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WWW.OBESIDADEEMAGRECIMENTO.BLOGSPOT.COM.BR ¹ Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Obesidade e Emagrecimento, atuando no tratamento clínico e cirúrgico da obesidade. Autora do blog: www.obesidadeemagrecimento.blogspot.com.br ; Contato: [email protected] ² Graduando em Psicologia (9° semestre); Estagiando em um núcleo de tratamento clínico e cirúrgico da obesidade. Contato: [email protected] PROGRAMA PROTÓTIPO DE PROMOÇÃO DE ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS Cláudia Sofia Madeira Pereira Por Psicóloga Daniela Souza ¹ e Anderson Cardeal ² A produção desse texto foi iniciada a partir de reflexões sobre a dissertação PROGRAMA PROTÓTIPO DE PROMOÇÃO DE ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS publicada em 2008 pela Universidade de Lisboa. É uma tese de mestrado de Claudia Sofia Madeira Pereira sob a orientação da Prof.ª Doutora Adelina Lopes da Silva, que trazem nas suas trajetórias acadêmicas uma produção científica importante para a reflexão sobre os processos de auto-regulação na adoção e manutenção de comportamentos alimentares saudáveis. Com a finalidade de apresentar um programa de promoção de estilos de vida saudáveis, a autora do texto aborda uma discussão sobre obesidade, auto- regulação e estilo de vida. Para isso, realiza um levantamento da literatura sobre formas de terapêutica na obesidade e propõe um programa protótipo para a promoção de estilos de vida saudáveis com a população adolescente baseado na auto-regulação e nos princípios da terapia cognitivo-comportamental. O objetivo geral do Programa protótipo de Pereira (2008) é promover a alimentação saudável e a atividade física através do desenvolvimento de estilos de vida mais saudáveis para reduzir a prevalência da obesidade nas populações pré-adolescente e adolescente. Como objetivos específicos destacam-se: 1) Fornecer informação sobre o papel da alimentação e da atividade física como determinantes da saúde; 2) Promover comportamentos de alimentação e de atividade física saudáveis nos jovens; 3) Desenvolver competências de auto-regulação e de controle dos comportamentos de alimentação e de atividade física; 4) Promover nos jovens pensamentos (cognições) mais construtivos e positivos que apoiem a mudança dos seus estilos de vida; 5) Promover nos jovens o desenvolvimento de estratégias de coping eficazes para lidarem com situações problemáticas, nomeadamente, a recaída. Conforme a tese supracitada, a auto-regulação refere-se aos processos que permitem ao indivíduo guiar, influenciar, modificar e controlar o seu próprio comportamento. Através da auto-regulação o indivíduo pode controlar o ambiente de acordo com os seus desejos e/ou controlar os seus desejos de acordo com as limitações do seu ambiente. No contexto da saúde, a auto-regulação é definida como os pensamentos, sentimentos e ações auto-geradas para otimizar o estado de saúde, ou seja, como uma sequência de ações e/ou processos direcionados para o alcance de um objetivo pessoal (Pereira, 2008). De acordo com o modelo de auto-regulação, o programa inicia-se por informar os jovens sobre a importância de adotar estilos de vida saudáveis. Com isto são ativadas representações de saúde ou de risco de doença e desenvolvidas crenças sobre as suas causas e sobre o controle do indivíduo face ao seu estado de saúde. Ao desenvolverem-se sentimentos de vulnerabilidade face ao risco de doença (p.ex., obesidade), expectativas de auto-eficácia (i.e., o jovem sente que é capaz de mudar o seu estilo de vida) e expectativas de resultado positivas (i.e., o jovem acredita que a mudança do seu estilo de vida é benéfica e útil) será desenvolvida a motivação para a mudança. Com a motivação para a mudança surge a intenção de mudança do comportamento. A intenção beneficiará se o objetivo de mudança (i.e., aquisição de um estilo de vida saudável) estiver em acordo com outros objetivos (mesmo aqueles que não estão relacionados com a saúde) igualmente valorizados pelo jovem (Pereira, 2008). Com base na literatura, o conceito de auto-regulação aproxima-se bastante das bases da TCC. A TCC tem mostrado a sua eficácia na intervenção na globalidade das perturbações alimentares. A investigação tem provado o sucesso desta terapia na mudança dos comportamentos alimentares

Programa protótipo de promoção de estilos de vida saudáveis

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¹ Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Obesidade e Emagrecimento, atuando no tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.Autora do blog: www.obesidadeemagrecimento.blogspot.com.br; Contato: [email protected]² Graduando em Psicologia (9° semestre); Estagiando em um núcleo de tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.Contato: [email protected]

PROGRAMA PROTÓTIPO DE PROMOÇÃO DE ESTILOSDE VIDA SAUDÁVEIS

Cláudia Sofia Madeira Pereira

Por Psicóloga Daniela Souza ¹ e Anderson Cardeal ²

A produção desse texto foi iniciada a partir de reflexões sobre a dissertação PROGRAMA PROTÓTIPO DE PROMOÇÃO DE ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS publicada em 2008 pela Universidade de Lisboa. É uma tese de mestrado de Claudia Sofia Madeira Pereira sob a orientação da Prof.ªDoutora Adelina Lopes da Silva, que trazem nas suas trajetórias acadêmicas uma produção científica importante para a reflexão sobre os processos de auto-regulação na adoção e manutenção de comportamentos alimentares saudáveis. Com a finalidade de apresentar um programa de promoção de estilos de vida saudáveis, a autora do texto aborda uma discussão sobre obesidade, auto-regulação e estilo de vida. Para isso, realiza um levantamento da literatura sobre formas de terapêutica na obesidade e propõe um programa protótipo para a promoção de estilos de vida saudáveis com a população adolescente baseado na auto-regulação e nos princípios da terapia cognitivo-comportamental.

O objetivo geral do Programa protótipo de Pereira (2008) é promover a alimentação saudável e a atividade física através do desenvolvimento de estilos de vida mais saudáveis para reduzir a prevalência da obesidade nas populações pré-adolescente e adolescente. Como objetivos específicos destacam-se: 1) Fornecer informação sobre o papel da alimentação e da atividade física como determinantes da saúde; 2) Promover comportamentos de alimentação e de atividade física saudáveis nos jovens; 3) Desenvolver competências de auto-regulação e de controle dos comportamentos de alimentação e de atividade física; 4) Promover nos jovens pensamentos (cognições) mais construtivos e positivos que apoiem a mudança dos seus estilos de vida; 5) Promover nos jovens o desenvolvimento de estratégias de coping eficazes para lidarem com situações problemáticas, nomeadamente, a recaída.Conforme a tese supracitada, a auto-regulação refere-se aos processos que permitem ao indivíduo guiar, influenciar, modificar e controlar o seu próprio comportamento. Através da auto-regulação o indivíduo pode controlar o ambiente de acordo com os seus desejos e/ou controlar os seus desejos de acordo com as limitações do seu ambiente. No contexto da saúde, a auto-regulação é definida como os pensamentos, sentimentos e ações auto-geradas para otimizar o estado de saúde, ou seja, como uma sequência de ações e/ou processos direcionados para o alcance de um objetivo pessoal(Pereira, 2008).

De acordo com o modelo de auto-regulação, o programa inicia-se por informar os jovens sobre a importância de adotar estilos de vida saudáveis. Com isto são ativadas representações de saúde ou de risco de doença e desenvolvidas crenças sobre as suas causas e sobre o controle do indivíduo face ao seu estado de saúde. Ao desenvolverem-se sentimentos de vulnerabilidade face ao risco de doença (p.ex., obesidade), expectativas de auto-eficácia (i.e., o jovem sente que é capaz de mudar o seu estilo de vida) e expectativas de resultado positivas (i.e., o jovem acredita que a mudança do seu estilo de vida é benéfica e útil) será desenvolvida a motivação para a mudança. Com a motivação para a mudança surge a intenção de mudança do comportamento. A intenção beneficiará se o objetivo de mudança (i.e., aquisição de um estilo de vida saudável) estiver em acordo com outros objetivos (mesmo aqueles que não estão relacionados com a saúde) igualmente valorizados pelo jovem (Pereira, 2008).

Com base na literatura, o conceito de auto-regulação aproxima-se bastante das bases da TCC. A TCC tem mostrado a sua eficácia na intervenção na globalidade das perturbações alimentares. A investigação tem provado o sucesso desta terapia na mudança dos comportamentos alimentares

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¹ Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Obesidade e Emagrecimento, atuando no tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.Autora do blog: www.obesidadeemagrecimento.blogspot.com.br; Contato: [email protected]² Graduando em Psicologia (9° semestre); Estagiando em um núcleo de tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.Contato: [email protected]

não saudáveis, na correção de crenças e atitudes disfuncionais sobre o peso, na promoção da satisfação corporal, na promoção de competências cognitivas e comportamentais e de estratégias de coping funcionais. Apontada na dissertação e em outros textos do blog, torna-se evidente a interferência de questões psicológicas no desenvolvimento e na manutenção da obesidade, não sendo possível falar em tratamento da obesidade sem a participação efetiva das práticas psicológicas. Várias são as teorias que trabalham com as questões psicológicas, mas, especificamente para os transtornos alimentares, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), vem conquistando grande destaque. A TCC apresenta excelentes resultados ao trabalhar com as estruturas cognitivas e comportamentais dos pacientes. Ela possui instrumentos que constroem estratégias de enfrentamento, através de mudanças cognitivas e comportamentais e consequentemente de mudanças no estilo de vida, que irão interferir diretamente nas questões psicológicas que estão adoecendo o indivíduo.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) (2005), o tratamento comportamental aplicado em conjunto com técnicas cognitivas é uma das estratégiasterapêuticas auxiliares para o controle de peso. Baseia-se na análise e modificação de comportamentos disfuncionais associados ao estilo de vida do paciente. O objetivo é implementar estratégias que auxiliam no controle de peso, reforçar a motivação com relação ao tratamento e evitar a recaída e o consequente ganho de peso novamente.

A seguir estão relacionadas técnicas cognitivo-comportamentais utilizadas no programa protótipo de promoção de estilos de vida saudáveis:

Automonitorização: O jovem deve tomar consciência e capacidade para compreender o seu comportamento alimentar. Para isto, os pais e jovens são ensinados a monitorizar e registar a ingestão de alimentos e a atividade física diária. A automonitorização permite a identificação de padrões de comportamento típicos que podem ser alterados através da intervenção. Os registos devem ser revistos em cada sessão do programa e devem proporcionar a retro-alimentação sobre os resultados da intervenção, o estabelecimento de objetivos e a análise de possíveis situações problemáticas de forma a dotar o jovem e os pais de estratégias de resolução das dificuldades. Informação sobre nutrição e atividade física: Os pais e jovens devem receber informação, através de leituras e discussões em grupo, sobre nutrição e atividade física. O objetivo desta intervenção não é a imposição de dietas ou de exercício físico, mas o desenvolvimento de hábitos de alimentação e de atividade física saudáveis. Estabelecimento de objetivos: O jovem e os seus pais devem estabelecer objetivos concretos e realistas, mas desafiantes, para facilitar a mudança do estilo de vida do jovem. É importante o estabelecimento de objetivos diários definidos em termos de novos comportamentos e cognições e não em termos de perda de peso. Para facilitar o alcance destes objetivos, os jovens devem elaborar planos de ação. Controle de estímulos: Este é um dos componentes terapêuticos mais utilizados nos programas de controlo de peso com o objetivo de reduzir os estímulos que controlam o comportamento alimentar desadequado e não saudável. As estratégias utilizadas incluem limitar a ingestão de alimentos a um lugar apenas da casa, reduzir os elementos distraidores durante a ingestão de alimentos, não realizar outras atividades enquanto decorre o comportamento alimentar (p.ex., ver televisão), desenvolver atividades alternativas prazerosas em substituição do comportamento alimentar (p.ex., passear o cão, telefonar a um amigo, etc.) e seguir um horário regular para as refeições. Técnica de gestão de contingências: Geralmente, os programas utilizam sistemas estruturados de reforço para promover a mudança comportamental. Aquando da elaboração da lista de possíveis reforços é importante não incluir alimentos, guloseimas ou outro tipo de reforços que podem contradizer os objetivos do programa. Atividades que promovam a mudança positiva (p.ex., andar de bicicleta) são o tipo de reforços que comumente se utilizam.

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¹ Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Obesidade e Emagrecimento, atuando no tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.Autora do blog: www.obesidadeemagrecimento.blogspot.com.br; Contato: [email protected]² Graduando em Psicologia (9° semestre); Estagiando em um núcleo de tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.Contato: [email protected]

Contrato comportamental: Este método pode assegurar a mudança do comportamento. Através do contrato comportamental o jovem e o psicólogo ou os pais estabelecem objetivos e as recompensas do alcance desses objetivos. Técnicas Cognitivas: A investigação sugere que as técnicas de reestruturação cognitiva, treino de auto-instrução e resolução de problemas contribuem para a eficácia dos programas com os objetivosde promover o controlo de peso e desenvolver estilos de vida mais saudáveis nos adolescentes. Desta forma, torna-se fundamental a inclusão destas técnicas neste tipo de programas.

Como visto, de acordo com a tese descrita e os dados da literatura, os instrumentos da TCC são claros e objetivos. Percebe-se o quanto são possíveis na prática clínica e é muito fácil visualizar e acompanhar a lógica dessa teoria. De fato, quando se trabalha com indivíduos torna-se imprescindível levar em consideração a sua tríade cognitiva (pensamentos, sentimentos e comportamentos) e principalmente o que elas pensam e acreditam como verdade. Na prática clínica, esse aprendizado permite promover modificações cognitivas e comportamentais mais duradouras e efetivas, observando-as em longo prazo. Por isso, é preciso atentar-se às crenças e pensamentos apresentados pelos pacientes, identificar as repetições, as ênfases e valores que os pacientes dão aos diversos temas abordados nas sessões.

Quando se trata de indivíduos obesos, esse trabalho é imprescindível. Geralmente são pessoas que desejam emagrecer com uma longa história de tentativas de perda de peso. Provavelmente já procuraram diversos profissionais e, na maioria das vezes, o que alcançaram foi o reforço da ideia de que “emagrecer e manter-se magro é muito difícil ou mesmo impossível”. A maioria das pessoas que emagrecem com dieta começa a recuperar os quilos perdidos dentro de um ano, não adotando acompanhamento para a fase de manutenção.

Aprender a modificar o pensamento, resolver dificuldades relacionadas à dieta e questões também não relacionadas diretamente a ela e motivar-se para adotar comportamentos mais saudáveis é o diferencial da TCC. Pesquisas mostram que pessoas podem mudar seu comportamento e mantê-la. Porém se não modificar a forma de pensar, não conseguirá sustentar os novos hábitos. Ou seja, necessita mudar o pensamento e o comportamento: alimentar-se de uma forma mais nutritiva, ter bons hábitos alimentares, praticar atividade e exercício físico, emagrecer devagar, fazer da dieta uma prioridade, assertividade, ser tolerante à fome e vontade incontrolável de comer, abster-se de comer pelo emocional e, o mais importante, manter-se motivada com conquistas em longo prazo.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

PEREIRA, Cláudia Sofia Madureira. Programa Protótipo de Promoção de Estilos de Vida Saudáveis, Lisboa, 2008. Tese (Mestrado), Núcleo de Psicoterapia Cognitiva - Comportamental e Integrativa, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Lisboa.

Disponível em: http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/718/1/17442_MONOGRAFIA.pdf Acesso em: 11 de Junho de 2012.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA. Obesidade: Terapia Cognitivo

Comportamental, 2005. Disponível em: http://www.projetodiretrizes.org.br/5_volume/34-ObesTerap.pdf. Acesso em: 11 de Junho de 2012.