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Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas DGADR Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural PRODUÇÃO INTEGRADA PRODUÇÃO INTEGRADA DA DA CUL CULTURA TURA DO DO ABACA ABACATEIRO TEIRO

Produção Integrada Abacateiro

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Produção Integrada Abacateiro

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  • M i n i s t r i o d aA g r i c u l t u r a ,do DesenvolvimentoRural e das Pescas

    DGADRDireco-Geralde Agricultura eDesenvolvimento Rural

    PRODUO INTEGRADAPRODUO INTEGRADA DADA CULCULTURATURADO DO ABACAABACATEIROTEIRO

  • DGADR-DSPFSVDABSV - 6/10

    MINISTRIO DA AGRICULTURA, DO DESENVOLVIMENTO RURAL E DAS PESCAS

    DIRECO-GERAL DE AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO RURAL

    PRODUO INTEGRADA DA CULTURA DO ABACATEIRO

    (Ao abrigo do art. 11 do Decreto-Lei n 256/2009, de 24 de Setembro)

    Coordenao: Direco-Geral de Agricultura e do Desenvolvimento Rural (DGADR) Colaborao: ABACASUL Direco Regional de Agricultura e Pescas do Algarve (DRAPAlgarve) Instituto Nacional de Recursos Biolgicos, I.P. (INRB)

    Lisboa

    2010 Actualizado a Maro de 2010

  • NOTA PRVIA

    A presente publicao vem ao encontro da necessidade sentida pelo sector frutcola,

    nomeadamente no Algarve, da definio, para a cultura do abacateiro, de recomendaes

    especficas no que se refere a prticas culturais e proteco fitossanitria a observar em modo de

    produo integrada.

    Renem-se, assim, um conjunto de orientaes tcnicas que permitem alargar, no Pas, o leque

    de culturas abrangidas por modos de produo sustentveis, nomeadamente a produo

    integrada.

  • ndice

    NDICE

    Pg. NOTA PRVIA ______________________________________________________________________2

    INTRODUO ______________________________________________________________________6

    1 - CONCEITOS E PRINCPIOS DE PRODUO INTEGRADA _______________________________8

    1.1- Produo integrada __________________________________________________________8

    1.2 - Proteco integrada _________________________________________________________9

    2 - LOCALIZAO E ESCOLHA DO TERRENO__________________________________________11

    2.1 - Condies climticas________________________________________________________11

    2.2 - Solo_____________________________________________________________________11

    3 - OPERAES DE INSTALAO ___________________________________________________14

    3.1 - Preparao do terreno ______________________________________________________14

    3.2 - Plantao ________________________________________________________________14

    3.3 - Compasso de plantao _____________________________________________________15

    3.4 - Manuteno e instalao de sebes ____________________________________________16

    4 - MATERIAL VEGETAL ____________________________________________________________17

    4.1 - Cultivares de abacate _______________________________________________________17

    4.2 - Porta-enxertos de abacate ___________________________________________________21

    5 - PODA _________________________________________________________________________22

    6 - REGA _________________________________________________________________________23

    6.1 - Dotaes de rega __________________________________________________________24

    6.2 - Aplicao da gua no solo ___________________________________________________25

    6.3 - Controlo da humidade do solo_________________________________________________26

    6.4 - Qualidade da gua de rega___________________________________________________26

    7 - CONSERVAO DO SOLO _______________________________________________________28

    7.1 - Nas entrelinhas____________________________________________________________28

    7.2 - Nas linhas ________________________________________________________________29

    8 - FERTILIZAO _________________________________________________________________30

    8.1 - Fertilizao de instalao ____________________________________________________30

    8.1.1 - Aplicao de adubos___________________________________________________30

    8.1.2 - Aplicao de correctivos ________________________________________________31

    8.1.2.1 - Correctivos alcalinizantes________________________________________31

    8.1.2.2 - Correctivos orgnicos___________________________________________32

  • ndice

    8.1.3 - Tcnicas de aplicao de fertilizantes______________________________________32

    8.2 - Fertilizao aps a instalao do pomar _________________________________________33

    8.2.1 - Fertilizao de formao________________________________________________34

    8.2.2 - Fertilizao de produo________________________________________________35

    8.2.2.1 - Aplicao dos fertilizantes________________________________________40

    8.2.3 - Casos especiais ______________________________________________________41

    8.3 - Colheita de amostras e determinaes a requerer _________________________________41

    8.3.1 - Antes da instalao do pomar____________________________________________41

    8.3.1.1 - Amostras de terra______________________________________________41

    8.3.2 - Aps a instalao do pomar ______________________________________________42

    8.3.2.1 - Amostras de terra______________________________________________42

    8.3.2.2 - Amostras de folhas ____________________________________________43

    8.3.2.3 - Casos especiais de colheita de folhas para anlise____________________44

    8.3.2.4 - Amostras de guas de rega ______________________________________44

    8.3.2.5 - Amostras de estrumes e outros correctivos orgnicos__________________45

    9 - UTILIZAO AGRCOLA DE EFLUENTES DAS ACTIVIDADES PECURIAS E DAS LAMAS DE DEPURAO ____________________________________________________________47

    9.1 - Utilizao de efluentes das actividades pecurias _________________________________47

    9.2 - Utilizao agrcola das lamas de depurao _____________________________________51

    10 - PROTECO FITOSSANITRIA ___________________________________________________56

    10.1 - Introduo_______________________________________________________________56

    10.2 - Metodologias de amostragem________________________________________________58

    10.2.1 - Observao visual ____________________________________________________58

    10.2.2 - Tcnica das pancadas _________________________________________________59

    10.2.3 - Armadilhas __________________________________________________________60

    10.3 - Nvel econmico de ataque _________________________________________________60

    10.4 - Lista dos produtos fitofarmacuticos aconselhados em proteco integrada do

    abacateiro ________________________________________________________________62

    10.4.1 - Critrios adoptados na seleco dos produtos fitofarmacuticos e respectivas

    substncias activas permitidas em proteco integrada __________________________64

    10.4.1.1 - Insecticidas e fungicidas ________________________________________64

    10.4.1.2 - Herbicidas ___________________________________________________66

    10.4.2 - Substncias activas e respectivos produtos comerciais________________________67

    10.5 - Auxiliares e efeitos secundrios ______________________________________________68

    10.5.1 - Grupos de artrpodes auxiliares mais importantes na cultura do abacateiro ________69

  • ndice

    10.5.1.1 - Coccineldeos ________________________________________________70

    10.5.1.2 - Himenpteros parasitides ______________________________________71

    10.5.1.3 - caros fitosedeos_____________________________________________72

    10.5.1.4 - Crisopdeos__________________________________________________73

    10.5.2 - Efeitos secundrios das substncias activas permitidas em proteco integrada

    de abacateiro ___________________________________________________________74

    11 - GUIA DE PROTECO INTEGRADA PARA A CULTURA DO ABACATEIRO _______________78

    12 - COLHEITA_____________________________________________________________________81

    12.1 - Tratamento ps-colheita e conservao________________________________________81

    13 - CADERNO DE CAMPO___________________________________________________________82

    14 - BIBLIOGRAFIA _________________________________________________________________83

    ANEXOS:

    ANEXO I Entidades e tcnicos que participaram na elaborao do documento

    ANEXO II Ficha informativa de amostras de terra

    ANEXO III - Coeficientes culturais (Kc) e estimativa das dotaes de rega para o abacateiro

    ANEXO IV Ficha informativa de amostras de gua para rega

    ANEXO V Ficha informativa para amostras de material vegetal

    ANEXO VI Quantidade e composio mdia de estrumes e de chorumes no diludos produzidos

    anualmente por diferentes espcies pecurias e sua converso em cabea normal (CN)

    ANEXO VII Ficha Informativa de amostras de adubos e correctivos orgnicos

    ANEXO VIII Indicadores de tomada de deciso relativos aos auxiliares de algumas pragas

    ANEXO IX ndice de figuras e quadros

    ANEXO X Abreviaturas utilizadas no documento

    ANEXO XI Caderno de campo da cultura do abacateiro

  • Introduo

    6

    INTRODUO

    A cultura do abacateiro constitui uma das principais alternativas do sector frutcola algarvio,

    contribuindo para a diversificao da produo da regio, pois para alm de possuir uma boa

    relao custo/benefcio, apresenta um escoamento fcil das produes e um mercado nacional e

    externo em crescimento.

    Numa perspectiva de carcter econmico, ecolgico e tambm toxicolgico, reveste-se de grande

    importncia a adopo de medidas preconizadas pelas regras da produo integrada, no s na

    racionalizao dos custos dos diferentes factores de produo, mas tambm na diminuio da

    contaminao do ambiente e na obteno de frutos de maior qualidade, atendendo menor

    quantidade de agro-qumicos utilizados.

    A obteno de produtos de alta qualidade, contaminando o menos possvel tanto o ambiente

    como os alimentos obtidos, isto , com o mnimo possvel de resduos, tem sido uma preocupao

    constante na agricultura. Deste modo, a implementao da produo integrada na cultura do

    abacateiro, pressupe a elaborao de normas.

    A produo de abacate exige um conjunto de aces que tm incio com a instalao da cultura e

    se sucedem ordenadamente no tempo, at colheita e seu transporte para as instalaes onde

    se procede ao seu armazenamento.

    Assim, o presente documento apresenta aspectos relativos aos conceitos e princpios da

    produo integrada, localizao e escolha do terreno, operaes de instalao da cultura,

    escolha de porta-enxertos e variedades, podas e conduo, rega, fertilizao, proteco

    fitossanitria e colheita.

    No captulo relativo fertilizao, descrevem-se os procedimentos a observar antes e aps a

    instalao da cultura, a metodologia de colheita de amostras e as determinaes laboratoriais a

    requerer.

    No mbito da legislao em vigor todos os aspectos relacionados com a nutrio e fertilizao so

    da responsabilidade da Unidade de Ambiente e Recursos Naturais (ex-Laboratrio Qumico

    Agrcola Rebelo da Silva) do L-INIA, do Instituto Nacional de Recursos Biolgicos, I.P. (INRB,

    I.P.).

    No que se refere proteco fitossanitria, este documento integra os procedimentos que podem

    servir de orientao a tcnicos e agricultores na monitorizao de pragas, auxiliares e doenas, as

    metodologias de estimativa do risco e nveis econmicos de ataque a adoptar na proteco

    integrada da cultura do abacateiro.

  • Introduo

    7

    Relativamente proteco integrada, referem-se quais os meios de proteco disponveis. No

    caso particular da luta qumica, indicam-se os produtos fitofarmacuticos permitidos, sendo

    abordados diversos aspectos relevantes que lhes so inerentes e, tambm, os critrios adoptados

    na sua seleco, tendo por base a reviso recentemente efectuada.

    Apresenta-se, ainda, a caracterizao dos grupos de auxiliares mais importantes na cultura, os

    efeitos secundrios dos produtos fitofarmacuticos permitidos em proteco integrada e um guia

    de proteco integrada no qual se consideram os inimigos e aspectos bsicos de epidemiologia e

    sintomatologia, assim como as medidas de luta a adoptar nesta cultura.

    Faz-se referncia obrigatoriedade da existncia de um caderno de campo e apresenta-se um

    modelo a utilizar em produo integrada da cultura do abacateiro. Referem-se, ainda, alguns,

    aspectos relativos colheita.

    Em anexo ao documento, so apresentadas as fichas informativas que devem acompanhar as

    amostras a analisar e, ainda, outros elementos complementares.

    As normas desenvolvidas e apresentadas no presente documento incluem procedimentos

    obrigatrios, proibidos e aconselhados e permitem a sua actualizao ou adaptao peridica.

    Por ltimo, de salientar que este documento foi elaborado com a colaborao do INRB, I.P., da

    Direco Regional de Agricultura e Pescas do Algarve (DRAPAlgarve) e da ABACASUL e foi

    aprovado em reunio do Conselho Nacional de Proteco da Produo Vegetal.

  • Conceitos e princpios de produo integrada

    8

    1 - CONCEITOS E PRINCPIOS DE PRODUO INTEGRADA

    Em produo integrada, a proteco integrada a orientao obrigatoriamente adoptada em proteco das plantas. No presente captulo apresentam-se os conceitos e princpios de proteco

    e produo integradas.

    1.1- Produo integrada

    De acordo com a definio adoptada pela OILB/SROP (1993, 2004), a produo integrada um

    sistema agrcola de produo de alimentos de alta qualidade e de outros produtos utilizando os

    recursos naturais e os mecanismos de regulao natural, em substituio de factores de produo

    prejudiciais aos ambiente e de modo a assegurar, a longo prazo, uma agricultura vivel.

    As caractersticas da produo integrada e as suas estreitas afinidades com o conceito de

    agricultura sustentvel so evidenciados pelo conjunto de 11 princpios, tambm aprovados pela

    OILB/SROP (2004):

    - a produo integrada aplicada apenas holisticamente, isto , visa a regulao do

    ecossistema, o bem-estar dos animais e a preservao dos recursos naturais, no se limitando a mera combinao da proteco integrada com elementos adicionais, como a fertilizao ou outras prticas agronmicas;

    - efeitos secundrios inconvenientes de actividades agrcolas, como a contaminao azotada de guas subterrneas e a eroso, devem ser minimizados;

    - a explorao agrcola no seu conjunto a unidade de implementao da produo integrada;

    - a reciclagem regular dos conhecimentos do empresrio agrcola sobre produo integrada;

    - assegurar a estabilidade dos ecossistemas, evitando impactes ecolgicos das actividades agrcolas que possam afectar negativamente os recursos naturais e os

    componentes da regulao natural;

    - assegurar o equilbrio do ciclo dos elementos nutritivos, reduzindo ao mnimo as perdas de nutrientes e compensando prudentemente a sua substituio, atravs de

    fertilizaes fundamentadas, e privilegiando a reciclagem da matria orgnica produzida

    na explorao agrcola;

    - a fertilidade do solo, isto , a capacidade do solo assegurar a produo agrcola sem intervenes exteriores funo do equilbrio das caractersticas fsicas, qumicas e

    biolgicas do solo, bem evidenciado pela fauna do solo, de que as minhocas so um

    tpico indicador;

  • Conceitos e princpios de produo integrada

    9

    - em produo integrada, a proteco integrada a orientao obrigatoriamente adoptada em proteco das plantas;

    - a biodiversidade, a nvel gentico, das espcies e do ecossistema considerada a espinha dorsal da estabilidade do ecossistema, dos factores de regulao natural e da

    qualidade da paisagem;

    - a qualidade dos produtos obtidos em produo integrada abrange no s factores externos e internos mas tambm a natureza do sistema de produo;

    - considerar o bem-estar dos animais, produzidos na explorao agrcola.

    Os princpios anteriormente referidos, aplicados cultura do abacateiro (Persea americana Miller),

    visam a obteno de frutos sos, de boas caractersticas organolpticas e de conservao, de

    modo a respeitar as exigncias das normas nacionais e internacionais relativas qualidade do

    produto, segurana alimentar e rastreabilidade, assegurando, simultaneamente, o

    desenvolvimento fisiolgico equilibrado das plantas e a preservao da qualidade do ambiente.

    A concretizao de tais objectivos passa obrigatoriamente pela gesto equilibrada dos recursos

    naturais, com a utilizao de tecnologias que considerem a reciclagem dos elementos nutritivos e

    reduzam, deste modo, a utilizao de produtos fitofarmacuticos e fertilizantes, conduzindo,

    assim, a uma reduo dos custos de produo.

    1.2 - Proteco integrada

    A proteco integrada procura combater os inimigos das culturas de forma econmica, eficaz e

    com menores inconvenientes para o Homem e o ambiente. Deste modo, recorre-se utilizao

    racional, equilibrada e integrada de todos os meios de luta disponveis (genticos, culturais,

    fsicos, biolgicos, biotcnicos e qumicos) com o objectivo de manter as populaes dos inimigos

    das culturas a nveis que no causem prejuzos. Torna-se necessrio efectuar a estimativa do

    risco, isto , a monitorizao contnua da cultura, de modo a detectar os seus potenciais inimigos

    e a avaliar, atravs da intensidade do seu ataque, os possveis estragos ou prejuzos que possam

    causar.

    Segundo a Directiva 2009/128/CE, de 21 de Outubro, que estabelece um quadro de aco a nvel

    comunitrio para uma utilizao sustentvel dos produtos fitofarmacuticos, a proteco integrada

    consiste na avaliao ponderada de todos os mtodos de proteco das culturas disponveis e a

    subsequente integrao de medidas adequadas para diminuir o desenvolvimento de populaes

    de organismos nocivos e manter a utilizao dos produtos fitofarmacuticos e outras formas de

    interveno a nveis econmica e ecologicamente justificveis, reduzindo ou minimizando os

    riscos para a sade humana e o ambiente. A proteco integrada privilegia o desenvolvimento de

    culturas saudveis com a menor perturbao possvel dos ecossistemas agrcolas e agro-

    florestais e incentiva mecanismos naturais de luta contra os inimigos das culturas.

  • Conceitos e princpios de produo integrada

    10

    Como princpios bsicos desta estratgia ou modalidade de proteco das plantas destacam-se os seguintes (Flix & Cavaco, 2004):

    - prevenir ou evitar o desenvolvimento dos inimigos das culturas atravs de medidas

    visando a sua limitao natural;

    - reduzir ao mnimo as intervenes fitossanitrias nos ecossistemas agrcolas;

    - utilizar todos os meios de luta disponveis, integrando-os de forma harmoniosa e privilegiando, sempre que possvel, as medidas indirectas;

    - recorrer aos meios de luta directos, nomeadamente uso de produtos fitofarmacuticos, quando no houver alternativa;

    - seleccionar os produtos fitofarmacuticos em funo da sua eficcia, persistncia, custo e efeitos secundrios em relao ao Homem, aos auxiliares e ao ambiente.

  • Localizao e escolha do terreno

    11

    2 - LOCALIZAO E ESCOLHA DO TERRENO

    2.1 - Condies climticas

    Antes da instalao de um pomar de abacateiros, alm dos normais cuidados relativos s

    condies edafo-climticas do local, deve-se ter um cuidado especial com a possibilidade de

    ocorrncia de geadas pois, no caso deste acidente ser registado com alguma frequncia, o cultivo

    desta fruteira pode ser tecnicamente invivel.

    O abacateiro apresenta sensibilidade ao frio, sendo, esta caracterstica influenciada, de certo

    modo, pela raa, variedade, vigor e idade da planta. Esta uma das razes pela qual esta cultura

    no vivel em zonas onde o risco de geadas seja elevado.

    A geada pode provocar danos elevados na planta, especialmente durante a actividade vegetativa.

    A ocorrncia de temperaturas muito baixas durante a fase de florao pode provocar uma

    reduzida taxa de vingamento do fruto, com incidncia directa no resultado econmico da cultura.

    Quando os abacateiros esto plantados em solos profundos, frteis e com satisfao das

    necessidades de gua, apresentam, por norma, maior resistncia ao frio.

    As temperaturas elevadas tambm provocam estragos, em especial durante a florao e

    vingamento, podendo provocar uma queda excessiva de flores e de pequenos frutos. A maior

    parte das variedades actualmente cultivadas produzem bastante bem na seguinte situao

    trmica: 22-26C de dia, 15-17C de noite e 20-21C de mdia.

    A humidade relativa geralmente no limitativa, mas situaes de tempo quente e seco, com

    humidade reduzida durante a florao e formao do fruto tm efeitos negativos na produo.

    O abacateiro apresenta um crescimento rpido e vigoroso, sendo sensvel aos ventos. Os ventos

    fortes provocam a fractura de ramos e a queda de frutos, em especial os de maior calibre. Os

    ventos quentes originam queda de frutos e os ventos frios queimam as folhas.

    Devido aos efeitos negativos do vento, bem como da proximidade do mar (sensibilidade

    salinidade), aconselha-se evitar a plantao em zonas ventosas e prximas do mar, e procurar

    zonas mais abrigadas. Se por algum motivo a plantao tenha que ser realizada num local

    ventoso, aconselhado a instalao de quebra-ventos.

    2.2 - Solo

    Com origem nos trpicos o abacateiro tem uma preferncia por terras ricas em matria orgnica,

    permeveis, pouco cidas e profundas. O abacateiro tem um bom desenvolvimento em diversos

    tipos de solo, no se aconselhando a sua plantao em solos sujeitos a encharcamento, pois alm

  • Localizao e escolha do terreno

    12

    de condicionaram um bom desenvolvimento radicular, favorecem o desenvolvimento do fungo

    Phytophthora cinnamoni (Rands).

    Para que ocorra uma drenagem normal e para que as razes possam crescer livremente, o perfil

    do solo no dever apresentar zonas impermeveis at uma profundidade de, pelo menos, um

    metro.

    O desenvolvimento horizontal e vertical das razes do abacateiro influenciado pela profundidade

    do solo, bem como por outras caractersticas fsicas do mesmo, tais como a textura, o grau de

    compactao e de arejamento.

    Enquanto jovem, o abacateiro apresenta um sistema radicular pivotante (desenvolvimento

    dominante da raiz primria), enquanto que as rvores adultas apresentam uma ampla distribuio

    de razes em todas as direces, sendo alcanada uma profundidade de 1 a 1,5 m.

    O abacateiro prefere solos com um pH varivel entre 6,0 a 7,5, faixa em que a maior parte dos

    nutrientes se encontra facilmente disponvel para as plantas, no existindo, simultaneamente,

    eventuais problemas de toxicidade resultantes, por exemplo, do excesso de alumnio e/ou

    mangans.

    O abacateiro muito sensvel aos sais, sobretudo se enxertados em porta-enxertos comuns, pelo

    que a condutividade elctrica do solo, determinada no extracto de saturao deve ser inferior a 3

    mS/cm.

    A avaliao da aptido de um terreno destinado instalao de um pomar de abacateiros deve

    ser baseada na sua caracterizao pedolgica, atravs da observao do perfil do solo e na

    avaliao do seu estado de fertilidade, feita atravs da interpretao dos resultados da anlise da

    terra.

    A metodologia de colheita das amostras pressupe, por sua vez, o conhecimento dos

    antecedentes culturais da parcela. Assim, obrigatrio efectuar a anlise da terra a partir de amostras colhidas segundo os procedimentos descritos no ponto 8.3.1.1.. As determinaes

    analticas a efectuar sero as que ali so referidas.

    A amostra de terra para anlise dever ser acompanhada de uma ficha informativa, semelhante

    que se apresenta no Anexo II, onde constar toda a informao respeitante parcela em que se

    pretende instalar o pomar.

    A ocorrncia de doenas que afectam as razes, como o caso das provocadas pela Rosellinia

    necatrix, Armillaria mellea, P. cinnamomi, ou outras, frequentes em solos encharcadios, dever

    ser devidamente assinalada. Esta informao um dado importante na avaliao das

    caractersticas da parcela, ou de parte dela, e poder determinar a no plantao, ou a realizao

    de medidas profilticas adequadas, antes da instalao do futuro pomar.

  • Localizao e escolha do terreno

    13

    No caso de replantao obrigatrio a realizao de anlises de terra e ao material vegetal da cultura anterior, para pesquisar a presena dos agentes patognicos acima referidos. Aps a

    obteno dos resultados das referidas anlises decidir-se- o tempo de pousio que, no caso da

    deteco de algum agente patognico nunca ser inferior a um ano.

    Os resultados da observao do perfil do solo e da anlise de terra sero igualmente

    determinantes para a deciso a tomar sobre a plantao do pomar, a escolha do porta-enxerto a

    utilizar, bem como a fertilizao de instalao a praticar.

    Em caso de aptido do terreno, no relatrio formular-se-o todas as recomendaes no sentido de

    ultrapassar eventuais limitaes detectadas, nomeadamente no que respeita sistematizao do

    terreno, tendo sempre em conta as orientaes relativas sua conservao descritas no Manual

    Bsico de Prticas Agrcolas. Conservao do Solo e da gua (MADRP, 2000).

    A plantao efectuar-se- depois do terreno limpo de todos os resduos vegetais das culturas

    anteriormente instaladas e de se ter procedido mobilizao adequada topografia, perfil e

    textura do solo, de acordo com o recomendado na publicao acima referida.

    Em produo integrada no permitida a desinfeco qumica do solo, salvo nos casos e

    condies expressamente autorizadas.

  • Operaes de instalao

    14

    3 - OPERAES DE INSTALAO

    A topografia do local condiciona o tipo de preparao do terreno e o compasso de plantao a

    adoptar. Para assegurar uma boa circulao do ar dentro do pomar aconselhvel que a instalao do pomar se faa em terrenos com boa exposio.

    Na plantao de novos pomares desejvel que o declive seja suave. Em parcelas com ndice de

    Qualificao Fisiogrfica da Parcela (IQFP) de trs, a plantao dever ser feita

    obrigatoriamente segundo as curvas de nvel, devendo ter em ateno a drenagem superficial.

    Em parcelas com IQFP de quatro, so proibidas as plantaes de novos pomares, salvo se forem armadas em socalcos ou terraos.

    Em parcelas com IQFP de cinco, a instalao de novos pomares fica obrigatoriamente dependente de parecer dos servios regionais do Ministrio da Agricultura, do Desenvolvimento

    Rural e das Pescas (MADRP).

    3.1 - Preparao do terreno

    O estudo do perfil do solo, antes da instalao do pomar, com colheita de amostras de terra, obrigatrio para determinao da aptido frutcola, necessidade de mobilizao profunda, drenagem e aplicao de correctivos orgnicos ou minerais. Deve ser efectuado na segunda

    quinzena de Maio, primeira quinzena de Junho.

    O terreno deve encontrar-se limpo de ervas e com o sistema de rega j instalado. A drenagem,

    quando necessria, deve ser efectuada, obrigatoriamente, antes da preparao do solo e da implantao do pomar.

    A preparao do solo para implantao do pomar , obrigatoriamente, efectuada antes das primeiras chuvas de Outono, ou seja, de meados de Agosto, a meados de Setembro.

    Devem ser corrigidos os solos com estrutura instvel ou ausente, baixo teor em matria orgnica,

    falta de porosidade e permeabilidade.

    3.2 - Plantao

    Antes da instalao do pomar dever planear-se o traado de caminhos de acesso e circulao de

    mquinas na parcela, racionalizando os circuitos a efectuar para a realizao de todas as

    operaes culturais, de forma a evitar passagens desnecessrias.

    Quando se implantem diferentes espcies e cultivares numa mesma explorao agrcola, a sua

    distribuio dever permitir a conduo de cada uma delas de forma independente.

  • Operaes de instalao

    15

    A disposio das filas das rvores dever ser aquela que minimize a eroso do solo, seguindo, tanto quanto possvel, as curvas de nvel, preservando um alinhamento perpendicular ao declive.

    Sempre que as caractersticas da parcela o permitam, recomendvel conferir ao pomar uma orientao Norte-Sul.

    Recomenda-se que a plantao seja efectuada de Maro a Maio, devendo as plantas ser apoiadas por um tutor e protegidas por uma rede de sombreamento.

    O tronco das jovens plantas deve ser mantido na vertical para favorecer o equilbrio vegetativo.

    A rega de plantao fundamental para obter uma rebentao homognea e reduzir o nmero de

    falhas de plantao.

    Sempre que haja risco de danos provocados por coelhos e outros roedores, as plantas devero

    ser devidamente protegidas com redes.

    Se o terreno no tiver sido armado em camalhes, a disposio das filas das rvores dever

    efectuar-se de forma a minimizar a eroso do solo seguindo, tanto quanto possvel, as curvas de

    nvel.

    3.3 - Compasso de plantao

    Tendo em ateno o desempenho das mquinas agrcolas e a facilidade de efectuar os

    tratamentos fitossanitrios, o compasso de plantao a adoptar depender do vigor da planta e

    das caractersticas do solo.

    O compasso de plantao dever permitir que, quando as rvores atinjam o estado adulto, exista

    um espao livre na entrelinha de pelo menos 1,5m entre as copas, com o objectivo de facilitar as

    operaes culturais, favorecer a iluminao e o arejamento.

    Dentro das linhas, as rvores podem chegar a tocar-se, sem que se produza um cruzamento

    pronunciado dos ramos.

    Aconselham-se compassos de plantao rectangulares, a fim de conciliar ao mximo as necessidades de acesso parcela com o aproveitamento do terreno.

    A distncia entre plantas depender do vigor da variedade, hbito de crescimento, profundidade e

    fertilidade do solo, entre outros factores.

    Para as condies de Portugal Continental o compasso aconselhado para as variedades de

    pequeno porte ser de 5,5 x 6m, para as variedades de maior arborescncia ser de 6 x 8m.

  • Operaes de instalao

    16

    3.4 - Manuteno e instalao de sebes

    Nas parcelas expostas ao vento, aconselhvel a instalao de sebes para a reduo do seu efeito mecnico sobre as fruteiras. As sebes devem ser permeveis ao vento reduzindo apenas a

    velocidade do mesmo. De igual modo, deve ser considerado a sua funo como abrigo da fauna

    til, na diminuio da evapotranspirao proporcionando, em regra, temperaturas mdias mais

    baixas em climas secos e mais elevadas em climas hmidos, aumentando de forma generalizada

    a humidade do ar.

    Na constituio de sebes vivas as plantas devem apresentar boa adaptao s condies locais

    de solo e de clima, crescimento rpido e resistncia a doenas que possam pr em causa no s

    a sua sanidade, mas tambm a do pomar. As sebes devem, sempre que possvel, favorecer a

    instalao de inimigos naturais das pragas da cultura.

    Em locais sujeitos ocorrncia de geadas deve ser tido em devida conta o efeito da instalao de

    sebes sobre a incidncia destas.

    aconselhvel manter as sebes, muros e faixas de separao das terras, a vegetao natural das margens de todos os cursos e massas de gua, sem prejuzo das limpezas e regularizaes

    necessrias ao adequado escoamento e/ou capacidade de armazenamento.

  • Material vegetal

    17

    4 - MATERIAL VEGETAL

    obrigatrio que o material de multiplicao, a plantar nos pomares novos, pertena categoria CAC (Conformitas Agrria Communitatis) e que seja, se possvel, certificado. Este material deve

    ser sempre acompanhado por um passaporte sanitrio vlido (conforme o Decreto -Lei n

    113/2004, de 15 de Maio).

    As sementes do porta-enxerto devem provir de plantas mes, rvores reconhecidamente sadias e

    produtivas, retirando-as de frutos com adequado desenvolvimento e em estado de sobre-

    maturao, sendo posteriormente eliminadas as pelculas envolventes, que so postas a secar

    sombra e semeadas em seguida. As plantinhas esto aptas a ser enxertadas logo que atinjam 30

    a 35 cm de altura e o seu caule ainda apresente uma colorao bronzeada e tenha um dimetro

    igual ao de um lpis. Somente as plantas vigorosas e bem conformadas podem ser enxertadas.

    A tcnica mais vivel de enxertia a de fenda. Para este tipo de enxertia, os garfos, no so mais

    do que ponteiros dos ramos do ltimo crescimento vegetativo, aos quais so retiradas parte das

    folhas (limbos), deixando-se apenas os pecolos. Devem provir de plantas sadias e altamente

    produtivas, apresentando as caractersticas da variedade que se deseja multiplicar.

    A enxertia deve ser realizada a 30 cm acima da zona do colo do porta-enxerto.

    As plantas no devero apresentar deformaes na zona do colo.

    4.1 - Cultivares de abacate

    O pomar de abacateiro portugus , essencialmente, formado por quatro variedades, cuja florao

    ocorre desde meados de Fevereiro a meados de Junho e cujo perodo de colheita se apresenta no

    Quadro I e cujas caractersticas principais se indicam.

    Quadro I Perodo de colheita das principais variedades de abacateiro existentes no Algarve (Mourinho, 2003).

    Cultivar Bacon

    A cultivar Bacon (Fig. 1) um hbrido Mexicano. A rvore caracterizada como sendo alta e

    esguia, chegando a atingir cerca de 8 a 10 m de altura. A florao ocorre entre finais de Fevereiro

    e fim de Abril. A durao normal da sua colheita de aproximadamente 60 dias, devendo ocorrer

    entre os meses de Outubro a Janeiro (Quadro I).

    Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Variedades 10 20 31 10 20 30 10 20 31 10 20 31 10 20 28 10 20 31 10 20 30 10 20 31 10 20 30 10 20 31

    Bacon Fuerte Hass Reed

  • Material vegetal

    18

    O fruto possui forma ovalizada a piriforme e tamanho mdio, possui cor verde brilhante e um peso

    mdio de 300 gramas. A sua aparncia boa e o tamanho da semente mdio a grande. A pele

    fina e lisa, sendo fcil de descascar. A polpa possui um sabor razovel e um bom aroma, uma

    cor branco-amarelada e algo fibrosa. bastante produtiva e a sua aceitao no mercado nacional

    boa.

    Refira-se, ainda o facto de que, devido sua tendncia para o crescimento em altura, esta

    variedade usada como corta-ventos, sendo implantada nas extremidades das parcelas, pois

    possui maior resistncia aos ventos frios, sendo ainda, tolerante a geadas e, tambm, resistente

    s altas temperaturas.

    Produz bem a partir do 3 ano, com pouca tendncia para a alternncia de produo. Tem

    tendncia a produzir em maior quantidade na parte superior da copa. As produes mdias

    obtidas no Algarve rondam as 15 t/ha.

    Fig. 1 Aspecto da rvore e do fruto da variedade Bacon (originais de Mourinho, 2003 e DRAPAlgarve, 2009).

    Cultivar Fuerte

    A variedade Fuerte (Fig. 2) proveniente de um cruzamento entre a raa Guatemalteca e

    Mexicana, sendo as suas rvores bastante vigorosas e arredondadas e de grande expanso. A

    florao ocorre entre a primeira quinzena de Fevereiro a meados de Abril. A sua produo boa,

    embora possua tendncia para a alternncia, efectuando-se a sua colheita entre os meses de

    Novembro e Fevereiro (Quadro I), por um perodo de aproximadamente 90 dias. As produes

    mdias obtidas no Algarve rondam as 15 t/ha.

    O fruto de forma similar ao de uma pra de tamanho mdio a grande, com pele verde opaco, lisa

    e de espessura fina. O seu peso mdio de 350 gramas, possuindo um caroo relativamente

    pequeno e uma boa aparncia geral. relativamente fcil proceder ao seu descasque. No que diz

    respeito polpa, esta de bom aroma e sabor, possuindo uma cor amarelo-esverdeada e textura

    amanteigada.

    A sua aceitao no mercado nacional bastante boa.

  • Material vegetal

    19

    Deve, ainda, ser referido que uma variedade sensvel salinidade, no podendo, por isso, ser

    cultivada prximo da orla martima, devido aos ventos excessivamente salinos que ocorrem,

    queimando as folhas devido ao sdio.

    Fig. 2 Aspecto da rvore e do fruto da variedade Fuerte (originais de Mourinho, 2003 e DRAPAlgarve, 2009).

    Cultivar Hass

    A variedade Hass (Fig. 3) provm da raa Guatemalteca e possui um crescimento mdio.

    uma rvore mediamente vigorosa, atingindo os 5 m de altura, formando uma copa idntica dos

    citrinos. A florao ocorre entre meados de Maro e meados de Maio. A poca de colheita

    bastante alargada, indo desde Janeiro a Maio (Quadro I), com uma durao de mais de 150 dias.

    O fruto ovado, de tamanho mdio, sendo por isso apreciada pelos consumidores. Possui cor

    verde, podendo tornar-se de cor prpura quando maduro. O seu peso mdio de 250 gramas e o

    tamanho da semente normal, tendo desta maneira um tamanho e peso ideal para o mercado. A

    pele rugosa e apresenta espessura mdia.

    A polpa possui um bom aroma e um bom sabor, sendo de cor creme-esverdeada e textura

    amanteigada. Possui ptimas qualidades organolpticas. Depois de maduro, o fruto pode

    conservar-se na rvore sem alterar as suas qualidades de aroma e sabor. Quando maduro em

    excesso, o sabor comea, ento, a alterar-se. Produz bem a partir do 3 ano, tendo alguma

    tendncia para a alternncia. As produes mdias obtidas no Algarve rondam as 10 t/ha.

  • Material vegetal

    20

    Fig. 3 - Aspecto da rvore e do fruto da variedade Hass (originais de Mourinho, 2003 e DRAPAlgarve, 2009).

    Reed

    A variedade Reed (Fig. 4), tal como a anterior, proveniente da raa Guatemalteca.

    As rvores apresentam um crescimento erecto, que pode tornar-se bastante exagerado se no for

    controlado atravs da poda. A florao ocorre entre finais de Abril e meados de Junho. A

    produo bastante boa e a sua poca de colheita vai de Maio a Junho (Quadro I), com uma

    durao de colheita de 90 dias ou mais. As produes mdias obtidas no Algarve rondam as 20

    t/ha.

    O fruto redondo, de tamanho mdio a grande, com um peso mdio de 350 gramas. A cor do

    fruto medianamente verde e o tamanho da semente grande. Possui pele lisa de espessura

    medianamente grossa. O seu sabor bom, assim como o seu aroma. A polpa tem uma cor

    creme-amarelada, com textura ligeiramente granulada.

    Possui uma boa aceitao no mercado nacional, sendo muito procurado pelos consumidores

    devido forma e ao tamanho que apresenta. Em virtude da poca de colheita, esta variedade

    assume grande importncia dado que das poucas variedades de Vero conhecidas.

    Fig. 4 - Aspecto da rvore e do fruto da variedade Reed (originais de Mourinho, 2003 e DRAPAlgarve, 2009).

  • Material vegetal

    21

    4.2 - Porta-enxertos de abacate

    A soluo dos porta-enxertos e da variedade deve adequar-se s condies edafo-climticas

    (Quadro II).

    A incidncia de doenas que se podem tornar fatais, como as causadas pelos fungos P.

    cinnamomi e R. necatrix, que afectam o sistema radicular da planta, leva a que seja importante a

    escolha do porta-enxerto, uma vez que este que fornece a parte radicular variedade escolhida.

    Os porta-enxertos mais adequados para as condies do Algarve so: Topa-topa, Lula, o

    Antilhano das Canrias e o Duke 7, sendo este ltimo, um porta-enxerto propagado de forma

    clonal. Os outros so provenientes de semente.

    Quadro II Comportamento de alguns porta-enxertos em relao s condies adversas do meio (Adaptado de Ferreira 1993a).

    Porta-enxerto Raa Frio Sanilidade Calcrio

    Phytophtora

    cinnamomi

    Observaes

    Topa-Topa Mexicana Muito Resistente Sensvel Tolerante -

    Lula Hbrida Antilhana Mdia

    Resistncia Tolerante Muito

    tolerante - No recomendado para zonas

    frias Antilhano

    das Canrias Antilhana Mdia

    Resistncia Tolerante Muito

    tolerante - No recomendado para zonas

    frias

    Duke 7 Mexicana Muito Resistente Sensvel Tolerante Resistente

    Facilidade de colheita face ao vigor mdio da rvore.

    Desenvolvimento lento nos dois primeiros anos.

    Grande resistncia ao fungo P.cinnamomi.

  • Poda

    22

    5 - PODA

    A poda do abacateiro tem como principais objectivos: a regularizao das produes alternantes;

    o controlo da altura em variedades de grande porte, reduzindo os custos da colheita, uma vez que

    a distribuio da fruta na rvore mais homognea; a correco de eventuais deficincias de

    crescimento que ocorram em rvores jovens; facilitar as operaes culturais, podando alguns

    ramos mais baixos para facilitar a limpeza das infestantes e evitar a perda de frutos por contacto

    com o solo; a supresso de madeira velha; a reduo dos danos provocados pelo vento; a

    melhoria da qualidade do fruto, traduzida num aumento de tamanho e maior proteco das

    queimaduras provocadas pelos raios de sol; dificultar a propagao de doenas e pragas,

    permitindo o arejamento do interior da copa, bem como a remoo dos ramos atacados pelos

    inimigos da cultura.

    No entanto, a poda dever sempre ser efectuada com conhecimento e cuidados, uma vez que

    esta, ao ser realizada de forma inadequada, poder originar efeitos indesejveis como sejam: a

    reduo da produo; a dificuldade do crescimento das rvores; o desenvolvimento de folhagem

    em excesso; dificuldade na frutificao e uma maior sensibilidade aos efeitos das geadas.

    proibida a queima do material proveniente das podas dentro do pomar, devendo, para o efeito, seguir-se a legislao em vigor.

    Nos pomares em boas condies sanitrias, recomendvel a incorporao no solo dos resduos da poda aps serem fragmentados e triturados no local.

  • Rega

    23

    6 - REGA

    O solo do pomar deve possuir humidade suficiente para permitir rendimentos economicamente

    competitivos e frutos de boa qualidade. Assim, recomenda-se que o pomar seja regado, excepto em condies muito particulares em que o lenol fretico permita a ascenso capilar da gua ate

    a zona das razes. A primeira rega devera ter lugar logo aps a plantao.

    Os terrenos devero ter bom escoamento superficial das guas ou um sistema de drenagem

    adequado, para evitar o encharcamento prolongado aps a ocorrncia de fortes precipitaes.

    A tcnica de rega dever garantir a mxima eficincia na utilizao da gua, tendo em conta as

    condies da parcela.

    Os sistemas de distribuio da gua devero ser mantidos em bom estado de conservao, a fim

    de evitar perdas de gua. Sempre que atravs do sistema de rega se faa a aplicao de

    fertilizantes ou produtos fitofarmacuticos recomenda-se a incorporao, de uma vlvula anti-retorno.

    Nos pomares adultos, a rega no dever permitir o humedecimento do solo a profundidades para

    alm da profundidade do sistema radicular da planta, de modo a evitar perdas de gua e de

    nutrientes por lixiviao.

    Na seleco do sistema de rega, deve ter-se em conta o tipo de solo, o IQFP e a sensibilidade das

    espcies e cultivares a doenas radiculares, que desaconselhem o humedecimento do tronco das

    rvores, durante a referida operao.

    Em solos de textura ligeira (arenosa, areno-franca e franco-arenosa) proibida a rega por gravidade, nos restantes tipos de solo a rega pode efectuar-se atravs de sulcos ou caldeiras, por

    gravidade, desde que no provoque eroso do solo.

    A rega localizada por mini-asperso consegue uma alimentao hdrica regular das rvores,

    possibilita a fertirrega e o trabalho do solo na linha. No entanto, a gua e mais facilmente

    arrastada pelo vento, podendo ocorrer perdas significativas por evaporao e favorecer as

    doenas do colo das rvores.

    A rega gota-a-gota a que permite melhor eficincia em funo das necessidades do pomar.

    Dado que o sistema radicular das fruteiras em plantaes regadas no muito profundo, torna-se

    necessrio garantir uma boa fixao da rvore ao solo, o que obriga a que os dispositivos de

    distribuio da gua sejam colocados a alguma distncia do tronco, promovendo o bom

    desenvolvimento das razes na horizontal e, desta forma, tambm a sua fixao. Este

    procedimento contribui igualmente para a preveno de doenas radiculares, a que muitos porta-

  • Rega

    24

    enxertos so sensveis. Os sistemas de mini-asperso devem, assim, ser utilizados com

    precauo, evitando que durante a rega o tronco seja humedecido.

    6.1 - Dotaes de rega

    As necessidades de gua do pomar devem ser calculadas atravs do balano hdrico tendo em

    considerao a profundidade atingida pelas razes, o tipo de solo, as caractersticas da cobertura

    herbcea do terreno, o compasso e as condies climticas locais.

    As dotaes de rega e a frequncia das mesmas devero estar de acordo com a precipitao, a

    capacidade de reteno de gua do solo e a evapotranspirao local, a fim de evitar perdas de

    gua em profundidade e a consequente lixiviao de nutrientes. Para os pomares da regio do

    Algarve com sistemas de rega gota-gota, com um compasso de referncia de 5,5m x 6m, podem-

    se estimar as dotaes de rega mensais que constam no Anexo III.

    As regas desequilibradas, com grandes perodos sem fornecimento de gua, podem ser

    prejudiciais s rvores e qualidade dos frutos, quer na rvore quer aps colheita, durante a sua

    conservao.

    A determinao das necessidades hdricas realiza-se em funo dos valores da

    evapotranspirao cultural (ETc) que representa a soma da transpirao das plantas com a

    evaporao da gua do solo. A ETc calculada atravs da expresso:

    ETc = Kc ETo

    em que Kc um coeficiente adimensional que varia ao longo do ciclo cultural e representa as

    diferenas de comportamento energtico e aerodinmico entre a cultura de referncia e a cultura

    em estudo (abacateiro) e ETo a evapotranspirao de referncia.

    A ETo pode ser determinada atravs de diversos mtodos. Os mais utilizados so:

    o mtodo de Penman-Monteith, j includo no software de muitas estaes meteorolgicas automticas;

    atravs da determinao da evaporao numa tina de classe A ajustada em funo de alguns parmetros relacionados com a localizao da tina, da cultura envolvente,

    velocidades do vento e humidade relativa.

    Os coeficientes culturais variam ao longo do ano, em funo das condies climticas e do

    desenvolvimento vegetativo das plantas, bem como da presena ou no de plantas infestantes.

    Os coeficientes culturais a utilizar nas determinaes das necessidades hdricas so os indicados

    no Anexo III, para trs situaes de cobertura do solo pela cultura (70%, 50% e 20%).

  • Rega

    25

    Sempre que exista disponibilidade de gua recomendvel que a rega se prolongue aps a colheita, at ao final do Vero.

    6.2 - Aplicao da gua no solo

    Nos sistemas de rega localizada, o coeficiente de uniformidade do sector de rega (eficincia de

    aplicao) dever ser superior a 85%.

    Na rega gota-a-gota, o nmero de gotejadores por rvore, o volume de gua a fornecer por rvore

    e a frequncia da rega devero ser definidos em funo das caractersticas do solo, em especial

    da sua textura, de forma a humedecer um volume de solo definido pela profundidade alcanada

    pelas razes e cerca de 50% da rea da projeco da copa, a fim de evitar problemas de

    saturao do solo ou de perdas de gua em profundidade. Deve ser uma rega feita por perodos

    curtos e frequentes para evitar perdas de gua e de nutrientes por infiltrao, especialmente nos

    solos de textura ligeira.

    No Quadro III apresentam-se, a ttulo indicativo, o nmero de gotejadores por rvore em funo da

    textura do solo.

    Quadro III Nmero de gotejadores recomendados por rvore em rega gota-a-gota, consoante a textura do solo (Adaptado de DGPC, 2002).

    Tipo de solo Argiloso Franco Arenoso

    Idade da rvore (anos)

    N de gotejadores 1-2 1 1 1-2 3-4 1 2 2-4 5-6 2 4 4-6 7-8 2-4 4-6 6-8 >8 4 6 8

    No Quadro IV apresentam-se, tambm a ttulo indicativo, as frequncias de rega que se

    consideram adequadas em funo da textura do solo para a rega gota-a-gota e para a rega por

    mini-asperso.

  • Rega

    26

    Quadro IV Frequncia de rega recomendada em sistemas localizados consoante a textura do solo (Adaptado de DGPC, 2002).

    Tipo de solo poca Argiloso Franco Arenoso

    Primavera G 2 V.P.S MA 1 V.P.S. G 3 V.P.S.

    MA 2 V.P.S. G Dirio

    MA 3 V.P.S.

    Vero G 3 V.P.S. MA 2 V.P.S. G Dirio

    MA 3 V.P.S. G Dirio MA - Dirio

    Outono G 2 V.P.S. MA 1 V.P.S. G 3 V.P.S.

    MA 2 V.P.S. G Dirio

    MA 3 V.P.S. Obs: V.P.S. Vezes por semana; G - Sistema de rega gota-a-gota; MA - Sistema de rega por microasperso.

    A rega por micro-asperso deve realizar-se durante a noite, para reduzir as perdas por

    evaporao, limitando-se o seu nmero a 3 ou 4 vezes por semana durante o Vero. Este sistema

    permite aumentar ligeiramente a humidade relativa do ar em dias de alta temperatura e baixa

    humidade relativa.

    6.3 - Controlo da humidade do solo

    recomendada a utilizao de dispositivos de controlo de humidade do solo, de forma a racionalizar a utilizao de gua. O mesmo pode ser realizado atravs de diversos equipamentos,

    tais como sondas capacitivas, sondas TDR ou sondas de neutres, para medir o teor de gua do

    solo, ou atravs da utilizao de tensimetros ou de blocos de gesso para medir a tenso de

    humidade do solo.

    O nmero e a posio desses equipamentos numa parcela diferem de acordo com as

    caractersticas do solo.

    Recomenda-se que a tenso de gua no solo, seja mantida entre os 5 e os 30 centibares ou, quando a evaporao muito elevada (Junho Agosto), entre os 5 e os 20 centibares.

    6.4 - Qualidade da gua de rega

    obrigatria a anlise da gua de rega antes da plantao do pomar e, posteriormente, de quatro em quatro anos, salvo nos casos em que os resultados analticos da amostra apresentem valores de alguns parmetros que excedam os limites mximos recomendados, fixados pelo

    Decreto-Lei n 236/98, caso em que se aconselha a monitorizao daqueles parmetros

    anualmente, feita durante o perodo de rega.

    No caso de permetros de rega, os beneficirios podero apresentar os resultados das anlises

    solicitadas pela associao de regantes. No se tendo observado o atrs disposto, a primeira

    colheita de gua dever ocorrer no ano de adeso ao programa de produo integrada, devendo

    ter lugar antes do incio da rega.

  • Rega

    27

    A amostra de gua de rega dever ser colhida segundo o prescrito no ponto 8.3.2.4. deste

    documento, solicitando-se as determinaes analticas referidas no mesmo. Todas as amostras

    devero ser acompanhadas de uma ficha informativa semelhante que se apresenta no Anexo

    IV.

    Recomenda-se a utilizao de guas cuja condutividade elctrica seja inferior a 1,5 dS/m para porta- enxertos de raa Mexicana, ou inferior a 4 dS/m para porta-enxerto de raa Antilhana. A

    razo de adsoro de sdio ajustada dever ser inferior a 2. A concentrao de ies cloreto no

    deve ser superior a 125 mg/L, para porta-enxertos da raa Mexicana, 225 mg/L para porta

    enxertos da raa Guatemalteca e de 400 mg/L para porta enxertos de raa Antilhana. A

    concentrao de boro na gua de rega deve ser inferior a 1 mg/L.

    Recomenda-se selar toda a estrutura hidrulica (furo, poo ou charca), que por motivo de improdutividade, m construo, deteriorao da captao e/ou da qualidade da gua, ou outra

    no permita a captao de guas subterrneas.

  • Conservao do solo

    28

    7 - CONSERVAO DO SOLO

    A manuteno ou melhoria da fertilidade do solo, minimizando, simultaneamente, a sua eroso e a

    lixiviao de nutrientes, so alguns dos objectivos da Produo Integrada. A preservao da

    diversidade bitica do ecossistema sendo uma preocupao presente na gesto diria do pomar,

    deve ser devidamente conciliada com a necessidade de proteco do solo, nomeadamente de modo

    a reduzir os efeitos nefastos da circulao normal da maquinaria. As mobilizaes do solo devem,

    assim, ser reduzidas ao mnimo indispensvel, a fim de minimizar os riscos de eroso, devendo ser

    efectuadas segundo as curvas de nvel nos solos com um IQFP igual ou superior a trs, sendo,

    nestes casos, proibidas lavouras no sentido do maior declive.

    7.1 - Nas entrelinhas

    As entrelinhas manter-se-o obrigatoriamente revestidas com um coberto vegetal herbceo ou com outra prtica de proteco do solo, ou resultante do corte do coberto vegetal das mesmas,

    bem como da triturao do material da poda sempre que esta prtica seja aconselhada, pelo

    menos entre 15 de Novembro e 1 de Marco. Fora desta poca, o coberto vegetal poder ser

    controlado atravs de meios mecnicos.

    A escolha das espcies herbceas a semear deve considerar aspectos como a sua adequao ao

    tipo de solo, massa vegetal desenvolvida, poca de florao, fixao de azoto, resistncia ao

    calcamento e afinidade para a fauna auxiliar.

    Na instalao do coberto permanente, devero eliminar-se previamente as infestantes vivazes,

    como gramas, juna, corriola e outras, por poderem prejudicar as fruteiras. Se o coberto for

    espontneo, dever-se- facilitar a proliferao de trevos e outras leguminosas, sobretudo

    daquelas cuja florao no coincida com a das fruteiras para evitar a competio em relao aos insectos polinizadores. As infestantes com perodos de florao coincidentes com o das cultivares

    do pomar devem ser controladas, especialmente quando as suas flores sejam muito atractivas

    para os insectos polinizadores.

    Podem-se efectuar cortes sobre o tapete herbceo permanente, quer seja semeado ou

    espontneo, para minimizar a concorrncia com as rvores e o risco de geada. Recomenda-se que estes cortes sejam efectuados quando 10 a 20% das flores das rvores do pomar j

    estiverem abertas, a fim de evitar que os insectos polinizadores desviem a sua ateno para o

    coberto vegetal. Esta , tambm a altura recomendada para efectuar a distribuio das colmeias

    no pomar. A erva cortada deve ficar espalhada sobre a superfcie do terreno.

  • Conservao do solo

    29

    H que ter presente que o coberto vegetal nos pomares implica uma maior ateno s infestaes

    com ratos, principalmente nas parcelas junto a linhas de gua, lixeiras, matas, pecurias ou

    pomares abandonados.

    Nos pomares em boas condies sanitrias, a lenha de poda deve ser fragmentada, triturada e

    incorporada no solo. Esta prtica promove o aproveitamento da matria orgnica e reduz a sada

    de nutrientes do pomar.

    Em caso de necessidade de mobilizaes do solo, a lenha de poda deve ser retirada, sendo de

    preferir as alfaias que no degradem a estrutura do solo. Com o mesmo propsito, no se deve

    circular sobre solos com muita humidade, sobretudo se argilosos e desprovidos de coberto

    vegetal.

    As mobilizaes do solo devem ser reduzidas ao mnimo indispensvel, a fim de minimizar os

    riscos de eroso, devendo ser efectuadas segundo as curvas de nvel nos solos IQFP igual ou

    superior a 3, sendo, nestes casos, proibidas lavouras no sentido do maior declive.

    7.2 - Nas linhas

    Deve deixar-se uma faixa de terreno, que pode ir at cerca de um metro para cada lado da linha,

    livre de vegetao herbcea que possa concorrer com as rvores. A manuteno desta faixa

    torna-se obrigatria caso se trate de um pomar jovem.

    O controlo das infestantes deve ser efectuado atravs de meios mecnicos ou atravs da

    aplicao de herbicidas, nas doses recomendadas, no momento em que estas se encontram mais

    sensveis substncia activa a aplicar. Para o efeito, obrigatrio utilizar os produtos fitofarmacuticos aconselhados em Proteco Integrada de acordo com o estabelecido no ponto

    9.3..

    Em qualquer das opes, deve-se deixar a manta morta no terreno, de forma a proteger o solo,

    reduzindo, simultaneamente, as perdas de gua por evaporao e a eroso. No caso de utilizao

    de herbicidas, a sua aplicao dever ser efectuada com cuidados acrescidos, de forma a no

    afectar as jovens plantas.

    O solo sob as fruteiras pode ainda ser coberto por palhagem ("mulching"). A palhagem pode

    resultar do espalhamento de resduos vegetais, tais como palhas isentas de sementes, cascas e

    aparas de madeira. O coberto vegetal deve ser mantido baixo, com altura inferior a 0,10 m,

    devendo-se, prestar especial ateno ao controlo dos ratos. No caso de palhagem vegetal, o

    terreno deve ser previamente limpo de infestantes, sobretudo quando existam vivazes.

  • Fertilizao

    30

    8 - FERTILIZAO

    8.1 - Fertilizao de instalao

    Antes da plantao do pomar de abacateiros obrigatrio realizar todas as correces necessrias, quer fsicas, qumicas e ou biolgicas, recomendadas pelos resultados das anlise de terra efectuada previamente na parcela, e pela observao dos perfis do solo da mesma.

    No Quadro V apresentam-se as classes de fertilidade do solo relativas aos teores de fsforo,

    potssio, magnsio e boro assimilveis.

    Quadro V Classes de fertilidade do solo relativas aos teores de fsforo, potssio, magnsio e boro assimilveis (Adaptado de LQARS, 2006).

    Classes de Fertilidade Fsforoa

    P2O5 (ppm) Potssioa K2 O (ppm)

    Magnsiob Mg (ppm)

    Boroc B (ppm)

    Muito Baixa 125 Obs: a Mtodo de Egner-Riehm, pH compreendido entre 3,65 e 3,75; b Mtodo do acetato de amnio a pH = 7; c Boro extravel em gua fervente.

    8.1.1 - Aplicao de adubos

    As quantidades de fsforo, potssio e magnsio a aplicar dependem dos seus teores no solo,

    sendo estimadas com base nos resultados analticos das amostras de terra colhidas antes da

    mobilizao profunda. No Quadro VI indicam-se as quantidades de fsforo, potssio e magnsio

    recomendadas instalao do pomar, podendo as de fsforo e potssio ser ponderadas tendo em

    conta outras caractersticas do solo (ver Quadros XI e XII).

    Quadro VI Quantidades de fsforo, de potssio e de magnsio (kg/ha) recomendadas instalao do pomar consoante a classe de fertilidade do solo (Adaptado de LQARS, 2006).

    Classe de Fertilidade Fsforo P2O5 Potssio

    K2O Magnsio

    Mg Muito Baixa 200 300 60

    Baixa 150 225 45 Mdia 100 150 30 Alta 50 75 15

    Muito Alta 0 0 0

    O azoto mineral no deve ser aplicado instalao do pomar, em especial quando se procedeu a

    mobilizao profunda, por se poder perder antes de ser utilizado pelas plantas, indo contaminar os

    lenis freticos com nitratos. No entanto, em solos com baixos teores de matria orgnica, em

  • Fertilizao

    31

    que no seja possvel a sua aplicao, poder ser vantajosa a aplicao de algum azoto mineral,

    aps a plantao, embora em doses reduzidas. Neste caso no , no entanto, permitida a aplicao de mais de 10 kg de azoto (N) por hectare em condies de poder ser, facilmente, absorvido pelas razes das rvores jovens.

    A adubao fosfatada dever ser efectuada tendo em conta o teor de fsforo no solo, revelado pelos resultados da anlise da terra. Geralmente, a aplicao de doses relativamente elevadas de

    fsforo no trazem inconvenientes para as plantas, a menos que, e dependendo das

    caractersticas do solo, possam induzir nas plantas carncias de ferro ou de zinco.

    A adubao potssica dever ser efectuada tendo em considerao a textura do solo e a sua capacidade de troca catinica. Assim, antes da plantao, no devem ser aplicadas quantidades

    de potssio superiores a 120 kg de K2O por hectare em solos de textura ligeira e de baixa

    capacidade de troca catinica (inferior ou igual a 7,5 meq/100 g de solo). Caso a recomendao

    de fertilizao seja superior quele valor, dever o restante adubo ser aplicado aps a plantao.

    A adubao com magnsio far-se- conjuntamente com a adubao fosfatada e a adubao potssica.

    8.1.2 - Aplicao de correctivos

    8.1.2.1 - Correctivos alcalinizantes

    Quando o pH do solo for inferior a 6,0 deve proceder-se aplicao de calcrio para elevar o pH

    do solo, permitindo melhorar as condies de absoro de diversos nutrientes essenciais, reduzir

    os problemas de toxicidade de outros, melhorar a estrutura do solo e favorecer a actividade

    microbiana. De igual modo a calagem pode dificultar a ocorrncia de podrides radiculares a que

    o abacateiro sensvel.

    No caso de solos cidos, em que os teores de alumnio de troca (extrado com uma soluo 1N de

    cloreto de potssio), de cobre ou de mangans extraveis (extrados com uma soluo de acetato

    de amnio, cido actico e EDTA ajustada a pH 4,65) sejam elevados (respectivamente

    superiores a 1,0 meq/100g, 200 ppm e 100 ppm) obrigatrio a correco do pH, sempre que este se situe abaixo de 5,5.

    A quantidade de calcrio a aplicar depende do valor inicial do pH do solo, da capacidade de troca

    catinica e do seu grau de saturao em bases.

    Sempre que a calagem seja necessria e os teores de magnsio no solo sejam baixos, deve

    aplicar-se calcrio magnesiano, visto os abacateiros serem sensveis carncia de magnsio.

  • Fertilizao

    32

    8.1.2.2 - Correctivos orgnicos

    A matria orgnica desempenha um papel muito importante nas caractersticas fsicas, qumicas e

    biolgicas do solo, contribuindo grandemente para a sua fertilidade.

    Em Portugal, os solos so, de um modo geral, pobres em matria orgnica, aconselhando-se a sua aplicao sempre que os teores sejam inferiores a 1,0 %, em pomares de sequeiro e 1,5 %

    em pomares de regadio.

    Se for necessrio aplicar correctivos orgnicos, deve ser dada prioridade queles que tenham

    origem nas exploraes agro-pecurias. Estes correctivos devero ser, sempre que possvel,

    previamente analisados, embora a anlise de estrumes possa ser substituda, para efeito de

    clculo das adubaes, por valores de composio mdia como os apresentados nos Quadros

    que figuram no Anexo VI. Os procedimentos para a colheita de estrumes so os referidos no

    ponto 8.3.2., onde se mencionam, igualmente, as determinaes a requerer.

    A aplicao de correctivos orgnicos sempre obrigatria quando: o nvel de matria orgnica no solo muito baixo ou baixo, o valor de pH inferior a 6,0 e o teor de cobre extravel superior a

    20 ppm. Neste caso, deve aplicar-se a quantidade de correctivo orgnico recomendada pelo

    laboratrio de anlises.Neste mbito devem ser tomadas em considerao as proibies impostas

    no captulo 9.

    Em Produo Integrada no so aconselhveis na instalao do pomar, aplicaes superiores a 30 t por hectare de estrume de bovino bem curtido, ou quantidade equivalente de outro correctivo

    orgnico permitido.

    A utilizao agrcola de efluentes das actividades pecurias e das lamas de depurao

    abordada detalhadamente no captulo 9.

    8.1.3 - Tcnicas de aplicao de fertilizantes

    A aplicao de fertilizantes, incluindo os correctivos orgnicos, dever ser efectuada aps a

    sistematizao do terreno ou aps as obras de drenagem, quando efectuadas. A sua distribuio

    deve ser feita a lano, sendo cerca de metade das quantidades recomendadas incorporadas com

    a mobilizao profunda e o restante com a regularizao do terreno. Sempre que a mobilizao

    profunda seja desaconselhada, os fertilizantes podero ser espalhados superfcie e

    incorporados com a interveno mais adequada. No caso da aplicao dos fertilizantes em

    bandas coincidentes com as linhas de rvores a plantar, as quantidades indicadas no Quadro VI

    devero ser proporcionalmente reduzidas, considerando a rea das bandas ou faixas a fertilizar.

    Todas as operaes atrs referidas tero lugar, obrigatoriamente, com o solo seco.

  • Fertilizao

    33

    8.2 - Fertilizao aps a instalao do pomar

    Como acontece com outras fruteiras, na fertilizao do abacateiro haver que considerar a

    fertilizao de formao e a fertilizao de produo. A primeira, praticada durante os primeiros

    anos de vida do pomar, tem como objectivo proporcionar s jovens plantas condies adequadas

    de nutrio, de forma a permitir--lhes um crescimento vigoroso. A segunda, depois da entrada do

    pomar em produo, visa assegurar s rvores uma nutrio equilibrada, de maneira a evitar um

    crescimento vegetativo excessivo e a favorecer a produo de frutos em quantidade e qualidade.

    Em produo integrada, a fertilizao dos pomares de abacateiros deve basear-se nos princpios

    da fertilizao racional, isto , o tipo e a quantidade de fertilizantes a aplicar, nas pocas e com as

    tcnicas mais adequadas, devem ter em conta as necessidades da cultura e a fertilidade do solo.

    necessrio, por isso, avaliar periodicamente o estado de nutrio dos pomares, atravs da

    anlise foliar, bem como o estado de fertilidade do solo mediante anlise de terra, a fim de se

    poderem fundamentar as recomendaes de fertilizao. Para isso, ser preciso dividir o pomar,

    recm-instalado ou j em produo, em fraces consideradas homogneas no que respeita ao

    tipo de solo, topografia, exposio, variedade e porta-enxerto, idade e tcnicas culturais

    anteriormente aplicadas. Em cada uma destas fraces, marcar-se-o obrigatoriamente quinze rvores, ao acaso, identificadas permanentemente. Cada conjunto de quinze rvores, assim

    identificadas, constituir uma unidade de amostragem, onde sero efectuadas periodicamente

    colheitas de amostras de folhas e de terra para anlise.

    Uma unidade de amostragem , pois, um conjunto de 15 rvores da mesma variedade e porta-enxerto, seleccionadas ao acaso e marcadas de forma permanente, numa zona representativa das caractersticas dominantes do pomar ou fraco deste, relativamente natureza do solo, topografia, idade das rvores e tcnicas culturais utilizadas.

    Dever apurar-se anualmente a produo de cada unidade de amostragem ou, em alternativa, a

    produo da fraco do pomar de que essa unidade de amostragem faz parte, indicando-se, neste

    caso, a rea dessa fraco ou o nmero total de rvores que a integram.

    A partir do quarto ano de idade, inclusive, obrigatrio proceder anualmente anlise foliar de amostras colhidas nas rvores marcadas na unidade de amostragem, segundo os procedimentos

    descritos no ponto 8.3.2.2., bem como controlar a sua produo.

    igualmente obrigatrio proceder anlise de terra (no Outono/Inverno), de quatro em quatro anos, sendo a colheita das respectivas amostras efectuada de acordo com os procedimentos

    descritos no ponto 8.3.2.1.. As determinaes analticas a solicitar ao laboratrio sero as

    constantes no mesmo ponto.

    Com base nos resultados das anlises de folhas, de terras e na informao presente na ficha

    informativa anual do pomar de abacateiros, sero emitidas recomendaes de fertilizao.

  • Fertilizao

    34

    8.2.1 - Fertilizao de formao

    Os adubos devem ser aplicados essencialmente durante a Primavera e o Vero, de forma a tirar

    partido das pocas do ano em que se verifica maior capacidade de absoro radicular.

    A partir do primeiro ano e at entrada efectiva em produo, podem aplicar-se doses moderadas

    e crescentes de azoto, cujas quantidades mximas se apresentam no Quadro VII, dependendo as

    quantidades a aplicar do grau de desenvolvimento das rvores, do tipo de solo e da forma de

    aplicao do adubo (directamente ao solo ou na gua de rega).

    Nos primeiros anos, podero adoptar-se nveis mais baixos de azoto quando os pomares tenham

    sido plantados com rvores provenientes de viveiros onde a fertilizao abundante fosse uma

    prtica corrente e/ou estejam instalados num solo cujos nveis de matria orgnica o justifique. As

    quantidades de fertilizantes a aplicar durante o perodo de formao das rvores, podero ser

    menores no caso de pomares instalados em solos de textura fina ou quando esses fertilizantes

    so fornecidos atravs da gua de rega em boas condies tcnicas.

    Quadro VII - Quantidades mximas de azoto a aplicar at entrada em produo do pomar.

    Idade da plantao (anos) Nutriente 1 2 3 4 5 Seguintes

    Azoto (kg/ha) 10 20 30 45 60 75

    A aplicao dos adubos azotados deve ser fraccionada, dependendo o nmero de fraces da

    tcnica de aplicao. Se a rega for localizada, os adubos podem ser fornecidos atravs da gua

    de rega.

    No se devem aplicar adubos azotados durante o Inverno.

    A necessidade de aplicao de outros nutrientes ser determinada pela observao directa do

    pomar, associada aos resultados das anlises de terra e de gua, bem como aos antecedentes

    culturais e mesmo anlise foliar (casos especiais).

    As pulverizaes por via foliar de macro e micronutrientes esto limitadas correco de estados

    de carncia, sempre que as caractersticas do terreno restrinjam a eficcia e rapidez do seu

    tratamento atravs da fertilizao ao solo. Estas pulverizaes devem ser devidamente

    justificadas pelo agricultor ou tcnico de produo integrada que acompanha o pomar.

    As aplicaes ao solo de quelatos ou outras formulaes de micronutrientes, feitas directamente

    ou atravs da gua de rega, esto limitadas a situaes em que a anlise foliar e a anlise da

    terra assim o aconselhe.

  • Fertilizao

    35

    8.2.2 - Fertilizao de produo

    A fertilizao de produo dever assegurar ao pomar um adequado estado nutricional, de forma

    a possibilitar boas colheitas de fruta em quantidade e qualidade e, ao mesmo tempo, preservar o

    ambiente.

    A avaliao do estado de nutrio do pomar em produo efectuada anualmente atravs dos

    resultados da anlise foliar, cuja apreciao e interpretao feita com base nos valores de

    referncia que se apresentam no Quadro IX. Estes valores so expressos em relao matria

    seca a 100-105 C e referem-se a folhas adultas de ramos no frutferos com idade compreendida

    entre os 5 e os 7 meses.

    Para efeitos de recomendaes de fertilizao os teores foliares consideram-se insuficientes

    quando se situam abaixo dos intervalos de variao indicados e suficientes ou adequados se

    dentro dos referidos intervalos. Quando os teores foliares se encontrem acima do referido

    intervalo consideram-se elevados.

    As quantidades de fertilizantes a aplicar variam com a produo esperada e com o estado de

    fertilidade do solo, o qual directamente avaliado pela anlise da terra feita de quatro em quatro

    anos, e atravs da anlise foliar que indica se o solo est ou no a fornecer s rvores os diversos nutrientes nas quantidades mais adequadas.

    A produo esperada dever ser realisticamente estimada, tomando em linha de conta as

    produes anteriormente obtidas e as possibilidades concretas de proporcionar ao pomar os

    cuidados culturais apropriados, designadamente no que respeita rega e ao controlo eficaz de

    pragas, doenas e infestantes. Estes elementos constaro na ficha informativa anual do pomar

    tambm denominada ficha informativa para amostras de material vegetal, que deve acompanhar

    as amostras enviadas para anlise (Anexo V).

  • Fertilizao

    36

    Quadro VIII Nveis de macro e micronutrientes considerados adequados em folhas de abacateiro completamente desenvolvidas, ss, com 5 a 7 meses de idade, de ramos no frutferos. Valores referidos

    matria seca a 100105 C (Adaptado de Benton Jones Jr. et al.,1991).

    Nutrientes Nveis adequados Azoto (N, %) 1,60 2,20 Fsforo (P, %) 0,08 0,25 Potssio (K, %) 0,75 2,00 Clcio (Ca, %) 1,00 3,00 Magnsio (Mg, %) 0,25 0,80 Enxofre (S, %) 0,20 0,60 Sdio (Na, %) < 0,25 Cloro (Cl, %) < 0,25 Ferro (Fe, ppm) 50 200 Mangans (Mn, ppm) 30 250 Zinco (Zn, ppm) 30 100 Cobre (Cu, ppm) 5 15 Boro (B, ppm) 40 80 Molibdnio (Mo, ppm) 0,05 1,00

    A fertilizao do pomar, depois da sua entrada em produo, no 3 ou 4 anos e at as rvores

    atingirem o tamanho definitivo, dever ter em considerao no apenas as necessidades de

    nutrientes relativas produo de frutos mas, tambm, as referentes ao crescimento e formao

    das rvores. A partir da entrada em plena produo, que em funo da cultivar e condies

    culturais poder ocorrer entre o 6 e o 10 ano, a fertilizao a praticar visa, sobretudo, restituir ao

    pomar as quantidades de nutrientes que ele vai perdendo, em especial atravs das colheitas e

    ser orientada, fundamentalmente, pelos resultados da anlise foliar e pelas produes

    esperadas.

    No Quadro IX figuram as quantidades de nutrientes que se recomendam aps a entrada em plena

    produo.

    Quadro IX - Recomendaes de fertilizao para pomares de abacateiro em produo integrada, expressa em kg/ha de N, P2O5, K2O e Mg, com base na composio foliar e na produo esperada (t/ha).

    Azoto (N, kg/ha)

    Produo esperada

    (t/ha) Insuficiente Suficiente Elevado

    Fsforo (P2O5, kg/ha) Suficiente

    Potssio (K2O, kg/ha) Suficiente

    Magnsio (Mg, kg/ha) Suficiente

    < 4 50 0 35 0 - 20 0 10 0 40 5 4 10 50 120 35 90 0 - 40 10 25 40 100 10

    10 15 120 150 90 120 0 - 50 25 40 100 150 20 > 15 150 180 120 150 0 - 60 40 50 150 200 30

    No caso do azoto, sempre que os teores foliares se manifestarem insuficientes, recomenda-se

    que seja feita uma avaliao da adequao das restantes prticas culturais utilizadas,

    particularmente as que interferem com a nutrio azotada das rvores. de ter presente que a

  • Fertilizao

    37

    instalao de um coberto vegetal permanente pode implicar uma aplicao complementar para a

    sua manuteno, particularmente se se tratar de um coberto base de gramneas.

    Sempre que o teor foliar de magnsio se manifeste insuficiente, poder aplicar-se at ao dobro da

    quantidade do nutriente recomendada, para o mesmo nvel de produo esperada; se os nveis

    foliares se apresentarem elevados, poder aplicar-se at metade da quantidade recomendada no

    mesmo quadro, para o mesmo nvel de produo esperada.

    As quantidades de nutrientes indicadas podero ser ajustadas para mais ou para menos

    consoante os valores da anlise foliar se situar abaixo ou acima da gama de teores considerada

    adequada ou a quantidade e qualidade da produo anterior bem como os resultados da ltima

    anlise de terra assim o aconselhar.

    A fertilizao com fsforo, potssio e magnsio deve ser ponderada com o estado de fertilidade do solo, considerando para o potssio a sua textura e para o fsforo o teor de calcrio total, de acordo com os valores apresentados nos Quadros XI e XII. Quanto ao magnsio, dever-se- ter em ateno o teor de potssio assimilvel do solo (Quadro V) de forma a que, sempre que este seja alto (ao contrrio do de magnsio), se aplique sempre um

    reforo at 15 a 20 kg de Mg por hectare, especialmente quando o porta-enxerto utilizado seja

    sensvel carncia deste nutriente.

    As quantidades mximas de azoto permitidas, por hectare, nas aplicaes anuais, no devero ultrapassar, para o nvel mais elevado de produo considerado, as 180 Unidades.

    Localmente o agricultor ou o tcnico responsvel que acompanha o pomar, poder ainda fazer

    alguns ajustamentos s fertilizaes recomendadas pelos laboratrios de anlise (que devero ter

    presente os limites estabelecidos no presente documento), tendo em considerao a cultivar, o

    tipo de solo e a resposta havida no ano anterior fertilizao efectuada. Eventuais ajustamentos

    devero ser devidamente justificados, no caderno de campo.

    Na fertilizao dos pomares, o azoto o elemento fertilizante cujos efeitos so mais notrios, no

    apenas no vigor vegetativo das rvores mas, tambm, na quantidade e qualidade das produes.

    , tambm, de entre todos os nutrientes, aquele que mais facilmente poder originar a poluio

    das guas.

    A fertilizao azotada dever, por isso, merecer um especial cuidado, no s no que respeita s

    quantidades a aplicar, que devem ser apenas as estritamente necessrias, mas tambm no

    tocante s pocas de aplicao, que devero ser aquelas que conduzam a um melhor

    aproveitamento do azoto pelas rvores.

    s doses de azoto recomendadas no Quadro IX devem deduzir-se as quantidades deste nutriente

    veiculadas pela gua de rega, bem como as quantidades fornecidas pela matria orgnica do

    solo.

  • Fertilizao

    38

    Quadro X Factores de correco para a fertilizao fosfatada de acordo com a anlise foliar e algumas caractersticas do solo do pomar. (Adaptado de Legaz & Primo, 1998).

    % de calcrio total do solo < 2 2 - 20 > 20

    Teor de fsforo assimilvel do

    solo Teor foliar de

    fsforo Multiplicar a quantidade de P2O5 recomendada por:

    Insuficiente 1,8 2,0 2,2 Muito baixo Suficiente 1,6 1,8 2,0

    Insuficiente 1,6 1,8 2,0 Baixo

    Suficiente 1,4 1,6 1,8 Insuficiente 1,2 1,3 1,4 Suficiente 1,0 1,1 1,2 Mdio Elevado 0,8 0,9 1,0

    Insuficiente (a) 0,8 0,9 1,0 Suficiente 0,6 0,5 0,6 Alto

    Elevado No aplicar fsforo Suficiente 0,2 0,3 0,4

    Muito alto Elevado No aplicar fsforo

    (a) Ter em devida conta a quantidade de azoto aplicada e o seu teor foliar.

    Quadro XI Factores de correco para a fertilizao potssica de acordo com a anlise foliar e algumas caractersticas do solo do pomar (Adaptado de Legaz & Primo).

    Textura do solo Grosseira Mdia Fina

    Teor de potssio assimilvel do

    solo Teor foliar de

    potssio Multiplicar a quantidade de K2O recomendada por:

    Insuficiente 1,8 1,9 2,0 Muito baixo Suficiente 1,6 1,7 1,8

    Insuficiente 1,4 1,5 1,6 Baixo

    Suficiente 1,3 1,4 1,5 Insuficiente 1,2 1,3 1,4 Suficiente 1,0 1,0 1,0 Mdio Elevado 0,5 0,6 0,7

    Insuficiente (a) 1,0 1,1 1,2 Suficiente No aplicar potssio 0,1 0,2 Alto

    Elevado No aplicar potssio Suficiente

    Muito alto Elevado

    No aplicar potssio

    (a) Ter em devida conta a produo, bem como o teor de potssio de troca no solo.

    A quantidade de azoto fornecida pela gua de rega sob a forma de nitratos pode ser calculada

    pela seguinte expresso:

    N = 0,000226 x T x V x F

    em que:

  • Fertilizao

    39

    N: a quantidade de azoto expressa em kg/ha.

    T: o teor mdio de nitratos da gua de rega, em ppm ou em mg/l.

    V: o volume total de gua utilizada na rega do pomar, em m3/ha.

    F: um factor que depende da eficincia da rega e ser igual unidade se no houver quaisquer perdas de gua; em rega localizada um valor de 0,90 0,95 considerado bom.

    A quantidade de azoto disponibilizada pelo solo, atravs da mineralizao da matria orgnica durante o ano, pode estimar-se em 35, 25 e 20 kg/ha de azoto por cada unidade percentual de

    matria orgnica do solo na camada de 0-50 cm, conforme a textura seja grosseira, mdia ou fina,

    respectivamente. Recomenda-se, no entanto, que para efeito do clculo da quantidade de azoto a deduzir fertilizao a efectuar, apenas se considere o teor de matria orgnica do solo acima

    de 1,5 %.

    Independentemente das dedues a efectuar fertilizao azotada, devidas s quantidades do

    nutriente veiculadas pela gua de rega ou disponibilizadas pela matria orgnica do solo, pode

    aplicar-se, anualmente, at 10 ou 30 kg/ha de azoto (N) sob a forma de adubo mineral,

    respectivamente nos pomares em formao e em produo.

    No que respeita forma de aplicao, os fertilizantes devem ser aplicados ao solo. S em casos

    especiais se justifica a aplicao de nutrientes por via foliar, como no caso de ocorrncia de

    carncias minerais, devidamente diagnosticadas em pomares instalados em terrenos cujas

    caractersticas restringem a eficcia da aplicao de certos fertilizantes quando aplicados ao solo.

    As pulverizaes foliares com solues nutritivas adequadas sero a via mais rpida para corrigir

    tais carncias.

    As aplicaes ao solo de quelatos ou outras formulaes de micronutrientes esto limitadas a

    situaes em que a anlise foliar ou a observao visual (confirmada por aquela) feita pelo

    agricultor ou pelo tcnico de produo integrada que acompanha o pomar assim o aconselhe.

    Como j anteriormente se referiu, a matria orgnica do solo desempenha um papel muito

    importante na sua fertilidade e na produtividade do pomar. Recomenda-se, por isso, que nos pomares em produo se proceda periodicamente, sempre que a anlise de terra o recomende,

    aplicao ao solo de correctivos orgnicos de boa qualidade razo de 20 a 30 t/ha, de dois em

    dois ou de trs em trs anos, respectivamente. Sempre que tal acontecer, haver que entrar em

    linha de conta, no plano de fertilizao, com o azoto, fsforo e potssio fornecidos por estes

    correctivos no ano da sua aplicao.

  • Fertilizao

    40

    8.2.2.1 - Aplicao dos fertilizantes

    O azoto dever ser aplicado de forma fraccionada em trs ou quatro aplicaes. A primeira aplicao pode ser efectuada na Primavera, em Abril, em doses muito moderadas, de forma a

    evitar um desenvolvimento vegetativo excessivo que iria afectar negativamente a produo. So,

    assim, de evitar aplicaes durante a florao e o vingamento dos frutos, especialmente na

    variedade Fuerte. Aps a queda dos frutos de Primavera, pode reforar-se a aplicao do azoto

    que poder ocorrer at ao princpio do Outono (Outubro), dependendo a relevncia da aplicao

    neste perodo dos resultados da anlise foliar.

    No caso do fsforo, se houver lugar correco dos seus teores no solo, as aplicaes devero ser efectuadas no fim do Inverno, quando o estado de humidade do solo o permitir, incorporando o

    adubo no terreno com a mobilizao adequada.

    As aplicaes de potssio e de magnsio, sempre que recomendadas, devero ser realizadas simultaneamente com as de fsforo. No entanto, dada a relativa mobilidade do potssio em solos

    de textura ligeira, geralmente de baixa capacidade de troca catinica (correspondendo

    sensivelmente a solos de textura arenosa e areno-franca), de aconselhar que, nestes solos, o

    nutriente seja aplicado no final do Inverno, incio da Primavera, juntamente com o azoto. Em solos

    de textura mdia ou fina, o fsforo e o potssio podem ser aplicados de forma localizada. Neste

    caso, recomendvel que a aplicao destes nutrientes seja feita de trs em trs ou de quatro em quatro anos, aplicando de cada vez as quantidades suficientes para aquele perodo. Estas

    aplicaes localizadas devero ser efectuadas em linhas alternadas, de forma a diminuir o efeito

    negativo dos danos causados pela mobilizao do solo no sistema radicular que, no abacateiro,

    relativamente superficial.

    Em pomares em que a possibilidade de infeco com o fungo P. cinnamomi seja elevada, de

    avaliar o risco de infeco que as aplicaes localizadas dos nutrientes podem induzir, no s

    pelas leses no sistema radicular, mas tambm pela concentrao e o tipo de adubos utilizados

    que, sendo rico em sais (ex. cloreto de potssio), podem ampliar os riscos de eventuais infeces.

    A necessidade de aplicao de um ou mais micronutrientes (mangans, zinco ou boro) em

    pomares instalados em solos alcalinos, pode recomendar a sua aplicao por via foliar, aplicao

    essa que dever ter lugar, dominantemente, na Primavera. Nesse caso a necessidade de

    aplicao dever ser anual.

    Quando a fertilizao seja realizada em conjunto com operaes de rega, esta deve ter em conta

    as necessidades de gua da cultura, de modo a minimizar as perdas de gua e dos nutrientes

    veiculados atravs da mesma, assegurando tambm que o sistema de captao da gua de rega

    esteja equipado com uma vlvula anti-refluxo, de preferncia associada a uma vlvula de

    seccionamento, de modo a evitar a contaminao das captaes de gua.

  • Fertilizao

    41

    8.2.3 - Casos especiais

    Sempre que se observem sintomas de qualquer desequilbrio nutricional, confirmado pela anlise

    foliar, admite-se que a aplicao de um ou mais nutrientes possa ser efectuada fora das pocas

    indicadas, nomeadamente por via foliar, a fim de se assegurar uma mais rpida correco de tal

    desequilbrio.

    8.3 - Colheita de amostras e determinaes a requerer

    As determinaes analticas a efectuar em todos os tipos de materiais considerados neste

    documento devero ser executadas em laboratrios devidamente habilitados para o efeito. Os

    boletins de anlise devero conter, para alm da identificao do laboratrio, a indicao dos

    mtodos utilizados.

    8.3.1 - Antes da instalao do pomar

    8.3.1.1 - Amostras de terra

    A colheita de amostras de terra e a respectiva anlise devero ser efectuadas em tempo til, de

    modo a permitir que as operaes culturais a efectuar no terreno e a seleco do porta-enxerto

    sejam feitas de acordo com o parecer tcnico emitido, com base nos resultados da observao do

    perfil do solo e nos resultados da anlise da terra.

    Se o terreno no for uniforme, dever ser dividido em fraces (parcelas) relativamente homogneas no que respeita cor, textura, declive, drenagem, ltimas culturas realizadas, etc. Em cada fraco ser colhida uma amostra de terra. Recomenda-se que cada parcela homognea no possua uma rea superior a 5 hectares.

    Para proceder colheita da amostra de terra, deve percorrer-se em zig-zag cada uma das

    fraces definidas, colhendo, ao acaso, em pelo menos 15 pontos diferentes, sub-amostras de

    terra. Recomenda-se que estas sejam amostradas a duas profundidades: 0 a 20 cm e 20 a 50 cm, que sero colocadas em baldes distintos. Porm, apenas obrigatria a colheita, por parcela homognea, de uma amostra correspondente camada de 0-50 cm de profundidade. Devem

    colher-se tantas amostras de terra quantas as parcelas consideradas. As infestantes, pedras e

    outros detritos superfcie do terreno devem ser removidos antes de colher cada sub-amostra no

    ponto em que se introduz a sonda ou se abre a cova para a colheita da terra.

    As sub-amostras colhidas em cada parcela misturam-se bem. Toma-se uma amostra de cerca de

    0,5 kg depois de se retirar pedras, detritos e resduos vegetais e coloca-se num saco de plstico

    limpo, devidamente identificado com duas etiquetas, uma colocada dentro do saco e outra, por

    fora, atada a este com um cordel. A amostra encontra-se, ento, pronta para ser enviada ao

  • Fertilizao

    42

    laboratrio. Quando se disponha de sacos apropriados para amostras de terra, dispensam-se as

    etiquetas e o cordel.

    Devem ser evitadas as colheitas de terra em locais encharcados, prximos de caminhos, de

    habitaes, de estbulos ou que anteriormente tenham sido ocupados com montes de estrume,

    adubos, cinzas ou outros produtos.

    As determinaes a solicitar devero ser obrigatoriamente as seguintes:

    o anlise granulomtrica;

    o pH (H2O);

    o calcrio total e calcrio activo, se a pesquisa de carbonatos for positiva;

    o matria orgnica;

    o fsforo, potssio, magnsio, mangans, zinco, cobre e boro assimilveis ou extraveis;

    o bases de troca e capacidade de troca catinica.

    Em parcelas que tenham sido ocupadas num passado recente por culturas regadas, aconselhvel a determinao da condutividade elctrica.

    Sempre que se apliquem fertilizantes orgnicos em cuja composio existam potencialmente

    quantidades significativas de metais pesados obrigatria a determinao dos teores totais de cdmio, chumbo, cobre, crmio, mercrio, nquel e zinco.

    A amostra de terra para anlise dever ser acompanhada de uma ficha informativa idntica que

    se apresenta no Anexo