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Programas de Português do Ensino Básico Carlos Reis (coord.) Ana Paula Dias Assunção Themudo Caldeira Cabral Encarnação Silva Filomena Viegas Glória Bastos Irene Mota Joaquim Segura Mariana Oliveira Pinto Lisboa Homologado Março de 2009

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  • Programas de Portugus

    do

    Ensino Bsico

    Carlos Reis (coord.) Ana Paula Dias

    Assuno Themudo Caldeira Cabral Encarnao Silva Filomena Viegas Glria Bastos Irene Mota

    Joaquim Segura Mariana Oliveira Pinto

    Lisboa

    Homologado

    Maro de 2009

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    Sumrio Introduo I Parte: Questes gerais

    1. Enquadramento: questes estruturantes e programticas 2. Fundamentos e conceitos-chave 3. Opes programticas

    II Parte: Programas

    1. Organizao programtica: 1. Ciclo 2. Organizao programtica: 2. Ciclo 3. Organizao programtica: 3. Ciclo 4. Referenciais disponveis

    III Parte: Anexos

    1. Lista de autores e textos 2. Materiais de apoio 3. Conselho Consultivo 4. Grupo de trabalho

    ndice

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    Introduo

    1. O conjunto de programas de Portugus1 para o Ensino Bsico a seguir enunciados decorre de um trabalho desenvolvido ao longo de um ano, envolvendo cerca de uma dezena de professores, com o aconselhamento de diversos consultores e com o apoio da Direco-Geral de Inovao e Desenvolvimento Curricular. De acordo com a solicitao a que procurmos corresponder, tratava-se de proceder reviso dos programas que at agora tm vigorado; entendia-se e entende-se que, datando de h quase duas dcadas, chegou o momento de aqueles programas serem substitudos por outros, susceptveis de incorporarem no apenas resultados de anlises sobre prticas pedaggicas, mas tambm os avanos metodolgicos que a didctica da lngua tem conhecido, bem como a reflexo entretanto produzida em matria de organizao curricular.

    Isto significa que a referida reviso no pde deixar de tomar como ponto de partida os programas de 1991, comportando-se todavia em relao a eles com uma considervel liberdade de movimentos. Numa matria estruturante e nuclear como a que aqui est em causa, h, naturalmente, componentes programticos que no devem ser ignorados, por muito profunda que seja a reelaborao que se empreende; mas isso no inibe essa reelaborao de formular outras abordagens, entendidas como mais adequadas realidade e s circunstncias actuais do ensino e da aprendizagem do Portugus. Inevitavelmente porque a cena educativa dinmica e permevel a realidades sociais e culturais em permanente mudana os programas que agora se apresentam sero um dia substitudos por outros.

    1 Apesar de em textos legais ser utilizada a expresso Lngua Portuguesa para designar a disciplina que aqui est em causa, no presente documento utilizamos o termo Portugus. esta a tendncia que se verifica noutros sistemas educativos, tendncia j consagrada em Portugal em programas de trabalhos oficiais (p. ex.: Plano Nacional de Ensino do Portugus), bem como na disciplina (Portugus) correlativa a esta do Ensino Secundrio.

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    Acontece ainda que, para alm das prticas pedaggicas a que os antigos programas deram lugar (prticas de que defluem ensinamentos importantes), foram entretanto produzidos documentos que, com carcter variavelmente normativo, constituem referncias de enquadramento para o trabalho aqui produzido; a par desses documentos, ocorreram e ocorrem iniciativas em que se reconhece uma feio doutrinria ou de orientao pedaggica que no pode ser esquecida. Cinco exemplos:

    Em 2001 foi publicado, pelo Ministrio da Educao, o Currculo Nacional do Ensino Bsico. Competncias Essenciais, que trata de definir as que so as competncias gerais e as competncias especficas estabelecidas para aquele nvel de ensino e tambm, naturalmente, para o ensino do Portugus2;

    Desde 2006 est em curso o Programa Nacional de Ensino do Portugus, destinado a aprofundar a formao de professores de Portugus, designadamente os do 1. ciclo;

    Desde 2007 e sob responsabilidade do Ministrio da Educao, est em desenvolvimento um Plano Nacional de Leitura (http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt), cuja filosofia, orientaes e objectivos so acolhidos nestes programas, com especial incidncia no 1. e no 2. ciclos;

    Em Maio de 2007, teve lugar em Lisboa uma Conferncia Internacional sobre o Ensino do Portugus que deu lugar a intervenes qualificadas, a amplo debate e a um conjunto de recomendaes que podem ser entendidas como ponto de partida para este trabalho.3

    Em 2008 foi publicado o Dicionrio Terminolgico (http://dt.dgidc.min-edu.pt/), documento que fixa os termos a utilizar na descrio e anlise de diferentes aspectos do conhecimento explcito da lngua.

    2. O que at agora ficou dito significa que o trabalho que aqui se encontra no se concretizou margem de coordenadas que nele se reconhecero de forma variavelmente explcita. Para alm dessas coordenadas, foram ponderadas

    2 Em directa relao com o CNEB e precedendo-o encontra-se o estudo A lngua materna na educao bsica: competncias nucleares e nveis de desempenho; por Ins Sim-Sim, Ins Duarte e Maria Jos Ferraz. Lisboa: Ministrio da Educao-Departamento de Educao Bsica, 1997. 3 Cf. Actas. Conferncia Internacional sobre o Ensino do Portugus. Lisboa: Ministrio da Educao/DGIDC, 2008.

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    expectativas e circunstncias que no podiam deixar de ser tidas em conta. Dessas expectativas e circunstncias podem ser destacadas as seguintes:

    O ensino do Portugus desenrola-se hoje num cenrio que apresenta diferenas substanciais, relativamente ao incio dos anos 90 do sculo passado. Exemplo flagrante disso: a projeco, no processo de aprendizagem do idioma, das ferramentas e das linguagens facultadas pelas chamadas tecnologias da informao e comunicao, associadas a procedimentos de escrita e de leitura de textos electrnicos e disseminao da Internet e das comunicaes em rede.

    Nos ltimos anos, foram bem audveis vozes que reclamaram uma presena efectiva dos textos literrios no ensino da lngua, valorizados na sua condio de testemunhos de um legado esttico e no meramente integrados como casos tipolgicos a par de outros com muito menor densidade cultural. Uma tal condio no deve ser desqualificada por utilizaes pedaggicas que a desvirtuem, com prejuzo da possibilidade de muitos jovens terem acesso a tais textos; por muitas dificuldades que se levantem integrao dos textos literrios nos programas de Portugus, obrigao da escola trabalhar para que essa integrao seja inequvoca e culturalmente consequente.

    Do mesmo modo, no foram poucos os testemunhos que sublinharam a necessidade de se acentuar, no ensino do Portugus, uma componente de reflexo expressa sobre a lngua, sistematizada em processos de conhecimento explcito do seu funcionamento, sem que isso se traduza necessariamente numa artificial e rgida viso prescritiva da nossa relao com o idioma.4

    3. Para se chegar aos programas que agora so apresentados muito contribuiu o esforo que o grupo de trabalho levou a cabo, no sentido de bem entender as expectativas mencionadas e de bem dialogar com os documentos de enquadramento de que se disps. Mas no menos decisiva do que isso foi a participao, neste processo, de outros agentes e de outras instncias: destaca-se aqui o contributo de um conjunto alargado de consultores, atentamente ouvidos em momentos prprios. Integram esse conjunto de consultores no apenas diversas personalidades, a ttulo

    4 Significativamente, uma das recomendaes da Conferncia Internacional sobre o Ensino do Portugus afirma: Deve ser institudo ou reforado, na aula de Portugus, o ensino da gramtica, sem propsito de ilustrao de correntes lingusticas e das respectivas concepes gramaticais, privilegiando-se antes uma gramtica normativa, como ponto de partida para a revalorizao da gramaticalidade do idioma (Actas. Conferncia Internacional sobre o Ensino do Portugus, ed. cit., p. 240).

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    individual professores, investigadores, pedagogos , mas tambm entidades associativas directamente ligadas ao ensino do Portugus, investigao lingustica, escrita e edio de livros escolares, bem como ao campo da qualificao profissional, sem esquecer os pais e as suas associaes representativas.

    Para alm disso, os programas a seguir explanados foram concebidos e desenhados luz da clara conscincia de que a disciplina a que se reportam ocupa um lugar de capital importncia na economia curricular em que se integram. Por outras palavras: o ensino e a aprendizagem do Portugus determinam irrevogavelmente a formao das crianas e dos jovens, condicionando a sua relao com o mundo e com os outros. Se muitas vezes designamos o Portugus como lngua materna, no o fazemos certamente por acaso: naquela imagem representa-se bem a noo de que a lngua que aprendemos (e que a escola depois incorpora como matria central) est directamente ligada nossa criao e ao nosso desenvolvimento como seres humanos. Naturalmente que so diferentes destas as vivncias dos alunos que no tm o Portugus como lngua materna, alunos cuja integrao na lngua de acolhimento se processa em termos que, como bvio, so distintos e para os quais existem orientaes.

    A isto importa acrescentar o seguinte: se o ensino do Portugus previsto nestes programas se desenrola numa aula especfica e com um professor formado para o efeito, isso no significa que nessa aula e com esse professor se esgote, para o aluno, a aprendizagem do idioma e a sua correcta utilizao. A nossa lngua um fundamental instrumento de acesso a todos os saberes; e sem o seu apurado domnio, no plano oral e no da escrita, esses outros saberes no so adequadamente representados. Por isso mesmo, numa das j citadas recomendaes da Conferncia Internacional sobre o Ensino do Portugus dizia-se que importa sensibilizar e mesmo responsabilizar todos os professores, sem excepo e seja qual for a sua rea disciplinar, no sentido de cultivarem uma relao com a lngua que seja norteada pelo rigor e pela exigncia de corre