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SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO BÁSICA SUDEB DIRETORIA DE CURRÍCULOS ESPECIAIS DIREP COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO INTEGRAL CEDI PROGRAMA DE EDUCAÇÃO INTEGRAL - ProEI: DA AMPLIAÇÃO DOS ESPAÇOS, TEMPOS E OPORTUNIDADES EDUCATIVAS NA FORMAÇÃO ESCOLAR À FORMAÇÃO HUMANA INTEGRAL Programa de Educação Integral com ampliação da jornada escolar para o Ensino Fundamental II e o Ensino Médio da Rede Estadual da Bahia. (VERSÃO PRELIMINAR) SALVADOR Janeiro, 2014

Proei Versao Preliminar 1

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PROEI

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  • SUPERINTENDNCIA DA EDUCAO BSICA SUDEB DIRETORIA DE CURRCULOS ESPECIAIS DIREP

    COORDENAO DE EDUCAO INTEGRAL CEDI

    PROGRAMA DE EDUCAO INTEGRAL - ProEI: DA AMPLIAO DOS ESPAOS, TEMPOS E

    OPORTUNIDADES EDUCATIVAS NA FORMAO

    ESCOLAR FORMAO HUMANA INTEGRAL

    Programa de Educao Integral com ampliao da

    jornada escolar para o Ensino Fundamental II e o Ensino

    Mdio da Rede Estadual da Bahia.

    (VERSO PRELIMINAR)

    SALVADOR Janeiro, 2014

  • GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

    JAQUES WAGNER

    SECRETARIA DA EDUCAO

    OSVALDO BARRETO FILHO

    SUPERINTENDNCIA DE DESENVOLVIMENTO

    DA EDUCAO BSICA

    AMLIA TEREZA SANTA ROSA MARAUX

    DIRETORIA DE CURRCULOS ESPECIAIS

    GILSON ALVES LIMA

    COORDENAO DA EDUCAO INTEGRAL

    ANALDINO PINHEIRO SILVA FILHO

    EQUIPE DE ELABORAO

    ANAIDE MARIA BRAGA DA LUZ

    ANALDINO PINHEIRO SILVA FILHO

    ANA MARIA DAS VIRGENS TRIGO

    ANA ARAJO DE VASCONCELOS

    ANDREIA LISBOA DE SOUSA

    BRBARA ANDRADE PEPE DE OLIVEIRA

    CARLA SOUSA FAGUNDES

    CLUDIO DE AGUIAR

    FELIPE GUEDES SANTOS

    GRIMALDO BONFIM

    HAECKEL PATRIARCHA DOS SANTOS

    NAURA SILVEIRA PAES

    NOLIA MARCELINA FELIX

    RITA MARIA DURO DE MELO

  • APRESENTAO

    O Programa de Educao Integral ProEI uma das estratgias da

    Secretaria da Educao do Estado, no mbito dos 10 Compromissos para

    Fortalecer a Escola Pblica na Bahia, do Programa Todos pela Escola, visando

    consolidar a poltica da Educao Integral para o Ensino Fundamental II e para

    o Ensino Mdio da Rede Estadual, a partir da ampliao dos espaos e tempos

    de formao dos estudantes na escola

    O ProEI procura efetivar a integralizao dos diversos programas

    indutores da Educao Integral e a sinergia de suas aes com vistas

    melhoria da qualidade do ensino nas escolas da rede estadual. Esta proposta

    procura garantir o direito educao e ao aprender das crianas, dos

    adolescentes e dos jovens baianos, ressignificando a importncia social e

    institucional da escola na formao plena dos cidados. Seu principal objetivo

    o de contribuir para a formao do sujeito na sua integralidade e para sua

    emancipao humana e social.

    Alm de promover reflexes sobre vrios aspectos que caracterizam o

    cenrio da educao na Bahia, este Programa sistematiza ideias, concepes

    e perspectivas acerca da Educao Integral, alm de constituir um documento-

    referncia que estabelece marcos legais, diretrizes curriculares, pressupostos

    pedaggicos e princpios operacionais para o desenvolvimento do Programa da

    Educao Integral da SEC nas escolas da rede estadual, tendo como horizonte

    os sujeitos sociais que compe o sistema pblico de ensino.

    Dada a natureza dinmica e democrtica da prxis educativa, o ProEI

    tambm se constitui como um plano aberto e fomentador do debate acerca da

    Educao Integral, sinalizando como necessria participao ativa dos

    estudantes, dos professores e da comunidade baiana em geral nessa

    construo.

  • SUMRIO

    1. Introduo 1.1 O Programa de Educao Integral para a escola pblica baiana: Marcos legais 2. Educao Integral na Bahia: bases conceituais 2.1 Educao Integral: de que educao estamos falando? 3. O Programa da Educao Integral - ProEI: diretrizes operacionais 3.1 Objetivos 3.2 Metas 3.3 A intra e intersetorialidade: integrao necessria 3.4 A Proposta Curricular 3.5 A Proposta Pedaggica 3.6 A Formao dos Profissionais da Educao Integral 3.7 Articulao com outros Programas e Projetos 3.8 Acompanhamento, Avaliao e Interveno 4. Consideraes Finais 5. Referncias 6. Anexos 6.1 Portaria do Programa da Educao Integral (ProEI) 6.2 Estrutura Organizacional 6.3 Competncias e Atribuies: Setores e Sujeitos envolvidos 6.4 Termo de Compromisso das Unidades de Ensino 6.5 Termo de Compromisso do Professor Articulador 6.6 Ficha de Cadastro da Unidade Escolar 6.7 Ficha de Cadastro do Professor Articulador 6.8 Matrizes Curriculares e Ementrios 6.9 Programas Indutores da Educao Integral 6.10 Estrutura do Plano de Curso 6.11 Estrutura do Plano de Aula 6.12 Mapa da Escola 6.13 Projeto de Vida do Estudante 6.14 Programa de Formao Continuada em Servio 6.15 Implantao/Implementao do ProEI: Orientaes Gerais

  • 5

    1. INTRODUO

    O debate sobre Educao Integral no recente. Essa discusso j

    perpassava as ideias do educador baiano Ansio Teixeira, desde os anos 30.

    No entanto, no decnio dos 90, a temtica da Educao Integral veio ganhando

    fora legal a partir da promulgao de uma legislao que estabelece como

    direito uma educao para o pleno desenvolvimento do sujeito e a sua relao

    com a ampliao da jornada escolar.

    Dentre alguns preceitos legais, destacam-se os artigos 205, 206 e 227

    da Constituio Federal,

    Art. 205. A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho.

    Art. 206. O ensino ser ministrado com base nos seguintes

    princpios: I - igualdade de condies para o acesso e permanncia na

    escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o

    pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepes pedaggicas, e

    coexistncia de instituies pblicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino pblico em estabelecimentos

    oficiais. Art. 227. dever da famlia, da sociedade e do Estado

    assegurar criana, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso. (Redao dada Pela Emenda Constitucional n 65, de 2010) (BRASIL, 1988).

    O artigo 34 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional -

    LDBN/1996,

    Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluir pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o perodo de permanncia na escola (BRASIL, 1996).

  • 6

    E o artigo 21, do Plano Nacional de Educao Lei n 10.179/01:

    Art. 21. Ampliar, progressivamente a jornada escolar visando expandir a escola de tempo integral, que abranja um perodo de pelo menos sete horas dirias, com previso de professores e funcionrios em nmero suficiente (BRASIL, 2001).

    Alm desses marcos jurdicos, a temtica da Educao Integral tambm

    tem sido citada em estatutos e leis especficas como no Estatuto da Criana e

    do Adolescente (Lei n 9089/1990) e no Fundo Nacional de Manuteno e

    Desenvolvimento do Ensino Bsico e de Valorizao do Magistrio, Lei n

    11.494/2007, que instituiu o FUNDEB, determina e regulamenta a educao

    bsica em tempo integral nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental

    (art.10, 3), indicando que a legislao decorrente dever normatizar essa

    oferta educacional.

    Todos essas diretrizes apontam na direo de um tipo de educao

    voltada para o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio

    da cidadania e sua qualificao para o trabalho.

    Desde ento, tem sido grande o movimento, sobretudo no campo das

    polticas educacionais para criao de propostas que atendam ao que tem

    preconizado, a legislao educacional brasileira sobre a Educao Integral.

    No entanto, se por um lado, observa-se como a legislao brasileira vem

    apontando e ampliando suas diretrizes para uma proposta de Educao

    Integral no sistema educacional nacional, por outro lado, percebe-se que, como

    o assunto ainda tratado pontual, superficial e sucintamente na supracitada

    legislao, vrios fatores tm sido considerados para balizar a criao de um

    Programa de Educao Integral para a educao no Brasil. Fatores como as

    rpidas transformaes sociais e a complexidade da vida moderna, os graves

    problemas da educao brasileira, a trgica realidade social vivenciada por

    grande parte dos adolescentes e jovens, os insatisfatrios ndices de

    aprendizagem e desempenho dos estudantes apontados pelas avaliaes

    externas, entre tantos outros, tm sido associados a necessidade da

    implantao de uma proposta de Educao integral.

  • 7

    Nesse contexto, mister arvorarem-se as seguintes questes:

    Por que um programa de Educao Integral para o setor

    educacional da Bahia?

    Que Educao Integral se faz necessria para o Sistema de

    Ensino Pblico Estadual?

    Nesse vis, Moll (2009, p.27 e 28), afirma que:

    Instituir o debate para construir uma proposta de Educao Integral, representa o convite para a criao de estratgias que assegurem, s crianas, aos adolescentes e aos jovens, o acesso aos veculos de comunicao, o domnio de diferentes linguagens, a prtica da leitura, a crtica e, principalmente, a produo de comunicao como instrumento de participao democrtica.

    Moll (2007, p. 139) ainda evidencia:

    O debate acerca da Educao Integral requer o alargamento da viso sobre a instituio escolar, de tal modo que a abertura para o dilogo possa ser tambm expresso do reconhecimento de que a escola compe uma rede de espaos sociais (institucionais e no institucionais) que constri comportamentos, juzos de valor, saberes e formas de ser e estar no mundo.

    Finalmente, os questionamentos supra representam verdadeiras

    bssolas que apontam direes e caminhos para que no percamos de vista os

    aspectos histricos, scio-polticos, legais e conceituais para a formulao de

    uma poltica de Educao Integral na Bahia, bem como acenam sobre os

    fatores que tambm esto imbricados e que so relevantes no processo de

    construo de qualquer projeto que tenha como horizonte a formao de

    sujeitos sociais.

  • 8

    1.1 O Programa de Educao Integral para a escola pblica baiana: Marcos legais

    Especialmente nos ltimos anos, a implementao da Educao Integral no Sistema Formal de Ensino Brasileiro expressou-se por meio da promulgao de legislao especfica. No entanto, ainda h um longo caminho a ser percorrido at se transformar o legal em real, ou, como diria o poeta, para se transformar a inteno em gesto (BRASIL, 2009).

    O Governo da Bahia com o objetivo de garantir o direito educao e

    aprendizagem aos cidados baianos, vem criando aes em todas as etapas,

    nveis e modalidades educacionais, consolidando sua poltica de fortalecimento

    da Educao Bsica de modo a garantir uma educao de qualidade, com

    qualidade na educao, para todos os estudantes da escola pblica baiana.

    No mbito do Programa todos pela Escola1, o Governo definiu 10

    Compromissos para Fortalecer a Escola Pbica na Bahia, sendo que, para

    cada um deles, aes e projetos esto sendo desenvolvidos nas escolas tendo

    como foco garantir aos estudantes o direito de aprender.

    No escopo dos 10 Compromissos, ampliar o acesso Educao

    Integral objetivo tratado diretamente na dimenso do Compromisso 3, com

    metas e aes voltadas para a consolidao da Educao Integral com

    ampliao dos espaos e tempos de permanncia dos estudantes na

    escola. Alm disso, indiretamente, a temtica da Educao Integral tambm

    encontra-se imbricada em outros Compromissos do Programa2.

    O ProEI funda as suas bases legais na Portaria N 249/2014 (anexo 6.1,

    p. 50-52) que dispe sobre a sua implantao, sua organizao e o seu

    funcionamento com o objetivo promover um processo de desenvolvimento

    humano e social emancipatrio, atravs da ampliao dos espaos, tempos e

    oportunidades de aprendizagens, com a diversificao do universo de

    1 O Programa Todos Pela Escola conta com a adeso das prefeituras, a colaborao dos gestores, educadores e a parceria com as famlias. 2 Os Compromissos 2 (Fortalecer a incluso educacional), 4 (Combater a repetncia e o abandono), 6 (Valorizar os profissionais da educao), 8 (Inovar e diversificar os currculos escolares), 9 (Estimular as inovaes e os estmulos das tecnologias) e o 10 (Garantir o desenvolvimento dos jovens para uma insero na vida social e no mundo do trabalho) apontam, diretamente, para uma proposta de promoo da Educao Integral em todo o Estado.

  • 9

    experincias educativas, articulada com as diversas reas do conhecimento e

    as mais variadas formas de aprendizagens.

    O ProEI tambm respalda seus preceitos nas diretrizes da Portaria N

    1.128/2010, publicada no Dirio Oficial da Bahia no dia 28 de janeiro de 2012,

    que estabelece Escola de Tempo Integral como um dos projetos referendados

    pela Secretaria da Educao e institui a reorganizao curricular das escolas

    da Rede Estadual, tendo como foco as aprendizagens prioritrias da Base

    Nacional Comum integradas Parte Diversificada de forma complementar, de

    modo a constituir o currculo referenciado da Educao Bsica3.

    No mbito das diretrizes nacionais, o ProEI orienta-se na Resoluo N

    7, de 14 de dezembro de 2010 que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais

    para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos4 e na Resoluo N 2 de 30 de

    janeiro de 2012 que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino

    Mdio.

    A nvel estadual, o documento-referncia Orientaes Curriculares e

    Subsdios Didticos para a Organizao do Trabalho Pedaggico no Ensino

    Fundamental de Nove Anos e as Orientaes Curriculares para o Ensino

    Mdio, ambos organizados pela Secretaria da Educao do Estado da Bahia

    em 2013, tambm se constituem em importantes linhas guias para elaborao

    da estrutura curricular do ProEI.

    Cabe ressaltar que o ProEI relaciona seus fundamentos, seus princpios

    e sua proposta curricular s diretrizes das referidas legislaes brasileiras, mas

    tem como referncia as caractersticas histricas, culturais e poltico-sociais da

    escola pblica baiana e dos sujeitos que a frequentam, bem como dos

    aspectos geogrficos e ecolgicos onde vivem.

    Desse modo, este Programa vem sendo conduzido junto a promulgao

    de diretrizes especficas, nacionais e estaduais, para construo de um lastro

    poltico que, conforme a epgrafe acima, seja legal o suficiente para orientar a

    intencionalidade de uma poltica educacional com o foco na melhoria da

    qualidade do sistema pblico de ensino e real o bastante para dar sentido s

    aes desenvolvidas nas escolas, tendo em vista s necessidades reais dos

    3 Mais informaes, consultar a Portaria N 1.128/2010, publicada no Dirio Oficial no dia 28 de janeiro de 2012. 4 Resoluo CNE/CEB 7/2010. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 15 de dezembro de 2010, Seo 1, p. 34.

  • 10

    sujeitos sociais que compem o universo escolar da escola pblica, gratuita

    baiana.

    Finalmente, os marcos fundantes do ProEI vem assegurar o deferimento

    de um programa de natureza poltico-pedaggico-social, cujas aes esto

    voltadas para promover o fortalecimento da escola pblica, gratuita e de

    qualidade; uma nova organizao dos tempos e espaos da escola, com vistas

    ampliar as oportunidades de aprendizagens; a formao integral dos sujeitos

    e o desenvolvimento de um currculo integrado.

  • 11

    2. Educao Integral na Bahia: bases conceituais

    O debate acerca da Educao Integral no recente, mas ainda

    encontra-se aberto e apresenta um amplo espetro de concepes. No bojo das

    discusses, vrias perspectivas vm se abrindo na tentativa de d um

    verdadeiro sentido e significado ao que tem se convencionado chamar de

    Educao Integral.

    No entanto, a natureza polifnica desse debate tambm tem contribudo

    para a constituio de um polissmico guarda-chuva de ideias e de conceitos,

    os quais tm associado temtica da educao integral a tantos outros temas

    de diversas naturezas: a conquista de qualidade social da educao, a

    proteo e o desenvolvimento integral; o baixo desempenho escolar de nossos

    alunos (na aposta que mais tempo de escola aumenta a aprendizagem); o

    necessrio complemento socioeducativo escola, pela insero de outros

    projetos, advindos da poltica de assistncia social, cultural, desportiva; uma

    forma de alavancar os resultados que se esperam das aprendizagens dos

    estudantes entre tantos outros, tm sido associados s perspectivas de uma

    necessria Educao Integral.

    Nesse contexto, vrios rgos e instituies sociais tm se projetado

    para a escola na tentativa de firmar uma poltica de fortalecimento escolar

    voltada para a melhoria do sistema educativo. Porm, no podemos perder de

    vista que a temtica da Educao integral tambm carrega outros elementos

    sociais que se deslocam e transitam no campo ideolgico, poltico e cultural na

    sociedade contempornea.

    Mas, a final, o que queremos dizer quando falamos de Educao

    Integral?

    Sendo assim, acreditamos que mister constituir um Programa de

    Educao Integral com a devida clareza, fundado em bases conceituais,

    polticas e sociais que considerem os sujeitos sociais que compe o sistema

    pblico de ensino da Bahia, tendo em vista que a escola pblica cumpra o seu

    papel de formar cidados crticos, polticos, em sua totalidade e com a devida

    efetividade, eficincia e eficcia.

  • 12

    2.1 Educao Integral: de que educao estamos falando?

    No campo das discusses sobre Educao Integral, fundamental

    termos conscincia do sentido, do papel e do lugar da educao no

    desenvolvimento do ser humano enquanto sujeito scio-historicamente situado.

    necessrio no perdermos de vista os fios filosficos, epistemolgicos,

    histricos e poltico-sociais que compe a tecitura do campo educacional, bem

    como a funo social da escola, sobretudo quando tratamos da educao

    pblica no Brasil.

    Educao5, etimologicamente, possui dois significados cognatos

    educare e educere ambos provenientes da raiz latina dux, que significa

    condutor, guia (colocar referncia). Enquanto educare significa criar, nutrir e

    fazer crescer, educere quer dizer conduzir para fora, fazer sair, extrair (colocar

    referncia). Ambos os termos, dimensionam a amplitude semntica da palavra

    educao, suas relaes e o significado lato do termo.

    No campo semntico do educare, a educao ganha o sentido de um

    processo de desenvolvimento humano, motivado por fatores extrnsecos ao

    indivduo que se pretende formar. Fatores que possibilitam a transmisso de

    conhecimentos e informaes, visando o desenvolvimento do indivduo ao

    longo de sua existncia. Por exemplo, a instruo cognitiva, transmitida pela

    escola e considerada por muitos um dos principais objetivos educacionais,

    retrata o sentido desse vis semntico que se projeta para o sujeito com o

    intuito de form-lo, de faz-lo crescer a partir de um processo de formatao.

    O cognato educere traz sentido educao enquanto um processo de

    desenvolvimento humano intrnseco ao sujeito em formao, na medida que o

    processo educativo significa um processo de fazer sair, extrair, conduzir

    para fora. Ou seja, educar tem o sentido de potencializar o que est latente no

    indivduo e que capaz de se desenvolver quando se encontra em condies

    favorveis para isso.

    Assim, educar relaciona-se tanto com o educare quanto com o educere.

    Ambos os termos, contribuem para dar um sentido lato ao ato educativo. Se

    concebemos educao apenas pela tica do educare, corre o risco de

    5 Segundo o dicionrio Houaiss (2004), educao significa um processo para o desenvolvimento fsico, intelectual e moral de um ser humano.

  • 13

    estarmos privilegiando um processo de formatao do sujeito, em detrimento

    de um processo de formao. Um processo educacional que vai privilegiar o

    assujeitamento do sujeito para um mundo globalizado, sem lev-lo a refletir

    sobre os contextos histricos e poltico-sociais que subjazem as relaes

    sociais, e, muito menos, sobre o seu processo de insero nesse mundo.

    Desse modo, a educao no seu sentido lato e etimolgico significa um

    processo formativo multilateral, medida que aponta para os fatores que vem

    de fora e os que vem de dentro e, tambm, multidimensional porque, nessa

    perspectiva, diz respeito aos aspectos exgenos e endgenos a que perpassa

    a vida do sujeito biopsicossocial.

    Outrossim, os fios conceituais e etimolgicos de uma educao que se

    defina multilateral e multidimensional constituem apenas alguns elementos

    de uma conjuntura maior, multifatorial, configurada tambm pelos aspectos

    humanos, histricos, culturais, polticos e sociais inerentes aos sujeitos

    envoltos na prxis6 educativa. Um processo de desenvolvimento humano que

    se realiza no dilogo, na responsabilidade, na incerteza, nas interpretaes dos

    sujeitos do ensino e da aprendizagem.

    Nessa direo, ancoramos o lastro conceitual de uma educao no seu

    sentido mais amplo, enquanto prtica social, de natureza integral, integrada e

    integradora. Um processo de desenvolvimento humano e social, plural, que

    considera a multilateralidade7, a multidimensionalidade8 e a multifatorialidade9

    que configura a vida do sujeito, corroborando para a formao de uma pessoa

    crtica e autnoma do processo de mudana e transformao da realidade

    sociocultural, econmica e poltica na qual est inserida.

    oportuno salientar que entendemos que o pensamento crtico um

    pensamento embebecido de um conjunto de conhecimentos que possibilitam

    ao sujeito refletir e questionar sobre dada realidade ou fenmeno. Para ns,

    pensar criticamente operar uma competncia reflexiva e questionadora sobre

    a realidade scio-poltica que configura a sociedade e suas relaes sociais.

    6 Fundamentamos a compreenso de prxis sobre a perspectiva de Vzquez (2011). O autor situa a prxis no como uma mera atividade na dimenso da conscincia humana, mas como uma atividade real, objetiva, material do homem social prtico, no apenas para interpretar uma realidade, mas para transform-la. 7 Envolve os aspectos voltados para produo heteronomia e/ou autonomia. 8 Diz respeito aos aspectos voltados para a dimenso psicolgica, cognitiva, fsica, cultural, espiritual etc. 9 Considera os fatores histricos, polticos e sociais que configuram a comunidade na qual o sujeito est inserido.

  • 14

    A Educao Integral no se circunscreve apenas nas necessidades

    cognitivas do indivduo, mas tambm para os aspectos intelectuais, da

    moralidade, da tica, da sociabilidade do sujeito, do biolgico-corporal, do

    afetivo. Por isso, compreendemos que a prtica educativa tem a dimenso da

    prxis medida que pretende formar objetivamente o sujeito scio-

    historicamente situado na sua totalidade e considerando suas mltiplas

    relaes, dimenses e saberes.

    prxis educativa global que compreende o sujeito como ser

    multidimensional e que opera com todas as suas dimenses integradamente,

    visando formao e o desenvolvimento humano global e de modo a

    responder a multiplicidade de exigncias do prprio indivduo e do contexto

    social em que vive.

    Nas palavras de Guar (2006, p.16),

    A concepo de educao integral que a associa formao integral traz o sujeito para o centro das indagaes e preocupaes da educao. Agrega-se ideia filosfica de homem integral, realando a necessidade de desenvolvimento integrado de suas faculdades cognitivas, afetivas, corporais e espirituais, resgatando, como tarefa prioritria da educao, a formao do homem, compreendido em sua totalidade.

    As palavras da autora reafirmam uma concepo de Educao Integral

    de dimenso filosfica em torno do sujeito e de sua formao global. Uma

    educao que necessariamente abarque a totalidade do sujeito.

    No apenas numa perspectiva unilateral de que a formao do sujeito

    vem desde fora, mas, como diz Gonzlez-Simancas (1992, p. 33), algo que

    cada pessoa faz deve fazer por si mesma e em si mesma.

    Uma formao que abarque a singularidade e a universalidade do ser e

    se d para alm da leitura, da escrita e da realizao dos clculos

    matemticos, mas para formar indivduos cnscios de sua insero e

    participao social, atuantes na sociedade e nos espaos pblicos para o

    desenvolvimento da democracia.

    A educao integral aqui assumida pressupe uma aprendizagem para a

    vida, uma aprendizagem significativa e cidad, que integra os diferentes

    saberes, espaos educativos, sujeitos e conhecimentos, ampliando a jornada

  • 15

    escolar e criando possibilidades para uma nova organizao curricular nas

    escolas pblicas de educao bsica, a partir da ampliao dos tempos e

    espaos de aprendizagem. Desse modo, a Educao Integral compreende o

    direito de aprender como inerente ao direito vida, sade, liberdade, ao

    respeito, dignidade e convivncia familiar e comunitria.

    Um processo plural, com a participao dos vrios sujeitos sociais, onde

    os estudantes ocupas um lugar central: sinalizadores do itinerrio de sua

    prpria formao. No existir o protagonismo estudantil, se os estudantes no

    estiverem no lugar central, do incio ao fim, na construo de seus processos

    formativos.

    Abordar a Educao Integral a partir da ampliao de espaos, tempos e

    oportunidades educativas, na escola e fora dela, implica um compromisso com

    a educao pblica, gratuita e sistmica para que cumpra com sua funo

    social, transmitindo s novas geraes os conhecimentos historicamente

    acumulados, propiciando-as conhecer o mundo em que vivem e compreender

    as suas contradies. Que desvele o passado histrico e, considerando o

    presente real, promova a construo de um futuro social mais justo e melhor

    para todos. Uma educao como prtica da liberdade, transformadora e crtica.

  • 16

    3. O Programa Estadual da Educao Integral (ProEI): diretrizes operacionais

    Com base nas primeiras referncias conceituais da Educao Integral

    aqui delineadas, faz-se necessrio construir diretrizes operacionais para o

    ProEI, sem perder de vista o contexto histrico, cultural e scio-poltico que

    configura o cenrio das escolas pblicas da rede estadual da Bahia, bem como

    a vida dos sujeitos sociais que as frequentam.

    Assim, as diretrizes que orientam a implantao e implementao do

    ProEI deve privilegiar a ampliao dos tempos, espaos, oportunidades

    educativas e saberes escolares com base na multidimensionalidade do ser, nas

    relaes que estabelece consigo mesmo, com seus familiares e com a escola,

    nos diferentes contextos sociais em que vive.

    Compreendemos que o trabalho com projetos representa um caminho

    profcuo para o desenvolvimento humano e social na perspectiva da Educao

    Integral enquanto se desenvolve atravs de atividades educativas que

    promovem a integrao dos conhecimentos curriculares e sociais. Nesse caso,

    a atividade com projetos deve se constituir como um desafio investigativo de

    modo a instigar os estudantes a buscarem solues para questes emergentes

    de sua realidade.

    De qualquer forma, a presente proposta no representa um modelo

    pronto e concluso de um Programa de Educao Integral, mas, ao contrrio,

    representa um primeiro plano, com bases conceituais e operacionais de uma

    proposta que ser grandemente ressignificada e ampliada medida que a

    comunidade escolar (gestores, coordenadores, professores, estudantes, pais

    funcionrios e a comunidade de um modo geral) participe ativamente desta

    contruo.

  • 17

    3.1 Objetivos

    Geral:

    Promover um processo de desenvolvimento humano e social

    emancipatrio (da pessoa e do cidado) nos tempos e espaos da formao

    escolar, por meio de uma educao integral, integrada e integradora, que

    considera a multidimensionalidade do sujeito, suas relaes biopsicossociais e

    o contexto histrico-poltico-social no qual est inserido.

    Especficos:

    Implantar a EDUCAO INTEGRAL em escolas da rede pblica

    estadual atravs da diversificao do universo de experincias

    educativas.

    Promover a articulao das diversas reas do conhecimento de modo

    a garantir um trabalho interdisciplinar e contextualizado;

    Ampliar a permanncia diria de crianas, adolescentes e jovens na

    escola a fim de desenvolver as mltiplas dimenses da formao

    humana: cognitiva, afetiva, histrico-social, cultural, artstica,

    profissional, familiar e outros.

    Fomentar a re/construo coletiva do Projeto Poltico Pedaggico das

    UE, de modo a garantir a participao de toda comunidade escolar, e

    publicizao e atualizao peridica do mesmo;

    Promover efetivamente a articulao pedaggica entre os projetos

    estruturantes da Secretaria de Educao nas escolas de

    EDUCAO INTEGRAL.

    Contribuir pedagogicamente com a diversificao do universo de

    experincias educativas, fomentando a parceria entre escola e

    comunidade, articulando as diversas reas do conhecimento e as

    mais variadas formas de aprendizagem.

  • 18

    3.2 Metas

    O ProEI representa o esforo da Secretaria da Educao em construir

    estratgias que corroborem para a consolidao da poltica de Educao

    Integral no Estado da Bahia, no mbito dom Compromisso 3 do Programa

    Todos pela Escola, com o intuito de fortalecer a escola pblica baiana. Dentre

    as metas do referido ProEI, destacam-se:

    Ampliao progressiva dos tempos e espaos de aprendizagem nas

    escolas em 2014;

    importante ressaltar que s faz sentido pensar na ampliao da jornada escolar com a garantia de que o horrio expandido represente uma ampliao de oportunidades e situaes que promovam aprendizagens significativas e emancipatrias.

    Promover ao longo do ano letivo aes de formao continuada para os

    profissionais das UE com o ProEI;

    Ressignificao da prxis pedaggica10 docente por meio de um

    currculo pautado na formao humana integral dos educandos;

    Nessa perspectiva necessrio organizar e estruturar um currculo integrado em que as aulas sejam interdisciplinares, multidisciplinares, pluriculturais.

    Realizar encontros de planejamento com os articuladores dos projetos

    estruturantes visando a articulao entre os projetos, os programas e as

    aes j consolidados na rede, avaliando seus resultados e

    aperfeioando-os;

    Fomentar a articulao entre escola e comunidade atravs de fruns e

    seminrios a ser realizados ao longo do ano nas UE do ProEI;

    Promover encontros com outras Secretarias (da Sade, Cultura e etc.),

    estabelecimentos, empresas privadas, ONG e outros potenciais

    parceiros para o fortalecimento do ProEI nas UE.

    10 Utilizamos a expresso prxis pedaggica para designar a atividade prxica de ensino que realizada entre professores e educandos scio-historicamente construdos no espao-tempo de uma sala de aula, tambm scio-historicamente contextualizada, sob a influncia de diferentes outros contextos (SILVA FILHO, 2013).

  • 19

    3.3 Intra e Intersetorialidade: integrao necessria

    O debate sobre a Educao Integral perpassa tambm por vrios outros

    debates do processo educacional. Os problemas que emergem no cenrio

    educativo esto relacionados causas de diversas naturezas, mas a busca por

    solues e a tomada de atitudes perpassa mais de um setor e pela elaborao

    de um conjunto de aes articuladas.

    Por essa razo, o processo de desenvolvimento de qualquer poltica

    pblica requer viso e ao intersetoriais (a articulao entre as vrias

    secretarias de governo e segmentos sociais). Alis, requer, principalmente,

    uma ao coletiva intrasetorial localizada e efetiva.

    No mbito institucional, a Secretaria de Educao dispe de diversas

    coordenaes que em suas especificidades trabalham para que o produto da

    pasta seja uma educao de qualidade a ser ofertada com equidade aos

    sujeitos de direito.

    Nesse sentido, o processo de criao e implantao do ProEI

    subjacente a um movimento de integrao e cooperao intra e intersetorial

    entre as superintendncias, as diretorias, as coordenaes e os demais setores

    da Secretaria da Educao, de modo a subsidiar o desenvolvimento do

    Programa nas escolas, j que ele carrega em si uma concepo lato de

    educao que promove uma ampla ressignificao do lcus escolar, de modo

    que o seu processo de implantao e implementao, torna-se condio sine

    qua non a constituio de vrios movimentos articulados, como a revitalizao

    infraestrutural da escola (construo e adaptao de espaos: refeitrio,

    banheiros, quadra poliesportiva, biblioteca, laboratrios), o provimento de

    pessoal (programao e formao de professores, cozinheiros, tcnicos de

    servios gerais), a ressignificao curricular, a alimentao escolar

    diversificada, reestruturao nos horrios das aulas, articulao com as

    famlias e comunidade.

    Nesta dinmica, por representar uma nova realidade para a educao

    formal, o ProEI requer um cuidado especial no sentido de que as aes

    inerentes ao processo de implantao, implementao e acompanhamento das

  • 20

    escolas sejam coletivamente gestados por todas as coordenaes

    responsveis cada uma por um aspecto vital do programa.

    Com esse intuito, a Secretaria da Educao estabeleceu o Protocolo de

    Gesto para as Escolas com Educao Integral11. Um documento elaborado

    pelo Comit Gestor Intersetorial, composto por representantes das

    superintendncias, diretorias e coordenaes da SEC e que contou tambm

    com a participao de gestores, coordenadores e professores das escolas de

    Educao Integral.

    O Protocolo de Gesto representa uma nova forma de gesto para o

    estabelecimento de uma estratgia de coordenao aberta, intra e intersetorial

    em que a participao, a negociao e a adeso a objetivos comuns se

    constituem como elementos imprescindveis para o fortalecimento do ProEI e,

    por conseguinte, da poltica da Educao Integral no Estado.

    Outro importante espao-tempo, de natureza colaborativa, criado para

    promover aes intersetoriais integradas no mbito do ProEI o Ncleo

    INTEGRA12. O INTEGRA um ncleo intersetorial integrador que tem como

    objetivo qualificar sistematicamente as aes de acompanhamento e

    interveno nas escolas da Educao Integral, tendo como princpio a

    formao continuada em servio dos profissionais envolvidos com esta oferta

    de ensino.

    Vale ressaltar que a Coordenao de Educao Integral CEDI/SEC

    tem o compromisso de pensar e executar o mbito pedaggico, porm o ProEI

    possui multifaces que requer tambm o compromisso de outros setores,

    condio sine qua non para que a dimenso pedaggica avance. Mais ainda,

    para que o estado da Bahia caminhe a passos largos para a universalizao da

    Educao Integral se faz necessrio mudar completamente as relaes intra e

    intersetoriais, uma vez que a educao ganha sentido multisetorial.

    11 O documento encontra-se em processo de reviso e atualizao. 12 O INTEGRA um ncleo intersetorial criado pela SUDEB para promover a integrao entre superintendncias, diretorias e coordenaes da Secretaria da Educao. Atualmente, a CEDI e o PAIP coordenam suas atividades.

  • 21

    3.4 A Proposta Curricular

    S possvel formar o homem por inteiro quando conhecemos o homem na sua inteireza.

    O ProEI compreende a formao do sujeito como um processo de

    desenvolvimento de carter holstico, que considera a multidimensionalidade

    do sujeito e suas relaes com os fatores histricos, culturais e sociais que

    configuram sua existncia.

    Entende tambm que a escola, para alm de ser um prdio fsico

    institucionalizado, composta por pessoas que possuem histrias, produzem

    cultura e manifestam desejos e que possui a funo social de formar indivduos

    para emancipao e, ainda, que o conhecimento produzido historicamente,

    no interior das relaes sociais.

    Assim, numa proposta de Educao Integral, com ampliao dos

    espaos, tempos e oportunidades educativas com vistas formao humana

    integral, necessrio garantir o lugar de um currculo integrado que, para alm

    de ser disciplinar, corrobore para o pleno desenvolvimento humano e social dos

    estudantes, em todas as suas dimenses a partir da construo de

    conhecimentos e saberes sociais.

    De acordo com Silva (2012, p. 6):

    O currculo pode ser compreendido como a seleo dos conhecimentos e das prticas sociais historicamente acumulados, considerados relevantes em um dado contexto histrico, e definidos tendo por base o projeto de sociedade e de formao humana que a ele se articula; se expressa por meio de uma proposta pedaggica definida coletivamente e na qual se explicitam as intenes de formao, bem como das prticas escolares que deseja realizar com vistas a dar materialidade a essa proposta.

    Segundo a autora, o currculo entendido como a proposta de uma

    prxis educativa fundada na seleo dos conhecimentos historicamente

    acumulados pela sociedade. Uma proposta que subjaz s concepes de

    homem e sociedade que se pretende formar e para a qual se define um

    caminho pedaggico e coletivo para sua consecuo.

  • 22

    Essa perspectiva aponta que fundamental construir um percurso por

    onde trilhem aes formativas pautadas nos saberes, nos elementos

    cognitivos, afetivos, culturais, polticos, espirituais, artsticos, ticos entre tantos

    outros, que qualifiquem as trajetrias e ampliem as possibilidades do aprender,

    e, ainda, considerem os conhecimentos, os valores, os costumes, as crenas,

    os hbitos e as experincias que os estudantes vivenciam no seu dia a dia.

    Nesse caso, tanto os contedos programticos como as atividades didticas

    no tem o perfil estrutural e prescritivo, mas devem tornar frtil o solo do ensino

    e da aprendizagem.

    O currculo do ProEI destaca a importncia de alguns elementos no seu

    desenvolvimento, a saber:

    - A ESCOLA como lcus de socializao do conhecimento cientfico, veiculado

    pelos contedos das disciplinas escolares.

    A escola o espao, por excelncia, de institucionalizao da aprendizagem, fornecendo as ferramentas concebidas para auxiliar o uso pblico da razo, tanto aquelas associadas ao conhecimento cientfico quanto s associadas s convenes sociais, dessa forma no pode se distanciar da concepo de cincia e tecnologia como: conhecimentos produzidos, sistematizados e legitimados socialmente ao longo da histria, empreendidos pela humanidade na busca da compreenso e transformao dos fenmenos naturais e sociais. Fortalecer a escola condio sine qua non para consolidar a natureza pblica, gratuita e qualitativa dessa instituio social.

    - OS CONTEDOS DISCIPLINARES E CIENTFICOS na formao dos

    estudantes, como condio elementar para a compreenso da realidade

    histrico-social e cultural (ver as Orientaes Curriculares da SEC). Sem a

    organizao fragmentada e/ou hierarquizada, mas com abordagem

    interdisciplinar.

    Os contedos disciplinares devem ser tratados, na escola, de modo contextualizado, estabelecendo-se, entre eles, relaes interdisciplinares e colocando sob suspeita tanto a rigidez com que tradicionalmente se apresentam quanto o estatuto de verdade atemporal dado a eles. Desta perspectiva, prope-se que tais conhecimentos contribuam para a crtica s contradies sociais, polticas e econmicas presentes nas estruturas da sociedade contempornea e propiciem compreender a produo cientfica, a reflexo filosfica, a criao artstica, nos contextos em que elas se constituem (SEEPR, 2008).

  • 23

    - OS TEMAS TRANSVERSAIS na formao humana integral.

    A cultura deve ser entendida como as diferentes formas de criao cultural da sociedade, seus valores, suas normas de conduta, suas obras. Portanto, a cultura tanto a produo tica quanto esttica de uma sociedade; expresso de valores e hbitos; comunicao e arte e o trabalho como um princpio educativo porque o processo social de produo coloca exigncias especficas para a educao, visando participao direta dos membros da sociedade no trabalho socialmente produtivo. Essa participao deve ser ativa, consciente e crtica.

    - A INTERDISCIPLINARIDADE de modo a possibilitar uma abordagem mais

    abrangente do objeto de estudo de determinada rea do conhecimento.

    - A PARTICIPAO DOS PROFESSORES na construo e ressignificao do

    currculo da Educao Integral e na organizao do trabalho pedaggico.

    - A PARTICIPAO DA COMUNIDADE ESCOLAR no fortalecimento da

    Educao Integral atravs da atuao de todos e participao efetiva do

    Colegiado Escolar.

    Portanto, o ProEI prope uma reformulao curricular com base em um

    currculo integrado com o objetivo de contribuir para construo de uma

    sociedade com equidade e igualdade social, onde as condies de vida e as

    oportunidades sejam iguais para todos.

    Compreendemos o currculo integrado como um plano poltico-

    pedaggico prxico e sistemtico que considera os sujeitos sociais em

    formao e relaciona os conhecimentos historicamente acumulados com as

    prticas culturais, polticas e sociais dos indivduos e da comunidade onde a

    formao se desenvolve.

    Desse modo, o Currculo integrado promove e estimula a participao

    ativa dos estudantes na construo de conhecimentos diversos, na

    organizao de experincias curriculares contextualizadas e significativas, na

    promoo de experincias sociais com temas e situaes-problema presentes

  • 24

    na sua realidade, aprofundando e alargando a compreenso crtico-reflexiva de

    si prprios e do seu mundo.

    Nessa perspectiva, tanto a sala de aula como outros espaos e tempos

    formativos, intra e extra-escolares, devem ser potencialmente transformados

    em profcuos ambientes de aprendizagem, relacionando os conhecimentos

    disciplinares em todas as direes e que, por um lado, ajude os jovens a

    integrar as suas prprias experincias e, por outro lado, promova a integrao

    social e democrtica entre eles (BEANE, 2003).

    Em hiptese alguma, a presente proposta curricular est dada como

    fechada e acabada, sobretudo por entendermos que este um espao onde a

    atuao de todos os indivduos da comunidade escolar fundamental, pois as

    ideias que as pessoas tm sobre si mesmas e sobre o seu mundo (e que so

    construdas com base nas suas prprias experincias) representam elementos

    necessrios para balizar e conduzir qualquer processo de ressignificao

    curricular.

    3.4.1 Algumas proposies curriculares

    O currculo integrado do ProEI orienta-se pelas diretrizes curriculares

    nacionais e pelas diretrizes estabelecidas pela Secretaria da Educao do

    Estado da Bahia, promovendo a articulao curricular entre os contedos

    disciplinares da Base Nacional Comum e os contedos da Parte Diversificada,

    tendo como fundamento a interdisciplinaridade e a produo de saberes

    diversos, dando nfase aos seguintes fios transversais:

    Centralidade na leitura - elemento basilar de todas as disciplinas;

    Letramento Lingustico e Letramento Matemtico que promova a leitura de mundo.

    Metodologia de ensino pautada na contextualizao, problematizao e

    ressignificao dos contedos disciplinares;

    Estmulo s atividades tericas e prticas nas diferentes reas do

    conhecimento;

  • 25

    Fomento s atividades culturais e artsticas, visando ampliao do

    universo cultural do aluno;

    Oferta de atividades integradoras, de modo a contemplar dimenses

    mltiplas;

    Articulao com o Projeto Poltico Pedaggico da Escola de Educao

    Integral;

    Criao de atividades educativas integradas ao currculo escolar e contempladas no Projeto Poltico Pedaggico/Proposta Pedaggica Curricular da escola:

    Contemplar atividades integradoras de letramento, de iniciao cientfica, de esporte, de arte e cultura;

    Promover aprendizagens criativas e crticas, considerando a contextualizao como caminho pedaggico de superao da mera memorizao;

    Promover a valorizao da leitura em todos os campos do saber, desenvolvendo a capacidade de letramento dos alunos;

    Articular teoria e prtica, vinculando o trabalho intelectual com atividades prticas experimentais;

    Desenvolver a autoestima do educando no tocante ao despertar de suas potencialidades e competncias como ser multidimensional;

    Utilizar mdias e tecnologias educacionais como processo de dinamizao dos ambientes de aprendizagem;

    Organizar os tempos e os espaos com aes efetivas de interdisciplinaridade em articulao com os projetos estruturantes da SEC;

    Entender a avaliao da aprendizagem como processo formativo e permanente de reconhecimento de saberes, competncias, habilidades e atitudes.

    Articulao com as atividades dos programas e projetos estruturantes da

    SEC;

  • 26

    3.4.2 Matriz Curricular para o Ensino Fundamental II13

    O Ensino Fundamental deve comprometer-se com uma educao com qualidade social, igualmente entendida como direito humano (BRASIL, 2010 - Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental de 9 anos).

    A matriz curricular da Educao Integral para o Ensino Fundamental II

    est organizada em consonncia com a Resoluo n 7, de 14 de dezembro de

    2010 que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental

    de 9 (nove) anos, observando os princpios concernentes natureza da oferta

    da educao integral em tempo integral.

    De acordo com a supracitada Resoluo, considera-se como de perodo

    integral a jornada escolar que se organiza em 7(sete) horas dirias, no mnimo,

    perfazendo uma carga horria anual de, pelo menos, 1.400 (mil e quatrocentas)

    horas (BRASIL, 2010).

    Dessa forma, a matriz curricular do ProEI prope para os sistemas de

    ensino, a ampliao da carga-horria escolar para 7 horas dirias e a extenso

    dos tempos e espaos educativos, com vistas maior qualificao dos

    processos de ensino e de aprendizagem, tendo como horizonte o atendimento

    escolar em perodo integral. Tal proposio deve configurar, no apenas um

    simples aumento de carga-horria, mas a ampliao de tempos, espaos e

    oportunidades educativas, bem como de afirmao, proteo e resgate de

    direitos. Um espao-tempo a ser utilizado sistemtica e intencionalmente para

    o desenvolvimento humano e social dos estudantes, a construo de

    identidades, o exerccio da autonomia, o respeito diversidade tnico-racial e

    cultural, de gnero, de orientao sexual e de crenas.

    Outrossim, o compartilhamento da tarefa de educar e cuidar entre os

    profissionais da escola e de outras reas, as famlias e outros atores sociais,

    sob a coordenao da escola e de seus professores, visando alcanar a

    melhoria da qualidade da aprendizagem e da convivncia social e diminuir as

    13 A ntegra desta matriz curricular consta no anexo 6.8, nas pginas 53 e 54 deste Programa.

  • 27

    diferenas de acesso ao conhecimento e aos bens culturais, em especial entre

    as populaes socialmente mais vulnerveis (Idem).

    O currculo desenvolvido por meio de contedos disciplinares da base

    nacional comum e da parte diversificada, organizada por reas de

    conhecimento, componentes curriculares e eixos temticos, tratados de forma

    integrada e de modo a articular as vivncias e os saberes dos alunos com os

    conhecimentos historicamente acumulados e, dessa forma, contribuir para

    construo de suas identidades. Conforme preconiza as DCNEF,

    A articulao entre a base nacional comum e a parte diversificada do currculo do Ensino Fundamental possibilita a sintonia dos interesses mais amplos de formao bsica do cidado com a realidade local, as necessidades dos alunos, as caractersticas regionais da sociedade, da cultura e da economia e perpassa todo o currculo. (BRASIL, 2010 - Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental de 9 anos).

    Nessa direo, o currculo do ProEI para o Ensino Fundamental II

    baseia-se no desenvolvimento de atividades, articuladas s reas de

    conhecimento Linguagens, Matemtica, Cincias da Natureza e Cincias

    Humanas aos componentes curriculares Lngua Portuguesa, Lngua

    Estrangeira, Educao Fsica, Arte, Matemtica, Cincias, Histria, Educao

    Fsica e Educao Religiosa e aos eixos temticos como a iniciao cientfica

    a educao tecnolgica, as linguagens artsticas, as culturais, as relaes

    tnico-raciais, a educao desportiva e o lazer, as tecnologias da comunicao

    e informao, a afirmao dos direitos humanos, a preservao do meio

    ambiente, a promoo da sade, bem como s vivncias e prticas

    socioculturais e polticas, alm do reforo e do aprofundamento da

    aprendizagem, atravs de estudos orientados, entre tantas outras.

    As atividades devem ser desenvolvidas ao longo do dia, dentro do

    espao escolar ou fora dele - em espaos distintos da cidade ou do territrio

    em que est situada a unidade escolar, de forma integrada e integradora

    relacionadas com o contexto da escola e com o perfil dos estudantes e o da

    comunidade escolar. Para isso, deve ser promovido o uso de equipamentos

    sociais e culturais existentes no contexto scio-cultural da escola, bem como o

    estabelecimento de parcerias com rgos ou entidades sociais locais.

  • 28

    3.4.3 Matriz Curricular para o Ensino Mdio14

    Para a Educao Integral no Ensino Mdio, a matriz curricular do ProEI

    est organizada em consonncia com as Diretrizes Curriculares Nacionais para

    o Ensino Mdio (DCNEM) e mantm a carga horria, mnima, de 7(sete) horas

    dirias de efetivo trabalho escolar, perfazendo uma carga horria anual

    de1.400 (mil e quatrocentas) horas.

    Esta matriz observa os princpios concernentes natureza da oferta da

    educao integral, compreendendo o Ensino Mdio como um direito social de

    cada pessoa, e dever do Estado na sua oferta pblica e gratuita a todos

    (BRASIL, 2012) e considerando o perfil e as caractersticas dos estudantes do

    Ensino Mdio da Rede Estadual de Ensino, os quais, na sua grande maioria,

    so jovens oriundos das camadas populares e mostram-se desejosos por uma

    escola que tambm lhes oferea oportunidades para entrar no mercado de

    trabalho, quer seja por questes pessoais, quer seja por

    demandas/necessidades sociais.

    Desse modo, a proposta curricular traz no seu escopo uma formao

    humana integral que promova o exerccio pleno da cidadania e a preparao

    bsica para o trabalho, de modo a articular a educao integral e a educao

    profissional.

    Conforme preconiza as DCNEM,

    A organizao curricular do Ensino Mdio tem uma base nacional comum e uma parte diversificada que no devem constituir blocos distintos, mas um todo integrado, de modo a garantir tanto conhecimentos e saberes comuns necessrios a todos os estudantes, quanto uma formao que considere a diversidade e as caractersticas locais e especificidades regionais. (BRASIL, 2012 - Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio).

    De acordo com o supracitado documento, essa proposta curricular ser

    desenvolvida por meio de contedos disciplinares da base nacional comum e

    da parte diversificada, organizada por eixos temticos, tratados de forma

    14 A ntegra desta matriz curricular consta no anexo 6.8, nas pgina 55 e 56 deste Programa.

  • 29

    integrada e de modo a articular as vivncias e os saberes dos alunos com os

    conhecimentos historicamente acumulados.

    Ela baseia-se na formao integral do estudante, no trabalho e pesquisa

    como princpio educativo e pedaggico, respectivamente; na integrao de

    conhecimentos gerais e, quando for o caso, tcnico-profissionais realizada na

    perspectiva da interdisciplinaridade e da contextualizao e, ainda, na

    integrao entre educao e as dimenses do Trabalho, da Cincia, da

    Tecnologia e da Cultura como base da sua proposta15 (Idem).

    Cabe ressaltar que a dimenso trabalho aqui assumida no ProEI

    compreendida como princpio educativo e de acordo com as bases conceituais

    e curriculares da poltica de Educao Profissional da Bahia. Ou seja,

    [...] prepara os jovens e trabalhadores para o mundo do trabalho, pre-para-os para atender s demandas socioeconmicas e ambientais do Estado da Bahia, conduzindo-os compreenso da cincia, da tc-nica e da sua implicao para a sociedade. O estudante torna-se uma pessoa e um cidado pleno, um sujeito de direitos, capaz de intervir no mundo do trabalho e na sociedade (SUPROF/BAHIA, 2013).

    Dessa forma, a dimenso profissional do processo formativo no ProEI se

    assenta na superao tecnicista de ensino profissionalizante fundado na

    construo de competncias meramente tcnicas e utilitrias para a

    empregabilidade, mas, ao contrrio, na formao integral de pessoas humanas

    e sociais, sujeitos de direitos capazes de intervir no mundo do trabalho e na

    sociedade. Uma formao que corrobore como realizao inerente ao ser

    humano, como mediao no processo de produo da sua existncia. Desse

    modo, a sua proposta

    [...] articula teoria e prtica, cincia, tecnologia e sociedade, e os saberes acadmicos e os construdos na vida e no trabalho. A perspectiva levar o estudante compreenso do mundo do trabalho em geral e dos aspectos relacionados com as ocupaes especficas, apropriao das ferramentas e prticas bsicas das ocupaes. Alm disso, instrumentaliza os estudantes para a construo permanente do bem-estar e da autonomia no trabalho. (SUPROF/BAHIA, 2013).

    15 Mais detalhes acerca das bases conceituais das dimenses trabalho, cincia, tecnologia e cultura que fundamentam a proposta curricular do ProEI constam na Resoluo n 2, de 30 de janeiro 2012 que define as DCNEM.

  • 30

    Como estratgia, no mbito do ProEI para o Ensino Mdio, a dimenso

    trabalho ser introduzida conforme preconizado pelas Diretrizes Curriculares

    Nacionais, trabalhando com as reas de Conhecimento da Base Nacional

    Comum (Linguagens, Matemtica, Cincias da Natureza e Cincias Humanas),

    seus Componentes Curriculares (Lngua Portuguesa, Literatura Brasileira,

    Educao Fsica, Artes, Matemtica, Qumica, Fsica, Biologia, Histria,

    Geografia, Filosofia e Sociologia) e a Parte Diversificada organizada em Eixos

    Temticos, com nfase na Formao Tcnica Geral (FTG).

    Assim, a proposta curricular baseia-se na articulao com a Educao

    Profissional e no desenvolvimento de atividades, de iniciao cientfica,

    educao tecnolgica, linguagens artsticas, culturais, desportivas, bem como

    s vivncias e prticas socioculturais e polticas, a afirmao dos direitos

    humanos, a sustentabilidade e a preservao do meio ambiente, a promoo

    da sade, alm de constar momentos de atividades complementares e de

    superao do aprofundamento da aprendizagem.

    Essa relao integrada e integradora deve propiciar a formao plena do

    educando e possibilitar construes intelectuais mais complexas para a

    interveno consciente e crtica na realidade e a compreenso do processo

    histrico de construo do conhecimento (BRASIL, 2012).

    Finalmente, as atividades do ProEI devem ser desenvolvidas dentro do

    espao escolar ou fora dele - em diferentes espaos do bairro em que est

    situada a unidade de ensino, sempre relacionadas com o contexto scio-

    cultural da escola, com o perfil dos estudantes e o da comunidade escolar e de

    modo a estabelecer parcerias com rgos e entidades sociais locais.

  • 31

    3.5 A Proposta Pedaggica

    O ensino uma prtica social complexa [...] transformado pela ao e relao entre sujeitos (professores e estudantes) situados em contextos diversos: institucionais, culturais, espaciais, temporais, sociais. [...] Consider-lo uma prtica educativa em situaes historicamente situadas significa examin-lo nos contextos sociais nos quais se efetiva nas aulas e demais situaes de ensino das diferentes reas do conhecimento, nas escolas, nos sistemas de ensino, nas culturas, nas sociedades estabelecendo os nexos entre eles. (PIMENTA, 2011, p. 17).

    Conforme a epgrafe supra, compreendemos o ato de ensinar como uma

    prtica social viva, realizada entre sujeitos scio-historicamente situados num

    amplo contexto, cheio de nexos e conexos, de dimenso poltica, cultural e

    social onde educadores e educandos esto inseridos.

    Nessa direo, o ProEI se assenta numa proposta pedaggica que

    promove a criao de espaos, tempos e oportunidades educativas para

    formao de conhecimentos, na escola e fora dela, considerando os

    estudantes e suas mltiplas dimenses (a humana, a poltica, a cultural, a

    tecnolgica e social) com vistas transformao da realidade social

    (econmica e poltica) do seu tempo.

    A proposta pedaggica do ProEI no est fundada na perspectiva

    meramente de uma pedagogia diferenciada, mas de uma pedagogia libertria,

    no colonizadora, cujos mtodos pedaggicos e didticos utilizados devem

    expressar princpios filosficos e polticos de natureza emancipatria de forma

    a atender aos estudantes nos diferentes nveis em que se encontram, tendo

    como horizonte a transformao dos sujeitos e da sociedade.

    A esse respeito, Oliveira (2010, p. 151-152) assevera que:

    [...] a transformao da sociedade, para alm de seus condicionantes e limites estruturais, depende da ao poltica concreta e cotidiana, autnoma e consciente daqueles que buscam essa transformao, no sentido da construo de uma sociedade efetivamente democrtica. preciso, desse modo, na ao poltico-pedaggica [pedaggico-poltico] no interior da escola, buscar uma ao pedaggica coerente com essa premissa. Isso implica uma reconstruo das relaes internas, abrindo-se novos espaos de participao dos diversos segmentos da comunidade escolar nos processos decisrios internos e na institucionalizao de novas formas de exerccio do poder o que exige uma estrutura institucional mais aberta e flexvel democratizando-se a gesto da escola, bem como a relao mais

  • 32

    imediatamente envolvidas na ao pedaggica, isto as relaes professor-aluno.

    So sob essas perspectivas que a proposta pedaggica do ProEI prope

    a integrao dos componentes curriculares da Base Nacional Comum com os

    da Parte Diversificada, tendo como princpios gerais inalienveis:

    Os sujeitos sociais da Educao Bsica e sua formao integral;

    De modo a valorizar os sujeitos da escola pblica. Quem so eles? De onde eles vm? Que referncias sociais e culturais trazem para a escola?

    A escola pblica, gratuita e a educao formal;

    A escola como lugar de socializao do conhecimento (cientfico), pois essa funo da instituio escolar especialmente importante para os estudantes das classes menos favorecidas, que tm nela uma oportunidade, algumas vezes a nica, de acesso ao mundo letrado, do conhecimento cientfico, da reflexo filosfica e do contato com a arte.

    Os profissionais da educao e a prxis docente.

    Como protagonistas das aes pedaggicas, caber aos docentes equilibrar a nfase no reconhecimento e valorizao da experincia do aluno e da cultura local que contribui para construir identidades afirmativas, e a necessidade de lhes fornecer instrumentos mais complexos de anlise da realidade que possibilitem o acesso a nveis universais de explicao dos fenmenos, propiciando-lhes os meios para transitar entre a sua e outras realidades e culturas e participar de diferentes esferas da vida social, econmica e poltica (BRASIL, 2010).

    A organizao do trabalho pedaggico incluir a mobilidade e a flexibilizao dos tempos e espaos escolares, a diversidade nos agrupamentos de alunos, as diversas linguagens artsticas, a diversidade de materiais, os variados suportes literrios, as atividades que mobilizem o raciocnio, as atitudes investigativas, as abordagens complementares e as atividades de reforo, a articulao entre a escola e a comunidade, e o acesso aos espaos de expresso cultural (BRASIL, 2010).

    Alm desses princpios gerais, tambm destacamos como princpios

    didticos:

    A contextualizao do conhecimento;

  • 33

    A Interdisciplinaridade;

    Sendo assim, a proposta pedaggica vem se configurar como o

    mediador confivel, trazendo para a balana da prxis educativa o necessrio

    equilbrio e a necessria articulao entre conhecimento cientfico, social,

    cultural, poltico e o popular, relacionando-os com as diversas prticas,

    procedimentos e atitudes que os sujeitos, atores e autores da realidade

    escolar, produzem no seu dia a dia.

    Tambm deve-se privilegiar a integrao de saberes a partir da

    articulao com outras instituies sociais e socializadoras, como a famlia, a

    igreja, as bibliotecas, os museus, os clubes esportivos, as organizaes sociais

    e outros tantos espaos de aprendizagem do contexto local, pois conforme

    asseveram Brito, Lima e Estrada (2009, p.13):

    [...] trata-se de um compromisso de todos: da comunidade escolar, da famlia, da sociedade e do poder pblico, pois busca-se com a educao integral a formao de cidados que alm de crticos, conscientes de seus direitos e deveres, possam ter maiores oportunidades profissionais e de incluso social. Para isso extremamente importante a parceria escola-famlia-sociedade.

    Finalmente, a proposta do ProEI vem dar materialidade a uma prxis

    pedaggica que considera os estudantes como sujeitos sociais e as relaes

    que estabelecem com a comunidade local na qual esto inseridos, fortalecendo

    a escola e a sua funo social na construo de espaos educativos que

    promovam a prtica da democracia e da liberdade.

    3.5.1 O Projeto Pedaggico do ProEI: Um Plano Pedaggico-Poltico-

    Social

    A proposta pedaggica do ProEI possui como um de seus lastros

    metodolgicos a construo coletiva e cooperativa de um projeto pedaggico.

    Por um lado, a ideia a de fomentar a participao ativa dos atores e autores

    da escola no desenvolvimento social da comunidade escolar, por outro lado,

  • 34

    construir um plano pedaggico-poltico-social de formao integral para os

    sujeitos sociais que compem e vivenciam o universo escolar.

    Entendemos que o projeto pedaggico um plano de dimenso

    pedaggica, mas tambm de dimenso poltica e social, pois desenvolvido

    com a participao de sujeitos sociais tendo como contexto real a organizao

    social da comunidade na qual os estudantes esto inseridos.

    De acordo com Bernard Charlot (2013, p. 259),

    [...] todo mtodo pedaggico tem uma dimenso poltica. Por trs do que s vezes parece ser uma escolha tcnica, operam valores ticos e polticos, uma certa representao do ser humano, da sociedade, das relaes que cada um deve manter com o mundo, com os outros, consigo mesmo. [...] um projeto pedaggico no apenas um programa de aes, de organizao de gesto, mas remete a valores fundamentais.

    O autor chama a ateno para o fato de que a atividade pedaggica na

    verdade uma atividade poltica. Nessa perspectiva, o projeto pedaggico

    expressa muito mais do que o contedo programtico, a metodologia de ensino

    ou os recursos a serem utilizados no desenvolvimento das atividades, mas ele

    exprime atravs dessas prticas pedaggicas um conjunto de valores e de

    princpios ideolgicos que, concomitantemente, so transmitidos na/pela

    educao escolar.

    Dessa forma, importante que gestores, coordenadores e professores

    tenham conscincia de que as aes pedaggicas que so planejadas e

    desenvolvidas na escola, na verdade, traduzem tambm escolhas e aes

    polticas. Cada atividade, cada mtodo, a forma como as turmas so

    organizadas, como o trabalho e o tempo so definidos, entre tantas outras

    aes didticas, tambm correspondem a um projeto de cidado e de

    sociedade que compreendido e, pela prtica, defendido.

    Assim, o ProEI prope a contruo de um projeto pedaggico que tenha

    como base o contexto histrico-social e cultural da escola, bem como dos

    sujeitos que a frequentam de modo a: contemplar a coletividade, sem perder de

    vista a singularidade de cada sujeito; corresponder aos princpios polticos na

    direo da emancipao humana e social; corresponder a um projeto poltico-

    social emancipatrio em sua forma pedaggica; fomentar o papel social da

  • 35

    escola na sociabilidade juvenil; representar um projeto educativo mais amplo

    comprometido com a democratizao da escola e da sociedade.

    Dessa forma, o projeto pedaggico deve propiciar a participao ativa

    dos estudantes na construo de conhecimentos cientficos e populares, na

    participao de atividades educativas (sobretudo como orientadores de

    processos formativos que concorram para o seu desenvolvimento global -

    cognitivo, subjetivo, psicolgico, afetivo, fsico, crtico, intelectual) na produo

    de saberes polticos, sociais e no fomento s diversas formas de expresses e

    produes culturais.

    3.6 A Formao dos Profissionais da Educao Integral

    O ProEI traz no bojo de sua proposta um conjunto de aes de formao

    para os profissionais envolvidos com a Educao integral (anexo 6.14, p.64-

    67), de acordo com o Compromisso 6 do Programa Todos Pela Escola:

    valorizar os profissionais da educao e promover sua formao.

    Com esse intuito, esta proposta compreende o professor como sujeito

    epistmico, autor e produtor de conhecimentos e busca promover Formao

    Continuada de Professores, com foco na escola e na aprendizagem dos

    estudantes no contexto da Educao integral.

    Nesse sentido, o ProEI desenvolve um conjunto de aes de formao

    continuada que atendam necessria fundamentao terica e ao

    enriquecimento da prxis correspondentes s especificidades desta

    modalidade de ensino. Faremos uso da expresso formao continuada para

    designar um processo formativo que prope desenvolver saberes,

    comportamentos e atitudes no humano/profissional/cidado docente scio

    historicamente construdo (SILVA FILHO, 2013).

    Esse processo formativo ter como pblico-alvo os professores das UE

    que faro a articulao do ProEI na escola, os tcnicos da SEC que

    acompanham a implementao do Programa e se estender, gradativamente,

    a toda a comunidade escolar, tendo a escola como espao privilegiado de

    discusso das prticas pedaggicas voltadas para a formao humana integral.

  • 36

    Uma formao de natureza colaborativa e cooperativa e todos os

    processos formativos tem como base o apoio mtuo. Ela foca suas aes na

    escola como um todo e o intuito o envolvimento de toda a comunidade

    escolar visando criao de uma comunidade colaborativa de aprendizagem

    (GATTI, 2011).

    O processo formativo ser dividido em 3 etapas, compostas por diversas

    aes ordenadas, conjugadas e articuladas, constitudas por encontros de

    formao, seminrios nas escolas, reunies de acompanhamento e avaliao,

    alm da utilizao planejada dos espaos e tempos das Atividades

    Complementares16, das reunies de pais e mestres bem como de outras

    atividades que j fazem parte do cotidiano escolar.

    A abordagem metodolgica privilegiar encontros presenciais, com o

    desenvolvimento de atividades coletivas que proporcionem a reflexo e o

    pensamento crtico sobre a prxis educativa, a problematizao da realidade

    histrica e social dos sujeitos que compe a escola, a discusso de referenciais

    tericos, a leitura de textos, a sistematizao e a socializao de experincias

    e os registros dos processos vivenciados.

    16 O atendimento aos professores, nos horrios das AC, ser realizado pelo professor-articulador do ProEI na escola.

  • 37

    3.7 A Articulao com outros Programas e Projetos

    O ProEI um programa de natureza integradora e, por essa razo,

    busca convergir suas aes na direo de outras aes e atividades que j

    vem sendo desenvolvidas pela SEC/BA nas escolas da Rede Estadual de

    Ensino.

    Neste sentido, o ProEI estabelece princpios de integrao os quais se

    constituem nos fios condutores da construo de suas aes (articuladas)

    voltadas para promover a consolidao de uma educao formal

    emancipatria. Dentre esses princpios destacamos:

    A prxis educativa baseada na formao e no desenvolvimento integral

    do ser humano;

    O currculo integrado;

    A prxis pedaggica que considera o sujeito, sua multidimensionalidade,

    sua histria, sua cultura e o seu contexto social;

    A operacionalizao de aes articuladas;

    Esses princpios fundamentam os aspectos conceituais, curriculares,

    pedaggicos e operacionais, respectivamente, no desenvolvimento de aes

    conjuntas, articuladas e integradas do ProEI com as outras aes que vem

    sendo desenvolvidas nas escolas, por outros programas e projetos do Governo

    Federal e da SEC/BA.

  • 38

    3.7.1 O ProEI e os Programas Mais Educao (PME) e Ensino Mdio Inovador (ProEMI)

    Na Bahia, dois programas educacionais vem sendo executados como

    aes indutoras da poltica da Educao Integral no Estado: o Programa Mais

    Educao (PME) e o Programa Ensino Mdio Inovador (ProEMI). Ambos os

    programas so bases importantes para o desenvolvimento do ProEI nas

    escolas.

    O Programa Mais Educao - PME17 institudo e implantado no pas em

    2008, pelo Governo Federal, atravs da Portaria Interministerial n. 17/2007 do

    Ministrio da Educao-MEC - uma estratgia para a implementao da

    Educao Integral no pas tendo como prioridade contribuir para a formao

    integral de crianas, adolescentes e jovens. Seu principal objetivo ampliar

    tempos e espaos de aprendizagens.

    Desse modo, o desenvolvimento do ProEI na escola deve estar

    articulado ao PME na medida que consolida um processo de conceitualizao

    e operacionalizao de uma Educao Integral que visa melhorar as

    aprendizagens, elevar a qualidade da educao escolar, diversificar os

    espaos e oportunidades de aprendizagens, a fortalecer a cultura e os saberes

    locais, bem como fortalecer as polticas de proteo social.

    No obstante, a realidade da Rede Estadual de Ensino Fundamental II,

    no que se refere a presena do PME na U.E., nos apresenta uma gama de

    configuraes, o que implica diretamente na execuo pedaggica e financeira

    do ProEI:

    17 Para maiores informaes acesse http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/passoapasso_maiseducacao.pdf

    ProEI

    MacrocamposPME

    Recursos

    FinanceirosProEMI

  • 39

    Em U.E. que possuem o PME apenas, as mesmas levaro em

    considerao o que foi planejado no SIMEC18 e o que pressupe

    as orientaes do Programa.

    J as U.E. que possuem o PME e o ProEI, haver articulao

    pedaggica entre os Macrocampos e os eixos temticos, levando

    em considerao a proximidade das ementas.

    Nas U.E. que possuem apenas o ProEI, as mesmas devero

    executar o programa de acordo com os seus eixos temticos,

    ementas, proposta pedaggica e matriz curricular.

    Alm da articulao com o PME, o ProEI articula-se com Programa

    Ensino Mdio Inovador (ProEMI) que uma estratgia indutora para a

    ampliao do tempo de permanncia do estudante em ambiente educativo.

    Cabe ressaltar que, o ProEMI estabelece em seu Documento Base um

    referencial de tratamento curricular, indicando as condies bsicas para

    implantao do Projeto de Redesenho Curricular (PRC).

    A partir do PRC, as U.E. devero apresentar aes que comporo o

    currculo e estas podero ser estruturadas em diferentes formatos tais como

    disciplinas optativas, oficinas, grupos de pesquisas, trabalhos de campo e

    demais aes interdisciplinares. Para tanto, ser possvel adquirir materiais,

    tecnologias educativas e realizar formaes para os profissionais da educao

    envolvidos na execuo das atividades.

    Neste vis o ProEMI destaca-se como suporte financeiro e pedaggico

    para a implantao e execuo do ProEI, alm da articulao entre os

    Macrocampos do ProEMI e os eixos do ProEI, a partir das ementas e das

    possibilidades pedaggicas.

    Quanto as configuraes do ProEI a serem estabelecidas no mbito do

    ProEMI, destacamos:

    18 SIMEC (Sistema Integrado de Monitoramento Execuo e Controle do Ministrio da Educao) um portal operacional e de gesto do MEC, que trata do oramento e monitoramento das propostas on-line do Governo Federal na rea da educao. no SIMEC que os gestores verificam o andamento dos Planos de Aes Articuladas em suas cidades. Fonte: http://simec.mec.gov.br/

  • 40

    As U.E. que possuem apenas o ProEMI, mantero a formatao

    original do Programa, no qual levam em considerao o que foi

    construdo no PRC e que sero estruturados atravs de oficinas e

    projetos interdisciplinares.

    As U.E. que possuem o ProEMI e o ProEI utilizaro os recursos

    para articularem a proposta pedaggica atravs das oficinas,

    levando em considerao a proximidade das ementas e a

    articulao entre os Macrocampos e os eixos temticos do ProEI.

    As U.E. que possuem apenas o ProEI devero promover suas

    atividades pedaggicas a partir das propostas dos eixos temticos

    e sua respectiva matriz curricular.

    Portanto, no mbito do ProEI, todas as atividades do PME e do ProEMI

    se articulam e se integram com base em uma proposta curricular nica,

    respeitando as especificidades de cada etapa de ensino.

    As oficinas temticas baseadas nos Macrocampos, as atividades

    pedaggicas, o acompanhamento e a formao dos profissionais, entre tantas

    outras aes e atividades que integram esse programas so convergidas na

    proposta do ProEI com o objetivo de consolidar o Programa da Educao

    Integral da Bahia visando:

    Promover a interpretao e a ampliao da viso de mundo,

    basilar para todas as reas do conhecimento;

    Fomentar s atividades terico-prticas que fundamentem os

    processos de iniciao cientfica e de pesquisa;

    Fomentar s atividades de produo artstica que promovam a

    ampliao do universo cultural do estudante;

    Fomentar s atividades esportivas e corporais que promovam o

    desenvolvimento dos estudantes;

    Fomentar s atividades que envolvam comunicao, cultura

    digital e uso de mdias, em todas as reas do conhecimento;

  • 41

    Estimular atividade docente em dedicao integral escola,

    com tempo efetivo para atividades de planejamento pedaggico,

    individuais e coletivas e a consonncia com as aes do Projeto

    Poltico-Pedaggico implementado com participao efetiva da

    Comunidade Escolar (BRASIL, 2013).

    Isso significa, portanto, que a integrao desses programas em torno do

    ProEI, vem dar incio a um processo de materializao de uma proposta de

    Educao Integral que atenda a realidade histrica, cultural e scio-poltica em

    que os sujeitos sociais da escola pblica baiana esto inseridos.

    3.7.2 O ProEI e os Projetos Estruturantes da Secretaria da Educao da Bahia

    A Secretaria da Educao do Estado da Bahia vem envidando esforos

    na tentativa de articular todos os seus Projetos Estruturantes na escola

    buscando a melhoria da qualidade do ensino pblico nos seus diversos

    segmentos.

    Cabe lembrar que:

    Os Projetos Estruturantes constituem uma categoria composta por um conjunto de aes que, alm de implementarem polticas educacionais, buscam a reestruturao dos processos e gesto pedaggicos, a diversificao e inovao das prticas curriculares e, como consequncia e foco principal, a melhoria das aprendizagens. O dilogo entre eles, possibilita uma maior articulao, que otimiza a organizao do trabalho pedaggico na escola e paralelamente as aprendizagens dos/as estudantes (SEC/BA, 2013).

    Assim, a articulao dos Projetos Gestar na Escola, Ensino Mdio em

    ao (EM AO), o Cincia na Escola, Artes Visuais Estudantis (AVE), Festival

    Anual da Cano Estudantil (FACE), Tempos de Artes Literrias (TAL),

    Educao Patrimonial e Artstica (EPA), Encontro de Canto Coral (ENCANTE),

    Produo de vdeos Estudantis (PROVE), Jogos Estudantis da Rede Pblica

    (JERP), Juventude em Ao (JA), ProEASE Educao Ambiental, Fanfarras

    Escolares no Compasso da Juventude entre outros, representa a consolidao

  • 42

    de uma nica ao em prol da escola pblica na Bahia: fortalecer as

    aprendizagens.

    A proposta do ProEI vem nessa direo. O Programa possui no seu

    escopo a construo de uma rede de aes articuladas com as aes dos

    Projetos Estruturantes de maneira a corroborar com a promoo de um

    processo de formao escolar mais global, fortalecendo as aprendizagens em

    diversos campos: o cognitivo, o emocional, o cultural, o tico, o poltico, o social

    entre outros.

    O que se pretende desenvolver um currculo, com foco na

    interdisciplinaridade, na contextualizao, na flexibilidade, no equilbrio entre

    teoria e prtica em que os diversos Projetos da SEC no apenas dialoguem,

    mas sobretudo coadunem suas metas, objetivos, aes e formas de

    operacionalizao visando consolidar uma prxis educativa emancipatria na

    escola pblica, a partir do ensino sistemtico, planejado, criativo, disseminador

    do conhecimento cientfico, cultural, artstico e da produo de saberes

    diversos nas mais variadas formas de expresso.

    Neste sentido, as aes do ProEI buscam constituir uma rede de

    articulaes, de natureza integradora, de modo a potencializar as atividades

    pedaggicas que as escolas vem desenvolvendo com os projetos

    estruturantes, tendo como horizonte a formao integral do estudante e o

    desenvolvimento de todas as suas potencialidades.

  • 43

    REDE DE ARTICULAES ProEI19:

    Essa teia de articulao compe a tecitura de uma prxis educativa que

    busca estruturar e fortalecer a organizao do trabalho pedaggico na escola,

    bem como potencializar o uso dos diversos materiais que a ela chegam.

    Nessa rede, as atividades dos projetos estruturantes constituem um

    conjunto entrelaado de aes, s quais medida que forem sendo

    incorporadas ao dia a dia da escola, mais conexes sero realizadas,

    potencializando e integrando o conhecimento nas mais diversas reas do

    saber.

    na perspectiva da rede de articulao que o ProEI promove uma

    proposta curricular, pedaggica e operacional relacionadas com os projetos

    estruturantes.

    19 Essa Rede de Articulaes est em processo de atualizao. Outros projetos e programas esto sendo agregados.

  • 44

    3.8 Avaliao, Acompanhamento e Interveno

    O ProEI possui no seu escopo o desenvolvimento de aes de

    acompanhamento, avaliao e interveno na implantao/implementao do

    Programa nas Unidades Escolares. Para isso, se funda em pressupostos que

    balizam a construo de aes voltadas para ressignificar o processo de

    monitoramento e interveno pedaggica.

    Nesse sentido, o Programa compreende a avaliao como um processo

    orientador que traz luz a dimenso pedaggica, fornecendo informaes que

    permitem aos agentes escolares serem autnomos no processo de

    intervenes e redirecionamentos que se fazem necessrios no mbito das

    decises coletivas e contextuais de um projeto educativo comprometido com as

    aprendizagens dos estudantes (SOUSA, 1993).

    No bojo dessas aes avaliativas, o acompanhamento permite a

    execuo de um conjunto de estratgias destinadas a viabilizar o programa,

    examinando continuamente os processos, produtos, resultados e impactos das

    aes realizadas, identificando as vantagens e os pontos frgeis em prol dos

    ajustes necessrios.

    Desse modo, tanto o processo de avaliao como o de

    acompanhamento corroboram para a elaborao de estratgias e aes de

    fortalecimento do ProEI. Cabe salientar que compreendemos o processo de

    interveno como uma ao criteriosa, efetiva e catalisadora que atua nos

    fenmenos educativos de modo a potencializar a autonomia do coletivo

    escolar.

    A operacionalizao do ProEI nas escolas da Rede Estadual exige um

    acompanhamento sistemtico, com registros dos aspectos relevantes que

    possam afetar positivamente ou negativamente os resultados que se esperam.

    Uma prxis que oferea subsdios para uma avaliao crtica e dialgica da

    ao pedaggica e que vise uma proposio coletiva de estratgias para

    reorganizao do trabalho pedaggico.

  • 45

    Finalmente, as trs dimenses supracitadas devem ser planejadas de

    forma bem articulada entre a Coordenao de Educao Integral, as Unidades

    de Ensino e o NUPAIP Regional. Tambm deve ser observado a

    sistematizao e a anlise dos resultados de aprendizagens parciais e totais,

    oriundas do Sistema de Gesto Escolar (SGE) a partir de aes como:

    Definir cronograma de atividades de acompanhamento

    pedaggico e interveno para redirecionamento da prtica

    pedaggica;

    Apoiar as escolas na (re)construo, socializao e implantao

    do Projeto Poltico Pedaggico;

    Articular aes pedaggicas visando a ressignificao dos planos

    de curso e de aula dos professores;

    Coordenar, acompanhar e assegurar registros das Atividades

    Complementares, viabilizando a formao pedaggica em

    servio;

    Promover encontros para o fortalecimento da participao efetiva

    dos representantes dos Colegiado Escolar na tomada de

    decises;

    Recomendar aes de (re)construo de estratgias que

    propiciaro melhorias nos processos de ensino e aprendizagem;

    Incentivar a divulgao das experincias em relao ao ProEI.

  • 46

    4. Consideraes Finais

    A educao escolar um direito social de cada cidado e dever do

    Estado na sua oferta pblica, gratuita e com qualidade para todos. Pensar o

    estudante como sujeito de direitos compreend-lo na sua inteireza e em

    todas as relaes que ele estabelece consigo mesmo e com o mundo. Por

    essa razo, a proposta da Educao Integral no deve est centrada no

    aumento da jornada escolar e/ou no romper os muros da escola, mas, ao

    contrrio, na ampliao de tempos, espaos que traduzam a ampliao de

    oportunidades educativas e de aprendizagens diversas, em outros contextos

    sociais.

    Na dimenso da Educao Integral aqui projetada so desveladas

    perspectivas que transcendem as abordagens reducionistas que enfatizam

    apenas a dimenso cognitiva na educao formal. No contraponto dessas

    abordagens, o ProEI compreende o ser humano dotado de mltiplas

    dimenses (cognitiva, psicolgica, subjetiva, corporal, intelectual, artstica,

    poltica, afetiva etc.), imerso em um amplo contexto de relaes e situado sob a

    influncia de fatores histrico-socais que configuram a sua realidade.

    Nesse sentido, promover a formao integral do estudante significa que,

    para alm das 4 horas dirias de aulas, devem ser criados espaos, tempos e

    oportunidades educativas, na escola e/ou fora dela, que ampliam as vivncias

    individuais e coletivas e as situaes de aprendizagens. Significa construir um

    processo formativo planejado sistematicamente pelos profissionais da

    educao, juntamente com os estudantes, que potencializem um currculo

    integrado, integre os diversos campos do conhecimento, ampliem as

    possibilidades de um processo de desenvolvimento cognitivo, afetivo, cultural,

    poltico e social.

    Finalmente, o ProEI no termina aqui, mas vai adiante para toda a

    comunidade escolar na tentativa de fomentar um amplo debate sobre a

    formao humana integral e a reorganizao curricular, tendo como base o

    currculo integrado, os aspectos intra e intersetoriais no fortalecimento das

    aprendizagens; a educao enquanto direito social e o papel dos professores

    no processo de formao dos estudantes, sujeitos sociais em formao.

  • 47

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