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O PROGRAMA DE COLETA SELETIVA: ENQUANTO MECANISMO DE
INCLUSAO SOCIAL
Área: SERVIÇO SOCIAL
Rennan Messias dos Santos
UNIPAN, R. Otelo C. de Castilho, nº966 Coqueiral – Cascavel/PR, E-mail: [email protected]
Luciane Martini
UNIPAN, Rua Rubens Lopes, n.36 Bairro Jardim Universitário-Cascavel/PR. E-mail:[email protected]
Resumo: Na atualidade, a sociedade modifica-se continuamente, influenciada pelas transformações econômicas, políticas e sociais. No contexto brasileiro, os resultados das mudanças no processo de acumulação capitalista, na fase de mundialização do capital e revolução tecnológica, acarretam o agravamento das expressões da questão social, principalmente no que diz respeito ao desemprego com rebatimento na organização e modo de vida das famílias, principalmente da classe trabalhadora. Porém, as ações estatais não incidem sobre o núcleo central do problema; pelo contrario, são executadas para o enfrentamento “isolado” e focalizado de (algumas das) expressões da questão social, como se fossem problemas sociais particulares e individuais, fragmentando as demandas sociais como forma de “abafar” e naturalizar qualquer possibilidade de organização contra a ordem social estabelecida. Quando direcionamos nosso olhar aos catadores, percebemos que estes passaram a se perceber enquanto sujeitos políticos, capazes de coletivamente influenciar as políticas públicas, em especial a política de assistência social e de meio ambiente, como caminho de promoção das condições de trabalho, inclusão social e desenvolvimento sustentável. Este artigo é resultado de experiências do campo de estágio realizadas numa Cooperativa de Catadores. Palavras-chaves: Meio ambiente, catadores, Serviço Social.
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1. INTRODUÇÃO
Atualmente, grandes problemas ambientais estão afetando nosso planeta em todos os
âmbitos: a mudança climática, o buraco da camada de ozônio, as grandes perdas de solos
cultiváveis causados pela erosão, a desertificação, o desmatamento das florestas, a
contaminação do ar e das águas etc., que podem ser observados tanto de modo geral quanto
em nível local. O desenvolvimento tecnológico excessivo resultou num ambiente em que “a
vida se tornou prejudicial para o corpo e para a mente”. Diante da analise das raízes desses
problemas observamos suas relações como os elementos que configuram a legitimam a
realidade atual, podemos deduzir que essa situação deriva de uma cosmovisão, que concebe o
mundo como uma maquina e não como um conjunto de ecossistemas onde haveria de ter
equilíbrio (BARRETO, 2009).
Ainda para o autor, a maioria das cidades brasileiras de médio e grande porte convive
hoje com inúmeros problemas provocados pelas freqüentes crises econômicas e políticas. Nas
últimas décadas, com a queda na oferta de postos de trabalho, o número de pessoas que
passaram a ocupar as ruas e delas retirar seu sustento começou a crescer. A atividade de catar
papéis e material reciclável, existente nas cidades há várias décadas, começou a agregar um
número cada vez maior de homens e mulheres que passaram a fazer parte dessa população
marginalizada e em situação de vulnerabilidade social.
Assim a coleta seletiva e a reciclagem têm hoje um papel muito importante para o meio
ambiente, pois se recuperam matérias-primas que de outro modo seriam retiradas da natureza,
e as aproveitam para utilização em indústrias de reciclagem, voltando assim à comercialização
como produto final. Neste sentido, a ameaça de exaustão dos recursos naturais não-renováveis
aumenta a necessidade de reaproveitamento dos materiais recicláveis, que são separados na
coleta seletiva de lixo. Destaca ainda que vários segmentos de uma comunidade podem
participar do programa de coleta seletiva, cada um fazendo sua parte e se beneficiando dos
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resultados. Um Exemplo disso é a parceria entre os condomínios, escolas, empresas, etc. com
as cooperativas ou associações que receberão os materiais selecionados e que muitas vezes
podem se encarregar da retirada dos mesmos. (BARRETO, 2009)
Para a realização do programa de coleta seletiva, é necessária a mobilização da
população em realizar esse trabalho. É importante, desde o início e durante o processo,
informar as pessoas da comunidade envolvida sobre a realização e implementação do projeto,
e os passos que serão dados; sempre as convidando a participar, utilizando-se das formas
costumeiras de organização e comunicação daquele local (reuniões em CRAS, Centros
Comunitários, Escolas, condôminos, etc.). Considerando o grande volume de material
reciclável gerado diariamente na cidade de Cascavel, o Programa de Coleta Seletiva teve como
objetivo reduzir o impacto ambiental causado pelo lixo e ainda, geração de renda para
catadores e maior conscientização da população. (BARRETO, 2009)
Os catadores da cidade de Cascavel iniciaram suas atividades, juntamente com o
crescimento migratório e populacional, e a forma estrutural do processo de “catação” do
material consiste-se de forma coletiva, operacional, organizada. Este catadores, antes
autônomos da coleta, passam a principais protagonistas, são pessoas humildes, quase sem
nenhuma qualificação, que necessitam do mínimo, para conseguirem se orientar, este projeto
consiste em fornecer os primeiros passos, conhecer a realidade local do catador, planejar, e
desenvolver a consciência coletiva, direcionando para o engajamento profissional solidário.
Os empreendimentos solidários são fruto da organização de trabalhadores e
trabalhadoras em busca da concretização e vivência de novas relações econômicas e sociais
que, de imediato, propiciam a sobrevivência e a melhoria da qualidade de vida de milhões de
pessoas em diferentes partes do mundo. Este movimento se caracteriza por práticas fundadas
em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser
humano como sujeito e finalidade da atividade econômica, em vez da acumulação privada de
riqueza em geral e de capital em particular.
Esta nova prática de produção e consumo privilegia a autogestão, a justiça social, o
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cuidado com o meio ambiente e a responsabilidade com as gerações futuras. Dentro dos
empreendimentos solidários destacam-se: grupos informais e cooperativos de produção, de
consumo solidário ou de serviços; entidades e grupos de crédito solidário e fundos rotativos;
grupos e clubes de trocas solidárias com uso de moeda social (ou comunitária); cadeias
solidárias de produção, comercialização e consumo, entre outras iniciativas. (BARRETO,
2009)
No seio destes processos, aprofundou-se uma concepção de desenvolvimento
socioeconômico que é ecologicamente sustentável, socialmente justo e economicamente
dinâmico, reorganizando os processos de produção, comercialização, consumo, financiamento
e desenvolvimento tecnológico com vistas à promoção do bem-viver das coletividades e justa
distribuição da riqueza socialmente produzida, superando a contradição entre capital e trabalho
com base na autogestão e autodeterminação dos trabalhadores.
Os empreendimentos também são uma alternativa ao mundo de desemprego crescente,
em que a grande maioria dos trabalhadores não controla nem participa da gestão dos meios e
recursos para produzir riquezas e em que um número sempre maior de trabalhadores e famílias
perde o acesso à remuneração e fica excluído do mercado capitalista.
O sentido consumista e produtivista gerador de lucros para interesses privados é muito
bem colocado por Loureiro (2002):
“o problema não está na tecnologia e sim nas distorções que se faz num sistema que
exclui e marginaliza a maioria do processo produtivo e coloca a tecnologia como
aparato principal para a proliferação de bens de consumo que são supérfluos,
descartáveis e ambientalmente nocivos” (LOUREIRO, 2002, p. 38).
O fato é que no geral, a grande maioria da população não participa das formas de
organização social que vise à promoção da qualidade de vida e sim, há um individualismo e
imediatismo. O autor completa em seu texto que na problemática ambiental, a simples
percepção e sensibilização não expressa o aumento de consciência, fazendo com que se retome
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o argumento sobre cidadania: a consciência, para ser ecológica, precisa ser crítica.
Do ponto de vista social, a conscientização ambiental produz um ambiente favorável às
ações integradoras, quando a comunidade já começa a perceber que participar da coleta
seletiva produz economia nos recursos públicos, melhoria das condições ambientais e sociais,
tanto dos agentes ligados diretamente ao processo de coleta seletiva quanto para a comunidade
em geral.
Tendo em vista o cenário descrito acima, este artigo tem como objetivo principal
destacar e analisar a importância da coleta seletiva e preservação ambiental, apresentar os
benefícios do programa quando implantado numa determinada região, bem como apresentar
um novo campo de atuação para o Serviço Social.
Assim, este artigo está dividido em 4 capítulos, o 1º refere-se a introdução do tema
ora pesquisado, sendo apresentado o Referencial Teórico;
Já o segundo aborda o referencial teórico, e o terceiro apresenta os resultados e a analise dos
dados e a conclusão.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Breve concepção acerca da coleta seletiva e dos materiais recicláveis
Para a efetivação da coleta seletiva é necessário a conscientização de todos para a
busca de soluções para o grave problema. Isto é possível através de palestras, manual de
Coleta Seletiva e cartazes demonstrando as vantagens da reciclagem, da preservação dos
recursos naturais e a não poluição do meio ambiente” (BARRETO, 2009)
Na próxima fase, é importante sinalizar e disponibilizar coletores específicos para cada
tipo de material em lugar comum a todos e de fácil acesso. Hoje, além dos coletores é possível
disponibilizar sacos de lixos nas cores padrões de cada material. Na última etapa necessita-se
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ter um sistema pré-determinado para o recolhimento dos materiais selecionados e que deverão
ser encaminhados para as usinas de reciclagens.
No cotidiano de nossas cidades, são produzidas milhares de toneladas de lixo. Há
muito tempo este resíduo é um dos grandes problemas que o poder público e a sociedade têm
enfrentado, buscando soluções que nem sempre atendem as necessidades. Razão disso a
degradação do meio ambiente, tais como as contaminações de nossos rios, a poluição do ar,
ruas sujas, proliferação de insetos, ratos, etc, causando doenças (CHASSOT, 2008).
Para o autor a solução mais eficiente é a separação dos materiais recicláveis para o
reaproveitamento, transformando o problema do lixo em solução econômica e social. Para que
isto seja possível é preciso que todos participem colaborando com o programa de Coleta
Seletiva.
Para 75 latas de aço, recicladas, preserva-se uma árvore que seria usada como carvão;
Para cada tonelada de papel reciclado, evita-se a derrubada de 16 a 30 árvores adulta, em
média; A cada 100 toneladas de plástico reciclado, evita-se a extração de1 tonelada de
petróleo e a economia em torno de 90% de energia; 10% de vidro reciclado, economiza-se 4%
de energia e reduz 10% no consumo de água. As vantagens da reciclagem são muitas mas
acima de tudo, ela melhora a qualidade de vida, minimiza os efeitos da poluição no planeta,
gera empregos e rendas, além de valorizar as empresas ambientalmente corretas
(COOTACAR, 2004).
Já com relação aos materiais recicláveis são papeis, plásticos, vidro e metal. Todos
devem ser separados e colocados em coletores ou sacos plásticos de preferência na cor padrão
de cada material. Conforme orientações de próprios catadores, a identificação e classificação
correta deve ser feita da seguinte forma, segundo a (COOTACAR, 2008)
Plástico – Cor padrão VERMELHO: seriam copos descartáveis, garrafas pet, sacos e
sacolas, frascos de produtos de limpeza/higiene, tampas e potes, canos e tubos de PVC etc.,
não são considerados recicláveis tomadas, cabos de panela, adesivos, espumas e embalagens
metalizadas (biscoitos e salgadinhos).
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Papel – Cor padrão AZUL: seriam jornais e revistas, listas telefônicas, papel
sulfite/rascunhos/papel de escritório, folhas de caderno, formulários de computador, aparas,
fotocopias, envelopes, cartazes velhos etc., e não se classificariam etiquetas adesivas, papel
carbono, celofane, fita crepe, papeis de uso sanitário, metalizados, parafinados, plastificados,
fotografias e bitucas de cigarro.
Vidro – Cor padrão VERDE: garrafas, potes de conserva, embalagens, frascos de
remédio, copos, cacos dos produtos citados. Portas de vidro, espelhos, vidros temperados,
louças cerâmicas, óculos, pirex, porcelana, tubos de TV’s são descartáveis sem reutilização.
Metal – Cor padrão AMARELO: tampinhas de Garrafas, latas em geral, panelas sem
cabo, ferragens, arames, chapas, canos, prego e etc. clipes, grampos, esponja de aço, aerossóis,
latas de tinta (com resíduos), latas de verniz (com resíduos) solventes químicos e latas de
inseticida são descartados.
Com base nestas argumentações e neste cenário é que o Serviço Social desenvolve sua
pratica junto a COOTACAR, no Município de Cascavel, sendo que esta questão será abordada
de forma mais aprofundada no próximo item.
2. 2 Serviço social e meio ambiente: a expansão da prática profissional
Um dos maiores desafios e grandes conquistas na problemática ambiental tem sido
levar a analise de todas as possibilidades apresentadas sobre o tema às diversas áreas do
conhecimento. O Serviço Social se coloca sobre novos questionamentos no que diz respeito ao
âmbito da pratica profissional, já que a profissão tem uma longa historia de intervenção,
visando atender as camadas “excluídas” e “marginalizadas”.
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Segundo Reigota (2008):
“A experiência acumulada pelos/pelas assistentes sociais com as camadas excluídas
e marginalizadas é de fundamental importância para o desenvolvimento da
perspectiva da educação ambiental como educação política, de intervenção,
participação e voltada para a construção de uma sociedade justa e sustentável”
(REIGOTA, 2008)
Desta forma, evidencia-se que a atribuição dos Assistentes Sociais não fica relegada
apenas à sua competência técnica, mas também passa a abranger principalmente o seu
crescente compromisso político.
Ainda para o autor a área de atuação do Serviço Social tem se expandido na atualidade,
considerando o fato de que as expressões da questão social ultrapassaram o “comum” – de
atender as necessidades básicas de sobrevivência, decorrentes da vulnerabilidade social na
qual o individuo se encontra – e passando a englobar problemas que afetam toda a sociedade,
que até então era responsabilidade de profissionais alheios ao âmbito das ciências sociais
estudá-los e buscara alternativas para “resolve-lo”.
Já para Gómez (1998) “as ciências sociais informam-nos que a complexidade social
não é fragmentaria nem se apresenta atomizada; ao contrario, é diferenciada multicausal,
interdependente, global e integradora”. Destaca ainda que “todos os organismos modificam
em alguma medida os ecossistemas nos quais vivem”, por esta razão, o Serviço Social tem
trabalhado junto a organizações na aplicação de Políticas voltadas, a preservação ambiental, de
maneira a intervir na realidade social.
Com a evolução tecnológica, aumento na emissão de gazes poluentes e lixo nas
grandes cidades, bem como o consumo inconsciente, necessitam-se de uma conscientização
dos profissionais da intervenção social como educadores ambientais. O Assistente Social,
através de sua formação, adquire uma “maneira de intervir socialmente” diferente das de
outros profissionais, devido a “forma de descrever, analisar e interpretar a realidade social”.
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Estas reflexões nos levam a enfatizar a figura, o papel do cientista e do Assistente
Social, como mediador entre o “ecológico” e o “social”. Poderíamos dizer que a mediação
consistiria em criar “pontes” em guiar as novas formas de relação entre o “ecológico” e o
“social”, entre o ser humano e seu meio, entre o cidadão e a sociedade.
Kisnerman (1998) propõe que “o Serviço Social ambiental teria a função de integrar e
coordenar ações destinadas a conscientizar a população sobre esse desafio para a humanidade
e intervir com seus métodos e técnica, na medida do possível, conseguir minimizar alguns
desses efeitos com a comunidade”. Argumenta ainda que compete ao profissional do Serviço
Social:
“sensibilizar os diferentes atores sociais locais em reação à problemática do meio
ambiente, articulado e coordenando grupos em torno de propostas especificas de
respeito por todas as espécies vivias e de busca da harmonia com a natureza, da
melhoria ambiental de modo a manter a higiene e a conservação do território
habitacional e obter um melhor aproveitamento dos recursos. Gerar organizações de
base para a gestão local, apoiando as tarefas dos municípios em matéria ambiental,
desenvolvendo propostas de formação e capacitação destinada a prevenir os
problemas ambientais e manter seu meio ambiente em boas condições, assim como
deter, e sempre que possível reparar os danos causados. (Kisnerman, 1998, p. 199)
“Assim, não apenas temos de estudar a natureza, características, tendências e
implicações dessas relações, mas temos de intervir nelas, uma vez mais através de relações, o
que nos remete de novo ao papel de mediação social dos assistentes sociais”. (Serviço Social e
Meio Ambiente, 2000)
2.3 O serviço social na cooperativa de trabalhadores catadores de material reciclável
Considera-se o Serviço Social como uma profissão decisiva para o entendimento e
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participação no processo político de transformação de problemas, de estados de coisa
naturalizados que exigem resoluções públicas ao reintegrar os que se acham à margem de um
sistema que não tem capacidade de integrá-los.
A vulnerabilidade social vivenciada pelos catadores, entendida por Almeida (2006),
que os eventos que vulnerabilizam os sujeitos não são apenas de natureza econômica, fatores
como a fragilização de vínculos afetivo-relacionais e de pertencimento social e político,
também afetam os sujeitos.
Cabe destacar que, a catação – entendemos como um indicador de desemprego,
pobreza e trabalho informal, como denota a forma como o assunto é tratado atualmente, pela
sociedade capitalista na qual a precarização do trabalho exclui grande parte da população do
trabalho formal, incentiva ao consumismo desenfreado próprio da sociedade moderna,
consumo este que resulta num enorme volume de rejeitos (lixo orgânico e materiais
recicláveis), coloca para a categoria dos catadores uma alternativa de sobrevivência na qual
este obtém renda por meio da coleta destes rejeitos (BARRETO, 2009).
Para Magera (2003) a atividade dos catadores, que “[...] reciclam o lixo que eles não
geraram, porque não têm condições econômicas de consumir. Esses trabalhadores fazem o que
a classe média e alta jamais fariam: trabalham no lixo, tornando-o sua fonte de renda e
sobrevivência”
Acreditamos que a atribuição de novos significados ao lixo, ao mesmo tempo que
mostra solução, também cria formas mais qualificadas de trabalho e comercialização, dando
uma valorização melhor ao trabalho dos catadores e ampliando sua condição de cidadão.
Chassot et al (2009) destaca o Assistente Social como um “instrumento de
intervenção”, cuja demanda exige “um profissional competente em seu desempenho, com
capacidade de inserção criativa e propositiva, no conjunto das relações sociais e no mercado
de trabalho, e estes itens estão presentes como um dos objetivos do Código de Ética”. Além
disso, como o profissional estará sempre intervindo na realidade social, este precisa conhecer a
realidade concreta em que está inserido, e então será capaz de desempenhar verdadeiramente
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sua ação consciente, reflexiva na ampliação do acesso à cidadania dos usuários, mesmo que
seja uma luta conflituosa e de enfrentamentos
Para os autores entraves e limitações sempre existirão e continuarão a existir nas
instituições de trabalho, porque a realidade social está sempre em transformações. Mas cabe
ao profissional programar, administrar e repassar os serviços sociais assegurados
institucionalmente, com Políticas Sociais que atendem as demandas da classe trabalhadora,
dos desempregados, dos desprovidos de direitos à saúde, educação, cultura, lazer, entre outros.
Tarefa que cabe ao Serviço Social, mediante a sua ética profissional que procura garantir o
maior número possível de direitos de forma inteligente e crítica, apoiando as legítimas
demandas de interesse da população usuária em toda a sua singularidade.
Visando a efetivação do código o profissional é comprometido com a questão do
usuário e utilizam como ferramenta em seu trabalho, os conhecimentos teóricos adquiridos em
sua formação. Um importante ponto a se ressaltar é que os utiliza para sair da aparência e
adentrar na essência das expressões da “Questão Social”. O Profissional age assim de maneira
crítica e busca a todo instante o conhecimento da realidade que o cerca para que seu trabalho
seja efetivado com sucesso.
É neste cenário e baseado nestas premissas que o Assistente Social executa suas
atividades na COOTACAR, atendendo diretamente os catadores e suas famílias bem como, na
mobilização e na implementação das Politicas voltadas para este segmento.
3.0 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
3.1 Análise sócio-econômica dos catadores
Tendo como base as argumentações elaboradas no capitulo anterior que se referem ao
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referencial teórico deste trabalho, desenvolvemos e aplicamos junto a uma amostra de 08
(oito) catadores de Materiais Recicláveis pesquisa primaria com questões estruturadas
previamente.
Assim, o primeiro questionamento refere-se ao fato de que se o material advindo de
convênios firmados com condomínios e empresas, se estes agregariam valor significativo na
renda mensal de cada trabalhador. Observou-se que 100% da amostra afirmou que estes
materiais contribuem diretamente com a renda familiar. E conforme relatos abaixo, alguns
justificaram suas respostas. Observando a opinião do entrevistado 01 sobre importância deste
material: “Isto ainda é relevante, pois contribui com 30% da renda do catador”.
O entrevistado 02 que justificou sua resposta também concorda com a complementação
da renda através destes materiais, acrescentando:
“é um lucro a mais para meus familiares, que precisam. Esta quantidade juntada todo
o final de mês dá pra sustentar uma família. O material que vem de outros lugares
não importa, desde que ele venha limpo”.
O entrevistado 03 coloca a importância deste material vir para o espaço
disponibilizado: “porque o trabalho é realizado todo aqui dentro, não precisamos sair na rua com o
carrinho, o material chega no caminhão, nós separamos, vendemos e dividimos o
dinheiro”.
A próxima questão diz respeito a conscientização dos condôminos referente a
separação dos materiais e também das pessoas que passam estes para a cooperativa. Percebe-
se que 50% dos entrevistados consideram “razoável” a conscientização dos condôminos,
enquanto 25% consideram “boa” e 25% “ótima”.
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Neste sentindo entendemos a importância da conscientização da população em geral sobre esta
questão, pois envolve não somente o meio ambiente, mas também a saúde e o meio social.
Quando questionados sobre a efetividade da separação dos materiais em
especificidades (plástico, papel, vidro, etc.) repassados a cooperativa ,pelos moradores,
observou-se que 75% dos entrevistados considera esta conscientização “razoável”, já 12,5%
“boa”, e a mesma porcentagem considera “ótima”.
A sociedade possuía uma visão do catador como “risco” a sua segurança na execução
da atividade de recolhimento, a próxima questão buscou entender se tal visão mudou no
decorrer do trabalho. Assim 87,5% dos pesquisados acreditam que a visão de
“marginalização” para com o trabalhador mudou, conforme alguns relatos:
“Atualmente sim, hoje os catadores são respeitados e valorizados pelo trabalho que
executam favorecendo o bem estar do planeta”
“Com certeza, se é uma pessoa que precisa trabalhar, uma pessoa séria. Somos
considerados como trabalhadores igual qualquer um.”
E 12,5% dos entrevistados não responderam tal questão. Uma das questões falava
sobre as condições de coleta, considerando o local de armazenamento, os rejeitos que
acabavam se misturando com o material reciclável dentre outras situações que pudessem
dificultar a realização do trabalho. Sobre isso, conclui-se que 25% dos entrevistados
consideram “razoável” a condição de coleta, 37,5% “boa”, 25% avaliam “ruim” e 12,5
“ótima”.
Atualmente, considerando a quantidade de condomínios na cidade de Cascavel, um
numero pouco significativo faz a coleta seletiva e repassa o material reciclável para catadores.
Quando questionados sobre “estratégias” para efetivar convênios com novos condomínios para
repasse, 100% acredita ser pouco os condomínios que tem consciência em promover a
responsabilidade social e ambiental, acrescentando:
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“os moradores dos condomínios deveriam conhecer mais sobre os trabalhadores da
cooperativa, assim eles mesmo poderiam usar uma estratégia que ajudasse as
residências a aumentar o repasse.” (entrevistado 01)
“bom seria que os síndicos se conscientizassem e viessem falar com a cooperativa
para que houvesse mais lugares para os catadores coletarem.”(entrevistado 02)
“Deveria existir uma conscientização melhor para o bem comum de todos, visando
saúde, sustentabilidade e o amparo social, tendo assim respeito para com o meio
ambiente.” (entrevistado 04)
“Acho que nós poderíamos fazer reuniões com os síndicos e assim conseguir mais
materiais recicláveis.” (entrevistado 06)
Assim com base nestas argumentações observa-se ainda a pouca participação efetiva
dos condomínios neste processo, assim no item seguinte apresentamos a analise referente a
concepção dos síndicos e bem como dos moradores.
3.2 Análise e avaliação do programa de coleta seletiva no condominio
Após aplicação de pesquisa junto aos catadores, organizamos um questionário para
aplicar a alguns condôminos e ao sindico do “Terra Nova Cascavel”, com o objetivo de
analisar os resultados da implantação do programa de coleta seletiva. Obtivemos a amostra de
4 entrevistados.
A primeira pergunta referiu-se a maneira como os entrevistados tomaram
conhecimento do trabalho realizado pela cooperativa. 25% dos entrevistados já possuíam
conhecimento sobre esta pratica, porém aprimoraram seus conhecimentos através de
informativos, folders e de indicações por outras pessoas, enquanto 75% conhecerão o
processo somente após a implantação do convenio, através de uma reunião de conscientização
que a Cooperativa realizou junto aos moradores. Os entrevistados acrescentaram:
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“Os moradores do condomínio já tinham conhecimento do programa de coleta
seletiva através de informativos ou de pessoas que já repassavam o material. Um dia
um condômino me procurou e sugeriu a solicitação de informações para um possível
convenio.” (entrevistado 01)
“A sindica tomou conhecimento através de indicações e nos passou a informação.”
(entrevistado 02)
“A sindica trouxe a nosso conhecimento”. (entrevistado 03)
“Eu não conhecia o trabalho da Cootacar, mas a sindica nos apresentou.”
(entrevistado 04)
Quando questionados sobre a iniciativa de procurar a cooperativa e tentar implantar o
programa de coleta seletiva, 50% dos entrevistados dizem ter sido iniciativa de um morador,
enquanto 50% diz ter partido do sindico o interesse na implantação do processo.
Ao avaliar os resultados do programa de coleta seletiva no condomínio, 100% dos
entrevistados afirmam estar satisfeitos. A sindica acrescenta:
“É sim, pois a cooperativa cumpre com o compromisso expresso no termo de
convenio. Recolhe o material regularmente, sempre por pessoas identificadas,
fornecem-nos informações mensais com relação ao material repassado. Excelente”
A conscientização dos outros moradores no sentido de separação correta de materiais, é
avaliada “razoável” por 75% dos entrevistados, enquanto 25% consideram “ruim”. E 100%
dos entrevistados consideram satisfatório o compromisso assumido pela cooperativa na
realização da coleta seletiva.
Quando questionados sobre o fato dos condôminos ter idéia do papel social o qual estavam
desenvolvendo ao separar este material e auxiliar no desenvolvimento sustentável, bem como
o auxilio na complementação de renda destas famílias, 75% dos entrevistados dizem não ter
conhecimento do que realmente é feito com o material repassado; 25% diz já ter um
conhecimento considerável sobre o trabalho, porém ficou mais claro após a realização da
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reunião durante o processo de implantação do programa de coleta.
Uma das questões aplicadas refere-se a parte de “conscientização ambiental” realizada pelos
órgãos responsáveis, e 100% dos entrevistados consideram “ruim” , acrescentando que:
“Por que se não fosse por informativos ou por indicações de pessoas que conhecem o
trabalho da cooperativa, os moradores não teria tomado conhecimento do processo.”
Quando colocada a relação entre os condôminos e os catadores responsáveis pela coleta no
condomínio, 100% dos entrevistados consideram “boa” a relação.
Por mais que a equipe técnica da cooperativa realize reuniões com o objetivo de sanar as
duvidas com relação a separação de materiais, ainda existe “desinteresse” por parte destas
pessoas no sentido de separar corretamente. Através da pesquisa, observou-se que 100%
considera que existe uma certa “negligencia” na separação, e citam:
“Com certeza, a população de um modo geral ainda não se deu conta da importância
dessa separação, mas aqui no condomínio, trabalhamos para mudar essa visão.”
(entrevistado 01)
“Acho que ainda tem muito desinteresse por parte das pessoas em relação a
preservação.” (entrevistado 02)
“Acreditamos que existe sim falta de vontade por parte de um grupo de pessoas, mas
também tem aquelas que fazem o que está ao seu alcance pra ajudar.” (entrevistada
03)
“A conscientização hoje existe, porem ainda não atingiu um grau de satisfação
suficiente para tirar de nossas vidas a preocupação com a preservação.” (entrevistado
04)
A pesquisa questiona sobre o papel da COOTACAR enquanto instrumento de Inclusão Social,
100% dos entrevistados acham importante as atividades realizadas, ainda colocam:
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“Muito importante e louvável a iniciativa de ajudar essas famílias, pois se cada um
fizer a sua parte, conseguiremos num futuro não muito distante, termos uma
qualidade de vida melhor e ainda ajudar a quem precisa, pode parecer utopia, mas
ainda ha salvação tanto para o planeta como para a humanidade.” (entrevistado 01)
4 . CONCLUSÕES
O processo de mudança que tem ocorrido nos últimos anos devido às catástrofes
naturais resultantes da agressão ao meio ambiente causadas pela sociedade, nos remete a
analisar nossas atitudes, reformular nosso modo de vida e rever alguns conceitos.
Além de uma previa identificação de todos estes problemas, este trabalho teve como
objeto a investigação da pratica do Serviço Social no âmbito do meio ambiente, bem como a
situação de vulnerabilidade e exclusão social enfrentada pelos catadores da Cooperativa de
Trabalhadores Catadores de Material Reciclável, na cidade de Cascavel – PR, frente às
suas condições precárias de trabalho e diversas expressões da questão social trazidas por estes.
Teve como objetivo geral analisar a atuação do Assistente Social junto ao trabalho dos
catadores de materiais recicláveis de Cascavel – PR, quanto às formas de organização das
relações de trabalho coletivo para o enfrentamento da situação de vulnerabilidade social em
que se encontram.
Através deste artigo, conclui-se que hoje a pratica profissional do Assistente Social
esta em constante modificação no que diz respeito ao “publico alvo”, pois a demanda de
atuação vem se expandindo. No meio ambiente o profissional intervém como educador e
conscientizador, estabelecendo mediações entre a sociedade e a preservação. Trata-se de ver o
Serviço Social como um processo que “transforma” as relações sociais, na qual todos nos
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tornamos educandos e educadores em todas as facetas e âmbitos de nossa vida. Nota-se que
precisamos tomar consciência da importância do efeito multiplicador de nosso compromisso,
não obstante a desvalorização que nossos usuários sofrem pela consolidação dos valores pós-
modernos, auxiliando na superação do efeito negativo que os valores individualistas vão
gerando nas consciências traduzidas depois em atos concretos de falta de solidariedade,
consumismo etc.
Com relação as formas de organização das relações de trabalho coletivo, a pesquisa
demonstrou que a renda utilizada proveniente dos materiais recicláveis contribuem
diretamente com a renda familiar. E que a maior parte da amostra acredita que a sociedade
mudou a visão sobre esta atividade, sendo que hoje sente-se valorizados e respeitados pelo
trabalho que executam, e que a execução deste serviço na atualidade é a única opção devido ao
grau de vulnerabilidade em que estas famílias se encontram e principalmente a falta de
instrução.
Conclui-se também que com relação a falta de conscientização por parte dos
condôminos da importância da coleta seletiva. Percebe-se assim com a pesquisa a importância
da conscientização da população em geral sobre esta questão, pois envolve não somente o
meio ambiente, mas também a saúde e o meio social.
A pesquisa demonstrou que a coleta seletiva ainda não se efetivou, pois a grande
maioria dos entrevistados consideraram razoável as condições dos materiais encontrados no
momento da coleta, ou seja, não ocorreu a efetiva separação destes materiais.
Percebeu-se através da pesquisa que a grande maioria dos moradores tiveram acesso
aos trabalhos desenvolvidos pela Cooperativa através de informativos, folders e também da
indicação de outras pessoas. E a sua totalidade conheceram o processo somente após a
implantação do convenio,
Outro fator importante refere-se ao fato de que a iniciativa da implementação do
programa partiu dos moradores e também do sindico; e percebeu-se que 100% dos
entrevistados estão satisfeitos com o programa de Coleta Seletiva implementado em seu
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condomínio. Conclui-se também que ocorre uma ótima relação entre os catadores e os
condôminos; e também que consideram a COOTACAR enquanto instrumento de inclusão
social.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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