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PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO MORFOLÓGICA DO CAPIM-TANZÂNIA SOB PASTEJO COM E SEM IRRIGAÇÃOl CELSO EDUARDO DA SlLVA2, PATRíCIA MENEZES SANTOS 3 , CINlRO COSTA 2 , PAULO ROBEInO DE LIMA MElRELL~, BENEDITO APAREClDO DA SILVA 3 , MARCO AURÉUO FACTORl 2 IRecebido para publicação em 16/08/07. Aceito para publicação em 10/10/07. 2Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal, Faculdade de medicina veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Fazenda Experimentallageado, CEP 18618-000, Botucatu, SP, Brasil. E-mail: [email protected] 3Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Pecuária Sudeste, Rod. Washington Luis, km 234, Caixa postal 339, CEP 13560-970, São Carlos, SP, Brasil. 4Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Amapá, Rod. Juscelino Kubitschek, km 5, s/no, Caixa postal 10, CEP 68903-000, Macapá, AP, Brasil. RESUMO: O objetivo desse experimento foi avaliar a produtividade do Panicul11 mnximwn cv. Tanzânia sob pastejo de lotação rotacionada com e sem irrigação. O experimento foi conduzido na Embrapa Pecuária Sudeste, em. São Carlos/SP no período de dezembro de 2003 a janeiro de 2005. Foi utilizada uma área de 6ha, sendo metade irrigada por aspersão convencional, pastejadas por vacas em lactação da raça holandesa, em sistema de pastejo rotacionado, com um dia de ocupação e vinte e sete dias de descanso. A produtividade do pasto foi avaliada por meio das variáveis: massa de forragem antes e após o pastejo, taxa de acúmulo e estrutura da forragem. Para o resíduo pós-pastejo total e de folhas não houve efeito significativo de ciclos de pastejo, tratamento e a interação ciclo de pastejo x tratamento. De modo geral, a massa de forragem total antes do pastejo e a massa de haste tanto antes quanto após o pastejo foram mais elevadas no período de verã%utono c mais baixas durante o inverno/primavera. A taxa de acúmulo de forragem foi mais elevada na primavera/verão e mais baixa no outono/inverno. A taxa de acúmulo de hastes foi elevada em fevereiro/04 e janeiro/OS. O delineamento utilizado foi um modelo de medidas repetidas no tempo com o auxílio do pacote estatístico SAS (2001). O tratamento irrigado propiciou uma produção maior de forragem, com destaque para o período verão inverno e no período primavera verão, onde houve uma antecipação do crescimento da massa de forragem em relação ao tratamento sem irrigação. Palavras-chave: pastejo rotacionado, taxa de acúmulo, massa de forragem. PRODUCTION AND MORPHOLOGIC COMPOSITION OF TANZANTA GRASS PASTURE WITH AND WITHOUT TRRIGATION ABSTRACT: This study had the objective of evaluating the yield production of Panicu11l maximum cv. Tanzania using a production system with and without irrigation. The experiment was carried out at Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, São Paulo State, from December 2003 to January 2005. The size of the experimental area was six ha, being three ha used without irrigation and three ha irrigated by conventional aspersion system. For both areas, the production system was the rotational grazed using holstein frisian cows, with a day of occupation and twenty-seven days of rest period. The pasture productivity was evaluated by the foIlowing variables: forage mass before and after the grazing, forage accumulation rate, and forage Structures. For the total residue of post-grazing and leaves it was not observed significant effects of cycle grazing, treatment, and the interaction grazing cyeIe x treatment. As general, the total mass of forage before grazing and the stem mass before and after grazing were greater in the summer/auturnn period and lower during the winter/ spring time. The rate of forage accumulation was greater in the spring/ summer B. JndÚstr.allim., N. Odei"SG,v.64, n.4. p.32/-328, out./dez., 2007 odução e composição

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PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO MORFOLÓGICA DO CAPIM-TANZÂNIA SOB PASTEJOCOM E SEM IRRIGAÇÃOl

CELSO EDUARDO DA SlLVA2, PATRíCIA MENEZES SANTOS3, CINlRO COSTA2, PAULO ROBEInO DE LIMA MElRELL~,

BENEDITO APAREClDO DA SILVA3, MARCO AURÉUO FACTORl2

IRecebido para publicação em 16/08/07. Aceito para publicação em 10/10/07.2Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal, Faculdade de medicina veterinária e Zootecnia, Universidade

Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Fazenda Experimentallageado, CEP 18618-000, Botucatu, SP,Brasil. E-mail: [email protected]

3Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Pecuária Sudeste, Rod. Washington Luis, km 234, Caixa postal 339,CEP 13560-970, São Carlos, SP, Brasil.

4Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Amapá, Rod. Juscelino Kubitschek, km 5, s/no, Caixa postal 10,CEP 68903-000, Macapá, AP, Brasil.

RESUMO: O objetivo desse experimento foi avaliar a produtividade do Panicul11 mnximwn cv.Tanzânia sob pastejo de lotação rotacionada com e sem irrigação. O experimento foi conduzidona Embrapa Pecuária Sudeste, em. São Carlos/SP no período de dezembro de 2003 a janeiro de2005. Foi utilizada uma área de 6ha, sendo metade irrigada por aspersão convencional, pastejadaspor vacas em lactação da raça holandesa, em sistema de pastejo rotacionado, com um dia deocupação e vinte e sete dias de descanso. A produtividade do pasto foi avaliada por meio dasvariáveis: massa de forragem antes e após o pastejo, taxa de acúmulo e estrutura da forragem.Para o resíduo pós-pastejo total e de folhas não houve efeito significativo de ciclos de pastejo,tratamento e a interação ciclo de pastejo x tratamento. De modo geral, a massa de forragem totalantes do pastejo e a massa de haste tanto antes quanto após o pastejo foram mais elevadas noperíodo de verã%utono c mais baixas durante o inverno/primavera. A taxa de acúmulo deforragem foi mais elevada na primavera/verão e mais baixa no outono/inverno. A taxa de acúmulode hastes foi elevada em fevereiro/04 e janeiro/OS. O delineamento utilizado foi um modelo demedidas repetidas no tempo com o auxílio do pacote estatístico SAS (2001). O tratamento irrigadopropiciou uma produção maior de forragem, com destaque para o período verão inverno e noperíodo primavera verão, onde houve uma antecipação do crescimento da massa de forragem emrelação ao tratamento sem irrigação.

Palavras-chave: pastejo rotacionado, taxa de acúmulo, massa de forragem.

PRODUCTION AND MORPHOLOGIC COMPOSITION OF TANZANTA GRASS PASTURE WITH ANDWITHOUT TRRIGATION

ABSTRACT: This study had the objective of evaluating the yield production of Panicu11l maximumcv. Tanzania using a production system with and without irrigation. The experiment was carriedout at Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, São Paulo State, from December 2003 to January2005. The size of the experimental area was six ha, being three ha used without irrigation andthree ha irrigated by conventional aspersion system. For both areas, the production system wasthe rotational grazed using holstein frisian cows, with a day of occupation and twenty-seven daysof rest period. The pasture productivity was evaluated by the foIlowing variables: forage massbefore and after the grazing, forage accumulation rate, and forage Structures. For the total residueof post-grazing and leaves it was not observed significant effects of cycle grazing, treatment, andthe interaction grazing cyeIe x treatment. As general, the total mass of forage before grazing andthe stem mass before and after grazing were greater in the summer/auturnn period and lowerduring the winter/ spring time. The rate of forage accumulation was greater in the spring/ summer

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and lower in the autumn/winter. The rate of stems accumulation was higher at february/2004and january/2005. TI1eexperimental design was a replicated time measuring model analyzed bytheStatisticalAnalysisSystems(SAS).Thetreatmentwith irrigation leaded to a greater productionof forage during the summer/winter and spring/summer times. During those seasons, ananticipation in the forage mass growth was verified, related to the treatment without irrigation.

Keywords: rotational grazing, accumulation forage rate, forage mass.

INTRODUÇÃO

As pastagens tropicais apresentam elevado po-tencial de produção de forragem, tornando-se mui-to importante na alimentação animal. Com o aumen-to da produtividade de leite na propriedade rural,uma das opções que mais tem se destacado, refere-se à intensificação da produção de leite a pasto, pelouso racional de tecnologias relacionadas com o ma-nejo do solo, do ambiente, da planta e do animal(MARTINSet al., 2000).

Sendo assim, a suplementação de água via irri-gação em pastagem se torna indispensável para re-duzir a sazonalidade da produção durante o perío-do de déficit lúdrico e aumentar a produtividadeno verâo, pois possibilita aumentos em característi-cas de crescimento e de produção da plantaforrageira (ACUlARet ai, 2002). TE1XE1RA(1998) obte-ve desempenho de 30,63kgjvacaj dia de leite, comlotação média de 11,88UA ha-1 no período das águas.Tosl (1999) trabalhou com o capim-tanzânia aduba-do com 320kgjhaj ano de N e obteve lotações de6,6 e 2,7UA ha-1 nos períodos de "águas" e "seca",respecti vamente.

Os primeiros experimentos relacionados à irri-gação de pastagens no Estado de São Paulo foramdesenvolvidos por GHELflF1LHO(1972 e 1978) emPiracicaba - sr. O autor observou que a irrigaçãoproporcionava aumento na produção total de mas-sa seca dos capins elefante e colonião durante o ano,entretanto não contribuía para alterar a curva deestacionalidade de produção de massa seca, sendoque as irrigações efetuadas durante o período de"verão" (quente e úmido) eram mais vantajosas queas irrigações feitas durante o período do "inverno"(frio e seco). O autor verificou também, que o usoda água para produção de matéria seca pela plantaforrageira durante o "verão" era cerca de três vezesmais eficiente que durante o "inverno".

Outros autores também verificaram que a irri-gação não alterava a estacionalidade de produção

de forrageiras tropicais, demonstrando que outrosfatores, além da deficiência hídrica, limitam o de-senvolvimento das plantas durante o período deinverno (CARVALHOet al., 1975; ALVIMet al., 1986;ALVIMet al., 1993). MAYA(2003), trabalhando comnovilhos Nelore, observou taxa de lotação anualmédia de S,9UA ha-1 na área irrigada contra 5,6UAha-1 na área não irrigada. O autor ressaltou aindaque, o maior beneficio da irrigação, se deu na elimi-nação da deficiência hídrica durante o período das"águas", quando as condições de temperatura nãosão limitantes.

Na década de 90, no entanto, experimentos rea-lizados na Embrapa Pecuária Sudeste mostraramque o período não produtivo do capim-Tanzânia naentressafra foi reduzido de 150 a 160 dias para 65 a70 dias com irrigação (RASSlNl,2002). Estes resulta-dos indicam que a amplitude de resposta dasgramíneas tropicais à irrigação sob condições dedecréscimo do fotoperíodo e da temperatura não ébem conhecida, dificultando a tornada de decisõestécnicas_ Além disso, estudos dessa natureza sãorelevantes para se definir a quantidade de alimen-tos volumosos a ser estocada bem como determinara taxa de lotação animal potencial das proprieda-des que exploram pecuária intensivamente. O obje-tivo desse trabalho foi verificar o efeito da irrigaçãosobre a produção e estrutura do capim-tanzânia aolongo do ano.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido na EmbrapaPecuária Sudeste, situado no município de SãoCarlos (220 01'S 470 53' W; 856 m de altitude). O pe-ríodo experimental foi de dezembro de 2003 a ja-neiro de 200S. Nos meses de novembro e dezembrode 2003 foi feita a calibração dos aspersores parairrigação e ajuste da área experimental.

O clima do local é considerado como tropical dealtitude segundo a classificação de Koppen. as fi-guras 1 e 2 são ilustrados os dados climáticos du-

8.llIdlÍslr.anim., N. Odessa.v.64, n.4.p.321-J28. olll.ldez .• 2007

PRODUÇÃO E COMPOSrçÃO MORfOL6GICA DO CAPIM-TANZÃNIA. ..

o Ano experimental O Média de dez anos

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Período experi mental

FiglUa 1. Precipitação pluvial mensal durante o perío-do experimental (Janeiro 2004 a Janeiro 2005)comparada com a média histórica dos últimosdez anos

.....•-, Ano expelimental Média de dez anos

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Período experimental

Figura 2. Temperatura média durante o período expe-rimental (Janeiro 2004 a Janeiro 2005) compa-rada com dados médios de dez anos

rante os períodos experimentais, comparados coma média histórica dos últimos 10 anos.

o experimento foi desenvolvido em urna áreade 6ha de Panicum maximum cv. Tanzânia implan-tada em 1994 e utilizada, desde então, para o pastejode vacas em lactação da raça Holandesa Preto eBranco. A área foi subdividida em 56 piquetes deaproximadamente 1000m2, sendo metade irrigadapor aspersão convencional utilizando-se um siste-ma composto por dois conjuntos de seis aspersorescom vazão de 8 a 10mm/hora e uma bomba elétricade 25hp de potência. O solo predominante do localé um Latossolo Vermelho Amarelo de textura mé-

323

dia (EMBRAPA, 1999) com as seguintes caracterís-ticas químicas em julho de 2003 e julho de 2004 (Ta-bela 1).

Antes do início do experímento (agosto /2003) eem agosto 2004 foi feita a calagem com ca!cáriodolomitico (PRNT de 90%) para elevar o nível desaturação por bases para 70% e aplicado 60kg ha-1

N. Para o sistema irrigado foi aplicado fertilizantenitrogenado uréia durante todo ano sendo que nosmeses de maio a setembro foi colocado a metade daquantidade. Já no sistema sem irrigação a adubaçãonitrogenada não foi feita no período em que as con-dições ambientais não eram favoráveis para o cres-cimento da planta (maio a setembro), quando ocor-reu redução da precipitação e temperatura. A águade irrigação foi manejada pelo método EPS (RASSLNI,2002). Neste método, a freqüência de irrigação é de-terminada a partir das ocorrências climáticas de eva-poração (evaporímetro de PICHE) e precipitaçãopluvial (pluviômetro), que foram monitorados pe-riodicamente no posto meteorológico da EmbrapaPecuária Sudeste. A irrigação era efetuada toda vezque a diferença entre evapotranspiração (PICHEmm) e a precipitação (PRP mm) acumulada atingia30mm. O tempo utilizado para irrigar a área expe-rimental era de aproximadamente 48 horas.

A Tabela 2 apresenta o balanço hídríco mensalna área irrigada durante o período experimental.Em setembro, devido a problemas no equipamentode irrigação, o balanço hídrico foi negativo.

A área foi pastejada por vacas da raça Holande-sa Preto e Branca em lactação seguindo o métodode pastejo rotacionado com 27 dias de descanso eum dia de ocupação. A taxa de lotação nos piquetesfoi ajustada diariamente com base na avaliação vi-sual, onde foi observada a quantidade de folhas quepermaneciam nas touceiras na saída dos animais. Oobjetivo inicial foi atingir 3.500kg ha-1 MS de resí-duo pós-pastejo. Não foi feito repasse do pastejo emnenhum ciclo, no entanto foi feito um treinamentono período de adaptação pra treinar a condição vi-sual para colocar um número ideal de animais nospiquetes.

O delineamento experimental foi em blocos com-pletos ao acaso com dois tratamentos (irrigado e nãoirrigado) e cada tratamento havia quatro piquetespré-estabelecidos onde foram feitas cinco coletasantes e após o pastejo com medidas repetidas notempo (13 ciclos de pastejo) e quatro repetições.

8. [ndás/r.anim., N. Odessa, v.64, n.4. p.32/-328. out.ldez .. 2007

324 SILVA, C. E. et a!.

Tabela 1. Características químicas do solo das áreas experimentais em julhoj2003 e julho/2004 coletado â 20cm deprofundidade

pH pH MO P K Ca Mg H+Al AI S crc V

H20 CaCb g/dm3 Mg/dm3 mmolc/dm3 %2003TI 5,7 5,0 21 21 2,3 21 10 29 O 33 63 53

TNI 6,2 5,4 19 23 1,7 24 9 22 O 35 57 612004TI 5,6 5,1 19 15 1,3 20 10 29 O 31 60 52

TNI 5,8 5,0 15 14 1,1 23 14 30 O 35 62 56TI-Tratamento com IrrigaçãoTNI-Tratamento sem Irrigação

Tabela 2. Balanço hídrico mensal do período experimental

Mês Precipitação Irrigação Evaporação' Saldob Balançoc

mm

Janeiro/04 328 O 55 273,5 100Fevereiro 372,5 O 59 313,5 100Março 115 20 67 68 100Abril 75 20 45 50 100Maio 169 O 40 129 100Junho 44,5 20 60 4,5 100Julho 60 20 75 5 100Agosto O 80 137 -57 43Setembro 10 100 180 -70 -27Outubro 118 20 75 63 36Novembro 190 20 85 125 100Dezembro 215 O 64 151 100Janeiro/OS 375 O 35 340 100'evaporação de referência (evaporímetro de Piche)bsaldomensal [(precipitação + irrigação)-evaporação)'quantidade de água disponível, considerando-se a capacidade de água disponível do solo (CAD) de 100mm (1,3mm em' eBOcmde profWldidade do sistema radicular).

A massa de forragem antes e após o pastejo e ataxa de acúmulo foram avaliadas a cada ciclo depastejo, nos quatro piquetes pré-determinados (re-petições). Para determinar a massa de forragem fo-ram cortadas cinco sub-amostras em áreas repre-sentativas da condição média do piquete a alturade Scm com o auxílio de uma moldura de 1m2 (1 x1m). Depois de pesadas, as sub-amostras foram mis-turadas e duas amostras compostas foram retira-das para a detenninação do teor de matéria seca daplanta inteira e da percentagem de haste, folha ematerial morto. O teor de matéria seca foi determi-nado em estufa com circulação forçada de ar a 60°C.

As taxas de acúmulo de forragem e de haste, folha ematerial morto foram calculadas a partir dos dadosde acúmulo entre dois pastejos e do intervalo entreas avaliações. Para determinar a perda absoluta deforragem, antes da cada pastejo foram demarcadase limpas quatro sub-amostras de 4m2 (2 x 2m) nosmesmos piquetes onde eram feitas as avaliações demassa de forragem. Após o pastejo, todo o materialcaído no chão ou pisoteado foi recolhido e pesado(HJLLESHEIM, 1987). Uma amostra composta tambémera separada para a determinação do teor de maté-ria seca, seguindo o mesmo método utilizado paraa massa de forragem. Foi considerada perda, toda a

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PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO MORfOLóGICA DO CAPIM- TANZÃNIA. ..

forragem tombada presa à planta ou não, após asaída dos animais. A perda relativa foi calculadaem relação à massa total de forragem antes dopastejo.

Os dados foram analisados utilizando-se ummodelo de medidas repetidas no tempo com o au-xílio do pacote estatístico SAS (2001). A análise davariância foi feita por meio do procedimento GLMe as médias foram comparadas pela opçãoLSMEANS. Algumas variáveis precisaram ser trans-formadas, pois apresentaram heterogeneidade davariância.

325

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas avaliações em pré-pastejo os parâmetros,massa total, de haste e de folha diferiram significa-tivamente (P<0,001) para os efeitos ciclo de pastejoe tratamento. A interação ciclo X tratamento foi sig-nificativa para o parâmetro massa de folha. Nãohouve efeito significativo de nenhum dos fatoresconsiderados no modelo estatístico sobre a massade material morto antes do pastejo, provavelmentedevido ao elevado coeficiente de variação observa-do para essa variável (55,1 %) (Tabela 3).

Tabela 3. Média geral, coeficiente de variação e análise da variância para as variáveis massa total de forragem,folha, haste e material morto (kg MS/ha) antes e após o pastejo em capim-Tanzânia com e sem irrigaçãoao longo do período experimental

Causas de variaçãoVariação Média CV Cicio Tratamento Ciclo*Trat.

Pré-pastejo (negrito)Massa total 8.129 19,5% *** ** N5Massa de Folha 3.235 3,5% *** **Massa de Haste 3.350 27,7% *** N5Massa de Material Morto 1.311 55,1% N5 N5 N5Pós-rastejo (negrito)Massa total 5.698 22,5% N5 N5 N5Massa de Folha 1.493 17,8% N5 N5 N5Massa de Haste 2.905 30,9% N5 N5Massa de Material Morto 1.311 42,3% N5 N5***Significância< 0,001** Significância< 0,01•Significância< 0,05

Na Figura 3 são apresentados os valores de mas-sa de folha antes do pastejo para os tratamentos come sem irrigação durante o período experimental. Amassa de folha antes do pastejo foi maior para otratamento com irrigação apenas em março (4.129kg ha-1 MS X 2.259kg ha-1 MS), abril (3.967kg ha-1

MS X 1_974kg ha-1 MS), setembro (3.524kg ha-1 MSX 1.372kg ha-1 MS) e outubro (3_322kg ha-1 MSX1.870kg ha-1 MS), mostrando o efeito positivo da ir-rigação em prolongar (março e abril) e antecipar (se-tembro e outubro), respectivamente, o período depastejo.

A média geral de resíduo pós-pastejo total e defolhas foi 5.698kg ha-1 MS e 1.439kg ha-1 MS, respec-tivamente (Tabela 3). Para ambas variáveis, os efei-tos de ciclo, tratamento e interação entre os dois não

• Médiada massa de folhapré-pastejo cominigaçãoD Médiada massa de folhapré-pastejo sem inigação

6000

5000

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<- o !j ~ ~'" o A;<- .;•... o o'"Penodo experimental

Figura 3. Massa de folha antes do pastejo ao longo pe-ríodo experimental dos tratamentos com esem irrigação

B. lndlÍstr.anim., N. Odessa, v.64, n.4,p.321-328. olll./dez., 2007

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apresentaram diferença significativa. Com relaçãoà massa de haste (3.3S0kg ha-1 MS) e de materialmorto (1.311kg ha-] MS) houve efeito significativopara ciclo de pastejo, sem, no entanto observar efei-to significativo para tratamento e ciclo X tratamen-to.

Analisando ainda os resultados da Tabela 3, ob-serva-se que houve efeito significativo de ciclo depastejo sobre o resíduo de haste (2.9S0kg ha-1 MS) ede material morto (1.311kg ha-]MS).

Para a taxa de acúmulo de forragem total e dehaste foi observado efeito significativo apenas deciclo (Figura 4). Já para a taxa de acúmulo de mate-rial morto, nenhum dos fatores considerados nomodelo foi significativo (ciclo, tratamento e ciclo Xtratamento) .

D Média de forragem total O Média de haste total

250 J200

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Período experimental

Figura 4. Taxa média de acúmulo de forragem total ehaste ao longo do período experimental paraos tratamentos com e sem irrigação

De modo geral, a taxa de acúmulo de forragemfoi mais elevada na primavera/verão e mais baixano outono/inverno. Já a taxa de acúmulo de hastesfoi mais elevada em fevereiro/04 e janeiro/OS.

Houve efeito da interação entre ciclo e tratamentosobre a taxa de acúmulo para folha (Figura S). Ataxa de acúmulo de folhas foi mais elevada no tra-tamento irrigado nos meses de março (1l2kg ha-]MS, abril (llOkg ha-1 MS), setembro (74kg ha-1 MS)e outubro (S9kg ha-1 MS). Nos demais ciclos depastejo, não houve diferença entre os dois tratamen-tos.

D Acúmulo de folha tra tamento irrigado

O Acúmulo de folha tratamento não irrigado140

\20

100

80

60

40

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Período experimental

Figura 5. Taxa de acúmuIo de folha de capim Tanzâniacom e sem irrígação durante o período expe-rimental

A produção de massa de forragem para o trata-mento com irrigação e o tratamento sem irrigaçãoapresentaram evidente estacionalidade de produ-ção, sendo que o tratamento com irrigação apresen-tou menor estacionalidade quando comparado como tratamento sem irrigação. A maior produção foiencontrada no ciclo de pastejo de fevereiro commassa de forragem de 1l.273kg ha-1 MS, enquantoa menor massa de forragem foi encontrada no ciclode pastejo de julho com 6.101kg ha-1 MS.

A produção média de folhas seguiu a curva deestacionalidade encontrada na produção de massatotal, no entanto houve produção significativa mai-or de folhas nos ciclos de pastejo de março, abril,setembro e outubro para o tratamento com irriga-ção. Nos ciclos de março e abril esse resultado podeser explicado pelo déficit hídrico (Tabela 2) ocorri-do por falta de chuvas nesse período. Nos ciclos desetembro e outubro ocorreram maiores produçõesde massa de folhas devido ao inicio das condiçõesideais de crescimento da planta como temperaturae fotoperíodo.

o resíduo total apresentou valor médio de S.698kg ha-1 MS, acima do previsto inicialmente (3.S00kgha-1 MS). EUCLIDF.5 et ai. (1999)observaram que o con-sumo de forragem, o tempo de pastejo e o desem-penho de animais pastejando o capim-tanzânia estárelacionado à disponibilidade de folhas, à porcen-

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PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO MORFOLÓGICA DO CAPIM- TANZÂNIA. ..

tagem de folha e de material morto e à relação ma-terial verde: material morto na massa de forragem.Por outro lado, MARASCHIN(1996) recomenda para ocapim-elefante em pastejo contínuo, oferta de folhasentre 2.300 e 2.500kg ha·1 M5. No presente experi-mento, a massa média de folhas após o pastejo foide 1.439kg ha-1 MS. A redução do resíduo pós-pastejo ao nível proposto inicialmente determina-ria uma quantidade de lâminas foliares muito baixano resíduo, o que poderia prejudicar o desempe-nho dos animais. A massa de hastes tanto antesquanto após o pastejo foi mais elevada no períodode verã%utono, quando as condições climáticaseram mais favoráveis ao desenvolvimento das plan-tas. CARNEVALLl(2003) e BARBOSA(2004), trabalhan-do com os capins Tanzânia e Mombaça, observa-ram que o alongamento dos colmos estava relacio-nado ao índice de interceptação luminosa da pasta-gem. Apesar da interceptação luminosa não ter sidoavaliada neste experimento, a massa de forragemtotal e de folhas mais elevada no período de verão/outono (Figura 3), indica que os níveis deinterceptação luminosa nesta época também forammais altos.

A irrigação alterou a taxa de acúmulo de forra-gem do pasto e reduziu a estacionalidade de pro-dução de forragem, com o prolongamento da pro-dução nos meses março-abril e uma antecipação daprodução nos meses setembro-outubro, não evitan-do a estacionalidade de produção no período demaio a agosto. A temperatura mínima em São Carlosdurante o período experimental foi inferior a 17°Cnos meses de maio a dezembro. A ausência de res-posta à irrigação pode, portanto, ser atribuída àsbaixas temperaturas observadas durante o inverno,onde a temperatura mais baixa deu-se no mês dejunho com 12,6°C. A massa de material morto apóso pastejo foi mais elevada no período de inverno.EUCLlDESet aI. (1999) observaram que a participaçãodo material morto na pastagem é superior na épocaseca do ano.

o florescimento do capim-tanzânia ocorre, nor-malmente, entre abril e junho (SANTONI,2004). Alémdisso, durante o inverno a taxa de decomposiçãoda matéria orgânica é mais lenta (Tosl, 1999). Amorte de perfilhos reprodutivos, aliada à menor taxade decomposição da matéria orgânica deve, portan-to, ter contribuído para o aumento da quantidadede material morto em julho, agosto e setembro.

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CONCLUSÃO

o capim-tanzânia apresentou-se produtivo,quando irrigado, com melhor distribuição de mas-sa seca, minimizando os efeitos negativos daestacionalidade de produção de forragem. Foi ob-servado o aparecimento antecipado dainflorescência no tratamento com irrigação e umaprodução maior de haste no mês de setembropara tratamento com irrigação (3.23kg ha-1 MS X2.079kg ha·1 MS) devido ao incremento da irrigaçãoassociado à adubação nitrogenada.

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