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Indaial – 2020 E HOSPITALAR Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz 1 a Edição DIREITO MÉDICO

Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

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Indaial – 2020

e Hospitalar

Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

1a Edição

Direito MéDico

Page 2: Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Elaboração:

Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Copyright © UNIASSELVI 2020

Revisão, Diagramação e Produção:

Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

Impresso por:

P618d

Pieritz, Vera Lúcia Hoffmann

Direito médico e hospitalar. / Vera Lúcia Hoffmann Pieritz. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

203 p.; il.

ISBN 978-65-5663-167-7

ISBN Digital 978-65-5663-168-4

1. Código de ética médica. - Brasil. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 340

Page 3: Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Prezado acadêmico, a disciplina de Direito Médico Hospitalar pretende realizar uma reflexão referente à Saúde e ao Direito Médico Hospitalar, discorrendo sobre a responsabilidades civis, penais e éticas, como também buscar compreender a questão do gerenciamento, prevenção de riscos, vigilância e biossegurança.

Na Unidade 1 ofereceremos subsídios para compreender a Saúde e o Direito Médico Hospitalar. Falaremos sobre o direito à saúde, e sobre a Saúde na Constituição do Brasil de 1988. Elucidaremos as questões pertinente ao Direito Médico e Hospitalar, estudando a Medicina e o Direito, a Natureza Contratual dos Serviços Médicos, a Lei nº 12.842/2013 (lei sobre o exercício da Medicina) e o exercício legal e ilegal da Medicina. Também aprofundaremos nossos conhecimentos acerca do Código de Ética Médica e legislações complementares, estudando o Código de Ética Médica à luz da Constituição do Brasil de 1988, a ética no Direito, os Fundamentos de um Código de Ética Médica, o Código de Ética Médica (Ressolução CFM n° 2.217, de 27de setembro de 2018) em si e o Código de Processo Ético-Profissional (Ressolução CFM n° 2.145, de 17 de maio de 2016).

Na Unidade 2 proporcionaremos uma aproximação das Responsabilidades Civis, Penais e Éticas, debateremos sobre a responsabilidades profissionais na área da saúde, como também demostraremos os principais aspectos da Responsabilidade Civil no direito brasileiro, a Responsabilidade Civil do médico, a Responsabilidade Médica e o Código do Consumidor, a Responsabilidade Penal, o Processo Administrativo Disciplinar Ético-profissional, a Responsabilidade Objetiva dos hospitais, clínicas e similares e a Responsabilidade dos Planos de Saúde.

Demostraremos aspectos da Judicialização da Saúde por Erro Médico, perpassando por debates relativos ao erro médico hospitalar no Brasil, as diferenças ente erro médico, acidente imprevissível e resultado incontrolável, como também analizaremos os danos indenizáveis em ação de erro médico, como o dano moral, material e estético.

Além disso serão desvelados os aspectos dos comportamentos profissionais na área da saúde, retratando a questão dos comportamentos inadequedos, como a imprudência, negligência e imperícia. Estudando também a questão da culpa e dano, a relação médico-paciente e o nexo causal e as excludentes de responsabilidade.

Na Unidade 3 ofereceremos subsídios para compreender o gerenciamento, prevenção de riscos, vigilância e biossegurança, estudando as políticas e gestão da saúde pública, a gestão de processos e qualidade nos serviços de saúde, os sistemas de informações, inovação e tecnologia na saúde e for fim a questão da avaliação de ambiente e arquitetura de serviços de saúde.

APRESENTAÇÃO

Page 4: Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

GIOOlá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

Também desenvolveremos um debate relativo ao planejamento, gerenciamento e prevenção de riscos, abordando aspectos relacionados ao planejamento estratégico em saúde, o gerenciamento de riscos e prevenção do erro médico, as ações de prevenção do erro médico hospitalar, o modelo do “queijo suíço” na prevenção do erro médico e a documentação médica.

Por fim, demostraremos os principais elementos da Bioética, Biodireito, Biossegurança, Epidemiologia e Vigilância em Serviços de Saúde, analizando seus principais aspectos.

Pronto para começar a estudar o direito médico hospitalar? Então, vamos começar.

Bons estudos!

Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

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Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.

QR CODE

ENADE

LEMBRETEOlá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

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SUMÁRIOUNIDADE 1 — A SAÚDE E O DIREITO MÉDICO HOSPITALAR ................................................ 1

TÓPICO 1 — O DIREITO À SAÚDE ...........................................................................................31 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................32 A SAÚDE NA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL DE 1988 ...........................................................43 PROGRAMAS DA SAÚDE ...................................................................................................11

3.1 ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) ..........................................................................................123.2 PROGRAMA FARMÁCIA POPULAR DO BRASIL ............................................................................ 133.3 SISTEMA NACIONAL DE DOAÇÃO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS .......................................... 133.4 SERVIÇOS DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA (SAMU) ................................................. 14

RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 19AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 21

TÓPICO 2 — O DIREITO MÉDICO E HOSPITALAR ............................................................... 231 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 232 A MEDICINA E O DIREITO ................................................................................................. 243 A NATUREZA CONTRATUAL DOS SERVIÇOS MÉDICOS ................................................ 284 A LEI Nº 12.842/2013 (LEI SOBRE O EXERCÍCIO DA MEDICINA) ................................. 30RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 36AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 38

TÓPICO 3 — O CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA .......................................................................... 411 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 412 ÉTICA E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL .............................................................................. 433 CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (RESOLUÇÃO CFM N°2.217, DE 27 DE SETEMBRO DE 2018) ....................................................................................................... 454 O CÓDIGO DE PROCESSO ÉTICO-PROFISSIONAL (RESOLUÇÃO CFM N°2.145, DE 17 DE MAIO DE 2016) .................................................................................................. 52LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 54RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................................59AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 61

UNIDADE 2 — RESPONSABILIDADES CIVIS, PENAIS E ÉTICAS ...................................... 63

TÓPICO 1 — RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS NA ÁREA DA SAÚDE ..................... 651 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 652 RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO, O CÓDIGO CIVIL E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ............................................................................................. 683 RESPONSABILIDADE PENAL DO MÉDICO .......................................................................724 PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR ÉTICO-PROFISSIONAL ...........................815 RESPONSABILIDADE OBJETIVA DOS HOSPITAIS, CLÍNICAS E SIMILARES ............... 846 RESPONSABILIDADE DOS PLANOS DE SAÚDE ..............................................................87RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 94AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................96

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TÓPICO 2 — A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE POR ERRO MÉDICO .....................................991 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................992 ERRO MÉDICO-HOSPITALAR NO BRASIL ......................................................................1003 ERRO MÉDICO, ACIDENTE IMPREVISÍVEL E RESULTADO INCONTROLÁVEL .............1034 DANOS INDENIZÁVEIS EM AÇÃO DE ERRO MÉDICO .................................................... 110RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 115AUTOATIVIDADE .................................................................................................................117

TÓPICO 3 — COMPORTAMENTOS PROFISSIONAIS NA ÁREA DA SAÚDE ....................... 1191 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1192 COMPORTAMENTOS INADEQUADOS: IMPRUDÊNCIA, IMPERÍCIA E NEGLIGÊNCIA ....... 1214 CULPA E DANO, NEXO CAUSAL E AS EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE ........... 1275 RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE .......................................................................................130LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................132RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................134AUTOATIVIDADE ................................................................................................................136

UNIDADE 3 — GERENCIAMENTO, PREVENÇÃO DE RISCOS, VIGILÂNCIA E BIOSSEGURANÇA .............................................................................................................................139

TÓPICO 1 — GESTÃO DA SAÚDE EM HOSPITAIS E CLÍNICAS .......................................... 1411 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1412 POLÍTICAS PÚBLICAS DA SAÚDE E GESTÃO DA SAÚDE .............................................1423 GESTÃO DE PROCESSOS E QUALIDADE NOS HOSPITAIS E CLÍNICAS .......................1454 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES, INOVAÇÃO E TECNOLOGIA NA SAÚDE ..........................1505 AVALIAÇÃO DE AMBIENTE E ARQUITETURA DE HOSPITAIS E CLÍNICAS ...................1556 IMPACTOS DA NOVA LEI DE PROTEÇÃO DE DADOS PARA A TECNOLOGIA NA SAÚDE ........................................................................................................................ 157RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................160AUTOATIVIDADE ................................................................................................................162

TÓPICO 2 — PLANEJAMENTO, GERENCIAMENTO E PREVENÇÃO DE RISCOS ..............1631 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................1632 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM SAÚDE ................................................................1643 AÇÕES DE PREVENÇÃO DE RISCOS E PREVENÇÃO DO ERRO MÉDICO ......................168RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 176AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 177

TÓPICO 3 — BIOÉTICA, BIODIREITO, BIOSSEGURANÇA, EPIDEMIOLOGIA E VIGILÂNCIA EM SERVIÇOS DE SAÚDE ............................................................................. 1791 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1792 BIOÉTICA E BIODIREITO .................................................................................................1803 BIOSSEGURANÇA, EPIDEMIOLOGIA E VIGILÂNCIA EM SAÚDE...................................182LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................190RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................195AUTOATIVIDADE ................................................................................................................196

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................198

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UNIDADE 1 -

A SAÚDE E O DIREITO MÉDICO HOSPITALAR

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender as nuances relativas à saúde e ao direito médico hospitalar;

• oferecer subsídios para desvelar o direito à saúde, perpassando pela concepção da saúde na Constituição do Brasil de 1988, como também se trabalhará a questão da educação em saúde.

• aprofundar o conhecimento acerca da medicina e o direito, buscando compreender a natureza contratual dos serviços médicos, a Lei nº 12.842/2013;

• ampliar a percepção do Código de Ética Médica e legislações complementares.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – O DIREITO À SAÚDETÓPICO 2 – O DIREITO MÉDICO E HOSPITALARTÓPICO 3 – O CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1!

Acesse o QR Code abaixo:

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O DIREITO À SAÚDE

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico! Um dos direitos fundamentais das pessoas é o direito à saúde, pois um ser humano sem saúde plena não consegue viver a sua vida com plenitude e dignidade, além de poder cercear um ou mais dos elementos básicos das pessoas, tais como a liberdade de ir e vir, de alimentar-se, divertir-se etc.

Ter saúde e mantê-la é primordial para a população em geral, por isso a sociedade define leis, normativas e protocolos para padronizar as condutas profissionais dos médicos, equipes técnicas, hospitais, clínicas e demais instituições prestadoras dos serviços médico-hospitalares, para que se mantenha um padrão de qualidade mínimo aceitável a todos, de modo a atender os interesses de toda a sociedade e não gerar danos aos pacientes e seus familiares.

Vale ressaltar que, desde os primórdios da humanidade, sempre houve doenças, enfermidades e casos de ferimentos provocados por acidentes ou guerras que acometiam as pessoas.

FIGURA 1 – MEDICINA ANTIGA

FONTE: <https://historiaontemehojeblog.wordpress.com/2017/07/15/a-civilizacao-egipcia-literatura-arte--ciencia/>. Acesso em: 8 maio 2020.

Muito se evoluiu na área médico-hospitalar, nos medicamentos, tratamentos e procedimentos gerais utilizados pela medicina moderna para melhorar a vida das pessoas, mas também temos muitos casos de abusos ao ser humano, e é este assunto que estudaremos na unidade.

TÓPICO 1 - UNIDADE 1

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São muitos os parâmetros que devem ser considerados na visão legalista dos atendimentos médicos, clínicas e dos hospitais, e por isso a importância do estudo do direito médico.

FIGURA 2 – MEDICINA MODERNA

FONTE: <https://www.techminds.info/2017/06/13/hospital-brasileiro-investe-em-robos-para-cirurgias/>. Acesso em: 8 maio 2020.

A medicina tem evoluído muito nas suas técnicas, como podemos ver na Figura 2, na qual observamos a ocorrência de uma cirurgia robótica, e a evolução da legislação é fundamental para garantir os direitos dos pacientes, mas também dos médicos, equipe técnica e hospitais, pois, assim como existem maus exemplos por parte de profissionais de medicina ou de funcionários de hospitais/clínicas, há também casos de pacientes.

A legislação brasileira está se moldando à nova realidade, e assim tem ajudado muito os pacientes para lhes trazer conforto nos momentos mais difíceis de sua saúde, mas ainda existem muitas brechas jurídicas.

Vamos agora estudar o direito à saúde!

2 A SAÚDE NA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL DE 1988

Prezado acadêmico, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 trouxe luz a um dos pontos fundamentais a todo ser humano, o direito à saúde, e colocando o Estado com a obrigação de desenvolver, proteger e, em casos extremos, recuperar a saúde da população.

Em verdade, o direito à saúde (para a população em geral) remonta à Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada e publicada no ano de 1948, a qual em seu artigo 25 descreve:

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Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social (ONU, 2009, p. 13).

Como podemos ver no artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o direito à saúde é básico e se torna indissociável ao direito à vida, e deve ser buscado e salvaguardado pelos governantes do país, assim como se foca no valor de igualdade entre todas as pessoas, não importando credo, cor ou qualquer outro fator, somos todos iguais perante a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 2009).

FIGURA 3 – DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. 10 DE DEZEMBRO DE 1948 EM PALAIS

FONTE: <https://thumbs.jusbr.com/filters:format(webp)/imgs.jusbr.com/publications/images/b327a-3725def9c8733ad56a4a7ddd81d>. Acesso em: 2 set. 2020.

Cunha (2011, p. 113), descreve que o direito à saúde é um “direito fundamental [no sentido de desenvolver] às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde” e Ferraz e Vieira (2009, p. 26) afirmam que o mesmo se dá “mediante políticas sociais e econômicas [...] e ao acesso universal e igualitário às ações e servi¬ços para a promoção, proteção e recuperação da saúde”, e isso permite e coloca toda a população como possíveis usuários do sistema de saúde pública do Brasil.

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Dessa forma, vemos também uma evolução na legislação brasileira com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF) com o surgimento de diversos novos pontos importantes em relação à saúde.

Nesse contexto, vimos o cidadão brasileiro conquistando o direito à saúde de forma legal, de acordo com a Constituição Federal de 1988, cujo artigo 196 dispõe: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988).

Olá, acadêmico, você pode pesquisar a Declaração Universal dos Direitos Humanos direto no site da ONU, veja no link a seguir a versão em inglês: https://www.un.org/en/universal-declaration-human-rights/.

70º ANIVERSÁRIO DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

FONTE: <https://www.un.org/sites/www.un.org/files/2018/01/23/udhr-70th-anniversary.png>. Acesso em: 27 ago. 2020.

Agora acesse sua tradução (versão em português): https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf.

CAPA DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

FONTE: <https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2020.

DICA

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Isso é um marco para os cidadãos brasileiros, mas também traz luz sobre o direito do cidadão, das instituições médico-hospitalares e para a figura do médico e, por final, de todos envolvidos na área de atendimento à saúde.

FIGURA 4 – RELAÇÕES DO AMBIENTE DE SAÚDE

FONTE: A autora

Conforme apresentado na Figura 4, o direito à saúde não se restringe apenas ao atendimento médico-hospitalar, clinicas ou unidades básicas, mas envolve todo um conjunto de elementos relacionados que começa com o paciente e sua família, a sociedade e tudo que pode influenciar na saúde da pessoa ou de todos na sociedade.

No Brasil, com a CF de 1988, houve a criação do SUS, que ficou condicionado diretamente à responsabilidade do Estado. Conforme expressado por Lima, Pereira e Pachú (2015, p. 91):

A saúde, portanto, possui inúmeros e complexos fatores que rogam do Estado a formulação de políticas públicas para sua real efetivação. Políticas públicas que ultrapassem a garantia de acesso a serviços e produtos médicos. Tais direitos devem enaltecer e reforçar o disposto no artigo 200 da CF, que estabelece, de forma não exaustiva, as competências do Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, de saúde do trabalhador (inciso II); ações de saneamento básico (inciso IV); pesquisa (inciso V); controle de qualidade de alimentos e bebidas (inciso VI); e proteção do meio ambiente (VIII).

Assim, temos, na Seção II, do Capítulo II da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – que trata da Seguridade Social –, os artigos de 196 a 200 que tratam da questão da saúde e descrevem:

Seção IIDa SaúdeArt. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

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Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo;II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;III – participação da comunidade.§ 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (Parágrafo único transformado em § 1º pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre:I – no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no § 3º;II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios;III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º. (Parágrafo acrescido pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá:I – os percentuais de que trata o § 2º;II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais;III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal;IV – as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União. (Parágrafo acrescido pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.§ 1º As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.§ 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos.§ 3º É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei.§ 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

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I – controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;III – ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;IV – participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;V – incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico;VI – fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano;VII – participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho (BRASIL, 1988).

A legislação anteriormente apresentada confere os rumos para as políticas públicas da saúde e também permite que as entidades privadas atuem. Dessa forma, as esferas pública e privada podem desenvolver em conjunto um trabalho importante para a saúde da população com os devidos parâmetros de trabalho para cumprimento da lei em seus afazeres.

Segundo Lima, Pereira e Pachú (2015, p. 101), “entende-se que o direito à saúde está explicitado nas diversas políticas nacionais e mundiais, sendo dever das autarquias existentes em concretizá-lo e que este ganha uma melhor resolutibilidade quando recebe reconhecimento da sociedade e quando ela o faz ter como garantia de cidadania”.

Conforme Pieritz, Bonetti e Franzmann (2016, p. 131), “nos cinco artigos supracitados da Carta Magna brasileira de 1988, estão consagrados toda a base normativa em relação à saúde no Brasil, e que as demais normas, diretrizes e leis municipais, estaduais e federais deverão ter como seu fundamento esses artigos”. Lima, Pereira e Pachú (2015, p. 101) complementam no tocante das dificuldades em implantação de um programa de saúde igualitário, quando descrevem: “no entanto, muitos entraves são expostos e dificultam que a saúde seja garantida de forma homogênea para todos, principal¬mente os entraves de garantia da saúde dos trabalhadores. Fato que comprova que sem o esforço para que esse direito seja posto em prática, não há ganho e conquistas”.

Quando analisamos os artigos 196 a 200 (apresentados anteriormente) da Constituição da República Federativa do Brasil, verificamos que, em teoria, ela se apresenta de uma forma completa, perpassando a todas reais necessidades da população, porém, na prática, verificamos que a realidade está bem aquém do que ali é definido, e, por isso, verifica-se um aumento na judicialização das questões relativas à medicina e aos hospitais.

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A Constituição Federal de 1988 destaca o direito à saúde da população brasileira e o coloca definitivamente nos meandros do ordenamento jurídico brasileiro (BRASIL, 1988). A partir desse momento, a saúde passa a ser um direito de todo cidadão e gera um dever ao Estado Brasileiro, porém, o Sistema Único de Saúde (SUS) somente foi regulado no ano de 1990, com a Lei nº 8.080, na qual são definidas todas as suas atribuições e funções e a Lei nº 8.142/1990, que descreve a participação da comunidade, gestão e financiamento do SUS.

Apesar da profundidade do significado e dos pontos definidos na Constituição, a legislação brasileira precisou de uma atualização e de novas leis complementares para traduzir e definir adequadamente todos os pontos legais para o exercício e clareamento de todos os pormenores, e você estudará diversos pontos relacionados ao tema neste caderno.

Olá, acadêmico! Iremos detalhar um pouco mais o tema “Judicialização da Saúde” na próxima unidade e por diversos tópicos presentes neste livro, reforçando a importância de se trabalhar corretamente todos os parâmetros definidos na legislação, de modo a garantir os direitos, mas também os deveres de todos os envolvidos. A legislação também precisa evoluir, pois com o passar dos tempos, novas tecnologias surgem e o relacionamento médico, paciente e hospital também estão modificando, estão evoluindo.

MEDICINA MODERNA, ROBÔ DE CIRURGIA DA VINCI

FONTE: <https://www.avovo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/sistema_robotico_da_vinci-1024x683-590x393-1-e1519758917448.jpg>. Acesso em: 12 maio 2020.

ESTUDO FUTURO

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3 PROGRAMAS DA SAÚDE

O sistema brasileiro de saúde é bastante complexo, pois garantir a saúde de mais de 200 milhões de pessoas em uma área continental com condições dispares de cultura, poder aquisitivo e demais variáveis demográficas é algo hercúleo e muito heterogêneo.

Como vimos na Constituição Brasileira de 1988 (BRASIL, 1988), para garantir a saúde e as condições sanitárias no Brasil como prega a lei, temos também que entender e trabalhar suas particularidades, desde as condições operacionais nos postos de saúde nas cidades, aos grandes hospitais especializados. O órgão primaz é o Ministério da Saúde e seus departamentos, que geram as políticas sociais da saúde e mitigam a Previdência Social através do SUS (Sistema Único de Saúde). Em conjunto, estas estruturas desenvolvem trabalhos para fomentar a questão do direito social à saúde pela população.

Assim, o SUS objetiva oferecer à população brasileira disponibilidade e acesso a todos os serviços prestados em saúde de forma integral e gratuita. É um conjunto bem completo de atendimento, o qual oferece procedimentos médicos desde os mais básicos como consultas e exames, até procedimentos intensivos como cirurgias e internações. O SUS é responsável também por desenvolver todas as campanhas de vacinação nacionais, além de ser o gestor dos programas de doação de órgãos e de medula óssea, sendo estes um dos maiores programas públicos a nível mundial.

Olá, acadêmico! É importante salientar que a saúde é de responsabilidade do governo federal, estadual e municipal, o que pode acarretar em ajustes na legislação por hora apresentada neste livro didático, mas você e seus tutores poderão pesquisá-las e apresentá-las para discussão em seus encontros (presenciais ou não), pois a legislação vai evoluindo e suas estruturas vão se modernizando para melhor atender a população.

LEGISLAÇÃO NA ÁREA DA SAÚDE

FONTE: <https://bit.ly/3LstanA>. Acesso em: 14 maio 2020.

ATENÇÃO

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Os principais programas de saúde do SUS são:

• Estratégia Saúde da Família (ESF).• Programa Nacional de Imunização.• Programa Mais Médicos.• Programa Farmácia Popular do Brasil.• Prevenção e Controle HIV/Aids.• Sistema Nacional de Doação e Transplante de Órgãos.• Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME).• Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).• Serviços de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192).

Como você pode ver, este é um tema bastante extenso e com muitos detalhes. Iremos apresentar a você somente os três mais conhecidos.

3.1 ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF)

Esta estratégia, atualmente, é uma das referências para levar a saúde à população em geral, e foi implantada no ano de 1994, sendo um dos baluartes de entrada ao Sistema Único de Saúde.

Inicialmente, a Estratégia de Saúde da Família (ESF) foi criada como um “programa” do Ministério da Saúde, o qual fora chamado de Programa Saúde da Família (PSF), implantado no ano de 1994 e transformado em ESF no ano de 2003 devido ao seu impacto positivo na saúde brasileira.

Atualmente, a ESF trabalha com foco na proximidade da família com as equipes médicas em conjunto com a comunidade. Devido às grandes diferenças regionais no Brasil, a ESF permitiu às equipes médicas de conhecerem melhor a comunidade, desenvolvendo condições especificas de atendimento conforme sua necessidade. De acordo com Carvalho (2018, s.p.):

A Equipe de Saúde da Família está ligada à Unidade Básica de Saúde e é composta por:médico generalista ou especialista em saúde da família ou médico de família e comunidade;enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar ou técnico de enfermagem;agentes comunitários de saúde;cirurgião-dentista generalista ou especialista em saúde da família e auxiliar ou técnico em saúde bucal (opcional).

Essas equipes de atendimento na Unidade Básica de Saúde buscam entender a realidade das famílias e os riscos a que estão expostos, buscando identificar quais são os problemas de saúde de maior ocorrência, buscando sanar e envolver todos da comunidade nos conselhos locais e no Conselho Municipal de Saúde.

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As aplicações são realizadas conforme calendário de imunização ou situação epidemiológica e diferem para cada etapa da vida. Além daquelas que devem ser tomadas por toda a população, há vacinas específicas para gestantes, povos indígenas e pessoas que com destino a lugares onde há risco de alguma doença.

Para que as doenças sejam de fato erradicadas e não haja novos surtos epidêmicos, é fundamental que a população tenha consciência e esteja em dia com suas vacinações. Falando nisso, que tal dar uma olhada na sua carteirinha de vacinação?

3.2 PROGRAMA FARMÁCIA POPULAR DO BRASIL

Foi criado no ano de 2004, e tem como objetivo disponibilizar à população uma gama de medicamentos básicos, os quais são considerados essenciais. Atualmente, desenvolveu parcerias com as farmácias comerciais, as quais se credenciam ao programa e fornecem medicamentos de forma gratuita à população. Os medicamentos oferecidos de forma gratuita nas farmácias populares são para as seguintes doenças:

• hipertensão;• diabetes;• asma.

São fornecidos, também, remédios com desconto para colesterol alto, rinite, mal de Parkinson, osteoporose e glaucoma. Para anticoncepcionais e fraldas geriátricas, existe a possibilidade de se fazer copagamento.

O SUS ainda fornece muitos outros medicamentos em suas unidades de atendimento e, atualmente, contém aproximadamente 900 remédios fornecidos sem custo descritos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME).

3.3 SISTEMA NACIONAL DE DOAÇÃO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS

Um dos mais importantes programas é o Sistema Nacional de Doação e Transplante de Órgãos. Os principais órgãos doados são: coração, córnea, pulmão, rim, fígado, pâncreas e tecidos. Como o tempo de conservação extracorpórea desses órgãos é muito curto – dependendo do tipo de órgão a ser transplantado, o tempo de conservação pode variar entre 3 a 48 horas –, sendo necessário um processo bastante ágil.

O programa brasileiro de transplante de órgãos é considerado um dos maiores do mundo no setor público. Carvalho (2018, s.p.) descreve que, aproximadamente, “87% de todos os transplantes no país são feitos pelo SUS, exclusivamente com recursos públicos”.

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A organização da lista de pacientes que necessitam de órgãos é centralizada em uma lista única, a qual é organizada pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado e pelo Sistema Nacional de Transplantes.

3.4 SERVIÇOS DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA (SAMU)

No ano de 2003, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, mais conhecido como SAMU, foi criado como parte da Política Nacional de Atenção a Urgências.

O SAMU é um serviço de atendimento em situações de emergência médica, seja por acidente ou condição médica, é um atendimento pré-hospitalar, o qual tem como objetivo levar as vítimas em situações de urgência ou emergência de forma mais rápida possível a um hospital, buscando assim evitar problemas ao paciente como sequelas, sofrimento, ou até a sua morte.

É um serviço muito importante para toda a comunidade, prestado 24 horas por dia com atendimentos em qualquer lugar, e o principal, é realizado por uma equipe capacitada e especializada.

Prezado acadêmico, para conhecer mais detalhes sobre os programas do SUS e informações complementares aos programas e estratégias apresentados, recomendamos a leitura do artigo Programas do Sus: algumas iniciativas do Governo Federal, de Talita de Carvalho. Disponível em: https://www.politize.com.br/programas-do-sus-algumas-iniciativas-do-governo-federal/.

DICAS

Este tema é bastante extenso e complexo, e existem muitos outros parâmetros para se compreender melhor o tema “saúde no Brasil”.

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Chegamos ao fi m do primeiro tópico, espero que tenha gostado, leia agora o artigo de Pâmela Moraes, Saúde Pública e as bases de funcionamento do SUS, publicado no site Politize! Posteriormente, veja o resumo do tópico e faça as autoatividades.

Olá, acadêmico, se você quiser saber mais como se estrutura o Ministério da Saúde e outros detalhes sobre a saúde no Brasil, recomendamos o acesso e a leitura dos seguintes sites:

• https://www.saude.gov.br/;• https://bvsms.saude.gov.br/; • https://www.politize.com.br/ministerio-da-saude-aos-conselhos/;• https://www.politize.com.br/direito-a-saude-historia-da-saude-publica-

no-brasil/;• https://www.politize.com.br/panorama-da-saude/;• http://maismedicos.gov.br/.

DICAS

SAÚDE PÚBLICA E AS BASES DE FUNCIONAMENTO DO SUS

Pâmela Morais

Além do conceito ampliado de saúde trazido pelo SUS – que passou a se preocupar com a prevenção de doenças, e não apenas com seus tratamentos – a idealização do Sistema Único de Saúde apresenta dois conceitos importantes: sistema e unicidade. Tais palavras resumem a forma como funciona nossa saúde pública.

A expressão “sistema” representa a interação entre várias instituições com um objetivo em comum. Neste caso, o objetivo pode ser resumido em atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde. Tais instituições pertencem aos três níveis de governo e também ao setor privado contratado e conveniado (que deve seguir as mesmas normas dos serviços públicos).

Atrelada a isso está a ideia de unicidade do SUS, que nada mais é do que a padronização de uma doutrina e de uma organização que devem ser comuns no Brasil inteiro. Ou seja, os objetivos e o funcionamento do SUS devem estar de acordo um modelo nacional de saúde pública levando em conta tanto as suas diretrizes como a forma de agir. Esses e outros princípios foram defi nidos na Constituição de 1988 e regem o funcionamento do sistema de saúde brasileiro desde então.

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QUAIS SÃO OS PRINCÍPIOS DO SUS?

As “ideias-padrão” do SUS podem ser separadas em duas categorias: doutrinária e organizativa. A seguir, explicamos o que cada uma delas engloba.

Princípios doutrinários do SUS

Referem-se aos ideais do Sistema Único de Saúde. É a partir deles que as estratégias de ação são pensadas. Assim, os princípios doutrinários são:

Universalidade: o Estado deve garantir que todos os cidadãos tenham acesso aos serviços de saúde oferecidos, independente de quaisquer características sociais ou pessoais – gênero, raça, profissão, entre outras.

Equidade: busca diminuir as desigualdades no atendimento e, ao contrário do que parece, significa o respeito às diferenças e às distintas necessidades dos pacientes. Seria “tratar desigualmente os desiguais”, focando esforços especiais onde há maior carência. Um exemplo disso é o direito ao atendimento preferencial de idosos acima dos 60 anos, devido à fragilidade de sua saúde;

Integralidade: políticas públicas, tais como educação e preservação ambiental, para assegurar a garantia de qualidade de vida à população.

Princípios Organizativos do SUS

Os princípios organizativos são formas de concretizar os ideais do SUS na prática, por meio de:

Participação Popular: como já vimos, a população teve um papel importante no processo de elaboração do SUS. Justamente por isso, um dos princípios visa a garantir a continuidade dessa participação por meio da criação dos Conselhos e da realização das Conferências de Saúde. Tais espaços são destinados ao controle e avaliação das políticas de saúde, assim como à formulação de novas estratégias.

Descentralização e Comando Único: dispõe sobre a distribuição de poderes e responsabilidades entre os três níveis de governo (municipal, estadual e federal) de modo a oferecer um melhor serviço de saúde. No SUS, essa responsabilidade deve ser descentralizada até o nível municipal, ou seja, o objetivo é que o município – por si só – tenha condições técnicas, gerenciais, administrativas e financeiras para oferecer os devidos serviços. O princípio da descentralização resulta em outro princípio: o do mando único. O mando único permite a soberania de cada esfera do governo para tomar decisões, desde que sejam respeitados os princípios gerais e a participação social.

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Regionalização e Hierarquização: é como o princípio da integralidade torna-se real, já que dentro de uma determinada área geográfica os serviços de saúde devem ser organizados conforme níveis crescentes de complexidade. Isso garante a articulação entre os serviços existentes dentro dessa região de forma a cobrir os diferentes graus de necessidade da população.

Adiante mostramos como ocorre essa hierarquização na prática, que acontece pela divisão de responsabilidades entre os distintos postos de atendimento.

Hierarquia da saúde pública no Brasil

Para que garantir um melhor funcionamento dos serviços de saúde há uma hierarquização dos serviços do SUS. Essa classificação é feita de acordo com a complexidade do caso a ser atendido e é dividida em quatro níveis:

Atenção Básica: engloba os atendimentos e ações de promoção, prevenção e recuperação do estado da saúde, contemplando consultas, vacinação e outras ações. Os atendimentos a famílias também se encaixam aqui, como gestão materna, saúde do idoso, da criança e do adolescente.

Atenção secundária: estágio em que alguma doença já foi identificada e demanda acompanhamento especializado de oftalmologistas e cardiologistas, por exemplo.

Atenção terciária: para pacientes com um quadro mais grave, que precisam ser internados para melhor acompanhamento (por exemplo, nas Unidades de Tratamento Intensivo – UTI).

Reabilitação: seria uma quarta fase para casos em que o paciente teve alta, mas ainda demanda um acompanhamento posterior – como fisioterapia, por exemplo.

Com base nessa classificação, o SUS definiu as unidades de atendimentos de saúde e quais casos cada uma delas pode e deve atender. As principais opções são:

Posto de Saúde: presta assistência à população de uma determinada área (por exemplo um bairro), com agendamentos de consultas ou não. O atendimento é realizado por profissionais da saúde como enfermeiros e auxiliares e pode, ou não, contar com a presença de um médico.

Unidade Básica de Saúde (UBS): realiza atendimentos de atenção básica e integral, como curativos. Os atendimentos englobam especialidades fundamentais, podendo também oferecer serviços odontológicos. A assistência deve ser permanente

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e prestada por médico generalista ou especialistas nas áreas oferecidas – o que pode variar de uma UBS para outra. Além dos médicos, os enfermeiros também desempenham um papel fundamental. Confira aqui algumas de suas funções.

Unidade de Pronto-Atendimento (UPA): consiste em unidades de urgência e emergência abertas 24 horas. Por contar com mais recursos do que um posto de saúde, é capacitada a atender serviços de média a alta complexidade, como casos de pressão alta, infarto, fraturas ou derrame. Na UPA, é o grau de emergência que define a ordem dos atendimentos.

Hospital (incluindo o hospital universitário): destinada ao atendimento dos casos de atenção terciária. Geralmente os pacientes são encaminhados ao hospital pelos níveis anteriores, ou ainda em ambulância. Por contar com maior quantidade de recursos tecnológicos, também são responsáveis por atendimento clínico geral em diversas especialidades. Os hospitais atendem casos de enfermidades que ameacem a vida dos pacientes – como câncer – e realizam cirurgias, entre várias outras funções.

FONTE: <https://www.politize.com.br/saude-publica-e-como-funciona-o-sus/>. Acesso em: 14 maio 2020.

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Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Um dos direitos fundamentais às pessoas é o Direito à Saúde.

• As leis são criadas para padronizar a conduta de médicos e hospitais buscando um padrão mínimo de qualidade de modo a atender os interesses da sociedade.

• A evolução da legislação é fundamental para acompanhar as novas tecnologias na medicina e garantir os direitos dos pacientes, dos médicos e hospitais.

• O Direito à Saúde remonta à Declaração Universal dos Direitos Humanos, publicada no ano de 1948, a qual, em seu artigo 25, descreve:

Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle (ONU, 2009, p. 13).

• O direito à saúde é básico e se torna indissociável ao direito à vida, e deve ser buscado e salvaguardado pelos governantes.

• A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196, dispõe que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação”.

• O SUS objetiva oferecer à população brasileira disponibilidade e acesso aos serviços prestados em saúde a todos de forma integral e gratuita.

• O SUS é responsável por oferecer procedimentos médicos desde os mais básicos como consultas e exames, até procedimentos intensivos como cirurgias e internações.

• O SUS é responsável por desenvolver as campanhas de vacinação nacionais, além de ser o gestor dos programas de doação de órgãos e de medula óssea.

• Os principais programas de saúde do SUS são:o Estratégia Saúde da Família (ESF).o Programa Nacional de Imunização.o Programa Mais Médicos.o Programa Farmácia Popular do Brasil.o Prevenção e Controle HIV/Aids.

RESUMO DO TÓPICO 1

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o Sistema Nacional de Doação e Transplante de Órgãos.o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME).o Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).o Serviços de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192).

• A ESF trabalha com foco na proximidade da família com as equipes médicas em conjunto com a comunidade.

• O Programa Farmácia Popular foi criado no ano de 2004 e tem como objetivo disponibilizar à população uma gama de medicamentos básicos essenciais.

• O SAMU é um serviço de atendimento em situações de emergência médica, seja por acidente ou condição médica é um atendimento pré-hospitalar, o qual tem como objetivo levar as vítimas em situações de urgência ou emergência de forma mais rápida possível a um hospital.

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1 O SUS foi uma conquista importante da população brasileira e, através da Constituição Federal de 1988 e das leis 8.080/1990 e 8.142/1990, definiram o seu modus operandi. Foram criados na sequência diversos programas e estratégias para aproximar o atendimento da saúde com a população.

Analisando os itens apresentados em relação aos programas e estratégias do SUS, assinale a opção que não faz parte deste conjunto.

a) ( ) Programa Nacional de Imunização.b) ( ) Programa Mais Médicos.c) ( ) Programa Minha Casa, Minha Vida.d) ( ) Prevenção e Controle HIV/Aids.e) ( ) Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).

2 A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada e publicada no ano de 1948, traz em seu artigo 25 o direito à saúde. Analise as opções a seguir e assinale a opção que descreve corretamente o artigo.

a) ( ) Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

b) ( ) Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, a viver na riqueza, não existindo pobreza na sociedade.

c) ( ) A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

d) ( ) São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.

e) ( ) As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade.

AUTOATIVIDADE

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O DIREITO MÉDICO E HOSPITALAR

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, acabamos de estudar que a saúde é um direito de todo cidadão brasileiro, pois todo cidadão vai algum dia ter alguma enfermidade, sofrer algum acidente ou, ainda, vai a um médico para realizar alguma consulta de rotina, seja uma gravidez para as mulheres, ou apenas um exame periódico, ou qualquer outra situação. E é neste momento que as questões legais começam a entrar em ação.

Todos os casos de direito médico hospitalar são instaurados em dois momentos específicos, ou antes da atuação médica, geralmente incorrendo contra o estado, pois a pessoa acometida de alguma situação de doença entra contra o estado para conseguir tratamento médico/hospitalar, ou ocorre após uma consulta ou tratamento médico/hospitalar. Neste segundo caso, podemos identificar que o autor do processo impetrado judicialmente no Sistema Judicial Brasileiro é o próprio paciente ou algum de seus familiares.

Com a proliferação da internet e a sua acessibilidade pela população, cada vez mais os cidadãos estão cientes das questões legais, e temos assistido a um aumento considerável, nos últimos anos, da judicialização a temas ligados à medicina, e este fato tem muito a haver com a legislação, por ela se tornar mais clara e proficiente em relação ao tema.

O Direito Médico Hospitalar tem se tornado uma área do direito que exige uma especialização grande do profissional que atua nela, e deixa claro os caminhos que profissionais da medicina, hospitais e suas equipes precisam se percorrer para evitar ou diminuir as questões de judicialização.

Uma primeira das realidades e momentos vividos pelos pacientes, concerne na relação ao atendimento médico e hospitalar, está na relação com o momento do tratamento, em que a necessidade maior está na cura do mal. O segundo momento está na reflexão que o paciente e seus familiares fazem dos fatos ocorridos no processo de atendimento, diagnóstico, tratamento e cura, e um grande montante de processos ligados às questões médico-hospitalares, estas associadas a comportamentos não adequados ou a resultados de tratamentos inadequados ao paciente.

UNIDADE 1 TÓPICO 2 -

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FIGURA 5 – MEDICINA, PACIENTE E JUSTIÇA

FONTE: A autora

A linha entre a medicina, os resultados esperados pelo paciente e sua família, o comportamento médico e a justiça são tênues, e iremos estudá-la melhor neste tópico, no qual discorremos sobre a medicina e sua legislação, a natureza contratual dos serviços médicos e, também, sobre a lei do exercício da profissão de médico.

O conflito médico judicial é algo que remonta dos primórdios da humanidade, desde o código de Hamurabi na história antiga.

2 A MEDICINA E O DIREITO

A história da profissão da medicina sempre foi algo que ligava um ser humano que precisava da cura a outro ser humano que praticava o curandeirismo, com suas poções mágicas e ervas para curar os doentes.

Conforme descrito por Kfouri Neto (2019, p. 64), “as doenças e as dores nasceram juntamente com o homem. Por isso, desde seu primeiro momento de racionalidade, tratou ele de predispor os meios necessários para combater ambos os males”, e Melo (2014, p. 3) complementa descrevendo que:

não é difícil imaginar em que momento, na história da vida do homem, nasceram a dor e a doença. Não temos dúvidas de que elas surgiram com o nascimento do próprio homem, fazendo surgir também, e ao mesmo tempo, a necessidade de busca de soluções para a cura da dor e de superação da doença, bem como do prolongamento da vida, que se pretende eterna.

Como você pode ver, o ser humano, desde os seus primórdios, passa por males, dores e enfermidades, buscando sempre formas de amenizá-los ou curá-los. Dantas (2019, p. 37) descreve que:

não há como falar na história da vida quotidiana da humanidade sem falar na luta pelo conhecimento médico, para curar doenças que sempre estiveram presentes. Para os mais jovens, nascidos em regiões

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desenvolvidas, é difícil acreditar que até poucas décadas atrás, o cidadão comum morria por doenças agora consideradas de fácil tratamento, como a tuberculose ou a pneumonia. A expectativa média de vida era consideravelmente mais baixa, uma vez que os meios disponíveis para o combate às doenças eram precários e, por vezes, empíricos.

A humanidade sempre buscou conciliar a responsabilidade dos curadores sobre os resultados de seus diagnósticos e de suas curas. Assim temos que o primeiro documento a tratar do tema referente à “responsabilidade médica”, são as Tábuas de Nippur e, conforme Dantas (2019, p. 38):

ainda que incompleto, conhecido sobre o tema é a Lei de Ur Nammu, escrita em sumério, mais conhecida como as Tábuas de Nippur (ano 2050 a.C.). Este é o documento mais antigo que se conhece, e constitui a base dos demais códigos que existiram ao longo da evolução da história conhecida da civilização humana, ainda que, à medida em que esta foi se desenvolvendo, estes foram se refinando, embora sempre refletindo o princípio da reparação proporcional ao valor da perda.

Ainda de acordo com Dantas (2019, p. 38), somente 300 anos depois, surge o segundo documento conhecido que trata do tema que é o Código de Hamurabi:

sem dúvidas, se pode afirmar que a história da reparação do dano causado por erro médico começa a partir da existência do Código de Hamurabi, cuja data mais admitida como provável é o ano 1750 a.C. É praticamente uma cópia das Tábuas de Nippur, onde se percorrem todos os aspectos da vida civil, tratando em seus artigos 196 a 201 da matéria relativa à reparação do dano físico, que ocorreria segundo a Lei de Talião (também presente na Lei de Moisés, a seguir exposta), ou por meios de reparação que dependeriam da situação social da vítima.

FIGURA 6 – CÓDIGO DE HAMURABI

FONTE: <https://hav120151.wordpress.com/2015/11/24/codigo-de-hamurabi-origem-da-legislacao-escrita/>. Acesso em: 17 maio 2020.

Dantas (2019, p. 39-40), também, descreve que no Código de Hamurabi as “operações difíceis de serem realizadas, haveria uma compensação pelo trabalho. Por outro lado, [...] se algo saísse errado, penas severas eram impostas a eles”, demonstrando que, historicamente, as penas e punições pela conduta inadequada eram aplicadas.

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Kfouri Neto (2019, p. 66) descreve que na Roma antiga surgiram os princípios genéricos de responsabilidade civil do curandeiro (médico) em seus atos, através da “Lex Aquilia encontram-se os primeiros rudimentos de responsabilidade médica, prevendo a pena de morte ou deportação do médico culpado de falta profi ssional”.

Conforme Melo (2014, p. 4), “no Direito Romano, um texto de Ulpiano, descreve ‘sicut medico imputari eventus mortalitatis non debet, ita quod per imperitiam compotari ei debet’ (assim como não se deve imputar ao médico o evento da morte, deve-se imputar a ele o que cometeu por imperícia)”.

Houve, ainda, infl uências geradas pelas culturas egípcias, gregas entre outras. Melo (2014, p. 4) descreve que:

foi com os gregos que a medicina tomou forma de ciência e passou a contar com explicações racionais das doenças e formas técnicas de cuidados, deixando de ter somente a concepção mágica que a cercava, para ter uma compreensão mais racional de suas origens. A par disso, as crenças e as superstições continuaram a ser prestigiadas, pois estávamos entre os séculos VI e II antes de Cristo. Informa Nestor José Forster que é com Hipócrates, aquele que até hoje é cultuado como o pai da medicina, que a visão até então existente a respeito da atividade médica passou a ser revista e a ganhar novos contornos, agora de cunho racional e científi co.

Prezado acadêmico! Hipócrates é considerado o pai da medicina moderna e todo médico, ao se formar, faz o juramento de Hipócrates, o qual diz:

JURAMENTO DE HIPÓCRATES

Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue:Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus fi lhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus fi lhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profi ssão, porém, só a estes.

Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confi rmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres

DICAS

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Conforme Pieritz (2020, p. 30, no prelo), “a evolução da humanidade trouxe também a evolução da medicina e, consequentemente, das responsabilidades do médico, agora, com base nos princípios fundada pelos romanos, gregos e por outras culturas”.

Na sociedade moderna, conforme os autores Kfouri Neto (2019), Dantas (2019) e Melo (2013), verifica-se que a medicina é um fato social de interesse da coletividade humana, expressado pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 10 de dezembro de 1948, conforme estudado no tópico anterior.

No Brasil, verifica-se que a responsabilidade civil dos médicos vem desde o seu descobrimento, tomando como base o Direito Romano. Conforme Pieritz (2020, no prelo):

A promulgação da Constituição Federal do Brasil de 1988, traz um novo marco para a responsabilidade médica, sendo complementada com o termo de responsabilidade objetiva, prevista no Código de Defesa do Consumidor (CDC), de 1990, que proporciona uma luz na nova era de direitos, a qual veio a se estabelecer no país, com relação ao tema de responsabilidade civil, com o estabelecimento da indenização por dano moral definindo-o através da constituição nacional. No ano de 2015, surge um novo momento jurídico no Brasil, em que foi promulgado o Novo Código de Processo Civil (CPC), através da Lei n° 13.105 de 16/03/2015 e atualizada pela Lei n° 13256 de 04/02/2016, trazendo novos conceitos e atores para avaliação da responsabilidade do médico no país.

ou com os homens livres ou escravizados. Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."

HIPÓCRATES

FONTE: <http://www.wikiwand.com/pt/Juramento_de_Hip%C3%B3crates>. Acesso em: 17 maio 2020.

FONTE: <http://www.camem.uem.br/hipocrates.htm>. Acesso em: 17 maio 2020.

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28

Na atualidade, vimos uma mudança mais centrada na visão cientifica da doença, prevalecendo a lógica e promulgando culpa quando realmente ocorre o erro médico, e a legislação vigente no Brasil e no mundo, traz novos conceitos relacionados à imperícia, negligência e imprudência como pontos focais para as análises e interpretações das demandas jurídicas em relação ao erro médico-hospitalar.

As relações entre paciente, médico e hospitais sempre será conflituosa e dependerá dos resultados alcançados com a cura e tratamento do paciente, mas sempre ficará uma dúvida se os resultados ou a tratativa foi realmente a mais correta, pois um dos pontos que vão sempre orientar os tratamentos são os protocolos de tratamento especificados, mas o ponto mais fundamental é como o corpo do paciente reagirá ao tratamento e isto é um dos grandes pontos a serem considerados, pois cada ser humano, ou melhor, cada corpo, possui uma reação especifica aos tratamentos impostos. Essa é uma das questões que geram conflitos no dia a dia do relacionamento paciente com o médico-hospitalar e que, muitas vezes, leva à judicialização.

3 A NATUREZA CONTRATUAL DOS SERVIÇOS MÉDICOS

Um dos pontos que sempre gera dúvida é a natureza contratual entre o paciente e o médico, o que mudou com a nova CF, o Código de Defesa do Consumidor (CDC); Lei nº 8.078/90; Código Civil (CC); e Lei nº 10.406/02.

Vimos o médico, na atual legislação, como um prestador de serviço e, neste sentido, aplicam-se as questões relacionadas à responsabilidade civil como foco legal para dirimir as questões judiciais. Dessa maneira, no artigo 951 do Código Civil, está descrito que: “Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho” (BRASIL, 2002).

Em relação ao Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 14, temos: “Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos” (BRASIL, 1990). Complementado pelo § 4º, no qual descreve que: “§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa” (BRASIL, 1990).

Assim temos que a relação médico paciente – em termos de contrato de prestação de serviço e a responsabilidade civil do médico – é similar ao de um profissional liberal, sendo de natureza subjetiva, pois exige a prova do elemento subjetivo "culpa" conforme expresso no § 4°.

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Conforme Dias (2020) e Pieritz (2020), temos que as obrigações de um médico são, em geral, de meio e não de resultado, ou seja, deve-se aplicar a melhor técnica disponível e possível para tentar atingir uma cura ao paciente, mas não se pode, entretanto, prometer ou garantir o resultado final do tratamento como certo. Assim, de uma forma geral, o médico presta os seus serviços, mas não pode dar a garantia do resultado.

Prezado acadêmico, Dias (2020) apresenta sucintamente a responsabilidade do médico no seguinte texto:

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO NA LEGISLAÇÃO ATUAL[...]Então, para entender a responsabilidade civil do médico, primeiro é preciso firmar algumas premissas básicas (são conceitos eminentemente jurídicos, mas essenciais para a compreensão do tema) inerentes à relação jurídica entre médico e paciente:

a) A relação jurídica entre médico e paciente é, em regra, uma relação de natureza contratual – é regida por um contrato, que confere a cada uma das partes direitos e deveres.

b) A violação desses deveres contratuais pode gerar danos de 3 (três) naturezas:b.1) danos materiais;b.2) danos morais;b.3) danos estéticos.

c) A obrigação do profissional de saúde, como regra, é de meio e não de fim.d) Regra geral, a responsabilidade civil do médico é de natureza subjetiva,

fazendo com que a culpa desse profissional precise ser provada por aquele que alega ter sofrido o dano.

FONTE: <https://www.migalhas.com.br/depeso/269074/responsabilidade-civil-medica-breve-analise-do-cenario-atual-e-medidas-preventivas>. Acesso em: 18 maio 2020.

IMPORTANTE

“A obrigação do profissional de medicina, como regra geral é de meio (utilizar melhores condições e meios disponiveis) e não de fim (garantia de cura)” (PIERITZ, 2020, no prelo).

CADUCEU DE HERMES

FONTE: <http://clipart-library.com/img1/1324172.png>.

Acesso em: 27 ago. 2020.

ATENÇÃO

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30

Conforme Pieritz (2020, p. 25-26, no prelo):

Deste modo, o médico está comprometido única e exclusivamente em prestar um excelente trabalho técnico profissional, para o qual está habilitado exercer, e não ser responsável por um resultado estanque. Bem como, “significa dizer que o médico não se obriga a restituir a saúde ao paciente que esteja a seus cuidados, mas a conduzir-se com toda a diligência na aplicação dos conhecimentos científicos, para colimar, tanto quanto possível, aquele objetivo” (CHAVES, 1985, p. 396 apud MELO, 2014, p. 112). Em outros termos, pode-se expor que o médico possui o encargo do exercício profissional consciente e responsável, sempre em prol da saúde do paciente. Salienta-se que “a responsabilidade civil dos médicos, enquanto profissionais liberais, pelos danos causados em face do exercício da sua profissão, será apurada mediante aferição da culpa, nos exatos termos do disposto no art. 14 § 4° do CDC e do art. 951 do Código Civil de 2001” (MELO, 2014, p. 113) e, portanto, o médico possui a obrigatoriedade de observar e resguardar, em seus atos profissionais o cumprimento da legislação brasileira vigente.Sob este aspecto, pode-se entender que o médico responde diretamente por seus atos profissionais, pois possui a responsabilidade sobre sua práxis profissional. Assim, este preceito legal reforça que o médico responde pelos atos (de ação ou omissão), que causarem dano a outrem, pois tem a responsabilidade direta sobre o que é realizado ou omitido.

Essa relação é conflituosa em sua essência, desde os primórdios da humanidade, pois a cura de um enfermo é relativa a condições não controláveis pelo médico, pois cada corpo tem as suas características próprias, mesmo que, em média, as pessoas e seus corpos se comportem de uma forma padrão, existem pontos fora de curva, de baixo ou pouco controle, mesmo com a aplicação das melhores técnicas da medicina. Por isso sempre iremos verificar a existência do conflito contratual entre paciente e médico, dependendo do resultado do tratamento aplicado.

4 A LEI Nº 12.842/2013 (LEI SOBRE O EXERCÍCIO DA MEDICINA)

A medicina é uma profissão bastante complexa e que exige conhecimentos muito específicos e, por consequência, vemo-la regida por diversas leis e normas definidas em todas as instâncias. Em especial, citamos o Decreto nº 20.931/32, que foi uma das primeiras leis que regulamentaram a profissão e o exercício da medicina no Brasil. Enquanto a Lei nº 3.268/57 descreve os Conselhos de Medicina e, por conseguinte, o Conselho Federal de Medicina (CFM) – que é responsavel por resoluções e normas específicas assim como a definição do Codigo de Ética Médico.

O médico para exercer a profissão precisa conhecer e obedecer à Lei nº 12.842/2013, que é uma das principais referências legais na área médica, pois descreve as bases para o exercicio da profissão.

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Prezado acadêmico! Trouxemos para você a integra da Lei nº 12.842/2013, para que conheça os detalhes definidos da profissão de médico. O advogado, em sua atividade, deve sempre estar atento às leis em sua versão mais atualizada, por isso recomendamos consultar frequentemente os sites oficiais.

LEI Nº 12.842, DE 10 DE JULHO DE 2013

Dispõe sobre o exercício da Medicina.

Art. 1º O exercício da Medicina é regido pelas disposições desta Lei.Art. 2º O objeto da atuação do médico é a saúde do ser humano e das coletividades humanas, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo, com o melhor de sua capacidade profissional e sem discriminação de qualquer natureza.

Parágrafo único. O médico desenvolverá suas ações profissionais no campo da atenção à saúde para:

I- a promoção, a proteção e a recuperação da saúde;II- a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças;III- a reabilitação dos enfermos e portadores de deficiências.

Art. 3º O médico integrante da equipe de saúde que assiste o indivíduo ou a coletividade atuará em mútua colaboração com os demais profissionais de saúde que a compõem.Art. 4º São atividades privativas do médico:

I- (VETADO);II- indicação e execução da intervenção cirúrgica e prescrição dos cuidados médicos pré e pós-operatórios;III- indicação da execução e execução de procedimentos invasivos, sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, incluindo os acessos vasculares profundos, as biópsias e as endoscopias;IV- intubação traqueal;V- coordenação da estratégia ventilatória inicial para a ventilação mecânica invasiva, bem como das mudanças necessárias diante das intercorrências clínicas, e do programa de interrupção da ventilação mecânica invasiva, incluindo a desintubação traqueal;VI- execução de sedação profunda, bloqueios anestésicos e anestesia geral;VII- emissão de laudo dos exames endoscópicos e de imagem, dos procedimentos diagnósticos invasivos e dos exames anatomopatológicos;VIII- (VETADO);IX- (VETADO);X- determinação do prognóstico relativo ao diagnóstico nosológico;XI- indicação de internação e alta médica nos serviços de atenção à saúde;XII- realização de perícia médica e exames médico-legais, excetuados os exames laboratoriais de análises clínicas, toxicológicas, genéticas e de biologia molecular;XIII- atestação médica de condições de saúde, doenças e possíveis sequelas;XIV- atestação do óbito, exceto em casos de morte natural em localidade em que não haja médico.

§ 1º Diagnóstico nosológico é a determinação da doença que acomete o ser humano, aqui definida como interrupção, cessação ou distúrbio da função do corpo, sistema ou órgão, caracterizada por, no mínimo, 2 (dois) dos seguintes critérios:

NOTA

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I- agente etiológico reconhecido;II- grupo identificável de sinais ou sintomas;III- alterações anatômicas ou psicopatológicas.

§ 2º (VETADO).§ 3º As doenças, para os efeitos desta Lei, encontram-se referenciadas na versão atualizada da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde.§ 4º Procedimentos invasivos, para os efeitos desta Lei, são os caracterizados por quaisquer das seguintes situações:

I- (VETADO);II- (VETADO);III- invasão dos orifícios naturais do corpo, atingindo órgãos internos.

§ 5º Excetuam-se do rol de atividades privativas do médico:

I- (VETADO);II- (VETADO);III- aspiração nasofaringeana ou orotraqueal;IV- (VETADO);V- realização de curativo com desbridamento até o limite do tecido subcutâneo, sem a necessidade de tratamento cirúrgico;VI- atendimento à pessoa sob risco de morte iminente;VII- realização de exames citopatológicos e seus respectivos laudos;VIII- coleta de material biológico para realização de análises clínico-laboratoriais;IX- procedimentos realizados através de orifícios naturais em estruturas anatômicas visando à recuperação físico-funcional e não comprometendo a estrutura celular e tecidual.

§ 6º O disposto neste artigo não se aplica ao exercício da Odontologia, no âmbito de sua área de atuação.§ 7º O disposto neste artigo será aplicado de forma que sejam resguardadas as competências próprias das profissões de assistente social, biólogo, biomédico, enfermeiro, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, profissional de educação física, psicólogo, terapeuta ocupacional e técnico e tecnólogo de radiologia.

Art. 5º São privativos de médico:

I- (VETADO);II- perícia e auditoria médicas; coordenação e supervisão vinculadas, de forma imediata e direta, às atividades privativas de médico;III- ensino de disciplinas especificamente médicas;IV- coordenação dos cursos de graduação em Medicina, dos programas de residência médica e dos cursos de pós-graduação específicos para médicos.

Parágrafo único. A direção administrativa de serviços de saúde não constitui função privativa de médico.

Art. 6º A denominação ‘médico’ é privativa do graduado em curso superior de Medicina reconhecido e deverá constar obrigatoriamente dos diplomas emitidos por instituições de educação superior credenciadas na forma do art. 46 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), vedada a denominação ‘bacharel em Medicina’. (Redação dada pela Lei nº 134.270, de 2016).Art. 7º Compreende-se entre as competências do Conselho Federal de Medicina editar normas para definir o caráter experimental de procedimentos em Medicina, autorizando ou vedando a sua prática pelos médicos.

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Parágrafo único. A competência fiscalizadora dos Conselhos Regionais de Medicina abrange a fiscalização e o controle dos procedimentos especificados no caput, bem como a aplicação das sanções pertinentes em caso de inobservância das normas determinadas pelo Conselho Federal.

Art. 8º Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data de sua publicação.

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12842.htm#art8>. Acesso em: 18 maio 2020.

Como vimos anteriormente, a Lei nº 12.842/13 é bastante detalhista, havendo diversos focos que precisam ser analisados pelos advogados, médicos, conselhos de medicina e comunidade, para que não ocorram desvios de conduta e, assim, servir de base para referenciar se algum profissional está ou não agindo de má fé e, dessa forma, atuando ilegalmente no exercício da profissão.

Cada vez mais vimos diversas situações de pessoas se passando por falsos médicos ou se aproveitando da profissão de médico para tirar proveitos ou vantagens de pacientes ou, também, em casos mais graves, cometendo crimes comuns, o que incorre em delitos sérios tanto em relação à Lei nº 12.842/13 quanto ao Código de Ética Médica.

Quando ocorre de alguém se passar por médico ou executar serviços previstos na Lei 12842/13 sem que o indivíduo tenha esse direito, ele está infringindo a lei com o exercício ilegal da medicina, o que constitui crime e está tipificado no art. 282 do Código Penal (CP):

Art. 282. Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites:Pena – detenção, de seis meses a dois anos.Parágrafo único – Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa (BRASIL, 1940).

Aqui, nesta análise, prevalece os crimes referentes ao exercício da profissão de médico, e não aos atos de médicos que infligem a ética médica e aos crimes comuns.

Esperamos que você tenha gostado deste tópico, pois a visão jurídica da profissão do médico é algo que se tem discutido muito nos meios jurídicos, principalmente após a CF de 1988 e as leis complementares, as quais vieram para esclarecer diversos parâmetros relacionados à conduta médica em relação aos pacientes.

Vamos agora a um artigo sobre crime de exercício ilegal da medicina, posteriormente, faremos um resumo do tópico e, na sequência, faça as autoatividades para fixação de conteúdo.

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REQUISITOS PARA QUALIFICAÇÃO DO CRIME DE EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA

Marcos Mendanha

Exercer ilegalmente a medicina não significa praticar qualquer ato isolado que corresponde à atividade de médico. O tipo penal exige a prática reiterada e continuada de atos privativos dos médicos (RT 524/404). Consuma-se, pois, o crime quando a série de atos é suficiente para constituir a ação habitual.

Exclui, no entanto, o crime o estado de necessidade, como ocorre nas situações de urgência ou falta de profissionais, algo comum no País, principalmente no seu interior (RT 547/366). Por falta de razoabilidade, por certo que não é crime a conduta de pai ou mãe que tratam dos filhos em casos de pouca gravidade.

Exige-se, outrossim, como elemento subjetivo do crime o dolo genérico, que consiste na vontade consciente dirigida ao exercício da profissão de médico, sabendo o agente que lhe falta a autorização legal. Normalmente, a prisão em flagrante pelo crime de exercício ilegal da medicina ocorre quando o sujeito não é médico, mas age, se passa e assina como médico. Comumente, as prisões deflagradas por exercício ilegal da medicina são acompanhadas pelo crime de falsidade ideológica (art. 299 do CP), uso de documento falso (art. 304, CP), falsa identidade (art. 307 do CP), entre outras tipificações possíveis. Não havendo esse “combo”, muitas situações tornam-se discutíveis e, a maioria delas, sequer são qualificadas como criminosas.

O exercício ilegal da medicina é um crime de perigo presumido ou abstrato, no qual a saúde pública é colocada em perigo. Não se discute a questão da concorrência abusiva, mas a questão da saúde pública. Consuma-se, desta forma, independentemente de qualquer propósito de causar danos ou de assumir o risco de produzi-lo, bem como de qualquer evento lesivo.

Qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo do crime. O sujeito passivo do crime é o Estado ou a coletividade de pessoas atingidas indistintamente.

É possível a existência de coautoria e participação de terceiros no crime do exercício ilegal da medicina (RT 351/383), na forma do artigo 29 do Código Penal.

Constitui exercício ilegal da medicina a conduta do agente que se apresenta como ortopedista ou traumatologista, não sendo médico (RT 446/485). Também se decidiu que comete o crime quem mantém laboratório de análises clínicas, atividade exclusiva de médico (RT 248/379). Ainda se decidiu pela configuração do crime de exercício ilegal da medicina no caso de agente que exercia a profissão de parteira

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sem possuir o certificado que é referenciado no artigo 2º, IV, da Lei nº 2.604, de 17 de setembro de 1955, e sem estar inscrita como prática nos termos do inciso VI do mesmo diploma legal (RT 282/539, 376/329, dentre outros). Responde também por exercício ilegal da medicina quem, sem ser médico, mantém clínica médico-psicanalítica para cuidar do estado de saúde mental daqueles que o procuram (JTACrSP 27/273).

Porém, já se decidiu que não pode ser punido o farmacêutico que, fazendo o atendimento da clientela, fornece remédios a doentes, sem cobrar nada além do preço deles (RF 231/328).

De tantos jugados, com diferentes termos, deduz-se que o Direito não é o que está na lei e nem nas obras dos jurisconsultos, porém, como bem disse o grande jurista e magistrado norte-americano Holmes, “Direito é o que é declarado pelo juiz”.

Nos casos narrados no início desta matéria, as ações judiciais atacaram resoluções de conselhos profissionais não médicos, que extrapolaram suas competências ao permitirem que os respectivos profissionais realizassem atividades que foram consideradas privativas dos médicos (*algumas decisões ainda são passivas de mudança).

Talvez, ainda que em todas as ações vença a tese dos médicos, não se postulará a penalização penal pretérita dos profissionais não médicos que agiram com o respaldo das respectivas resoluções, pois isso afrontaria os Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade.

FONTE:<https://www.saudeocupacional.org/2018/03/exercicio-ilegal-da-medicina-o-crime-e-o-principio-da-razoabilidade.html>. Acesso em: 20 maio 2020.

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RESUMO DO TÓPICO 2Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Todos os casos de direito médico hospitalar são instaurados em dois momentos específicos, ou antes da atuação médica, ou ocorre após uma consulta ou tratamento médico/hospitalar.

• Podemos identificar como autor de processo contra o médico ou clínicas/hospitais o próprio paciente ou algum familiar que se sentiu lesado por algum motivo.

• Com a facilidade do acesso pela população de informações, houve um aumento de casos de judicialização a temas ligados ao direito médico/hospitalar.

• Todos os casos de direito médico hospitalar são instaurados em dois momentos específicos, ou antes da atuação médica, ou seja, geralmente incorrendo contra o estado para conseguir tratamento médico/hospitalar, ou após a consulta ou tratamento médico/hospitalar.

• As doenças e as dores nasceram juntamente com o homem e, por consequência, os curandeiros.

• A humanidade sempre buscou conciliar a responsabilidade dos curadores sobre os resultados de seus diagnósticos e de suas curas.

• As Tábuas de Nippur, o Código de Hamurabi e a Lex Aquilia são alguns dos primeiros documentos que trataram da ação do médico e sua responsabilidade.

• Conforme Melo (2014, p. 4), “no Direito Romano, um texto de Ulpiano, descreve: ‘sicut medico imputari eventus mortalitatis non debet, ita quod per imperitiam compotari ei debet’ (assim como não se deve imputar ao médico o evento da morte, deve-se imputar a ele o que cometeu por imperícia)”.

• Hipócrates é considerado o pai da medicina.

• Conforme a humanidade evolui, também ocorre a evolução da medicina e, consequentemente, das responsabilidades do médico.

• A promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 trouxe um novo marco para a responsabilidade médica, sendo complementada com o termo de responsabilidade objetiva, prevista no Código de Defesa do Consumidor (CDC) de 1990.

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• A CF e o CDC trazem uma luz na era de direitos, a qual veio a se estabelecer uma relação ao tema da responsabilidade civil do médico com o estabelecimento da indenização por dano moral.

• As relações entre paciente, médico e hospitais sempre será conflituosa e dependerá dos resultados alcançados com a cura e tratamento do paciente.

• A relação jurídica entre médico e paciente é, em regra, uma relação de natureza contratual – é regida por um contrato, que confere a cada uma das partes direitos e deveres.

• A violação dos deveres contratuais entre o médico e o paciente pode gerar danos materiais, morais e estéticos.

• A obrigação do profissional de saúde, como regra, é de meio e não de fim (cura).

• O médico, para exercer sua profissão, precisa conhecer e obedecer a Lei nº 12.842/2013, que é uma das principais referências legais na área médica, pois descreve as bases para o exercício da profissão.

• O objeto da atuação profissional do médico é a saúde do ser humano e das coletividades humanas, agindo com o máximo de zelo, com o melhor de sua capacidade profissional e sem discriminação.

• Conforme a Lei nº 12842/13 em seu Art. 6º:

a denominação ‘médico’ é privativa do graduado em curso superior de Medicina reconhecido e deverá constar obrigatoriamente dos diplomas emitidos por instituições de educação superior credenciadas na forma do art. 46 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), vedada a denominação ‘bacharel em Medicina’ (Redação dada pela Lei nº 134.270, de 2016) (BRASIL, 2013).

• Quando ocorre de alguém se passar por médico ou executar serviços previstos na Lei nº 12842/13 sem que o indivíduo tenha esse direito, ele está infringindo a lei com o exercício ilegal da medicina, o que constitui crime e está tipificado no art. 282 do Código Penal (CP).

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1 A Lei nº 12.842/2013 detalha as questões relativas ao exercício da profissão de médico. Em seu Art. 5º são descritas as funções privativas ao médico. Assinale a opção correta que apresenta todas as funções privativas do médico:

a) ( ) Perícia e auditoria médicas; coordenação e supervisão vinculadas, de forma imediata e direta, às atividades privativas de médico; ensino de disciplinas especificamente médicas; coordenação dos cursos de graduação em Medicina, dos programas de residência médica e dos cursos de pós-graduação específicos para médicos.

b) ( ) Perícia e auditoria trabalhista; coordenação e supervisão vinculadas, de forma imediata e direta, às atividades privativas de médico; ensino de disciplinas biológicas; coordenação dos cursos de graduação em Medicina, dos programas de residência médica e dos cursos de pós-graduação específicos para médicos.

c) ( ) Perícia e auditoria médicas; coordenação e supervisão vinculadas, de forma imediata e direta às atividades não privativas de médico; ensino de disciplinas especificamente biológicas; coordenação dos cursos de graduação em Medicina, dos programas de residência médica e dos cursos de pós-graduação específicos para médicos.

d) ( ) Perícia e auditoria médicas; coordenação e supervisão vinculadas, de forma imediata e direta, às atividades privativas de médico; ensino de disciplinas especificamente médicas; coordenação dos cursos de graduação de forma em geral, dos programas de construção de residência para médicos e dos cursos de pós-graduação específicos para médicos.

e) ( ) Perícia e auditoria médicas; coordenação e supervisão vinculadas, de forma imediata e direta, às atividades privativas de enfermeiros; ensino de disciplinas especificamente médicas; coordenação dos cursos de graduação em geral, dos programas de estágio em geral e dos cursos de pós-graduação de forma geral.

2 A relação jurídica entre médico e paciente é, em regra, uma relação de natureza contratual – é regida por um contrato, que confere a cada uma das partes direitos e deveres. E que a violação desses deveres contratuais entre o médico e o paciente pode gerar três tipos de danos. A respeito dos danos citados, marque com a letra V as opções verdadeiras e com a letra F as falsas:

( ) Danos materiais.( ) Danos morais.( ) Danos estéticos.( ) Danos imobiliários.( ) Danos documentais.

AUTOATIVIDADE

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Assinale a alternativa que apresenta o sequenciamento correto das respostas para as opções apresentadas anteriormente:

a) ( ) V – V – V – V – V.b) ( ) F – F – F – V – V.c) ( ) F – F – F – F – F.d) ( ) F – V – V – V – Fe) ( ) V – V – V – F – F.

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TÓPICO 3 -

O CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico! Ética é um termo que precisa ser amplamente divulgado e estudado pelos profissionais que desejam se destacar em seu trabalho.

Para entendermos o conceito de ética profissional, primeiro precisamos desvelar esse conceito em sua raiz, e precisamos entender que a ética pode mudar conforme o grupo social analisado, assim como as características culturais e morais deste grupo.

Então, não podemos julgar uma tribo indígena canibal, na qual é normal comer carne humana, com os padrões éticos da sociedade moderna em que tal ato é eticamente inaceitável, além de ser crime.

A ética pode ser entendida como um padrão de comportamento a ser seguido pelas pessoas dentro de um grupo social, podendo ser um pequeno grupo de amigos ou toda a população de um país. Os macros padrões éticos são definidos pelas legislações dos países que definem o que é certo, o que errado e as formas de punir quem não segue estas definições.

FIGURA 7 – CONSTRUÇÃO DA ÉTICA NA SOCIEDADE

FONTE: <http://www.amagai.com.br/blog/wp-content/uploads/2013/02/banner_etica.jpg>. Acesso em: 20 maio 2020.

UNIDADE 1

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Ao analisar a ética na sociedade, Pieritz (2013, p. 5-6) descreve que “Cada sociedade possui suas normas de conduta comportamental e seus princípios morais, ou seja, cada grupo social constituiu o que é certo e errado, o que é o bem e o mal para o seu povo, portanto, nem sempre o que é certo para nós pode ser certo para um outro”. Logo, não cabe a nós julgar as tradições, hábitos, costumes e cultura de um povo, mas devemos seguir os princípios que nos orientam a ter um comportamento social e moral aceitável por nós mesmos, que, muitas vezes, foi introduzido no convívio familiar e pela educação formal, além da convivência na sociedade como um todo, dentro das leis do país.

Etimologicamente, a palavra ética tem a sua origem na palavra grega ethos (do grego antigo ἔθος), cujo signifi cado, em sua base, é “hábito”, direcionado à concepção de caráter e costumes, o modo de ser de uma pessoa ou de um grupo de pessoas e, ainda, pode se referir à morada de um povo ou sociedade, mas ainda pode ser entendida como sinônimo de "moral".

Na fi losofi a, a ética pode ser entendida como a área que estuda a conduta humana. Assim, podemos descrever ética como o conjunto de valores pessoais e da sociedade em que a pessoa está inserida e que orientam o comportamento dela em relação aos outros que fazem parte desta sociedade, garantindo o convívio em conjunto e o bem-estar social, ou seja, ética pode ser defi nida como a forma como o homem deve se comportar em seu convívio social.

Dessa forma, podemos extrapolar as questões éticas para diversas condições, como ética na política, ética dos governantes, ética dos funcionários públicos, ética nas empresas, ética profi ssional, ética no trabalho etc., mas a ética que queremos tratar aqui neste tópico, a ética do profi ssional de medicina.

Prezado acadêmico! Para você entender melhor a questão prática da ética, trouxemos um pequeno exemplo com esta pequena história:

AS TRÊS PENEIRAS DE SÓCRATESJanes Fidélis Tomelin

Karina Nones TomelinCerta vez um homem chegou até Sócrates e disse:— Mestre, escute-me, pois tenho que contar-lhe algo importante a respeito de seu amigo!— Espera um pouco — interrompe o sábio — fez passar aquilo que quer contar pelas três peneiras?— Que três peneiras, Mestre?— Então escute bem! A primeira é a peneira da Verdade. Está convicto de que tudo que quer me dizer é verdade?— Não exatamente, Mestre. Somente o ouvi de outros.— Mas então certamente fez passar pela segunda peneira. Trata-se da peneira da Bondade.

NOTA

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Espero que você tenha gostado da leitura, mas ela deve levar a uma reflexão mais profunda sobre as questões éticas. Vamos agora entender a ética em relação à legislação brasileira, mais especificamente na visão da Constituição Federal.

2 ÉTICA E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A ética, então, pode ser entendida como princípios de conduta humana na sociedade em que a pessoa vive, e Pieritz (2013) detalha, ainda, que faz parte dos estudos da filosofia, sendo considerada uma parte tida como normativa, ela gera uma norma, uma conduta, uma forma de se relacionar na sociedade dentro de padrões aceitáveis.

Quando entendemos a ética, como descrito no parágrafo anterior, identificamos que na Constituição Federal de 1988 há muitos pontos-chave, em diversos artigos, que indicam uma postura ética a ser seguida pela população brasileira com a presença de preceitos relacionados a padrões éticos de comportamento. Vamos exemplificar alguns preceitos éticos que identificamos na CF:

• Princípio da igualdade:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:I- homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;III- ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;VI- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias (BRASIL, 1988).

O homem ficou ruborizado e respondeu:— Devo confessar-lhe que não, Mestre.— E pensou na terceira peneira? Seria-me útil o que quer falar a respeito de meu amigo?Seria esta a peneira da Utilidade.— Útil? Na verdade, não.— Vê? — disse-lhe o sábio — se aquilo que quer contar-me não é Verdadeiro, nem Bom, nem Útil, então é melhor que o guarde somente para si.

FONTE: TOMELIN, J. F.; TOMELIN, K. N. Do mito para a razão: uma dialética do saber. 2. ed. Blumenau: Nova Letra, 2002. p. 92-93.

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• Princípio da ética na administração pública, previsto no caput art. 37: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi ciência” (BRASIL, 1988).

• Princípio da dignidade da pessoa humana no art. 1º, III.

FIGURA 8 – PRINCÍPIO DA IGUALDADE E DIGNIDADE HUMANA

FONTE: <http://www.amagai.com.br/blog/etica-profi ssional/>. Acesso em: 20 maio 2020.

Estes são só alguns exemplos relacionados aos princípios da Constituição Federal Brasileira de 1998, os quais servem de base para um comportamento ético dos cidadãos brasileiros, mas que também são transpostos para a ética de conduta do profi ssional médico/hospitalar.

Todavia, analisando todo o texto da CF, vimos diversas outras situações em que a Carta Magna Brasileira descreve situações em que a ética se manifesta no texto constitucional como a igualdade e a justiça como valores hegemônicos para uma sociedade de cunho fraternal, pluralista e sem preconceitos, como a sociedade brasileira prega.

Olá, acadêmico, indicamos a leitura do artigo A Ética e a Constituição de Ives Gandra da Silva Martins, disponível no endereço: http://www.esdc.com.br/RBDC/RBDC-08/RBDC-08-013-Ives_Gandra_da_Silva_Martins.pdf.

DICA

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Apesar de ainda ocorrerem muitos desvios ao texto constitucional brasileiro, é conhecido como uma “Constituição ética”, pois ela fora desenvolvida dentro dos parâmetros mundiais para uma convivência pacífica entre os povos, com igualdade de direitos e deveres.

3 CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (RESOLUÇÃO CFM N°2.217, DE 27 DE SETEMBRO DE 2018)

A questão ética é bastante criticada quando falamos das questões médicas, tratamentos de saúde, atendimentos diversos em clínicas, hospitais, entre outros. A evolução do Código de Ética Médica (CEM), no Brasil, vem acompanhando a evolução da legislação, a qual, com a Constituição de 1988, passou por um aumento na qualidade operacional das responsabilidades dos médicos, abordando os direitos e deveres do médico. Na Figura 9, apresentamos todas as referências históricas dos Códigos de Ética Médica utilizados no Brasil.

FIGURA 9 – REFERÊNCIAS HISTÓRICAS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

Assim, vimos que a Constituição Federal nos remete a preceitos éticos de comportamento para a sociedade civil brasileira, a qual é perpassada para todas as categorias profissionais, assim como na questão do médico. Muitos dos pontos expressados na Constituição foram passados para o Código de Conduta Médica redigido pelo Conselho Federal de Medicina e que estudaremos mais detalhadamente no próximo subtópico.

ESTUDOS FUTUROS

FONTE: <https://www.endocrino.org.br/entra-em-vigor-novo-codigo-de-etica-medica/>. Acesso em: 22 maio 2020.

1847 - Código de Ética Médica (9 artigos) Associação Médica Americana - AMA

2018 - Código de Ética Médica (117 artigos) Conselho Federal de Medicina

2009 - Código de Ética Médica (118 artigos) Conselho Federal de Medicina

1988 - Código de Ética Médica (145 artigos) Conselho Federal de Medicina

1929 - Código de Moral Médica (106 artigos) VI Congresso Médico Latino-Americano

1931 - Código de Deontologia Médica (116 artigo) 1° Congresso Médico Sindicalista

1944 - Código de Deontologia Médica (60 artigos) IV Congresso Sindicalista Médico Brasileiro

1953 - Código de Ética (90 artigos) Associação Médica Brasileira

1984 - Código Brasileiro de Deontologia Médica (79 artigos) Conselho Federal de Medicina

1965 - Código de Ética Médica (95 artigos) Conselho Federal de Medicina

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Conforme verificado na Figura 9, as três últimas atualizações foram realizadas em períodos relativamente curtos de tempo, e pode-se dizer que isto ocorreu devido à CF de 1988, mas principalmente pelas questões relacionadas à grande velocidade das evoluções tecnológicas na área médica, exigindo novas proposições ao trabalho do médico.

Neste Código de Ética Medica, verificamos um ponto bastante relevante no que se refere às normas que trabalham e definem a responsabilidade do médico assistente, ou de seu substituto, ao elaborar e entregar o formulário de alta do paciente.

E, assim como o novo CEM descreve que deve haver isonomia de tratamento aos médicos e enfermeiros com deficiência. Ele também descreve a necessidade de criação de comissões de ética nos locais de trabalho, sejam hospitais ou clínicas, destacando, ainda, os limites para o uso de redes sociais no exercício da profissão.

Olá, acadêmico! Utilizando o Capítulo 5, art. 37 do Código de Ética Médica, frisaremos o uso de redes sociais no exercício da profissão.

CAPÍTULO V. RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES

É vedado ao médico:[...] Art. 37 Prescrever tratamento e outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente depois de cessado o impedimento, assim como consultar, diagnosticar ou prescrever por qualquer meio de comunicação de massa.§ 1º O atendimento médico a distância, nos moldes da telemedicina ou de outro método, dar-se-á sob regulamentação do Conselho Federal de Medicina.§ 2º Ao utilizar mídias sociais e instrumentos correlatos, o médico deve respeitar as normas elaboradas pelo Conselho Federal de Medicina.

FONTE: <https://portal.cfm.org.br/images/PDF/cem2019.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2020.

Fato importante na história recente, devido ao isolamento provocado pela pandemia do coronavírus (SARS-CoV-2), viu-se uma situação emergencial e em função de necessidade publicou-se, no dia 15 de abril de 2020, a Lei nº 13.989/2020, a qual dispõe sobre o uso da Telemedicina durante o período de pandemia. Vide a lei em sua integra a seguir.

LEI Nº 13.989, DE 15 DE ABRIL DE 2020

Dispõe sobre o uso da telemedicina durante a crise causada pelo coronavírus (SARS-CoV-2).

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

IMPORTANTE

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Esses dois atos abrem um precedente importante para a telemedicina, relevante em diversas situações: para o paciente, que pode achar uma situação interessante; em situações de emergência, enquanto a ajuda especializada não chega; ou ainda para as equipes paramédicas, auxiliando no trabalho de deslocamento do paciente até um hospital. Vale ressaltar, ainda, as cirurgias robóticas a distância e outras tecnologias médicas que estão por vir.

Art. 1º Esta Lei autoriza o uso da telemedicina enquanto durar a crise ocasionada pelo coronavírus (SARS-CoV-2).Art. 2º Durante a crise ocasionada pelo coronavírus (SARS-CoV-2), fica autorizado, em caráter emergencial, o uso da telemedicina.

Parágrafo único. (VETADO).

Art. 3º Entende-se por telemedicina, entre outros, o exercício da medicina mediado por tecnologias para fins de assistência, pesquisa, prevenção de doenças e lesões e promoção de saúde.

Art. 4º O médico deverá informar ao paciente todas as limitações inerentes ao uso da telemedicina, tendo em vista a impossibilidade de realização de exame físico durante a consulta.Art. 5ºA prestação de serviço de telemedicina seguirá os padrões normativos e éticos usuais do atendimento presencial, inclusive em relação à contraprestação financeira pelo serviço prestado, não cabendo ao poder público custear ou pagar por tais atividades quando não for exclusivamente serviço prestado ao Sistema Único de Saúde (SUS).Art. 6º (VETADO).Art. 7ºEsta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 15 de abril de 2020; 199º da Independência e 132º da República.

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L13989.htm>. Acesso em: 23 maio 2020.

Como você pode ver, o CEM não incentiva a telemedicina, mas também não a condena como descrito em “prescrever tratamento e outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo” (CFM, 2019, p. 28), mas já na Lei nº13.989/2020 há o incentivo como descrito em “Art. 1º Esta Lei autoriza o uso da telemedicina enquanto durar a crise ocasionada pelo coronavírus (SARS-CoV-2)” (BRASIL, 2020).Mas a ressalva está bem clara, enquanto perdurar a crise.

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O avanço tecnológico está presente em todas as áreas e não é diferente na medicina, por isso trouxemos um artigo sobre cirurgia robótica para o seu conhecimento. Boa leitura!

Cirurgia robótica é futuro da medicinaHospital Nove de Julho

O 9 de julho é hoje um hospital referência em cirurgia robótica. Desde que adquiriu o robô DaVinci, em 2012, já realizou mais de 1.900 cirurgias nas especialidades de cirurgia geral, urologia e ginecologia. Um dos primeiros hospitais a comprar o equipamento na capital paulista, vem evoluindo ano a ano na prática cirúrgica e já realizou dois procedimentos inéditos no País, um em cirurgia geral a T.A.R. (Transversus Abdominis Release) robótica bilateral extraperitoneal e, outro em ginecologia, de prolapso uterino.

"A cirurgia robótica abriu caminho para procedimentos de altíssima complexidade, antes impossíveis de serem realizados", empolga-se o Dr. Carlos Eduardo Domene, cirurgião do Aparelho Digestivo responsável pelo procedimento TAR.

CIRURGIA ROBÓTICA NO HOSPITAL 9 DE JULHO

FONTE: <https://www.h9j.com.br/institucional/noticias/PublishingImages/_DSC2533.JPG>. Acesso em: 27 ago. 2020.

Para se tornar referência, o H9J investiu em dois equipamentos – o segundo robô foi adquirido em fevereiro de 2017 – no treinamento dos profi ssionais (médicos e enfermeiros) e na estrutura. O hospital possui um simulador do robô DaVinci, utilizado para treinar e capacitar os cirurgiões e um Centro Cirúrgico preparado para as cirurgias robóticas. Os enfermeiros do Centro Cirúrgico e os médicos são certifi cados pelo Intuitive Surgical em Houston, EUA. O diferencial do 9 de julho é que toda a equipe é preparada para a complexidade que uma cirurgia robótica, atuando com agilidade e efi ciência, o que garante maior segurança aos pacientes e aos médicos.

Atualmente, possui mais de 60 cirurgiões cadastrados, sendo Proctors (instrutores), especialistas em Urologia, Cirurgia Geral e em Ginecologia. Os Proctors são médicos capacitados a treinar outros médicos, já

INTERESSANTE

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que nas etapas de certificação uma das exigências é realizar cirurgias com a presença e orientação de um proctor. O H9J segue protocolos rígidos de treinamento, aumentando a curva de aprendizado.

Futuro da Medicina

A ERA DIGITAL CHEGOU À MEDICINA

FONTE: <https://www.h9j.com.br/institucional/noticias/PublishingImages/Fotos%20para%20not%-C3%ADcias/sala%20robotica_novorobo.JPG>. Acesso em: 27 ago. 2020.

A robótica é a evidência do futuro da medicina. A cirurgia aberta não possui tecnologia envolvida e a laparoscopia possui algumas limitações, como a impossibilidade de aproximar a imagem (zoom) e a rigidez da pinça. Na robótica, o médico tem, por meio do console, a possibilidade de simular o movimento do punho, com visão de 360 graus.

"A era digital chegou à medicina. O robô é uma evolução e uma revolução no treinamento do cirurgião. É o maior respeito que o paciente pode receber", afirma o Dr. Domene.

Entre as vantagens da robótica destacam-se a atuação mais precisa e segura do cirurgião, com melhores resultados devido às imagens Full HD em 3D, fundamentais para dar a dimensão de profundidade; Total segurança no manuseio dos instrumentais, uma vez que o equipamento conta com dispositivos de segurança diante do comando do console; Melhor desempenho do movimento durante os procedimentos, chegando a até 360° de rotação, permitindo ao cirurgião alcançar estruturas que nenhuma outra modalidade cirúrgica oferece e, para o paciente, oferece menor risco de infecção, reduz perda de sangue e o tempo de cirurgia, o que proporciona uma recuperação mais rápida. Veja mais no vídeo a seguir

Outros diferenciais

O robô DaVinci, adquirido em 2017, possui outros diferenciais como:

• Firefly: iluminação guiada por fluorescência através da aplicação de uma solução (endoseanina verde). Esse sistema fornece identificação em tempo real de estruturas anatômicas usando a tecnologia de infravermelho. A imagem de fluorescência permite que os cirurgiões vejam e avaliem melhor a anatomia de vasos e estruturas.

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• Vessel Sealer: é um selador de vasos. O Hospital 9 de Julho é o primeiro do País a ter este diferencial. Trata-se de um instrumento que permite abordagem otimizada para corte de vasos de até 7 mm de diâmetro e feixes de tecidos que se encaixam nas mandíbulas do instrumento.

Agora, acesse o site https://www.h9j.com.br/institucional/noticias/Paginas/cirurgia-robotica-e-futuro-da-medicina.aspx e assista ao vídeo sobre o tema.

FONTE: <https://www.h9j.com.br/institucional/noticias/Paginas/cirurgia-robotica-e-futuro-da-medicina.aspx>. Acesso em: 23 maio 2020.

Após a leitura dos dois últimos textos apresentados, você consegue entender o porquê da necessidade de se atualizar constantemente o Código de Ética Médica, pois, a tecnologia continua constantemente trazendo novas referências em tratamentos médicos.

Assim, podemos entender o Código de Ética Médica como um marco para os médicos e pacientes, e que determina os direitos e deveres desse profissional da saúde de modo a resguardar as atividades legalizadas e, em situações mais severas, punir condutas não autorizadas ou inadequadas, mas mantendo os princípios deontológicos da profissão, entre os quais citamos o absoluto respeito ao ser humano e agindo sempre na busca da saúde do ser humano e da coletividade, sem que haja qualquer discriminação de qualquer natureza, em consonância com a Constituição Federal.

O Código de Ética Médica é composto de 14 capítulos, os quais estão apresentados no Quadro 1.

QUADRO 1 – ESTRUTURA DO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

Preâmbulo

Capítulo I Princípios fundamentais

Capítulo II Direitos dos médicos

Capítulo III Responsabilidade profissional

Capítulo IV Direitos humanos

Capítulo V Relação com pacientes e familiares

Capítulo VI Doação e transplante de órgãos e tecidos

Capítulo VII Relação entre médicos

Capítulo VIII Remuneração profissional

Capítulo IX Sigilo profissional

Capítulo X Documentos médicos

Capítulo XI Auditoria e perícia médica

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Capítulo XII Ensino e pesquisa médica

Capítulo XIII Publicidade médica

Capítulo XIV Disposições geraisFONTE: Adaptado de CFM (2019)

Dessa forma, podemos afirmar que, ao obedecer ao CEM, o médico também está gerando uma garantia para a sociedade de qualidade, segurança e respeito no trabalho realizado em todas as instituições, seja ela da rede pública ou privada.

Caro acadêmico! Pesquise e leia as fontes originais do Código de Ética Médica disponível no site do Conselho Federal de Medicina: http://portal.cfm.org.br/images/PDF/cem2019.pdf. Você também pode encontrar a mesma edição no site oficial da Secretaria Geral da Presidência da República: http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/48226289.

CAPA DO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

FONTE: <http://portal.cfm.org.br/images/PDF/cem2019.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2020.

Indicamos também o livro Código de Ética Médica: comentado e Interpretado de Edmilson Barros Júnior, publicado em 2019 pela editora Cia do e-book e disponível no endereço: http://www.saude.ufpr.br/portal/epmufpr/wp-content/uploads/sites/42/2019/05/CEM-2018-EDMILSON-PROTEGIDO.pdf.

CAPA DO LIVRO CÓDIGO DE ÉTICA: COMENTADO E INTERPRETADO

FONTE: <https://bit.ly/3uDDZx1>. Acesso em: 27 ago. 2020.

DICA

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Gostaríamos de frisar, aqui, acadêmico, a importância de ler os materiais originais, as leis, o Código de Ética Médica, conforme publicadas em sua origem, assim recomendamos sempre a leitura desses documentos nos sites legais, para somente depois de estudado a Lei/Código em sua originalidade buscar as interpretações para conciliar as diversas visões.

Vamos agora estudar a respeito do Código de Processo Ético-Profissional, para entendermos as questões processuais.

4 O CÓDIGO DE PROCESSO ÉTICO-PROFISSIONAL (RESOLUÇÃO CFM N°2.145, DE 17 DE MAIO DE 2016)

O Código de Ética Médica é a referência para o comportamento dos médicos e da gestão de instituições ligadas à saúde, pois todos buscam tratar o paciente, e este espera ser tratado adequadamente nos moldes da Constituição Federal, ou seja, com dignidade e da melhor forma possível. Quando tal fato não ocorre, ou quando o paciente ou seus familiares acham que ele (o paciente) não foi bem tratado, é comum a judicialização dos casos através de processos na instância civil ou através do Conselho Federal de Medicina (CFM), quando houver questões éticas relacionadas.

O Código de Processo Ético-Profissional (CPEP) foi instituído pela Resolução CFM 2.145 de 17 de maio de 2016, ele trata das questões relacionadas a casos envolvendo suposto erro médico, além de questão ética do médico, assim como de temas de publicidade, remuneração, concorrência desleal entre outros pontos importantes da conduta médica, a qual pode ser questionada pelos pacientes, por colegas médicos, hospitais, entre outros.

Assim, é mister a importância que o médico, gestores hospitalares, advogados entre outros profissionais ligados à área médico-hospitalar conheçam os trâmites referentes ao processo ético-profissional, os direitos e deveres, assim como os limites de abrangência para que possam desenvolver estratégias para minimizarem os riscos de processos devido a este tipo de procedimento.

O CPEP englobou em um único decreto todos os procedimentos judicantes realizados nos Conselhos Regionais de Medicina como questões de Processos Ético-Profissionais, Sindicâncias, Processos Administrativos e Termos de Ajustamento de Conduta, integrando todas elas em um único documento, sempre lembrando que uma das situações são os processos relacionados às questões éticas-profissionais julgadas pelos CRM ou CFM, a outra são os processos de responsabilidade civil ou criminal em que o médico está sendo julgado, e quando elas ocorrem sempre são julgadas independentemente, conforme podemos ver no artigo 5 do Código de Processo Ético-Profissional, Resolução CFM n° 2.145/2016.

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QUADRO 2 – RESOLUÇÃO CFM Nº 2.145/2016

Art. 5º O processo e julgamento das infrações às disposições previstas no Código de ÉticaMédica (CEM) são independentes, não estando em regra, vinculado ao processo e julgamento da questão criminal ou cível sobre os mesmos fatos.§ 1º A responsabilidade ético-profi ssional é independente da criminal.§ 2º A sentença penal absolutória somente infl uirá na apuração da infração ética quando tiver por fundamento o art. 386, incisos I (estar provada a inexistência do fato) e IV (estar provado que o réu não concorreu para a infração penal) do Decreto-Lei nº 3.689/1941(CPP).

FONTE: CFM (2016, p. 2)

Pode-se verifi car que o Código de Processo Ético-Profi ssional (CPEP) elaborado pelo CFM desenvolveu o decreto seguindo os preceitos constitucionais e legais e segue a mesma direção dos Códigos de Processo Penal e Civil, os quais são aplicados subsidiariamente como referência para suportar as possíveis ações nos assuntos que couberem como subsidio de apoio judicial ou de análise pelos CRM ou CFM.

Como você pôde ler, nesta unidade, são diversos os pontos que o médico precisa se prevenir para não incorrer em um processo ligado à questão ética-profi ssional junto ao CRM ou CFM, ou, ainda, um processo civil, e a melhor forma de evitá-los é trabalhando de forma estratégica e defensiva, principalmente para pacientes mal-intencionados.

Assim terminamos a primeira unidade do livro didático, espero que você tenha aprendido este tema tão importante para os meios de saúde de nosso país.

Vamos agora à leitura complementar, ao resumo do tópico e às autoatividades.

Prezado acadêmico! Leia na íntegra o Código de Processo Ético-Profi ssional, Resolução CFM n° 2.145/2016, no seguinte endereço: https://sistemas.cfm.org.br/normas/arquivos/resolucoes/BR/2016/2145_2016.pdf. Boa leitura!

DICA

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CÓDIGO DE PROCESSO ÉTICO-PROFISSIONAL MÉDICO

Luciano Correia Bueno Brandão

Exercer ilegalmente a medicina não significa praticar qualquer ato isolado que corresponde à atividade de médico. O tipo penal exige a prática reiterada e continuada de atos privativos dos médicos (RT 524/404). Consuma-se, pois, o crime quando a série de atos é suficiente para constituir a ação habitual.

Resolução 2.145/16 do Conselho Federal de Medicina traz novas regras para processos disciplinares.

Entrou em vigor em janeiro de 2017 o novo Código de Processo Ético-Profissional Médico (Resolução CFM 2.145/16).

O tema é de grande relevância, vez que entre os anos de 2001 e 2011, o número de processos ético-disciplinares instaurados a partir de denúncias contra médicos aumentou em 302%, considerado apenas o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).

Atualmente, o Cremesp recebe cerca de 300 novas denúncias por mês.

Ao contrário do que se possa imaginar, as denúncias não se limitam apenas a casos envolvendo suposto erro médico, mas, sim, qualquer questão ética, como publicidade, remuneração, concorrência desleal etc.

Fato é que dentro da prática profissional do dia a dia, o médico está sujeito a ter sua conduta questionada, seja por pacientes, seja por outros colegas médicos, hospitais entre outros.

É natural que o profissional que se veja envolvido em uma denúncia por infração ética apresente sentimentos como indignação e insegurança.

Para evitar – ou ao menos minimizar –, tais reações passionais, é importante que o médico conheça os trâmites referentes ao processo ético-profissional, seus direitos e deveres, bem como os limites de abrangência deste tipo de procedimento.

ABRANGÊNCIA DO PROCESSO ÉTICO

LEITURA COMPLEMENTAR

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Em primeiro lugar, é importante destacar que o processo ético-profissional se limita, exclusivamente, à análise dos fatos sob a ótica do Código de Ética Médica e é de competência dos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) e, em última instância, do Conselho Federal de Medicina (CFM), portanto, as implicações no âmbito cível, ou mesmo criminal, são independentes, ainda que decorrentes dos mesmos fatos.

Em segundo lugar, o médico deve ter em mente de uma forma muito clara que vir a ser chamado a responder a um processo ético-profissional não equivale à presunção de culpa. Trata-se, tão somente, de procedimento para apurar sua conduta à luz dos preceitos éticos da profissão, sendo-lhe garantidos todos os direitos constitucionais para sua defesa.

Lançadas estas duas premissas, passemos a uma análise do processo ético-profissional em si de uma forma simples e objetiva.

COMO SE INICIA UM PROCESSO NO CRM

Qualquer procedimento se iniciará a partir de uma denúncia, que poderá ser feita de ofício (ou seja, por iniciativa própria do CRM) ou, de forma mais comum, pela pessoa interessada na instauração do processo: o paciente, um colega médico, o hospital etc.

A denúncia jamais pode ser anônima e deve conter, obrigatoriamente, a identificação do denunciante, a exposição dos fatos, a qualificação do médico denunciado e indicação das provas documentais.

COMO FUNCIONA O PROCESSO ÉTICO-PROFISSIONAL MÉDICO

Recebida a denúncia pelo CRM, instaura-se um procedimento preliminar denominado sindicância.

Um relator designado deverá produzir um relatório em que qualificará as partes envolvidas, descreverá os fatos e apontará se, dos fatos narrados, se vislumbra possível descumprimento de algum preceito ético previsto no Código de Ética Médica pelo denunciado.

Na fase de sindicância, a manifestação do médico não é obrigatória, embora seja de praxe que alguns CRMs notifiquem o profissional para que tenha esta possibilidade.

Embora o próprio médico possa fazer suas manifestações em sede de defesa, é recomendável que possa contar já nesta fase com o apoio de um advogado.

Dependendo da conclusão do relatório inicial, a sindicância poderá: 1) ser desde logo arquivada, caso não haja evidência de infração ética, 2) ser proposta conciliação ou termo de ajustamento de conduta ou 3) ser instaurado o processo ético-profissional, caso haja evidência de que possa ter ocorrido infração ética por parte do médico denunciado.

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Destaque-se que a conversão da sindicância em processo ético-disciplinar não significa automaticamente que o médico fez algo de errado e, sim, que há circunstâncias que precisam ser melhor esclarecidas para que se chegue à verdade.

Caso seja instaurado o processo ético-profissional, o médico será citado para apresentar sua defesa escrita no prazo de 30 dias.

A citação é o ato formal pelo qual o médico é cientificado de que existe um processo ético-profissional contra si e que deve se defender. Normalmente, a citação é feita pelos Correios, com Aviso de Recebimento.

Nesta fase, é extremamente recomendável que o médico esteja assistido por um advogado.

O momento da apresentação da defesa escrita pelo médico é importantíssimo, pois é aqui que deverá indicar sua versão dos fatos, poderá impugnar fundamentadamente as infrações éticas que lhe estejam sendo imputadas, justificar sua conduta, apontar eventuais circunstâncias atenuantes, indicar provas e arrolar testemunhas que possam lhe ser favoráveis.

Após a apresentação de defesa escrita, será designada a audiência de instrução processual.

Nesta audiência, serão ouvidos o denunciante, as testemunhas do denunciante e do denunciado e, por fim, o próprio médico.

Em seguida, será aberto prazo sucessivo de 15 dias para apresentação de alegações finais escritas, primeiro pelo denunciante e depois pelo denunciado. Encerrada a instrução, será finalmente designada a sessão de julgamento, data na qual serão apresentados os relatórios (resumos do processo) pelo conselheiro relator e pelo conselheiro revisor.

As partes (e/ou seus advogados), poderão fazer sustentação oral perante os julgadores. O comparecimento do médico não é obrigatório, embora seja conveniente que esteja presente. Eventualmente, poderá ser chamado a se manifestar sobre algum ponto específico esclarecendo aspectos suscitados pelos conselheiros.

É importante que o profissional esteja calmo e procure responder aos questionamentos dos conselheiros de forma clara e objetiva.

Finalmente, os conselheiros irão proferir, um a um, seus respectivos votos quanto à culpabilidade do denunciado, à efetiva existência de infração ética e, eventualmente, quanto à pena a ser aplicada ao médico denunciado.

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As penas disciplinares aplicáveis pelo CRM são as previstas no artigo 22 da Lei nº 3.268/1957 e variam entre advertência e censura confidenciais, censura pública, suspensão do exercício profissional por até 30 dias e, em casos extremos, a cassação do exercício profissional (esta última pena depende de convalidação do CFM). No caso de condenação, o médico denunciado pode interpor recurso administrativo no prazo de 30 dias, o qual será dirigido ao Pleno do CRM ou ao CFM, dependendo do caso.

QUAIS AS GARANTIAS DO MÉDICO

Embora o processo ético-profissional possa ser considerado um processo administrativo, o médico denunciado tem à sua disposição todos os direitos e garantias assegurados na Lei e na Constituição para defesa de seus interesses, destacando-se:

• princípio da presunção de inocência: o ônus da prova é de quem acusa, não sendo admitida a inversão do ônus da prova em desfavor do médico como ocorre no caso do Código de Defesa do Consumidor. No processo ético-disciplinar vigora o princípio in dubio pro reu. Na dúvida, absolve-se o denunciado, assim como no processo penal.

• princípio do devido processo legal: no desenrolar de todo o processo ético-profissional, devem ser observados os trâmites expressamente previstos na legislação, prazos e ritos, sob pena de nulidade.

• princípio do contraditório e ampla defesa: o médico deve ter assegurada defesa no decorrer do processo (inclusive por meio de defensor dativo, no caso de denunciado revel), acompanhando a produção de provas, ter a oportunidade de contestar as alegações da parte denunciante, usar dos recursos cabíveis etc. Tal direito é pilar do Estado Democrático de Direito.

INTERVENÇÃO DA JUSTIÇA NOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS

Como regra, as esferas judicial e administrativa são autônomas e independentes. No entanto, caso o CRM não observe o trâmite legal previsto, ou não respeite as garantias e direitos processuais do médico, o denunciado poderá recorrer ao Judiciário.

A Justiça não irá adentrar no mérito da discussão (dizendo, por exemplo, se o CRM está certo ou errado ao decidir de determinada maneira). Ao contrário, o Juiz se limitará a avaliar a legalidade do processo ético-profissional, se houve violação de alguma garantia ou princípio assegurado ao médico denunciado, se foram observados os prazos (inclusive prescricionais para processamento), entre outros.

Caso se verifique que houve violação a tais princípios e garantias, o processo ético-profissional eventualmente poderá ser anulado pela Justiça.

CONCLUSÃO

Estas breves considerações buscam desmistificar a noção do processo ético-disciplinar como um instrumento de perseguição ao profissional médico. Ao contrário, trata-se de procedimento que se presta justamente a buscar preservar a ética nas

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relações do médico para com seus pacientes, para com seus colegas médicos e para com a sociedade, ao mesmo tempo em que assegura ao profissional que porventura tenha sua conduta questionada, que não será punido sem causa justa e sem prévia observância a todas as garantias legais e constitucionais asseguradas para sua defesa.

Dado o aumento do número de denúncias ano a ano, o mais importante é que o profissional médico procure conhecer seus deveres éticos por meio da leitura atenta do Código de Ética Médica, bem como procure buscar sempre em sua atuação profissional o respaldo de assessoria jurídica especializada como forma de preservar seus interesses.

FONTE: <https://jus.com.br/artigos/55444/novo-codigo-de-processo-etico-profissional-medico-entra-em-vigor>. Acesso em: 25 maio 2020.

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RESUMO DO TÓPICO 3Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Etimologicamente, a palavra ética tem a sua origem na palavra ethos que provém do grego, cujo significado é caráter, o modo de ser de uma pessoa.

• Ética pode ser definida como sendo a maneira que o homem deve se comportar em seu convívio social.

• Segundo o Art. 5º da CF: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 1988).

• O Código de Ética Médica (Resolução CFM nº 2.217, de 27 de setembro de 2018) é um marco para os médicos e pacientes.

• O CEM determina os direitos e deveres dos médicos de modo a resguardar as atividades legalizadas.

• Em situações mais severas o CEM trabalha as condutas não autorizadas ou inadequadas do médico, mas mantendo os princípios deontológicos da profissão.

• O Código de Processo Ético-Profissional (CPEP) foi instituído pela Resolução CFM nº 2.145, de 17 de maio de 2016.

• O CPEP trata das questões relacionadas a casos envolvendo suposto erro médico, além de questão ética do médico, assim como de temas de publicidade, remuneração, concorrência desleal entre outros pontos importantes da conduta médica, a qual pode ser questionada pelos pacientes, por colegas médicos, hospitais entre outros.

• É importante que os médicos, gestores hospitalares, advogados, entre outros profissionais ligados à área da saúde, conheçam os trâmites referentes ao processo ético-profissional, os direitos e deveres, assim como os limites de abrangência para que possam desenvolver estratégias para minimizarem os riscos de processos devido a este tipo de falhas.

• O CPEP englobou em um único decreto todos os procedimentos judicantes realizados nos Conselhos Regionais de Medicina como questões de Processos Ético-Profissionais, Sindicâncias, Processos Administrativos e Termos de Ajustamento de Conduta.

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• O Art. 5º do CPEP diz que “o processo e julgamento das infrações às disposições previstas no Código de Ética Médica (CEM) são independentes, não estando em regra, vinculado ao processo e julgamento da questão criminal ou cível sobre os mesmos fatos” (CFM, 2016).

• A responsabilidade ético-profissional é independente da criminal.

• Pode-se verificar que o Código de Processo Ético-Profissional (CPEP), elaborado pelo CFM, desenvolveu o decreto seguindo os preceitos constitucionais e legais e segue a mesma direção dos Códigos de Processo Penal e Civil.

• Implicações no âmbito cível, ou mesmo criminal, são independentes em relação ao CPEP, ainda que decorrentes dos mesmos fatos.

• As garantias do médico são:o princípio da presunção de inocência;o princípio do devido processo legal;o princípio do contraditório e ampla defesa.

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1 A ética é um dos principais princípios de convivência profissional e um dos baluartes da sociedade moderna. Assinale a opção a seguir que melhor define ética.

a) ( ) Ética é um conjunto de valores governamentais e de políticos que orientam o comportamento deles em relação aos outros que fazem parte desta sociedade, garantindo assim, o convívio em conjunto e o bem-estar social.

b) ( ) Ética é um conjunto de valores imorais que as pessoas e a sociedade são submetidas e que orientam o comportamento dela em relação aos outros que fazem parte desta sociedade.

c) ( ) Ética é um conjunto de valores monetários que a sociedade cobra do governo, que orientam o comportamento dela em relação aos outros que fazem parte desta sociedade, garantindo assim, o convívio em conjunto e o bem-estar social.

d) ( ) Ética é um conjunto de valores pessoais e da sociedade em que a pessoa está inserida, que orientam o comportamento dela em relação aos outros que fazem parte desta sociedade, garantindo assim, o convívio em conjunto e o bem-estar social.

e) ( ) Ética é um conjunto de valores pessoais que são cobrados da sociedade que a pessoa possa contribuir e se sentir satisfeita monetariamente.

2 O Código de Processo Ético-Profissional (CPEP) foi um marco nas questões éticas relacionadas aos meios de saúde, principalmente considerando a profissão do médico, quando englobou em um único decreto todos os procedimentos judicantes realizados nos Conselhos Regionais de Medicina ou no CFM. Assinale a alternativa que indica todos os processos que podem ser abertos junto ao CRM ou CFM que estão listados no CPEP:

a) ( ) Processos Moral-Profissionais, Processos Consultivos e Termos de Conduta.b) ( ) Processos Moral-Profissionais, Sindicâncias, Processos Consultivos e Termos de

Ajustamento de Profissão.c) ( ) Processos Ético-Profissionais, Sindicâncias, Processos Administrativos e Termos

de Ajustamento de Conduta.d) ( ) Processos Ético-Profissionais, Sindicâncias, Processos Cível e Termos de

Conduta Inadequada.e) ( ) Processos Ético-Moral, Sindicâncias, Processos Cível e Termos de Ajustamento

de Conduta.

AUTOATIVIDADE

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RESPONSABILIDADES CIVIS, PENAIS E ÉTICAS

UNIDADE 2 —

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• aprofundar o conhecimento acerca das responsabilidades civis, penais e éticas dos profi ssionais da área da saúde;

• compreender as nuances relativas à responsabilidade civil e responsabilidade ética do médico;

• oferecer subsídios para desvelar as questões relacionadas à judicialização da saúde devido ao erro médico;

• ampliar a percepção referente ao comportamento dos profi ssionais da saúde trabalhando uma visão estratégica de se evitar a judicialização da saúde;

• conhecer os quesitos referentes às responsabilidades médicas relacionadas ao Código de Defesa do Consumidor;

• identifi car os comportamentos inadequados cometidos por um médico: imprudência, negligência e imperícia.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS NA ÁREA DA SAÚDETÓPICO 2 – A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE POR ERRO MÉDICOTÓPICO 3 – COMPORTAMENTOS PROFISSIONAIS NA ÁREA DA SAÚDE

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2!

Acesse o QR Code abaixo:

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TÓPICO 1 —

RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS NA ÁREA DA SAÚDE

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, com o advento da Constituição Federal de 1988 (CF), o Código de Defesa do Consumidor (CDC), o Código de Ética Médica (CEM), o Código de Processo Ético-Profissionais (CPEP) e leis complementares fizeram surgir toda uma “indústria” de judicialização da saúde, em que todas as instituições ligadas à saúde estavam sujeitas a incorrerem em processos judiciais em todas as instâncias do direito; ou seja; processos de crimes nas áreas civis, criminais, éticas, entre outros.

A responsabilidade principal na área de saúde, geralmente está associada ao médico, mas, na verdade, todos envolvidos com a questão da saúde e seus tratamentos acabam envolvidos em questões relacionadas à judicialização da saúde. Logo, médicos, enfermeiros, socorristas, gestores, auxiliares administrativos, entre outros podem sofrer sanções legais, ou provocar interpelações judiciais.

A responsabilidade dos profissionais da área da saúde está diretamente ligada

à forma de tratativa prestada por eles aos doentes/pacientes e ao resultado alcançado, e quando o resultado esperado (cura) não é adequado, gerando sequelas ou até o óbito do paciente, também vemos a figura dos “familiares” encaminhando processos para a judicialização.

Assim podemos verificar no Gráfico 1 que, com o advento das leis e normativas já apresentados, há um crescimento consubstanciado na área da saúde da judicialização do erro médico, ou, ainda, relacionados a fatos diversos.

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GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO ANUAL DA JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE

FONTE: Adaptado de Pessoa e Silva (2019)

Como consequência desse aumento da judicialização, vimos médicos mais reticentes e prestativos em suas consultas, assim como também lavrando mais solicitações de exames clínicos para minimizar ou evitar problemas nas consultas, assim como temos uma maior preparação de hospitais, clínicas e outras instituições que lidam com a saúde fazendo treinamentos para seus funcionários para melhor aperfeiçoamento no atendimento, minimizando os erros.

Na atualidade, verificamos que o acesso aos meios judiciais está cada vez mais acessível à população, fato que tem gerado um aumento das demandas judiciais na área da saúde, e os principais fatores deste aumento estão demonstrados no Quadro 1.

QUADRO 1 – FATORES QUE CONTRIBUÍRAM DIRETAMENTE PARA A EXPLOSÃO DAS DEMANDAS JUDICIAIS

FATORES

• A facilitação do acesso ao poder judiciário.

• A conscientização dos direitos do consumidor.

• O acesso à informação através da internet e da mídia em geral.

• O crescimento da expectativa de sucesso nos procedimentos terapêuticos.

FONTE: Adaptado de Areco (2015)

Em relação à responsabilidade médica em relação à justiça, o mesmo pode ser interpelado judicialmente nos níveis civil, criminal e administrativo, e no Quadro 2 temos um resumo sucinto de cada uma delas.

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QUADRO 2 – ÁREAS DA JUSTIÇA VERSUS A RESPONSABILIDADE MÉDICA

ÁREAS CARACTERÍSTICAS

Área Civil

• Na área civil, a responsabilidade do médico é SUBJETIVA.• Portanto, deverá o paciente ajuizar a ação, provar que foi

o médico que errou, causando-lhe os prejuízos. • Dessa forma, terá que provar o dano, a conduta culposa e

o nexo de causalidade.

Área Criminal

• Na área criminal, o ministério público terá que provar todos os elementos para obter êxito na condenação do médico.

• De todo modo, é bom que seja explicitado, a possibilidade de não haver condenação na área civil e ocorrer condenação na área criminal.

• É possível também, que o médico seja condenado na esfera criminal e não tenha responsabilidade na esfera civil. Isso ocorre por variados motivos referentes tanto ao direito material quanto ao direito processual.

Área Administrativa

• Na área administrativa da mesma forma. Não há vínculos entre as esferas jurídicas e administrativas dos conselhos regionais e federal de medicina e o poder judiciário.

• De todo modo, é claro que poderá haver empréstimo de provas e condenação em todas as esferas, desde que tenham sido comprovados todos os elementos de responsabilidade do médico diante de um erro causador de dano.

• Ademais, qualquer causa que exclua um dos elementos da formação da responsabilidade do profissional, eximirá o médico de responder diante da legação de um erro decorrente de seu trabalho.

FONTE: Adaptado de Fonseca e Fonseca (2016)

Vamos, agora, conhecer mais detalhes a respeito da responsabilidade do médico, analisando os principais pontos destacados em relação à responsabilidade Civil no Direito Brasileiro, Código do Consumidor, Código Penal, responsabilidade Objetiva dos Hospitais, clínicas e similares e dos Planos de Saúde

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2 RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO, O CÓDIGO CIVIL E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A responsabilidade civil do médico está relacionada à responsabilidade das pessoas no âmbito da legislação do Código Civil (CC), que trata do conjunto de normas a serem seguidas pelos cidadãos que determinam os seus direitos e deveres, dos bens e das suas relações no âmbito privado, sempre considerando como referência a Constituição Federal. Por outro lado, temos trabalhado em conjunto o Código de Defesa do Consumidor (CDC), que tem como principal foco definir as relações de consumo além de estabelecer as normas vigentes de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, conforme apresentados no artigo 5° da CF.

Nesse âmbito, vemos que a profissão do médico, além de suas particularidades profissionais, precisa seguir o que profere a Constituição Federal de 1988, assim como o Código Civil Brasileiro concatenado ao Código de Defesa do Consumidor (CDC), nos quais as principais leis e características ligadas à medicina são apresentadas a seguir.

Para isso precisamos entender as nuances que ligam a profissão médica às condições legais e temos que, na atualidade, existem diversas situações em que se está inferindo aos médicos e profissionais da saúde condições e situações que levam caracterização do erro médico profissional, sendo que estes fatos se caracterizam por ocasionar danos ou sequelas em seus pacientes ou a seus familiares. Apresentamos no Quadro 3, para o seu conhecimento, alguns fatores que entram neste rol de danos.

QUADRO 3 – VARIEDADE DE CONDIÇÕES E SITUAÇÕES RELACIONADOS A ERROS PROFISSIONAIS

CONDIÇÕES E SITUAÇÕES RELACIONADAS AOS ERROS PROFISSIONAIS

• operações prematuras, exame superficial do paciente e erro no diagnóstico subsequente;

• omissão de tratamento ou retardamento na transferência para outro especialista;

• descuido nas transfusões de sangue ou nas anestesias;

• empregos de métodos e condutas antiquados e incorretos;

• prescrições erradas;

• abandono ao paciente;

• negligência pós-operatória;

• omissão de instruções necessárias aos pacientes;

• responsabilidade médica por suicídio em hospitais psiquiátricos.

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E ainda outros casos que dependem menos do médico e sim do seu instrumental:

• queimaduras por raios X;

• infecções propagadas por instrumentos;

• não funcionamento de um artefato/instrumento qualquer no momento de sua necessidade.

FONTE: Adaptado de França (2015)

Conforme Fonseca e Fonseca (2016), existem diversas ações e comportamentos que não são permitidos ao médico em seu labor, os quais veremos no Quadro 4.

QUADRO 4 – AÇÕES E COMPORTAMENTOS NÃO PERMITIDOS AO MÉDICO EM SEU TRABALHO

NÃO É PERMITIDO AO MÉDICO:

• Causar dano ao paciente.

• Delegar a outros profissionais atos exclusivos da profissão médica.

• Deixar de prestar atendimento ou não comparecer para atendimento quando for sua obrigação fazê-lo, de forma a deixar os pacientes desamparados ou sem assistência médica.

• Cumpliciar-se com os que exercem ilegalmente a medicina ou com profissionais e instituições que atuam ilicitamente.

• Tampouco pode o profissional deixar de esclarecer os pacientes das condições que ponham em risco sua saúde ou das condições sociais, ambientais ou profissionais de sua doença.

• Indicar ou praticar atos médicos desnecessários ou proibidos.

• Deixar de colaborar com as autoridades sanitárias ou infringir legislação específica, de forma a atuar contra a promoção da saúde.

FONTE: Adaptado de Fonseca e Fonseca (2016)

Assim, como podemos ver nos Quadros 3 e 4, as responsabilidades do médico em relação ao erro possui um paralelo com as questões impostas pela legislação brasileira e o próprio Código Civil, conforme colocado por Coltri (2016, s.p.) expõe que “a ética não está no resultado, e sim está no agir, na conduta”, pois temos o conjunto da prática profissional do médico ou da equipe médico-hospitalar que são sobrepostos e determinam o resultado da atividade exercida. Este conjunto é muitas vezes levado em consideração ao comportamento ético profissional, e que se busca a responsabilização nas esferas civil, ética e penal.

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No Quadro 5 apresentamos as esferas de responsabilização e características da responsabilização do ato médico nas esferas civil, ética e penal.

QUADRO 5 – RESPONSABILIZAÇÃO DO ATO MÉDICO NAS ESFERAS CIVIL, ÉTICA E PENAL

ESFERA NÍVEL CARACTERÍSTICAS

Na esfera judicial

Criminalde natureza punitiva; não tem inversão do ônus da prova.

Civilde natureza indenizatória; passa inverter o ônus da prova.

Na esfera ética CRMadota os fatores subsidiários do processo penal (natureza punitiva).Não cabe o ônus da prova.

FONTE: Adaptado de Coltri (2016)

Como pudemos ver no Quadro 5, a responsabilidade do médico e da equipe médico-hospitalar é de seguir e resguardar em seus agir profi ssional, os ditames das leis brasileiras vigentes, salientando-se que, conforme Melo (2014, p. 113), “a responsabilidade civil dos médicos, enquanto profi ssionais liberais, são pelos danos causados em face do exercício da sua profi ssão e será apurada mediante aferição da culpa, nos exatos termos do disposto no art. 14 § 4° do CDC e do art. 951 do Código Civil”.

Então temos no art. 14, § 4° do CDC: “A responsabilidade pessoal dos profi ssionais liberais será apurada mediante a verifi cação de culpa” (BRASIL, 1990). Enquanto o art. 951 do Código Civil nos traz:

Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profi ssional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho (BRASIL, 2002).

Olá, acadêmico, o artigo 951 do Código Civil nos traz os conceitos de negligência, imprudência ou imperícia, e nós iremos estudá-los mais detalhadamente na sequência deste livro didático.

ESTUDO FUTURO

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Segundo o artigo 951 do Código Civil, médicos (entram também neste rol os cirurgiões, farmacêuticos e dentistas) são os responsáveis e devem indenizar quando ocorrer, no exercício da profissão, negligência, imperícia ou imprudência, e que por essa condição causar a morte do paciente, aumentar o mal, causar lesão ou ainda inabilitá-lo para o seu trabalho, e tal condição é normalmente considerada devido a uma responsabilidade contratual que, conforme Tepedino (2003), a relação jurídica que existe entre o médico e paciente pode ser considerada uma disponibilização de serviços especiais agregando uma prestação de serviço remunerada dos serviços médicos, o qual é compreendido por deveres extrapatrimoniais essenciais.

Para a formalização do contrato de prestação de serviços médicos é necessário o consentimento implícito do paciente em querer se submeter ao diagnóstico e tratamento, podendo ser expresso pelo mesmo ou ser de maneira tácita, seja pessoalmente definido ou através de seus familiares. Os contratos médico/paciente podem ser realizados de forma verbal, não havendo a necessidade de um contrato por escrito para formalizar o negócio.

Assim, podemos concluir que, conforme disposto no artigo 14, §4º da Lei nº 8.078/1990 (CDC), verificamos que a responsabilidade dos profissionais médicos (liberais) é trabalhada judicialmente através da constatação de culpa, logo é subjetiva, encontrando sua definição legal no artigo 951 do Código Civil. Porém, verifica-se que existe um segmento jurisprudencial que autoriza a inversão do ônus da prova em situações que conferem os casos de responsabilidade subjetiva, e a diferenciação entre a responsabilidade contratual e extracontratual perde a sua referência legal, pois nessas demandas legais, muitas vezes, a vítima tem a obrigação de provar o ato culposo pelo médico ao causar do dano.

Olá, acadêmico, como este tema é bastante abrangente, queremos indicar alguns artigos técnicos para um melhor aprofundamento do tema:

• Erro médico: a aplicabilidade da responsabilidade civil sob a perspectiva do Código de Defesa do Consumidoro Autor: Ana Karisia Andrade Lopes.o Disponível em: https://jus.com.br/artigos/58012/erro-medico-a-aplicabilidade-da-

responsabilidade-civil-sob-a-perspectiva-do-codigo-de-defesa-do-consumidor.

• Da responsabilidade civil do médico – a culpa e o dever de informaçãoo Autor: Mariana Pretel.o Disponível em: https://www.oabsp.org.br/subs/santoanastacio/institucional/

artigos/da-responsabilidade-civil-do-medico-2013-a-culpa-e.

• Responsabilidade Civil dos Profissionais de Medicina a luz do Código de Defesa do Consumidoro Autor: Filipe Alves De Lima Costa.o Disponível em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/46458/

responsabilidade-civil-dos-profissionais-de-medicina-a-luz-do-codigo-de-defesa-do-consumidor.

DICA

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Convém, ainda, reforçar que na atividade médica prevalecem as obrigações de meio e não de resultado, devendo o médico, quando ocorrer o não atingimento do resultado pretendido, demonstrar que aplicou a melhor da técnica e prática disponível, provando, assim, a inexistência de culpa no seu agir, e deste modo ficando isento de qualquer responsabilidade jurídica ou dever de indenizar.

O art. 927 do Código Civil descreve que “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo” (BRASIL, 2002), e, desta forma, reforça que os atos (de ação ou omissão) que causar dano a outrem responder-se-á por eles, pois o médico e todo cidadão brasileiro tem responsabilidade direta sobre o que faz ou deixa de fazer. Salienta-se ainda que:

a conduta do médico e os resultados de sua atividade, há que ser aferida, qualquer que seja o resultado, com uma certa dose de flexibilidade, até porque, contrariamente, não se pode atribuir responsabilidade total do médico, porque algumas situações independem de sua vontade ou competência, como, por exemplo, nos casos em que o paciente tenha uma conduta inadequada no tocante ao prescrito ou ainda se ele abandona o tratamento (MELO, 2014, p. 113).

Esses são alguns pontos que devemos levar em consideração em relação ao CC e ao CDC, quando tratamos das questões médicas e as tratativas relacionadas a sua judicialização.

Vimos, dessa forma, que o Código Civil conversa diretamente com o Código de Defesa do Consumidor quando tratamos da visão legal do direito médico, e sempre teremos a interpelação conjunta destes quando tratarmos da judicialização de elementos ligados a medicina, ao médico e seus atos.

3 RESPONSABILIDADE PENAL DO MÉDICO

Prezado acadêmico, iremos agora estudar a responsabilidade penal médica, e isto ocorre quando o médico comete um erro, no exercício da sua profissão, e, assim, ele pode ser enquadrado em um processo penal. Para enveredarmos na seara penal, é importante ao acadêmico entender o que é erro médico para então discorrermos sobre a responsabilização penal do profissional.

O Conselho Federal de Medicina, traz no Capítulo 3 do Código de Ética Médica (CEM), o qual trata sobre a Responsabilidade Médica, o que é vedado ao médico fazer em sua prática profissional, e, nesse sentido, o art. 1° do CEM descreve que o médico que “Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência” (CFM, 2019, p. 21). Nesse caso, pode-se expor que o médico que, por seu ato profissional causar dano aos seus pacientes, responderá civilmente, penalmente ou administrativamente.

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O Parágrafo único do art. 1° do CEM complementada expondo que: “A responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode ser presumida” (CFM, 2019, p. 21). Pois, a responsabilidade dos médicos é considerada uma responsabilidade subjetiva, e inerente ao seu fazer profi ssional.

Assim, podemos defi nir, segundo Pieritz (2020, p. 64), que o erro médico é “proveniente de uma conduta imprópria, de ação ou omissão, no exercício profi ssional do médico, o qual acarreta dano ao paciente ou a seus familiares”.

Podemos afi rmar então que o erro médico é resultado de uma conduta profi ssional inadequada em que o médico diligentemente deixou de seguir a técnica e por consequência é possível gerar um dano à vida ou à saúde do paciente, caracterizando por ter agido com imperícia ou imprudência ou negligência.

Olá, acadêmico, para entender bem o signifi cado de negligência, imprudência e imperícia:Exemplifi cando, podemos afi rmar que o médico comete um erro quando deixa de agir, mas ele deveria ter agido caracterizando, nesta condição, uma negligência. Quando o médico faz algo que não deveria ser feito, caracteriza-se a imprudência médica. Quando não faz, de maneira correta, algo que deveria ser bem feito acarreta um erro por imperícia.

ERRO MÉDICO

FONTE: <https://bit.ly/3HLXDKU>. Acesso em: 19 jun. 2020.

NOTA

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Quando identificado um erro médico que resultou em lesão corporal culposa ou ainda gerou um homicídio culposo é mister a necessidade de instauração de um processo penal que poderá ocorrer de ofício, pelas autoridades competentes, ou, ainda, poderá ocorrer por manifestação da própria vontade da vítima ou seus familiares.

Como vimos, a responsabilidade jurídica na visão civil em relação ao médico tem um caráter preponderantemente de reparação, já quando analisamos a responsabilidade penal o mesmo apresenta um caráter punitivo. Quando falamos de indenização civil, ela é executada pela medida do dano causado ao paciente, enquanto a punição na visão penal é definida em relação à reprovabilidade do ato praticado. Conforme apresentado por Costa e Costa (2008, p. 35):

É certo que as indenizações, especialmente por dano moral, têm um certo caráter punitivo, ainda mais levando em consideração as motivações típicas das ações por erro médico. Porém, é no campo penal que a atuação dos médicos pode sofrer sanções mais duras, que aliam o elemento pecuniário com a possibilidade de privação da liberdade.

Assim, o médico responde penalmente pelas suas ações conforme qualquer pessoa comum, salvo o risco da profissão e suas expertises, devendo sempre levar em condições as reais condições de saúde do paciente, assim como o ambiente do tratamento e os meios disponíveis no momento do atendimento.

Logo são muitos os elementos para analisar em relação às ações penais no que se refere à práxis do médico e das condições reais do paciente no tratamento.

Olá, acadêmico, apresentamos, a seguir, um texto extraído de Costa e Costa (2008), em que descreve os meandros das questões penais em relação as atividades médicas.

RESPONSABILIDADE PENAL[...]O direito brasileiro define uma série de crimes que podem ser cometidos pelos médicos, no exercício de sua profissão. Esses crimes tipicamente ofendem nossos padrões de justiça mais estratificados, de tal forma que as condutas criminosas sempre são sentidas como indevidas. Contudo, muitos médicos não sabem que algumas condutas são definidas como crimes e que, portanto, podem acarretar penas privativas de liberdade.

Todos sabem que o homicídio é um crime, mas poucos refletiram sobre o fato de que algumas condutas médicas podem ser qualificadas como homicídios culposos. Assim, a negligência de um médico pode levá-lo não apenas a pagar indenizações vultosas, mas também pode acarretar uma pena de prisão de 1 a 3 anos. E se é desconfortável o enfrentamento de um processo civil de reparação de danos, é sempre dramática a vivência de um processo penal.

IMPORTANTE

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E caso a conduta do médico seja exageradamente arriscada, ele pode inclusive ser processado por homicídio doloso, pois se considera dolo não apenas a intenção de causar o dano (chamado de dolo direto), mas também são dolosas as condutas em que o médico assume o risco de causar o resultado (no chamado dolo eventual). Na prática, considera-se dolo eventual a imprudência e a negligência que são tão desmesuradamente graves que seria injusto punir o fato com a pena reduzida do crime culposo, sendo mais adequada a pena do crime doloso, que no homicídio é de 6 a 20 anos. Por exemplo, médicos foram processados por homicídio doloso ao não terem dado a devida atenção a uma parturiente, que terminou vindo a óbito juntamente com o feto, após uma noite inteira de sofrimento e descaso.

Outro crime bastante comum é o de lesão corporal culposa, cuja pena varia de dois meses a um ano. Amputar equivocadamente um membro sadio, causar queimaduras devido ao uso equivocado de um bisturi, causar diminuição na visão em virtude de um erro cirúrgico, tudo isso se enquadra como lesão corporal. E, caso a conduta seja demasiadamente grave, ela pode ser processada como lesão corporal dolosa, por dolo eventual. Nesse caso, as penas podem se tornar bastante altas, caso a lesão seja grave (acarretando por exemplo debilidade permanente de membros ou incapacidade para ocupações habituais superiores a 30 dias), que eleva a pena máxima a cinco anos, ou gravíssima (acarretando por exemplo aborto, perda de função ou incapacidade permanente).

Uma conduta que tipicamente não é percebida como criminosa é a execução de tratamento não autorizado, como uma transfusão de sangue, que pode ser considerada constrangimento ilegal, com pena de três meses a um ano, desde que não seja justificada por iminente perigo de vida.

Outra atitude que não é normalmente entendida como crime é deixar de prestar cuidados a pacientes em caso de emergência, sob a falsa alegação de inexistência de vagas, ou pelo fato de não ser prestada garantia financeira imediata. Nessa situação, o médico pode ser condenado de um a seis meses de detenção, por omissão de socorro.

Também é considerada crime a falsidade de atestado médico, com pena de um mês a um ano, a omissão de notificação de doença, com pena de seis meses a dois anos e a violação de segredo profissional, com pena de três meses a um ano.

Entre esses crimes são considerados de menor potencial ofensivo todos aqueles cuja pena máxima é igual ou inferior a dois anos, o que abarca todas as condutas descritas anteriormente, exceto o homicídio e as lesões corporais grave e gravíssima. Esses crimes mais simples somente conduzem à prisão em casos de reincidência, pois alguns deles podem ser punidos apenas com multa e todos podem seguir um processo simplificado que se resolve por meio de acordo indenizatório, pela suspensão condicional do processo ou pela imposição de uma pena alternativa.

Porém, esses benefícios não ocorrem nos crimes mais graves, que envolvem os citados, e também outras condutas que são evidentemente percebidas como criminosas, mas que alguns médicos talvez não tenham consciência da gravidade da punição. O aborto, por exemplo, é punido com prisão de um a três anos, exceto quando autorizado judicialmente. Já o estupro e o atentado violento ao pudor, que implicam a realização de qualquer ato sexual sem o devido consentimento, geram penas de seis a dez anos.

Em todos esses casos, a condenação criminal gera para a vítima o direito a reparação civil, que será feita mediante processo no qual será discutido apenas o valor da indenização. Porém, é preciso ter em mente que a absolvição penal não afasta necessariamente o dever de indenizar, pois boa parte das absolvições é feita por ausência de prova, e não por uma decisão que declare a inexistência do crime ou negue a sua autoria.

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Como você pôde ler no material apresentado por Costa e Costa (2008), os crimes penais acometidos pelos médicos são todos crimes comuns que podem ser atenuados ou até extrapolados pela questão da práxis e, por isso, exige atenção especial dos juízes para dirimirem quaisquer dúvidas antes de gerar a sentença.

Para você entender mais a questão do Código Penal Brasileiro (CP) e conhecer as nuances penais dos diversos tipos de crimes como trata a lei, apresentamos a seguir o Título II, Do Crime.

Assim, no caso em que não haja provas sufi cientes para avaliar a culpa do médico, pode haver uma absolvição penal (pois não pode haver punição criminal sem prova da culpa) e uma condenação civil (devido à inversão do ônus da prova, que exige do médico a comprovação de sua inocência).

FONTE: <http://www.arcos.org.br/livros/erro-medico-a-responsabilidade-civil-e-penal-de-medicos-e-hospitais/>. Acesso em: 19 jun. 2020.

CÓDIGO PENAL (CP)

TÍTULO II

Do crime

Relação de causalidade (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Superveniência de causa independente (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Olá, acadêmico, apesar de falar do direito médico, quando falamos da judicialização em nível penal, o médico é julgado pelo crime levando-se em consideração o CP e mais as leis complementares, podendo-se utilizar, também, outras referências legais, tanto para a defesa, quanto para a acusação.

ATENÇÃO

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§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Relevância da omissão (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 14. Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime consumado (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Tentativa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Pena de tentativa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único – Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Desistência voluntária e arrependimento eficaz (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

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Arrependimento posterior (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime impossível (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Art. 18. Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime culposo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Agravação pelo resultado (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Erro sobre elementos do tipo (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Descriminantes putativas (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

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§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Erro determinado por terceiro (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Erro sobre a pessoa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Erro sobre a ilicitude do fato (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Coação irresistível e obediência hierárquica (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 22. Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Exclusão de ilicitude (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - em estado de necessidade (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984);II - em legítima defesa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

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Excesso punível (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Estado de necessidade

Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Legítima defesa

Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

FONTE: <https://www.meuvademecumonline.com.br/legislacao/codigos/3/codigo-penal-decreto-lei-n-2-848-de-7-de-dezembro-de-1940/>. Acesso em: 21 jun. 2020.

Acadêmico, sugerimos que sempre faça pesquisas para verificar a situação mais atual de escrita das leis. Como referência para a sua consulta, veja os seguintes sites na internet:

• Meu Vade Mecum on-line: https://www.meuvademecumonline.com.br/.• Senado Federal: https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/2.• Portal da Legislação – Planalto: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/.• Portal CFM: http://www.portal.cfm.org.br/.

DICA

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PRINT DO PORTAL CFM

FONTE: <http://www.portal.cfm.org.br/>. Acesso em: 4 set. 2020.

Esperamos que aproveite os sites indicados, pois, em nossa área de estudo, é importante acompanhar as legislações existentes sobre os assuntos relacionados ao tema Direito Médico e afi ns.

Como apresentado anteriormente, vimos que Costa e Costa (2008), em nos trazendo o jargão médico-hospitalar para a terminologia legal relacionada ao CP, e mais o Título II do CP, no qual apresenta as diversas leis especifi cas de cada modalidade de crime nos permite entender a complexidade dos tramites legais brasileiros e, assim, apresentando a importância do conhecimento e especialização na área para exercer a profi ssão de forma coerente e sem infringir a lei.

4 PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR ÉTICO-PROFISSIONAL

Prezado acadêmico, existem diversas instâncias legais que legislam sobre a práxis do médico, e existe também o controle das questões do comportamento médico/profi ssional com relação aos seus pacientes, então é aí que entra a ação dos Conselhos Regionais de Medicina (CRM) e, em última instância, o Conselho Federal de Medicina (CFM).

FIGURA 1 – CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA

FONTE: <http://www.portal.cfm.org.br/>. Acesso em: 21 jun. 2020

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Todo processo de sindicância e de processo ético profissional em relação a um médico são instaurados nos Conselhos Regionais de Medicina e são eles que possuem a competência para apreciar e julgar infrações éticas na prática do exercício da medicina. O CRM é o órgão disciplinador da classe médica, possuindo a responsabilidade de zelar e trabalhar para que todos os médicos trabalhem eticamente além de buscar o prestígio e bom conceito da profissão e, principalmente que os profissionais a exerçam legalmente a sua práxis.

Como já estudamos, o Código de Processo Ético Profissional é normatizado pela Resolução nº 1.617/2001, do Conselho Federal de Medicina e assim como na justiça comum, os trâmites utilizados em julgamentos são iguais, com acusação, defesa, provas, testemunhas e julgamento.

Dos tramites, Farina (1999, s.p.) apresenta:

Qualquer cidadão tem o direito de procurar o CRM para prestar sua queixa, e imediatamente instaura-se sindicância para averiguar a procedência da reclamação. Na sindicância, sempre julgada de maneira colegiada, jamais individualmente, verifica-se existência ou não de infração ao Código de Ética Médica e decide-se pelo arquivamento ou abertura de Processo Ético Profissional, sempre de maneira fundamentada. Durante a fase de sindicância as peças apresentadas pelas partes envolvidas são apreciadas e pode haver conciliação. Após o processo instaurado, ele só é finalizado com o julgamento ou falecimento do denunciado.Durante a instrução do processo, surgindo novos fatos ou evidências, o instrutor nomeado pelo Corregedor ou Presidente poderá inserir outros artigos não previstos na capitulação inicial, garantindo o contraditório e a ampla defesa. O denunciante é interrogado sobre as circunstâncias da infração e deve apresentar as provas.Tudo é feito em sigilo, para se preservar a privacidade do paciente envolvido. Durante o julgamento, feito de portas fechadas, é permitida apenas a presença das partes e seus procuradores, assessoria jurídica do Conselho e funcionários responsáveis pelo procedimento disciplinar.Nas situações de atuação médica em que o profissional ofereça risco à sociedade, o CRM pode realizar a interdição cautelar e suspender o exercício da profissão até o julgamento. Se o médico apresenta doença incapacitante, o Conselho também pode suspender a prática da Medicina até a total recuperação, através de processo administrativo.Caso algum médico conselheiro tenha envolvimento pessoal ou familiar com algumas das partes, interesse direto ou indireto com o caso ou tenha participado como perito, testemunha ou representante, ele logo é impedido de participar do processo e também não participa do julgamento.

Complementando ao exposto por Farina (1999) a Lei nº 3.268/1957 descreve as atividades dos Conselhos de Medicina e detalha as possíveis penas disciplinares que podem ser aplicadas aos médicos, os quais são definidos conforme a gravidade da infração cometida. Conforme descrito na Lei nº 3.268/1957, podem ser desde uma advertência confidencial em aviso reservado; censura confidencial em aviso reservado; censura pública em publicação oficial; suspensão do exercício profissional até trinta dias; e a mais grave penalidade a cassação da carteira e registro do CRM, não permitindo assim o exercício profissional.

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Das penalidades administrativas julgadas pelo CRM temos que, após o julgamento, o denunciante ou o denunciado tem até 30 dias para recorrer da sentença proferida pelo CRM e desta forma solicitar uma revisão do processo, principalmente se descobrir novas provas que possam alterar a decisão proferida anteriormente.

É mister deixar claro que todos os processos impetrados contra o médico, seja na área civil, penal ou administrativa no CRM, todos ocorrem de forma independente, ou seja pelas provas apresentadas cada um dos processos independem dos resultados auferidos em outro processo.

Vimos que no âmbito administrativo um colegiado defi ne os resultados do processo, sendo que aqui os membros são todos médicos e por isso têm condições de analisar melhor as questões técnicas operacionais do julgado, podendo sim ocorrer conchavos profi ssionais, mas vimos, na atualidade, devido à transparência gerada na sociedade moderna, processos mais justos e dentro de padrões de conduta ética esperada por um colegiado. As questões éticas da práxis médica estão cada vez mais sendo desenvolvidas por toda a comunidade médica, principalmente devido ao acesso à informação e a constantes treinamentos e aparelhamento da classe médica, levando assim a ambientes mais salutares de atendimento e relacionamento médico paciente.

Olá, acadêmico, podem solicitar junto ao CRM uma revisão do processo o médico punido, que pode ser feito pessoalmente ou através de um procurador habilitado geralmente um advogado; ou ainda pelo cônjuge, descendentes ou ainda parentes ascendentes e irmã(o), essas condições são permitidas geralmente em caso de falecimento do médico condenado. Caso o processo revisional seja procedente, o Conselho Federal de Medicina conforme a Lei 3.268/1957 poderá tomar uma das providencias:

• anular o processo ético-profi ssional;• alterar a condenação, reduzindo a pena; ou• absolver o profi ssional punido.

NOTA

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5 RESPONSABILIDADE OBJETIVA DOS HOSPITAIS, CLÍNICAS E SIMILARES

Nos últimos anos, no Brasil, houve um aumento das demandas judiciais ligadas às questões da saúde, nas quais vemos médicos e hospitais sendo processados por pacientes e seus familiares e isso está ocorrendo principalmente pela difusão dos direitos dos pacientes e a facilidade em que é possível pesquisar a respeito desses direitos na internet, além do surgimento de legislações mais modernas que permeiam a responsabilidades dos atos e dos meios aos diversos tipos de usuários, que em nosso caso é o usuário/consumidor de serviço entendido como paciente. E, assim, vimos crescer as demandas judiciais ajuizadas por pacientes e familiares destes em relação a hospitais, enfermeiros, atendentes e das instalações hospitalares responsáveis pelo cuidado.

Quando analisamos as questões demandadas em relação aos hospitais, vê-se o mesmo como na condição de um fornecedor de serviços, e assim o mesmo é analisado sob a ótica do CDC (Código de Defesa do Consumidor), nesse caso ele responde objetivamente pelos danos causados aos consumidores (pacientes), principalmente no que tange à relação direta com a estrutura hospitalar. Nessa condição, podemos citar os cuidados com o paciente durante a sua permanência no mesmo (internação), estado dos equipamentos (conservação, manutenção, higiene etc.), alimentação oferecida pelo mesmo, além dos serviços auxiliares e de enfermagem, realização de exames e da limpeza dos ambientes hospitalares.

Quando analisamos a prestação de serviços relacionados à saúde podemos considerá-la como uma relação de consumo entre o médico e o paciente, logo a relação de trato como já estudamos anteriormente se dá pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/1990, imperando a teoria da responsabilidade objetiva, conforme exposto em seu artigo nº 141, que descreve que alguém possa ser responsabilizado independente da comprovação de culpa seja por negligência, imprudência ou imperícia. Temos ainda conforme arts. 14 do CDC:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

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Complementado pela interpretação do CC em seu artigo 186: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. E o artigo 927 do CC descreve ainda que:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem (BRASIL, 2002).

Assim, na legislação anteriormente citada, depreende que a responsabilidade civil dos fornecedores de serviços hospitalares é objetiva e solidária, fundada no risco da atividade desenvolvida e, conforme os artigos do CDC e do CC, não se faz necessário pesquisar a existência de culpa. Em tais casos, basta comprovar a causalidade entre o defeito do serviço e o evento danoso experimentado pelo consumidor/paciente.

Olá, acadêmico, para você entender melhor os meandros legais da discussão da responsabilidade civil, trouxemos um trecho de um artigo extraído do site Páginas de Direito.

A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS HOSPITAIS: UMA ANÁLISE A PARTIR DE ACÓRDÃO DO STJ

Klaus Cohen Koplin[...]Já a responsabilidade do Hospital privado, qualificado como fornecedor de serviço de saúde, vem sendo entendida pela doutrina especializada como objetiva, consoante caput do art. 14. A responsabilização do nosocômio exige, nesse caso, apenas a caracterização de sua conduta defeituosa, a demonstração do dano e do nexo de causalidade. Diante do disposto no art. 14, § 3º, do CDC, afasta-se a responsabilidade do Hospital fornecedor do serviço quando restar comprovado que o defeito inexiste ou quando caracterizada a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Em outros termos, a demonstração da inexistência do defeito se dá com a prova da correção dos procedimentos adotados do Hospital quanto a suas instalações, alimentação, equipamentos e serviços auxiliares, na linha do acórdão ora comentado.

Em que pese haja manifestações expressivas em sentido contrário, a interpretação propugnada pelo STJ em acórdãos como o ora comentado permite que se encare a culpa do médico vinculado ao Hospital como defeito do serviço prestado por ele, através de seu

preposto. Assim, a responsabilidade do nosocômio, conquanto em tese seja objetiva, fica condicionada à verificação da responsabilidade subjetiva (culpa), no que tange

à atuação técnico-profissional dos médicos a ele vinculados. De acordo com esse ponto de vista, "a falha do médico transmuta-se na falha do hospital".

Assim, já se afirmou que "não seria plausível sustentar a responsabilidade objetiva do hospital em termos absolutos, sob pena de tornar inviável a manutenção deste ramo de atividade", o que justifica a orientação do STJ a respeito da responsabilidade do Hospital apenas por danos culposos causados pelos médicos que nele atuam. Em vista disso, "o risco da atividade hospitalar será determinante quando houver falha do serviço, e

IMPORTANTE

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não apenas em razão do risco que é próprio do tipo de procedimento desempenhado em estabelecimento dessa natureza".

Em suma: em se tratando de responsabilidade do hospital por serviços prestados unicamente pela instituição, como acomodação (hospedagem), alimentação, medicamentos, equipamentos (p. ex., de raios-X) e serviços auxiliares (como de enfermagem), a responsabilidade será puramente objetiva, afastando-se unicamente quando demonstrada a inexistência do defeito a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Por outro lado, cuidando-se de responsabilidade por danos causados diretamente pelos médicos a ele vinculados (p. ex., prepostos), o Hospital somente responderá (solidariamente com o médico, segundo art. 7º, parágrafo único, do CDC) quando ficar caracterizado o agir culposo do profissional. Nesse caso, a culpa médica apresenta-se como hipótese de defeito do serviço prestado pelo Hospital (CDC, art. 14, § 1º), afastando-se o dever de indenizar se a instituição conseguir demonstrar, a partir da análise do elemento subjetivo, a inexistência de culpa por parte do profissional.

Já no caso do médico não vinculado ao Hospital como empregado ou membro do corpo clínico, mas em situação de simples locação de centro cirúrgico do Hospital, efetivamente nenhuma responsabilidade exsurge para este, de regra, em função da conduta do profissional eleito pelo paciente, conforme entendimento adotado pela Segunda Seção do STJ. De fato, "se o dano decorreu exclusivamente do ato médico, sem nenhuma forma de participação do hospital (inexistente vínculo de preposição entre médico e nosocômio), responderá tão só o profissional da medicina". Seguindo-se a linha de raciocínio já exposta, o hospital somente responderá, nesses casos, pelo estado de materiais e equipamentos disponibilizados por ocasião da cirurgia.[...]

FONTE: <https://www.paginasdedireito.com.br/index.php/artigos/382-artigos-ago-2018/7802-a-responsabilidade-civil-dos-hospitais-uma-analise-a-partir-de-acordao-do-stj>. Acesso em: 22 jun. 2020.

Vale ressaltar que a responsabilidade do hospital deve ser analisada mais detalhadamente em cada caso, pois as nuances podem fornecer subsídios importantes para o sucesso em um caso judicial, e, por isso, cada vez mais vemos hospitais e médicos trabalhando com protocolos de segurança em saúde e operações bastantes detalhados e minuciosos.

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Prezado acadêmico, selecionamos alguns textos para você pesquisar e ampliar o seu conhecimento a respeito do tema.

• Responsabilidade objetiva do hospital: cuidado na aplicação do CDC: https://www.migalhas.com.br/depeso/51540/responsabilidade-objetiva-do-hospital-cuidado-na-aplicacao-do-cdc.

• Responsabilidade civil dos hospitais: análise sobre a prestação de serviço: https://jus.com.br/artigos/44047/responsabilidade-civil-dos-hospitais-analise-sobre-a-prestacao-de-servico.

• A responsabilidade objetiva na reparação por erro médico: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/a-responsabilidade-objetiva-na-reparacao-por-erro-medico/.

DICA

Cada vez mais veremos as questões judiciais em relação ao atendimento hospitalar, em clínicas e similares sendo definido nos detalhes.

Terminamos, assim, mais um subtópico, no qual buscamos descrever alguns pontos importantes da responsabilidade objetiva de hospitais, clínicas e similares, e, a seguir, vamos entender mais a responsabilidade dos planos de saúde.

6 RESPONSABILIDADE DOS PLANOS DE SAÚDE

No Brasil, um grande marco jurídico se deu com a promulgação da nova Constituição Federal, em 1988, sendo esta a partida para reformulação da legislação brasileira exigindo a renovação e o surgimento de novas leis que impetram um novo olhar da sociedade para diversas áreas que, até então, seguiam um padrão de comportamento sem uma legislação especifica, a nova constituição instituiu a necessidade de novas legislações e uma das mais importantes é o CDC ( Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990).

Assim, temos o Código de Defesa do Consumidor como uma lei abrangente que desenvolve os tratados em relações de consumo levando em conta todas as esferas legais sendo na área civil, definindo as responsabilidades e os mecanismos para a reparação de danos causados, na esfera administrativa, definindo e trabalhando os mecanismos para que o poder público possa atuar nas relações de consumo; já na esfera e penal, estabelecendo novos tipos de crimes na relação de consumo, assim como definindo as punições para estes.

Dessa forma, o CDC trouxe à luz jurídica, principalmente, a responsabilidade civil das operadoras de planos privados de assistência à saúde, pois o CDC regulamentou as relações de consumo em nosso ordenamento jurídico e assim definiu responsabilidades dos atos das operadoras e dos meios utilizados aos diversos tipos de usuários, que em saúde é entendido como paciente.

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A base legal para análise da comercialização de planos privados de assistência à saúde às operadoras é determinada através do art. 197 da Constituição Federal, o qual traz que os mesmos devem ser fiscalizados pelo Estado.

Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.

Temos, ainda, a Lei nº 9.656/1998, que dispõe acerca da regulamentação dos planos privados de assistência à saúde:

Art. 1o Submetem-se às disposições desta Lei as pessoas jurídicas de direito privado que operam planos de assistência à saúde, sem prejuízo do cumprimento da legislação específica que rege a sua atividade, adotando-se, para fins de aplicação das normas aqui estabelecidas, as seguintes definições (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001):I - Plano Privado de Assistência à Saúde: prestação continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preço pré ou pós estabelecido, por prazo indeterminado, com a finalidade de garantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde, pela faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou serviços de saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou referenciada, visando a assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral ou parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante reembolso ou pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do consumidor (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001);II - Operadora de Plano de Assistência à Saúde: pessoa jurídica constituída sob a modalidade de sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou entidade de autogestão, que opere produto, serviço ou contrato de que trata o inciso I deste artigo (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001);III - Carteira: o conjunto de contratos de cobertura de custos assistenciais ou de serviços de assistência à saúde em qualquer das modalidades de que tratam o inciso I e o § 1o deste artigo, com todos os direitos e obrigações nele contidos (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001).§ 1o Está subordinada às normas e à fiscalização da Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS qualquer modalidade de produto, serviço e contrato que apresente, além da garantia de cobertura financeira de riscos de assistência médica, hospitalar e odontológica, outras características que o diferencie de atividade exclusivamente financeira, tais como: (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)

E a Lei nº 9.961/2000, que criou a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

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Werneck (2010, s.p.) descreve a relação do CDC em relação à legislação no setor da saúde suplementar quando relata:

Deste modo, a aplicação do CDC exerce grande papel no setor da saúde suplementar, pois ele é um instrumento nivelador, que busca um equilíbrio na relação de consumo dentro dessa atividade econômica, partindo do reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor e de seus direitos básicos à efetiva prevenção de danos patrimoniais e morais.

Dessa forma, para qualquer pendência jurídica teremos o CDC, e o CC e leis complementares como base legal para dirimir quaisquer pendências em relação às instituições de comercialização de planos privados de assistência à saúde.

Prezado acadêmico, sugerimos leitura de toda a Lei nº 9.656/1998, que dispõe acerca da regulamentação dos planos privados de assistência à saúde, a qual está disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9656.htm.

A Lei nº 9.961/2000, que criou a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), está disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9961.htm. Visite também o site da ANS, para conhecer melhor a agência. Disponível em: http://www.ans.gov.br/.

ANS

FONTE: <http://www.ans.gov.br/>. Acesso em: 4 set. 2020.

DICA

A RESPONSABILIDADE CIVIL DAS OPERADORAS DE PLANOS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE

Ana Carla Werneck

[...]Considera-se que a responsabilidade das operadoras pode ser apurada,

segundo Nunes, “quer em caso de defeito (art. 14), quer em caso de vício (art. 20)”, pois se entende que essas além de fornecedoras (segundo o CDC), são também prestadoras de serviços. Ainda afi rma que: “A redação do caput do art. 14 segue a mesma regra do art. 12. O prestador de serviço responde forma objetiva pela reparação dos danos causados aos consumidores pelos defeitos relativos aos serviços prestados e pelas informações insufi cientes ou inadequadas sobre a fruição e os riscos do serviço”.

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Assim, pode-se dizer que a responsabilidade da operadora é baseada no fato de que foi ela quem credenciou e/ou associou. Schaefer salienta que “os erros médicos, caracterizada a relação de consumo, são considerados acidentes de consumo, decorrentes de falhas graves na execução do serviço médico, que causam sérios danos à saúde física e psíquica do paciente-consumidor e, por isso, merecem ser indenizados”. Portanto, tal situação está relacionada à ausência de segurança do serviço prestado.

Nesse sentido, Marques ainda destaca que:

“Três valores são cada vez mais raros e, por isso, valiosos no mundo atual: segurança, previsibilidade e proteção contra riscos futuros. Estes três valores são oferecidos no mercado através dos planos e seguros privados de saúde, os quais possibilitam transferência legal de riscos futuros envolvendo a saúde do consumidor e de seus dependentes a serem suportados por empresas de assistência médica, cooperativas ou seguradoras, prometendo a seu turno segurança e previsibilidade, face ao pagamento constante e reiterado das mensalidades ou prêmios. A relação entre paciente e médico sempre foi caracterizada como uma relação de confiança. No mundo de hoje, parte da confiança (fides) vai ser transferida para o organizador destes planos e seguros, intermediados ou conveniados, na previsibilidade do financiamento leal dos eventos futuros relacionados com a saúde”.

Desta forma, preconiza o art. 14, §1º do Código de Defesa do Consumidor, in verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:I – o modo de seu fornecimento;II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;III – a época em que foi fornecido.

Corroborando destaca o seguinte julgado proferido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo:

RESPONSABILIDADE CIVIL – PLEITO AJUIZADO CONTRA SOCIEDADE QUE EXPLORA ATIVIDADE EMPRESARIAL NO RAMO DE ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR. CONFIGURAÇÃO DE RELAÇÃO DE CONSUMO. Responsabilidade objetiva da operadora de saúde quanto aos defeitos do serviço prestado por hospital por ela mantido, na conformidade do art. 14 do CDC. Demonstração

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inequívoca do defeito do serviço. Configuração manifesta de dano moral. Recurso provido (TJSP – 6ª Câm. de Direito Privado; AC nº 300.707-4/9-00-SP; Rel. Des. Sebastião Carlos Garcia; j. 17/6/2004) (sem grifo no original)

Contudo, no parágrafo único do art. 7º dispõe que “tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.”. Corrobora também o §1º do art. 25 em que “havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.”. Desta forma, considera-se que há uma solidariedade na responsabilidade entre o médico, o hospital e as operadoras de saúde.

Desse modo, Ruy Rosado de Aguiar Júnior entende que:

que a entidade privada de assistência à saúde, que associa interessados através de planos de saúde, e mantém hospitais ou credencia outros para a prestação de serviços que está obrigada, tem responsabilidade solidária pela reparação dos danos decorrentes de serviços médicos ou hospitalares credenciados. E mais, excetua dessa responsabilidade as entidades que, em seus contratos de planos de saúde, dão liberdade para a escolha de médicos e hospitais, [...] e por isso não respondem pelos erros profissionais livremente selecionados e contratados pelo seu segurado (sem grifo no original).

Concorda Marques ao afirmar que:

[…] visualiza-se hoje a existência de uma obrigação (de meio ou de resultado) vinculando o consumidor, o executor direto dos serviços (médico, enfermeiro, anestesista etc.) e o fornecedor indireto dos serviços (hospital, consultório médico, empresa seguradora ou operadora, que explora economicamente a modalidade de medicina pré-paga), que contratou com o consumidor e organizou esta cadeia solidária de fornecedores do serviço médico (sem grifo no original).

A operadora de planos privados de assistência à saúde é responsável tanto pela escolha dos seus locais de atendimento (hospitais, clínicas etc.) quanto por seus profissionais credenciados. Desta forma, fornece ao beneficiário uma lista discriminada dessa rede conveniada (locais de atendimento e profissionais), para que esses possam exercer o seu direito de usufruir do serviço ora contatado através de consultas, exames, dentre outros. Portanto, não há dúvidas de que a operadora se torna responsável pela qualidade dos serviços prestados, tendo em vista que a mesma procede à escolha de quem/qual será conveniado a ela, e apenas presta a informação desses aos seus beneficiários. Assim, Schaefer afirma que:

As listas vinculativas têm papel determinante na responsabilização dos planos de saúde, pois por meio delas as operadoras obrigam o paciente-consumidor a se socorrer dos serviços profissionais ali elencados, retirando-lhe a liberdade de escolha sob pena de não poderem usufruir da cobertura contratada.

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No entendimento de Marques, o advento da Lei nº 9.656/98 juntamente com o Código de Defesa do Consumidor deixou o aspecto da responsabilidade solidária da operadora ainda mais claro, pois segundo ela:

Essa observação é importante porque facilita a visualização da nova responsabilidade os organizadores (operadoras) dos planos de saúde perante os consumidores, por eventuais erros médicos e falhas na prestação (acidentes de consumo) nas clínicas e nos hospitais conveniados. Enquanto protegida pelo manto do contrato de ‘seguro-saúde’, a aceitação da existência de uma obrigação conjunta de qualidade (leia-se solidariedade) era mais comum entre médicos e hospital, isto é, entre os fornecedores diretos dos serviços. Com a nova lei, a obrigação conjunta de qualidade-adequação (não existência de vício no serviço) e de qualidade-segurança, na terminologia de Antonio Herman Benjamin, isto é, de que não haja um defeito na prestação e consequente acidente de consumo danoso a segurança do consumidor-destinatário final do serviço de saúde, é verdadeiro dever imperativo de qualidade (arts. 24 e 25 do CDC), que se expande para alcançar todos que estão na cadeia de fornecimento, ex vi arts. 14 e 20 do CDC, impondo a solidariedade de todos os fornecedores da cadeia, inclusive as operadoras (parágrafo único do art. 7º do CDC) (sem grifo no original).

Confirma tal assertiva o seguinte trecho do julgado do Tribunal de Justiça do Paraná ao afirmar que:

[…] A prestadora de serviços de plano de saúde é responsável, concorrentemente, pela qualidade do atendimento oferecido ao contratante em hospitais e por médicos por ela credenciados. Ao não possuir médicos em número suficiente para atender uma especialidade, deixou de cumprir o que se comprometera no contrato, pois não é crível admitir que pessoa com quadro de elevada gravidade tenha que aguardar por meses, com evidente risco de vida, para ser atendido por médico conveniado (alegação esta que sequer foi impugnada). Considerando-se que o contrato se submete as regras do Código de Defesa do Consumidor, eis que se trata de prestação de serviços, a ele se aplica o princípio da inversão do ônus da prova. Em razão deste fato, cabia ao apelante provar que existiam outros profissionais ao quais pudesse se socorrer, sob pena de não fruir da cobertura respectiva. [...] (TJPR – 6ª C. Cível – AC 0151296-7 – Curitiba – Rel.: Des. Carvilho da Silveira Filho – Unânime – J. 1º.10.2001) (sem grifo no original)

No mesmo sentido:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ERRO MÉDICO. CIRURGIA NAS PERNAS. SAFENECTOMIA BILATERAL. PROBLEMAS DE VARIZES. DANO NAS PERNAS DA AUTORA. SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE A AÇÃO CONDENANDO O MÉDICO E A ADMINISTRADORA DO PLANO DE SAÚDE A PAGAR INDENIZAÇÃO. APELAÇÃO 1 (MÉDICO). CULPA CARACTERIZADA. PSIORÍASE ANTERIOR NÃO DETECTADA PELO MÉDICO. FALTA DE ANAMNESE. APELAÇÃO DESPROVIDA POR MAIORIA. APELAÇÃO 2 (ADMINISTRADORA DO PLANO DE

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SAÚDE). 2.1 PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA POR ERRO DE JULGAMENTO. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE. PRELIMINAR AFASTADA POR MAIORIA. Eventual erro de julgamento não leva à nulidade da sentença, mas a eventual reforma da decisão no grau superior. 2.2 PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA POR ILIQUIDEZ E DECISÃO ULTRA PETITA POR SER GENÉRICA E ABRANGENTE. DECISÃO TECNICAMENTE CORRETA. PRELIMINAR AFASTADA POR MAIORIA. 2.3 ADMINISTRADORA DE PLANO DE SAÚDE. MÉDICO CONVENIADO. LEGITIMIDADE PASSIVA DA ADMINISTRADORA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. PRELIMINAR AFASTADA POR MAIORIA.As administradoras de planos de saúde respondem solidariamente pelos atos dos médicos e hospitais conveniados. 2.4 ADMINISTRADORA DE PLANO DE SAÚDE. ERRO PRATICADO POR MÉDICO CONVENIADO. CULPA ‘IN ELIGENDO’ CARACTERIZADA. APELAÇÃO DESPROVIDA NESTE ASPECTO, POR MAIORIA. 2.5 DANOS MORAIS. INDENIZAÇÃO. PACIENTE QUE SOFREU DANOS ESTÉTICOS NAS PERNAS EM RAZÃO DE ERRO MÉDICO EM CIRURGIA DE SAFECTONOMIA. INDENIZAÇÃO CABÍVEL. APELAÇÃO IMPROVIDA NESTE ASPECTO POR MAIORIA. 2.6 DANOS MATERIAIS. FIXAÇÃO, PELO JUIZ, DE VALOR CERTO QUANDO O PEDIDO É DE COBERTURA DE FUTURA CIRURGIA REPARADORA. SENTENÇA REFORMADA. INDENIZAÇÃO QUE DEVE SE LIMITAR ÀS DESPESAS COM A CIRURGIA FUTURA A SER REALIZADA POR PROFISSIONAL DE ESCOLHA DA AUTORA, CUJO VALOR DEVERÁ SER APURADO EM LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA POR ARTIGOS. APELAÇÃO PROVIDA NESTE ASPECTO, POR MAIORIA. 2.7 CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA. PLEITO DA ADMINISTRADORA NO SENTIDO DE SER FIXADA SUA RESPONSABILIDADE DE FORMA SUBSIDIÁRIA. INADMISSIBILIDADE. INDENIZAÇÃO QUE DEVE SER SUSTENTADA POR AMBOS OS RÉUS, DE FORMA SOLIDÁRIA. APELAÇÃO DESPROVIDA NESTE ASPECTO POR MAIORIA. POR UNANIMIDADE, NÃO CONHECEM O AGRAVO RETIDO. POR MAIORIA, NEGAM PROVIMENTO À APELAÇÃO 1 (DO MÉDICO)POR MAIORIA, DÃO PROVIMENTO PARCIAL À APELAÇÃO 2 (DA ADMINISTRADORA AIS). VENCIDA A JUÍZA CONVOCADA LÉLIA S.M. GIACOMET, QUE DÁ PROVIMENTO A AMBAS AS APELAÇÕES”. (TJPR – 10ª C. Cível – AC 0222147-6 – Curitiba – Rel.: Des. Lelia S. M. Negrão Giacomet – Maioria – J. 22.03.2005) (sem grifo no original)

Portanto, restou clara que as operadoras de planos privados de assistência à saúde estão sujeitas à responsabilidade objetiva solidária, devidamente regulada no Código de Defesa do Consumidor, por danos ocasionados ao beneficiário.

Importante noticiar apenas que o prazo prescricional destas demandas é de 5 (cinco) anos, contados do conhecimento do dano e sua autoria, consubstanciado no Código de Defesa do Consumidor, através de seu art. 27.

FONTE: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/a-responsabilidade-civil-das-operadoras-de-planos-privados-de-assistencia-a-saude/>. Acesso em: 24 jun. 2020.

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RESUMO DO TÓPICO 1Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O erro médico é um dos principais pontos que tem gerado o aumento da judicialização de questões ligadas a área de saúde.

• A responsabilidade principal na área de saúde geralmente está associada ao médico.

• Quando falamos de área da saúde, também envolve médicos, enfermeiros, socorristas, gestores, auxiliares administrativos entre outros, e todos podem sofrer sanções legais.

• A responsabilidade dos profissionais da área da saúde está diretamente ligada à forma de tratativa prestada por eles aos doentes/pacientes e ao resultado alcançado.

• Quando o resultado esperado (cura) não é alcançado ou adequado, gerando sequelas ou até o óbito do paciente, vemos os “familiares” encaminhando processos para serem judicializados.

• Como consequência desse aumento da judicialização, vimos médicos mais reticentes e prestativos em suas consultas.

• Devido à judicialização da saúde os médicos estão solicitando mais de exames clínicos para minimizar ou evitar problemas nas consultas.

• Os hospitais, clínicas e outras instituições que lidam com a saúde estão fazendo treinamentos para seus funcionários para melhor aperfeiçoamento no atendimento, minimizando os erros.

• Na atualidade verificamos que o acesso aos meios judiciais está cada vez mais acessível à população, fato este que tem gerado um aumento das demandas judiciais na área da saúde.

• Na área civil, a responsabilidade do médico é SUBJETIVA.

• Na justiça civil, o paciente que ajuizar uma ação deve provar que foi o médico que errou, causando-lhe os prejuízos.

• Os processos de erro médico na área criminal, o Ministério Público terá que provar todos os elementos para obter êxito na condenação do médico.

• Os processos de erro médico na área administrativa não têm vínculos com as esferas jurídicas e sim são realizados pelos conselhos regionais e federal de medicina.

• A responsabilidade civil do médico está relacionada à responsabilidade das pessoas no âmbito da legislação do Código Civil (CC), que trata do conjunto de normas a serem seguidas pelos cidadãos os quais determinam os seus direitos e deveres, dos bens e das suas relações no âmbito privado, sempre considerando como referência a Constituição Federal de 1988.

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RESUMO DO TÓPICO 1 • O Código de Defesa do Consumidor (CDC) é o segundo foco de ação nos processos de erro médico, pois tem como principal foco definir as relações de consumo além de estabelecer as normas vigentes de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, conforme apresentados no artigo 5º da Constituição Federal de 1988.

• Para a formalização do contrato de prestação de serviços médicos é necessário o consentimento implícito do paciente em querer se submeter ao diagnóstico e tratamento, podendo ser expresso pelo mesmo ou ser de maneira tácita, seja pessoalmente definido ou através de seus familiares.

• Os contratos médico/paciente podem ser realizados de forma verbal, não havendo a necessidade de um contrato por escrito para formalizar o negócio.

• Na atividade médica prevalecem as obrigações de meio e não de resultado, devendo o médico, quando ocorrer o não atingimento do resultado pretendido, demonstrar que aplicou a melhor técnica e prática disponíveis, provando, assim, a inexistência de culpa no seu agir, e ficando isento de qualquer responsabilidade jurídica ou dever de indenizar.

• O art. 927 do Código Civil descreve que “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo” (BRASIL, 2002), e, dessa forma, reforça que os atos (de ação ou omissão) do médico que causar dano a outrem responderá por eles, pois o médico tem responsabilidade direta sobre o que faz ou deixa de fazer.

• O erro médico é causado por conduta imprópria, de ação ou omissão, no exercício profissional que acarreta dano ao paciente.

• O médico comete um erro quando deixa de agir, mas ele deveria ter agido, caracterizando nesta condição uma negligência.

• Quando o médico faz algo que não deveria ser feito, caracteriza-se a imprudência médica.

• Quando o médico não faz de maneira correta algo que deveria ser bem feito acarreta um erro por imperícia.

• A responsabilidade jurídica do médico na visão na esfera civil tem um caráter preponderantemente de reparação, já quando analisamos a responsabilidade penal o mesmo apresenta um caráter punitivo.

• Os crimes penais acometidos pelos médicos são todos crimes comuns que podem ser atenuados ou até extrapolados pela questão da práxis e por isto exige atenção especial dos juízes para dirimirem quaisquer dúvidas antes de gerar a sentença.

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1 No exercício profissional, um médico pode infringir diversos pontos legais nas mais diversas áreas judiciais e, por este motivo, precisamos conhecer todos estes meandros. Deontologicamente ele precisa desenvolver uma postura exemplar aos seus pacientes e pares exigindo que se mantenha atualizado constantemente das evoluções da legislação brasileira em sua área. Assinale a opção correta que apresentam as áreas em que um médico pode sofrer sanções legais?

a) ( ) Área penal, área civil e administrativa (CFM e CRM).b) ( ) Área jurídica, área pessoal e administrativa (CFM e CRM).c) ( ) Área penal, área pessoal e administrativa (CFM e CRM).d) ( ) Área jurídica, área civil e administrativa (CFM e CRM).e) ( ) Nenhuma das alternativas.

2 Vimos a partir de 1988 com a promulgação da carta magna um aumento da judicialização na área da saúde, também influenciados por um aumento do acesso da população aos meios de informação. Com relação a judicialização na área da saúde, é correto afirmar:

a) ( ) Os casos de erro médico têm aumentado após promulgação da Constituição Federal de 1998.

b) ( ) O Código de Defesa do Consumidor, também conhecido como CDC, trouxe uma clareza maior nos relacionamentos de tratativa contratual em relação ao médico e paciente.

c) ( ) O médico em sua tratativa com o paciente deve observar as suas condutas e formas de tratamento efetivas, pois ele, o médico também pode responder de forma penal se cometer um crime.

d) ( ) As questões de comportamento ético do médico podem ser respondidas judicialmente nas esferas Civil e Penal, além da esfera administrativa no Conselho Regional de Medicina (CRM).

e) ( ) Todas as alternativas estão corretas.

3 (FUNCAB, 2015) Sobre a responsabilidade civil de médicos e de hospitais na prestação de seus serviços, assinale a alternativa correta.

FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/50cbb832-d7>. Acesso em: 16 set. 2020.

a) ( ) A responsabilidade dos hospitais, no que tange à atuação dos médicos que neles trabalham ou são ligados por convênio, é subjetiva, dependendo da demonstração da culpa.

AUTOATIVIDADE

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b) ( ) A responsabilidade civil do médico é objetiva e prescinde de culpa.c) ( ) A responsabilidade médica empresarial, no caso de hospitais, é objetiva,

independentemente do tipo de dano experimentado pelo paciente. d) ( ) Admite-se a responsabilização objetiva do hospital mesmo nos casos em que a

culpa do médico é expressamente excluída.e) ( ) A responsabilidade objetiva do hospital não se limita aos serviços única e

exclusivamente relacionados com o estabelecimento empresarial propriamente dito.

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A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE POR ERRO MÉDICO

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, estudamos no tópico anterior as questões legais referentes ao erro médico, e a influência da CF, CC, CDC e CP, deixando mais claras as questões legais referentes à relação médico e paciente. Neste tópico, nós vamos nos aprofundar mais a respeito dos meandros da judicialização dos erros médicos, novamente perpassando todos os níveis da relação médico-paciente e hospital, trazendo luz aos conceitos introduzidos na esfera judicial.

Com o advento da modernização das leis brasileiras, houve uma nova visão em todos os níveis de trabalho na área da saúde, com hospitais, médicos, enfermeiros, técnicos e assistentes sendo preparados para esta nova realidade de trabalho. Houve implantação de novos protocolos de atendimento hospitalar em todos os seus níveis, foram executados treinamentos aos enfermeiros, técnicos e médicos, foram modernizados os prontuários médicos implantando sistemas informatizados entre outras melhorias implantadas, tudo para minimizar a judicialização da saúde.

Com a implantação destas melhorias, vimos uma melhora nas relações médico/hospital/paciente, mas agora estamos vivenciando ainda um aumento da judicialização do erro médico, o qual se acredita deve ainda aumentar nos próximos anos, devido a quatro fatores principais:

• nova legislação mais justa;• acesso a informações (internet) e conhecimento dos direitos dos pacientes;• aumento de novos cursos de medicina e assim novos médicos atuando no mercado; • aumento de advogados à disposição dos pacientes.

UNIDADE 2 TÓPICO 2 -

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FIGURA 2 – PRINCIPAIS FATORES DE AUMENTO DA JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE

FONTE: A autora

Vamos, agora, estudar os principais elementos que definem o erro médico e as questões relacionadas aos danos indenizáveis devido ao erro.

2 ERRO MÉDICO-HOSPITALAR NO BRASIL

Prezado acadêmico, o erro médico é uma situação bastante ampla quando envolvemos as questões de saúde, principalmente no ambiente hospitalar, onde temos diversos agentes atuando com os pacientes e seus familiares, como médicos, enfermeiras, assistentes, técnicos, fora os diversos procedimentos e ambientes hospitalares em que o paciente circula.

Conforme Fioravanti (2020, s.p.), “todo ano, dos 19,4 milhões de pessoas tratadas em hospitais no Brasil, 1,3 milhão sofre pelo menos um efeito colateral causado por negligência ou imprudência durante o tratamento médico”. O autor ainda complementa dizendo que “a consequência pode ser fatal: quase 55 mil pessoas morrem por ano no país, o equivalente a seis por hora, por causa dos chamados erros médicos” (FIORAVANTE, 2020, s.p.).

Esses números apresentados por Fioravanti (2020) são bastante significativos, e chegamos em um cálculo direto de 6,70% de risco de ocorrer algum problema em uma internação, seja de menor grau até condições de erros extremos. Estes números também servem de indicativo do porquê vem aumentando a judicialização devido a erros médicos no Brasil.

Apesar de toda a preparação e ajustes realizados nos ambientes hospitalares para se adaptar as questões legais nos últimos anos, temos ainda, diversos treinamentos realizados com todo o corpo de funcionários dos hospitais, ainda assim verifica-se um aumento das demandas referentes aos erros médicos hospitalares.

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Atualmente, verifi ca-se que os hospitais e clínicas médicas, sua equipe de funcionários, médicos, enfermeiros e técnicos trabalham juntos na minimização dos erros médicos hospitalares, mas vimos também que, apesar de todos os controles e protocolos implantados, automação dos prontuários médicos e todo o treinamento realizado pela equipe, temos que os principais fatores geradores de erro médico são:

• stress pessoal (fatores diversos como stress no trabalho, familiar etc.);• excesso de trabalho (jornadas longas, vários empregos etc.);• falta de funcionários;• falta de equipamentos adequados;• falta de remédios;• ambiente de trabalho; • excesso de pacientes a serem atendidos etc.

Prezado acadêmico, para você conhecer mais a respeito do erro médico-hospitalar recomendamos a leitura do material escrito por Renato Camargos Couto e colaboradores, em 2018, intitulado II Anuário da segurança assistencial hospitalar no Brasil: propondo as prioridades nacionais, disponível em: https://www.iess.org.br/cms/rep/Anuario2018.pdf.

CAPA DO II ANUÁRIO DA SEGURANÇA ASSISTENCIAL HOSPITALAR NO BRASIL

FONTE: <https://www.iess.org.br/cms/rep/Anuario2018.pdf>. Acesso em: 4 set. 2020.

DICA

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FIGURA 3 – ERROS NOS HOSPITAIS

FONTE: <https://cutt.ly/1gw9AZu>. Acesso em: 29 jun. 2020.

Para complementarmos o tema apresentamos o Quadro 6, no qual há um resumo de cada um dos principais elementos ligados ao quadro hospitalar e às questões de áreas jurídicas em que este quadro hospitalar pode sofrer penalidades.

QUADRO 6 – ENTES HOSPITALARES VERSUS ÁREAS JURÍDICAS EM RELAÇÃO AO ERRO MÉDICO

ENTE HOSPITALAR

CÓDIGO DE

ÉTICA MÉDICO

(CEM)

CÓDIGO DE PROCESSO

ÉTICO MÉDICO (CPEM)

CONSTITUIÇÃO FEDERAL (CF)

CÓDIGO CIVIL (CC)

CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR(CDC)

CÓDIGO PENAL

(CP)

MÉDICO SIM SIM SIM SIM SIM SIM

ENFERMEIRO* NÃO NÃO SIM SIM SIM SIM

TÉCNICOS* NÃO NÃO SIM SIM SIM SIM

ADMINISTRATIVO NÃO NÃO SIM SIM SIM SIM

HOSPITAL (ENTIDADE JURÍDICA)

NÃO NÃO SIM SIM SIM NÃO

FONTE: A autora

Com o Quadro 6, temos todo o aporte para entendermos por quais áreas jurídicas os diversos entes hospitalares podem sofrer processos judiciais e as possíveis áreas em casos de erros médicos, e é muito importante salientar que todos eles podem sofrer penalidades legais conforme as legislações específi cas.

Prezado acadêmico, vamos estudar mais à frente a teoria do queijo suíço sobre as condições ideais para que ocorra o erro médico-hospitalar, mas, por enquanto é importante lembrar que diversos fatores precisam se alinhar para que um erro ocorra dentro de um hospital, nunca esquecendo que a “fatalidade” de ocorrências simultâneas também pode ocorrer na geração do erro.

ESTUDOS FUTUROS

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Teremos muitas mudanças em todos os ambientes hospitalares, nos próximos anos, principalmente ocasionadas pelas diversas tecnologias que estão sendo desenvolvidas, as quais vão desde a telemedicina, robôs cirurgiões, robôs atendentes, prontuários eletrônicos etc., buscando sempre inovar e melhorar os tratamentos, além de evitar o erro médico, e, com isso, deveremos ter, também, a evolução das leis para suportar essas inovações.

Vamos agora buscar entender melhor as questões relacionadas ao erro médico na visão de erro, acidente imprevisível e resultado incontrolável.

3 ERRO MÉDICO, ACIDENTE IMPREVISÍVEL E RESULTADO INCONTROLÁVEL

O erro médico, os acidentes imprevisíveis e resultados incontroláveis são situações bastante corriqueiras quando envolvemos as questões de saúde, seja no Brasil, ou qualquer outra parte do mundo, principalmente, no ambiente hospitalar, onde temos diversos agentes atuando com os pacientes e seus familiares, como médicos, enfermeiras, assistentes, técnicos, fora os diversos procedimentos e ambientes hospitalares em que o paciente circula, além da circulação das pessoas (visitantes), remédios e suas reações, entre outros fatores.

O erro médico, em todas as suas formas, é muito mais comum do que imaginamos, tanto nos hospitais quanto nos atendimentos ambulatoriais e nas consultas. Nós enxergamos o grosso do atendimento, ou seja, o paciente está ruim e o que se faz para ele melhorar e o resultado final, ficou bom ou não, e tudo o que está fora de bom ou ótimo como resultado para o paciente é suscetível a judicialização.

Vamos agora estudar uma visão legal do erro médico, acidente imprevisível e resultados incontroláveis, mas antes queremos mostrar uma curiosidade, que é um dado importante para levarmos em conta em um tratamento médico-hospitalar.

Prezado acadêmico, a justiça brasileira também vem em um processo de “amadurecimento legal”, e na área de erro médico ainda existem muitos casos em que o conluio entre advogados e pacientes mal-intencionados judicializam fatos somente em busca de proveitos próprios, principalmente por benefícios pecuniários. Conforme pesquisa realizada por Pieritz (2020, p. 45) por casos julgados na Justiça do estado de Santa Catarina, “63,74% dos casos levados ao Poder Judiciário foram considerados improcedentes, ou seja, não foram comprovados durante os trâmites processuais”. Atualmente, a justiça analisa de forma sóbria e detalhista todos os casos judicializados sob a égide de “erro médico”, extenuando todas as provas para evitar erros de decisão.

IMPORTANTE

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Por esta complexidade do corpo humano temos também as questões relacionadas às reações adversas dos medicamentos receitados pelos médicos nos tratamentos dos pacientes.

Um fato importante em todo momento do tratamento médico é a complexidade de corpo humano, e uma realidade que precisamos levar em conta é que o corpo é muito complexo. Seguem algumas curiosidades (fatos) do corpo humano.

• o corpo de um adulto é formado de 7.000.000.000.000.000.000.000.000.000 (sete octilhões) de átomos;

• calcula-se que o corpo de um adulto produza em média 300 milhões de células por minuto ou 432 trilhões por dia;

• cada célula contém cerca de 1,5 gigabytes de código genético. Dessa forma, uma pessoa carrega aproximadamente 60 zettabytes (o número 60 seguido de 21 zeros). Estima-se que até 2020 toda a informação digital produzida desde o começo da era da informática deva alcançar a marca de 40 zettabytes;

• o que nos torna faz diferentes um do outro e nos torna únicos corresponde a menos de 1 mb de informação genética.

O COMPLEXO CORPO HUMANO

FONTE: <https://cutt.ly/8gw3iYr>. Acesso em 23 jul. 2020.

Apesar de o médico realizar seus tratamentos com base em pesquisas consolidadas no mercado, ainda existe um pequeno percentual de pessoas que podem ter resultados adversos aos desejados, e precisamos fi car atentos a esta realidade ao entrarmos em um processo judicial por erro médico.

FONTE: <https://www.raciociniocristao.com.br/2014/11/25-fatos-impressionantes-corpo-humano/>. Acesso em: 23 jul. 2020.

NOTA

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QUADRO 7 – EXEMPLOS DE REAÇÕES ADVERSAS DE MEDICAMENTOS

MEDICAMENTO REAÇÃO ADVERSAS

Paracetamol gotas

Reações muito raras (ocorre em menos de 0,01% dos pacientes que utilizam este medicamento): urticária, coceira e vermelhidão no corpo, reações alérgicas a este medicamento e aumento das transaminases.

Difosfato de cloroquina

A toxicidade aguda por cloroquina é mais frequente quando administrada muito rapidamente por via parenteral. As manifestações tóxicas estão relacionadas com efeitos cardiovasculares (hipotensão, vasodilatação, supressão da função miocárdica, arritmias cardíacas, parada cardíaca), e do SNC (confusão, convulsões e coma). As doses terapêuticas usadas no tratamento oral podem causar cefaleia, irritação do trato gastrointestinal, distúrbios visuais e urticária.Em casos raros podem ocorrer hemólise e discrasias sanguíneas. Nas dosagens habituais, os efeitos adversos da cloroquina são geralmente leves e reversíveis. Inclusões ou depósitos na córnea podem ser encontrados em (30 a 70) % dos pacientes. O uso prolongado e altas doses podem resultar toxicidade grave, às vezes irreversível, incluindo retinopatia.

Ácido acetilsalicílico

Comprimido efervescente e comprimido: hipersensibilidade a analgésicos, agentes anti-inflamatórios, antirreumáticos ou na presença de outras alergias.Histórico de úlceras gastrintestinais, incluindo úlcera crônica ou recorrente, ou histórico de sangramentos gastrintestinais.Tratamento concomitante com anticoagulantes.Pacientes com comprometimento da função renal ou da circulação cardiovascular (por exemplo: doença renovascular, insuficiência cardíaca congestiva, depleção de volume, cirurgia de grande porte, sepsis ou eventos hemorrágicos graves), uma vez que o ácido acetilsalicílico pode aumentar o risco de comprometimento renal e insuficiência renal aguda.Comprometimento da função hepática.Durante o terceiro trimestre de gravidez, todos os inibidores da síntese de prostaglandinas podem expor:

O feto a:Toxicidade cardiopulmonar (com fechamento prematuro do ducto arterioso e hipertensão pulmonar).Disfunção renal, que pode progredir para insuficiência renal, com oligohidrâmnios.

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A mãe e a criança no final da gestação a:

Possível prolongamento do tempo de sangramento, um efeito antiagregante que pode ocorrer mesmo após doses muito baixas.Inibição das contrações uterinas levando a atraso ou prolongamento do trabalho de parto.

FONTE: <https://consultaremedios.com.br/>. Acesso em: 25 jul. 2020.

Trouxemos, no Quadro 7, medicamentos comuns e somente algumas situações adversas que podem gerar o consumo destes, logo mesmo que o medicamento esteja aprovado pela ANVISA, no Brasil. Um tratamento pode incorrer em uma reação adversa do organismo, mesmo com remédios comuns e já aprovados há muito tempo em nível mundial, pois a reação é do organismo do paciente, e como já estudamos anteriormente, vimos que o corpo humano é bastante complexo. Esta complexidade do corpo humano também pode acarretar variações nos resultados esperados no tratamento pelos remédios.

Entendidos esses detalhes relevantes para a discussão do tema, o erro médico, os acidentes imprevisíveis e resultados incontroláveis, vamos agora entender melhor os conceitos utilizados na justiça brasileira.

Já trabalhamos o erro médico anteriormente, e só relembrando apresentamos o conceito que conforme Pieritz (2020, p. 64, grifo nosso) o erro médico é “proveniente de uma conduta imprópria, de ação ou omissão, no exercício profissional do médico, o qual acarreta dano ao paciente ou a seus familiares”.

Prezado acadêmico, se você quiser conhecer mais detalhes das reações adversas, recomendamos a leitura do artigo disponível no site da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária): http://portal.anvisa.gov.br/documents/33868/2894427/Rea%C3%A7%C3%B5es+Adversas+a+Medicamentos/1041b8af-9cde-4e94-8f5c-9a5fe95f804d. E se você quiser conhecer a bula completa dos medicamentos acesse o site: https://consultaremedios.com.br.

Nota: estamos recomendando o site anterior para o seu conhecimento e não para sua automedicação. Não se recomenda tomar remédios sem a prescrição médica, e qualquer condição diferente desta é responsabilidade do leitor/acadêmico.

DICA

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No que tange ao erro médico em si, França (2019, p. 62) descreve que podemos defini-la como sendo “toda forma atípica e inadequada de conduta profissional, caracterizada por inobservância de regras técnicas, capaz de produzir danos a vida ou a saúde do paciente, e de ser caracterizada como imperícia, imprudência ou negligência”.

Contrapondo essas condições de erro médico, um tratamento médico pode ainda incorrer em um acidente imprevisível, que França (2017, p. 271) define como tendo “um resultado lesivo, supostamente oriundo de caso fortuito ou força maior, à integridade física ou psíquica do paciente durante o ato médico ou em face dele, porém incapaz de ser previsto e evitado, não só pelo autor, mas por outros qualquer em seu lugar”.

Como você percebe, a imprevisibilidade pode ser um fator derradeiro no resultado de um tratamento médico e por isto todo tratamento tem que ser bem estudado e aqui vemos também a importância dada pelos médicos dos exames solicitados aos seus pacientes.

Por mais que um médico peça exames para um paciente e tente cercar-se das melhores técnicas disponíveis para tratá-lo, precisamos lembrar sempre que existe um percentual de chance de ocorrer um acidente imprevisível.

Temos ainda as condições relacionadas ao resultado incontrolável que conforme França (2017, p. 271) descreve que:

Prezado acadêmico, o risco médico vem sendo diminuído em relação à assertividade dos exames médicos, pois hoje vemos uma porção de recursos disponíveis aos médicos para solicitação de exames a seus pacientes como diagnósticos por imagem (raio X, ressonância magnética, endoscopia etc.) ou exames laboratoriais (exame de sangue, fezes, biópsias etc.), entre outros como eletrocardiograma, exames contínuos de pressão etc. Todos esses exames permitem uma maior assertividade ao médico.

EXAMES LABORATORIAIS

FONTE: <https://www.saudemelhor.com/como-entender-melhor-resultados-exames-medicos/>. Acesso em; 25 jul. 2020.

ATENÇÃO

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O resultado incontrolável seria aquele decorrente de uma situação grave e de curso inexorável. Ou seja, aquele resultado danoso proveniente de sua própria evolução, para o qual as condições atuais da ciência e a capacidade profissional ainda não oferecem solução. Por isso, o médico tem com o paciente uma “obrigação de meios” e não uma “obrigação de resultados”. Ele assume um compromisso de prestar meios adequados, de agir com diligência e de usar seus conhecimentos na busca de um êxito favorável, o qual nem sempre é certo.

Na visão do direito médico-hospitalar precisamos entender a situação em relação a estes três fatos, e Pieritz (2020, p. 64), então, desmistifica a responsabilidade sobre o caso concreto judicialmente quando descreve que, “pois tanto o erro médico, como o acidente imprevisível e o resultado incontrolável possuem características incontestavelmente diferenciadas, e portanto, o médico só responderá civil, ética e penalmente por ações de erro médico, porque os demais independem da culpabilidade do profissional”.

Para dirimir suas dúvidas a respeito dessas condições, apresentamos os principais elementos identificadores de erro médico, os acidentes imprevisíveis e resultados incontroláveis no Quadro 8.

Prezado acadêmico, para entendermos mais facilmente este conceito, vamos exemplificar. Imagine um acidente de moto grave, no qual o acidentado fraturou diversos ossos e com risco de vida, por mais que a equipe médica utilize as melhores técnicas disponíveis ainda assim se corre o risco de ocorrer alguma situação com resultado incontrolável.

ACIDENTE DE MOTO

FONTE: <https://bit.ly/3Jlj0mC>. Acesso em: 29 jul. 2020.

GIO

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QUADRO 8 – CARACTERÍSTICAS DO ERRO MÉDICO, OS ACIDENTES IMPREVISÍVEIS E RESULTADOS INCONTROLÁVEIS

CARACTERISTICAS

ERRO MÉDICO

Culpa.Conduta profissional inadequada.Inobservância técnica.Dano à vida ou à saúde do paciente.Imperícia do médico.Negligência do médico.Imprudência do médico.Exercício de suas atividades profissionais.Condições do atendimento.Necessidade de ação.Meios empregados.

ACIDENTES IMPREVISÍVEIS

Resultado lesivo.De caso fortuito ou força maior.À integridade física ou psíquica do paciente.Durante o ato médico ou em face dele.Incapaz de ser previsto e evitado.

RESULTADOS INCONTROLÁVEIS

Decorrente de uma situação grave e de curso inevitável.Resultado danoso proveniente de sua própria evolução.As condições atuais da ciência e a capacidade profissional ainda não oferecem solução.“Obrigação de meios” e não uma “obrigação de resultados”.Meios adequados.De agir com diligência.De usar seus conhecimentos na busca de um êxito favorável.

FONTE: A autora

Assim, na discussão jurídica, temos que levar em conta somente as questões relacionadas ao erro médico e que as questões ligadas aos acidentes imprevisíveis e aos resultados incontroláveis estão ligadas a “fatalidades”, que podem acontecer, pois como apresentamos no início deste tópico, o ser humano é bastante complexo.

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4 DANOS INDENIZÁVEIS EM AÇÃO DE ERRO MÉDICO

Como já vimos anteriormente, o erro médico é um mal que está presente no dia a dia da função médica, que tem muitas faces a serem analisadas e a primeira é a veracidade dos danos causados ao paciente e o que realmente gerou esses danos. Então, trazemos de volta discussões a respeito de questões ligadas a acidentes imprevisíveis e resultados incontroláveis.

Apesar de falar de erro médico temos sempre que analisar estas questões para não incorrermos em erros de julgamento também. Vamos, a partir de agora, assumir que ocorreu um erro médico em nossas análises.

Quando falamos de danos é interessante entender o conceito para trazermos, então, a visão jurídica dele. Assim, Cunha (2011, p. 101) descreve que dano é o “resultado material ou pessoal de uma ofensa ou agressão, da perda, diminuição ou desvalorização de um bem”, gerando, neste caso, um prejuízo ou lesão, seja patrimonial (material) ou extrapatrimonial (moral). Pieritz (2020, p. 58) sintetiza afirmando que dano é em outros termos “algum tipo de prejuízo a outrem, seja de um bem material ou pessoal”.

Entendendo o conceito, temos na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, V, no qual “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem” (BRASIL, 1988).

Já o art. 186 do Código Civil de 2002 complementa expondo que “aquele que, por ação ou omissão, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda moral, comete ato ilícito” (BRASIL, 2002), neste sentido Diniz et al. (2005, p. 116) descreve que “o ato ilícito é praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direito subjetivo individual. Causa dano patrimonial ou moral a outrem, criando o dever de repará-lo”.

Temos ainda que Diniz et al. (2005, p. 116), descreve que para configurar o ato ilícito, deve-se ter um “fato lesivo; dano patrimonial/moral; nexo de causalidade” e Cavalieri Filho (2008, p. 88) reforça descrevendo que “não haveria indenização, nem ressarcimento, se não houvesse o dano”.

Assim, quando analisamos os danos causados pelos médicos, um dos principais pontos a considerar é que esses danos atingem a saúde do paciente e, em casos mais graves, a perda da vida do paciente, que são os bens mais valiosos para um ser humano.

Os danos infringidos pelos médicos podem ser classificados em danos materiais, danos morais e danos estéticos.

Vamos entender esses conceitos, o dano patrimonial ou material, conforme Cunha (2011, p. 101) é o “dano causado a bem patrimonial” da vítima que também podemos entender como um bem material da vítima”. Diniz (1999, p. 55) descreve que na visão médica, uma “lesão concreta, que afeta interesse patrimonial, consistente na perda ou deterioração dos bens materiais”.

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Com relação às perdas e danos temos no Código Civil de 2002, em seu art. 402: “salvo as exceções previstas em lei, as perdas e danos devidos ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar” (BRASIL, 2002), entretanto, deve-se considerar que, além do estabelecido no presente artigo, as questões relacionadas como o dano emergente e os lucros cessantes à vítima/paciente pelo ato médico-hospitalar.

O segundo tipo de dano é o dano moral e, conforme Diniz (2008, p. 93), temos que:

o dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa à satisfação de um bem jurídico extrapatrimonial (como a vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o estado de família).

Segundo Cunha (2011, p. 101), temos que o dano moral, é o “dano causado à pessoa em si mesma”, desta forma “é indenizável o que atinge a esfera de afeição da vítima, que agride seus valores, humilha, causa dor”, e temos, complementarmente, conforme Pieritz (2020, p. 61), que “é um dano que abala o psicológico, pois provoca lesão na personalidade e imagem, causando sofrimento, dor, perturbação, agonia, aflição entre outros”.

Temos, ainda, a existência do dano moral indireto, que pode ser entendido como:

na lesão a um interesse tendente à satisfação de bens jurídicos patrimoniais, que produz um menoscabo a um bem extrapatrimonial, ou melhor, é aquele que provoca prejuízo a qualquer interesse não patrimonial, devido a uma lesão a um bem patrimonial da vítima. Deriva, portanto, do fato lesivo a um interesse patrimonial” (ZANNONI, 1982, p. 239-240 apud GONÇALVES, 2003, p. 549).

Os danos infringidos pelos médicos podem ser classificados em danos materiais, danos morais e danos estéticos.

Como você pode ver, no art. 5º, X, da CF, assegura à parte lesada o direito de indenização pelo dano moral ou material quando ocorre a violação de qualquer dos direitos da pessoa.

Nós temos, ainda, o Código Civil, instituído pela Lei nº 10.406/2002, em seus artigos 186, 187 e 927 que falam do dano moral:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.[...]Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

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Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especifi cados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem (BRASIL, 2002).

Assim temos que o dano moral encontra previsão expressa tanto na Constituição de 1988 como no Código Civil Brasileiro e por isso é um dever de médicos e hospitais zelarem para não infringi-los, para assim evitar cometimento de crime e a judicialização.

Por último, temos o dano estético e, segundo Cunha (2011, p. 101), o dano estético é entendido como “o dano corporal que é considerado sob o ponto de vista estético”, ou seja, Coltri (2016, s.p.) descreve que, o dano estético é uma “lesão ou ofensa à beleza física do paciente, a sua harmonia corporal, que lhe cause humilhações e desgastes”.

Apresentamos no Quadro 9 as principais diferenças dos três tipos de danos indenizáveis em ações por erro médico, ou seja, o dano material, moral e estético.

QUADRO 9 – PRINCIPAIS DIFERENÇAS DOS TRÊS TIPOS DE DANOS INDENIZÁVEIS EM AÇÕES DE ERRO MÉDICO

DANO MATERIAL MORAL ESTÉTICO

AçãoOfensa aos direitos do complexo patrimonial

da pessoa.

Ofensa aos direitos da personalidade, à integridade física, à imagem e à honra.

Ofensa aos direitos da personalidade, à integridade física, à imagem e à honra.

Lesão Prejuízo econômico, calculável de forma

aritmética.

Abalo nos aspectos intrínsecos ou extrínsecos da personalidade.

Modifi cação prejudicial, permanente ou duradoura,

na aparência.

FONTE: Adaptado de Coltri (2016)

Prezado acadêmico, leia o artigo Dano estético e suas particularidades, de Michelle Antunes Espinoza, para complementar seu estudo a respeito do dano estético, no qual se perpassa toda uma evolução histórica na visão judicial e o seu entrelaçamento, em muitas vezes, com o dano moral na justiça brasileira. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/dano-estetico-e-suas-particularidades/.

DICA

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Agora, você conhece os três tipos de danos a que estão sujeitos os pacientes por erro médico-hospitalar, e que devem ser trabalhados de forma preventiva de modo a evitá-los, prevenindo que incorram em processos judiciais.

STJ DESTACA QUE A RESPONSABILIDADE OBJETIVA DOS HOSPITAIS NÃO É ABSOLUTA

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial n° 1.556.973 – PE, afastou a responsabilidade de um hospital pela administração de soro contaminado durante procedimento cirúrgico.

De acordo com o relatório da decisão, o soro Ringer Lactato, fabricado pela empresa FRESENIUS KABI BRASIL LTDA, estava contaminado por endotoxinas bacterianas, o que teria provocado a morte de um paciente e o acidente vascular cerebral de outro, com sequelas de déficit motor e perda de visão.

A ação judicial foi proposta por familiares de ambos, em face do hospital e do laboratório FRESENIUS KABI BRASIL LTDA, sendo que em primeiro grau, os dois réus foram condenados solidariamente ao pagamento de indenização por danos morais e materiais.

No Tribunal de Justiça do Estado e Pernambuco, a condenação foi mantida, com a mera redução dos valores inicialmente aplicados.

No Superior Tribunal de Justiça, entretanto, a responsabilidade do hospital foi integralmente afastada, com o reconhecimento de que todos os serviços intrínsecos a sua atividade foram corretos e que a causa da contaminação dos pacientes decorreu exclusivamente do fabricante do produto, hipótese, portanto, de fato exclusivo de terceiro (art. 14, §3º, II, do CDC).

Segue um excerto relevante do voto da Relatora, Ministra Nancy Andrighi:

Tem-se, deste modo, que a responsabilidade objetiva para o prestador de serviço, prevista no art. 14 do CDC, na hipótese de tratar-se de hospital, limita-se aos serviços relacionados ao estabelecimento empresarial, tais como estadia do paciente (internação e alimentação), instalações, equipamentos e serviços auxiliares (enfermagem, exames, radiologia) (REsp 1526467/RJ, Terceira Turma, DJe 23/10/2015; REsp 1511072/SP, Quarta Turma, DJe 13/05/2016).

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Em contrapartida, a responsabilidade dos hospitais, no que tange à atuação dos médicos contratados que neles laboram, é subjetiva, dependendo da demonstração de culpa do preposto, não se podendo, portanto, excluir a culpa do médico e responsabilizar objetivamente o hospital (REsp 1664908/MT, Terceira Turma, DJe 30/10/2017; AgRg no AREsp 350.766/RS, Quarta Turma, DJe 02/09/2016).

Pode-se concluir, assim, pela impossibilidade de se condenar objetivamente o hospital, com base no art. 14 do CDC, quando ausente defeito na prestação de serviços intrinsecamente relacionados ao estabelecimento empresarial hospitalar.

Desse modo, a conclusão do STJ foi no sentido de que quando a contaminação ocorre nas etapas de fabricação do produto, a responsabilidade por danos causados aos consumidores em razão da sua utilização é exclusiva do fabricante, como já havia sido reconhecida em situações anteriores, a exemplo do Recurso Especial n° 1678984/SP.

A íntegra da decisão pode ser acessada neste link: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=78242501&num_registro=201401242986&data=20180423&tipo=51&formato=PDF.

FONTE: <http://www.femipa.org.br/juridico/stj-destaca-que-a-responsabilidade-objetiva-dos-hospitais-nao-e-absoluta/>. Acesso em: 24 jul. 2020.

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RESUMO DO TÓPICO 2Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• São fatores geradores de erro médico o stress pessoal (fatores diversos como stress no trabalho, familiar etc.); excesso de trabalho (jornadas longas, vários empregos etc.); falta de funcionários; falta de equipamentos adequados; falta de remédios; ambiente de trabalho; excesso de pacientes a serem atendidos etc.

• Em futuro próximo, o ambiente hospitalar sofrerá muitas mudanças principalmente ocasionadas pelas diversas tecnologias que estão sendo desenvolvidos, que vão desde a telemedicina, robôs cirurgiões, robôs atendentes, prontuários eletrônicos etc.

• Com a inovação e melhoria dos tratamentos médicos, será necessário a evolução das leis para suportar estas inovações.

• Não podemos nunca esquecer que o corpo humano é bastante complexo e por isto também pode acarretar variações nos resultados esperados no tratamento pelos remédios.

• O erro médico é proveniente de uma conduta imprópria, de ação ou omissão, no exercício profissional do médico, o qual acarreta dano ao paciente ou a seus familiares (todo o envolvimento dos familiares, stress, e agonia pelos tratamentos e outros efeitos psicológicos advindo de todas estas circunstâncias).

• O erro médico envolve toda forma atípica e inadequada de conduta profissional, caracterizada por inobservância de regras técnicas (isto é um ponto importante a ser considerado em um processo de judicialização), capaz de produzir danos a vida ou a saúde do paciente, os quais são definidos legalmente como imperícia, imprudência ou negligência.

• Em um tratamento médico pode ainda gerar um acidente imprevisível, que é um resultado lesivo, supostamente oriundo de caso fortuito ou força maior, à integridade física ou psíquica do paciente durante o ato médico ou em face dele, porém incapaz de ser previsto e evitado, não só pelo médico, assim como por qualquer outro que estivesse em seu lugar.

• O resultado incontrolável é aquele decorrente de uma situação grave e de curso imprevisível, ou seja, aquele resultado danoso proveniente de sua própria evolução, para o qual as condições atuais da ciência e a capacidade profissional ainda não oferecem solução.

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• O médico tem com o paciente uma “obrigação de meios” e não uma “obrigação de resultados”. Ele assume um compromisso de prestar um serviço utilizando os melhores meios disponíveis, agindo com diligência e de usar seus conhecimentos na busca de um tratamento favorável, porém não dá para se garantir que sempre é certo.

• Danos materiais podem ser definidos como os que são aqueles que atingem diretamente o patrimônio da vítima causando sua perda ou desvalorização.

• Danos morais são os que violam os direitos de personalidade do ofendido de modo que sua honra perante os demais fica abalada.

• Dano estético é a lesão ou ofensa à beleza física do paciente, a sua harmonia corporal, que lhe cause humilhações e desgastes.

• As leis são especificas para cada situação legal referente aos danos e erros médicos que podem ser ocasionados a um paciente, e por isto precisamos, também, estar cientes que nem todos os fatos são casos de judicialização, e tanto o paciente e familiares, bem como os advogados, precisam estar cientes dessa condição legal em casos de erro médico.

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1 O entendimento das questões legais é de suma importância por todos os envolvidos na área médica quando tratamos de erro médico. Logo temos os médicos, os hospitais, enfermeiros e técnicos sempre preocupados em se evitar que ocorram os erros médicos com seus pacientes, pois qualquer deslize de suas partes correm o risco de judicialização por erro médico. Faça uma redação com o tema “questões legais do erro médico”.

2 Existem muitas situações que podem gerar problemas em um tratamento médico em um paciente, dos quais podemos citar o erro médico, reação medicamentosa, reação do organismo do paciente ao tratamento ou ainda um acidente imprevisível. Assinale a opção que apresenta o melhor conceito para um acidente imprevisível em tratamentos médicos.

a) ( ) É um resultado lesivo, de caso fortuito ou força maior, à integridade física ou psíquica do paciente durante o ato médico ou em face dele, porém incapaz de ser previsto e evitado, não só pelo médico, assim como por qualquer outro que estivesse em seu lugar.

b) ( ) É um resultado lesivo porem previsível, à integridade física ou psíquica do paciente durante o ato médico ou em face dele, porém incapaz de ser evitado pelo médico.

c) ( ) É um erro médico com acidentes imprevisíveis e resultados incontroláveis e são situações bastante corriqueiras quando envolvemos as questões de saúde do paciente.

d) ( ) São situações anômalas que provocam reações adversas em pacientes ocasionadas por medicações erradas ao tratamento.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 3 -

COMPORTAMENTOS PROFISSIONAIS NA ÁREA DA SAÚDE

1 INTRODUÇÃO

No século XXI vimos um aflorar da ciência e das tecnologias de informação por toda a sociedade, e vimos surgir uma nova tratativa comportamental em relação à área da saúde, principalmente no tocante à tecnologia quanto a protocolos de tratamento dos pacientes em suas mais diversas condições de saúde.

Atualmente, identificamos um número crescente de acidentes de trânsito com motos, automóveis e caminhões, levando, muitas vezes, a verdadeiros milagres de cura aos acidentados, como também vemos doenças graves, as quais eram consideradas fatais há pouco tempo e que hoje são facilmente tratadas e curadas por médicos e cientistas pelo mundo a fora.

Temos, ainda, uma variedade de situações médicas atuais, bem como equipamentos disponíveis à medicina que não existiam em passado recente, como aparelhos de raio X, aparelho de ressonância magnética, tomógrafos, exames por imagem, laboratórios de análises, robôs de cirurgia, telemedicina, entre outros avanços que vêm dando condições de sobrevida às pessoas, situações que, no passado, a única solução era a morte. Por essas tecnologias inovadoras, acesso a informações pela humanidade e legislações mais modernas, é que vemos também a mudança comportamental dos profissionais da saúde, trazendo uma nova realidade aos pacientes, familiares e médicos.

FIGURA 4 – MEDICINA ANTIGA

FONTE: <https://mensageirodoslagos.com.br/historia-da-medicina-por-que-medico-e-doutor/>. Acesso em: 3 ago. 2020.

UNIDADE 2

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Muito mudou na medicina e nos comportamentos de médicos e de todos que tratam da saúde, principalmente com relação ao respeito aos pacientes e familiares na medicina moderna.

FIGURA 5 – NOVOS COMPORTAMENTOS DOS MÉDICOS DEVIDO À MEDICINA MODERNA

FONTE: A autora

Nas Figuras 4 e 5 você pôde ver a diferença de ação na medicina antiga em relação à medicina moderna, na qual temos uma tecnologia moderna para suporte da ação do médico no processo de auxílio à cura dos enfermos, logo temos uma grande influência da tecnologia na medicina, o que interfere diretamente no comportamento do médico e de sua equipe.

Atualmente, vemos a importância do ensino da medicina como balizador de boas práticas profissionais, principalmente no tocante das novas tecnologias, mas também influenciadas pela legislação mais moderna e justa, punindo, principalmente, os maus médicos.

Vamos, então, aprofundar nossos estudos em relação ao comportamento médico nesta visão contemporânea, estudando os comportamentos inadequados relacionados à imprudência, negligência e imperícia, aprofundar mais culpa e dano, além de conhecermos as relações médico-paciente na visão legal e o nexo causal e as excludentes de responsabilidade do médico em relação aos tratamentos. Vamos começar?

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2 COMPORTAMENTOS INADEQUADOS: IMPRUDÊNCIA, IMPERÍCIA E NEGLIGÊNCIA

Quando falamos de comportamentos do médico, ele responde por seus atos profissionais e por sua conduta ética profissional, nos meios legais nas esferas civil, ética, administrativa e penal.

A responsabilidade médica definida pela ordem civil, penal ou administrativa, a que estão sujeitos os médicos em seu labor profissional, podem ser qualificados quando de um resultado lesivo ao paciente em imprudência, imperícia ou negligência.

Segundo Fonseca e Fonseca (2016, p. 429) “a responsabilidade do médico é sempre pessoal e subjetiva, de forma que responde pelos atos lesivos aos pacientes, por ação ou omissão culposa, nos casos em que seja identificada imperícia, imprudência ou negligência”. Então vemos que precisa ser identificado que ocorreu, por parte do médico e equipe, um ato de imperícia, imprudência ou negligência para reforçar a ação legal, caso contrário, tal fato não se consubstancia.

Os atos lesivos por ação são facilmente identificados pelos fatos consumados pelo médico, porém, a omissão culposa novamente fica difícil de verificar, pois como saber se realmente o médico se omitiu de agir, ou não tinha conhecimento para tal, ou ainda teve que agir em outra emergência mais prioritária.

Assim, o primeiro ato que vamos estudar é o da imprudência. Fonseca e Fonseca (2016, p. 62) descrevem que:

a imprudência é traduzida por uma conduta positiva praticada pelo médico sem observação do seu dever de cuidado. Caso o médio venha a receitar remédio ao paciente, simplesmente por ter perdido a receita, vindo a causar a morte deste, teria o médico julgado por homicídio culposo.

Pieritz (2020, p. 75) complementa descrevendo que:

Assim, o médico ou a equipe médico-hospitalar possuem o dever de realizar suas atividades com cuidado e cautela, pautadas na ética e na responsabilidade profissional, para não gerar ou provocar danos ao paciente ou a familiares.Pode-se expor que, se o médico ou a equipe médico-hospitalar realizarem algum procedimento médico que não zelar pelo cuidado ao paciente, ou agirem sem cautela, estarão sendo imprudentes, pois causariam danos a ele.

Temos, conforme Cunha (2011, p. 161), que a imprudência é “o agir com aceitação consciente de um grande risco”, assim, quando o médico ou a equipe médico-hospitalar, ao realizarem o ato imprudente precisam estar conscientes de que estão correndo um risco legal muito grande em relação aos seus resultados.

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Podemos, então, considerar prudentes os médicos que, conforme explicitado por Castro (2005, p. 142 apud MELO, 2014, p. 114), “conhecem os resultados da experiência e também as regras que desta se extraem, agem antevendo o evento que deriva de uma determinada ação, tomando depois as cautelas aptas e necessárias a evitar o insucesso da empreitada”.

Guimarães (2016, p. 445) descreve ainda que “um dos elementos da culpa consiste na falta involuntária de atenção e de observância de medidas de precaução e de segurança, de consequências previsíveis, que eram necessárias para evitar mal ou perigo ou a prática de infração”.

Conforme Pieritz (2020, p. 76), “estes elementos da culpa estão caracterizados

no ato impudente ou negligente do médico ou da equipe médica, quando não observam o seu dever de cuidado e de sua responsabilidade médico-hospitalar”.

Quando falamos de imperícia médica, estamos, a priori, assumindo uma deficiência em sua preparação, em sua qualificação técnica ao exercício da medicina, ou seja, o médico não tem habilidades e conhecimentos mínimos necessários para assumir o atendimento ao caso específico e assim assumindo uma responsabilidade muito grande em relação ao paciente e familiares.

Melo (2014, p. 116) descreve a imperícia como sendo a “ignorância, incompetência, desconhecimento, inexperiência, inabilidade, imaestria na arte ou profissão”, mas, juridicamente, assume que “revela-se na condução de encargo ou serviço que venha a causar dano pela falta de conhecimento acerca da matéria, da sua arte, profissão ou serviço” (MELO, 2014, p. 116).

França (2019, p. 64) complementa dizendo que:

a verdade é que todos nós somos ignorantes e imperitos por sermos desprovidos de habilidades para alguma coisa. E nem por isso estamos cometendo imperícias, até porque conhecemos os limites de nossa capacidade e o tamanho de nossa ignorância. No entanto, há pessoas que também conhecem a fronteira dos seus conhecimentos e a medida do seu despreparo, e, mesmo assim, agem irresponsável e açodadamente em tarefas para as quais, conscientemente, sabem que não estão preparadas, e até são conscientes da previsibilidade do dano. Agir assim, produzindo danos, não é ser imperito, mas aquilo que é mais grave pelo seu caráter comissivo: imprudente.

Logo, precisamos estar cientes que um médico não sabe de tudo, mas ele precisa reconhecer os seus limites de conhecimento e de habilidades para não cometer um ato de imperícia médica, os quais podem trazer consequências danosas para o seu paciente.

A negligência médica é a terceira forma de acometimento de dano a um paciente, por isso médicos e hospitais precisam estar atentos aos sinais de atos negligentes cometidos pelos médicos e pelas equipes hospitalares.

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Podemos entender por negligencia médica, de acordo com Chaves (1985, p. 19 apud MELO, 2014, p. 115) como o:

descuido, desídia, desleixo: falta de cuidado capaz de determinar responsabilidade por culpa, cujos casos mais comuns resultam em erros de diagnóstico, tratamento impróprio ou inadequado, falta de cuidados indispensáveis, falta de higiene, esquecimento de compressas em operações cirúrgicas, curetagens malfeitas, dentre tantas outras.

França (2019, p. 65) descreve claramente o ato negligente quando diz que “por negligência médica, entende-se a postura que permite o ato lesivo ao paciente, consignada pela indolência, inércia e passividade do profissional que assiste”.

Assim temos que entender que a atitude do profissional que deve ser considerada é a postura que condiz ou não com o fazer profissional do médico ou da equipe médico-hospitalar, pois segundo Cunha (2011, p. 200), a negligência juridicamente é o “elemento da culpa civil, consistente na falta de cuidado ou de diligência”, por falta de observância na ação médica, a qual gera por consequência a negligência médico-hospitalar, um perigo eminente para o paciente e, futuramente, para geração de demandas jurídicas ao hospital e ao médico.

Dantas e Coltri (2010, p. 73) descrevem ainda que, por negligência, temos “a ausência do emprego de precauções adequadas para a prática de determinados atos ou adoção de procedimentos, revelado desleixo, desatenção, indolência, enfim, o desinteresse, o descaso e o descompromisso para com a atividade desempenhada”, e por isso vemos uma necessidade de que o médico ou a equipe médico-hospitalar deva possuir por premissas a prevenção, a precaução e a prudência no desenvolvimento de suas atribuições e responsabilidades profissionais, a fim de não causar dano ao paciente desenvolvendo e trabalhando protocolos rígidos para a sua prevenção.

Na Figura 6 temos apresentado um esboço resumindo desses três conceitos.

FIGURA 6 – IMPRUDÊNCIA, IMPERÍCIA E NEGLIGÊNCIA

FONTE: <https://bit.ly/3GQavOR>. Acesso em: 3 ago. 2020.

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Conforme Gouveia (2007, p. 2), “errar é humano, mas na medicina é crime”, e Pieritz (2020, p. 94) ressalta que “os médicos necessitam compreender esta questão, pois se causarem dano a seus pacientes, responderão jurídica e eticamente pelos atos cometidos”. Gouveia (2007, p. 3) complementa descrevendo que “em todas as profissões podem ocorrer erros, entretanto, quase sempre, passam despercebidos, exceto o erro médico porque repercute na sociedade”.

Pieritz (2020) desenvolveu um quadro sinóptico em que descreve algumas das principais formas para prevenir a ocorrência dos erros médicos, acompanhe no Quadro 10.

QUADRO 10 – FORMAS IMPORTANTES DE PREVENÇÃO DO ERRO MÉDICO

FORMAS CARACTERÍSTICAS

Honestidade & humanidade

• O médico deve ser honesto e humano.• A honestidade de que falamos envolve, principalmente,

sua conduta ética que deverá ser pautada:

o pela seriedade; o pelo esmero; o pelo respeito.

• Não devendo nunca cair no engodo de prometer a cura total, pois isto, sem nenhuma referência a religião, somente a Deus se permite.

• No quesito humanidade, o que se espera do médico é que tenha:o consciência da importância da sua atividade; o consciência de que todo e qualquer ser humano,

independentemente de seu patrimônio material, merece a proteção e atenção médica;

o consciência de que todos devem ser tratados com humanidade, dignidade e respeito.

Prontuário médico

• O prontuário médico é o mais importante dos documentos preventivos que o profissional deve ter consigo.

• Não se esqueça de que um prontuário bem elaborado certamente conterá:o todo o histórico do paciente;o os resultados dos exames realizados;o as prescrições de medicamentos e posturas

recomendadas;o além de outras informações que o médico possa ter

reputado como importante frente ao caso concreto.

ao paciente e aos familiares

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Exames complementares

• Exames complementares como forma de fazer-se um diagnóstico seguro é uma outra prática defensiva recomendada.

• O erro médico derivado de um diagnóstico equivocado, embora defensável sob o prisma de erro escusável, pode acarretar a responsabilização do profissional.

• Para melhor prevenir, cabe fazer uma recomendação de que, não se abuse do chamado “olho clínico”, de tal sorte que, na eventualidade de dúvidas quanto ao mal que acomete o paciente, seja determinada a realização de exames complementares como forma de realizar-se um diagnóstico seguro.

Relação de confiança

• Muito embora a relação médico-paciente não guarde na atualidade a relação de confiança em que se estribava ao tempo do chamado “médico de família”, nada obsta que o profissional moderno invista no estreitamento das relações de confiança com seu paciente e seus familiares.

• Uma relação alicerçada na confiança pode ser fator inibidor de propositura de ações ressarcitórias.

Consentimento informado do

paciente

• Sempre que o tratamento ou a cirurgia oferecer algum risco, o médico deverá obter o consentimento informado do paciente ou de seu representante legal ou dos familiares mais próximos, antes de proceder a qualquer tratamento intervenção de risco.

• Não se esqueça de que um dos principais direitos do consumidor/paciente é o de ser bem informado quanto aos riscos que os produtos ou serviços possam oferecer (Lei n° 8.078/90, art. 6°, III).

• Ademais, prescreve nosso Código Civil que ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou intervenção cirúrgica (art.15).

Área do conhecimento

médico

• Evitar prestar atendimento em área do conhecimento médico em que não esteja habilitado, devidamente equipado ou assistido, é outra forma de prevenão que se recomenda.

Evitar práticas não consagradas pela

medicina

• O paciente não é cobaia, logo, toda e qualquer experiência deve ser afastada, isto é, tanto quanto possível devem se evitar os acertos por tentativas.

• Assim, práticas ainda não consagradas na medicina devem ser evitadas.

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Na hipótese de descontinuidade da prestação de

serviço

• O paciente deve ser tratado com a máxima atenção e jamais deverá ser abandonado em meio a um determinado procedimento ou tratamento.

• Na impossibilidade de continuidade de atendimento, o médico poderá deixar de prestar atendimento desde que proceda com as cautelas devidas: o comunicar previamente ao paciente; o assegurar continuidade dos cuidados e tratamento; e o fornecer informações ao médico que lhe venha

suceder.

Atendimento por telefone

• O médico deverá se abster de realizar consultas ou ministrar prescrições por telefone.

• E se for obrigado a fazê-lo, que o faça de maneira a ter absoluta certeza de que o paciente entendeu perfeitamente tido quanto foi prescrito.

FONTE: Adaptado de Pieritz (2020)

As nove formas preventivas apresentadas no Quadro 10 são formas para se minimizar as ocorrências de danos aos pacientes, melhorando a prestação de serviços médicos aos pacientes e minimizando os riscos de judicialização.

Agora, discutiremos brevemente sobre o relacionamento médico paciente. Vamos lá?

Prezado acadêmico, para encerrarmos este subtópico, indicamos a leitura artigo O Erro Médico e a Responsabilidade Civil, disponível em: https://www.jornalcontabil.com.br/o-erro-medico-e-a-responsabilidade-civil/.

DICA

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4 CULPA E DANO, NEXO CAUSAL E AS EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE

Quando falamos da judicialização na área da saúde, são muitos os fatores que precisam ser levados em consideração ao levarmos um caso de erro médico ao advogado para se “abrir um processo contra um médico ou um hospital”. É função do advogado assessorar o paciente ou a família nessas condições em relação a questões legais relacionadas ao fato “erro médico” e a realidade apresentada na legislação em vigor no Brasil.

Temos conceitualmente que, a responsabilidade civil pode ser entendida como todo ato próprio ou como um ato realizado por terceiro e é aqui que nos interessa na visão do erro médico, mas ainda pode ser por fato da coisa ou do animal, chamada responsabilidade civil indireta, e, novamente, vamos nós, pois o fato da coisa, em hipótese, também pode incorrer e, como exemplo, podemos citar a falha de um equipamento em uma cirurgia, entre outros. Nesta última condição haverá a presunção de conduta humana, mesmo que seja por omissão. Desse modo, verificamos que as presunções de culpa já não existem mais como foco principal nas alusões no Código Civil Brasileiro, sendo atribuído muitas vezes à responsabilidade objetiva do acusado.

Conforme Cahali (20-- apud ROMANO, 2019, s.p.) temos que a culpa, em sentido amplo, pode ser entendida como a “violação de um dever jurídico, imputável a alguém, em decorrência de fato intencional ou de omissão de diligência e cautela”. Cahali (20-- apud ROMANO, 2019, s.p.) também define o dolo como sendo “a violação intencional ou de omissão de diligência e cautela, compreende: o dolo, que é a violação intencional que é a violação intencional ou de omissão do dever jurídico, e a culpa e sentido estrito, caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligência, sem qualquer deliberação de violar um dever”.

Como você pôde ver, os dois conceitos se confundem em sua essência, e como podemos ler, também, na conceituação trazida por Cunha (2011, p. 98): “Culpa – 1. Dolo”.

E Cunha (2011, p. 125): “dolo – 1. Elemento de vontade consistente na intenção de causar dano. 2. Vontade de concretizar as características objetivas do tipo penal (dj.) ver ato anulável, culpa”.

Como você pôde ver, os conceitos se confundem, mas trazem nuances no direito, e, por isso, no Código Civil Brasileiro, vemos mais a utilização da palavra dolo em substituição à palavra culpa.

Dessa forma, buscamos o dolo ocorrido em um caso de erro médico para verificarmos a possibilidade da incorrência de judicialização do caso de forma consistente. Precisamos, ainda, levar em conta mais dois termos comuns dos ditames legais, o nexo causal e as situações excludentes de responsabilidade médica sobre o fato/erro.

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O nexo causal pode ser entendido como o liame entre a causa e o efeito, é o elemento imaterial que traz a responsabilidade civil do ato consumado.

Conforme definido por Sérgio Cavalieri Filho (2002 apud SOARES NETO, 2018, s.p.), “o conceito de nexo causal não é jurídico; decorre das leis naturais. É o vínculo, a ligação ou relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado”. Precisamos atentar que em atos médicos temos muitas reações esperadas, mas também podem ocorrer reações adversas nos pacientes, que podemos trazer a verossimilhança à relação “causa e efeito”, conforme exposto pelo autor.

Soares Neto (2018, s.p.) ainda detalha, descrevendo:

O nexo de causalidade acarreta a dois tipos de responsabilidades, as quais são: subjetiva (culpa) e objetiva (conduta).No que tange a responsabilidade subjetiva (culpa), como visto, pode se dar de duas formas lato sensu (genérica) ou stricto sensu.A responsabilidade objetiva, por sua vez, o sujeito se torna responsável pela conduta praticada não havendo necessidade de comprovação de culpa ou atividade de risco.

Prezado acadêmico, lhe daremos agora uma dica para melhorar o seu rendimento nos estudos de textos jurídicos. Quando você entende o que um texto quer dizer facilita a sua compreensão, mas o mais importante é a sua aplicação na prática. E quando falamos do “juridiquês”, existem muitas palavras utilizadas corriqueiramente por advogados, juízes e outros magistrados que são relativamente complexas em sua interpretação. Então, recomenda-se ter sempre a mão um dicionário de termos jurídicos. Um exemplo seria o Dicionário Compacto de Direito, de Sérgio Sérvulo da Cunha, publicado pela Editora Saraiva.

CAPA DO DICIONÁRIO COMPACTO DE DIREITO

FONTE: <https://cutt.ly/ageObcZ>. Acesso em: 4 set. 2020.

DICA

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129

Para encerrarmos essa visão conceitual das responsabilidades médicas tomando como base o Código Civil, temos ainda a questão dos excludentes de responsabilidade médica. Vamos utilizar um conceito de Kallas Filho (2013, p. 140) no qual descreve:

A doutrina da responsabilidade civil tem, tradicionalmente, identifi cado fatores que, uma vez caracterizados, constituem motivos de isenção da obrigação de reparar o dano, moral ou material, causado a outrem. Essas excludentes funcionam como fatores de veto, que desqualifi cam um ou mais elementos ensejadores da responsabilidade civil, de tal forma que não exista obrigação de indenizar, inobstante o dano experimentado pela vítima. [...] Ao lado das excludentes da responsabilidade civil tradicionalmente estudadas, quais sejam, o caso fortuito ou de força maior, o fato de terceiro e a culpa exclusiva da vítima.

Nem tudo pode ser considerado um erro médico, e existem muitos fatores a serem analisados ao se entrar em um processo judicial por “erro médico”, e este é um fator importante para você estudar mais detalhadamente, por isso é tão importante conhecer essas terminologias jurídicas mais a fundo.

Espero que você tenha gostado deste subtópico, vamos agora entender melhor a relação médico-paciente.

Prezado acadêmico, os temas aqui abordados envolvem diversas discussões em termos jurídicos e para que você tenha uma visão mais aplicada, pesquisamos alguns artigos na internet, os quais queremos deixar de referência para você aprofundar os seus conhecimentos do tema.

• https://jus.com.br/artigos/75529/o-dolo-e-a-culpa-no-direito-civil; • https://jus.com.br/artigos/36965/responsabilidade-civil-do-medico-o-erro-

de-tecnica-como-excludente-de-responsabilidade;• https://www.conjur.com.br/2020-jan-20/direito-civil-atual-culpa-vitima-

mesmo-problema-apenas-causalidade;• https://www.conjur.com.br/2009-set-09/conceito-responsabilidade-civil-

danos-indenizaveis;• https: / /d ire i toreal .com.br/art igos/responsabi l idade-penal-

reponsabilidade-civil-culpa-nexo-causalidade-dano; • https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10363/Introducao-

conceitual-Responsabilidade-civil#:~:text=O%20nexo%20de%20causalidade%20%C3%A9,fortuito%20e%20a%20for%C3%A7a%20maior.;

• http://www.revistas.usp. br/rdisan/article/view/63998.

DICA

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5 RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

Um elemento importante na visão moderna do exercício da profissão da medicina está ligado à relação existente no atendimento médico-paciente. Vimos sua importância na criação do vínculo e na geração da confiança no tratamento especificado ao paciente, principalmente quando tratamos de situações mais graves, nas quais a complexidade do caso é amenizada; pelo menos psicologicamente, para o paciente; quando vemos uma confiança do paciente no médico que o está tratando.

Quando tratamos do relacionamento médico paciente na visão legal, precisamos nos remeter ao Código de Defesa do Consumidor (CDC) para tratar desta relação médico-paciente, o qual é uma relação de consumo, mesmo que esta traga um sentimento de frieza relacional, mas juridicamente é a realidade.

O Código de Defesa do Consumidor aplica-se à medicina e temos uma relação entre um consumidor (paciente) e um fornecedor de serviços (o médico) e, conforme exposto no CDC, podemos conceituá-los:

Consumidor (art. 2º do CDC): pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza serviço como destinatário final.Fornecedor (art. 3º do CDC): pessoa física (profissional liberal) ou jurídica (estabelecimento de saúde, como hospitais, clínicas etc.) que desenvolve atividades de prestação de serviços (BRASIL, 1990).

Temos que considerar, ainda, que nessa relação existe a remuneração, este fato em si acaba gerando uma obrigação e a responsabilização do profissional médico para possíveis ressarcimentos diante de eventuais danos que possam ter sido provocados ao consumidor devido ao tratamento realizado. Dessa forma, reforçamos uma identificação conforme o CDC, que a relação médico-paciente é uma relação de consumo e, dessa forma, deve seguir suas prerrogativas de relações comerciais (em um sentido mais amplo).

Prezado acadêmico, possivelmente, você já foi a um médico para um atendimento, ou levando um familiar ou um amigo. São muitas as realidades que você pode ter vivenciado nesse atendimento, desde um pronto socorro lotado, a um consultório médico ou qualquer outro ambiente. Faça uma reflexão de como foi esse atendimento, das falhas, dos pontos positivos, das diversas situações vivenciadas por você. Saiba que o médico também é um ser humano e pode ter problemas diversos inclusive no momento em que está lhe atendendo. Este é um tema importante para se discutir em sala de aula, ou seja; Reflexões sobre o atendimento médico e riscos de judicialização do atendimento médico.

ATENÇÃO

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Apesar de tudo o que se fala nos cursos de medicina, em cursos de marketing de relacionamento e nas mais diversas fontes que trabalham a empatia e o relacionamento entre pessoas, reforçadas pelo Código de Defesa do Consumidor em todas as suas nuances, a relação de um atendimento médico a um paciente sempre gera uma expectativa de bons resultados no tratamento e quase em sua maioria das vezes em que um resultado positivo não é alcançado estaremos no limiar de um confl ito judicial. E isso vale para quase todo atendimento médico-hospitalar em que o tratamento não atinge a expectativa do paciente.

FIGURA 7 – ATENDIMENTO MÉDICO-PACIENTE

FONTE: A autora

Assim, quando vemos a judicialização do atendimento médico, entra em voga o que você já estudou, CDC, CPC, CC, CF, CEM (Código de Ética Médica) etc.

Apesar de tudo o que descrevemos, a lisura, a ética e a verdade são elementos fundamentais em todo relacionamento médico-paciente, evitando-se, assim, a judicialização em muitos casos.

Chegamos ao fi nal de mais uma unidade de estudo, a qual nos trouxe um aprofundamento nas visões legais do relacionamento médico-paciente. Vamos agora à leitura complementar da unidade, na sequência, ao resumo do que você estudou e às autoatividades.

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A RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICODaniele Ulgin Oliveira

[...]

Excludentes da responsabilidade civil médica

O erro médico pode ocorrer, no entanto, será em todos os casos a responsabilidade imputada ao médico, já que o erro pode ocorrer pelas próprias limitações da ciência, ou pode sobrevir causa que exclua sua responsabilidade. As causas que podem excluir a responsabilidade do médico podem ser as descritas no Código Civil, art. 393 que são o caso fortuito e a força maior, além da culpa exclusiva do paciente e a cláusula de não indenizar.

Culpa exclusiva da vítima

A culpa da vítima ocorre nos casos em que o agente, no caso o médico em nada contribuiu para o evento danoso. O fato que gerou o dano foi causado pelo próprio paciente, sem interferência do médico. Sílvio Rodrigues (2002, pag. 165) afirma que na culpa exclusiva da vítima “desaparece a relação de causa e efeito entre o ato do agente causador do dano e o prejuízo experimentado pela vítima”, na culpa concorrente, “sua responsabilidade se atenua, pois o evento danoso deflui tanto de sua culpa, quanto da culpa da vítima”.

O agir culposo da vítima fulmina com o nexo causal eliminando a responsabilidade civil do médico. Geralmente ocorre nos casos em que o paciente não segue o tratamento prescrito ou os cuidados pós-operatórios recomendado pelo médico.

Porém há casos em que paciente e médico concorrem na culpa. Nestes casos, o médico contribui no total de sua responsabilidade. Sílvio Rodrigues (2002, p. 166) em relação à concorrência de culpa afirma que:

Casos em que existe culpa da vítima, paralelamente à culpa concorrente do agente causador do dano. Nessas hipóteses o evento danoso decorreu tanto do comportamento culposo daquela, quanto do comportamento culposo deste. Por conseguinte, se houver algo a indenizar, a indenização será repartida entre os dois responsáveis, na proporção que for justa.

Portanto, a culpa exclusiva do paciente pela ocorrência da lesão exonera o médico da responsabilização civil pelo dano que deste tenha ocorrido. Já a culpa concorrente responsabiliza civilmente o médico no limite de sua culpa.

LEITURA COMPLEMENTAR

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Caso fortuito e força maior

O caso fortuito e a força maior também exoneram o médico da responsabilidade pelos danos sofridos pelo paciente. No caso fortuito e na força maior não existe ação ou omissão culposa por aparte do agente. Ocorre fato imprevisível, incapaz de ser evitado, não só pelo médico, mas por qualquer outro que estivesse em sua situação. O Código Civil em seu artigo 393 assim define: “o devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito e força maior se expressamente não se houver por eles responsabilizado” e continua em seu parágrafo único “o caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não eram possíveis evitar ou impedir”.

A força maior pode ser entendida como ocorrência fora da relação entre o médico e seu paciente, que, mesmo identificada, não pôde ser evitada pela ação do médico. O caso fortuito é intrínseco a ação humana, e na relação médico-paciente não é esperado nem pode ser previsto, desta forma, não pode ser evitado. Sua ocorrência não depende da conduta do médico ou do paciente. Maria Helena Diniz (2003, p. 105) define caso fortuito e força maior:

Na força maior, conhece-se a causa que dá origem ao evento, pois se trata de um fato da natureza, como, p. ex., rio que provoca incêndio; inundação que danifica produtos; [...]. No caso fortuito o acidente que gera o dano advém de [...] causa desconhecida, como o cabo elétrico aéreo que se rompe e cai sobre fios telefônicos [...].

Portanto, sempre que a situação se revestir de inevitabilidade, irresistibilidade, ou invencibilidade estaremos diante de causas excludentes da responsabilidade civil do médico. No entanto, pode ocorrer ainda ocorrer o caso fortuito ou a força maior e o médico contribuir culposamente para a gravidade da situação, devendo neste caso responder por sua culpa.

Fato de terceiro

Ocorre a exclusão da responsabilidade civil do médico por fato de terceiro nos casos em que a ação seja ela dolosa ou culposa partiu de alguém que não o médico. Assemelha-se a culpa exclusiva da vítima e ao caso fortuito e a força maior. Nestes casos, uma força externa a relação médico-paciente quebra o nexo de causalidade entre a conduta do agente e o resultado, já que a conduta não parte do médico. Somente se configura o fato de terceiro se a conduta de terceiro for o fator predominante da lesão.Sílvio de Salvo Venosa (2003, p. 48) afirma que “Temos que entender por terceiro, nessa premissa, alguém mais além da vítima e do causador do dano. Na relação negocial, é mais fácil a conceituação de terceiro, pois se trata de quem não participou do negócio jurídico”. O terceiro é aquele que não tem nenhuma ligação com o médico no caso da responsabilidade civil médica, por este motivo o médico se isenta da reparação do dano, pois inexiste nexo causal entre o dano e a ação do médico.

FONTE: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/a-responsabilidade-civil-por-erro-medico/#:~:text=Dentre%20as%20causas%20excludentes%20da,decorre%20de%20ato%20da%20v%C3%ADtima.>. Acesso em: 4 set. 2020.

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RESUMO DO TÓPICO 3Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O médico responde por seus atos profissionais e por sua conduta ética profissional, nos meios legais nas esferas civil, ética, administrativa e penal.

• A responsabilidade médica na esfera civil, penal ou administrativa está sujeito a penalidades quando ocorrer um resultado lesivo ao paciente em ato imprudente, imperícia ou negligência.

• A responsabilidade do médico é sempre pessoal e subjetiva.

• O médico responde pelos atos lesivos aos pacientes, seja por ação ou omissão culposa, nos casos que são identificados a imperícia, imprudência ou negligência.

• Precisa ser identificada a ocorrência por parte do médico ou sua equipe de um ato de imperícia, imprudência ou negligência para reforçar a ação legal, caso contrário tal fato não se consubstancia.

• Imprudência é uma conduta praticada pelo médico sem observação do seu dever de cuidado.

• Imperícia médica é devido a uma deficiência em sua preparação, em sua qualificação técnica ao exercício da medicina, ou seja, o médico não tem habilidades e conhecimentos mínimos necessários para assumir o atendimento ao caso específico e assim assumindo uma responsabilidade muito grande em relação ao paciente e familiares.

• Negligência médica é a postura que permite o ato lesivo ao paciente, consignada pela indolência, inércia e passividade do profissional.

• Os médicos, que causarem dano a seus pacientes, responderão jurídica e eticamente pelos atos cometidos.

• A culpa em sentido amplo pode ser entendida como a violação de um dever jurídico, imputável a alguém, em decorrência de fato intencional ou de omissão de diligência e cautela.

• O dolo é a violação intencional ou de omissão de diligência e cautela.

• O nexo causal pode ser entendido como o liame entre a causa e o efeito, é o elemento imaterial que traz a responsabilidade civil do ato consumado.

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• O nexo de causalidade acarreta a dois tipos de responsabilidades, as quais são: subjetiva (culpa) e objetiva (conduta).

• O Código de Defesa do Consumidor (CDC) trata da relação médico-paciente, a qual é uma relação de consumo.

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1 O processo judicial por “erro médico” é um fato que vemos crescer muito nos meios jurídicos. É uma situação em que os médicos, suas equipes e as equipes hospitalares precisam trabalhar para minimizarem as suas intercorrências, pois estamos falando de vidas humanas e, neste sentido, um erro médico pode significar a morte do paciente, ou, em situações não tão drásticas, podem gerar sequelas definitivas no paciente. Considerando o conceito de erro médico por imperícia, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É uma conduta praticada pelo médico sem observação do seu dever de cuidado.b) ( ) É devido a uma deficiência em sua preparação, em sua qualificação técnica ao

exercício da medicina.c) ( ) É a postura que permite o ato lesivo ao paciente, consignada pela indolência,

inércia e passividade do profissional.d) ( ) Pode ser entendido como o liame entre a causa e o efeito, é o elemento imaterial

que traz a responsabilidade civil do ato consumado.

2 Existem condições que podem isentar o médico de processos legais e éticos. Quando, por investigação, se identifica a existência de ações cometidas pelos pacientes que evidenciam que ele está sabotando seu tratamento ou, ainda, cometendo atos contra si próprio e contra sua saúde, mas mesmo assim o paciente entra com processo contra o médico por erro médico. Considerando a situação específica de “culpa da vítima”, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A culpa da vítima ocorre nos casos em que o médico age negligentemente em seu tratamento, não atingindo os resultados de cura do mesmo.

b) ( ) A culpa da vítima ocorre nos casos em que o agente, no caso o médico em nada contribuiu para o evento danoso. O fato que gerou o dano foi causado pelo próprio paciente, sem interferência do médico.

c) ( ) A culpa da vítima ocorre nos casos em que identificamos a ação conjunta do médico de imperícia, imprudência e negligência em relação ao atendimento ao paciente.

d) ( ) A culpa da vítima ocorre nos casos em que o tratamento receitado pelo médico não gera resultado e o paciente vem a óbito.

3 Além do cuidado para não ter sua culpa caracterizada em ação ou omissão que demonstrem imperícia, imprudência ou negligência, o médico tem o dever de:

FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/0970faf2-48>. Acesso em: 16 set. 2020.

AUTOATIVIDADE

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a) ( ) Acatar, sem questionamento ou confirmação posterior de autenticidade, atestados médicos apresentados pelo empregado.

b) ( ) Afastar os trabalhadores dos ambientes onde haja riscos para a saúde, independente de proteção eficaz.

c) ( ) Autorizar, às expensas diretas da empresa, todos os exames laboratoriais que forem solicitados ao empregado, inclusive por seu médico assistente.

d) ( ) Esclarecer as dúvidas que o empregado possa apresentar em relação aos riscos conhecidos à sua saúde no trabalho.

e) ( ) Informar ao departamento de recursos humanos a condição de HIV positivo de todos os empregados cuja sorologia esteja devidamente confirmada.

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GERENCIAMENTO, PREVENÇÃO DE RISCOS, VIGILÂNCIA E

BIOSSEGURANÇA

UNIDADE 3 —

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer as principais políticas relacionadas à saúde pública;

• compreender os principais pontos de gestão na saúde pública;

• identifi car pontos relacionados à qualidade na saúde pública;

• conhecer pontos essenciais ao planejamento estratégico em saúde;

• conhecer os principais quesitos referentes gerenciamento de riscos e prevenção do erro médico;

• oferecer subsídios para desvelar ações de prevenção do erro médico hospitalar;

• identifi car pontos relacionados à biossegurança na área da saúde;

• ampliar a percepção referente à epidemiologia e à saúde pública;

• conhecer estratégias públicas de vigilância em saúde.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – GESTÃO DA SAÚDE EM HOSPITAIS E CLÍNICAS TÓPICO 2 – PLANEJAMENTO, GERENCIAMENTO E PREVENÇÃO DE RISCOSTÓPICO 3 – BIOÉTICA, BIODIREITO, BIOSSEGURANÇA, EPIDEMIOLOGIA E VIGILÂNCIA EM SERVIÇOS DE SAÚDE

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3!

Acesse o QR Code abaixo:

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TÓPICO 1 —

GESTÃO DA SAÚDE EM HOSPITAIS E CLÍNICAS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, a evolução da humanidade está focada em sua criatividade para solucionar problemas, mas nada adiantaria criar soluções se não ocorresse uma gestão para que todos pudessem usufruir dessas inovações, e somente pela questão da gestão estamos onde estamos na atualidade.

Os problemas atuais, que a humanidade vem enfrentando, são muito maiores do que tínhamos a alguns anos atrás. A gestão da saúde pública tem se tornado de fundamental importância para a sobrevivência humana nos moldes da atual evolução, fato este que podemos ver na epidemia recente do coronavírus (COVID-19), dengue, febre amarela e em outros surtos que assolam o país e o mundo.

Conforme a instituição de educação UNIASSELVI escreve em seu site a respeito da Gestão da Saúde:

Gestão de Saúde de Pública tem por objetivo [...] a gestão dos recursos, desenvolvimento de novas práticas e organização do trabalho em saúde, alinhadas aos princípios e diretrizes do SUS nos diversos níveis de atenção e complexidade, considerando as novas agendas e a perspectiva do território como espaço privilegiado das intervenções sanitárias de forma participativa, crítica, ética e com postura empreendedora que, baseado em conhecimentos científicos, tecnológicos e de gestão, o levará à atuação no planejamento, administração e execução de empreendimentos na área de saúde (GESTÃO, 2020, s.p.).

A gestão da saúde se mostra muito importante e podemos exemplificar isso de uma forma bem simples, imagine um ambiente hospitalar, onde não tenhamos uma gestão profissional, e médicos e enfermeiras pudessem fazer tudo à revelia e os protocolos de segurança não fossem seguidos.

O caos se instalaria e provavelmente o número de óbitos e problemas de saúde não resolvidos aumentariam muito, em relação aos índices atuais.

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Atualmente, não podemos falar de gestão da saúde, se não falarmos de processos e protocolos efetivos com padrão de qualidade em serviços e, sim, sistemas de informação e tecnologias inovadoras tanto em gestão da informação como em tecnologias de saúde (robôs cirurgiões, laboratórios de análises automatizados etc.).

2 POLÍTICAS PÚBLICAS DA SAÚDE E GESTÃO DA SAÚDE

Este tópico discorrerá sobre dois pontos bastante importantes que são as políticas de saúde pública e a gestão da saúde, que são elementos essenciais para a existência da sociedade moderna como a conhecemos.

Podemos definir conforme Fiocruz políticas públicas como:

As políticas públicas, por definição, são conjuntos de programas, ações e decisões tomadas pelos governos nacional, estadual ou municipal que afetam a todos os cidadãos, de todas as escolaridades, independente de sexo, cor, religião ou classe social. A política pública deve ser construída a partir da participação direta ou indireta da sociedade civil, visando assegurar um direto a determinado serviço, ação ou programa. No Brasil, o direto à saúde é viabilizado por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) que deverá ser universal, integral e gratuito (POLÍTICAS, 2020, s.p.).

Olá, acadêmico, a epidemia de corona vírus gerou alguns tumultos iniciais na gestão dos ambientes ligados à saúde pública como hospitais, UTI, entre outros, mas assim que os protocolos foram atualizados para o atendimento ao COVID-19, os ambientes hospitalares voltaram a atuar novamente em normalidade com os procedimentos e assumindo um novo normal de atendimento hospitalar.

CORONAVÍRUS

FONTE: <https://www.didinho.org/wp-content/uploads/2020/03/corona.png>. Acesso em: 10 ago. 2020.

NOTA

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Assim, temos que as políticas públicas na área da saúde buscam os pilares para desenvolverem a saúde da população em geral, e temos em contrapartida a gestão pública em saúde, que é a responsável por todo o gerenciamento das ações desenvolvidas por todos para a busca do atingimento do pleno desenvolvimento das ações em saúde seja em um hospital ou no país como um todo de forma efetiva.

Relembrados esses conceitos, vamos voltar à gestão. Quando falamos de gestão da saúde sob a ótica de direito médico temos que ter em mente que estamos falando em desenvolver estratégias de gestão para minimizar os efeitos nos tratamentos executados na instituição em voga para minimizar os erros médicos e qualquer falha que possa ocorrer no ambiente hospitalar ou do consultório para se minimizar a judicialização dos casos.

As principais políticas públicas na área da saúde no Brasil você já estudou na Unidade 1, mas segue a lista só para lembrar:

• Estratégia Saúde da Família (ESF).• Programa Nacional de Imunização.• Programa Mais Médicos.• Programa Farmácia Popular do Brasil.• Prevenção e Controle HIV/AIDS.• Sistema Nacional de Doação e Transplante de Órgãos.• Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME).• Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).• Serviços de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU-192).

IMPORTANTE

Olá, acadêmico, deixamos mais algumas dicas de leitura e pesquisa do tema Política de Saúde Pública e de Gestão de Saúde Pública, reforçando o material estudado na Unidade 1 deste Livro Didático.

• Ministério da Saúde: https://www.saude.gov.br/component/tags/tag/politicas-publicas.

• Biblioteca virtual em saúde: http://bvsms.saude.gov.br/.• Fio Cruz: https://cutt.ly/2fAJrxX. • Entendendo os conceitos básicos de Políticas Públicas: https://cutt.ly/

qfAJiiv.• Informação para tomadores de decisão em saúde pública: http://fi les.

bvs.br/upload/M/2004/Lucchese_Politicas_publicas.pdf.

DICA

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Podemos definir gestão da saúde, como todo processo executado de planejamento, organização, dirigir (ato de comandar) e controlar o ambiente (seja um hospital, uma clínica, ou uma cidade, estado ou país) para desenvolver a saúde dos pacientes ou da população quando falamos das entidades cidades/estado/país.

Quando falamos da gestão da saúde temos como base eliminar erros dos processos na área da saúde, seguir os protocolos definidos (sejam internos da entidade ou externos como os da OMS ou Ministério da Saúde etc.), e gerir o ambiente (hospital, clinicas, cidade etc.) para alcançar bons resultados no tratamento especificado.

Quando falamos de prevenção em saúde, precisamos falar de gestão (para a prevenção) e por isso precisamos desenvolver:

• políticas públicas de saúde consistentes a realidade do local/ambiente;• política de prevenção a erros nos ambientes hospitalares/atendimento;• protocolos de trabalho e prevenção consistentes;• profissionais gabaritados e atualizados nos procedimentos mais atualizados;• aperfeiçoamento constante dos profissionais envolvidos;• ambiente adequados para o desenvolvimento dos trabalhos;• equipamentos, EPI (Equipamento de Proteção Individual), remédios e insumos

adequados;• gestão profissional e foco em resultados.

Vemos, atualmente, uma legislação mais coerente, mais sólida em relação ao apoio à saúde pública, como:

• A Lei nº 9.431, de 6 de janeiro de 1997, na qual descreve no seu artigo 1º “Os hospitais do País são obrigados a manter Programa de Controle de Infecções Hospitalares – PCIH”.

• Constituição Federal (artigos 196 a 200).• Emenda Constitucional nº 29, de 13/9/2000: altera os arts. 34, 35, 156, 160, 167 e 198

da Constituição Federal e acrescenta artigo ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para assegurar os recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços públicos de saúde.

• Lei nº 8.080, de 19/9/91990: Lei orgânica da Saúde que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.

• Portaria nº 2.203, de 5/11/1996: aprova a Norma Operacional Básica (NOB 01/96), que redefine o modelo de gestão do Sistema Único de Saúde.

• Portaria nº 373, de 27/2/2002: aprovar, na forma do Anexo desta Portaria, a Norma Operacional da Assistência à Saúde – NOAS-SUS 01/2002.

• Resolução nº 399, de 22/2/2006: divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as diretrizes operacionais do referido pacto.

DICAS

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Essas são algumas referências de leis, resoluções que tratam do assunto saúde pública e protocolos de saúde e formas de trabalhar em saúde, porem você pode pesquisar na internet, que existem muito mais elementos ligados ao tema para você estudar e aperfeiçoar o seu conhecimento.

Assim, a gestão e a prevenção em saúde são fundamentais para termos um sistema de saúde otimizado e dessa forma, minimizando a ocorrência de erro médico/hospitalar.

3 GESTÃO DE PROCESSOS E QUALIDADE NOS HOSPITAIS E CLÍNICAS

Estamos, agora, entrando em um elemento fundamental para o sucesso da gestão, que é entender o que é processo, a gestão de processos e a sua importância para o desenvolvimento da qualidade em saúde.

Tudo o que tratarmos aqui está referenciado em uma análise microeconômica, ou seja dentro de uma análise em um hospital ou uma clínica, pois estamos tratando da visão do erro médico hospitalar, e agora vamos tratar da gestão e da qualidade nestes ambientes.

Vale ressaltar que, mesmo sendo uma análise focal, tudo o que falamos de saúde pública, protocolos nacionais e internacionais relacionados aos temas de saúde também devem ser implantados e seguidos em hospitais, clínicas e outros ambientes de saúde.

• Resoluções:o RDC/Anvisa nº 36/2013: institui ações para a segurança do paciente em serviços de

saúde e dá outras providências.• Portarias:

o Portaria GM/MS nº 529/2013 institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP);

o Portaria nº 3.390, de 30 de dezembro de 2013. Institui a Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecendo- se as diretrizes para a organização do componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde (RAS). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt3390_30_12_2013.html.

o Portaria nº 3.410, de 30 de dezembro de 2013: estabelece as diretrizes para a contratualização de hospitais no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) em consonância com a Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt3410_30_12_2013.html.

Na Unidade 1 deste livro didático você pode consultar outras leis relacionadas ao tema.

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Vamos, então, conhecer alguns conceitos básicos antes de prosseguirmos:

• Processo: conforme Pieritz (2016), podemos entender processo como sendo um conjunto de atividades interligadas que são realizadas pelas pessoas com o objetivo de transformar as entradas (insumos, equipamentos, conhecimentos, informações etc.) em saídas (produtos, serviços, informações etc.).

• Gestão: Pieritz (2016) nos apresenta, ainda, o conceito de gestão como gerenciar, administrar instituições, pessoas ou processos de modo a fazer com que alcancem os seus objetivos de forma efetiva, eficaz e eficiente. Sempre que falamos de gestão, conforme a autora, nos referenciamos a uma administração dos recursos que estão à disposição na organização/processos sendo esses recursos do tipo materiais, financeiros, humanos, tecnológicos ou de informação.

FIGURA 1 – GESTÃO E SUAS INFLUÊNCIAS

FONTE: Pieritz (2016, p. 23)

Como você pôde ver, pelos dois conceitos apresentados anteriormente, advindos da administração, gerir processos em saúde é fundamental para se prestar um serviço de qualidade na área e, dessa forma, evitar problemas de qualidade em seus atendimentos, pois, conforme vimos na Figura 1, uma boa gestão provocará modificações em pessoas, tecnologias e sistemas, principalmente com o foco de melhorar os seus resultados e aumentar a sua eficiência, eficácia e efetividade.

Atualmente, podemos identificar que instituições que desenvolvem uma gestão profissionalizada da saúde com processos claramente definidos e transformados em protocolos consolidados nas melhores práticas disponíveis, são, também, as instituições que menos processos de judicialização sofrem por questões ligadas a erro médico e situações e áreas afins.

Um programa de qualidade nos serviços de saúde é um baluarte para uma boa prestação de serviço pela sua equipe de médicos e enfermeiros, mesmo para situações mais críticas de saúde.

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Quando desenvolvemos a qualidade em saúde, busca-se trabalhar um conjunto de práticas que devem ser tomadas de cuidados globais em todos os âmbitos ambientais (hospitais, clínicas e sociedade) que devem desenvolver atividades de prevenção de doenças até a manutenção da qualidade de vida.

Toda unidade de atendimento à saúde, seja um hospital ou clínica deve se preocupar com o processo de gestão de modo que ela seja a mais profissional possível, pois somente assim teremos uma gestão focada em resultados e por isso centrada em boas práticas tanto administrativas quanto de atendimento aos pacientes e por consequência na qualidade dos atendimentos médicos e de hotelaria para os seus pacientes e familiares, seguindo a protocolos rígidos que podem ser desde protocolos em níveis mundiais – Organização Mundial da Saúde (OMS) –, ou ainda para os protocolos nacionais (CRM, Ministério da Saúde etc.) e os protocolos do próprio hospital/clinica.

Para atingir a qualidade em saúde, costumam ser necessárias algumas ferramentas de gestão que irão auxiliar a instituição de saúde a conquistar esse objetivo, e são específicos a cada instituição devido a sua gestão, apesar de existir diversas ferramentas de qualidade e gestão padronizadas no mercado.

Olá, acadêmico, você acha que 99,9% é uma ótima referência para a qualidade em saúde, então olhe o que a porcentagem de 0,1% de erro médico pode significar em um universo

maior de atendimentos (dados com base nos EUA no ano de 2001):

• 20 mil prescrições medicamentosas erradas/ano;• 500 cirurgias incorretas/semana;• 15 mil quedas acidentais de recém-nascidos em hospitais/ano.

FONTE: <https://www.ufjf.br/oliveira_junior/files/2011/08/Gest%C3%A3o-da-qualidade-slides.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2020.

Dados referenciais para que você, acadêmico, veja por que trabalhamos para atingir um padrão de qualidade de “erro zero” na área da qualidade em saúde.

ATENÇÃO

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FIGURA 2 – FERRAMENTAS DA QUALIDADE

FONTE: <https://www.portal-administracao.com/2017/09/sete-ferramentas-da-qualidade-conceito.html>. Acesso em: 17 ago. 2020.

As ferramentas de gestão disponíveis também são diversas, mas sempre temos que entender que vai depender dos gestores quais utilizar e a efetividade do seu uso, a ferramenta não é boa nem ruim, mas a sua aplicação e gestão sim. Principalmente, na área da saúde temos visto exemplos de excelência em gestão e qualidade em hospitais como o Hospital Sírio-Libanês, o Hospital Israelita Albert Einstein, o H Cor em São Paulo entre outros.

FIGURA 3 – FERRAMENTAS DE GESTÃO

FONTE: A autora

Entramos, agora, em duas frentes para a ocorrência do erro médico que são muito importantes, ou seja, a primeira é o médico em si, neste caso é necessário um trabalho básico com ele e de protocolos de atendimentos claros e exequíveis, já o segundo ponto a ser trabalhado é a gestão do hospital, clínicas ou a unidade de saúde em voga, a qual vem da profissionalização da gestão, da qualidade dos procedimentos diversos e de protocolos robustos para garantia da saúde na unidade.

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Quando falamos de gestão em áreas hospitalares, clínicas e outras áreas da saúde, temos que conciliar as boas práticas da área de gestão com suas diversas ferramentas, mas temos também um importante compromisso de gerir as questões ligadas a área da saúde em si, mantendo procedimentos rígidos de saúde, que vão desde os procedimentos de higiene e limpeza do ambiente, como de todo corpo de profi ssionais, assim como de todos os protocolos para garantia da saúde de todos os usuários do local.

FIGURA 4 – PROCESSOS DE MELHORIA

FONTE: <https://bit.ly/35nwn7m>. Acesso em: 17 ago. 2020.

Logo precisamos constantemente trabalhar na prevenção de infecções, contaminantes biológicos, radioativos, entre outros, devendo ser obrigação de todos os envolvidos trabalhar protocolos seguros para o exercício das atividades profi ssionais.

Olá, acadêmico, conheça um pouco mais a questão de gestão e resultados, principalmente em hospitais de referência no sistema de saúde, como o HCor em São Paulo. Acesse o Código de Conduta do hospital para ver a importância de uma gestão profi ssional e com respeito ao paciente: https://www.hcor.com.br/codigo-de-conduta/.

DICA

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150

Para encerrarmos este subtópico, ressaltamos que o gestor é o responsável pelos resultados da instituição.

4 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES, INOVAÇÃO E TECNOLOGIA NA SAÚDE

Trabalhar gestão na atualidade é trabalhar com inovação, e não são mais inovações pontuais, mas inovação em todas as frentes possíveis, e não é diferente na área da gestão da saúde. A inovação tecnológica está em todas as áreas da saúde, desde as áreas de limpeza e desinfecção de ambientes gerais, ambulatórios, a salas de operação, a automação dos prontuários médicos, a acompanhamentos dos pacientes, e não podemos esquecer os equipamentos de análises de laboratório e de imagens, e, mais recentemente, aos robôs cirúrgicos, que já estão disponíveis em diversos centros cirúrgicos do país e no exterior.

A tecnologia na área da saúde está evoluindo muito e veio para consolidar a sua aplicação nas mais diversas frentes. Panerai e Peña-Mohr, (1989 apud BRASIL, 2009, p. 9) descreve que tecnologias em saúde são “todas as formas de conhecimento que podem ser aplicadas para a solução ou a redução dos problemas de saúde de indivíduos ou populações”. Brasil (2009, p. 9) complementa descrevendo que, portanto, as tecnologias em saúde “vão além dos medicamentos, equipamentos e procedimentos usados na assistência à saúde”.

Olá, acadêmico, deixamos mais algumas dicas de leitura e pesquisa do tema Política de Saúde Pública e de Gestão de Saúde Pública, reforçando o material estudado na Unidade 1 deste Livro Didático.

• https://cmtecnologia.com.br/blog/qualidade-saude/;• https://bjnephrology.org/wp-content/uploads/2019/11/jbn_v26n4a05.pdf.

Lembramos que você tem acesso a toda a biblioteca virtual da UNIASSELVI para aprofundar o seu conhecimento. Dessa forma, indicamos dois materiais de nossa biblioteca, são eles:

• FENILI, Romero; CORRÊA, Carla E. G. Planejamento e desenvolvimento organizacional hospitalar. Indaial: UNIASSELVI, 2014.

• E o Tópico 2 da Unidade 1, que possui o título de A Gestão na Atualidade do livro: PIERITZ, Vera Lúcia Hoffmann. Planejamento e administração em serviço social. Indaial: UNIASSELVI, 2016.

DICA

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FIGURA 5 – NOVAS TECNOLOGIAS EM SAÚDE

FONTE: <http://telemedicinesummit.com.br/wp-content/uploads/2019/02/telepsicologia-novas-tecnologias.jpg>. Acesso em: 19 ago. 2020.

TECNOLOGIAS EM SAÚDE

Tecnologias em saúde são os medicamentos, equipamentos, procedimentos e os sistemas organizacionais e de suporte dentro dos quais os cuidados com a saúde são oferecidos. Liaropoulos (1997) propôs uma hierarquia de tecnologias, conforme apresentada na Figura 1.

No primeiro estágio, observam-se aquelas tecnologias que o senso comum considera como tecnologias na área de saúde, aqui chamadas de tecnologia biomédica, que são os equipamentos e medicamentos.

Pode-se dizer que são aquelas que interagem diretamente com os pacientes. Em seguida, devem ser considerados os procedimentos médicos, como, por exemplo, a anamnese, as técnicas cirúrgicas, as normas técnicas de uso de aparelhos e outros, que constituem parte do treinamento dos profissionais em saúde e que são essenciais para a qualidade na aplicação das tecnologias biomédicas. Estas tecnologias, acrescidas dos procedimentos, constituem as tecnologias médicas.

FIGURA 1 – ESPECTRO DE TECNOLOGIAS EM SAÚDE

FONTE: Adaptada de Liaropoulos (1997)

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Todas as tecnologias médicas são utilizadas dentro de um contexto que engloba uma estrutura de apoio técnico e administrativo, sistemas de informação e organização da prestação da atenção à saúde.

Estes sistemas de suporte organizacional, que se situam dentro do próprio setor Saúde (hospitais, ambulatórios, secretarias de saúde, Ministério da Saúde), juntamente com as tecnologias médicas, compõem as tecnologias de atenção à saúde.

Finalmente existem componentes organizacionais e de apoio que são determinados por forças que atuam fora do sistema de saúde, como, por exemplo, saneamento, controle ambiental, direitos trabalhistas etc. Todos esses elementos, juntamente com as outras tecnologias, constituem, então, as tecnologias em saúde. Indo mais além, podem-se englobar diversos aspectos da organização social que são determinantes da saúde de uma população como educação, política econômica etc. As tecnologias também podem ser classificadas de acordo com a natureza material, o propósito, e o estágio de difusão (Goodman, 1998). O Quadro 2 descreve tal classificação.

QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS TECNOLOGIAS EM SAÚDE

Quanto à natureza material

− Medicamentos; − Equipamentos e suprimentos: ventilador, marcapassos cardíacos, luvas

cirúrgicas, kits de diagnóstico etc.; − Procedimentos médicos e cirúrgicos; − Sistemas de suporte: bancos de sangue, sistemas de prontuário eletrônico etc.; − Sistemas gerenciais e organizacionais: sistema de informação, sistema de

garantia de qualidade etc.

Quanto ao propósito

− Prevenção: visa proteger os indivíduos contra uma doença ou limitar a extensão de uma sequela (exemplo: imunização, controle de infecção hospitalar etc.);

− Triagem: visa detectar a doença, anormalidade, ou fatores de risco em pessoas assintomáticas (mamografia, exame de Papanicolau);

− Diagnóstico: visa identificar a causa e natureza ou extensão de uma doença em pessoas com sinais clínicos ou sintomas (eletrocardiograma, raios X para detectar fraturas ósseas);

− Tratamento: visa melhorar ou manter o estado de saúde, evitar uma deterioração maior ou atuar como paliativo;

− Reabilitação: visa restaurar, manter ou melhorar a função de uma pessoa com uma incapacidade física ou mental.

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Quanto ao estágio de difusão

− Futura: em estágio de concepção ou nos estágios iniciais de desenvolvimento; − Experimental: quando está submetida a testes em laboratório usando animais

ou outros modelos; − Investigacional: quando está submetida a avaliações clínicas iniciais (em

humanos); − Estabelecida: considerada pelos provedores como um enfoque padrão para

uma condição particular e difundida para uso geral; − Obsoleta/abandonada/desatualizada: sobrepujada por outras tecnologias ou

foi demonstrado que elas são inefetivas ou prejudiciais.

FONTE: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Área de Economia da Saúde e Desenvolvimento. Avaliação de tecnologias em saúde: ferramentas para a gestão do SUS. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. p. 19-21. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/avaliacao_tecnologias_saude_ferramentas_gestao.pdf. Acesso em: 16 ago. 2020.

Como você pôde ler no texto anterior, a tecnologia está ajudando muito os pacientes na área da saúde, e isso demanda um aprendizado dos médicos nestas tecnologias para um aprimoramento profissional e realizar diagnósticos mais aprimorados em seus pacientes permitindo, assim, uma assertividade maior e por consequência uma minimização dos erros médicos, logo a sua judicialização.

Brasil (2009, p. 29) descreve os principais pontos que uma nova tecnologia deve gerar em suas diversas frentes e é apresentado pela:

Eficácia – probabilidade de que indivíduos de uma população definida obtenham um benefício da aplicação de uma tecnologia a um determinado problema em condições ideais de uso. Efetividade – probabilidade de que indivíduos de uma população definida obtenham um benefício da aplicação de uma tecnologia a um determinado problema em condições normais de uso. Risco – medida da probabilidade de um efeito adverso ou indesejado e a gravidade desse efeito à saúde de indivíduos em uma população definida associado ao uso de uma tecnologia aplicada em um dado problema de saúde em condições específicas de uso. Segurança – risco aceitável em uma situação específica. Custos – custo (de oportunidade) em saúde é o valor da melhor alternativa não concretizada em consequência de se utilizarem recursos escassos na produção de um dado bem e ou serviço. Impacto social, ético e legal – são todos os impactos não relacionados à efetividade, à segurança, e aos custos, incluindo as consequências econômicas secundárias para indivíduos e comunidades (BRASIL, 2009, p. 29).

Precisamos, ainda, compreender que qualquer nova tecnologia, novo tratamento para alguma doença precisa passar por um método científico de análise e ser aprovado pelos órgãos específicos antes de serem largamente utilizadas por médicos em hospitais e clínicas.

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Temos, assim, algumas leis e procedimentos legais que precisam ser obedecidos para a implantação destas novas tecnologias, as quais são:

• Lei nº 12.401/2011, que altera a Lei nº 8.080/1990, para dispor sobre a assistência terapêutica e a incorporação de tecnologia em saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

• Decreto nº 9.245, de 20 de dezembro de 2017, que institui a Política Nacional de Inovação Tecnológica na Saúde (PNITS).

• Lei n° 13709/2018, conhecida como Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).• Resolução RDC nº 93, de 26 de maio de 2006, a qual dispõe sobre o Manual Brasileiro

de Acreditação de Organizações Prestadoras de Serviços de Saúde e as Normas para o Processo de Avaliação.

• Resolução RE nº 921, de 29 de maio de 2002, a qual reconhece a Organização Nacional de Acreditação (ONA) como instituição competente e autorizada a operacionalizar o desenvolvimento do processo de Acreditação de organizações e serviços de saúde no Brasil.

• Lei nº 13.787, de 27 de dezembro de 2018, a qual dispõe sobre a digitalização e a utilização de sistemas informatizados para a guarda, o armazenamento e o manuseio de prontuário de paciente.

Os cuidados em liberar uma nova tecnologia em saúde são primordiais, pois temos que assegurar a sua efi ciência e também evitar assim possibilidade de judicializações futuras relacionadas à tecnologia.

Prezado acadêmico, veja mais uma indicação de literatura disponível na internet e que pode lhe ajudar a aprofundar seu conhecimento de tecnologias da saúde:

• Avaliação Tecnológica em Saúde: https://cutt.ly/qfAJiiv.• Política Nacional de Gestão de Tecnologias em Saúde: https://cutt.ly/

KfDlxtv.• Política Nacional de Informação e Informática em Saúde: https://cutt.ly/

gfDlbcI.

DICA

A tecnologia veio para ajudar o médico, os hospitais e clínicas e principalmente o paciente, mas ainda dependemos, em muito, do ser humano para a sua operacionalização, por isso ainda estamos sujeitos a erros médicos, mas vemos essa probabilidade de erros diminuindo conforme a tecnologia evolui.

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5 AVALIAÇÃO DE AMBIENTE E ARQUITETURA DE HOSPITAIS E CLÍNICAS

Na atualidade vimos uma preocupação crescente pelos profissionais das mais diversas áreas em gerar segurança nos ambientes de atendimento em saúde, pois este é um dos ambientes mais arriscados que existem no mundo.

Nesse ambiente temos riscos de contaminação biológicos, riscos radioativos, riscos ergonômicos, riscos químicos, riscos ambientais etc., riscos estes que deverão ser minimizados nos projetos dos hospitais. Conforme publicado pela Anvisa (2015, p. 15):

RISCOS NO AMBIENTE HOSPITALARAlém das preocupações legais em definir os riscos existentes no ambiente hospitalar, é importante inventariá-los de forma objetiva e racional. Para tanto, é preciso ressaltar algumas definições de termos que servirão de base para indicarmos e conhecermos os riscos existentes no ambiente hospitalar.“Risco é uma ou mais condições de uma variável com potencial necessário para causar danos. Esses danos podem ser entendidos como lesões a pessoas, danos a equipamentos e instalações, danos ao meio ambiente, perda de material em processo, ou redução da capacidade de produção” (20).Risco “expressa uma probabilidade de possíveis danos dentro de um período de tempo ou número de ciclos operacionais” (20). Pode significar ainda “incerteza quanto à ocorrência de um determinado evento” ou a “chance de perda que uma empresa está sujeita na ocorrência de um acidente ou série de acidentes”.Como foi dito, a palavra “risco” indica, normalmente, a possibilidade de existência de perigo. Fica melhor definida, quando se lhe acrescentam alguns advérbios que traduzem especificamente a natureza do risco, como por exemplo: risco de choque elétrico (risco físico), risco de incêndio (químico), risco de queda (mecânico), risco de contaminação por hepatite B e HIV (risco biológico).De modo a comentar as definições legais dos agentes potenciais de danos à saúde do trabalhador, citamos os itens que seguem, encontrados na NR 9 da Portaria nº 3214/78:a) Consideram-se agentes físicos, dentre outros: ruídos, vibrações, temperaturas anormais, pressões anormais, radiações ionizantes, radiações não-ionizantes, iluminação e umidade.b) Consideram-se agentes químicos, dentre outros: névoas, neblinas, poeiras, fumaça, gases e vapores.c) Consideram-se agentes biológicos, dentre outros: bactérias, fungos, "rickettsia", helmintos, protozoários e vírus.d) Consideram-se, ainda, como riscos ambientais, para efeito das Normas Regulamentadoras da Portaria 3.214, os agentes mecânicos e outras condições de insegurança existentes nos locais de trabalho capazes de provocar lesões à integridade física do trabalhador.

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Os ambientes hospitalares são bastante complexos com diversos sistemas a serem administrados, por isso a gestão profi ssional é tão fundamental para o bom funcionamento de uma unidade de saúde.

Os ambientes hospitalares e clínicas precisam obedecer a todos os protocolos de segurança instituídos pelos mais diversos órgãos ofi ciais, mas deve também ser auditado constantemente por profi ssionais da instituição (geralmente da CIPA da unidade), para evitar o surgimento de problemas que possam aumentar o grau de risco dos usuários. Assim, é necessário, nos ambientes hospitalares, seguir as normas regulamentadoras NR 4, 5, 6, 9 e, a mais importante, a NR 32, a qual defi ne quais são as diretrizes específi cas para a segurança do trabalho em serviços de saúde.

• NR 4 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho.

• NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes.• NR 6 – Equipamento de Proteção Individual – EPI.• NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.• NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde.

Além das NR, os ambientes hospitalares precisam seguir outras normas do Ministério do Trabalho, regras da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e recomendações normativas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e OIT (Organização Internacional do Trabalho), entre outras especifi cações técnicas que os engenheiros e especialistas devem considerar para minimizar os riscos.

Este tema é bastante extenso, tanto que temos, atualmente, especializações específi cas nas áreas de engenharia e arquitetura que somente trabalham com ambiente e arquitetura hospitalar, mas queremos ressaltar que muitos fatores geradores de problemas em pacientes podem ser evitados se os hospitais tiverem uma preocupação efetiva no ambiente hospitalar e agir para eliminá-las.

Prezado acadêmico, leia o material publicado pela Anvisa referente à segurança em ambiente hospitalar, disponível em: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/manuais/seguranca_hosp.pdf.

DICA

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157

6 IMPACTOS DA NOVA LEI DE PROTEÇÃO DE DADOS PARA A TECNOLOGIA NA SAÚDE

Sistemas de gestão e ferramentas como inteligência artificial (AI) e internet das coisas (Internet of Things – IoT) estão, aos poucos, ressignificando a tecnologia na Saúde. Mas, mesmo com o uso cada vez mais intenso de dados sensíveis neste e nos mais diversos setores de mercado, o Brasil só ganhou em agosto de 2018 uma legislação específica para a proteção dessas informações.

A Lei n° 13709, conhecida como Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), cria obrigações e impõe sanções às instituições que não cuidarem dos dados com responsabilidade – algo que pode parecer novo, mas que já é um aspecto fundamental de toda organização que digitaliza suas informações. O principal objetivo da lei é garantir a proteção das informações pessoais compartilhadas nos meios digitais, além da liberdade e o livre acesso dos proprietários aos dados.

Para Guilherme Forma Klafke, professor e especialista em Direito Constitucional da Faculdade de Direito de São Bernardo, o setor é um dos principais afetados pela lei, especialmente com o avanço das ferramentas de tecnologia na Saúde. “Várias atividades cotidianas envolvem grande quantidade de dados digitalizados e considerados sensíveis, o que requer atenção redobrada”.

Conheça os sete principais impactos da legislação, na análise do especialista: Para o paciente

1 - Autorização: os dados armazenados pelo prontuário eletrônico e outros sistemas só poderão ser usados com autorização expressa de seus proprietários. O especialista complementa que existem exceções para essa regra. “São os casos de proteção da vida, incolumidade física e psíquica ou tutela da saúde. A questão, porém, é saber que tipo de tutela dispensa o consentimento. São apenas os casos em que o paciente é incapaz de manifestar esse consentimento, como quando está inconsciente, por exemplo? A legislação não deixa esse aspecto claro”, alerta.

2 - Restrição: Os pacientes terão o direito de saber para que, quando e por quem os seus dados foram utilizados, e poderão restringir o direito de acesso a eles. Esse consentimento, inclusive, pode ser alterado a qualquer momento, assim como a solicitação para exclusão dos dados.

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Para a gestão hospitalar

3 - Sensibilidade: Klafke alerta para a possível discussão da sensibilidade dos dados gerados pela tecnologia aplicada na Saúde. "Por exemplo, a geolocalização, com os últimos locais visitados pelo paciente, pode parecer, à primeira vista, apenas um dado pessoal. Contudo, essa informação pode ser usada para levantar hipóteses de possíveis doenças contagiosas. Essa será uma questão resolvida caso a caso. Mas quanto mais dados forem considerados sensíveis, maiores os custos de tratamento", ressalta.

4 - Hospedagem: muitas instituições fazem hospedagem de dados em servidores estrangeiros. A nova lei, porém, determina que esse tipo de informação só poderá ser armazenado em bancos de países nos quais a segurança da informação for semelhante à brasileira. Além disso, todas as empresas e instituições que armazenam dados identificados de pessoas terão que ter políticas registradas e um sistema de gestão de segurança de informação, e pelo menos um gestor responsável pelo mesmo (requisitos que, inclusive, já são exigidos pela norma ISO/IEC 27.001).

5 - Software: os sistemas utilizados pelas organizações terão que implementar massivas e complexas formas de proteção de dados contra vários tipos de roubo de identidade, de bancos de dados, de transações, inclusive quando baseados na nuvem.

6 - Inteligência de negócios: para utilização de tecnologias como Business Intelligence (BI) e analytics, a instituição de Saúde terá de pedir autorização para o paciente e explicar qual o fim destinado aos dados e como eles podem auxiliar no tratamento. O professor reitera que as informações pessoais não podem ser usadas com finalidade de ampliação de lucro. “Se o hospital ou outra organização que use a tecnologia na Saúde fizer uso dessas ferramentas para obter algum tipo de vantagem econômica, haverá disputas de interpretação”.

7 - Inteligência artificial: terá de ser feita adaptação na parte de aprendizado da máquina para que os dados possam ser utilizados para alimentar tecnologias desse tipo. Fora isso, o professor comenta não haver impactos significativos por conta da garantia do anonimato dos dados. “Mas, da mesma forma, será importante manter um controle da segurança e do sigilo, inclusive em termos de hospedagem e coleta”. Adaptação

As instituições de Saúde têm 18 meses para se adaptar às mudanças. Nesse período, será necessário criar meios para que os sistemas de diferentes lugares sejam integrados e protegidos.

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Outro desafio a ser cumprido no prazo é treinar e engajar os profissionais sobre a responsabilidade no uso dos dados. Além disso, será preciso criar uma comunicação eficiente para que o paciente entenda seus direitos e até mesmo para que a transparência sobre o uso de dados gerados pela tecnologia na Saúde seja ainda maior.

FONTE: <http://www.mv.com.br/pt/blog/7-impactos-da-nova-lei-de-protecao-de-dados-para-a-tecnologia-na-saude>. Acesso em: 19 ago. 2020.

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RESUMO DO TÓPICO 1Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Um dos principais problemas vivenciados em um ambiente hospitalar, ou em um consultório médico, está associado aos riscos que o paciente, os transeuntes e funcionários correm por estar presente nesse ambiente.

• Gerenciamento e prevenção de riscos hospitalares são fatores que influenciam o erro médico e a propagação de problemas aos pacientes e usuários do sistema hospitalar/consultórios.

• Podemos definir gestão da saúde, como todo processo executado de planejamento, organização, dirigir (ato de comandar) e controlar o ambiente (seja um hospital, uma clínica, ou uma cidade, estado ou país) para desenvolver a saúde dos pacientes ou da população quando falamos das entidades cidades/estado/país.

• A prevenção em saúde, está ligada à gestão profissionalizada sendo necessário desenvolver:o políticas públicas de saúde consistentes à realidade do local/ambiente;o política de prevenção a erros nos ambientes hospitalares/atendimento;o protocolos de trabalho e prevenção consistentes;o profissionais gabaritados e atualizados nos procedimentos mais atualizados;o aperfeiçoamento constante dos profissionais envolvidos;o ambiente adequados para o desenvolvimento dos trabalhos;o equipamentos, EPI (equipamento de proteção individual), remédios e insumos

adequados;o gestão profissional e foco em resultados.

• Processo é um conjunto de atividades interligadas que são realizadas por pessoas com o objetivo de transformar as entradas (insumos, equipamentos, conhecimentos, informações etc.) em saídas (produtos, serviços, informações etc.).

• Gestão é o ato de gerenciar, administrar instituições, pessoas ou processos de modo a fazer com que alcancem os seus objetivos de forma efetiva, eficaz e eficiente.

• Qualidade em saúde busca trabalhar um conjunto de práticas que devem ser tomadas de cuidados globais em todos os âmbitos ambientais (hospitais, clínicas e sociedade) que devem desenvolver atividades de prevenção de doenças até a manutenção da qualidade de vida.

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RESUMO DO TÓPICO 1 • A ocorrência do erro médico está associada, primeiramente, ao médico em si e, em segundo lugar, ao ambiente de trabalho e na qualidade dos procedimentos e de protocolos robustos para garantia da saúde na unidade.

• A tecnologia na área da saúde está evoluindo muito e veio para consolidar a sua aplicação nas mais diversas frentes.

• Tecnologias em saúde podem ser entendidas como todas as formas de conhecimento que podem ser aplicadas para a solução ou a redução dos problemas de saúde de indivíduos ou populações.

• Todas as tecnologias médicas são utilizadas dentro de um contexto que engloba uma estrutura de apoio técnico e administrativo, sistemas de informação e organização da prestação da atenção à saúde.

• A segurança nos ambientes de atendimento em saúde, é fundamental.

• Nos ambientes hospitalares e clínicas, temos riscos de contaminação biológicos, riscos radioativos, riscos ergonômicos, riscos químicos, riscos ambientais etc., riscos estes que deverão ser minimizados nos projetos dos hospitais.

• Os ambientes hospitalares e clínicas devem obedecer a todos os protocolos de segurança instituídos pelos mais diversos órgãos oficiais, mas deve também ser auditado constantemente por profissionais da instituição (geralmente da CIPA da unidade), para evitar o surgimento de problemas que possam aumentar o grau de risco dos usuários.

• Nos ambientes hospitalares devemos seguir as normas regulamentadoras NR 4, 5, 6, 9 e, a mais importante, a NR 32.

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1 Nos ambientes hospitalares precisamos obedecer a protocolos de segurança instituídos pelos mais diversos órgãos governamentais, além de sofrer auditorias constantes por profissionais da instituição, principalmente para evitar o surgimento de problemas que possam gerar riscos aos usuários. Os ambientes hospitalares precisam seguir as normas regulamentadoras NR 4, 5, 6, 9 e a NR 32, estas NR definem as diretrizes específicas para a segurança do trabalho em serviços de saúde. Analisando as NR, assinale a opção que traz a opção verdadeira.

a) ( ) NR 4 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes.b) ( ) NR 4 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.c) ( ) NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde. d) ( ) NR 32 – Equipamento de Proteção Individual – EPI. e) ( ) NR 32 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes.

2 As políticas públicas da área da saúde buscam consolidar os pilares para o desenvolvimento da saúde da população em geral, e temos políticas bem consolidadas no país como as políticas de prevenção e controle HIV/AIDS, do sistema nacional de doação e transplante de órgãos, Estratégia Saúde da Família (ESF) entre outras. Sobre as políticas públicas, avalie as asserções a seguir:

I- As políticas públicas, por definição, são conjuntos de programas, ações e decisões tomadas pelos governos nacional, estadual ou municipal que afetam a todos os cidadãos, de todas as escolaridades, independente de sexo, cor, religião ou classe social.

PORQUE

II- A política pública deve ser construída a partir da participação direta ou indireta da sociedade civil, visando assegurar um direto a determinado serviço, ação ou programa. No Brasil, o direto à saúde é viabilizado por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) que deverá ser universal, integral e gratuito.

Assinale a alternativa CORRETA:a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.c) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.d) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.

AUTOATIVIDADE

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PLANEJAMENTO, GERENCIAMENTO E PREVENÇÃO DE RISCOS

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, sempre existiram e sempre existirão riscos para a humanidade, as guerras, as pragas e questões da saúde sempre estiveram presentes na história do ser humano.

Entre os principais problemas que a humanidade passou, de acordo com artigo da Revista Superinteressante (AS GRANDES EPIDEMIAS, 2020), temos:

• Peste Negra: 50 milhões de mortos (Europa e Ásia) – 1333 a 1351.• Cólera: centenas de milhares de mortos – 1817 a 1824.• Tuberculose: 1 bilhão de mortos – 1850 a 1950. • Varíola: 300 milhões de mortos – 1896 a 1980. • Gripe Espanhola: 20 milhões de mortos – 1918 a 1919. • Tifo: 3 milhões de mortos (Europa Oriental e Rússia) – 1918 a 1922. • Febre Amarela: 30 000 mortos (Etiópia) – 1960 a 1962. • Sarampo: 6 milhões de mortos por ano – até 1963. • Malária: 3 milhões de mortos por ano – desde 1980. • AIDS: 22 milhões de mortos – desde 1981.• COVID-19: até a data de escrita deste livro (agosto de 2020) eram 800.000 mortos

– desde dezembro de 2019. Como você pôde ver, a humanidade moderna vem sendo acometida de diversas

doenças, sendo elas potencializadas na história moderna, mostrando que cada vez mais devemos nos planejar para prevenir dos riscos inerentes que as pandemias geram, mas, principalmente, em relação a qualquer condição que possa colocar a saúde das pessoas em risco.

Apesar de as pandemias ocorrerem constantemente na humanidade, na sociedade moderna os riscos à saúde das pessoas estão mais atrelados às questões de planejamento e prevenção da ocorrência desses riscos. Vimos, na atualidade, uma maior atenção à prevenção dos riscos por todas as instâncias de poder, mas principalmente nos hospitais e clínicas.

Atualmente, vemos um grande esforço dos gestores de saúde em planejamento, gerenciamento e prevenção de riscos, e este será o nosso foco de estudo desta unidade, principalmente na visão do direito médico hospitalar.

UNIDADE 3 TÓPICO 2 -

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2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM SAÚDE

Um dos pontos primordiais da gestão em saúde está na questão de o gestor realizar um planejamento estratégico em saúde para direcionar seus atos e assim buscar a maior eficiência, eficácia e efetividade em suas ações, principalmente focada em reduzir riscos a todos em relação a sua saúde. E isso é principalmente importante para todos os ambientes de trabalho com saúde, como hospitais, clínicas, entre outros.

O planejamento estratégico das instituições focado na preservação da saúde é fundamental para a redução de riscos institucionais. Quando falamos de planejamento em saúde, utilizamos as mesmas ferramentas do planejamento estratégico institucional, porem focado as questões de manutenção e prevenção dos riscos à saúde das pessoas, sejam médicos, técnicos ou usuários do sistema como um todo.

Como na Unidade 2, e na introdução deste tópico, atualmente, a prevenção é fundamental para a minimização dos riscos e reduzir problemas futuros para a instituição e o médico. Assim, podemos definir planejamento estratégico como o ato organizado de pensar sobre o futuro da instituição de modo a se fazer planos de ação para o atingimento dos objetivos futuros. Este é um conceito muito utilizado em administração e que vemos assumindo uma importância muito grande na área da saúde, principalmente na área de prevenção de riscos.

Prezado acadêmico, quando falamos em planejamento, esta frase é um referencial da ideia de planejar:

"É melhor saber para onde ir sem saber como, do que saber como e não saber para onde ir". (Gillo Pontecorvo)

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO, DEFINIÇÃO DE RUMO

FONTE: <https://bit.ly/3JNbvFq>. Acesso em: 21 ago. 2020.

NOTA

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O planejamento estratégico em saúde apresenta suas complexidades situacionais devido aos fatores incontroláveis que podem gerar resultados os mais diversos, mas voltando à frase apresentada anteriormente “é melhor saber onde ir”, do que só ficar realizando ações desconexas.

Uma verdade que precisamos saber sobre o planejamento estratégico é que ele não é o resultado em si, mas é o mapa e a simulação dos diversos resultados possíveis, mostrando aos gestores possíveis caminhos a serem tomados se determinado fato ocorrer. Logo PE (Planejamento Estratégico) não é garantia de resultado, mas sim que teremos ações a tomar se determinados fatos ocorrerem.

Quando falamos de planejamento estratégico, verificamos que os mesmos possuem passos básicos comuns, apresentados pelos principais teóricos como Michael Porter, Gary Hamel e C. K. Prahalad, Peter Drucker, Henry Mintzberg, Igor Ansoff, Kaplan e Norton entre outros, os quais são:

• Determine a missão, visão e valores da instituição.• Estabeleça as metas e os objetivos desejados.• Analise o ambiente interno da organização.• Monitore e analise o ambiente externo da instituição.• Monitore, análise e dê atenção especial ao público-alvo da instituição.• Trabalhe com cenários.• Definir as estratégias que serão usadas.• Desenvolver um plano de ação.• Monitorar os resultados atingidos pela instituição.• Avaliar os resultados finais atingidos.• Revisar o planejamento estratégico constantemente (anualmente se faz uma

revisão geral das metas e objetivos – RECOMENDADO).

Recomenda-se para o planejamento estratégico seguir esses passos básicos também, porém adaptados à realidade da saúde.

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Prezado acadêmico, para aprofundar o seu conhecimento em planejamento estratégicos, indicamos os seguintes materiais:

Livro: BRUCE, Andy; LANGDON, Ken. Como usar o pensamento estratégico. São Paulo: Publifolha, 2000. (Série Sucesso Profissional).

COMO USAR O PENSAMENTO ESTRATÉGICO

FONTE: <https://shopfacil.vteximg.com.br/arquivos/ids/25177398/2257753_1.jpg>. Acesso em: 15 set. 2020.

Filme: Onze Homens e Um Segredo.Título original: (Ocean’s Eleven).Lançamento: 2001 (EUA).Direção: Steven Soderbergh.Duração: 117 minGênero: Ação

ONZE HOMENS E UM SEGREDO

FONTE: <https://bit.ly/3t2TA6C>. Acesso em: 15 set. 2020.

DICA

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167

Quando falamos em saúde, em gestão da saúde, novamente existem duas visões em planejamento estratégico, uma visão micro, e outra macroeconômica.

A visão microeconômica está associada à visão de uma instituição, ou seja, o planejamento das ações para um hospital, grupo hospitalar ou ainda clínicas etc. A visão está associada a uma visão organizacional e de preservação da saúde e minimização de riscos do ambiente da instituição. É quando ocorrem as principais visões estratégicas institucionais relacionadas aos erros médicos, e quando trabalhamos a visão de prevenção a ocorrência de erros.

A visão macroeconômica é a visão ampliada, ou seja, trabalhamos a visão da saúde em nível, municipal, estadual e federativa, logo precisamos desenvolver as estratégias institucionais e de prevenção conforme as legislações vigentes no país.

Apesar do foco ser diferente quando falamos de PE na visão micro e macroeconômicas, as ferramentas utilizadas são todas iguais, só o foco de trabalho e resultados esperados são diferentes. A visão estratégica é fundamental para atingirmos resultados melhores em todas as instâncias.

Prezado acadêmico, veja alguns exemplos de materiais sobre Planejamento Estratégico em uma visão macro.

• Manual de Planejamento Estratégico: https://cutt.ly/5fDzfOK.• Planejamento Estratégico do Ministério da Saúde: https://cutt.ly/8fDzz4S.• Plano Estratégico ANS (2020-2023): https://cutt.ly/yfDzb7H.• Plano de Gestão Anual (ANVISA/2020): https://cutt.ly/UfDzSIB.

DICA

Prezado acadêmico, veja alguns exemplos de planejamento estratégico hospitalar real, os quais estão disponíveis nos seguintes sites:

• http://www2.ebserh.gov.br/web/hc-ufmg/mapa-estrategico;• https://www.hcpa.edu.br/institucional/planejamento-estrategico;• http://hospitalalbertorassi.org.br/principal.asp?edoc=conteudo&secaono me=Planejamento%20Estrat%E9gico&secaoprincipalnome=HGG%20

em%20a%E7%E3o&secaoid=351&subsecaoid=256&lstrod=0.

DICA

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168

Nas leituras indicadas anteriormente, você pode comparar o foco estratégico na visão macro e micro, e aqui em direito médico hospitalar, a grande questão está relacionada ao foco de minimização de riscos e erros médico hospitalares, e isso você deve ter visto também nos exemplos de PE dos hospitais que apresentamos anteriormente, e que será o próximo tema a ser estudado.

3 AÇÕES DE PREVENÇÃO DE RISCOS E PREVENÇÃO DO ERRO MÉDICO

Você deve ter visto nos planejamentos estratégicos que referenciamos, que dois principais pontos trabalhados são as ações de prevenção ao risco e as ações de prevenção ao erro médico.

Todo gestor hospitalar deve sempre priorizar a prevenção de riscos e do erro médico, pois como já havíamos colocado, os hospitais são ambientes de grande perigo, conforme a NR 32, sendo classificados como:

• riscos físicos;• riscos químicos;• riscos biológicos;• riscos ergonômicos;• riscos de acidentes.

Prezado acadêmico, você já estudou os riscos no tópico anterior, assim como o conceito de risco e de erro médico, neste momento, recomendamos retornar aos seus apontamentos e rever esses conceitos para consolidá-los bem e não ficar nenhuma dúvida no que iremos estudar um pouco mais adiante.

CADERNO DE ESTUDOS

FONTE: <https://bit.ly/3BG3OxT>. Acesso em: 25 ago. 2020.

GIO

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169

Assim, toda ação de prevenção de riscos em ambientes hospitalares precisa estar em consonância com a NR 32 e com o manual da Anvisa de segurança no ambiente hospitalar no Brasil (ANVISA, 2015). Um dos principais pontos a desenvolver em um programa de minimização de riscos no ambiente hospitalar está em identifi car e mapear as áreas de risco, e dessa forma montando um programa de ação para gerar e manter um ambiente seguro, tarefa que, conforme a NR 32 e NR 4, deve ser executada pelas equipes do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) e da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA).

Com esse mapeamento de risco, teremos a indicação dos locais de riscos, aos quais os trabalhadores estão expostos permitindo, assim, analisar e defi nir o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais), no qual são defi nidas as medidas de proteção para redução dos riscos.

Um outro ponto a ser observado nos ambientes hospitalares é que, devido ao alto grau de vulnerabilidade, faz-se necessário uma Gestão de Riscos em Saúde e deve ser coordenada por especialista e deverá obedecer às NR e às principais normas e padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde, da Vigilância Sanitária e Epidemiológica. Um ponto a ser destacado é que o ambiente hospitalar é um ambiente em continua contaminação, pois, constantemente, surgem pacientes com as mais diversas enfermidades e por isso o trabalho de prevenção deve ser contínuo.

Prezado acadêmico, no Brasil, as Normas Regulamentadoras, também conhecidas como NR, são citadas no Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e foram aprovadas pela Portaria nº 3.214, no dia 8 de junho de 1978. Estas normas regulamentam e orientam os procedimentos obrigatórios ligados à segurança e saúde do trabalhador e são regidas pela CLT, sendo periodicamente revisadas pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social. Na NR 9, as referências e a descrição de como elaborar o PPRA para minimizar os riscos no ambiente hospitalar.

NOTA

Prezado acadêmico, leia o artigo Biossegurança em saúde: os riscos físicos no ambiente hospitalar, disponível no endereço: https://cmtecnologia.com.br/blog/riscos-fi sicos-ambiente-hospitalar/.

DICA

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Como já falamos, são muitos os riscos nos ambientes hospitalares, e o gestor é o responsável pela aplicação das metodologias e procedimentos para garantia da segurança de todos os usuários, sejam trabalhadores da saúde, pacientes ou visitantes, e, para que isso ocorra, ele deve seguir as normativas apresentadas pelas NR e Anvisa conforme já apresentamos, agindo dessa maneira também se reduz o risco de judicialização de causas provocadas por esses fatores.

O segundo ponto que temos de estar atentos é como reduzir as condições de erro médico. Entenda que o ambiente hospitalar é um ambiente bastante seguro, apesar dos riscos a que está submetido, pois está sujeito a diversos protocolos bastante rígidos em relação aos mais diversos fatores que está sob influência, e isso vale, também, para as ações dos médicos.

A condição de erros médicos é uma exceção. De acordo com a Fiocruz (POLÍTICAS, 2020, s.p.) temos que “o SUS beneficia cerca de 180 milhões de brasileiros e realiza por ano cerca de 2,8 bilhões de atendimentos”, e aí são considerados os procedimentos ambulatoriais até atendimentos de alta complexidade.

Conforme Fioravanti (2020, p. 59) todo ano, “19,4 milhões de pessoas tratadas em hospitais no Brasil, 1,3 milhão sofre pelo menos um efeito colateral causado por negligência ou imprudência durante o tratamento médico”. Já, conforme o CNJ (2019), foram contabilizados 107.612 novos casos de judicialização por erro médico no Brasil, no ano de 2018.

Os números assustam, mas a verdade é que esses números estão crescendo a cada ano, conforme CNJ (2019), e por isso é tão importante as ações para prevenção da ocorrência do erro médico, e novamente vemos a atenção de gestores e médicos, e principalmente protocolos robustos neste sentido.

Conforme o quadro apresentado por Pieritz (2020a), adaptado das orientações de Souza (2007), temos dicas que deveriam ser seguidas pelos gestores em processos de prevenção ao erro médico.

QUADRO 1 – ASPECTOS DESTACADOS NA PREVENÇÃO DO ERRO MÉDICO NAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE

ASPECTOS CARACTERÍSTICAS

Consentimento informado

É a autorização do paciente, após ser devidamente instruído, e com uma compreensão adequada do que lhe foi dito, para realizar exames complementares e receber tratamentos médico-cirúrgicos.

Pois, com este consentimento informado, devidamente documentado, por escrito e com duas testemunhas, o profissional de saúde tem como comprovar que se desincumbiu a contento do dever de conselhos que tem para com o paciente.

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Instrução ao paciente

Já que com a necessidade do consentimento informado, bem elaborado, fica evidente a importância de o paciente ser devidamente instruído sobre o seu tratamento médico em todos os aspectos, e esta instrução compreende:

a) Instrução propriamente dita, na qual lhe será explanado tudo referente à sua doença, exames e tratamentos, inclusive prognóstico.

b) Instruções e advertências, na qual lhe serão fornecidas ainda instruções sobre sua doença, mas incluindo aqui explicações de determinados cuidados que deve ter para que se estabeleçam condições as mais propícias possíveis à recuperação da sua higidez, bem como do aparecimento de sinais e sintomas da evolução de sua doença, ou até do tratamento que recebeu, incluindo medicações, que necessitem cuidados médicos suplementares.

c) Contraindicar determinadas condutas, que possam influir desfavoravelmente no seu tratamento, consequentemente na sua cura, ou mesmo causar efeitos adversos ao seu organismo.

Registro médico

Que consiste na anotação sistemática por todos os membros do corpo clínico, primordialmente no prontuário do paciente, de:

a) Observações médicas multidisciplinares de seu estado de saúde em todos os aspectos, incluindo os tratamentos prescritos, tudo isto detalhadamente.

b) Também se tem a necessidade de os médicos fazerem uso correto dos demais mecanismos de comunicação interna, e até externa, que se fizerem necessários.

Prontuário do paciente

O prontuário do paciente deve ter um correto preenchimento, por todos os membros da equipe multiprofissional de saúde que presta atendimento ao paciente.

O prontuário do paciente deve permitir aos demais membros da instituição o conhecimento integral do estado clínico do paciente, assim como dos porquês das diversas medidas que forem tomadas em relação ao seu tratamento, em todos os campos de atuação das diversas profissões de saúde.

Instrução do “staff”

O aprimoramento ético que pode se situar basicamente no aperfeiçoamento da boa relação médico-paciente, e atualização técnica, com instrução profissional permanente, através da educação continuada em termos de atualização e aperfeiçoamento.

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Além disso, devem ser estabelecidos mecanismos para testar periodicamente habilidades técnicas do “staff” da instituição de saúde.

Pesquisa de procedimentos

que causam danos aos pacientes

Pesquisar quais os procedimentos que causam danos aos pacientes, incluindo-se aí:

• Levantamentos prospectivos, e retrospectivos no sentido de identificar em quais atividades profissionais de atendimento aos pacientes ocorrem estes eventos adversos.

Possibilitar que os pacientes

e seus acompanhantes

se queixem

Possibilitar que os pacientes e seus acompanhantes se queixem, através da:

• Implantação de canais de comunicação que permitam a estes manifestar seus eventuais descontentamentos, mágoas, com o atendimento médico-hospitalar prestado na instituição.

Relato espontâneo,

confidencial e não sujeito à

punição

Os Relatos espontâneos, confidenciais e não sujeito à punição, de acontecimentos adversos ao paciente, deve ser estimulado no seio da equipe da instituição de saúde.

O qual deve-se permitir que os eventuais acontecimentos danosos aos pacientes, erros, sejam comunicados sem o receio de sanções ou de que estes fatos venham a ser tornados públicos.

Evento sentinela

Aquele fato irregular que ocorre no atendimento médico-hospitalar (serve como sinal de alerta). E, deve ter uma vigilância permanente, quanto ao seu aparecimento na atividade da instituição de saúde.

Assim, possibilitando que sejam identificadas áreas ou procedimentos que potencialmente venham a ser causadores de danos aos pacientes, já que este evento sentinela pode estar sinalizando a existência de problema organizacional ou assistencial;

Normas e rotinas de

procedimento

Normas e rotinas de procedimento devem ser bem elaboradas e obedecidas

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Reuniões com médicos

e demais funcionários

Reuniões com médicos e demais funcionários devem ser atividades rotineiras.

• Para que sejam transmitidas regularmente a estes a realidade da instituição em termos de danos aos pacientes causados por eventos adversos,

• Para debater a sua problemática no que tange à prevenção dos mesmos.

FONTE: Adaptado de Souza (2007 apud PIERITZ, 2020a, p. 89-91)

São muitos pontos importantes apresentados por Pieritz (2020a) no processo de prevenção ao erro médico, e o mais importante que envolve diversas visões e ambientes do meio hospitalar ou de clinicas.

Gouveia (2007, p. 2) descreve que “errar é humano, mas na medicina é crime”, e os médicos precisam prevenir-se para que não ocorra o erro, pois, se causarem dano a seus pacientes, responderão jurídica e eticamente pelos seus atos.

Pieritz (2020a), ao descrever algumas das principais formas de prevenção ao erro médico – as quais podem ser vistas no Quadro 10 da Unidade 2 –, buscou detalhar diversos pontos importantes, mas sempre é importante a vontade do médico para que isto realmente ocorra. Um dos elementos fundamentais para prevenção ao médico em relação a possíveis demandas judiciais é que faça, e mantenha arquivado, um prontuário médico de todos os seus pacientes e que o mantenha atualizado de todas as circunstâncias de atendimento que possam ocorrer.

O prontuário médico é o documento comprobatório de todas as atividades realizadas além de medicações, exames e outros fatos ocorridos com o paciente, e vale ressaltar que o prontuário médico é um documento comprobatório em questões jurídicas.

Prezado acadêmico, conheça as leis específicas relacionadas a prontuário médico e a prontuário médico eletrônico consultando:

• Lei nº 13.787, de 27 de dezembro de 2018, a qual dispõe sobre a digitalização e a utilização de sistemas informatizados para a guarda, o armazenamento e o manuseio de prontuário de paciente. Disponível em: https://cutt.ly/kfDT0X9.

• Lei nº 13.853, de 8 de julho de 2019, a qual altera a Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018, para dispor sobre a proteção de dados pessoais e para criar a Autoridade Nacional de Proteção de Dados; e dá outras providências. Disponível em: https://cutt.ly/mfDT3mN.

DICA

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174

Em hospitais, clínicas e outros ambientes de atendimento à saúde são fundamentais os trabalhos de prevenções aos riscos e também ao erro médico, mas sempre precisamos ficar atentos, pois as condições nesses ambientes podem mudar de um instante para outro.

O MODELO DO QUEIJO SUÍÇO NA PREVENÇÃO DO ERRO MÉDICO

No que tange às ações de prevenção do erro médico-hospitalar, Reason (2009) apud Milagres (2015, p. 25) desenvolveu um modelo de prevenção, denominando de “Modelo do Queijo Suíço”, o qual tem como base que:

[...] este modelo coloca que um erro ativo (na ponta) é o resultado de uma sequência alinhada de erros latentes (no processo), caracterizados pelos orifícios das fatias de queijo, e que raramente um erro em uma única ponta é suficiente para causar dano. Sobre erros ativos, entendem-se aqueles que ocorrem no nível do operador da linha de frente do trabalho, sendo seus efeitos sentidos quase que imediatamente, já os erros latentes ficam adormecidos dentro do sistema e estão relacionados a influências organizacionais, supervisão insegura e pré-condições para atos inseguros (REASON, 2000; REASON, 2009; WACHTER, 2013 apud MILAGRES, 2015, p. 25).

Deste modelo, pode-se assumir que existe uma predisposição ativa e outra passiva para o cometimento de um erro médico, pois existem fatores ambientais e humanos que, se alinhados, desencadeiam a possibilidade do erro acontecer, e Reason mostrou que fatos e atitudes devem estar alinhados em seus acontecimentos que resultam no erro médico, como exemplificou. O seu modelo, denominado de “Modelo do Queijo Suíço”, está representado na Figura 1.

FIGURA 1 – MODELO DO QUEIJO SUÍÇO DE JAMES REASON

FONTE: Reason (2009 apud Milagres, 2015, p. 26)

Assim, Reason (2009) apud Milagres (2015, p.25) complementa, expondo que “é necessário diminuir os orifícios do queijo suíço e criar diversas camadas sobrepostas (barreiras), objetivando impedir o realinhamento dos buracos, evitando

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assim que o erro ocorra”, ou seja, faz-se necessário diminuir drasticamente estes fatores humanos e ambientais que promovem o desencadeamento do erro médico hospitalar, além de não os fazer coincidir para que ocorra o erro médico.

Segundo Pedreira e Harada (2009) apud Milagres (2015, p. 26) “o erro foi, por muito tempo, atribuído ao mau profissional e a um problema individual, excluindo-se o sistema de atendimento e a complexidade da tomada de decisão” e a outros fatores que também poderiam influenciar e acarretar o erro médico.

Os atendimentos, juntamente à gestão hospitalar, podem, por sua vez, contribuir para a geração do erro médico e devem ser levados em consideração no momento de se desenvolver um programa de gestão de riscos.

Existem diversos fatores que podem influenciar o erro médico e, conforme exposto, eles precisam estar alinhados e sintonizados para que possam ocorrer. É dever da gestão trabalhar a fim de evitá-los, assim como é o dever dos médicos prestar serviço ao paciente dentro dos padrões éticos e profissionais exigidos e, dessa forma, minimizar a possibilidade do erro médico.

FONTE: PIERITZ, V. L. H. A judicialização da saúde por erro médico no Estado de Santa Catarina, Brasil. 2020a. Tese (Doutorado em Direito) – Universidad Columbia Del Paraguay, Assunção, 2020. (No prelo). p. 97-98.

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RESUMO DO TÓPICO 2Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Um dos pontos primordiais da gestão em saúde é o planejamento estratégico em saúde para direcionar os atos e assim buscar a maior eficiência, eficácia e efetividade em suas ações, principalmente, focadas em reduzir riscos a todos em relação a sua saúde.

• O planejamento estratégico em saúde deve focar na preservação da saúde e na redução de riscos institucionais.

• Planejamento estratégico é o ato organizado de pensar sobre o futuro da instituição de modo a se fazer planos de ação para o atingimento dos objetivos futuros.

• Na área da saúde, o PE tem como foco principal a área de prevenção de riscos.

• O planejamento estratégico não é o resultado em si, mas é o mapa e a simulação dos diversos resultados possíveis, mostrando aos gestores possíveis caminhos a serem tomados se determinado fato ocorrer.

• A visão microeconômica está associada à visão de uma instituição, ou seja, o planejamento das ações para um hospital, grupo hospitalar ou ainda clínicas etc. visão está associada a uma visão organizacional e de preservação da saúde e minimização de riscos do ambiente da instituição.

• A visão macroeconômica é a visão ampliada, ou seja, trabalhamos a visão da saúde em nível, municipal, estadual e federativa, logo precisamos desenvolver as estratégias institucionais e de prevenção conforme as legislações vigentes no país.

• A NR 32 classifica os riscos em ambientes hospitalares como: riscos físicos; riscos químicos; riscos biológicos; riscos ergonômicos; e riscos de acidentes.

• O mapeamento de risco indica os locais de riscos aos quais os trabalhadores estão expostos permitindo assim analisar e definir o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais), no qual são definidas as medidas de proteção para redução dos riscos.

• Os principais pontos a serem trabalhados pelos médicos para se evitar o erro médico são, honestidade e humanidade, prontuário médico, exames complementares, relação de confiança, consentimento informado do paciente, área do conhecimento médico, evitar práticas não consagradas pela medicina, evitar atendimento por telefone.

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1 Os ambientes hospitalares possuem um elevado grau de risco, havendo diversas condições que geram riscos aos seus médicos, funcionários, prestadores de serviços, pacientes e visitantes. Por este elevado grau de risco, temos a Anvisa e a NR 32 orientando sobre o tema. Analisando os riscos definidos pela NR 32, assinale a opção que traz a opção verdadeira.

a) ( ) Riscos profissionais, Riscos químicos, Riscos biológicos, Riscos médicos e Riscos de acidentes.

b) ( ) Riscos físicos, Riscos químicos, Riscos biológicos, Riscos matemáticos e Riscos históricos.

c) ( ) Riscos físicos, Riscos químicos, Riscos biológicos, Riscos ergonômicos e Riscos de acidentes.

d) ( ) Riscos imunológicos, Riscos químicos, Riscos biológicos, Riscos ergonômicos e Riscos de incidentes médicos.

e) ( ) Riscos imunológicos, Riscos químicos, Riscos biológicos, Riscos ergonômicos e Riscos profissionais.

2 Identificar os principais pontos de risco em um ambiente hospitalar é de fundamental importância para se desenvolver programas de minimização de risco. SESMT e a CIPA buscam desenvolver ações constantes conforme as NR. Avalie as asserções a seguir:

I- Um dos principais pontos a desenvolver em um programa de minimização de riscos no ambiente hospitalar está em identificar e mapear as áreas de risco, e dessa forma montar um programa de ação para gerar e manter um ambiente seguro, tarefa que conforme a NR 32 e NR 4, deve ser executada pelas equipes do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) e da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA).

PORQUE

II- Com esse mapeamento de risco, teremos a indicação dos locais de riscos aos quais os trabalhadores estão expostos permitindo, assim, analisar e definir o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais), no qual são definidas as medidas de proteção para redução dos riscos.

Assinale a alternativa CORRETA:a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.c) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.d) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 3 -

BIOÉTICA, BIODIREITO, BIOSSEGURANÇA, EPIDEMIOLOGIA E VIGILÂNCIA EM SERVIÇOS

DE SAÚDE

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, neste último tópico estudaremos diversas condições que afetam diretamente as questões ligadas à saúde no ambiente hospitalar, clínicas e ambientes outros relacionados à saúde.

Apesar de a gestão sempre estar enfocada em diminuir os riscos nos ambientes da saúde, temos muitos pontos que podem fugir ao controle local principalmente em relação à biossegurança e nas questões epidemiológicas.

Nessas condições extremas relacionadas à saúde, temos, em um primeiro momento, a preocupação de salvar vidas, mas em muitas situações após a saída dessa situação extremada, temos o surgimento de muitas questões que são judicializados pelos pacientes ou familiares.

Na atualidade, com robôs cirúrgicos, manipulações genéticas, novas e velhas epidemias surgindo em diversas partes do mundo, condições inadequadas de sobrevivência de uma grande parte da população mundial e inclusive o Brasil, temas como biossegurança, epidemiologia e vigilância em saúde têm se tornado mais corriqueiros em nosso dia a dia, e têm influenciado em muito as questões hospitalares.

UNIDADE 3

Temos, ainda, as questões éticas relacionadas a estes assuntos de segurança em saúde, ou ainda relacionadas a manipulações genéticas, criação de remédios e vacinas, testes médicos e à própria questão de inseminação artificial.

Vamos conhecer, então, um pouco mais dos assuntos bioética, biodireito, biossegurança, epidemiologia e vigilância em serviços de saúde.

Prezado acadêmico, procure se inteirar das questões relacionadas às últimas grandes epidemias mundiais, como o HIV, gripe H1N1 e o COVID-19, fora outras endemias que foram contidas localmente pela OMS ou outros órgãos de saúde locais, como malária, febre amarela, dengue, tifo, tuberculose, sarampo etc.

DICA

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2 BIOÉTICA E BIODIREITO

Prezado acadêmico, aqui vemos muitos conceitos relacionados à ética e ao direito, então vamos relembrar de alguns conceitos básicos, iniciando pelo conceito de ética.

Conforme Pieritz (2020b, p. 11, grifo nosso) podemos entender que “a ética reflete os hábitos e costumes gerais de uma sociedade, suas normativas e convenções, que fora institucionalizada pelo coletivo social, e a moral é a forma que conduzimos nossos atos perante o outro, ou seja, é a conduta em si”.

Conforme Soares, Soares e Marques (2010, s.p.) podemos ainda estender o conceito de ética a:

[...] é o estudo dos conceitos envolvidos no raciocínio prático: o bem, a ação correta, o dever, a obrigação, a virtude, a liberdade, a racionalidade, a escolha. É também o estudo de segunda ordem das características objetivas, subjetivas, relativas ou céticas que as afirmações feitas nesses termos possam apresentar. Sendo distinto do conceito de moral, que em sentido amplo é o conjunto das regras de conduta admitidas em determinada época ou por um grupo de pessoas. Nesse sentido, o homem moral é aquele que age bem ou mal na medida em que acata ou transgride as regras do grupo (SOARES; SOARES, MARQUES, 2010, s.p.)

Logo quando falamos de manipulações genéticas, de gravidez por inseminação artificial, pesquisas genéticas nos mais diversos campos, assim como testes médicos e novos procedimentos médicos, temos as questões éticas também influenciando nas decisões médicas.

Temos também o conceito de bioética que, conforme Soares, Soares e Marques (2010, s.p.), pode ser entendido como:

A Bioética é um ramo da ética que investiga os problemas que derivam especificamente da prática médica e biológica, o que inclui os problemas da natureza e da distribuição do tratamento, a esfera da autoridade do paciente, do médico etc., os limites das intervenções e experiências aceitáveis, além da razoabilidade da pesquisa genética e das suas aplicações. (SOARES; SOARES, MARQUES, 2010, s.p.).

Como você pôde ver, a bioética envolve toda uma assertiva médica de trabalho com o paciente, iniciando já em seus primeiros atendimentos. Como você já percebeu, toda a tratativa com o paciente deve estar pautada na bioética, e esta, legalmente, recorre em pautar suas análises levando em consideração o Código de Ética Médica e o Código de Processo Ético-profissional, de acordo com o Conselho Federal de Medicina, materiais estes já estudados neste livro didático.

A bioética, em seus pontos primordiais, busca desenvolver uma referência para os aspectos que derivam da vida e assim desenvolve todo um processo de análise relacional entre o trabalho profissional do médico com o paciente e uma atitude de lidar com a vida deste, buscando obedecer aos preceitos da lei, mas também salvaguardando a vida digna do ser.

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Outro conceito que precisamos entender é o de biodireito, que conforme Soares, Soares e Marques (2010, s.p.) pode ser entendido como sendo o “ramo do Direito que trata da teoria, da legislação e da jurisprudência relativas às normas reguladoras da conduta humana em face dos avanços da Medicina e da Biotecnologia”.

A base jurídica da bioética está no Direito Civil, o Direito Constitucional e o Direito Penal considerando a legislação brasileira, entendendo que a bioética busca garantir a proteção da dignidade do ser humano, levando em consideração questões relacionadas ao surgimento de novas tecnologias médicas e biotecnológicas.

A evolução da medicina, com seus tratamentos inovadores, as pesquisas dos cientistas médicos e das biotecnologias estão presentes em nosso dia a dia, em vacinas e tratamentos novos e experimentais, em todas as frentes da medicina e experiências que hoje podem ser questionadas eticamente, o que poderão ser o comum num futuro próximo da medicina. Por exemplo, temos a inseminação artifi cial, tão comum na atualidade, mas que já gerou muitos embates num passado recente. Atualmente, temos alguns vieses éticos relacionados à escolha do sexo dos bebês in vitro, eliminação de doenças genéticas nos fetos in vitro, clonagem de seres humanos (proibido), criação de órgãos em laboratórios etc.

A bioética e o biodireito estão claramente defi nidos para as questões legais da medicina geral, mas está no “fi o da navalha” com relação às pesquisas científi cas e algumas novas tecnologias médicas em desenvolvimento. Isto é importante destacar, pois na história da humanidade sempre temos esses vieses evolucionistas, e, atualmente, estamos vivenciando uma nova era de novas tecnologias que vieram para ajudar a humanidade.

Quando analisamos as duas áreas, verifi camos que a semelhança principal entre as duas é que ambas trabalham a questão do direito à vida, a bioética na visão da ética na medicina enquanto a o biodireito busca regular estas ações com o ordenamento jurídico.

Prezado acadêmico, leia os seguintes artigos para se aprofundar do tema dessa unidade:

• Bioética versus biodireito: breves considerações dos institutos perante a ética, moral e normas jurídicas: https://cutt.ly/3fDYSWv.

• Refl exões em ética, bioética e biodireito: https://cutt.ly/4fDYS9e.

DICA

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182

O biodireito procura garantir que não se cometam práticas abusivas contra a vida, pois o direito à vida é um bem inviolável e protegido pela legislação brasileira, e assim o biodireito trata dos limites médicos em relação ao tratamento com o paciente.

3 BIOSSEGURANÇA, EPIDEMIOLOGIA E VIGILÂNCIA EM SAÚDE

Temos, atualmente, diversos tipos de riscos biológicos que a humanidade pode vir a sofrer, que vão desde bactérias e vírus já conhecidos pelo ser humano, ou de suas mutações, assim como de novas ameaças que surgem constantemente. São ameaças naturais ou ainda podem ser fabricadas pelo homem, apesar de ainda não haver nenhuma prova de aplicação prática de aplicação para o “mal”, mas para o “bem” temos diversas aplicações comprovadas como a criação de grãos (soja, milho, algodão entre outros produtos transgênicos), vacinas etc.

Analisar biossegurança, epidemiologias e vigilância em saúde são pontos importantes na manutenção da saúde da população e é primordial ter boas políticas para a sua efetividade, vide Figura 6.

FIGURA 6 – TRIÂNGULO DA PREVENÇÃO EM SAÚDE POPULACIONAL

FONTE: A autora

Atualmente, temos uma grande preocupação mundial relacionada à biossegurança, vigilância epidemiológica e vigilância em saúde de uma forma geral, pois é necessário alimentar e manter vivos 7,8 bilhões de humanos na Terra.

Apesar de todas as tecnologias disponíveis, a humanidade sempre estará em risco em relação à biossegurança, pois são muitos os fatores biológicos que podem afetar o ser humano, seja natural ou criado pelo homem, fato que pode ser evidenciado com as epidemias de HIV, COVID-19, entre outros.

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Com a epidemia do COVID-19, no ano de 2020, novas condições relacionadas à biossegurança, epidemias e vigilância em saúde devem ser tomadas em nível mundial e nos países, mas novos arcabouços jurídicos também deverão ser defi nidos, e com uma atenção redobrada a ser tomada pelos médicos, profi ssionais da saúde e as instituições de cuidado da saúde, pois novas demandas jurídicas surgirão por esse fato, verídicas ou não, mas é um fato que, principalmente no Brasil, deverá ser acentuado, pois é um país com muitas demandas judicializadas na saúde.

Conceitualmente, podemos defi nir biossegurança, conforme Pires (2020, p. 5), como um “conjunto de medidas e procedimentos técnicos necessários para a manipulação de agentes e materiais biológicos, capaz de prevenir, reduzir, controlar ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e vegetal, bem como ao meio ambiente”.

Podemos, então, extrapolar pelo conceito que biossegurança tem a ver com um conjunto de medidas que são tomadas para ações de eliminação de riscos ou em situações diversas no mínimo a prevenção e minimização dos riscos à saúde do homem, dos animais e do meio ambiente.

Prezado acadêmico, o tema biossegurança é bastante extenso e não temos como entrar a fundo em todos os pormenores legais e questões de aplicação, por isso para quem deseja se aprofundar, recomendamos a leitura dos seguintes materiais:

• Biossegurança e gerenciamento de resíduos – atualizações: https://cutt.ly/mfDQO15;

• Lista de manuais/livros/guias/diretrizes da Anvisa: https://cutt.ly/3fDQJwF;• Manual de Biossegurança: https://cutt.ly/ff DQ50A;• Biossegurança em saúde: prioridades e estratégias de ação: https://cutt.

ly/yfDW44n;• Biossegurança no atendimento de pacientes com sarampo nos

estabelecimentos de saúde: https://cutt.ly/XfDEuJm;• Classifi cação de Risco dos Agentes Biológicos: https://cutt.ly/5fDEx07.

NOTA

A biossegurança, atualmente, envolve diversas ações em diversas condições, como questões pessoais relacionadas à higiene pessoal, descarte de material de uso pessoal e geral (seringas de injeção, máscaras, material biológico, restos fi siológicos etc.), arquitetura especiais hospitalares (raio X, laboratórios de exames etc.), entre outros pontos a serem observados para a segurança de todos.

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Dentro dessa visão da biossegurança temos ainda as questões ligadas às epidemiologias. Podemos definir epidemiologia, conforme LAST (1998 apud Reis, 2020, p. 13), como “o estudo da frequência, da distribuição e dos determinantes dos estados ou eventos relacionados à saúde em específicas populações e a aplicação desses estudos no controle dos problemas de saúde”. Reis (2020, p. 13) complementa descrevendo que:

Assim, trata-se de uma disciplina fundamental no campo da saúde pública voltada para a compreensão do processo saúde-doença no âmbito de populações (sociedades, coletividades, comunidades, classes sociais, grupos específicos etc.). Sua abordagem voltada a populações a difere da clínica, que estuda o mesmo processo, entretanto, em indivíduos. O conceito de epidemiologia evidencia sua abrangência e possibilidades de uso na saúde pública, sobretudo, no que se refere ao seu papel no desenvolvimento de estratégias de promoção e proteção à saúde, sendo fundamental para a formulação de políticas de saúde. Nesse contexto, a epidemiologia não é apenas uma disciplina teórica, mas também essencialmente prática.

Logo, as questões epidemiológicas estão no foco de ação governamental e das instituições de saúde, pois qualquer situação que possa afetar um grupo de pessoas expressivos em relação ao seu bem-estar, deve ter ação imediata para a sua contenção. Vemos, atualmente, uma grande atenção por parte do governo através do Ministério da Saúde, bem como pela OMS em nível mundial uma atenção enorme em qualquer sinal que possa indicar uma epidemia.

Prezado acadêmico, a área da biossegurança engloba também a questão dos resíduos dos serviços de saúde e, conforme Pires (2020, p. 46), temos que:

• Os Resíduos dos Serviços de Saúde equivalem em média a 1% da geração de resíduos sólidos urbanos, dependendo da complexidade do atendimento, podendo chegar, de acordo com a OMS, a 3%. Dessa porcentagem tem-se que:o 80%: podem ser equiparados aos resíduos domiciliares;o 15%: patológico e potencialmente infectantes;o 1%: perfurocortantes;o 3%: químicos e farmacêuticos;o 1%: diversos – radioativo, citostático, Hg, baterias.

IMPORTANTE

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Para encerrarmos este subtópico vamos ao último conceito a ser trabalhado: a vigilância em saúde.

Quando verificamos as questões relacionadas à biossegurança, epidemiologia e outras situações que podem afetar o bem-estar de uma população, precisamos desenvolver estratégias para prevenir e antecipar possíveis condições de risco para a população, e aí que entra a vigilância em saúde.

De acordo com o CNS (2018, s.p.), em seu artigo 2º § 1, entende-se por Vigilância em Saúde por todo:

[...] o processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise de dados e disseminação de informações sobre eventos relacionados à saúde, visando o planejamento e a implementação de medidas de saúde pública, incluindo a regulação, intervenção e atuação em condicionantes e determinantes da saúde, para a proteção e promoção da saúde da população, prevenção e controle de riscos, agravos e doenças.

De acordo com os conceitos propostos por Reis (2020), temos que:

“A endemia é definida como a presença habitual de uma doença, dentro dos limites esperados em uma determinada área geográfica, por um período de tempo ilimitado. Pode, também, referir-se à ocorrência usual de uma determinada doença, dentro de uma área” (GORDIS, 2010 apud REIS, 2020, p. 31-32).

Esse fenômeno ocorre quando há uma constante renovação de suscetíveis na comunidade, exposição múltipla e repetida destes a um determinado agente, isolamento relativo sem deslocamento importante da população em uma zona territorial. Por exemplo: malária, febre amarela, doença de Chagas, esquistossomose etc. (MEDRONHO; WERNECK; PEREZ, 2009 apud REIS, 2020, p. 32).

A epidemia é definida por Reis (2020, p. 32) como “a ocorrência em uma comunidade ou região, de um grupo de doenças de natureza similar, excedendo, claramente, a expectativa normal, derivada de uma fonte comum de propagação”.

O termo pandemia, conforme Reis (2020, p. 33), refere-se a “uma epidemia de grandes proporções geográficas, ou seja, atingindo vários países, inclusive mais de um continente”. Reis (2020, p. 33) define surto como “ocorrência de uma epidemia restrita a um espaço geográfico circunscrito”. O surto tem uma ocorrência epidêmica, e o autor reforça que se analisarmos mais aprofundadamente temos que todos os casos estão relacionados entre si e ocorrem em uma área geográfica pequena e delimitada (como vilas ou bairros) ou em uma população institucionalizada (como creches, asilos, escolas e presídios).

NOTA

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O CNS (2018, s.p.), em seu artigo 2º § 2, complementa descrevendo que:

§2 A PNVS incide sobre todos os níveis e formas de atenção à saúde, abrangendo todos os serviços de saúde públicos e privados, além de estabelecimentos relacionados à produção e circulação de bens de consumo e tecnologias que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde.

Temos, ainda, a Resolução nº 588/2018, que descreve a Política Nacional de Vigilância em Saúde (PNVS), que compreende a articulação de diversos saberes, os quais vão desde os processos e práticas relacionados à vigilância epidemiológica, vigilância em saúde ambiental, vigilância em saúde do trabalhador e vigilância sanitária, devendo, ainda, alinhar-se com o conjunto de políticas de saúde, trabalhando em conjunto com o SUS, considerando a transversalidade das ações de vigilância em saúde na determinação do processo saúde-doença de modo a minimizar ou até mitigar os efeitos na população (CNS, 2018).

Temos, assim, uma preocupação legal que está constituída na Constituição Federal e leis complementares relacionadas à preocupação com a saúde da população brasileira, quando as leis estão redigidas, mas, diversas vezes, não são aplicadas a contento da população e por isso vemos a proliferação dos casos de judicialização, principalmente relacionadas a erros médicos e questões da saúde no judiciário brasileiro.

São muitos os detalhes a serem trabalhados de forma micro e macro quando estamos tratando de saúde, principalmente na visão prevencionista em relação a pessoa, ou a população em si, mas, por maiores que sejam as medidas adotadas, seguindo os protocolos defi nidos pelos diversos órgãos municipais, estaduais ou federais, ainda assim corremos o risco de demandas judiciais.

A saúde é uma das garantias estipuladas na Constituição Federal para o povo brasileiro, mas nem sempre o estado consegue garanti-la, ou ainda temos muitas outras questões ligadas ao tema “saúde” ou atendimento médico que você estudou neste livro didático, que podem infl uir nas demandas jurídicas.

Caro acadêmico, conheça mais a fundo a Política Nacional de Vigilância em Saúde (PNVS), recomendamos acessar a Resolução nº 588/2018 do Conselho Nacional de Saúde: https://www.conasems.org.br/wp-content/uploads/2019/02/Reso588.pdf.

DICA

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187

Prezado acadêmico! No âmbito do Direito Médico Hospitalar, indicamos para o seu aprofundamento na questão abordada neste livro didático, as seguintes bibliografias.Boa leitura!

FONSECA, Pedro H.C.; FONSECA, Maria Paula. Direito do Médico: de acordo com o Novo CPC. Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2016.

KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico. 10. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais Ltda., 2019.

DANTAS, Eduardo. Direito médico. 4. ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2019.

FRANÇA, Genival Veloso de. Comentários ao Código de Ética Médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.

FRANÇA, Genival Veloso de. Direito médico. 14. ed. Rev. E atual. Rio de Janeiro: Forense, 2017.

DICAS

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188

MELO, Nehemias Domingos de. Responsabilidade civil por erro médico: doutrina e jurisprudência. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

Estas obras são para indicar possíveis pesquisas e aprofundamento de sua compreensão relativas ao Direito Médico Hospitalar!

Caro acadêmico, para encerrarmos esta unidade indicamos mais duas leituras para complementar seu conhecimento a respeito dos temas epidemiologia e vigilância sanitária:

• Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade no Sistema Único de Saúde: https://cutt.ly/LfDY0eb.

• Guia de Vigilância em Saúde: https://cutt.ly/IfDY1lo.

DICA

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189

E assim terminamos este livro didático, esperamos que você tenha aproveitado bem os conhecimentos aprendidos neste material de Direito Médico Hospitalar. Além de trazermos diversos temas pertinentes ao assunto, também lhe trouxemos diversas leis que os fundamentam, bem como diversas indicações de leituras importantes para o aprofundamento do seu conhecimento.

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REFLEXÕES EM ÉTICA, BIOÉTICA E BIODIREITO

Saulo Cerqueira de Aguiar SoaresIvna Maria Mello Soares

Herbert de Souza Marques

Descrição: O presente artigo trata dos dilemas que envolvem o Biodireito, enfocando aspectos da Ética e da Bioética aplicados, tendo como escopo debate crítico a respeito das principais polêmicas nesse sentido.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”, assim o filósofo alemão Friedrich Nietzsche por meio desse aforismo lançou seu ponto de vista pela busca das verdades. E a verdade é uma busca constante dentro da Ética e da Filosofia da Moral, já que as verdades se baseiam em situações do cotidiano em que se aplicam as concepções filosóficas que se acreditam corretas. No entanto, pergunta-se como generalizar ações de cunho ético se como dizia o pensador grego Heráclito “um homem não entra duas vezes no mesmo rio. Na segunda vez não é o mesmo homem, nem o mesmo rio”. A verdade não é fixa. Vale dizer, é algo constante que muda de acordo com o tempo e as situações customizadas. A partir do pressuposto que a verdade é uma busca constante, mas não um fim concluído é iniciado o debate sobre questões éticas, bioéticas e do biodireito no cotidiano do médico.

Clonagem humana, biotecnologia, organismos geneticamente modificados (transgênicos), transplantes de órgãos e tecidos humanos, transfusão sanguínea não permitida pelo paciente, reprodução assistida, “barriga de aluguel”, uso de células-tronco embrionárias, aborto, eutanásia, distanásia, ortotanásia, relacionamento entre médicos e graduandos; uma coletânea de situações polêmicas estão presentes na nuvem de dilemas que circunda o cotidiano da prática médica, e decisões de cunho moral fazem parte da vida do médico durante sua jornada profissional; de modo que em certas situações fica o Médico assolado em decidir questões morais que contemplam consequências desde o cunho individual ao social.

ÉTICA

Ética é o estudo dos conceitos envolvidos no raciocínio prático: o bem, a ação correta, o dever, a obrigação, a virtude, a liberdade, a racionalidade, a escolha. É também o estudo de segunda ordem das características objetivas, subjetivas, relativas ou

LEITURA COMPLEMENTAR

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céticas que as afirmações feitas nesses termos possam apresentar. Sendo distinto do conceito de moral, que em sentido amplo é o conjunto das regras de conduta admitidas em determinada época ou por um grupo de pessoas. Nesse sentido, o homem moral é aquele que age bem ou mal na medida em que acata ou transgride as regras do grupo.

BIOÉTICA

A Bioética é um ramo da ética que investiga os problemas que derivam especificamente da prática médica e biológica, o que inclui os problemas da natureza e da distribuição do tratamento, a esfera da autoridade do paciente, do médico etc., os limites das intervenções e experiências aceitáveis, além da razoabilidade da pesquisa genética e das suas aplicações.

BIODIREITO

Biodireito é o ramo do Direito que trata da teoria, da legislação e da jurisprudência relativas às normas reguladoras da conduta humana em face dos avanços da Medicina e da Biotecnologia. Os pilares desta disciplina jurídica encontram-se em três áreas específicas: o Direito Civil, o Direito Constitucional e o Direito Penal; sendo seu principal objetivo garantir a proteção da dignidade do ser humano, frente às novas tecnologias médicas e biotecnológicas presentes na sociedade contemporânea de diversas maneiras.

ÉTICA, BIOÉTICA E BIODIREITO APLICADOS

A Constituição Federal do Brasil, atualmente, vigente, em seu artigo 5° caput, diz “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade […]”; no mesmo artigo no inciso III diz “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradantes”, no inciso X diz “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

Além disso, a Constituição Federal na seção intitulada “Da Saúde” no artigo 196 dispõe que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”; e no artigo 197 pelo qual “são de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.”

Por sua vez, o Juramento de Hipócrates, passo obrigatório para todo Médico, diz: “Aplicarei os regimes para o bem dos doentes, segundo o meu saber e a minha razão, nunca para prejudicar ou fazer mal a quem quer que seja”.

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No exercício da Medicina o profissional é obrigado a pautar suas decisões tendo em vista o Código de Ética Médica e o Código de Processo Ético-Profissional, de acordo com o Conselho Federal de Medicina. O preâmbulo do Código de Ética Médica contém as normas éticas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício da profissão, independentemente da função ou cargo que ocupem; a fim de garantir o acatamento e cabal execução do Código, cabendo ao médico comunicar ao Conselho Regional de Medicina, com discrição e fundamento, fatos que tenha conhecimento e que caracterizem possível infringência ao Código e das normas que regulam o exercício da Medicina.

O Código de Ética Médica é composto 14 capítulos, e para o debate proposto alguns itens merecem ser citados, como o artigo 1º que afirma: “a Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e deve ser exercida sem discriminação de qualquer natureza”. Seu artigo 6 diz “o médico deve guardar absoluto respeito pela vida humana, atuando sempre em benefício do paciente. Jamais utilizará seus conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade”. O artigo 21 diz que é direito do médico “indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas reconhecidamente aceitas e respeitando as normas legais vigentes no País.”, em seu artigo 29 diz que é vedado ao médico “praticar atos profissionais danosos ao paciente, que possam ser caracterizados como imperícia, imprudência ou negligência”.

Por exemplo, a reprodução assistida é um dos maiores avanços tecnológicos obtidos pela Medicina em favor de casais denominados estéreis que poderiam realizar o desejo de ter um descendente; no entanto, a possibilidade de manipular células para gerar vida humana problematizou questões éticas. Logo, dilemas inerentes ao processo surgiram, como manipulações genéticas de casais homossexuais lésbicas; já que um casal do mesmo sexo pode ter um filho proveniente de esperma anônimo.

O fato de a criança gerada ter somente mães, e não um pai no processo educativo; avalia-se até que ponto eventualmente poderia interferir no desenvolvimento normal do ser humano no ambiente familiar, e o que esse novo fato poderia gerar na formação moral do indivíduo de modo que juridicamente as duas mães sejam consideradas tais?

Outra questão delicada envolvendo a tríade ética, bioética e biodireito é a existência dos organismos geneticamente modificados (transgênicos). Com o intuito de reduzir o custo de produção e garantir suposta melhoria de qualidade final do produto, muitos alimentos que consumimos diariamente são provenientes de organismos transgênicos, tais como cereais, frutas, entre outros. No entanto, até que ponto esses organismos interagem com o organismo do ser humano, para a longo prazo causar agravos à saúde? Não é possível garantir com firmeza que a segurança dos transgênicos para a saúde humana é garantida, pois só com um longo prazo de seu consumo na sociedade isso seria viável. Questão recorrente do Biodireito é o direito da informação do consumidor de conhecer que está ingerindo um alimento proveniente de modificação genética, já que é praxe grandes empresas do gênero alimentício sonegarem essa informação no rótulo de seus produtos, como maneira de ludibriar o consumidor e

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evitar intolerância por parte do mercado consumidor; algo inaceitável perante o Estado Democrático de Direito, pois o consumidor tem pleno direito de ser conhecedor da proveniência do que se alimenta.

Dilema comum dentro dos hospitais, na prática clínica médica diária, é a eutanásia, distanásia, ortotanásia, direito de morrer e suicídio assistido. Cotidianamente, o médico se depara com pacientes com prognóstico reservado que cientificamente não possuem possibilidade de prorrogar a vida de maneira considerada digna, como em pacientes terminais de centros de terapia intensiva, que ficam meses em estado vegetativo funcionando perante aparelhagem de suporte de vida.

Nestas situações qual a atitude correta a realizar? A eutanásia é conceituada como a prática de abreviar a vida de um doente de maneira controlada e assistida. A distanásia é o contrário da eutanásia, pois permite atrasar o máximo possível o desenrolar normal do organismo no processo da morte. Já a ortotanásia é a morte ocorrida sem a interferência dos médicos, como em situações que ao paciente em estado crítico não se fornece suporte de vida avançado e se deixa seguir o processo natural da morte.

Sem dúvida, todas essas situações são muito polêmicas. Em verdade, tais decisões merecem apoio total do familiar e do paciente caso ainda comunicativo. De qualquer modo, atento ao Biodireito, o profissional cauteloso, deve embasar todas suas atitudes respeitando a Constituição Federal do Brasil, o Código de Ética Médica, o Código Civil e o Código Penal; para não ser responsabilizado no campo jurídico.

Atualmente, muito se ouve acerca da legalização do uso de células tronco embrionárias. De plano, é necessário compreender que as células tronco adultas já são amplamente utilizadas. Isto é, o emprego das células tronco adultas apresenta-se eticamente aceitável, pois não interfere no processo de vida.

O que vem a ser debatido é o uso dessas células tronco quando no período embrionário, ou seja, quando tem a possibilidade, caso transcorram naturalmente, de gerar uma vida humana; haja vista que para alguns estudiosos essas células no período embrionário já são vida, o que impediria seu uso para pesquisas em virtude da impossibilidade da geração de vida a partir dessa célula tronco embrionária.

Com efeito, as células tronco têm a capacidade de gerar quaisquer tecidos do corpo humano, no entanto somente as embrionárias possuem a peculiaridade de serem totipotentes, ou seja, de se transformar em qualquer outro tipo de célula. Na realidade, até o momento, somente estudos em fase de testes foram realizados com elas.

No debate ético-religioso-jurídico todos os pontos de vista devem ser considerados, sem realizar juízo de valor sobre a proveniência das opiniões, apesar de que boa parte das discussões é acentuada pelas diversas religiões que não aceitam esses recursos como instrumento para salvar milhões de vidas já existentes a partir da possível não vida de um conjunto de células em período embrionário.

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Questão de ordem jurídica, por exemplo, é que no Código Civil, Lei n° 10.406, de 10/1/02, o artigo 2° assim dispõe: “A personalidade civil do homem começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro”. Depreende-se, portanto, que a norma protege o nascituro desde sua concepção. Assim, é imprescindível que se estabeleça quando inicia a concepção para que se possa normatizar a questão em âmbito jurídico.

Inúmeros benefícios acarretariam a pesquisa com células tronco embrionárias, a cura de diversas doenças de nível neurodegenerativas. Isso poderia ser a cura de doenças que afligem tanto os idosos, que aliás, cada vez mais estão aumentando em número graças ao aumento da qualidade de vida e da expectativa de vida. Além disso, poderia representar a cura do diabetes, a formação de tecidos para implantes em queimados e necessitados. Por outro lado, os dilemas éticos não se resolvem sem um amplo consenso e uma balança para contrapor benefícios e prejuízos. De fato, todo grande poder denota grandes responsabilidades. Cabe a sociedade civil mundial e seus poderes institucionalmente representados debater sobre o tema e avaliar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não é fácil imaginar uma perspectiva em que todos os dilemas éticos estejam resolvidos tanto na ciência, na ética ou na área jurídica; contudo, só com um amplo debate perante diversos setores da sociedade ocorrerá seu melhor entendimento e resolutividade; tendo sempre como questão principal a garantia de vida. Cabe no processo do debate qualificar qual a conduta a ser realizada em cada situação em específico.

Fato inegável nos dias de hoje é a necessidade do conhecimento do Direito pelos profissionais da Medicina, sendo conhecedor da responsabilidade civil e penal que possui, para nesta seara, embasar suas atitudes no âmbito profissional. Só com o aparato ético e legal é possível realizar o melhor para o paciente e para manter garantias a si próprio. Por fim, reflexões em ética, bioética e biodireito invadem a formação médica e vem para acrescentar a garantia constitucional de proteção à vida.

FONTE: <https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-75/reflexoes-em-etica-bioetica-e-biodireito/>. Acesso em: 27 ago. 2020.

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RESUMO DO TÓPICO 3Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Ética reflete os hábitos e costumes gerais de uma sociedade, suas normativas e convenções institucionalizada pelo coletivo social.

• Bioética é um ramo da ética que investiga os problemas que derivam especificamente

da prática médica e biológica.

• Biodireito, é o ramo do Direito que trata da teoria, da legislação e da jurisprudência relativas às normas reguladoras da conduta humana em face dos avanços da Medicina e da Biotecnologia.

• A base jurídica da bioética está no Direito Civil, o Direito Constitucional e o Direito Penal considerando a legislação brasileira.

• A bioética busca garantir a proteção da dignidade do ser humano em tratamentos da saúde.

• Biossegurança é um conjunto de procedimentos e medidas necessários para a manipulação de agentes e materiais biológicos, capaz de prevenir, reduzir, controlar ou eliminar riscos à saúde humana, animal e vegetal, bem como ao meio ambiente.

• A biossegurança, atualmente, envolve diversas ações como as questões pessoais, a higiene pessoal, descarte de material de uso pessoal e geral (seringas de injeção, máscaras, material biológico, restos fisiológicos etc.), arquitetura especiais hospitalares (raio X, laboratórios de exames etc.) entre outros.

• Epidemiologia é o estudo da frequência, da distribuição e dos determinantes dos estados ou eventos relacionados à saúde em populações e à aplicação desses estudos no seu controle.

• Endemia é definida como a presença habitual de uma doença, dentro dos limites esperados em uma determinada área geográfica, por um período de tempo ilimitado.

• A epidemia é a ocorrência em uma comunidade ou região, de um grupo de doenças de natureza similar, excedendo, claramente, a expectativa normal, derivada de uma fonte comum de propagação.

• Pandemia é uma epidemia de grandes proporções geográficas.

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1 Analise as questões apresentadas e preencha a palavra cruzada.

(I) Epidemia de grandes proporções geográficas.(II) Reflete os hábitos e costumes gerais de uma sociedade.(III) É o ramo do Direito que trata da teoria, da legislação e da jurisprudência relativas

às normas reguladoras da conduta humana em face dos avanços da Medicina e da Biotecnologia.

(IV) É um conjunto de procedimentos e medidas necessários para a manipulação de agentes e materiais biológicos.

(V) Busca garantir a proteção da dignidade do ser humano em tratamentos de saúde.(VI) Contrário de saudável.

2 Atualmente, vimos uma grande importância nas questões relativas à ética nas

atividades médicas e a sua consequência para os pacientes. Vimos questões éticas comentadas em casos famosos de médicos em nível nacional, como o caso do médico Roger Abdelmassih que foi amplamente noticiado nos jornais de vinculação nacional. Analise as opções apresentadas a seguir e assinale a alternativa CORRETA com relação ao melhor conceito para ética e moral:

a) ( ) A ética reflete os hábitos e costumes gerais de uma sociedade, suas normativas e convenções, que fora institucionalizada pelo coletivo social, e a moral é a forma que conduzimos nossos atos perante o outro, ou seja, é a conduta em si”

b) ( ) A ética é definida como os hábitos e costumes gerais e é definido pelo seu conjunto legal, suas normativas e convenções, que fora institucionalizada pelo legislativo de forma impositiva, e a moral é a forma que conduzimos nossos atos perante o outro, ou seja, é a conduta em si”.

c) ( ) Que fora institucionalizada pelo coletivo social, e a moral é a forma que somos criados para obedecer aos mais fortes.

d) ( ) Suas normativas e convenções, que fora institucionalizada pelo legislativo de forma impositiva, e a moral é a forma que somos criados para obedecer aos mais fortes.

AUTOATIVIDADE

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3 (CPCON, 2019) Leia com atenção o parecer a seguir e responda o que se pede:

O Código de Ética Médica deve adequar-se ao uso do Whatsapp, como também outras redes sociais, uma vez que é hoje uma realidade de comunicação virtual. Do ponto de vista bioético e acerca desse fato o Conselho Federal de Medicina (CFM) concluiu que “É permitido o uso do Whatsapp e plataformas similares para comunicação entre médicos e seus pacientes, bem como entre médicos e médicos, em caráter privativo, para enviar dados ou tirar dúvidas, bem como em grupos fechados de especialistas ou do corpo clínico de uma instituição ou cátedra, com a ressalva de que todas as informações passadas tem absoluto caráter confidencial e não podem extrapolar os limites do próprio grupo, nem tampouco podem circular em grupos recreativos, mesmo que composto apenas por médicos”. (PROCESSO-CONSULTA CFM Nº 50/2016 - PARECER CFM Nº 14/2017).

FONTE: <https://questoes.grancursosonline.com.br/questoes-de-concursos/legislacao-federal-novo-codigo-de-etica-medica-resolucao-cfm-no-1-931-2009/1174081>. Acesso em: 22 set. 2020.

De acordo com a informação anterior é CORRETO se afirmar que:

I- Do ponto de vista jurídico, visa promover uma interpretação sistemática das normas constitucionais, legais e administrativas que regem a medicina brasileira, em especial nos termos do art. 5º, incisos XIII e XIV, da Constituição da República, da lei Nº 3.268/1957, do Código de Ética Médica, bem como o inafastável sigilo da relação médico-paciente.

II- O uso do aplicativo “WhatsApp” e outros congêneres não é possível para formação de grupos formados exclusivamente por profissionais médicos, visando realizar discussões de casos médicos que demandem a intervenção das diversas especialidades médicas.

III- Como os assuntos são cobertos por sigilo, os grupos devem ser formados exclusivamente por médicos devidamente registrados nos Conselhos de Medicina, caracterizando indevida violação de sigilo a abertura de tais discussões a pessoas que não se enquadrem em tal condição.

IV- Com base no art. 75 do Código de Ética Médica, as discussões jamais poderão fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais, ou na divulgação de assuntos médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente.

V- Os profissionais médicos que participam de tais grupos são pessoalmente responsáveis pelas informações, opiniões, palavras e mídias que disponibilizem em suas discussões, as quais, certamente, devem se ater aos limites da moral e da ética médica.

Está CORRETO o que se afirma em:a) ( ) I, III e IV.b) ( ) I, II, III e IV.c) ( ) I, III, IV e V.d) ( ) I, II, III e V.e) ( ) II, III e V.

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