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Documento que contém a lista de privilégios concedida aos cidadãos da cidade do Porto, mesmos direitos concedidos mais tarde a outras localidades do Império português.
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VOZ-
r6A
1878
UC-NRLF
Sbl
EMPREZA DE OBRAS CLÁSSlCAS E lLLUSTRADAS
PORTO — I OÕ, BELLO-MONTE,
PRIVILÉGIOS
DOS CIDADOS
Cidadr do Porto.
DA
Concedidos, & confirmados pellos T{eys deftes
nos, <£• agora nouamente por cl cl{ey dom The-
lippe IT. nojso fenhor.
Sendo luiz de fora o Lecenceado Rodrigo de Camera
Vereadores.
Manoel Tauares Pereira.
Diogo Leite de Azeuado.
Afonfo Correa de Azeucdo.
Aluaro Ferreira Pereira.
Procurador da cidade Baptifta da Colta de Saa
Com licença da Santa lnquifiçáo, & Ordinario
.lmpreflòs com licença do dito Senhor, á cufta das
rendas dl cidade. Auno de M.DC.Xl.
PREÇO aoo REIS
P R I V I L EG I O S
DOS CIDADÃOS DA
Cidade do Porto.
Concedidos, 6'. confirmados pellos 'T^eys defles T^ey-
nos, & agora nouamente por d (I\ey dom *Phe-
lippe I T. nofso fenhor.
Sendo luiz de fora o Lecenceado Rodrigo de Camera
Vereadores.
Manoel Tauares Pereira.
Diogo lncite de Azeuedo.
Afonfo Correa de Azeuedo.
Aluaro Ferreira Pereira.
Procurador da cidade Baptiihi da Colta de Saa
Com licença da Santa lnquifiçáo, & Ordinario
lmpreiíòs com licença do dito Senhor, á cuita das
rendas da cidade. Anno de M.DC.Xl.
NO PORTO. Em cafa de Fructuoso l.ourenço de Balto
1878—Typ, Occidental, Picaria 5o a ?4—Porto
ESTE LIVRO É RARO
lnnocencio diz acerca d'elle : «Existe um exemplar na li-
«vraria do extincto convento de Jesus, e teve outro o doutor
«Rego Abranches.»
Conhecidos hoje existem trez; um na magnifica livraria do
snr. Francisco Antonio Fernandes, outro na do snr. Joaquim
Teixeira de Macedo e o terceiro em poder do editor. Este exem
plar tem uma certidão manuscripta, passada pelo escrivão da
camara de 1672, que vai uanscripta na ultima folha.
Porto, janeiro de i878.
José oAntonio Castanheira,
Editor.
155
LICENÇAS.
O Padre Meftre Frey Vicente Pereira, que veja eftesPriuile-
•^^ gios, & informe com feu parecer. Em Lisboa 19. de Agof-
to de 6 1 1 .
"~Barlholomen da Fotifeca. Rny Pire\ da Veiga.
Am tem eftes Priuilegios da cidade do Porto coufa per-
que fe não poffão imprimir. S. Domingos, em o primeiro
de Septembro, de i61i.
Fr. Vicente Pereira.
lfta a informacão, podenfe imprimir eftes Priuilegios, &
defpois de imprellbs tornem à efte Conlelho para fe confe
rirem com o original, & dar licença para correr, & fem ella não
correrão. Em Lisboa 2. de Septembro de (~>i i.
1
Bartl1olomeii da Fonfeca, Rtiy Pire^ da Veiça.
— Ve fe pofsão imprimir eftes Priuilegios vifta a licença do
'"v. Confelho geral da lnquificão, & ferem viftos na mefa. Em
Lisboa a 8. de Outubro, de 611. E antes de correrem torna
rão a mefa pera fe taixarem.
ii ^Machado. Ruy Pire\ da Veiga.
Fernão de ^Magalhães. Francifco V. 'Pinto. Tíarbofa.
Vifta a licenca, que com efta fe olferece dos Senhores ln-
quifidores, dou licenca na forma della. Porto 27. de Outubro
de 6r1.
Francifco
Fol. 1
PRIVILÉGIOS
DOS CIDADÃOS DA
Cidade do Porto.
Sentença dada em fauor dos 'Priuilegios dos Cida
dãos da Cidade do Torto.
DlZEM os Vereadores defta cidade, que lhes he necefla-
rio o treflado de huma fentenca, que fe deu nefta cafa do
Porto em fauor de Cuftodio Afonfo chanceller, que elle mef-
mo tem fobre certo coutamento de ceda, que lhe foy feito. Pe
dem a voffa merce lho mande dar concertado, que faca inteira
fee, & R. M.
Defelhe, Ferreira :
A Treslado
2 'Priuilegios dos Cidadãos
T <% E S L Q/1 D O 1) jA SE N T E N C eA ,
que os fupplicantes pedem.
DOM Phelippe per graca de Deos Rey de Portugal, &
dos Algarues da quem, & dalem mar em África, fenhor
de Guine, & da conquifta, nauegação, comercio de Ethio-
pia, Arabia, Percia, & da índia, &c. A todos os Corregedores,
Ouuidores, luyxes, luftiças, officiaes, & peflbas de meus Reynos
& fenhorios, a que efta minha charta de fentenca for aprefen-
tada, & o conhecimento della com direito pertencer, faude. Faço
faber, como diante o Corregedor por mim com alçada na co-
marqua, & correição defta cidade do Porto, veyo a efta minha
Rellacão, A cafa da dita cidade à mim, & aos meus Ouuido
res dos feitos, & appellacões, crimes, hum feito crime per ap-
pellacão, o qual fe procedem à principio, perante o juyz ordi
nario do Concelho de Baycão, ordenado entre partes Pcro Pinto
Meirinho do Concelho de Bayão Author, contra Clara Camella
mulher de Cuftodio Afonlb cidadão defta dita cidade do Porto,
hora
<Da Cidade do 'Porto. 3
hora morador no Cõcelho de Soalhães, Ree prefa em omena-
gem, pello qual feito entre outras coufas nelb contcudas, fe
moftraua o Meirinho Author per feu procurador offerecer con
tra a dita Ree hum libello per efcripto, dizendo em elle. 1 Que
ellc Author era Meirinho per miro apreíentado no dito Cõcelho
de Bayao, A como tal feruia o dito officio, hauia jà annos, c5
todos seus proes, & percalços ao dito officio pertencentes, & que
leruindo afsi o dito officio elle Author andando em hum ajun
tamento de gente, que fe fizera a terca feira, primeiro dia do
mez de Mayo de nouenta à lgreja de Mefquinhata do dito
Concelho, no diio ajuntamento, publicamente acharà à dita Ree
prcfa, com veftidos, & coufas defezas; conuem a faber, trãfia
cuberto hum capotim que lhe daua por cima da cinta de raxa cor
de pombinho, faixado ao redor pella banda de fora, com huma
renda de ouro A prata, entretecida de vermelho, & de largura
de dous dedos de mulher, & cubertas as cufturas do cabecão com
a mefma renda, A forrado por dentro de tafetá verde, de largura
o forro de hum palmo todo á roda, & que à dita Clara Ca
mella trafia mais veftido hum roupão de tafetà preto, com dous
A 2 debruns
4 'Priuilegios dos Cidadãos
debruns de veludo preto pella borda, com as mangas abertas,
& nas aberturas dous debruns do dito veludo, & o cabecão
todo debruado pellas cufturas, & veftido de baixo huma vafqui-
nha de pano vermelho, com huma barra de veludo verde por
baixo ao redor, de dous dedos em largo, a peftana de tafetà
amarelo, & humas elpiguilhas em cada borda da peftana: & por
a ver trafer a dita ceda, & coufas defefas, por ley, elle Author
a leuarà perante Pero Dias juyz ordinario no dito Concelho, d
lhe houuera por coutados os ditos veftidos defeíos, como con-
ftaua do auto, que diflo fe fizera, de que apresentaua o treslado,
& que de todo o fobre dito hera publica voz, & fama ; pedindo
o Meirinho Author recebimento de feu libello, comprimento de
juftica, & que a Ree por afsi trafer os sobreditos veftidos, &
coufas defefas polla ley,fofle condemnada, que dacadea perdefle
os veftidos para elle Meirinho, & pagafle os feis mil reis, que
à fua parte lhe cabião, conforme à ley, pois fe dizia no auto,
fer peffoa de qualidade, & como tal lhe fora dado omenagem ;
todo com cuftas, porque proteftaua. O qual libello lhe fora
pollo dito juyz ordinario do dito Concelho de Bayão recebido,
d
<Da Cidade do Torto.
A a dita Ree, & feu marido Cuftodiv> Afonfo per feu procura
dor vierão com huns embargos a fe proceder pello libello, & à
pagar pena alguma, & à dita prizão indiuidamente feita, dizendo
em elles. f Que o dito Cuftodio Afonfo feu marido hera ci
dadão defta cidade do Porto, A fora nella Almotace per pil-
louro, A feruira actualmente o dito cargo, & officio per eleição,
A pillouro, A afsi ficara cidadão, A deuia gofar dos priuile-
gios, gracas, A preemincncias de infanção, como gofauão os da
gouernança defta cidade, A cidadãos della, conforme aos priui-
legios offerecidos, A fentenças, A papeis, que offerecia, A que
ella embargante defcendia direitamente de cidadãos da dita
cidade, os quaes, A feus filhos, & netos gofauão dos grandes
priuilegios concedidos entre os quaes hera poder trafer quaesquer
veltidos de cedas, ouro, A prata, que quifefsem como conftaua
da fentenca, que offerecia dada na Corte, & cafa da fupplicação,
A que a ceda, & guarnicões, que lhe fora coutada pello Meiri
nho, A qualquer outra, de qualquer qualidade que feja mayor,
ella embargante a podia trazer por rezão de fua qualidade, A
priuilegio, A o Meirinho Author encorrerà na pena dos feis mil
reys
6 'Priuilegios dos Cidadãos
reys de encoutos, por a prender, & afrontar, A vir com libello,
conftandolhe, como logo conftou do fobredito por teftemunhas,
no que lhe fizera injuria, pella qual proteftaua, A todo feu direito,
& em feu tempo, & hera voz, & fama publica, pedindo elles
embargantes recebimento de feus embargos, & prouado o
necefTario fofle ella embargante logo lolta, A fuas pecas, & ceda
lhe foflem entregues, & fe não precedefle pella chamada culpa,
A libello contra ella embargante, & foffe abfoluta das penas
pedidas, & o Meirinho Author condemnado nos encoutos, com
reíerua da afronta, A injuria, A cuftas. Os quaes embargos lhe
forão pello dito juiz, por feu defpacho, recebidos, & o Meirinho
Author viera a elles com fua contrariedade, dizendo. 1T Que
no anno de mil, & quinhentos, A fefenta, & quatro fe paffarà
prouizão, porque fe mandaua, que nenhuma peflba gofaffe dos pri-
uilegios de cidadão defta cidade, do Porto por refpeyto de fo-
mer.te feruir de Almotace na dita cidade, faluo fe dantes de fer
eleito por Almotace foffe cidadão, ou tiueffe o dito priuilegio
de cidadão por outra via, como fe via do treslado da prouizão,
que offerecia, a qual fe palTàrà, para fe euitar aos muytos priui-
legiados,
'Da Cidade do Torto. 7
legiados, que fem ordem fe fazião, por refpeito de feruirem o
dito cargo, de Almotace, fem terem as partes, & qualidades que
fe requerião para gofarem do dito priuilegio, & afsi outros in-
conuenientes, como tudo fe moftraua da dita prouizão, que fe
aprefentaua, & que dado cafo, que Cuftodio Afonfo marido da
Ree Clara Camella feruiffe de Almotace na dita cidade, não
gofaua, nem deuia gofar dos priuilegios de cidadão, conforme
«•-
à dita prouizão, por quanto antes de feruir o dito cargo, nun .
qua fora cidadão, nem tiuera priuilegio de cidadão, nem vinha
de geracão dos cidadãos, que conforme à dita proui/.ão gofauáo
dos priuilegios, antes fe tinha, & ccia^, & o jurarião os que do
cafo fabião, que o dito Cuftodio Afonfo a fim fomente de fe
querer fazer cidadão contra a forma da dita proui/ão, bufcara
modo para o fazerem Almotace, contra vontade de muytos no
bres cidadãos da dita cidade do Porto, & que o dito Cuftodio
Afonfo fora filho de Cuftodio Afonfo, morador que foy nefta
dita cidade do Porto, o qual Cuftodio Afonfo feu pay fora
official mecanico, & feruira de alfayate calceteyro, A de vender
panos aos retalhos, & eftes officios mecânicos tiuera, & delles
vfara
8 Trivilégios dos Cidadãos
vfara muytos dias, por efpaço de muytos annos, em quanto vi-
uera, fendo outrofi peffoa baixa, & de baixa forte, & geração,
& que alem do dito Cuftodio Afonfo marido da Ree não fer fi
lho, nem neto de cidadão, hera outrofi peffoa baixa. & de baixa
forte, & hera morador, hauia mais de dous annos fora defta
cidade do Porto, & tinha fua cafa de morada no Concelho de
Bem viuer, aonde viuia,& refidiade humas portas à dentro com
a Ree, & trataua, & fuftentaua por trato immenfo de comprar,
& vender vinhos, azeites, os quaes vendia aos quartilhos, A atauer-
nado, & o mefmo fazia de outras mercadorias, que compraua,
& vendia pello que conforme a dereito, que a feu tempo fe apon
taria, não podia, nem deuia gofar de priuilegio de cidadão, nem
de outro priuilegio nenhum nobre, A o Meirinho Author, não
hia, nem queria hir cõtra os priuilegios dos verdadeiros cidadãos,
& das peffoas que delles podião gofar, fomente queria juftificar
a Ree, nem feu marido não poderem gofar delles, por não terem
as qualidades que fe requerião, & que a fentença dada em fauor
de Francifco de Figueiroa, que a Ree aprelentaua em nenhuma
cousa podia prejudicar a elle Meirinho Author por fer dada
entre
«Da Cidade do 'Porto. 9
entre differentes partes, & de qualidades differentes, por quãto
o dito Francifco de Figueiroa hera filho, & neto de cidadão :
A alem diflb a dita fentença não fazia menfão da dita prouizão,
que ao tal tempo hera pafTada, & fe deuia crer, que contra ella
fe não dera a dita ientenca, nem fe podia dar, pois até o pre-
fente fe não moftraua fer reuogada, & que a Ree Clara Camella
hera cafada com elle Cuftodio Afonfo, A como taes viuião, A
por taes herão tidos, & hauidos, & por afsi fer, dado cafo, &
não conceffo que ella fora filha, & neta de cidadão, não gofaua,
nem deuia gofar, fomente dos priuilegios que gofaua o dito
Cuftodio Afonfo feu marido, & ficaua fendo da mefma quali
dàde, & condição do dito feu marido, & por tal deuia fer tida,
d reputada, o que todo o Author dizia, por fazer a bem de fua
juftiça, A não com animo de fazer injuria à peffoa nenhuma, de
que hera publica voz, & fama ; pedindo recebimento, & que (em
embargo dos chamados embargos, a Ree foffe condemnada no
pedido pello Author em leu libello, & nas cuftas em dobro. A
qual contrariedade lhe fora pello dito juiz recebida, com outros
mais artigos, com que as partes vierão, & afsignarão lugar de
B proua
1o 'Priuileg.ios dos Cidadãos
proua ao feito, a qual as ditas partes derao a feus artigos re
cebidos por autos, papeis, & inquirições de teftemunhas, que
dentro no dito termo lhes forão preguntadas, hauidas por aber
tas, & publicadas, A forão juntas ao feito, A cftando neftes ter
mos, A hindo o dito Corregedor da comarqua por correicão ao
dito Concelho, auocara os ditos autos à feu juizo, & tanto (e
perante elle proceffara, que fendolhe leuados conclufos, viftos
por elle, pronunciara per fua fentenca. l Que vifto o feito
libello do Author Meirinho, embargos da Ree Clara Camella,
contrariedade a elles, com os mais artigos recebidos, priuile-
gios, fentencas, prouizões, inftrumentos, certidões, juntas, A
proua: moftrauafe o Meirinho A. prender á Ree Clara Camella
mulher de Cuftodio Afonfo, per lhe achar veftido hum capotim
de raxa cor de pombinho, com huma renda de ouro, A prata
ao redor pella parte de fora, entretecido com c da vermelha Je
dous de dedos de largura, & cubertas as cufturas do cabeção
com a mefma renda, & forrado por dentro de tafetà verde de
largor de hum palmo todo ao redor, A hum roupão de tafetà
preto com dous debruns de veludo preto pellas bordas, com as
mangas
<Da Cidade do Porto, 1 r
mangas abertàs com dous debruns do mefmo veludo, & pello
cabecão debruado do mefmo veludo pellas cufturas, & huma
vafquinha de pano vermelho, com huma barra de veludo verde
de dous dedos em largo, apeftanada de tafetà amarelo, A humas
efpiguilhas em cada borda da peftana : moftrauaffe a Ree Clara
Camella fer casada, & recebida na forma da fanta Madre lgreja,
A Concilio Tridentino com Cuftodio Afonfo, o qual Cuftodio
Afonfo fe prouaua íeruir de Almotace nefta cidade per eleicão,
pella qual rezão ficara della cidadão, & o hera por fer chriftão
velho, A viuer a ley de nobreza, A por fer cidadão defta cida
de, gofar dos priuilegios, liberdades dos infancões, netos de
Reys, A como tal pode fua mulher trafer as ditas cedas : mof.
trauaffe o dito Cuftodio Afonfo fer chriftão velho, A viuer lim
pamente a ley de nobreza, A viuer na mefma forma antes que
foffe Almotace, A afsi viuer feu pay, A por eftas refões fora
eleito por Almotace, A por o fer ficarà cidadão, A gofaua dos
priuilegios, A liberdades concedidas aos ditos cidadãos, A por
effa refão poder a Ree trafer as cedas declaradas no auto, A
libello do Author, que lhe forão achadas, A coutadas. Pro-
B 2 uafie
12 'Priuilegios dos Cidadãos
uaffe outrofi a dita Clara Camella íer de nobre geração, &
feu pay fer tambem nefta cidade Almotace, A fer della cidadão,
o que tudo vifto, A forma dos priuilegios concedidos pellos Reys
defte Reyno aos cidadãos defta cidade abfoluerà a Ree do contra
ella pello Meirinho Author pedido, & que foffe folto, & declarou
poder traíer as pecas, & cedas declaradas no libcllo, & auto, &
mandara Ihefoffem tornadas, A foffe fem cuftas, e appellara para
mim por parte da minha juftica por eftar dentro das dez le
guas. No Porto a 22. de Feuereiro de nouenta, & hum. E
com as partes citadas atempara o dito Corregedor a appellação
para efta minha Rellacão, & cafa da cidade do Porto, onde o
feito me foi trafido, & aprefentado perante mim, & meus Ouui-
dores do crime della, & por as partes não refoarem o dito feito
me foi leuado conclufo, A vifto por mim em Rellacão com os
do meu defembargo. f Acordei, Ac. que he bem julgado
pello Corregedor em abfoluer a Ree Clara Camella da culpa de
trafer a ceda que lhe foi coutada pello Meirinho Author confir
mo fuá fentenca por feus fundamentos, & mais que dos autos con-
fta, A mando que á Ree lhe fejão tornadas as pecas que lhe
forao
1>a Cidade do Torto. 13
forão coutadas, conforme ao auto da coutada da ceda, & depo-
fito feito, e feja fem cuftas, no que outrofi confirmo fua fen
tenca, e a Ree feja folta, não fendo por al prefa no Porto a 23.
de Marco, de mil, A quinhentos, A nouenta, & hum. Et por tan
to vos mando, que fendouos efta minha charta de fentenca
aprefentada, & paffada por minha chancellaria a cumpraes, &
guardeis, A facaes inteiramente comprir, & guardar, como nella
fe contem, fazendo foltar a Ree da omenagem, em que he pre
za, e logo com effeito lhe fareis tornar, & entregar as ditas pe
cas que lhe forão coutadas, conforme a efta minha fentenca, &
auto de coutamento, & ferà de tudo entregue; comprio afsi.
Dada em efta minha cidade do Porto, aos z3. dias do mez
de Marco. E fendo cafo que a Ree tenha pagas algumas
cuftas, que o Meirinho foffe obrigado pagar tudo o que conftar,
que por elle pagou, lhe pagarà o dito Meirinho, 4 não o que
rendo fazer, o executareis por ello na forma da Ordenação,
<£• pella dita maneira, tendoas o Meirinho pagas pella Ree,
a dita Ree lhas pagarà de modo, que cada hum feja pago do
que lhe for deuido. El Rey noffo fenhor o mandou pello
Dodor
i4 'Privilégios dos Cidadãos
Doctor Gafpar Peffoa do feu defcmbargo, Defembargador de
fua Corte, & cafa da Supplicacão, A Ouuidor do crime com
alcada em efta Rellacão, & caía do Porto, Ac. Manoel Col-
laço a fez no officio de Luiz Gõcaluez de Pinna, efcriuão date
os Ouuidores do crime da dita cafa, anno do nafcimento de
noffo Senhor lefu Chrifto, de mil, & quinhentos, & nouenta, &
hum annos, pagou defta fentenca quatrocentos, & oitenta reis,
de que leuei a quarta parte, A de afsignatura pagou cem reis,
A dos termos do feito, cota, A deftribuição fetenta reis, que
todo pagou a Ree. Recebi as tres partes. Luiz Gonçaluez
de Pinna a fez efcreuer. Gafpar Peffoa. Ruy de Soufa.
Pagou quarenta reis Soares. Cumpraffe afsi como nella fe
contem, A mando que feja folta, A lhe hei por leuãtada a ome-
nagem. Em Bayão a quatro de Abril de nouenta A hum an
nos. Manoel Teixeira. O qual treflado de fentenca eu Ruy
Pereira, que firuo de efcriuão da chãcellaria defta correi
cão da cidade do Porto, concertei cõ a propria bem, A fielmente
que aprefentou Cuftodio Afonfo chanceller defta correicão, que
a recebeo, A vai fem coufa que duuida faca, faluo a entreli
nha,
<Z)<2 Cidade do Torto. 15
nhã, A rifcados concertados, a cima referuados, A á propria
me reporto, A a cõcertei por mim, A com o official aqui comi
go afsignado. No Porto a oito de Dezembro de mil, & qui
nhentos, & nouenta, A hum annos: pagarà o que fe contar, & a
palsei per virtude do defpacho atras do Corregedor, o Lecen-
ccado Francifco Fernandez Ferreira. Concertado por mim
efcriuão Ruy Pereira. E comigo tabellião Ruy de Couros.
Recebi a própria fentença. Cuftodio Afonlb.
Certifico eu Ruy de Couros publico tabellião de notas por
el Rey nofib fenhor na cidade do Porto; & feus termos, que
a letra do treslado, & concerto da fentenca a tras efcrita, que
he de Ruy Pereira morador na dita cidade, que ao tal tempo
leruia de efcriuão da chancellaria da correição defta cidade do
Porto, & que os dous fignaes do concerto que eftão ao pee do
dito treslado da dita fentenca, hum delles he do dito Ruy Pe
reira, A outro de mim tabellião, & em fee, A teftemunho de
verdade efto efcreui, A aqui afsignei de meu publico fignal na
dita cidade, aos doze dias do mez de Dezébro, do anno de
mil, A quinhentos, A nouenta, A hum annos. Nada.
Fis
1 6 'Priuilegios dos Cidadãos
Fis tresladar efta fentença da propria que eftaa no char-
torio da Camera, & vai concertada com o efcriuão aísignado
aqui comigo, & com Baptifta da Cofta de Saa procurador da
cidade à 23. do mez de Abril, de mil, & íeis centos, 4 onfe
annos.
Francifco <rBayão de Magalhães.
'Baptijta da Cojia de Saa.
Concertado comigo. Francifco de Magalhães Pinto.
1)a Cidade do 'Porto. i7
TRESLcáDO fDoá SENTENC&i
& priuilegio que pedirão os Vereadores, &
OJpciaes da Comera da cidade do
Porto à Comera da cidade
de Lisboa.
SAibão quantos efte inltrumento de crenca, A fee, dado per
authoridade de juftica cõ o treflado da fentença em pu
blica forma, virem, que no anno do nacimento de noflo fenhor
lefu Chrifto, de mil, A quatrocentos, A oitenta, & oito annos,
aos fete dias do mez de lulho, na cidade de Lisboa, no paco
do Cõcelho em audienca perante o Bacharel loão Dias de Al-
uallade juiz dos feitos crueis em a dita cidade, & feus termos,
pareceo Amador de Alpoem caualleiro fidalgo da cafa del Rey
noflb fenhor, A cidadão da dita cidade ; & aprefentou ao dito
juiz huma fentenca fcripta em pergaminho, & fellada com um
fello de cera amarela, com as quinas dependuradas em huma
fita de linhas azues, & brancas, & difie ao dito juiz, que a elle
hera neceffario otreslado da dita fentenca, que pedia a elle juiz,
C que
1 8 Triuilegios dos Cidadãos
que lha mandaffe dar por hum inftrumento publico, que fizcffe
fee, A lhe deffem credito, e vifto pello dito juiz a dita fentenca
fer faã, & limpa, fem refpanfadura, nem entrelinha, nem vicio
algum que fizefle duuida, antes de toda carecida, & afsignada
pello Lecenceado Ruy da Graã, fegundo fe affirmou por Nuno
Martins. Fernão de Afonfo, A Sebaftião Dias tabelliões do dito
juizo, me interpôs, & deu fua authoridade à mim tabellião a
baixo nomeado, para que paflafle o dito inftrumento ao dito
Amador de Alpoem, pella maneira, que por elle hera pedido;
da qual fentenca de verbo, ad verbum, o theor tal he, como
fe ao diante fegue. 1 Dom loão per graça de Deos Rey de
Portugal, A dos Algarues, de aquem, & dalem mar em Africa,
fenhor de Guine, & da conquifta nauegacão. A vos dom Gon-
calo de Caftello branco do noflb confelho, & Gouernador da
noffa juftica da cafa do ciuel, que eftà em a noffa muy nobre,
e fempre leal cidade de Lifboa, A aos Defembargadores da
dita cafa, A à todos os Corregedores, juizes, A jufticas de nof-
fos Reynos, à que efta noffa charla de fentenca for moftrada,
A o conhecimento della pertencer por qualquer via, A maneira,
que
1)0. Cidade do Torto. 19
que leja, faude. Sabede que perante nos, em noffa peffoa,
dentro em Rellacão, na cafa da fupplicacão, parecerão os jui
zes, Vereadores, & procurador, que hora fão em a nolTa cidade
de Lilboa, A afsi outros fidalgos, & cidadãos da dita cidade,
em ella moradores, e nos aprefentarão huma peticão por elles
afsignada, da qual o theor tal he. f Senhor. Os Verea
dores, juiz, & procurador, que hora fomos em efta vofla cidade
de Lisboa, & todos os outros cidadaõs della nos queixamos à
voffa Alteza do Gouernador dom Goncalo, A dos Defembar-
gadores da cala do ciuel, que como feja verdade os Reys vof-
fos antepaffados nos tem dados muytos priuilegios, & liberda
des, entre os quaes he, que os cidadãos della não fejão prezos
em ferros, nem nas prizões do Concelho, os quaes voffa Alte
za nos confirmou, A o dito Gouernador, A Defembargadores,
por qualquer delicio, que qualquer cidadão faca, pofto que fejà
de pequena qualidade os mandão prender, & meter em ferros,
como a mal feitores como hora fizerão a hum Pcro Cardofo,
que fendo juiz do crime da dita cidade o mandarão prender,
d meter na prizão, A cadea, <£ pofto que pella dita cidade por
C 2 noffo
2o <Príitilegios dos Cidadãos
nolfo procurador lhes foflem moftrados os ditos noflbs priuile-
gios, & pedido que íbltaffem ao dito Pero Cardofo fobre fua
omenagem, fegundo fe contem nos ditos priuilegios, que os di
tos cidadãos o deuem fer, elle Gouernador, A Defembargado-
res o não querem mandar foliar. Pedimos a voffa Alteza, que
no Io mande entregar, & fob huma grande pena mande ao dito
Gouernador, & Defembargadores, que daqui por diante tenhão
outra maneira cÕnofco, A nos guardem o que nos ditos noflbs
priuilegios fe contem, <t nos não deuaffem pella maneira que o
até aqui tem feito, no que nos farà muyta juftiça, & mercc.
f A qual peticão nos vimos, & perante nos vos fix.emos vir,
& afsi aos Defembargadores da dita cafa do ciuel, & vos fize
mos pregunta, que rezão tínheis à não guardar os priuilegios
da dita cidade, que nos logo os ditos Vereadores, & cidadãos
aprefentarão, ao que vos respondeftes, que elles fe aggrauauão
mal, & não tinhão rezão de fe aggrauar de nos, por quãto quã-
do quer que algum cidadão, dos que andão nos pillouros, &
gouernão a cidade, fazia coufa, porque mereceffe fer prezo, ef-
tes taes fe prendião fobre fua omenagem, & no caftello (e o
delido
<T>a Cidade do fPorto. 21
delido tal hera, & alguns em fua cafa ; mas que entre eltes
hauia homens, que não herão cidadãos per geracão, nem me
recimento, nem andauão nos ditos pillouros, antes feruiã por
outros, como fazia o dito Pero Cardofo, que feruia em ablen-
cia de Francifco Peftana, que hera o verdadeiro juiz do crime,
por fair no pillouro, & a cidade, & cidadãos encarregarão ao
fobredito Pero Cardolb, que feruifle o dito officio, o que elles
não podião fazer, & por iflb vos dito Gouernador o não man
dareis foltar, nem dar fobre fua omenagem, como elles o pe-
dião, por feu delicio fer tal, que merecia grande pena de jufti-
ca, por quanto ferio à hum Luiz Gomez à porta da Rellacão de
propofito: A quanto no que nos ditos priuilegios da dita cidade fe
contem, que os cidadãos della gofem da liberdade, & honras, que
fohião gofar os lnfancões da terra de fancta Maria ; que vos Go
uernador, & Defembargadores mandareis aos Vereadores, que
hora fão da dita cidade, & aos que forão os annos paflados : que
vos fizeflem certo, que homens forão, ou lão os ditos lnfancões,
para fe faber feus merecimentos, & a valia que tinhão, ou tem,
íe os ainda hauia, o que elles nunqua fizerão, a qual conteftacão
baitou,
22 'Priuilegios dos Cidadãos
baítou, para vos moftrardes por fem culpa, & por fe não alon
gar longo procedo, A dar defpeza à dita cidade, mandamos à
Amador de Alpoem como a cidadão antigo, & que nella per
vezes foi Vereador, que per efcrituras autenticas vos fizefle certo
de que qualidade, A merecimento forão os ditos lnfanções, que
antiguamente poffuião a terra de fanòta Maria, que fe nos pri-
uilegios da dita cidade contem, a cujo requerimento mandamos
paffar mandados para o Doítor Vafco Fernandez noífo Ca-
nonifta mor, A Guarda da nofla torre do tombo, que eftà
no caftello da dita cidade, & afsi para o Prior de fancta
Cruz de Coimbra, A para os Abbades de Alcobaca, A Boyro,
& fancto Tirfo, & para as Abbadellas de Loruão, A Odiuelas,
& Arouqua, aos quaes mandamos que deixaflem ver em feus
chartorios todas as efcrituras, A priuilegios, A doações que o
dito Amador de Alpoem ver quifeffe, A daquellas que lhes pe-
dide lhe mandaflem dar o treslado em publica forma, atem-
pandolhe para ello termo, dentro do qual elle pareceo perante
nos, A nos aprefentou certos inftrumentos, os quaes mandamos
acoftar à petição, A priuilegios da cidade, & a voffa contefta-
çáo,
<ZXi Cidade do Torto. 23
cão, & com tudo mandamos dar a vifta a cidade, a qual por
leu procurador rezoou tanto, que nos foi leuado concluso.
l O que todo por nos em noffa Rellacão, com os do noffo cõ-
felho, & Defembargadores, acordamos que vifta a petição da
cidade, <t os priuilegios a ella dados & vofla conteftacão, & vif-
to iífo mefmo, os inftrumentos oflerecidos por Amador de Al-
póem em ajuda, & fauor da dita cidade, A cidadãos della, pel-
los quaes íe moftra em proua claramente os lnfanções que fo-
hião à pofluir a terra de fancta Maria, & Befteiros, ferem netos
de Reys, filhos dos lnfantes mores, nados depôs os Príncipes
herdeiros, A à eftes fomente pertencer o tal nome, que à outras
peflbas não he vifto, como nos ditos priuilegios se contem ; que
os cidadãos da dita cidade gofem da liberdade, que gofauão
os ditos lnfancões, por tanto vos mandamos, que daqui por
diante os hajaes por taes, A como a lnfancões, netos de Reys,
os trateis, afsi nas prouizões, como em todas as outras coufas,
que lhes fobreuierem, & lhes guardeis em todo, & por todo
feus priuilegios, como fe nelles contem, afsi aos que andarem
nos pillouros, & gouernanca da cidade, como à todos os ou
tros,
24 Trinilegios dos Cidadãos
tros, que de geracão verdadeira forem de cidadãos, & afsi a
leus filhos, A netos, & todos os que delles deícenderem, A quan
to a Pero Cardoíb fe liure por feu direito, vifto como não he
\
cidadão, nem fahio per pillouro, para feruir o officio de juiz do
crime, que feruia ao tempo, que foi prefo, & por tanto vos
mandamos que affi o cumpraes, & guardeis, & facaes comprir,
& guardar como por nos he julgado, & mandado, & al não fa
caes. Dado na cidade de Lifboa aos tres dias do mez de
lulho. El Rey o mandou pello Lecenceado Ruy da Graã, do
feu confelho, & Defembargador, & juiz de feus feitos. Duarte
Peixoto a fez, anno do nafcimento de nolfo fenhor lefu Chrifto,
de mil, & quatrocentos, & oitenta, & feis annos. Et tresla-
dada a d. fentenca eu tabcllião a baixo nomeado, a concertei
com o proprio original, a qual tornei a dar ao dito Amador de
Alpoem, teftemunhas Fernando Afonfo, & Sebaftião Dias, ta-
belliões do dito juizo, & Aluaro Anez porteiro do Concelho, &
eu Thomas Lopez tabellião do judicial, que efte inftrumento
efcreui, & nelle meu publico lignal fiz, que tal he. E eu Chrif-
touão de Magalhães efcriuão da Camera, defta muy nobre, &
fempre
T>a Cidade do Torto. 25
fempre leal cidade de Lisboa, fiz efcreuer, & tresladar efte pri-
uilegio, que eftà na dita Camera afsignado em publico, & por
mi/n concertei, fobicreui, & afsignci. Chriftouão de Maga
lhães, pagou com bufca duzentos, & quorenta reis. H Os
Vereadores, & procuradores defta muy nobre, & fempre leal
cidade de Lisboa, fazemos fabcr, que efta fenlenca, e priuile-
gios atras efcritos, que a dita cidade tem dos lnfancões da terra
de fanda Maria, & Befteiros, vai concertada, & afsignada pello
efcriuão da Camera da dita cidade, & fellada com o fello della,
& no dito priuilegio, e nos mais, que a dita cidade tem, não fe
fala em ricos homens, & por afsi paffar na verdade ; palTamos
efta certidão por nos afsignada, A fellada cõ o fello da dita ci
dade, feita em ella por Simão Luiz, aos trefe de Nouembro,
de mil, & quinhentos, & fefenta, & hum anuos. E eu Chrifto
uão de Magalhães o fiz escreuer. Dom Pedro da Cunha. O
Doctor Pero Fernandez. Dom Rodrigo. Diogo Soares.
Fiz tresladar efta fentenca da propria, que eftà no chartorio da
Camera, A vai concertada com Baptifta da Cofta procurador
D da
a6 Trittilegios dos Cidadãos
da cidade, d com o efcriuam afsignado aqui à vinte, & tres de
Abril, de mil, & feis centos, A onze.
Francifco Bayão de Magalhães.
Baptifta da Cofta de Saa.
Declaro que fiz tresladar do liuro dos Regiftos da Camera
efta fentenca, onde eftà regiftada a propria às folhas 166. na
volta por diante.
Francifco Tíayão de \\lagalhaes.
Concertado comigo. Francifco de ^Magalhães. Pinto.
SEN
Tia Cidade do Torto. 27
SENTENC&Í <Dc4<Dc4 ESM
emfauor dos priuilegios dos cidadãos da
cidade do Porto.
DlZEM os Vereadores, & Procurador da cidade do Porto,
que em poder de Antonio de Azeuedo filho de Pero
Teixeira cidadão da dita cidade, á moradores nefta de Lisboa,
eftà huma fentenca da Rellacão, que elles ditos Pero Teixeira,
& feu filho Antonio de Azeuedo houuerão contra o Meirinho
Francifcò Ferreira, por lhe coutar de certas pecas, & porque
os cidadãos da dita cidade do Porto fe efperã"b ajudar della, A
elles fupplicantes a querem mandar pôr no chartorio da dita
Camera do Porto, junta aos priuilegios da dita cidade. Pedem
a voffa merce, que aprefentandofe a dita fentenca à qualquer
elcriuão, ou tabellião, mande lhes dê o treslado della em pu
blica forma, & lhe dê fuá authoridade ordinaria, para que va
lha em juízo, A fora delle, & receberà juftica, & merce. Paf-
D 2 felhe
28 Triuilegios dos Cidadãos
felhe o treslado em charta teftemunhauel à 20. de Marco, de
oitenta, A quatro. Ruy Gago.
Saibão quantos efte publico inftrumento, com o treslado de
huma sentenca, dado em publica forma, per mandado, A au-
thoridade de juftica: virem que no anno do nalcimento de noffo
fenhor lesu Chrifto, de mil, & quinhentos, A oitenta, A quatro
annos, aos onfe dias do mez de Abril, em efta muy nobre, &
fempre leal cidade de Lisboa, nas cafas da morada do Dodor
Ruy Gago cidadão, & juiz do ciuel em a dita cidade, A feus
termos, perante elle, por parte dos Vereadores, & procurador
da cidade do Porto, pareceo Manoel de Mattos Paez, A lhe
aprefentou huma peticam, e huma fentenca, pedindo que lha
defpachaffe, a qual vifta, A lida, pôs em ella hum defpacho,
perque mandou dar a dita fentenca aos fupplicantes em pu
blica forma, A o treslado da dita fentenca de verbo ad verbum,
he o feguinte.
f Dom Phelippe por graca de Deos Rey de Portugal, A
dos Algarues, de aquem, A de alem, mar em Africa, fenhor de
Guine, A da conquifta nauegacão, comercio de Ethiopia, Ara
bia,
Cidade do Torto. 29
bia, Percia, A da índia. A todos os Corregedores, Ouuidores,
juizes, & jufticas, officiaes, & peflbas de meus Reynos, & fe-
nhorios, à que efta minha charta de fentença for aprefentada,
& o conhecmento della com direito pertencer, laude. Faço
faber, que nefta minha Corte, & cafa do ciuel, perante mim,
A os meus Corregedores dos feitos, e caufas crimes, com alca
da nefta minha cidade de Lifboa, & feus termos, fe tratou, &
finalmente fentenceou hum feito crime ordenado entre partes,
como Author o Meirinho Francifco Ferreira, contra Antonio
de Azeuedo homem mancebo, filho de Pcro Teixeira aqui mo
rador, Reo, o qual fendo prezo pello dito Francifco Ferreira,
feruindo aqui de Meirinho, na vara do Meirinho Diogo da Cof-
ta, prendera ao dito Antonio de Azeuedo por o achar cõ huma
efpada guarnecida de veludo, com hum punho de fio de ouro,
A os tercos dourados, & moftraffe pellos autos de fua prizão,
que aos vinte duas do mez de Dezembro do anno de mil, á
quinhentos, & oitenta annos, o dito Francifco Ferreira andando
correndo a cidade prendera ao Reo Antonio de Azeuedo, por
o achar com a dita efpada com a bainha de veludo, com os
tercos
3o Trívilegios dos Cidadãos
terços dourados, A o punho de fio de ouro, lendo defezo por
minha Ordenação, A leuandoo afsi prezo pella rua noua dos
ferros, encontrou com o Corregedor leronymo Vieira do meu
defembargo, Corregedor dos feitos, A cauias ciueis, em efta
minha Corte, que ao tal tempo feruia de Corregedor do crime,
ao qual derão conta do cafo, perque o prenderão, moftrando-
Ihe a dita efpada, pedindo-lhe elle Author condemnaffe ao dito
Reo em perdimento da dita efpada, com o mais, à pena de
minha Ordenação, o qual mandara, que diffo se fizeffe auto,
& elle Reo fofle leuado à cadea, A por elle Reo Antonio de
Azeuedo dizer, como a dita prizao eftaua com doentes, & de
doença contagiofa me pedia houueffe à iflb refpeito, por quanto
trazia a dita efpada por limpeza, pedindome o condemnaffe na
pena, que me pareceffe juftica, A refpeitando ao tempo que
hera, A como as ditas cadeas eftauão com doentes, fora con-
demnado na pena de minha Ordenação: conuem a faber, ame-
tade para os captiuos, A a outra para o dito Francifco Ferrei
ra Author, o qual Reo pagara logo a tal pena, A fora folto, A
paffado o fobredito, por parte de Pero Teixeira pay do Reo An
tonio
<T>a Cidade do Torto. 3i
tonio de Azeuedo, me foi feito peticão, na qual fe continha, que
elle Author prendera o dito feu filho, por o achar cõ a efpada
de tercos dourados, A que o dito Corregedor leronymo Vieira
à quem fora aprefentado, o condemnara verbalmente na dita
pena, que o Author Frãcifco Ferreira recebeo, a qual elle
pagara, por não fer levado à cadea, & porque elle Pero Tei
xeira, como pay, que hera do Rco, tinha embargos à dita con-
demnação, por ler cidadão da cidade do Porto, & gofa dos
priuilegios de fidalgos de minha cafa, & lnfancões, & afsi o dito
Reo Antonio de Azeuedo feu filho, conforme ao dito priuile-
gio, me pedia lhe mandalTe dar o feito, para vir com elles, o
qual lhe foi dado, A fazendo para ello procurador, veyo com
huns embargos por efcripto, & dizendo com elles, que elle cm-
bargante Antonio de Azeuedo hera filho famílias do embar-
gante Pero Teixeira de legitimo matrimonio dantre elfe Pero
Teixeira, & dantre Suzana de Azeuedo fua legitima mulher de
nobre geração, & elle embargante Pero Teixeira he cidadão da
cidade do Porto, e afsi o forão os auôs delle Antonio de Aze
uedo, pello que gofa de todos os priuilegios, A liberdades de
que
3z cPriuilegios dos Cidadãos
que gofão os fidalgos de minha cafa, A infancões, netos de
Reys, filhos dos lnfancões, como conftaua melhor do priuile-
gio que se apresentaua à folhas primeira, & fexta delle, A do
mesmo priuilegio gofão os filhos, A netos dos taes cidadãos, A
que os meus fidalgos, & afsi lnfancões podião, A puderão fem-
pre trafer bainhas de veludo, & tercos dourados, & punhos de
fio de ouro, A outras muytas mais coufas de ouro, A ceda, fem
lhe poderem fer coutadas, A por afsi fer, por elle embargante
Antonio de Azeuedo fer filho, neto, A bifneto de cidadãos da
cidade do Porto, podia bem trazer as coufas conteudas no auto,
A não lhe podião fer coutadas, A que geralmente fe tinha man
dado aos Alcaydes pcllos meus Gouernadores, que não pren-
deffem pefloa alguma por terços dourados, porque feruião de
limpeza da efpada, pella qual rezão os trafiao geralmente todas
as peffoas, pofto que não foffem priuilegiados, A com mais re
zão os podia elle embargante trafer, pois hera priuilcgiado, A
que elle embargante Antonio de Azeuedo, por não hir à cadea,
entregou a elle Meirinho Author quatro cruzados, que pedio
empreftados à hum confeiteiro, tendoo o dito Author Francifco
Fer
<T)a Cidade do «Porto. 33
Ferreira ainda prezo, dr não requereo condemnacão, mais que
dizer, que podia trafer o que trafia: & que elle Antonio de
Azeuedo eftaua debaixo da adminiftracão delle embargante feu
pay, & ambos me pedirão lhes fofle guardado o dito priuile-
gio, A que o dito Meirinho Author lhe tornafle a pena, que lhe
leuara, o que me pedia, que pronunciafle fem embargo da dita
cõdemnacão verbal, que diz lhe fer feita com as cuftas. Com
os quaes embargos mandei que o feito me foffe conclufo, ao
que foi fatisfeito, os quaes lhe forâo recebidos pello d. Dodor
leronymo Vieira, A mandado que fe a parte quizefle contra
riar, o poderia fazer até a primeira, o qual fez procurador, A
fendolhe dado o feito para contrariar veyo com huns artigos,
A elle Reo refpondeo, & tornando cõclufo, lhe foi mandado
que fem embargo do que elle Francifco Ferreira Author alle-
gaua, cõtrariaffe aos ditos embargos recebidos até a primeira
audiencia, & fendolhe tornado o feito para iffo, por não vir
com a dita cõtrariedade no termo, que lhe fora afsignado, fora
della lancado per defembargo de minha Rellacão, A por tornar
à vir com embargos à fer lancado da dita contrariedade, nos
E quaes
34 Triuilegios doe, Cidadãos
quaes relataua que per occupacão do officio de Meirinho, ou
Alcayde, que no tal tempo feruia, não poder acodir ao dito
feito, nem hir dar informacão a feu procurador, nem que fe
não pafiara mais que huma, ou duas audiencias, as quaes fe
não fizerão, com os quaes mandei, que o feito me foffe conclu-
fo, A vilto por mim em Rellacão com os de meu defembargo.
Acordei que fem embargo dos embargos do embargante Fran-
cifco Ferreira Alcayde, que não recebo, vifta a materia delles,
fe cõprifle o defpacho proximo de minha Rellacão atras fcripto.
No qual feito foi afsignado dilacão, para elles partes darem
proua'à feus artigos recebidos a elle Reo, o qual deu proua
aos ditos embargos, & lhe foi feita inquiricão de todo, A aca
bada, as partes forão lancadas de mais proua, & houue as in
quiricões por abertas, & publicadas, & mandei que as partes
houueffem vifta, & diffeffem de fua juftica em final, ao que foi
fatisfeito, & o Author, A R. per feus procuradores houuerão
vifta com a dita inquirição, & foi tanto dito, ar rezoado, & alle-
gado de feu direito, A juftica, que o feito me foi finalmente
conclufo, & vifto per mim em Rellacão, com os do meu defem
bargo.
<Va Cidade do Torto. 35
bargo. f Acordei que viftos os embargos, com que os em-
bargantes Pero Teixeira, & Antonio de Azeuedo vierão à con-
demnacao, que lhe forão recebidos, fendo o embargado Alcayde
lançado da contrariedade per defpacho de minha Rellacão, por
não vir cõ ella nos termos, que lhe forão afsignados, inquiri
ção junta, priuilegio de cidadão do Porto, que aprefenta, preua
à todo dada, pella qual confta o Reo Antonio de Azeuedo fer
filho famílias de Pero Teixeira, A fer cidadão do Porto, & que
per bem de feu priuilegio podia trafer efpada com terços dou
rados, & punhos de fio de ouro, A bainha de veludo, o que todo
vifto. A o mais dos autos, & a qualidade das pecas, que lhe
forão coutadas, & priuilegio que aprefentaua; mando que leu
priuilegio lhe feja guardado, A fem embargo da condemnação
verbal a fua efpada, & os quatro cruzados, A mais cõdemna-
ção que o Alcayde Francifco Ferreira recebeo, feja tudo tor
nado ao Reo Antonio de Azeuedo, A as cuftas dos autos, em
que condemno ao Alcayde dos embargos por diante, ao pri
meiro de Feuereiro, de oitenta, A dous annos, A porem vos
mando que afsi o cumpraes, A facaes muyto inteiramente cõ-
E 2 prir,
36 tpriuilegios dos Cidadãos
prir, aguardar, como por mim he acordado, determinado, man
dado, & julgado, & fareis cõ efta minha íentenca requerer ao
dito A. Francifco Ferreira, que logo dee, & pague ao Reo An
tonio de Azeuedo os ditos quatro cruzados de pena, em que
foi condemnado verbalmente, que elle Reo lhe pagou ao tempo
que foi prezo com mais as cultas do efcriuão, & do enquere-
dor, & do procurador, contas ao Contador, A feitio defta mi
nha fentença, aujgnatura della, & fello, & chancellaria, cõ outras
defpezas meudas, & ao cafo neceflarias, que a todo fazem em
foma de mil, & cento, & nouenta, & tres reis, as quaes cuftas
forão cõtadas por Gregorio Barbofa Contador dellas nefta ci
dade, A pello melYno modo pagará mais elle Author Francifco
Ferreira tudo aquillo que for efcrito nas coftas defta minha fen
tenca per verba do efcriuão da minha chãcellaria da dizima das
ditas cuftas, em que foi condemnado, A não querendo logo pa
gar, o penhorareis em tanto de feus bens moueis, A não baf-
tando os moueis, nos de raiz, & huns, & outros fareis vender, &
rematar, & primeiro pregoar os dias de minha Ordenação, A
do dinheiro delle fareis pagamento ao dito Antonio de Azeuedo
dos
<Da Cidade do Torto. 3y
dos ditos mil, & cento, & nouenta, A tres reis, & afsi da dizima
das ditas cultas, com mais os quatro cruzados da pena que lhe
fora paga, conforme à efta minha fentenca a tras, & tanto que
com todo tiuer fatisfeito, elie Antonio de Azeuedo lhe dará qui
tação do que delle receber, o que afsi compri huns, & outros,
& al não facaes. Dada em Lisboa ao primeiro dia do mez
de Feuereiro. El Rey nolTo fenhor o mandou pello Dodor
Miguel lacome de Luna do feu defembargo, A defembargador
dos aggrauos em fua Corte, A cafa do ciuel, Corregedor com
alçada dos feitos, & caufas crimes defta cidade de Lisboa, &
fua correição. loão deAragão afez, anno do nafcimento de
noífo fenhor lefu Chrifto, de mil, & quinhentos, & oitenta, &
dous annos. Pagou defta fentenca ao efcriuão, cento, A cin-
coenta, & noue reis, & ao Corregedor cem reis. E eu Ma-
theus de Aragão, que a fobfcreui.
Miguel lacome de Luna.
Pagou quorenta reis, & de dizima cento, A dezanoue reis.
leronymo Correa. loão de Soufa.
O qual
38 'Priuilegi&s dos Cidadãos
O qual traslado da sentenca atras, <t acima tresladado, foi
concertado com a propria fentenca, que o supplicante mandou,
que fe torriafle a Antonio de Azeuedo, cuja he, no qual tres-
lado o dito juiz diffe, que interpunha fua authoridade ordina
ria, A judicial, para que fe lhe dee fé, <t credito em juizo, como
fora delle, como ao proprio original, donde efte treslado ema
nou. E eu Efteuão de Vianna tabellião publico, A dante os jui
zes do ciuel defta cidade de Lisboa, & feus termos por el Rey
noflb fenhor; que efte inftrumento cõcertei, A o fobfcreui, d
afsignei de meu publico final. Pagou defte cento A fetenta reis.
Efteuão de Vianna. Concertado Sebaftilo de Padilha. Fiz
tresladâr efta fentenca da propria, que està no chartorio da Ca-
mera, A a concertei com Baplifta da Cofta Procurador da ci
dade, & com o escriuão afsignado aqui, aos vinte, A tres dias
de Abril, de mil, & feis centos, & onfe annos.
Francifco Bayão de Magalhães.
Baptifta da Cofta de Saa.
Decla-
<Da Cidade do 'Porto. 3g
Declaro que fiz tresladar efta fentenca de hum inftrumento
publico, em que eftà encorporada.
Francifco TSayão de ^Magalhães.
Concertado comigo. Francifco de ^Magalhães. Pinto.
SEN
40 'Priuilegios dos Cidadãos
SENTENÇA WAVçá NoA CASçA
da Supplicação em fauor dos priuilegios dos
cidadãos da cidade do Porto.
DOM Phelippe por graca de Deos Rey de Portugal, & dos
Algarues, de aquem, & dalem mar em Africa, fenhor
de Guine, & da conquifta nauegacão, comercio de Ethiopia, Ara
bia, Percia, & da lndia, &c. A todos os Corregedores, Ouui-
dores, luizes, & jufticas, officiaes, A peffoas de meus Keynos,
fenhorios, a que efta minha charta teftemunhauel, com o theor
de huma fentenca, for aprefentada, & o conhecimento della cõ
direito pertencer, faude. Facouos íaber, que nefta minha muj -
to nobre, & fempre leal cidade de Lisboa, no juizo da Alfan
dega della, perante mim, & o meu Ouuidor, com alcada no dito
juizo, A por quem efta paffou, pareceo presente Pero Simões de
Moraes, cidadão, & morador que diffe fer da cidade do Porto
& por elle me foi dito, que nefte juizo, em poder do escriuão
que
<T)a Cidade do Torto. 41
que efta fez, estauão huns autos, nos quaes eftaua hum tresla-
do de huma fentenca, que fe deu, & confirmou em minha Rel-
lacão, fobre os cidadãos do Porto hauerem de trafer ceda, que
me pedia lhe mandaffe dar o treslado em charta testemunhauel,
em modo que fifeffe fé, para conferuacão de fua juftiça, por bem
do que à seu requerimento, mandei que fe lhe deffe o treslado
em charta testemunhauel, como pedia, da qual fentenca o tres
lado he o feguinte. f Dom Phelippe por graca de Deos Rey
de Portugal, & dos Algarues, de aquem, & dalem mar em Afri
ca, fenhor de Guine, & da cõquifta nauegacão, comercio de
Ethiopia, Arabia, Percia, & da lndia, Ac. A vos Lecenceadò
Armão da Sylueira, juiz do crime em efta cidade de Lisboa,
que feruis de juiz do crime, A bem afsi à todos os Corregedo
res, Ouuidores, juizes, & jufticas, officiaes, & peffoas de meus
Reynos, & fenhorios, à quem efta minha charta de fentenca for
aprefentada, A o conhecimento della, com direito pertencer,
faude. Faço laber, que dante o Lecenceadò loão Bayão, A
juiz do crime nefta cidade, veyo por appellaccão à efta minha
Corte, e cafa da fupplic/cão, a mim, & aos meus Ouuidores dos
F feitos,
|2 'Priuilegios dos Cidadãos
feitos, e caufas crimes, hum feito crime por apellacão, o qual
hera ordenado entre partes, como author de huma parte, o Mei
rinho Matheus Fernandez de Almeida, contra Francifco de
Figueiroa Reo, A pello dito feito, & auto que le fez de achada
do Reo, fe moftraua que aos noue dias do mez de .Outubro,
de mil, & quinhentos, & oitenta, & oito annos nefta dita cidade,
andando o Meirinho Matheus Fernãdez com feu efcriuão, A
homens correndo a cidade, encontrarão com hum homem, que
diffe hauer nome Francifco de Figueiroa, ao qual achara com
humas mangas de cetim preto, & por o afsi achar, o prendeo,
A prezo o levou perante o Lecenceado loão Bayão cidadão, A
juiz do crime, o qual fendo perante elle, difle como prendeo ao
dito Reo Francifco de Figueiroa, por o achar com humas man
gas de cetim que pedia contra elle a pena, que por tanto pedia
que lha julgaffe, & vifta por vos juiz a aucão do dito Meirinho,
de como pedia a pena, contra elle, lhe fez pregunta, que rezão
tinha para trafer as ditas mangas, A por elle foi dito, que por
fer cidadão da cidade do Porto, pello que mandaftes, que pon
do penhor de feis cruzados, foffe folto, até prouar o que dizia,
A
<T>a Cidade do "Porto. 4?
A que fe fizeffe auto, & logo o*dito Reo depofitou oito centos,
A vinte reis, etn dinheiro, & hum anel de ouro efmaltado, com
huma pedra branca, os quaes dous cruzados depofitou em po
der de lacome Rodriguez morador nefta cidade, junto do dito
Meirinho, o qual lacome Rodriguez os rejcebeo, A fe houue por
entregue de todo, para o dar, A entregar cada vez, que pella
juftica lhe for mandado, & fendo depofitado, o dito Meirinho
pedio a pena contra o Reo, que tinha, por trafer a dita ceda
conteuda no auto, A lhe mandaftes affentar o protefto, A man
daftes foltar ao dito Reo, & fendo folto o dito Reo pareceo
em audiencia, perante vos juiz, e fez no cafo feu procurador,
que pareceo perante vos juiz, A por elle foi dito, que o dito Reo
Francifco de Figueiroa cidadão da cidade do Porto, tinha em
bargos a lhe fer coutada a ceda, & pagar della a pena, que por
tanto vos pedia, lhe mandaffeis dar a vifta, para vir com elles,
para o que lha mandaftes dar, A veyo com elles, dizendo que
entendia prouar, que elle Reo era cidadão da dita cidade do
Porto, A afsi o forão feus auôs, A feu pay Gafpar Luiz de Fi
gueiroa, A os cidadãos da dita cidade gofão de muytos priuile-
F 2 gios,
44 Triuilegios dos Cidadãos
gios, entre os quaes he hum, que elles pofsão trafer toda a
ceda, de qualquer qualidade cõ fua guarnicão, A que elle em-
bargante fomente foi achado com humas mangas de cetim pre
to, & chans, & com hum paflamane, e com huns calções de gor-
gorão pella coftura, o que todo, & mais pode trafer, por refpei-
to dos ditos priuilegios, pollo que fe lhe deuião tornar feus pe
nhores, A fer abfolto da pena da dita ceda, A fendo pello con
trario, protefta pollos encoutos, & penas de fe quebrarem os di
tos priuilegios, pello que elle embargante deuia de fer abfoluto
da pena da ceda, & lhe sejão tornados feus penhores, & pro
tefta pellos encoutos, do que he publica voz, & fama ; fegundo
que í e nos ditos embargos do Reo embargante cõtinha, os quaes
í
fendouos aprefentados, mandaftes delles dar a vifta as partes,
& o dito Alcayde fez feu procurador, que houue a vifta, A afsi
o dito Reo, & como que apontarão, mandaftes que o dito feito
vos foffe conclufo, A vifto por vos, per voffo defpacho pronun-
ciaftes, que recebíeis os embargos do embargante, vifta fua ma
teria, haja vifta para cõtrariar, A fendo publicado o dito def
pacho, o procurador do Alcayde pedio a vifta, A fendo-lhe da-
da,
<Da Cidade do Torto. 45
da, veyo dizendo, que aprefentaffe a charta de cidadão da ci
dade do Porto, que o he, & o priuilegio que tem, & fendolhe
dado, o dito Reo aprefentou os ditos papeis, & com elles jun
tos vos tornou o feito conclufo, e por voffo defpacho pronun-
ciaftes, que defle proua à feus embargos em termo de dez dias,
per bem do qual o dito Reo deu fua prova por papeis, <t por
inquiricão de teftemunhas, que por parte do Reo forão tiradas,
acabadas, abertas, & publicadas, <£ foi junta ao feito, da qual o
dito Reo, & Alcayde houuerao a vifta, A com o que allegarão
mandaftes, que o dito feito vos fofle leuado cõclufo, A vifto por
vos juiz, por voffa fentenca mandaftes, que vifto o dito auto,
A como por elle confia prender o Author ao Reo por lhe achar
numas mangas de cetim, & como o Reo veyo com embargos,
& pella proua que deu confta fer filho de Gafpar Luiz de Fi-
gueiroa, cidadão da cidade do Porto, & Almotace, que ordina
riamente fão eleitos per pillouros, na forma da Ordenacão, A
como os taes cidadãos da cidade do Porto gofão dos priuilegios
de lnfancões, que fão netos de Reys & por taes eftão julgados,
& pellas fentencas, que neftes autos andão, os quaes lnfancões
verifica
46 Triuilegios dos Cidadãos
verificadamente podem trafer o que quiferem, por gofarem tam-
bcm da fuperioridade de feus pays, & auôs que he ferem def-
obrigados das leis que elles fazem, & pello confeguinte poderem
trafer os veftidos que quiferem, o que todo vifto abfolueftes ao
Reo da pena pedida pello Meirinho Aulhor, A que feu dinhei
ro, A penhor lhe feja tornado, e feja fem cuftas ex caufa, A ap-
pellaftes, & fendo a dita lentenca publicada, atempaftes a ap-
pellacão ao dito Reo, & lhe alsignaftes termo, à que perante
mim, à efta Corte, & cafa da fupplicacão a vieffe feguir, onde o
dlto feito me foi traiido, e perante mim, & os ditos meus Ouuido-
res, aprefentado, & pareceo o Reo, & por dizer que não queria
rezoar õ lancei das rezões, e mandei apregoar ao dito Meiri
nho Matheus Fernãdez, o qual fora apregoado por Duarte Ef-
teuez porteiro, & por não parecer à fua reuelia lhe aflignei ter
mo até a primeira audiencia, A fendolhe afsignado o dito ter
mo, A fendo paffado, fora outra vez o dito Meirinho apregoado,
& por não parecer : à fua reuelia, o lancei das rezões, & man
dei que o dito feito me foffe leuado, finalmente conclufo, A visto
por mim em Rellacão com os do meu defembargo. 11 Acor
dei,
Cidade do Torto. 47
dei, Ac. He bem julgado por vos juiz em abfoluerdes ao Reo
Francifco de Figueiroa da culpa, de trafer ceda defeza pella
lei, perque he accufado ; confirmo voffa fentenca, por voffos
fundamentos, com o mais dos autos, & fe va em paz, & feja
fem cuftas, à dez de Dezembro, de oitenta, & oito. E por tan
to vos mando que afsi o cumpraes, & guardeis, & facais muyto
inteiramente cõprir, & guardar efta fentenca, como aqui por mim
he julgado, acordado, confirmado, determinado, & mandado, &
tanto que vos for aprefentada, fendo primeiro paffada pella mi
nha chancellaria, a fareis em todo comprir, & guardar, & cfar à
deuida execucão, fazendo logo tornar ao dito Reo o penhor, A
dinheiro, que tem depofitado para fe liurar folto da dita ceda,
o que afsi huns, ar outros compri, & al não facaes fem duuida,
nem embargo, que a ello feja pofto. Dada em efta minha
muy nobre, & fempre leal cidade de Lisboa, aos dez dias do
mez de Dezembro. El Rey nofib fenhor o mandou pello Do-
c~tor Diogo Mendez da Cofta, do feu defembargo, & Ouuidor
dos feitos, & caufas crimes com alcada, em a sua Corte, & cafa
da fupplicacão. Francifco de Azeuedo efcriuão na dita Corte
a fez,
48 Triuilegios dos Cidadãos
a fez, anno do nafcimento de noffo fenhor lesu Chrifto, de mil,
& quinhentos, & oitenta, & oito annos. Pagou de feitio defta
fentenca ducentos, & cincoenta reis, & de afsignatura cem reis,
A dos termos do feito fetenta, & quatro reis. Diogo Mendez
da Cofta. Marcos Francifco de Torneo. Pagou corenta
reis. Luiz Caruallo. Cumpraffe. Sylueira. Segundo
que todo efto hera conteudo, e declarado na dita fentenca, que
eftà junta aos autos, & por me íer pedida a prefente charta tes-
temunhauel, com o treslado della, a mandei paffar dos ditos
autos, pella qual mando à todas as juftiças, a que for apresen
tada, em todo a cumprão, & guardem aífi, & da maneira, que
que fe nella contem, & lhe fareis dar tanta, A tam inteira fee, &
credito, afsi em juízo, como fora delle, quanto cõ direito fe
requere, que fe lhe dee, & fe lhe deue dar, & fe daria aos pro
prios, fe aprefentados fofTem, o que huns ; & outros afsi cum
prireis, & al não facaes. Dada nefta cidade de Lifboa aos
dezoito dias do mez de iMarco. El Rey noffo fenhor, o mã-
dou pello Dodor Frãcifco Nogueira do feu defembargo, defem-
bargador em fua Corte, & cafa da fupplicacão, A feu Ouuidor
com
<Da Cidade do Torto. 49
com alçada no juizo da Alfandega defta cidade de Lisboa.
Francifco de Gouuea a fez no officio de Antonio Pereira, que
hora ferue no dito juizo, anno do nafcimento de noflb fenhor
lefu Chrifto, de mil, & quinhentos, & oitenta, & noue annos.
Pagou vinte reis. Francifco Nogueira. Foi concertado
efte treslado com a propria a que me reporto, & vai concertado
por mim, & com o efcriuao a baixo afsignado.
Francifco de Gouuea. Antonio da Sylua. Soares. Pa
gou quorenta reis. Pero Martinz. Fiz tresladar efta fen-
tenca de huma charta teftemunhauel em que eftà o theor della
incorporado na dita charta, que eftà no chartorio da Camera,
& a concertei com Baptifta da Cofta de Saa ^Procurador da
cidade, & com o efcriuao afsignado aqui, a vinte, & tres dias de
Abril, de mil, & feis centos, & onze.
Francifco ^ayão de Magalhães.
'Baptijta da Cojia de Saa.
Concertado comigo. Francifco de Magalhães. Pinto.
G CHAR
5o 'Priuilegios dos Cidadãos
C H vi R T zA <DE S Voa SM aí G ES Tc4 <Z> E
das liberdades dos cidadãos da cidade
do Torto.
DOM Phelippe por graca de Deos Rey de Portugal, & dos
Algarues, de aquem, & dalem mar em África, fenhor
de Guine, & da conquifta nauegação, comercio de Ethiopia,
Arabia, Percia, & da lndia, Ac. A quantos efta minha charta
de confirmação virem. Faco faber, que por parte dos juizes,
Vereadores, & Procurador da cidade do Porto, e procurador
dos Mefteres della, me foi aprefentada huma charta del Rey dom
loão o fegundo, que fancta gloria haja, por elle afsignada, &
paffada por fua chancellaria, de que o treslado he o feguinte.
1Í Dõ loão por graca de Deos Rey de Portugal, & dos
Algarues, de aquem, & dalem, mar em Africa, fenhor de Gui
ne. A todos os Corregedores, Ouuidores, luizes, jufticas, &
outros quaefquer officiaes, A peffoas de noffos Reynos, à que o
conhe
<Da Cidade do Torto. 5 r
conhecimento defto por qualquer guiza que feja, pertencer, A
efta noflà charta, ou o treslado della em publica forma, per
authoridade de juftiça for moftrada, íaude, íabede, que efguar-
dandonos aos muytos, A eftremados feruiços, que fempre os
Reys paffados receberão, & nos recebidos temos, da noffa muy
nobre, & leal cidade do Porto, e cidadãos della, com muyta
lealdade, & fieldade, & conhecendo delles o amor com que nos
defejão feruir, & efperamos que fempre firulo, A não menos do
que fempre fizerão, A por ello, A por o que a nos conuem fa
zermos aos taes vaffallos, & porennobrecimento da dita cidade
A querendolhes fazer graça, A merce, temos por bem, A priui-
legiamos todos os cidadãos, que hora fâo em a dita cidade, A
ao diante forem, A queremos, A nos praz, que daqui em diante,
para fempre fejão priuilegiados, A que elles não fejão metidos
a tormentos por nenhuns malefícios, que ttnhão feitos, com-
mettidos, A commetterem, A fizerem daqui por diante, faluo
nos feitos, A daquellas qualidades, A nos modos em que o de-
uem fer, A fão os fidalgos de noffos Reynos, A fenhorios : A iflb
mefmo não pofsão ler prezos por nenhuns crimes, fomente fo-
G 2 bre
5.2 'Priuilegios dos Cidadãos
bre fuas homenagens, A afsi como o fão, A deuem fer os lbbre-
ditos fidalgos. Outrofi queremos, & nos praz, que pofsão tra-
fer, & tragão por todos noffos Reynos, & fenhorios, quaes, A
quãtas armas lhes prouuer de noite, A de dia afsi offenfiuas,
como defenfiuas, pofto que em algumas cidades, e villas, fpe-
cialmente tenhamos defezo, ou defendamos, que as não tragão.
Outrofi queremos, A nos praz, que hajão, e gofem de todas as
gracas, liberdades, pri uilegios, que fam, & temos dado à noffa
cldade de Lisboa ; referuando que não poffão andar em beftas
muares, porque nam hauemos por noffo feruiço, nem bem do
Reyno, andarem nellas ; Outrofi queremos que todos os feus
cafeiros, amos, mordomos, lauradores encabecados, que efti-
uerem, & laurarem fuas proprias herdades, A cafaes encabe
çados, e todos os outros, que com elles continuadamente viue-
rem, nam fejam conftrangidos para hauerem de feruir em guer
ras, nem outras idas por mar, nem por terra, onde gente man
demos, fomente cõ elles ditos cidadãos, quando fuas peffoas
nos forem fervir. Outrofi queremos que não poufem cõ
elles, nem lhes tomem fuas cafas de moradas, adegas, nem ca-
uallericas,
<Da Cidade do Torto. 53
ualleriças, nem fuas beftas de cella, nem de albarda, nem outra
nenhuma coufa do feu cõtra fuas vontades, e lhes catem, &
guardem muito inteiramente fuas cafas, & hajão em ellas, e fora
dellas todas as liberdades, que antiguamente hauião os lnfan-
«
coes, & ricos homens. E porem mandamos à todos os Corre
gedores, Ouuidores, juizes, & jufticas, Alcaydes, & Meirinhos,
A a quaefquer outros noflbs officiaes, & peflbas, a que efta
nofia charta for moftrada, & o conhecimento pertencer; que
lhes cumprão, & guardem, & facão muy inteiramente cumprir,
A guardar, afsi, A tam cumpridamente como em ella he con
teudo, porque nofla merce he, que lhes feja guardada, fob pena
de feis mil foldos para nos, qualquer que lhes cõtra ella for em
parte, ou em todo, os pagar, os quaes mandamos ao noflb Al
moxarife, ou recebedor de cada hum lugar deffa correicão que
os arrecade, e receba para nos, de qualquer peffoa, ou peffoas,
que lhes cõtra efta noffa charta forem, & mandamos ao efcri-
uao do Almoxarife, que os ponha fobre elle em receita, para
nos hauermos delles boa arrecadacão, fob pena de os pagarem
ambos em dobro de fuas cafas. Dada em a nofla cidade de
Euora
54 'Priuilegios dos Cidadãos
Euora ao primeiro dia do mez de lunho. Gil Fernandez a
fez, anno do nafcimento de noffo fenhor lefu Chrifto, de mil,
A quatrocentos, e nouenta annos. Pedindome os juizes Ve
readores, & Procurador da dita cidade do Porto, & procura
dor dos mefteres della, que lhes cõfirmaffe efta charta, (i vifto
feu requerimento, querendolhes fazer graça, & merce, tenho
por bem, A lha confirmo, & hei por confirmada, & mando, que
fe cumpra, & guarde inteiramente, aísi, & da maneira que fe nella
contem, A por firmeza de todo, lhes mãdei dar efta minha
charta por mim afsignada, A fellada do meu fello de chumbo
pendente. Dada na cidade de Lisboa, aos quatro dias do
mez de Nouembro. Duarte Caldeira a fez, anno do nafci
mento de noffo fenhor lefu Chrifto de mil, & quinhentos, A
nouenta, A feis annos, A eu Ruy Dias Mendez a íiz escreuer.
El Rey. O bifpo del. P.
Confirmacão da charta nefta tresladada à cidade do Porto,
para que os cidadãos della, não fejão mettidos a tormentos por
nenhuns crimes, faluo naquellas qualidades, e no modo que o
fáo os fidalgos, nem fejão prezos, fc não fobre fuas omenagens
nas
Cidade do Torto. 55
nas mefmas qualidades, A que poflao trafer armas por todos os
Reynos em cafo, que em algumas cidades, & villas, fpecialmente
íejão defefas, A hajão, e gozão de todos os priuilegios, A gra
ças que fão dadas a efta cidade de Lisboa, & que os feus amos,
criados, A cafeiros não firuão em guerra, nem outras ídas por
mar, nem por terra, fomente com os ditos cidadãos, quando
fuas peffoas forem feruir à voffa Magestade. Simão Gõcaluez
Preto. Pagou quorenta reis, em Lilboa a dezafeis de Agofto,
de mil, A quinhentos, & nouenta, A fete annos, & aos officiaes
cõ o cordão, feis centos reis, A ao efcriuão das confirmacões
por fua prouizão, quinhentos reis. Gafpar Maldonado.
Regiftada na chancellaria à folhas duzentas, & cincocnta, & fete.
Francifco Cardofo. Fiz tresladar efta charta de fua Magef-
tade, da propria, que eftà no chartorio da Camera, A a con
certei com Baptifta da Qofta.de Saa, procurador da cidade, A
com o efcriuão afsignado aqui, à vinte, A tres de Abril, de mil, A
feis centos, A onfe.
Francifco Tíayáo de ^Magalhães.
'Baplijla da Cojta de Saa.
Concertado comigo. Francifco de ^Magalhães. Pinto.
Aluará
56 'Priuilegios dos Cidadãos
oáluarà de fuá SMageJtade.
^V el Rey faco faber aos que efte Aluarà virem, que os
juiz, Vereadores, procurador A mais officiaes da Came-
ra, A os cidadãos, A moradores da cidade do Porto me inuia-
rão dizer, que por quanto a pragmatica que em Euora fizera
fobre os trajos encontraua em algumas coufas os priuilegios de
lnfancões, de que elles vfauão, A que lhes forão concedidos
pellos Reys paffados deftes Reynos, por refpeito de ferem ci
dadãos moradores da dita cidade, A terem hauidas fentencas
para lhe ferem guardados, me pediao lhos mandaffe inteiramente
cumprir, fem embargo da pragmatica defender alguma coufa
das que por elles podem vfar, A vifto feu requerimento, A as
informacões que mandei tomar, & os papeis, A fentencas, que
forão viftos na meza do defpacho dos meus Defembargadores
do Paço. Hei por bem, A me praz, que fem embargo de pella
dita pragmatica fe defenderem algumas coufas cõtra os priuile
gios de lnfancões, que os moradores, A cidadãos da dita cidade
do
1)a Cidade do Torto. 5y
do Porto tem, para poderem vlar dellas, fe cumpra inteiramente
o que pellos ditos priuilegios he ordenado, & mandado, A con
forme a elles pofsão vfar de ditas coufas, fem lhes niffo fer pofta
duuida, nem embargo algum, porque afsi he minha merce, A
mando a todos os Defembargadores, Corregedores, Ouuidores,
juizes, jufticas, officiaes, & peflbas, a que efte Aluarà, ou tres-
lado delle em publica forma for moftrado, que o cumprão, guar-
t§
dem, facão inteiramente cumprir, A guardar, como fe nelle con
tem, o qual íe regiftarà no liuro da Camera da dita cidade, A
o proprio fe terà no chartorio della em boa guarda, & efte me
praz que valha, e tenha forca, & rigor, como fe fofie charta feita
em meu nome, por mim afsignada, A paffada pella chãcellaria
fem embargo da Ordenação em contrario. Sebaftião Pereira
o fez, em Lisboa, à vinte, A oito de laneiro, de mil, A feis cen
tos, A onfe. loao da Cofta a fez efcreuer. Rey. Dom Gi-
leannes. Aluarà para os moradores, A cidadãos da cidade do
Porto, poderem vfar dos priuilegios de lnfanções que tem, A
lhes forão concedidos pellos Reys deftes Re} nos, A que fem em
bargo da pragmatica dos trajos, fe lhes cumprão, e que valha
H como
58 Triuilegios dos Cidadãos
como charta. Damião de Aguiar. Por charla de fuá Ma-
geftade de trinta de Dezembro, de mil, A feis centos, A dez.
Pagou quinhentos, & quorenta reis, em Lifboa à tres de
Marco de feis centos, & onfe, & aos officiaes quatrocentos, &
quatorze reis. Miguel Maldonado. Fica regiftado no liuro
terceiro da Sphera, folhas quatrocentas, A dez, defta Corte, Rel-
lacão, A cafa do Porto, por mim Miguel Chamorro. Regif-
tada na Chancellaria à folhas cento, A fefenta, A huma. An
tonio Pereira Pacheco. Fiz tresfladar efte Aluarà de fua Ma-
geftade do proprio que eftà no chartorio da Camera & o cõcer-
tei com o escriuão afsignado, & cõ Baptifta da Cofta de Saa
Procurador da cidade, a vinte, & tres de Abril, de mil, & feis
centos, & onfe annos. Francifco Bayão de Magalhães.
Baptifta da Cofta de Saa. Concertado cõmigo. Francifco
de Magalhães. Pinto. 1T Certifico eu loão de Azeuedo ta-
bellião publico de notas por el Rey noffo fenhor nefta cidade
do Porlo, & feus termos, que a letra da fobfcripcão, & fignal
acima he de Francifco Bayão de Magalhães escriuão da Ca
mera defta cidade, A a letra, A fignal do concerto, he de Fran
cifco
<T)a Cidade do Torto. 5g
cifco de Magalhães Pinto efcriuão dos orfãos delta cidade, d o
outro iignal he de Baptilta da Cofta de Saa procurador da ci
dade, em fee do qual efto efcreui, d afsignei em publico, no Porto
à noue de lulho, de feis centos, d onfe annos.
LAVS DEO.
N O P O /? T O. Em cafa de Fniduofo Lon-
renço de 'Bafto. ÕAnno de 1611.
Cidade do fPorto. 6i
MANUSCRIPTO,
ALUARÁ
ANOEL de Caluos Pinto cidadão defta cidade do Porto,
Me nella elcriuão da Camera por fua Altezà que Deos guar
de; Certifique e faco feé que Domingos Diaz de Sequeira
morador nefta cidade, feruio nella de Almotacè, os mezes de
Mayo e Junho, defte prezente anno de mil e feis fentos e feten-
ta e dous, por elleição de pauta e pelouro, que nelle fizerao
os Vereadores; e por me fer por o dito Domingos Diaz de Se
queira pedida a dita certidão lha paffei na verdade no Porto à
dez de Julho de feis fentos e fetenta e dous.