também era algo que ela não tinha experimentado com muita frequência. — Cornwall. Em qual...

— De onde você veio transferida? Você tem sotaque. Você é do Sul? Você tem amigos aqui? Um namorado, talvez? — Brigit perguntou, baixando a voz e dando uma olhada conspiratória à Ariana.

Ariana olhou em volta para as outras garotas no campus, conversando e rindo ao sol. Será que ela escolheu a turma correta? Não havia nenhuma maneira de ela poder ser amiga de alguém que faz tantas perguntas pessoais em um espaço de quinze segundos. Do outro lado, em pé nos degraus da capela, havia uma menina de pele morena com cabelos negros caindo pelas costas em ondas, que parecia estar encarando Ariana e as outras olhando pelo canto de seu olho, enquanto ela conversava com um grupo de rapazes bonitos e meninas perfeitamente penteadas. Ela também parecia com uma abelha rainha, assim como Maria pareceu de longe. Seria possível que Ariana tinha se alinhado com as garotas erradas? Ela já havia cometido um erro terrível?

— Eu... — Não deixe ela te assustar — disse Soomie, deslizando seu BlackBerry no

bolso do blazer azul-marinho. Ela alisou o cabelo preto e liso e ergueu o queixo ligeiramente, dando a Ariana uma melhor visão da gargantilha perfeitamente atada de ouro e para a gravata listrada cinza. O colarinho de sua camisa branca estava tão engomado que parecia que se poderia cortar através do metal. — Há três coisas

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que você precisa saber sobre Brigit: A) Ela precisa saber tudo sobre todos; B) ela tem a memória de um elefante; e C ), ela faz um excelente chocolate quente. Sério. Ela é especialista.

Um telefone tocou e Maria rapidamente tirou um iPhone de sua bolsa. Ela leu uma mensagem, sorriu, e guardou o telefone no outro bolso. O rosto de Ariana queimava. Soomie tinha acabado de guardar o telefone, e ela não conseguia afastar a sensação de que Soomie tinha acabado de mandar uma mensagem para Maria. Elas estavam falando sobre ela bem na sua cara?

Brigit, por sua vez, deu de ombros e sorriu, feliz. Seu uniforme não era tão impecável quanto o de Soomie. Sua gravata estava um pouco solta e seu blazer cinza estava aberto sobre sua camisa para fora da calça. — É a minha especialidade — ela repetiu. — Qual é a sua?

Todas as três olharam para Ariana com interesse. Ela tomou uma respiração profunda. Ela tinha que parar de ser tão paranoica. Ela ainda não tinha compreendido Soomie e Maria, mas a total falta de constrangimento de Brigit era algo doce e cativante. Talvez até mesmo doce e cativante o suficiente para ajudá-la a ignorar o interesse excessivo. Se a menina o permitisse.

— Então, onde está Cornwall, exatamente? — Ariana perguntou, embora soubesse sua localização, devido ao fato de que ela tinha memorizado o mapa do campus há muito tempo.

Nas duas últimas semanas, Ariana tinha se escondido no Hotel Philmore esperando que o corpo de Briana Leigh fosse encontrado na parte inferior do Lago Page, onde Ariana e sua ex-companheira de cela da Brenda T., Kaitlynn Nottingham, havia despejado. Nesse meio tempo, ela tinha passado horas aperfeiçoando a assinatura de Briana Leigh, memorizando o guia de boas-vindas enviado pelo escritório de admissões do Atherton-Pryce Hall, e amarrado as pontas soltas — cancelando o telefone de Briana Leigh, que tinha sido roubado por Kaitlynn logo após a menina ter traído Ariana; escrevendo uma carta de rompimento para o noivo de Briana Leigh, Teo, e fazendo uma identidade falsa para si mesma, pois ela sabia que todos no APH tinham uma.

Graças a todo o tempo que ela ficou com o nariz enterrado no mapa do APH, Ariana sabia que o campus estava distribuído em uma série de círculos, que se estendia para fora da fonte, que estava no centro exato do terreno. Os prédios internos — altos e imponentes, construídos de tijolo vermelho com colunas brancas e entradas cobertas com ervas — eram os prédios das salas de aula, da capela, do refeitório, do centro estudantil e dos escritórios administrativos. Pouco mais além destes, formando um círculo mais amplo, estavam os oito dormitórios — dos meninos para o norte e das meninas para o sul — todos eles eram casas de estilo colonial, de três andares, cada uma com dez quartos, dois banheiros comuns, área comum e uma sala em cada andar. O círculo externo era um pouco mais impreciso e estava formado pelo ginásio, o campo de atletismo, o teatro, o edifício de artes e o Edifício Pryce, que ficava na margem do Potomac, grandioso e imponente, como um avô vigiando suas terras. Também havia um nono dormitório, o Wolcott Hall, que tinha sido construído junto ao Edifício Pryce, alto o suficiente para ignorar o campus, mas não alto o suficiente para parecer mais importante do que o Pryce. No folheto, havia sido descrito exatamente nos mesmos termos de todos os outros dormitórios, com a exceção de um adjetivo importante: — Misto.

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Ariana nunca tinha ouvido falar de um dormitório misto no campus de uma escola preparatória. Ela ficou, portanto, intrigada acerca de sua existência. Mas o escritório de habitação não a tinha colocado lá, então ela deixaria para descobrir mais sobre ele com o tempo.

— O Cornwall é por aqui. — Maria inclinou a cabeça para o lado em direção aos edifícios circundantes. Seu brinco de ouro roçou seu ombro enquanto ela se virava. Seu uniforme parecia que tinha sido jogado no fundo de uma mochila. Camisa amarrotada, casaco azul desgastado, a gravata enrolada e guardada no bolso, saia xadrez plissada com uma bainha caindo. E, no entanto, ela era a mais bonita e autoconfiante das três. — Siga-nos.

— Estamos todas em Cornwall também. Por enquanto — acrescentou Soomie enquanto afastava-se da fonte no centro do campus. — É o mais antigo dormitório do campus, de modo que é claro que já foi um dormitório de meninos a cerca de duzentos anos atrás. O que significa que ainda tem cheiro de meias suadas.

Maria revirou os olhos. — Não tem não. Você só tem narinas sensíveis. — Não, os seus sentidos olfativos que foram destruídos devido a horas no

estúdio com dezenas de dançarinos suados — Soomie revidou. — Você está dizendo que eu tenho cheiro? — Maria perguntou, colocando os

dedos delicadamente em seu peito. — Oh, não, você cheira a rosas todo o tempo — Soomie respondeu com um

toque de sarcasmo, ganhando um olhar estreito dos olhos de Maria. — Maria é uma bailarina. É a sua especialidade — explicou Brigit para Ariana.

— Qual é a sua? — Você já me perguntou isso — disse Ariana. — Eu sei. Mas você não respondeu — Brigit respondeu com sua expressão

abertamente curiosa. Ariana voltou a pensar na Academia Easton. Na sua poesia e no seu período

como editora da revista literária. Ela adorava escrever naquela época, mas ela não tinha colocado a caneta no papel há mais de um ano. Tudo graças ao Dr. Meloni, seu psiquiatra da Brenda T. que tinha roubado todas as suas revistas de poesia e riu de seu trabalho — na sua própria cara. Desde então, Ariana tinha sido incapaz de escrever uma linha. O homem que deveria ajudá-la tinha efetivamente acabado com seu desabafo emocional. Seu sangue começou a ferver só de pensar nisso. De pensar nele.

Acalme-se. Já acabou. Você nunca mais vai ter que colocar os olhos em cima daquele homem de novo, ela disse a si mesma, respirando fundo. E não se esqueça, quando houve a fuga de Kaitlynn ele foi demitido. Portanto, houve alguma justiça, pelo menos.

Ainda assim, pensar em Kaitlynn trouxe toda uma nova onda de emoções desagradáveis. O medo, a humilhação, a dor da traição. A ex-melhor amiga de Ariana ainda estava lá fora em algum lugar, e ela era a única pessoa que sabia que Ariana Osgood ainda estava viva — que ela não tinha, de fato, se afogado no Lago Page e que o corpo que a polícia havia encontrado não era dela. Mas ela respirou fundo e tentou esquecer. Kaitlynn não tinha ideia de onde estava Ariana. Ela não podia machucá-la. Não mais.

— Eu acho que eu ainda estou procurando a minha especialidade — Ariana respondeu calmamente.

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— Interessante — disse Soomie. Ariana piscou. Ela estava muito consciente do fato de que essa era a segunda vez que ela usou esta palavra para descrevê-la. Soomie encarou Ariana por um longo momento, como se ela estivesse tentando recolher algum tipo de informação em seu rosto. Um pequeno nó apertou ao redor do coração de Ariana. Então Soomie de repente olhou para os pés de Ariana. — Amei as sandálias, por sinal. Gucci?

— Obrigada. É sim. Bom olho — disse Ariana, impressionada. Ela estava sempre observando o calçado das pessoas também, e ela sentiu uma identificação com Soomie. — Então, a moda é a sua especialidade?

— Não exatamente. Detalhes. Detalhes são a minha especialidade — Soomie respondeu, olhando friamente para Ariana.

Ariana sorriu. Talvez ela fosse a alma gêmea de Soomie. — Nada passa por Soomie — Maria acrescentou em tom acusador. O sorriso caiu imediatamente do rosto de Ariana e o nó apertou em torno de

seu coração dolorosamente. Será que ela estava tentando dizer a Ariana que ela ainda estava sendo avaliada? Ou talvez fosse pior. Talvez Soomie já tivesse de alguma forma descoberto que Ariana estava escondendo algo.

Não deixe que isso te afete. Não a deixe te ver suar. — Interessante — disse Ariana, lançando a palavra de volta para elas. Ela viu

as três meninas trocarem um olhar divertido e perguntou o que elas estavam pensando. Elas ficaram impressionadas com a sua perspicácia? Irritadas? Surpreendidas? Ela desejou saber por que aquelas três garotas pareciam estar estudando-a tão atenciosamente. Ela detestava a forma como elas a faziam se sentir — incerta, ameaçada, e, de repente, exausta. Ao longo das últimas semanas, ela havia imaginado este momento centenas de vezes, o momento em que ela chegava em sua nova escola e começava a sua nova vida, mas ela nunca tinha imaginado que seria tão difícil, tão confuso, tão intimidante.

As três garotas deram passos largos, evitando a insígnia do Atherton-Pryce Hall, que estava gravada na pedra no cruzamento das três passarelas. Ariana fez questão de caminhar ao seu redor com sua bagagem, depois de ter lido na história da escola que pisar na insígnia trazia má sorte. Ela havia deixado para trás toda a sua má sorte, junto com sua antiga identidade, seus velhos amigos, sua antiga escola.

— Impressionante — disse Maria, fazendo uma pausa e ajustando seu rabo de cavalo frouxo. Suas mangas subiram um pouco, expondo algumas contusões desbotadas em volta dos pulsos da menina. — Como é que você sabe sobre a insígnia?

— Eu gosto de me manter informada — Ariana respondeu. — Interessante — disse Soomie novamente. Os músculos do ombro de Ariana se enrolaram. Ela estava começando a se

cansar dessa palavra. — Então, Ana, o que você acha do APH até agora? — Brigit perguntou,

olhando por cima do ombro já que davam a volta ao redor do prédio e pelo espaço aberto na frente do círculo de dormitórios. A área coberta de ervas estava salpicada de árvores com sombra, perfeito para estudar no outono e na primavera.

— É um belo campus — disse Ariana diante de uma brisa quente que agitava as folhas. Ela sentiu um súbito aumento de antecipação. Como se alguma coisa fosse acontecer. Então estas meninas ainda a estavam avaliando? Ela estava segura

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de que a aceitariam com o tempo. E se não, talvez elas não fossem dignas de sua atenção.

Esta é a sua nova chance na vida, ela disse a si mesma. Não deixe que ninguém dite as regras.

— Eu acho que eu vou ser muito feliz aqui. Mais feliz do que ela havia sido de onde ela tinha vindo. O que não era difícil,

claro. Mas isso fazia parte do desagradável passado. E este era o seu futuro.

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Traduzido por Ivana

le já percorreu a América do Norte e a Europa neste verão, e cada um de seus shows esgotaram em menos de dez minutos — Soomie estava contando a Ariana enquanto conduzia o pequeno grupo ao

seu quarto do dormitório. — Ele teve que cancelar seus shows na Ásia porque as pessoas estavam ficando violentas por ter que ficar na fila de espera.

— Isso é tão insano — disse Brigit. — Eu não consigo nem imaginar. — Tente imaginar como seu ego dele deve ser inflado — disse Maria com

escárnio. — Ele deve ser intolerável. Ariana estava apenas metade em sintonia com a conversa. Ela estava muito

ocupada verificando seu novo lar. O dormitório era bem iluminado e arejado, com paredes recém-pintadas que pareciam cascas de ovo e brilhante pisos. Duas janelas enormes na frente do quarto, uma sobre cada uma das duas camas, enchendo o quarto com a luz solar. Ela fez uma pausa no centro do quarto e olhou em volta, observando os grandes closets e os móveis de carvalho bem conservados, mas antigos. O cheiro de madeira polida encheu o ar. Nem mesmo o menor indício de cheiro de meias suadas.

A colega de quarto de Ariana aparentemente já tinha chegado e saído. Ao lado de um dos armários havia uma pilha de bagagens coloridas, sacos plásticos e várias bolsas penduradas em um dos armários. Havia um pequeno envelope de cor creme no centro do colchão da menina. Ariana virou-se e viu que ela tinha um também. O nome “Briana Leigh Covington” foi escrito à mão na frente com uma escrita delicada.

— O que é isso? — Ariana perguntou, pegando o envelope. — Não abra isso! — Maria, Brigit, e Soomie disseram todas ao mesmo tempo.

O coração de Ariana voou em sua garganta e sua mão foi para o seu peito. — Por que não? — ela arfou. Naquele momento uma linda menina atlética e super alta com cachos loiros

curtos entrou no quarto, parecendo uma jovem Heidi Klum com o cabelo curto. Ela caminhou até uma das mesas e pegou o laptop que estava lá. Seus jeans eram extremamente apertados e ela usava uma blusa branca de mangas curtas com detalhes de ilhós em torno das bordas das mangas. Quando ela se virou, olhou para Ariana com total desprezo.

— Porque, Garota Transferida, você não pode abri-lo até o rali — disse ela com um forte sotaque alemão.

—E

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Ariana piscou. Esta giganta rude era sua colega de quarto? — Oi, Allison — todas as três meninas recitaram, soando totalmente

entediadas. Allison lançou-lhes o mesmo olhar que tinha dado à Ariana e soltou um suspiro.

— Eu sou Ana Covington — disse Ariana, oferecendo-lhe a mão. — Parece que vamos ser companheiras de quarto.

— Não por muito tempo — Allison respondeu, enfiando seu laptop debaixo do braço.

Uma gargalhada chamou a atenção de Ariana, e ela virou-se para encontrar uma recém-chegada que estava em sua porta. Era a menina abelha rainha dos degraus da capela, e de perto ela era ainda mais bonita, os olhos de um verde jade deslumbrante. Ela tinha um pequeno piercing de strass no nariz e usava blusa branca com muitos botões abertos. Sua gravata estava completamente desfeita, pendurada em volta do pescoço e sugestivamente sobre o peito.

— Não dê atenção a ela. Ela teve um longo vôo — disse a menina para Ariana de uma forma amigável. — Sou Tahira Al Mahmood, e você deve ser Briana Leigh Covington.

Ariana piscou. Por que todos pareciam estar esperando por ela? — Ela se chama de Ana — disse Allison com seu sotaque. — Bom. Muito mais gerenciável. — Tahira entrou no quarto, com os braços

cruzados sobre o peito, e olhou para Maria, Brigit, e Soomie, com expressão divertida. — Senhoritas — disse ela por meio de saudação. — Aposto que já reivindicaram a nova garota, eu imagino. Porque não dão a ela a oportunidade de escolher por si mesma?

— Ela veio até nós — Brigit protestou. — Brigit — Soomie repreendeu. Ariana só poderia imaginar que ela estava

repreendendo Brigit pelo tom imaturo de sua declaração. — O que você quer dizer com “escolher”? — perguntou Ariana. Ela tinha a

nítida sensação de que havia algum tipo de rivalidade acontecendo ali, e ela queria ter certeza de que ela estava no lado certo.

Allison abraçou o laptop contra o peito e ficou ao lado de Tahira. Tahira abriu a boca para falar, mas Soomie começou primeiro.

— Tahira acha que tudo é uma competição. Isso é coisa dela — disse Soomie. — Por favor. Eu só gostaria de conhecer a carne fresca — disse Tahira. — Sim, assim que você pode mastigá-la e cuspi-la — Brigit murmurou. — Muito maduro, Noruega — Tahira revidou. Ela olhou Ariana de cima a

baixo. — Quando você se cansar da brigada de baunilha aqui, estamos do outro lado do caminho, que é muito mais divertido. — Ela alegremente apontou para a porta aberta do outro lado do salão, onde algumas meninas estavam deitadas nas camas, conversando e tagarelando. Um enorme diamante rosa brilhava no dedo anelar da sua mão direita. — Você parece uma garota inteligente. Confio que vai escolher com sabedoria.

Então ela virou-se e caminhou de volta para seu próprio quarto, seguida por Allison, que silenciosamente fechou a porta atrás delas.

— Aqui vamos nós, senhoritas! — Allison gritou no corredor. — As fotos da minha viagem à Islândia!

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Houve alguns aplausos por todo o caminho, e depois silêncio quando a porta do quarto de Tahira se fechou. Por um longo momento, ninguém disse uma palavra, e a ponta do dedo de Ariana começou a coçar. Ela deveria seguir Tahira ou ficar com seu primeiro instinto? Ela tinha que ter as amigas certas ali no APH. Era necessário alinhar-se com o grupo que iria apresentá-la para os clubes certos, as pessoas certas, o futuro certo. Qual desses dois grupos faria isso por ela?

— Que detestável — Maria disse finalmente, balançando a cabeça enquanto caminhava até o espelho, que estava pendurado na parede perto da porta. Ela pegou o cabelo e o torceu, empilhando-o em cima de sua cabeça. Ela segurou lá, verificando se ficara bom de todos os ângulos. — Estou surpresa por você não ter ficado com ela — ela disse a Brigit.

— Ficado onde e com quem? — Ariana perguntou, tratando de colocar-se a par do assunto.

— É uma longa história — disse Brigit enquanto caia na cama de Allison, recostando-se sobre os cotovelos. Era claro que ela não ia dar mais detalhes, fazendo Ariana se sentir completamente por fora. — Acho que Tahira decidiu dividir o quarto com Zuri este ano.

— Bem, quem quer viver com Allison? — Soomie cutucou. Ela estava novamente enviando mensagens de texto, os dedos voando habilmente sobre o miniteclado. — A) A menina ronca como um trem de carga; B) ela tem um problema de TOC referente aos dentes; e C) ela está sempre usando aqueles pacotes fedorentos de bom ar e os deixa apodrecer debaixo da cama durante semanas.

Ariana engoliu em seco. Todo mundo já conhecia todo mundo aqui — e ela não sabia quem era quem. Ela teria que começar do zero, descobrir de quais meninas valia a pena ser amiga e, em seguida, fazê-las confiar nela. Mas como ela iria decidir quando ela tinha certeza de que cada grupo alimentava suas mentiras e opiniões sobre o outro? Ela desejava poder ter estado lá antes para testemunhar tudo o que havia entre esses dois grupos. Desejava que pudesse ter visto os desdobramentos de cada coisa para que assim pudesse tomar a decisão mais adequada. Era horrível, se sentir como a estranha, a forasteira, a garota que não sabe de nada. Um rubor quente de raiva começou a rastejar até as costas de seu pescoço.

Ela não deveria ter que fazer isso. Não deveria ter que começar de novo do zero assim. Se não fosse por causa daquela vadia da Reed Brennan... se Thomas Pearson não tivesse se envolvido com ela... se tudo não tivesse sido tão desagradável... ela estaria em Princeton agora em vez de estar ali tentando se mesclar a um grupo de meninas com dois ou três anos mais nova que ela. Por que tudo isso aconteceu com ela?

Apenas respire, Ariana disse a si mesma. Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Ela tinha que se conter. Dar alguma folga a si mesma. Ter um tempo para se

recuperar. — Você não quer ir para lá. Confie em mim — disse Soomie, olhando Ariana de

forma criteriosa. Obviamente ela poderia dizer que Ariana estava em guerra com ela mesma. — Tahira e suas amigas... elas são divertidas, mas frívolas... vulgares. E você, eu posso dizer, é uma pessoa séria. Séria e elegante.

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Ariana sorriu palidamente para a menina. De repente Soomie estava cheia de elogios. Poderia ser mais óbvio que ela estava apenas tentando atrair a simpatia de Ariana para que ela não viesse a desertar para o outro lado? Que ela simplesmente queria ganhar? Ariana sentiu a mudança de poder ligeiramente a seu favor. Agora ela era a pessoa que estaria fazendo a avaliação. Decidindo qual grupo era merecedor de sua companhia. Talvez este fosse um bom avanço.

— Obrigada. Então, o que Allison quis dizer quando ela falou que não seria a minha companheira de quarto por muito tempo? — Ariana perguntou, colocando o envelope fechado para baixo sobre a mesa e se sentindo um pouco mais no controle. Ela abriu sua bolsa de cosméticos pequena e começou a desembalar.

Brigit olhou para as outras e todas elas trocaram um olhar. — Devo? — perguntou Brigit.

— Simplesmente não deixe nada de fora. — Soomie sentou-se à mesa de Allison e continuou digitando sua mensagem de texto.

— Ok. Eu sei que você não vai me deixar — disse Brigit para Soomie. Então ela virou-se para Ariana. — Tem a ver com aquele envelope — explicou ela, sua infinidade de joias tinindo estridentes conforme ela se movia na cama para encarar Ariana melhor. — A cada ano durante a Semana de Boas-Vindas, todo o campus é dividido em três equipes, e há uma competição de uma semana.

— Certo. Eu li sobre isso — disse Ariana. — Há três eventos: Acadêmicos, esportivos e filantrópicos.

— Exatamente — disse Soomie. — Mas o que você provavelmente não leu é que o time que ganha a

competição começa a viver na Casa Privilege durante todo o ano — acrescentou Brigit.

— Isso é o que Allison entende por “não por muito tempo” — pontuou Maria. — Ela acha que ela vai entrar na Casa Privilege e deixar para trás o bom e velho Cornwall. Uma vez que você entra, você pode escolher viver com quem você quiser.

Todos os pequenos pêlos na nuca de Ariana se levantaram, sua pele formigava com uma mistura de emoção e do que só poderia ser chamado de medo. Em toda a sua leitura, ela nunca tinha ouvido falar da Casa Privilege. Isto era algum tipo de coisa secreta conhecida apenas para os alunos do APH? O segredo intrigava quase tanto quanto o nome “Casa Privilege”. Como não poderia? Era claramente algo cobiçado, e imediatamente ela quis estar dentro também. E temeu que de alguma pudesse ficar de fora.

— Então, o que é a Casa Privilege, exatamente? — Ariana perguntou, colocando as garrafas de hidratante em cima de sua cômoda.

— Seu verdadeiro nome é Wolcott Hall — Soomie explicou, finalmente baixando o BlackBerry. — É o grande prédio na colina com vista para o rio. Aquele com as duas torres.

Ariana assentiu. — Certo. A residência mista do campus. — Essa mesma — disse Maria com um sorriso. Ela retirou um pote de gloss da

bolsa e retocou os lábios no espelho. — Além disso, é completamente genial. Com novo mobiliário, TV via satélite, banheiros privativos...

— Uau. Então, o que há aqui? — Ariana perguntou, pegando o envelope novamente. De repente, ela sentiu como se ela tivesse que abrir. Ela morreria se ela não lesse o seu conteúdo logo.

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Paciência, Ariana. Apenas respire. — Isso seria a tarefa da sua equipe — disse Soomie. Ela olhou para o

BlackBerry e se levantou, alisando a saia xadrez. — Falando nisso, devemos ir. O rali vai começar em breve.

— Sim! — Brigit disse, e todas elas rapidamente começaram a reunir as suas coisas. Ela agarrou a mão livre de Ariana e apertou. — Você vai amar! Espero estarmos todas no mesmo time!

— Brigit — Soomie repreendeu, revirando os olhos. Brigit corou e largou a mão de Ariana. Obviamente suas amigas às vezes se cansavam de sua atitude excessivamente entusiasmada.

Quando Soomie saiu, seguida por Maria, que desviou os olhos, o rosto de Ariana queimava. Ela desejou que pelo menos uma delas tivesse concordado com o sentimento de Brigit, mesmo que fosse apenas para ser educada. Ela sentiu uma incerteza persistente novamente e se perguntou se não deveria sair com Tahira e sua turma logo em seguida. Elas iriam fazê-la sentir-se mais aceita, mais querida? Brigit parecia saber tudo sobre ela, mas Maria e Soomie eram tão quentes-e-frias ao mesmo tempo, que a faziam se sentir um pouco enjoada.

— É muito ruim Lexa não estar aqui — disse Brigit, segurando a alça de sua bolsa enquanto saía pela porta do dormitório de Ariana. — Vocês acham que vão deixá-la competir mesmo que ela esteja chegando tarde?

— Claro que sim. Ela é Lexa Greene — disse Maria com naturalidade. — Quem é Lexa Greene? — perguntou Ariana. — Oh, Lexa é a melhor — disse Brigit. — Você vai amá-la! De repente, as três meninas saíram andando na frente, tagarelando sobre essa

garota, Lexa Greene. Elas se perguntaram se ela iria trazer presentes de sua viagem pela Europa, debateram se ela tinha mantido seu cabelo curto neste verão ou deixado crescer e se ela tinha se envolvido com algum italiano quente pelas costas do namorado. Outra conversa em que Ariana não poderia participar. Essas meninas claramente não precisavam dela. Elas tinham até uma quarta companheira a quem ela não conhecia. Uma pessoa que, a partir da conversa que ela escutou, era a líder do grupo pequeno. Sentindo-se picada pela rejeição, Ariana suspirou baixinho, olhando por cima do ombro para a porta fechada do dormitório de Tahira, ouvindo o riso abafado vindo de dentro. Por um momento, ela hesitou. Ela deveria simplesmente ir embora? Bater na porta de Tahira e entrar para aquele grupo? Mas Allison tinha sido tão rude. E havia algo acerca de Tahira que a fazia sentir que aquele era o caminho errado. Ela era muito arrogante, muito estridente. E pela maneira imodesta que ela usava o uniforme era também... Qual era a palavra usada por Soomie? Vulgar. E então Brigit a chamou para que se unisse a elas.

— Ana! Você vem? Ariana respirou fundo. Ela não queria ser rude. — Sim! Estou bem aqui! — ela

respondeu, correndo pelas escadas. Tudo o que ela podia fazer era esperar que tivesse escolhido sabiamente.

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Traduzido por Ivana

quadra no centro do campus era um mar de azul e cinza, todos os alunos vestidos com seus uniformes Atherton-Pryce Hall. Saias xadrez com detalhes em ouro ou pregas cinza simples para as meninas. Calça azul ou

cinza para os meninos. Alguns dos rapazes usavam uniformes bem gastos, antigos, com o escudo do ATH bordado, o que havia sido usado pelas gerações de seus pais e avós que frequentaram a escola antes deles. Todo mundo estava gritando saudações, jogando as mãos para cima, agarrando um ao outro em abraços. Ariana se sentiu como a mais nova desconhecida no meio de uma reunião de família. O seu próprio vestido era inapropriado para o momento. As únicas outras pessoas que não estavam de uniforme eram os calouros — facilmente identificáveis pela sua pele ruim e terror velado — e outras transferências, os quais pareciam tão idiotas e solitários que Ariana teve que desviar os olhos.

Eu não estou tão mal, ela disse a si mesma. Eu já tenho amigos aqui. — Você tem que ir até a loja da escola depois disso — disse Soomie, seus

olhos passando rapidamente sobre o vestido de Ariana em desaprovação. — Você precisa das cores da escola.

O rosto de Ariana queimou. — Exatamente o que pensei. De repente, um murmúrio de excitação atravessou a multidão e o barulho se

reduziu a um zumbido. Todos pareciam estar olhando em direção à capela, no extremo norte do pátio, que tinha um conjunto de degraus de pedra, que conduziam às enormes portas brancas. Ariana escondeu um sorriso quando viu o edifício de tijolos vermelhos e sua guarnição branca brilhante. Era uma capela muito mais feliz do que a úmida, fria e gótica capela de Easton. Uma capela mais feliz para uma nova Ariana feliz.

Uma mulher afro-americana vestida em um terno preto perfeitamente alinhado caminhou para o centro do palco, empunhando um microfone. Ela sorriu para a multidão e tocou o microfone algumas vezes. A multidão ficou em silêncio.

— Bem-vindos, alunos, para um novo ano escolar no Atherton-Pryce Hall — ela começou.

A multidão aplaudiu e aplaudiu. Alguns dos rapazes jogaram seus bonés para o ar e uma onda de riso correu no meio da multidão. Brigit sorriu para Ariana. Todo mundo estava animado por estar de volta ao campus. Contentes, relaxados e prontos para o primeiro trimestre. Uma antecipação vertiginosa percorreu Ariana. Ela estava de volta. Ela estava de volta onde ela deveria estar. Com as pessoas com

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quem ela deveria conviver. Pessoas que valorizavam a tradição. Pessoas que não eram psicopatas, babando nas camas com vocabulários baixos e tendências violentas.

— Para aqueles de vocês que não me conhecem, eu sou a diretora Jansen — continuou a mulher. Houve mais aplausos, que ela educadamente fez sinal para cessar. Ariana olhou para seus colegas. Eles pareciam gostar realmente da diretora. — E eu estou aqui para receber a todos. Bem-vindos. E que comecem as competições da Semana de Boas Vindas deste ano!

Ao dizer isso, a resposta veio mais forte ainda dos alunos. Ariana riu e bateu palmas junto com o resto dos alunos. Ela viu algumas pessoas puxando seus envelopes de seus bolsos e tirou o seu de dentro de sua bolsa. Seus dedos tremiam e ela agarrou com força para não deixá-lo cair. Seu coração batia com entusiasmo. Easton tinha um monte de tradições — a cerimônia de abertura no início de cada ano letivo; a competição dos Primeiros Lugares em cada semestre, a iniciação Billings, e tais pensamentos trouxeram uma pontada particularmente nostálgica ao coração de Ariana — mas nada tão emocionante e edificante. Nada como isso.

— A competição da Semana de Boas-Vindas remonta aos primeiros dias da nossa academia — a diretora Jansen continuou. — Há três eventos. Primeiro um debate. O tema deste ano será sobre as armas nucleares e se os Estados Unidos deveriam desarmar-se.

Um murmúrio atravessou a multidão com todos reagindo ao tópico. Claramente, os estudantes tinham ficado remoendo os possíveis temas para o debate e ficaram intrigados com o anúncio. Ariana sorriu para si mesma. De alguma forma, ela não podia imaginar Gage Coolidge e sua legião de amigos festeiros gastando seu verão discutindo qual super tema polêmico a diretora poderia colocar como debate durante a primeira semana de aula.

— Em seguida, a filantropia — as arrecadações de fundos deste ano irão para a Cruz Vermelha para ajudar os que foram afetados pelo furacão e também ao combate a incêndios.

Houveram uns poucos aplausos com esta notícia. — E em terceiro lugar, atletismo... uma corrida de equipes no Potomac. Com isso, um grupo pequeno, mas muito alto de rapazes à frente da multidão

soltou um grito, suas vozes fortes e graves. O coração de Ariana pulou. Algo sobre meninos sendo meninos sempre a empolgavam.

— Oh meu Deus. Palmer e Landon estão tão felizes agora — disse Maria revirando os olhos.

— O que você quer dizer? Você está vendo eles? — Soomie perguntou, de pé sobre os dedos dos pés.

— Se abaixa menina — disse Brigit, batendo em Soomie nas costas. Ariana arquivou os nomes dos meninos. Claramente Palmer e Landon eram de

algum grupo importante. Ela teria perguntado sobre eles, mas ela preferiu se abster de fazer muitas perguntas. Isso só serviria para lembrar as meninas que ela era nova e ignorante em suas vidas.

— Mas sei que vocês não querem ficar aqui e me ouvir falar. Vocês vão ter o suficiente disso durante o semestre — a diretora continuou com um sorriso irônico. — Então, agora eu vou deixar o resto das explicações para um de vocês. Dêem boas vindas ao seu presidente do corpo estudantil, Palmer Liriano.

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Ariana quase pulou fora de sua pele com o susto da explosão de aplausos. Ela ficou na ponta dos pés quando todos bateram palmas juntos acima de suas cabeças para saudar seu presidente. Ela teve um vislumbre fraco de um blazer azul pulando no palco, mas levou alguns minutos para ela conseguir manter seu equilíbrio e ser capaz de obter sua primeira boa olhada no presidente do corpo estudantil da escola. Sua pele era cor de café com leite, os cabelos negros, os ombros largos que enchiam perfeitamente seu blazer azul. E o sorriso... O sorriso que dizia a todos lá que ele sabia que eles estavam olhando para ele. Admirando-o.

Ariana parou de respirar. Ela experimentou um momento de leveza pura, como aquele momento no topo da montanha russa que precede a uma queda livre, sabendo o que está para vir e ser alegremente incapaz de detê-lo. E então ela estava caindo. Caindo direto em direção a Palmer Liriano. Ele era tão bonito, tão poderosamente perfeito, ele era como a gravidade humana.

Ariana sempre acreditou no amor à primeira vista. Ela só nunca havia experimentado até agora.

Acalme-se, Ariana, ela pensou, respirando fundo. Você não sabe nada sobre esse cara. Mas ainda assim seu coração saltava como um coelho em alta velocidade.

— Eu acredito que todos tenham tido um verão produtivo — disse Palmer com uma voz provocativa e um brilho malicioso em seus olhos escuros. — E por produtivo quero dizer cheio de festas, destinos exóticos, e... outras coisas mais.

À medida que a multidão aplaudiu, ele lançou um olhar para a Diretora Jansen, que se afastou. Ela deu-lhe um olhar de advertência e um sorriso que era um “Cuidado, camarada” e “Você sabe que você pode fazer o que quiser” tudo de uma vez. O clima entre a diretora e os alunos era muito diferente de qualquer coisa que Ariana já tinha experimentado em Easton. Sempre houve ordem e respeito — onde fosse necessário, é claro — ela ainda não estava certa se gostava.

— Mas agora estamos de volta e é hora de começar a trabalhar. — Ele tirou um envelope branco na parte de trás do cós da calça cinza e ergueu-o. Centenas de envelopes foram lançados no ar em resposta. — Esses envelopes revelam a sua cor de equipe. Cada estudante foi selecionado por uma das três equipes. Eu sou o capitão do time dourado.

Então ele fez uma pausa para mais aplausos. — Elizabeth Darrow é a capitã do time cinza. Então ele afastou-se e estendeu o braço para saudar uma bela menina loira no

palco, com o cabelo puxado para trás em uma trança francesa e meias recheadas em um par de mocassins tradicionais.

— E Martin Tsang é o capitão do time azul. Um menino asiático alto, bonito, com cabelo escuro desgrenhado se juntou a

eles no topo das escadas. — Agora, a equipe que vencer a Semana de Boas-Vindas vai ganhar o direito

de exercer os cinco privilégios — continuou Palmer, andando lentamente de um lado para o outro na frente de Martin e Elizabeth. — Privilégio número um.

— Um! — a multidão gritou em uníssono enquanto Palmer ergueu um dedo no ar.

— Toque de recolher prolongado — disse ele, seu olhar deslizando sobre a multidão. — Isso significa luzes apagadas uma hora mais tarde do que o resto do campus.

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— Privilégio dois. — Dois! — a multidão gritou. — A liberdade de deixar o campus sem um passe! Aplausos ecoaram ante este anúncio. O coração de Ariana vibrou com

entusiasmo e alegria. — Privilégio três. — Três! — O direito de pegar uma matéria avançada/reprovada. Privilégio quatro. — Quatro! — As melhores mesas no refeitório e na cafeteria — disse Palmer. — E,

finalmente, o privilégio número cinco. Sua voz tornou-se baixa e sexy quando ele disse “privilégio cinco”. O pulso de

Ariana acelerou e ela se sentiu quase doente de tanta atração. Todo mundo em volta dela vaiou e gritou.

— Este foi estabelecido quando a escola se fez mista em 1974 e Wolcott Hall também... o direito de ter um membro do sexo oposto em seu quarto!

A multidão foi à loucura com aplausos. — Com a porta aberta, é claro — Palmer acrescentou em um tom plano. Os gritos eram intensos, e a Diretora Jansen olhou severamente para seus

alunos. — Portanto, agora que todos nós entendemos a competição da Semana de

Boas-Vindas e o que está em jogo, vamos abrir nossos envelopes em conjunto na contagem de três — Palmer instruiu.

Ariana fechou os olhos, apegando-se a uma imagem mental de Palmer e aquele sorriso incrível. Por favor, deixe-me ser o dourado, por favor, deixe-me ser o dourado, por favor, deixe-me ser o dourado.

— Um... dois... três! Ela rasgou seu envelope e abriu os olhos. Em sua mão estava o seu bilhete

dourado. Literalmente. — Isso! — ela gritou enquanto todos ao seu redor gritavam e se abraçavam

enquanto comparavam os cartões uns dos outros. No lugar mais alto, Palmer exibiu o seu próprio cartão dourado acima de sua cabeça, rindo enquanto ele observava o caos de cima.

— Você pegou o dourado também! — Brigit gritou, agarrando a mão de Ariana e pulando para cima e para baixo. — Estamos todas no mesmo time!

Ariana olhou para Maria, Soomie e Brigit. Ela estava tão fascinada por Palmer, que tinha praticamente esquecido que elas estavam lá. Mas elas estavam, e cada uma segurava um cartão dourado. Ariana estava na mesma equipe da Semana de Boas-Vindas que Palmer Liriano e suas três novas amigas. Ou, pelo menos, as meninas que ela planejava conquistar assim que ela encontrasse uma maneira. O universo, claramente, estava sorrindo para ela. E de repente ela sabia com certeza absoluta: Esta nova vida iria ser perfeita.

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Traduzido por Lua Moreira

u não posso acreditar que estamos todas no dourado — disse Ariana enquanto ela se espremia entre uma estante de blusas brancas e uma vitrine de gravatas listradas do APH, lenços com monogramas,

cintos de muito bom gosto e as meias estampadas de tricô na loja da escola. Ela pegou algumas camisas do seu tamanho, adicionando-as às duas saias xadrez e duas saias cinza em seu braço, e virou-se para selecionar alguns acessórios. — Quais são as chances?

— Às vezes as coisas simplesmente funcionam — disse Maria, deslizando uma gravata cinza e azul por entre os dedos. Ela trocou um breve olhar com Soomie. Elas rapidamente baixaram seus olhos quando viram Ariana observando. O coração de Ariana se contraiu quando ela percebeu que, mais uma vez, havia algo não dito acontecendo entre elas. Algo que ela não deveria saber. — Você deveria ficar definitivamente com os acessórios dourados. Eles vão deixar seu cabelo um arraso.

Ariana quase contradisse. Ela sempre achou que as cores mais escuras como preto ou azul marinho realmente acentuavam seu cabelo loiro. Mas, então, ela se lembrou que ela já não tinha cabelos loiros. Ela era uma menina ruiva agora. Se remoendo pelo seu quase erro, ela agarrou o braço com os dedos sob a trouxa de roupas e deu um passo para as gravatas dourada e azul.

— Então é verdade — disse ela, fingindo estar distraída pelas gravatas enquanto ela deixava seu pulso se controlar. A loja estava cheia de estudantes estocando suprimentos e novas peças de uniformes. Todos em torno de Ariana estavam comparando as cores do time da Semana de Boas-Vindas e falando bobagens sobre qual equipe iria chutar a bunda de outra equipe. Ela tentou deixar a conversa alegre acalmá-la.

Foi apenas um pequeno erro. Isso não vai acontecer novamente. Controle-se. Você está em casa. Esta é a sua casa agora.

— Então, Ana. De onde você é? Seu sotaque é tão exótico — disse Brigit, folheando uma estante de saias.

— Sim, mas você é da Noruega. Você acha que nachos com queijo são exóticos — Soomie apontou, sacudindo os cabelos lisos por cima do ombro com uma unha bem cuidada.

— Tudo bem. Agora eu estou com fome — disse Brigit com um biquinho, olhando para o balcão na frente da loja iluminada pelo sol. — Quem quer uma barra de chocolate?

—E

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— Você não. Lembra? Chocolate não é seu amigo — disse Maria, deixando cair a gravata e passando para um boné de beisebol azul com APH bordado na parte dianteira. Ela experimentou-o e verificou todos os ângulos de seu rosto em um espelho por perto, sugando as bochechas perfeitamente definidas.

— Certo. — Brigit olhou para a barriga um pouco pastosa. — A dieta. — Estamos apenas tentando ajudar — Soomie disse a ela, verificando seu

Blackberry. — Você nos disse que queria ajuda. — Eu sei, eu sei. E eu quero! — Brigit de repente se iluminou novamente. —

Eu vou perder dez quilos — ela disse para Ariana. — Você já fez alguma dieta? — Não. Na verdade não — Ariana respondeu. A menos que alguém fosse contar os poucos dias após sair da prisão quando

ela esteve em uma dieta rápida induzida por falta de dinheiro. Mas ela não iria pensar nisso agora. Nunca mais.

— Droga. Essa coisa continua travando e eu tenho que reiniciá-lo todo o tempo — disse Soomie, pressionando com força sobre a tecla do seu celular.

— Talvez seja porque você está exigindo muito dele — Maria sugeriu. — Por favor. Estou apenas usando setenta por cento da sua memória —

Soomie respondeu quando ela saiu com um suéter cinza. — Me assusta você saber até mesmo disso — Ariana brincou. Ela virou a esquina e caminhou direto em direção a Tahira, que estava rodeada

por Allison e outra garota. — Ei você aí, Transferida — disse Tahira com um sorriso. Ela olhou para as

outras meninas de uma forma cúmplice. — Então, já está entediada? Ariana podia sentir Maria, Brigit e Soomie observando-a e ela sabia que este

era um momento importante. Era hora de mostrar-lhes como ela lidava com ela mesma. Mostrar sua lealdade. Mesmo que ela não estivesse completamente decidida a ficar com elas ainda.

— Não. Mas obrigada pela sua preocupação — disse Ariana friamente. Os olhos de Tahira estreitaram. — Esta é Zuri — disse ela, indicando a menina

negra que aparecia logo atrás de seu ombro esquerdo. Um lenço rosa choque segurava suas longas tranças em volta de seu rosto, e sua maquiagem dos olhos cintilante foi habilmente aplicada. Era demais para o dia, na opinião de Ariana.

— Nós estamos indo para uma festa no nosso quarto hoje à noite — disse Zuri numa voz baixa, mas de alguma forma com autoridade. — Você deveria vir.

— Definitivamente — disse Tahira com um sorriso brilhante. Ela olhou para as outras meninas com ironia. — Você vai precisar de uma pausa de toda a emoção — ela acrescentou com sarcasmo. — O que vocês têm planejado, meninas? Um torneio de xadrez?

— Ah, cala a boca, Tahira — disse Brigit, revirando os olhos. Ela saiu das saias e ficou entre Tahira e Ariana. — Se você quer saber o que é chato, é você constantemente dizendo a todos o quão incapazes nós somos.

— Eu só chamo como eu vejo. Então, Brigit, diga-me... como estão seus pais? — A voz de Tahira pingava com desdém.

— Aqui vamos nós — disse Maria em voz baixa, olhando para o teto. Brigit cruzou os braços sobre o peito e ergueu o queixo, balançando os

cabelos loiros para trás de forma imperiosa. — Eles estão bem. E os seus?

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— Estão bem. Fabulosos, na verdade — Tahira respondeu, olhando para as unhas. — E o seu verão, eu acredito, foi adequado.

— Mais do que adequado — Brigit fungou. — Passei oito semanas na Grécia como convidada pessoal da Princesa Christine da Dinamarca.

Tahira pareceu impressionada por um momento antes de fechar os seus lábios em uma carranca. — Eu visitei a Índia com o Emir.

— Isso deve ter sido um teste da sua paciência, com seu olho preguiçoso e mãos vagabundas — Brigit disparou de volta. Atrás dela, Maria e Soomie deslizaram as palmas das mãos juntas, triunfantemente. Ariana fingiu interesse em um par de meias até o joelho cinza carvão, mantendo sempre seu ouvido na conversa. Chefes de tribos muçulmanas? Princesas? Qual era o problema com essas duas?

— Você vai estar presente na festa do príncipe William no Natal deste ano? — perguntou Tahira. — O meu convite chegou na semana passada.

— Infelizmente não. A rainha da Noruega quer ter um encontro íntimo naquela mesma semana e me foi concedida a honra extrema de um convite — Brigit retornou. Tahira visivelmente empalideceu com a notícia. Outro ponto para Brigit, Ariana assumiu. — Você sabe o que dizem. Ninguém nunca recusa um convite da rainha da Noruega.

Por um longo momento Tahira simplesmente olhou para Brigit. Ariana poderia dizer que a garota, ofegante, estava pensando em algo para contra-atacar Brigit, mas não estava dando em nada.

— Não — ela disse finalmente. — Eu acho que não. Finalmente, Ariana não aguentou mais. Ela olhou para Maria, com sua testa

franzida e sua voz baixa. — O que é tudo isso? — Brigit é princesa da Noruega. A primeira linha sucessória do trono. Tahira... — Posso falar por mim mesma — interrompeu Tahira. Ela inclinou a cabeça e

olhou para Ariana, com um sorriso calmo. — Tahira é filha do Emir de Dubai. — Elas meio que dão nos nervos uma da outra — acrescentou Soomie. — E a guerra de princesas continua! — De repente Palmer Liriano apareceu

atrás de Tahira e colocou uma mão em um de seus ombros, a outra nas costas de Brigit. Atrás dele estavam outros três rapazes, todos eles pegos no labirinto de prateleiras de roupas sem ter para onde ir. — Agora vamos, senhoritas, beijem e façam as pazes. Eu não terei uma guerra civil na minha equipe.

O pulso de Ariana acelerou tão rápido que ela quase se sentiu fraca. Palmer de perto era ainda mais magnético do que Palmer no palco. Ela pôde ver as rugas em seu rosto quando ele sorriu. A pequena marca de nascença logo à esquerda do nariz perfeitamente reto. Os insanamente longos cílios em seus olhos castanhos escuros. Enquanto ele cumprimentava Tahira, Allison, Zuri, Maria, Brigit e Soomie com beijos na bochecha, sorrisos e perguntas interessadas, Ariana prestou muita atenção. Palmer definitivamente passou mais tempo conversando com a “brigada de baunilha”, como Tahira as chamava, do que com Tahira, Allison e Zuri. Não foi uma enorme discrepância, mas foi o que aconteceu. Ariana se sentiu segura de que tinha tomado a decisão certa. Palmer era, obviamente, o centro do universo no APH, e claramente Maria e suas amigas conheciam as pessoas certas. Se elas pudessem levá-la para mais perto de Palmer, então uma baunilha ela seria.

Ela esperou enquanto Palmer terminava de se colocar em dia com suas amigas e rezou para que sua mente viesse com algo espirituoso para dizer quando ele

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finalmente a notasse ali. Ela também não pôde deixar de notar que ele estava cercado por caras. Sem nenhuma namorada se arrastando atrás dele com adoração. Este era um sinal muito bom.

Finalmente seus olhos caíram sobre ela e ele abriu um largo sorriso. A pele de Ariana chiou quando ele a viu. Ele claramente gostou do que viu. A força de seu alívio, misturado com a leveza insana de antecipação, a fez sentir-se tonta.

Controle-se, Ariana. Controle-se. — O que temos aqui? — Palmer perguntou, deslizando pelo corredor para

ficar na frente dela. Ele cheirava incrivelmente bem. Um perfume limpo e fresco de loção pós-

barba. Caro, definitivamente. — Ana Covington — disse ela com um toque de um sorriso. Ela levantou a

mão para ele. — É uma honra conhecê-lo, Senhor Presidente — ela acrescentou maliciosamente, olhando diretamente em seus olhos.

O sorriso de Palmer se tornou satisfeito. Ele gostou do reconhecimento de sua posição, embora ela pudesse estar brincando. Ele apertou a mão dela com um aperto firme, quente, e o coração de Ariana parou.

— E você, Senhorita Covington — disse ele, falando em seu tom de brincadeira formal. — Mas espere... eu pensei que você era Briana Leigh.

Ariana se sobressaltou. Por que todos aqui pareciam já saber o nome dela? — É... é sim — disse ela. — Mas eu prefiro Ana.

— Tudo bem, Ana — ele respondeu, — Então, em que classes você está? Ariana hesitou. A última coisa que ela queria fazer era revelar seu embaraçoso

simples cronograma — o resultado da pontuação do exame de admissão abaixo do padrão de Briana Leigh — especialmente por que ela planejava alterá-lo o mais breve possível.

— Palmer está em todos os cursos avançados e honras — Soomie explicou com um sorriso carinhoso. — Ele mede o quanto cada um vale pelo nível intelectual.

Intrigante. Um cara que realmente se preocupava com a escola e preferia se cercar de pessoas da mesma opinião. Ariana ficou ao mesmo tempo surpresa e satisfeita. Ela nunca tinha conhecido um cara bonito e popular, com o privilégio de ser também um estudante sério. Mas agora ela definitivamente não poderia dizer a verdade sobre sua agenda. Sua única escolha era a distração.

— Estou impressionada — disse ela, olhando para ele. — Nenhum homem jamais mostrou interesse no tamanho do meu intelecto antes — ela acrescentou com um sorriso coquete.

Suas amigas reagiram exatamente como Ariana previu, rindo e fazendo ruídos sugestivos. Palmer simplesmente sorriu e Ariana sentiu uma conexão imediata. Ele apreciou a sua piada, mas não sentiu a necessidade de ser lascivo sobre isso. Palmer era definitivamente uma raça rara. Maduro, sério, e insanamente lindo.

— Acho que sou diferente dos outros caras — disse ele. — E eu sou diferente das outras meninas — disse ela, olhando para Tahira de

forma irônica. — Então, eu acho que nós temos muito em comum. Palmer riu, com os olhos brilhando. — Você sabe o quê? Você não é mais convidada para nossa festa de hoje à

noite — disse Tahira com uma fungada. Ariana sorriu rigidamente. — Eu não iria, de qualquer maneira.

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Brigit riu enquanto Maria e Soomie deslizavam as palmas das mãos uma na da outra mais uma vez.

Os olhos de Tahira estreitaram de forma ameaçadora. — Você vai se arrepender tanto disso.

Ariana sentiu uma pequena pontada de medo. Afinal, quem sabia do que a princesa de Dubai era capaz? Mas, então, Tahira caminhou até um dos amigos de Palmer — um cara alto, musculoso, com cabelos ondulados, grossos e escuros — para sussurrar algo em seu ouvido, e o medo passou. Fugindo para o seu cara? Talvez Tahira não fosse tão formidável como ela aparentava ser. Palmer, por sua vez, simplesmente sorriu e olhou para os caras.

— Essa menina vai ser uma vantagem definitiva para o dourado. — Os caras riram novamente e Palmer olhou em volta para o grupo. — Vamos reunir-nos com alguns dos outros caras na Hill. Se vocês terminaram suas compras vocês deveriam ir lá.

— Legal. Vamos passar por lá — disse Maria. Ariana, por sua vez, tentou tomar distância de suas palavras. Na Hill? O que

isso significava? — Vejo você mais tarde, Ana — disse Palmer, passando entre os garotos. — Espera. Como você sabia que eu estava no dourado? — perguntou Ariana. Palmer ergueu as palmas das mãos. — Eu sou o capitão da equipe. Eu sei de

tudo. Então ele se afastou, cumprimentando quase todos que ele via com um aceno,

ou um abraço ou um beijo no rosto, como um político real. — Palmer. Sempre flertando — disse Maria de um modo apaixonado. Ariana sentiu uma pontada de irritação com o fato de que Palmer tratava

todas as meninas desta maneira, mas deixou passar. Ela estava muito ocupada desfrutando da sua nova paixão. Então Soomie cutucou seu braço e a fez acordar de seu entorpecimento relacionado com Palmer.

— Ana, conheça os nossos amigos — disse ela, com a voz quase sem fôlego. Pela primeira vez, Ariana percebeu que os três rapazes ainda estavam parados nas proximidades. O cara para o qual Tahira havia recuado agora tinha os braços em volta de Tahira enquanto eles sussurravam diretamente no rosto um do outro. — Esse é Robert — disse Soomie, apontando para o namorado de Tahira. — E este é Landon Jacobs.

Landon colocou as mãos nos bolsos das calças cáqui cinza bem-vestida, que ele usava com um cinto de couro e botas pretas surradas. Sua gravata estava pendurada em seu pescoço e por cima do ombro como um cachecol, e sua camisa branca estava aberta para revelar uma camiseta desbotada representando a bandeira britânica. Sua jaqueta estava enrolada nas mangas, com os punhos da camisa espreitando para fora nas extremidades, e seu cabelo loiro era comprido em cima e empurrado para frente sobre os olhos azuis, como se estivesse tentando se esconder atrás dele.

— Oi — ele disse com um sorriso lento e prático, o que Ariana poderia dizer que era para fazê-la desmaiar.

— Oi — ela disse. Ele definitivamente não era um indutor de formigamento como Palmer era.

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Landon piscou, como se estivesse confuso. Assim como todos os outros ao seu redor.

— Oh, e este é Adam. — Landon se afastou e fez um gesto por cima do ombro para o rapaz de cabelos encaracolados aparecendo atrás dele. — Ele é novo também.

— Prazer em conhecê-lo — disse Ariana. — Você também. Este lugar é esmagador ou sou apenas eu? — ele perguntou

de forma carinhosamente vulnerável. — Não é você — Ariana mentiu, tendo pena do pobre rapaz. Ele parecia um

cachorrinho fofo perdido com seus leves cachos castanhos e grandes olhos castanhos. Como alguém que precisava de cuidados. — Falando nisso, o que é “o Hill”? — Ariana perguntou ao grupo.

— O Salão Júnior/Sênior Hillary Rush — Soomie respondeu. — É fora do refeitório. Nós o chamamos de “Hill” para abreviar.

— Sim, e os alunos do primeiro e segundo ano o chamam de caverna — acrescentou Brigit. — Porque é muito mais patético que “Hill”.

— Eu definitivamente sinto falta da caverna — disse Landon com um estremecimento. — Bem, vejo vocês por aí, meninas. — Então, com um olhar mais confuso para Ariana, ele se afastou, arrastando Allison, Zuri, Tahira e Robert.

— Até mais tarde, Noruega — disse Tahira por cima do ombro. — Espero ansiosamente — respondeu Brigit. Ariana quase se encolheu. Tão imaturo. Ela iria ter que ajudar Brigit com suas

respostas. Ou, possivelmente, apenas ensiná-la a arte da indiferença. Assim que elas estavam fora do alcance da voz, Soomie agarrou a manga de

Maria. — Oh meu Deus. Landon é tão quente! Ariana piscou. Se alguém lhe perguntasse há dez minutos, ela teria jurado que

Soomie era o tipo de garota que não era tonta. Mas aqui estava ela, praticamente tremendo na esteira do Sr. Cabelo Desajeitado.

— É. Ele é legal — disse Maria, desviando o olhar. Ariana pegou uma pitada de rubor no alto das maçãs do rosto de Maria. — É exatamente o que faz a fama. Faz objetos no espelho retrovisor parecerem mais quentes do que eles são.

— Ele é famoso? — Ariana perguntou, olhando os meninos, que estavam passando pela porta para o sol.

Todas as três meninas ficaram boquiabertas com Ariana. — Uh, sim? O mais jovem artista a ter dois álbuns estreando no número um na parada da Billboard? — Soomie disse, assinalando uma lista nos dedos. — Primeiro lugar na lista dos Homens Mais Sexys com menos de 30 anos? Vencedor de dezenas de AMAs, Grammys e MTV Video Music Awards, e estrela do filme First Son, que estreará em breve?

Um rubor envergonhado subiu no rosto de Ariana a partir de seu pescoço. Era evidente que esta era uma pessoa que todo adolescente americano de sangue vermelho deveria conhecer. Ela lembrou vagamente de uma conversa em volta do seu quarto do dormitório — algo sobre uma turnê mundial e um ego inflado. Elas deviam estar falando sobre Landon. Se ela não tivesse estado tão distraída com seu novo quarto, seu novo começo, ela teria sintonizado e nunca teria feito tal deslize.

— Você não é do sul. Você é de Marte — disse Brigit com uma risada.

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— Desculpa — disse Ariana rapidamente. — Eu simplesmente não sou a maior viciada em cultura pop.

Esta desculpa parecia adequada. Adequada para o tópico a ser descartado, mas com alguns olhares duvidosos.

— Vou fazer com que ele seja meu namorado este ano — disse Soomie, mordendo o lábio inferior.

— Sério? — Brigit perguntou e Maria pareceu, mesmo que brevemente, alarmada. Em seguida, Maria viu Ariana notando sua expressão e rapidamente desviou o olhar.

Soomie pegou seu BlackBerry, ligou novamente, apertou um botão, e mostrou-lhes a tela. — Está no meu top dez das metas deste ano.

E lá estava. Bem abaixo de “Ganhar muitos As” e “Pontuação perfeita no SAT”. No número três dizia “Fazer Landon ser meu.”

— Bem, então você devia ir falar com ele! — Brigit disse, agarrando a mão de Soomie com emoção. — Vamos! Eles provavelmente estão na quadra!

— Agora? — Soomie pareceu de repente aterrorizada. Ela voltou a alisar o cabelo.

— Claro. Porque não? — Maria disse, observando suas unhas como se estivesse totalmente desinteressada. — Estou morrendo de vontade de ver a sua técnica para “Fazer Landon ser meu” — ela disse, jogando algumas aspas no ar.

— Tudo bem. — Soomie revirou os ombros para trás. — “Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje”, certo? Vamos fazer isso.

— Eu só tenho que pagar por essas coisas — Ariana disse a elas. — Eu já alcanço vocês.

Mas as meninas já estavam a meio caminho da porta quando acenaram para ela. Ariana sentiu uma onda escaldante de irritação. O que ela era, invisível? Ela obrigou-se a respirar, então fechou e abriu o punho — deixe passar. Ela ainda era nova. As três — e esta menina elusiva, Lexa, aparentemente — haviam sido melhores amigas por um tempo. Levaria algum tempo para ela subir ao status de integrante do grupo.

Ela ia ter que ser paciente. Mesmo que ela fosse mais velha do que elas, mesmo que ela devesse estar em Princeton agora e ela estaria se não fosse a traição de certas pessoas... mesmo que ela devesse estar bem além dessas meninas e de qualquer necessidade da sua aprovação... ela não estava. Essa era a forma como era. E quanto mais cedo ela aceitasse isso, melhor.

Com uma respiração profunda, Ariana voltou para a tarefa em suas mãos. Ela reuniu mais alguns pares de meias, em seguida navegou através dos blazers e selecionou uma série de acessórios. Com o tempo ela estava com os braços carregados com roupas, cabides, e vários pequenos detalhes para acrescentar um pouco de personalidade ao seu uniforme. Ela havia acabado de entrar na longa fila que serpenteava em direção ao centro da loja, quando seu telefone tocou.

Assustada, ela se encolheu, fazendo as gravatas de seda e os lenços deslizarem para o chão. Rapidamente, Ariana inclinou-se para recolhê-los antes de abrir a bolsa para encontrar seu telefone. Ela tinha a sensação de que sabia quem estava tentando entrar em contato com ela, e seu peito se encheu de medo.

A mensagem, como previsto, era de Ashley Hudson. Claro que era. Era a única pessoa viva que tinha este número.

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Estou na Academia Easton. Ninguém aqui nunca ouviu falar de Emma Walsh. Onde vc tá?? O q tá acontecendo?? RSP. POR FAVOR.

O telefone quase caiu da palma da mão agora suada de Ariana, mas ela

agarrou-o antes que pudesse cair e atingir o chão. Com as mãos trêmulas, ela apagou a mensagem e desligou o telefone, olhando em volta para ver se alguém tinha notado seu pânico. Ninguém estava olhando para ela, no entanto. Estavam todos muito ocupados olhando, comprando e se atualizando com os amigos. Vivendo suas vidas.

O que era exatamente o que Ariana iria fazer. Viver esta vida e deixar a antiga para trás. Assim que ela arrumasse um novo número de telefone.

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Traduzido por Gabi Vieira

evo dizer, é raro o estudante que vem aqui e pede mais trabalho. Ariana sorriu levemente, mas bem disfrutava de ser

considerada “rara”. Se soubessem a minha história real, ela pensou. “Raro” tomaria um significado totalmente novo.

Sentado em uma cadeira de couro em frente ao escritório de seu novo conselheiro orientador, o Sr. Pitt, Ariana cruzou as mãos sobre o colo e respirou profundamente o ar úmido. Ali havia montes e montes de livros em toda a pequena sala, sobre o chão, em cima da mesa, em cima da impressora, ao longo de todo o parapeito da janela. Quando Ariana havia entrado, quase recuou com horror em frente à desordem. Mas depois de estar sentada por alguns minutos e deixar que seus olhos se deslizassem ao redor da área enquanto o Sr. Pitt falava sobre seu período de adaptação e sua política de portas abertas, ela se deu conta de que havia um método nessa loucura. Biografias e não-ficção à sua direita, cada pilha estava organizada em ordem alfabética por autor. Mistérios atrás dela. Clássicos russos à sua esquerda. Literatura Americana Antiga ao lado disso. Poesia Afro-Americana no parapeito da janela. Tudo tinha seu lugar.

Caos organizado. Ela tinha o pressentimento de que ia gostar deste homem. — Ah. Aqui está. — Ele virou um pouco a tela de seu computador para que

ambos pudessem vê-la, e colocou os óculos no nariz bulboso. Seus antebraços grossos sobressaíam das mangas arregaçadas da camisa oxford azul clara, que foi coberto por um suéter verde e uma gravata borboleta amarela. Toda a cor o fazia parecer alegre. Como um elfo com excesso de peso. — Sinto muito em dizer que suas notas dos exames de admissão não foram suficientemente altas para colocá-la em cursos avançados. Acredito que o horário que você tem vai ser bastante difícil, Briana Leigh. Não trate de sobrecarregar-se. Você está em uma nova escola, fazendo novos amigos... A última coisa que você precisa é de mais estresse.

O sorriso de Ariana ficou tenso. Ela não ia sair dali sem um novo calendário. Seu futuro inteiro dependia disso. Sem mencionar o pequeno detalhe de impressionar Palmer.

— Sem ofensa, Sr. Pitt, mas você não me conhece — disse ela. — Quanto mais me desafio, melhor eu faço. E quanto aos exames de admissão, eu gostaria de voltar a fazê-los, por favor.

O homem piscou por trás de seus grossos óculos. — Voltar a fazer os exames de admissão.

—D

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— Sim. Eu estava passando por uma separação horrível quando os fiz na primeira vez — Ariana mentiu sem problemas, envolvendo as mãos em volta dos joelhos. Sem se dar conta ela chutou os sacos de plástico cheios de peças do uniforme do Atherton-Pryce Hall, e mordeu o interior de sua bochecha. Tudo o que ela queria fazer era terminar com isso logo para que ela pudesse voltar ao dormitório e provar sua nova roupa. Começar a se encaixar aqui. — Não é necessário eu dizer que eu estava um pouco distraída.

O Sr. Pitt recostou-se na cadeira e exalou com força, tirando o ar de suas bochechas rechonchudas.

— Bom, esta é uma primeira vez. Você teria que fazê-los toda esta semana, assim você poderia ter um novo horário para você antes do início das aulas em uma semana, a partir de terça-feira.

— Ok — disse Ariana. — Não tão rápido, Senhorita Covington. Há cinco exames. E a competição da

semana de Boas-Vindas ocupa muito tempo — ele disse. — Você está absolutamente segura de que está apta para isso?

— Eu descobrirei. Tenho que fazer isso — disse Ariana com firmeza. — Estes cursos não vão me levar para Princeton.

O Sr. Pitt sorriu e inclinou-se para frente de novo, apoiando os cotovelos sobre a mesa desordenada, em cima do arquivo aberto de Briana Leigh.

— Ah, então Princeton é o objetivo, não é? — Esse é o objetivo — disse Ariana, seu coração estava vibrando. Ela o havia

deixado de lado por um tempo, mas isso havia acabado agora. Tudo o que ela tinha que fazer era tirar A nos cinco exames essa semana, e ela estaria de volta no caminho certo. E talvez ela ainda seria colocada em alguns dos cursos avançados de Palmer, que seria apenas um bônus.

Ele se arrumou, abriu a gaveta de cima de sua mesa e tirou um boné de beisebol preto desgastado com P bem em cima da viseira. Com um movimento, ele colocou-o orgulhosamente em sua cabeça.

— Eu sou um homem de Princeton — ele disse com um sorriso. Ariana inclinou-se para frente também, como se fossem velhos companheiros. — Então você entende. Havia um brilho emocionado nos olhos do Sr. Pitt, e Ariana poderia dizer que

ele iria levá-la para baixo de sua asa. Que ela tinha acabado de fazer com que o objetivo dele também fosse que ela entrasse em Princeton. Ela oficialmente tinha alguém em sua equipe. Alguém que, como ex-aluno de Princeton e um conselheiro de orientação, observaria atentamente o seu progresso, e poderia ser muito útil.

— Começaremos amanhã às oito da manhã com o seu exame de história — disse Pitt. — Há uma sala de exames no final desse corredor aqui. Sala 1-10. Eu estarei como fiscal, então se você não aparecer, sou eu a quem você terá que responder.

— Estarei lá — Ariana respondeu alegremente. Ela se levantou e pegou suas malas, alisando seu vestido enquanto se virava para a porta.

— Oh, senhorita Covington. Só mais uma coisa — disse Pitt, retirando o boné. — Houve um problema com a ficha de inscrição.

Ariana se deteve. — Um problema?

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— Sim. Cada estudante do Atherton-Pryce Hall é obrigado a participar de uma equipe de esportes — disse Pitt, olhando para os papéis dentro da pasta aberta à sua frente. — Você não especificou um esporte.

Ele a olhou e sorriu com expectativa. Ariana colocou a mão na maçaneta da porta e a apertou. Quando ela estava na Academia Easton, ela havia sido dispensada da obrigação da equipe desportiva, graças a um atestado médico, escrito por um amigo próximo de sua mãe. Esportes nunca tinham sido a cara de Ariana, e a mulher estava mais do que feliz em ajudá-la a evitar essa obrigação. Mas ela já não tinha essa opção. Ela ia ter que sofrer e fazer frente a todas as conversas-lixo sobre o espírito esportivo e competitivo e... o suor. Repugnante.

— Seu ensaio de entrada sobre a sua experiência equestre foi bastante inspiradora — disse Pitt, retirando algumas páginas grampeadas. Ariana olhou-as fixamente, imaginando Briana Leigh em seu computador, escrevendo sobre cavalos e competições de salto, acabando de uma vez o ensaio, assim poderia voltar para a piscina do clube de campo e ao seu muito importante bronzeado. Por um momento, um sorriso contraiu os lábios de Ariana com a ideia, mas logo a feliz imagem de Briana Leigh foi de repente substituída por uma imagem mental do rosto da menina enquanto Ariana a empurrava debaixo d’água. Seus olhos grandes e aterrorizados enquanto estava afogando-se. Enquanto se sacudia e lutava por sua vida. Ariana fechou seus olhos e agarrou a maçaneta com mais força.

Respire. Apenas respire. Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... — Você está bem? Você está pálida — disse Pitt. Os olhos de Ariana se abriram. Ela estava de volta ao gabinete do conselheiro.

De volta ao agora. Tudo estava bem. Briana Leigh estava no passado. No horrível e terrível passado. Não havia nada que Ariana pudesse fazer por ela agora.

— Tudo bem. Estou bem — ela disse. — Ótimo. Então devo colocá-la na equipe de equitação? — ele perguntou,

seus dedos pairando sobre o teclado. — Eles são muito hábeis, na verdade, eu... — Não! — Ariana soltou, enquanto as imagens de Briana ameaçaram

ressurgir. — Não. Já acabei com os cavalos. O Sr. Pitt piscou. — Acabou com os cavalos? — Tênis — disse Ariana e forçou um sorriso. — Eu gostaria de estar na equipe

de tênis. O Sr. Pitt deu de ombros e escreveu algo. — Tudo bem, então. Será o tênis. — Ele apertou um botão e o selou. Enquanto Ariana agradecia seu conselheiro e passava pela porta, ela sentiu

uma pontada de incerteza. Se Briana Leigh tinha estado tão interessada em equitação que tinha escrito em seu ensaio, devia ser estranho agora, só alguns meses depois, que ela estivesse tão avidamente desinteressada. Isso faria com que o Sr. Pitt suspeitasse de algo? Mas quando ela olhou para o Sr. Pitt, ele já havia se ocupado com alguma outra coisa no computador. Não tinha nenhuma razão para ele suspeitar dela. Ela era apenas uma criança para ele, e as crianças mudavam de ideia o tempo todo.

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Eu sou Briana Leigh Covington agora, Ariana lembrou a si mesma. O mundo só vai ter que se acostumar com a nova eu.

E se alguém não gostasse do seu novo eu... bem, ela teria formas de lidar com eles.

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Traduzido por Ivana

ão foi até que Ariana estava de volta na quadra que o pânico retornou. Ela esteve na prisão por quase dois anos. Dois anos desde que ela tinha estudado história, francês, ciências ou qualquer outra coisa que se

encontram nos romances alojados na biblioteca da Brenda T. Se ela quisesse passar nos exames, ela ia ter que estudar.

Um grupo de garotos corria tentando atacar o outro grupo por um Frisbee, e chegou perto o suficiente para quase esmagar os pés de Ariana.

— Desculpe! — um deles gritou erguendo a mão, enquanto caía contra o chão.

Ariana respirou fundo, disse a si mesma para não estrangulá-los, e se virou. Na parte de trás da loja da escola havia uma seção inteira cheia de laptops, desktops e impressoras. Ela notou uma placa de livros escolares logo atrás, uma grande seta apontando para baixo de um conjunto de escadas. Ela estava prestes a estourar a fatura do cartão de crédito da avó Covington. Mas era o início do ano letivo.

Ela precisava de material e uniforme. A velha teria que entender. — Então, você recebeu minha mensagem de texto? O coração de Ariana pulou em sua garganta quando ela quase se chocou com

força total em Palmer Liriano. Ele apareceu do nada e agora estava andando para trás na frente dela para que ele pudesse olhar para ela enquanto falava. De alguma forma, tão distraída quanto havia ficado com o seu aparecimento súbito, Ariana não conseguiu dizer nada.

— Que mensagem? — perguntou ela, as alças das pesadas sacolas de plástico pareciam querer cortar as palmas das suas mãos de repente suadas. Ela respirou fundo e tentou manter a calma. Por que o suor existe? Era tão pouco atraente.

— Eu mandei uma mensagem para todos da equipe dourada para informá-los sobre a primeira reunião da equipe — disse ele, ainda sempre tão confiante andando no sentido inverso. — Três horas. Ginásio. Você não entendeu?

— Eu desliguei meu telefone — disse Ariana, lembrando da mensagem anterior de Hudson. — Como é que você tem os números de todos da sua equipe? Isso não seria mais do que uma centena de pessoas?

— Cento e oito, na verdade... se você contar os calouros, que eu raramente conto — ele brincou, finalmente voltando para caminhar ao seu lado. Ele tirou uma bola de beisebol usada do bolso e rolou-a entre as palmas das mãos. Ela notou que suas mãos eram grandes e poderosas, com dedos longos. — Eu tenho os números

N

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de admissões. Rosie me ama, então ela me dá praticamente qualquer coisa que eu quero.

— Rosie, a recepcionista, eu presumo — disse Ariana com um sorriso. — Sim. Na verdade, eu tenho certeza que todas as recepcionistas no campus

me amam — ele disse, inclinando a cabeça. — Talvez eu tenha um feromônio especial para as recepcionistas.

Ele tinha feromônios com toda certeza, mas eles não afetavam apenas as recepcionistas. Ariana estava prestes a devolver um comentário em tom de paquera quando uma onda fria de medo a golpeou na cara e serpenteou direto para baixo de sua coluna vertebral. Ela estava tão assustada que ela parou de andar e deixou Palmer alguns passos até perceber que ela não estava mais com ele.

Palmer havia mandado uma mensagem ao número que ele tinha obtido das admissões. Esse seria o celular antigo de Briana Leigh, não o atual de Ariana. O celular que tinha sido roubado junto com todas as coisas de Briana Leigh na noite em que ela tinha sido assassinada.

Roubado por Kaitlynn Nottingham. Kaitlynn, a ex-companheira de cela completamente psicótica de Ariana na Brenda T. A menina que não tinha ideia dos planos de Ariana para assumir a identidade de Briana Leigh e frequentar Atherton-Pryce.

A visão de Ariana começou a formigar com manchas cinzentas quando o pânico apreendeu seu coração.

Mas espere, você cancelou o telefone, idiota, uma pequena voz em sua mente a lembrou. Acalme-se. Está tudo bem. Você cuidou disso.

— Você está bem? — perguntou Palmer. Respire, Ariana. Apenas respire... Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... — Ana? — Eu estou bem — disse Ariana. Sua visão clareou e lá estava Palmer. Bonito, preocupado, olhando para ela

com aqueles olhos castanhos sérios, provavelmente pronto para colocá-la por cima do ombro e carregá-la para a enfermaria, se ela precisasse.

— Tudo bem. Estou bem — disse Ariana tremulamente. — Eu só... acho que eu esqueci de fazer alguma coisa. Mas está tudo bem.

— Ok, ótimo. Por um segundo eu pensei que você ia desmaiar em cima de mim — disse Palmer com um sorriso que fez seu coração sapatear. — Não que as meninas não tivessem tido essa reação no passado.

Ariana sorriu. — Você é meio cheio de si, não é? Alguém já te disse isso? Palmer piscou, atirou a bola de beisebol para cima, e a pegou. — Não com

essas palavras, não. Você é a primeira. A primeira. Era sempre bom ser a primeira em algo na vida de alguém. — Então, você nunca me disse que aulas você está frequentando — disse

Palmer, caminhando. Certo. Essa velha pergunta. Ariana voltou a pensar na sua conversa com o Sr.

Pitt e como ele tinha ficado impressionado por sua dedicação ao seu futuro. Seria possível que Palmer, com a importância que ele tinha na escola, iria achá-la impressionante também?

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— Na verdade, isso não está muito claro no momento — disse ela, com um olhar confuso. Ela inclinou a cabeça e disse com desgosto, — Estou retomando meus exames de admissão.

— Sério? — Palmer disse, parando novamente. — Eu tive uma espécie de dia ruim na primeira vez que fiz os exames — ela

disse. — Vamos apenas dizer que minha pontuação não condiz com o meu padrão habitual.

— Qual é o seu padrão? — perguntou Palmer. — Apenas notas A — Ariana respondeu com firmeza. — Sem exceções. — Uau. Você parece comigo — respondeu Palmer. — É legal eles deixarem

você refazê-los. Duvido que eles façam isso para todos. — Eu acho que eu não sou todo mundo — Ariana respondeu, amando o quão

misterioso isso parecia. Ela não deixou de notar o fato de que Palmer tinha decidido não intrometer-se na razão por trás de seu mau dia. Ele era um cavalheiro. Outro ponto a seu favor.

— Acho que não — disse Palmer, jogando a bola de beisebol com uma mão pelas costas e pegando-a com a outra.

— Então, se nós ganharmos esta competição, nós nos mudamos para a Casa Privilege? — perguntou Ariana.

— Não se... quando — Palmer respondeu, erguendo as sobrancelhas. — E apenas os sêniores e juniores se mudam.

— Ok, quando. Então, como é que funciona, exatamente? — ela perguntou, olhando para as duas torres, que podiam ser vistas a partir de quase qualquer lugar do campus. — Meninos e meninas que vivem juntos, quero dizer.

Palmer riu. Ele fez uma pausa em seu caminho e cruzou os braços sobre o peito, colocando a bola sob um bíceps. — Bem, a torre norte é para os caras, a sul para as meninas. Nós só nos misturamos realmente nas áreas comuns, mas é legal. Você não tem que andar todo o caminho pelo campus para se encontrar com os seus amigos, e é mais fácil para fazer grupos de estudo em conjunto. Definitivamente é um privilégio. Estou feliz que meu tio teve a ideia.

— Seu tio? — perguntou Ariana. — Sim, do lado da minha mãe. A coisa toda foi ideia dele — disse Palmer. —

Ele era muito importante aqui. E quando se formou, ele deu à escola uma grande doação, mas disse que queria deixar sua marca na Semana de Boas-Vindas, então o deixaram criar o quinto privilégio, que foi transformar Wolcott Hall em um dormitório misto para os vencedores veteranos. Acho que ele não gostou do fato de que ele tinha tão pouco acesso às mulheres enquanto ele estava aqui, e quis tornar a coisa mais fácil para as gerações futuras — ele acrescentou com uma risada.

— Uau. Isso é tão legal. Parte da sua família é história do Atherton-Pryce — disse Ariana, sentindo um arrepio de excitação. Palmer era mais do que o presidente do corpo estudantil, mais do que o Sr. Popular — ele era a realeza de Atherton-Pryce. E, aparentemente, sua família tinha uma quantidade insana de dinheiro, se o seu tio podia fazer essa grande doação depois de se graduar na escola preparatória.

— É. Isso é meio legal — disse Palmer com um aceno. — Mas isso coloca muita pressão sobre mim para vencer e continuar, sabe? Manter na família.

Pressão da Família. Ariana sabia um pouco sobre isso. — Claro.

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— Então, três horas. Ginásio. Esteja lá. Ele jogou a bola de baseball no ar e se virou para ir embora. — Na verdade, eu tenho um novo número — disse Ariana, esperando que ela

soasse casual e centrada quando, na verdade, ela estava quase em pânico com a ideia de ele indo embora logo em seguida. Esta foi a primeira conversa cara-a-cara e ela queria que durasse tanto tempo quanto possível. Tempo suficiente, pelo menos, para ela deixar uma impressão duradoura.

Palmer tirou seu celular para fora do bolso do casaco, sem hesitar. — Eu vou precisar dele.

Ariana corou, lisonjeada, e Palmer sorriu, notando. — Para o negócio da equipe, é claro — ele esclareceu, provocando. — É claro. Ela deu-lhe o número, arrumando suas sacolas de compras nas mãos, e

continuou andando, esperando que ele seguisse caminhando com ela. Ele o fez. Ariana sorriu para si mesma. Claramente, havia dez milhões de outros lugares aonde um garoto da sua importância e com a sua popularidade poderia estar agora, mas ele estava escolhendo ficar com ela.

— Então, Ana, antes de eu deixar você ir, você tem algum talento especial que eu deva saber? — ele perguntou, olhando-a de cima a baixo, de forma sugestiva.

O rubor de Ariana se aprofundou. — Para a competição, é claro — ele acrescentou, sorrindo. Ele percebeu o

efeito que tinha sobre ela e estava obviamente adorando. Ariana não se importava, no entanto. Ela estava adorando também.

— É claro — disse ela novamente. — Bem, Sr. Presidente, eu não sei exatamente o que você está procurando.

Eles já haviam feito a travessia das vias em frente à loja da escola. Ariana fez uma pausa e olhou para ele, o sol iluminando seu belo rosto perfeitamente. Ele deu um passo mais perto dela. Tão perto que ela podia sentir o calor que irradiava de seu corpo.

— Não se preocupe. Quando eu precisar de você, você vai saber. — Então ele jogou a bola de beisebol no ar, pegou e afastou-se.

Ariana respirou o ar fresco do fim de verão, curtindo a corrida animada de seu pulso, e olhou para a bolsa. Ela não poderia se livrar de seu telefone agora. Palmer tinha o número. E se havia uma coisa que ela queria nesta vida, era que Palmer fosse capaz de tê-la sempre que ele quisesse estar com ela.

Ela só teria que encontrar uma maneira de lidar com Hudson.

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Traduzido por Ivana

riana nunca tinha sentido tanta falta de Noelle Lange mais do que naquele momento. Quando ela experimentou suas novas peças do uniformes, cada uma mais moderna do que a outra, Allison sentou em sua cama com seus

fones de ouvido e folheou a revista aberta no colo, observando cada movimento de Ariana. Ela viu quando Ariana deslizou dentro e fora das saias, como ela abotoava e desabotoava as blusas, enquanto experimentava um suéter, em seguida, um blazer. Quando Ariana virou-se para o lado para verificar como a roupa lhe caía nesta visão, Allison bufou. Ariana atirou-lhe um olhar irritado e a garota voltou os olhos para a revista, como se ela não tivesse sequer observado Ariana nos últimos quinze minutos.

Você não tem ideia de com quem está lidando, Ariana pensou, suas narinas dilatadas ligeiramente quando ela olhou para a menina desavisada. Eu posso pensar em cinco maneiras diferentes de acabar com você agora.

Quando Allison olhou para cima novamente, Ariana fez questão de manter o olhar até que a menina corou e desviou o olhar primeiro. Então Ariana suspirou, aborrecida agora, e voltou para o seu desfile de moda particular.

Allison não era uma pessoa com a qual Ariana poderia viver por muito tempo. Infelizmente, a menina também estava na equipe dourada, assim como sua amiga Tahira. Ariana só podia esperar que uma vez que elas entrassem na Casa Privilege, as duas decidissem dividir um quarto juntas e então ela encontraria alguém legal que precisasse de uma nova companheira de quarto. Nesse meio tempo, estar convivendo com a menina nos últimos dias só trouxe para Ariana o sentimento do quão incrível era dividir um quarto com uma amiga de verdade. Ela lembrou o som da voz de Noelle, que enchia o quarto cada vez que ela entrava. Ela sentia falta de sua honestidade deslavada. Seu humor. Seus conselhos. Sentia falta de viver com alguém que ela amava.

Ou tinha amado. Até que a menina virou as costas para Ariana e escolheu Reed Brennan ao invés dela.

Talvez Allison como uma companheira de quarto não era de todo ruim. Se elas nunca se tornassem amigas, havia muito menos chance de Allison acabar traindo ela.

— Allison? Posso fazer uma pergunta?

A

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A garota revirou os olhos e fez um grande e exagerado movimento para remover seus fones de ouvidos, como se Ariana estivesse fazendo uma enorme imposição.

— O quê? — Como funciona a lavanderia por aqui? Eu não vi uma lavanderia — disse

Ariana, tentando ter paciência. Allison deu um suspiro e sentou-se em linha reta. — Você não viu esse saco? Ela apontou para um saco azul claro que estava dobrado e colocado em cima

da prateleira acima da escrivaninha de Ariana. — Você coloca suas roupas sujas no saco e deixa no corredor antes das oito

horas da noite, e então de manhã volta para você tudo limpo e bem dobrado. É como um milagre — disse Allison jocosamente, com os olhos arregalados. Em seguida, ela caiu para trás em seus travesseiros e colocou os fones de ouvido novamente enquanto folheava ruidosamente as páginas de sua revista.

— Obrigada! — Ariana gritou. Não havia necessidade de deixar de ser educada por causa da menina.

Ela colocou os braços no casaco de lã azul marinho novamente e correu os dedos sobre o emblema APH cor de ouro no bolso do peito. Ariana sempre tinha desejado que a Academia Easton tivesse uniformes. Ela gostava da forma coerente e sutil que eles davam a todo o corpo estudantil. Ela alimentava a tradição de usar as cores da escola e exibir orgulhosamente o seu escudo. Uniformes lhe davam orgulho. Integridade. Lealdade. Qualidades que muitas das pessoas em Easton não tinham.

Mesmo que a camisa de manga curta desse coceira e a saia xadrez plissada precisasse fazer uma nova barra, Ariana decidiu que iria usá-las para a reunião da equipe às três horas, juntamente com uma gravata azul e dourada. Seu conforto era muito menos importante do que manter a discrição. Ela não queria se destacar como a novata que ela era. Ela queria se misturar. Para enganar a todos fazendo-os pensar que ela tinha estado ali o tempo todo.

Allison pôs a revista de lado e pegou um exemplar do Washington Post. Enquanto ela preguiçosamente virava as páginas, Ariana fazia uma trança francesa em seu cabelo. Então, de repente, Allison fez uma pausa e olhou para cima do papel. Ela olhou para Ariana, seus olhos ligeiramente apertados, os lábios ligeiramente tensos. O coração de Ariana começou a pular. Todos os dias desde a exumação do corpo de Briana Leigh do lago, Ariana tinha verificado o jornal em busca de quaisquer histórias sobre si mesma ou Kaitlynn, só para ter certeza de que ninguém tinha começado a fazer perguntas de novo. Mas hoje ela estava tão ocupada, que não tinha pensado em procurar. E se houvesse alguma coisa lá sobre seu funeral? Uma imagem de Ariana ou uma história sobre Kaitlynn que mencionasse sua velha amiga Briana Leigh Covington?

Instantaneamente ela começou a catalogar mentalmente tudo no quarto, tentando encontrar algo que poderia ser de utilidade para ela. Havia uma abundância de gravatas no armário, um par de grandes tesouras na mesa de Allison e almofadas. Almofadas poderiam ser uteis. Mas havia pessoas em todos os lugares, conversando nos corredores, nas portas dos quartos. Uma luta sem dúvida poderia ser ouvida pelas pessoas que estavam no corredor. O que ela iria fazer?

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— Eu vou sair daqui — disse Allison, de repente, levantando-se da cama. Ela enrolou o jornal, jogou-o na lata de lixo, e passou por Ariana, batendo a porta atrás de si. No segundo que ela se foi, Ariana pegou o jornal e certificou-se de ler cada linha de cada página. Não havia nada. Nada além de cotações de ações, placares de futebol e histórias de sofrimento humano.

Ariana estava sendo paranoica. Com um suspiro, ela retornou o jornal para o lixo e virou-se para o espelho.

Então, Allison não tinha visto nada para fazê-la suspeitar de Ariana. Ela era simplesmente propensa a encarar os outros. O que era apenas um de seus muitos inconvenientes. Respirando fundo, Ariana limpou as mãos sujas da tinta do jornal com um lenço de papel da mesa de Allison e jogou ele no lixo também. Ela não podia parar de prever a vitória iminente da equipe dourada e a sua saída de Cornwall para a Casa Privilege. Porque a sua nova vida perfeita não poderia incluir uma companheira de quarto imperfeita.

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Traduzido por Ivana

riana saiu para o sol, sentindo-se tonta, com as pregas superengomadas da saia arranhando suas coxas nuas. Ela se perguntou se suas novas amigas tinham pensado em esperar por ela, e seu sorriso aumentou quando viu

Maria, Brigit e Soomie esperando na quadra a poucos metros da porta de trás do dormitório.

Mas o sorriso morreu um instante depois. Nenhuma delas estava de uniforme. Na verdade, ninguém no campus estava de uniforme.

Maria tomou um gole do copo de café de papel na mão e soltou uma risada. Ela parecia superconfortável em um vestido de linho creme e tiras de couro. Brigit tinha mudado para jeans e uma camiseta colorida sem mangas, e Soomie usava uma saia preta, uma camiseta branca, e um par de sapatos Chanel.

— O que você está vestindo? — Brigit perguntou ofegante quando Ariana andou em direção a elas, com o rosto queimando.

— Todo mundo estava de uniforme no comício — Ariana sussurrou de volta quando Brigit tomou seu braço em uma espécie de solidariedade. — Eu pensei...

De repente ficou claro para ela. A razão de Allison ter ficado olhando para ela. Escondendo risos. Fazendo aquela cara estranha. Ela não tinha reconhecido Ariana. Ela estava tentando não demonstrar nada. A menina sabia que Ariana iria sair em seu uniforme e pareceria uma idiota, e ela simplesmente precisava deixá-la fazer isso.

Vadia. Vadia, vadia, vadia. — Nós todos vestimos nossos uniformes para o comício, mas não novamente

até que as aulas comecem — Soomie informou com naturalidade. — Acho que deveria ter dito a você — acrescentou Maria, soando como se ela

não se importasse muito de uma maneira ou de outra. — Eu tenho que ir me trocar — disse Ariana. — Não dá tempo — Soomie disse a ela. — Você não quer chegar atrasada. O rosto de Ariana picava diante de alguém querendo dizer a ela o que fazer,

mas o tom de Soomie não deixou espaço para a negociação. Claramente a pontualidade era uma obrigação para a Miss Organizada. Ariana tinha acabado de começar a conquistar ela e Maria com seus insultos à Tahira na loja da escola. Ela não queria estragar tudo agora.

— Tudo bem — disse Ariana. — Vamos embora.

A

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Elas atravessaram o campus para ir ao ginásio, o qual tinha seu próprio estacionamento e estava situado no extremo norte do campus. Ariana notou mais do que alguns olhares divertidos sendo disparados em sua direção. Ela fez o seu melhor para ignorá-los, mas o calor do seu corpo havia subido para um nível perigoso no momento em que elas entraram pelas portas azuis que davam no lobby do ginásio. O tecido da roupa não fazia mais do que aumentar a sua coceira. Ela tentou distrair-se, olhando aos seus arredores. Pendurado no teto havia dezenas de banners do campeonato para todos os tipos de esportes, e vitrines de vidro cheias de troféus cobriam as paredes, alguns datados com centenas de anos de ouro e prata. Ariana teria gostado de parar e ler a história, mas o resto da equipe dourada foi entrando pelas portas internas para a quadra de basquete. Incluindo Tahira, Robert e Allison. Ariana encontrou com os olhos de Allison, e ela e Tahira pareciam explodir de tanto rir. Rob bufou e se uniu nas risadas, uma reação ensaiada para, obviamente, agradar sua namorada.

— Muito obrigada — Ariana disse quando passou por Allison para o ginásio, o cheiro inebriante do piso recentemente encerado enchendo seus sentidos. — É tão bom ver você me fazer sentir bem-vinda.

— Sempre! — Allison respondeu, com os olhos molhados de tanto rir. Maria, Brigit e Soomie caminharam atrás de Ariana. — Ei, Noruega. Ou devo dizer, Muffintop! — Tahira comentou, com a voz bem

alta. Suas palavras ecoaram em todo o sublime ginásio, e todos à sua volta se viraram para olhar. Brigit congelou no lugar, com a boca aberta em horror. Tahira caminhou até ela por trás e a olhou de cima a baixo enquanto ela passava. — Achei que você parecia robusta de uniforme, mas os jeans mostram realmente suas curvas enormes.

Um grito estrangulado escapou da garganta de Brigit. Maria e Soomie trocaram um olhar ansioso, mas Ariana sabia que elas não faziam ideia de como ajudar. Ela aproximou-se do lado de Brigit e tomou-lhe o braço.

— Não dê ouvidos a ela, Brigit — disse Ariana, olhando para os saltos agulha roxos de Tahira. A menina realmente usava as opções de cores ousadas. — Pelo menos você não está carregando toda a sua gordura em seus tornozelos.

Brigit riu enquanto a mandíbula de Tahira caiu. Ariana puxou sua nova amiga junto em direção às arquibancadas, que foram enchendo-se rapidamente com os alunos vestidos de roupa informal. Elas encontraram um lugar na arquibancada, na frente ao centro, onde as meninas importantes deveriam estar. Maria e Soomie se reuniram em torno dela e de Brigit, e se sentaram.

— Obrigada, Ana — disse Brigit baixinho. — Eu não sei o que aconteceu comigo lá atrás.

— Não tem problema — Ariana respondeu, sentindo-se orgulhosa por ser útil para Brigit.

— Você deve ter cuidado, no entanto — disse Maria. — Você não quer exagerar quando se trata de Tahira.

O coração de Ariana saltou. Ela tinha pensado que ela estava fazendo a coisa certa. Algo que iria dar valor a ela com relação a essas meninas.

— Mas eu pensei que você não gostasse dela — disse Ariana. Soomie e Maria trocaram um olhar. — É uma linha tênue — disse Maria.

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Ariana olhou para frente. Ela não tinha ideia do que isso significava. Ela deveria ser malvada para Tahira, mas não tanto? Elas estavam brincando? Claramente, havia algo aqui que ela não entendia. Como ela estaria a par do assunto se elas simplesmente a excluíam das informações? Ela fechou os dedos em seus punhos e conteve sua frustração.

Tudo em seu tempo, Ariana. Basta dar-lhes tempo. — Olá, meninas! — Uma linda ruiva fez uma pausa em seu caminho até as

arquibancadas com duas amigas atrás dela. — Trouxemos café gelado. — Suas amigas entregaram copos para Maria, Brigit, e Soomie, que pegaram as bebidas geladas, como se tivessem esperando. A ruiva, por sua vez, olhou ao redor confusa. — Onde está Lexa?

— Só vai vir amanhã — disse Maria, tomando um gole. — Você pode dar o dela para Ana — ela acrescentou, acenando com a mão na direção de Ariana.

— Ana, esta é Quinn — disse Brigit. — Ela é uma estudante do segundo ano. — Eu estou no café, se você precisar de um — disse Quinn com um sorriso. —

Espero que você goste de latte desnatado. É a bebida preferida da Lexa. — Ela parecia desapontada por estar entregando a bebida para alguém que não fosse Lexa.

— Claro. Obrigada — disse Ariana, perplexa. — Nós vamos estar lá em cima se vocês precisarem de alguma coisa — disse

Quinn, voltando a sorrir. — Até mais tarde! — Tchau — disseram as meninas vagamente. — O que ela quis dizer quando falou que estava em um café? — Ariana

sussurrou para Brigit. — Os calouros sempre estão nos perguntando se queremos alguma coisa,

então no ano passado Lexa decidiu que seria menos incômodo atribuir para cada um deles um certo tipo de tarefa — disse Maria com um encolher de ombros. — Quinn traz café a qualquer evento entre classes, mas também temos meninas de plantão para lanches, patrulha de roupas, corridas para a biblioteca...

— Patrulha de roupas? — perguntou Ariana. — Tipo, se você derramar café em sua camisa e você precisar de uma nova,

alguém tem que ir buscar para você — explicou Brigit, tomando seu café. A mandíbula de Ariana caiu. — Espere um minuto, vocês dão funções para as

outras meninas? — Não é tão ruim quanto parece — disse Soomie. — Elas querem fazer isso. — Claro. Lexa nunca obrigaria alguém a fazer algo que não queira —

acrescentou Maria. — Eu gosto de pensar nelas como damas de companhia — disse Brigit,

olhando para o teto. — É muito mais civilizado. Você vai ter que dar a Quinn seu pedido de bebida da próxima vez que vê-la.

Ariana tentou não parecer tão chocada quanto ela se sentia. Isso era muito melhor do que ter um grupinho de algumas novatas no Billings à sua disposição. Agora seria toda uma tropa de lacaias dispostas. Ela tomou um gole do café com leite de Lexa e olhou para Tahira. Quinn e as outras meninas tinham passado por ela, de forma que deixou bem claro que a princesa de Dubai não possuía este benefício. Ariana tinha definitivamente escolhido sabiamente.

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Então neste momento Palmer entrou na sala com Landon e Adam atrás, e a conversa animada correu entre a multidão reunida. Landon e Adam caminharam até o grupo de Ariana. Ariana manteve seu olho em Landon conforme ele fez o seu caminho até as arquibancadas e sentou ao lado de Soomie, que ficou roxa com sua proximidade.

— Chicas — disse ele por meio de saudação. — Buenas tardes — Soomie respondeu. Ariana olhou para Maria, que ficou olhando incisivamente para frente. Este

triângulo era muito intrigante. E potencialmente algo que Ariana poderia usar a seu favor, uma vez que ela descobrisse uma maneira de usá-lo.

— Oi — disse Adam, sentando-se ao lado de Ariana. — Eu quase coloquei meu uniforme também, mas meu colega de quarto me disse para mudar.

Ariana sorriu educadamente. — Se todos tivéssemos a mesma sorte. Adam sorriu de volta, mostrando algumas covinhas adoráveis. — Então, você

é nova na escola preparatória, também? — Eu? Não. Eu fui a uma tonelada de escolas como esta — Ariana respondeu,

lembrando a história das expulsões de Briana Leigh em várias escolas ilustres. — Você tem sorte. A escola pública é muito diferente — disse Adam,

enxugando as mãos em seu jeans. Obviamente, Ariana pensou, mas não disse. Em vez disso, ela deu-lhe um olhar

firme. — Bem, você obviamente tem os amigos certos. Sendo amigos desses caras, você não deve ter nenhum problema.

— Isso é exatamente o que Palmer disse-me durante o verão — disse Adam, consideravelmente animado. — Minha mãe trabalha para a mãe dele. Foi assim que eu consegui a minha bolsa de estudos.

Ariana considerou dizer-lhe que este era o tipo de informação que seria melhor ele manter para si mesmo, mas naquele momento, Palmer decidiu começar a reunião. Ele se aproximou do centro da arquibancada e sorriu.

— Bem-vinda, Equipe Dourada! Todo mundo aplaudiu. Ariana cruzou as pernas na altura do joelho e bateu

palmas. Ela não tinha certeza se deveria ter alguma esperança de que ele a procurasse. Por que ela tinha colocado este uniforme estúpido que só lhe dava coceira? Ela olhou por cima do ombro para encontrar Allison sentada algumas fileiras atrás dela, sorrindo com altivez. Ela jogou seus cachos loiros curtos para longe do rosto e os dedos de Ariana se contraíram, pensando nas tesouras de prata sobre a mesa da sua colega de quarto. Aquela menina não sabia com quem ela estava mexendo. Ela deveria se considerar feliz se acordasse com todo o cabelo na cabeça amanhã.

— Vamos direto ao assunto — continuou Palmer, rolando sua bola de baseball entre as palmas das mãos. Seus olhos percorreram a multidão, fazendo contato visual sólido com todos reunidos como um bom orador, e caíram sobre Ariana. Seus lábios tremeram e ela lutou contra o impulso de afundar para trás, em vez de sentar com a coluna reta e manter a cabeça alta. — Uh... temos três eventos que devemos dominar.

Ariana sorriu. Ela tinha desconcertado ele por um momento. Pelo visto o Sr. Compostura não era impenetrável. Pena que tinha sido porque ele estava tentando não rir dela.

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— Primeiro será o debate. Coloquei um residente do APH, Sumit Medha, encarregado disso. Sumit, por favor, levante e acene — disse Palmer, apontando para o lado direito das arquibancadas. Um cara do sul da Ásia magro com cabelo preto curto levantou-se e ergueu a mão, ganhando alguns aplausos da multidão. — Se você está interessado em participar do debate, consulte Sumit após a reunião. Isso inclui qualquer pessoa que queira fazer a pesquisa, trazer o café, oferecer algum apoio, e tudo isso.

— Estou na pesquisa se alguma de vocês quiser se juntar — Soomie sussurrou. — Por favor— zombou Maria, tomando um gole de café. — Eu prefiro trazer

os cafés, obrigada. — Estou totalmente de acordo — respondeu Brigit. — Não é como se eu

fosse ajudá-la. Ariana manteve a boca fechada. Ela podia adivinhar a quem Brigit estava se

referindo, mas ela tinha que ouvir todas as opções primeiro. — Nossa herdeira residente, Tahira Al Mahmood, se ofereceu para assumir o

comando do evento de arrecadação de fundos — continuou Palmer. Brigit afundou mais em seu assento quando Tahira levantou-se e acenou como

uma concorrente de um concurso de beleza. — Então, por favor, consultem Tahira para os detalhes sobre isso. E eu vou ser

o capitão da equipe de remo — disse Palmer, puxando a parte da frente da sua camiseta, como se fosse a gola da jaqueta. Os caras no meio da multidão gritaram enquanto as meninas estridentemente aplaudiam. Ariana levantou uma sobrancelha. Palmer certamente era como uma estrela do rock por aqui.

— Precisamos de uma menina para atuar como timoneiro do barco, de modo que qualquer pessoa interessada, por favor, fale comigo — disse Palmer. — A prática começa terça-feira na casa de barcos, às cinco em ponto.

— É. Isso não vai acontecer — disse Maria. — Lá vou eu para o café. — Tudo bem. Isso é tudo a respeito dos eventos — disse Palmer, olhando

para a esquerda. — Senhoritas, por favor? Ele deu um passo para trás e quatro meninas — alunas do segundo ano ou

calouras, Ariana supôs — saltaram da linha de fundo, cada uma usando uma braçadeira dourada em seu bíceps. Elas começaram a fazer o seu caminho até as arquibancadas, distribuindo braçadeiras para o grupo.

— A partir deste momento, vocês irão usar essas braçadeiras onde quer que vão — Palmer instruiu, andando na frente das arquibancadas. — Para as reuniões, para a cama, para o banheiro, para o jantar de boas-vindas hoje à noite — especialmente para o jantar de boas-vindas hoje à noite. Queremos que os ex-alunos saibam quem está representando a equipe dourada. Orgulho pela equipe, pessoal. É mais importante do que a moda.

Então, ele olhou para Ariana novamente e sorriu. Ariana sentiu a cor subindo em suas bochechas.

— Ok, depois de pegarem suas braçadeiras, vocês podem ir. Mas se vocês estiverem em debate, fiquem para trás e vá falar com Sumit!

Palmer deu um toque nas costas de Sumit enquanto ele caminhava para a frente, jogando sua bola para cima e para baixo, parecendo perfeitamente confiante de que estava deixando tudo em boas mãos.

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— Então, você vai ficar? — Soomie perguntou a Ariana conforme o lugar se enchia de conversa e todos se levantaram de seus assentos. — Você parece ser uma pessoa de pesquisa.

— Na verdade, eu só quero voltar e me trocar — disse Ariana, enquanto ela apertava sua braçadeira em torno de seu bíceps.

— Você é obrigada a participar da competição, de alguma forma — Maria disse a ela. — Como transferida você realmente deveria estar ciente disso. As pessoas prestam atenção nisso.

Ariana olhou para Maria. Por que ela parecia hostil, de repente? E quem, exatamente, prestaria atenção ao seu nível de envolvimento?

— Eu vou participar. Não se preocupe — disse Ariana. — Vejo vocês mais tarde.

Quando ela saiu da sala, tentando ignorar a coceira torturante de sua saia e camisa, Ariana teve a sensação horrível de que ela acabou de cometer algum tipo de gafe social, só que ela não tinha ideia do que era. Mas ser vista com aquele uniforme por mais cinco minutos tinha de ser pior do que o que quer que ela tivesse feito de terrível.

Amanhã ela iria se envolver de alguma forma. Depois que ela passasse em seu exame de história. Ela soltou um suspiro e seguiu o seu caminho através das portas do ginásio, descobrindo naquele momento que a criação de uma nova vida a partir do zero dava muito trabalho.

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Traduzido por Yzadora Peres

sta sala é impressionante — disse Ariana, olhando para o teto abobadado que pairava sobre o dourado salão do Atherton-Pryce Hall. A grande câmara estava no centro do Edifício Pryce, que era

uma enorme estrutura, em estilo colonial, situada em uma crista com vista para o Potomac. O edifício abrigava várias coleções de arte, uma biblioteca, uma cozinha exclusiva de buffet, e várias salas de reuniões. Ariana tinha visto fotos deste salão no catálogo brilhante da escola, mas não se tinha feito justiça.

— É por isso que é reservado com cinco anos de antecedência para casamentos durante as altas temporadas — Maria a informou, abraçando seus braços magros, enquanto olhava ao redor. — Apenas alunos podem se casar no campus e terem suas recepções aqui. — Ela fixou os olhos em Ariana. — E só ex-alunos importantes, é claro — acrescentou ela, como se estivesse dando a Ariana uma das muitas razões para se tornar importante.

— Devidamente anotado — Ariana respondeu. — Há atualmente seis alunos do APH no Senado e vinte e três na Câmara dos

Deputados — disse Maria, olhando ao redor da sala. — Sem contar os funcionários da Casa Branca, milionários de Wall Street e gurus de negócios internacionais. Há mais pessoas poderosas circulando neste espaço do que há na maioria dos jantares do Estado.

— Eu não tinha ideia — Ariana mentiu. Ela, é claro, tinha visto os números no folheto do APH, mas ela estava começando a ter a sensação de que Maria era o tipo de pessoa que gostava de saber mais do que as pessoas ao seu redor. Ela podia deixá-la sentir-se assim, por enquanto.

— Você deve se misturar. Conheça o maior número deles que puder — Maria instruiu, brincando com o pescoço do capuz de seu vestido preto sem mangas. Seu rosto estava praticamente livre de maquiagem, e seu cabelo caía em ondas naturais pelas costas. Ela era uma daquelas meninas com sorte rara que poderia se sair bem com tanta simplicidade em um evento formal. Estando de pé ao lado dela, Ariana sentiu inveja. Muitas pessoas a achavam bonita, mas isso foi antes. Quando ela tinha o cabelo loiro, uma pele de marfim e sentia-se confortável em sua própria pele. Esta noite ela tinha levado quase uma hora para ficar pronta, experimentar diferentes esquemas de maquiagem e tirar vestido após vestido antes de finalmente se decidir sobre um de manga curta, com cinto azul Donna Karan, porque este combinava com seu bracelete dourado. Ela ainda estava aprendendo a ser uma menina

—E

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bronzeada com cabelo avermelhado do Texas. Ainda encontrando seu caminho como Briana Leigh Covington.

— Eu irei — Ariana disse a ela. Uma menina pequena, com pele de cor de cacau e cabelo preto encaracolado

apareceu no cotovelo de Maria e entregou uma pashmina azul clara. — Eu não consegui encontrar a preta, mas eu pensei que ficaria bem com seu vestido — ela disse.

Maria fungou. — Tudo bem. Obrigada, Jessica. — Sem problemas. — Jessica rapidamente desapareceu na multidão. — Está vendo? Vestuário rígido — disse Maria a Ariana como ela encolheu os

braços nas mangas. Ariana sorriu. Ela realmente ia ter que encontrar uma maneira de se encaixar

no meio. — Maria! Os pais de Landon estão aqui! — Soomie anunciou sem fôlego,

erguendo-se sobre os dedos dos pés quando ela se juntou a eles. — Você tem que me apresentar.

Maria corou e tomou um gole de água. — Eu duvido que eles ainda se lembrem de mim. Nós só nos conhecemos uma vez.

— Como alguém poderia esquecer de você — disse Soomie, revirando os olhos. — Por favor? Você sabe que impressionar os pais é uma das cinco chaves para agarrar o menino — ela implorou. — Mesmo se o menino acha que ele odeia seus pais. O que não é o caso de Landon — acrescentou ela como um aparte para Ariana. — Ele os ama totalmente, o que só faz com que ele seja ainda mais perfeito, você não acha?

— Definitivamente — disse Ariana em reconhecimento. — Quais são as outras quatro chaves?

— Um, estar em seu espaço, mas não de maneira óbvia... — E é aí que você erra — Maria apontou. Soomie hesitou, mas preferiu ignorar este comentário. — Dois, ter a sua

própria vida e interesses. Três, nunca sair de casa sem rímel. Quatro, flertar com outros meninos, e cinco... certificar-se de que os amigos e familiares dele te amam — ela terminou, olhando incisivamente para Maria.

Ariana riu. — Essa é uma boa lista. — É melhor que seja, depois de dois anos entrevistando e catalogando as

respostas de meninas com idades entre 13 e 21 que estavam em relacionamentos bem sucedidos com mais de seis meses.

— Uau. — Sim. Ela pode ser um pouco assustadora. — Maria soltou um suspiro

impaciente e Ariana lançou-lhe um olhar compreensivo. Ela entendeu por que Maria não queria que Soomie conhecesse os pais de Landon. Agora ela estava um passo a frente por conhecer a família. Ela era um pouco mais importante na vida de Landon do que Soomie era. Uma introdução as tornaria iguais. Por que Maria nunca disse a Soomie sobre seus sentimentos por Landon? Elas deveriam ser melhores amigas. Melhores amigas diziam tudo uma a outra.

Exceto, é claro, quando o rapaz em questão supostamente não valesse nada. Foi por isso que, anos atrás, Ariana tinha mantido seu relacionamento com Thomas

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Pearson em segredo de Noelle, tanto quanto era possível manter um segredo de Noelle. Mas Landon, obviamente, valia muito.

— Tudo bem — disse Maria, revirando os olhos e colocando o copo sobre a bandeja de um garçom que passava. — Nós já voltamos — ela disse para Ariana. — Misture-se — ela acrescentou novamente por cima do ombro. — Não se esqueça, este é um grande evento.

— Eu consigo fazer isso — Ariana disse a Maria. Esta era a terceira vez naquele dia que ela se sentia dirigida por Maria. Ela não tinha certeza se sentia-se grata porque Maria estava cuidando dela, ou ofendida porque Maria, obviamente, pensava que ela não podia cuidar de si mesma.

Soomie fez uma pausa antes de ir, olhando para Ariana como se ela tivesse acabado de perceber que ela estava ali. — Você está maravilhosa, por sinal — disse ela com naturalidade. — Muito apropriada para o evento. Isso não vai passar despercebido.

— Obrigada — disse Ariana, olhando para seu vestido e tocando seu colar de pérolas com a ponta dos dedos. As duas meninas se apressaram e Ariana, ao vê-las saindo, franziu a testa. Mais uma vez, ela se sentia como se estivesse perdendo alguma coisa.

Com um suspiro confuso, Ariana olhou ao redor para todas as pessoas sorridentes e bem vestidas conversando e tomando bebidas em um gole ao seu redor. De repente, ela percebeu que esta era a primeira festa que ela tinha participado em muitos anos, e ela decidiu esquecer Maria e Soomie e seu comportamento estranho e apenas deixar-se afundar na iluminada e arejada atmosfera. Esses eventos não haviam mudado muito durante seus dois anos de prisão. Ainda havia bandejas de canapés e taças de champanhe, umas mulheres enfeitadas de olho na escolha dos vestidos feitos por outras, e os homens bem vestidos verificando seus relógios. E, como sempre, o clima era de festa. Borbulhante. Cheio de espuma. Não havia preocupações no salão. O que adequava perfeitamente com Ariana. Ela teria uma noite despreocupada.

Ela ouviu uma risada familiar e se virou. Palmer estava no centro da pista de dança de mármore do salão de baile, vestindo um terno perfeitamente cortado, uma gravata do APH e um alfinete de lapela da bandeira americana, conversando com um casal que só poderia ser seus pais. Ele era a cara de seu pai, que tinha algumas rugas ao redor dos olhos, mas não muitos outros sinais de idade. Sua mãe tinha o cabelo castanho claro, olhos azuis, e a postura reta, mas Ariana poderia dizer por seus grandes gestos e risos ousados que ela não estava nem um pouco nervosa.

Impressionar os pais é fundamental para agarrar o menino, Ariana pensou. Ela sorriu, combinou sua postura com a da Sra. Liriano, e, sentindo-se

confiante em sua escolha de vestido, andou a passos largos para se juntar a Palmer e sua família. Palmer ficou de frente para Ariana quando ela se aproximou, e seu sorriso se alargou.

— Boa noite — disse Ariana, completando o círculo, de pé em frente a Palmer. — Olá — disse a Sra. Liriano. — Mãe, Pai, conheçam Ana Covington — disse Palmer, em uma voz baixa e

sexy. — Ela acabou de ser transferida para o APH. — Muito prazer em conhecê-la, Ana. — A mãe de Palmer ofereceu-lhe a mão.

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— Da mesma forma — disse Ariana, certificando-se de que seu sotaque texano estava intacto.

— Você fez uma escolha sábia, se transferindo para aqui — acrescentou o pai dele. — A Sra. Liriano não tem nada além de boas lembranças.

— Você se formou no APH? — Ariana perguntou a Sra. Liriano. — Há muitos anos — ela respondeu, tomando um gole de champanhe. — Não há muito tempo, mãe — disse Palmer, fazendo com que sua mãe risse.

Ele olhou para Ariana e inclinou-se, baixando a voz. — A congressista gosta de fingir que ela é mais velha do que é. Ela acha que vai ajudá-la a ganhar mais respeito no Hill.

— Não que ela precise de ajuda nessa área — acrescentou o Sr. Liriano. — Eu treinei meus homens muito bem, como você pode ver — disse a mãe de

Palmer para Ariana, em um tom conspiratório. — Nada além de elogios após elogios.

— Acredite em mim, eu estou tomando notas mentais — Ariana respondeu com uma risada. — Você é uma congressista?

— Quinto distrito, Arizona — ela respondeu com um aceno de cabeça. — Isso é incrível — disse Ariana. — Eu não acredito que eu já conheci uma

congressista antes — ela mentiu. Seu pai tinha sido amigo de alguns políticos na Geórgia. Eles costumavam se reunir na varanda nas noites quentes de verão, fumar charutos e falar sobre como melhorar o estado. Ariana gostava de ouvir a sua risada gutural e escutar as vozes do sofá dentro da sala, deixando os sons das cadeiras de balanço rangendo acalmarem-na até ela dormir.

Ela viu sua garganta coçando com a memória, mas ela a engoliu. Ela era Briana Leigh Covington agora. Briana Leigh não tinha essas boas lembranças.

— Bem, eu estou feliz em ser a primeira — disse a Sra. Liriano. — E o que você faz, Sr. Liriano? — Ariana perguntou, olhando para Palmer

com o canto do olho. Ela poderia dizer que ele estava olhando para ela de perto, e que ele apreciava suas boas maneiras e sua habilidade de conversar com os adultos. Pontos estavam definitivamente sendo contados.

— Nada demais, na verdade. Jogador de baseball aposentado. Tudo que eu faço hoje em dia é assinar bolas, fazer aparições, e comandar a minha fundação de caridade — disse ele.

— Sério? Eu adoraria ouvir sobre a fundação — Ariana disse a ele. — Não, você não gostaria — Palmer brincou. Todos riram. — Meu pai também foi fundamental na formação do projeto de lei anti-

dopping que foi assinado no ano passado — disse Palmer, claramente orgulhoso de ambos os pais. — Ele é a pessoa que me ensinou tudo que eu sei sobre o desportismo e a justiça.

Ariana sorriu. Então, desportismo e justiça eram importantes para Palmer também. Ela estava feliz que conversara com a sua família. Ela já estava aprendendo mais sobre ele. Ariana estava prestes a fazer uma pergunta subsequente quando um fotógrafo se aproximou e tocou no ombro da Sra. Liriano.

— Sr. Liriano, congressista... vocês e seu filho poderiam posar para algumas fotos para a revista dos ex-alunos? — perguntou ele.

— Claro que sim — disse a Sra. Liriano.

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O coração de Ariana deu um salto e ela escapuliu para trás alguns passos. A última coisa que ela queria era sua foto aparecendo em uma revista. Mesmo em seu disfarce, alguém lá fora poderia reconhecê-la.

— Não, Ana, fique — disse a Sra. Liriano, tocando-lhe o braço. — A revista gosta de ter o maior número de alunos e ex-alunos em cada foto quanto podem.

O pulso de Ariana correu quando todos os Lirianos olharam para ela com expectativa e o fotógrafo a observava. Ela não queria ser rude, mas ela não poderia ter a foto publicada. Sua vida podia depender disso.

— Está tudo bem. Na verdade, eu não sou muito fotogênica — disse Ariana, ainda recuando.

— Eu acho isso difícil de acreditar — o Sr. Liriano disse como se estivesse atestando um fato.

— Obrigada, mas... vocês deviam apenas fazer um retrato da família — disse Ariana. Ela olhou ao redor e viu Tahira com o canto dos olhos, usando um vestido verde brilhante que não podia passar despercebido. — Além disso, eu prometi a Tahira que eu iria encontrar alguns de seus amigos e ela está esperando por mim, então... foi bom conhecer vocês dois!

Então, não querendo olhar para os seus rostos perplexos por mais tempo, Ariana virou-se e caminhou em direção a Tahira, que estava conversando com um grupo de ex-alunos idosos. Não porque ela de alguma forma queria, mas porque ela tinha que fazer isso, no caso dos Lirianos estarem assistindo.

Ela marchou em direção ao que tinha a certeza de ser uma conversa letalmente chata, e ela se perguntou qual das cinco chaves manteria sua nova identidade segura.

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Traduzido por Ivana

riana preferiu tomar o caminho mais longo e pitoresco de volta ao seu dormitório depois da festa de boas-vindas dos alunos. Era uma clara e agradável noite de fim de verão, e o campus do Atherton-Pryce Hall brilhava

na luz que emanava de dezenas de antiquados postes de ferro fixados ao longo das passarelas. As lâmpadas nas entradas para os edifícios de classes e dormitórios iluminava o emblema da APH, que estava gravado em cima de cada porta, junto com a data da construção de cada edifício. Ariana podia ouvir o borbulhante Rio Potomac enquanto passeava pelos caminhos exteriores da escola, e ela suspirou satisfeita. Mesmo que o Atherton-Pryce tivesse menos alunos do que a Academia Easton, o campus era o dobro do tamanho. As instalações eram modernas, e todo o entorno era bucólico e sereno. Ela olhou para as duas torres da Casa Privilege e imaginou-se olhando de lá de dentro para fora em um dos grandes vitrais, assistindo ao nascer do sol sobre o rio. Imaginando o quão perfeitamente feliz ela estaria lá. Então ela pensou em seus antigos amigos, que há muito já deviam ter terminado seus estudos em Easton, e sentiu uma sensação de satisfação.

Este lugar era superior à Academia Easton. Quem se importava se ela estava alguns anos atrás de onde ela deveria estar? Suas experiências aqui iam ser incomparáveis. Ela podia sentir isso. A Academia Easton e todos os que ali estiveram poderiam ir para o inferno.

Com um sorriso nos lábios por causa de sua grosseria, Ariana voltou para o centro do campus. Ela ouviu risadas e conversas vindo da direção dos dormitórios dos meninos — garotos se despedindo de seus pais, acompanhando-os até o carro — e voltou seus passos nessa direção. Parando perto do canto de um dos prédios de tijolos, ela viu quando Adam apertou a mão de seu pai e abraçou sua mãe antes de que o casal, lamentavelmente mal vestido, caminhasse até seu Ford Taurus azul. Rodeados pelas outras famílias em seus ternos e vestidos caros, parados em torno de seus Mercedes, Audis e Cadillacs, a família de Adam parecia completamente fora do lugar. Ariana só podia imaginar o quanto eles ficaram aliviados ao partir. Aliviados com a ideia de voltar para seu próprio mundo.

Ariana buscou com os olhos a figura de Palmer, e viu-o levantar a mão enquanto seus pais se afastavam em seu Lexus preto. Seu coração pulou em uma batida de antecipação. Ele não a tinha visto ainda, mas ele estava prestes a virar para voltar para o dormitório. A qualquer momento, ele a veria ali parada de pé. Assistindo. Qual seria a sua reação?

A

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Ele virou-se. Olhou. Sorriu. Alegria pura. Ariana lutou para se recompor quando ele caminhou até ela, com as mãos nos

bolsos de suas calças azuis. — Você realmente sabe se socializar — disse ele, dando um passo mais perto

dela do que era absolutamente necessário. — E com os meus pais, especificamente. Ariana brilhou com prazer. Aparentemente, eles não repararam em sua saída

desconfortável depois que ela se foi. — Vou tomar isso como um elogio. — Posso te levar de volta ao seu dormitório? — ele ofereceu. — Com certeza. Eles caminharam juntos, lado a lado, em frente ao campus. Palmer ficou em

silêncio, mas Ariana não se importava, porque ela podia senti-lo olhando para ela. Estudando-a. Admirando-a. Quando ela arriscou um olhar em sua direção, ele estava sorrindo para ela com uma expressão quase vertiginosa. Como se ele quisesse alguma coisa. Como se ele soubesse que estava prestes a conseguir algo. Enquanto ela estava disposta a dar-lhe.

O formigamento de sua pele intensificou-se mais conforme se eles se aproximavam do Cornwall. Ariana realmente podia sentir a atração entre ela e Palmer. Ela era quase palpável. Ela não podia deixar de sentir que ela tinha sido enviada para aquele lugar de alguma forma. Que ela estava destinada a conhecê-lo. Que todos os momentos ridículos, terríveis e abomináveis de sua vida a levaram a este lugar, a este momento, por este motivo. Ela e Palmer eram almas gêmeas. E daí que ela só o conhecia há um dia? Ariana sabia dessas coisas. Ela simplesmente sabia.

— Aqui estamos — disse Palmer quando eles chegaram na porta da frente do imponente dormitório.

A alcova em forma de arco que ficava bem na entrada dava a eles um pouco de abrigo, um pouco de privacidade, escondendo-os do estacionamento e da calçada em frente ao dormitório. Algumas pessoas ainda se despediam de suas famílias no meio-fio, mas estavam suficientemente longe para que Ariana não conseguisse distinguir vozes específicas.

— Sim. Aqui estamos — disse Ariana. Ela encostou-se na parede fria de tijolo e olhou para ele através de seus olhos.

Palmer sorriu e colocou as mãos nos bolsos da calça. — Então, o que fez você vir para conhecer meus pais hoje à noite? —

perguntou ele. — Tem uma queda por jogadores de beisebol envelhecidos? — Não exatamente — disse Ariana timidamente. Ela nunca tinha sido daquelas que dava o primeiro passo, exceto nas ocasiões

em que perdeu o controle de si mesma. Mas isso foi antes. Ali no APH, ela esperava controlar suas emoções, para que elas não a consumissem do jeito que a tinham consumido no passado. Os resultados desse comportamento tinham sido muitas vezes sombrios.

— Então o que foi, exatamente? — O sorriso de Palmer se alargou e ele deu um passo na direção dela. Ariana estava tonta com alegria. Ele ia beijá-la. Ela tinha certeza disso. Aqui estava, seu primeiro dia no APH, e ela já tinha conquistado o solteiro mais cobiçado do campus.

O presidente do corpo discente. — Você é um cara inteligente. Você pode descobrir isso.

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Justo então, a porta de um carro bateu e uma voz de menina gritou, agradecendo o motorista. Palmer se inclinou para trás para ver de fora da entrada da alcova. Ariana queria agarrá-lo e puxá-lo de volta, mas não o fez. Controle-se. Ela tinha que estar no controle. Em seguida, o abismo entre eles cresceu ainda mais quando Palmer deu um passo para trás e se afastou dela.

— Lexa! — ele gritou alegremente. Lexa? Lexa Greene? Mesmo que Ariana estivesse curiosa para dar uma boa

olhada na líder do grupo infame, seu cérebro estava processando que algo não estava certo por aqui. Palmer estava muito feliz em ver essa garota.

— Ei, o que você está fazendo aqui? — a voz de Lexa respondeu alegremente. — Maria disse que eu ia voltar mais cedo? Ela devia manter isso em segredo!

Em um borrão de vestido vermelho, a menina correu para a alcova e se jogou nos braços de Palmer. Ela era pequena, seu longo cabelo escuro moldado em um corte perfeito, a franja reta na testa. O olhar de Ariana automaticamente caiu para seus sapatos. Sapatos de salto pretos de extremo bom gosto, Charles David, Ariana adivinhou. Quando Palmer a soltou, Ariana teve uma boa visão do lindo rosto de Lexa. Nariz pequeno, grandes olhos azuis, sorriso perfeito, lábios brilhantes...

Lábios que estavam pressionados contra os de Palmer. O rosto de Ariana queimou enquanto ela observava o abraço. O que estava

acontecendo ali? Esse era o seu beijo. Esse era seu futuro namorado. — Eu senti sua falta — Lexa arfou, mantendo os braços fechados em torno do

pescoço de Palmer enquanto ela se inclinava para trás. Palmer sorriu. Um sorriso genuíno, feliz, íntimo. Como se a menina que ele

esteve a ponto de beijar segundos atrás não estivesse parada a poucos centímetros de distância observando-o com alguma outra garota. — Eu também senti sua falta.

Finalmente, Ariana não aguentava mais. Ela se afastou da parede e limpou a garganta.

Palmer olhou para Ariana, mas manteve um braço em volta dos ombros minúsculos de Lexa. Ariana não pôde deixar de notar que a menina tinha um corpo atlético e perfeito, o que não se podia deixar de notar naquele vestido vermelho tão justo.

— Oh, ei. Lexa Greene, conheça Briana Leigh Covington. Ana para os íntimos — disse Palmer de uma maneira formal. — Ela é uma transferida.

Ela é uma transferida. A natureza desprezível daquele comentário fez sua pele arrepiar.

É. A transferida que você estava a ponto de beijar. — Oi — Ariana conseguiu dizer. — Eu ouvi muito sobre você. Lexa olhou para Ariana e seus olhos se estreitaram. Ela deu um passo em

direção a Ariana e por uma fração de segundo Ariana tinha certeza que a garota estava indo dar um tapa no rosto dela. Por que não? Ela poderia dizer com um olhar que Lexa não era estúpida. Ela tinha que perceber o que estava acontecendo aqui.

Então, de repente, o rosto de Lexa se iluminou como o 4 de Julho. — Briana Leigh! Ouvi dizer que você seria transferida para cá!

Lexa jogou os braços finos em torno de Ariana e abraçou-a com tanta força que ela Ariana mal conseguia respirar. Então, assim, de repente, Lexa se inclinou para trás, apertando as mãos nos ombros de Ariana.

— Você parece tão diferente. Eu nunca teria reconhecido você!

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O pulso de Ariana disparou e sua mente cambaleou, pensando em cada conversa fútil que ela tinha tido com Briana Leigh. Ela nunca tinha mencionado alguém chamada Lexa Greene. Nunca. Ariana tinha certeza disso. Então, por que essa menina agia como se ela e Briana Leigh fossem amigas há muito tempo? Em que Ariana havia errado? E o que esse erro iria custar?

— Sou eu! Lexa Greene! — Lexa disse, com o rosto decepcionado, quando ela finalmente soltou Ariana. — Você não se lembra de mim, não é.

— Eu... desculpe — disse Ariana. — Eu era a sua principal concorrente na competição de salto no

Acampamento Três Estrelas. No verão antes do quarto ano — continuou Lexa, cada vez mais animada. — Oh meu Deus. Eu fiquei tão ciumenta quando você levou para casa o troféu, eu chorei por umas vinte e quatro horas seguidas. Não que eu me orgulhe desse fato. — Ela estudou o rosto de Ariana por um longo momento e o estômago de Ariana deu uma guinada. A qualquer segundo as palavras iam sair da boca de Lexa:

— Espere um minuto... Você não é Briana Leigh Covington... Ariana tentou preparar-se mentalmente para o momento. Tentou decidir o

que ela iria dizer ou fazer com Palmer olhando e todas essas pessoas fora no estacionamento tagarelando à distância.

Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... — Como você pode não se lembrar? Era uma competição tão grande — disse

Lexa finalmente. De repente, a mente assustada de Ariana trouxe uma memória fraca. Algo

sobre um acampamento equestre. Briana Leigh tinha ido lá durante os verões do ensino fundamental antes de se transferir para o Acampamento Potowamac quando tinha doze anos.

— Certo! Lexa Greene — ela fingiu. — Claro que eu lembro de você. Você era boa.

Lexa sorriu novamente. — Não tão boa como você! Te chamávamos de “Vadia da medalha de ouro” pelas suas costas — ela disse, o rosto tornando-se rosa. — Eu sempre me senti mal com isso porque éramos tão boas amigas, mas acho que é assim que as meninas são quando alguém tem o que você quer.

Ariana olhou para Palmer, que estava um pouco atrás de Lexa agora. Ele rapidamente desviou o olhar em direção ao estacionamento, mas ela podia ver a dica de um rubor envergonhado em seu rosto.

— Acho que sim — disse Ariana. — Mas eu tenho melhorado um pouco desde então — disse Lexa. — Você me

inspirou a praticar sem parar. — Ela é a mais talentosa da equipe equestre do APH — Palmer anunciou

orgulhosamente, apertando o ombro de Lexa. — Isso é ótimo — disse Ariana, obrigando-se a sorrir para Lexa. Tudo o que ela

podia pensar era em encontrar uma maneira de sair dessa conversa e deste pequeno trio estranho, mas Lexa parecia teimar em mantê-la lá.

— Tanto faz. Nós nos divertimos muito naquele verão, eu não posso acreditar que você está aqui! — Lexa disse, estendendo a mão para escovar o braço de Ariana com a ponta dos dedos. — Nós vamos nos divertir muito!

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— Definitivamente — disse Ariana. Assim que esta náusea violenta diminuir. — Você parece tão diferente de alguma forma — disse Lexa de repente,

estreitando os olhos. — Você mudou o seu... — E você parece exatamente a mesma! — Ariana respondeu com uma risada

frenética. Lexa revirou os olhos. — Deus, eu espero que não. Caso contrário, o aparelho

para os dentes não serviu para nada. Palmer passou os braços em torno de Lexa por trás e acariciou seu pescoço.

— Você tem um sorriso perfeito. Lexa corou e Ariana quase desmaiou. — Meu namorado. Tão doce — disse

Lexa, se aninhando em seus braços. Ela deslizou a mão por seu braço até que encontrou sua braçadeira da equipe dourada. Então ela se virou e olhou o bracelete de Ariana. — Ei! Vocês estão na mesma equipe!

— Sim — disse Ariana. — Sorte nossa. — Você também, Lex — disse Palmer. — Eu dei um jeito com a diretora. Claro que você deu, Ariana pensou. — Eba! Isso vai ser muito divertido! — Lexa vibrou. Então, ela segurou a mão

de Ariana e apertou. — Vamos. Vamos para dentro. Palmer, você pode ajudar com as malas?

— Claro — ele disse. Ele olhou para Ariana e sorriu enquanto Lexa passava o seu cartão-chave na fechadura elétrica da porta. Ariana nivelou-o com um olhar que deveria ter feito seu sangue gelar. Mas em vez disso, ele simplesmente parecia confuso.

Enquanto Palmer e Lexa empurravam todas as coisas através da porta, Ariana hesitou. Será que ela tinha interpretado tão mal os sinais de Palmer nas últimas doze horas? E se ele não estava flertando com ela na loja da escola, na quadra, na festa? A atração mútua parecia tão completamente óbvia. Mas então, Maria tinha dito que ele era um paquerador por natureza.

Não importa, Ariana disse a si mesma, lutando contra uma onda esmagadora de decepção. Se ele estava ou não flertando com você, ele está, obviamente, com Lexa. E você precisa ser amiga de Lexa e das amigas dela.

Ela tinha feito a sua escolha e já havia chateado Tahira. Se ela quisesse ter alguma chance de vida social no APH, não havia como voltar atrás agora. De repente os meses que ela passaria com Lexa e Palmer, tendo que vê-los se beijar, namorar e ser adoráveis juntos, estendiam-se diante dela como uma sentença de morte prolongada.

E chega da sua nova vida perfeita.

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Traduzido por L. G.

riana estava perfeitamente imóvel em sua cama, ouvindo Allison roncar, tentando se lembrar de todas as razões de porque seria imprudente assassinar sua colega de quarto durante o sono. Em primeiro lugar, ela iria

imediatamente ser enviada de volta para a cadeia, o que significava que todo o trabalho que ela tinha feito nos últimos dois anos, tanto dentro da Brenda T. como fora seriam para nada. E em segundo lugar, não era de Allison que ela queria se livrar, e sim de seu irritante ronco. Se ela matasse a menina, seria apenas descontar sua raiva em uma inocente. Vadia, mas inocente.

Não, não era Allison que ela queria matar. Era Palmer. Ou talvez Lexa. Ou talvez os dois.

Muito lentamente, os dedos de Ariana seguraram e soltaram seu cobertor. Seguraram e soltaram. Seguraram e soltaram. Ela repetiu o movimento de novo e de novo enquanto respirava deliberadamente e tentava acalmar seus pensamentos acelerados.

Seria complicado lidar com Lexa. Depois de estudar toda a noite para seu exame de história, Ariana tinha mandado um e-mail para a empregada pessoal de Briana Leigh no Texas e pediu a ela para desenterrar quaisquer lembranças que ela pudesse encontrar do dia que Briana Leigh havia passado no Acampamento Três Estrelas. Ariana estava esperando diários e álbuns de fotos, mas mesmo fitas, troféus ou bilhetes de avião dariam certo. Se ela pudesse apenas saber quais eventos Briana Leigh tinha ganhado ou as datas que ela participou do acampamento, ela estaria em uma condição muito melhor. Depois disso, tudo o que ela tinha a fazer era manter as conversas vagas e esperar que Lexa não perguntasse tanto quanto Brigit. Porque isso poderia eventualmente representar um problema.

Por que tinha que haver alguém na escola que realmente conhecia Briana Leigh? Como Ariana podia ser tão azarada?

Mas ela não iria pensar dessa forma. Ela iria pensar positivamente. Ela podia lidar com Palmer. Ela só tinha que parar de pensar nele. Ariana

apertou forte seu punho. Não. Ela não precisava dele. A última coisa que Ariana precisava era de um cara que a traísse como Daniel Ryan. Um cara que pensasse que era perfeitamente aceitável brincar com as emoções de uma garota como Thomas Pearson. Que enganasse as meninas. Que flertasse com várias pessoas ao mesmo tempo. Os dois primeiros amores de sua vida tinham sido jogadores totais.

A

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Conspiradores. Traidores com charme. E olha como essas relações tinham terminado.

Ariana suspirou quando ela pensou em Hudson. Bonito, gentil, sem complicações. Se ao menos ela o houvesse encontrado nessa vida ao invés de sua vida provisória. Ele nunca traria problemas para ela como Palmer.

Mas ele não parecia nem um pouco culpado. Será que ele não tinha consciência, ou Ariana havia mal interpretado seus sinais? Ela tinha se feito essa pergunta várias vezes ao longo das últimas horas e cada vez voltava à mesma conclusão. Não era possível. Ela não poderia tê-lo interpretado errado. Ele estava interessado nela. Ela sabia que ele estava. Mas ele estava claramente mais interessado em Lexa.

De repente, o celular de Ariana vibrou. Ela havia ligado de volta naquela tarde esperando que Palmer ligasse. Ela levantou-se na cama e o pegou, se perguntando se Hudson havia psiquicamente percebido que ela estava pensando nele. Ou se, talvez, Palmer estivesse ligando para se explicar.

Allison gemeu e rolou em sua cama enquanto Ariana finalmente vislumbrou a tela do identificador de chamadas. Seu sangue gelou. O identificador de chamadas dizia Briana Leigh.

— Oh meu Deus — disse Ariana baixinho. Seus dedos tremiam, e por um momento o espectro de Briana Leigh pairava sobre ela, como se a menina estivesse telefonando para ela do túmulo, mas, em seguida, a chamada caiu para a caixa postal e a realidade da situação se estabeleceu. Foi Kaitlynn. Kaitlynn estava ligando do telefone de Briana Leigh.

Mas como? Ela tinha cancelado o serviço. Simplesmente não era possível. O telefone tocou novamente, destruindo o silêncio. Allison sentou-se na cama.

— Você poderia, por favor, atender isso lá fora? Ariana lançou os cobertores de lado, enfiou os pés nos chinelos, e pegou um

casaco com capuz de cashmere em seu caminho para fora. No corredor, os dedos dos seus pés cavaram no tapete macio enquanto ela olhava para o telefone ainda tocando, pensando no que fazer. Ela poderia simplesmente ignorar a chamada. Deixar ir para o correio de voz novamente e desligá-lo. Mas se fosse Kaitlynn, ela sabia que a garota não iria desistir. E se ela houvesse chegado ao campus? Ela poderia explodir a estratégia de Ariana com uma palavra. Talvez fosse melhor lidar com ela agora. Descobrir o que ela queria e acabar logo com isso.

Ela apertou o botão de aceitar a chamada e caminhou em direção à sala comum. — Alô? — ela disse, sussurrando secamente.

— Oi, Briana Leigh! — a voz de Kaitlynn falou. — Você sentiu minha falta? Ariana cerrou os dentes. Ela empurrou um braço dentro do suéter, depois o

outro, segurando o telefone longe dela para mantê-lo a salvo de sua raiva. Lentamente, ela se sentou em uma das cadeiras de couro macio da sala, permanecendo empoleirada na borda do assento. A televisão de tela grande no canto estava escura, mas os números verdes na caixa de cabos abaixo dela estavam piscando, implorando para serem ajustados, lançando um brilho fraco inquietante no rosto de Ariana em intervalos de dois segundos.

— O que você quer? — ela exigiu. — Eu só quero te ver, B. L. — Kaitlynn brincou. — Eu apareci nessa sua escola

chique, mas quando eu me recusei a mostrar-lhes o meu RG, eles nem sequer

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ligaram para o seu dormitório. Pode muito bem ser o Pentágono. Muito impressionante.

— O que você quer? — Ariana repetiu, segurando o telefone com tanta força que ficou surpresa que ainda não o houvesse quebrado.

— Eu quero que você me encontre amanhã à tarde, às duas horas, no restaurante Belle Haven — disse Kaitlynn, sua voz melosa e doce. — Nós precisamos ter uma pequena conversa, Briana Leigh.

— Pare de me chamar assim — disse Ariana por entre os dentes, de pé. Ela passeou ao redor da mesa de café de madeira, cheia de revistas de moda deixadas para trás por suas companheiras de andar, e caminhou até a janela grande de painel único.

— Por quê? Não é o seu nome? Não foi por isso que você afogou a pobre Briana Leigh no lago naquela noite? — Kaitlynn respondeu.

Ariana fechou os olhos contra o ataque de imagens. Briana Leigh lutando pela vida, seu corpo sem vida afundando para o fundo do lago Page. De repente, uma onda de raiva caiu sobre ela de todos os lados e ela queria gritar para Kaitlynn. Dizer a ela que era culpa dela que Briana Leigh tinha morrido. Foi ela quem tinha enganado Ariana a pensar que Briana Leigh era uma assassina. Foi ela quem tinha manipulado Ariana para ir para o Texas e bajulá-la até entrar na vida da menina. Se não fosse por Kaitlynn, Briana Leigh estaria bem e viva no momento.

Só que era preciso que as autoridades encontrassem um corpo, uma voz a lembrou. Mas ela preferiu ignorar esse pequeno detalhe. Isso era culpa de Kaitlynn. Tudo culpa de Kaitlynn. Ainda assim, ela não poderia entrar em um jogo gritando sobre culpabilidade agora, não com todas as suas novas amigas e colegas dormindo dentro do alcance auditivo. Ela agarrou o braço com a mão livre para controlar sua raiva, prendeu a respiração e olhou para fora da janela para as luzes brilhantes do campus do APH. — E se eu não for?

— Bem, então, eu vou ter que enviar um pequeno e-mail que eu compus para a sua diretora Jansen, dizendo-lhe tudo sobre as tendências violentas da impostora que eles têm vivendo no campus — disse Kaitlynn. Ariana podia ouvir o som de um teclado de computador batendo em segundo plano. — Tenho certeza de que, com todos os filhos e filhas dignitários que eles têm passeando pelo campus, eles se assegurarão de investigar imediatamente.

Lágrimas quentes queimavam os olhos de Ariana. Ela queria arremessar alguma coisa.

Bater em alguém. Quebrar alguma coisa. Ela imaginou seu punho atravessando o vidro na frente dela, o choque satisfatório, o sangue escorrendo pelo seu braço.

— Você vai estar lá — disse Kaitlynn com confiança. — Vejo você às duas. A linha ficou muda. Ariana virou-se e arremessou seu telefone contra a parede, quebrando-o em

um zilhão de pedaços. Ela soltou um gemido silencioso e caiu no chão, puxando os joelhos para cima e segurando a cabeça com as duas mãos, lutando para respirar.

Por que ela confiara em Kaitlynn? Por que ela a deixou sair da prisão? Por que ela não podia ter visto a menina pelo o que ela realmente era — uma psicopata mentirosa, manipuladora e assassina?

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Ela respirou fundo e empurrou seus dedos para cima em seu cabelo. Esta era sua própria culpa. Sua própria credulidade a tinha trazido até aqui. Kaitlynn tinha manipulado ela, usado como seu fantoche desavisado.

Eu a odeio, Ariana pensou, puxando seu cabelo enquanto a profundidade de sua própria estupidez a estapeava no rosto de novo, de novo e de novo. Eu a odeio, a odeio, a odeio.

A dor foi o que a trouxe de volta. Ela puxou as mãos para longe de seu couro cabeludo e com elas veio uma quantidade alarmante de cabelo. A mandíbula de Ariana caiu, horrorizado com sua própria falta de controle. Ela se levantou, com as mãos tremendo e respirou.

Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Lentamente, sua pressão arterial começou a voltar ao normal. Sim, Kaitlynn

tinha manipulado ela. Ter que aceitar isso era o fato mais frustrante de todos, mas lá estava ele. E ela tinha que lidar com isso. Ela tinha sido ingênua o suficiente para acreditar em Kaitlynn, e agora ela tinha que descobrir uma maneira de corrigir o erro. De algum modo. De alguma forma. Ela tinha que tirar Kaitlynn Nottingham de sua vida.

Ariana respirou, sua mente completamente clara agora, e olhou através da sala para os cacos de plástico e metal que haviam sido seu celular.

E agora ela definitivamente precisava de um novo telefone.

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Traduzido por Ivana

riana ficou na frente do espelho e alisou a frente de sua blusa branca Calvin Klein. A mão dela tremia e ela olhou para ela por um momento desafiador. Ela não se permitiria tremer novamente. Ela não deixaria Kaitlynn vê-la suar.

— Está tudo bem — ela disse a si mesma. — Você tirou A no exame de história esta manhã e está a caminho de conseguir alterar o seu horário. Agora tudo que você tem a fazer é lidar com a vadia do inferno e você estará de volta ao caminho certo.

Ela se deu um sorriso tenso, pegou sua bolsa hobo camurça, e saiu para o corredor. Uma explosão de risos a recebeu, e ela olhou para cima para encontrar Maria, Brigit e Soomie passeando pelo corredor, lideradas, naturalmente, por Lexa, que estava parecendo muito Audrey Hepburn em um vestido preto perfeitamente chique e sapatilhas. O primeiro instinto de Ariana foi apertar o punho, mas ela se forçou a sorrir.

— Ei, pessoal — disse Ariana brilhantemente. — Briana Leigh! — Os olhos de Lexa iluminaram quando ela deu um passo

adiante, mas depois ela parou abruptamente. — Eu sinto muito. Quer dizer, Ana. As meninas me lembraram que você quer ser chamada de Ana agora.

Ariana registrou o fato de que elas estavam falando sobre ela. Mas, isso era de se esperar. Ela deu de ombros casualmente. — Bem, Briana Leigh é um nome muito grande.

Lexa pareceu confusa com isso, mas deixou passar. — Aonde você vai? — Brigit perguntou, olhando a bolsa de Ariana. — Tem

algum encontro quente? — Não. Eu só... — Ótimo! Porque nós vamos para Georgetown para torrar os cartões de

crédito — disse Brigit, enroscando seu braço no de Ariana. — Quer ir? — Sim! Vem com a gente! — Lexa pediu, abrindo o caminho pelas escadas,

seu cabelo balançando sobre os ombros para trás, sem um fio fora do lugar. Ariana olhou para o relógio. — Eu gostaria de ir, mas eu não posso. — Por que não? Não há eventos ou reuniões agendadas até esta tarde —

Soomie argumentou inutilmente. Ela tirou seu BlackBerry como se fizesse uma dupla verificação, e estalou a língua. — Droga. Travou novamente.

— Por que você não compra um novo? — Maria reclamou, parecendo entediada enquanto brincava com seus cabelos.

A

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— Quem tem tempo para lidar com isso? — perguntou Soomie. — Então compre um online — Lexa sugeriu. — Você pode fazer isso quando

voltarmos. — Então, terminando a conversa, ela olhou para Ariana novamente. — Então, você vem conosco?

Ariana hesitou. Parte dela estava morrendo de vontade de ir com elas. Ela precisava solidificar-se como parte deste grupo se ela quisesse ter a vida social que ela desejava no Atherton-Pryce. Mas ficar no APH não seria nem um pouco possível se Kaitlynn cumprisse suas ameaças. Ela poderia estabelecer um vínculo com as meninas mais tarde. Se ela esquecesse Kaitlynn agora, sabe-se lá quando a psicopata lhe daria outra chance?

— Na verdade, eu tenho uma reunião agendada com o meu orientador — Ariana mentiu quando ela desceu as escadas atrás do resto das meninas. — Houve uma confusão com o meu horário.

— Você tem toda a semana para fazer isso — disse Maria sobre o ombro, vestindo um par de óculos de aviador e empurrando a porta exterior do dormitório. — Cancele.

— Eu não posso. Eu só quero acabar logo com isso — disse Ariana, mantendo a voz sob controle. Maria parecia ter a intenção de lhe dizer o que fazer em cada minuto. — Mas obrigada pela oferta.

— Você que está perdendo — disse Maria com um encolher de ombros. — Vamos, senhoritas.

— Espere. Deixe-me dar o meu número — disse Lexa, estendendo a mão delicada. — Então você pode me ligar e se reunir com a gente após a reunião.

Um caroço de constrangimento se formou na garganta de Ariana. Ela imaginou seu celular em uma centena de pedaços no chão. Pedaços que ela havia tomado quase meia hora para reunir ontem à noite.

— Meu celular morreu. — Porque eu o matei, ela acrescentou silenciosamente. Ela abriu a bolsa e tirou uma caneta e um bloquinho que ela sempre mantinha com ela, passando rapidamente pelas páginas cheias de assinaturas de Briana Leigh que ela havia estado praticando. Nota mental: Queime a evidência de todas aquelas horas que você aperfeiçoou seu novo autógrafo. — Aqui. Pode escrever aqui.

Lexa riu quando ela pegou a caneta. — Eu me sinto tão no jardim de infância. Ariana riu também, mas sentiu uma picada de indignidade. — Aqui está — disse Lexa, entregando o caderno e a caneta de volta. Ariana

não pôde deixar de notar que a caligrafia da menina era grande e ondulada. Como de uma menininha. De acordo totalmente com sua personalidade. Lexa era tão assumidamente doce. E generosa. E amável. Ela estava tentando chegar até a garota nova, incluí-la. Algo que ela definitivamente não precisava fazer. Algo que Maria e Soomie tinham sido relutantes em fazer o dia todo de ontem. E, no entanto, ela tinha um ar de autoridade, poder.

Ariana podia ver por que Palmer, Brigit, Soomie e Maria gostavam tanto dela. Por que ela seria uma valiosa amiga.

— O carro está aqui — Maria anunciou. Ela estava prestes a passar pela porta quando Tahira entrou no dormitório,

arrastando Allison e Zuri. Tahira parou por uma fração de segundo antes de um grande sorriso iluminar seu rosto.

— Lexa! É tão bom te ver! — ela disse.

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— Você também, T! — Lexa respondeu, com o que parecia ser um genuíno entusiasmo.

Enquanto as duas meninas mandavam beijos ao ar duas vezes, o resto de suas amigas ficou para trás há uma distância respeitável e lançaram umas às outras olhares impacientes, porém resignados. Ariana engoliu sua surpresa. Lexa e Tahira eram amigas?

— Onde vocês vão? — Tahira perguntou, seu desprezo pelas outras meninas fervia logo abaixo da superfície do seu sorriso com os olhos arregalados. Ela estava fingindo por causa de Lexa, claramente.

— Às compras, é claro. Quer vir conosco? — perguntou Lexa. Brigit, Maria e Soomie visivelmente endureceram, mas Tahira foi rápida a

responder. — Eu tenho dez milhões de coisas a fazer para a arrecadação de fundos, mas

obrigada — ela disse, passando por Lexa. — Mas conversamos mais tarde. Eu adoraria ouvir suas histórias. E eu quero ouvir tudo sobre sua viagem pela Itália.

— Conte comigo! — Lexa respondeu. — Eu vou passar por aqui quando voltarmos. Ah, e Tahira, você conseguiu aqueles lençóis para mim?

O sorriso de Tahira pareceu de repente duro. — Claro. Minha empregada voou para o Paquistão especialmente para isso.

— Ela tinha uns lençóis incrivelmente suaves de oitocentos fios no ano passado e eu tinha que tê-los — Lexa explicou a Ariana. — Mas eu descobri que eles são feitos por uma pequena empresa no Paquistão, assim Tahira foi boa o suficiente para se oferecer para buscá-los para mim durante o verão.

— Eu vou colocá-los em seu quarto para você — disse Tahira. — Muito obrigada, T — disse Lexa brilhantemente. — A qualquer hora — disse Tahira. Havia um pouco de tensão por trás de seu

comportamento educado, mas era tão pequena que Ariana não tinha certeza de que alguém havia reparado nisso, fora ela. — Até mais tarde!

Zuri seguiu Tahira pelas escadas, mas Allison ficou para trás. — Eu gostaria que você não usasse as minhas coisas — disse ela para Ariana, sem antes sequer cumprimentar.

Ariana piscou. — O quê? — Meus lenços. Eu vi um no lixo e eu sei que não fui eu quem usei — disse

Allison, cruzando os braços sobre o peito. — Você tem o hábito de pegar as coisas sem pedir?

Um lencinho de papel? Ela estava fazendo um grande alarde por causa de um lencinho? Ariana podia sentir as outras meninas olhando para ela e sentiu-se sem saber o que dizer. Ela deveria voltar atrás e pedir desculpas ou dizer a garota que ela estava louca, como ela gostaria de dizer? Após o seu comentário sobre a linha tênue com Tahira no dia anterior, e este novo fato de uma amizade entre Tahira e Lexa, ela sentiu-se completamente confusa.

— Não. Claro que não — disse Ariana. Então, adotando um tom ligeiramente sarcástico, ela acrescentou, — Eu te devo um lencinho. Vou fazer uma nota disso.

Maria e Soomie riram e Allison estreitou os olhos. — E de quem você estava recebendo chamadas no meio da noite, afinal?

O coração de Ariana despencou em seus dedos do pé.

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— Você recebeu uma chamada no meio da noite? — Brigit perguntou animadamente. — Foi do seu amante secreto?

— Ooh! Você tem um amante secreto? — Lexa perguntou com um sorriso. — Não — disse Ariana rapidamente. — Quem quer que fosse a irritou — disse Allison com uma risada irônica. — Eu

vi os pedaços de seu telefone no lixo esta manhã ao lado do lencinho. Ariana viu a mentira que ela tinha dito para Lexa registrada no rosto da

menina e suas bochechas queimaram. — O que você faz, vai até o lixo assim que você acorda todos os dias? — ela virou-se para Allison.

— Eu pensei que o telefone morreu — disse Lexa, seu lindo rosto enrugado. — Ele morreu — Ariana respondeu, lutando para se controlar. — Ele morreu

no meio da chamada e, enquanto eu estava tentando descobrir o que estava errado com ele, ele escorregou da minha mão.

— Então, quem foi que ligou? Porque da próxima vez que ligarem a esta hora eu mesma vou atender e dar-lhe um belo sermão — disse Allison.

— Foi a minha avó — disse Ariana categoricamente, nivelando Allison com um olhar. — Ela é velha e ela fica desorientada, às vezes. Ela não tinha ideia de que horas eram, mas se você quiser pegar o telefone e assustar uma frágil mulher idosa da próxima vez, fique à vontade.

Lexa deslizou um braço protetor em torno de Ariana. — Eu acho que você deve ir agora, Allison — disse ela.

Ariana ficou surpresa com o gesto, mas depois ela percebeu que sua ira devia ter se transformado em piedade por causa da pobre vovozinha “enferma”. Ela se deu um tapinha mental nas costas pelo trabalho bem feito. Allison, enquanto isso, simplesmente se virou e foi embora sem dizer uma palavra. Entre essa saída e o encontro amistoso de Lexa com Tahira, ficou claro que Lexa tinha algum poder real ali, até mesmo com as inimigas de suas amigas.

— Você está bem? — Lexa perguntou a Ariana. Ariana fungou. — Estou bem, obrigada — disse ela. — Podem ir, meninas. — Tem certeza? — perguntou Brigit. — Se você quiser falar sobre sua avó, eu

adoraria saber tudo sobre ela. Tenho certeza que você adoraria, Ariana pensou. — Obrigada, mas eu tenho

que chegar a essa reunião. — Devemos ir. O motorista está esperando — disse Maria, empurrando a

porta aberta. Parado em frente à porta do edifício dos dormitórios estava um Town Car

preto. Maria se aproximou e esperou que o motorista abrisse a porta traseira para ela. Brigit e Soomie acenaram com a mão antes de se juntaram a ela. Lexa, no entanto, ficou para trás.

— Então, nós vamos te ver mais tarde? — ela disse. — Eu te ligo — disse Ariana, mesmo sabendo que ela não iria ligar. Ela estaria

muito ocupada com sua arquiinimiga no restaurante. — Legal — disse Lexa. — Eu realmente adoraria que ficássemos todas unidas,

Bri... Ana, eu quero dizer — disse Lexa. — Eu acho que é maravilhoso que você esteja aqui.

O coração de Ariana pulou diante daquela honestidade ousada. — Obrigada.

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Em seguida, o carro buzinou e Lexa virou-se e correu para se juntar às suas amigas, despedindo-se de longe com a mão enquanto entrava no carro. Ariana sorriu de volta, mas no momento em que o carro foi embora, ela xingou em voz baixa.

Seja o que for que Kaitlynn quisesse dizer, era melhor que fosse bom.

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Traduzido por Ivana

o momento em que Ariana preenchia os três formulários que eram necessários para obter um passe para sair do campus, ela averiguou também quais eram as linhas de ônibus para Belle Haven, e quando

finalmente chegou no restaurante combinado para o encontro, ela estava mais do que pronta para torcer o pescoço de Kaitlynn. Ainda mais quando ela entrou no restaurante com paredes de vidro e verificou que a menina ainda não tinha chegado. Havia dois casais de idosos em mesas unidas, um grupo barulhento de meninas em uniformes de líder de torcida, alguns homens solteiros no balcão, e uma menina punk sentada sozinha limpando seus cabelos que haviam sujado com o café ou com as panquecas que ela comia. Ariana se aproximou de uma atendente.

— Ei, querida. Mesa para uma? — a anfitriã perguntou, pegando um menu. — Na verdade, eu vou encontrar uma... alguém — disse Ariana, incapaz de

pronunciar a palavra amiga. — Espero que ela esteja aqui em breve, então... As palavras de Ariana morreram em sua língua quando a garota punk chique

levantou a mão, olhou para Ariana bem nos olhos do outro lado da sala, e acenou. Era impossível conciliar a imagem da menina de agora com a da Kaitlynn Nottingham que ela conhecia tão bem. Seus cachos castanhos grossos tinham sido cortados curtos com uma franja longa que estava tingida metade preta, metade loira. Lentes de contatos azuis cobriam os olhos castanho-claros. Um piercing prata prendia em seus lábios perfeitos, que estavam pintados de um roxo profundo. Dez piercings cobriam uma orelha, com três na outra. Sem mencionar as roupas. Colete jeans rasgado sobre um vestido babydoll. Meias arrastão pretas e botas de combate pretas.

Ridículo era a palavra que primeiramente chegava à mente. — Esquece — disse Ariana. A anfitriã olhou para Kaitlynn e fez uma careta de desaprovação enquanto

Ariana endireitava os ombros e se aproximava. Ela colocou a bolsa sobre uma cadeira vazia e se sentou. — Visual interessante para você.

— Eu poderia dizer o mesmo — Kaitlynn respondeu, seus olhos correndo sobre as extensões ruivas de Ariana. — Quando eu vi você à beira do lago eu deveria ter adivinhado qual era o seu plano. Você jamais escolheria essa cor se não fosse para um bom propósito.

— O que posso fazer por você? — a garçonete perguntou, aparecendo ao lado de Ariana.

N

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— Nada, obrigada. Eu não vou ficar — disse ela, sem tirar os olhos de Kaitlynn. A garçonete suspirou e se afastou. Ariana cruzou os braços sobre a mesa de

fórmica rachada. — O que você quer, Kaitlynn? — ela perguntou. — Me chame de Teresa — Kaitlynn respondeu, inclinando-se para trás na

cadeira, as pernas bem abertas, assim como a anarquista que ela deveria estar interpretando.

— O que é esta atitude, BL? Você não está feliz em me ver? Você não quer fofocar um pouquinho? Perguntar como eu estou?

— O que você quer, Kaitlynn? — Ariana repetiu, seu sangue começando a coagular.

— O que eu quero...? — Kaitlynn disse. Ela pegou um canudo da mesa, rasgou o invólucro fora com os dentes, e começou a roer o fim. — Eu não posso acreditar que você não tenha percebido ainda. Não era você e a sua melhor amiga Noelle que estavam sempre prontas para serem as melhores em sua classe a cada semestre? Você sempre estava lembrando como vocês adoravam competir entre si. Lembra de todas aquelas noites em nossa cela quando você me contou todos os seus pequenos segredos e sonhos?

Os olhos de Ariana queimavam com as memórias, e não apenas por causa da quantidade idiota de confiança que ela tinha depositado em Kaitlynn, mas pela lembrança de Noelle e sua amizade. Como Kaitlynn se atrevia a usar estas doces memórias para a sua própria diversão, apenas para esfregar na cara de Ariana como ela tinha sido crédula.

— Você quer dinheiro — disse Ariana através de seus dentes. — Que previsível.

— Sim. Eu quero dinheiro. — Kaitlynn sentou para frente de novo, deixando cair a persona punk e imitando exatamente a postura reta de Ariana. — Eu estive hospedada no Palomar em Dupont Circle e eu quero dinheiro suficiente para me manter da maneira como estou acostumada nas próximas duas semanas. Até meu voo para a Austrália.

O coração de Ariana pulou de esperança. — Você está indo para a Austrália? — Assim como nós sempre planejamos — disse ela, com a voz amarga. — Eu

diria que você pode vir, mas eu ainda estou um pouco chateada por que você estragou tudo com o dinheiro de Briana Leigh.

— Sou eu quem devo estar chateada com você. Você deve estar brincando — Ariana sussurrou baixinho. Kaitlynn sorriu. A indignação corroeu o estômago de Ariana como o ácido passando pelo metal, mas ela tentou sufocar a sensação. Claro, Kaitlynn estava provocando ela, mas em duas semanas ela teria ido embora. Não valia a pena engolir um pouco de orgulho, se isso significasse se livrar dela para sempre?

— Tudo bem. Diga à recepção que Briana Leigh Covington está assumindo o pagamento do quarto. Vou passar o número do meu cartão de crédito — disse Ariana categoricamente.

— Por que você não me dá o número? Para tornar mais fácil para nós duas? — Kaitlynn perguntou, com os olhos brilhando.

Porque você vai às compras e estourar o limite, Ariana pensou. — Não. Kaitlynn recostou-se na cadeira e sorriu. — Faça à sua maneira.

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— Como se minha maneira fosse essa — Ariana atirou de volta. — Atitude! — Kaitlynn repreendeu, tomando um gole de seu café. — Terminamos aqui? — Ariana perguntou, pegando sua bolsa. — Não é bem assim. — Kaitlynn colocou a xícara cuidadosamente no pires. —

Eu também quero que você me consiga um milhão de dólares para me ajudar a começar a minha vida na Austrália.

Ariana sentiu as paredes da lanchonete encolhendo em sua direção. As bordas de sua visão ficaram embaçadas enquanto o grupo completo de líderes de torcida rachava de rir — risadas horríveis e gargalhadas. Sob a mesa, seus dedos agarraram seu braço até que suas unhas cortaram sua pele.

— Onde você acha que eu vou conseguir um milhão de dólares? — ela engasgou.

— Você vai descobrir isso. Você sempre consegue — disse Kaitlynn, dando uma mordida em sua panqueca encharcada de geleia. — Ou, bem, você costumava conseguir.

As bochechas de Ariana queimaram diante desta referência velada aos seus fracassos do passado. — Não há nenhuma maneira de eu conseguir um milhão de dólares — ela disse. — Briana Leigh nunca teve acesso a esse tipo de dinheiro.

— Tenho certeza de que, se ela realmente quisesse, ela poderia ter conseguido isso — disse Kaitlynn, olhando nos olhos de Ariana. — E você realmente quer, BL, porque se você não fizer isso, eu vou explodir essa sua pequena farsa pelos ares.

O nó na garganta de Ariana era grande o suficiente para sufocar, mas ela conseguiu engolir. Ela não podia deixar Kaitlynn ver o efeito que suas ameaças estavam tendo sobre ela. Não poderia deixar a menina sair dali sentindo que ganhou. Ariana tirou sua a carteira de dentro de sua bolsa e deu a ela cinco notas de cem dólares, o único dinheiro que ela tinha.

— Aqui — ela disse, engolindo o orgulho enquanto deslizava as notas do outro lado da mesa. — É tudo o que tenho.

Kaitlynn mal olhou para o dinheiro, dobrou-o e enfiou-o em um bolso interno de seu colete. Ela comeu um morango que estava em seu prato e olhou para Ariana com simpatia.

— Vamos lá, Ariana — disse ela, usando seu nome real pela primeira vez. — Eu odeio ver você assim. Não se subestime. Eu sei que você pode fazer melhor.

Ariana olhou Kaitlynn por baixo. O que ela não daria para ser capaz de pegar o garfo e espetá-lo através dos olhos da menina. Simplesmente fazer isso agora mesmo. Ela olhou ao redor, se perguntando se alguém neste lugar tinha notado ela. Se havia notado sua aparência. Perguntou-se se os caras no balcão iriam tentar segurá-la quando ela fizesse a sua fuga.

— Você pode não ter conseguido o dinheiro da herança de Briana Leigh, mas você tem algo muito mais valioso — Kaitlynn continuou em tom mimoso. Ela olhou para Ariana de cima a baixo e sorriu. — Você tem a vida dela.

Sob a mesa, as unhas de Ariana tiravam sangue. Ela podia senti-las rasgando seu braço, mas ela não parou. Não se mexeu. A garçonete passeou e colocou a conta de Kaitlynn em cima da mesa. Kaitlynn suspirou quando ela deu a volta e a encarou.

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— É claro que você não teria conseguido nada disso, se não fosse por todas as informações que eu te dei ao longo daqueles dois anos, então, sendo assim, você realmente me deve. Acho que um milhão de dólares é uma pequena taxa para pagar por sua nova vida, não é?

— O que é que me impede de apenas chamar a polícia com uma denúncia anônima? — Ariana disse através de seus dentes. — Dizer-lhes exatamente onde a fugitiva mais recente da Brenda T. está escondida?

Kaitlynn soltou uma risada condescendente. — Você não está prestando atenção? Se você fizer isso, a primeira coisa que eu vou dizer a eles é como encontrá-la. Tudo o que eu fiz foi fugir. Você já cometeu um assassinato desde que saiu da cadeia — ela sussurrou, apoiando-se para baixo sobre a mesa. — Eles vão te prender e você vai apodrecer lá. Sem fazer perguntas.

Lágrimas de raiva e desespero escorreram dos olhos de Ariana. Não era culpa dela, o fim de Briana Leigh. Era tudo culpa de Kaitlynn. A má influência de Kaitlynn. Seus jogos mentais. Kaitlynn a tinha enganado para ela pensar que Briana Leigh era uma odiosa, uma traidora e assassina que não merecia viver. E agora ela estava chantageando Ariana e não havia nada que Ariana pudesse fazer sobre isso. Como a sua nova vida perfeita poderia já estar se desintegrando ao seu redor?

Kaitlynn se levantou da mesa, colocou a conta na frente de Ariana, e deu um tapinha no ombro dela. — Você vai cuidar disso, certo? Tenho certeza de que o cartão de crédito de Briana Leigh paga isso.

Todo o corpo de Ariana tremeu com o esforço de deter sua fúria. Basta pegar o garfo. Pegue o garfo e avance nela. Seria tão fácil... Mas é claro que não seria. Seria público, confuso e, basicamente, acabaria com

ela. Mas só por imaginar ela já se satisfazia. — Ah, e boa tentativa de cancelar o meu telefone — disse Kaitlynn, fazendo

uma pausa em seu caminho para fora. — Ainda bem que eu tinha o número de segurança social de Briana Leigh memorizado para eu religar ele novamente. Agradeça ao tal do Palmer por mim, está bem? Ele parece ser sexy. E se não fosse pela mensagem dele, eu nunca teria sabido onde encontrá-la.

Em seguida, ela colocou um par de óculos escuros sobre os olhos, virou-se e empurrou a porta com o calcanhar de sua mão. Ariana ficou sentada, sozinha e em silêncio por dez minutos completos, esperando a raiva passar. À espera de seu pulso voltar ao normal. À espera de sua mente voltar para ela. Finalmente, ela estendeu a mão trêmula para a fatura, a palma da mão manchada com sangue. Ela estava uma bagunça. Suada, sangrando, um perfeito desastre. Como isso tinha acontecido? Ontem ela estava tão feliz, tão cheia de esperança, e agora ela estava sentada em algum restaurante de merda no meio do nada, parecendo uma criança abandonada e patética que vagava pela rua em busca de caridade.

Você é uma criança patética, uma pequena voz em sua mente zombou dela. Olhe para você. Kaitlynn praticamente assumiu o controle de sua vida. Não há nada que você possa fazer para impedi-la.

Olhando fixamente para o sangue, Ariana sentiu o café da manhã que ela comeu caminhando até sua garganta já dolorida. Ela levantou-se da mesa e correu para o banheiro, vomitando o que havia sido a pior manhã de sua vida. E assim, ela não tinha mais nenhum controle sobre nada. Nem mesmo sobre o seu próprio estômago.

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Traduzido por Ivana

o momento em que Ariana entrou na loja bem iluminada e arejada, ela sabia que tinha tomado a decisão certa ligando para Lexa. A boutique se chamava Vintage e o espaço tinha dois andares, com janelas do chão ao teto pelas

paredes. Centenas de lâmpadas brilhantes da cor do arco-íris pendiam do teto, como pirulitos suspensos a partir de varetas. As prateleiras de vestuários ao longo do corredor eram recheadas com roupas coloridas — tudo, desde saias lápis a calça jeans boca de sino. Se a pessoa quisesse algo de uma década atrás, encontraria aqui, seja em verdadeiros vintages da moda, ou seja por designers atuais tornando vintage. Ariana caminhava entre os corredores, à procura de suas amigas quando ela ouviu o riso despreocupado sobre a música que tocava ao fundo e viu Lexa e Soomie perto da parte de trás da loja. Ela já se sentia mais relaxada. Ela ia ter o seu momento de união com estas garotas, afinal.

Ariana abriu a pequena sacola de compras colorida que continha a caixa do seu novo telefone, bem como um presente para Soomie que ela havia pego na loja de celulares. Um novo celular.

Ou celulares, na verdade — definitivamente qualificados como uma compra de emergência, que era o que ela diria a vovó Covington se a velha morcega fizesse alguma reclamação referente à fatura. O que a Vovó C. nunca poderia saber era que a situação de emergência era quase um colapso nervoso da parte de Ariana e que este passeio de compras era o único remédio possível.

É claro que ela não tinha ideia de como ela ia explicar o pagamento da fatura do hotel de Kaitlynn. Talvez ela dissesse que o cartão tinha sido roubado. Briana Leigh tinha um lado descuidado. Sua avó provavelmente tinha sido forçada a cancelar uma série de cartões perdidos ao longo dos anos. Não seria totalmente fora do comum.

Mas essas explicações iam levar a quase nada. Ela apenas ganharia um tempo até que a Vovó C. começasse a ficar irritada e cortasse seu cartão, ou pelo menos colocasse mais restrições em seus gastos. Ou, pior ainda, até que ela suspeitasse de algo e decidisse fazer uma visita. Será que Kaitlynn realmente não enxergava o risco envolvido em tudo isso? Se Ariana fosse pega, ambas estavam ferradas.

Mas não pense nisso agora, Ariana disse a si mesma, passando a mão ao longo de um balcão de vidro brilhando cheio de inúmeros colares coloridos, anéis, pulseiras cintilantes e bolsas. Se ela continuasse pensando em Kaitlynn, ela ficaria completamente louca. Ela precisava de distração. E não havia nada mais relaxante

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do que um pouco de terapia de compras. Mesmo se ela tivesse que se abster de comprar qualquer coisa no momento. Outro luxo que Kaitlynn havia roubado dela junto com seu dinheiro de bolso.

Ela pegou um cardigã de cashmere azul claro com apliques de flores de feltro no peito esquerdo e o vestiu, tentando ocultar as desagradáveis cicatrizes em forma de meia lua em seu braço. Então ela estampou um sorriso e se juntou às meninas nos provadores. Refletindo o colorido retrô da loja, cada provador tinha uma porta de cor caramelo, e havia cinco bancos de couro brilhantemente situados em um arco em torno deles, perfeito para desfiles de moda de improviso. Soomie estava sentada em um banco rosa, digitando em seu BlackBerry. Lexa estava sentada atrás dela em outro, olhando um balcão de bolsas de grife.

— Ei, meninas! — Ariana cumprimentou-as, esperando soar pelo menos um pouco alegre.

— Ana! Aí está você! — Lexa gritou, deixando cair uma bolsa Michael Kors no chão para que ela pudesse abraçá-la.

— Você comprou um novo celular — disse Soomie instantaneamente, olhando para o saco de compras de Ariana.

— Sim, eu comprei — disse Ariana. Ela enfiou a mão na bolsa e tirou a mais pesada das duas caixas de dentro. — E você também.

Os olhos de Soomie se arregalaram e a mandíbula de Lexa caiu. — Aquele com a nova tela sensível ao toque! Este é para mim? — Soomie perguntou, pulando para cima e agarrando a caixa das mãos de Ariana.

Ariana deu de ombros alegremente enquanto seu coração se enchia de alegria por um trabalho bem feito. — Assim você não tem que esperar te mandarem pelos correios. Sei o quanto é importante para você ser organizada.

— Ela comprou-lhe um novo BlackBerry? — Maria perguntou de dentro de um dos vestiários.

— Isso é tão doce! — Brigit acrescentou, a voz vindo de trás de outra porta. — Ana, você realmente não tinha que fazer isso — disse Soomie. — Mas foi tão gentil de sua parte — Lexa acrescentou, colocando a mão nas

costas de Ariana. Ambas assistiram quando Soomie rasgou a caixa e tirou o telefone do seu invólucro de plástico.

— Eu acho que estou apaixonada — disse ela alegremente, abraçando-o. — Mais do que por Landon! — Brigit brincou. Soomie sorriu para Ariana, sua expressão completamente aberta desde a

primeira vez desde que se conheceram. — Muito obrigada, Ana. De verdade. Vou ligá-lo agora e ativá-lo. Ele vai melhorar o meu ano!

— De nada — Ariana respondeu. Aparentemente, ela tinha jogado as cartas certas fazendo isso. Soomie havia oficialmente sido conquistada.

— Você chegou bem na hora — disse Lexa, agarrando a mão de Ariana enquanto Soomie saía para ativar o telefone. — Estamos tentando decidir qual vestido Brigit deve vestir quando ela for à festa-de-aniversário-barra-festa-do-pijama da Princesa Tori no próximo mês.

— Eu ainda acho que o vermelho — disse Maria, saindo de um dos vestiários em um vestido cor de mostarda disforme reto da década de setenta que não fazia nada bem ao seu tom de pele e fazia seu corpo magro parecer absolutamente anoréxico. Seus quadris se projetavam em ângulos desagradáveis e suas clavículas e

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ossos do ombro pareciam asas de frango. Ariana reviu sua opinião sobre a beleza sem esforços de Maria... aquilo era simplesmente insalubre.

— Eu também. Você não o devolveu ainda, não é? — Lexa perguntou olhando para o teto.

— Não! Já estou saindo — respondeu Brigit por trás de uma porta cor de uva. — Uau — disse Ariana quando Brigit apareceu. O vestido vermelho era cheio de bordados, com um cinto de ouro e decote

amplo, que ajudava a equilibrar a ligeira forma de pêra de Brigit. Ele certamente ressaltava seu cabelo loiro, assim como suas bochechas rosadas e olhos azuis.

— Você parece positivamente a Scarlett Johansson nisso — disse Ariana, trazendo um sorriso de satisfação ao rosto de Brigit.

— Está vendo? Nós te dissemos — disse Soomie, segurando o telefone longe de sua orelha.

— Há apenas uma coisa — Ariana acrescentou, sentando em um banco de couro azul-turquesa. — A Princesa Tori não é a da Espanha? Aquela que é conhecida por ser... um pouco menos atraente do que o resto da família real?

Maria bufou uma risada enquanto o rosto de Brigit caiu. — Acho que sim. Mais ou menos — disse Brigit.

— Bem, então, já que é o aniversário dela, talvez você queira evitar ficar tão deslumbrante — disse Ariana. — É como vestir branco para um casamento. Você não quer ofuscar a garota que deveria estar sendo o centro das atenções.

Maria olhou para Lexa. — Ela é boa. Ariana tratou de não sorrir. Era a primeira coisa agradável que Maria tinha dito

sobre ela ou para ela desde que ela chegou. — Sim. Ela é — Lexa respondeu com um tom quase orgulhoso. Ok, o que foi aquilo? Lexa estava tomando algum tipo de responsabilidade

porque ela costumava conhecer Briana Leigh? Mas ela não insistiu nisso. Em vez disso, se focou no positivo. Elas apreciaram o seu comentário.

— O que você achou desse? — Maria perguntou, fazendo uma pose em seu vestido feio.

— Esse? Apenas não — disse Ariana sem rodeios. Lexa, Soomie e Brigit se entreolharam nervosamente, como se estivessem

com medo da reação de Maria a este comentário. Maria, no entanto, concordou. — Exatamente o que eu estava pensando. — Ela sorriu para Ariana. — Estou

feliz que você veio. Todas essas vadias dizem “sim” cada vez que vamos às compras. — Em seguida, ela voltou para seu provador e bateu a porta.

Ariana sorriu para si mesma. Era como nos velhos tempos. Em Easton ela estava sempre ajudando suas amigas quando se tratava dos dilemas com etiqueta e gosto.

Soomie terminou sua chamada e jogou o velho BlackBerry em sua bolsa. — Bem, nós temos um motivo — ela sussurrou. — Se ela não fosse tão estupidamente paranoica sobre seu corpo, nós...

— Eu posso te ouvir! — Maria gritou. — Se você vai falar mal de mim, tenha a gentileza de falar quando eu estiver longe.

Lexa engoliu em seco, ficando num tom quase verde. — Seja como for! — ela disse alegremente. — Brigit, talvez você devesse usar o vestido preto no lugar deste. Obrigada, Ana. — Brigit voltou ao seu provador para se trocar, e Lexa

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sentou-se ao lado de uma pilha de sacolas de compras que pertenciam claramente a ela. — Então, Ana, como é que foi a reunião esta manhã?

Ariana pensou imediatamente em Kaitlynn, apesar de que não era essa a reunião a que Lexa se referia, e sentiu seu estômago revirar. Ela forçou um sorriso. — Foi bem. Acho que até segunda-feira eu vou ter o cronograma que eu quero. E eu também me juntei à equipe de tênis.

— O quê? Não, eu estava tão ansiosa para cavalgar com você de novo! — Lexa lamentou, parecendo positivamente devastada. Esta era definitivamente uma garota que não só demonstrava todas as suas emoções, como também as destacava em grandes cores brilhantes. — Nós íamos acabar com todo o litoral leste com você na equipe!

— Lexa nos disse que você participou de alguns campeonatos grandes — acrescentou Soomie. — Por que você simplesmente desistiu?

— Eu não desisti — Ariana respondeu. — Eu não tenho cavalgado desde a sétima série. Acabei perdendo o interesse.

Briana Leigh tinha, é claro, montado todo o tempo até o verão antes de morrer, mas elas não tinham como saber disso.

— Eu não posso acreditar que você simplesmente perdeu o interesse em uma coisa que você era tão boa — Lexa respondeu.

— Bem, eu perdi — disse Ariana, com um encolher de ombros. — Vou deixar esta missão para você, Lexa. Pelo que eu entendo, você não precisa de mim, de qualquer maneira.

— Sim, mas Tahira também não precisa de você, de qualquer maneira — disse Soomie com naturalidade.

— Soomie! — Lexa repreendeu, cutucando o joelho da menina. — O quê? Estou apenas avisando-a. — Soomie lançou seu novo BlackBerry

para o lado. Ariana sentiu uma torção no estômago. — Tahira está na equipe de tênis? Soomie assentiu. — Ana, há três coisas que você precisa saber sobre a equipe

de tênis. A) É o bebê de Tahira. O APH nem sequer tinha uma equipe até que ela apareceu na escola e, basicamente, os convenceu a criar uma. B) Ela leva muito a sério. Tipo, se você perde um jogo, ela repreende você por dias a fio. E C) Mesmo se você ganhar os seus jogos, é melhor você não ser melhor do que ela, porque então ela será verdadeiramente insuportável.

Brigit saiu de seu provador, de volta com a sua roupa habitual e um vestido preto de crepe pendurado no braço. — Você é melhor do que ela? — perguntou ela, salivando. — Por favor, por favor, por favor, diga que você é melhor do que ela!

Ariana riu. — Eu não sei. Eu não joguei com ela ainda. Quão boa ela é? — Quem sabe? Nós nunca nos preocupamos em ir vê-la jogar — disse Maria,

saindo de seu provador também. Ela havia deixado as roupas que ela tinha provado em uma pilha no chão.

— Mas nós vamos agora que você está na equipe — Lexa garantiu a Ariana. — Certo, senhoritas?

— Eu mal posso esperar — Maria disse sarcasticamente. — Tahira afirma que ela é boa o suficiente para estar em um torneio — disse

Soomie, revirando os olhos. — O que é altamente improvável. — Ela olhou para

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Ariana de cima e a baixo e inclinou a cabeça. — Mas eu aposto que você pode vencê-la — disse ela com um sorriso.

Ariana sorriu de volta. Ela tinha a sensação de que Soomie teria dito algo muito menos amigável e apoiador se elas tivessem essa conversa uma hora atrás. Agora ela sabia que tinha conquistado Brigit, Soomie e Lexa. Tudo o que ela tinha a fazer era trabalhar em Maria, em quem ela resolveu focar de agora em diante. Sua posição social era tão importante quanto a sua colocação acadêmica.

— Veremos — disse Ariana. — Podemos mudar de assunto? Estou muito farta dessa conversa — disse

Maria, enrolando uma mecha de cabelo em torno de seu dedo e inclinando a cabeça. — E eu preciso de um café expresso, tipo, ontem.

— Com esse já são três só esta manhã — disse Soomie. — E nada de comida para acompanhar — Lexa adicionou. — Deus! Certo! Vou comer um bolinho. Vamos embora — disse Maria. Ela

virou-se e saiu da loja, colocando os óculos escuros enquanto caminhava para fora. — Bailarinas — Lexa disse baixinho. — Não é possível viver com elas... — Não é possível alimentá-las — Brigit brincou. Ariana deu um leve sorriso enquanto seguia Brigit à caixa registadora,

observando Maria através das portas de vidro. Ela estava começando a entender um pouco melhor por que Maria sempre parecia tão tensa e mal-humorada. Não comer nada e tomar toneladas de café expresso poderiam fazer isso com uma menina. — Você vai comprar este suéter, senhorita? — o balconista perguntou, olhando para Ariana desconfiado.

— Oh, me desculpe — disse Ariana, o rosto corado quando percebeu que ela ia ter de expor o braço dela. Como ela iria explicar os novos cortes em sua pele? — Eu esqueci que eu estava usando — ela explicou.

— Fica muito bom em você — disse Brigit. — Aqui. Ela estendeu a mão e puxou a etiqueta da parte de trás do pescoço de Ariana,

em seguida, entregou-o para o caixa. — Adicione na minha conta. O rubor de Ariana se aprofundou. — Brigit, não. Você não tem que fazer isso. — Você só me impediu de cometer o maior deslize fashion — disse Brigit. —

Considere isso um pagamento por ser minha estilista pessoal. Ariana sorriu. — Obrigada. — A qualquer hora. Estou tão feliz que você está aqui, Ana. Estava ficando um

pouco chato, só nós quatro. Ariana usou toda sua vontade interior para controlar sua vertigem. Ela já tinha

feito a si mesma indispensável. Este era o lugar onde ela pertencia. Este era o seu futuro. Kaitlynn estava em seu passado. Agora, ela só precisava descobrir como mantê-la lá.

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Traduzido por Ivana

sol de final de verão batia nas costas de Ariana, fazendo arder a pele de seu pescoço. Ela se mexeu desconfortável pelo calor, amaldiçoando a si mesma por arranhar o braço tão forte ontem no restaurante. Todo mundo na

quadra estava usando blusas de alça ou tops, mantendo-se da maneira mais fresca possível. Mas não Ariana. Não. Ela tinha sido forçada a usar uma camiseta de mangas compridas e decote canoa, a fim de cobrir as feridas feias. Ela não só se sentia ridícula tão agasalhada, mas ela estava basicamente derretendo ao sol.

— Por que vocês não fazem o debate no auditório? — Ariana perguntou a Lexa enquanto elas tomavam seus assentos na primeira fila de cadeiras dobráveis, de frente para a fonte. Dois pódios foram colocados em frente à fonte borbulhante. Primeiro a equipe dourada iria debater com a equipe azul, e o vencedor do debate enfrentaria a equipe cinza. Cada equipe devia preparar tanto argumentos favoráveis como contrários a um respectivo assunto, e o lado que eles iam defender seria determinado por sorte em um sorteio.

— Eu acho que eles gostam de ter o maior número de eventos ao ar livre enquanto o clima está favorável para nós — Lexa respondeu. Lexa, é claro, estava vestindo um vestido de verão azul impressionante que parecia perfeitamente adequado ao clima. Ele fazia seus olhos parecem safiras redondas.

— Oi, Ana. Oi, Lexa. — Quinn, a estudante do segundo ano que servia o café, apareceu no final do seu corredor. Ela e uma amiga carregavam bandejas de cafés gelados, e Quinn entregou um a Lexa. — Como foi na Itália?

— Fantástico — Lexa disse com um sorriso brilhante. — E vocês se divertiram na Irlanda?

O sorriso de Quinn se alargou enquanto ela entregava a Ariana seu cappuccino gelado, a bebida que ela havia pedido quando havia encontrado a estudante do segundo ano durante o jantar na noite anterior. — Eu não acredito que você lembrou! Foi incrível. Nós caminhamos em todos os lugares e fomos parando em pequenas pousadas surpreendentes.

— Eu adoraria ver as fotos — disse Lexa gentilmente. Ela olhou para a amiga de Quinn. — Você pode deixar as outras bebidas aqui. Elas estão atrasadas.

— Tudo bem — disse Quinn, tendo isso como sua sugestão para sair. Ela pegou a bandeja da outra menina e colocou-a na cadeira vazia ao lado de Ariana. — Nos avise se vocês precisarem de mais alguma coisa!

— Obrigada! — Ariana disse enquanto elas saíam.

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Ela olhou para Lexa, que estava bebericando seu café enquanto observava Quinn e sua amiga irem, sua expressão completamente normal. Ela não estava se sentindo superior ou arrogante por ter aquelas meninas como empregadas a sua inteira disposição. Era como se nada fora do comum tivesse acontecido. Como se isso fosse o seu direito de primogenitura, em vez de algum tipo de momento de poder. Ariana pensou em Noelle e seus olhares orgulhosos, como ela mandava e desmandava nas pessoas ao redor.

Lexa parecia seu completo oposto. Enquanto Noelle era uma ditadora cruel, Lexa era uma governante

benevolente. Era estranho, intrigante, e quase refrescante. — Você quer voltar e se trocar? — perguntou Lexa. — Eu guardo o seu lugar

para você. — Não, obrigada. Estou bem — Ariana respondeu, tentando manter um olhar

fresco e equilibrado. Ela usou toda sua força de vontade para não passar o copo frio contra a

traseira de seu pescoço. Os arranhões em sua pele picavam pelo suor. Ela deveria ter apenas mandado Kaitlynn ir à merda. Ela deveria ter ido embora. Melhor ainda, ela nunca deveria ter aparecido lá. Kaitlynn não iria realmente cumprir sua ameaça de expor Ariana, iria? O que ela poderia ganhar vendo Ariana ser arrastada de volta para a cadeia? Kaitlynn sequer estaria livre agora, se não fosse por Ariana. Não era ela quem devia um favor a Ariana?

Ariana segurou o copo de café. Ela sabia que a resposta era “não”. Kaitlynn veio torturá-la apenas pelo puro prazer de saber as notícias e ver Ariana, enquanto ela teria que manter a frieza com relação a isso. E aquela menina ia destruir Ariana caso não conseguisse o que queria. E o grande problema era que Ariana não tinha absolutamente nenhuma chance de conseguir pôr as mãos em um milhão de dólares. Kaitlynn poderia ter pedido um bilhão. Ela poderia ter pedido seu próprio carro e uma mansão com um chef cinco estrelas, uma cama com colchão de água, e uma passagem com voo para Júpiter.

Eu deveria tê-la matado. Eu deveria ter terminado ali mesmo. — Nós sentimos sua falta no café da manhã — disse Lexa, bagunçando seus

cachos com a ponta dos dedos para torná-los mais cheios. — Soomie ficou repassando todo o debate da parte contrária. Pensei que Maria ia furá-la com o garfo. Juro que ninguém aguentaria ficar ali com ela por muito tempo.

Ariana olhou para Lexa, alarmada com a menção de garfos e furos — O quê? — Eu estou apenas brincando — disse Lexa com uma risada. Ela tomou um

gole de café e olhou para cima, quando as equipes de debate fizeram o seu caminho para as cadeiras atrás dos pódios. — Então, onde você estava?

— Oh, Eu... — O que as pessoas poderiam fazer pela manhã que tivesse algum sentido? Ela não queria dizer a menina que ela havia refeito seu exame de admissão de Inglês. Era um segredo que só Palmer sabia, e só porque com ele ela tinha sido capaz de usá-lo a seu favor, mas quanto menos pessoas soubessem, melhor. Isso daria margem a se levantar muitas perguntas. Especialmente por parte de Brigit. Ariana viu um cara andando de shorts e uma lâmpada se acendeu na sua cabeça. — Eu fui fazer uma corrida.

O rosto de Lexa se iluminou. — Você corre? Eu também! Devemos ir juntas algum dia. Há um caminho grande na beira do rio.

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Ariana deu um sorriso falso tão duro que chegou a machucar. — Que ótimo. — Ei — Maria cumprimentou-as, pegando o café da bandeja antes de se

sentar ao lado de Lexa. — Perdemos alguma coisa? — Não — respondeu Lexa. — Aqui, Ana! — Brigit entregou a Ariana um saco de papel branco enquanto

ela sentava. — É um muffin de framboesa. Meu favorito. Não que eu possa comê-los mais. Eu não tinha certeza se você gostava de framboesa, mas eu achei que você estaria com fome, já que perdeu o café da manhã. Você gosta de framboesa? Qual é a sua fruta favorita?

— Podemos deixar as vinte perguntas para mais tarde? — Soomie perguntou, deslizando ao lado.

Ariana se sentou com Lexa do outro lado. — A) Tenho certeza de que ela não está no clima disso, e B) O debate está prestes a começar.

— Obrigada, Brigit — Ariana disse, tocada pelo gesto. — E eu amo framboesa. Brigit sorriu feliz e recostou-se na cadeira. — Ei, senhoritas. Palmer pegou a bandeja de café vazia e se sentou no assento ao lado de

Ariana, vestindo uma polo azul escura Izod e uma bermuda clara e parecia perfeito para um clube de campo. Ele colocou a bandeja debaixo de sua cadeira e sorriu para Lexa. Ariana instantaneamente endureceu e afastou os joelhos dele.

— Ei! Bem na hora! — Lexa sussurrou de volta. — A festa nunca começa até que eu chegue, de qualquer maneira — Palmer

brincou. — Oi, Ana. Ariana se inclinou ainda mais longe dele e cutucou Lexa. — Você quer trocar

comigo? — Oh, assim está bom — Lexa respondeu. — Não. Vá em frente. Sente ao lado do seu namorado — disse Ariana,

enfatizando a palavra namorado bem alto para que Palmer pudesse ouvir. Lexa inclinou a cabeça. — Tudo bem. Obrigada. As duas se levantaram trocando os assentos. Assim que Ariana se sentou

entre Lexa e Maria, Palmer lançou-lhe um olhar confuso. Ela ignorou, concentrando-se em seu muffin de framboesa, que era delicioso demais para ter sido feito por uma equipe do refeitório da escola.

Quando a diretora Jansen levantou-se para chamar atenção da multidão, uma nuvem encobriu o sol, dando a Ariana um alívio momentâneo do calor torturante. Ela olhou para cima, olhou para todos os rostos expectantes e brilhantes, o gramado verde, a alegre fonte borbulhante. Os prédios eram imponentes, o céu azul, as árvores floridas. À esquerda estava o prédio da administração, onde ela arrasou na porcaria do exame de Inglês naquela manhã. Ela deveria estar animada com essas coisas — esses amigos, esse ambiente, o novo ano letivo. Mas ela não estava. Ela estava irritada. E assustada. E impotente. Como Soomie diria, os fatos eram estes: A) Não havia maneira nenhuma de ela conseguir pagar Kaitlynn, e B) se ela não pagasse Kaitlynn, em breve tudo isso seria arrancado dela.

Havia apenas uma coisa que Ariana poderia fazer. Ela tinha que matar Kaitlynn. Não apenas fantasiar sobre isso, mas realmente fazê-lo. Era a única maneira de se livrar dela. Era a única maneira de proteger a sua nova vida. Não era a melhor das hipóteses, é claro. Seria arriscado e confuso e poderia colocá-la de volta

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na prisão, mas era sua única chance. A única chance que ela tinha de preservar o que ela tinha trabalhado tão duro para conseguir. Era tudo culpa de Kaitlynn, de qualquer maneira. Ela estava forçando Ariana a essa atitude. E se alguém merecia morrer, era ela.

— E agora, o debate vai começar! — a diretora Jansen anunciou. — Vamos, equipe dourada! — Brigit e Soomie gritaram enquanto Maria e Lexa

aplaudiram. Uma leve brisa soprou para cima, resfriando a parte de trás do pescoço de

Ariana, e ela tomou uma respiração profunda. De repente, seu coração sentia-se leve como o ar. O simples fato de tomar a decisão, alcançando a solução permanente do problema, tinha mudado completamente seu humor.

— Vai, dourada! — Ariana torceu. — Isso é muito melhor — disse Lexa, comentando sobre a brisa. — Não é mesmo? — Ariana respondeu. Ela tomou um gole de café gelado,

arrancou um pedaço do muffin e colocou na sua boca, então suspirou satisfeita. Tudo ia ficar bem. Ela estava de volta no controle.

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Traduzido por Ivana

rês vivas para Sumit Medha! — Palmer gritou, erguendo o copo de limonada.

— Hip, hip, hurra! A multidão se separou comemorando, metade das pessoas foram

cumprimentar Sumit, a outra metade se dispersou para as mesas de comida e bebida. A equipe dourada havia vencido a competição de debate, o que significava que bastava a equipe ganhar uma das competições seguintes para assegurar o seu ingresso a Casa Privilege. E com Tahira responsável pelo evento de arrecadação de fundos, todos pareciam prestes a começar a embalar suas coisas para a mudança. Ariana tomou um gole de limonada e olhou para as duas torres do Wolcott Hall. Qual quarto seria dela? Ela esperava que tivesse uma boa vista. E uma companheira de quarto muito melhor do que Allison.

— Eu não creio que ninguém mais diz hip hip hurra — ela disse a Maria quando caminhavam em direção a água. O piquenique de celebração estava sendo realizado na beira de um pequeno lago pitoresco, nos arredores do campus. Uma lagoa que estava misericordiosamente rodeada por enormes árvores que ofereciam uma sombra reconfortante.

— Oh, aqui fazem e dizem um monte de coisas que ninguém mais faz — respondeu Maria. Ela fez uma pausa e piscou. — Será que isso faz algum sentido?

— Estranhamente, sim — Ariana respondeu. Maria deu a ela um sorriso raro e forçado. Progresso. Maria jogou o copo de café gelado vazio — o seu quarto café do dia — em uma lata de lixo, e juntas elas caminharam em direção à borda da lagoa, onde Tahira estava chamando as pessoas para se ordenarem.

— Quem quiser participar da arrecadação de fundos, por favor, faça uma fila aqui — Tahira gritou em voz alta. — Eu tenho um monte de informações para vocês e nós não temos muito tempo!

— Então, Maria, o que você acha de...? — Você realmente deveria estar prestando atenção nisso — Maria disse a ela.

— Você tem que se inscrever em alguma coisa, e obviamente não vai estar na equipe de remo.

A boca de Ariana fechou. Tanto esforço para nenhum progresso. Por que Maria era tão grossa com ela? Será que ela tinha falado algo para ofender a garota? Ela mordeu a língua e voltou sua atenção para a princesa de Dubai, que estava obviamente gostando dos holofotes.

—T

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— Eu tenho o mais fabuloso evento de arrecadação de fundos planejado. Mais fabuloso do que qualquer coisa que a Semana de Boas-Vindas já viu — começou ela, movendo os olhos ao longo da multidão para garantir que todos estivessem devidamente calados e prestando atenção. — Sexta à noite, estaremos realizando um evento de gala no Museu Americano de Cultura Pop.

Houve alguns suspiros, alguns murmúrios impressionados, e um punhado de aplausos. Ariana estava devidamente impressionada. Ela se lembrou de quando tinha lido a notícia ainda dentro da Brenda T. — a abertura do fabuloso museu moderno, apoiado por alguns dos maiores diretores, atores e produtores de cinema e televisão, além de um grupo de magnatas de revistas e alguns velhos astros do rock. Estava cheio de recordações e exposições de todas as formas de cultura pop e era o lugar para realizar festas em Washington nos dias de hoje.

— Graças a Kassie Sharpe, cujo pai é o curador do museu, teremos acesso total a todas às galerias — continuou Tahira. — E graças a Micah Granger — o nosso herdeiro residente ao trono das bebidas Jagermeister...

Aqui ela fez uma pausa para as vaias e gritos previsíveis da população masculina.

— Teremos um bar aberto, abastecido com todas as melhores bebidas de todo o mundo — continuou Tahira. — Mas a principal atração será o nosso próprio Landon Jacobs! — ela anunciou, levantando os braços sobre a cabeça para aplaudir.

Landon pediu à multidão para ficar ao lado de Tahira. Ele enfiou as mãos nos bolsos de trás da calça jeans e deslizou sua longa franja da testa com uma contração de seu queixo. De alguma forma, Ariana tinha a sensação de que ele adotava essa postura com frequência.

— Eu não entendo — disse Maria, alto o suficiente para que não apenas Ariana ouvisse.

— Landon graciosamente concordou em ser a peça central da arrecadação de fundos — continuou Tahira. — Vamos realizar um leilão em que o único prêmio será um encontro com Landon para a estreia de seu filme em Nova York, First Son.

Houve uma manifestação de surpresa, alegria e aprovação. — Não tenho dúvidas de que vamos vencer — disse Rob, o namorado de

Tahira. — Não só isso, os participantes também irão pagar dez dólares por um

autógrafo ou vinte e cinco dólares para uma fotografia com o nosso pequeno astro — continuou Tahira. — A noite vai finalizar com uma performance acústica do próprio Landon.

Agora, a multidão realmente gritava. Landon corou sob o seu cabelo desgrenhado e parecia estar lutando para conter um sorriso. Aparentemente, sorrir estava fora dos padrões de uma celebridade.

— O museu já está promovendo o evento, e eles já receberam milhares de chamadas de escolas locais, grupos de crianças, e pais, perguntando como eles podem fazer para que suas filhas possam ir. Cada criança em um raio de duzentos metros irá aparecer com seus dinheiros da mesada, para não mencionar os seus pais, que provavelmente terão necessidade séria de uma bebida cara, uma vez que sejam expostos a todo tipo desmaio e gritos adolescentes.

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Todos riram. Todos, menos Maria, que colocou a mão na testa e olhou para o chão. — Oh meu Deus. Porque eles não o mergulham no ouro e o colocam em exposição também?

— O quê? — perguntou Ariana. Maria suspirou enquanto a multidão aplaudia Landon e ele levantou os braços

e sorriu, acenando com a cabeça em reconhecimento. — Nada. Ariana sentiu uma onda de nervosismo, o tipo que ela sempre sentia quando

estava diante de uma oportunidade. Ela não tinha certeza de como Maria iria responder, mas ela tinha que tentar. Ela tinha que fazer essa garota amolecer com relação a ela em algum momento.

— Maria... há algo acontecendo entre você e Landon? — Ariana sussurrou, virando as costas para a multidão em uma tentativa de ser discreta.

Os olhos de Maria brilharam com surpresa e Ariana podia jurar que aquilo era uma pontada de medo. — O quê? Não. Você está brincando comigo?

Sua reação só solidificou as suspeitas de Ariana. A mentira estava escrita por todo o rosto dela. — Desculpe, é só que... você parece ficar meio emocional quando o assunto vem à tona.

Maria riu, uma risada curta e desconfortável. — Bem, claramente a percepção não é o seu dom — disse ela alegremente. Ela olhou para Tahira e Landon, que estavam respondendo a perguntas da equipe. — Estou farta desta festa. Diga a Lexa que depois eu volto.

Então ela se virou e colocou os óculos escuros em sua cabeça sobre os olhos enquanto ela caminhava elegantemente para longe. Ariana olhou para Landon, que agora estava acenando com as mãos, tentando acalmar a multidão e adorando aquilo. Ela estava mais certa do que nunca de que havia algo acontecendo entre esses dois, mas o que era? Amor não correspondido? Um caso secreto? Ou talvez apenas um segredo compartilhado. Fosse o que fosse, ela queria saber.

— Ei — Palmer cumprimentou-a, aparecendo por trás. — Como está a minha transferida favorita?

Irritada, a frequência cardíaca de Ariana acelerou. Ela tomou um gole de limonada e, por mais que doesse, tratou de focar sua atenção em Tahira, que agora estava divulgando um e-mail, folhetos e malas diretas.

— Tudo bem. Entendi. Você não está falando comigo — disse Palmer. Ariana suspirou quando ela olhou para o relógio. Seu corpo inteiro pulsava,

graças a sua proximidade com Palmer, e ela queria queimar toda a sua pele como punição. Ela não ia ser distraída por ele nunca mais. Ela não podia. Ele era de Lexa. De Lexa, de Lexa, de Lexa.

— Também vamos precisar de muita gente para trabalhar nas mesas no evento, por isso, se você estiver interessado, fale comigo! — Tahira gritou quando a multidão começou a se distrair da conversa.

— O que eu não entendo é por que — acrescentou Palmer. Ariana olhou para ele, espantada. Ela não se conteve. — Você sabe por que —

ela disse. A testa de Palmer enrugou em preocupação. — Não. Eu realmente não sei.

Sinto muito se você entendeu mal alguma coisa aqui, mas...

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Sua expressão era de completa inocência, seus olhos implorando. Como se ele realmente quisesse ter certeza de que ela não estava chateada com alguma coisa mal interpretada. Ariana se perguntou novamente se Palmer realmente era inocente. Se ela realmente o tinha entendido mal. Mas quanto mais tempo eles ficavam ali, o rubor começava a subir em seu rosto, e ele puxou a bola de baseball do bolso para brincar com ela. Ele definitivamente se sentia culpado por alguma coisa.

— Ei, pessoal. O que está acontecendo? — Lexa perguntou, juntando-se a eles.

— Nada — Ariana respondeu automaticamente, desviando o olhar de Palmer. Seu rosto estava queimando com frustração e perguntas sem resposta, e ela queria sair de lá antes que qualquer um deles pudesse notar. — Eu acho que vou falar com Tahira sobre como trabalhar nessas mesas.

— Espere. Você não tem que fazer isso — disse Palmer. — Não se você for a timoneira na competição de remo.

— O quê? — Ariana e Lexa disseram em uníssono. — O quê? — Palmer respondeu, deslizando as mãos nos bolsos de sua

bermuda. — Você vai fazer isso, certo? O time precisa de você. Ariana piscou e olhou para Lexa. Esta era a primeira vez que ela tinha ouvido

falar sobre isso. Que jogo Palmer estava jogando exatamente? — Mas... eu pensei que eu ia ser a timoneira — disse Lexa, sua testa franzindo

levemente. — Nós conversamos sobre isso durante o verão... Palmer pegou a mão de Lexa e a apertou. — Eu sei, Lex, mas Ana é... menor. E

você viu como as outras equipes estão empenhadas? Precisamos de todas as vantagens que pudermos obter.

O rosto bonito de Lexa ficou da cor do molho marinara. Ela tirou a mão da de Palmer e colocou debaixo de seu outro braço. — Menor? O que você está tentando dizer? Você acha que eu estou gorda?

Ariana quase riu da cara de total mortificação de Palmer. — Não! Claro que não. Não — ele protestou. — Mas você também não é uma supermodelo. Ana é apenas muito mais... pequena. — Ele estendeu a mão para Lexa, mas ela se virou de lado, evitando seu contato.

— Faça como quiser — disse ela. — Se eu sou tão grande, tudo bem. Eu não quero afundar o seu barco.

— Muito legal, Palmer — Ariana se meteu na conversa. — Oh, vamos lá. Não seja assim, Lex — disse Palmer, dando um passo à frente

e envolvendo os braços em torno de Lexa. — De verdade, é só porque a Ana é bem menor.

Ele olhou para cima do ombro de Lexa para Ariana e sorriu, dizendo-lhe que ele estava apenas brincando. Ariana revirou os olhos, mas seus lábios tremeram. Ela cobriu com a mão, mas já era tarde demais. Palmer tinha visto, e agora ele estava sorrindo também. Ele se inclinou para trás, endireitou o rosto e olhou para Lexa.

— Olha, Ana tem de contribuir para a competição de alguma forma, e você realmente vai rebaixá-la a ser escrava da princesa de Dubai? — perguntou ele. — Ela vai transferi-la antes mesmo dela ter a chance de dar a ela um de seus pedicures patenteados.

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Lexa finalmente sorriu. Ela olhou para Ariana. — Eu sou uma ótima pedicure. — Ela soltou um suspiro e passou as mãos pelo peito de Palmer, um gesto que fez as próprias palmas de Ariana coçarem de vontade. — Tudo bem, tudo bem. Mas você percebe que isso significa que eu tenho que ser a escrava de Tahira no lugar dela.

— Como se Tahira fosse ousar dar ordens a você — disse Palmer com um sorriso.

— É verdade — disse Lexa alegremente. — Mas ainda assim. Vocês dois me devem.

Ariana já sabia qual seria sua próxima pesquisa mais tarde. Por que Tahira mandava em todos ao seu redor, exceto Lexa?

— Muito justo — respondeu Palmer. Ele deu um beijo em Lexa, então se virou para olhar para Ariana. — Então, você vai se encontrar com a equipe na casa de barcos amanhã às cinco. Não se atrase.

Ariana gemeu baixinho. Cinco horas. Fabuloso. Não só ela teria que estar de pé ao romper da aurora, mas ela também tinha um exame de francês às oito. Ela sabia que deveria recusar, de forma mais firme desta vez, mas bastou um olhar para os olhos de Palmer e ela não conseguia fazê-lo.

Palmer deu em Lexa um último aperto, e em seguida, afastou-se, e seu braço roçou o de Ariana, e ela sentiu uma onda de triunfo vertiginoso.

Desta vez, pelo menos, ele tinha escolhido ela.

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Traduzido por Ivana

riana não poderia ter ficado mais feliz quando viu uma flecha vermelha em sua caixa de correio naquela tarde, o que indicava que ela tinha um pacote à sua espera. Seus dedos batiam com impaciência quando o senhor idoso

atrás do balcão calmamente usava seu doce tempo para encontrá-lo, mas ela sorriu assim que recebeu uma grande caixa FedEx com um bom peso. A empregada de Briana Leigh que tinha enviado. Ali poderia haver algo que ela poderia usar para ajudá-la a “relembrar” algumas velhas histórias sobre Lexa e o Acampamento Três Estrelas. Enquanto ela saía da agência de correios, um sorriso brincou em seus lábios. Esta noite ela iria estudar todo o passado de Briana Leigh. Logo depois ela teria uma pequena missão.

Ela tinha uma velha amiga para matar. — Por que você está tão sorridente hoje? Ariana congelou. Tahira saiu de trás dela usando um conjunto de roupa de

tênis que realçava sua silhueta e uma bolsa Adidas cor de rosa em seu ombro. — Como se te importasse — disse Ariana levemente, inclinando a cabeça. Tahira riu. — Você está tão certa. Realmente não me importa. — Ela começou

a andar em frente, mas parou e olhou Ariana de cima a baixo. — Eu ouvi que você se juntou à equipe de tênis. Eu estava indo treinar acertando umas bolas da máquina, mas sempre prefiro algo vívido, uma vítima de verdade. Você gostaria de um jogo ou dois?

Por um momento, Ariana hesitou, perguntando se poderia se encaixar em tudo — uma partida de tênis, estudar para seu exame de francês, atravessar todo o campus até Dupont Circle, acabar com Kaitlynn, e voltar a tempo de estudar as lembranças de BL. Mas então ela percebeu que quanto mais tempo ela hesitasse, mais provavelmente Tahira pensaria que ela estava intimidada. O que definitivamente não era o caso.

Além disso, um pouco de exercício poderia ajudar a limpar a sua mente, para depois ela conseguir se concentrar na tarefa no Palomar Hotel.

— Por que não? — ela disse finalmente. — Ótimo. Vá pegar sua raquete e me encontre nas quadras — Tahira instruiu. Ariana hesitou. Quando ela tinha ido fazer compras para sua nova vida, ela não

tinha comprado um jogo de equipamentos esportivos, algo que ela teria que resolver agora que ela tinha dito a Lexa que era uma corredora e que se juntou à

A

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equipe de tênis. Ela olhou para Tahira, sabendo o tipo de recepção que seu anúncio teria e já temendo internamente.

— Na verdade, eu... eu ainda estou esperando a minha avó me enviar algumas coisas — ela mentiu.

A mandíbula de Tahira caiu. — Você não trouxe sua raquete? O rosto de Ariana queimou. — Eu... — Tanto faz. Você pode pedir emprestado na escola. — Tahira zombou, se

divertindo da situação, e começou a descer o caminho iluminado pelo sol em direção ao ginásio para os campos de jogos. — Isso vai ser como roubar balas de uma criança.

— Ponto para mim! — Ariana gritou por cima da rede, girando de volta para a linha de base. Ela estava vestindo shorts de malha do APH e uma camiseta branca que ela tinha comprado na excitação do momento na loja da escola, junto com um par de tênis que ela havia pego emprestado de Maria. Os sapatos, infelizmente, eram de um tamanho muito grande, o que a fez tropeçar e perder ponto mais do que uma vez.

— Oh, por favor! Essa foi para fora! — Tahira gritou de volta. Ariana se virou e olhou para Tahira, com sua mandíbula aberta. A menina tinha

que estar brincando. — Essa foi na linha! — Não, não foi! — Tahira gritou, apontando sua raquete em direção à linha

lateral onde o ataque de Ariana tinha batido. — Bateu dois centímetros para fora! — Ela se virou para olhar para Rob, que, junto com alguns outros colegas, incluindo Maria, Brigit, Soomie e Lexa, tinham aparecido no início do segundo set para assistir aos procedimentos. — Baby, aquele bola não estava totalmente fora?

Rob, parecendo um artefato em sua camisa polo rosa com um lado da gola virada para cima, engoliu em seco e olhou para Ariana. Sua hesitação falou por si só. Ariana riu. — Está vendo? Meu ponto.

Tahira soltou um grito frustrado. — Não, espere! — Rob disse. — Eu não disse que... — Esqueça! Ótimo! — Tahira disse, indo até a linha de base. — Tanto faz. Seu

ponto. — É bom que você tenha um bom espírito esportivo — Ariana atirou de volta,

ganhando algumas risadas da pequena multidão nas arquibancadas. Brigit riu mais alto.

A mandíbula de Tahira apertou e ela manteve o olhar grudado em Ariana, recusando-se a olhar os espectadores. Ela mudou sua postura, dobrando a cintura e balançando de lado a lado.

— Apenas saque — ela retrucou. Ariana sorriu para a impaciência de Tahira, então decidiu provocá-la. Ela bateu

a bola algumas vezes, correu no lugar, fingindo estar ponderando seu próximo passo. Realmente ela estava maravilhada com o fato de que este jogo tinha sido até agora uma moleza. Tahira era uma boa jogadora, mas não era ótima. Ela tinha tomado o primeiro set, mas Ariana estava bem em seu caminho para tomar o segundo. E ela não jogava tênis há uns bons três anos. Bem, com exceção de um jogo contra Briana Leigh em Houston, mas aquilo tinha sido insignificante, tinha sido mais fácil do que tirar doce de criança.

Mesmo assim, no final, ela tinha deixado Briana Leigh ganhar.

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O que ela só tinha feito porque, na época, ela tinha certeza que Briana Leigh era uma assassina — uma assassina cuja ira ela não queria incitar apenas por causa de uma partida de tênis. No final nada daquilo era verdade. Kaitlynn era a assassina. Briana Leigh não tinha sido nada além de uma órfã inocente.

E eu a matei. Eu a matei porque Kaitlynn me envenenou contra ela. De repente, Ariana viu o rosto de Briana Leigh. Seu sorriso feliz naquele dia,

enquanto elas jogavam. Levantando os braços cada vez que ganhava um ponto. A dancinha que ela fez quando o jogo acabou.

E então o rosto inchado no dia em que a puxaram do lago. Seu cabelo emaranhado de lama, sujeira e folhas. Sua forma enquanto eles ergueram seu corpo sobre o barco.

A bola quicou. Os dedos de Ariana fecharam em torno dela e a apertou. — Oh meu Deus, deixe de enrolação! Jogue a maldita bola! Ariana pigarreou. O sol estava se pondo atrás de Tahira, deixando-a na sombra

e cegando Ariana. Ela sentia-se quente. Quente, doente e tonta. Pare com isso. Pare de pensar sobre isso. — Você consegue, Ana! — Lexa aplaudiu. Ariana jogou a bola no ar e sacou. Ele bateu no centro da quadra e se arqueou

lentamente em direção a sua oponente. Tahira bateu de volta por cima da rede tão rápido que Ariana não teve chance.

— Isso! — Tahira gritou. Isso se seguiu de um punhado de aplausos da multidão.

Ariana virou-se e caminhou até a cerca para pegar outra bola. Sua visão estava embaçada quando ela olhou para seus pés, os tênis amarelos e brancos contra a grama verde. Em sua mente, ela podia ouvir Briana Leigh aplaudindo seus próprios pontos. Rindo com sua vitória. Dizendo que iria jogar novamente. Ela daria a Ariana outra chance.

— Você pode fazer isso, Ana! — Brigit aplaudia. Ariana se abaixou para pegar uma bola e teve que se apoiar na rede para não

desmaiar. Morta. Morta. Morta por causa de mim. — O que você está fazendo? Fingindo que está se sentindo mal? — Tahira

zombou dela. — Você não vai sair dessa facilmente. Ariana respirou. Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Inspira, um... dois... três... Ela pegou a bola e se levantou, tentando não deixar a provocação de Tahira

afetá-la. Tentando usar isso de alguma forma. Tentando deixá-la com raiva. Ela se virou e olhou para sua inimiga.

— Vamos lá, menina transferida! Saque! — Tahira disse. Ariana caminhou até a linha de base. Ela poderia fazer isso. Irritar esta menina

seria tão divertido. Era a razão pela qual ela tinha aceitado este desafio, em primeiro lugar. Para ficar relaxada. Se focar. Espairecer a cabeça para o que ela tinha que fazer esta noite.

Esta noite ela iria vingar a morte de Briana Leigh. Esta noite ela iria garantir seu próprio futuro.

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Ela jogou a bola no ar e sacou. Um saque longo. Tahira riu e jogou a bola de volta para ela.

— Por favor, por favor, falta dupla! Eu vou ganhar este jogo! — Tahira cantou. Não farei falta dupla. Não farei falta dupla. Não farei falta dupla. Ariana sacou de novo. Falta dupla. Os amigos de Tahira riram e aplaudiram

quando Tahira jogou a raquete no ar e a pegou. — Meu saque — disse ela. — Aqui é quando você perde. Ariana sentiu a disputa sendo drenada dela. Sua confiança se foi, o medo e a

dúvida tomaram seu lugar. Ela desejou nunca ter dito sim para este jogo. Desejou poder rebobinar o seu dia a esse momento na quadra e simplesmente dizer não. Porque a última coisa que ela precisava neste dia em particular era sofrer a derrota humilhante que ela estava prestes a passar.

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Traduzido por Lua Moreira

riana ainda estava sentindo a dor da sua perda enquanto caminhava através do moderno lobby do Hotel Palomar naquela noite. O local moderno estava movimentado mesmo que fosse meia-noite, com festeiros de vinte e

poucos anos tendo acabado de voltar de alguma festa ou outra, todos bêbados, confusos e barulhentos. Ariana tinha vestido um par de calças pretas justas e uma blusa cinza até o pescoço combinando, o cabelo puxado para trás em um coque baixo, e zero de maquiagem em seu rosto. Quando ela se aproximou da longa fila na recepção do hotel, ela disse a si mesma para manter a calma. Se ela se permitisse ficar impaciente, se ela reclamasse de alguma forma, tudo o que ela iria fazer era tornar mais fácil se lembrar disso mais tarde, quando a polícia começasse a fazer perguntas. Ela não podia fazer isso. Ela não podia deixar tudo desmoronar apenas por causa de alguma partida de tênis estúpida.

Ela derrubaria Tahira, mais cedo ou mais tarde. Isso era certo. Tudo o que ela tinha a fazer era manter o foco nesse fato e ela ficaria bem.

Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Esta não era a situação perfeita. Em todos os sentidos. Amanhã de manhã

alguns empregados iriam encontrar o cadáver da fugitiva Kaitlynn Nottingham em um quarto de hotel reservado sob o nome de Briana Leigh Covington. Ela com certeza iria ser interrogada. Alguém podia até se lembrar de ter visto ela no lobby nesta noite. Os riscos eram enormes. Mas eram os riscos que ela tinha de enfrentar. Kaitlynn havia ameaçado sua própria existência, então Kaitlynn tinha que morrer.

Ariana mordeu a língua quando um veterano de uns vinte e poucos anos embriagado quase bateu nela. Ela desviou dele sem dizer uma palavra e continuou andando, dizendo a si mesma que a multidão era realmente uma coisa boa. Faria com que as fitas de segurança fossem mais difíceis de peneirar. Quando ela finalmente chegou à frente da fila, Ariana sorriu de uma forma superficial para o homem atrás do balcão.

— Eu sou Briana Leigh Covington. Eu perdi a chave do meu quarto e eu gostaria de outra, por favor.

Quando a polícia chegasse ao Atherton-Pryce Hall, ela iria dizer-lhes que nunca tinha ido ao Palomar. Ficaria claro que Kaitlynn tinha usado o nome dela e roubado seu número de cartão de crédito — a garota sempre foi obcecada por ela. Todo

A

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mundo sabia disso. Foi documentado em cada artigo de jornal que tinha sido escrito sobre o assassinato do pai de Briana Leigh.

O recepcionista bateu em algumas teclas em seu computador sem dar uma palavra. Em seguida, ele estudou a tela por um momento, e sorriu. — Claro, senhorita Covington. Quarto quinhentos e trinta e dois. — Ele pegou um cartão-chave e o entregou, passando para a próxima tarefa antes que Ariana sequer o tirasse de seus dedos. Ela sorriu para si mesma, e se afastou da mesa. Passando despercebida. Exatamente do jeito que ela queria.

Sabendo que sempre havia câmeras de segurança instaladas nos elevadores do hotel, Ariana optou pelas escadas. Ela subiu lentamente, deliberadamente, para o quinto andar, tomando cuidado para não ficar sem fôlego. Não era nada como quando ela tinha estado na quadra de tênis. Ofegante, com calor e suada. Ela sentia um gosto amargo na boca só de pensar nas últimas jogadas, e no que acabou por ser o final da partida. Os saques zunindo por ela, o voleio que terminou com Ariana estendida no chão, mergulhando por uma bola que ela nunca poderia ter alcançado. Tahira e sua equipe iam julgá-la impiedosamente amanhã. Maldita Briana Leigh. Maldita Kaitlynn. Ariana sabia que ela poderia ter derrotado a menina. Ela tinha certeza disso.

Até que ela chegasse do lado de fora da porta do quarto 532 Ariana não percebeu que não tinha pensado nenhuma vez sobre o que ela faria aqui. Não desde que ela deixou o lobby, de qualquer maneira. Ela fez uma pausa e abanou a cabeça, banindo todos os pensamentos de Tahira e seu triunfante rosto presunçoso. Era hora de se concentrar. Isso não era apenas uma pequena missão que estava prestes a ser executada. O que acontecesse do outro lado desta porta ia determinar o curso de todo o seu futuro.

A respiração de Ariana travou e ela fechou os dedos em punhos, com a mão direita fechando em torno das bordas da chave plana.

Você pode fazer isso. Apenas acabe com isso. Acabe logo com isso e você estará livre.

Mas não estrague tudo, ou você está morta. Ariana fechou os olhos e respirou. Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Ela abriu os olhos e estava pronta. A ranhura da chave fez um som de bip

quando a porta destravou. Ariana fez uma careta. Felizmente, Kaitlynn sempre foi uma pessoa que dormia profundamente quando estava na Brenda T. A menos que também tivesse sido uma encenação. Ainda assim, era melhor prevenir do que remediar. Ariana segurou a maçaneta de metal frio da porta e abriu-a tão silenciosamente quanto fosse possível para um ser humano.

O quarto estava escuro, exceto por um pequeno feixe de luz que vinha através de uma fenda nas cortinas blackout. Ariana sentiu um arrepio de excitação diante de sua sorte. Kaitlynn não tinha decidido ficar para assistir um filme pay-per-view ou outro. Ela estava dormindo. Ariana estava esperando por isso. Isso tornaria a coisa toda muito mais fácil. Com menos luta. Menos bagunça. Menos chance de ser pega no ato.

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Enquanto os olhos de Ariana ajustavam-se à luz fraca, ela viu que a porta do armário estava aberta. Outro golpe de sorte. Ela pegou um dos travesseiros extras da prateleira de cima e agarrou com as duas mãos. Seu coração começou a bater forte e ela sentiu gotas de suor surgindo ao longo da linha do seu cabelo e acima de seu lábio superior.

Ariana saboreou sua adrenalina. Ela precisaria disso para ajudá-la a dominar Kaitlynn, que era um pouco maior e provavelmente mais forte do que ela. Se ela pudesse aproveitar a raiva dela, isso tudo poderia acabar em questão de minutos. Tudo o que ela tinha a fazer era ficar forte e manter o foco durante esse tempo. Em seguida, ela estaria livre.

Na ponta dos pés, sempre muito cuidadosamente, Ariana se aproximou da cama. Ela podia ver o contorno da forma adormecida de Kaitlynn, virada de lado, longe da porta. De repente, Ariana começou a sentir-se tonta, e ela percebeu que ela não tinha ideia de quanto tempo tinha se passado desde que ela tinha parado de respirar.

Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Muito melhor. Ela estava bem ao lado da cama agora. A meros centímetros de

Kaitlynn. Seus dedos agarraram o travesseiro ainda mais apertado. Basta pensar na liberdade. Faça isso e ninguém poderá tocar em você. Ela respirou fundo, segurou-o, e se lançou. O travesseiro estava a cerca de um

centímetro da cabeça de Kaitlynn quando de repente algo rodeou o pescoço de Ariana por trás e puxou-a para trás. Ariana tentou gritar de surpresa, mas sua laringe estava esmagada e tudo o que saiu foi uma asfixia estrangulada. O travesseiro foi arrancado de suas mãos, enquanto seus pés deixaram o chão e chutaram, em pânico, derrubando a lâmpada de cabeceira com um estrondo. Ainda assim, a pressão sobre a garganta apenas se intensificou. Ela não conseguia respirar. Não conseguia falar. Não conseguia gritar por socorro. Ariana se agarrou à sua garganta e percebeu que havia um braço apertado ao redor do seu pescoço como uma rosca de parafuso. Ela tentou erguê-lo para se soltar, mas tudo o que ela conseguiu fazer foi agarrá-lo em vão. Sua visão começou a diluir mais e ela percebeu que estava prestes a desmaiar. Em seguida, ela foi arremessada ao chão, e o lado de sua cabeça colidiu com o canto da cômoda.

Uma dor irradiou através de seu corpo enquanto Ariana soltava o fôlego de quatro no chão. O travesseiro em que ela colocou tanta fé foi jogado em sua cabeça e rebateu, caindo no chão. As luzes acenderam em cima, temporariamente cegando-a.

— Boa tentativa, Ariana — disse Kaitlynn. — Mas você não vai se livrar de mim tão facilmente.

O cérebro de Ariana lutava pela lógica enquanto ela tossia dolorosamente no tapete violeta. Ela puxou uma respiração pelo nariz e se sentou sobre os joelhos. Kaitlynn pairava sobre ela, completamente vestida em seu estilo garota-punk. Ariana olhou para a cama, esticando seus músculos do pescoço. Debaixo dos lençóis havia uma boneca de pelúcia em tamanho real. Se houvesse mais um pingo de luz no quarto, Ariana teria percebido isso. Kaitlynn tinha enganado ela. Mais uma vez.

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— Você pode ser mais esperta do que eu pensava, mas você não é mais esperta do que eu — disse Kaitlynn, sentando-se no canto do colchão e dando tapinhas nas costas de Ariana como um cão. — Bem pensado colocar o quarto em seu nome para que você possa obter a chave, no entanto. Você pensa no futuro, eu tenho que admitir.

Ariana sentou na bunda e, finalmente, teve o controle de sua respiração. Ela colocou as mãos em cada lado da cabeça, segurando seu couro cabeludo. Cada centímetro dela, salvo a garganta queimando, estava entorpecido. Ela tinha falhado. Simples assim. Há dois minutos toda a sua vida era um livro infinito e aberto, apenas esperando para ser escrito. Tudo o que ela tinha a fazer era completar esta missão. Mas ela tinha sido descuidada. Tinha pensado que ela era sortuda. Tinha se acomodado. E agora, tudo acabou.

— Então o que você vai fazer? — ela perguntou, olhando para os sapatos horríveis de Kaitlynn. — Me matar?

Kaitlynn soltou uma risada profunda e gutural. — Eu mato você e eu não ganho nada — disse ela. — Não, não, não. Vou mantê-la por perto, Ariana. Tínhamos um acordo e você vai fazer bem a sua parte. — Ela se abaixou, pegou Ariana em torno de seu braço, e arrancou-a do chão. Ariana nunca se sentiu tão derrotada. Tão humilhada. Tão estúpida, perdida e sozinha. Kaitlynn abriu a porta com a mão livre, em seguida, empurrou Ariana para o corredor iluminado. Se Ariana tivesse guardado um pouco de autoestima por si mesma, de esperança, de orgulho, ela poderia ter resistido, se esforçado ou revidado. Mas ela ficou quieta. Kaitlynn estava na porta de seu quarto de hotel elegante, olhando Ariana de cima a baixo, e zombou com ironia. — Agora deixe-me soletrar para você em termos que você vai entender. Me traga. Meu maldito. Dinheiro. Você tem até sexta-feira. — Em seguida, ela deixou a porta pesada bater diante do rosto de Ariana.

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Traduzido por Ivana

s seis horas do dia seguinte, depois de uma noite agitada olhando para o teto, o humor de Ariana tinha milagrosamente melhorado. Ela sentia-se muito mais positiva. Muito mais ela mesma. Era toda a gritaria sancionada,

ela tinha certeza. E o ar fresco. Além disso, olhar para Palmer sem camisa pela última meia hora pode ter tido

algo a ver com isso. — Puxem! — Ariana gritou, segurando as alças de cada lado de seu assento

plano com as duas mãos. — Puxem! Empurrem e puxem! Palmer soltou um grunhido de esforço enquanto ele trabalhava em seus

remos. O vento soprava seu cabelo escuro para frente, formando uma espécie de falsa franja abaixo do centro da sua cabeça, e seu rosto estava corado do esforço do treino. Ariana viu um pequeno fio de suor escorrendo para baixo de seu peito perfeitamente liso, entre seus peitorais bem definidos. Ela continuou a gritar, enquanto observava o fio de suor descendo cada vez mais baixo. Quando ele chegou à cintura de suas calças de moletom, ela desviou o olhar com o rosto ardendo. Ela olhou acima dele para Adam — que estava mais pálido, mais magro e menos atraente — e gritou ainda mais alto.

— Puxem! Que tipo de fracotes vocês são? Puxem! O comentário ganhou algumas risadas dos garotos. Palmer perdeu a

concentração por um momento para olhar para ela e sorrir. Então eles remaram mais e o barco avançou para frente. Até mesmo Landon, que era quase tão magro quanto Adam, resmungou enquanto se esforçava. Ariana ficou impressionada. Ela pensava que uma celebridade mimada como ele iria ser avesso ao trabalho duro. Mas como ela tinha aprendido na Brenda T., as pessoas eram muitas vezes surpreendentes.

À medida que o barco deu uma guinada para frente, Ariana pensou em sua vida e sorriu. Talvez ela fosse boa nisso. Talvez Palmer tivesse tomado a decisão certa quando ele trocou Lexa por ela. De qualquer forma, Ariana não podia pensar em algo tão doce enquanto tinha que alcançar uma voz firme e adequada para motivar os outros. Mas Ariana tinha aquela voz dentro dela. Da adrenalina e da raiva reprimida. Era bom colocar tudo para fora de uma boa maneira.

À medida que o barco navegava pelas zonas baixas do ancoradouro do APH na beira do rio, decorado com bandeiras azuis, cinzas e douradas, além do emblema do APH, Ariana fechou os olhos por um momento, apenas sentindo o momento. Só

À

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para absorver o que a rodeava. A brisa quente contra seu rosto, o cheiro salgado e fresco do rio, os pássaros grasnando em cima. De repente, uma voz em sua mente falou do nada.

Vai ficar tudo bem, ela disse a si mesma Kaitlynn lhe deu até sexta-feira. Isso significa que você tem três dias para resolver isso, e você vai. Você sempre resolve.

Quando ela abriu os olhos novamente, Palmer estava olhando diretamente para ela com desejo evidente em seus olhos. Ela sentiu a força do seu olhar bem fundo dentro dela e, por um momento, se permitiu se alegrar por isso, saboreando a emoção de ter razão. Ele a queria. Um garoto lindo, sexy e inalcançável estava, obviamente, atraído por ela. Era a melhor sensação do mundo.

Mas ele tinha uma namorada. O que o tornava mais sujo do que a parte inferior daquele barco, apenas pelo fato de ele olhá-la daquela maneira.

Controle-se, Ariana. Controle-se. Mas ela realmente não queria.

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Traduzido por Ivana

som jubiloso de vozes e risadas dos garotos enchia a casa de barcos com todo mundo comemorando a primeira prática produtiva. As paredes de cedro brilhavam com uma nova camada de goma-laca, e os barcos das

equipes parados ao longo das paredes foram encerados para ficar com brilho. Os garotos tinham jogado suas coisas — mochilas, shorts, camisetas, camisas e tênis — ao longo das bancadas ao longo do centro da sala, criando uma impressão de desordem despreocupada. Ariana teria gostado de demorar-se no canto por um tempo e desfrutar da camaradagem, dos garotos sem camisa e da atmosfera cheia de testosterona, mas ela tinha um exame para fazer em quinze minutos. Quando os garotos pegaram suas roupas e toalhas dos ganchos na parte de trás da sala e seguiram a caminho dos chuveiros, Ariana pegou sua mochila, passou sobre a cabeça e tratou de tentar ir embora.

Infelizmente, no meio da porta, ela deu de cara com Palmer. — Indo tão cedo? — ele perguntou, arqueando as sobrancelhas. De alguma forma, ele já tinha tomado banho, e seus ombros estavam

pontilhados com pequenas gotas de água. Seus braços estavam enfiados nas mangas da sua camiseta, que ele passou pela cabeça enquanto passava por ela. Ariana ficou sem fôlego quando notou os vários pontos na camisa cinza de algodão que se agarrava ao seu corpo.

Controle, Ariana. Controle. — Eu tenho que ir — disse ela. — Segundo café da manhã? — ele perguntou enquanto os outros esvaziavam

a sala em direção ao banho. Ele jogou a toalha em sua mochila do APH, que estava em um banco na frente de uma parede de armários. Em seguida, ele deslizou a sua braçadeira dourada em seu braço, onde ele apertou sobre seu bíceps. — Eu vou com você.

— Eu prefiro que não — disse Ariana laconicamente. Não havia razão para dizer-lhe que ela não estava voltando ao refeitório. Não havia razão para compartilhar algo mais com ele do que ela já havia compartilhado. Ela não podia dar-lhe mais um centímetro. Se ela o fizesse, poderia ser perigoso.

Palmer piscou quando ele levantou a mochila pesada em seu ombro. — Ok, eu tenho que perguntar... eu fiz algo para ofendê-la?

Ariana simplesmente olhou para ele. Saindo do banho, alguns caras riam e gritavam. Risos enchiam o ar.

O

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— Você pode parar de se fazer de bobo. Você não é inocente — disse ela, cruzando os braços sobre o peito.

— Fazer de bobo? — Palmer disse, agarrando a alça da sua mochila, com ambas as mãos.

Ariana zombou. — Você sabe que você estava prestes a me beijar na outra noite. Você me seduziu.

Palmer riu, inclinando a cabeça ligeiramente para trás. — Te seduzi? Eu te conhecia há apenas um dia.

O rosto de Ariana ardeu de constrangimento, mas ela disse a si mesma para não se deixar abalar. Ela estava certa. Ela sabia que ela estava certa. — Sim. E você me seduziu em um dia. — O sorriso de Palmer diminuiu ligeiramente. Ariana caminhou em direção a ele. — Se Lexa não tivesse aparecido naquele momento, você teria me beijado. Apenas admita.

Ele respirou fundo e suspirou, estudando-a por um longo momento. Ariana poderia ter morrido com a tensão de querer tocá-lo. Ela queria apenas afundar em seu peito e envolver-se em seus braços. Então, finalmente, ele falou. — Eu não posso.

Ela piscou, desviando seu olhar longe de seus braços e olhando em seus olhos. — Não pode, porque não é verdade, ou porque você tem uma namorada?

— Um pouco de ambos? — ele disse com um sorriso irritantemente cativante. — Que diabos isso quer dizer? — perguntou Ariana. — Nada — disse ele, desviando os olhos. Ele ajustou a alça de sua mochila e

começou a passar por ela, evitando o olhar dela. — Esqueça o que eu disse. — Não — disse Ariana, com o coração batendo forte. Palmer fez uma pausa e

colocou as mãos em cada lado da porta, apoiando-se nela. Ele inclinou a cabeça para frente e gemeu, um ruído que enviou uma corrente de nervosismo por Ariana. — Na outra noite, você disse... você deu a entender que você era todo à favor da justiça, certo?

Palmer, ainda de costas para ela, bufou. — Certo. — Então, você realmente acha que é justo dizer algo assim para mim e, em

seguida, não explicar? Não me dizer a verdade? — Ariana perguntou, cruzando os braços sobre o peito.

— Não. Acho que não. — Ele endireitou-se e virou-se para encará-la. Havia um conflito evidente em seus olhos lindos. Um conflito que lhe deu esperança. — Então, aqui está a verdade. Eu adoro Lexa. Estou com ela há um bom tempo e eu a amo. Sinto muito se isso dói ou o que seja, mas eu amo Lexa.

O coração de Ariana enrugou como uma uva passa no sol. — Mas... E foi assim que isso se expandiu novamente. — Mas? — ela repetiu, esperançosa. — Mas é complicado. Eu estou sendo totalmente honesto, naquela noite...

talvez eu esqueci por um segundo que eu estava apaixonado por ela — disse Palmer. — Só por um segundo.

Ariana olhou para ele. Será que ele tinha alguma ideia do quão terrível ela se sentiu? Ele alimentou a esperança dela o tempo todo, para então arrancar isso dela de uma vez.

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— Eu gosto de você, Ana. Você é... diferente das outras meninas que eu conheço. Mas eu só... Eu não posso — disse ele. — Eu espero que você entenda.

Ariana engoliu em seco. Ela não seria a vítima aqui. Não ia deixá-lo ver as centenas de terríveis emoções que ele havia inspirado nela. Ela seria uma pessoa superior e colocaria um fim nisso, aqui e agora. Para seu próprio bem. Pelo bem dele. E pelo de Lexa.

— Eu entendo — ela disse em uma voz clara, sem afetação. — Eu entendo completamente.

— Ótimo. — O seu alívio era evidente. — Então... estamos bem então. Nós somos amigos.

— Sim — disse Ariana com um aceno. — Nós somos amigos. — Ótimo. Então eu te vejo no piquenique mais tarde, timoneira — ele disse,

afastando-se dela. — Bom treinamento. — Bom treinamento — Ariana repetiu. Então, ele sorriu para ela uma última vez e saiu. Os joelhos de Ariana estavam

tão abalados com o encontro que ela teve que se sentar. Ela recuou, deixou-se cair sobre o banco de madeira na frente dos armários, e colocou a cabeça entre as mãos.

Isso é uma coisa boa, ela disse a si mesma. Pelo menos agora tudo está claro. Além disso, ela não poderia sair por aí e permitir que ele a visse da maneira

como ela estava agora. Ela também não queria ser a garota que flertou com o namorado da sua melhor amiga pelas costas. Ela queria fazer as coisas funcionarem com Lexa e suas amigas. E estremecer o relacionamento de Lexa com Palmer não era a maneira de fazer isso acontecer.

Ariana respirou fundo e olhou para o relógio. Merda. Ela tinha dez minutos para subir a colina e toda a extensão do campus. Ela estava prestes a levantar-se e sair correndo, quando algo chamou sua atenção. Um dos rapazes havia deixado o relógio em cima de sua bolsa de ginástica. Ariana inclinou para olhar e seu coração parou. Era um Rolex de platina. Valia pelo menos 250 mil dólares.

Duzentos e cinquenta mil dólares, Ariana pensou, e as palmas das suas mãos começaram a coçar. Com esse relógio, ela pagaria um quarto do que Kaitlynn estava pedindo. Seria possível...? Será que ela realmente poderia levantar o dinheiro através de pequenos furtos? A ideia nunca lhe tinha ocorrido até agora, mas muitos dos adolescentes mais ricos do mundo estudavam no APH. Ela não tinha muito tempo, mas ela poderia simplesmente roubar algumas coisas...

Talvez ela pudesse se livrar de Kaitlynn, afinal. O pulso de Ariana começou a acelerar, estimulada pela adrenalina e uma

pontada de emoção. De quem será que era? E que tipo de pessoa deixava um relógio de duzentos e

cinquenta mil dólares jogado em um lugar público? O tipo de pessoa irresponsável que praticamente merecia ter o relógio roubado. Não, não praticamente. Ele merecia.

Ariana ouviu um estrondo no banheiro, seguido de mais risadas, e pegou o relógio. Ela o colocou no bolso de dentro de sua bolsa que parecia exatamente feito sob medida para o relógio.

— Ei. O que você está fazendo?

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Ariana se virou, com o coração na garganta, olhando para a parede em direção ao remo mais próximo caso ela precisasse. Landon estava caminhando lentamente pela sala, com uma camiseta branca grudada em seu peito enquanto secava seu cabelo com uma toalha felpuda. O que ele viu? E por que tinha que ser justo ele? As pessoas iriam perceber imediatamente quando o Sr. Mundialmente Famoso desaparecesse.

— Nada — disse Ariana casualmente, levantando os ombros. Ela começou a passar por ele, em direção à porta. — É melhor eu ir.

Landon deu um passo para trás e para o lado, bloqueando seu caminho. — Espera.

Todo o potencial futuro de Ariana passou diante de seus olhos. Ele tinha visto o relógio em seu bolso. Ele iria contar. Ou ameaçá-la. Ou chantageá-la. Como ela podia ter sido tão descuidada? Ela ia ser expulsa de Atherton-Pryce antes que ela tivesse a chance de frequentar uma aula.

— Eu conheço garotas como você — disse ele, olhando para ela com um sorriso.

— O quê? — perguntou Ariana. Suas palavras não eram calculadas. Quando ele ia começar a acusá-la?

— Você acha que é melhor do que eu, certo? Melhor do que a minha música? É por isso que você fingiu que não sabia quem eu era na loja da escola — disse ele, jogando a toalha sobre o banco mais próximo. — O fato de eu ser do mundo pop não me transforma em um merda, sabe. Você nunca escutou nada meu?

Ariana encheu os pulmões de ar, enchendo seu corpo com um doce alívio. Ele não tinha visto ela roubar o relógio. Seu ego era tão grande que ele provavelmente não conseguia ver nada além de si mesmo.

— Não. Nunca escutei nada — ela respondeu friamente. — Eu imaginei. Posso detectar uma esnobe musical há uma milha de distância

— disse ele, puxando seus colares de corda debaixo de sua camisa. — Eu vou lhe enviar alguns mp3s. Pelo menos ouça as minhas músicas antes de me julgar.

— Tudo bem. Eu vou fazer isso — disse Ariana, evitando –o. — Você pode pegar o meu e-mail com Soomie. Ou Maria — ela acrescentou enfaticamente, o que o fez corar. — Quem você encontrar primeiro.

Em seguida, ela saiu da casa de barcos o mais lenta e deliberadamente possível, mesmo que isso significasse estar atrasada para seu teste. Ela não podia arriscar que ele ou qualquer outra pessoa a visse subindo correndo os degraus de pedra cortados na colina.

Só os culpados correm.

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Traduzido por Ivana

aquela tarde haveria um piquenique acadêmico no grande gramado, o que significava que os professores estariam no campus pela primeira vez para se misturar com os alunos. Haviam mesas de buffet cheias de comidas e

bebidas, dezenas de mesas de piquenique pontilhando a grama, bandeiras coloridas e mesas de inscrição para vários clubes e organizações, cada um dos quais era orientado por um membro do corpo docente. Ariana se inscreveu para a revista literária do APH. Ela sempre gostou de trabalhar na revista literária de Easton, mas o mais importante, a assinatura dela provaria que ela tinha estado lá. Depois disso, ela rapidamente fugiu da festa. Com centenas de pessoas circulando no mesmo lugar, era a oportunidade perfeita para passar despercebida. Ela correu de volta para seu dormitório, pegou as luvas de couro de sua gaveta, e começou sua vida de ladra.

Assim como na Academia Easton, não havia bloqueios nas fechaduras de qualquer um dos quartos do dormitório, por isso era além de fácil entrar e sair. Em poucos minutos, Ariana reuniu várias bugigangas e quinquilharias, incluindo algumas pulseiras de diamantes, um colar de rubi e vários iPods. Mas quando ela voltou para seu quarto e colocou tudo junto com o relógio Rolex, ela percebeu que o total geral de todos os itens ainda não chegava perto de um milhão de dólares que era o que ela “devia” à Kaitlynn. Se ela pudesse colocar as mãos no diamante rosa de Tahira ou em algumas das joias da coroa de Brigit, sem dúvida teria ajudado muito. Mas Ariana tinha o pressentimento de que as coisas iriam ser dadas como desaparecidas — e que os guardas reais seriam enviados para encontrá-las. Ela escondeu seus bens roubados na parte de trás de sua gaveta da mesa, cobrindo-os com seus cadernos, e sentou-se na cama para pensar.

Dois segundos depois, seu celular tocou. Ela o pegou e verificou a tela. Era uma mensagem de Kaitlynn:

3 dias contados! espero que vc tenha um bom plano, BL!

A mandíbula de Ariana apertou e ela fechou o celular, em seguida, abriu-o

novamente. Sua primeira e única opção continuava pairando no fundo de sua mente, desde seu encontro com Kaitlynn na lanchonete. Ela buscou na lista de contatos no telefone pelo que marcava a palavra “casa”.

N

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Vovó Covington. A mulher tinha acesso ao dinheiro de verdade. E Briana Leigh era sua única neta, seu único parente vivo. O mínimo que Ariana poderia fazer era pedir. Perguntar não machucava, certo?

Ela olhou para o celular. A própria ideia de ligar para vovó C. e imitar a voz de Briana Leigh fez sua alma parecer cinza. Mas ela precisava do dinheiro para sobreviver, e ela precisava dele rápido.

Quanto mais cedo ela fizesse aquela ligação, mais cedo ela acabaria com isso. Ariana apertou o botão de discagem rápida. A assistente da vovó Covington

atendeu no primeiro toque. Ela nem sequer hesitou quando Ariana disse que era Briana Leigh falando. Uma pessoa enganada, e uma pessoa muito perspicaz, por sinal. Ariana prendeu a respiração enquanto esperava a avó Covington atender o telefone.

— Bem, Briana Leigh, já passou mais de três semanas — disse ela por meio de saudação. — Eu estava começando a pensar que você estava morta.

Ariana congelou. A ironia da brincadeira, a ironia mórbida daquela piada, era tão grande que sua mente ficou completamente em branco. O que ela estava fazendo? Para quem ela estava ligando? Por que, mesmo?

Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... — Olá? Tem alguém aí? Ariana fechou os olhos. Respirou. Abriu os olhos. Falou. — Desculpe, vovó — disse ela com o forte sotaque texano de Briana Leigh. —

Tenho estado tão ocupada acertando as coisas por aqui, comprando meus livros e tudo mais. E eu estou retomando meus exames de admissão. Tentando entrar em algumas classes mais difíceis. Então tudo isso tem tomado muito do meu tempo.

A frequência cardíaca de Ariana desacelerou mais perto do normal, com cada palavra dita. Foi um golpe de gênio mencionar tudo isso. Certamente a avó C. iria notar a mudança no seu cronograma quando ela começasse a receber os relatórios do progresso de Briana Leigh. E, certamente, retomar os exames para entrar em aulas mais difíceis iria fazê-la ganhar alguns pontinhos extras.

— Bem, eu não sabia que você estava tão cheia de iniciativa — disse a avó Covington cautelosamente.

— Eu estou virando uma nova página aqui, vovó — disse Ariana, ouvindo o doce som de bajulações no fundo de sua mente. — Não é difícil em um lugar como este. Aqui a gente fica com vontade de aprender.

— Interessante — disse Vovó Covington. — Contanto que você fique fora de problemas. Isso é tudo o que me interessa.

Me dê um milhão de dólares e eu ficarei longe de problemas, Ariana pensou. — Oh, definitivamente. Você não tem que se preocupar com isso.

— Ótimo. — Houve uma pausa. — Bem, você vai me dizer a razão para esta ligação ou eu deveria acreditar que você está ligando apenas para saber como eu estou? Porque eu acho que isso é altamente improvável.

Ariana riu, imitando a risadinha de Briana Leigh perfeitamente. — Na verdade, estou ligando por causa de uma arrecadação de fundos que

estamos tendo — disse Ariana, agarrando a colcha da cama com sua mão livre. — Há uma competição aqui durante a Semana de Boas-Vindas e, bem, é uma longa história, mas a equipe vencedora consegue um monte de regalias para o resto do

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ano. Enfim, uma das competições é uma arrecadação de fundos para a Cruz Vermelha, e a equipe que conseguir mais dinheiro ganha o evento, por isso...

— Então você está me ligando por dinheiro — disse Vovó Covington categoricamente.

— Sim. — Ariana não encontrou razão para aprofundar o assunto. Ela deixou por isso mesmo.

— Quanto dinheiro? Ariana fechou os olhos, cruzou os dedos, e prendeu a respiração. — Um

milhão. O riso foi uma surpresa. Ariana não sabia que a avó Covington era capaz de rir. — E eu pensei que você tinha mudado — disse Vovó Covington acerbamente. — O que a senhora... — Você não disse que é uma arrecadação de fundos? — perguntou a mulher.

— Eu imagino que eles esperam que você realmente trabalhe um pouco para levantar os fundos, e não que telefone para seus parentes mendigando.

Os dedos de Ariana cravaram na colcha e se retorceram. Mendigando? Ela estava implorando por sua vida, não apenas pelo dinheiro. E um milhão de dólares era uma gota no oceano para esta mulher. Ela estava realmente se negando?

— Isso não é o que estou fazendo, vovó — disse Ariana, tentando controlar o tremor em sua voz irada. — Eu só estou tentando...

— Você está tentando tomar o caminho mais fácil, como de costume — disse Vovó Covington. — Por que você simplesmente não entrega seu cheque semanal de subsídio? Por que você não dá o seu dinheiro em vez do meu? Ou é porque você já pensou em vinte e cinco maneiras frívolas de gastá-lo? A resposta, Briana Leigh, é não. Adeus, querida.

E a linha ficou muda. Ariana usou toda a sua força de vontade para evitar de jogar o celular através

do quarto... de novo. Mas ela não podia se dar ao luxo de comprar outro agora. Em vez disso, ela colocou o celular em sua mesa, caiu de cara na cama, e gritou o mais alto que pôde em seu travesseiro. Antes que ela percebesse, ela estava socando a cama de novo, de novo e de novo com ambas as mãos, lançando para fora sua frustração e desespero.

Por que Briana Leigh tinha que ser uma inútil, imprestável, gastadeira de dinheiro?

Se ela tivesse sido apenas um pouco mais responsável no passado, sua avó não teria sido tão rápida em julgar Ariana agora. Primeiro os exames de admissão e agora isso. A preguiça de Briana Leigh iria estragar o mundo de Ariana.

Depois de alguns minutos, Ariana finalmente sentou-se, tirou os cabelos do rosto e respirou fundo. Ela olhou pela janela, para a festa do lado de fora, as toalhas de mesa e as bandeiras coloridas, as bandejas recheadas de doces sobre a mesa de sobremesa, os grupos de alunos e professores rindo, conversando e debatendo. Ela ansiava por se juntar a eles. Ansiava fazer parte de tudo isso durante o tempo que ela pudesse. Ariana precisava de um plano B.

Infelizmente, ela não tinha ideia de por onde começar.

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Traduzido por Ivana

ó para você saber, eu não sou anoréxica — Maria disse a Ariana quando se sentaram à longa mesa de madeira no jantar naquela noite. Os locais já estavam definidos e um menu estava dentro de um

suporte de plástico em cada prato, oferecendo três opções de pratos. O serviço de copa da escola. Ariana nunca tinha imaginado que fosse possível até ela experimentar isso no primeiro dia. Easton poderia beijar a bunda do Atherton-Pryce Hall. — Quero dizer, vamos lá, uma bailarina anoréxica? Super clichê. Eu só não gosto de comida.

Ariana pegou seu menu e leu as ofertas. — Tudo bem — disse ela. — Mas só para você saber, mesmo que você fosse anoréxica, eu não iria julgá-la. Todo mundo tem problemas.

Maria piscou, olhando Ariana enquanto ela colocava o guardanapo de linho no colo. — Eu não tenho problemas.

Ariana olhou para Landon, que estava parando atrás da cadeira de Maria para se juntar a elas. Ele apertou o ombro de Maria que estava coberto por seu cabelo, em seguida, correu os dedos ao longo de sua nuca enquanto ele passava. Todo o corpo de Maria ficou tenso.

— Sim, você tem — disse Ariana. — Você tem por um ano inteiro. O rosto de Maria corou e ela agarrou seu próprio menu, fingindo estar de

repente interessada. Ariana sorriu enquanto o resto do grupo habitual começava a chegar pouco a pouco. Brigit, Soomie, e Adam foram logo seguidos por Lexa e Palmer, que andavam de mãos dadas. Ariana queria desviar o olhar, mas em vez disso ela se forçou a olhar para seus dedos entrelaçados. Obrigou-se a gravar a imagem em seu cérebro. Para que ela se lembrasse disso cada vez que os olhares de Palmer fizessem seu coração acelerar.

— O que foi, zero pontos? — Tahira perguntou, fazendo uma pausa no final da mesa. Allison, Zuri e Rob também pararam, como se nenhuma deles pudesse fazer um movimento a menos que Tahira fizesse também.

Ariana olhou para ela. — Oh, o que é isso? Algum tipo de referência espirituosa do tênis?

— Sim. Porque você não conseguiu marcar um único ponto no último jogo — disse Zuri com uma risada. — Zero pontos, zero pontos, zero pontos.

— Isso é realmente necessário? — Lexa repreendeu.

—S

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— Será que é realmente necessário você estar sempre dizendo a todos os outros o que é necessário? — Allison revidou.

— Allison — disse Tahira em tom de aviso. — Tanto faz. Haverá uma revanche e você vai perder — Brigit declarou,

levantando-se de seu assento. — Certo, Ana? Ariana não sabia como responder. E se ela concordasse que Brigit estava certa

e, em seguida, afundasse ainda mais rapidamente da próxima vez? Ela não tinha certeza se poderia lidar com esse tipo de humilhação sem explodir. O silêncio parecia se arrastar por um terrível longo tempo, até que Maria finalmente falou.

— Vão em frente, meninas. Nós já estamos entediadas com vocês — disse ela para Tahira e sua comitiva.

Tahira zombou. — Como se alguma coisa pudesse ser mais chata do que baunilha. — Em seguida, ela e suas amigas se afastaram, obviamente satisfeitas por terem tido a última palavra. Os punhos de Ariana cerraram debaixo da mesa. Cedo ou tarde, Tahira ia receber o que merecia. Ela cuidaria disso.

— Falando de pessoas péssimas — disse Landon, olhando para Tahira por cima do ombro. — Vocês sabiam que alguém roubou o Rolex de Christian hoje de manhã?

De repente, Ariana estava grata a Tahira por suas provocações. Isso significava que seu rosto já estava vermelho quando este tema veio à tona, e que, quando ela ficou ainda mais vermelha, ninguém na mesa notou. — O quê? Onde? — perguntou Brigit. Seus dedos tocaram o cintilante pingente de diamante de água marinha em torno de seu pescoço. A joia certamente valia algumas centenas de milhares de dólares, sem dúvida.

— Ele disse que estava na casa de barcos — Palmer respondeu, — mas eu acho que ele deve ter deixado para trás no dormitório. Não havia ninguém ali na casa de barcos além dos nossos companheiros de equipe, e nenhum deles roubaria o relógio.

— Exatamente — disse Lexa, sacudindo o cabelo sobre o ombro. Ariana ficou maravilhada com a sua certeza. Sua confiança absoluta. Será que

nunca acontecia nada de ruim com aquelas pessoas? — Ei, Texas, você viu alguma coisa? — Landon perguntou, levantando o

queixo. Houve uma longa pausa, e Ariana de repente percebeu que ele, juntamente

com todos os outros na mesa, estavam olhando para ela. — Texas. Essa seria você — disse Maria em voz de monotonia. — Oh, bem... hum... não. Eu não vi nada — disse Ariana, olhando para Palmer.

— Eu saí logo depois que falei contigo. Uma menina na mesa ao lado arrastou sua cadeira de modo a ficar alinhada

com a de Landon. — Sabe, uma das minhas pulseiras está desaparecida também — ela disse, deixando seu longo cabelo loiro desabar por trás do encosto da cadeira. — Eu pensei que tinha deixado em casa, mas talvez alguém a pegou.

— Interessante — disse Soomie, erguendo as sobrancelhas. — Parece que temos um ladrão no campus.

— O quê? Eles estão admitindo bolsistas agora? — Maria brincou. Todos na mesa olharam diretamente para Adam, incluindo Ariana. Ela não

pôde evitar. Foi uma resposta instintiva. O pobre rapaz empalideceu e seus olhos

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castanhos esvoaçavam nervosamente ao redor da mesa de uma forma visível. Ariana estava confusa. Adam era o primeira bolsista em Atherton-Pryce? Talvez ele fosse o primeiro a andar com este grupo em particular.

— Ah, merda, Adam. Desculpe — disse Maria. Em seguida, ela bufou uma risada envergonhada e olhou para o garçom, que tinha acabado de chegar ao fim de sua mesa, um garoto desalinhado de idade universitária que vestia camisa branca e calças pretas que parecia que preferia estar em qualquer lugar ao invés daquele.

— Ela não quis dizer nada — Lexa esclareceu para Adam, em tom amável. — A menina tem um problema de controle de língua.

Adam deu uma risada. — Está tudo bem. Enquanto Maria pedia sua refeição — fazendo exigências sobre o óleo, a

manteiga e o sal — o resto da mesa caiu em um silêncio desconfortável. Ariana tentou dizer a Adam com seus olhos que ela sentia por ele, mas ele tinha fixado o seu olhar no seu menu e recusou-se a olhar para cima. De repente, Ariana percebeu que alguém estava limpando repetidamente sua garganta.

— Ana. Sua vez de pedir — disse Maria. — O que há com você hoje à noite? — Sinto muito. — Ariana olhou para o garçom parado e sorriu-lhe com ar de

desculpas. Ele simplesmente suspirou em troca. — Eu vou querer o salmão — disse ela. — Obrigada.

O garçom fez uma nota e moveu-se para Brigit, e Ariana tentou relaxar os ombros tensos. Ela, é claro, sabia que as pessoas iriam perceber quando suas coisas desaparecessem, mas o que ela esperava? Que as pessoas não falassem sobre isso?

Pelo menos ninguém parecia muito nervoso ou chateado com as joias roubadas. Provavelmente porque eles poderiam facilmente se dar ao luxo de substituir por outras. Mas agora as pessoas estavam falando sobre isso, o que significava que poderia se tornar algo grande. Um escândalo. Haveria uma investigação? Como ela teria certeza de que ela não estaria implicada? Ela não podia ser expulsa do APH por roubar. Esse era um fim muito patético para sua jornada esgotante.

Amanhã ela teria que conseguir uma passagem para fora do campus e ir até a cidade para penhorar essas coisas. Ela não podia tê-las escondidas em seu quarto por muito tempo. Fabuloso. Outra passagem, outra viagem para DC, mais uma tarde perdida. E ela ainda não tinha um plano para conseguir o resto do dinheiro.

Ariana apertou o braço por baixo da mesa, evitando as feridas do outro dia que ainda ardiam. Ela queria matar Kaitlynn por fazer isso com ela. Mas ela já havia tentado isso, e ela tinha falhado. E agora ela não tinha mais opções.

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Traduzido por Ivana

or que eu estou ajudando Tahira mesmo? — Ariana perguntou, movendo a ponta do dedo pela tela sensível ao toque de seu novo laptop. Ela selecionou uma outra lista de endereços de e-mail no site

de uma escola secundária local e copiou para o gráfico crescente do Excel em seu desktop. Era quarta-feira à tarde, e ela tinha acabado de terminar seu exame de ciências gerais, o mais difícil dos quatro que ela tinha feito até então. Quando ela voltou para o dormitório, ela não tinha tido nem tempo de fechar a porta atrás dela, quando Lexa apareceu, perguntando se ela queria sair e ajudar com o anúncio do e-mail para a arrecadação de fundos. Maria estava embaixo no estúdio de dança, Brigit estava em um vídeo chat com o Rei e a Rainha, e Soomie estava fora em uma reunião com seus professores, tentando obter algumas atribuições de crédito extra antecipadamente. Ana era a última chance de Lexa para companhia. Embora, quando Ariana sentou-se na cama de Maria, ela estava tentando não pensar em si mesma dessa forma — como a opção final e menos desejável.

Lexa riu. — Uau. As meninas realmente te viraram contra ela rapidamente, não é? — Ela olhou para Ariana de sua cama twin-size, onde ela estava sentada com o seu próprio computador portátil contra um monte de almofadas de pelúcia cinza escura em cashmere, seda e pele.

Ariana inclinou a cabeça. — Não é só isso. Eu pude ver desde o início que ela não era exatamente o meu tipo de pessoa. Mas parece que você gosta dela.

— Bem, Tahira e eu somos amigas há muito tempo. Desde muito antes das Guerras das Princesas estourar — disse Lexa, olhando para a tela de seu computador. Havia algo em seu tom que disse a Ariana que elas não iriam voltar a andar juntas, mas que eram de alguma forma importante uma para a outra. — Mas eu não vou tentar mudar a mente de ninguém sobre ela, especialmente a de Brigit. — Ela respirou fundo e sorriu. — Então, simplesmente não pense nisso como ajudar Tahira. Pense nisso como ajudar a equipe. A equipe é uma coisa muito importante por aqui, no caso de que você não tenha notado.

— Eu notei sim — Ariana respondeu com um sorriso. Ela arquivou suas suspeitas sobre Lexa e Tahira e se comprometeu consigo mesma a observar as duas mais de perto quando elas estivessem juntas. Não havia nada mais intrigante do que um segredo obscuro entre amigas.

— Então, você gosta daqui? É melhor do que... onde você estava no ano passado? — Lexa perguntou, formando uma pequena linha acima de seu nariz.

—P

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Na prisão? Ariana pensou. — Em uma porcaria de escola em Houston — Ariana respondeu, acenando com a mão. — Acredite em mim, você nunca ouviu falar dela. Este lugar é muito melhor. Acho que posso ficar — ela disse em tom de brincadeira.

— Ótimo. Nós adoraríamos tê-la aqui — Lexa brincou de volta, levantando o queixo.

Ariana sorriu. — Então... o que as outras duas equipes estão fazendo para a arrecadação de fundos?

— A Azul está realizando um leilão de arte no Smithsonian — disse Lexa. — O pai de Martin é um grande colecionador, então ele conhece um monte de artistas que vão doar o seu trabalho. E a Cinza está fazendo uma coisa tipo fashion show onde você pode oferecer os seus vestidos, mas pelo que ouvi, eles tiveram dificuldade para conseguir falar com os principais designers, o que não deveria ser um problema.

— Então tudo o que temos a fazer é ganhar isso ou a competição de remo, e nós vencemos. Entramos na Casa Privilege? — perguntou Ariana.

— Sim. Ganhar o debate foi demais — disse Lexa, teclando. Então ela fez uma pausa e olhou para Ariana. — Sabe, estou feliz pelos garotos te escolherem para liderar a equipe de remo.

Seu tom casual soou forçado. Ariana olhou para a menina pelo canto dos olhos e pensou que sua postura parecia um pouco mais tensa do que estava há pouco. Ela estava deitada.

— Sério? Eu estava um pouco preocupada com isso — disse Ariana. — Não. É legal. É uma coisa boa para você — disse ela. Ariana piscou. Parecia uma coisa estranha de se dizer. Como, exatamente, era

bom para ela? Mas ela não queria insistir no assunto. — Obrigada. — Enfim, de volta para Tahira. Pode realmente ser uma boa coisa tê-la ao seu

lado — disse Lexa, clicando em seu mouse antes de olhar para Ariana. — Ela tem aquele ar mal intencionado, mas não me leve a mal, ela consegue fazer bem as coisas.

— Bem, quando você quer conseguir que as coisas sejam feitas, ter um ar mal intencionado pode ser útil — Ariana respondeu, copiando outra lista.

Houve uma breve pausa e Ariana estava ciente de que Lexa estava observando-a. Observando-a fixamente. Seus dedos começaram a tremer muito ligeiramente sobre o teclado. E se ela tivesse notado algo? Alguma discrepância entre Ariana e Briana Leigh que Lexa já conhecia? Merda. Ela havia deixado seu sotaque escorregar por um segundo. Ele tinha saído mais Atlanta, em seguida, Houston. Foi por isso que Lexa estava olhando para ela?

— Sabe, você ainda pode se juntar à equipe equestre e deixar o tênis — disse Lexa. — Ninguém iria culpar você.

Já tensa, Ariana ficou vermelha. — Por quê? Porque sou tão ruim no tênis e todos sabem disso agora? — ela retrucou.

Lexa piscou, e seu rosto bonito ficou em um tom rosa atordoado. Era óbvio que ela não estava acostumada a ser confrontada. — Não, não! Não foi isso que eu quis dizer! Eu estava lá, ok? Você tinha a partida quase ganha. Você só... não conseguiu acabar com ela.

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Obrigada pela lembrança, Ariana pensou, mantendo os olhos grudados incisivamente na tela do computador. Sua mandíbula apertou conforme ela vividamente recordava sua fabulosa derrota, e a tensão no quarto cresceu.

— Não, eu só quis dizer que ninguém iria culpá-la se você quisesse evitar Tahira tanto quanto possível — disse Lexa, balançando as pernas para o lado da cama para ver melhor rosto de Ariana. Ela colocou as mãos ao lado e apertou os joelhos juntos.

Ariana olhou para Lexa, sentindo-se cautelosa. Será que Lexa realmente quis insultá-la? Um olhar nos olhos sinceros da garota e ela sabia que o insulto foi definitivamente não intencional. Às vezes, depois de tudo que Ariana tinha passado, era difícil lembrar que ainda havia algumas pessoas realmente boas e gentis no mundo.

— Obrigada — disse Ariana, seus ombros relaxando. — Mas eu posso lidar com ela.

Lexa sorriu, e ela se levantou para abrir a janela um pouco mais, deixando entrar a brisa quente de verão. — Tudo bem. Eu só queria ter certeza de que você sabia que havia opções. — Ela enfiou as mãos nos bolsos de trás de sua calça jeans skinny e ficou ali no centro do quarto, olhando para Ariana. — Na verdade, para ser perfeitamente honesta, eu senti uma espécie de alívio quando você não quis fazer parte da equipe equestre.

— Sério? — Ariana colocou seu laptop de lado, grata por uma desculpa para fazer uma pausa de todas as listas. — Você parecia tão chateada.

— Foi pura atuação — Lexa disse com naturalidade. Ela pegou um dos muitos troféus de ouro da prateleira acima de sua mesa, que também foi decorado com dezenas de fitas azuis e vermelhas, e tocou a cabeça do cavaleiro em cima do cavalinho de ouro. — Eu estava realmente apavorada que você seria melhor do que eu. É a única coisa por aqui que eu sou a melhor.

Ariana estava intrigada. Ela virou-se para Lexa, sentada na beira da cama de Maria agora. — O que você quer dizer?

Lexa revirou os olhos e abaixou o queixo por um momento, sacudindo a cabeça. — Eu nunca disse a ninguém antes. Nem mesmo a Maria.

Um salto animado deixou o coração de Ariana momentaneamente sem fôlego. Nem mesmo a Maria? Ela tinha presumido que Maria e Lexa eram melhores amigas. Se Lexa estava prestes a compartilhar algo supersecreto com ela, então ela estava definitivamente dentro. E ela poderia até ter a chance de usurpar Maria na escala da amizade. Seu corpo inteiro formigava com a possibilidade. Ela tinha que interpretar cada palavra desta conversa extremamente bem.

— Está tudo bem — disse Ariana. — Você pode me dizer. Somos amigas, lembra?

Lexa olhou nos olhos de Ariana. Ariana poderia dizer que ela estava morrendo de vontade de falar. Como se ela realmente não tivesse ninguém para conversar sobre qualquer coisa profunda. Ariana olhou de volta para ela constantemente, deixando Lexa ver que ela era de confiança.

— É só que... todos tem um talento, sabe? — Lexa disse finalmente, fazendo um gesto com o troféu. — Maria é a melhor bailarina, Soomie é a melhor aluna, Brigit é a melhor organizadora de festas...

— Sério? — perguntou Ariana. — Melhor do que Tahira?

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— Oh meu Deus, com o seu dinheiro e conexões? — Lexa disse, arregalando os olhos. — Se você quiser que o Cirque du Soleil esteja na sua festa e Jude Law cantando “Parabéns pra você”, ela consegue, mas não é só isso — seus eventos têm um estilo único. E para ela parece banal. Ela vai ser totalmente famosa e bem-sucedida em algo criativo. Esqueça a coisa da realeza.

— Interessante — disse Ariana, guardando a informação para uso posterior. — De qualquer forma, os cavalos são a minha praia. Eu sou boa em equitação.

Só isso — disse Lexa, recolocando o troféu na prateleira e ajustando-o de modo que ele estivesse perfeitamente alinhado com os outros. Ariana sorriu para si mesma. Lexa tinha um pouco de TOC, assim como ela.

— Eu não acho que isso seja verdade — Ariana respondeu. Lexa inclinou a cabeça com uma ruga interrogativa entre as sobrancelhas, e

cruzou os braços sobre a camiseta azul clara. — O que você quer dizer? — Você é, obviamente, muito boa em cuidar de seus amigos — disse Ariana.

— Você está cuidando para que Maria coma, ajudando Brigit com sua dieta, ajudando Soomie com Landon, tentando me salvar das torturas de Tahira. Pelo que eu vi, você é a melhor a ser uma amiga.

Lexa corou, claramente lisonjeada, e caiu de volta na cama. — Você está exagerando — disse ela com modéstia, olhando para a tela de seu computador. — Qualquer um faria essas coisas para os seus amigos.

— Não, qualquer um não faria. Acredite em mim, eu sei — Ariana respondeu. A expressão de Lexa ficou séria, e Ariana sentiu um chiar de apreensão. Ela tinha acabado de abrir a porta para perguntas. Perguntas que ela não queria ter que responder.

— Por quê? Aconteceu alguma coisa com seus amigos em sua antiga escola? — Lexa perguntou, sua voz cheia de preocupação. — É por isso que você se transferiu?

Oh, e sempre não acontece algo, Ariana pensou, lembrando em detalhes vívidos daquela noite no telhado do Billings. Reed no chão, perto da borda, em seguida, Noelle com a estúpida vara de lacrosse. Aconteceu alguma coisa? Sim. Traição total. Uma completa punhalada pelas costas. Sem mencionar a tortura permanente que era resultado de ter sido amiga de Kaitlynn.

Os olhos de Lexa correram para as mãos de Ariana, e ela percebeu que o cobertor de cashmere branco de Maria foi enrolado ao seu lado. Ela esperou, respirou, e sorriu.

— Não. Eu só queria o melhor e o APH é o melhor — disse ela suavemente. Em seguida, ela acrescentou, como meio de distração. — Sabe, todas as três meninas estavam praticamente sufocando sem você aqui. Elas não aguentavam mais esperar para vê-la.

— Sério? — Lexa disse, satisfeita. — Sim, sério. — Obrigada, Ana. É muito gentil da sua parte dizer isso — Lexa disse a ela. — Só estou dizendo a verdade — disse Ariana, recostando-se na cama

novamente e levantando o laptop sobre as pernas. — Então, se Brigit é a melhor organizadora de festas, por que Palmer colocou Tahira como encarregada da arrecadação de fundos, em vez de Brigit?

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Ela sentiu uma pontada apenas por estar dizendo o nome de Palmer para Lexa, mas ela ia ter que se acostumar com isso.

Lexa suspirou, sentando-se também. — Ele tinha suas razões. A pele de Ariana arrepiou com interesse. — E que razões? Um rubor acendeu as bochechas de Lexa, como se ela tivesse acabado de ser

flagrada dizendo algo que ela não tinha a intenção de dizer. — É difícil de explicar — disse ela rapidamente, colocando o cabelo atrás das orelhas.

— O quê? — Ariana perguntou, tentando não soar tão desesperada por informações como ela realmente estava.

— Nada. É só que... — Lexa olhou ao redor, tentando ganhar tempo. — Elas duas... ambas levaram ideias a ele, e eu acho que ele gostou mais da coisa com Landon — disse ela, finalmente. Suas palavras saíram juntas de modo que Ariana sabia que ela estava mentindo. Mas por quê? Que outras razões poderiam fazer Palmer, eventualmente, ter que escolher Tahira ao invés de Brigit, especialmente quando Brigit era tão claramente uma das melhores amigas de sua namorada? — E, honestamente, a ideia de Tahira é brilhante, se você pensar bem. Vamos ganhar tanto dinheiro que nós vamos precisar contratar uma equipe para trazer tudo até aqui.

A respiração de Ariana ficou presa na garganta. Seus dedos congelaram sobre seu teclado. De repente, todos os pensamentos sobre Palmer/Tahira/Brigit voaram encheram sua mente. — O que você quer dizer?

— Normalmente com essas coisas nós temos várias transações de cartão de crédito e você tem que pagar uma taxa para cada uma, o que come o seu lucro — Lexa explicou, inclinando-se em direção a tela enquanto ela continuava a trabalhar. — Mas, com essa coisa de Landon vamos receber centenas de meninas com as mãos cheias de dinheiro apenas salivando para jogá-lo no seu ídolo. Estamos falando de baldes cheios de dinheiro. E dinheiro real significa nenhuma taxa, o que significa mais dinheiro para a nossa contagem. Quer dizer, exceto para quem quer que vença o encontro com Landon. Eu acho que vai ser muito caro para qualquer pessoa normal pagar do seu bolso.

— Certo — disse Ariana. Ela olhou para a porta do armário onde Maria tinha colocado um pôster de uma bailarina de Degas, mas ela não o via. Tudo o que ela via era o dinheiro. Pilhas e pilhas de dinheiro. Tudo ao alcance.

— Vamos vencer este desafio — disse Lexa vertiginosamente, batendo forte em seu teclado. — Nós já vencemos! Azul e cinza já podem se considerar derrotadas!

Ariana sorriu, mas ela mal estava escutando. Parecia que ela ia ter que se tornar um membro mais participativo do comitê de arrecadação de fundos. Ela tinha que descobrir uma maneira de roubar parte do dinheiro sem ser pega. E a única maneira de fazer isso era estando nos planos.

Aparentemente, ela e Tahira teriam que passar mais tempo juntas, um pensamento que a fez estremecer. Mas se isso significasse se livrar de Kaitlynn, valia a pena.

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Traduzido por Ivana

sando um martelo sujo de tinta que ela tinha pego emprestado da governanta do Cornwall, Ariana pregou o último prego no canto inferior em um dos pôsteres de Jackson Pollock que ela tinha acabado de comprar na

loja da escola. Ela deu um passo para trás para admirar seu trabalho, em seguida, olhou por cima do ombro para Soomie, que deveria estar desfragmentando o computador de Ariana. Não que ele precisasse, sendo novo, mas Soomie tinha oferecido e Ariana tinha visto isso como uma oportunidade de se relacionar. Em vez disso, porém, ela chamou Soomie para refazer sua cama.

— Meus hábitos de enfermeira não são suficiente bons para você? — Ariana perguntou, meio irritada, meio divertida.

— É apenas algo que eu faço bem — respondeu Soomie assumidamente, passando as mãos na parte de cima do cobertor para suavizar as rugas. Ela se virou e inclinou a cabeça enquanto observava o pôster. — Isso ficou bom.

— Obrigada. Eu também achei — disse Ariana. Soomie puxou a cadeira de Ariana e abriu seu laptop. — Então, você está

totalmente certa sobre essa coisa toda do tênis? — perguntou ela. — Porque a equipe equestre é realmente...

— Oh meu Deus. Porque todo mundo está tão obcecado por eu não estar na equipe equestre? — Ariana perguntou com uma risada, levantando outro pôster e segurando-o contra a parede. Ela pregou um prego no canto superior direito e pegou outro. — Só porque eu venci Lexa há um milhão de anos atrás em uma pequena competição de adestramento não significa...

— Eu pensei que você era saltadora — disse Soomie, balançando sua cabeça ao redor.

O prego escorregou dos dedos de Ariana e caiu ao longo do chão de madeira com um tilintar tênue. Seu coração quase parou. Saltadora? Ela tinha revisado as lembranças de Briana Leigh mil vezes e ela tinha certeza de que ela era domadora. Será que Soomie queria confundi-la ou será que ela realmente se enganou? Ela olhou por cima do ombro para a menina. Seus olhos eram agudos e exigentes. Apenas um olhar para ela e Ariana sabia que Soomie estava correta. O que significava que ela, Ariana, tinha dito besteira.

A menina realmente estava a par de todos os detalhes. — Era. O que foi que eu disse? — Ariana perguntou, esperando que ela não

estivesse visivelmente corada.

U

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— Você disse adestramento — Soomie respondeu, com uma mão na parte de trás da cadeira. — Lexa disse que nem sequer competia no adestramento.

A boca de Ariana estava seca. Exatamente o quanto essas pessoas estavam falando dela pelas costas?

— Eu não adestrava naquela época — Ariana esclareceu friamente. Isso era realmente verdade. Era a razão para seu erro. Se ela não tivesse olhado dezenas de fitas de adestramento na noite passada, a palavra não teria sequer passado em sua cabeça. Ela pegou um prego e bateu-o na parede com um pouco mais de vigor do que o necessário. — Você está certa, no entanto. Esse ano foi a competição de salto. Eu estive em tantos que às vezes acabo me confundindo. — Sua pele ficou quente sob o olhar de Soomie e ela percebeu que ela estava balbuciando, que ela soava como alguém que tentava encobrir uma mentira. — Você pode pegar esse prego que caiu?

— Claro — disse Soomie, agachando-se no chão. Ela levantou-se e entregou o prego a Ariana. — Você devia ajeitar aquele no canto direito superior. Está meio torto.

— Obrigada — disse Ariana, se sentindo tão reprimida e frustrada que queria enfiar o prego na mão da menina. Ela virou o martelo de costas, tirou o prego que tinha colocado, e começou tudo de novo.

— Uau, então eu acho que você realmente está cansada. Quer dizer, você já competiu tanto que nem se lembra quais eventos você ganhou e perdeu — disse Soomie, sentando-se novamente.

— Exatamente. É por isso que eu estou mudando, indo para o tênis — disse ela, sentindo-se aliviada que a conversa tinha chegado a uma conclusão lógica. — Eu acho que vai ser divertido começar de novo.

— Acho que sim — disse Soomie. — Mas quando eu sou tão boa em alguma coisa, eu nunca desisto.

Ariana suspirou, desejando que Soomie fosse embora. Só então, Tahira adentrou pela porta aberta de seu quarto. Todo o corpo de Ariana ficou tenso ao pensar em falar com Tahira, mas era melhor apenas colocar as engrenagens em movimento. Além disso, seria uma ótima maneira de calar Soomie.

— Tahira? — ela gritou, dando um passo em direção à porta. A princesa de Dubai parou com a mão na maçaneta da porta de seu quarto. —

Posso te ajudar com alguma coisa, zero pontos? — ela perguntou com um olhar condescendente.

Os dedos de Ariana se apertaram ao redor do martelo. Não a mate. Você não pode matá-la.

— Na verdade, eu estava esperando ajudar você — Ariana respondeu, esboçando um sorriso. Ela cruzou os braços sobre o peito, deixando o martelo balançar de seus dedos. — Eu gostaria de me oferecer para trabalhar nas mesas da arrecadação de fundos.

Tahira, compreensivelmente, parecia receosa. Ela cruzou os braços sobre o peito, e enfrentou Ariana de frente. — Por quê? Você já está fazendo sua parte na equipe. Você cumpriu sua obrigação.

— Eu não faço só por obrigação — explicou Ariana. — Eu gosto de fazer o máximo que eu puder.

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Com um olhar duvidoso, Tahira encostou na porta do quarto. — Tudo bem, então. Nós adoraríamos tê-la.

— Isso vai ficar velho muito rápido — Ariana disse enquanto o celular tocava no corredor.

— Não, não vai! — Tahira falou com um enorme sorriso. Ela bateu a porta de seu quarto e de Zuri, e Ariana apertou os lábios para não xingar baixinho, o que Soomie, sem dúvida, poderia ouvir.

Você está fazendo isso por uma razão, ela lembrou a si mesma, batendo o martelo contra a palma da mão aberta. Você está fazendo isso para que você possa, finalmente, deixar o seu passado e seguir em frente.

— Ana! — Brigit gritou, inclinando-se para fora da cabine de telefone da velha escola no final do corredor. — Há alguém no portão para ver você e ele não está em sua lista de visitantes aprovados. Eles querem saber se eles deveriam deixá-lo passar.

A visão de Ariana embaçou instantaneamente com manchas cinzentas. Ela não estava escutando direito. Alguém no portão para ela? Para Briana Leigh? Quem diabos iria vir sem avisar assim? Briana Leigh tinha poucos amigos e ainda menos que sabiam que ela estaria estudando no APH. A menos que fosse Teo, o ex-noivo de Briana Leigh. Ariana se apoiou contra a parede do corredor com os joelhos fracos. O martelo bateu no gesso com um baque surdo.

Oh, Deus, por favor, não deixe que seja Teo. — Ana? Você está bem? — Soomie disse de dentro de seu quarto. — Tudo bem. Estou bem — Ariana respondeu rapidamente. — Você realmente devia falar com ele — Brigit disse. — Os guardas não

gostam de nós, por isso eles ficam zangados quando os deixamos esperando. Algo sobre sermos vadias esnobes e privilegiadas.

— Ok — Ariana se ouviu dizer. Sua voz soou muito longe. Como se ela estivesse saindo da abertura da calefação sob seus pés depois de viajar através de cinco pisos de tubos. — Eu já volto — disse ela à Soomie. Ela lentamente fez seu caminho para o telefone, incapaz de respirar durante todo o caminho. Isso era tudo. Era assim que ela ia ser pega.

— Qual é o problema? — Brigit perguntou, com os olhos azuis arregalados enquanto ela segurava o telefone. — Você acha que ele é um ex-namorado ou algo assim?

Ariana não respondeu. Não era possível. Ela pegou o telefone de Brigit e segurou a um centímetro de sua orelha, como se ele estivesse queimando. A outra mão agarrou-se ao martelo.

— Quem fala é Briana Leigh Covington — disse ela. — Sim, senhorita Covington — uma voz masculina respondeu. — Temos um

Ashley Hudson aqui para ver você. O traseiro de Ariana bateu no pequeno banco de madeira na cabine e a dor

irradiou por sua espinha. Hudson estava aqui? Por que diabos ele estaria vindo para ver Briana Leigh? E o que ele ia fazer quando a visse — a garota que ele conhecia como Emma Walsh — em vez disso? Isso era ainda pior do que Teo. Ariana apertou a cabeça do martelo contra a mão e fechou os olhos, sua mente correndo.

Isso não está acontecendo... Isso não está acontecendo... — Senhorita Covington?

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— Um segundo — disse Ariana. Ela ficou surpresa ao perceber que parte dela queria ver Hudson. Ela estava

morrendo de vontade, na verdade. Um rosto amigável — o rosto de uma pessoa que realmente se importava com ela — seria uma coisa bem-vinda naquele momento. Mas como ela ia explicar o fato de que ela estava ali?

— Você está bem? — Brigit perguntou de fora da cabine. — OMD, é um ex-namorado, não é? Ele é bonito? Posso conhecê-lo?

Ariana disparou para Brigit um olhar de morte. Ela não teve a intenção de fazer isso, simplesmente aconteceu. Felizmente, Brigit não pareceu notar. Ela provavelmente estava muito ocupada formulando sua próxima bateria de perguntas.

Perguntas. Ela tinha certeza de que Hudson teria milhares delas. Mas talvez fosse melhor tentar respondê-las agora e livrar-se dele para sempre. Claramente, ignorar suas mensagens e telefonemas não ajudou nem um pouco.

— Tudo bem — ela disse ao telefone, olhando o martelo enquanto ela falava. — Você pode deixá-lo entrar.

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Traduzido por Ivana

riana abriu a porta da frente do Cornwall Hall e fez uma pausa quando viu Hudson ali parado no pátio de pedra entre o estacionamento e a entrada, lendo a placa que se encontrava na borda da pedra ao redor da árvore de

cereja. Ela teria apenas um momento — um momento antes de Hudson vê-la — em que ela poderia contemplá-lo. Seu cabelo loiro desarrumado, ligeiramente mais bagunçado do que da última vez que ela tinha visto ele, o jeito que ele estava com os ombros levemente ajustados, tranquilo e despretensioso, a linha de sua mandíbula perfeita. Ela não sabia até aquele momento o quanto ela tinha se importado com ele naquelas duas semanas que eles tiveram juntos. Ela aproveitou aquele momento, saboreou-o, em seguida, disse a si mesma que aquela seria a despedida, o adeus particular.

Ele não sabia ainda, mas era hora de seguir em frente. Finalmente, ele se virou. Seu rosto estava em choque total, seguido

rapidamente por alegria pura. O coração de Ariana saltou enquanto ele corria para frente e tomou-a em seus braços.

— Emma! O que você está fazendo aqui? — ele disse abraçando-a e sentindo seu espesso cabelo.

Ariana se afastou de suas mãos, tomando cuidado para não inalar o cheiro dele, o que poderia fisicamente machucá-la, e ela olhou em volta. Ninguém à vista, graças a Deus. Ninguém o ouviu chamá-la de “Emma”.

— Eu fui transferida para cá durante o verão — explicou Ariana, concentrando-se na história que ela inventou enquanto descia as escadas. — Foi por isso que você não conseguiu me encontrar em Easton.

Hudson colocou as duas mãos nas suas, um sorriso brilhante iluminando suas belas feições. Ele estava vestindo uma camisa oxford azul clara aberta sobre uma camiseta descolorida cor de vinho de Harvard e jeans que já tinham visto dias melhores. Havia uma pequena mancha de café em uma das coxas, e ele estava inacreditavelmente amassado. Ele havia dirigido até lá desde Connecticut? Ariana se comoveu com esse pensamento.

Mas não. Ela não podia se deixar abalar. Este era um adeus. Adeus, adeus, adeus.

— Você não conseguiu ficar longe de Briana Leigh, não é? — ele brincou. Ariana sorriu para a ironia da questão. — Algo como isso.

A

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— Isso é inacreditável — disse ele, apertando uma mão enquanto ele soltava a outra. Ele a puxou para um dos bancos de pedra no pátio do lado de fora do prédio de dormitórios. — Eu honestamente não posso acreditar que você está aqui! Eu estava começando a pensar que eu nunca mais iria te ver novamente.

Se eu apenas..., Ariana pensou. — Então... por que você está aqui? — ela perguntou.

Hudson riu quando ele recostou-se ao sol. — Bem, quando eu não consegui encontrá-la em Easton, eu tentei pensar de que outra forma eu poderia entrar em contato com você, e Briana Leigh era a única pessoa que me veio à mente. Mas eu não tenho o número dela, e a última coisa que Teo quer é falar sobre Briana Leigh. Então eu não conseguiria nada com ele, sendo assim...

— Você falou com Teo? — perguntou Ariana. — Como ele está? Não que ela se importasse. Ela só queria ter certeza de que ele não estaria

fazendo qualquer visita surpresa em breve. Hudson apertou os lábios quando ela se sentou ao lado dele. — Ele esta, hum,

chateado. Ele não consegue acreditar que Briana Leigh realmente terminou com ele por e-mail, mas... ele está usando sua raiva de forma construtiva.

— Com o quê? — Ariana perguntou, erguendo as sobrancelhas. — Oh, você sabe, ele está em Ibiza, então... você pode muito bem usar sua

imaginação. Ele riu desconfortavelmente, e Ariana fez uma cara de nojo. Talvez tenha sido

uma coisa boa Briana Leigh nunca ter tido a chance de se casar com o cara. Ela decidiu mudar de assunto.

— Então você dirigiu todo o caminho até aqui. Desde Connecticut. — A faculdade não começa até a próxima semana para mim, então eu

pensei... por que não? — ele disse, entrelaçando os dedos com os dela e segurando suas mãos em cima de sua coxa. — Eu pensei que eu ia descobrir onde você estava, mas eu te encontrei.

Ariana olhou para seu colo. Será que ele tinha que estar tão alegre com todo este assunto? Ele tornou muito mais difícil partir seu coração. E talvez seja muito mais difícil se livrar dele, se ele veio por isso.

— Isso é totalmente ridículo? — ele perguntou. Com uma respiração profunda, Ariana estava prestes a responder, mas nesse

momento a porta do dormitório se abriu e saíram Allison e Zuri. As palavras de Ariana morreram em sua língua e sua garganta se fechou.

Se estas duas disserem alguma coisa, eu juro que eu vou... — E aí, zero pontos? — Zuri disse, olhando para Allison em um ataque de

risadinhas. Ariana mordeu a língua enquanto caminhavam sem dizer qualquer outra

palavra. Ela nunca tinha amado tanto esse apelido. Mas seu coração ainda estava batendo dolorosamente. Ter Hudson ali era perigoso, para os dois. Ela nunca tinha estado mais convencida de que ele tinha que ir. Rápido.

— O que foi aquilo? — Hudson perguntou, observando as meninas enquanto elas desapareciam ao virar da esquina.

— Só um apelido estúpido — disse Ariana com um aceno de sua mão. — Elas dão apelidos a todas as transferidas e calouras. Como uma espécie de trote.

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Uau. Sua língua estava realmente aquecida. Naquele momento, o celular dela soltou um bipe. Ela sabia quem era, o que a mensagem dizia, e optou por ignorá-la. Ele tocou novamente.

— Você não vai ler? — perguntou Hudson. Ariana revirou os olhos e puxou o telefone, verificando a tela. Previsivelmente,

a mensagem era de Kaitlynn. Desta vez, dizia:

Cadê o $$$ BL? Tic, tac, tic, tac... Uma nova onda de frustração, raiva e medo caiu sobre os ombros de Ariana.

Essas pessoas de seu passado estavam por toda parte. Prendendo-a. Sufocando-a. Sufocando-a. Ela colocou o telefone de volta na bolsa e se

levantou. — O que foi? — perguntou Hudson. — Nada. Vamos — disse ela, puxando-o com ela. — Vamos para um lugar mais

reservado, onde podemos conversar. — Espere — disse Hudson, agarrando-se a sua mão. — Briana Leigh está

descendo? Eu sinto que eu deveria pelo menos dizer oi. Ariana olhou para a porta do prédio do dormitório, como se Briana Leigh fosse

realmente sair dela. — Uh, não. Quando o segurança ligou, nós duas achamos que você ia querer me ver, então ela saiu para almoçar com algumas das meninas. Ela disse para dizer oi, no entanto.

— Oh. Ok — disse Hudson. Ele pareceu nem se importar. Por que ele se importaria? Ele estava segurando a mão da garota que ele amava. Ele não precisava mais de Briana Leigh. E Ariana esperava que, em cerca de cinco minutos, ele não precisasse mais de Emma Walsh, também.

— Onde? — perguntou Hudson. Ariana sorriu, embora seus nervos estivessem desgastados. — Eu conheço um

lugar perfeito.

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Traduzido por Ivana

ste campus é incrível — disse Hudson, olhando em volta enquanto se aproximavam de um bosque de árvores com sombras perto da borda da lagoa. Ariana tinha notado aquela parte durante o debate da festa

da vitória e sabia que as árvores davam alguma privacidade. Infelizmente, Hudson desviou para a água antes que ela pudesse levá-lo para a sombra. Havia dois cisnes brancos nadando em círculos em toda a superfície da lagoa, e uma brisa morna inclinava a grama mais longa ao longo da costa. — Você gosta daqui?

O coração de Ariana se contraiu. — Hudson, nós precisamos conversar — disse ela, virando-se de costas para a água, que ondulava languidamente com a brisa.

— Antes de você dizer qualquer coisa, você está errada — disse Hudson, erguendo as mãos. Seus olhos brilharam alegremente.

— Você nem sabe o que eu ia dizer — ela respondeu, impacientemente. — Sim. Eu sei — ele respondeu, enfiando as mãos nos bolsos e assumindo

uma postura confiante. — Você ia dizer que eu não deveria estar aqui. Que acabou, blá, blá, blá — ele disse, andando em volta dela. — Mas o que você não consegue perceber é que, se estivesse tudo acabado eu não estaria aqui, e nem você viria aqui comigo.

Ele parou atrás dela, obrigando-a a se virar. — Isso foi tão existencial — ela disse.

— Obrigado. — Ele deu um aceno modesto. Ariana suspirou, tentando em vão calar o seu sorriso. Não. Não um sorriso. Ela

não gostava mais dele. Ela não podia gostar mais dele. Isso tinha acabado. Não importava o quão bonito ele era com aquele céu azul brilhante de pano de fundo. — Hudson, isso é ridículo. Você vai para a faculdade em Boston, eu estou em DC. Eu não quero um relacionamento de longa distância.

— Podemos resolver tudo isso — disse Hudson, aproximando-se dela. — Emma, tudo que eu sei é que... o que tivemos neste verão foi real. Eu quero ver onde vai dar.

Pelo canto do olho, Ariana viu um grupo de pessoas caminhando em direção à lagoa com cobertores, cestas de piquenique e equipamentos esportivos. Eles estavam indo para a extremidade norte, a metros e metros de distância, mas a simples visão deles fez seus ombros ficarem tensos. Ela tinha que fazer Hudson ir

—E

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embora do campus o mais rápido possível, antes que ele tivesse a oportunidade de interagir com mais alguém. Era hora de deixar de ser boazinha.

— Não vai dar em nada — disse ela, sem rodeios. O sorriso de Hudson hesitou, mas apenas por alguns instantes. — Eu discordo. — Hudson, eu fiquei no Texas durante todo o verão, eu precisava de uma

distração, um garoto quente, e você estava lá — disse Ariana, levantando o queixo. — Isso é tudo o que aconteceu.

Hudson deu um pequeno passo para trás. Ela podia ver a dúvida e a mágoa em seus olhos, e seu coração doeu, mas só por um momento. Havia muito mais coisas importantes em jogo do que os sentimentos de Hudson.

— Eu não acredito em você — ele disse. Ariana soltou um sonoro suspiro exasperado. — Eu tenho um namorado. E eu

te disse isso. E se você quer a verdade brutal, eu me transferi para cá para estar com ele, não com Briana Leigh.

— Ele estuda aqui? — Hudson soltou. O grupo de estudantes começou a se sentar na borda da lagoa. Ariana olhou

por cima e notou que Palmer estava entre eles — e que ele estava de pé — observando-a. Os dedos de Ariana enrolaram em punhos. Isso não era bom. Isso não era nada bom.

— Eu sinto muito, Hudson, eu tenho que ir — disse Ariana, afastando-se. Na esperança de que ele apenas a deixasse ir. Então, ela sentiu os dedos dele agarrando em torno de seu pulso. Ela virou-se, irritada e foi quando ela viu que Palmer estava agora se aproximando, com um olhar preocupado em seu rosto bonito. No mesmo instante, um novo plano entrou em foco.

— Droga. Aí vem ele — disse Ariana baixinho, olhando para Hudson. Hudson teve apenas o tempo suficiente para olhar por cima do ombro antes

de Palmer chegar diante deles. — Está tudo bem por aqui? — ele perguntou com aquela voz firme. Como se

qualquer coisa que acontecesse no campus fosse a sua preocupação. Claro que, para Hudson, provavelmente soou como se ele estivesse apenas sendo possessivo com Ariana. Perfeito.

— Na verdade, não — Ariana respondeu. Ela fez um grande show ao tirar o seu braço do aperto de Hudson, em seguida, agarrou o lugar onde seus dedos tinham segurado, como se ele tivesse machucado ela. O que, é claro, ele não tinha feito. O olhar de Palmer correu para o pulso de Ariana. Ele olhou para Hudson, claramente chocado.

— Isso é realmente necessário, cara? — ele perguntou, cruzando os braços sobre o peito de uma forma que fez seus bíceps levantarem. Ariana sentiu um arrepio de atração e forçou-se a olhar para a grama sob seus pés.

— Eu não estava... eu... — Hudson gaguejou. — Palmer, você pode, por favor, me acompanhar até o meu dormitório? —

Ariana perguntou, forçando um tremor em sua voz. — É claro — disse Palmer. Então, para a alegria de Ariana, ele colocou o braço

em volta dos ombros dela de uma forma protetora. Ele estava fazendo o seu papel com perfeição e ele nem mesmo sabia disso. — Você vai querer deixar este campus antes que eu chame a segurança — ele alertou à Hudson.

P á g i n a | 116

Ariana e Palmer viraram para ir embora. Eles estavam a poucos metros quando Palmer pegou os dedos de Ariana em sua mão livre e conferiu-lhe o pulso. — Você tem certeza de que está bem? Você quer que eu chame a segurança?

Ariana estava encantada por tanta cortesia. — Não. Eu estou bem. Ele estava apenas...

— Você não pode terminar comigo assim, Emma! — Hudson chamou por ela. — Eu sei que você se importa comigo!

Uma onda quente de raiva tomou conta de Ariana enquanto Palmer fez uma pausa. Ele tinha que chamá-la de Emma, não tinha? Ele não podia simplesmente acatar a situação e deixá-la ir. Ela virou-se e lançou-lhe um olhar que teria matado um cara mais fraco. Hudson parou em seu caminho, e empalideceu. Se isso não passasse a mensagem, nada passaria.

— Por que ele te chamou de Emma? — perguntou Palmer. Ariana pigarreou, ganhando tempo. Como explicar este deslize? — É meio

constrangedor. Palmer sorriu. — O quê? Agora você tem que me dizer. — Eu... eu o conheci quando eu saí com umas amigas e eu achei ele meio

assustador, então lhe dei um nome falso — Ariana mentiu, desviando o olhar como se estivesse envergonhada de seu comportamento. — E como você pode perceber, ele me persegue. Eu nem sei como ele chegou no campus.

— Uau. Eu vou definitivamente chamar a segurança — disse Palmer, pegando seu celular no bolso de trás.

— Não. Não, está tudo bem — Ariana olhou para Hudson, que parecia estar decidindo qual o caminho fazer — de volta em direção ao portão, ou em direção a ela e Palmer. — Ele é inofensivo. Na verdade, eu disse a ele você era meu namorado, então você ter vindo foi muito perfeito. Acho que ele ficou assustado.

— Você disse que eu era seu namorado? — Palmer perguntou com um sorriso maroto.

— Eu tive que dizer alguma coisa — respondeu Ariana, a cor subindo em suas bochechas.

— Bem, então, vamos ter certeza absoluta de que ele esteja convencido — disse Palmer.

Então, antes que Ariana pudesse absorver suas palavras, ele agarrou-a pela cintura e puxou-a para ele. Com a outra mão ele segurou a parte de trás da sua cabeça, inclinou-se e tocou seus lábios nos dela. Ariana estava tão surpresa que ela praticamente se derreteu em seus braços e o deixou fazer da sua maneira por um bom tempo. Tudo nele era tão autoconfiante. A maneira como ele a abraçou, o jeito que ele a beijou, a maneira como sua mão se moveu em suas costas. Ele estava no comando, e Ariana sentia-se segura. Ela sentia como se pertencesse a aqueles braços, como se ela pudesse ficar lá o dia todo.

E então tudo acabou. E junto com o ar entre eles, a importância do que tinha acontecido. Palmer tinha acabado de beijá-la. O namorado de Lexa tinha acabado de beijá-la. Bem ali no meio do campus. Falando em perder o controle.

Mas, caramba, Lexa era uma garota de sorte. Os dedos de Ariana vibravam ao tocar seus lábios que formigavam. Palmer

manteve uma mão em sua cintura e olhou para a lagoa. — Sim, isso funcionou. Seu menino perseguidor está indo embora — disse ele.

P á g i n a | 117

Ariana piscou. Ela havia esquecido de Hudson. Mas como previsto, lá estava ele, caminhando em direção ao estacionamento. Graças a Deus tudo havia terminado. E ela não tinha sido forçada a fazer qualquer coisa desagradável. Ele fazia parte de seu passado e seu passado não era bem-vindo aqui.

— Vamos, vou levá-la de volta ao Cornwall — disse Palmer com um sorriso. Ariana respirou fundo. Ela tinha que ter o controle de si mesma, ter o controle

da situação. No outro dia Palmer tinha basicamente dito a ela que não podia gostar dela, que ele não faria isso com Lexa, a quem ele amava. Mas agora, ali estava ele, beijando-a como se ela fosse a única garota na Terra. Como se Lexa nem sequer existisse.

Ignorando o fato de que todo o seu corpo ainda estava respondendo ao seu beijo, Ariana conseguiu dar um passo atrás. — Que diabos foi isso? — ela exigiu.

O rosto de Palmer caiu. — O quê? — Você acabou de me beijar — Ariana desabafou. — Achei que você tinha

uma namorada. Eu pensei que você a amava. Você estava lá na casa do barco agindo cheio de superioridade, o rei da moral, como se fosse perfeito e depois você...

— Ei, ei, ei — disse Palmer, erguendo as duas mãos. — Eu só fiz isso para ajudá-la. Isso é tudo.

— Oh, você é como um mártir — disse ela sarcasticamente, sabendo muito bem que ele tinha gostado do beijo tanto quanto ela tinha. — Tenho certeza de Lexa iria enxergar dessa forma, se ela descobrisse.

— Espere. Você não vai dizer a ela, não é? — ele disse, seus olhos de repente se arregalando.

Ariana suspirou. — Não. Claro que eu não vou contar para ela. Mas não vai acontecer de novo.

Palmer pareceu momentaneamente agradecido e desapontado. O coração de Ariana dava voltas. Ela sabia disso. Ele tinha gostado. Não que isso importasse. Palmer estava indisponível, intocável, fora dos limites. Lexa era muito importante.

Mas ainda assim. Era bom ser desejada. — Não. Isso não vai acontecer de novo — disse ele finalmente. — Ótimo. Acho que posso voltar para o Cornwall por conta própria, obrigada

— disse ela. — Você provavelmente deve ir encontrar sua namorada verdadeira. Então ela se virou e rapidamente voltou para seu dormitório, já pensando em

um futuro banho de ducha fria.

P á g i n a | 118

Traduzido por Ivana

k, pessoal, ouçam! — Tahira gritou, acalmando a multidão turbulenta dos membros da equipe dourada que haviam se reunido ao redor da fonte na sexta-feira de manhã. Tahira estava usando

uma saia vermelha e uma blusa vermelha e roxa em estilo sarongue com enfeites de ouro por toda parte. Vermelho, sem dúvida, porque era a cor do poder, e ela vivia claramente para lembrar a todos que ela estava no comando. — Eu os chamei para essa pequena reunião improvisada porque vocês estão fracassando! — ela gritou. — Eu preciso de pelo menos mais dez voluntários para trabalhar no evento hoje à noite, e vocês não podem contar só com os calouros e os transferidos. Eles já estão todos contabilizados! Então, vamos acordar para a ocasião, juniores e sêniores e mostrar algumas habilidades de liderança.

Escutou-se gemidos e sussurros gerais entre a multidão onde Ariana estava com Brigit, Lexa, Soomie e Landon.

— Sim, Soom. Porque você não mostra algumas habilidades de liderança? — Landon brincou, passando a mão sob o cabelo de Soomie por trás e deslizando com seus dedos por eles.

Soomie corou e bateu na mão dele em um gesto de paquera. — Deus! Pare de fazer isso!

— Por quê? — Landon brincou, fazendo novamente. — Você tem o cabelo mais macio que eu já vi.

Soomie zombou e revirou os olhos. — Porque faz cócegas — disse ela, empurrando-o para longe de novo. Seu rubor era tão brilhante que podia ter sido usado para sinalizar o trânsito. Ariana se perguntou o que Maria pensaria se estivesse ali. Em seguida, o BlackBerry de Soomie tocou e ela virou-o e gemeu. — Maria está com problemas no Hill. Melhor eu ir. Vocês meninas também vem? — ela perguntou ao grupo.

Ariana mordeu a língua. Ela tinha a sensação de que Maria não estava nem perto do Hill, mas, de alguma forma Soomie viu o que estava acontecendo e parou. Bom jogo.

— Ela não me chamou — disse Lexa, verificando seu celular. — Vai você. Nos avise se ela precisa de mais ajuda.

— Tudo bem — disse Soomie relutantemente, afastando-se de Landon. — Vejo vocês mais tarde? — ela disse, erguendo as sobrancelhas.

—O

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— Na verdade, eu vou com você — disse Landon, empurrando as mãos nos bolsos da frente da calça jeans.

Soomie se iluminou com suas palavras, mas Ariana tinha certeza de que a oferta de Landon nasceu da preocupação com Maria, em vez de pelo desejo de ficar com Soomie. Os dois saíram juntos.

— Vocês querem sair? — Brigit sugeriu. — Estou cansada de ouvir essa porcaria toda.

De repente, o telefone de Ariana tocou e, contra sua vontade, ela olhou para a tela. A mensagem era de Kaitlynn. Ele dizia, simplesmente: $$$???

O coração de Ariana se encheu de terror pela centésima vez naquela semana. Ela fechou o telefone.

— Era de Maria? — perguntou Lexa. — Não. Só spam — Ariana respondeu. Então ela olhou para Brigit. — Sabe,

você deveria trabalhar nas tabelas com a gente esta noite. Vai ser divertido — disse ela com um sorriso forçado.

Se o plano que Ariana estava planejando fosse realmente ser levado adiante, ela precisaria de Brigit lá hoje à noite.

— Sim! Você totalmente deveria — Lexa concordou. Ariana sorriu. O apoio de Lexa era uma surpresa útil. Brigit zombou. — Minha resposta é “de jeito nenhum” — ela disse, brincando

com uma pulseira. — Eu ajudei Soomie com a pesquisa para o debate especificamente porque eu não quero ajudar Tahira.

— Não pense nisso como ajudar Tahira — pense nisso como ajudar a equipe certo, Lex? — Ariana disse, olhando para Brigit e em seguida para Lexa.

Lexa sorriu por ter suas próprias palavras repetidas de volta para ela. — Certo. Vamos lá, Brigit, pelo menos para nos fazer companhia. Pelo menos vai ser divertido ver todas aquelas garotas gritando por Landon.

Brigit considerou isso. — Isso será divertido. E também bom para o meu blog. — Seu blog? — perguntou Ariana. Brigit acenou animadamente. — Eu e um grupo de outros membros da realeza

temos o blog em tiaradish.com. É muito divertido. Você tem que dar uma olhada. — Então, você está dentro? — perguntou Lexa. — Eu estou dentro — disse Brigit. Então ela olhou para Tahira e levantou a

mão. — Eu estou dentro! Tahira torceu o nariz. — Tudo bem — disse ela, fazendo uma anotação em sua

prancheta. — É, agora eu estou realmente raspando o fundo do barril aqui, pessoal. Algumas meninas que estavam perto riram e um rubor apareceu no rosto de

Brigit. Ela revirou os olhos e se virou para ir embora. Lexa e Ariana a seguiram, deixando Tahira e seus apelos para voluntários para trás.

— Não deixe ela te atingir, Brigit — disse Lexa, colocando a mão nas costas de Brigit.

— Ela não me atingiu. Eu só tenho que ir. Tenho que registrar meu tempo na esteira — disse Brigit rapidamente. — Vejo vocês mais tarde.

Ela partiu para o ginásio ultramoderno com aparelhos de última geração em uma caminhada rápida. Ariana e Lexa pararam para vê-la ir. — Eu não sei o que eu vou fazer com essa menina — Lexa meditou.

— O que você quer dizer? — perguntou Ariana.

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— Oh, nada. É só que Brigit pode ser seu próprio pior inimigo — Lexa respondeu. — Com a coisa de comer e a coisa com Tahira. Eu quero dizer, ela é uma júnior, e eu lhe disse um milhão de vezes que esta é sua última chance para entrar na...

Lexa abruptamente parou de falar. Seu olhar desviou de Ariana, e ela podia ver medo real em seus olhos. Ela engoliu em seco e tossiu, como se ela tivesse engolido uma mosca.

— Última chance para entrar no quê? — perguntou Ariana. — Eu tenho que ir — disse Lexa, virando-se e se afastando, seu cabelo

castanho balançando. Ariana correu para alcançá-la. Seu coração estava batendo a mil por hora. De

repente, ela sentiu como se estivesse à beira de algo grande. Algo que poderia explicar dezenas de minúsculas questões mesquinhas que estavam mordendo seu cérebro pelos últimos dias. Lexa fez uma curva abrupta e inexplicavelmente se dirigiu para a biblioteca. As portas automáticas moveram de lado para ela entrar e Ariana a seguiu, tremendo com o ar frio batendo nos seus braços nus.

— Lexa — Ariana chamou. — Você tem que me dizer o que você estava prestes a dizer. Eu juro que não vou contar a ninguém.

A expressão de Lexa era dolorosa quando ela se virou. Mas Ariana não estava disposta a desistir. Ela odiava saber que havia algum segredo enorme, e que ela não estava nisso. Lexa caminhou para uma vitrine de pacotes de informação na parede interna da biblioteca e fingiu estar distraída. Ariana parou ao lado dela e olhou para um panfleto sobre doenças sexualmente transmissíveis e como preveni-las.

— Você sabe que pode confiar em mim, Lexa — ela disse em voz baixa. Lexa agarrou seus próprios braços. Ariana sabia que a menina estava praticamente louca para contar. — Eu prometo.

— Eu sou tão, tão estúpida. — Lexa respirou fundo. — Tudo bem — disse ela, agarrando a mão de Ariana.

Ela olhou ao redor, em seguida, puxou Ariana em um espaço do lado de fora em uma porta marcada “Apenas funcionários”. Uma vez lá dentro, ela espiou para fora de novo e olhou em volta, só para ter certeza de que ninguém tinha visto, assim Ariana presumiu. Todo aquele medo e cuidado faziam o segredo se tornar ainda mais interessante.

Ela olhou para Ariana direto nos olhos. — Tudo bem — disse ela novamente. — Mas você tem que entender, eu estou quebrando cerca de mil regras apenas por mencionar isso a você. Se alguém descobrir que eu lhe disse...

— Vou levar isso para a sepultura — Ariana prometeu. — Tudo bem. — Lexa prendeu a respiração. Quando ela falou, foi num

sussurro tão silencioso que mal podia ser ouvido acima do barulho do ar condicionado. — Há sociedades secretas aqui no Atherton-Pryce. Três delas, para ser exata. E agora, mesmo enquanto falamos, você está sendo avaliada.

O sangue de Ariana gelou. De repente, ela se sentiu como se alguém estivesse observando-a por trás, e sua espinha gelou. — O quê?

— Cada uma das equipes — dourada, azul, cinza — representa uma das sociedades — disse Lexa apressadamente. — Você foi escolhida para ser a dourada, porque você tem alguns dos traços que nós — eles — procuram em um membro da sociedade. Nem todo mundo que faz parte da equipe dourada está na sociedade,

P á g i n a | 121

você entende, apenas algumas poucas pessoas são convidadas a participar. Mas se você está na equipe dourada, ou você está na sociedade ou você está sendo considerada como um membro em potencial.

Ariana acenou com a cabeça, embora seu pulso estivesse acelerado de terror. Uma sociedade secreta estava observando cada movimento seu? Ariana tinha ouvido falar sobre essas organizações no passado. Elas eram poderosas, seletivas, sabiam de tudo. De repente, cada movimento questionável que Ariana tinha feito desde a sua chegada no campus inundou sua memória. Roubar o relógio de Christian, esgueirar-se de volta para o dormitório durante o piquenique dos professores para roubar outras joias, ir para DC para penhorar o que ela recolhera, a reunião com Kaitlynn na lanchonete, ir ao hotel de Kaitlynn para tentar matá-la. E se a estivessem observando todo esse tempo? Será que eles sabiam o que ela estava fazendo? Eles suspeitavam que ela não era realmente Briana Leigh?

De repente, Ariana sentiu-se tonta. Ela encostou-se na parede de blocos de concreto fresco conforme ondas de pânico inundavam seu corpo.

— Ana? Você está bem? — Lexa perguntou, agarrando-lhe o pulso. O toque frio dos dedos de Lexa trouxe de volta um pouco do ar. O suficiente

para lembrá-la de respirar. Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Ela abriu os olhos e se concentrou no rosto bonito de Lexa, a preocupação

claramente refletida nele. Claro que a sociedade secreta não sabia o que ela estava fazendo. Se alguém imaginasse a verdade, certamente eles teriam chamado a polícia. Ariana respirou, soltou um suspiro, e se sentiu muito mais calma.

— Eu estou bem — disse ela. — Foi só um mal estar. É claro que, agora que ela pensava sobre isso, fazia todo o sentido. De

repente, ela entendeu todos os comentários velados de Maria — por que ela estava sempre alertando Ariana a fazer tudo certo, à altura, usar as coisas certas, e contribuir para a Semana de Boas-Vindas. Por que ela, Tahira e Palmer sabiam quem era Ariana quando ela chegou pela primeira vez no campus. Eles tinham ouvido falar de Briana Leigh, porque esta sociedade secreta certamente andou verificando as coisas fora do campus para saber seus membros potenciais. Isso significava que todos eles eram membros? Até mesmo Tahira? Isso poderia explicar melhor por que Lexa tentava ser boa com a menina. Por que Palmer a tinha escolhido para chefiar a arrecadação de fundos ao invés de Brigit.

— Maria está também, não é? — Ariana sussurrou. — E Palmer? E Tahira? Lexa ficou verde. — Eu já falei demais. Mas escute, eu realmente quero que

você entre. E eu... — Estou fazendo tudo certo? — Ariana perguntou, sentindo-se subitamente

desesperada. — Como é decidido? Quero dizer, eu vou entrar? Lexa balançou a cabeça. — Eu não sei. Eu não posso te dizer mais nada. Eu realmente quero que você entre, Lexa tinha dito. Foi por isso que ela se

conformou tão rápido e até ficou feliz por Ariana ser escolhida para liderar a equipe de remo? O fato de que Palmer havia lhe pedido para fazer algo tão importante era um bom sinal?

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Respire fundo, Ariana. Controle-se. — Mas Brigit não está ainda — Ariana meditou. — Foi isso que você começou

a dizer. — Não. Ela não está. E como júnior, esta é sua última chance — disse Lexa

tristemente. E eu sou uma júnior também, Ariana pensou. Então, esta é a minha única chance. A mente de Ariana cambaleava. Se Brigit estava tendo dificuldades para

entrar, esta deveria ser uma sociedade super séria e exclusiva então. A menina era uma princesa real, pelo amor de Deus. Se ela não podia entrar, quais eram os requisitos? O sangue de Ariana correu tão rapidamente por suas veias que ela começou a tremer. Ela agarrou o próprio braço e segurou, tentando manter-se sob controle. Quaisquer que fossem os requisitos, ela se encaixaria neles. Lexa estava nesta sociedade. Maria também, ela tinha certeza. E Palmer, claro. Palmer era, obviamente, uma espécie de líder. Se eles estavam nessa sociedade, Ariana queria entrar também. Ela necessitava entrar. Ela tinha que provar que era digna.

A porta da biblioteca se abriu e algumas pessoas entraram, e a conversa foi abafada. A mão de Lexa apertou automaticamente o ombro de Ariana.

— Briana Leigh, eu preciso saber que você entende como isso é importante — disse Lexa com firmeza, seu tom de voz mais grave do que Ariana tinha ouvido antes. — Você não pode dizer a ninguém o que eu disse a você. Se você disser uma palavra, você nunca entrará. Jure que nunca vai dizer a ninguém.

Ariana olhou nos olhos da amiga. Ela sentia que esta era a conversa mais importante que ela tinha tido desde que chegou ao Atherton-Pryce. Seu cronograma não importava, sua amizade com Maria, Brigit, e Soomie não importava, Palmer não importava. Neste momento, aqui, agora, ela iria definir Briana Leigh Covington para o resto de sua carreira nesta escola. Talvez até mesmo mais além desta escola.

— Eu juro que nunca vou contar a ninguém.

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Traduzido por L. G.

riana atravessou o campus para o Cornwall, sua mão ainda tremendo quando ela digitou o número do celular de Kaitlynn. Sociedades Secretas em Atherton-Pryce Hall? O que poderia ser mais perfeito? A coisa toda

cheirava a tradição, honra, e intriga — três das coisas favoritas de Ariana. Esta manhã, ela tinha acordado querendo nada mais do que se livrar de Kaitlynn e passar em seu último exame. Agora isso era tudo o que ela podia pensar. Quem mais estava na sociedade além de Lexa? Maria, ela tinha certeza. Soomie, muito provável. As três provavelmente estavam trabalhando duro nos bastidores para Brigit ser aceita. Palmer, claramente. Ele era o presidente da escola e o capitão do time dourado. Obviamente ele estava dentro. Mas e Landon? Talvez, se a coisa da fama lhe desse vantagens. Tahira? Havia uma boa chance. Ela sabia quem era Briana Leigh antes de Ariana se apresentar como tal. Maria e Soomie podiam não gostar da menina e ainda estar na mesma sociedade que ela, certo? Ariana tinha certeza de que isso acontecia o tempo todo. Deus, talvez ela ainda tivesse que começar a ser legal com Tahira.

Um tremor passou por Ariana ao pensar nisso. Ela desejou que Lexa tivesse apenas dito a ela se Tahira estava dentro ou não. Entrar seria muito mais fácil se ela soubesse a quem direcionar a sua atenção. Ou será que eles desaprovavam pessoas que puxavam o saco deles? O coração de Ariana sentiu pânico enquanto ela debatia a questão. O que ela teria que fazer para entrar?

Bem, não ser rotulada como uma impostora e uma presa, para começar, ela pensou ironicamente.

Ela segurou o telefone no ouvido com um novo senso de determinação correndo por suas veias. Kaitlynn atendeu no primeiro toque.

— Olá, Briana Leigh! — ela falou com sua voz provocante. — A que devo a honra da...

— Encontre-me hoje à noite, no beco atrás do Museu Americano de Cultura Pop — disse Ariana categoricamente. — Às dez horas.

— Uau. Alguém está cheia de exigências, de repente — disse Kaitlynn, sua voz muito menos flutuante. — Você tem o...

— Confie em mim, depois de hoje, não vamos nos ver de novo — disse Ariana. Em seguida, ela desligou o telefone completamente, antes que Kaitlynn pudesse dizer outra palavra.

A

P á g i n a | 124

Traduzido por L. G.

riana abriu a porta de madeira grossa para o Hill e entrou. As janelas altas foram parcialmente obscurecidas por pesadas cortinas de brocado, e, após o pátio iluminado, ela levou um momento para os olhos se ajustarem à

escuridão. O salão foi preenchido com sofás e mesas, cadeiras antigas que não combinavam, um snack-bar e um balcão de café contra a parede oposta. Todos os alunos ao redor da sala descansavam juntos, jogavam xadrez ou cartas e liam ficções. Não havia nenhuma TV ou vídeo game à vista, e apenas estar lá fez Ariana se sentir como se tivesse entrado em um túnel do tempo. Se não fosse pelo barulho da máquina de cappuccino, ela poderia ter sido uma aluna do século XIX, rodeada por seus colegas de classe em busca de conhecimento.

Ela viu Maria, Soomie e Landon passando o tempo em um círculo de cadeiras perto das janelas, Maria em um sofá confortável sozinha enquanto Landon e Soomie estavam em cadeiras separadas um ao lado do outro. Ariana respirou fundo. Agora que ela sabia que as sugestões e direções de Maria tinham sido inteiramente para ajudá-la, ela queria ser amiga da garota mais do que nunca. Não só porque a ajudaria a solidificar o seu lugar no APH, mas porque ela estava começando a realmente gostar dela. Ela era sensata, o que Ariana apreciava em uma garota. Sacudindo o cabelo para trás de seus ombros, ela caminhou e se deixou cair em uma das cadeiras livres.

— Oi — ela disse, inclinando-se para trás. — Ta tão quente lá fora que eu pensei que fosse derreter.

— Você devia tomar um café gelado — disse Soomie, tomando um gole de seu próprio café. — Esfria você imediatamente.

Maria simplesmente esticou os braços acima da cabeça e bocejou, nem mesmo se preocupando em reconhecê-la.

— E aí, Ana? — Landon disse, inclinando a cabeça contra o encosto de sua cadeira e olhando para ela através de seus cílios. — Eu enviei alguns arquivos esta manhã. Você já ouviu?

— Desculpe. Ainda não tive a chance — Ariana respondeu, levantando os cabelos da parte de trás do seu pescoço para ventilar sua pele.

— Você é quem perde — disse ele. — Bem, talvez se você for até ali e me trouxer um latte gelado eu dê uma

chance — Ariana respondeu.

A

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Ela viu Soomie e Maria trocarem um olhar assustado. Ariana estava flertando com o garoto delas. Ou o garoto de Soomie, pelo que Soomie sabia. Landon, alheio a qualquer jogo que estivesse acontecendo, simplesmente sorriu.

— Estou dentro — disse ele, levantando-se languidamente de seu assento. — As senhoritas precisam de alguma coisa?

— Eu estou bem — disse Maria, apontando para seu expresso. — Eu vou com você — Soomie sugeriu previsivelmente. E então, assim como Ariana tinha planejado, ela e Maria foram deixadas

sozinhas. Ariana voltou seus joelhos em direção ao sofá de Maria enquanto ela pegava sua bolsa e tirava uma revista W.

— Então, qual era o problema? — perguntou Ariana. — Nada — disse Maria, virando uma página alegremente. — Eu estou em uma

companhia de balé regional e eu acabei de descobrir que eu tenho que ser um soldado marchando novamente este ano. Eu estava esperando ser escalada como a Fada Ameixa Açucarada, mas o que se pode fazer?

— Isso é péssimo — disse Ariana, curvando os braços sobre o braço da cadeira. — Tem certeza de que não era porque você viu Soomie e Landon flertando e queria afastá-los?

Maria congelou, mas, para o seu crédito, não olhou para cima. — Qual é a sua obsessão por mim e Landon?

— Eu sei como é — disse Ariana, baixando a voz enquanto alguns meninos mais velhos passavam, dirigindo-se para o balcão de café. — Toda a coisa do amor proibido. Eu já fiz isso, acredite em mim.

Sua mente permaneceu por um momento em uma imagem de Thomas Pearson, seus olhos azuis tão maliciosos enquanto ele sorria para ela do outro lado do refeitório. Ela se permitiu se sentir um pouco nostálgica, e em seguida, deixá-lo desaparecer no vazio.

Maria começou a virar as páginas de novo, mas lentamente, e seus olhos estavam desfocados.

— Eu sei que não é porque suas amigas desaprovam, porque Soomie não fala de nada além dele e ninguém parece se importar. Então o que é... a sua família? — perguntou Ariana.

Finalmente, Maria olhou para cima. Sua expressão era cautelosa. O coração de Ariana sapateou em seu peito. Ela estava chegando a algum lugar.

— Posso lhe dizer uma coisa que eu não disse a ninguém? — Ariana respirou, seus dedos agarrando o braço da cadeira.

— Essa é a sua chance — disse Maria. — Eu estava comprometida. Durante o verão, o meu namorado me pediu para

casar com ele e eu disse que sim — Ariana disse a ela, pensando na proposta tão pública de Teo para Briana Leigh no meio da feira de rua. — Mas quando a minha avó descobriu, ela pirou. Ela me disse que se eu não terminasse com ele, ela iria me deserdar.

Maria inclinou-se ligeiramente, e Ariana sabia que tinha atingido um nervo. Esta história soou familiar para Maria. Muito familiar.

— Então o que você fez? — perguntou Maria.

P á g i n a | 126

Ariana se recostou na cadeira. Ela suspirou e olhou para seu colo, brincando com os dedos. — Eu terminei com ele. Foi a coisa mais difícil que eu já tive que fazer. Ele era o amor da minha vida.

Maria olhou por cima do ombro para o balcão do café. Ariana assistiu-a se tencionar, como se a própria ideia de dizer adeus a Landon estivesse passando por sua mente. Então ela olhou para Ariana.

— Você foi fraca — disse ela. Ariana sentiu-se na defensiva e endireitou as costas. — Eu não vejo isso dessa

forma. Pode parecer terrível, mas ela não vai viver para sempre. E então nós vamos voltar a ficar juntos.

— Se ele esperar por você — retrucou Maria. — Oh, ele vai esperar — Ariana mentiu. Se o que Hudson tinha dito sobre Teo

fosse verdade, o menino já tinha esquecido Briana Leigh dez vezes. Maria sorriu, fechando sua revista e entortando as pernas em cima do sofá. —

Bem, meu pai ainda é muito jovem, por isso, se eu seguir o seu plano, terei oitenta anos antes de Landon e eu podermos ficar juntos.

— Então é o seu pai — disse Ariana. Com um suspiro profundo, Maria virou-se para verificar o progresso de

Landon e Soomie mais uma vez. Eles haviam acabado de chegar à frente da fila e estavam pedindo.

— Lexa é a única pessoa que sabe disso — disse ela, torcendo o cabelo em torno de seu dedo. — E eu só estou dizendo a você porque você confiou em mim a sua história. Mas eu juro por Deus, Ana, se você contar a alguém, você vai se arrepender.

Ariana prendeu a respiração. Ela pensou na sociedade secreta e se perguntou se Maria iria utilizá-la para realizar sua ameaça. Não que Ariana tivesse qualquer intenção de contar o segredo que Maria estava prestes a dizer. Não se a discrição iria levá-la muito mais perto de seus objetivos.

— Eu não vou dizer o seu se você não disser o meu — respondeu ela. — Tudo bem. Landon e eu estamos juntos há mais de um ano. Secretamente.

Porque eu não estou autorizada a sair com ninguém até estar na faculdade — Maria disse a ela. — O que é especialmente cruel, considerando que eu não quero ir para a faculdade — ela acrescentou, olhando para o teto em frustração. — Se Landon fosse qualquer outro, nós teríamos apenas um romance normal e secreto somente no campus, mas com ele, as coisas são complicadas.

Ariana assentiu. — Porque cada movimento que ele faz é fotografado e documentado.

— Exatamente — disse Maria. Ela enrolou os cabelos em um cacho apertado, e depois soltou. Ele desenrolou sobre o ombro dela. — Se nós apenas nos tocássemos em público, o rumor poderia se espalhar e todos os tabloides estariam sobre nós. O que significaria que o meu pai iria descobrir e imediatamente me transferir para uma escola só de meninas, na Bulgária. Verdadeiramente.

— Mas e Soomie? — Ariana perguntou, olhando enquanto Soomie e Landon reuniam um par de guardanapos e um canudo extra. Landon carregava uma bandeja cheia de doces enquanto Soomie trazia a bebida de Ariana.

— Sim, isso é uma coisa que eu não esperava — Maria sussurrou. — Eu disse a Landon para não incentivá-la, mas ele é um paquerador natural, então...

P á g i n a | 127

— Então, quando você o viu brincando com o cabelo dela na quadra, você a chamou — disse Ariana conscientemente.

— Eu estava indo me reunir com vocês, mas então eu vi o olhar no rosto dela... Ela estava tão animada — disse Maria rapidamente. — Eu me sinto tão...

— Shh! — Ariana disse, notando que os dois estavam ficando perigosamente perto.

Maria ficou em silêncio. Ela virou uma página em sua revista, procurando sob qualquer circunstância parecer como se ela não houvesse dito uma palavra, muito menos houvesse tido uma conversa tensa, enquanto seus dois amigos tinham ido embora.

— Alguém afim de um pouco de açúcar? — Landon perguntou, colocando a bandeja sobre a mesa.

— Latte gelado — disse Soomie, entregando a Ariana sua bebida com um sorriso.

— Obrigada, Soomie — disse Ariana, certificando-se de não prestar nenhuma atenção extra em Landon. Ela não queria que Soomie pensasse que ela estava realmente interessada no rapaz. Isso apenas faria com que esta situação já confusa ficasse ainda mais confusa.

Soomie empoleirou-se em sua cadeira e olhou para Landon em expectativa, mas ele escolheu se sentar na ponta vazia do sofá de Maria, em vez de recuperar a cadeira ao lado de Soomie. Maria deu-lhe um sorriso rápido e voltou para sua leitura. Landon pegou um bolinho, arrancou um pedaço, e entregou a Maria, que o colocou direto em sua boca, sem sequer pensar. Soomie pigarreou.

— Então, Landon, pronto para cumprimentar seus fãs adoradores hoje à noite? — perguntou ela.

— Um cara tem que fazer o que um cara tem que fazer — disse ele, caindo em seu assento e deixando as pernas abertas. Ele se inclinou pra frente para pegar um donut, arrancou a metade e enfiou-a na boca. — Você vem, Ria? Talvez eu te deixe ser minha assistente pessoal hoje à noite.

O coração de Ariana pulou. Landon estava claramente tentando encontrar uma maneira de passar mais tempo com a namorada. Ela apreciava o fato de que ela sabia disso e Soomie não. Mas Maria simplesmente suspirou e aproximou a revista de seu rosto, cheirando rápido um anúncio de perfume.

— E assistir a um monte de pré-adolescentes patéticas se atirarem em você? Não, obrigada. Eu já fiz o meu dever pela equipe dourada. Acho que vou ficar em casa e passar algum tempo na barra de balé.

Landon não pareceu surpreso, ou mesmo incomodado por sua rejeição. Ele arrancou um pedaço do bolinho e entregou a ela. Mais uma vez, ela comeu. Isso foi um acontecimento interessante.

— Eu posso ser sua assistente durante a noite — Soomie ofereceu. — Eu sou muito organizada.

Maria e Landon trocaram o mais breve dos olhares. Havia um aviso nos olhos de Maria, mas Ariana poderia dizer que Landon estava tentado pela oferta. Ariana aproveitou a chance para se fazer útil — ou até mesmo valiosa — a Maria. Para fazê-la se sentir confiante em sua decisão de confiar em Ariana.

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— Eu pensei que você já tivesse dito a Christian que ele poderia ser seu AP — disse Ariana, tomando um gole do seu café. — Ele estava todo animado sobre ser seu braço-direito para impressionar as garotas.

Landon pareceu confuso por uma fração de segundo, mas, em seguida, pulou a bordo da mentira de Ariana. — Isso mesmo. Desculpe, Soomie. Tenho que ajudar um irmão.

A decepção de Soomie era evidente, mas ela levantou um ombro e pegou um donut da bandeja.

— Nada demais. Isso vai me dar mais tempo pra ajudar Tahira com as contagens. Eu sei que você vai fazer toneladas de dinheiro — disse ela com um sorriso.

Ariana sentiu uma onda de medo ante a ideia de que Soomie pudesse se manter encarregada das contagens do dinheiro naquela noite, mas ela deixou passar. Ela não iria mudar seu plano. Porque ela não tinha um Plano B.

— Faço tudo o que eu posso para ajudar a equipe — disse Landon, levantando uma palma.

Assim que Soomie ficou entretida com seu BlackBerry, Maria olhou para Ariana e deu-lhe um olhar agradecido. Ariana sorriu em resposta. Esta conversa não poderia ter saído mais perfeitamente nem se ela mesma tivesse escrito o roteiro. Ela sentou-se com um suspiro de satisfação para saborear sua última vitória com o seu latte gelado.

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Traduzido por Gabi Vieira

ssa noite, Ariana finalmente entendeu por que Soomie e as outras tinham estado tão surpresas por Ariana nunca ter ouvido falar de Landon Jacobs. A cena no Museu de Cultura Pop parecia ter sido tirada de um filme de

desastre de grande orçamento de Hollywood. Mas neste caso, todo mundo se esbarrava no museu até Landon. Todas as garotas estavam gritando. Algumas delas estavam chorando. Ariana viu pelo menos três delas desmaiarem. Uma menina arranhou o rosto de outra quando ela tentou furar a fila e alguém estava sendo levada em uma maca, mas havia tantos corpos entre Ariana e a porta, que ela não podia ver bem de quem se tratava e o que havia acontecido.

Landon estava em um grande cenário na parte da frente da sala para sua sessão de fotos, em suas costas havia centenas de enormes telas de plasma suspensas na parede. Cada tela reproduzia seu último clipe, que por alguma razão apareciam líderes de torcida e gueixas. Todas as garçonetes que circulavam na festa estavam vestidas da mesma maneira que as meninas no clipe, até com a maquiagem nos olhos e os penteados superelaborados. Elas serviam sanduíches grátis e refrigerantes de diferentes sabores para as meninas, e bebidas de dez dólares para os adultos, que, como Tahira previu, todos pareciam estar com uma séria necessidade de um pouco de algo para relaxar. Nas telas, meia dúzia de gueixas e líderes de torcida estava bajulando Landon, que estava sem camisa no clipe. Sem camisa e, aos olhos de Ariana, magro e pouco atrativo.

— Isso é ridículo — disse Ariana, gritando para ser ouvida por cima do estrondo de vozes, gritos e aplausos, para não mencionar a música de rock incrivelmente alta que estava sendo bombeada através de dezenas de enormes alto-falantes. — Sinto muito, mas o que há de bom em Landon? Ele parece ser uma pessoa totalmente média para mim.

— Eu sei, certo? — Lexa disse, pegando uma nota de vinte dólares de uma das dezenas de garotas tentando se amontoar em sua mesa. Ela rapidamente pegou o troco e o entregou, e logo carimbou a mão da garota. — Eu me pergunto se estariam tão entusiasmada por ele se soubessem, literalmente, que ele pode passar uma hora mexendo nas unhas dos seus pés.

— Eca — disse Ariana. Ela olhou para Landon enquanto ele deslizava seu braço em volta de uma garota ruiva chorando e sorria para a câmera, inclinando sua cabeça para que seu cabelo caísse sobre seu olho. — Como você sabe disso?

E

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— Estivemos todos em Saint-Tropez no ano passado no fim de semana do Dia da Disparidade — disse Lexa, inclinando-se até Ariana. — Eu vi ele fazer isso lá na praia.

Ariana reprimiu uma risada. — Aqui estão! — uma garota alta, encorpada, com longos cabelos castanhos

apareceu na frente da mesa com um prato cheio de comida. — Tenho três de cada petisco.

— Obrigada, Melanie. Estou morrendo de fome — disse Lexa. — Ana, você já conheceu Melanie?

Melanie virou-se para Ariana com um sorriso. — Não. Prazer em conhecê-la — disse Ariana. — Garota dos lanches, eu

suponho? — Essa sou eu — respondeu Melanie. — Me avisem se vocês precisarem de

algo mais! Em seguida, ela rapidamente se virou e caminhou de volta ao combate. Lexa

pegou o menor hambúrguer que Ariana já tinha visto e deu uma mordida. — Tahira se superou com a comida — ela disse. — Muito inteligente escolher

comidas que as massas possam reconhecer ao invés de algo mais sofisticado. Prove! Ariana pegou um pequeno pedaço de queijo grelhado e o levou na boca, onde

se derreteu em sua língua. — Nada mau — ela admitiu. — Ok! Ok! Saiam do meu caminho! — Brigit gritou, se acotovelando ao lado de

uma garota com aparelho enquanto voltava do banheiro. Ela estremeceu, endireitou o suéter brilhante que usava por cima do vestido preto, e se aproximou do lado de Ariana. Sem pensar duas vezes, pegou um dos triângulos de queijo grelhado e comeu.

— É uma coisa boa eu ter oferecido minha equipe de segurança para vigiar o dinheiro esta noite. Se Rudolpho estivesse aqui comigo, ele teria esmagado esta menina!

— Você está bem? — Lexa perguntou, verificando Brigit. No segundo que suas amigas viraram as costas para ela, Ariana deslizou uma pilha de notas para fora da caixa do dinheiro e rapidamente empurrou-as em sua bolsa aos seus pés. Ela estava fazendo isso toda a noite quando ninguém estava olhando, mas toda vez que ela fazia isso, ela prendia a respiração, o que fazia ela começar a se sentir enjoada. Ainda assim, no momento em que Brigit e Lexa viraram outra vez, ela estava sentada com as costas retas, pegando mais vinte e cinco dólares de uma garota com tranças, e carimbando a mão da garota com um grande L roxo.

— Pronto! — Ariana disse brilhantemente. — Basta mostrar o selo para o garoto na frente da fila que ele vai saber que você pagou pela sua foto!

— Você realmente estuda na mesma escola que ele? — a menina perguntou, com os olhos arregalados, enquanto ela segurava uma revista Seventeen com Landon na capa.

— Sim — disse Ariana com um aceno. — Eu realmente estudo. — Você é tãããão sortuda — disse a garota atrás dela. — Eu mataria para

estudar na mesma escola que ele. E eu mataria para ficar naquela escola, Ariana pensou, colocando seu pé em

cima da bolsa que mantinha cada centavo que ela tinha recolhido para Kaitlynn até

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agora. Dentro da sua bolsa de camurça havia uma mochila menor, e dentro estava o dinheiro que ela tinha ganhado por penhorar todas as coisas que ela tinha roubado — algo que ela não tinha ouvido falar de novo desde a vez no refeitório, graças ao universo pelos pequenos favores. Cada vez que ela sentia a menor dúvida sobre o que ela tinha que fazer esta noite, ela se lembrava a si mesma todos os riscos que ela já tinha corrido, apenas para obter a quantidade insignificante de dinheiro que estava em sua bolsa. Se ela não seguisse com o plano, tudo seria em vão. Além disso, depois desta noite, o dinheiro estaria fora de suas mãos, e não haveria evidência de que ela era a culpada. Ela só tinha que superar este evento.

— Obrigada! — Brigit disse a outra cliente pagante. — Agarre a bunda dele! Ele gosta disso! — ela brincou.

Ariana e Lexa riram enquanto Brigit puxava a caixa de metal com o dinheiro até ela. Ela verificou dentro e sorriu.

— Vamos ganhar. — Eu sei. Temos recebido uma quantidade obscena de dinheiro — Lexa

respondeu. De repente, Adam deslizou detrás da mesa e levantou a mão em saudação. — Ei — ele disse sem fôlego. — Precisam de mim para levar algo para a sala

do banco? Ele já tinha uma caixa de dinheiro escondida debaixo de um braço e seu rosto

estava vermelho por causa do esforço de lutar no meio da multidão pela milionésima vez nessa noite. O garoto estava trabalhando mais do que qualquer outra pessoa no museu.

— Sim. Esta está cheia — disse Brigit, fechando a caixa de metal e entregando-a. — Na verdade, eu acho que eu vou com você e verificarei Rudolpho.

— Tudo bem — disse Adam com um sorriso. — Você pode me proteger dessas loucas.

— Proteger você? — Brigit disse, virando-se para olhá-lo. — É uma alusão ao meu peso?

Os olhos de Adam se arregalaram. — Não! Não! Eu juro. É uma alusão a minha total fraqueza — ele respondeu, sem jeito.

— Fraqueza, é? — Brigit estreitou os olhos, mas logo sorriu. — Ok, então. Eu vou te proteger.

Os dois foram juntos, evitando um grupo de garotas que conversavam. A sala do banco era um apelido para a área do vestiário, onde o guarda-costas de Brigit, Rudolpho, havia sido lançado para coletar todo o dinheiro dos vários postos e do bar durante toda a noite, e guardá-lo tudo junto em grandes sacos. Adam vinha fazendo corridas pelos diferentes postos e entregando o dinheiro a Rudolpho, que não parecia tão empolgado com a mudança de trabalho. Brigit tinha explicado que nos dias normais, dentro dos muros de proteção do Atherton-Pryce, ela não precisava de alguém vigiando-a, mas cada vez que ela saia para um grande evento público como este, o rei e a rainha insistiam que ela levasse um guarda. Mas ela dirigia Rudolpho com o dedo mindinho, e era capaz de convencê-lo a não respirar no seu pescoço toda a noite e em seu lugar fazer um trabalho muito mais importante — guardar o dinheiro com sua vida.

Enquanto o próprio pensamento de muitos seguranças contratados pelo museu fez Ariana suar de uma maneira pouco atrativa, o fato de que o próprio

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guarda de Brigit estava vigiando o dinheiro era na verdade uma benção para Ariana. Ela tinha a sensação de que isso faria o plano mais fácil de executar, em vez de mais difícil. Se ela pudesse conseguir alinhar todas as peças como ela tinha planejado.

Ao contrário de Brigit, Tahira tinha uma patrulha de segurança total, provavelmente porque a fazia parecer mais importante. Enquanto circulava pela sala, era ladeada por dois guarda-costas robustos que giravam suas cabeças aonde ela fosse enquanto se faziam perguntas sabe-quem-ela-é e se ela era famosa. Ariana tinha ouvido algumas garotas ciumentas se perguntando se Tahira poderia ser a namorada de Landon, e se ele poderia ter contratado os seguranças para tomar conta dela.

Do outro lado da sala, Ariana viu Tahira parar para conversar com alguns pais, assegurando-se de que suas bebidas estivessem cheias e incentivando-os a gastar em suas filhas. A garota realmente sabia como recolher cada dólar dessas pessoas.

— Eles fazem um lindo casal, não é? — Quem? — Ariana perguntou, seus pensamentos ainda viajando em Tahira e

Landon. — Brigit e Adam — disse Lexa abrindo uma nova caixa de dinheiro e dando o

troco a duas gêmeas. — A princesa e o pobre? É um clássico. Ariana sorriu. Ela não se preocupou em salientar que O Príncipe e o Pobre não

eram um par romântico, mas sim dois caras. — Acho que poderia dar certo. Os dois são tão... inocentes.

— Eu sei, certo? Talvez devêssemos uni-los — disse Lexa, os olhos brilhantes com a possibilidade.

O coração de Ariana vibrou com a ideia de ser incluída em um esquema de intermediação com Lexa. Isso se parecia tão melhores-amigas.

— Sim. Definitivamente deveríamos. Tahira estava se aproximando enquanto conversava amistosamente, sua

equipe de segurança certificando-se de que as massas deixassem um grande espaço para ela.

— Eu me pergunto como é ter guarda-costas — disse Ariana. — Aposto que é uma merda — Lexa respondeu. — Imagina não ter controle

sobre sua própria vida? É. Eu sei como é isso, Ariana pensou, olhando seu relógio. Seu coração pulou

com a surpresa. Já eram quase oito e meia. O tempo voava quando milhares de garotas enlouquecidas estavam gritando na sua cara.

Kaitlynn estaria no beco do lado de fora em exatamente uma hora e meia. O estômago de Ariana fechou e suas palmas começaram a suar. Ela sabia que o dinheiro a seus pés não era suficiente para pagar Kaitlynn. Se ela quisesse ter êxito, ela necessitava entrar na sala do banco. Este era o lugar aonde o guarda de Brigit ia ser muito fácil de lidar. O risco era imensamente alto. E se ela fosse pega...

Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... Ariana inalou e exalou através de seu nariz, apertando seu antebraço embaixo

da mesa. Ela não ia ser pega, esta era sua única oportunidade de agarrar-se a sua nova vida. Ela tinha que pensar positivamente.

— Azul e cinza estão em baixa — Lexa falou enquanto ela continuava a carimbar mãos.

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Ariana simplesmente sorriu e tentou ignorar o nó de culpa que se formava em seu estômago. E se a equipe dourada perdesse por sua culpa? E se ela fosse pega? Com certeza ela estaria na lista negra da sociedade secreta. Mas então depois ela seria expulsa, ou presa, antes que tivesse a chance de acontecer. Ela podia perder tudo, como resultado desse esquema: sua casa, seus amigos, sua educação, seu futuro. Mas se ela não roubasse o dinheiro, não importaria se ela fosse expulsa, porque de toda maneira haveria acabado.

De certa forma, Ariana ao mesmo tempo não tinha nada e tinha tudo a perder. Se não ganharmos este evento, ainda podemos ganhar a competição de remo e

conseguir a Casa Privilege, raciocinou Ariana com ela mesma. Só temos que ganhar dois dos três eventos. E eles não saberão o que eu fiz. Não saberão. Eu tenho sido tão cuidadosa...

Claro que o próximo passo ia ser complicado, mas não havia nada que ela pudesse fazer agora. Era sua única esperança. Ariana olhou para a sala do banco, mantendo um olho sobre a posição de Brigit, em seguida, examinou a sala para se certificar de que sabia onde estava Tahira também. Ela olhou seu relógio de novo, pegou um pouco de dinheiro, carimbou algumas mãos. Outra hora mais ou menos, e ela estaria a caminho do plano B. Ela só esperava que ninguém se prejudicasse. A menos, é claro, que tivesse que ser assim.

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Traduzido por Lua Moreira

riana olhou para o relógio. Faltavam quinze para as dez. Era a hora. Ela olhou para Lexa, sentiu um aperto de culpa sobre o que ela estava prestes a fazer, e a deixou passar. Acima de tudo, ela tinha que ficar em Atherton-Pryce Hall.

Esta era a única maneira. — Eu tenho que fazer xixi — Ariana anunciou, balançando as pernas para cima

e para baixo por baixo da mesa para dar efeito. — Não me deixe — disse Lexa com um sorriso, segurando o braço de Ariana.

— Eu não posso fazer isso sozinha. — Tudo bem. Vou esperar Brigit voltar — Ariana respondeu, tentando parecer

relutante. Na verdade, ela não estava pensando em ir a lugar nenhum até que Brigit voltasse de sua última viagem com Adam e as caixa de dinheiro — uma tarefa que Lexa tinha sugerido que eles continuassem a fazer juntos. Não até depois que o plano B estivesse em pleno vigor. — Oh, olha. Lá está Tahira — disse Ariana, levantando a cabeça, quando a princesa de Dubai passou a poucos metros de sua mesa. — Vamos ver como estamos indo. — Ariana levantou-se e gritou por cima das cabeças das garotas que se amontoaram. — Tahira! Venha aqui um segundo! — ela gritou, acenando com a mão.

Tahira se virou com um sorriso que sumiu no momento em que ela viu que era Ariana quem a estava convocando. Ela disse algo a um de seus guarda-costas e três deles se moveram em direção à mesa, afastando a multidão como o Mar Vermelho. Quando chegaram, Ariana olhou com o canto do olho e viu Brigit retornando. Ela reprimiu um sorriso triunfante. Isso ia dar certo. Tinha que dar.

— Ei, Lexa — disse ela em um tom de voz normal. Então ela levantou uma sobrancelha para Ariana e, em tom de escárnio acrescentou, — Zero pontos.

Era interessante que Tahira não parecesse se importar em rebaixar as amigas de Lexa bem na frente dela e como Lexa não sentia a mínima necessidade de defender suas amigas. Era quase como se tivessem algum tipo de acordo tácito que permitia tal comportamento. No entanto, era outro mistério que Ariana teria que desvendar, se ela conseguisse concluir esse plano com êxito e permanecesse no APH.

— O que foi? — Tahira perguntou, cruzando os braços sobre o peito. Ela e seus guarda-costas formaram uma parede completa entre a mesa e os clientes pagantes, fazendo uma pausa no comércio por um momento. — Eu tenho clientes para atender.

A

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— Eu sei. Eu não vou mantê-la aqui por muito tempo — disse Ariana, com toda a doçura açucarada. — Só queríamos nos atualizar. Como estamos indo?

Tahira inclinou-se para a mesa quando Brigit e Adam chegaram, seu sorriso totalmente satisfeito. — Bem, nós já ganhamos bem mais de um milhão de dólares — disse ela em um sussurro/grito. — Isso é mais dinheiro do que a equipe dourada já viu no passado, e estamos apenas no meio da noite.

— Uau! Você está falando sério? — Adam disse, como se nunca tivesse ocorrido a ele que poderia ganhar tanto.

Ariana congelou um pouco, percebendo que não era bom que Tahira estivesse muito ciente dos valores em dólares arrecadados. Mas ela não podia pensar nisso agora. Ela tinha que seguir com o plano.

— Um milhão? Sério? Isso é tudo? — ela disse, tentando soar um tanto preocupada e divertida.

Todo mundo olhou para Ariana, como se ela estivesse falando em línguas diferentes. Até mesmo os seguranças mudaram sua expressão por uma fração de segundo antes de voltarem a seus olhares desinteressados.

— O que você quer dizer com “isso é tudo”? — Tahira retrucou, levantando as mãos para que suas pulseiras de ouro tilintassem. — Você não ouviu o que eu disse? Nós já quebramos os recordes.

— Oh — disse Ariana, com falsa inocência. — Parece que a ideia de Brigit teria levantado o dobro. Você não acha, Brigit?

Todos olharam para a princesa norueguesa. O queixo dela caiu um pouco por ter sido colocada em evidência, mas então ela olhou para Tahira e assumiu sua postura desafiadora. — Provavelmente — ela fungou. Ariana arregalou os olhos para Brigit, dizendo-lhe para ser forte. — Definitivamente, quero dizer. Eu definitivamente teria levantado mais. E eu não teria que contar com a fama de um dos meus colegas para isso.

— Meninas — disse Lexa em um tom de aviso. — Nós temos que fazer isso aqui?

Infelizmente, sim. Tem que ser aqui, Ariana pensou. — Oh, sério? — Tahira disse, ignorando Lexa e caminhando ao redor da mesa.

— Então me diga, quais foram essas ideias brilhantes que teriam levantado zilhões? — ela exigiu. — Porque aparentemente Palmer não concorda que qualquer uma delas seja melhor do que a minha.

Ariana mordeu o interior de seu lábio. Isso estava ficando ainda melhor do que ela esperava. Ela pegou sua bolsa de debaixo da mesa. Ela pesava muito mais do que quando ela chegou.

— Eu ainda tenho que ir ao banheiro — Ariana sussurrou para Lexa, com uma expressão de dor no rosto. — Você se importa?

— Não! Vá! Vá em frente — disse Lexa, mandando-a embora. — Adam vai ficar comigo e ajudar a manter a paz, certo, Adam?

Posto em seu lugar, Adam hesitou. — Uh, com certeza. — Isso é porque Palmer pensou que seria divertido colocar seu amigo Landon

no centro das atenções por uma noite — disse Brigit para Tahira. — Tudo o que você fez foi jogar com a mentalidade do clube dos meninos. Foi por isso que ele te elogiou. Será que você tem o seu brinquedinho Rob sussurrando em seu ouvido também? Você pode fazer alguma coisa sem um homem te ajudando?

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Tahira deixou escapar um suspiro indignado. — Retire o que disse! — O que você vai fazer, mandar seus guarda-costas me baterem? — Brigit

disparou de volta. Quando Ariana se afastou, a comoção total explodiu atrás dela. Lexa agarrou

o braço de Brigit quando Tahira avançou. Os seguranças tentaram conter a princesa de Dubai, mas de alguma forma Brigit e Tahira acabaram no chão, lutando uma com a outra enquanto Adam tentava em vão agarrar Brigit. As meninas gritaram por uma razão totalmente nova, e um casal de namorados que havia sido atraído até ali pegou seus celulares para tirar fotos. Ariana estava no meio do caminho para o “banheiro” que era convenientemente localizado perto da sala do banco, quando o segurança de Brigit saiu correndo para ajudá-la, deixando o dinheiro sem vigilância.

Perfeito. Ariana sabia que o guarda-costas de Brigit iria ser fácil de lidar. Qualquer

segurança aleatório poderia ter ficado com o dinheiro, mas o guarda pessoal de Brigit não podia ficar parado e deixar que sua princesa fosse chutada por Tahira. Rudolpho iria estar ocupado nos próximos minutos.

Com seu coração batendo em um ritmo insano, Ariana deslizou atrás do balcão de casacos e fez uma pausa. Aos seus pés havia nada menos do que cinco sacos de lona de dinheiro até a borda. Parte dela queria apenas pegar uma e sair correndo, mas se um dos sacos desaparecesse seria muito óbvio. Verificando se a briga ainda estava em pleno andamento, Ariana caiu de joelhos, abrindo a bolsa dobrável de dentro de seu bolso, e afrouxando as cordas do saco de lona cheio de dinheiro. Ela estendeu a mão para dentro e pegou punhados de dinheiro, colocando-os em sua mochila. Quando ela sentiu que já tinha feito o bastante, ela rapidamente fechou o saco e novamente abriu o próximo, seguindo o mesmo padrão. Uma vez que ela tinha conseguido três sacos, ela sentiu que tinha feito tudo o que podia, sem prejudicar muito a equipe dourada no jogo, e sem tornar totalmente óbvio que havia dinheiro faltando. Ela fechou o zíper da sua mochila, olhou por cima da borda do balcão, e congelou. A ordem foi restabelecida. Rudolpho estava verificando Brigit mais para ter certeza de que ela estava ilesa. A qualquer segundo eles iriam perceber que o dinheiro não estava sendo observado.

— Droga — disse Ariana baixinho. Ela deslizou para fora de detrás do balcão e abaixou-se no corredor, assim que

Brigit apontou em direção ao vestiário. Ariana não esperou para ver se Brigit ou o guarda tinham notado. Ela simplesmente continuou se movendo, ao fundo do corredor, através de uma porta de metal, por um conjunto de escadas, e para o beco, sentindo de toda maneira que a qualquer momento alguém ia tocar em seu ombro. Não foi até que ela chegou na porta e esta bateu por trás dela que ela começou a respirar de novo.

Kaitlynn afastou-se da parede oposta. Ariana ficou momentaneamente assustada, mas ela se recuperou rapidamente. Ela nem sequer deu à menina a chance de falar.

— Aqui — disse ela, deixando a mochila cair aos seus pés no chão lodoso. — Aqui está o seu dinheiro. Agora me deixe em paz.

Kaitlynn usava legging preta, uma camisa de flanela de um tamanho maior, e uma jaqueta jeans rasgada. Ela cutucou o saco com a ponta da bota preta

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desajeitada como se ela estivesse checando para ter certeza que não estava cheia de cobras.

— Está tudo aí? — ela disse com ar de dúvida. — Um milhão de dólares. Ariana suspirou de forma exasperada. Ela poderia simplesmente mentir e dizer

que sim, tudo estava lá, mas ela tinha certeza de que Kaitlynn iria ligar amanhã, fazendo mais ameaças.

— É quase tudo, ok? É o suficiente. Kaitlynn sorriu. — Vamos ver se é o suficiente. Em seguida, a menina sentou-se de pernas cruzadas, ali mesmo no frio chão

do beco sujo, e começou a contar. — Você vai fazer isso aqui? — Ariana perguntou, olhando ao redor. — Não. Nós vamos — Kaitlynn respondeu. — Sente-se. — Eu não posso sentar com este vestido — disse Ariana, olhando para seu

vestido cor creme Ralph Lauren. — Além disso, eu tenho que voltar. — Primeiro você me engana e agora você me ajuda? Eu não acredito nisso —

disse Kaitlynn. — Sente-se. Segurando a fúria que crescia dentro dela, Ariana olhou em volta e viu uma

porta de metal do outro lado do beco. Ela se aproximou e espiou pela janela de vidro rachado. Dentro havia um conjunto de escadas industriais e uma única lâmpada bruxuleante saindo da parede. Ariana tentou abrir a porta, que rangeu quando ela o fez.

— Aqui — disse ela. Kaitlynn revirou os olhos, mas pegou a bolsa e caminhou até ela. — E se alguém vier para baixo? — ela disse. — Então, nós vamos lidar com isso — Ariana respondeu por entre os dentes.

— É muito melhor do que estar aqui a céu aberto, onde um carro da polícia poderia dirigir por aqui ou um guarda de segurança poderia sair para fumar um cigarro.

Kaitlynn entrou e sentou no último degrau para retomar a contagem. Ariana relutantemente se juntou a ela, agachando-se para o chão de linóleo sujo e dobrando a saia de seu vestido sobre as coxas para evitar que ficasse manchada. Ela enfiou a mão no saco, tirou um punhado de dinheiro, e começou a contar, mantendo um ouvido na escada acima para o som de uma porta batendo ou uma pisada. Horas parecerem passar. Dias. Havia uma tonelada de dinheiro em notas bem pequenas. Mas elas conseguiram contar cada dólar. E quando elas terminaram, Kaitlynn fez o registro.

— Novecentos mil e vinte dólares — disse ela, olhando para Ariana. — Você estava certa. Está bem perto.

Mas era perto o suficiente? Ariana não teve coragem de fazer a pergunta. Ela não poderia se imaginar se deixando soar tão desesperada. Kaitlynn lentamente colocou todas as pilhas de dinheiro na mochila. Então ela a fechou, colocou as alças nos ombros, e se levantou. Ela ofereceu a Ariana sua mão, mas Ariana a ignorou. Por alguns momentos Kaitlynn apenas ficou lá, em silêncio, sobre Ariana. A cada segundo que passava, Ariana se sentia cada vez mais presa, mais e mais dolorosamente ansiosa.

Apenas vá embora. Saia da minha vida, ela quis dizer a Kaitlynn. Qual diabos é a diferença entre novecentos mil e um milhão?

Finalmente, Kaitlynn falou. — Cem mil dólares é muito dinheiro, Ariana.

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A fúria dentro de Ariana explodiu. Sua visão ficou nublada e seus dedos se fecharam em punhos. Ela mordeu a língua tão forte que saiu sangue.

— Basta levá-lo! — ela disse por entre os dentes, os olhos tão arregalados que era doloroso. — Basta levá-lo, entrar no avião e ir embora!

Kaitlynn sorriu. Ela balançou a cabeça e estalou a língua suavemente sob sua respiração. — Você simplesmente não entende. Tínhamos um acordo. E se você não me der o resto do dinheiro até amanhã de manhã, Ariana... — Ela puxou o celular do bolso, apertou um botão, e ergueu-o. A tela mostrava Polícia. — Eu tenho-os na discagem rápida.

Ariana se sacudiu da cabeça aos pés. — Eu te odeio. Eu te odeio mais do que eu já odiei alguma pessoa na minha vida.

Naquele momento, Ariana realmente sentiu que isso era verdade. Ela odiava Kaitlynn mais do que ela tinha odiado o Dr. Meloni. Mais do que ela odiava Reed Brennan, que tinha roubado Thomas Pearson dela, e Mel Johnston, que ameaçou levá-lo embora. Mais do que ela havia odiado Thomas nos seus momentos fugazes quando ela permitiu que sua traição queimasse sob sua pele.

O sorriso de Kaitlynn se abriu como se estivesse orgulhosa em ouvir isso. — Uau. Com você, isso realmente quer dizer alguma coisa. — Ela deu uma tapinha duas vezes no ombro de Ariana. Ariana usou toda a sua força de vontade para não arrancar o braço da garota de seu ombro. — Amanhã de manhã, BL. Me ligue.

Então ela se virou e empurrou a porta. Ariana entrou no beco e assistiu-a ir. Ela a viu desaparecer ao virar da esquina, levando com ela todas as esperanças de Ariana para o futuro. Os ombros de Ariana caíram. Cada músculo em seu corpo ficava fraco enquanto sua adrenalina alta caía, e seus olhos se enchiam de lágrimas desesperadas.

Todo esse trabalho. Tudo o que ela havia roubado, escondido e rezado para que ela não fosse pega. Tudo isso seria para nada. Porque não havia absolutamente nenhuma maneira de ela colocar suas mãos em cem mil dólares até amanhã de manhã.

De nenhuma maldita maneira.

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Traduzido por L. G.

o momento em que os ônibus do Atherton-Pryce Hall deixaram Ariana e seus amigos no estacionamento em frente aos dormitórios, Ariana estava fisicamente e emocionalmente esgotada. Todos a sua volta estavam em

clima de comemoração, contando histórias sobre coisas loucas que os fãs tinham feito e pensando na quantidade de dinheiro que eles tinham arrecadado, mas tudo o que Ariana podia pensar era no fato de que, neste momento de amanhã, sua vida estaria acabada.

Ela deveria arrumar as malas hoje à noite e fugir? Esperar a primeira luz da manhã? E pra onde ela iria? Ela não tinha ninguém. Nenhum lugar amigável na terra. Ela supôs que poderia voltar para o Texas por alguns dias. A avó de Briana Leigh tinha gostado da “Emma Walsh”. Talvez ela pudesse aceitá-la por um tempo, mas se Kaitlynn havia dito tudo à polícia, não procurariam por ela lá? Ariana de repente sentiu-se exausta e arduamente triste. Como ela poderia ter falhado? Todo esse risco, e sua recompensa ia ser uma passagem só de ida de volta para a Brenda T. A própria ideia de ser trancada dentro daquelas paredes de blocos de concreto novamente fez seu sangue ferver e seu coração bater com desespero.

De nenhuma maneira ela voltaria para lá. Ela morreria primeiro. Mas isso deixava apenas uma opção. Ela teria que se jogar aos pés de Kaitlynn

e implorar por misericórdia. A ideia trouxe bile para o fundo da garganta de Ariana, mas era tudo o que ela tinha.

— Bem, pessoal, obrigada por todo seu trabalho duro — disse Tahira enquanto os estudantes se reuniam no estacionamento. — Vamos contar nosso dinheiro amanhã, mas podem ter certeza que nós acabamos com a equipe azul e cinza hoje à noite.

Todo mundo aplaudiu e gritou. Ariana forçou um sorriso por causa de Lexa e Brigit. Brigit era a única, além de Ariana, que não estava animada. Ela apenas encarava Tahira como se estivesse em busca de sangue. Ariana sentiu uma pontada de culpa por ter tencionado ainda mais a situação entre as duas princesas, mas valeu a pena. Ou teria valido a pena se ela tivesse conseguido roubar mais cem mil. Se ao menos ela tivesse ficado atrás do balcão por mais trinta segundos. Ela teria sido capaz de pegar o dinheiro suficiente para fazer isso tudo desaparecer?

O lamento pesava sobre seus ombros como o peso do mundo estava esmagando-a.

N

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— Vamos lá — disse Lexa, atirando os braços ao redor de Ariana e Brigit, enquanto a multidão se desfazia. — Vamos invadir meu esconderijo de lanches e comemorar.

Elas estavam se aproximando da alcova do lado de fora do Cornwall quando Tahira e Allison ofensivamente ultrapassaram a frente delas e abriram a porta. — Obrigada por toda sua ajuda, zero pontos — Tahira disse sarcasticamente por cima do ombro.

Algo dentro de Ariana estalou. Ela não precisava daquela vadia zombando dela, além de tudo. E, de repente, foi como se uma porta se abrisse dentro de sua mente e a ideia perfeita veio pulando para fora com um grande “tã-dã”. Era isso. Essa era a sua salvação.

— Ok, princesa — disse ela, se desvencilhando do braço de Lexa. Ela se aproximou de Tahira na porta, encarando-a de frente a poucos centímetros de distância. — Você, eu, revanche, amanhã.

— Beleza! — Brigit disse, animando-se consideravelmente. Tahira riu de uma forma desagradável. — Por favor. Não vá se humilhar de

novo. — Esqueça a humilhação — disse Ariana enquanto uma multidão de meninas

do Cornwall se formava no pátio, incapazes de entrar porque ela e Tahira estavam bloqueando a porta. — Estou tão confiante de que vou vencer que apostaria... vamos ver... cem mil dólares.

Um sussurro abafado deslizou por entre a multidão de curiosos. A mandíbula de Lexa caiu. — Ana, você tem certeza que quer...

— Você não tem acesso a esse tipo de dinheiro — Tahira respondeu. Ariana sentiu um raio de medo. Tahira estava, é claro, correta sobre isso. Ela

nem sequer tinha acesso a cem dólares nesse momento. Mas essa era a sua última e única esperança. A única maneira de evitar se atirar à mercê de Kaitlynn. E ela poderia vencer Tahira. Ela sabia que podia. Especialmente quando a alternativa era a cadeia e, potencialmente, o corredor da morte.

— Não? Você sabe quem era meu pai? — Ariana atirou de volta. Pela primeira vez, Tahira quebrou o contato visual, olhando para Allison, como

se estivesse à procura de orientação. Ela está com medo, Ariana pensou. Ela sabe que eu não apostaria tanto dinheiro

a menos que eu soubesse que poderia ganhar. Ariana praticamente podia ouvir Tahira pesando os prós e os contras. O direito de se vangloriar e o triunfo absoluto se ela ganhasse. O constrangimento se perdesse. Por um momento, ela teve certeza de que a menina ia recuar. Se envergonhar agora para se salvar mais tarde. Mas ela não podia deixar isso acontecer. Ela precisava do dinheiro de Tahira.

— Ana. Eu não sei se isso é uma boa ideia — disse Lexa em seu ouvido. Ariana a ignorou. Talvez ela perdesse a chance de estar na sociedade secreta, mas ela conseguiria manter sua vida.

— Ah, olha, Brigit, a princesa do Dubai está com medo! — ela brincou, ganhando uma risada satisfatória da multidão. — Eu pensei que você fosse a deusa do tênis número um da Costa Leste.

— Eu sou — disse Tahira através de seus dentes. Ariana sentiu um chiar de excitação e triunfo quando Tahira se endireitou. — Tudo bem — disse ela. — Meio-dia na quadra. Estou dentro.

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Meio-dia seria tarde demais. Kaitlynn estaria esperando um telefonema pela manhã.

— Que seja às oito — disse Ariana com um sorriso. — Eu gostaria de esmagar o seu ego antes do café.

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Traduzido por Ivana

ahira estava suando. Ariana conseguia ver toda a trilha de suor desde a linha de fundo. O tecido branco da sua camiseta de tênis agarrado à sua pele com manchas pouco atraentes, e grandes gotas de suor descendo de sua testa

para seus olhos. Ariana, entretanto, estava tão fresca como se estivesse deitada em um

travesseiro. Era sábado de manhã, e hoje, Tahira era a Zero Pontos. E Ariana estava mais do que feliz em passar o apelido adiante. Ela estava com um set a zero e com cinco pontos a um no segundo set. Tudo o que tinha a fazer era marcar os próximos dois pontos, e o dinheiro seria dela. A liberdade seria dela. Kaitlynn seria história.

— Você está pronta? Porque você pode parar um minuto, se você precisar — disse Ariana com falsa preocupação enquanto ela jogava a bola para cima e para baixo na frente dela. Brigit, Lexa, Maria, Soomie e o resto de seus amigos riram. Menos Palmer, no entanto. Embora ela estivesse tentando muito não se importar com isso.

— Apenas jogue a maldita bola — Tahira respondeu, obviamente farta. — Se você insiste. Ariana jogou a bola para cima e bateu nela através da rede o mais forte que

podia. Tahira se lançou para ela e somente alcançou a bola com a ponta de sua raquete. A bola passou para o outro lado da rede e Tahira parecia tão surpresa quanto Ariana de que ela tivesse impacto suficiente para chegar lá. Ariana preparou-se para uma defesa de direita e devolveu a bola para o canto oposto da quadra, o que fez Tahira correr em toda a linha de base. Mais uma vez, ela conseguiu encostar sua raquete na bola, mas desta vez não havia potência suficiente nela. A bola bateu na fita e saltou para baixo do lado de Tahira da rede.

— Isso — disse Ariana por entre os dentes, enquanto seus amigos aplaudiam. Ela olhou para as arquibancadas e saboreou seus aplausos. Todos, menos Lexa, estavam enlouquecendo. Lexa apenas aplaudiu educadamente, uma anomalia que irritou Ariana.

— Está 40-15 — Ariana avisou. — Este é o match point. — Obrigada por me lembrar o óbvio — Tahira respondeu, seu peito arfando

enquanto ela se endireitava. — Que tal você calar a boca e sacar? — É um prazer — Ariana respondeu. Ela saltou de pé para pé algumas vezes, a sua energia crescendo enquanto a

de Tahira despencava, como se ela estivesse de alguma forma, sugando a força da

T

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menina do outro lado da quadra. Ela sorriu para si mesma, saboreando o momento. Isso era tudo. Se ela conseguisse fazer este ponto, sua vida estava salva. Ela jogou a bola para cima, deixou quicar embaixo, e disparou do outro lado da quadra.

Mais uma vez, Tahira teve que se lançar. A bola resvalou na borda superior de sua raquete, voando forte demais e por cima da rede.

— Merda! — Tahira gritou. A menina sabia que estava indo para o fundo da quadra. Ariana sabia que

estava indo para o fundo. Todo mundo na arquibancada sabia que estava indo para fundo da quadra. Até mesmo Sumit e seu companheiro de quarto, Jonathan, que se ofereceram para atuar como juízes de linha, sabiam que estava indo para fora. O coração de Ariana pulou de alegria, mas ela correu para trás para o caso de ser necessário rebater a bola. Se ela precisasse rebater, ela iria rebater bem entre os olhos da menina.

— Fora! — Sumit gritou quando a bola bateu no chão pelo menos uns trinta centímetros fora da linha.

— Isso! — Ariana aplaudiu enquanto suas amigas se levantavam e corriam em direção a ela.

Tahira deixou escapar um grito de frustração e bateu a raquete de mil dólares no chão, quebrando o seu arco em três lugares. Ela sentou-se no banco ao lado da quadra, escondendo o rosto entre as mãos. Ela bateu na mão de Rob quando ele veio consolá-la.

— Oh meu Deus! Você conseguiu! — Brigit gritou, jogando os braços em torno de Ariana. — Eu sabia que você conseguiria!

— Bom trabalho, Ana — disse Maria, balançando a cabeça enquanto tomava um gole grande de café expresso.

Lexa abraçou Ariana enquanto Soomie tirava uma foto com o seu BlackBerry. — E a bruxa malvada perdeu — disse Soomie com um sorriso.

Ariana sorriu para suas amigas, que não tinham absolutamente nenhuma ideia de quão grande essa vitória realmente era. Ela havia acabado de salvar a sua própria vida com uma raquete e uma bolinha verde.

— Desculpem-me. Eu tenho alguns negócios a resolver — disse Ariana, indo para longe delas e indo até Tahira. A menina ainda estava sentada no banco com uma toalha enrolada em volta dos ombros, que ela estava passava de um lado ao outro de seu rosto. Quando ela viu o tênis de Ariana na frente dela, ela simplesmente olhou para eles por um momento, inclinando-se para olhar para cima.

— Você tem algo para mim? — Ariana disse. Tahira olhou para ela. Ela enfiou a mão na bolsa de tênis e tirou seu iPhone.

Seus olhos nunca deixaram os de Ariana, enquanto segurava o telefone no ouvido. — Sim, papai. Sou eu — disse Tahira ao telefone, colocando uma mecha de

cabelo escuro atrás da orelha. — Sim, eu preciso de um favor. Preciso de cem mil dólares para pagar uma aposta.

Ariana prendeu a respiração. A menina estava dizendo a seu pai que tinha perdido esse dinheiro todo em uma aposta? Ela estava louca? Ela poderia ter, pelo menos, inventado uma boa mentira. Nenhum pai no seu perfeito juízo iria entregar tanto dinheiro por uma aposta. Sua pele se arrepiou e sua mente já começou a pensar três passos à frente, em uma nova tintura de cabelo, na passagem de ônibus e em uma vida em fuga.

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— Obrigada, papai. Sim. Eu sei — disse Tahira. Ela segurou o telefone longe de sua orelha e olhou para Ariana. — Você vai ter amanhã de manhã — ela sussurrou, enquanto seu pai continuava a falar do outro lado da chamada.

Ariana piscou. As imagens de si mesma enrolada na parte de trás de um ônibus, rechaçando passageiros com mau cheiro em seu caminho para o Alabama ou algum lugar assim, desapareceram com o vento. Ela não podia acreditar que Tahira poderia realmente ter nas mãos uma centena de milhares de dólares com tanta facilidade. Ela ainda odiava a menina, mas ela estava impressionada.

— Em dinheiro — disse Ariana, convencendo a si mesma que fazer aquilo não poderia ofender ninguém.

Tahira revirou os olhos. — Em dinheiro, tudo bem, papai? — ela disse ao telefone. — Obrigada. Também te amo. Beijos para a mamãe.

Ela pressionou o polegar no desligar, e em seguida jogou o telefone de volta em sua bolsa e se levantou. Cara a cara com Tahira, Ariana podia ver que a menina estava devastada. Seu cabelo estava encharcado de suor e seus olhos estavam vermelhos. Quando ela saísse da quadra, não havia nenhuma dúvida na mente de Ariana que a menina iria explodir em lágrimas pela sua humilhação pública. Assim que ela estivesse sozinha. Ela definitivamente tinha muito orgulho para não deixar ninguém vê-la ruir. Curiosamente, outro traço que Ariana admirava.

— O empregado do meu pai vai estar aqui na parte da manhã com uma pasta para você — disse Tahira sem problemas. — Parabéns. Você ganhou a aposta.

— Obrigada — Ariana respondeu. — Estou impressionada por você está sendo tão gentil sobre isso.

— Sim, bem, esse é o jeito que eu fui criada — Tahira respondeu, virando para pegar sua bolsa. — Mas eu não ficaria tão animada com a sua pequena vitória aqui hoje — disse ela, apontando com a mão para a quadra como se não significasse nada. — Havia algo muito maior em jogo, e nesse jogo, você está definitivamente perdida.

O coração de Ariana saltou em sua caixa torácica quando Tahira olhou em seus olhos, que pareciam cheios de fogo e enxofre. Ela quis dizer a sociedade secreta, não foi? Agora que ela tinha ganhado, ela tinha a vida de Briana Leigh de volta. E essa vida tinha que ser perfeita. Ela precisava entrar na sociedade secreta. Um calafrio percorreu a espinha de Ariana e tudo o que ela tentou fazer foi não tremer.

— Você acabou de ganhar uma inimiga de verdade, Ana — disse Tahira com uma fungada. — De agora em diante, estarei te observando.

Com isso, Tahira afastou-se, seguida por Allison, Zuri e Rob. Ariana respirou fundo e soltou o ar lentamente, dizendo a si mesma para manter a calma. Pelo que ela sabia, Tahira poderia estar lançando uma ameaça vazia para manter as aparências. Ariana tinha lidado com inimigos muito piores no passado. Como Kaitlynn Nottingham. Kaitlynn, a quem ela agora teria que convencer a esperar mais um dia pelo dinheiro dela.

Mas ela sabia que Kaitlynn esperaria. Ela tinha que esperar. Um dia a mais era melhor do que ambas voltando para a Brenda T. Ariana inclinou a cabeça para trás em direção ao sol, fechou os olhos, e apenas respirou. Em breve, amanhã, Kaitlynn estaria em seu caminho para o aeroporto. E Ariana iria finalmente ser livre.

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Traduzido por Ivana

oa prática, pessoal! — Palmer anunciou no final da tarde, jogando a toalha no banco em frente a ele. Ele passou os dedos pelo cabelo úmido e algumas gotas de água caíram sobre seus ombros nus. Os

rapazes aplaudiram e comemoraram, sentindo-se bem depois de seu treino no rio. Quando começaram a sair, Ariana recolheu suas coisas e os seguiu. Devagar. Ela não tinha falado com Palmer desde aquele beijo perto da lagoa, e ela queria que ele a parasse. Queria que ele quisesse falar com ela, também.

Não havia nada de errado em querer falar com o namorado de sua amiga, certo? Especialmente quando ele poderia ser o líder da sociedade secreta que ela estava morrendo de vontade de ser membro. Ela precisava ter certeza de que ela ainda estava em seu radar. De que ele permanecia interessado. Havia um motivo aqui que não tinha nada a ver com o coração.

— Nós estamos ferrados — disse ele. Ariana congelou. Ela se virou para olhar para ele. Será que ele quis dizer “nós”

a equipe, ou “nós” ele e ela? — O que você quer dizer? — perguntou Ariana. — Essa não foi uma boa prática. Eu menti completamente. Nosso tempo foi

péssimo — disse ele, passando a toalha sobre seu cabelo. — De nenhuma maneira vamos vencer azul e cinza. Suas equipes têm membros da equipe de remo e a nossa não. — Ele respirou fundo e soltou o ar quando ele sentou no banco. — Eu só espero que nós ganhemos a arrecadação de fundos da noite passada. Se ganharmos, não precisamos nem nos preocupar com a corrida.

O coração de Ariana se apertou. Isso não era nada bom. Mas tudo valeria a pena, lembra? Sua vida dependia do que ela tinha feito na

noite passada e na sua vitória contra Tahira esta manhã. Ela tinha ligado para Kaitlynn e a convenceu a se encontrar com ela no dia seguinte para o acerto final. O próprio pensamento de Kaitlynn pegando um avião e voando para fora da vida de Ariana a fazia se sentir mais feliz e eufórica do que uma menina no dia de seu casamento. Mas Palmer não podia saber nada disso. Nunca poderia desconfiar de nada disso.

— Bem, eles estão contando o dinheiro de todos os três eventos de arrecadação, agora — ela disse lentamente, tentando segurar a onda de náusea em sua garganta. — Então, nós saberemos no momento em que voltarmos ao campus se...

—B

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— Palmer! Aí está você! — Allison apareceu na porta exterior da casa de barcos, com sua pele pálida corada. Ariana queria pegar e arrancar os cachos da menina por interromper seu tempo sozinha com Palmer, mas ela conseguiu controlar o seu impulso. — É melhor você vir rápido. Tahira está pirando.

Palmer estava de pé em um segundo com uma expressão preocupada e confusa. Ariana, infelizmente, tinha a sensação de que ela sabia exatamente do que se tratava.

— Qual é o problema? — perguntou Palmer. — Nós perdemos! — Allison jogou as mãos para cima e as deixou bater para

baixo em seus lados. — Azul venceu o evento de arrecadação de fundos. Nós ficamos em terceiro!

— O quê? — Palmer soltou, balançando uma perna sobre o banco quando ele enfiou a mão na mochila para pegar uma camiseta. — Isso não é possível. Landon era nossa chave de ouro, nosso plano era seguro!

— Isso é o que todos nós pensamos! — Allison respondeu, caminhando ao longo da sala. — Mas nós não fizemos a metade da quantidade que pensávamos. Isso não faz sentido! Estávamos fazendo contagens não oficiais durante toda a noite, e elas estavam muito mais elevadas do que o montante total que acabamos de contar.

As palmas das mãos de Ariana molharam com o suor. Sua garganta estava completamente seca. Claramente, ela tinha roubado demais.

— Então, para onde todo esse dinheiro foi? — Palmer perguntou, passando uma camiseta azul clara sobre a sua cabeça e puxando-a para baixo.

— Alguém deve ter roubado! — Allison respondeu. — É a única explicação. Palmer olhou para Ariana, como se ele tivesse acabado de se lembrar que ela

estava lá, e ela percebeu com um sobressalto que ela deveria dizer alguma coisa. Uma pessoa inocente ficaria tão chocada como ele e Allison estavam. Uma pessoa inocente ficaria indignada e chateada.

— Quem teria feito isso? — Ignorando o coração batendo forte, ela infundiu sua voz com o choque e raiva. — O dinheiro era para a caridade.

— Poderia ter sido qualquer um. O lugar estava um zoológico — disse Palmer, pegando sua mochila. — Mas eu pensei que o guarda de Brigit estava no caixa durante toda a noite. Como é que alguém conseguiu passar por ele?

— Quem sabe? — Allison disse, trazendo a mão na testa. — Os pais de Brigit devem demitir o cara por causa disso.

— Isso não é bom — disse Palmer. Ele apertou a mão contra a testa por um momento, pensando. — Sabe, entre isso, o relógio de Christian e todas as outras porcarias que foram roubadas... Por mais que eu odeie dizer isso, talvez seja alguém do campus.

— Mas os únicos estudantes que estavam lá eram da equipe dourada. Ninguém em nossa equipe iria roubar. Quem precisa de dinheiro? — Allison disse, levantando a mão.

Ariana sentia como se fosse desmaiar. Ela obrigou-se a respirar. Inspira, um... dois... três... Expira, um... dois... três... E, de repente, a resposta à pergunta de Allison ficou clara.

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— Adam — ela ouviu-se dizer. — Ele era o encarregado de levar o dinheiro para a sala do banco durante toda a noite e ele definitivamente precisa do...

— Não. — A voz de Palmer foi tão firme e forte que assustou tanto Ariana quanto Allison. Sua mandíbula estava apertada e os seus olhos eram como alfinetadas de raiva. — Não. Eu o conheço toda a minha vida, e ele não faria isso.

O coração de Ariana parecia que estava tentando encontrar uma maneira de sair do peito. — Tudo bem.

— Mas eu vou tomar providências de que haja uma investigação — disse Palmer. — Há definitivamente algo estranho acontecendo por aqui. — Ele respirou fundo e caminhou até a parede, apoiando a mão contra ela acima de sua cabeça, enquanto olhava para o chão. — Merda. Isso significa que, se o azul ganhar a corrida de remo na segunda-feira, eles vão para a Casa Privilege. Isso não pode acontecer.

— Precisamos conseguir o dinheiro de volta — disse Allison. — Mas como? — Ariana disse. Allison olhou Ariana de cima a baixo como se ela estivesse suja. — Para

começar, você deveria doar o dinheiro que você ganhou de Tahira esta manhã — disse ela. — Isso ajudaria bastante.

O sangue de Ariana parou frio em suas veias. Não. De jeito nenhum. Ela não podia doar o dinheiro. Por favor, Deus, não deixe que eles realmente esperem que eu...

— Não. Isso seria trapaça — disse Palmer, se empurrando para longe da parede. — Nós não vamos trapacear.

Ariana sentiu uma onda de confiança, enquanto Palmer acabava de defendê-la sem nem saber.

— Além disso, há membros do corpo docente que presidem as contagens, certo? — ele disse. — Eles já têm os números oficiais.

Allison deixou escapar um gemido, inclinando a cabeça para trás. — É melhor voltarmos lá para cima. Tahira está fora de si por causa disso e o que aconteceu esta manhã — disse ela, lançando outro olhar zombeteiro em Ariana — como se fosse culpa dela que a garota fracassou no tênis. — Eu não sei. Acho que ela vai enlouquecer. Ela quer pedir desculpas a você, Palmer.

— Para mim? Por favor. Ela fez seu trabalho. Isso não é culpa dela — disse Palmer, parecendo distraído. — Eu só... Eu não sei o que vamos fazer agora.

— Ganhar a corrida de remo. É tudo o que podemos fazer — disse Allison. Palmer olhou para Ariana com uma expressão de dor em seus olhos. Ela sabia

o que ele estava pensando. E ela também sabia que, como um bom líder, ele não queria dizer isso na frente de Allison. Mas ele acreditava em seu coração que a competição da Semana de Boas-Vindas já estava perdida. Não havia nenhuma maneira de eles poderem reverter isso. Nenhuma maneira.

Ariana tinha arruinado a Casa Privilege para a sua equipe. Ela tinha arruinado Palmer. E ele claramente estava com o coração partido.

— É melhor eu ir falar com Tahira — disse ele. — Ela tem que saber que não é culpa dela.

Ele acompanhou Ariana e Allison para fora da porta lateral e caminhou para a colina. Conforme Ariana seguia atrás deles, tudo o que ela podia pensar era no rosto devastado de Palmer. Isso não era culpa de Tahira. Era dela. E ela tinha que

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encontrar uma maneira de corrigir isso. Pela equipe. Pela sociedade secreta. Mas acima de tudo, por Palmer. Talvez ela não pudesse ficar com ele, mas isso não significa que ela não podia ajudá-lo.

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Traduzido por Ivana

manhã de domingo amanheceu quente e clara, e Ariana sentiu-se esperançosa. Mesmo que a Casa Privilege estivesse perdida, mesmo que a Semana de Boas-Vindas fosse um fracasso, ela tinha que focar no positivo.

Depois de hoje, ela não ficaria mais olhando por cima do ombro, não ficaria mais se encolhendo cada vez que seu celular tocasse. Talvez ela permanecesse vivendo em Cornwall com Allison durante o resto do ano, mas pelo menos ela estaria viva.

Depois de recolher o cheque da mesada semanal da vovó Covington em sua caixa de correio, ela tinha certeza que ia ser um bom dia. O dinheiro iria ajudá-la a sair do campus, e ela tinha uma ideia do que ela poderia fazer com o dinheiro extra, se tudo desse certo. Ela caminhou até o escritório do tesoureiro, assinando o nome de Briana Leigh na parte de baixo do recibo, e embolsou o cheque. Então ela caminhou direto para o estacionamento em frente do Cornwall, onde encontrou uma limusine preta em marcha lenta no meio-fio. Tahira estava ao lado da porta do condutor, em frente a uma casa de tijolos; o homem tinha uma cicatriz em seu nariz, e estava segurando uma maleta preta.

Ambos olharam para Ariana quando ela se aproximou, e Ariana não podia deixar de se sentir intimidada. Mas então ela percebeu que era exatamente a intenção deles, então ela levantou o queixo e calmamente caminhou diante deles.

— É ela — disse Tahira, sem tirar os olhos de Ariana. O homem entregou a pasta sem dizer uma palavra. Com o coração pulando

em seu peito, Ariana a segurou e a abriu. Estava cheia de nítidas notas de cem dólares.

— Não confia em mim? — Tahira disse maliciosamente. — Eu não confio em ninguém — Ariana respondeu. Tahira estreitou os olhos e por um segundo Ariana pensou ter visto uma faísca

de respeito neles. Em seguida, um táxi verde se aproximou do estacionamento e o motorista se inclinou para fora da janela.

— Você é Ana Covington? — Sou eu — Ariana respondeu. — Aonde você vai? — perguntou Tahira. O coração de Ariana se contraiu por uma fração de segundo. E se Tahira fosse

da sociedade secreta? E se ela decidisse entrar em sua limusine e seguir Ariana? Mas, então, ela sentiu o peso da mala na mão e percebeu que havia uma desculpa perfeitamente razoável para a sua saída do campus.

A

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— Para o banco. Você realmente acha que eu quero manter essa fortuna dentro do meu quarto? — ela perguntou. Ela abriu a porta de trás do táxi e entrou, sentindo-se culpada. — Até mais tarde, T. E obrigada!

Então ela deu ao motorista suas instruções e ele virou o carro, deixando Tahira e seu ajudante assustador para trás. Durante todo o caminho para Dupont Circle, Ariana olhou atrás do carro, mas não havia nenhum sinal da limusine de Tahira. Ela sorriu quando o motorista parou em frente do Hotel Palomar. Estava quase no fim.

Dentro do hall de entrada climatizado do Hotel Palomar, Ariana viu Kaitlynn imediatamente. Ela estava sentada no canto do saguão, em um sofá redondo com um encosto alto, vestindo um vestido preto liso e sua jaqueta jeans, todas as joias punk ainda penduradas. Ariana respirou fundo e saboreou o momento antes de caminhar e colocar a pasta sobre a mesa de metal prateada na frente dela.

— Você pode contar, mas eu prefiro que você simplesmente desapareça — disse Ariana.

Kaitlynn puxou a maleta em direção a ela e espiou dentro. — Eu confio em você.

A mandíbula de Ariana caiu. — Ah, agora você confia em mim? — Confio que você entende as consequências de tentar me enganar — disse

Kaitlynn. Ela deslizou a alça da bolsa de camurça para cima do ombro enquanto ela ficava de pé, sua mochila no outro braço. — Bom trabalho, BL — disse ela, colocando um par de óculos de aviador. — Eu vou dizer oi para os cangurus por você.

Quando Kaitlynn virou-se, puxando uma mala de rodinhas atrás dela, Ariana percebeu que não podia se mover. Ela não queria vacilar e arriscar acordar e de repente ver que tudo tinha sido um sonho.

— Sabe, eu tenho que dizer, eu gostaria que tivesse sido diferente — disse Kaitlynn, virando-se para encará-la. — Você realmente foi a melhor amiga que eu já tive.

Ariana engoliu os dez milhões de insultos, perguntas e acusações que enchiam sua garganta. Ela não queria correr o risco de irritar Kaitlynn agora. Ela não queria correr o risco de a menina permanecer ali mais um segundo e decidir que queria ficar.

— Então é isso — disse ela. — Você realmente vai partir. Kaitlynn sorriu um pouco tristemente. — Sim. É isso — ela disse. — Tenha

uma boa vida, Briana Leigh — ela acrescentou, dizendo o nome sem uma pitada de sarcasmo pela primeira vez.

— Você também, seja qual for o seu novo nome — Ariana respondeu com um sorriso.

O sorriso de Kaitlynn alargou-se por uma fração de segundo e então ela se virou e foi embora. Ela caminhou pelo saguão lotado do Palomar e empurrou a porta de vidro para abri-la com a palma da sua mão. Ariana ficou ali, imóvel, enquanto observava o porteiro chamar um táxi. Ela viu Kaitlynn entrar no táxi. Viu-a fechar a porta. Viu o carro se afastar e desaparecer no tráfego.

A tortura finalmente acabou. Realmente e verdadeiramente. E sua nova vida estava prestes a começar.

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Traduzido por L. G.

o caminho de volta ao campus, Ariana se entregou a uma maratona de compras. Ela gastou quase todo o seu subsídio de quinhentos dólares em champanhe, chocolates, copos, e um prato de vidro em um mercado de

luxo perto de Capitol Hill. Se ela iria realmente começar sua nova vida, ela pretendia fazer em grande estilo. Ela estava tão confiante e vertiginosa que o funcionário atrás do balcão mal olhou para sua identidade falsa. Enquanto Ariana voltava para o táxi e se dirigia para APH, ela captou a vista de Washington pela primeira vez desde a sua chegada. Finalmente ela se sentia capaz de desfrutar dos edifícios históricos e dos monumentos imponentes. As coisas estavam prosperando muito.

De volta à escola, Ariana sentiu como se o universo estivesse sorrindo para ela. Allison não estava em lugar nenhum, então ela teve o quarto só para ela para organizá-lo. Ela colocou as guloseimas no prato e serviu cinco copos de espumante, e então deslizou os convites escritos à mão por baixo das portas dos quartos de suas amigas. Dentro de minutos, houve uma batida na porta do quarto do dormitório. Quando ela abriu, as quatro estavam reunidas no corredor.

— O que é tudo isso? — Lexa perguntou, segurando o convite. — Só um pouco de celebração! — Ariana disse, levantando a mão. — Entrem! — Isso é champanhe? — Soomie perguntou, com os olhos arregalados. Ela

rapidamente fechou a porta atrás dela, e depois ficou por perto, como se ela quisesse estar pronta para fazer uma fuga em caso de um ataque. Enquanto isso Maria e Brigit pularam para os copos. — Isso é tão contra as regras.

— Vamos lá, Soomie. Viva um pouco — disse Maria, entregando-lhe um copo. Soomie tomou-o entre o polegar e os dedos e torceu o nariz, segurando-o para longe dela como se fosse um copo de veneno líquido.

— Então, o que estamos comemorando? — Lexa perguntou, segurando o copo alto.

— Tudo o que vocês quiserem celebrar — disse Ariana. Seu coração estava tão tonto que ela queria rir. Mas ela sempre odiou rir. Era tão pouco sofisticado. Ela se esforçou para conter o impulso e apertou os lábios.

— A vencer a corrida de remo amanhã e ficar na Casa Privilege — disse Lexa, inclinando o copo ligeiramente.

O coração de Ariana doeu, mas ela deixou passar. Ela não ia ter pensamentos negativos. Não aqui. Não agora.

N

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— Ao início de um novo ano escolar — Soomie sugeriu, finalmente afastando-se da porta.

— A Ana detonando Tahira! — Brigit acrescentou. — Aos... novos amigos — disse Maria, olhando para Ariana. Ariana sorriu. A risadinha finalmente escapou e ela nem sequer se importou.

— A um novo começo. — Tim, tim — Lexa brindou. Todo mundo riu, e juntas elas formaram um

círculo apertado, tilintando os copos juntos como um só.

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Traduzido por L. G.

aquela noite, depois do jantar, Soomie desafiou Ariana para um jogo de xadrez e Ariana, ignorando as advertências de suas outras amigas sobre a habilidade de Soomie, concordou. Todas caminharam para o Hill, que estava

lotado de pessoas relaxando após a sua refeição, e Ariana estava ansiosa para uma boa batalha de inteligência.

Mas ela devia ter ouvido os avisos de suas amigas. Soomie estava acabando com ela. Em grande estilo.

— Então, eu queria ir a uma academia de dança, mas meu pai proibiu — disse Maria, descansando para trás com ambas as pernas enganchadas sobre o braço de couro da cadeira. — Só se eu me formar em APH com três-ponto-cinco ou mais, eu posso seguir uma carreira na dança. Então eu só tenho um ano. Se eu não chegar a um predeterminado nível certo de sucesso após um ano, é faculdade.

Ariana se inclinou para frente na sua cadeira de camurça confortável e moveu a torre no tabuleiro. Ela estava começando a ter a sensação de que o pai de Maria era um grande ditador.

— Quem predetermina o nível de sucesso que você tem que chegar? Sem um momento de hesitação, Soomie moveu seu peão e sentou-se

novamente. — Ele, é claro — disse Maria, tomando um gole de café. — Pais — disse Lexa, revirando os olhos. — Nem me fale. Meu pai demitiu totalmente Rudolpho — Brigit acrescentou,

deixando-se cair sobre a extremidade do sofá onde Soomie estava sentada. — Eu gostava de Rudolpho. O que aconteceu não foi culpa dele.

Ariana respirou através de seus dentes e os seus dedos cerraram-se automaticamente em um punho. Será que elas tinham que falar sobre o dinheiro que faltava a cada segundo? Não era possível que todas apenas relaxassem?

— Bem, nos sirvam no jantar. Estamos acabados — Palmer anunciou, se jogando no sofá ao lado de Lexa e inclinando-se para trás na dobra do seu braço. O punho de Ariana apertou ainda mais. Palmer rolou seu gorro de baseball entre as mãos e olhou para ele de uma forma distraída.

— Qual é o problema? — Lexa perguntou, passando os dedos sobre seu cabelo.

Ele suspirou. — Acabei de falar com Elizabeth e Martin e os lisonjeei até eles me revelarem o tempo de suas equipes. Cada um deles tem uns bons cinco

N

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segundos a menos do que nós. De nenhuma maneira venceremos esta coisa. Espero que vocês garotas estejam confortáveis no Cornwall, porque parece que é onde vocês vão ficar.

— Não! — Maria disse levantando a cabeça. — Eu preciso da minha vista para o rio!

— Desculpe. Acostume-se a olhar para o estacionamento — disse Palmer com um suspiro.

— Belo capitão que você é — disse Brigit. Todo mundo ficou de boca aberta. — Brigit! — Lexa repreendeu. — O quê? — Brigit se moveu até a borda do seu assento e plantou os pés

firmemente no chão. — Estou falando sério! Que tipo de capitão fala assim? — Um realista — disse Palmer, sentando-se em linha reta e deslizando para

longe de Lexa. Os dedos de Ariana afrouxaram e ela sentiu a picada dos pontos onde as suas unhas tinham cavado na palma da mão.

Deixe pra lá. Você tem que deixar essa atração pra lá, ela disse a si mesma. Lexa lhe contou sobre as sociedades secretas. Ela te apoia. Você também tem que apoiá-la.

Ela estendeu a mão para o tabuleiro e moveu a torre novamente. — As equipes azul e cinza estão abarrotadas de membros da equipe de remo,

e nós só temos três: eu, Landon, e Rob — disse Palmer, apoiando os cotovelos nas coxas quando ele se inclinou para frente. — E caras esqueléticos como Adam e Christian não vão dar conta.

— Eu digo para sabotarmos seus barcos — Lexa sugeriu, olhando para Maria e rindo. — Mexermos com os seus remos ou algo assim.

O coração de Ariana pulou uma batida. Seria possível? — Por que todo mundo fica sugerindo trapaça? — Palmer deixou escapar,

caindo de volta no sofá. — Eu prefiro perder justamente a trapacear. As bochechas de Lexa escureceram em constrangimento. — Eu só estava brincando, Palmer — disse ela, olhando para o centro da sala e

para longe dele. — Você me conhece melhor do que isso. Palmer soltou um suspiro. — Eu sei. Sinto muito. — Ele estendeu a mão e brincou com seu cabelo nas

costas. — Eu só estou chateado. Com a arrecadação de fundos de Landon, eu realmente pensei que essa coisa toda estava no papo.

— Assim como nós — disse Maria tristemente. Soomie bateu seu peão na frente do rei de Ariana. — Cheque mate! — ela

anunciou alegremente. Ariana suspirou. Ela não havia nem remotamente previsto esse movimento,

mas ela nem sequer se importava com a perda. Seu cérebro estava muito ocupado com a formulação de um novo plano. Um que garantiria a vitória do dourado e asseguraria a Casa Privilege para ela e seus amigos. Um plano que iria redimi-la pelo que ela tinha feito.

Talvez Lexa não pudesse fazer isso por Palmer. Mas Ariana podia.

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Traduzido por Ivana

riana esperou até que o relógio digital em sua mesa anunciasse exatamente 02:00 horas da madrugada. Então ela silenciosamente colocou os lençóis de lado para expor seu corpo completamente vestido, sentou-se e enfiou os

pés em suas sapatilhas pretas. Antes de dormir, ela vestiu uma camiseta preta de mangas largas e calça cigarette preta, e em seguida, escondeu-se sob as cobertas até que Allison tivesse terminado com seus quinze minutos de maratona com o fio dental e fosse dormir. Durante as últimas quatro horas, ela esperou, bem acordada, revisando o plano meticulosamente do início ao fim, uma e outra e outra vez. Até agora, ela estava confiante e mais do que pronta para acabar com isso. E mais do que pronta para ficar longe dos roncos de Allison também por pelo menos alguns minutos. Ela andou na ponta dos pés pelo quarto, abriu a porta sem fazer barulho, e correu rapidamente pelo corredor.

Lá fora, o ar estava frio e sereno. Ariana hesitou por um momento. Ela tinha planejado tomar a rota direta e correr pelo meio do campus, mas agora que ela estava confrontando todas as lâmpadas incandescentes do caminho e as luzes de segurança, ela não tinha tanta certeza. Talvez fosse melhor ficar sob as sombras e se mover ao longo das paredes dos edifícios. Sempre melhor agir com cautela.

Quando ela correu ao longo das paredes externas dos dormitórios, indo para o morro e rio abaixo, tudo em que ela podia pensar era no rosto de Palmer. O olhar de chocante alegria que ele teria quando a equipe dourada vencesse a corrida mais tarde esta manhã. Ele não saberia, mas tudo seria graças a ela. Talvez um dia, quando eles fossem velhos e grisalhos e estivessem assistindo seus netos jogarem no quintal da frente da sua casa, ela diria a ele. E ele olharia para ela, daria um sorriso e diria que ele sempre soube que ela iria cuidar dele.

Ariana conteve uma gargalhada tonta só de pensar nisso. Era uma fantasia estúpida, ela sabia, mas era o meio da noite, e ela se sentia ousada e perigosa. E enquanto ela mantivesse tais fantasias para si mesma, quem se importava? Ela avançou pela colina, seu longo cabelo ruivo balançando atrás dela. Ela estava correndo em direção à casa de barcos, mas ela sentia mais como se estivesse correndo em direção ao seu futuro.

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Traduzido por Ivana

riana estava na doca antes da corrida na segunda de manhã, rodeada pelo resto de sua equipe, com o cabelo puxado para trás em um rabo de cavalo apertado. Parecia que toda a escola se reunia no ponto de partida da

corrida, ou perto da linha de chegada rio acima. Balões azuis, cinzas e dourados foram amarrados ao longo das grades de segurança na doca e todos estavam vestidos em cores do time. A emoção no ar era visível através das fotos que eram tiradas, apostas amigáveis eram feitas e os comentários e burburinhos multiplicavam. Isso era tudo. O último evento da Semana de Boas-Vindas. Esta corrida ia determinar qual equipe teria o direito de viver na Casa Privilege. E qual sociedade secreta garantiria o direito de se gabar pelo resto do ano.

Olhando Palmer se preparar para seu discurso de pré-corrida, Ariana se perguntou quanto tempo levaria para que os verdadeiros testes da sociedade secreta começassem. Tinha que haver mais para entrar do que ter um bom desempenho durante a Semana de Boas-Vindas. Fosse o que fosse, Ariana estaria pronta para o desafio. Ela já não tinha provado isso ontem à noite, arriscando o pescoço para que o dourado pudesse ganhar hoje? Ela só queria que a sociedade pudesse saber quão longe ela tinha ido. Mas isso nunca poderia acontecer.

— Muito bem, equipe, tudo se resume a isso — disse Palmer, caminhando de um lado a outro na frente dos membros da equipe. Ele estava vestindo uma camisa preta apertada e uma bermuda com a sigla APH dourada e parecendo lindo. — Nós ganhamos isso, e a Casa Privilege está ao nosso alcance. Assim, remem, concentrem-se e deixem todo o resto com a água, ok?

A equipe aplaudiu e Ariana aplaudiu junto com eles. — Senhoritas! Senhores! Aos barcos! — a Diretora Jansen anunciou,

caminhando ao longo da doca. O ar se encheu de aplausos e um monte de espectadores correu para pegar

suas bicicletas, com a intenção de chegar à linha de chegada antes que a corrida tivesse acabado. Palmer se aproximou de Ariana e cruzou os braços sobre o peito, enquanto o resto da equipe dirigia-se para seu barco.

— Você está pronta para isso? — ele perguntou. — Definitivamente — ela disse, tentando esconder o nível extremo de sua

vertigem. — Ótimo discurso. Você parece um pouco mais confiante do que você estava na noite passada.

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— Bem, Brigit tinha um ponto — disse Palmer, olhando para a água. — Se eu vou ser um líder, eu tenho que levantar os ânimos, não trazer todos para baixo. Mas eu posso lhe dizer a verdade — disse ele em voz baixa, fazendo com que o rosto de Ariana se aproximasse do dele. Ele estava confiando nela. Ela era a única pessoa com quem ele podia ser sincero. Naquela fração de segundo, ela queria fingir que era namorada de Palmer, que Lexa não existia. Afinal, ela era a única que estava ali por ele — a que ele tinha escolhido para estar aqui — enquanto Lexa estava lá fora em algum lugar no meio da multidão sem rosto. Ela olhou nos olhos dele e sentiu que eles eram as duas únicas pessoas no mundo.

— Nós vamos precisar de um milagre — disse ele. — Tudo o que podemos fazer é ir lá e dar tudo o que temos — disse Ariana

com uma voz suave. — Aconteça o que acontecer, aconteceu. Palmer sorriu. — Obrigado, Ana. Vamos fazer isso. Ariana conteve um sorriso quando ele apertou seu braço, em seguida, virou-se

para juntar-se aos outros. Mal sabia Palmer que ela era o seu próprio pequeno milagre.

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Traduzido por Ivana

uxem! Puxem! Vamos, perdedores, puxem! — Ariana gritou, gritando o máximo que conseguia. O vento atravessava o seu rosto e lágrimas de frio escorriam dos cantos dos seus olhos com o barco avançando

através da água. Em sua visão periférica, ela podia ver tanto a azul como a cinza ganhando deles. Como isso era possível? Como eles poderiam estar tão perto quando ela passou as primeiras horas da manhã sabotando seus barcos?

Aparentemente, a equipe dourada poderia perder. — Vamos, pessoal! Você podem fazer isso! Remem! — Ariana gritava, sentada

para frente. Ela podia ouvir os caras grunhindo, esforçando-se até cada última gota de

força. Aplausos dispersos ecoavam sobre a água de vez em quando, incomodando seus nervos. Ela olhou para a linha de chegada. Estavam quase lá.

— É isso aí, pessoal. O último trecho! Isso é pela Casa Privilege! Agora remem! Remem! Remem! — Ariana gritou. Ela podia ver a chegada agora. Seu barco estava avançando. Avançando pouco a pouco para a vitória. Ou os outros estavam à frente? Ariana não conseguia dizer. Estava muito perto para dizer algo.

— Remem! Vamos! Remem! E então, eles estavam sobre a linha de chegada. Uma buzina soou. Houve um

momento de silêncio quando os rapazes deixaram cair os seus remos e olharam para cima, o suor escorrendo por seus rostos e pescoços. O barco continuou a deslizar para longe das multidões, enquanto todo mundo esperava o anúncio.

— O que aconteceu? — Palmer perguntou, olhando para Ariana. — Foi só eu ou nós...

— E a vencedora da corrida de remo é... a equipe dourada! — a diretora Jansen anunciou.

— Isso! — Palmer enfiou os punhos no ar enquanto o resto do barco comemorava. Ariana teria matado para abraçá-lo, mas não era possível a partir de onde os dois estavam sentados. De volta à costa, centenas de membros da equipe dourada comemoravam, pulando para cima e para baixo, dançando em volta e gritando os parabéns para a equipe do barco. Ariana riu e se inclinou para trás, olhando para o sol.

A Casa Privilege era dela. De volta à costa, alguns minutos depois, Ariana foi cumprimentada por suas

amigas com abraços, tapinhas nas costas e gritos de alegria. Tahira pulou nos

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braços suados de Rob, e Landon conseguiu dar em Maria um beijo de verdade em meio a toda a confusão, mas ele seguiu com beijos na bochecha de várias outras garotas, incluindo Soomie, apenas para despistar. Adam abraçou Brigit por um pouco mais de tempo do que era absolutamente necessário, de modo que parecia que o plano de Lexa estava funcionando ali. Todo mundo tinha alguém com quem comemorar, exceto Ariana, mas ela não ia deixar isso colocá-la para baixo. Sua adrenalina ainda corria em suas veias quando ela teve uma ideia. Tudo o que ela tinha que fazer era se mover. Voltar para o Cornwall e embalar suas coisas. Ver como era o interior da Casa Privilege. Começar a aproveitar esses privilégios. Começar mostrando aos membros dessa sociedade secreta quem era ela. Ela notou, ainda, que Lexa não correu imediatamente para os braços de Palmer, mas ela concluiu que tinha algo a ver com o fato de que Palmer estava peto da água com os capitães das outras equipes e a diretora.

A diretora Jansen chamou a multidão, de pé perto da borda da água, vestindo uma camisa de mangas curtas com botões e calça cáqui. Havia um enorme troféu de ouro em uma mesa à sua esquerda.

— Parabéns a equipe dourada por uma vitória fantástica! — ela anunciou. Os membros da equipe dourada explodiram em aplausos, enquanto o resto do corpo discente aplaudia educadamente. — Palmer, por que você não vem aqui e recebe o seu troféu?

Palmer reconheceu os aplausos com um gesto modesto conforme ele passava por Elizabeth e Martin, e em seguida, ergueu o troféu acima da cabeça, com as duas mãos. Quando o barulho cessou, a diretora Jansen riu.

— Tudo bem, agora, é hora de encerrar os eventos da Semana de Boas-Vindas com o derramamento das cores — disse ela. Todos os estudantes perto de Ariana tiraram suas braçadeiras e jogaram no chão a seus pés. Ela rapidamente desamarrou a sua própria e a deixou cair. — De agora em diante, somos uma escola com um só propósito — a diretora Jansen anunciou.

— Sim, mas esta noite, a dourada vai festejar! — Landon gritou, recebendo vaias e gritos de seus companheiros de equipe.

Ariana sorriu. Ela sabia que, na verdade, todo mundo iria para a festa naquela noite. Haveria um sarau de toda a escola marcada para aquela noite como o encerramento oficial da Semana de Boas-Vindas e o início oficial do ano letivo. Agora Ariana estava ansiosa por isso mais do que nunca. Seria o primeiro evento em Atherton-Pryce onde ela poderia relaxar completamente. Palmer foi até sua equipe com o troféu e todos se reuniram em torno dele. Ariana conseguiu um lugar na frente da multidão.

— Parabéns, capitão — disse ela. — Parabéns, timoneira — ele respondeu. Então ele estendeu a mão e abraçou-a, todo suado, malcheiroso e perfeito.

Ariana fechou os olhos e saboreou o momento. Em seu coração, ela sentia como se ambos tivessem conduzido sua vitória. Ele liderou a equipe no centro das atenções, enquanto ela tinha liderado nos bastidores. Este era o seu momento de glória. Um momento que ela se lembraria para sempre.

— Lexa! — Palmer gritou, de repente soltando Ariana. Seu rosto ficou vermelho quando ele olhou com culpa para Ariana e limpou a palma da mão livre em

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sua bermuda. — Aí está você, amor da minha vida! — ele gritou. Ariana recuou, sentindo-se azeda. Que modo de compensar exagerado, Palmer.

Lexa correu e pulou nos braços de Palmer, plantando seus lábios nos dele. Ele segurou-a com força entre seus braços, o troféu ainda em uma das suas mãos atrás das costas. A equipe dourada aplaudia o casal, como se fossem os únicos que tivessem ganho a competição por eles. Como se Lexa que tivesse feito algo. Ariana teve que dar um passo para trás para não ser acertada sem querer com o troféu. Seu corpo inteiro ficou vermelho de raiva e ciúme ardente da cabeça aos pés. Esse era o seu momento — dela e de Palmer — e Lexa tinha roubado aquilo dela.

Por que ela tinha que estar aqui? Se ela não estivesse aqui, Palmer seria meu. Eu sei disso, Ariana pensou. Se ela pudesse simplesmente desaparecer.

De repente, Ariana sentiu algo estalar dentro de sua mente. Ela não devia ter pensado nisso. Não. Lexa não era dispensável. Lexa era sua amiga. E ela não estava disposta a fazer nada que comprometesse sua nova vida.

Nada, ela disse a si mesma enquanto Palmer beijava a ponta do nariz adorável de Lexa. Nada, nada, nada.

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Traduzido por Lua Moreira

em, senhorita Covington, devo dizer... Estou impressionado — disse o Sr. Pitt, cruzando as mãos sobre a mesa à sua frente. Lá fora o sol estava começando a se pôr e Ariana podia ouvir os gritos e risos

vindos do pátio. A festa para marcar o fim da Semana de Boas-Vindas estava apenas começando, e ela desejava estar lá.

— Impressionado? — Ariana repetiu. — Seus resultados dos testes subiram a uma média de vinte e quatro por

cento — disse ele, entregando uma cópia impressa de suas notas. — Se isso não é surpreendente, eu não sei o que é.

O peito de Ariana inflou com orgulho quando ela pegou o papel. Ela sabia que tinha ido bem, mas ela ficou satisfeita pelo quão bem foi. — Isso significa que eu tenho um novo horário? — ela perguntou, esperançosa.

— Feito e feito — disse Pitt, entregando um cartão de horário também. Ariana mordeu o lábio inferior enquanto o olhava. Inglês avançado, história

americana avançada, química avançada, francês avançado, cálculo, e suas duas disciplinas optativas, escrita criativa e literatura moderna.

— Eu odeio me precipitar, mas se você conseguir cumprir esse currículo, Princeton vai ter que aceitá-la — ele disse.

— Obrigada — Ariana respondeu, sorrindo. — Muito obrigada por tudo, Sr. Pitt.

Ela sabia que ele não era responsável por isso. Que era por sua própria determinação, talento e dinamismo que ela tinha chegado a este lugar. Mas, naquele momento, seu coração estava tão cheio, que ela sentia que deveria compartilhar a abundância com alguém.

— Não há de que, senhorita Covington — disse ele, pegando um livro que ele tinha aberto sobre sua mesa. — Agora, eu acho que você tem uma festa para participar.

— Eu tenho — disse Ariana, levantando-se e colocando os dois pedaços de papel — os elementos de seu triunfo — em sua bolsa. — Boa noite, Sr. Pitt!

— Boa sorte, senhorita Covington. Ariana fechou a porta atrás dela e cobriu a boca com as duas mãos, apertando

os olhos fechados com alegria. Ela estava em seu caminho. No seu caminho para As e Princeton, e para a vida que ela sempre quis. Quando ela saiu para o ar fresco da

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noite, ela sentiu uma sensação de paz absoluta. Ela teria tudo o que ela queria. Ela estava certa disso.

À distância, ela viu as luzes brilhantes que tinham sido amarradas em todo o pátio, e o corpo estudantil aplaudindo. Música flutuava pelo campus e vozes felizes se dispersavam pelo ar. Ariana sorriu e voltou seus passos em direção à festa, sentindo como se estivesse sendo celebrada só para ela.

Ela só tinha dado dois passos quando Palmer deu a volta pela lateral do prédio e quase bateu direto contra ela.

— Desculpe, eu... — Oh meu Deus, Palmer. Você me assustou! — ela exclamou, com a mão no

peito. Ela estava prestes a sugerir que caminhassem para a festa juntos quando ela deu uma boa olhada em seu rosto. Seu angustiado rosto em pânico. — O que há de errado?

— Nada. Tudo. Eu... — Ele olhou para ela com curiosidade, como se estivesse decidindo se devia ou não confiar nela. O coração de Ariana deu um pulo. Não havia nada que ela quisesse mais naquele momento do que Palmer confiando nela. — Eu tenho que ir falar com a diretora — ele disse finalmente.

— Sobre o quê? — Ariana perguntou, parando-o com a mão em seu braço. Palmer soltou um suspiro de frustração. — Eu acabei de vir da casa de barcos.

— Ele deu um passo para mais perto dela e olhou em volta, em seguida, baixou a voz. — Lexa fez. Ela trapaceou. Os remos dos outros dois barcos foram completamente sabotados.

Todo o ar saiu precipitadamente dos pulmões de Ariana. Isso não estava acontecendo. Por que Palmer teria voltado e inspecionado os barcos? Por que ele não podia ter simplesmente deixado isso pra lá? Mas, em seguida, uma pequena chama de esperança acendeu em sua mente. Ele estava culpando Lexa. Ele estava automaticamente culpando Lexa.

Isso era algo que ela poderia usar a seu favor. — Como você soube que foi Lexa? — perguntou ela. — Quem mais poderia ter sido? — Palmer perguntou, as palmas das mãos

levantadas para o céu. — Você estava lá. Foi ideia dela. Ariana tinha que encenar isso perfeitamente. Ela tinha que dizer o que uma

amiga diria neste momento. — Bem, se ela fez isso... ela fez isso por você — disse Ariana. — Pela equipe. — Sim, mas eu disse a ela que não fizesse — Palmer se irritou, manchas de

raiva colorindo suas bochechas. — Ela sabe que trapaças me deixam enojado. Ela sabe disso. Como ela pôde fazer isso?

— Palmer. Acalme-se — disse Ariana com uma voz suave. — Eu não consigo — disse ele, olhando para o pátio e a festa. — Nós não

podemos fazer isso. Eu tenho que dizer a diretora Jansen e a equipe dourada tem que perder a sua vitória.

— O quê? Não! — Ariana sussurrou. — Você não pode fazer isso. — Por que não? Eu não vejo outra escolha — respondeu Palmer. — Espere. Pense nisso por um segundo — disse Ariana, sua mente girando.

Ela não podia perder a Casa Privilege agora. Não depois de todos os altos e baixos da semana passada. Não depois de tudo que ela arriscou. — Se você... se você

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contar a diretora, Lexa vai ficar em apuros. Ela vai ser humilhada na frente de toda a escola. Ela pode até ser expulsa.

— Bem, ela deveria ter pensado nisso antes de ela fazer algo tão estúpido — ele cuspiu.

Uau. Esse cara era realmente sério sobre seus valores. Aparentemente, eles significavam mais para ele do que sua namorada, um pensamento que fez o coração de Ariana vibrar com esperança.

— Ok, mas o que acontece com o resto da equipe? — Ariana disse. — Eles vão ficar tão decepcionados. Todos trabalharam pesado nisto. E deveríamos ter vencido a arrecadação de fundos. Teríamos, se algum idiota não tivesse caído fora com metade do dinheiro.

Palmer olhou para ela. Pela primeira vez ela viu algo mudar em seus olhos. Ele estava pensando nisso. Ele estava escutando ela.

— É verdade — ele disse finalmente. — E se tivéssemos ganhado a arrecadação de fundos, teríamos vencido a

coisa toda — continuou Ariana. — Então, tecnicamente, deveríamos estar na Casa Privilege. Toda a equipe deveria seja punida por causa de uma pessoa traidora?

Palmer baixou a cabeça para frente e beliscou a parte superior de seu nariz com o polegar e o indicador. — Você pode ter razão.

Ariana sorriu para si mesma. Ela era tão boa nisso. Tão boa para ele. Sentindo-se encorajada pelo seu dia de sucessos, ela se aproximou e colocou a mão em seu antebraço. Ele levantou a cabeça e olhou para seus dedos.

— Além disso — disse ela, deslizando os dedos pelo seu pulso e em sua mão, puxando-lhe o braço para baixo em linha reta enquanto o fazia. — Se você relatar isso, não vamos chegar a ficar no mesmo dormitório.

Eles estavam de mãos dadas agora, os dois sozinhos na escuridão que se aproximava. E Palmer não fez nenhum movimento para mudar isso. Ele moveu lentamente seu olhar de seus dedos entrelaçados, até o tronco, pescoço, queixo e nariz de Ariana, até que ele estava olhando em seus olhos. A onda de atração entre eles era tão forte naquele momento que Ariana estava certa que ele sentia isso também.

— Isso vai contra tudo em que acredito — disse ele em voz baixa. — Às vezes você tem que sacrificar a si mesmo... sacrificar suas crenças... pelo

bem maior — ela disse. Foi uma lição que ela aprendeu várias vezes ao longo dos últimos anos. A lição que tinha trazido ela para este lugar.

Palmer deixou escapar um suspiro. — Vamos lá — disse ele, cansado, apertando a mão dela. — Vamos para a festa.

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Traduzido por L. G.

ntão, quando é que vamos nos mudar para a Casa Privilege? — Ariana perguntou a Landon. Ela estava em pé com ele e Adam perto da mesa de lanches, observando como o resto do corpo discente se

misturava e dançava. Lexa, Maria e Soomie tinham ido ao banheiro juntas há quinze minutos atrás, e Palmer passou a maior parte da noite com um grupo de rapazes da equipe, evitando tanto ela quanto Lexa. Ela não tinha visto Brigit a noite toda e se perguntou se ela estava fora no ginásio, trabalhando no plano de dieta.

— Hoje à noite — disse Landon, jogando um pedaço de pipoca e pegando com sua boca.

— No escuro? — perguntou Ariana. — É. É realmente divertido — Landon respondeu, olhando-a de cima a baixo. — Parece desnecessariamente difícil para mim — Ariana replicou, tomando

seu chá gelado. Adam deu uma mordida em um cookie de chocolate e falou com a boca cheia. — Eu também acho — Ariana tentou não se assustar com a sua falta de boas

maneiras. Ele era amigo de Palmer, afinal de contas. — Então, Ana, já escutou aquelas músicas? — Landon perguntou, pegando

mais um pouco de pipoca. — Ainda não — disse Ariana. Ela as tinha visto em sua caixa de entrada, mas

baixá-las não era exatamente uma prioridade com tudo que estava acontecendo. Landon colocou seus punhos cheios de pipoca em seu coração, como se ela tivesse acabado de lhe espetar, e Ariana riu. — Eu vou, eu vou. Agora eu devo ter um pouco mais de tempo em minhas mãos.

— Agora — disse Landon em dúvida. — Agora que as aulas vão começar você vai ter mais tempo.

Ariana encolheu os ombros. — Tem sido uma semana agitada. — Sério. E eu ainda não posso acreditar que ganhamos hoje — disse Adam. —

Como isso é possível? — Talvez Ana, aqui, seja apenas boa em seu trabalho — disse Landon,

cutucando Ariana com o cotovelo antes de pegar mais pipocas. — Cara, eu estou tão feliz que Palmer escolheu você em vez de Lexa. A menina provavelmente nunca levantou a voz em sua vida.

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— Parece que ela está fazendo isso agora — Adam acrescentou, erguendo o queixo.

Ariana olhou do outro lado da pista de dança e viu Lexa e Palmer participando de uma conversa acalorada no canto da festa. Maria e Soomie estavam a poucos metros para o lado, parecendo tensas e desconfortáveis. O coração de Ariana ignorou dez mil batidas. Aparentemente, Palmer tinha interceptado Lexa em seu caminho de volta do banheiro, mas o que ele estava dizendo a ela? Será que ele estava acusando-a? Eles estavam terminando? Por que, por que, por que Ariana recusou o convite para ir ao banheiro? Ela deveria estar lá com eles agora, ouvindo cada palavra.

— Uh-oh — disse Landon, mordiscando. — Parece que o casal número um do APH não é mais um casal.

De fato, Lexa saiu correndo em lágrimas, Maria e Soomie correndo atrás dela. Ariana deu um passo para segui-las, mas parou no segundo em que Palmer se virou. Ele olhou diretamente para ela com uma expressão tão cheia de significados que a fez se sentir leve.

Ele havia feito isso por ela. Ele tinha terminado com Lexa para estar com ela. Lentamente, Palmer quebrou o contato visual e voltou para Robert e

Christian. Ariana entendeu. Ele não podia vir direto pra ela depois de partir o coração de Lexa. Isso seria muito insensível. De fato, nos próximos dias, pelo menos, eles iriam provavelmente precisar ficar longe um do outro. Até Lexa esquecê-lo. Até o período de luto apropriado ter passado. Mas assim que isso acontecesse, Palmer seria dela.

Ariana sentiu como se todos os seus desejos houvessem sido consentidos. Kaitlynn estava em seu caminho para a Austrália, Palmer estava solteiro, ela tinha o horário de seus sonhos, e ela estaria vivendo na Casa Privilege a partir de hoje à noite. Sim, Lexa estava chateada, mas ela iria superar isso. Pessoas terminam o tempo todo. Logo tudo estaria bem. Perfeito, na verdade.

— Ana! Ei! — Brigit agarrou o braço de Ariana e a girou em torno dela. — Ei, onde você estava? — Ariana perguntou a Brigit. — Todo mundo estava

te procurando. — Eu sei. Eu estava no escritório de assuntos estudantis. O diretor me pediu

para receber uma nova transferência — disse Brigit, toda animada. — Ela parece muito legal, então eu pensei que talvez vocês pudessem se relacionar, já que ambas são novas e tudo mais.

Ela olhou por cima do ombro e Ariana seguiu seu olhar. Uma menina alta em um suéter rosa de tricô e bermudas cáqui estava andando através da multidão, atraindo os olhares interessados dos alunos enquanto ela passava. Christian a interceptou para se apresentar. O rosto dela estava nas sombras, mas Ariana viu que seu cabelo castanho era curto e formal. Ariana estava prestes a colocar seu melhor sorriso de boas-vindas quando a menina olhou para cima e lhe chamou a atenção.

O coração de Ariana parou completamente. — Oi! Eu sou Lillian Oswald — a menina anunciou, dando um passo a frente.

— Você deve ser Ana. Brigit já me contou tudo sobre você. Nós vamos nos divertir muito este ano!

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Então ela estendeu os braços e, para a felicidade de Brigit, puxou Ariana em sua direção. Cada centímetro do corpo de Ariana queria recuar de horror, mas ela não podia. Não com Brigit ali e todas essas pessoas ao redor. Tudo o que ela podia fazer era fechar os olhos, cerrar os dentes, e permitir-se ser abraçada pela garota que ela mais odiava no mundo.

Kaitlynn Nottingham.

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FAÇA NOVOS AMIGOS E MATE OS ANTIGOS...

Ariana Osgood tem tudo o que ela sempre quis. Um lugar na elite do internato Atherton-Pryce. Amigas fabulosas. Uma nova paixão. E o mais importante, uma nova identidade. Agora que

ela está oficialmente se tornando Briana Leigh Covington, o passado conturbado de Ariana está morto e enterrado.

Ou não está? Quando a única pessoa que sabe o segredo dela chega ao

campus, Ariana decide que é hora de dizer adeus a sua ex-melhor amiga — para sempre.

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