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Problemas emocionais e comportamentais associados ao baixo rendimento acadêmico Patricia Leila dos Santos Sônia Santa Vitaliano Graminha Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto Resumo Com o objetivo de identificar a incidência de problemas emocionais e comportamentais e os tipos de proble- mas de comportamento que aparecem associados ao desempenho escolar, aplicou-se a Escala Comportamental Infantil A2 e a Escala B de Rutter a dois grupos de crianças, um com baixo rendimento acadêmico (BRA) e outro com alto rendimento (ARA), cada grupo com 20 crianças, alunos de primeira e segundas séries, com idades que variaram entre 6 e 10 anos. Os resultados mostram que a maioria das crianças do grupo BRA obteve escores indicativos da presença de problemas emocionais/comportamentais, diferente do grupo ARA, e a incidência da maioria dos problemas específicos de comportamento foi sempre maior para o grupo BRA. Destaca-se que problemas de comportamento representam uma forte condição de risco para problemas de aprendizagem e que o trabalho com crianças com dificuldades de aprendizagem deve considerar aspectos ligados também ao comportamento. Palavras-chave: problemas de aprendizagem; problemas de comportamento; fatores de risco; baixo rendimento acadêmico Abstract Emotional and behavioral problems associated to low academic performance. This study aimed to identify the incidence of emotional and behavioral problems, as well as the types of behavior problems associated to academic performance. For such purpose, Rutter’s Child Behavior Scale-A2 and Rutter’s B Scale were applied to students of first and second years of elementary school, aged 6 to 10 years and divided into two groups of 20 children each: a Low Academic Performance group (LAP) and a High Academic Performance group (HAP). The results evidenced that most of children in LAP group, unlike those in HAP group, reached scores indicative of the existence of emotional/behavioral problems, and that the incidence of the majority of the behavior-specific problems was always higher in LAP group. These findings highlight that behavioral problems represent a strong risk condition for learning problems and that working with children with learning disabilities should also take into account features related to behavior. Keywords: learning disabilities; behavior problems; risk factors; low academic performance Estudos de Psicologia 2006, 11(1), 101-109 A s associações entre distúrbios de comportamento e problemas de aprendizagem têm sido encontradas em vários estudos, sendo que alguns autores apon- tam as dificuldades de comportamento como sendo um fa- tor de risco para o baixo desempenho acadêmico (Marturano, Linhares, & Parreira, 1993; Speakman, Herman, & Vogel, 1993; Thompson, Lampron, Johanson, & Eckstein, 1990), enquanto outros indicam que problemas na apren- dizagem escolar podem facilitar o desenvolvimento de dis- túrbios de comportamento graves (Gordon, 1993; Kolvin, Miller, Fleeting, & Kolvin, 1988). Roeser e Eccles (2000) propõem que as dificuldades comportamentais e emocionais influenciam problemas aca- dêmicos e estes afetam os sentimentos e os comportamentos da criança, sendo que estas dificuldades podem se expressar tanto de forma internalizada, por meio de ansiedade, depres- são, retraimento e sentimentos de inferioridade, quanto externalizada, por meio de comportamentos e atitudes que geram conflitos com o ambiente e, geralmente, são marcados por características de desafio, impulsividade, agressão, hiperatividade e ajustamento social pobre. A literatura aponta que as dificuldades de aprendizagem em si são uma condição de risco psicossocial, colocando o indivíduo em situação de desvantagem educacional e social. Pessoas que fracassam ou aquelas que abandonam a escola perdem oportunidades que poderiam representar experiênci- as favorecedoras ao seu desenvolvimento. Assim, experiên- cias escolares positivas e estimuladoras podem apresentar-

Problemas Emocionales y Comportamiento Asociado Al Bajo Rendimiento Academico - Br

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problemas de aprendizaje - bajo rendimientorelacion con aspectos psicologicos

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  • Problemas emocionais e comportamentais associados ao baixorendimento acadmico

    Patricia Leila dos SantosSnia Santa Vitaliano Graminha

    Universidade de So Paulo Ribeiro Preto

    ResumoCom o objetivo de identificar a incidncia de problemas emocionais e comportamentais e os tipos de proble-mas de comportamento que aparecem associados ao desempenho escolar, aplicou-se a Escala ComportamentalInfantil A2 e a Escala B de Rutter a dois grupos de crianas, um com baixo rendimento acadmico (BRA) eoutro com alto rendimento (ARA), cada grupo com 20 crianas, alunos de primeira e segundas sries, comidades que variaram entre 6 e 10 anos. Os resultados mostram que a maioria das crianas do grupo BRA obteveescores indicativos da presena de problemas emocionais/comportamentais, diferente do grupo ARA, e aincidncia da maioria dos problemas especficos de comportamento foi sempre maior para o grupo BRA.Destaca-se que problemas de comportamento representam uma forte condio de risco para problemas deaprendizagem e que o trabalho com crianas com dificuldades de aprendizagem deve considerar aspectosligados tambm ao comportamento.

    Palavras-chave: problemas de aprendizagem; problemas de comportamento; fatores de risco; baixo rendimento acadmico

    AbstractEmotional and behavioral problems associated to low academic performance. This study aimed to identifythe incidence of emotional and behavioral problems, as well as the types of behavior problems associated toacademic performance. For such purpose, Rutters Child Behavior Scale-A2 and Rutters B Scale wereapplied to students of first and second years of elementary school, aged 6 to 10 years and divided into twogroups of 20 children each: a Low Academic Performance group (LAP) and a High Academic Performancegroup (HAP). The results evidenced that most of children in LAP group, unlike those in HAP group, reachedscores indicative of the existence of emotional/behavioral problems, and that the incidence of the majority ofthe behavior-specific problems was always higher in LAP group. These findings highlight that behavioralproblems represent a strong risk condition for learning problems and that working with children with learningdisabilities should also take into account features related to behavior.

    Keywords: learning disabilities; behavior problems; risk factors; low academic performance

    Estudos de Psicologia 2006, 11(1), 101-109

    As associaes entre distrbios de comportamento eproblemas de aprendizagem tm sido encontradasem vrios estudos, sendo que alguns autores apon-tam as dificuldades de comportamento como sendo um fa-tor de risco para o baixo desempenho acadmico(Marturano, Linhares, & Parreira, 1993; Speakman, Herman,& Vogel, 1993; Thompson, Lampron, Johanson, & Eckstein,1990), enquanto outros indicam que problemas na apren-dizagem escolar podem facilitar o desenvolvimento de dis-trbios de comportamento graves (Gordon, 1993; Kolvin,Miller, Fleeting, & Kolvin, 1988).

    Roeser e Eccles (2000) propem que as dificuldadescomportamentais e emocionais influenciam problemas aca-dmicos e estes afetam os sentimentos e os comportamentos

    da criana, sendo que estas dificuldades podem se expressartanto de forma internalizada, por meio de ansiedade, depres-so, retraimento e sentimentos de inferioridade, quantoexternalizada, por meio de comportamentos e atitudes quegeram conflitos com o ambiente e, geralmente, so marcadospor caractersticas de desafio, impulsividade, agresso,hiperatividade e ajustamento social pobre.

    A literatura aponta que as dificuldades de aprendizagemem si so uma condio de risco psicossocial, colocando oindivduo em situao de desvantagem educacional e social.Pessoas que fracassam ou aquelas que abandonam a escolaperdem oportunidades que poderiam representar experinci-as favorecedoras ao seu desenvolvimento. Assim, experin-cias escolares positivas e estimuladoras podem apresentar-

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    se como condies que protegem o indivduo de tornar-sedelinqente e envolver-se com a criminalidade (Kolvin et al.,1988; Maughan, 1988; Rutter, 1987).

    Arnold et al. (2005), comparando adolescentes com e semdificuldades de leitura quanto a problemas emocionais ecomportamentais, colheram informaes a partir de auto-rela-tos e dos relatos dos pais sobre sintomas apresentados. Osrelatos dos adolescentes apontaram que aqueles com dificul-dades de leitura apresentavam nveis mais altos de depres-so, ansiedade e queixas somticas do que os sem dificulda-des. Os relatos dos pais mostraram mais problemas de aten-o, queixas somticas e comportamentos delinqentes paraos adolescentes com dificuldades de leitura.

    De modo geral, os problemas de aprendizagem tm sidofreqentemente encontrados em associao com diferentessituaes que envolvem tanto as caractersticas pessoais dacriana com dificuldades quanto as condies de seu ambi-ente familiar e do ambiente mais amplo (Farran & Cooper,1986; Graminha, Martins, & Miura, 1996; Lewis, Dlugokinski,Caputo, & Griffin, 1988).

    O conjunto de fatores de risco baseados na criana in-clui componentes biolgicos e de temperamento, manifesta-o de sintomas/problemas fsicos e psicolgicos e a compe-tncia (cognitiva e social) desenvolvida (Finnstrom, Gaddlin,Leijon, Samuelsson, & Wadsby, 2003; Lewis et al., 1988). Com-portamento apenas um entre esses fatores; no entanto,merece destaque uma vez que os estudos sobre fatores derisco tm mostrado que os problemas de comportamento socondies importantes, freqentemente associadas a distr-bios de aprendizagem ou baixo rendimento acadmico.

    Neste contexto, Speakman et al. (1993), por exemplo, apon-tam, entre os fatores de risco para problemas de aprendiza-gem, temperamento difcil, dficits de ateno, baixa tolern-cia frustrao e relacionamentos sociais pobres.

    Em um estudo sobre a caracterizao da clientela infantilcom dificuldades escolares atendidas pelo servio depsicopedagogia de um hospital-escola, Marturano, Magna eMurtha (1993) tambm encontraram resultados significativosapontando para a associao de dificuldades de aprendiza-gem com problemas de comportamentos; sejam aqueles dire-tamente ligados a relacionamentos e habilidades sociais ouaqueles relacionados fala, ao sono, ao ritmo, s tarefas, aoshbitos, aos tiques e controle de esfncteres.

    Crianas com dificuldades de aprendizagem apresen-tam modos de enfrentamento inadequados frente s situa-es cotidianas e s relaes interpessoais, predominan-do condutas que sugerem baixa capacidade de auto-regulao, hostilidade e resistncia s normas. Muitasvezes elas so descritas como desobedientes, irritveis,impacientes, agitadas, inseguras, briguentas e destrutivas(Medeiros & Loureiro, 2004).

    Estudos tm demonstrado uma associao importanteentre as dificuldades de aprendizagem e o auto-conceito dacriana e a sua percepo de seus prprios problemas.Stevanato, Loureiro, Linhares e Marturano (2003) encontra-ram diferenas significativas quanto ao auto-conceito de

    crianas com dificuldades de aprendizagem comparadas acrianas com bom desempenho escolar, sendo que o grupocom dificuldades apresentou sempre resultados inferioresaos do grupo com bom desempenho. Estes dados so cor-roborados pelo estudo de Okano, Loureiro, Linhares eMarturano (2004), cujos resultados mostram que as crian-as com dificuldades escolares se percebem com menor ha-bilidade para aprender e com mais dificuldades de compor-tamento para ajustar-se s demandas do meio, quando com-paradas s crianas sem dificuldades.

    Witt, Riley e Coiro (2003), ao estudarem as associaesentre status funcional da criana, estressores familiares e ajus-tamento psicossocial de escolares com diferentes dificuldadese limitaes (perdas sensoriais, necessidades especiais, dis-trbios de aprendizagem e outras), encontraram que proble-mas de comunicao e de aprendizagem, alm de problemas desade fsica e mental da me, conflitos familiares e pobrezaesto significativa e positivamente associados comdesajustamento psicossocial entre crianas com dificuldades.

    Passando para o contexto familiar, variveis relaciona-das s caractersticas pessoais dos pais, ao prprio funcio-namento da famlia, estrutura e organizao do ambientedomstico aparecem associadas ao rendimento acadmico.No contexto social mais amplo, encontram-se condies comoa depreciao da criana por outras pessoas; rejeio e agres-so; inadequao da professora; greve escolar e mudana deprofessora, classe ou escola durante o ano letivo. Estes fato-res vo influenciar tanto a aprendizagem quanto o comporta-mento da criana em geral, podendo alguns deles aparecerdesde a gestao e acompanhar por toda a sua vida (Graminhaet al., 1996; Marturano et al., 1993; Santos, 2002; Vickers, 1994).

    Santos e Graminha (2005), em um estudo sobre as rela-es entre o ambiente familiar e o rendimento acadmico decrianas, encontraram um universo maior de adversidadesfamiliares no contexto de crianas com baixo rendimento aca-dmico. Segundo as autoras, esse contexto de adversidadesvai se esboando desde a gestao, continuando pelos anospr-escolares e escolares. Apesar disso, elas apontam que asfamlias de crianas com alto e baixo desempenho escolarpodem ser muito semelhantes quanto estrutura, organiza-o e valores familiares, entretanto, tm condies de vidadiferentes, sendo que as famlias de crianas que tm dificul-dades na escola vivem em condies mais precrias e commenos conforto.

    Outros eventos estressantes decorrentes de situaescomo hospitalizaes ou institucionalizao podem tambmrepresentar uma fonte de risco para desordens emocionais/comportamentais, bem como para problemas de aprendiza-gem (Farran & Cooper, 1986; Lewis et al., 1988).

    Na literatura sobre problemas de comportamento e apren-dizagem, h indicaes de que uma avaliao mais consisten-te sobre comportamento deve considerar tanto a percepodos pais quanto a dos professores sobre a criana.

    Silver (1981) realizou um estudo comparando trs gruposde crianas, avaliadas por seus pais e professores por meiode escalas de comportamento: um grupo formado por crian-

    P.L.Santos & S.S.V.Graminha

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    as avaliadas pelo sistema escolar como tendo problemas deaprendizagem, outro por crianas diagnosticadas por pedia-tras como sendo hiperativas e/ou desatentas e um terceirogrupo que inclua crianas encaminhadas a um centro de sa-de mental devido a problemas de comportamento. O autorencontrou que entre 26 e 41% das crianas com dificuldadesna aprendizagem eram tambm hiperativas e/ou desatentas,92% daquelas classificadas como hiperativas e/ou desaten-tas tinham problemas de aprendizagem e, nestes dois grupos,80% tinham problemas emocionais. Ele concluiu que essascrianas desenvolveram secundariamente problemas emoci-onais como uma conseqncia da frustrao e deficincia emsua experincia. Postulou, ento, que os problemas na apren-dizagem e comportamentos caracterizados por hiperatividadee/ou desateno favorecem o estabelecimento de problemasemocionais e/ou comportamentais.

    Ainda com relao avaliao comportamental, Haagere Vaughn (1995), em um estudo comparativo entre trs gru-pos o primeiro de crianas com distrbios de aprendizagem,o segundo com baixo rendimento acadmico e o terceiro comalto rendimento , relataram que as crianas com distrbio eas com baixo rendimento foram avaliadas por seus pais comotendo mais problemas de internalizao e hiperatividade doque as com alto rendimento. Paralelamente, os professoresavaliaram as crianas com distrbios de aprendizagem e ascom baixo desempenho como tendo mais problemas deinternalizao, hiperatividade e tambm mais problemas deexternalizao do que seus colegas com alto rendimento. Osautores concluram que as diferenas na percepo de pais eprofessores tanto sobre comportamento quanto sobre habili-dades sociais decorrem de uma diferena de perspectiva dosavaliadores. Essas diferenas precisam ser levadas em consi-derao nos processos de avaliao e na interpretao dasinformaes sobre comportamento.

    Como j foram expostos, os estudos sobre problemas deaprendizagem vm repetidamente apontando uma associa-o entre dificuldades de comportamento e de aprendizagem,entretanto, no h consenso sobre a ordem de ocorrnciadestas dificuldades e se existe uma relao de causa e efeitoentre elas. Alm disso, a maioria dos estudos utiliza apenasuma fonte de informaes, ou a famlia (pais) ou a escola(professores), apesar de a literatura apontar que, por teremperspectivas diferentes, possvel que a avaliao de pais eprofessores tambm seja diferente, tanto no que se refere aproblemas de comportamento quanto de aprendizagem.

    Assim, parecem particularmente importantes estudosque utilizem instrumentos semelhantes, aplicados tanto apais quanto a professores, na investigao das associa-es entre comportamento e aprendizagem, buscandominimizar a influncia das diferentes expectativas e poss-veis vieses dos avaliadores.

    Considerando estas questes, o presente trabalho tempor objetivo comparar as caractersticas comportamentais dedois grupos de crianas: um com baixo rendimento acadmi-co e outro com alto rendimento, com base nas avaliaes depais e professores, buscando identificar em cada grupo a

    incidncia de crianas com problemas emocionais e/oucomportamentais e os tipos de problemas de comportamentoque aparecem associados ao desempenho escolar.

    MtodoEste estudo foi realizado numa escola pblica estadual

    do interior do Estado de So Paulo, tendo como participantes40 crianas de primeira e segunda sries do ensino funda-mental, sendo que 20 delas foram classificadas por seus pro-fessores como tendo baixo rendimento acadmico (grupoBRA) e 20 como tendo alto rendimento (grupo ARA).

    Para a composio da amostra, foi solicitado aos profes-sores que avaliassem todos os seus alunos (em um universode 329 crianas de 12 classes diferentes), classificando-osnuma escala de 1 a 10 (sendo 1 o mais baixo rendimento e 10o mais alto rendimento). Foram ento sorteadas 20 crianasclassificadas nos pontos 1 e 2 para formar o grupo BRA e 20classificadas nos pontos 9 e 10 para o grupo ARA.

    Foram observadas as idades e sries e, para uma caracte-rizao do nvel de desenvolvimento das crianas, estas fo-ram avaliadas por meio de trs provas padronizadas: o Testede Desempenho Escolar TDE (Stein, 1994), o Teste de Ma-trizes Progressivas Coloridas (Raven, Raven, & Court, 1988)e Teste Gestltico Visomotor de Bender (Clawson, 1980).

    No grupo BRA, as idades das crianas variaram entreseis anos e 11 meses e 10 anos e 10 meses, predominandomeninos (75%), alunos de segunda srie (60%), com desem-penho escolar inferior ao esperado para a srie freqentada(95%), nvel intelectual mdio, acima da mdia ou superior(55%) e com desenvolvimento visomotor abaixo do esperadopara a idade (60%).

    Por outro lado, entre as crianas do grupo ARA, as ida-des variaram entre seis anos e 11 meses e nove anos e 10meses, predominando meninas (60%), em igual proporoquanto srie freqentada (50% de primeira srie e 50% desegunda srie), com desempenho escolar marcadamente namdia ou superior (100%), nvel intelectual tambm na mdiaou acima dela (90%) e desenvolvimento visomotor dentro ouacima do esperado para a idade (100%).

    Para coletar informaes sobre o comportamento das cri-anas foram utilizadas a Escala Comportamental Infantil A2de Rutter (forma traduzida e adaptada por Graminha, 1994;1998) e a Escala Infantil B de Rutter (Rutter, 1967), que foitraduzida especialmente para este estudo. A Escala A2 Adap-tada composta por 36 itens e foi desenvolvida para serrespondida pelos pais, enquanto a Escala B contm 26 itens,devendo ser preenchida pelo professor. Tomou-se o cuidadode realizar a coleta de dados no segundo semestre do anoletivo para que os professores pudessem conhecer melhorseus alunos, antes de avali-los. Das 40 mes a quem foienviada a Escala A2, trs no a devolveram devidamente pre-enchida; assim, os resultados referentes Escala A2 consi-deram 37 participantes e os da Escala B referem-se a 40.

    Os dados da Escala B foram computados de acordo comas orientaes do autor (Rutter, 1967) e os dados da Escala

    Problemas de comportamento e de aprendizagem

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    A2 de acordo com o estudo de Graminha (1998). A partir dasinformaes das duas escalas foram calculadas as porcenta-gens de alunos com escores totais indicativos de distrbioemocional/comportamental para os grupos BRA e ARA, comotambm as porcentagens de ocorrncia de cada item das es-calas para os dois grupos.

    Os resultados foram tabulados submetendo-se cada itemda escala ao Teste Qui-quadrado de Pearson, ou ao TesteExato de Fisher (quando o valor esperado era menor que cin-co), utilizando-se o pacote estatstico SPSS. Foram conside-rados como significativos os resultados em que a probabili-dade era inferior a 0,05. Tambm foi aplicado o teste de qui-quadrado para verificar se a incluso nos grupos BRA e ARAera independente de variveis como sexo, idade, srie fre-qentada e a classificao obtida nos trs testes aplicados.

    Destaca-se que o estudo foi desenvolvido seguindo-se todos os cuidados ticos, esclarecendo a escola, as mese as crianas sobre os objetivos e procedimentos a seremrealizados, solicitando-se autorizao dos pais para a avali-ao das crianas e mantendo-se o sigilo sobre as informa-es coletadas.

    ResultadosInicialmente, na Tabela 1, possvel observar que os

    resultados da aplicao do qui-quadrado mostram-se estatis-ticamente significativos, indicando que o fato de a crianaser includa em um dos dois grupos de estudo no independedo sexo e da classificao obtida nas trs provas aplicadas.

    Os resultados relativos s porcentagens de crianas dosgrupos BRA e ARA que apresentam o problema descrito emcada item da Escala A2 Adaptada (respondida pelas mes)bem como os resultados do qui-quadrado ou do teste exatode Fisher, conforme o caso, so apresentados na Tabela 2.

    possvel observar que, para a maioria dos itens daescala (31 dos 36 itens), a maior incidncia ocorreu entre ascrianas do grupo BRA. Os resultados foram significativosentre os dois grupos com relao aos itens: fica malhumorado e nervoso; destri suas coisas ou a dos ou-tros; briga com outras crianas; no querido pelasoutras crianas; criana fechada/solitria; no conse-gue permanecer numa atividade qualquer por mais do quealguns minutos; medo/receio de situaes novas; cri-ana difcil, complicada ou muito particular; maltrata ou-

    Tabela 1Distribuio dos participantes por grupos (BRA e ARA), em referncia ao sexo e s avalia-es pelos testes de TDE, Raven e Bender (teste de qui-quadrado)

    Sexo

    TDE

    Raven

    Bender

    MasculinoFemininoInferiorMdio / SuperiorAbaixo da mdia / Intelectualmente deficienteMdia / Acima da mdia / SuperiorAbaixo do esperado para a idadeDentro ou acima do esperado

    Grupo BRAf

    15 519 1

    91112 8

    Grupo ARAf

    812 020 218 020

    2

    5,013

    36,190

    6,144

    17,143

    p

    0,025

    < 0,001

    0,013

    < 0,001

    Varivel

    Tabela 2Freqncias das respostas nos itens da Escala Comportamental A2 de Rutter Adaptada (parapais) entre os grupos BRA e ARA e testes estatsticos

    Item

    1. Fica mal humorado e nervoso2. Destri suas coisas ou dos outros3. Briga com outras crianas4. No querido pelas outras crianas5. Criana fechada/solitria6. No consegue permanecer numa atividadequalquer por mais do que alguns minutos7. Medo/receio de situaes novas8. Criana difcil, complicada ou muito particular9. Maltrata outras crianas10. Fala palavres11. Insegura, no tem confiana em si mesma

    Grupo BRA(%)

    N = 18

    8955503355

    61

    5055286750

    Grupo ARA(%)

    N = 19

    4210 5 516

    21

    1010 01010

    2

    8,877 8,553

    - a

    - a

    6,414

    6,153

    6,894 8,553

    - a

    12,386 6,894

    p

    0,003 0,003 0,003 0,042 0,011

    0,013

    0,009 0,003 0,020

    < 0,001 0,009

    a Para estes itens foi aplicado o Teste Exato de Fisher, obtendo-se diretamente o valor de p

    P.L.Santos & S.S.V.Graminha

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    tras crianas; fala palavres e insegura, no tem confi-ana em si mesma.

    Complementando os dados obtidos por meio da EscalaA2 (mes), a anlise das respostas das mes questo finalda escala, que investiga se a criana apresenta outros proble-mas, mostrou que estas respostas foram afirmativas para 32%das crianas do grupo BRA e 20% para as do grupo ARA.

    Quanto aos resultados da Escala B (professores), na Ta-bela 3, possvel observar as porcentagens de crianas decada grupo que apresentam o comportamento descrito nosdiferentes itens da escala e os resultados dos testes estats-ticos aplicados.

    Os resultados da Escala B mostram que 23 dos 26 itensocorreram com maior incidncia para o grupo BRA, sendoque os resultados estatisticamente significativos ocorre-ram nos itens: irrequieto / corre ou pula para cima e parabaixo; mata aula; retorce-se/inquieto; destri suasprprias coisas ou a dos outros; briga com outras crian-as; no querido pelas outras crianas; preocupado /

    preocupa-se com muitas coisas; irritvel / perde o contro-le rapidamente; triste, infeliz, choroso ou angustiado;tende a estar ausente da escola por razes triviais; desobediente; concentrao pobre/curto perodo de aten-o; conta mentiras; chorou / se recusou a entrar naescola este ano; gagueja; tem outra dificuldade de falae maltrata outras crianas.

    Quando se comparam os resultados contidos nas Tabe-las 2 e 3, chamam particularmente a ateno os dados relati-vos a seis itens semelhantes contidos nas Escalas A2 (parapais) e B (para professores) em que ocorreram resultadossignificativas entre os grupos BRA e ARA (com incidnciamaior no grupo BRA). A seguir, para facilitar a visualizao,estes resultados aparecem resumidos na Tabela 4.

    Complementando os resultados da Escala B (professo-res), a anlise das respostas das professoras questo finalda escala que investiga se a criana apresenta outros proble-mas mostrou que estas respostas foram afirmativas para 20%das crianas do grupo BRA e 10% das do grupo ARA.

    Tabela 3Freqncias de participantes por grupos (BRA e ARA) na Escala Comportamental B deRutter (para professores) resultados nos testes estatsticos

    Tabela 4Distribuio porcentual de crianas em seis itens semelhantes das Escalas Comportamentais A2 (mes) e B(professores) em que ocorreram diferenas significativas entre os grupos BRA e ARA

    Item

    1. Irriquieto / corre ou pula para cima e para baixo2. Mata aula3. Retorce-se / inquieto4. Destri suas prprias coisas ou a dos outros5. Briga com outras crianas6. No querido pelas outras crianas7. Preocupado / preocupa-se com muitas coisas8. Irritvel / perde o controle rapidamente9. Triste, infeliz, choroso ou angustiado10. Tende a estar ausente da escola por razes triviais11. desobediente12. Concentrao pobre / curto perodo de ateno13. Conta mentiras14. Chorou / se recusou a entrar na escola este ano15. Gagueja16. Tem outra dificuldade de fala17. Maltrata outras crianas

    Grupo BRA(%)

    N = 20

    452550306535 555555035953530253540

    Grupo ARA(%)

    N = 20

    5 0 5 0 5 550 020 0 0 5 5 0 0 0 0

    2

    8,533 - a

    10,157 - a

    15,824 - a

    10,157 15,172 5,227 13,333 - a

    32,400 - a

    - a

    - a

    - a

    - a

    p

    0,003 0,047 0,001 0,020 < 0,001 0,044 0,001 < 0,001 0,022 < 0,001 0,008 < 0,001 0,044 0,020 0,047 0,008 0,003

    a Para estes itens foi aplicado o Teste Exato de Fisher, obtendo-se diretamente o valor de p

    Item Escala A2 (mes)

    Fica mal humorado e nervosoDestri suas coisas ou dos outrosBriga com outras crianasNo querido pelas outras crianasNo consegue permanecer numa atividadequalquer por mais do que alguns minutosMaltrata outras crianas

    BRA

    89555033

    61

    28

    ARA

    4210 5 5

    21

    0

    Item Escala B (professores)

    Irritvel / perde o controle rapidamenteDestri suas prprias coisas ou a dos outrosBriga com outras crianasNo querido pelas outras crianasConcentrao pobre / curto perodo deatenoMaltrata outras crianas

    BRA

    55306535

    95

    40

    ARA

    0055

    5

    0

    Problemas de comportamento e de aprendizagem

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    Finalmente, a Tabela 5 mostra os dados do grupo BRA edo grupo ARA, referentes aos escores totais obtidos pormeio da Escala A2 de Rutter Adaptada (mes) e da Escala B(professores), indicativos da presena ou no de distrbioemocional/comportamental.

    gncia abaixo da mdia ou intelectualmente deficientes e onmero de crianas com resultados visomotores abaixo doesperado para sua idade.

    A diferena quanto ao sexo encontrada entre os doisgrupos, apontando que baixo rendimento acadmico maiscomum entre meninos que entre meninas, reafirma resultadosapontados na literatura sobre maior incidncia de problemasde aprendizagem entre meninos (Meister et al., 2001;Needleman, Salamanco, Murno, Lamy, & De Gentile, 1996;Rutter et al., 2004).

    Rutter et al. (2004), rebatendo crticas de que a alta taxade problemas na leitura entre garotos era decorrente dedistores na interpretao sobre as dificuldades apresenta-das pelos meninos, relatam os resultados de quatro grandesestudos realizados na Nova Zelndia e na Inglaterra, mos-trando que em todos eles a diferena entre sexos se repetiu,confirmando que os meninos so mais freqentemente atin-gidos por dificuldades de leitura.

    Complementarmente, Barbaresi, Katusic, Colligan,Weaver e Jacobsen (2005), investigando a incidncia de pro-blemas de aprendizagem da matemtica entre escolares, tam-bm encontraram que meninos so mais freqentemente atin-gidos pelo problema do que as meninas.

    No que se refere s caractersticas de comportamentodas crianas, os resultados apontam, como outros estudosda literatura (Graminha, 1992; Hinshaw, 1992; Marturano etal., 1993), para uma forte associao entre problemas de apren-dizagem e problemas emocionais e comportamentais.

    Os resultados indicam uma coerncia entre as avalia-es de mes e professoras sobre o comportamento dascrianas, uma vez que na grande maioria dos itens comunss duas escalas utilizadas e, em especial, nos itens em quehouve diferena significativa entre os dois grupos, os re-sultados mostram a mesma tendncia (com maior incidnciapara o grupo BRA), diferente das observaes feitas porHaager e Vaughn (1995) que indicaram diferenas nessasavaliaes. possvel que a utilizao de dois instrumentosdesenvolvidos a partir de um mesmo referencial terico,constitudos por itens semelhantes, tenha sido favorvel savaliaes, moderando a interferncia das diferentes expec-tativas dos avaliadores.

    Os dados referentes ao comportamento avaliado pelasmes sugerem uma tendncia maior das crianas com BRA aapresentarem tanto problemas relacionados internalizaoquanto externalizao de comportamentos. importante lem-brar que alguns dos comportamentos apresentados com mai-or incidncia pelo grupo BRA relacionam-se a problemas comohiperatividade, impulsividade e falta de ateno/concentra-o, caractersticas estas prejudiciais aprendizagem esco-lar. Estes dados se assemelham aos de Magna (1997) referen-tes a comportamentos de crianas com problemas de apren-dizagem durante o perodo pr-escolar.

    Quando comparados com os dados do estudo deGraminha (1992), possvel observar que, com relao mai-oria dos itens da Escala A2 de Rutter Adaptada, as incidnci-as encontradas neste estudo referentes ao grupo BRA so

    Tabela 5Distribuio percentual de crianas dos grupos BRA e ARAem funo da ausncia ou presena de distrbios emocio-nais/comportamentais

    Escalas

    Escala A2Ausncia de distrbio emocional / comportamentalPresena de distrbio emocional / comportamental

    Escala BAusncia de distrbio emocional / comportamentalPresena de distrbio emocional / comportamental

    BRA

    3961

    3070

    ARA

    7921

    595

    %

    Comparando-se os resultados, possvel observar que aporcentagem de crianas do grupo BRA que apresenta esco-res indicativos de distrbios emocionais e/oucomportamentais na Escala A2 (escore total maior que 16,conforme padronizao brasileira realizada por Graminha,1998) quase trs vezes maior do que a do grupo ARA (61%contra 21%). Esta diferena ainda maior quando se obser-vam os resultados da Escala B: a porcentagem de crianas dogrupo BRA com escores indicativos de distrbios emocio-nais e/ou comportamentais 14 vezes maior do que a do ARA(70% contra 5%).

    DiscussoEste trabalho se props a comparar dois grupos de

    crianas um com alto e outro com baixo rendimento aca-dmico buscando observar associaes entre comporta-mento e rendimento acadmico, considerando dois infor-mantes: pais e professores.

    Retomando este objetivo, parece particularmente im-portante comentar os dados referentes caracterizaodos sujeitos, que apontam diferenas entre os dois gruposde crianas que vo alm do rendimento acadmico avali-ado pelo professor.

    A anlise estatstica ratificou que o baixo rendimentoacadmico foi mais freqente entre os meninos; emcontrapartida, as crianas com alto rendimento foram na mai-oria meninas. Alm disso, os dados referentes s caracters-ticas das crianas tambm sugerem que aquelas que apre-sentam baixo rendimento acadmico esto em desvantagemde desenvolvimento, uma vez que no grupo BRA foram sig-nificativamente maiores do que no grupo ARA: a incidnciade crianas com desempenho escolar inferior ao esperadopara a srie freqentada, o nmero de crianas com inteli-

    P.L.Santos & S.S.V.Graminha

  • 107

    maiores do que as encontradas pela autora no grupo de esco-lares que estavam atrasados na escola. Por outro lado, osdados relativos s crianas do grupo ARA so frequente-mente prximos ou menores do que os encontrados porGraminha (1992), tanto quando os comparamos com os resul-tados do grupo que freqentava a srie escolar correspon-dente idade cronolgica, quanto com os do grupo de crian-as adiantadas na escola. Esta diferena nos resultados dosdois estudos pode ser devida, primeiro, grande diferenano tamanho das amostras, uma vez que os dados do trabalhoreferido resultam de um estudo epidemiolgico; segundo, que,embora um dos grupos de crianas estudadas pela autoraestivesse atrasado na escola, no significa que essas crian-as estavam apresentando problemas quanto ao aprendiza-do ou rendimento escolar. Alm disso, as crianas do grupoARA, embora estejam se saindo bem na escola, esto fre-qentando a srie escolar correspondente idade, diferenci-ando-se do grupo de crianas adiantadas na escola do estu-do de Graminha (1992).

    Outro dado de destaque diz respeito incidncia de difi-culdades de fala. Tanto as avaliaes das mes quanto dasprofessoras apontaram para a maior ocorrncia dessas difi-culdades entre as crianas do grupo BRA, o que se asseme-lha aos resultados de Graminha (1992), Marturano, Magna eMurtha (1992) e Magna (1997), que tambm encontraram re-sultados significativos quanto presena de dificuldades defala/linguagem associadas a problemas de aprendizagem.

    Os resultados quanto s dificuldades de fala presentesno grupo com baixo rendimento sugerem que estas dificulda-des constituem-se em fator de risco significativo para o de-senvolvimento de problemas na aprendizagem acadmica,indo na mesma direo dos resultados do estudo deNeedleman et al. (1996), realizado para detectar fatores derisco relacionados com a presena de transtornos de com-portamento e aprendizagem em alunos do ensino fundamen-tal. Os autores encontraram uma associao positiva e signi-ficativa dos dois tipos de transtornos com dificuldades naexpresso e compreenso da linguagem e concluram que di-ficuldade na compreenso da linguagem preditora de trans-tornos de aprendizagem.

    Tais dados vo ao encontro da hiptese anteriormentelevantada de que as crianas do grupo BRA se encontram emdesvantagem de desenvolvimento frente s crianas do gru-po ARA, alm da desvantagem acadmica.

    Ainda com relao ao comportamento das crianas, cha-mam a ateno os resultados da Escala B de Rutter (respondi-da pelos professores), uma vez que na maioria dos itens hou-ve diferena significativa entre os grupos BRA e ARA, quasesempre (exceo de um nico item: preocupado/preocupa-secom muitas coisas) com maior incidncia para o grupo BRA.

    Isto sugere que, principalmente no que diz respeito acomportamento, os professores provavelmente discriminammelhor entre os dois grupos e, tambm, aponta para a forteassociao entre dificuldades de aprendizagem e problemasde comportamento. Barra, Toledo e Rodriguez (2002), anali-sando a opinio dos professores sobre o rendimento acad-

    mico, o comportamento de escolares e sobre as necessidadesdas crianas de servios especializados por no estarem res-pondendo adequadamente s demandas da escola, conclu-ram que os professores avaliam melhor problemas de com-portamento do que o baixo rendimento acadmico dos alu-nos, tendo uma alta sensibilidade para detectar crianas comproblemas emocionais/comportamentais.

    De forma semelhante, Del Prette e Del Prette (1998a), emum estudo que comparava crianas com e sem dificuldadesde aprendizagem com relao s habilidades sociais, a partirda avaliao de diferentes informantes (professores, colegase a prpria criana), observaram que o professor quem maisdiferenciava os dois grupos de crianas quanto s caracters-ticas interpessoais.

    Nos resultados obtidos por Machado, Marturano, Lou-reiro, Linhares e Bessa (1994), embora focalizassem em espe-cial o comportamento em sala de aula, tambm fica evidente,na avaliao feita pelos professores, que o grupo com dificul-dades de aprendizagem apresentava mais problemas de com-portamento, principalmente aqueles comportamentos ligadosa problemas de externalizao, reforando ainda mais a idiade que as crianas que apresentam dificuldades de aprendi-zagem tambm so avaliadas como tendo mais problemascomportamentais.

    Embora no seja possvel, pelos resultados deste estu-do, identificar a ordem de ocorrncia das dificuldades, pode-se supor que a associao entre problemas de comportamen-to e de aprendizagem seja uma via de mo dupla em que umproblema se apresenta como condio de risco para o outro.

    Os resultados tambm sugerem que as crianas combaixo rendimento acadmico podem ter problemas no relaci-onamento com os colegas, uma vez que, com maior freqn-cia, no so queridas pelos colegas e brigam muito comoutras crianas. Isso, provavelmente, restringe a possibili-dade de se integrarem com crianas que apresentam com-portamentos mais positivos ou menos disruptivos, dificul-tando de certa forma o aprendizado de comportamentos maisadequados ou, ainda, favorecendo o isolamento destas cri-anas, o que pode prejudicar ainda mais a aprendizagem eseu desenvolvimento em geral. A literatura aponta que cri-anas com dificuldades de aprendizagem costumam ser des-critas como tendo mais dificuldades de relacionamento etendendo a serem mais inquietas, briguentas, inibidas e seminiciativa (Maluf & Bardelli, 1991).

    Numa reviso de literatura, Del Prette e Del Prette (1998b)relatam vrios estudos os quais mostram que as dificulda-des nos relacionamentos interpessoais de crianas com di-ficuldades de aprendizagem incluem uma tendncia a apre-sentarem interaes mais negativas com os colegas e a se-rem mais agressivas, mais imaturas, com mais problemas depersonalidade, com menos comportamentos orientados paraa tarefa e com repertrio mais restrito de comportamentosinterpessoais adequados.

    Na prtica, os resultados deste estudo salientam que aotrabalhar com crianas com problemas na aprendizagem oubaixo rendimento acadmico necessrio dar ateno tanto

    Problemas de comportamento e de aprendizagem

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    s questes diretamente ligadas aprendizagem quanto sdificuldades emocionais e comportamentais apresentadas pelacriana, destacando-se ainda a premncia de um trabalho quefacilite o desenvolvimento de habilidades sociais e uma me-lhor integrao com os pares.

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    Patrcia Leila dos Santos, doutora em Psicologia pela Universidade de So Paulo Ribeiro Preto, profes-sora no Departamento de Neurologia. Psiquiatria e Psicologia Mdica, Faculdade de Medicina, Universidadede So Paulo Ribeiro Preto. Endereo para correspondncia: Rua Tenente Cato Roxo, 2650 (MonteAlegre); Ribeiro Preto, SP; CEP 14051-140. Tel.: (16) 3602- 4608. Fax: (16) 3602-4504. E-mail:[email protected] Santa Vitaliano Graminha, doutora em Psicologia, pela Universidade Estadual Paulista Franca, SP, professora no Departamento de Psicologia e Educao, Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de RibeiroPreto, Universidade de So Paulo. E-mail: [email protected]

    Recebido em 26.out.04Revisado em 14.mar.06

    Aceito em 17.abr.06

    Problemas de comportamento e de aprendizagem