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Prof. Dr. Joseval Martins Viana Rua da Consolação, 65 1º andar tel.: 2888-5222 COMO PROPOR AÇÕES JUDICIAIS CONTRA PLANOS DE SAÚDE 1. Introdução A Constituição Federal de 1988 proporcionou aos brasileiros direitos fundamentais à dignidade da pessoa humana. Entre eles, a proteção à saúde do cidadão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças.” Com fundamento nas normas internacionais referentes à saúde, a Constituição Federal de 1988 definiu o direito à saúde como um princípio de garantia a todos os brasileiros. É o que se infere do art. 196 da Constituição Federal: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. O comando constitucional dispõe claramente que a saúde é direito de todo cidadão, tornando-se dever do Estado garantir o acesso à saúde àquele que necessitar, proporcionando ações sociais e econômicas com o objetivo de reduzir o risco de doença e viabilizar ao cidadão, de forma universal e igualitário, ações e serviços para promover sua saúde, protegê-la e recuperá-la em caso de enfermidade. O legislador constitucional também afirma que a saúde é um direito social, conforme dispõe o art. 6º da Carta Maior: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Partindo, portanto, da afirmação de que a saúde é tutelada pelo Estado, e, em razão de a demanda ser expressiva, o Estado permitiu às instituições privadas que

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COMO PROPOR AÇÕES JUDICIAIS CONTRA PLANOS DE SAÚDE

1. Introdução

A Constituição Federal de 1988 proporcionou aos brasileiros direitos

fundamentais à dignidade da pessoa humana. Entre eles, a proteção à saúde do

cidadão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “saúde é um estado de

completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças.”

Com fundamento nas normas internacionais referentes à saúde, a

Constituição Federal de 1988 definiu o direito à saúde como um princípio de garantia

a todos os brasileiros. É o que se infere do art. 196 da Constituição Federal:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença

e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e

serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

O comando constitucional dispõe claramente que a saúde é direito de todo

cidadão, tornando-se dever do Estado garantir o acesso à saúde àquele que

necessitar, proporcionando ações sociais e econômicas com o objetivo de reduzir o

risco de doença e viabilizar ao cidadão, de forma universal e igualitário, ações e

serviços para promover sua saúde, protegê-la e recuperá-la em caso de

enfermidade.

O legislador constitucional também afirma que a saúde é um direito social,

conforme dispõe o art. 6º da Carta Maior:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a

moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma

desta Constituição.

Partindo, portanto, da afirmação de que a saúde é tutelada pelo Estado, e, em

razão de a demanda ser expressiva, o Estado permitiu às instituições privadas que

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promovessem a proteção à saúde por meio dos planos de saúde, consoante dispõe

o art. 197 da Constituição Federal:

São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao

Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação,

fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou

através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito

privado.

Esse artigo constitucional orientou a regulação estatal dos serviços privados

de saúde.

Posteriormente, veio o Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90)

para estabelecer limites ao legislador ordinário, impedindo a criação de normas com

conteúdos que possam restringir, limitar, impedir ou anular quaisquer direitos do

consumidor, visto que o Estado deve promover, na forma da lei, a defesa do

consumidor, segundo o art. 5º, inciso XXXII, da Constituição Federal.

Para proteger o consumidor em relação ao plano de saúde, o Estado criou a

Agência Nacional de Saúde por intermédio da Lei n. 9.961/2000, ratificando a

proposição de que a saúde é tutelada pelo Estado. Existe também a Lei n. 9.656, de

3 de junho de 1998, que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à

saúde.

Pois bem, antes de avançarmos, vamos recapitular o que vimos até aqui:

A saúde é direito de todos e dever do Estado.

A saúde é um direito fundamental do cidadão, tornando-se tão

relevante que foi elevada à categoria de princípio fundamental da

dignidade da pessoa humana.

O Estado deve garantir acesso à saúde àquele que dela necessitar.

A saúde é considerada um direito social.

O Estado permitiu que terceiros promovessem a proteção à saúde por

meio dos planos de saúde.

Ao autorizar que terceiros promovessem a proteção à saúde, teve de

proteger o consumidor, regulando essa relação jurídica por meio do

Código de Defesa do Consumidor.

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Para ampliar essa proteção, criou a Agência Nacional de Saúde

Suplementar (ANS)

2. Relação jurídica de consumo: conceito e natureza das normas da relação de

consumo

A relação jurídica entre beneficiário e plano de saúde é regida pelo Código

de Defesa do Consumidor. Essa afirmação é feita com fundamento na Súmula 469

do STJ: “Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de

saúde.”

O que é relação jurídica? Relação jurídica é o vínculo estabelecido entre

duas pessoas, visto que uma pode requerer um determinado bem a que a outra

está obrigada contratualmente. No da saúde, o beneficiário visa a obter a prestação

de serviço do plano de saúde.

Do ponto de vista processual, a relação jurídica é o conflito de interesses

normatizado pelo direito. Nesse caso, é importante observar que a relação jurídica

não implica necessariamente o ajuizamento de uma ação judicial, entretanto, a ação

judicial implica necessariamente a existência de uma relação jurídica.

Exemplo: a relação jurídica pode caracterizar-se por meio de um contrato. Se

beneficiário e plano de saúde firmarem contrato e houver cumprimento das cláusulas

contratuais por parte da seguradora, não haverá ação judicial. Contudo, se o plano

de saúde, nessa relação jurídica, não cumprir as cláusulas contratuais, haverá,

portanto, ação judicial.

Por sua vez, a relação jurídica de consumo é qualquer relação jurídico-

obrigacional estabelecida entre o beneficiário e o plano de saúde, figurando como

objeto a prestação de um serviço que é a saúde.

A relação jurídica na saúde e a norma jurídica mantêm estreita relação. A

norma jurídica é uma regra de conduta imposta, admitida ou reconhecida pelo

ordenamento jurídico. Exemplo: Código de Defesa do Consumidor

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A norma jurídica divide-se em:

a) Norma de conduta: disciplina o comportamento dos cidadãos na própria

sociedade. Ex.: Direito Civil.

b) Norma de organização: estrutura a disciplina de processos técnicos de

identificação e aplicação de normas. Têm caráter instrumental. Ex.: Direito

Processual Civil

Reafirma-se, portanto, que o Código do Consumidor é a norma de conduta

que norteia a relação beneficiário-plano de saúde. Se a relação jurídica contratual for

desrespeitada, aplica-se o Código de Processo Civil (de caráter instrumental) para

fazer valer o direito do beneficiário-consumidor.

Antes de dar sequência a essa reflexão, é importante relembrarmos de alguns

conceitos básicos do Código de Defesa do Consumidor, a fim de se estabelecer uma

nítida relação entre beneficiário e plano de saúde, a saber: consumidor, fornecedor

produto e serviço.

a) Consumidor é “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza

produto ou serviço como destinatário final.” (Art. 2º do CDC). Exemplo:

beneficiário do plano de saúde.

b) Fornecedor “é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional

ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem

atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação,

importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou

prestação de serviços.” (Art. 3º do CDC). Exemplo: o administrador e o

operador do plano de saúde.

c) Produto “é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.” (Art. 3º,

§ 1º, do CDC). Exemplo: planos de saúde.

d) Serviço “é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,

mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de

crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter

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trabalhista.” (Art. 3º, § 2º, do CDC). Exemplo: atendimento hospitalar e

outros serviços relativos à saúde como, por exemplo, laboratoriais.

Observemos, ainda, que a relação jurídica entre beneficiário e plano de saúde

tem os seguintes elementos:

a) sujeito: fornecedor e consumidor;

b) objeto: produto ou serviço;

c) finalidade: que o beneficiário adquira o plano de saúde como destinatário

final.

Infere-se, portanto, desse raciocínio que as operadoras de saúde

(seguradoras e planos) são típicas fornecedoras de serviço, e a elas se aplica o

Código de Defesa do Consumidor, pois o beneficiário dos planos ou das

seguradoras são consumidores e estão em posição economicamente inferior, ou

seja, na posição de hipossuficientes.

Deve-se considerar ainda que as normas de proteção e defesa do consumidor

são de ordem pública e de interesse social, por isso não seguem ao formalismo

processual, devendo o juiz de direito examinar a demanda em toda a sua extensão,

independente da manifestação da parte.

A ideia de ordem pública no processo civil fica evidente, quando o juiz de

direito pode buscar a verdade dos fatos sem impulso das partes. Matéria de ordem

pública pode ser analisada pelo juiz de direito na busca da solução da lide, visto que

o beneficiário é hipossuficiente.

3. Os contratos de consumo e sua repercussão na área da saúde

O contrato é o instrumento que concretiza uma relação jurídica de natureza

obrigacional, normatizando direitos e deveres para os contratantes.

Por sua vez, o contrato de plano privado de assistência à saúde é um contrato

celebrado entre o beneficiário e o plano de saúde, no qual aquele assume a

obrigação de realizar periodicamente pagamento mensal, enquanto este se obriga a

disponibilizar atendimento em rede médica específica e a assumir os custos desse

atendimento.

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3.1. Características do contrato do plano de saúde

São características contratuais do plano de saúde:

a) Plurilateralidade: dá-se a plurilateralidade, quando o beneficiário

pertence a planos coletivos, entretanto, se o beneficiário contratar

individualmente o plano de saúde, a característica do contrato passa a ser

bilateral.

b) Trato sucessivo e prazo indeterminado: os efeitos contratuais

prolongam-se no tempo, e a rescisão contratual opera-se por vontade das

partes. Contudo, em se tratando de contrato de plano de saúde, a rescisão

por parte da operadora somente será legal se houver expressa

autorização da ANS, nas hipóteses de inadimplemento superior a 60 dias.

c) Onerosidade: trata-se de um contrato que envolve necessariamente

pagamento sucessivo e mensal do beneficiário. Ressalte-se que o

inadimplemento por si só não permite que a operadora do plano de saúde

suspenda ou interrompa o atendimento, muito menos a rescisão unilateral

sem expressa autorização da ANS, precedido do devido processo

administrativo.

d) Comutatividade: refere-se à troca de obrigações. Nesse caso, obrigações

mútuas para os contratantes. Para o beneficiário, o pagamento das

mensalidades; para o plano de saúde, a disponibilização de atendimento

em rede de serviços médicos.

e) Adesão: não há espaço para modificar as cláusulas contratuais. O

beneficiário assina o contrato já elaborado pela operadora do plano de

saúde.

f) Aleatoriedade: contrato aleatório é aquele que repousa sobre um

acontecimento incerto. Nesse caso, a operadora do plano de saúde

assume o risco financeiro de arcar com o ônus dos gastos médicos,

tratamentos médicos, exames laboratoriais etc.

Antes de avançarmos, vamos retomar o que vimos até aqui.

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3.2. Princípios gerais do código de defesa do consumidor

Uma vez que as operadoras dos planos de saúde submetem-se ao Código de

Defesa do Consumidor, faz-se necessário relembrar seus princípios gerais, pois

fundamentam a peça processual.

a) Princípio da vulnerabilidade do consumidor: reconhece que o

consumidor (beneficiário) é a parte mais fraca, ou seja, hipossuficiente.

Esse princípio tem por objetivo reequilibrar a relação de consumo,

proibindo ou limitando práticas abusivas no mercado. A inclusão do

reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no Código de Defesa

do Consumidor brasileiro decorre da Resolução da ONU n. 39/248, de

1985, que estabeleceu em seu art. 1º que o “consumidor é a parte mais

fraca”.

A relação jurídica estabelecida entre o beneficiário e

o plano de saúde é regida pelo Código de Defesa do

Consumidor.

A relação jurídica é o vínculo estabelecido entre duas

pessoas, porque uma delas pode requerer um

determinado bem que a outra está contratualmente

obrigada.

Do ponto de vista processual, relação jurídica é o

conflito de interesses normatizado pelo direito.

Relação de consumo é qualquer relação jurídico-

obrigacional estabelecida entre beneficiário e plano

de saúde.

A norma jurídica é uma conduta imposta, admitida ou

reconhecida pelo ordenamento jurídico.

A norma jurídica divide-se em norma de conduta e

norma de organização.

A relação jurídica apresenta os seguintes elementos:

sujeito, objeto e finalidade.

O contrato é o instrumento que concretiza uma relação

jurídica de natureza obrigacional, normatizando direitos e

deveres para os contratantes.

O contrato de plano de saúde é um contrato celebrado entre

beneficiário e plano de saúde. Aquele paga as

mensalidades, e este disponibiliza o atendimento em rede

hospitalar.

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b) Princípio do dever governamental: o Estado tem a responsabilidade de

promover ações eficazes para proteger o consumidor.

c) Princípio da garantia de adequação: adequação dos produtos e serviços

referentes à segurança e à qualidade que é a finalidade ideal almejado

pelo sistema protetivo do consumidor.

d) Princípio da boa-fé nas relações de consumo: diz respeito à lealdade

nas relações entre consumidor e fornecedor, visando a combater os

abusos praticados no mercado.

e) Princípio da informação: devem ser esclarecidos os direitos e deveres

do consumidor e do fornecedor, harmonizando a relação de consumo.

f) Princípio do acesso à justiça: o Estado deve viabilizar o acesso do

consumidor ao Poder Judiciário, a fim de pleitear o direito lesado.

Seguindo esse mesmo raciocínio, faz-se necessário enumerar os direitos

básicos do consumidor (Art. 6º do CDC), a saber:

a) Dever do fornecedor de informar os possíveis riscos que o produto e/ou

serviço oferece à vida, saúde, segurança e patrimônio do consumidor.

b) A educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e

serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas

contratações.

c) a Informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,

com especificação correta de quantidade, características, composição,

qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que

apresentem.

d) a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais

coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou

impostas no fornecimento de produtos e serviços;

e) a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais

coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou

impostas no fornecimento de produtos e serviços.

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f) A modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações

desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as

tornem excessivamente onerosas.

g) A efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,

individuais, coletivos e difusos.

h) O acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção

ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou

difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos

necessitados.

i) A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus

da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for

verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as

regras ordinárias de experiências.

j) A adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

Os efeitos jurídicos dos contratos de assistência à saúde têm início a partir da

data da assinatura da proposta de adesão ou da assinatura do contrato ou do

pagamento da mensalidade inicial. Esse contrato se renova automaticamente a

partir da vigência inicial, sendo proibida a cobrança de qualquer taxa a título de

renovação.

O contrato do plano de saúde é contrato de adesão. Entretanto, o contrato de

adesão, por si só, não é nulo. Devem-se analisar suas cláusulas contratuais. Se o

contrato de adesão não contiver cláusulas abusivas, não há, portanto, abusividade

contratual.

O art. 54 do Código de Defesa do Consumidor define o que é contrato de

adesão. Dispõe o mencionado artigo que:

Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas

pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo

fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa

discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

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Os contratos de adesão deverão ser escritos com palavras claras e

escrita visível, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de

forma a facilitar a compreensão pelo consumidor.

As cláusulas que impliquem limitação de direito do consumidor deverão ser

redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão. Nesse caso,

as letras devem ser escritas com corpo maior que doze.

É sabido e consabido que os beneficiários dos planos de saúde assinam o

contrato sem ter a liberdade de escolher as cláusulas contratuais, uma vez que elas

já se encontra redigidas e são impostas pelos planos de saúde. Por essa razão, o

Estado permite ao beneficiário discutir as cláusulas abusivas.

Note bem: o que se discute nas ações judiciais de planos de saúde são

“cláusulas abusivas” e não “nulidade do contrato”.

No Direito de Saúde Suplementar, o princípio de que as partes se obrigam em

um contrato é relativizado a favor do equilíbrio contratual, permitindo o Código de

Defesa do Consumidor, no art. 6º, inc. V, “a modificação das cláusulas contratuais

que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos

supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.”

A expressão “cláusula leonina” tem origem numa fábula de Esopo (escritor da

Grécia antiga): uma vaca, uma cabra e uma ovelha haviam feito um acordo com um

leão com o objetivo de caçar um cervo. Depois da bem sucedida caça, partindo o

cervo em quatro partes, o leão disse: a primeira parte me pertence, pois é meu

direito como leão; a segunda também me pertence, porque sou mais forte do que

vós; a terceira levo, porque trabalhei mais que todos; e quem tocar na quarta parte

me terá como inimigo, de modo que o leão tomou o cervo para si.

O art. 51 do CDC indicam as cláusulas contratuais consideradas abusivas.

Não se trata de cláusula taxativa, em virtude da expressão “entre outras” no “caput”

do artigo. Dentre elas interessam ao Direito da Saúde Suplementar:

a) subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos

casos previstos neste código;

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b) estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o

consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a

boa-fé ou a eqüidade;

c) estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;

d) permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de

maneira unilateral;

e) autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que

igual direito seja conferido ao consumidor;

f) autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a

qualidade do contrato, após sua celebração.

4. Empresas operadoras de planos privados de assistência à saúde

Os sistemas privados de medicina supletiva são aqueles que desempenham

funções de prestação de serviços de saúde não remuneradas pelo setor público. As

principais modalidades do setor da saúde são: medicina em grupo, cooperativas

médicas, as administradoras e o seguro-saúde.

Para este estudo, interessa definir administradora e operadoras dos planos de

saúde. As administradoras, como o próprio nome diz, administram planos ou

serviços de assistência à saúde. São financiadas por operadora, não assumem o

risco decorrente da operação dos planos de saúde e não possuem redes próprias da

saúde. A operadora de plano de assistência a saúde é a pessoa jurídica constituída

sob a modalidade de sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou entidade de

autogestão, que opere produto ou serviço.

O art. 4º da Resolução n. 08/1998 do Conselho de Saúde Suplementar

(CONSU) enumera os deveres das operadoras de saúde:

a) Informar clara e precisamente ao consumidor, no material publicitário, no

contrato e no livro da rede de serviços, os mecanismos de regulação

adotados e todas as condições de cada modalidade.

b) Encaminhar à ANS, quando solicitado, documento técnico demonstrando

os mecanismos adotados e os critérios para sua atualização.

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c) Quando houver impasse no decorrer do contrato, se solicitado, fornecer ao

consumidor laudo detalhado com cópia de toda a documentação relativa

às questões de impasse.

d) Garantir ao consumidor o atendimento pelo profissional avaliador para

definição dos casos de aplicação das regras de regulação, no prazo

máximo de 01 dia útil a partir do momento da solicitação ou em prazo

inferior quando caracterizar urgência.

e) Quando houver divergência médica ou odontológica a respeito da

autorização prévia, garantir a definição do impasse através da junta

constituída pelo profissional solicitante (ou nomeado pelo usuário), por

médico da operadora e por um terceiro (escolhido em comum acordo

pelos profissionais acima nomeados), cuja remuneração ficará a cargo da

operadora.

f) Quando houver participação do consumidor nas despesas decorrentes da

realização de procedimentos, informar previamente à rede credenciada

e/ou referenciada em forma de franquia.

g) Em caso de internação, quando optar por fator moderador, estabelecer

valores prefixados por procedimentos e/ou patologias, que não poderão

sofrer indexação, cujos valores devem ser expressos em reais.

O art. 2º da mesma resolução indica o que as operadoras não podem fazer:

a) Impedir ou dificultar o atendimento em situações de urgência e

emergência.

b) Limitar a assistência, adotando valores máximos de remuneração para

procedimentos, exceto as previstas em contratos com cláusulas de

reembolso.

c) Diferenciar por faixa etária, grau de parentesco ou outras classificações

dentro do mesmo plano.

d) Negar autorização para a realização de um procedimento, exclusivamente

porque o profissional solicitante não pertence à rede credenciada da

operadora.

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e) Definir coparticipação ou franquia no valor integral do procedimento a ser

realizado pelo usuário, ou criar fatores de restrição que dificultem o acesso

aos serviços.

f) Limitar, em forma de percentual por evento, os casos de internação,

exceto as definições especificadas em saúde mental.

g) Reembolsar o consumidor as despesas médicas efetuadas através do

sistema de livre escolha, em valor inferior ao pago diretamente na rede

credenciada ou referenciada.

h) Exercer qualquer atividade ou prática que infrinja o Código de Ética

Médica ou Odontológica.

i) Exercer qualquer atividade que caracterize conflito com as disposições

legais em vigor.

A experiência indica que as operadoras de plano de saúde:

a) Negam cobertura de internação e exames laboratoriais;

b) Restrição no período de internação.

c) Aumento desproporcional no valor da mensalidade do beneficiário, quando

ele completa 60 anos de idade.

d) Negativa de cobertura de custeio de tratamento sob o argumento de que a

natureza do medicamento é experimental ou não está previsto no rol de

procedimentos da ANS.

Caso a administradora ou a operadora não cumpram com a cláusula

contratual, resta propor ação judicial.

5. Elaboração de petição inicial de revisão contratual de cláusula leonina de

plano de saúde.

A proposta agora é aplicar a teoria em um caso jurídico, a fim de elaborar a

petição inicial. Para facilitar o trabalho, utilizou-se o problema do V Exame de Ordem

Unificado de Direito Civil (Prova Prático-Profissional) da FGV/2011.

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Em 19 de março de 2005, Agenor da Silva Gomes, brasileiro, natural do Rio

de Janeiro, bibliotecário, viúvo, aposentado, residente na Rua São João Batista, n.

24, apartamento 125, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, contrata o Plano de

Saúde Bem-Estar para prestação de serviços de assistência médica com cobertura

total em casos de acidentes, cirurgias, emergências, exames, consultas

ambulatoriais, resgate em ambulâncias e até mesmo com uso de helicópteros,

enfim, tudo o que se espera de um dos melhores planos de saúde existentes no

país.

Em 4 de julho de 2010, foi internado na Clínica São Marcelino Champagnat,

na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, vítima de grave acidente vascular cerebral (AVC).

Seu estado de saúde piora a cada dia, e seu único filho Arnaldo da Silva Gomes,

brasileiro, natural do Rio de Janeiro, divorciado, dentista, que reside em companhia

do pai, está seriamente preocupado.

Ao visitar o pai, no dia 16 de julho do mesmo mês, é levado à direção da

clínica e informado pelo médico responsável, Dr. Marcos Vinícius Pereira, que o

quadro comatoso do senhor Agenor é de fato muito grave, mas não há motivo para

que ele permaneça internado na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) da clínica, e

sim em casa com a instalação de home care com os equipamentos necessários à

manutenção de sua vida com conforto e dignidade. Avisa ainda que, em 48 horas,

não restará outra saída senão dar alta ao senhor Agenor para que ele continue com

o tratamento em casa, pois certamente é a melhor opção de tratamento.

Em estado de choque com a notícia, vendo a impossibilidade do pai de

manifestar-se sobre seu próprio estado de saúde, Arnaldo entra em contato

imediatamente com o plano de saúde, e este informa que nada pode fazer, pois não

existe a possibilidade de instalar home care para garantir o tratamento do paciente.

Desesperado, Arnaldo procura você, advogado(a), em busca de uma solução.

Redija a peça processual adequada, fundamentando-a apropriadamente.

PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL - Estudo de caso que será apresentado em sala de aula

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Rua da Consolação, 65 – 1º andar – tel.: 2888-5222

6. Política nacional das relações de consumo

O artigo 170, inciso V, da Constituição Federal explicita que o legislador

constituinte, ao tratar da ordem econômica e financeira, entendeu que um dos

princípios gerais da atividade econômica é a defesa do consumidor: “A ordem

econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por

fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,

observados os seguintes princípios: (...) V – defesa do consumidor”.

Ficou claro para a sociedade brasileira que a ordem econômica, fundada na

valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, deve ter por fim assegurar a

todos a existência digna, conforme os ditames da justiça social, observando o

princípio da defesa do consumidor, agora direito fundamental do cidadão brasileiro.

A Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, chamada de Código de Defesa do

Consumidor, nasceu com a especial tarefa de regular as relações jurídicas de

consumo, considerando a desigualdade que se apresentava entre o fornecedor (e

assemelhados) e o consumidor (destinatário final).

Para regulamentar as relações de consumo, o CDC dedicou o capítulo II à

política nacional de relações de consumo, tendo por objetivo o atendimento das

necessidades dos consumidores, o respeito à dignidade, saúde e segurança, a

proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem

como a transparência e harmonia das relações de consumo.

Para tanto, essa política de proteção deve atender aos seguintes princípios:

a) Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de

consumo: o consumidor certamente é aquele que não dispõe de controle

sobre os bens de produção e, por conseguinte, deve submeter-se ao

poder dos titulares destes. (Responsabilidade objetiva e inversão do ônus

da prova)

b) Ação governamental no sentido de proteger efetivamente o

consumidor: esses objetivos devem ser alcançados por iniciativa direta,

por incentivos à criação e desenvolvimento de associações

representativas, pela presença do Estado no mercado de consumo e pela

garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade,

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segurança, durabilidade e desempenho. Cabe ao Estado não apenas

desenvolver atividades no sentido da política nacional de relações de

consumo, com a instituição de órgãos públicos de defesa do consumidor e

incentivo à criação de associações civis representativas, mas, no campo

da ação efetiva, cabe a ele regular o mercado, mediante a assunção de

faixas de produção não atingidas pela iniciativa privada, intervindo quando

haja distorções, sem falar no zelo pela qualidade, segurança, durabilidade

e desempenho dos produtos e serviços oferecidos ao público consumidor.

c) Harmonização dos interesses dos participantes das relações de

consumo: visa à compatibilização da proteção do consumidor com a

necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a

viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170 da

CF), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre

consumidores e fornecedores.