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RICARDO BARBOSA DE BARROS
PROJETO E CONSTRUÇÃO DE EMBARCAÇÕES MILITARES E CIVIS NA BASE NAVAL DE
VAL-DE-CÃES (BNVC):
uma ferramenta para o desenvolvimento da Região Amazônica Oriental
Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: CMG RM-1 Luiz Fernando Pereira da
Cruz.
Rio de Janeiro 2013
C2013 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG.
_________________________________
Assinatura do autor
Biblioteca General Cordeiro de Farias
Barros, Ricardo Barbosa de Projeto e construção de lanchas de combate e transporte na Base
Naval de Val-de-Cães: uma ferramenta para o desenvolvimento da Região Amazônica / CMG Ricardo Barbosa de Barros. - Rio de Janeiro: ESG, 2013.
42 f.: il.
Orientador: CMG RM-1 Luiz Fernando Pereira da Cruz. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2013.
1. Lanchas militares. 2. Lanchas civis. 3. Construção naval. I.Título.
RESUMO
O presente trabalho apresenta a Base Naval de Val-de-Cães (BNVC) como uma
oportuna ferramenta para o desenvolvimento da região oriental amazônica, como
consequência das atividades voltadas ao projeto e construção de embarcações
leves para diferentes aplicações. Relaciona esta monografia os estudos efetuados
pela Marinha do Brasil e Exército Brasileiro, sobre o tipo, quantidade e distribuição
das embarcações militares a serem utilizadas por ambas as Forças Singulares, bem
como o perfil e a demanda das embarcações para fins civis, efetuados pelos
Ministérios da Saúde, Educação e Bem Estar Social, sendo todos estes meios
destinados ao ambiente fluvial amazônico e encomendados a Marinha do Brasil /
BNVC. Enumera e descreve as características técnicas das embarcações
concebidas para o modal fluvial, em atendimento as exigências requeridas pelos
diversos órgãos civis e militares solicitantes, na medida em que analisa
qualitativamente e quantitativamente a formação do material humano em todos os
níveis, requisitado na região para a aplicação na construção naval. Analisa o preparo
logístico, a viabilidade técnica e a capacitação de pessoal necessários à realização
da parceria para construção, na BNVC, das lanchas Combat Boat 90 concebidas
pelo estaleiro sueco Dockstavarvet. Avalia os efeitos da construção naval sobre o
homem da região do nordeste amazônico sob o viés de agente organizador,
executor e beneficiário do processo produtivo, à luz das Expressões Política,
Econômica, Psicossocial, Militar e Cientifico – Tecnológica do Poder Nacional.
Palavras chave: Lanchas militares. Lanchas civis. Construção naval.
ABSTRACT
This work presents the Base Naval de Val-de-Cães (BNVC) as an efficient tool to
boost the development of the Oriental Amazon Region, as a result from the activities
engaged in designing and building light ships for a variety of applications. This
monograph details studies concluded by the Brazilian Navy and the Brazilian Army
about type, number and apportionment of the military boats to be used by both
Military Services, as well as the profile and the demand for ships of civil purposes
made by Ministries of Health, Education and Welfare, all of them concerning to the
fluviomarine amazon environment, and ordered to the Brazilian Navy/BNVC. It
numbers and describes the technical typical trait of the crafts designed to fluvial
purposes, according to the requirements made by the various demanding civil and
military organisms, while analyzing in quality and quantity the composition of the
human element in all its levels, as required in the region for the application in naval
engineering. It analyzes the logistics, technical workability and the staff capability
needed to accomplish the jointure to build at BNVC of the Combat Boat 90,
conceived by the Swedish shipyard Dockstavarvet. It evaluates the effects of
shipyards over the people of the Northeast Region of the Amazon, under the aspects
of organizing agent, executive and beneficiary of the productive process, according
to Political, Economical, Psychosocial, Military and Scientific-Technological meanings
of the National Power.
Keywords: Military speedboats. Civil boats. Naval construction.
À minha
querida esposa Cláudia e meu filho
Guilherme, agradeço o apoio e incentivo
para a realização deste trabalho. Ao mesmo
tempo, reconheço, igualmente, a
compreensão por minhas ausências na
convivência rotineira do lar, fruto do tempo
dedicado à realização desta monografia.
AGRADECIMENTO
Dentre os inúmeros trabalhos desenvolvidos pela Base Naval de Val-de-
Cães, um em especial sobressaiu pelo brilho próprio. Diferenciadamente belo fruto
de uma abençoada e singela missão que é a de transportar em segurança para a
escola, “pequenos brasileirinhos” residente em longínquos povoados ribeirinhos,
isolados na imensidão da nossa região amazônica.
Coube as briosas Lanchas Escolares a nobre missão de conferir dignidade
aqueles jovens cidadãos, propiciando segurança e conforto do início ao fim de sua
jornada diária de estudos, contribuindo de maneira ímpar para o futuro destas
valorosas crianças.
Assim sendo, agradeço a todos os homens e mulheres, militares e civis da
BNVC, que com seu nobre trabalho, pontuaram as vias fluviais do norte do nosso
país, com trezentas e setenta e quatro Lanchas Escolares, deixando orgulhosa e
envaidecida a nossa querida MARINHA DO BRASIL!
Foto 1: Estudante a bordo da Lancha Escolar
Fonte: Arquivo pessoal Desembargador Marcos Cavalcante – estagiário CAEPE 2013.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. ..7
2 EMBARCAÇÕES FLUVIAIS MILITARES ................................................... 11
2.1 QUANTIDADE, QUALIDADE E ADEQUABILIDADE .................................... 11
2.2 REQUISITOS CONSOLIDADOS .................................................................. 13
2.2.1 Emprego das LC ......................................................................................... 14
2.2.1.1 Tarefas básicas em situação de conflito no âmbito da Marinha ................... 14
2.2.1.2 Tarefas básicas em situação de conflito no âmbito da Exército ................... 14
2.2.1.3 Tarefas básicas em situação de paz no âmbito da Marinha. ........................ 15
2.2.1.4 Tarefas básicas em situação de paz no âmbito do Exército. ........................ 15
2.3 LOGÍSTICA DE MANUTENÇÃO .................................................................. 15
2.4 COMBAT BOAT 90 ....................................................................................... 16
2.5 LANCHA DE AÇÃO RÁPIDA ........................................................................ 17
2.5.1 LAR padrão ................................................................................................. 18
2.5.2 Lancha de Ação Rápida Especial (LAR-E) ............................................... 20
3 EMBARCAÇÕES FLUVIAIS CIVIS .............................................................. 22
3.1 LANCHA DE APOIO MÉDICO (LAM) ........................................................... 23
3.2 LANCHA ESCOLAR (LE) ............................................................................. 24
3.3 LANCHA SOCIAL (LS) ................................................................................. 26
4 CAPACITAÇÃO DA BNVC PARA CONSTRUÇÃO DE
LANCHAS MILITARES E CIVIS .................................................................. 28
4.1 INFRAESTRUTURA DA BNVC DEDICADA A CONSTRUÇÃO NAVAL ...... 29
4.2 HABILITAÇÃO DO PESSOAL PARA A CONSTRUÇÃO NAVAL ................. 30
5 CONSTRUÇÃO DAS COMBAT BOAT 90 NA BNVC ................................. 32
6 CONCLUSÃO ............................................................................................... 35
6.1 EXPRESSÃO POLÍTICA .............................................................................. 35
6.2 EXPRESSÃO ECONÔMICA......................................................................... 36
6.3 EXPRESSÃO PSICOSSOCIAL .................................................................... 37
6.4 EXPRESSÃO MILITAR................................................................................. 39
6.5 EXPRESSÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA ............................................ 40
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 42
7
1 INTRODUÇÃO
Os reflexos resultantes do desenvolvimento do setor industrial para uma
determinada região impactam, de maneira positiva, em praticamente todas as
expressões do Poder Nacional, quais sejam: a política (aumento do foco e
representatividade da região), a econômica (melhoria nos índices
macroeconômicos), a psicossocial (geração de serviços sociais e melhora do poder
aquisitivo), a expressão militar (aumento dissuasório), e a científico - tecnológica
(absorção de capacitações direta e indiretamente ligadas às atividades industriais
desenvolvidas); dentre outros vetores resultantes de progresso.
A região norte oriental do Brasil apresenta aguda ausência de significativas
instalações industriais de referência que poderiam vir a contribuir para alavancar o
desenvolvimento daquele importante espaço. Destarte, a pluralidade das riquezas
naturais abundantes na região, e o contraste da incipiência industrial regional, se
comparados a outras áreas do território nacional, particularizam, negativamente,
este rincão do país.
Deve-se a acanhada realidade do setor industrial na supracitada região, à
falta de empreendimentos e uma concreta política de investimentos diretos
significativos por parte dos setores público e privado, ao contrário do que é visto no
lado ocidental da Amazônia, onde o empreendedorismo é largamente observado,
citando como exemplo as ações desenvolvidas por Órgãos como a
Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) e o fortalecimento do
Polo Industrial de Manaus (PIM).
A Base Naval de Val-de-Cães (BNVC), Organização Militar Prestadora de
Serviços Industriais da Marinha do Brasil, por intermédio de suas atividades
precípuas, no contexto do que estabelece a sua missão1, poderá prestar ao
desenvolvimento da região norte oriental do país, significativa contribuição,
resultante do incremento da produção industrial, atrelada ao projeto e à construção
de embarcações militares, bem como aquelas destinadas ao transporte de pessoal e
prestação de serviços à sociedade civil (ambas de até 5 ton. de deslocamento).
1 Missão da BNVC: Prestar apoio logístico fixo às Forças e unidades navais da Marinha do Brasil que
operem nas águas marítima, fluvial ou ribeirinha, sob jurisdição do Comando do 4º Distrito Naval, a fim de contribuir para a defesa da navegação de interesse nacional e para o controle dessas áreas.
8
O modal preponderantemente fluvial da Amazônia e o potencial advindo de
tal condicionante apontam para possíveis e desejáveis benefícios afeitos às
características da citada região, a partir do oportuno projeto e produção na BNVC,
dos meios anteriormente elencados voltados ao atendimento das missões operativas
militares, conforme preconizado nos estudos estratégicos realizados pelo Comando
de Operações Navais (CON) e de carências sociais ainda existentes na região,
apontadas nos levantamentos de demandas realizadas por outros órgãos
governamentais pertencentes a demais Ministérios.
Assim sendo, as ações de P & D (Pesquisa e Desenvolvimento) advindos
das atividades industriais relacionadas à construção naval na Amazônia Oriental,
refletirão na melhoria do patamar tecnológico da região em foco, na medida em que
novas técnicas existentes na construção de embarcações forem transferidas,
absorvidas e desenvolvidas pela BNVC, que acabará por responder como um
significativo centro polarizador de qualificação profissional diferenciada, obtendo
consequentemente, como vetor resultante, o aprimoramento do nível técnico
requerido a ser demandado pelo mercado de trabalho dessa região do país.
Nesse sentido, estudar-se-á o perfil desejável atinente à quantidade e ao
tipo de embarcações militares aplicáveis ao modal fluvial amazônico, avaliadas
como instrumento operacional da Estratégia Nacional de Defesa (END) para a
região, verificando-se, em paralelo, as demandas sociais da população ribeirinha, e
a variedade de embarcações civis necessárias, utilizadas e a serem concebidas, no
atendimento de serviços e facilidades carentes na região.
Por oportuno, será efetuada a avaliação do apropriado “modus faciendi” para
a captação no mercado de trabalho regional, do quantitativo necessário e suficiente
em todos os níveis profissionais requeridos, a ser empregado no empreendimento
prospectivo da construção naval na BNVC, no escopo das atividades de CT & I
(Ciência, Tecnologia e Inovação) refletidas na produção plena das linhas de
montagem e serem estabelecidas.
Por conseguinte, o presente trabalho propõe-se a abordar, destacadamente,
a demanda logística regional atinente ao campo da expressão militar e os
subsequentes reflexos multiplicados no campo psicossocial, avaliando-se nesse
contexto, as capacitações e esforços decorrentes, necessários à implementação e
continuidade dos projetos de construção de lanchas militares e de lanchas de
9
aplicação civil na BNVC, em consonância com as diretrizes da END,
respectivamente.
A defesa do Brasil requer a reorganização da Base Industrial de Defesa (BID) - formada pelo conjunto integrado de empresas públicas e privadas, e de organizações civis e militares, que realizem ou conduzam pesquisa, projeto, desenvolvimento, industrialização, produção, reparo, conservação, revisão, conversão, modernização ou manutenção de produtos de defesa (Prode) no País (BRASIL, 2008, p. 21).
No segundo capítulo será efetuado o levantamento do perfil e quantidade
estratégica das embarcações do tipo fluvial militar, pautado no “Relatório
Complementar do Grupo de Trabalho de Lanchas de Combate e Embarcações
Anfíbias” do CON. Este estudo foi baseado na característica dos meios elencados
no Programa de Articulação e Equipamentos da Marinha do Brasil (PAEMB), bem
como considera as avaliações semelhantes do Plano de Equipamento do Exército
Brasileiro, elaborado por intermédio do Programa de Articulação “Braço Forte”, que
igualmente aborda o emprego de meios fluviais militares na Região Amazônica.
De maneira complementar, no capítulo três serão avaliadas as
características e demandas sociais de embarcações para uso civil, particularmente
emanadas do Ministério da Saúde (MS), Ministério da Educação (MEC) e do
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), voltadas
exclusivamente à Região Amazônica.
No capítulo quatro será efetuada a análise da capacidade, atual e a ser
instalada, do parque industrial da BNVC e o correspondente quantitativo e níveis de
formação profissional da força de trabalho requerida para a execução do projeto de
construção de lanchas militares e embarcações aplicáveis ao meio civil.
No quinto capítulo será avaliada a pertinência quanto à parceria e respectiva
transferência de tecnologia com o Estaleiro Sueco Dockstavarvet, visando a
construção da Combat Boat 90 e o aporte material, pessoal, operacional e técnico
requeridos nesse empreendimento, em consonância ao atendimento dos objetivos
estratégicos identificados pela Marinha do Brasil e pelo Exército Brasileiro.
No capítulo seis (conclusão) serão avaliados os desejáveis efeitos
multiplicadores que influenciarão positivamente todas as expressões do Poder
Nacional advindos do incremento da atividade industrial da BNVC, Organização
Militar Prestadora de Serviços Industriais (OMPS-I), relacionados à construção de
10
embarcações fluviais militares e de aplicação civil destinadas ao atendimento das
demandas estratégicas e sociais da região norte oriental amazônica.
11
2 EMBARCAÇÕES FLUVIAIS MILITARES
2.1 QUANTIDADES, QUALIDADE E ADEQUABILIDADE
A Estratégia Nacional de Defesa (END) (BRASIL, 2008, p. 11, grifo nosso),
dita que:
A Marinha contará, também, com embarcações de combate, de transporte e de patrulha, oceânicas, litorâneas e fluviais. Serão concebidas e fabricadas de acordo com a mesma preocupação de versatilidade funcional que orientará a construção das belonaves de alto mar. A Marinha adensará sua presença nas vias navegáveis das duas grandes bacias fluviais, a do Amazonas e a do Paraguai-Paraná [...]
A Lancha de Combate (LC) e a Lancha de Ação Rápida (LAR), meios
relacionados pela MB no Programa de Articulação e Equipamentos da Marinha do
Brasil (PAEMB), ou Embarcação Tática de Pelotão (ETP) e Embarcação Tática de
Grupo de Combate (ETG), meios relacionados pelo Exército Brasileiro em seu Plano
de Equipamento, apresentaram-se como as embarcações apropriadas para a
execução das tarefas relacionadas às operações ribeirinhas.
Essas lanchas deverão possuir capacidade para abrigar um Grupo de
Combate (GC) de Fuzileiros Navais e apresentar, como principais características,
rapidez e agilidade em manobras com pequeno calado, bem como deverão ser
blindadas e dotadas de Lançadores de Granadas e/ou Metralhadoras Pesadas.
Desta forma, poderão oferecer adequado poder de fogo e proteção balística para o
Movimento-Navio-Terra das tropas dos Batalhões de Operações Ribeirinhas
(BtlOpRib), em proveito de ações de infiltração, retirada e controle das margens de
rios, e para as tarefas de Inspeção Naval e demais atividades pertinentes a Marinha
na Região Amazônica.
Assim sendo, o Ministério da Defesa (MD), por meio da Diretriz Ministerial nº
15, de 09NOV2009, estabeleceu a criação de Grupos de Trabalho que procedessem
à análise dos Planos de Articulação e Equipamento das Forças e identificassem
programas e projetos comuns as Forças Singulares (MB e EB), bem como as
possibilidades de desenvolvimento, sob a supervisão do MD, de ações conjuntas
para as suas implementações. Coube então, ao nominado “Grupo de Trabalho 14”
(GT 14), composto por representantes da MB e EB, a responsabilidade pelo estudo
do perfil das Embarcações Anfíbias e Lanchas de Combate a serem adotadas pelas
Forças Armadas.
12
Dentre os seis tipos de embarcações relacionadas pelo GT 14, destacaram-
se as LC/ETP e LAR/ETG, cujas coincidências de características, empregos e áreas
de operação, permitem o desenvolvimento de ações conjuntas pelas Forças no que
se refere à concepção, projeto e adoção de programas de obtenção comum, para
meios que atendam à MB e ao EB. Verificando os requisitos afins, é possível
adequá-los às necessidades operacionais e logísticas de ambas as citadas Forças
Singulares, com a proposição de melhorias nos projetos já existentes, e o
estabelecimento de um cronograma físico-financeiro capaz de atender às
necessidades conjuntas em conformidades com as prioridades estabelecidas pelo
MD.
Em referência às LC/ETP, diante das ações descritas no PAEMB, o Grupo
Tarefa responsável verificou que a quantidade estratégica necessária totalizaria 72
unidades, sendo destinadas: 34 para o BtlOpRib-Manaus, 17 para o BtlOpRib-
Belém, 17 para o BtlOpRib-Ladário e 4 para o BtlOpRib-Tabatinga. O Plano ainda
estabelece o seguinte cronograma para recebimento dos meios conforme a moldura
temporal: 8 LC a serem incorporadas até 2014; 32 LC entre 2015 e 2022; e as
demais 32 LC, entre 2023 e 2030.
Diante das ações descritas nos Planos de Equipamentos do EB, igualmente
foi verificado que a quantidade estratégica necessária totalizaria 135 unidades,
sendo destinadas: 27 para 1º BIS-Manaus, 27 para o 5º BIS-São Gabriel da
Cachoeira, 27 para o 17º BIS-Tefé, 27 para o 2º BIS-Belém e 27 para o 17º BFron-
Corumbá.
A LC tipo “Combat 90” (CB 90) concebida e construída pelo Estaleiro sueco
Dockstavarvet, foi a embarcação apontada pelo GT 14 como a que detém, em sua
concepção, as melhores características operacionais requeridas, em especial:
capacidade de transporte de fração de tropa até 20 militares equipados, alta
velocidade, pequeno calado, grande manobrabilidade, blindagem, armamento
orgânico e sistema de direção de tiro.
O projeto das CB 90 foi adotado com êxito pelas Marinhas Reais da
Noruega, Finlândia e Suécia, Armada Mexicana, Marinha dos EUA e Malásia e
Guarda Costeira da Grécia. No ano de 2004, esta embarcação foi testada em rios da
região amazônica pelo Exército Brasileiro, obtendo aprovação operacional para
utilização nas vias fluviais da Região Norte e do Pantanal.
13
Em referência à LAR, trata-se de uma embarcação já existente e em ampla
operação pela MB na região amazônica, destinada à projeção de fração de tropa em
margens de rio, podendo ser transportada pelos Navios de Patrulha Fluvial
(NaPaFlu) que operam na região. Suas características estão em consonância com
os requisitos apresentados pelo EB específicos às ETG, possuindo, ainda,
semelhança operacional as embarcações utilizadas por alguns países amazônicos,
observadas por ocasião da ocorrência de situações de enfrentamento envolvendo
ameaças assimétricas eventuais, existentes na referida região fluvial.
As melhorias implementadas nas LAR ao longo de duas décadas, projetadas
e construídas pela BNVC desde o início dos anos 90 relacionadas, particularmente,
aos aspectos atinentes à blindagem da embarcação, estabilidade, armamento
orgânico e sistema de propulsão, já contemplam praticamente todos os requisitos
levantados pelo GT 14, a exceção da motorização por hidrojato (requisito almejado
pelo EB), já em implementação.
Uma vez atendidos, integralmente, os requisitos comuns desejados pelas
Forças, será possível o emprego pleno deste meio, com a vantagem da redução
significativa do aporte de recursos estimados, que inicialmente considerou a
aquisição da embarcação “Riverine Patrol Boat” fabricada pela empresa americana
“Safe Boats International”, dotada de propulsão a hidrojato. Como grande vantagem
estratégica, o projeto da BNVC é integralmente nacional e de propriedade da MB,
sendo ainda de fácil execução por estaleiros nacionais, ressaltando-se a
possibilidade quanto à diminuição em até vinte por cento no custo final da
embarcação em virtude da economia de produção em escala.
2.2 REQUISITOS CONSOLIDADOS
Segundo preconizado no Relatório sobre Lanchas de Combate e
Embarcações Anfíbias (Comando de Operações Navais. CON. Lanchas de Combate
e Operações Anfíbias - Relatório GT 14, Rio de Janeiro, RJ, 2011. p. 1 a 9):
O propósito do estabelecimento de requisitos para a embarcação em tela é dotar a Marinha do Brasil e o Exército Brasileiro de embarcações de combate fluviais, concebidas com foco no emprego versátil, em consonância com o disposto na Estratégia Nacional de Defesa.
14
2.2.1 Emprego das LC
Na MB, as LC serão empregadas pelos Fuzileiros Navais em Operações
Ribeirinhas para o transporte operacional de fração de tropa de até 20 militares
equipados (além de controle das margens durante essas operações), e nas
operações típicas do Poder Naval em tempo de paz, previstas na Doutrina Básica da
Marinha (DBM), nos rios e afluentes navegáveis da Bacia Amazônica.
No EB, as Lanchas de Combate destinam-se ao transporte operacional de
fração de tropa de até 20 militares equipados, em um curso de água, para a
realização do patrulhamento fluvial e de operações ribeirinhas, visando a manter o
controle das margens e da aquavia, negar o uso do curso de água ao inimigo,
controlar a população ribeirinha e coletar informes.
2.2.1.1 Tarefas Básicas em situação de conflito no âmbito da Marinha
A LC deverá executar tarefas inerentes à Força-Tarefa Ribeirinha,
isoladamente ou em conjunto com outros meios disponíveis na área, por meio das
seguintes ações:
a) Controle de área ribeirinha ou negação de uso pelo inimigo;
b) Comando e Controle;
c) Esclarecimento;
d) Transporte e desembarque de tropa, limitado ao valor de um Grupo de
Combate de Fuzileiros Navais, com meios próprios;
e) Apoio de fogo naval;
f) Interdição, desobstrução, busca de informações, contramedidas de
minagem e patrulha; e
g) Tratamento de baixas e evacuação médica.
2.2.1.2 Tarefas Básicas em situação de conflito no âmbito do Exército
No âmbito do EB, a LC deverá executar tarefas inerentes à marcha para o
combate fluvial de Companhia de Fuzileiros, por meio das seguintes ações:
a) Reconhecimento fluvial na marcha de aproximação;
b) Realizar patrulhamento fluvial;
15
c) Operações ofensivas para realizar o desembarque terrestre da tropa;
d) Realizar a segurança das Embarcações Base de Pelotão;
e) Bloqueio Fluvial;
f) Desembarque ribeirinho; e
g) Segurança de flanco e retaguarda da Companhia.
2.2.1.3 Tarefas Básicas em situação de paz no âmbito da Marinha
No âmbito da MB, a LC deverá executar as seguintes tarefas em tempo de
paz:
a) Contribuir para o adestramento e formação de pessoal;
b) Contribuir nas atividades de Inspeção Naval;
c) Colaborar com órgãos governamentais em ações de apoio e fiscalização;
e
d) Contribuir com o aumento do conhecimento operacional da região.
2.2.1.4 Tarefas Básicas em situação de paz no âmbito do Exército
No âmbito do EB, a LC deverá executar as seguintes tarefas em tempo de
paz:
a) Reconhecimento fluvial operacional da região;
b) Contribuir para o adestramento e a formação de pessoal;
c) Contribuir com a MB nas atividades de Inspeção Naval, quando solicitado; e
d) Colaborar com os órgãos governamentais em ações de apoio e
fiscalização.
2.3 LOGÍSTICA DE MANUTENÇÃO
A Lancha de Combate possui, tecnicamente, uma vida útil de até 30 anos,
sendo seu ciclo de atividades de 39 meses no qual o ciclo operativo compreenderá
um período de 37 meses, permeados por Períodos de Manutenção Extraordinários
(PME) de 15 dias a cada 4 meses de operação e um Período de Manutenção Geral
(PMG) de 2 meses após o ciclo operativo.
16
É desejável que a estrutura de manutenção das LC utilizadas pelas Forças
Singulares seja compartilhada de forma a otimizar e reduzir custos e gerar escala de
produção. Dessa forma, os Períodos de Manutenção Geral das LC poderão ficar a
cargo da Base Naval de Val-de-Cães (estaleiro construtor dos meios), abrangendo
as embarcações sediadas em Manaus e Belém respectivamente: BtlOpRib, 1º e 17º
BIS; e GptFNBe e 2º BIS.
2.4 COMBAT BOAT 90
O início do projeto da Combat Boat 90 teve origem no ano de 1989, e desde
então, vem sofrendo continuada modernização. No período compreendido entre
1989 e 2012 já foram construídas e entregues cerca de 250 unidades para Forças
Armadas de vários países.
Algumas das características da CB-90 tonaram-na excelente opção para
atuação na área da região amazônica, sendo as principais:
Propulsão independente do sistema de geração de energia, caso o
sistema elétrico sofra avarias (pois os motores possuem alternadores capazes de
gerar energia para operação básica dos comandos de navegação e combate);
Capacidade de operação em baixas profundidades, provendo proteção
contra choques mecânicos para a embarcação;
Capacidade de operar em águas com partículas em suspensão
(condições adversas), já testadas em diversos países, tais como: Brasil (Região
Amazônica em 2004), Malásia, África e Arábia Saudita;
Excelente manobrabilidade para velocidades elevadas;
Utilização do sistema com hidrojato, permitindo a parada e reversão de
máquinas sem inversão do sentido de rotação dos motores, reduzindo os esforços
de engrazamento na redutora e MCP, aumentando sua vida útil; e
Capacidade de operação em manobras de transporte e desembarque
anfíbio, associada a outras embarcações de maior porte, como os Navios
Desembarque Doca, Navios Desembarque de Carros de Combate e Fragatas.
17
Figura 1: Vista esquemática e característica técnica lancha CB-90. Fonte: apresentação técnica “The Docksta Group” CB-90 – Suécia, 2012
2.5 Lancha de Ação Rápida
Como pode ser observado na figura 1, as Lanchas de Ação Rápida
apresentam alta velocidade e calado reduzido, sendo projetadas segundo o conceito
de casco planador com estrutura em alumínio naval e sistema de propulsão com
motor diesel de torque elevado tipo centro rabeta e hélice duplo, potência de até 270
HP visando obter maior velocidade e eficiência hidrodinâmica.
Podendo abicar em margens e praias ribeirinhas, as LAR são apropriadas
para operações de patrulha, policiamento e controle de área. É projeto concebido
pela BNVC em duas versões: as LAR Padrão (blindagem baixa), e as LAR Especial
(blindagem cabinada).
18
2.5.1 LAR Padrão
Foto 2: Lancha de Ação Rápida Padrão Fonte: Apresentação técnica Deptº Industrial BNVC – LAR Padrão, 2012
a) Características principais: comprimento total 7,58m; comprimento do
casco 6,91m; boca moldada 2,30m; pontal moldado 1,00m; calado 0,60m; e lotação
12 homens (piloto mais onze homens);
b) Aplicação principal: patrulhamento e ações de apoio em águas interiores,
podendo realizar operações e abicagem em margens e praias ribeirinhas, com
desembarque pela proa. Apesar de não serem projetadas para operar em mar
aberto, apresentam-se com bom comportamento em mar de estado semi-abrigado;
c) Material: Alumínio Naval (Liga ASTM 5052) – PA;
d) Fabricante: Base Naval de Val-de-Cães;
e) Acabamento Interno: acabamento interno todo em alumínio, incluindo os
bancos com assento rebatível. Não há duplo-fundo, mas duas anteparas
transversais estanques;
19
f) Acabamento Externo: verdugo de mangote de borracha em volta da
embarcação, com exceção da popa; 04 (quatro) cunhos instalados na extensão do
casco sobre o trincaniz; Olhais para içamento disposto também no trincaniz. Mastro
na targa com luz de alcançado acoplado; Suporte para metralhadora na proa;
Defletores de fluxo laterais e aleta defletora na quilha a ré para proteção dos hélices
e rabeta;
g) Pintura Interna e Externa: pintura geral com tinta primer de alta aderência
e acabamento com tinta de alta espessura e semi-brilho. (O grafismo será efetuado
de acordo com a especificação fornecida pelo cliente);
h) Deslocamento Leve: 3,10 Toneladas;
i) Sistema Elétrico: sistema elétrico (CC) de 12V com alternador acionado
pelo motor principal gerando 12V/110A de saída. (Possui 02 (duas) baterias de
12V/150Ah);
j) Propulsão: Rabeta Bravo Three X (Mercruiser), com direção hidráulica,
sistema de power trim e hélices de aço inox;
k) Motor: Diesel centro-rabeta QSD 2.8 - 220HP - 3800RPM (Mercruiser);
l) Velocidade Máxima: 35 nós (aproximadamente 65 km/h);
m) Tanque de Combustível: capacidade de 400 litros, removível e localizado
na área central, sendo o seu teto o próprio piso interno da lancha;
n) Raio de Ação: 400 milhas náuticas;
o) Hidráulica: bomba de esgoto com acionamento automático através de
sensor tipo boia e chave seletora no painel de comando (2000gph);
p) Acessórios: farol de longo alcance 50W/12V; sirene (alarme sonoro); luz
de sinalização policial; ancorote Danforth de 15Kg; seis defensas verticais tipo
fender em PVC vinil flexível tamanho G5 – 688mm X 216mm; croque em madeira
com ponteira de metal não corrosivo; extintor de CO² de 04Kg; luzes de navegação
e buzina;
q) Equipamentos Náuticos: Rádio VHF (frequência de 156 MHZ a 163 MHZ
e potência de 25W); GPS modelo com base fixa e painel removível; Ecobatímetro
modelo digital e visor gráfico e Agulha Magnética auto-compensável e removível;
r) Compartimentagem: Peak tanque de proa estanque; porão central e praça
de máquinas; e
s) Blindagem: proteção balística do patrão (nível III); proteção da Tripulação
(nível III); proteção da praça de máquinas (Nível III-A).
20
2.5.2 Lancha de Ação Rápida Especial (LAR-E)
Foto 3: Lancha de Ação Rápida Especial (LAR-E) Fonte: Panfleto técnico da Assessoria Extra Marinha da BNVC, 2012
a) Características principais: comprimento total 7,56 m; boca moldada 2,30
m; pontal 1,00 m; calado 0,70 m (incluindo a aleta defletora); lotação 06 homens
(piloto mais cinco homens);
b) Aplicação principal: patrulhamento e ações de apoio em águas interiores,
podendo realizar operações e abicagem em margens e praias ribeirinhas;
c) Material: Alumínio Naval (liga ASTM 5052);
d) Fabricante: Base Naval de Val-de-Cães, Belém – PA;
e) Acabamento interno: em alumínio, com assentos de encosto rebatível e
duas anteparas transversais estanques;
f) Acabamento externo: verdugo em mangote de borracha em volta de toda a
embarcação, com exceção da popa. Mastro de popa com luz de alcançado. Cunhos
instalados na extensão do casco sobre o trincaniz. Porta de acesso pela popa e
escotilha no teto;
g) Pintura interna e Externa: conforme o grafismo fornecido pelo cliente;
21
h) Deslocamento leve: 3,0 toneladas;
i) Sistema elétrico: sistema elétrico (CC) de 12 V, com alternador acionado
pelo motor principal, gerando 60ª;
j) Propulsão: Rabeta com sistema DP de contra-rotação;
k) Motor: Diesel marítimo de alta rotação, com sistema de partida e direção,
turbo compressor e “aftercooler”, painel de instrumentos com indicador de RPM e
resfriamento a água com admissão pelo casco. Faixa de potência 200 a 270 HP;
l) Velocidade máxima: 40 nós (com motor de 270 HP);
m) Tanque de Combustível: capacidade de 400 litros;
n) Raio de Ação: 350 milhas náuticas;
o) Hidráulica: bomba de esgoto com acionamento automático através de
sensor tipo boia e chave seletora no painel de comando (2000gph);
p) Acessórios: Ferro tipo Danforth, defensas, extintor de incêndio, luzes de
navegação, buzina, holofote de busca, sirene, luz de sinalização giroflex, aparelho
de ar condicionado marítimo com 12.000 btu para climatização da cabine;
q) Equipamentos Náutico: VHF- Rádio VHF/FM SOLARA MOD. 25W; GPS-
Fixo, marinizado; Eco-sonda; Agulha magnética;
r) Compartimentagem: Peak tanque de proa estanque; porão central e praça
de máquinas; e
s) Blindagem: blindagem balística em Aramida (Nível IIIA - Kevlar) ou em
Polietileno de Alta Performance (Nível III - Dyneema); vidros balísticos e seteiras.
22
3 EMBARCAÇÕES FLUVIAIS CIVIS
A infraestrutura industrial instalada na BNVC, necessária à manutenção dos
meios marítimos e fluviais sediados em sua área de responsabilidade na região
amazônica, como preconizado em sua missão precípua, bem como o conhecimento
adquirido na construção de embarcações leves, notadamente as LAR, dotaram a
BNVC de capacitação necessária para a construção de embarcações fluviais (ou em
águas abrigadas) para transporte de pessoal e material destinado ao uso não militar.
Assim sendo, o MD e a MB, por meio de acordos efetuados concretizados
pela da Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON)2, respectivamente
com o MS, para a construção da Lancha de Apoio Médico (LAM); MEC, para a
construção da Lancha Escolar (LE); e do MDS, para a construção da Lancha Social
(LS), atribuíram à BNVC a missão de projetar e produzir as referidas embarcações
dentro das especificações requeridas por aqueles Ministérios.
Mediante habilitação obtida conforme o Certificado FM 561597, expedido
pela BSI (British Standards Institution)3, a BNVC pautou o seu sistema de gestão da
qualidade conforme requisitos e especificações internacionais da ISO 9001:2008
voltada à construção, ao reparo e à manutenção de embarcações de pequeno e
médio porte com capacidade de até 5 toneladas.
Deste modo, centenas de lanchas para aplicação civil foram concebidas e
fabricadas pela BNVC, notadamente as LAM, LE e LS, cujas aplicações, demandas
e características serão apresentadas a seguir.
2 A Empresa Gerencial de Projetos Navais - EMGEPRON é uma empresa pública, vinculada ao
Ministério da Defesa por intermédio do Comando da Marinha do Brasil, que tem como finalidades principais: Promover a Indústria Militar Naval Brasileira; Gerenciar projetos integrantes de programas aprovados pelo Comando da Marinha; e Promover e executar atividades vinculadas à obtenção e manutenção de material militar naval.
3 O Grupo BSI oferece aos seus clientes, dentre outros serviços, a certificação e auditoria de sistemas
de gestão, e testes e certificação de produtos e serviços.
23
3.1 LANCHA DE APOIO MÉDICO (LAM)
Foto 4: Lancha de Apoio Médico (LAM) Fonte: Panfleto técnico da Assessoria Extra Marinha da BNVC, 2012
A partir da assinatura, no ano de 2006, do Acordo de Cooperação entre o
MD (MB) e o MS, a BNVC recebeu a encomenda de sete LAM, apelidadas de
“Ambulancha”, sendo as mesmas, depois de construídas, entregues à Secretaria
Municipal de Saúde de Belém (SESMA/PMB).
Conforme descrição constante na “Ficha Técnica da LAM”, disponibilizada
no site da Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON), empresa
responsável pela divulgação e comercialização da embarcação, trata-se de um meio
versátil, projetado para remoções de pacientes e assistência pré-hospitalar em rios e
lagoas, provendo apoio médico de urgência e emergência, no atendimento às
comunidades ribeirinhas da região amazônica.
Confeccionada em alumínio naval, a LAM transporta até dois pacientes e
quatro tripulantes, possuindo, ainda, diversas facilidades tais como: maca removível
com trava, sistema fixo e móvel para dois cilindros de oxigênio, padiola para adultos
24
e crianças e poltronas reversíveis, podendo dotar de variado material médico-
hospitalar, caso necessário.
Seu ótimo desempenho e facilidade de manutenção a tornam ideal para
emprego por instituições de saúde, Corpos de Bombeiros, Defesa Civil e empresas
privadas.
Possui, ainda, as seguintes características técnicas: Comprimento total -
7,80 m / Boca moldada - 2,80 m / Pontal moldado - 1,20 m / Calado máximo - 0,60 m
/ Fabricada em alumínio naval ASTM 5052 / Tanques com capacidade para 400
litros de diesel e 250 litros d’água / Velocidade máxima de 30 nós / Raio de ação de
370 milhas náuticas / Deslocamento de 2,1 t.
Dotada dos seguintes equipamentos: Motor Diesel Volvo Penta 230 HP
KAD 43P-DP / Rádio VHF-FM 52 canais / GPS Garmin 128 com 12 canais /
Ecobatímetro Matrix 10 / Bomba de esgoto 2.000 GPH / Duas baterias de 12V -
150Ah.
3.2 LANCHA ESCOLAR (LE)
Foto 5: Lancha Escolar (LE) Fonte: Panfleto técnico da Assessoria Extra Marinha da BNVC, 2012
25
A partir da assinatura, no ano de 2009, do Acordo de Cooperação entre o
MD (MB) e o MEC por intermédio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE), a BNVC recebeu a encomenda para confeccionar, até o final de
2012, um total de 374 Lanchas Escolares (LE), sendo as mesmas depois de
construídas, destinadas a diversas prefeituras da região amazônica, onde a
prioridade na distribuição estabelecida pelo FNDE baseou-se no caráter de urgência
ao atendimento das demandas em localidades que apresentavam maior carência no
transporte escolar.
O projeto das LE originou-se de estudos realizados pelo MEC no escopo do
programa “Caminho da Escola”4 com o foco no transporte escolar efetuado no modal
hidroviário/aquaviário, quando foi verificado que aproximadamente 180 mil
estudantes do ensino público residentes nas regiões ribeirinhas da Amazônia,
usualmente seguiam para a escola em barcos artesanais a remo, frágeis e
vulneráveis à colisão com outras embarcações de maior porte, tendo ainda sido
registrado a constante utilização de “barqueiros” contratados pelas prefeituras locais
que realizam serviço precário, desconfortável, inseguro e demorado.
Invariavelmente expostos às intempéries, como vento e chuvas torrenciais
tão comuns na Amazônia, os estudantes chegam às salas de aula desmotivados e
desgastados para o início da jornada de estudo, fato que contribui, sobremaneira,
para a significativa evasão escolar na região.
A LE foi concebida para prover condições satisfatórias ao estudante
ribeirinho em seu translado casa-escola-casa. Construída em alumínio naval,
medindo 7,30m de comprimento, é dotada de itens de segurança, tais como: coletes
salva-vidas, extintor de incêndio, sirene, luzes de navegação, rádio comunicador,
defensas, e capacidade para transportar até 20 alunos, incluindo assento apropriado
para portadores de necessidades especiais.
Quando destinada ao transporte geral de pessoas em águas abrigadas, a
LE pode ser configurada e disponibilizada com a denominação de Lancha de
Transporte de Pessoal (LTP).
4 O programa Caminho da Escola foi criado em 2007 com o objetivo de renovar a frota de veículos
escolares, garantir segurança e qualidade ao transporte dos estudantes e contribuir para a redução da evasão escolar, ampliando, por meio do transporte diário, o acesso e a permanência na escola dos estudantes matriculados na educação básica da zona rural das redes estaduais e municipais. O programa também visa à padronização dos veículos de transporte escolar, à redução dos preços dos veículos e ao aumento da transparência nessas aquisições.
26
Conforme descrição constante na “Ficha Técnica da LE (LTP)”,
disponibilizada no site da EMGEPRON, empresa responsável pela divulgação e
comercialização da embarcação, a mesma possui as seguintes características
técnicas: comprimento total - 7,30 m / boca moldada - 2,20 m / pontal moldado - 1,00
m / calado máximo - 0,35 m / fabricada em alumínio naval ASTM 5052 / tanques com
capacidade para 150 litros de gasolina / velocidade máxima de 12 nós /
deslocamento de 1,5 t.
Dotada dos seguintes equipamentos: motor de popa a gasolina 4t (90HP)
ou motor-rabeta diesel (150HP) / rádio comunicador / bomba de esgoto 1.000 GPH /
duas baterias de 12V - 150Ah.
3.3 LANCHA SOCIAL (LS)
Foto 6: Lancha Social (LS) Fonte: Panfleto técnico da Assessoria Extra Marinha da BNVC, 2012
27
A partir da assinatura, em fevereiro de 2012, do Acordo de Cooperação
entre o MD (MB) e o MDS (MDS), no âmbito do plano “Brasil sem Miséria”5, a BNVC
recebeu a encomenda para confeccionar até final de 2014, um total 100 Lanchas
Sociais (LS), sendo as mesmas, após construídas, destinadas a diversas prefeituras
da região amazônica, onde a prioridade na distribuição estabelecida, será baseada
no caráter de urgência ao atendimento das demandas em localidades que
apresentem maior carência no atendimento de políticas de assistência social.
O projeto das LS visa propiciar o contato das longínquas populações
ribeirinhas aos serviços sociais prestados pelos Centros de Referência de
Assistência Social (CRAS), que executam programas e ações como a identificação
de situações de vulnerabilidade e risco social, acolhida e reuniões familiares, visitas
domiciliares, atendimentos particularizados e em grupo, ações comunitárias e
parcerias com outras políticas no atendimento a população.
A LS possibilitará ainda, as ações de busca ativa das famílias ainda não
inseridas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, e que
estejam à margem das políticas públicas socioassistenciais, permitindo assim uma
abrangência mais completa dos usuários do Sistema Único de Assistência Social.
As LS são capazes de transportar até dez profissionais de assistência
social, sendo operadas por dois tripulantes. Conforme descrição constante na “Ficha
Técnica da LS”, disponibilizada no site da EMGEPRON, empresa responsável pela
divulgação e comercialização da embarcação, a mesma possui as seguintes
características técnicas: comprimento total - 7,70 m / boca moldada - 2,50 m / pontal
moldado - 1,10 m / calado máximo - 0,55 m / fabricada em alumínio naval ASTM
5052 / tanques com capacidade para 100 litros de gasolina / velocidade máxima de
12 nós / deslocamento de 2,0 t.
Dotada dos seguintes equipamentos: motor marítimo à diesel de 120 HP e
2500 rpm / rádio comunicador / bomba de esgoto 1.000 GPH / duas baterias de 12V
- 150Ah.
5 O Plano Brasil Sem Miséria tem a finalidade de superar a situação de extrema pobreza da
população em todo o território nacional, por meio da integração e articulação de políticas, programas e ações, sendo executado pela União em colaboração com Estados, Distrito Federal, Municípios e com a sociedade.
28
4 CAPACITAÇÕES DA BNVC PARA CONSTRUÇÃO DE LANCHAS MILITARES E
CIVIS
Foto 7: Lancha de Ação Rápida Especial (LAR-E) Fonte: Site da BNVC em https://www.mar.mil.br/bnvc/omps-i.html
Desde o início dos anos 2000, a BNVC vem, paulatinamente, agregando à
sua capacitação industrial, uma infraestrutura dedicada à construção de
embarcações leves em alumínio, sob a responsabilidade da Divisão de Construção
Naval cujas instalações localizam-se atualmente em um amplo galpão da Base
denominado “Oficina nº4”.
Dispondo, atualmente, de uma experiente equipe de engenheiros e técnicos,
particularmente familiarizados com as etapas da construção naval de estrutura em
alumínio; a BNVC conta, ainda, com um recém-concluído espaço, cuja área coberta
é de 800m2, igualmente destinado à produção naval de embarcações de porte
médio, que poderá receber uma segunda linha de construção dedicada à produção
das Combat Boat 90.
Os principais setores instalados que oferecem suporte a construção de
embarcações em alumínios pertencentes à BNVC são os de corte de chapas,
29
montagem e soldagem de casco e superestrutura, instalação de motores e
eletroeletrônica, estufa para pintura e instalação de acessórios.
A construção naval da BNVC é, ainda, apoiada por diversas oficinas
responsáveis por etapas específicas, destacando-se as de mecânica, soldagem,
elétrica, eletrônica, além do setor responsável pelos projetos a serem realizados.
4.1 INFRAESTRUTURA DA BNVC DEDICADA A CONSTRUÇÃO NAVAL
A BNVC, conta com oficinas específicas de apoio a construção naval sob a
responsabilidade de divisões diversas, tais como as de Reparos de Eletrônica e
Armamento, Mecânica, Eletricidade, Estrutura e Metalurgia, Diques e Oficinas
complementares.
Atualmente, a infraestrutura instalada na BNVC é suficiente para a produção
das LAR, LAM, LE e LS, sendo necessário, entretanto, complementar o aporte de
capacitações voltadas à pretendida produção das CB 90, uma vez que requerem
algum investimento para a conclusão de sua implementação, particularmente no
tocante ao redimensionamento das instalações elétricas voltadas à alimentação dos
novos maquinários a serem necessariamente adquiridos como os de corte e solda,
conformação mecânica e sistemas de iluminação.
Por ocasião da visita dos representantes da Dockstavarvet (construtor
da CB 90) às novas instalações (galpão de 800m2) da BNVC, em novembro de
2011, foi observada (SANTOS, 2012) a necessidade de se implantar uma
estrutura completa de sistemas e máquinas capaz de permitir a realização de
todos os serviços necessários para fabricação da CB-90H, entre estes foram
citados os seguintes:
Maquinário independente da Oficina 4;
Escritório;
Almoxarifado com controle de umidade;
Sistema de Exaustão;
Sistema de ar comprimido;
Sistema de Combate a Incêndio;
Plataforma de Trabalho (JIG);
Ponte rolante (02 pontes de 7 Ton cada);
Bancadas de Trabalho móveis;
30
Carreira automatizada;
Qualificação de pessoal;
Aquisição de ferramentas especiais;
Setor individualizado para pintura;
Carros sobre rodas para transporte de cada lancha;
Trator para movimentação da embarcação por terra;
Bancada de corte plasma CNC.
A administração da BNVC vem envidando esforços no sentido de
providenciar a infraestrutura restante necessária para a construção da CB 90,
tendo sido iniciado o processo licitatório para aquisição e instalação de duas
pontes rolantes de 7 Ton, apropriadas para a construção de embarcações do
porte da CB 90 e de outras embarcações de dimensão similar.
4.2 Habilitações do pessoal para a Construção Naval
Foto 8: Construção naval da BNVC Fonte: Panfleto técnico da Assessoria Extra Marinha da BNVC, 2012
O aporte de profissionais dentro da demanda requerida ao trabalho em todos
os níveis nas linhas de produção da construção naval da BNVC provem do
planejamento de novas metas nas quais se observa consequente mudança na
31
dinâmica do perfil quantitativo e qualitativo do pessoal componente da Divisão de
Construção Naval.
Atualmente, a composição do quadro de engenheiros e técnicos da Base
ocorre por intermédio do serviço de militares (concursados ou pertencentes a
reserva não remunerada), profissionais contratados por intermédio da FEMAR6
(Fundação de Estudos do Mar) e da EMGEPRON.
No que se refere aos militares, particularmente os da reserva não
remunerada, são os mesmos em sua maioria oriundos de estabelecimentos de
formação de nível superior e técnico localizados no estado do Pará.
Os civis contratados via FEMAR e EMGEPRON são, invariavelmente,
oriundos de estaleiros ou instalações industriais de pequeno porte, com atividades
afins da região norte que migram para a BNVC, normalmente em busca de melhores
condições de trabalho.
Conforme verificado no efetivo atual constante nos registros da Diretoria de
Pessoal Militar da Marinha (DPMM), a Base possui em seu quantitativo de militares
com formação superior, engenheiros nos campos da mecânica, eletrônica,
eletricidade, construção naval, química, informática e produção.
No que se refere ao pessoal de perfil técnico, oriundo dos quadros militares
e civis contratados, observa-se como principais formações, as de estruturas navais,
eletroeletrônica, mecânica, carpintaria e solda e marcenaria.
5 CONSTRUÇÃO DAS COMBAT BOAT 90 NA BNVC
6 A FEMAR destina-se a contribuir para o conhecimento dos aspectos sócio-econômicos e políticos
do mar, bem como dos problemas a ele referentes; valorizar a pessoa do trabalhador da indústria de construção naval, do transporte aquaviário e da pesca, promovendo a maior produtividade dessas atividades comerciais e industriais; procurar os meios para racionalização do trabalho nos portos; através de estudos, buscar soluções para o incremento do transporte aquaviário, promover o conhecimento e a difusão dos problemas atinentes ao complexo aquaviário, transportes, portos, pesca, navegação, construção naval, ciências do mar e legislação pertinente, tudo com vistas a contribuir para difundir a mentalidade marítima no Brasil.
32
Uma das técnicas atuais de gerenciamento de empresas na busca do seu
aperfeiçoamento é conhecida como “benchmarking”. De acordo com a Wikipédia,
“benchmarking” é:
a busca das melhores práticas na indústria que conduzem ao desempenho superior. É visto como um processo positivo e proativo por meio do qual uma empresa examina como outra realiza uma função específica a fim de melhorar como realizar a mesma ou uma função semelhante. O processo de comparação do desempenho entre dois ou mais sistemas é chamado de benchmarking.
Figura 2: Vista interna da lancha Combat Boat 90 Fonte: apresentação técnica “The Docksta Group” CB-90 – Suécia, 2012
Conforme já verificado, é possível o estaleiro Dockstavarvet fornecer a
embarcação Combat Boat 90 sem os sistemas de armas e comunicações a um
custo estimado de US$ 2,5 milhões. Estes sistemas seriam especificados e
instalados com o apoio da indústria nacional, objetivando a redução de custos de
obtenção da embarcação completa, estimado inicialmente em US$ 4,5 milhões.
O custo para produção em escala das embarcações seria negociado em
razão da quantidade adquirida, assim como os treinamentos operacionais, de
manutenção e de construção. O contrato de manutenção seria revisado a cada três
anos.
Em uma obtenção de maior escala da CB 90, é desejável que a construção
das seis primeiras embarcações ocorresse na Suécia e, paralelamente, o
treinamento das técnicas de construção em estaleiro no Brasil. O treinamento
33
operacional e de manutenção deve ser oferecido pelo estaleiro Dockstavarvet em
conjunto com a Marinha Sueca.
Foi, também, apresentada a possibilidade da construção em estaleiro
privado no Brasil, sob licença e supervisão do construtor, ou a assinatura de
contratos para aquisição de kits de construção sob licença, tal como é realizado
atualmente no Estaleiro Astimar do México. Para tal, é necessária a aprovação pelo
construtor da infraestrutura ferramental e capacitação profissional requerida. Deve,
ainda, serem disponibilizados pelo estaleiro sueco os planos e arquivos eletrônicos
para a construção, e fornecidos os certificados e garantias do material e dos
principais sistemas.
Independente da modalidade de contrato, o estaleiro Dockstavarvet
disponibilizará os manuais de operação e manutenção de sistemas individuais e da
embarcação em geral. Os materiais e sistemas terão garantia e sendo provisionados
pacotes de sobressalentes de acordo com o número de embarcações. Também
haverá suporte de manutenção no país para os sistemas de propulsão, navegação,
comunicação e outros, sendo provido para cada quatro LC adquiridas, um contêiner
de apoio contendo sobressalente e materias especiais.
Considerando que o EB avaliou, em 2004, a lancha “COMBAT 90H” à luz
dos seus requisitos particulares, e que também é importante a MB igualmente
reavaliar operacionalmente a embarcação no ambiente amazônico, de forma a
ratificar a padronização da referida lancha como a Lancha de Combate de utilização
comum às duas Forças e, consequentemente, atender concomitantemente às
necessidades estabelecidas pelo PAEMB e pelo Programa de Articulação “Braço
Forte”, é pertinente que o MD, por intermédio da Secretaria de Produtos de Defesa
(SEPROD), coordene a obtenção de ao menos quatro CB 90 do estaleiro
Dockstarvarvet, destinando duas unidades à MB e duas ao EB.
No que se refere às embarcações da MB, as mesmas devem ser
incorporadas ao Batalhão de Operações Ribeirinhas em Manaus e ao Grupamento
de Fuzileiros Navais em Belém, ambas mantidas sob a coordenação e supervisão
da BNVC, local onde o contêiner de apoio ficará instalado. A manutenção das quatro
LC será realizada de maneira integrada pelo pessoal da MB em conjunto com o do
EB.
34
A BNVC vem mantendo frequentes contatos com o Estaleiro
“Dockstavarvet”, iniciados durante o evento “LAAD-2011”7, com o intuito de viabilizar
um eventual licenciamento do projeto de construção de lanchas tipo “Combat Boat
90”. Além disso, vem ao encontro desta linha de ação (LA), a já mencionada
prontificação do galpão dedicado à construção em série de embarcações em
alumínio, com toda a estrutura necessária para fabricação de lanchas do porte da
CB 90, o qual poderá ser empregado no futuro projeto de obtenção em maior escala
das citadas LC.
A parceria entre a BNVC e Dockstavarvet para a construção das citadas
lanchas no Brasil será extremamente proveitosa em relação aos aspectos
econômico, logístico e industrial, contribuindo, ainda, com a geração de empregos
diretos e indiretos na região oriental amazônica. Tal empreendimento implicaria em
gradual nacionalização de materiais e processos na produção da embarcação, com
reflexos na redução de custos e equacionamento das facilidades de manutenção do
meio na região.
No início de 2012, uma equipe de engenheiros e técnicos da BNVC realizou
uma visita as instalações do Estaleiro Dockstavarvet, localizado no distrito de
Docksta na Suécia, com o objetivo de obter informações que balizem a adaptação
da infraestrutura de Val-de-Cães, habilitando-a a construir as Combat Boat 90. Nesta
ocasião, foi atestado que o processo de soldagem utilizado pela BNVC para a
fabricação das LE e LS, obedecem plenamente as especificações do fabricante
sueco.
7 A LAAD Defence & Security, evento promovido a cada dois anos, é um dos principais palcos para
apresentação do que há de mais moderno no mundo em tecnologia, equipamentos e serviços nas áreas de Defesa e Segurança, voltados às Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), forças policiais e especiais, consultorias, segurança corporativa e agências governamentais.
35
6 CONCLUSÃO
Nas seções anteriores deste trabalho procurou-se destacar a importância do
incremento da produção de embarcações médias e leves na Base Naval de Val-de-
Cães, como ferramenta para o desenvolvimento da região norte oriental da
Amazônia.
Tendo como fato motivador as demandas da MB e EB identificadas pelo
Grupo de Trabalho 14 (GT 14) estabelecido pelo CON, no que concerne a
construção e aplicação das embarcações de emprego militar, bem como as
parcerias do Ministério da Defesa / Ministério da Marinha com os Ministérios da
Saúde, Educação e Desenvolvimento Social relacionadas às embarcações de uso
civil encomendadas a BNVC, depreende-se que as ações decorrentes para a
concretização de tal empreendimento acarretam em benéfico efeito multiplicador
cujos vetores resultantes atuam nas várias Expressões do Poder Nacional de forma
desejável para o alcance e manutenção dos Objetivos Nacionais.
Enumerando as Expressões do Poder Nacional e discorrendo de maneira
individual a respeito das influências que os diferentes aspectos resultantes, advindos
da atividade do projeto e construção de embarcações na BNVC impactarão em cada
uma dessas Expressões, podemos assim elencar:
6.1 EXPRESSÃO POLÍTICA
Sobre os anseios e aspirações do povo, no contexto da Expressão Política,
segundo a Escola Superior de Guerra, Manual Básico - volume II – assuntos
específicos:
Os anseios e aspirações do Povo, mais ou menos difusos, processam-se na Expressão Política, transformando-se em objetivos articulados que, nas sociedades democráticas, retornam ao povo ou a seus representantes, sob a forma de proposta de normatividade, planos, projetos estatais ou decisões específicas. (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 2013, p. 13).
Na medida em que a manifestação dos anseios e aspirações do povo
amazônico-oriental, no exercício de sua cidadania, sensibiliza as elites políticas
regionais e nacionais quanto às suas necessidades de toda a ordem, assinalam-se
claramente os “ecos” da Expressão Política na mobilização das lideranças em busca
36
de ações voltadas ao atendimento de tais demandas, provocando o Estado a
estabelecer soluções concretas.
Assim sendo, verifica-se por meio da BNVC, a ocorrência e perspectiva de
empreendimentos governamentais na forma de planos e projetos voltados,
especificamente, aos campos da segurança e defesa, saúde, educação e bem estar
social, conduzidos por intermédio de seus respectivos Ministérios responsáveis.
Corrobora desta maneira, a BNVC para o atendimento das demandas
advindas das peculiaridades socioculturais do povo norte oriental, representando
desta forma, significativa ferramenta da Expressão Política do Poder Nacional, em
sua manifestação com vistas a alcançar e manter os Objetivos Nacionais atinentes a
supracitada região.
6.2 EXPRESSÃO ECONÔMICA
Sobre a evolução da sociedade e o gradativo aumento de suas
necessidades e aspirações e, consequentemente, o crescimento da demanda por
consumo de bens e serviços, no contexto da Expressão Econômica, segundo a
Escola Superior de Guerra, Manual Básico - volume II – assuntos específicos (2013,
p. 38) é ressaltado que: “Entre os aspectos característicos da Expressão Econômica
do Poder Nacional avulta a importância das inovações tecnológicas, modificando
processos de produção e alterando demandas pelos fatores produtivos”.
A produção das embarcações de aplicação militar e civil na BNVC,
precedida pela fase de projeto, e seguida pela distribuição dos meios
confeccionados em atendimento as demandas levantadas, pauta-se nas tarefas
básicas preconizadas pela economia sobre o quê, quando e como produzir e
distribuir os bens, fruto do esforço humano.
Assim sendo, o fluxo integral do capital gerado do empreendimento da
construção naval, abrange diversos fundamentos do sistema econômico.
No que tange ao fundamento relacionado aos recursos humanos, vemos o
homem, como o agente essencial da produção, aqui representado entre os militares
e civis responsáveis pelas atividades no “chão de fábrica”8 da BNVC, produzindo
bens, agregando e distribuindo riqueza oriunda da remuneração percebida pelo seu
8 Chão de fábrica é o termo usado em manufatura para designar o local onde o processo fabril é
executado.
37
trabalho. Desta forma, a atividade da construção naval na BNVC, corrobora para que
seu material humano busque, com os frutos de suas atividades, satisfazer suas
necessidades vitais, bem como atender aos requisitos de bem estar, tornando-se
desta maneira, parcela significativa de indivíduos componentes da “população
ocupada”9 pertencente à região norte oriental da Amazônia.
Quanto ao aspecto qualitativo da força de trabalho de nível técnico e
superior utilizada pela Base Naval, segundo a Escola Superior de Guerra, podemos
citar que:
Em orgânica ligação com o acréscimo de Poder Nacional, os aspectos qualitativos dos Recursos Humanos na Expressão Econômica do Poder Nacional situam-se na otimização do rendimento e na produtividade do Homem, dependentes da qualificação da população quanto ao seu nível cultural e educacional, sua higidez e especialização. (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 2013, p. 41).
Observamos assim, que o aumento de produtividade na economia está
intimamente vinculado a qualificação dos recursos humanos, sendo este reflexo da
modernização dos processos, representando no homem o agente essencial da
produção e do consumo, seja como executor ou beneficiário do processo produtivo,
constituindo-se em peça fundamental da expressão econômica do poder nacional.
6.3 EXPRESSÃO PSICOSSOCIAL
O incremento das atividades da construção naval na BNVC acarreta
melhoria de ordem psicológica e social aos grupos, comunidades e organizações
interligados a tal empreendimento, particularmente neste caso, aos localizados na
região do nordeste da região amazônica.
Em uma primeira análise, vemos que o grupo executor do processo
produtivo (militares e civis contratados), conquista, fruto dos dividendos de seu
trabalho, condições de buscar a satisfação de suas necessidades, interesses e
aspirações, perseguindo a imprescindível coesão social necessária à existência e
sobrevivência do grupo.
9 População ocupada – Conjunto de indivíduos que estejam trabalhando, sejam empregados,
subempregados, autônomos, empregadores e mesmo aqueles que, embora trabalhando, o fazem por um número mínimo de horas diárias ou semanais.
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Em uma segunda análise, observamos que o povo amazônico, beneficiário
do processo produtivo, igualmente, incorpora os níveis de bem-estar relacionados ao
atendimento das necessidades ligadas a sobrevivência e a forma de vida tida como
satisfatória no contexto de uma sociedade.
As embarcações produzidas pela BNVC que possuem em sua aplicação fim,
um viés essencialmente social, contribuem diretamente para a ampliação dos níveis
de bem-estar dos seus usuários, refletindo, imediatamente, na capacidade de
contribuição para o Poder Nacional atual e futuro, dentro do contexto da Expressão
Psicossocial.
Sem descartar a contribuição à sociedade, na forma de um desejável
sentimento de segurança social, obtida pelo desempenho da missão conferida às
lanchas de aplicação militar, enumeramos como genuinamente ligadas ao bem-estar
social quando do cumprimento de seus afazeres, as lanchas de aplicação civil
fabricadas pela Base Naval.
Referente à LAM, no que tange a sua aplicação, conforme a Escola Superior
de Guerra, Manual Básico - volume II – assuntos específicos (2013, p. 59, grifo
nosso), ressaltamos:
Se não o mais importante, pelo menos o mais notório elemento do bem-estar é a saúde. Este é um direito fundamental do homem, que deve fruí-la e conservá-la em seu benefício e da coletividade. [...] Deste modo, pode-se admitir que é totalmente factível uma administração dos recursos preocupada com a saúde de todos atribuindo-lhe uma prioridade especial, correspondente à sua importância para aquela boa forma de vida, que é justa aspiração da pessoa.
Da mesma forma no que se refere à LE, no que tange a sua aplicação,
conforme cita a Escola Superior de Guerra, Manual Básico - volume II – assuntos
específicos (2013, p. 61, grifo nosso):
A educação, tanto formal quanto informal, é outro elemento importante para a definição do nível de bem-estar. Constitui vetor das informações necessárias para praticar a forma de vida tida como boa, não apenas na medida em que capacita para o agir mas, também, enquanto cria condições para que o Homem atribua a sua experiência o significado capaz de valorizá-la.
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No que tange à LS e sua aplicação, conforme a Escola Superior de Guerra,
Manual Básico - volume II – assuntos específicos (2013, p. 62, grifo nosso):
Quanto maiores as carências, maiores as responsabilidades sociais [...] A oferta de assistência aos necessitados e, consequentemente, de oportunidades sociais, constitui dever moral de todos os que possam fazê-lo e, numa sociedade democrática, também, um direito dos que o queiram fazer.
Desta forma, deduz-se que uma das condicionantes favoráveis ao bem-estar
contemporâneo da sociedade norte oriental amazônica, está ligado diretamente à
presença dos implementos tecnológicos, imprescindíveis ao homem comum como
ferramenta necessária a sua ambientação social nas civilizações que almeje
sobreviver.
6.4 EXPRESSÃO MILITAR
A BNVC é parte componente do Poder Naval, igualmente integrado ao
Poder Marítimo como Indústria Naval (estaleiro de construção e reparo), na
qualidade de Organização Militar Prestadora de Serviços Industriais (OMPS-I),
juntamente com seu pessoal preparado de forma apropriada ao desempenho de
suas atividades relacionadas à construção naval.
Em relação ao cumprimento de sua missão precípua, a MB, por intermédio
do projeto e construção de embarcações militares na BNVC, segundo a Escola
Superior de Guerra, Manual Básico - volume II – assuntos específicos (2013, p. 75)
empreende, na paz e na guerra, particularmente as ações básicas a seguir
mencionadas:
contribuir para a garantia do uso das calhas principais e hidrovias secundárias atingíveis a partir daquelas, nas bacias e rios, de interesse nacional; e colaborar no desenvolvimento socioeconômico e técnico-científico do país.
Desta maneira, a BNVC, no cumprimento de sua missão como componente
militar do Poder Marítimo, alinhada com a consecução dos Objetivos Nacionais,
representa importante variável geradora de desenvolvimento econômico e social,
consequente de sua ação empreendedora na região oriental da Amazônia, ao
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mesmo tempo em que contribui para dissuadir atitudes hostis e estimular as
favoráveis que digam respeito a vasta região amazônica.
6.5 EXPRESSÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
As instituições sociais, o meio ambiente e o ser humano têm sido
constantemente influenciados pela dinâmica da evolução cientifica e tecnológica.
A infraestrutura industrial necessária à plena operação de todas as etapas
que envolvem a produção em escala das embarcações militares e civis na BNVC,
assim como a busca de avançada capacitação necessária para habilitar a Base
Naval a construir em suas instalações a Combat Boat 90, demandam um
significativo esforço em busca de Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T & I), de modo
a permitir a adoção de organização e métodos avançados, conjugados a modernos
equipamentos, ampliando, desta forma, as condições de eficiência e excelência das
linhas de produção, exigindo compatível melhora qualitativa dos recursos humanos
envolvidos no processo produtivo.
Assim sendo, dentro do viés cientifico / tecnológico, a BNVC alinha-se
integralmente com a definição preconizada pela Escola Superior de Guerra, Manual
Básico - volume II – assuntos específicos (2013, p. 85) onde estabelece que:
A expressão Cientifica e Tecnológica do Poder Nacional compreende essencialmente, os homens que atuam e os meios que são utilizados naqueles setores, caracterizando a capacitação nacional em ciência e tecnologia.
Dentre todos os fatores (elementos dinâmicos) que sensibilizam os
fundamentos da expressão em tela, o mais significativo é a educação, pois
impactará, positiva ou negativamente, a capacitação requerida pela BNVC.
Desta maneira, o nível qualitativo do material humano regional do noroeste
amazônico, potencialmente à disposição da BNVC, torna-se particularmente
importante como parcela de contribuição para o alcance e manutenção dos objetivos
nacionais.
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REFERÊNCIAS
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