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Resíduos de cultura e indústr: Geraldo Maria da Cruz Pesquisador/CNPGL/EMBRAP A minerais. As fibras desses materiais são geralmente lignificadas e com dife- rentes graus de incrustação com silica. Devido à composição quimica e à natureza da fibra desses materiais, es- tes residuos não se prestam à alimen- tação de animais monogástricos, mas podem ser utilizados na alimentação de ruminantes (bovinos, ovinos e ca- prinos). Isto se deve à presença de mi- croorganismos (bactérias e protozod- rios) no rúmen desses animais. Considerando-se asproduções bra- sileiras das principais culturas (Anuário Estat tstico do Brasil 1979) e a relação planta/grãos destas, pode-se estimar que pelo menos 130 milhões de tonela- das de residuos estariam disponiveis INTRODUÇÃO Em geral, menos de 50% do mate- rial vegetativo produzido durante o cultivo dos principais cereais e oleagi- nosas é colhido sob a forma de grãos (Verter & Boehlje I 978). Grande quan- tidade de bagaço e pontas de cana é obtida durante a industrialização da cana-de-açúcar. Do aproveitamento da raiz da mandioca resultam, em igual peso, as ramas e folhas, segundo Bar- bosa, citado por Silva (1981). Os residuos de culturas e indús- trias são geralmente ricos em celulose e hemicelulose e pobres em proteina, açúcares, lipidios e alguns elementos Os restos de cultura estão disponíveis para uso na alimentação dos ruminantes, justamente no período seco e frio do ano. PROCI-l~~~.UUU1U CRU 1983 SP-1983.00010 unuucrruzn u: para a aumentaçao animat (Quadro 1). Este valor é inferior aos 220 milhões de toneladas de palhadas produzidas anualmente na India (Ranj- han 1978) e 320 milhões de toneladas de palhadas produzidas nos Estados Unidos (Vetter & Boehlje 1978). UTI L1ZAÇÃO DAS PAlHADAS NA ALIMENTAÇÃO Os restos de cultura estão dispo- níveis para serem usados na alimenta- ção de ruminantes justamente no pe- ríodo de escassez de forragem verde, época fria e seca do ano. Cerca de 25% da produção mundial dos resíduos de cultura e indústria é usada na alimen- tação animal (Ernery 1979). Nos Es- tados Unidos, este valor é um pouco menor, cerca de 20%(Vetter& Boehlje 1978). A quant idade desses subprodutos que poderão ser utilizados em produ- ção animal depende, entre outros fato- res, do custo, da disponibilidade local e das características nutricionais em comparação a um alimento alternativo (Vetter & Boehlje 1978). Quanto ao método de utilização desses resíduos, Ward (1978) aponta como mais econômico o pastejo dire- to. ou seja, animais soltos na área de cultivo. Contudo, surgem alguns pro- blemas devido a este método de utili- zação. Apenas uma peq[;êna quantida- de (25 a 30';") da palhada de milho ou sorgo granífero foi consumida por va- 32 InL Agropcc. Belo Horizonte. 9 (108) DC7.cmbro/l983

PROCI-l~~~.UUU1U Resíduos de cultura eindústr · • Uso de Soda Cáustica (NaOH) a) Segundo Jackson (I 978), far-dos de palhada são mergulhados em um tanque "COntendosolução

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Resíduos de cultura e indústr:Geraldo Maria da Cruz

Pesquisador /CNPGL/EMBRAP A

minerais. As fibras desses materiaissão geralmente lignificadas e com dife-rentes graus de incrustação com silica.

Devido à composição quimica e ànatureza da fibra desses materiais, es-tes residuos não se prestam à alimen-tação de animais monogástricos, maspodem ser utilizados na alimentaçãode ruminantes (bovinos, ovinos e ca-prinos). Isto se deve à presença de mi-croorganismos (bactérias e protozod-rios) no rúmen desses animais.

Considerando-se as produções bra-sileiras das principais culturas (AnuárioEstat tstico do Brasil 1979) e a relaçãoplanta/grãos destas, pode-se estimarque pelo menos 130 milhões de tonela-das de residuos estariam disponiveis

INTRODUÇÃO

Em geral, menos de 50% do mate-rial vegetativo produzido durante ocultivo dos principais cereais e oleagi-nosas é colhido sob a forma de grãos(Verter & Boehlje I 978). Grande quan-tidade de bagaço e pontas de cana éobtida durante a industrialização dacana-de-açúcar. Do aproveitamentoda raiz da mandioca resultam, em igualpeso, as ramas e folhas, segundo Bar-bosa, citado por Silva (1981 ).

Os residuos de culturas e indús-trias são geralmente ricos em celulosee hemicelulose e pobres em proteina,açúcares, lipidios e alguns elementos

Os restos de cultura estão disponíveis para uso na alimentação dos ruminantes,justamente no período seco e frio do ano.

PROCI-l~~~.UUU1UCRU1983SP-1983.00010

u n uu crruz n u: para a aumentaçao animat(Quadro 1). Este valor é inferior aos220 milhões de toneladas de palhadasproduzidas anualmente na India (Ranj-han 1978) e 320 milhões de toneladasde palhadas produzidas nos EstadosUnidos (Vetter & Boehlje 1978).

UTI L1ZAÇÃO DASPAlHADAS

NA ALIMENTAÇÃO

Os restos de cultura estão dispo-níveis para serem usados na alimenta-ção de ruminantes justamente no pe-ríodo de escassez de forragem verde,época fria e seca do ano. Cerca de 25%da produção mundial dos resíduos decultura e indústria é usada na alimen-tação animal (Ernery 1979). Nos Es-tados Unidos, este valor é um poucomenor, cerca de 20%(Vetter& Boehlje1978).

A quant idade desses subprodutosque poderão ser utilizados em produ-ção animal depende, entre outros fato-res, do custo, da disponibilidade locale das características nutricionais emcomparação a um alimento alternativo(Vetter & Boehlje 1978).

Quanto ao método de utilizaçãodesses resíduos, Ward (1978) apontacomo mais econômico o pastejo dire-to. ou seja, animais soltos na área decultivo. Contudo, surgem alguns pro-blemas devido a este método de utili-zação. Apenas uma peq[;êna quantida-de (25 a 30';") da palhada de milho ousorgo granífero foi consumida por va-

32 InL Agropcc. Belo Horizonte. 9 (108) DC7.cmbro/l983

Nutrição de ruminantes

QUADRO 2 Perdas de Matéria Seca (MS), Proteína Bruta (PB) e Minerais dos Re-,íduos de Cultura c do Feno de Alfufu, Lavados com Água em Condições de Labo-ratório.

MS PB Ca P MI( K

lü',ídul>% do Conteúdo Inicial

1'.,lh.,d~ de aVI.!I~ 15.4 56,1 43,6 R7,3 57,7 99.3

1'.,lIlada dl' milho 15,2 41,0 60.1 77 ,5 ?R,6 9R,B

IPalh ada til' ,ola 12,0 35,1 46,6 70,7 7R,O 99,4

Suhugo de milho 61,1 27,fI 13,2 R3,O IR,2 -l-cno de alrara 31.1 35,R 43.2 RH,O ?R,1

to ntv: Cruz I 19R31.

QUA'DRO I - Estimativa da Produção Anual de Alguns Resíduos de Cultura e lndús-tria ( 1.000 t) -.

Proporção de Produção Estimada- ResíduoCultura ResíduoEm Relação à Minas GeraisBrasil

Planta (%) % do Total

Arroz (I) Palhada 62,8 13.800 8,65

Casca 6,7 \.500 8,65

Aveia (2) Palhada 50 60 O

Cacau (3) Casca 50 140 O

Café (4) Casca 66 1.600 25,74

Cana-de-açúcar Bagaço (5) 30 41.400 5,45

Ponta de cana (4) 8 11.040 5,45

Cevada (2) Palhada 50 100 O

Feijão (6) Palhada 62 3.400 12,85

Mandioca (7) Rama e folha 50 24.800 7,58

Milho Colmo e folha (8) 47 15.500 16,02

Palha (4) 8 3.200 16,02

Sabugo (4) 11 4.400 16,02

Soja (2) Palhada 50 11.600 1J9

Sorgo (2) Palhada 50 180 O

Trigo (2) Palhada 50 2.800 0,50

TOTAL 114.780

• Baseando-se na produção média do triênio 1978-80.

t-ente: (I) Gargantini & Blanco, citado por Silva( 1981); (2) Vcttcr & Boehlje ( 1978);(3) Collado & Silva (1978); (4) Roston. citado por Silva (1981); (5) Vilela,citado por Silva (1981); (6) Vicira & Gomes (1969); (7) Barbosa, citado porSilva (\ 981) e (8) Leite, citado por Silva ( 1981).

cas de corte, nos estados de lowa eNebraska, EUA (Weber et ai 1970 eWard 1978). Ocorreu também umagrande seletividade inicial da palhadaconsumi da, de modo que as vacas ga-nharam peso no período inicial e per-deram nas fases subseqüentes, devidoao baixo consumo de matéria seca e àbaixa qualidade do volumoso. Alémdo mais, os restos de cultura não con-sumidos pelos animais soltos nas áreasde cultivo muitas vezes constituem umempecilho ao preparo do solo para apróxima cu1t ura.

A ocorrência de chuvas pode tam-bém limitar ainda mais a utilizaçãodesses resíduos sob a forma de pastejo,aumentando as perdas devido ao piso-teio e causando lixiviação de nutrien-tes solúveis. Assim. tem-se volumosoem menor quantidade e de pior quali-dade dispon ivel para os animais. Ograu de intensidade que podem alcan-çar essas perdas por lixiviação, medidasem condições de laboratório. é mostra-do no Quadro 2.

A maior parte da proteína bruta edos minerais, contidos nessas palhadase potencialmente disponíveis aos 'ani-mais, foi retirada através de lavagenscom água.

Pelo exposto anteriormente, devi-do às limitações do pastejo direto dosresíduos de cultura, recomenda-searmazená-Ios para que sejam forneci-dos aos animais, depois de triturados

1111. .\~fI'rl·l· lido lIorl/onle. lj IlflXI Ik/,'lIlhro l'iX \

e suplementados com proteína, energiae minerais. A trituração do material épara forçar a ingestão da parte maisgrosseira do volumoso, obtendo-se as-sim um consumo menos variável du-rante todo o período de suplementa-ção com os referidos resíduos.

O valor nutritivo dos resíduos ébaixo, conforme pode ser observadono Quadro 6. Os teores de PB, NDT, Pe alguns microelernentos (Zn e Cu) es-tão abaixo das necessidades de rnan-tença de vacas secas (NRC 1978)_

A baixa digestibilidade da matériaseca (DMS) dos restos de cultura e in-dústria deve-se principalmente à ligni-I ficação das fibras (celulose e hemice-lulose) (Klopfensteín 1978) e, às vezes,à incrustação com sflica (Mbatya et al1983). Alguns desses resíduos têm usobastante limitado pelo alto teor de lig-nina (casca de amendoim, arroz, cacau,café, bagaço de cana, palhada de sojaanual) e outros pelo alto teor de silica(casca e palhada de arroz) (Quadro 3).Quando estes resíduos foram adiciona-dos em níveis acima de 10% da MS daração, eles causaram uma redução naprodução de leite e carne (Vargas et ai1982 e Bartley et al 1978).

Outros resíduos, como, por exem-plo, os provenientes da cultura do mi-lho, possuem um teor de lignina consi-deravelmente menor que os citadosanteriormente (Quadro 3). Estes resí-duos são derivados de plantas madurascom alto grau de 'Ugnificação das fi-bras, fato este que provoca uma sensí-vel redução na DMS e aumento notempo necessário para a digestão rurni-nal destes materiais grosseiros. Estesfatores contribuem para uma baixa ta-xa de consumo de MS pelos animais

11

Nutrição de ruminantes

QUADRO 3 - Teor Médio de Lignina eSflica em Alguns Restos de Cultura.

Ligni- Sflicana

Resto de cultura

% MS

Amendoim, casca 26,4 1,5Arroz, casca 16,0 16,0Arroz, palhada 5,0 13,8Aveia, palhada 8,4 3,1Cacau, casca 15,7 -Café, casca 36,0 -

Café, P91pa 27,9 -Café, borra de café solúvel 23,3 -Cana-de-açúcar, bagaço 14,7 2,1Cevada, palhada 7,2 6,6Milho, pé de milho s/espiga 6,1 1,8Milho, sabugo 7,1 -

Soja anual, palhada 14,1 0,5Sorgo granífero, palhada 7,4 -Trigo, palhada 10,6 2,2

(Quadro 4). Como se observa peloQuadro 4, o consumo de MS de restosde cultura variou de 0,70 a 1,86% dopeso vivo dos animais, quando estesvolumosos compunham 50 a 80% daMS total da ração. O restante da dietaera geralmente formado por ingredien-tes protéicos e minerais, e algumas ve-zes energéticos. O ganho de peso dosanimais nestes trabalhos experimentaisfoi modesto, variando de 0,22 a 0,84kg/dia (Quadro 4). Em alguns traba-lhos, quando não se forneceu concen-trado, houve grande perda de peso. Obaixo consumo de MS e, conseqüente-mente, o baixo ganho de peso dos ani-

mais evidenciaram o baixo valor nutriti-vo dos resíduos de cultura, quandocomparados a uma forragem verde deboa qualidade.

A economicidade do uso de restosde cultura e indústria na alimentaçãode ruminantes vai depender principal-mente de fatores locais, tais como: cus-to do resíduo, disponibilidade local,custo da suplementação com concen-trados e/ou tratamento químico desteresíduo.

TRATAMENTO QUIMICODAS PALHADAS

O objetivo dos tratamentos comprodutos químicos é aumentar a DMSe/ou o consumo de MS dos resíduos,tendo como meta final o aumento doconsumo de energia digestível pelo ani-mal.

Os produtos químicos mais utili-zados nestes tratamentos são: hidróxi-do de sódio (NaOH), hidróxido de cál-cio (Ca (OH) 2), amônia anidra (NH3),amônia líquida (NH40H) e uréia. Umadescrição sucinta dos métodos comu-mente usados nos tratamentos quími-cos das palhadas vem a seguir.

• Uso de Soda Cáustica (NaOH)

a) Segundo J ackson (I 978), far-dos de palhada são mergulhados emum tanque "COntendo solução de· 1,5%de NaOH por um, período de 20 h. Lo-

go após o excesso de solução ter sidodrenado, os fardos tratados são mergu-lhados sucessivamente em dois tanquescontendo água para lavagem do exces-so de sódio. Após a segunda lavagem,o material está pronto para ser forneci-do aos animais. Este processo conso-me 4 kg de soda/ I00 kg de palhada.

b) O método alternativo para ouso da soda cáustica, segundo Jackson(I978), é a pulverização da palhadapreviamente triturada, com solução deNaOH. Quando se usa um regador co-mum, necessita-se de aproximadamen-te 200 Q de água, contendo a soda, pa-ra cada 100 kg de palha, de maneiraque o material seja molhado uniforme-mente. Usando-se um pulverizador"com pressão, a quantidade de água po-de ser reduzida para a metade (I 00 Q/100 kg de palhada). Aconselha-se es-perar transcorrer um período de 24 hentre o tratamento e o fornecimentoda palhada aos animais, para aumentara eficiência do processo. A quantidadede soda usada é a mesma do processoanterior (4 kg/l 00 kg de palhada).

A eficiência deste tratamento (pul-verização) é ligeiramente inferior aoanterior.

II

• Uso do Hidróxido de Cálcio

Segundo J ackson (I 978), para queeste produto químico seja eficaz notratamento dos restos de cultura é pre-ciso ensilar o material contendo 55 a "/65%" MS com 4% Ca (OHh, por um

QUADRO 4 - Consumo de Matéria Seca (MS) de Restos de Cultura por Bovinos em Regime de Confinamento.

Peso Médio dos Consumo de MS do Variação de Percentagem deResto de Cultura Animais Volumoso Peso Vivo Volumoso

(kg) (% peso vivo) (kg/dia) na MS da Ração

Arroz, palhada ( 1) 420 1,51 0,74 75Arroz, palhada (2) 190 1,86 0,46 70Feijão, palhada (3) 350 1.46 0.59 65

"Milho, silagem do pé de milho, sem espiga (4) 280 1.23 0.84 50Milho. sabugo (I) 360 1.22 0.22 75 IMilho. sabugo (5) 200 1.60 0.30 80

,

Soja anual. palhaáa (2) 180 1.84 0,32 70Trigo, palhada (6) 288 1.53 - 100Cereais (aveia, cevada e trigo), palhada (7) 240 1,29 - 56Cereais (aveia, cevada e trigo), palhada (8) 280 0,95 - 100Cereais (aveia, cevada e trigo). palhada (8) 280 0,71 - ~ 35Cevada, palhada (9) 550 0,70 - 0,45 98

Fonte: (J) Reverso et aI (J 967); (2) Rehfcld & Bla\l:zyk (1972): (3) Albuquerquc ct aI (J 973); (4) Cruz & Verter (1976); (5) Kocrsct ai (1970); (6) Hcrrcra-Satdanha ct ai (1982): (7) Horton & Scacy (1979); (8) Horton (1978) c (9) Orskov ct al (1983).

34 Inf. Agropec. Belo Horizonte, 2. (108) Dezembro/1983

- Nutrição de ruminantes

período mínimo de cinco meses. Esteproduto é pouco solúvel e por isto tematuação lenta.

-4

• Uso da Amônia Anidra (gasosa)

Segundo técnica descrita por Sun-dstol et aI (I 978), fardos de palhadaempilhados, depois de cobertos comlona plástica (polietileno de 0,2 mm deespessura), inclusive a parte de baixo;são injetados com amônia, que é trans-portada em caminhões-tanques sobpressão, através de canos perfuradoslateralmente e que são introduzidos napilha de fardos. Normalmente são uti-lizados 3 a 5% do peso da palhada, emamônia. Recomenda-se deixar o mate-rial coberto com a lona plástica dequatro a oito semanas em países declima frio (J 00 C) e duas a três sema-nas, quando a temperatura ambientefor mais alta. Se este processo for con-duzido em tanques pressurizados, otempo necessário para o tratamentopode ser reduzido para 22 horas (Whi-tlock 1983).

• Uso da Amônia Líquida

Solução aquosa de amônia contidaem tanques é bombeada de maneira amolhar uniformemente a palhada queestá sendo ensilada com 55 a 65% deMS. O gasto de amônia e o tempo ne- .cessário para a atuação do hidróxidode amônia são semelhantes ao processodescrito para a amônia gasosa.

• Uso da Uréia

O uso da uréia no tratamento depalhadas e outras forrageiras de baixadigestibilidade e baixo teor protéicobaseia-se no desdobramento da uréiaem amônia na presença da enzimaurease, inerente à própria planta ouadicionada através de substâncias, co-mo, por exemplo, o grão de soja anualintegral, previamente mo ído.

Segundo Hadjipanayiotou (1982)e Jayasuriya & Pearce (1983), são ne-cessários 3 a 5 kg de uréia/ I00 kg depalhada. Podem-se pulverizar 40 litrosde uma solução a 10% de uréia paracada 100 kg de palhada. A uréia é adi-cionada no momento da ensilagem, aqual deverá ser feita por um períodode aproximadamente 45 dias. Com aadição da urease (grão de soja integralmoído), este período' de tratamento

pode ser reduzido para dois a quatrodias quando a temperatura ambientefor relativamente elevada (300 C).

Um aumento de DMS de 10 a 20unidades de percentagem e um aumen-to de consumo de MS de pelo menos30% foram observados em média, devi-do a esses tratamentos químicos (Qua-dro 5). Pode ser citado, como exem-plo, o tratamento de palhada de ceva-da com amônia anidra (Orskov et ai1983). Foram observado-s aumentosde 18% na DMS e 52% no consumode MS, ocasionando um aumento de80% no consumo de energia digestível,o qual proporcionou uma mudançade peso das novilhas de - 0,45 para0,33 kg/dia.

O efeito do tratamento com NaOHé ligeiramente superior aos tratamen-tos com amônia ou uréia. Contudo,estes últimos causam' um aumento naproteína bruta do volumoso, que alémde desejável, é também necessário paraa melhor utilização da palhada tratada(Orskov & Grubb 1978; Orskov et al1983 e Mbatya et ai 1983) .

No Brasil, o uso da soda cáusticaparece ser limitado pelo elevado custodo reagente químico, enquanto o usoda amônia (gasosa ou líquida) é baixo,pela falta de disponibilidade do produ-to e de tanques pressurizados necessá-rios para a armazenagem, transporte eaplicação do produto. É bom lembrartambém que ambiente com ar conten-do 15 a 28% de amônia é explosivona presença de uma faisca. .

O uso da uréia para tratamento de

forragem de baixa quijJJde é promis-sor, já que este o..'n11'osto químicocausa um aumento J~ PB, DMS e con-sumo de MS semellunte ao causadopela amônia anidra tQuadro 5) e nãooferece os perigos M manuseio desteúltimo.

.CONCLUSÃO

Recomenda-se o uso de resíduosculturais como alim~n\l) volumoso pa-ra animais que tenham baixas exigên-cias nutricionais. Est~s resíduos de-vem ser triturados e i,)rnecidos em ra-ção balanceada. QU:U1doestes resí-duos forem tratados quimicamente,eles poderão ser usaJos para animaiscom maiores exigências nutricionais.

No quadro 6 são mostrados os da-dos de composição química e valor nu-tritivo de alguns restos de cultura.

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QUADRO 5 - Digestibilidade da Matéria Seca (DMS) e Aumento Pcr,,\'ntual no Consu-mo de Matéria Seca (MS), do Resíduo Tratado em Relação ao Não TI,Itldo, nos Diver-sos Tratamentos Químicos*.

Palhada Sabugo

Arroz Aveia Cevada Trigo Milho Milho

DMS (%)

Não tratado 42 48 44 42 59 49

NaOH 58 - 56 60 69 58

NH40H 56 58 - - 67 -

NH3 - 53 56 51 67 -Uréia 54 - 55 52 - -

Aumento no consumo MS (%)

NaOH 43,6 - 34,4 - .\2,8 31,7

NH3 - 28.4 27,2 30,4 45,6 -

Urdia 32,2 - 47,0 -

* Media de 22 trabalhos experimentais.

IIlI".Agropcc. Belo Hor izontc. <) (108) U\'zcmbro/l9H3 35

-QUADRO 6 - Composição Química e Valor Nutritivo de Restos de Cultura,

Matéria ProteínaForragem Seca Bruta NDT Cálcio Fósforo

(%) %MS

Restos de Cultura

Algodão (Gossypium hirsutum}- Cascas 92,1 4,4 36,5 0,32 0,10

Amendoim [Arachis hypogaca)- Cascas 95,0 7,6 19,0 0,79 0,06

Arroz [Oryz a sativa}

- Cascas 92,0 3,0 11,0 - -- Palhas 92.0 4,3 37,2 0,29 0,11

Aveia [Avena sativa}- Palhas 90,0 3,3 37,1 0,27 0,16

Cacau (Theobroma cacao)- Cacau 85,5 7,8 13,3 - -

Café [Cofeea arabica)- Cascas 93,0 2,5 12,0 - -- Polpa 22,0 11,8' - - -- Borra café solúvel (desidratado) 92,6 11,7 12,0 - -

Cevada (Hordeum vulgare},

- Palha 90,0 3,8 40,0 - -Feijão (Phaseolus vulgaris}

- Palha 87,5 4,6 60,6 - -

Milho (Zea mays}- Sabugo 90,0 2,7 49,0 0.02 0,04- Palha (pé-de-milho sem espiga) 87.0 4,5 50,3 0,20 0,09

Soja anual (Glycine max}- Palhas 92,2 5,0 40,8 0.92 0,06

Sorgo granífero (Sorghum vulgare}- Palhas 90,0 5,0 50,3 - -

Trigo [Triticum aestivum} .- Palhas 90,4 3,5 42,2 0,21 0,07

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