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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA JENIFER MARIA DOS SANTOS REINHOLD PROFESSORES ALFABETIZADORES CONHECEM A TEORIA DE EMILIA FERREIRO? São José 2015

PROFESSORES ALFABETIZADORES CONHECEM A TEORIA … · (TCCII), do curso de Pedagogia, como requisito parcial para curso ... professores alfabetizadores, para saber se conhecem a teoria

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

JENIFER MARIA DOS SANTOS REINHOLD

PROFESSORES ALFABETIZADORES CONHECEM A TEORIA DE

EMILIA FERREIRO?

São José

2015

1

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

JENIFER MARIA DOS SANTOS REINHOLD

PROFESSORES ALFABETIZADORES CONHECEM A TEORIA DE

EMILIA FERREIRO?

Trabalho elaborado para a disciplina de Conclusão de Curso

(TCCII), do curso de Pedagogia, como requisito parcial para curso

de graduação em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de

São José – USJ.

Orientadora: Prof. Ma. Rosicler Schafaschek

São José

2015

2

3

Dedico este trabalho ao meu querido esposo Fabio, minha querida

filha Sofia e a minha querida mãe Maria.

4

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus e ao seu filho amado Jesus Cristo por me ajudar e me

da forças para terminar essa caminhada depois de muitos obstáculos.

Ao meu amado esposo Fabio Alexandre Reinhold, que apesar de alguns momentos

difíceis, sempre está ao meu lado, a minha amada filha Sofia Reinhold, que eu amo muito, a

minha mãe Maria de Lourdes dos Santos, que veio de longe me ajudar a terminar meus estudos.

A minha orientadora Rosicler Schafaschek, que aceitou me ajudar a concluir esse trabalho

as minhas queridas amigas da faculdade Acione Iraci Vieira, Luana de Souza, Marlete Renosto

Sperandio, que estiveram ao meu lado nessa caminhada final.

Todos os colegas e professores que me ajudaram a percorrer esse caminho, alguns não

nos falamos mais, sinto saudades.

5

Que você seja um educador inteligente. Ao educar, liberte seu imaginário,

crie, ouse e influencie, contudo não tenha medo de falhar. E, se falhar,

não tenha medo de chorar e, se chorar, repense sua trajetória, mas não

desista de caminhar. Dê sempre uma nova chance para si e para quem

ama...

Augusto Cury

6

RESUMO

O objetivo da presente pesquisa é investigar se os professores fazem levantamento do

conhecimento prévios da criança sobre a escrita e como acompanham o processo de alfabetização

destas. Foi feito uma pesquisa qualitativa por meio de uma entrevista com quatro perguntas aos

professores alfabetizadores, para saber se conhecem a teoria de Emilia Ferreiro, a psicogênese da

língua escrita se é usada em sala de aula. Considerando assim os conhecimentos prévios das

crianças sobre a escrita, como acompanham se conseguem interpretar as escritas que fazem com

autonomia e como lidam com o erro. A alfabetização na Infância (nos primeiros anos do Ensino

Fundamental) é muito importante porque é a partir dela que as crianças vão iniciar com sucesso a

vida escolar ou não. Constatou-se que os professores não conseguem interpretar as escritas das

crianças, mas consideram e reconhecem que as crianças chegam à escola com conhecimentos

prévios que adquiriram no seu cotidiano. Os professores não identificam e não acompanham a

concepção de escrita das crianças. Dos sete professores nenhum deles conhecem a teoria de

Emilia Ferreiro, só de ouvir falar ou há muito tempo.

Palavras-Chave: Crianças. Professores. Alfabetizadores. Escrita. Psicogênese.

7

LISTA DE TABELAS

Quadro 1: Apresentação dos professores participantes da pesquisa. ........................................... 21

8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9

1.1 OBJETIVOS ............................................................................................................................ 10

1.1.1 Objetivo geral ...................................................................................................................... 10

1.1.2 Os objetivos específicos ...................................................................................................... 10

1.2 METODOLOGIA .................................................................................................................... 11

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................. 13

2.1 A CONCEPÇÃO DE ESCRITA DAS CRIANÇAS, COMO ELAS APRENDEM. .............. 15

3 O QUE DIZEM OS PROFESSORES ..................................................................................... 20

3.1 COMO OS PROFESSORES IDENTIFICAM OS CONHECIMENTOS PRÉVIOS DA

CRIANÇA, ISTO É, AS ESCRITAS QUE ELAS EXPRESSAM ANTES DE ESTAR

ALFABETIZADAS ...................................................................................................................... 21

3.2 OS PROFESSORES CONSIDERAM E CONSEGUEM INTERPRETAR AS ESCRITAS

QUE AS CRIANÇAS ELABORAM ANTES DE ESTAREM ALFABETIZADAS? ................. 22

3.3 COMO OS ALFABETIZADORES LIDAM COM O ERRO NA ESCRITA ........................ 24

3.4 OS PROFESSORES CONHECEM A TEORIA DA PSICOGÊNESE DA LÍNGUA

ESCRITA DE EMILIA FERREIRO? ........................................................................................... 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 27

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 28

APÊNDICE ................................................................................................................................. 29

ANEXO ........................................................................................................................................ 30

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1 INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho é investigar se os professores que trabalham em classes de

alfabetização conhecem a Psicogênese da Língua Escrita, teoria desenvolvida por Emilia

Ferreiro, que auxilia a compreender o processo da criança na construção da escrita. Com

conhecimento da Psicogênese da Língua Escrita as professoras obtêm fundamentos para

identificar os saberes prévios sobre a escrita das crianças que entram em processo escolar de

aprendizado da escrita e fundamentos para acompanhar o processo de cada uma delas.

Me interessei pelo tema da alfabetização desde que observei no meu meio parentesco, um

adolescente que frequentava o 6º ano escolar e que não se encontrava alfabetizado. Constatei que

ele não sabia escrever convencionalmente. Isto me fez questionar o fato de que algumas crianças,

apesar de passarem tantos anos na escola, não se alfabetizam.

A alfabetização na Infância (nos primeiros anos do Ensino Fundamental) é muito

importante porque é a partir dela que as crianças vão iniciar com sucesso a vida escolar ou não, e

o fracasso neste processo pode formar o analfabeto funcional. Assim, é de fundamental

importância alfabetizar uma criança no início do Ensino Fundamental- dentro do ciclo

alfabetizador - garantindo a aprendizagem da leitura e escrita e não ir empurrando de qualquer

jeito para passá-la de ano, como aconteceu com meu parente.

Para a alfabetização ocorrer, sabemos que o meio cultural em que a criança cresce

influencia na alfabetização, mas, aqueles que irão trabalhar com essas crianças em sala de aula,

isto é, os professores, são determinantes e devem ter condições de ensinar e acompanhar este

processo.

Meu interesse num primeiro momento era analisar este problema buscando quais os

fatores que interferem no processo de alfabetização, procurando entender por que algumas

crianças não aprendem a ler e a escrever. Na 7ª fase, cursando a disciplina de Alfabetização no

Ensino Fundamental I, estudei a psicogênese da linguagem escrita - teoria de Emilia Ferreiro – e

naquele semestre pesquisei como as crianças pensam sobre a escrita quando ainda não estão

alfabetizadas. Para isso solicitei a escrita autônoma de todas as crianças do 1º ano em que eu

estagiava. Ditei uma lista de brinquedos para que escrevessem sem copiar e sem ajuda de alguém

soletrando. Apesar de eu dizer às crianças que não teria problema se ocorressem erros, que

poderiam escrever do jeito que sabiam, algumas crianças ficaram apreensivas e relutaram a se

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expressar por escrito. Isto me fez pensar que não tinham liberdade para se expressar de forma

autônoma.

A partir daí me perguntei como os professores lidam com estas escritas, se eles

compreendem as primeiras escritas das crianças, escritas não convencionais. Se os professores

consideram os conhecimentos que as crianças trazem consigo ao entrar no 1º ano, isto é, antes de

iniciar a escolarização.

Soares (2015b), em entrevista, diz que a psicogênese da língua escrita trouxe uma grande

contribuição de como as crianças constroem o conceito de língua escrita, por meio de etapas que

já está comprovado por pesquisas feitas com crianças. Ressalta também que os professores

precisam compreender o que as crianças escrevem e saber como agir para ajudar as crianças a

passarem, durante o período de alfabetização, de uma hipótese para outra. Para isso diz que

“devemos juntar a psicogênese com a consciência fonológica, através de atividades apropriadas”.

Minha hipótese inicial é de que os/as professores/as não conhecem esta teoria tão

importante na alfabetização. Sem o conhecimento de como a criança interage com a escrita e

constroem saberes, não partem dos conhecimentos prévios das crianças, pois faltam fundamentos

para compreender as escritas delas no processo de construção da escrita.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo geral

Assim, o objetivo geral da pesquisa foi investigar se os professores fazem levantamento

dos conhecimentos prévios da criança sobre a escrita e como acompanham o processo de

alfabetização destas. Verificar se os/as professores/as do ciclo alfabetizador (1º, 2º e 3º ano)

acompanham e valorizam os passos que as crianças dão até se alfabetizar.

1.1.2 Os objetivos específicos

a) Consideram os conhecimentos prévios da criança;

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b) Acompanham o aprendizado da escrita das crianças como;

c) Consideram as escritas que as crianças elaboram antes de estar alfabetizadas;

d) Conseguem interpretar as escritas realizadas com autonomia;

e) Lidam com o erro na escrita como;

f) Conhecem a teoria de Emília Ferreiro e a compreendem.

1.2 METODOLOGIA

Metodologicamente, este trabalho será uma pesquisa qualitativa, porque quero entender e

descobrir como os professores pensam e fazem com relação às primeiras escritas que as crianças

produzem. Para isso, coletei dados numa Escola Estadual com total de cinco professores e

Municipal de Ensino Fundamental com total de quinze professores, entrevistando ao todo 35% do

total, ou seja, (apêndice A) sete professores de 1º 2º e 3º ano do Ensino Fundamental.

Foi feito agendamento com as professoras através da diretora e coordenadoras das

escolas, uma Municipal e a outra estadual no Município de São José, SC. A intenção inicial era

de fazer a pesquisa só com as professoras de 1º e 2º ano da escola municipal. Mas, devido à

dificuldade de agendamento e o consentimento das professoras desta escola, me dirigi a outra

escola da mesma região de São José, onde mais facilmente tive acesso aos professores.

Entrevistei os professores no turno em que eles davam aula, no período que seus alunos se

encontravam na Educação Física, aula de Artes ou outras.

O trabalho está dividido em duas seções: a primeira traz fundamentos teóricos sobre o

processo de alfabetização a partir da perspectiva de Emilia Ferreiro. Inicio com a forma como a

alfabetização era vista até que no século XX, a teoria de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky foi

publicada no Brasil e provocou questionamentos da visão da língua escrita como código, criticou

a aprendizagem passiva com atividades pela memorização. Elas defendem uma concepção de

língua escrita como um sistema de representação, que inicia com escritas aleatórias sem vínculo

com a linguagem oral até chegar à escrita alfabética.

Apresento a concepção de escrita das crianças, as fases da escrita, a partir da teoria da

psicogênese da língua escrita e como as crianças aprendem, elas não aprendem só repetindo e

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mecanizando tudo, as crianças já constroem uma concepção da linguagem escrita se tiverem

contato significativo com ela.

Na segunda seção apresento os resultados da pesquisa, isto é, a resposta que os

professores deram às perguntas referentes ao tema, comentando-as a partir do que aprendi sobre

esta teoria. Finalizando trago minhas considerações finais referentes a esta pesquisa.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

A alfabetização já foi considerada o ensino das habilidades de codificação e

decodificação. Albuquerque, (2007, p.11-12), fala que essa habilidade iniciou-se em sala de aula

no final do século XIX, por métodos sintéticos e globais, utilizando cartilha como manual que se

seguia para dar conta do ensino.

Assim, a alfabetização durante muito tempo foi entendida como o codificar e decodificar

para se aprender a ler e a escrever, e era comum a repetição de letras e sílabas sem o

entendimento do que se estava “lendo”, pois muitos métodos eram fundamentados em exercícios

para memorização do código da escrita.

A partir da década de 1980 os métodos, especialmente aqueles com prática de

memorização de sílabas, palavras ou frases foram questionados devido à publicação das

pesquisas de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky sobre a psicogênese da língua escrita. Esta teoria

rompia com a concepção de língua escrita como código, que era aprendido pelo desenvolvimento

de habilidades visuais, auditivas e motoras. Estas autoras apresentaram uma nova concepção de

alfabetização a qual rompia com a visão empobrecida que se tinha de que alfabetizar era treinar a

escrita e a identificação das letras ou sílabas para depois juntá-las.

Emília Ferreiro observou que “os dois pólos do processo de aprendizagem (quem ensina e

quem aprende) tinham sido caracterizados sem que se levasse em conta um terceiro elemento da

relação: a natureza do objeto de conhecimento envolvendo esta aprendizagem.” (FERREIRO,

2011, p.13)

A alfabetização é apresentada na Psicogênese da Língua Escrita, como uma aprendizagem

conceitual, e isto modifica a forma de olhar para o ensino do ler e escrever, pois a aprendizagem

de um conceito não acontece pelo treino, pelo contato parte a parte com o objeto a ser conhecido,

mas pela interação do aprendiz, no caso da alfabetização, com a língua escrita em seus usos e

funções.

A partir desta compreensão podemos possibilitar diversas atividades, como interpretação

de símbolos do cotidiano, produção de escritas significativas, textos para que a criança construa

seu saber, elabore sua compreensão sobre a escrita. Mas, não é assim que se alfabetizava na

maioria das vezes. Era comum os professores apresentarem o código passo a passo e a criança era

apresentada a uma forma de linguagem que só existia na escola: “O boi bebe e baba” ou “A Dada

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deu o dado a Didi”. Estas frases comuns aos tradicionais métodos de alfabetização estavam

distantes da linguagem oral das crianças e, também se distanciam da linguagem escrita que

acontece na interação entre pessoas. Ferreiro (1997, p. 34) argumenta que “para alfabetizar é

preciso ter acesso à língua escrita (tanto como para aprender a falar é necessário ter acesso à

língua oral) e é isso que está ausentes nas famosas cartilhas ou manuais ‘para aprender a ler".

Em contato com a cultura letrada as crianças refletem sobre o sistema alfabético de escrita

e vão construindo um entendimento sobre o que é ler e escrever.

Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de

olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho

fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa que

constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu. (FERREIRO, 2011, p.41)

Esquecemos que estamos trabalhando com seres que pensam, constroem, realizam, têm

ideias sobre o mundo em que vivem. As crianças são obrigadas, nas escolas que as desconhecem,

a apenas a ouvir e reproduzir, sentadas, só recebendo exercícios prontos para preencher.

Temos hoje muitos analfabetos funcionais que não conseguem extrair informações de

textos escritos. Provavelmente, quando crianças foram expostos à decodificação de signos que

nenhum sentido faziam. Só lhes possibilitavam memorizar e repetir, não foram apresentados a

textos significativos que possibilitassem interpretação e a vivência dos usos e funções da língua

escrita que aparecem em diferentes contextos sociais.

Ferreiro (2011, p. 39) observou que “a criança vê mais letras fora do que dentro da escola:

a criança pode produzir textos fora da escola enquanto na escola só é autorizada a copiar, mas

nunca a produzir de forma pessoal”.

Em todo o lugar que a criança está ela vê letras, outdoor, placas, revistas, livros, etc. E a

partir dessa experiência com material escrito ela constrói frases, textos, mesmo não escrevendo

convencionalmente, mas ela está produzindo e na escola ela é apenas incentivada a copiar e a

memorizar algo pronto. “[...] o aprendiz, como um ser racional, vai juntando conhecimento

adquiridos pela vida toda, a partir do momento em que nasce. Para isso, usa sua capacidade de

refletir sobre todas as coisas.” (CAGLIARI, 2010, p.52).

Cagliari (2010) também fala que a criança já vem de um ambiente cheio de informações

que ela trás para a escola e que ela pensa.

Um dos objetivos sintomaticamente ausentes dos programas de alfabetização de crianças

é o de compreender as funções da língua escrita na sociedade. Como as crianças chegam

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a compreender essas funções? As crianças que crescem em famílias onde há pessoas

alfabetizadas e onde ler e escrever são atividades cotidianas, recebem esta informação

através da participação em atos sociais onde a língua escrita cumpre funções precisas. (FERREIRO, 1997, p.19).

Essa forma de alfabetizar é também defendida por Magda Soares com a introdução do

termo letramento. Alfabetizar letrando que é a apropriação do sistema de escrita alfabético em

textos com função social.

[...] O termo letramento com o sentido que hoje lhe damos. Onde fomos buscá-lo? Trata-

se, sem dúvida, da versão para o português da palavra da língua inglesa literacy [...]. Ou

seja: literacy é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever.

Implícita nesse conceito está ideia de que a escrita traz consequências sociais, culturais,

políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja

introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la. (SOARES, 2009, p.17).

Para Magda Soares em entrevista (2015b), Alfabetização e Letramento são diferentes,

mas precisam ser trabalhados juntos. Alfabetizar é aprender a ler e a escrever e letramento é

praticar a leitura e a escrita, fazendo o seu uso e funções, juntando as duas coisas.

2.1 A CONCEPÇÃO DE ESCRITA DAS CRIANÇAS, COMO ELAS APRENDEM.

Emilia Ferreiro e Ana Teberosky em suas pesquisas que realizaram sobre a psicogênese

da língua escrita (no final dos anos 1970, as quais foram publicadas no Brasil em 1984)

descobriram que as crianças constroem diversas ideias e conceitos sobre a escrita antes de

estarem alfabetizadas. As crianças fazem isto pensando e resolvendo problemas sobre a escrita

que encontram no seu cotidiano. Estas autoras mostraram que para entender a escrita, às crianças

constroem um conjunto de explicações para ela, isto é, hipóteses ou ideias sobre como se escreve.

Quando a teoria da psicogênese da língua escrita, que tem em Emília Ferreiro sua

principal autora, é compreendida, mostra uma nova forma de olhar para o processo de

alfabetização. Ajuda os professores que trabalham com alfabetização a ver como a criança

aprende que ela constrói o seu conhecimento a partir do envolvimento com material escrito, que a

criança elabora diferentes hipóteses ou ideias sobre o sistema de escrita alfabética antes de chegar

a compreender o sistema alfabético de escrita.

Querendo escrever algo, num primeiro momento, as crianças colocam bolinhas letras e

números de forma incerta ou numa determinada sequência. Esta fase foi chamada de pré-silábica:

é quando as crianças diferenciam o desenho da escrita e definem o que é imagem e o que pode ser

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lido, constroem alguns princípios neste processo como, que não se pode escrever com poucas

letras (no mínimo três) e que deve haver certa variedade de letras no que está escrito, para que

esta escrita possa ser lida. Ex: A I J O R Z M H N - (Pá)

Depois a criança avança para a hipótese silábica: ao se encontrar com vários materiais

escritos e momentos que a façam pensar sobre a escrita aí ela vai começar a compreender que a

escrita é uma representação da fala e, se for solicitada a escrever, colocará uma letra para cada

sílaba. Ex: E O E A O - (Escorregador)

Continuando seu processo de construção da escrita, a criança elabora mais adiante, a

hipótese silábica – alfabética: é quando começa a comparar sua escrita silábica com a

convencional e entende que está faltando letras na sua escrita. Corresponde a uma mudança de

fase que a criança está ao mesmo tempo com duas ideias, a silábica e a alfabética, e assim escreve

uma mesma palavra utilizando uma letra para cada sílaba e outra sílaba completa (com uma letra

para cada som) escrita alfabética. Nesta fase, as crianças vão incorporando letras às sílabas que

antes faziam com apenas uma letra. Ex: C A I O (Carrinho)

Continuando em processo de construção do conhecimento sobre a escrita, que acontece

por meio do envolvimento com materiais escrito em seus usos e funções, pensando, elaborando

seu pensamento sobre a escrita, a criança chega na fase da escrita alfabética: esse é o momento

então que as crianças já compreendem o sistema da escrita alfabética elas já colocam uma letra

para cada som da fala. Cometem erros ortográficos, mas já compreendem o raciocínio do

funcionamento do sistema da escrita alfabética. Ex: B O L A

Conhecer essas fases é muito importante para compreendermos como a criança pensa e

poder ajudá-las, nessa construção do seu conhecimento e do descobrimento do sistema da escrita

e como ela funciona.

“[...] se a escrita é concebida como um sistema de representação, sua aprendizagem se

converte na apropriação de um novo objeto de conhecimento, ou seja, em uma aprendizagem

conceitual”. (FERREIRO, 2011, p.19).

As crianças vão adquirindo conhecimentos sobre tudo o que estão fazendo e olhando, de

tudo o que está a sua volta, criando, aprendendo, ampliando seu pensamento, tendo que elaborar e

reelaborar suas ideias, hipóteses e conceitos.

17

Acontecendo como um processo espontâneo sua aprendizagem, mas com a interferência

do professor ensinando as crianças a refletirem sobre o que estão fazendo e não dando a elas tudo

pronto.

Questionada em relação a se devemos alfabetizar as crianças na pré-escola, Ferreiro

(1997, p.38) diz que “[...] não se deve ensinar, porém deve-se permitir que a criança aprenda.”

Com isto entende-se que não precisamos submeter à criança nas escolas a um processo

apenas uma escrita convencional, em uma atividade que for feita pela criança, mas deixa - lá

pensar no que vai fazer, para que ela aprenda construindo por si.

Mesmo que não esteja alfabetizada a criança deve ter possibilidade de se expressar por

escrito, de escrever do jeito que sabe, por isso é muito importante considerar essa escrita da

criança, para entender o que ela já aprendeu e incentivar novos aprendizados.

Conforme Ferreiro (2011, p.21), “as primeiras escritas infantis aparecem, do ponto de

vista gráfico, como linhas onduladas ou quebradas (zigue-zague), contínuas ou fragmentadas, ou

então como uma série de elementos discretos repetidos (séries de linhas verticais, ou de

bolinhas).” Muitas das vezes não são valorizadas estas experiências infantis como se não

tivessem sentido. Para Ferreiro (2011, p.21), “o modo tradicional de se considerar a escrita

infantil consiste em se prestar atenção apenas nos aspectos gráficos dessas produções, ignorando

os aspectos construtivos.”

As crianças escrevem do jeito que sabem e, muitas vezes, nos parece errado, mas o que

eles escreveram tem significado por isso escreveram, cabe a nós professores interpretar o que as

crianças escrevem para não matarmos sua criatividade. E devemos sempre estar incentivando-as a

pensar sobre as atividades que fazem ou irão fazer.

“[...] para a criança, trata-se de compreender a estrutura do sistema de escrita, e que, para

conseguir compreender o nosso sistema, realiza tanto atividades de interpretação como de

produção.” (FERREIRO, 2011, p.37).

A interpretação e o pensar sobre o que se está fazendo são muito mais importantes para a

criança do que a memorização e a repetição priorizadas em alguns métodos de ensino, que

prejudicam a aprendizagem da criança, pois só repetindo ela mecaniza a escrita e isto não quer

dizer que esteja aprendendo.

[...] pretende-se que a criança compreenda a mecânica da codificação; depois- e somente

depois – poderá fazer algo inteligente. Isso é tão pouco racional como supor que se

aprende melhor matemática aprendendo primeiro a recitar mecanicamente a série dos

números e os resultados das operações, para se pensar depois. (FERREIRO, 1997, p.34).

18

Quando a alfabetização se resume a decorar, copiar e memorizar letras ou palavras à

criança ficará na dependência do outro. Recebendo tudo pronto só para preencher, copiar e

reproduzir modelos propostos, a criança não tem espaço para pensar e criar.

Nos métodos tradicionais de alfabetização como o da cartilha, o ba, be, bi, bo, bu, é

ensinado passo a passo, pensando que com isto se está ajudando à criança a aprender,

desconhecendo a capacidade de pensar e construir conhecimento que elas têm. Neste sentido

Ferreiro (2011, p. 11) aponta que a criança tem muito mais possibilidades do que os adultos

imaginam: “Essa criança se coloca problemas, constrói sistemas interpretativos, pensa, raciocina

e inventa, buscando compreender esse objeto social particularmente complexo que é a escrita, tal

como ela existe em sociedade.”

Infelizmente muitas das vezes não é assim, as crianças não são tratadas como seres que

tem a capacidade de pensar, são apenas vistas como um depósito de informações e obediência.

Mas Ferreiro nos mostra como as crianças tem capacidade de produções espontâneas próprias.

Como podemos acompanhar o processo de construção da escrita que ocorre em tempos

diferentes numa turma de crianças? “Os indicadores mais claros das explorações que as crianças

realizam para compreender a natureza da escrita são suas produções espontâneas, entendendo

como tal as que não são o resultado de uma cópia (imediata ou posterior).” (FERREIRO, 2011,

p.19-20).

Se o papel do professor é fazer a mediação no processo de conhecimento da criança

precisa compreender o que a criança está fazendo quando escreve, valorizar o momento do

processo em que ela se encontra, para que a criança continue curiosa e observadora da escrita e,

assim, aprenda cada vez mais.

Outros autores como Cagliari (2010), já defenderam mais espaço nas turmas de

alfabetização para a escrita espontânea. “Na alfabetização, é fundamental que os alunos

produzam trabalhos espontâneos, façam atividades a partir de sua iniciativa, do jeito que acharem

melhor.” (GAGLIARI, 2010, p.57).

A criança não precisa saber ler e escrever para produzir escritas, pelo contrário, é

escrevendo e buscando ler o que encontra pela frente que ela aperfeiçoa sua escrita e desenvolve

sua leitura. Se a criança for incentivada nas suas produções espontâneas ela terá autonomia para

se expressar e não terá medo de errar. Os professores que compreendem o processo de construção

19

da escrita do sujeito que se alfabetiza, entendem que o erro faz parte do processo de

alfabetização.

A correção contínua e imediata da escrita produzida pela criança gera nela inibição e

medo de errar. Se não tem espaço para escrever, se só for permitido a elas copiar, não refletem

sobre o escrever.

Em relação aos erros, Ferreiro (1997, p.47), diz que “os erros também necessitam ser

interpretados pelo professor, já que nem todos os erros se parecem (não têm a mesma origem nem

‘dizem’ o mesmo com respeito à evolução)”, do conhecimento.

Segundo esta mesma autora no ensino aprendizado “em língua escrita todas as

metodologias tradicionais penalizam continuamente o erro, supondo que só se aprende através da

reprodução correta, e que é melhor não tentar escrever, nem ler, se não está em condições de

evitar o erro. A consequência inevitável é a inibição: as crianças não tentam ler nem escrever e,

portanto, não aprendem”. (FERREIRO, 1997, p.31).

Por causa do medo de serem criticadas por aquilo que fazem as crianças deixam de

produzir e de aprender, pois “[...] as crianças tendem espontaneamente a pensar, e toda proposta

pedagógica que as obrigue a renunciar a compreender dificulta a aprendizagem.” (FERREIRO,

1997, p. 35).

Todas as crianças precisam refletir pensar sobre o que vão escrever ou fazer para que

aconteça uma aprendizagem significativa.

20

3 O QUE DIZEM OS PROFESSORES

A pesquisa foi realizada em duas escolas, uma municipal de São José e outra pertencente

ao sistema público estadual. Os dados foram coletados com sete professores que atuam nos anos

iniciais, no ciclo da alfabetização. O quadro abaixo apresenta dados sobre os entrevistados:

Professor Formação Classe em

que

leciona

Experiência na

alfabetização

Escola

1 Graduação

completa

2º ano Trabalha com

alfabetização há três anos.

Estadual

2 Magistério –

Ensino Médio

1º ano Trabalha com

alfabetização há 20 anos.

Estadual

3

Graduação em

letras,

UNIASSELVI;

Pedagogia em

andamento na

(FMP) Faculdade

Municipal de

Palhoça

3º ano Trabalha com

alfabetização há 8 anos.

Estadual

4

Graduação na

Faculdade Estadual

do Paraná União da

Vitória.

Pós-Graduação em

Educação Infantil e

de 1ª a 4ª série

2º ano Trabalha com

alfabetização há nove

anos.

Estadual

5

Pedagogia na

UFSC, Séries

Inicias Educação

Infantil;

Pós Graduação na

UNIVEL, Séries

Iniciais e Educação

Infantil

2º ano Trabalha com a

alfabetização há 22 anos.

Municipal

21

6 Pedagogia na

UDESC com

habilitação nas

Séries Iniciais

1º ano Trabalha há um ano com

alfabetização.

Municipal

7 Graduação no

UNICESUMAR

1º ano Trabalha há 25 anos com

alfabetização.

Municipal

Quadro 1: Apresentação dos professores participantes da pesquisa.

Fonte: A autora, 2015.

3.1 COMO OS PROFESSORES IDENTIFICAM OS CONHECIMENTOS PRÉVIOS DA

CRIANÇA, ISTO É, AS ESCRITAS QUE ELAS EXPRESSAM ANTES DE ESTAR

ALFABETIZADAS

Dos sete professores entrevistados cinco reconhecem que a criança chega à escola com

conhecimentos que adquiriu no seu cotidiano e dois citaram a Educação Infantil como espaço

onde adquirem muitos saberes sobre a escrita.

Identificam os conhecimentos que as crianças trazem através das atividades que

desenvolvem: chamam para escrever algo no quadro, fazem ditado de palavras. A professora 2

diz que “já no primeiro dia solicito que busquem letras em revistas ou no alfabeto exposto na

sala”. Pela resposta desta professora, percebe-se que ela verifica se as crianças identificam letras

isoladas, mas não faz a identificação da concepção de escrita das crianças pois não solicita escrita

de palavras ou frases.

A professora 5 disse que “Eu vejo o nível em que ela está por meio do que ela me

apresenta o progresso se ela já consegue fazer palavras corretas, mas às vezes não percebo, no

início faço muito ditado aí vejo em que fase ela está: pré-silábico, silábico, silábico-alfabético ...”

Ela diz que vê em que fase está à criança, afirma que já estudou essa teoria só que, na

questão dois, ao ser solicitada a analisar escritas das crianças, não soube interpretá-las e disse não

lembrar. Então, como pode considerar em que momento da escrita está cada criança?

A professora 6 mencionou que faz ditado para identificar os conhecimentos das crianças e

mencionou: “Uma vez por bimestre a gente elabora uma atividade de sondagem da escrita

espontânea das crianças, ditado de algumas palavras simples.” Acredito que ela quis dizer,

palavras do cotidiano das crianças, pois deu como exemplo: bola e gol.

22

Emilia Ferreiro diz que não existem palavras mais fáceis ou mais difíceis, se nós formos

aprender japonês, tudo será difícil.

“[...] as crianças não chegam ignorantes à escola, que têm conhecimentos específicos

sobre a língua escrita, ainda que não compreendam a natureza do código alfabético e são esses

conhecimentos (e não as decisões escolares) que determinam o ponto de partida da aprendizagem

escolar”. (FERREIRO, 1997, p.69).

Por isso é muito importante darmos valor para esse conhecimento que a criança traz de

casa consigo, ela não é uma criança que não sabe nada, ela pensa, age, no meio em que a envolve.

Principalmente se for um meio em que a criança interage com livros, ver seus pais lendo,

escrevendo, isto tudo ajuda muito na elaboração de como a escrita se estrutura e como funciona ,

assim se estiver num ambiente letrado, sua aprendizagem será mais fácil para aprender a ler e

escrever.

3.2 OS PROFESSORES CONSIDERAM E CONSEGUEM INTERPRETAR AS ESCRITAS

QUE AS CRIANÇAS ELABORAM ANTES DE ESTAREM ALFABETIZADAS?

Os sete professores entrevistados disseram que consideram as escritas que as crianças

elaboraram antes de estarem alfabetizadas, mas os sete professores não conseguem interpretar as

escritas que as crianças elaboraram antes de estarem alfabetizadas. Observei isto quando

apresentei cinco escritas não alfabéticas: escorregador, bicicleta, carrinho, bola e pá, produzidas

por crianças do 1º ano do ensino fundamental, (Anexo). A professora 1 diz que “na primeira

escrita silábica, não todas estão no caminho, bola, pá ele escreveu e identificou a primeira letra,

mas faltou as consoantes e esqueceu das vogais”. A criança não esqueceu a vogais e consoantes

de acordo com a teoria de Emilia Ferreiro ela coloca uma letra para cada sílaba.

Na segunda, terceira e quarta escrita (Anexo) a professora 1 fala que ele escreveu

Bicicleta, Carrinho, escreveu a palavra certa B,C e no restante colocou letras mais aleatórias eu

valorizo do jeito que ele fez. Na terceira escrita: “um pouquinho mais a frente que o outro, já está

conseguindo identificar mais as letras apesar de não estar escrito certo, seria pré-silábico não

identificou tudo, mas uma boa parte sim e a última não consigo identificar, chamo eles pra dizer o

que é.” “Na quarta escrita também identificou algumas letras iniciais seria uma escrita pré-

silábica coloca algumas letras aleatórias, mas ele tenta fazer e alguns não.”

23

Essa professora 1 ela diz que valoriza do jeito que a criança escreveu só que ela não

entende o que está escrito.

A professora 2 fala que a primeira escrita desse aluno está no processo pré-silábico, que

ele não tem noção do S, e C. E na segunda escrita ela diz: “ele sabe que começa com B, mas não

sabe o resto, tem noção do começo da escrita e não do resto.” A terceira escrita ela diz que é o

mesmo da segunda não tem nenhuma noção, não dá pra interpretar. Na quarta escrita, como a

criança está iniciando a escrita, existem vários níveis da escrita, por isso não quer dizer que ela

vai dar um zero.

A professora 2 diz que não consegue interpretar o que a criança escreveu que ela está no

pré-silábico e não tem noção do que escreveu, realmente a criança não tem noção de que a escrita

representa a fala.

A professora 3 fez a seguinte análise: “as escritas inicias, na primeira escrita, a criança

conhece os sons iniciais, as sílabas, mas não sabe junta-lás só no caso de sílabas simples como

bola e pá. Na segunda escrita não conhece o som inicial é tudo um emaranhado de letras. A

terceira escrita é a mesma da segunda escrita não tem noção das sílabas. Na quarta escrita não

sabe nem o som inicial, mesma coisa que a terceira escrita. Não tenho ideia do que significa isso

que as crianças fazem.”

Esta afirmação da professora 3 tem relação com o que diz Ferreiro (2011, p. 20) “essas

escritas infantis têm sido consideradas displicentemente, como garatujas, ‘puro jogo’, o resultado

de fazer ‘como se’ soubesse escrever. Aprender a lê-las – isto é, a interpretá-las – é um longo

aprendizado que requer uma atitude teórica definida.”

A maneira que crianças não alfabetizadas escrevem tem uma lógica, mas se os professores

não têm conhecimento para interpretá-las e valorizá-las, elas são descartadas. Emilia Ferreiro nos

mostra isso, nos deu fundamentos para entendermos o modo pensar das crianças que aprendem a

escrever.

Os professores entrevistados, apesar de dizerem que consideram os saberes das crianças,

não demonstraram conhecimento sobre as escritas não alfabéticas que foram apresentadas para

análise durante a entrevista.

24

3.3 COMO OS ALFABETIZADORES LIDAM COM O ERRO NA ESCRITA

Todos os professores entrevistados dizem que lidam com o erro como parte do processo

de aprendizagem, disseram que é uma maneira de se aprender a acertar, porque o erro é muito

importante para a aprendizagem da criança.

A professora 6 diz que o erro é importante, faz parte da aprendizagem, trabalharmos com

o erro como tentativa de acerto. Esta professora acredita que por meio do erro a criança vai

acertar a palavra só que a criança, na perspectiva da psicogênese, não está errando é uma

construção da aprendizagem.

A professora 3 fala que “eu apresento o erro, corrijo, foco a leitura tanto da palavra errada

quanto da correta, faço exercício de repetição de leitura exemplo: biscoito. O erro é necessário ele

sempre vai acontecer.” Esta professora 3, não está permitindo com que a criança pense sobre o

que está fazendo, apenas quer que ela faça uma leitura repetitiva e cópias de palavras como

biscoito até escrever corretamente. Está na questão 3.

Para a professora 5 “faz parte o erro no processo de alfabetização, ‘erro’ entre aspas

porque não gosto dessa palavra erro, eu falo você se enganou em vez dizer o erro para a criança

não se traumatizar se não eles ficam nervosos quando erram.”

Emilia Ferreiro compara a aprendizagem da escrita com a aprendizagem da fala e do

desenho em que ocorre um processo contínuo de aperfeiçoamento, sem negar à criança a

possibilidade de falar ou de desenhar:

A atitude que se adota é similar à que corresponde à aprendizagem da língua oral ou à

aprendizagem do desenho; ninguém espera, desde o início, verbalizações corretas ou

traçados gráficos perfeitos, tampouco se nega a uma criança em processo de

desenvolvimento o direito à fala ou à possibilidade de grafar. Essas produções escritas

ou essas intenções de leitura são interpretadas pelo professor (que deve estar em

condições de reconhecer seu valor na evolução) e por outras crianças que podem

confrontá-las com as suas próprias e discutir sobre elas, já que não estão todos no

mesmo nível; a heterogeneidade de níveis transforma-se em vantagem em vez de ser

vista como um empecilho. (FERREIRO, 1997, p. 45).

É preciso saber reconhecer e dar valor as escritas não convencionais das crianças, dar a

elas esse direito de escreverem como sabem, de se expressarem sem críticas. Se ignorarmos isso

não haverá crescimento construtivo, apenas escrita com dependência do outro, haverá

memorização e repetição.

Todos os professores entrevistados acham importante o erro, mas não entenderam as

escritas não convencionais, “erradas” que apresentei para que analisassem, não perceberam os

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acertos que também tinha naquelas palavras. Não valorizar as escritas das crianças do jeito que

elas fazem, não é um bom começo para a aprendizagem da criança, se queremos que ela tenha

liberdade para se expressar e se entendemos que elas têm tempos diferentes para aprender.

3.4 OS PROFESSORES CONHECEM A TEORIA DA PSICOGÊNESE DA LÍNGUA

ESCRITA DE EMILIA FERREIRO?

Dos sete professores entrevistados todos ouviram falar da teoria de Emilia, estudaram há

algum tempo, mais não se lembram mais, de fato, não conhecem a teoria desta autora. A

professora 7 ao responder a última questão da entrevista disse que já tentou usar sua teoria como

um método por um ano mas não deu certo:

“Sim! Não lembro, já usei na escola, mas não lembro, usei a metodologia por um ano,

mas não alcancei os objetivos que esperava, sei que ela é construtivista, que a criança tem que

produzir criar. O professor é apenas um mediador deixando com que a criança construa seus

próprios conhecimentos.” Ela diz que Emília Ferreiro produziu um método, mas a psicogênese da

escrita não é um método, é uma visão de como a criança aprende. O professor como um

mediador, teria que elaborar propostas para as crianças construírem seus próprios conhecimentos.

A professora 6 diz que “Sim! O que a gente tenta seguir ela fala que a criança precisa

perceber a alfabetização como um todo presente no contexto em que ela vive e que o professor

precisa utilizar isso pra criança não apenas decifrar o código, como pedacinhos a serem juntados

tipos sílabas. Estudei foi na faculdade e nas formações continuadas.” Esta diz que conhece

Emilia, e que tenta seguir e utilizar, mas não foi isto que constatei porque na questão 2,

analisando a segunda escrita ela diz que o aluno ao ter escrito uma palavra “só tá jogando letras

que vem da cabeça dele.” Mas a psicogênese mostra que a criança está pensando sobre o que

escreveu e não “jogando letras”.

Sabe-se, já há algum tempo, que as crianças começam a pensar na escrita muito antes de

ingressar na escola. Por isso, precisam ter oportunidade de colocar em prática esse saber,

o que deve ser feito em atividades que estimulem a reflexão sobre o sistema

alfabético.[...] o desenvolvimento do aluno se dá por reconstruções de conhecimentos

anteriores, que dão lugar a novos saberes. (WEIZ; SANCHES, 2009, p. 17).

A psicogênese da língua escrita é uma visão de como a criança aprende uma teoria da

aprendizagem, não é um método de ensino conforme a fala da professora 7. Os professores falam

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que a conhecem, mas não constatei uma análise que reflita valorização do processo de

aprendizagem da criança, apenas a professora 1 teve este olhar.

27

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa foi realizada com o intuito de saber se professores alfabetizadores do 1º, 2º

e 3º ano, conhecem a teoria de Emilia Ferreiro, a psicogênese da língua escrita. Esta teoria mostra

que as crianças aprendem desde o momento que estão em convívio com a escrita, antes de ir à

escola. Assim, quis saber se eles fazem o levantamento prévio dos conhecimentos das crianças

sobre a escrita e como acompanham esse processo na alfabetização.

Constatei então, nesta pesquisa, que os professores não interpretam e não acompanham a

concepção de escrita das crianças, que muitos dos professores dizem que a conhecem, mas só

ouviram falar de Emilia, não conhecem a teoria dela. Portanto, nenhum deles tem fundamentos

para interpretar e compreender as escritas iniciais, nesse processo de construção da mesma.

Em relação ao “erro” as respostas dadas indicam que os professores sabem lidar com o

erro, consideram como parte da aprendizagem e fazem o acompanhamento do conhecimento e

aprendizado das crianças por meio das atividades que desenvolvem em sala de aula.

A teoria de Emilia Ferreiro, a psicogênese da língua escrita me deu uma nova maneira de

pensar sobre como as crianças escrevem, que antes eu não sabia, portanto, essa pesquisa foi

muito interessante para mim, me deu uma visão do processo que ocorre na criança quando ela

aprende a leitura e a escrita.

Acredito que para a criança ser bem sucedida no aprendizado da escrita, depende

principalmente do professor propor a ela situações e atividades que a levem a pensar e a refletir

sobre a escrita, seus usos e funções bem como a estrutura alfabética da escrita e, para isso, a

teoria de Emília Ferreiro poderia contribui muito com os professores alfabetizadores.

Por isso como para mim só ouvir falar dela na faculdade, sendo muito importante para

mim sua teoria pude saber que as crianças não escrevem convencionalmente sua escrita no inicio

e que o que elas escrevem tem um significado que não sabia, se não fosse pela teoria de Emilia

Ferreiro, acharia que fosse uma escrita errada sem significado.

Deveria haver mais cursos para os professores sobre a teoria de Emilia, ser uma obrigação

falar dela nas escolas e haver uma formação continuada para os professores.

Acredito que a maioria dos professores alfabetizadores não conhecem a teoria de Emilia

Ferreiro porque mesmo estudando na faculdade ou ouvindo falar dela, não conseguiram entender

sua teoria, por ser muito complexa e como usa lá, e uma professora pensou ser um método.

28

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia de. Conceituando alfabetização e letramento. In:

SANTOS, Carmi Ferraz. MENDONÇA, M. (Org.). Alfabetização e letramento: Conceitos e

relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 11-21.

FERREIRO, Emilia. Cisão entre alfabetização e letramento. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch,?v=WF5S9Ic4nmY>. Acesso em: 14 out. 2015.

FERREIRO, Emilia. Com todas as letras. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1997.

FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. 26. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o ba,be,bi,bo,bu. 2ª ed. São Paulo: Scipione,

2010.

NOVA ESCOLA. São Paulo: Abril, Edição Especial, n. 22, mar. 2009.

SANTOS, Carmi Ferraz; MENDONÇA, Márcia (Org.). Alfabetização e letramento: conceitos e

relações. Belo Horizonte: Autentica, 2005.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 3. ed. Belo Horizonte:

Autêntica, 2009.

______, Magda. Alfabetização e letramento. Entrevista, 2015a. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=-YP-7l6oAZM>. Acesso em: 05 ago. 2015.

______. Alfabetização e letramento: parte I. Entrevista, 2015b. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=wIznCg__Ad0 > . Acesso em: 09 nov. 2015.

______. Alfabetização e letramento: parte II. Entrevista, 2015b. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=Q9_SQLyzvGo> . Acesso em: 09 nov. 2015.

______. Alfabetização e letramento: parte III. Entrevista, 2015b. Disponível em:

<https://www.yotube.com/watch?v=PsJHA0AbNE4>. Acesso em: 09 de nov. 2015.

WEISZ, Telma; SANCHES, Ana. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. 2.ed. São Paulo:

Ática, 2009.

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APÊNDICE

Formação dos prof. entrevistados:

Há quanto tempo trabalha com alfabetização?....................................................

Graduação completa( ) Qual? ..........................................................................

Graduação em andamento( ) fase Qual? .........................................................

Pós-graduação completa: ............................Qual ? .........................................

Pós-gradução em andamento: ................Qual?................................................

Questões da entrevista:

1ª) As crianças iniciam a escolarização com algum conhecimento sobre a escrita? Como

você percebe isso? Como acompanha o aprendizado da criança no decorrer do ano letivo?

2ª) Apresentar escritas não alfabéticas produzidas por crianças em processo de

alfabetização, explicando que foram coletadas com crianças no 1º semestre do 1º ano, as

quais foram solicitadas a escrever ESCORREGADOR, BICICLETA, CARRINHO,

BOLA e PÁ. (Anexo A)

O que você acha destas escritas, tem ideia do que significam?

3ª) O que você faz quando a criança comete erros na escrita? Qual sua visão do erro na

alfabetização?

4ª ) Você conhece a teoria de Emília Ferreiro? O que diz esta autora sobre a

alfabetização? Quando você estudou esta teoria?

30

ANEXO

31

32

DECLARAÇÃO

Declaro para fins de conferência, que eu Fabiana de

Andrade, CPF 027.571.149-80, brasileira, Bibliotecária CRB

14/1249, realizei a conferência das normas da ABNT e

formatação do trabalho acima.

Florianópolis, 29 de novembro de 2015.