Upload
ngominh
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIADE VITÓRIA – EMESCAM
MAYARA CAROLINE MAIA OLIVEIRA
PROGRAMA DE PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA: OOLHAR DOS APOSENTANDOS DA CESAN/ES
Vitória2017
MAYARA CAROLINE MAIA OLIVEIRA
PROGRAMA DE PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA: OOLHAR DOS APOSENTANDOS DA CESAN/ES
Trabalho de Conclusão de Curso de graduaçãoapresentado a Escola Superior de Ciências daSanta Casa de Misericórdia de Vitória –EMESCAM, como requisito parcial paraobtenção do grau de Bacharel em ServiçoSocial.Orientadora: Prof. Maria Cirlene Caser.
Vitória2017
FOLHA DE APROVAÇÃO
MAYARA CAROLINE MAIA OLIVEIRA
PROGRAMA DE PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA: OOLHAR DOS APOSENTANDOS DA CESAN/ES
Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado a Escola Superiorde Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM comorequisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social
Aprovada em 28 de junho de 2017
COMISSÃO EXAMINADORA
__________________________________________Prof.ª Mª. Maria Cirlene CaserEscola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de VitóriaOrientadora
_________________________________________Prof.ª Mª Gláucia Salles XavierEscola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de VitóriaOrientadora
__________________________________________Mestranda (o) Rodrigo da Rocha RodriguesEscola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de VitóriaAvaliador (a)
Envelhecer
Certamente com a mente sã
Me renovando
Dia a dia, a cada manhã
Tendo prazer
Me mantendo com o corpo são
Eis o meu lema
Meu emblema, eis o meu refrão.
(Lema, Ney Matogrosso).
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a Deus, que me protege e me guia sempre para o caminho
do bem.
À minha querida mãe Aparecida, que sempre sonhou com este momento,
dedico a ela todo meu esforço e conquista. Sempre almejou para mim um
futuro brilhante, me educou nos princípios legais e verdadeiros, sei que de
onde estiver sempre estará me protegendo, te amo para além da Vida.
Ao meu amado esposo Attile, por todo companheirismo, pelo seu apoio, amor,
sabedoria e paciência, por sempre acreditar no meu potencial, principalmente
estar junto em minhas decisões.
À minha família, que se orgulha por minhas conquistas, em especial minha
querida avó Cecilia, com 83 anos, mas que exala jovialidade, na qual perpassa
sua alegria e energia por onde passa. É para mim um exemplo de vida,
obrigada por ter me criado nos princípios da fé, Te Amo!
Ao meu pai Adilson, que mesmo distante me incentivou e colaborou para que
eu trilhasse o caminho do conhecimento, da educação e me tornasse um ser
humano mais responsável e consciente.
À Assistente Social Aline Leão de Rezende e à Psicóloga Vivian Gomes Vieira
de Abreu, por todo o apoio e orientação para que este trabalho acontecesse,
vocês detêm de um conhecimento enriquecedor.
À orientadora Prof.ª Ma. Maria Cirlene Caser, por toda contribuição a este
trabalho.
A todos os participantes do Programa de Preparação para Aposentadoria da
CESAN, que colaboraram e participaram dessa pesquisa, meu singelo
obrigado.
SUMÁRIO1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 8
2. CESAN............................................................................................................. 9
3. MÉTODO.......................................................................................................... 9
4. TRABALHO E APOSENTADORIA................................................................... 11
5. O CONCEITO TRADICIONAL DE ENVELHECIMENTO PARA A
SOCIEDADE BRASILEIRA ......................................................................................... 13
6. O PROGRAMA DE PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA (PPA) DA
CESAN................................................................................................................. 16
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 26
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 27
9. APÊNDICES..................................................................................................... 30
Salus Journal of Health Sciences
PROGRAMA DE PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA: OOLHAR DOS APOSENTANDOS DA CESAN/ES
Mayara Caroline Maia Oliveira; Maria Cirlene Caser.
EMESCAM Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória Av. N. S. daPenha, 2190, Santa Luiza Vitória ES 29045402 Tel.: (27) 3334-3500Submetido em 28/06/2017
Resumo
Este trabalho de conclusão de curso teve como objetivo “refletir, na perspectiva
dos aposentandos, acerca dos saberes adquiridos no Programa de Preparação
para Aposentadoria dos trabalhadores da CESAN, bem como seus possíveis
reflexos para a nova etapa de vida”. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que
visou conhecer a perspectiva dos participantes do programa realizado no ano
de 2016. O estudo revelou a importância da reflexão e do conhecimento para
com os aposentandos, através das ações desenvolvidas pelo programa antes
do desligamento da empresa. Evidencia também a importância dos
profissionais exercerem o papel de mediador na preparação para a
aposentadoria, uma vez que esse processo não significa somente uma perda
financeira para o trabalhador, vai muito além, pode também ser encarado como
uma perda de sentido, perda de um papel identitário. Faz-se necessário,
portanto, a proposta de uma intervenção que os mobilizem para o
enfrentamento das perdas e possibilite caminhos a serem trilhados para este
novo ciclo.
Palavras-chave: Trabalho, aposentadoria, envelhecimento.
8
INTRODUÇÃO
O envelhecimento da população é um fenômeno recente, de tal modo que até
mesmo países bem estruturados, tanto economicamente, como socialmente,
estão em um processo de adequação a esse novo desafio: adaptar políticas e
programas de incentivo a uma condição de vida de respeito e acessibilidade, e
assim proporcionar um envelhecimento digno.
Igualmente contextualizado no Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741 de 1º de
outubro de 2003 no Art.9 º: “É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a
proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas
que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade. ”.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
expectativa de vida ao nascer, no Brasil, está indicada para 75,5 anos, em 2015,
sendo que o Espírito Santo ocupa o 2° lugar no ranking nacional, com média de
77,9 anos. Esses dados simulam que em um futuro próximo teremos um alto
índice de idosos em nosso Estado em relação à quantidade de jovens.
Com o aumento da proporção de idosos na população brasileira, originam-se
assuntos em torno de várias indagações que remetem ao termo aposentadoria:
previdência, políticas públicas para o idoso, velhice, saúde, relacionamento
familiar, autocuidado, alimentação saudável, etc.
Através destas questões, este trabalho visa pontuar a necessidade do
planejamento para a aposentadoria, no intuito de incentivar a população sobre
a importância de se preparar para essa nova fase da vida, já que muitos não
aderem a esse preparo. O planejamento pode envolver a reflexão de aspectos
financeiros, laços afetivos, familiares, relação de contexto emocional, saúde,
estilo de vida, para assim proporcionar momentos prazerosos, garantindo a
independência ao despertar de novas oportunidades.
9
CESAN
A CESAN (Companhia Espírito Santense de Saneamento) é uma empresa de
economia mista, tendo o Governo do Estado 99,74% das ações e restante
sendo de acionista. No ano de 2017 a empresa comemora seus 50 anos desde
sua fundação, estando presente em 52 dos 78 municípios do Espírito Santo,
trabalha com o saneamento básico, captação da água, tratamento e
distribuição e na coleta e tratamento do Esgoto, onde antes estava em função
do Departamento de Águas e Esgoto (DAE).
A empresa visa à satisfação da sociedade, clientes, acionistas e trabalha na
qualidade de vida dos empregados. Atua na realização de estudos, projetos,
construção, operação e exploração industrial dos serviços de abastecimento
água e esgoto sanitário assim também contribuindo para o desenvolvimento
socioeconômico do Estado.
A empresa tem a missão de “Prestar serviços de saneamento com
sustentabilidade, contribuindo para o desenvolvimento e a melhoria da
qualidade de vida”.
MÉTODO
O Programa de Preparação para Aposentadoria foi realizado em seis encontros
quinzenais denominados como módulos com as seguintes temáticas
distribuídas: Autoconhecimento, Planejamento Financeiro, Trabalho e Pós-
Carreira, Saúde e Qualidade de Vida, Relacionamento Familiar e Estilo de
Vida. Os encontros foram planejados para ocorrerem às sextas-feiras, o local
escolhido foi a ESESP (Escola de Serviço Público do Espírito Santo), com
carga horária total de 36 (trinta e seis) horas. O público alvo foram
trabalhadores da CESAN que já são aposentados e que assinaram o PIADV -
Plano de Incentivo à Demissão Voluntária, visando assim o desligamento da
empresa. O grupo foi pensado para comportar até 20 participantes.
10
A coleta de dados foi realizada no último encontro em duas etapas. A primeira
etapa foi através da aplicação de formulário estruturado contendo perguntas
fechadas e abertas, com a participação de 15 (quinze) aposentandos
participantes do programa. A segunda etapa, para fins de aprofundamento das
questões propostas para o objeto estudado, elegeu-se 07 (sete) participantes
que tiveram aproximadamente 100% de frequência nos encontros.
As entrevistas foram feitas através de um roteiro semiestruturado, efetivadas
por meio de gravação e, em seguida, transcritas, com a finalidade de obter
relatos dos empregados em torno das expectativas posteriores ao programa,
ao processo de transição para este novo ciclo, e suas reflexões sobre os prós e
contras da fase de aposentar-se.
Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, de natureza qualitativa. A
escolha pela metodologia qualitativa foi em base do que a pesquisa aplica, pois
é um modo que tem liberdade de atribuir às expressões, com o propósito do
entrevistado poder relatar a vivência e as probabilidades futuras do programa.
Como descreve GODOY:
Considerando, no entanto, que a abordagem qualitativa, enquantoexercício de pesquisa, não se apresenta como uma propostarigidamente estruturada, ela permite que a imaginação e acriatividade levem os investigadores a propor trabalhos que exploremnovos enfoques. (GODOY, 1995, p.21).
Foi apresentado aos participantes da pesquisa, o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, com o propósito de obter autorização para realizar a
pesquisa e assegurar o sigilo das informações coletadas em relação à
identificação do sujeito entrevistado, gravações, relatos e roteiro de perguntas,
esclarecendo assim todo o procedimento da pesquisa a ser realizada.
Respeitou-se o caráter ético exigido pela pesquisa com seres humanos.
Uma vez coletados os dados, estes foram transcritos na íntegra, tabulados e
analisados a partir do quadro conceitual apontado pela pesquisa utilizando a
técnica de análise de conteúdo.
Como bem diz BARDIN:
11
[...] a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de comunicaçãovisando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos dedescrição de conteúdo das mensagens, indicadores (qualitativos ounão) que permitam a inferência de conhecimentos relativos àscondições de produção/recepção destas mensagens (BARDIN, 1979,p. 42).
Esta metodologia foi escolhida visando o aprofundamento dos dados coletados,
com objetivo de interpretar o conteúdo que o sujeito descreveu, indo no real
significado de sua compreensão.
TRABALHO E APOSENTADORIA
O trabalho surge com a origem do homem, a partir do desenvolvimento das
ferramentas feitas de pedra, para a caça e busca por alimentos. A evolução
histórica, humana, cultural e política, proporcionaram transformações do
trabalho e os modelos de produção ao longo de nossa sociedade, (primitivo,
asiático, escravista, feudal, capitalista, socialista e comunista).
E neste processo Marx, descreve que o trabalho é fundamental para a
existência humana, através das riquezas da natureza, o homem com sua força
de trabalho modifica a matéria prima para sua sobrevivência.
[...] a existência [...] de cada elemento da riqueza material nãoexistente na natureza, sempre teve de ser mediada por uma atividadeespecial produtiva, adequada a seu fim, que assimila elementosespecíficos da natureza a necessidades humanas específicas. Comocriador de valores de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso,uma condição de existência do homem, independente de todas asformas de sociedade, eterna necessidade natural de mediação dometabolismo entre homem e natureza e, portanto, da vida humana.(MARX, 1985a, p.172).
A partir da estruturação do modo de produção capitalista, o trabalho perpassa a
condição de fornecer somente bens necessários para a sobrevivência humana,
havendo assim a transformação do trabalho em mercadoria, objeto de venda e
troca, iniciando-se a exploração da mão de obra, exploração do homem pelo
homem, pois a produção vai para além da necessidade do trabalhador e sim
para a geração de lucro. Conforme MARX, (1985c, p.62) “Todo o sistema de
12
produção capitalista repousa no fato de que o trabalhador vende a sua força de
trabalho como mercadoria.”.
O trabalho é o principal meio de atividade para produção de mercadoria, tem a
função de geração de renda para o trabalhador e o lucro para a burguesia,
todavia a expressão do capitalismo é a exploração da mão de obra do homem,
de tal modo que necessita desta venda para a sua autonomia de vida.
O homem está no processo de produção do trabalho, e quando ele perde o
status social de emprego, um local definido e legalista para o trabalho - muitos
com a chegada da aposentadoria, para o sistema ele passa a ser inútil, como
um objeto descartável. Sendo assim, percebe-se que a forma de
funcionamento do modo de produção capitalista demonstra que o trabalhador
somente tem utilidade para o capital quando sua força de trabalho é produtiva.
Para o trabalhador, o processo de aposentadoria não significa somente uma
perda financeira, vai muito além, é uma perda de sentido, perda de um papel
identitário, uma função que ele tinha na sociedade, na qual se sentia útil, capaz
de produzir, de ser necessário. Como bem relatado em BULLA e KAEFER:
O ser humano cresce preparando-se para o trabalho e necessita dele,não só por uma questão de sustentabilidade, como de crescimentopessoal. Para o homem, o trabalho representa a própria vida, aindamais em uma sociedade capitalista em que o homem sem trabalho éconsiderado improdutivo, sendo excluído socialmente. Os estudoscomprovam que o trabalho representa um valor muito importante paraas pessoas, o que dificulta o afastamento, para o gozo daaposentadoria. Esse fato pode ser muito mais estressante para ohomem que, em geral, concentra mais sua vida no trabalho externodo que a mulher, que compartilha o trabalho externo, como o cuidadoda casa e dos filhos. Sendo assim, o esclarecimento e o debate sobreas questões ligadas ao trabalho e à aposentadoria podem contribuirpara se viver melhor o processo de envelhecimento e deaposentadoria, pois a longevidade é possível para um número cadavez maior de pessoas. (BULLA e KAEFER, 2003, p.5).
A chegada da aposentadoria traz o fim de um ciclo, de um tempo de trabalho,
que acarreta uma história de vida, de conquistas e perdas, momentos de
superação, lembranças que tem significado de dever cumprido. O trabalhador
13
participa de um processo na evolução da empresa, demonstrando muitas
vezes, um valor emocional pelo ambiente de trabalho.
A jornada de trabalho apresenta-se em forma de rotina, compromisso, venda
de sua força laboral, de tempo, esforço. Com o desligamento da instituição,
após a aposentadoria, muitos se sentem esquecidos pelas empresas na qual
passaram anos e alegam não sentir o devido reconhecimento.
O CONCEITO TRADICIONAL DE ENVELHECIMENTO PARA A SOCIEDADEBRASILEIRA.
Envelhecer é um processo natural que qualquer ser humano passa - a partir do
seu nascimento - são mudanças fisiológicas, biológicas, psicossociais que
ocasionam uma nova adaptação a um contexto social. Ao chegar nessa etapa,
algumas pessoas acabam se deparando com relações conflituosas de não
aceitação, não identificação com a aparência física e psicoemocional que a
idade pode acarretar.
O aspecto de velhice remete em nossa sociedade o que é ‘’velho’’,
‘’improdutivo’’ ‘’ sem utilidade’’, ‘’incapaz’’, um assunto que preferimos deixar de
lado e nos importar com o conceito de belo, o que é jovem, o novo. A busca
constante da nossa sociedade por fórmulas mágicas de juventude, produtos
cosméticos, alimentos que garantem rejuvenescer exaustivamente lançam-nos
a este apelo cotidianamente.
Aposentar não necessita ser sinônimo de envelhecimento, de rugas ou
doenças, isso dependerá da postura em relação à preparação para essa fase,
que começa com o dar início à carreira empregatícia. O conhecimento do
processo de envelhecer, as informações e as atitudes realizadas é que vão
conceber determinadas metas e objetivos a serem alcançados para a vivência
deste novo ciclo de vida de forma gratificante.
A idealização do idoso sentado em uma cadeira de balanço não é mais a
realidade que vivenciamos, hoje a terceira idade avança a uma fase de
14
descobertas, novas conquistas. E isso está sendo representado nos dados: tem
crescido o número de centros de convivência, grupos de terceira idade com
objetivo de descontração, festas, viagens, relacionamento conjugal e retorno ao
mercado de trabalho como empreendedores.
Em uma parcela dos idosos, estes com uma vida econômica razoavelmente
tranquila, têm criado autonomia de viver, sempre buscando qualidade de vida,
com boa alimentação, mudanças no estilo de vida, mente sã, viagens, prática
de atividades físicas e, em alguns casos, a religiosidade contribui positivamente
para a melhoria dos aspectos de viver bem.
O preconceito com a idade ou aposentadoria tanto por parte de empregados
como pela sociedade é um assunto muito relevante e necessita ser
desconstruído, a luta pelos direitos do cidadão idoso é algo prevalente em
nosso meio visto que a discriminação é um tanto comum em nossa população,
ao contrário do que ocorre na cultura oriental que trata o idoso com respeito e
como fonte de saber.
A Lei N°8.842 – Artigo N°10 – Cap. IV – inciso I do Estatuto do Idoso define que
o Estado deve: ‘’estimular a criação de incentivos e de alternativas de
atendimento ao idoso, como centros de convivência, centros de cuidado
diurnos, casa - lares, oficinas abrigadas de trabalho, atendimento domiciliares e
outros; ’’.
Enfatiza-se a importância das políticas públicas que contribuem
fundamentalmente para a promoção por melhores condições de vida, com a
promoção de espaços para a socialização como centros de convivência,
programas com acesso gratuito de atividade laboral, construção de academia
popular, acessibilidade ao SUS (Serviço Único de Saúde) para assim
proporcionar um estilo de vida social, mental, físico, e espiritual para o grupo da
terceira idade com qualidade.
A aposentadoria é regrada de contradições e a falta de preparação pode gerar
uma série de confusões, medos, dúvidas, anseios e até frustações, por isso a
15
importância do planejamento para essa transição, que tem função de despertar
novas oportunidades.
Nesta fase, acendem-se vários questionamentos, como em qualquer período
de mudança ‘’ O que vou fazer no tempo em que não vou mais trabalhar?
Conseguirei me manter com o salário de aposentado? Devo fazer
investimentos? Ou até mesmo serviços voluntários?
...a aposentadoria é uma transição que pode trazer perdas e ganhos,dependendo do contexto socioeconômico, político, cultural do paísonde os aposentados vivem bem como das retrospectivas eperspectivas individuais e familiares na época do evento. (FRANÇA EVAUGHAN, 2008 p.209,2010).
Como a aposentadoria causa certos temores, a sociedade prefere não tocar no
assunto e teima em chegar nesta fase de ‘’paraquedas’’, não buscando uma
preparação ou planejamento. Por isso, a importância do planejamento, para
assim o aposentado ter tempo de se preparar e possuir mais êxito nesta nova
jornada.
O custo com a assistência medica privada de saúde é outro vilão, com gastos
elevadíssimos que muitas vezes comprometem a maior parte do benefício da
aposentadoria, gerando assim a busca continua pelo SUS (Sistema Único de
Saúde). O aposentado endividado é outra questão que tem crescido muito nas
últimas décadas principalmente pela facilidade de empréstimos consignados
para essa determinada classe da sociedade.
BERZINS destaca:
Segundo a previsão da ONU, a continuar no ritmo acelerado que seprocessa o envelhecimento mundial, por volta do ano 2050, pelaprimeira vez na história da espécie humana, o número de pessoasidosas será maior que o de crianças abaixo de 14 anos. A populaçãomundial deve saltar dos 6 bilhões para 10 bilhões em 2050. Nomesmo período, o número de idosos deve triplicar, passando para 2bilhões, ou seja, quase 25% do planeta. (BERZINS, 2003, p.23)
A longevidade é uma realidade de agora e que tende a evoluir em um futuro
próximo, por isso a necessidade da dedicação para uma preparação e
adaptação tanto do governo quando dos trabalhadores, para assim minimizar
os efeitos contraditórios.
16
Em vista disso CARVALHO, pontua a importância de ter programas com o
objetivo de possibilitar aos empregados caminhos a serem trilhados neste novo
momento de suas vidas:
‘’A adaptação do trabalhador ao novo ritmo de vida, após aaposentadoria deve ser o objetivo de qualquer programa junto ao pré-aposentado, na busca de alternativas para ocupar o seu tempo livresensivelmente aumentado’’. (CARVALHO e SERAFIM 1995 p. 197).
O gerenciamento do tempo é um dos processos que mais causam aflições,
pois a grande parcela tem uma longa vida útil pela frente, de tal modo precisam
se programar com atividades a serem realizadas neste tempo, como
realizações de sonhos e objetivos que foram traçados ao passar dos anos e
não puderam ser efetivados pela falta do tempo. Aqueles que não se
prepararam e lidam com grande tempo ocioso, podem vir a possuir vários tipos
de doenças, uma delas a depressão, pelo motivo de se sentir inútil,
desmotivados, sem ter o que fazer.
Como afirma NACARATO (1996) p.279:
“... a aposentadoria, que durante a vida profissional podia serconsiderada um objetivo, agora pode representar perdas comodo status social para a condição de inativo, perda do padrão de vida,além do tédio ocasionado pela dificuldade de administrar o tempolivre". (apud LEBOURG, 2011, p.21).
O medo da nova fase que o sujeito passará com o processo de aposentadoria
vai acarretar preocupações dependendo do quanto está preparado para essa
mudança. Dentro desta perspectiva, é fundamental que o aposentado consiga
se preparar para esse novo momento, podendo assim enxergar um horizonte
cheio de infinitas possiblidades e experiências a vivenciar.
O PROGRAMA DE PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA (PPA) DACESAN
Trago em conformidade da legislação o embasamento a criação de Programa
de Preparação para Aposentadoria e que fundamenta a realização deste
17
estudo, visando o aparato legal a funcionalidade com o objetivo de promoção a
construção para um planejamento de vida.
Na implementação da Política Nacional do Idoso, Lei 8.842 - decreto 1.948,
Artigo N° 10 - Cap. IV – inciso IV, item C, determina que é de competência dos
órgãos e entidades públicos: “criar e estimular a manutenção de programas de
preparação para aposentadoria nos setores público e privado com
antecedência mínima de dois anos antes do afastamento”. (BRASIL, 03 de
julho de 1996).
Com a criação do Estatuto do Idoso fica registrado na Lei Nº 10.741, Art. Nº 28
– CAP. VI – inciso II, define que o Poder Público criará e estimulará programas
de:‘’preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, comantecedência mínima de 1 (um) ano, por meio de estímulo a novosprojetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento sobreos direitos sociais e de cidadania’’ (BRASIL, 1° de outubro de 2003)
O Programa de Preparação para a Aposentadoria (PPA) é uma
responsabilidade social da empresa para com seus empregados, a fim de
harmoniza essa transição na tentativa de diminuir os possíveis impactos,
indicando possibilidades de uma aposentadoria positiva no futuro.
O PPA foi implantado na CESAN no ano de 1996, para suavizar os impactos
ao processo de adaptação à nova condição social, orientar, incentivar e
proporcionar momentos de conhecimento para o trabalhador poder desfrutar
deste novo ciclo com mais qualidade, abordando temas ligados à saúde, bons
hábitos, lazer, oportunidades de investimentos e acessibilidade à ações
ofertadas na comunidade.
Proporcionando um momento de reflexão, acesso a informações, orientações
para um bom planejamento para a aposentadoria, envolvendo palestras que
trazem a possibilidade de autoconhecimento e capacitação para esse novo
ciclo da vida. Pretende também proporcionar ao empregado uma maior
autonomia para a transição, aprimorando os conceitos individuais e coletivos
18
sobre aposentadoria, aspectos sociais, conhecimento aos projetos existentes e
conhecimento sobre a previdência privada.
MUNIZ Cita sobre o desenvolvimento dos PPAs:
‘‘Nos diversos países onde se desenvolvem os PPAs, vários são osmodelos adotados. Todos, porém, parecem seguir o padrão norte-americano, adotado desde 1950, que consiste na realização decursos, em que são discutidas com os participantes, questões tidascomo de interesse para pessoas que estão prestes a se aposentar(finanças, saúde, mercado de trabalho etc.) ’’ (MUNIZ, 1996, p.199).
Hoje, o programa na CESAN está sob a coordenação de uma psicóloga e uma
assistente social, empregadas de carreira, e uma estagiária como apoio,
formando assim uma equipe interdisciplinar, que tem como reponsabilidade
realizar um momento dinâmico de troca de conhecimentos e acesso à
informações.
Como destaca JAPIASSU:
[...] do ponto de vista integrador, a interdisciplinaridade requerequilíbrio entre amplitude, profundidade e síntese. A amplitudeassegura uma larga base de conhecimento e informação. Aprofundidade assegura o requisito disciplinar e/ou conhecimento einformação interdisciplinar para a tarefa a ser executada. A sínteseassegura o processo integrador. (JAPIASSU, 1976, p. 65-66).
A preparação para o futuro abrange tanto aspectos financeiros quanto sociais,
dessa forma, o PPA oferece oportunidade ao empregado de se preparar,
através de orientações com palestras de profissionais capacitados sobre o
tema, além de vivenciarem momentos prazerosos que incentivam a busca por
novos modos de qualidade de vida. Os encontros têm como objetivo traçar um
projeto a ser efetivado com continuidade após o desligamento.
Vale ressaltar algumas mudanças que foram implementadas no PPA a partir de
2017. Percebe-se que o Programa ganhou mais visibilidade e investimento por
parte da instituição, com a contratação de local específico para os encontros e
a promoção de novo formato de convite aos participantes.
19
Em relação ao espaço, os critérios utilizados para esta escolha levaram em
consideração a característica do ambiente em proporcionar vivências ao ar
livre, acesso centralizado aos participantes e menor custo.
Foram confeccionados convites personalizados e enviados a empregados com
idade acima de 50 anos, o que demonstra uma ampliação do público-alvo. Em
consequência, o número de vagas ofertado para cada turma aumentou para 25
(vinte e cinco) pessoas, o que foi ao encontro o interesse dos empregados em
participarem.
Atualmente, a equipe conta com mais uma profissional de serviço social como
coordenadora do programa, podendo assim aprimorar a linha de contribuição.
A nomenclatura do programa foi modificada para: ‘Pensando e Planejando o
Amanhã’, devido ao fato do público-alvo apresentar um tempo maior para a
aposentadoria que os participantes do passado, visando então uma preparação
para um futuro mais distante.
Houve a inclusão de mais um módulo denominado ‘Previdência’ com o intuito
de Apresentar orientações e esclarecimentos acerca do sistema de Previdência
Social de Regime Geral e Complementar e seus impactos sobre a
aposentadoria. Com a participação da ‘FAECES - Fundação Assistencial dos
Empregados da Cesan’, instituição que trabalha na gestão de planos de
previdência complementar, assistencial - onde proporciona assistência médica
aos assistidos, e suplementação de aposentadoria.
Outra novidade é a participação da SINDAEMA – Sindicato dos Trabalhadores
em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Espirito Santo - com o intuito de
promover a divulgação de espaços que proporcionem a busca por garantia de
direitos, informações e cidadania, como as associações, ONG’s e os
conselhos. Entende-se relevante a participação do Sindicado em vista à
representação que tem nas conquistas já alcançadas e na luta por melhores
condições de trabalho.
20
Com relação ao perfil dos participantes desse estudo, 73.3% são do sexo
masculino e 26,7% do sexo feminino. A predominância do sexo masculino é um
reflexo institucional. A CESAN dispõe de 1.344 (mil trezentos e quarenta e
quatro) empregados, 70,4% deste total sendo homens e 29,6% mulheres,
dados este de 25 (vinte e cinco) de janeiro de 2017.
No que se refere ao tempo de contribuição ao INSS, o maior percentual
encontra-se na faixa acima de 35 anos, o que equivale a 53,30% dos
respondentes. Dessa forma, tem-se, 46,70% que contribuíram com tempo entre
30 a 35 anos. Demonstrando, portanto, o grande período destes empregados
em vínculo empregatício, sendo a maior proporção ligada à CESAN.
Para a maioria dos trabalhadores que participaram do estudo, a motivação para
a participação no PPA partiu da necessidade de obter mais conhecimentos,
esclarecimentos e planejamento para essa nova fase da vida. A curiosidade foi
outro fator relevante, e também o interesse em participar dos eventos
promovidos pela empresa.
Quanto aos temas abordados, ficou explícito que para os aposentandos a
maior preocupação é com as informações sobre educação financeira, pois
atribuem a perda salarial com o desligamento da empresa como um dos fatores
restritivos ao padrão de vida que mantém na ativa.
Diante desta perspectiva, fica evidente a importância de um planejamento
financeiro com antecedência, pois a perda salarial pode chegar a 30%, e em
alguns casos, podendo ultrapassar este valor, proporcionando o aumento do
risco de endividamentos.
A adaptação a um novo patamar de vida é de extrema consideração, pontua-se
então, a relevância de ter uma metodologia de investimentos e reserva
financeira adequada para usufruir com mais tranquilidade o período da
aposentadoria, que é uma etapa tão esperada.
Há de se considerar que muitos deles são provedores principais, podendo ter
como grande influência sua renda na manutenção da casa. Quanto a isso,
segue apontamento do IBGE, 2010:
21
A partir do aumento da expectativa de vida no Brasil um novofenômeno econômico e social começa ser desenhado. Dados deâmbito nacional mostram que no Brasil a participação do idoso narenda familiar se revela cada vez mais expressiva. No início dadécada de 1980, a contribuição dos idosos era de 37,0%; já nadécada de 1990 passou a ser de 47,2% e, em 2007, em 53,0% dosdomicílios do país, mais da metade da renda familiar era fornecidapor pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Estes dadoscolocam em discussão a visão tradicionalista da sociedade e doEstado que atribui à família a obrigação de amparar os idosos (apud,SOUSA; 2016, p. não referida).
Um ponto relevante é a necessidade de complementação da renda na
aposentadoria que apresenta possíveis perdas. Na coleta dos dados, cerca de
40% dos aposentandos pretendem continuar trabalhando em seu próprio
negócio, 40% não decidiu ainda e apenas 20% relata que não querem
continuar trabalhando.
Essencial ressaltar que no cronograma do PPA da CESAN houve a
participação de um palestrante da SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas, que pode, portanto, esclarecer e auxiliar a esfera
do empreendedorismo, abordando a importância de buscar capacitações e
qualificações para este possível investimento.
É cruel a realidade em que o sistema capitalista potencializa a precarização da
sobrevivência do brasileiro. O empregado vende sua força de trabalho e seu
tempo por tantos anos, e com o merecimento da aposentadoria tem que se
organizar para viver com menos ou ter a necessidade de complementar sua
renda, não conseguindo muitas vezes viver só com o salário de aposentado.
Referido assim BULLA e KAEFER descrevem:
[...] O idoso aposentado necessita, muitas vezes, permanecertrabalhando por necessidade financeira, considerando-se que, paragrande maioria dos brasileiros, os valores recebidos comoaposentadoria não cobrem as suas necessidades de manutenção ede seus dependentes, principalmente quando cabe ao idoso o papelde mantenedor do grupo familiar. (BULLA e KAEFER, 2003, p.5).
LEBOURG referência também esta realidade da sociedade brasileira, em razãoa dificuldade em se manter com o salário da aposentadoria, posto que existauma redução no que tange ao padrão de vida.
O indivíduo aposentado passa por momentos de difícil adaptação auma nova vida em que alguns se sentem excluídos por não teremmais um trabalho e outros sentem mesmo uma sensação de
22
liberdade. Entretanto, para a maioria é pertinente ressaltar que pesa odéficit financeiro, pois infelizmente no Brasil, o que existe é umimenso batalhão de assalariados que mal consegue sobreviver comseus proventos e, na velhice, as doenças e problemas que surgem,exigem muito mais gastos do que no período da vida produtiva.(LEBOURG, R. P, 2011, p.9)
Neste contexto, foi referida a perda da Assistência Médica da empresa, o que
gera muitos anseios, a considerar o custo elevado em ter um plano particular,
interferindo no orçamento mensal, uma vez que tem valores diferenciados,
seguindo uma tabela que detém a idade como um fator de elevação de custos.
Ressalta-se que pouco mais que 70% dos participantes da pesquisa tem acima
de 56 anos.
Esse é um quesito que traz aflição por parte dos aposentados da CESAN, em
razão de não ter a prática de depender do SUS (Sistema Único de Saúde)
como meio de acompanhamento médico, e precisarem se adaptar com o
sistema público de saúde, causa certa preocupação com a busca de promoção
e qualidade de vida.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS n. 19, estabelece:
[...] 1- A comercialização de planos privados de assistência à saúdepor parte das operadoras, tanto na venda direta, quanto na mediadapor terceiros, não pode desestimular, impedir ou dificultar o acesso ouingresso de beneficiários em razão da idade, condição de saúde oupor portar deficiência, inclusive com a adoção de práticas ou políticasde comercialização restritivas direcionadas a estes consumidores;(ANS - SÚRMULA NORMATIVA, DE 28 DE JULHO DE 2011).
A Resolução Normativa (RN nº 63), publicada pela ANS em dezembro de 2003,
determina, que o valor fixado para a última faixa etária (59 anos ou mais) não
pode ser superior a seis vezes o valor da primeira faixa (0 a 18).
Conforme supracitado, fica previsto o alto custeio com o plano privado, mesmo
estando assegurada nesta normativa o valor fixado. A proporção do valor final
fica elevado devido à multiplicação, comparado com a primeira faixa etária. E
seguindo a suposição geral da lei da natureza de que o idoso com o passar do
tempo carece mais de cuidados com a saúde, proporcionalmente, apresentam,
uma despesa maior.
23
Com tantas perdas, há a dificuldade da maioria dos empregados quanto ao
desligamento da empresa, devido à perda de benefícios que a empresa
oferece. Por isso a necessidade de uma preparação, com o intuito de minimizar
os anseios, atribuído de forma educativa e preventiva, informações que
possibilitem melhor qualidade de vida para essa fase.
O aposentado, com o desligamento, vivencia a sensação de uma perda de
identidade, pois para muitos o nome da empresa passa a ser o sobrenome,
com a maior parte da vida tendo sido no ambiente de trabalho. Alguns,
escolhem dar continuidade a uma atividade profissional, para não ter perda de
vínculos e papéis produtivos, com base no texto de ZANELLI e SILVA (1996,
p.28):
O rompimento com as relações de trabalho tem impacto indiscutível,ainda que varie de pessoa para pessoa, no contexto global da vida. Aaposentadoria implica bem mais que um simples término de carreira.A interrupção das atividades praticadas durante anos, o rompimentodos vínculos e a troca dos horários cotidianos representamimposições de mudança no mundo pessoal e social. (apud FÔLHA, F.A.S; NOVO, L.F, 2011, p.4).
E ainda destacam que:
O “descarte da Laranja” ou o que ficou conhecido como “papel sempapel’ significa, para o descartado, a perda da posição, dos amigos,do núcleo de referência, a transformação dos valores, das normas edas rotinas, e a submissão a condições que agridem a autoestima e aimagem de si mesmo”. Em outras palavras, coloca-se em xeque aidentidade pessoal (apud FÔLHA, F. A.S; NOVO, L.F, 2011, p.4).
Os participantes relataram que o PPA serviu como um momento de
desacelerar e ajudar a entrar no ritmo da aposentadoria, vivenciando um pouco
da realidade que vão pertencer, e que através das discussões e reflexões
permitirá ser menos traumático o desligamento. Alguns descreveram a
contribuição para essa transição, mencionando o processo de orientação
oferecido bem como o acesso a informações e conhecimentos adquiridos,
possibilitando caminhos a serem seguidos e auxiliar na redução dos anseios,
evitando surpresas indesejáveis.
Outros relataram a necessidade de ter mais tempo nos módulos para poder
terem uma contemplação e vivência maior, bem como o aprofundamento da
24
temática de empreendedorismo, no aspecto financeiro, na parte de saúde
físico/mental e que o programa se iniciasse com mais antecedência do período
do desligamento para que assim houvesse um planejamento mais qualificado e
eficaz.
Conforme o gráfico abaixo demonstra a concordância do grupo a respeito de se
preparar com certa antecedência para o período da aposentadoria:
Gráfico 1: Com quanto tempo de antecedência deveria participar de um programa depreparação para aposentadoria
A percepção dos empregados com a importância do Programa de Preparação
para Aposentadoria para quem está se desligando, teve como relevância a
preparação para o futuro, no sentido de ter consciência da nova realidade,
oportunidade de enxergar novos horizontes e possibilidades nas tomadas de
decisões e principalmente ter a liberdade de expor as situações que lhe
incomodam, refletindo, portanto, um momento de pontuar as diretrizes a
percorrer.
Os empregados descrevem o sentimento de valorização com a proposta do
programa, mas relatam a falta de homenagens institucionais com desligamento
25
dos aposentados, alegando passarem boa parte de suas vidas prestando
serviço e contribuição para o desenvolvimento e não ter o mérito reconhecido.
Outro quesito abordado foi sobre os receios na fase da aposentadoria após o
desligamento, os empregados pontuaram o medo da nova rotina, de não saber
administrar a quantidade de tempo que agora vão ter, do sentimento de
solidão, e principalmente a perda financeira e do plano de saúde já
supracitado. Esse ponto chama a atenção em relação à preocupação com a
falta de atividade a desempenhar, já que viveram a maior parte de suas vidas
trabalhando, seguindo ordens e produzindo, agora sem essas atribuições se
encontram em uma fase de descobertas e outros papéis a executar, encontrar
novas funções a serem desempenhadas, mas agora sendo o próprio gestor do
tempo e de suas ações.
Como descreve LEITE:
A situação de desligamento do trabalho acarreta mudanças dosaspectos psicossociais do aposentado, tais como um maior convíviocom a família, a perda do papel social de trabalhador, afastamentodos colegas de trabalho, diminuição do poder aquisitivo, além daexistência de vários outros agentes estressores, como, por exemplo,a supervalorização do trabalho pela sociedade, o que faz com que oindivíduo aposentado sinta-se como alguém que já não pode oferecerou contribuir para a sociedade, gerando sentimento de inutilidade,podendo afetar sua identidade, autoestima e sentido de vida (LEITE,1993, p.152).
Todavia, obtivemos também relatos das realizações que poderão desfrutar com
a nova fase, como a realização de ter conseguido chegar a esse momento tão
esperado, especialmente o sentimento de dever cumprido em deixar um legado
positivo com seu exercício profissional, e poder vivenciar o desenvolvimento da
empresa. Os empregados descreveram também suas realizações pessoais, os
investimentos, concretização de sonhos. Expondo de tal forma a nova
estabilidade de poder fazer suas próprias escolhas com o tempo disponível,
sem ter a obrigação de ‘’bater cartão’’ e agora poder administrar o seu tempo
com tranquilidade.
Por fim, foram expostas as dificuldades que terão com o rompimento do
ambiente de trabalho. Neste sentido, pontuaram as perdas como as amizades
construídas, perda do papel que desempenhavam na empresa, a quebra da
26
rotina. Houve também relato de sentimento de alívio, visto os desgastes
vivenciados no decorrer de toda vida profissional.
FRANÇA descreve que é crucial o acompanhamento do planejamento nestas
esferas multidimensional, como o momento manter uma estabilidade nas
escolhas feitas:
É através da continuidade ou da revisão no planejamento de vida queo aposentado poderá enfrentar objetivamente as condiçõesfrustrantes a que porventura se veja exposto. É fundamental que oplanejamento englobe a visão multidimensional, devendo serestimulada a distribuição equilibrada do tempo entre a afetividade,vida familiar, lazer, participação sócio comunitária e uma atividadelaborativa com tempo reduzido, remunerada ou voluntária. (FRANÇA,2002, p.15).
Desta forma, referindo a esta temática, fica evidente que o receio é um
sentimento comum para este momento de transição. O novo, o diferente, o
desconhecido, traz certo temor, as perdas causam aflições, como a mudança
do seu ambiente de comodidade. O planejamento consciente, focado e
contínuo viabiliza a redução dessas emoções e proporciona mais segurança e
confiança para apreciar com mais convicção este novo ciclo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O envelhecimento é algo atual em nossa sociedade e necessita que
transformações sejam feitas, tanto por parte do Estado - em políticas públicas,
saúde e urbanização - como também para as empresas, que precisam
fomentar ações de respeito, dignidade e promover assim uma nova etapa de
vida com qualidade e satisfação.
Esse trabalho conclui a necessidade dos trabalhadores serem preparados com
antecedência para que essa fase possa ser desfrutada com mais autonomia e
qualidade, minimizando os anseios que os aspectos futuros podem gerar.
Necessita-se contribuir para o enfrentamento dos efeitos dessa nova realidade,
possibilitando a mudança de hábitos que propõem uma ampla promoção de
benefícios tanto em relação à saúde física/mental, financeira, ao estilo de vida,
autoconhecimento e relacionamento familiar.
27
Durante o desenvolvimento desse trabalho tive a oportunidade de participar de
todos os encontros do PPA como ouvinte e vivenciar os momentos de
interação coletiva e individuais podendo assim conhecer um pouco da
realidade, bem como seus anseios e frustações para com este ciclo de vida.
Ficou evidente a importância da legislação vigente sobre o PPA redigida no
Estatuto do Idoso, servindo como embasamento da pesquisa. Esta legislação
visa enfatizar a importância desta preparação, norteando a dimensão de
aspectos que permeiam este período, com encadeamento de informações, de
direitos, de planejamento como um todo.
A importância dos profissionais em exercerem o papel de mediador no
Programa Preparação para a Aposentadoria é essencial, uma vez que esse
processo não significa somente uma perda financeira para o trabalhador, vai
muito além, enfatizo novamente que é uma perda de sentido, perda de um
papel, uma função que o trabalhador tinha na sociedade, impactos nos
aspectos sociais, econômicos, emocionais e de saúde. E faz-se necessário,
portanto uma intervenção que os mobilizem para o enfrentamento dessas
perdas e a lutar pelos seus direitos e por políticas públicas.
Por fim, que programas deste contexto possam ser reconhecidos e
multiplicados, pois é evidente a sua influência no que tange auxiliar com
conhecimentos e experiências construtivas para este momento tão esperado
da vida do trabalhador. Não se sabe ao certo o que pode estar esperando para
cada um, pois somos sujeitos diferentes, com realidades possivelmente
incomuns, mas que, através do aprendizado que o Programa de Preparação
para Aposentadoria propôs, possa ser reflexo no futuro cotidiano de cada
aposentado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, C.M.; ALVES,S.C. Aposentei e agora?: Um estudo dos aspectospsicossociais da aposentadoria na terceira idade. CENTRO
UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS, ano não referido.
28
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.
BERZINS, M. A. V. S. Envelhecimento Populacional: uma conquista paraser celebrada. Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez. Ano XXIV, n.
75, p. 5-18, set. 2003.
BRASIL. Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003.Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm >.Acesso em 25 mai. 2016.
BRASIL. Política Nacional do Idoso - LEI Nº 8.842, de 4º de janeiro de1994.Disponivel em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8842.htm>Acesso em 25 set. 2016.
BRASIL - Agência Nacional de Saúde Suplementar – 22 de dezembro de
2003. Disponível em <
http://www.ans.gov.br/component/legislacao/?view=legislacao&task=TextoLei&f
ormat=raw&id=NzQ4 >. Acesso em 04 jan. 2017.
BULLA, L. C.; KAEFER, C. O. Trabalho e aposentadoria: as repercussõessociais na vida do idoso aposentado - Revista Virtual Textos & Contextos, nº2, dez. 2003.
CARVALHO, A. V.; SERAFIM, O.C.G. – Administração de RecursosHumanos – volume 2, 1995 (pág. 197).
COMPANHIA ESPÍRITO SANTENCE DE SANEAMENTO - Disponível em <https://www.cesan.com.br/empresa/sobre-a-cesan/> Acesso em 21 de jul.2017.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar Projeto de Pesquisa. São Paulo 2002.
FÔLHA, F. A.S.; NOVO, L.F. Aposentadoria: Significações e dificuldadesno período de transição a essa nova etapa da vida. Gestão Universitária,
Cooperação Internacional e Compromisso Social – XI Colóquio Internacional
Sobre Gestão Universitária na América do Sul Florianópolis 2011.
FRANÇA, L.H.; VAUGHAN, Graham. Ganhos e Perdas – Atitudes dosexecutivos brasileiros e Neozelandeses frente á aposentadoria. Paraná
2008.
FRANÇA.L.H. Repensando aposentadoria com qualidade - Um manual para
facilitadores de programas de educação para aposentadoria em comunidades-
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – 2002.
29
GODOY, A. S. Pesquisa Qualitativa, Tipos Fundamentais. São Paulo 1995.
GOMES, R. Análise de dados em Pesquisa Qualitativa. In: MINAYO, M. C. S.
(org.). Pesquisa Social – Teoria, Método e Criatividade. Petrópolis: Vozes,
1994.
IBGE. Expectativa de Vida - Dezembro de 2015 disponível em :
<http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias.html?view=noticia&id=1&idnoticia=3
324&busca=1&t=2015-esperanca-vida-nascer-era-75-5-anos >. Acesso em 09
mai. 2017.
JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro:Imago, 1976.
LEBOURG, R. P. O instituto da desaposentação sob o enfoque do direitoprevidenciário com ênfase na doutrina e nas posições jurisprudenciais.UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS - UNIPAC – FACULDADEDE CIÊNCIAS JURIDICAS E SOCIAIS DE BARBACENA - Fadi - Curso deDireito. Barbacena 2011.
LEITE, C. B. O século da aposentadoria. São Paulo: 1993.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Tradução por Regis
Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, 1985a. Livro 1, v.1, t.1.
(Os economistas).
MARX,K. O Capital: crítica da economia política – Livro primeiro - Oprocesso de produção do capital – tomo 2 – ( cap. XIII a XXV).
MUNIZ,J.A. PPA Programa de Preparação para o Amanhã. UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 1996.
MAGNANI, L. A. C.; MENDES, M. B.; MELLO, P. M.; MARBOSA, S. A.;
BUENO, K. C. D. Programas de Preparo para a Aposentadoria (PPA): suaimportância e necessidade na sociedade brasileira contemporânea.
Curitiba - FACULDADE DE DIREIRO DE CURITIBA, 1993.
SILVA, Elvis Magno; ALMEIDA, R. M.; MORAES, L. S. PPA - Programa dePreparação para Aposentadoria – FACESM, Minas Gerais. Ano não referido
30
SOUSA, Y.G.; MEDEIROS, P. C.; MEDEIROS, S. M. Endividamentofinanceiro na terceira idade. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIX, n. 146,
mar. 2016.
APÊNDICE A
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO
Eu, _________________________________________________________,RG
_________________ / ___, CPF ______________________, abaixo assinado,autorizo a participação no estudo referido. Fui devidamente informado eesclarecido pelos pesquisadores sobre a pesquisa, os procedimentos nelaenvolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes daparticipação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquermomento, sem que isto leve a qualquer prejuízo.
___________________, ____ de ________________ de ______
Assinatura do participante:_______________________________________________________________
Assinatura do pesquisador:_______________________________________________________________
QUESTIONÁRIO:
01 - Qual sua idade:
( ) 45 - 48 anos
( ) 49 - 52 anos
( ) 53 - 55 anos
( ) 56 - 59 anos
( ) 60 - 65 anos
( ) acima de 65 anos
02 - Sexo:
( ) Feminino
( ) Masculino
31
03 - Quantos anos você trabalhou durante a trajetória profissional comCarteira assinada?
( ) 15 - 20 anos
( ) 20 - 25 anos
( ) 30 - 35 anos
( ) acima de 35 anos
04 - Pretende continuar trabalhando após o desligamento da CESAN?
( )Sim, com Carteira assinada
( )Sim, sem Carteira assinada
( )Sim, com o próprio negócio
( ) Não
( ) Não sei
05 - Já tinha feito algum tipo de planejamento para se aposentar, antes doPrograma de Preparação para a Aposentadoria - PPA?
( ) Sim
( ) Não
06 – Em sua opinião, a carga horária do Programa de Preparação para aAposentadoria - PPA realizado pela CESAN foi:
( )Insuficiente
( ) Suficiente
( )Excessivo
07 – Em sua opinião, com quanto tempo de antecedência daaposentadoria uma pessoa deveria participar do Programa de Preparaçãopara a Aposentadoria - PPA:
( ) Assim que ingressar no mercado de trabalho
( ) Com 20 anos de antecedência
( ) Com 10 anos de antecedência
( ) Com 05 anos de antecedência
( ) Com 02 anos de antecedência
32
( ) No ano da aposentadoria
08 - Você indicaria o Programa de Preparação para a Aposentadoria - PPApara outra pessoa?
( ) Sim
( ) Não
09 - Descreva o que você aprendeu com o Programa de Preparação para aAposentadoria – PPA:
10 – Cite uma ou mais práticas que você conheceu no Programa dePreparação para a Aposentadoria - PPA que você irá aplicar em sua rotinade aposentadoria?
ROTEIRO PARA A ENTREVISTA:
1- O que lhe atraiu a participar de um grupo de Preparação ParaAposentadoria?
2- Qual/quais temáticas foram mais importantes para você?
3- Qual está sendo a contribuição do Programa de Preparação para aAposentadoria - PPA para a transição da aposentadoria?
4- Qual assunto que você acha que poderia ter sido abordado no PPAe que não foi?
5- O PPA contribuiu para seu conhecimento sobre acessibilidade aosdireitos?
6- Qual a importância do Programa de Preparação para aAposentadoria para quem está se desligando da empresa?
7- Qual é o seu maior receio na fase da aposentadoria?
8- Qual será sua maior realização com a aposentadoria?9- Após tantos anos de relação diária com o ambiente de trabalho –
Cesan, você percebe que pode ter dificuldades com esterompimento? De que forma?
33
APÊNDICE B – CARTA DE ANUÊNCIA