Problema Linguagem Religiosa Parte1 Banhsen

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Apologética, Greg Bahnsen, Linguagem Religiosa, Filosofia

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    O Problema da Linguagem Religiosa (1)

    Dr. Greg L. Bahnsen

    Traduo: Felipe Sabino de Arajo Neto1

    Tem sequer sentido falar sobre Deus? Nos crculos filosficos, durante grande parte do sculo vinte, dois

    assuntos que tm dominado as discusses em filosofia da religio e assim, duas das polmicas mais populares contra a credibilidade intelectual do comprometimento cristo tm se concentrado sobre a significabilidade do discurso religioso.

    O discurso religioso envolve falar sobre Deus, imortalidade, milagres, salvao, orao, valores, tica, etc. Falar da existncia ou atributos de Deus, por exemplo, fazer declaraes religiosas. Todas as religies que so promulgadas publicamente devem em alguma medida usar discurso religioso. E os cristos em particular se engajam extensivamente em declaraes com respeito a Deus e sua f; afinal, o Cristianismo preeminentemente uma religio de revelao verbal da parte de Deus e de profisso pessoal de f. Assim, os cristos esto sempre falando religiosamente em sermes, oraes, confisses, lies didticas, catecismos, testemunhos pessoais, cnticos, exclamaes, aconselhamento e encorajamento, etc.

    O desafio feito por muitos filsofos modernos tem sido que discurso desse tipo no significativo na verdade (em nenhum sentido cognitivo), mesmo que tenha a aparncia enganosa de s-lo. Por anos, anos e anos pode ter parecido que quando os cristos usaram linguagem sobre Deus e salvao, era possvel tirar muito bom senso do que estavam dizendo. Nem todo o mundo cria que o que os cristos diziam era verdadeiro, sem dvida, mas ao menos se pensava que o discurso sobre Deus dos crentes fazia (ou envolvia) afirmaes que carregavam significado racionalmente inteligvel, ou at mesmo espiritualmente excitante. Mas no mais, de acordo com muitos filsofos recentes.

    Pior do que Falso A magnitude da acusao que tem sido feita contra a inteligibilidade do

    Cristianismo deve ser apreciada pelos crentes. Quando filsofos alegam que o discurso sobre Deus no tem significado, eles esto dizendo algo bem mais forte

    1 E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em fevereiro/2008.

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    e devastador do que afirmar que falar sobre Deus falso. A crtica deles que expresses religiosas no podem nem mesmo ser qualificadas como sendo falsas (ou verdadeiras), pois no equivalem a um discurso que tenha sentido cognitivo que objetive transmitir informao em primeiro lugar. (Pense sobre isso dessa forma: uma coisa criticar o Chicago Cubs por no ganhar o campeonato de 1991, e outra totalmente diferente declarar que o Cubs nem mesmo um time de baseball para comeo de conversa.)

    Assim, a linguagem religiosa, muitos acusariam, simplesmente sem sentido. Nevou em Cuiab no ltimo vero2 uma sentena que tem significado, mas falsa. Ela faz uma afirmao cognitivamente significativa que est errada. Contudo, Sol ltimo cuiabano nevar no faz nenhuma alegao inteligvel, de forma alguma, mas simplesmente sem sentido (em qualquer leitura ordinria), no transmitindo nada que possa ser verdadeiro ou falso.

    Muitos crticos do Cristianismo alegam que suas declaraes, similarmente, no esto sujeitas a ser verdadeiras ou falsas. Elas no fazem nenhuma alegao significativa sobre o mundo (ou sobre o mundo da experincia humana tambm). Assim, so cognitivamente sem sentido, numa das formas que segue.

    A expresso de uma exclamao como Ai! no verdadeira nem falsa (ela no alega que algo o caso), mas meramente expressiva na funo lingstica. Muitos tm mantido que a linguagem religiosa deveria ser interpretada da mesma forma, como discurso emotivo, e no informativo.

    Outros vo adiante. Para eles, o discurso sobre Deus no faz absolutamente nenhuma diferena prtica s observaes que uma pessoa faz do mundo fsico, ou como ela age no mesmo. Isto , as alegaes feitas pelos crentes religiosos e os contra-argumentos feitos por seus oponentes no tm nenhum valor distinto, conflitante no domnio pblico. Crentes e incrdulos percebem e fazem as mesmas coisas. Conseqentemente, as respectivas interpretaes ou explicaes do que eles percebem e fazem so tomadas como totalmente sem sentido uma diferena que no faz diferena. Palavras vazias.

    Outros tm indo ainda mais longe. O discurso religioso para eles simplesmente ininteligvel, como balbuciao supersticiosa que no pode ser traduzida racionalmente. Quando as pessoas falam sobre Deus, a vida futura, milagres ou salvao, elas esto se engajando num tipo de ritual lingstico que aprendido por imitao e passado adiante sem entendimento cognitivo. Isso explica o porqu os incrdulos inexperientes no podem ter expresses religiosas colocadas em sua prpria linguagem, no captam as coisas, no

    2 It snowed in Dallas last summer, no original. (N. do T.)

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    se sentem intelectualmente compelidos a afirmar o que os crentes dizem, e de fato se importam muito pouco com isso. apenas tagarelice sem sentido.

    (1) Verificacionismo Como indicado acima, a significabilidade da linguagem religiosa tem

    estado sob ataque nos crculos religiosos de duas formas durante este sculo. Precisamos olhar para cada uma delas. O primeiro pode ser designado o desafio verificacionista ao discurso religioso, e o segundo designado o desafio falsificacionista. Nenhum se provou bem sucedido.

    No comeo deste sculo uma escola de pensamento conhecida como positivismo lgico promoveu zelosamente a cincia emprica, e menosprezou qualquer tipo de metafsica. De acordo com os positivistas, qualquer proposio pode ser testada na sua significabilidade aplicando a ela o princpio de verificao.

    O positivismo lgico reconheceu dois tipos diferentes de sentenas significativas. Certas sentenas numa linguagem sero conhecidas como sendo verdadeiras simplesmente analisando-as lgica e linguisticamente (por exemplo: todos os solteiros no so casados pode ser verificado consultando-se as leis da lgica e as definies semnticas). Contudo, tais verdades (chamadas analticas) so destitudas de informao significativa sobre o mundo da experincia ou observao, e assim, so triviais. Para que uma sentena nos diga algo interessante ou tenha um componente factual nela, sua verdade deve ser verificvel olhando-se alm da lgica e significado, para as observaes ou experincias da pessoa no mundo. Assim, uma sentena significante (no-trivial) tem sentido, de acordo com o verificacionista, somente se puder ser empiricamente confirmada; sua verdade ou falsidade faria uma diferena em nossa experincia do mundo. Sentenas com sentido deveriam ser traduzveis em termos de observao somente (descries de experincia imediata), ou num procedimento usado para confirmar a sentena empiricamente.

    O efeito de aplicar o princpio de verificao, os positivistas concluem, seria a rejeio de todas as alegaes metafsicas (incluindo teologia) e ticas como sem sentido de um ponto de vista cientfico. Visto que a linguagem religiosa dos cristos est cheia de termos que no so tomados da observao (e.g., Deus, onipotncia, pecado, expiao) e alegaes para as quais no existe nenhum meio emprico de confirmao (e.g., Deus trino, Jesus intercede pelos santos), o princpio de verificao do positivismo lgico parece excluir o significado do que os cristos dizem.

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    Tiro pela Culatra Todavia, o efeito de se aplicar o princpio verificador de

    significabilidade foi muito diferente daquele que os positivistas lgicos visionavam e desejavam. O resultado de se aplicar o critrio de verificao em geral foi, de fato, mais do que embaraoso para os crticos da linguagem religiosa.

    Veja, o positivista lgico assim como o cristo sustenta uma viso particular do mundo, do homem e da realidade como um todo. E essa perspectiva leva o positivista lgico assim como o cristo a endossar e seguir certos padres ou regras para o comportamento e raciocnio humano. Para o positivista lgico, no existe nenhuma realidade sobrenatural, e o homem simplesmente mais um componente aleatrio do mundo fsico (embora maravilhosamente quase miraculosamente! complexo). Dada essa perspectiva, os homens so obrigados a viver e falar de certa forma. Falar sobre pessoas, coisas ou eventos que transcendem o mundo fsico deve ser proibido; tal discurso no deve nem mesmo ser tolerado como significativo.

    Por outro lado, o cristo como j indicamos tambm tem convices sobre a natureza da realidade (e.g., Deus um esprito que criou o mundo) em termos dos quais os homens so obrigados a viver e falar de certa forma (e.g., oferecer louvor ao seu Criador por todas as coisas, no falar como se houvesse algo mais certo ou autoritativo do que Ele, etc.).

    Tanto o positivista lgico quanto o cristo tm cosmovises, para resumir. Ora, possvel que o princpio de verificao desqualifique a significncia da cosmoviso do cristo como uma cosmoviso, e no faa igual prejuzo cosmoviso do positivista como uma cosmoviso tambm? De modo algum! To estritamente emprico como o positivista lgico possa desejar ser (aderindo firmemente a particulares observacionais), mesmo ele no pode escapar usando noes filosficas ou princpios abstratos em seu raciocnio e teorizao.

    O componente-chave no desafio verificacionista linguagem religiosa era naturalmente o prprio princpio de verificao. Esse padro ou regra era crucial cosmoviso do positivista lgico. Conseqentemente, o apologista cristo deve perguntar se o prprio princpio de verificao (1) uma verdade trivial de lgica e semntica, ou (2) uma sentena que pode ser empiricamente confirmada. Claramente, a resposta no para as duas perguntas em cujo caso, o desafio verificacionista ao Cristianismo refuta a si mesmo (se que refuta algo).

    Essa rplica ao princpio de verificao, usado como uma arma contra a linguagem religiosa e a inteligibilidade do Cristianismo em particular, revela que o verificacionismo era nada seno uma racionalizao de preconceito religioso. E esse preconceito contra o discurso sobre Deus era to

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    abertamente tolo que era auto-destrutvel; exclua sua prpria significabilidade no caminho.

    A F Dedicada do Positivista Por toda sua hostilidade intelectual religio e ao Cristianismo, o

    verificacionismo era claramente to religioso em sua devoo s suas pressuposies veladas como qualquer devoto do Cristianismo.

    Para o positivismo lgico, a prtica da cincia natural, com seus resultados impressionantes, era perfeitamente aceitvel da forma como era; sua autoridade e supremacia eram assumidas desde o princpio da mesma forma que o cristo assume a autoridade ltima da Bblia. A cincia natural no requer avaliao crtica e possvel correo ou reforma, assim como o cristo no pensa que a Bblia tenha erros a serem retificados. Pelo contrrio, de acordo com o positivismo lgico, a nica coisa que a cincia natural requeria era ter sua base emprica elucidada o que o princpio de verificao tentava fazer. Da mesma forma, o cristo simplesmente sente que a Bblia precisa ser elucidada e explicada, pois seu valor e verdade deveriam ser bvios a qualquer ouvinte honesto.

    O positivismo lgico era, ironicamente, muitssimo parecido com uma f religiosa uma f na cincia natural (que poderia ser chamado cienticismo). Isso se torna muito aparente quando a tentativa do positivista de elucidar o fundamento estritamente emprico da cincia natural chega ao triste carter auto-refutador do princpio de verificao. Quando a elucidao falha, o positivista lgico no abandona sua f original na cincia natural de forma alguma. Ele age como um verdadeiro crente. Ele mantm aquele comprometimento cincia, a despeito de seus problemas filosficos.

    Sem dvida, essa f dedicada do positivista lgico na cincia natural no foi adquirida mediante a aplicao rigorosa de algo como o mtodo cientfico. O comprometimento autoridade suprema na cincia natural no era cientificamente fundamentado. Era um salto de f pessoal.

    Fonte: http://www.cmfnow.com/3

    3 Originalmente publicado na The Biblical Worldview (Part I-Vol. VIII:9; Sept., 1992). Disponvel no livro Always Ready, de Greg Bahnsen. (N. do T.)