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Jhessyka de Bessa Cotrim Thalita de Araújo GUIA DE CONVERSAÇÃO PARA ESTRANGEIROS PARA A COPA DO MUNDO DE 2014 Brasília 2013

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  • Jhessyka de Bessa Cotrim

    Thalita de Arajo

    GUIA DE CONVERSAO PARA

    ESTRANGEIROS PARA A COPA DO MUNDO DE

    2014

    Braslia

    2013

  • Resumo

    Este trabalho tem o objetivo de criar subsdios tericos e prticos para a produo de um

    guia de conversao para estrangeiros durante a realizao da Copa do Mundo em 2014,

    abordando temas e situaes do dia a dia, como saudaes, expresses idiomticas e a

    comunicao em aeroportos, hotis etc. A inteno aqui demonstrar que possvel difundir a

    lngua portuguesa a partir de pequenas aes, como caso da produo de manuais especficos

    que auxiliam na comunicao eficaz entre estrangeiros e brasileiros, evitando possveis

    incompreenses ou desentendimentos. Nossos pressupostos tericos so baseados nas relaes

    entre cultura, identidade e espao, que so, em nosso ponto de vista, essenciais para que haja

    uma comunicao intercultural eficiente durante o citado evento esportivo de 2014.

    Palavras-chave: Cultura; Expresses cotidianas; Portugus para estrangeiros; Copa do

    Mundo.

  • Sumrio

    Introduo.....................................................................................................................................-

    Captulo 1: Lngua, Povo e Cultura...............................................................................................-

    1.1. Lngua portuguesa e suas faces histricas, polticas e sociais................................................-

    1.2. A formao do povo brasileiro e sua relao com o portugus.............................................-

    1.3. Cultura: o conceito sob diversas perspectivas e sua relao com a lngua............................-

    Captulo 2: Copa do Mundo de 2014 no Brasil............................................................................-

    Captulo 3: Expresses idiomticas..............................................................................................-

    3.1. Noes de espao...................................................................................................................-

    Captulo 4: Encaminhamentos prticos para a produo de guia de conversao para

    estrangeiros....................................................................................................................................-

    Consideraes finais.......................................................................................................................-

    Referncias bibliogrficas...............................................................................................................-

  • 1

    Introduo

    O Brasil tem crescido muito em todos os aspectos nos ltimos anos, um sinal desse

    crescimento a posio que o Pas ocupa no cenrio internacional como integrante de vrias

    organizaes importantes como: Organizao das Naes Unidas ONU; Mercado Comum do

    Sul MERCOSUL; Agrupamento Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul BRICS.

    Em todas essas organizaes, o Brasil tem posio de destaque, seja por sua economia

    ou poltica. Somos um pas que desperta interesse dos estrangeiros nas mais diversas reas,

    inclusive nos investimentos. Muitos desses estrangeiros vm para o Brasil em busca de emprego

    ou estudo, e um forte indicador dessa presena no Pas a quantidade de convnios firmados

    entre universidades brasileiras e estrangeiras e a grande procura por cursos de portugus como

    segunda lngua.

    Foi pensando nisso e em outros fatores que houve o desejo e a necessidade de se criar

    um curso de graduao que formasse profissionais capacitados para trabalhar com o portugus

    como segunda lngua. O curso foi criado na Universidade de Braslia UnB e, nesse ano de

    2013, completar 15 anos de existncia, sendo que se trata do nico curso de graduao com esta

    habilitao no Pas.

    nesse contexto de ascenso da lngua portuguesa no mundo que reside a relevncia do

    nosso trabalho, pois nosso objetivo trazer tona subsdios capazes de fomentar a produo de

    um guia de conversao para estrangeiros de todas as nacionalidades durante a realizao da

    Copa do Mundo em 2014.

    de conhecimento geral que, ao chegarmos a um determinado pas, muitas vezes

    trazemos conosco concepes e preconceitos acerca da cultura, povo e lngua, entretanto quando

    nos deparamos com a realidade em contexto de imerso, temos a oportunidade de refazer nossos

    esquemas a respeito de todos os aspectos citados acima.

  • 2

    Contudo existem na linguagem muitos rudos que podem atrapalhar o entendimento

    entre estrangeiros e nativos, como o caso das expresses idiomticas, que podem causar mal-

    entendido e mal-estar se no forem utilizadas em contextos especficos e muito bem explicadas.

    As expresses lingusticas so estruturas culturalmente marcadas na lngua e dependem

    muito mais de um conhecimento cultural/lingustico do que conhecimento gramatical/estrutural

    da lngua-alvo. Tendo em vista essas consideraes, nosso trabalho poder contribuir no campo

    prtico da comunicao/entendimento intercultural eficaz entre estrangeiros e nativos.

    Esse trabalho composto por quatro captulos. No primeiro, faremos um panorama da

    lngua, abordando sua formao, sua posio no ranking das lnguas mais faladas no mundo e

    outras caractersticas pertinentes ao desenvolvimento de insumo terico desse tema.

    Analisaremos as distintas definies de cultura e a formao do povo brasileiro, para podermos

    ter uma perspectiva da dimenso da lngua no cenrio internacional e, assim, traar rumos

    coerentes e reais para a confeco de um material que auxilie, de fato, os estrangeiros durante a

    estadia no Brasil.

    No segundo captulo, discutiremos o histrico do futebol, sua relao com a linguagem

    e a escolha do Brasil como sede do segundo evento esportivo mais importante do mundo. Dentro

    da discusso, faremos um pequeno retrato das cidades que sediaro jogos e a expectativa dos

    brasileiros sobre os estrangeiros que viro participar do evento em 2014.

    No terceiro captulo, trataremos das expresses idiomticas e noes de espao que

    variam de cultura para cultura. Buscamos embasamento terico no livro Dimenso Oculta, do

    antroplogo Edward Hall, que trouxe vrias contribuies para o nosso estudo. Esperamos

    demonstrar que o esporte capaz de unir pessoas e ultrapassar barreiras e pode ser um agente

    ativo e positivo no ensino e difuso da lngua portuguesa no mundo. Vamos trabalhar tambm

    outros tipos de expresses, deixando claro que essas estruturas exercem importncia dentro da

    lngua e a sua aplicabilidade no ensino de portugus como segunda lngua.

    Finalmente, no quarto captulo, sero apresentados os encaminhamentos prticos para a

    confeco/produo do guia de conversao para estrangeiros, com base nos insumos tericos

    apresentados.

  • 3

    Nas consideraes finais, retomaremos os nossos objetivos e faremos reflexes

    apresentando as possibilidades da aplicabilidade do material durante a Copa do Mundo nas

    cidades-sede.

    Captulo 1

    Lngua, Povo e Cultura

    A lngua, em todas as suas variedades, em todos os modos em que

    aparece na vida cotidiana, constri um mundo de significados.

    Quando voc se depara com diferentes significados, quando voc

    se torna consciente dos seus prprios e trabalha para construir uma

    ponte para outros cultura o que voc est fazendo. A lngua

    preenche os espaos entre ns com sons; a cultura forja conexo

    humana atravs deles. A cultura est na linguagem e a linguagem

    est impregnada de cultura. (AGAR, 1994)

    1.1. Lngua portuguesa e suas faces histricas, polticas e sociais

    Quando falamos em lngua, temos que pensar que ela mais do que um meio de

    comunicao entre pessoas, ela um caracterizador e identificador do povo que a fala. Com o

    portugus no foi diferente, veremos que a lngua portuguesa, hoje, pode ser diferenciada em

    duas lnguas e so elas: Portugus do Brasil (PB) e Portugus Europeu (PE), essa separao fez-

    se necessria por conta das grandes diferenas entre a lngua falada/escrita no Brasil e a lngua

    falada/escrita em Portugal.

    Para entendermos essa separao, importante relembrar os rumos que a histria tomou

    e, a partir da, tudo ficar mais claro, pois apesar de nosso estudo estar ligado intimamente rea

    da Lingustica, outras reas como Histria, Sociologia e Antropologia contriburam muito para o

    desenvolvimento da nossa pesquisa.

    Portugal, h muitos sculos, foi um pas pioneiro nas grandes navegaes, ele tinha por

    objetivo descobrir novas rotas martimas para as ndias por contas das especiarias e tambm

  • 4

    desejavam encontrar novas terras. Foi em uma dessas viagens que se depararam com o pas que

    hoje chamamos Repblica Federativa do Brasil.

    A partir dessa descoberta, a Coroa Portuguesa logo se interessou pela nova terra, pois

    havia muitas riquezas que chamaram a ateno dos portugueses: a terra frtil, o pau-brasil e o

    ouro. Entretanto, a terra recm-descoberta a qual inicialmente deram o nome de Vera Cruz j era

    habitada por ndios, os quais os portugueses chamaram de brbaros e desalmados por terem

    lngua, cultura e religio diferentes dos padres aceitveis por eles.

    Como a terra j era habitada, os portugueses tinham que impor sua supremacia de

    alguma forma, e a maneira escolhida, alm da colonizao, explorao fsica e outras formas

    condenveis, foi a imposio da lngua portuguesa como obrigatria, ou seja, lngua oficial,

    negando a eles o direito de legitimar sua lngua e cultura por meio do uso.

    Essa imposio foi criada pelo Marqus de Pombal, no sculo XVIII, ele proibia o uso

    de qualquer lngua que no fosse o portugus. A histria nos revela que, por conta da

    miscigenao de povos indgenas e africanos, surgiu uma lngua chamada lngua geral, que se

    difundiu por todo o territrio, chegando a ameaar a supremacia da lngua portuguesa e o

    domnio portugus sobre o povo.

    Aps a constatao dessa e de outras ameaas, como os jesutas, o Marqus tomou a

    deciso de que todos os documentos oficiais, incluindo jornais e folhetins, e o ensino nas escolas,

    deveriam ser feitos em lngua portuguesa, pois, se no fosse assim, os transgressores sofreriam

    punies severas por parte do governo.

    Com isso, o uso do portugus se tornou obrigatrio. Entretanto, o acesso lngua formal

    era elitizado, ou seja, todos deveriam falar e escrever portugus, mas apenas uma pequena

    parcela da populao tinha acesso ao aprendizado formal da lngua.

    A partir da, a lngua portuguesa realmente tornou-se a lngua oficial do Brasil, s que

    ao longo do tempo, com as transformaes sociais e polticas pelas quais passamos, o portugus

    falado aqui foi se distanciando cada vez mais do portugus falado em Portugal, como dissemos

    no incio do captulo.

  • 5

    Podemos levantar vrias hipteses a respeito das causas desse distanciamento, como por

    exemplo: a influncia das lnguas indgenas e africanas, a dimenso territorial do pas, o contato

    com povos rabes, holandeses e espanhis, entre outros. Esse contato fez com que fssemos

    abrasileirando a lngua, tornando-a nica e capaz de representar o povo que hoje a tem como

    lngua materna. Essa noo de tornar a lngua portuguesa em brasileira uma outra discusso,

    aqui nossa inteno no fazer uma extensa linha do tempo com todos os fatos histricos, ou em

    teorias da Sociolnguistica (apesar de todas reas perpassarem mais ou menos significativamente

    nosso estudo) e sim ressaltar os aspectos pertinentes para o entendimento da formao da lngua

    portuguesa no Brasil.

    O que queremos demonstrar que o portugus, desde que foi institudo como lngua

    oficial do Brasil, sofreu inmeras mudanas que contriburam para chegarmos ao estgio de ser

    uma das oito lnguas mais faladas do mundo, segundo dados da Comunidade de Pases de Lngua

    Portuguesa CPLP. Por isso, podemos dizer que o portugus do Brasil tem ganhado destaque no

    cenrio internacional devido ao quadro favorvel que apresentamos no que diz respeito poltica

    e economia. Esse destaque pode ser percebido pelo interesse dos estrangeiros em cursos de

    portugus do Brasil, e, foi pensando nessa demanda, que, professores da UnB criaram o primeiro

    e nico curso de graduao do Brasil voltado para estrangeiros, surdos e indgenas, intitulado

    Letras Portugus do Brasil como segunda lngua PBSL.

    Neste ano de 2013, o curso completar 15 anos de existncia e os alunos formados

    encontraro um campo bastante favorvel, graas visibilidade do Brasil no cenrio

    internacional e aos eventos esportivos que iremos sediar em 2013, 2014 e 2016. Tais eventos

    contriburam para a circulao de estrangeiros de todas as nacionalidades no Pas,

    especificamente nas doze cidades-sede que recebero jogos, como o caso de Braslia, Rio de

    Janeiro, Minas Gerais, So Paulo, Porto Alegre e outras.

    Depois desse pequeno levantamento de informaes, podemos fazer o seguinte

    apontamento: a nossa lngua est em processo avanado de consolidao e prestgio entre os

    estrangeiros, somos um pas economicamente confivel e com um dos sistemas polticos mais

    estveis do mundo. Sendo assim, somos capazes de receber com qualidade os estrangeiros e

    consolidar nossa posio favorvel diante do mundo, criando mecanismos para que o portugus

  • 6

    possa se destacar ainda mais no mundo, podendo chegar a ter status de lngua franca, como o

    caso do ingls.

    1.2 A formao do povo brasileiro e sua relao com o portugus

    Para falarmos a respeito da formao do povo brasileiro, usaremos como base terica a

    obra do antroplogo Darcy Ribeiro intitulada O povo brasileiro a formao e o sentido do

    Brasil, escrita em 1995. Escolhemos essa obra por ser muito rica em informaes e ainda se fazer

    atual, atendendo aos objetivos do trabalho.

    Para iniciar nossa reflexo, usaremos um pequeno trecho do que Darcy sustenta em seu

    livro: Somos muito mais marcados hoje pelas nossas semelhanas do que pelas diferenas, pois

    somos parte do mesmo processo histrico e civilizatrio. Podemos, a partir dessa afirmao,

    pensar que o autor coloca todos na mesma situao, na qual trata todos os indivduos como

    iguais, mas, na verdade, o que ele prope que realmente somos plurais desde a nossa formao

    enquanto pas. O fato de termos vrios Brasis em um s algo que merece ateno, pois

    sofremos com a discriminao advinda da mistura de raas, desigualdade social, separao entre

    as reas urbanas e rurais, conflitos entre classe dominante e classe dominada e com processos de

    explorao. Com isso, vemos que sempre houve uma tentativa de uniformizar a populao que

    aqui vivia, sendo ela nativa ou estrangeira, percebemos, at hoje, que a mdia tenta impor uma

    cultura nica para todo o Pas, deixando de lado dados como extenso territorial e miscigenao

    do povo brasileiro e sua formao histrica.

    No livro, Darcy revela que existe um Brasil crioulo que nasceu nos engenhos

    nordestinos, um Brasil caboclo que nasceu da mistura dos ndios genunos com outros mestios,

    um Brasil sertanejo que tinha como caracterstica a criao de gado e o garimpo e um Brasil

    sulista que tinha caractersticas como a heterogeneidade cultural e era formado por gachos,

    matutos que tiveram papel importante no aportuguesamento lingustico e no abrasileiramento

    cultural da regio Sul, incluindo os gringos, que eram os povos germnicos, italianos, poloneses,

    japoneses, libaneses e outros.

  • 7

    Essas informaes nos fazem refletir a respeito da criao de uma identificao prpria,

    ou seja, s nos confirma aquilo que trazemos ao longo da nossa formao acadmica como

    verdade, somos um povo batalhador, que foi se recriando e criando uma identidade prpria ao

    longo do tempo. No somos mais apenas misturas de outros povos, hoje somos brasileiros

    nascidos aqui, com uma lngua oficial, que ensinada nas escolas e aprendida no dia a dia no

    meio familiar. Isso s aconteceu graas luta dos povos por sua independncia e legitimao da

    prpria cultura. fato que, na poca da colonizao, os ndios no foram tratados com respeito

    no que concerne a suas lnguas e costumes, eles foram colocados apenas como ndios, tendo suas

    identidades tnicas totalmente ignoradas, e, por no aceitarem ser escravizados, eles foram

    separados de seus familiares e eram forados a trabalhar com os ndios de outras tribos que

    tinham lnguas totalmente diferentes. Por isso, eles no podiam se comunicar nem se organizar

    para fazer motins, por exemplo, e isso os forou a aprender a lngua dos capatazes para poderem

    entender as ordens e no serem punidos. Por causa dessa situao a que foram submetidos, eles

    foram os principais disseminadores da lngua portuguesa no Brasil.

    Os novos brasileiros, pessoas que haviam nascido aqui, precisavam de uma

    identificao nacional, pois, apesar de terem sofrido certa descriminao e preconceito por no

    serem ndios ou portugueses, tinham que encontrar maneiras de se diferenciar e uma delas foi a

    cor. Essas informaes so interessantes por explicarem a relao que temos hoje com a lngua,

    pois, devido s ocupaes de diversas maneiras no territrio, a mentalidade e os costumes foram

    se perpetuando ao longo dos anos, e isso refletido na relao que a populao tem com a

    prpria lngua, pois no difcil ouvirmos a seguinte afirmao: No sei portugus, no sei falar

    direito ou no tenho cultura. Essa uma concepo que se encontra ultrapassada, caindo em

    desuso com vrios estudos lingusticos. Segundo as teorias de Noam Chomsky de competncia e

    desempenho, todas as pessoas nascem com capacidade para aprender qualquer lngua, o que seria

    a chamada competncia, e a partir da comunidade (pas) em que ela est inserida, ela vai

    aprender os parmetros lingusticos, ou seja, o que pode e no pode, esse seria o desempenho que

    ser lapidado com o acesso ao ensino formal da lngua.

    Com essa breve explicao, queremos dizer que todos ns que nascemos aqui e

    aprendemos o portugus desde pequenos, somos bons falantes da lngua e somos conhecedores

    de sua estrutura. importante dizer que, quando afirmamos que somos conhecedores das

  • 8

    estruturas, estamos falando em sua maioria do conhecimento inconsciente. Isso muito fcil de

    provar com teste simples, por exemplo: pedimos para uma criana sem muitos anos de

    escolarizao analisar o seguinte enunciado: Ontem vamos festa nos. Ela com certeza no

    entender o sentido do enunciado, pois essa no uma estrutura do portugus, nossa lngua tem a

    ordem Sujeito, Verbo e Objeto SVO.

    Essa crena de no sabermos nosso prprio idioma tem mudado ao longo do tempo,

    graas mudana de postura dos estudiosos dentro da prpria academia, que tm estudado mais

    os fenmenos de variao e aquisio da linguagem e tm atuado diretamente na formao da

    nova gerao de profissionais que iro trabalhar em sala de aula, mais prximos da populao,

    contribuindo para que haja uma revoluo no pensamento dos brasileiros, aumentando a nossa

    autoestima e diminuindo o que Nelson Rodrigues chamou de complexo de vira-lata.

    Essas quebras de paradigma nos ajudam a conceber a lngua portuguesa como lngua

    estrangeira (LE) e ou segunda lngua (L2) de um pblico especfico, como ser o caso dos

    estrangeiros que viro para o Brasil no prximo ano.

    A postura dos profissionais em relao a sua prpria lngua um fator muito importante

    para os estrangeiros que se interessam pelo portugus, pois, medida que protagonizamos nossa

    prpria histria e assumimos uma identidade coerente com o que encontramos no cotidiano,

    somos capazes de difundir no apenas a lngua per si, mas a lngua como cultura.

    Vamos nos aprofundar nessa questo da cultura um pouco mais adiante, entretanto

    vlido dizer que a nossa relao com o portugus est intimamente ligada noo de cultura e

    como nos enxergamos enquanto brasileiros, pois como disse Darcy Ribeiro (1995):

    Ns os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma s gente, pertencente

    a uma mesma etnia. Essa unidade no significa porm nenhuma uniformidade. O

    homem se adaptou ao meio ambiente e criou modos de vida diferentes. A urbanizao

    contribuiu para uniformizar os brasileiros, sem eliminar suas diferenas. Fala-se em

    todo o pas uma mesma lngua, s diferenciada por sotaques regionais. Mais do que uma

    simples etnia, o Brasil um povo nao, assentado num territrio prprio para nele

    viver seu destino.

    Portanto, temos que aproveitar essa abertura para no apenas ensinar a nossa lngua,

    mas deixar para trs os esteretipos, que vm acompanhando o imaginrio dos estrangeiros

    acerca dos brasileiros.

  • 9

    1.3. Cultura: O conceito sob diversas perspectivas e sua relao com a lngua

    Cultura um termo que associado a vrias reas do conhecimento. Esse conceito, na

    maioria das vezes, enobrece certo tipo de conhecimento em detrimento de outro, apesar dessa

    viso simplista ser a mais repetida pelas pessoas sem o conhecimento mais profundo acerca do

    tema, temos que levar em conta a origem de tal pensamento, para que possamos chegar, de fato,

    a um conceito que melhor represente os nossos objetivos, que so: entender a cultura que os

    brasileiros dizem ser a sua, fazer uma relao entre cultura e lngua, pois acreditamos que a

    lngua est intimamente ligada cultura e uma no pode existir se no tiver a outra como apoio.

    E, por ltimo, analisar o comportamento dos professores em relao cultura nas aulas de

    portugus como LE ou L2.

    Primeiramente, temos que dizer que o conceito de cultura trabalhado em reas como a

    Antropologia, Sociologia, Sociolingustica, Comunicao, Psicologia, Etnografia e inmeras

    outras. Essa informao pertinente, porque nos mostra que as diversas cincias se interessam

    em entender e aplicar esse conhecimento de maneira a contribuir para a melhoria e

    aperfeioamento de suas reas. Isso explicaria o porqu de no existir um conceito nico de

    cultura que satisfaa a todas as necessidades das reas do conhecimento.

    Vamos usar como referncia os estudos de Laraia (2004), que nos traz contribuies

    importantssimas acerca do tema, pois, em seu livro Cultura: um conceito antropolgico, ele faz

    um histrico desde a primeira concepo de cultura formulada por Edward Tylor (1871), passa

    por Frans Boas (1858-1949); Alfred Kroeber (1876-1960), que tem como principal preocupao

    desfazer a confuso entre o orgnico e o cultural at chegar aos dias atuais.

    Todas essas vises so interessantes, pois contriburam muito para a evoluo do

    conceito, porque foi por meio de tais evolues que hoje somos capazes de entender o que a

    cultura representa para a sociedade brasileira. A maneira como nos relacionamos com os outros e

    com ns mesmos est muito ligada questo cultural, fato que mostra o carter adaptvel da

    cultura. vlido ressaltar que, desde a vinda dos portugueses para c, o entendimento de cultura

    que tnhamos era imposto basicamente pela cultura erudita da igreja, que era e ainda muito

    valorizada na nossa sociedade. No queremos aqui definir nada como sendo uma verdade

    incontestvel, pois precisamos partir do geral para chegarmos ao especfico.

  • 10

    Por isso, comearemos com os dois conceitos de cultura definidos por Lyons. Um seria

    a dicotomia erudio versus barbarismo e o outro seria a cultura como legado social de um

    grupo. Essa pequena distino introduz a relao da lngua com a cultura, pois ambas precisam

    coexistir para fazerem sentido, j que por meio da lngua que expressamos nossos pensamentos

    e classificamos o mundo. Segundo Sapir (1949):

    A lngua um guia para a realidade social. Muito embora, a lngua no seja

    considerada, em geral como o interesse essencial para os estudiosos de Cincias Sociais,

    ela condiciona de forma poderosa todo o pensamento a respeito de processos e

    problemas sociais (apud Wierzbicke, 1992)

    Essa viso interessante, porque, a partir dela comeamos a entender a dimenso do

    que ensinar cultura para um estrangeiro, pois, como professores, muitas vezes nos falta uma

    formao cultural slida e adequada, e acabamos tratando do assunto de forma enciclopdica e

    dissociada das outras reas do conhecimento.

    Gostaramos de deixar claro que a formao cultural que defendemos no apenas

    saber fatos histricos ou mesmo tursticos do Brasil, como a feijoada, caipirinha e samba, que

    assumiram fora do Pas um papel de esteretipos do que ser brasileiro. O que defendemos o

    conhecimento dos significados que so associados a determinados comportamentos, e isso abarca

    as expresses idiomticas, a lngua, regionalismos e variaes. Segundo Galloway (1985), apud

    Omaggio, 986:359) ensinar uma lngua estrangeira implicaria em ensinar formas de ser agir,

    pensar, enfim, de ler o mundo.

    Esses aspectos so importantes para a aquisio satisfatria de uma lngua estrangeira,

    pois Laraia (2004) coloca-nos que a cultura dinmica, pois est em constante modificao, e

    necessrio que, enquanto professores, possamos atingir o objetivo mximo do processo de

    ensino/aprendizado de uma lngua estrangeira, que inserir o indivduo (aprendiz) dentro de um

    nvel de participao mnimo dentro da comunidade. Isso significa oferecer o acesso a

    conhecimentos culturais e sociais, proporcionando ao indivduo a condio de comunicar-se com

    eficcia com os outros membros da comunidade. Podemos complementar esse raciocnio com

    contribuies do prprio Laraia, ao afirmar que: os indivduos participam diferentemente na sua

    cultura, e essa participao limitada.

  • 11

    Esse um bom insumo terico para desmistificarmos, de vez, o que os estrangeiros

    esperam de um tpico brasileiro: para ser brasileiro, preciso gostar de feijoada e caipirinha, ser

    bom de futebol, saber sambar e outras exigncias que correspondem apenas a uma parcela da

    populao, e sabemos que, muitas vezes, assumimos uma identidade que no a nossa para que

    possamos nos sentir parte do grupo. E nesse ponto que a lingustica traz sua contribuio no

    que diz respeito ao conceito de cultura dentro do ensino de portugus como LE ou L2, pois esta

    rea do saber encara a cultura como um processo e no como um produto, levando em

    considerao a experincia de vida dos indivduos e sua relao com o meio. Pensando nessa

    relao entre lngua e cultura, fica evidente o carter heterogneo do nosso estudo, pois na

    medida em que vamos discorrendo sobre esses vrios assuntos, eles vo se entrelaando,

    formando uma rede que se complementa.

    Clair Kramsch (1998) uma estudiosa que trata da relao entre linguagem e cultura,

    sua viso muito interessante, pois liga o social linguagem, casando conhecimentos que

    extrapolam os limites da lingustica, ela diz: a linguagem a principal forma atravs da qual

    conduzimos nossa visa social. Quando ela usada em contexto de comunicao, ela est

    embebida de cultura de mltiplas e complexas maneiras. Essa afirmao interessante, pois nos

    leva seguinte reflexo: tudo significado na cultura por meio da lngua, entretanto

    interessante fazermos uma pequena observao acerca da afirmao de Kramsch (1998), quando

    a autora diz que a linguagem usada em contexto de comunicao, nos vem um pequeno

    estranhamento, pois no conseguimos enxergar outro contexto de uso da linguagem sem ser para

    a comunicao. Acreditamos que esses processos podem acontecer inconscientemente, sem que

    o falante (seja ele nativo ou estrangeiro) perceba esse ato, pois entendemos que ele sempre

    comunicar algo ao usar a linguagem, e essa comunicao pode ou no ser verbalizada, apesar de

    a comunicao utilizar a linguagem, assim como a cultura emprega a lngua para fazer sentido,

    essa pequena observao no desqualifica, de maneira alguma, as contribuies da autora para o

    nosso estudo. Isso muito interessante, pois coaduna com a posio de Pedroso (1999), que

    desenvolve seus estudos no que ele chama de comunicao intercultural, que seriam as atitudes

    perante as outras culturas, reduzindo o etnocentrismo e permitindo aes de respeito, criando

    posicionamentos mais abertos nos aprendizes de LE ou L2.

  • 12

    Propomos, por meio de todos os conhecimentos expostos acima, que deve haver uma

    aprendizagem cultural por meio de estudos mais embasados teoricamente, ou seja, uma aplicao

    dos conhecimentos tericos que esto sendo produzidos na academia, extrapolando os seus

    muros e indo para a prtica dos docentes. Um exemplo muito interessante de estudo sobre cultura

    de Poter e Samovar (1997), que propem a existncia de uma cultura material, cultura mental e

    cultura social. Cada uma dessas culturas parte de um todo e devem ser entendidas e utilizadas

    da melhor maneira possvel, adequando-se s necessidades de cada situao.

    Portanto, a cultura um conceito plural e coletivo, que contribui para a formao

    intercultural dos alunos e que deve ser trabalhada de maneira mais consciente e planejada pelos

    professores, pois, somente assim, seremos capazes de aprender a respeitar as diferenas e viver

    em sociedades menos etnocntricas e mais abertas ao novo. Para finalizar, gostaramos de trazer

    o que Oliveira (2001) diz sobre a convivncia entre sociedades globalizadas como as que

    vivemos hoje: a interao com o outro faz com que o indivduo se desenvolva, e que sem esse

    outro o homem no se constri.

  • 13

    Captulo 2

    Copa do Mundo de 2014 no Brasil

    A Copa do Mundo da FIFA (Federao Internacional de Futebol Associados) um dos

    maiores acontecimentos esportivos do mundo, tendo como objetivo unir as melhores selees de

    futebol de todo o mundo em competies realizadas a cada quatro anos em um ou mais pases-

    sede.

    O Brasil foi o nico pas a participar de todas as competies e o maior ganhador de

    ttulos, com cinco vitrias em seu currculo. Com isso, percebemos que o evento traz embutidos

    em sua realizao vrios aspectos que influenciam na vida das pessoas que moram no Pas como:

    a construo de aeroportos, reformas e construes de estdios, estradas, aumento do contingente

    de hotis, investimentos na economia por parte de empresas privadas. Tudo isso atinge

    diretamente a economia e a poltica do pas-sede, reforando ou no suas caractersticas positivas

    e sua capacidade de receber um evento com o porte da Copa do Mundo, que, atualmente, feita

    com a participao de trinta e duas selees durante o perodo de um ms.

    Para entender o motivo de o futebol ser to bem aceito e gozar de tanto prestgio pelos

    brasileiros e para entendermos essa relao do nosso povo com o futebol, vamos fazer um breve

    histrico a respeito do esporte. Vrios estudos apontam que os jogos com bola eram praticados

    em muitas culturas antigas, mas no se pode dizer que era o futebol, pois estes jogos no

    possuam regras estabelecidas.

    Os primeiros sinais da existncia de um jogo que, provavelmente, deu origem ao futebol

    so de, aproximadamente, dois mil e quinhentos anos antes de Cristo, na China. Era considerado

    como um treino militar em que os soldados chutavam, aps as guerras, os crnios de inimigos

    mortos. Posteriormente, o jogo comeou a ser praticado em um campo quadrado com oito

    jogadores em cada equipe, em que nas extremidades havia duas estacas ligadas por um fio,

    formando o gol. A bola era de couro, revestida com cabelo e o objetivo do jogo era transferir a

    bola de um p a outro sem deixar que casse no cho at as duas estacas.

  • 14

    Na Grcia, foi criado um jogo chamado Episkiros, em que se dividiam duas equipes de

    oito soldados militares cada, em um terreno retangular. No Japo, o jogo era chamado kemari e

    era muito similar ao atual. No entanto, era praticado por indivduos da corte imperial, que

    deviam evitar o contato fsico, e a bola era feita de fibras de bambu.

    Na Itlia, surgiu um jogo conhecido como gioco del calcio, em que a violncia era

    muito frequente. Por ser um jogo barulhento e violento, foi proibido pelo rei da poca, sendo

    punidos os jogadores que insistissem na prtica. Aps alguns anos, foi criada uma nova maneira

    de o jogo ser praticado, usando regras, impostas por juzes, que administravam os conflitos

    dentro do campo, proibindo a violncia entre os jogadores.

    possvel que esses esportes violentos citados acima tenham dado origem ao futebol

    americano, que, nos Estados Unidos da Amrica, conhecido simplesmente como football,

    importado da Rugby School. O football e o rugby so, hoje, esportes bem diferentes e, na

    Europa, o nome rugby usado para mencionar o jogo que deu origem ao futebol americano.

    Tanto o rugby quanto o futebol americano utilizam muito pouco os ps durante as partidas, isso

    os difere muito do soccer, como chamado nos Estados Unidos e do futebol praticado no Brasil.

    O futebol chegou ento Inglaterra, onde comeou a criao de regras, estimulando a

    prtica e as tcnicas do esporte. Acredita-se que o futebol saiu da Itlia e chegou Inglaterra por

    volta do sculo XVII e, em 1885, o futebol foi profissionalizado no pas. O esporte foi to bem

    aceito em todos os pases que foi necessrio criar uma organizao internacional, a Federation of

    International Football Association FIFA, especialmente para a modificao e criao de leis, se

    necessrio fosse. Atualmente, a FIFA conta com cerca de duzentos pases associados, que fazem

    do futebol um meio para a integrao nacional e internacional.

    O futebol como conhecemos hoje foi trazido para o Brasil, no ano de 1894, por Charles

    William Miller e Oscar Cox. O primeiro, paulistano e filho de um escocs com uma brasileira, e

    o segundo, filho de ingleses. Ambos foram estudar na Inglaterra, onde comearam a praticar o

    esporte. Quando voltaram para o Brasil, trouxeram, alm de duas bolas de futebol e um uniforme

    completo, as regras usadas na prtica do esporte.

    O futebol foi, aos poucos, agradando sociedade e tornou-se um esporte popular

    praticado em quase todo o mundo, contando com diversos times e campeonatos nacionais e

  • 15

    internacionais. Hoje, transmitido por diversos meios de comunicao de massa, contando com

    inmeros programas esportivos que o tornam um dos esportes mais assistidos pela populao.

    A partir da, surge a identificao do povo brasileiro com o esporte, apesar de, no incio

    de sua histria no Brasil, o futebol era praticado apenas pela elite branca e jogado por estudantes

    ou jovens estudantes de classe alta.

    O nome futebol (football) utilizado na maioria desses pases, mas em apenas quatro o

    nome dado outro: nos Estados Unidos, Canad e Austrlia o esporte conhecido como soccer e

    na Itlia, como calcio. A palavra football tem origem inglesa e sua designao, segundo o

    Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa (2002), foot = p e ball = bola, dando o nome ao

    esporte foot-ball, que foi grafado dessa maneira por cerca de 30 anos. Assim, tornou-se futebol o

    nome dado ao esporte pela maioria dos pases que o praticam. Isso mostra a forte influncia do

    Brasil no nome do esporte e tambm as transformaes sofridas pelo vocbulo ao longo de sua

    histria, pois alm do nome, diversos termos passaram por modificaes e fazem, hoje, parte do

    vocabulrio da lngua portuguesa, mas antes, alguns deles, utilizados na imprensa sobre os jogos,

    eram em ingls.

    Todos os dias, ouvimos nas ruas palavras e expresses diferentes das que so ditas no

    contexto normal da maioria das pessoas. Grias e jarges so muito utilizados entre os jovens ou

    entre um grupo especfico de falantes. A linguagem futebolstica interfere no cotidiano das

    pessoas, que passam a incorporar diversas palavras e expresses faladas por jogadores,

    comentaristas esportivos e locutores. At mesmo aqueles que no so to admiradores do futebol

    acabam por absorver essas unidades.

    Esses termos e expresses, geralmente, recebem significao diferente no cotidiano e

    sua semntica pode estar relacionada a vrios assuntos e contextos. Exemplos disso podem ser

    quando se fala que algum: pisou na bola, est fazendo firula, deixou algum de escanteio,

    est driblando o desemprego. Expresses como essas so bem comuns na linguagem cotidiana

    e j fazem parte do vocabulrio de muitas pessoas.

    Outra questo interessante quando a linguagem futebolstica comea a ser utilizada

    para se referir ao sentido sexual. Nesse caso, muitas vezes, os termos so falados com malcia.

  • 16

    Quando se fala que uma pessoa faz marcao cerrada sobre outra ou aquela pessoa esconde o

    jogo ou ainda no deu assistncia, entra no campo das relaes entre homem e mulher.

    Uma expresso famosa a dita por Osmar Santos pimba na gorduchinha que nada

    mais do que chutar a bola, mas que pode remeter a outros sentidos, dependendo da inteno do

    falante.

    Em entrevista dada revista Lngua Portuguesa (2006, p.10), Ivan Proena diz: A bola

    a mulher: h que se trat-la bem, com afeto, com intimidade, dormir com ela, para conserv-

    la ao seu lado, sempre. Essa relao feita entre a bola e a mulher representa a fora que a bola

    tem como smbolo no futebol e tambm a fora da mulher em relao busca por um objetivo,

    ou seja, o jogo da conquista.

    Aproveitando a riqueza desse vocabulrio, nessa altura do campeonato, vale lembrar

    que muitos termos j deixaram de ser mencionados, muitos ainda so e outros ainda sero, pois

    essas mudanas contnuas precisam acontecer para que no se tornem repetitivos e cansativos

    demais na linguagem do futebol. Isso se d devido ao acompanhamento que se faz da

    dinamicidade da lngua e dos falantes, que tambm so torcedores.

    Segundo Mauro de Salles Villar (2006, p.9), diretor do Instituto Antnio Houaiss de

    Lexicografia, acepes e vocbulos novos entram nas lnguas vivas diariamente e isso

    necessrio para que a linguagem, seja do futebol ou de outro segmento, no se canse.

    importante perceber que a linguagem futebolstica apresenta um vocabulrio bastante

    variado e rico, contando com termos e expresses usados no dia a dia das pessoas, que vo, cada

    vez mais, incorporando-se ao lxico da lngua portuguesa.

    Para demonstrar que a linguagem do futebol apresenta grande riqueza vocabular e

    expresses que j se incorporaram lngua portuguesa, exemplo disso so as construes

    lingusticas apresentadas neste captulo entre aspas, que so tpicas do futebol e do uso dirio da

    maioria dos falantes ao se comunicarem.

    Verifica-se, desse modo, a fora do futebol no auxlio de enriquecimento da lngua, pois

    quanto mais uma palavra utilizada por seus falantes mais ela tem chances de se valer de novos

    significados e se tornar aceita em meio aos usurios da lngua.

  • 17

    interessante ressaltar que as transformaes semnticas ocorrem devido grande

    utilizao feita pelo pblico que batiza os termos empregados no esporte, garantindo sua

    aceitabilidade. Elas possuem uma relao de dependncia com a cultura de cada regio ou pas,

    pois uma determinada expresso pode no ser significativa aos membros de uma comunidade

    lingustica, mas sim, para outra. Um exemplo o famoso chapu que deixa de ser um

    acessrio utilizado na cabea por homens e mulheres e se torna a jogada em que a bola lanada

    sobre a cabea do adversrio com a inteno de dribl-lo durante o lance.

    Por esse motivo, surgem diversos neologismos na lngua, aportuguesam-se e

    incorporam-se muitos estrangeirismos, que, por sua vez, tero maior significao e aceitabilidade

    aos falantes da lngua que os utiliza.

    Segundo o professor Francisco Plato Savioli (2006), esse jogo com as palavras feito

    pelo futebol com grande xito. Salienta em reportagem concedida revista Lngua Portuguesa

    (2006, p.16): O futebol tira ou acrescenta, com muito sucesso, sentidos aos termos que adota

    [...] O esporte criou um espectro lexical to grande que virou o exemplo mais popular de que o

    sentido dado s palavras nunca ser nico. (SAVIOLI, 2006, p.17)

    Com isso, vemos que, como afirma Savioli (2006), os termos e expresses do futebol,

    originados do cotidiano da sociedade brasileira, podem ser usados no enfoque da valorizao e

    do ensino da lngua, que o foco do presente estudo.

    Outro exemplo passvel de citao o do professor Luiz Csar Saraiva Feij, que em

    um dos seus livros, Balanando o vu da noiva, faz um estudo da linguagem figurada do futebol

    brasileiro a partir dos contedos gramaticais, filolgicos, lingusticos e de comunicao, diz que

    a prpria expresso da gria do futebol balanando o vu da noiva, que significa marcar um

    gol, explicada a partir dos aspectos da feminilidade, sensualismo, sexualidade, fazendo um

    paralelo com outras expresses como beijar as redes, abrir as pernas, beijar o vu da

    noiva. Expresses como essas podem servir de instrumento para ensinar, por exemplo, de

    acordo com Feij, as figuras de linguagem anttese (futebol e sensualidade) e metforas, que

    remetem o estudante a outras significaes, alm de mostrar como esses termos j esto

    incorporados lngua.

  • 18

    Podemos analisar, para enriquecer nosso estudo, o seguinte enunciado produzido por

    um apresentador esportivo: Fica patinando agora no gramado! O que podemos dizer a respeito

    desse enunciado? Quem patina o patinador e no o jogador de futebol, sendo assim, segundo a

    gramtica normativa, o apresentador teria cometido um barbarismo (cruzamento), e o correto

    seria dizer: Fica patinhando agora no gramado. J sob a perspectiva da lingustica, a

    preocupao saber se no uso, os falantes aceitam esse tipo de expresso e se a consideram mais

    habitual. provvel que os falantes no aceitem essa expresso como usual, pois no a utilizam

    no cotidiano. Frases como essas so construdas a todo instante entre os participantes da

    linguagem futebolstica e tambm em outros meios. O que deve ser almejada a comunicao

    entre os usurios da lngua, valorizando a socializao e a identidade dos diversos ambientes.

    Vale ressaltar que a fala dos jogadores, locutores, comentaristas, escritores e crticos

    esportivos apresenta muita expressividade, mas , muitas vezes, considerada desvio da norma

    culta sob a perspectiva da gramtica normativa. Mostraremos como o ensino-aprendizagem da

    lngua portuguesa, sob a perspectiva da Sociolingustica, v esses desvios, reconhecendo que

    no se pode dissociar a lngua de seu contexto histrico-social.

    Linguagem, cultura e sociedade esto ligadas entre si por traos indissolveis. Isso

    porque todo indivduo est inserido em uma sociedade e traz consigo marcas culturais e,

    ainda sim, possui linguagem. A linguagem considerada base construtiva na

    identificao de um indivduo e disseminadora de toda diversidade e heterogeneidade

    lingustico-cultural. (PESSOA, 2005)

    Conforme observamos na afirmao de Pessoa, ocorre, muitas vezes, a no valorizao

    das diferentes linguagens culturais. A linguagem do futebol um dos exemplos de linguagem

    que sofre um estigma social e lingustico, pois, dependendo da maneira pela qual analisada e

    interpretada, vista como uma linguagem pobre e medocre.

    Podemos inserir em nossa anlise as contribuies da Sociolingustica que entende o

    erro sob uma perspectiva diferente da gramtica normativa, ou seja, o que ocorre entre os

    falantes de uma comunidade lingustica so maneiras diferentes de utilizao da lngua. Nessa

    perspectiva, se a comunicao entre os interlocutores for efetiva, ento, pode-se afirmar que no

    h erro do ponto de vista expressivo.

  • 19

    Mesquita (2002, p.566) ressalta em sua gramtica, bem diferenciada das demais, que o

    erro no deve comprometer a comunicao, sendo a clareza um elemento fundamental, que vem

    a ser a qualidade essencial da expresso lingustica de quem fala ou escreve.

    Bagno e Freitas (2001), muitas vezes, colocam que h preconceitos e mitos que esto

    arraigados no ser humano. Um dos mitos mencionados a respeito da lngua nica,

    principalmente no Brasil, mito esse nada cientfico, mas ideolgico. O que os autores querem

    dizer que o conceito de erro est muito distorcido na mente das pessoas, ou seja, o que para um

    falante a maneira encontrada em determinado momento para se comunicar e expressar seus

    sentimentos pode ser para outro, motivo de preconceito ou chacota. Esse preconceito chamado,

    por Bagno, de crculo vicioso do preconceito lingustico, considerado uma transferncia de

    ideologia que liga a escola sociedade.

    Concordamos com Bagno por saber que o ensino da lngua portuguesa, na prtica

    escolar, est comprometido pelo aparelho ideolgico da elite, com relao s classes menos

    privilegiadas e dominadas. necessrio que o educador interfira nessa relao, possibilitando

    aos aprendizes e tambm aos usurios da lngua, a libertao dessa viso errnea, preparando-os

    para conviver com as diferenas de seu prximo, o que muito importante em um contexto de

    Copa do Mundo no qual a convivncia com as diferenas ser inevitvel. Portanto, o esporte

    tambm pode ser utilizado como assunto nas aulas de lngua portuguesa, cabendo ao professor

    criar meios e utilizar recursos lingusticos que atraiam e motivem seus estudantes ao

    aprendizado.

    Falando um pouco mais do Brasil, que foi escolhido como pas-sede da Copa do Mundo

    de 2014, importante conhecermos caractersticas das doze cidades que sediaro jogos ao longo

    da realizao do evento. Comearemos com Belo Horizonte, que foi projetada no final do sculo

    XIX, Belo Horizonte conhecida por seu potencial econmico, que atrai milhares de turistas de

    negcios anualmente. Terceiro centro industrial do Pas, tambm a porta para o turismo cultural

    em cidades histricas como Ouro Preto, Mariana, Sabar, Congonhas e Caet. Possui clima

    agradvel, belas paisagens e arquitetura ecltica.

    Em relao a Braslia, podemos ressaltar que sua populao composta por pessoas

    vindas de todos os cantos do Pas. Possui uma rica diversificao cultural e gastronmica, alm

  • 20

    de ocupar o posto de terceira cidade mais rica do Pas. Tombada como Patrimnio Cultural da

    Humanidade pela Unesco, a cidade inaugurada em 1960 foi projetada pelo arquiteto Lcio Costa,

    com edificaes desenhadas por Oscar Niemeyer.

    Temos Cuiab, que conhecida como cidade verde, por conta de sua generosa

    arborizao. o principal centro industrial, comercial e de servios do estado de Mato Grosso,

    alm de ser a porta de entrada de belssimas regies tursticas, como a Chapada dos Guimares e

    a regio norte do Pantanal, bero da fauna e da flora regional.

    Acerca de Curitiba, cidade no Brasil que mais prima pelo planejamento urbano,

    podemos dizer que possui boa estrutura de transportes e acessibilidade garantida, o que facilita

    percorrer em um dia suas principais atraes, como o parque da Pedreira Paulo Leminski e a

    pera do Arame.

    Fortaleza um destino turstico dentre os mais procurados, destacando-se pelas belezas

    do seu litoral. So quinze praias, sendo que uma das mais frequentadas a de Iracema, onde,

    alm de prdios histricos como a Igreja de So Pedro, o Estoril e a Ponte Metlica, o visitante

    encontra o Centro Drago do Mar de Arte e Cultura.

    Na regio Norte do Pas, temos a cidade de Manaus, com muita natureza e prdios

    histricos compondo a paisagem da capital amazonense, ponto de partida para passeios

    ecolgicos que apresentam a Floresta Amaznica. Parques ecolgicos, passeio de barco at o

    encontro dos rios Negro e Solimes, trekking na mata agradam os turistas mais radicais,

    enquanto museus e o Teatro Amazonas cuidam da diverso daqueles que preferem algo mais

    tranquilo.

    Natal possui belas praias e dunas que atraem anualmente mais de dois milhes de

    turistas brasileiros e estrangeiros. Por conta do ar puro e do clima privilegiado, a capital do Rio

    Grande do Norte ficou conhecida como Cidade do Sol. Com mais de 800 mil habitantes, a cidade

    passa atualmente por um crescimento demogrfico e imobilirio que fortalecem a economia

    local.

    Porto Alegre uma cidade grande que ainda conserva os ares e as tradies de uma

    cidade pequena. Os parques so frequentados por muitos e so ideais para tomar chimarro, um

  • 21

    forte representante da cultura local. H tambm churrascarias e restaurantes tradicionais italianos

    e alemes para quem aprecia culinria.

    Recife cortada por rios, canais e dezenas de pontes ligando seus bairros e apresenta

    diversos atrativos tursticos, como praias e monumentos histricos. Olinda, municpio vizinho,

    abriga um patrimnio histrico valioso. Igrejas, museus e feiras de artesanato completam o

    cenrio.

    Rio de janeiro mais conhecido como Cidade Maravilhosa. um dos principais centros

    econmicos, culturais e financeiros do Pas. Internacionalmente conhecido por diversos cones

    culturais e cartes postais, como o Po de Acar, o Cristo Redentor, alm das praias de

    Copacabana e Ipanema, ser palco da final do Mundial.

    A cidade de Salvador conhecida por sua beleza natural e pela boa receptividade do

    povo, sendo umas das principais cidades tursticas do Brasil. Sua orla conhecida por ter guas

    calmas e cristalinas. Devemos ainda ressaltar que o carnaval baiano famoso em todo o mundo,

    com festas de rua tanto na orla quanto na cidade histrica, Pelourinho.

    So Paulo hoje uma metrpole global. Com mais de onze milhes de habitantes, a

    capital paulista recebe cerca de 90 mil eventos anuais. O espao cultural da cidade tambm

    amplo, com diversos cinemas, museus, centros culturais, teatros e casas de espetculos.

    importante ressaltar que todas as informaes foram retiradas de sites do Governo e

    tambm da Federao Internacional de Futebol Associados FIFA e foram disponibilizadas com

    adaptaes. Fizemos uma grande anlise de contedos a respeito das cidades e descobrimos que

    o povo brasileiro tem vrias expectativas em relao Copa: alguns dizem que ser um ponto

    positivo para o Brasil, por conta dos investimentos que sero feitos e pela visibilidade que o Pas

    ter mundo afora, enquanto outros dizem que ser algo ruim, pois os investimentos sero apenas

    destinados aos estrangeiros e que no ganharemos nada com isso. Mas vale lembrar que a

    presena desses estrangeiros ser uma realidade e nada melhor do que os recebermos bem, dando

    possibilidades para que eles se comuniquem conosco de maneira eficiente, evitando o mximo de

    rudos possveis durante essa convivncia que ser por pouco tempo, mas, que poder, de fato,

    consolidar valores e crenas acerca da populao brasileira em sua totalidade.

  • 22

    Captulo 3

    Expresses Idiomticas

    O portugus do Brasil uma lngua que conta com vrios recursos que auxiliam na

    comunicao dos falantes, um deles a expresso idiomtica. Definida por Eugenia Magnlia

    como estrutura de carter metafrico, cujo estudo feito a partir de suas manifestaes na lngua,

    abrindo caminho para o conhecimento de valores culturais, assim como para a compreenso da

    viso de mundo expressas nas lnguas. Acrescentamos ainda a viso de Lakoff (1987) e Johnson

    sobre funcionamento da metfora, que abordam as expresses idiomticas e do maior

    importncia semntica do sentido e aos valores culturais.

    A partir dessa pequena definio, podemos afirmar que expresso idiomtica tem valor

    cultural dentro do portugus do Brasil e os falantes incorporam essas expresses de acordo com

    o uso e o contexto em que so empregadas. A lngua, portanto, tem vrias faces que necessitam

    ser melhor compreendidas para que possamos, ento, difundi-la, seja por meio de cursos de

    portugus , seja por meio de iniciativas menores, como o caso da que propomos nessa pesquisa:

    criar um guia de conversao para estrangeiros durante a Copa do Mundo de 2014.

    O estudo de expresses idiomticas nasce com Vinogradov (1958), estudioso que

    investiga estudos fraseolgicos, os quais chamou de idiomticos. No Brasil, pesquisadores como

    Ortiz Alvarez, que publicou sua tese intitulada Expresses idiomticas do portugus do Brasil e

    espanhol de Cuba: Estudos contrastivos e implicaes para o ensino de portugus como

    segunda lngua, trazem vrias contribuies na rea, pois abordam a evoluo desse mecanismo,

    sua aplicabilidade ao ensino e as vrias implicaes desse conhecimento no desenvolvimento do

    processo de ensino-aprendizagem de lngua materna e lngua estrangeira. Tambm podemos

    destacar a atuao de Xatara (1997) Roncolatto (2001) e Succi (2006) em suas obras. Esse

    pequeno levantamento nos mostra que estudiosos da lngua h muito tempo se interessam pelo

    assunto, e que existe uma gama de contribuies e reflexes, que contriburam para o

    amadurecimento desse estudo.

    Para a nossa pesquisa, escolhemos, dentre as vrias vertentes de estudo sobre expresses

    idiomticas, a que defende que estas so construdas no mbito social e se perpetuam pelos atos

  • 23

    de comunicao dos falantes, pois, quando pensamos em portugus como segunda lngua,

    encontramos vrias dificuldades na introduo desse assunto, j que, ao mesmo tempo em que

    expresses idiomticas perpassam a comunicao, tambm so usadas em contextos especficos

    em que apenas o conhecimento gramatical no capaz de fornecer a um estrangeiro a

    possibilidade de utilizar-se dessas estruturas em um contexto comunicacional. Estudos apontam

    para a dificuldade dos professores em trabalhar esse aspecto em suas aulas, pois, ao mesmo

    tempo em que o professor um falante da lngua e conhece muito bem tais expresses e seus

    contextos de uso, no esto respaldados pelos materiais existentes no mercado, por exemplo: nos

    livros didticos raramente so citadas e exemplificadas e, quando aparecem, esto voltadas para

    o pblico jovem. Isso limita muito a atuao do professor que acaba por no fornecer todo o

    funcionamento da lngua aos aprendizes, diminuindo o seu conhecimento prtico de lngua, e que

    por vezes ser cobrado, em situaes de comunicao, o conhecimento pragmtico da lngua.

    Pensando em todos esses outros aspectos, existem outras definies como a de

    Benveniste (1971) que critica Saussure, quando este diz que a unio de significante arbitrria,

    pois para Benveniste essa unio necessria. J Chafe (1979, p.42) define que idiomatismos so

    estruturas lingusticas que trazem uma combinao morfolgica sem que sozinhos seus

    componentes constituam unidades semnticas, posto que, em conjunto, formam uma nova

    unidade semntica em determinada lngua.

    Xatara, citada anteriormente, define expresso idiomtica como lexia complexa

    indecomponvel, conotativa e cristalizada em um idioma pela tradio cultural. Segundo a

    autora, o fenmeno indecomponvel, porque uma combinatria fechada de distribuio

    restrita. As expresses idiomticas tem carter conotativo, porque

    sua interpretao semntica corresponde a pelo menos um primeiro nvel de abstrao,

    que calculada a partir da soma de seus elementos sem considerar os significados

    individuais destes e por fim so cristalizados por que suas significaes so estveis

    devido ao uso. (XATARA, 1998, p.2)

    Rodolfo Ilari (2001, p.78) tem como idiomticas expresses compostas de diferentes

    palavras, cujo sentido vale para o lado e no pode ser obtido pela montagem dos sentidos das

    palavras que os compe (...) uma caracterstica prpria das expresses idiomticas que elas

  • 24

    apresentam um forte grau de fixidez, isto no podemos substituir as palavras que a compe por

    outras, sem mudar sua ordem, nem intercalar outras palavras.

    necessrio entender essas vrias relaes, pois as pessoas comeam a fazer sentido a

    partir do momento em que entendemos os seus pontos de vista e modos de encarar situaes

    desconhecidas (LARAIA, 2001), isso se aplica ao conhecimento das expresses idiomticas no

    ensino, pois entender o ponto de vista do outro significa compreender as construes lingusticas

    do povo que consideramos diferente de ns. Portanto, para entendermos esses processos de

    significao, necessrio procurar em estudos fraseolgicos as evidncias da dificuldade de

    haver expresses metafricas com equivalentes plenos em outras lnguas, isso ocorre porque os

    valores semnticos so distintos, sendo a significao culturalmente sensvel.

    Sabendo que as caractersticas so culturais, podemos nos apoiar em caractersticas

    prototpicas que carregam majoritariamente propriedades de um grupo ou categoria. Podemos

    ainda utilizar o conceito de iconicidade de Martelotto (2008) para enriquecer nosso estudo, pois

    ele trabalha com um princpio que pode ser definido como relao motivada e natural entre

    forma e funo, entre expresso e contedo.

    Portanto, necessrio saber fazer a diferenciao entre expresses idiomticas que tm

    as caractersticas citadas acima e as expresses que aqui chamaremos de cotidianas, pois essas

    no so a juno de duas ou mais palavras com outro sentido, essas so as expresses usuais de

    cordialidade como: bom dia, boa tarde e boa noite, que tm um significado juntas, mas que j se

    originaram com um sentido nico.

    3.1. Noes de espao

    Noo de espao um assunto que difere muito de pas para pas e de cultura para

    cultura, sendo uma das maiores problemticas nas relaes entre as pessoas, pois o

    desconhecimento das regras que muitas vezes so internalizadas pelas pessoas, so muito difceis

    de ser descritas e ensinadas em aulas de lngua, j que a homogeneizao de comportamentos

    pode gerar o que chamamos de esteretipos que no levam em conta as diferenas. Existem

    contrapontos a essa crtica, como o caso de autores que defendem que os esteretipos facilitam

  • 25

    a vida, pois a partir deles que podemos associar algumas caractersticas que ajudam em nosso

    comportamento em relao ao outro.

    Esse conhecimento acerca da noo de espao ser muito necessrio, pois em um

    evento como a Copa do Mundo, no qual estrangeiros com vrios padres de comportamento e

    vrias definies de espao estaro unidos em um mesmo territrio e tero que conviver,

    aprendendo a respeitar uns aos outros, visando sempre o menor conflito possvel. Pensando

    nisso, Edward Hall, em sua obra Dimenso Oculta, nos traz vrias contribuies a respeito das

    noes de espao, considerando sempre que os modos de comportamento em pblico diferem

    muito de povo para povo. Vrios exemplos so citados no livro, como o caso de rabes que tm

    uma noo de espao diferente em relao ao corpo e seus direitos a ele associados. Eles lidam

    diferentemente com o ego tambm, para eles natural que, em algumas situaes, haja silncio

    em um grupo sem constrangimento, pois o ficar em silncio nada mais do que uma maneira de

    expressar que querem ficar sozinhos com seus pensamentos. Enquanto ns, brasileiros, temos a

    necessidade de sempre nos comunicarmos e, quando existem duas ou mais pessoas reunidas,

    continuamos em constante comunicao, mesmo que seja a respeito de assuntos banais, como

    o tempo que para ns um iniciador de uma conversa, ou mesmo o modo de quebrar o gelo,

    enquanto que, para um estrangeiro, que mora em pas onde o clima definir sua rotina, como no

    caso de nevascas, tem outra conotao. Cabe ainda destacar que os americanos, alemes,

    franceses, japoneses tambm so citados no texto. Um exemplo interessante o dos americanos e

    alemes quanto questo do que chamamos intromisso, onde uma pessoa, apesar de estar em

    um ambiente pblico, preza por sua particularidade, defendendo que sua conversa no deve ser

    ouvida pelos demais. Podemos fazer um paralelo, ento, com a cultura brasileira, na qual a

    conversa e a interao entre as pessoas em lugares pblicos no tem conotao alguma de

    particular, pois, quando queremos privacidade, vamos a lugares realmente reservados.

    Essa contribuio muito importante, pois exemplos de boas maneiras de um povo

    podem transmitir embaraos aos outros. Os rabes, por exemplo, no sentem desconforto em

    fitar as pessoas nos olhos, pois, para eles, isso um sinal de respeito, j para muitos norte-

    americanos isso um sinal de desconforto e um jeito de deix-los pouco a vontade, h vrios

    nveis de envolvimento e no h constrangimento por parte das pessoas que se envolvem

    (HALL, 1999). Podemos citar outro exemplo do povo rabe, que considera o espao pblico

  • 26

    como realmente pblico, e que d direto a ele a partir da sua necessidade, ou seja, pra eles no

    existe intromisso ao se aproximarem de uma pessoa sozinha, no esto ferindo ou ultrapassando

    um espao inviolvel como pensam os americanos.

    Acreditamos que saber trabalhar esses aspectos no ensino de portugus como lngua

    estrangeira seja na produo de materiais didticos ou na atuao em sala de aula, enquanto

    professores nativos, traz aos estrangeiros noes no apenas de espao, como proposto no livro,

    mas tambm noes de respeito e tolerncia em relao ao diferente dos padres

    comportamentais aceitos por ns, pois segundo Hall, essas noes podem facilitar a comunicao

    entre pessoas de um mesmo grupo e dificultar o dilogo entre pessoas de grupos distintos.

  • 27

    Captulo 4

    Encaminhamentos prticos para a confeco do guia de conversao para

    estrangeiros

    Este captulo tem o objetivo de mostrar o passo a passo da confeco do guia a que nos

    propusemos no incio do trabalho. Para a produo do contedo, usamos como orientadores os

    pressupostos tericos construdos nos captulos anteriores, pois a nossa inteno foi colocar em

    prtica conceitos como cultura e identidade de maneira simples e eficiente, para que os

    estrangeiros, que so o pblico-alvo do presente guia, sintam-se, de fato, amparados pelos

    contedos expostos.

    importante ressaltar que a produo de um material como esse, traz imbricado em

    suas pginas o posicionamentos dos autores enquanto brasileiros, suas concepes do que so

    situaes cotidianas etc. Procuramos fazer ao longo da produo do material o desvencilhamento

    de preconceitos, esteretipos e representaes que no refletiam a realidade vivida pelos

    brasileiros e tambm dos esteretipos acerca dos estrangeiros que viro para a Copa do Mundo.

    Esse posicionamento muito importante, para que possamos, de fato, trabalhar questes

    essenciais a comunicao eficiente entre brasileiros e falantes de outras lnguas, atendendo a

    necessidade dos estrangeiros que viro para o Brasil durante a Copa do Mundo. O guia foi

    dividido da seguinte forma: Capa, que traz o ttulo, nome das autoras, ano e local da publicao.

    Vale ressaltar que no usamos ilustraes na capa por acreditar que o uso de tais imagens seja

    mais eficiente em outros momentos dentro do guia como podemos ver na ilustrao abaixo:

  • 28

    A contracapa composta por uma imagem de um mapa do Brasil, onde a diviso do

    Pas feita sinalizando os estados e suas respectivas capitais como mostra a imagem abaixo.

    Pensamos ser importante fornecer essas informaes aos estrangeiros para que eles possam

    utiliz-las em alguma situao de comunicao com um brasileiro ou at mesmo com outros

    estrangeiros.

  • 29

    O sumrio feita a organizao do material em tpicos que consideramos importantes

    constarem do contedo do guia. Todos os tpicos foram pensados de maneira a facilitar a

    comunicao dos estrangeiros com os brasileiros, pois a primeira parte que achamos pertinente

    constar do guia foi uma introduo na qual detalhamos os objetivos do material e ressaltamos

    algumas caractersticas do Brasil. Em seguida, temos um tpico mais elaborado a respeito do

    Pas, com informaes prticas como a quantidades de estados, sua posio no cenrio poltico

    da Amrica Latina e ainda trazemos um convite para conhecer o Museu do Futebol, que fica no

    Estdio do Pacaembu, em So Paulo.

    Vejamos a organizao do Sumrio:

    O prximo tpico que consta no guia so as cidades-sede. Nesta parte, trabalharemos as

    caractersticas de Belo Horizonte, Braslia, Cuiab, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto

    Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e So Paulo, cidades que tm caractersticas prprias

    como pontos tursticos, fatos histricos e curiosidades. Por isso, entendemos que a caracterizao

    desses diversos ambientes rica, pois o guia foi planejado com o intuito de atender aos

    estrangeiros em todas as cidades-sede da Copa do Mundo, sendo distribudo nos aeroportos no

    desembarque dos estrangeiros no Brasil.

  • 30

    A seo seguinte intitulada Frases bsicas. Nela, so trabalhadas frases que serviro de

    orientao para a comunicao dos estrangeiros em inmeras situaes, como apresentaes e

    saudaes, como os seguintes exemplos: Muito prazer, bom-dia, boa-tarde, boa-noite;

    pedidos e agradecimentos: obrigado(a), por favor e foi mal importante ressaltar que

    esse ltimo vocbulo est marcado como uso informal. Pedidos simples como: com licena,

    pode me dizer, pode me dar, quanto custa? e onde est?. Tudo isso seguido de

    preferncias e conversas sociais com os seguintes exemplos: gosto (de) /adoro, no gosto

    (de)/detesto. Essas categorias j facilitam muito a comunicao dos estrangeiros, pois com

    frases simples como essas eles sero capazes de interagir com os brasileiros e outros estrangeiros

    e, assim, estaro inseridos nos contextos comunicacionais a que forem expostos.

    Um seo que trata de saudaes pode ser vista no exemplo abaixo:

    As expresses idiomticas so trabalhadas em uma seo dividida em duas partes: uma

    que consta de expresses cotidianas j consagradas pelos falantes portugueses por meio do uso,

    como, por exemplo: quebrar um galho, lavar as mos, trocar os ps pelas mos e muitas

    outras; e uma segunda parte na qual esto as expresses no futebol, onde so abordadas as

    expresses futebolsticas, usadas pelos tcnicos, jogadores e torcedores na maioria do Pas.

    Exemplos de expresses no futebol so: comer a bola, na marca do pnalti, bater na trave,

    tirar o time de campo e muitas outras. Podemos ver esse exemplo em prtica nas ilustraes

    abaixo:

  • 31

    Esse conhecimento muito importante para um estrangeiro que ainda no domina as

    estruturas da lngua e nem conhece os valores pragmticos do portugus, pois para o

    entendimento de tais expresses necessrio conhecer as situaes de uso, j que o emprego de

    tais expresses em contextos distintos, no oferece sentido algum para os falantes nativos da

    lngua e, com isso, seu sentido fica prejudicado e, consequentemente, a comunicao ser

    ineficiente. Vale ressaltar que a maioria dos exemplos tem uma traduo em ingls e espanhol

    quando esta possvel, pois devemos levar em conta que expresses idiomticas so muito

    difceis de serem traduzidas para outras lnguas, por que o significado pleno da expresso

    encontra-se na pragmtica da lngua de origem e no na converso de palavras agrupadas.

    O prximo tpico interessante e com certeza o que mais ajudar aos estrangeiros, no

    sentido de aplicabilidade, pois ao pensarmos na produo desse guia no idealizamos os

    estrangeiros que tero acesso ao material, e tivemos que pensar, ento, como um falante de uma

    lngua distante conseguir se comunicar com as outras pessoas apenas com as informaes

    escritas em portugus, sem nenhuma sinalizao de como se fala aquela palavra, qual o seu

    som. Isso nos intrigou bastante e resolvemos, aps vrias pesquisas, fazer uma seo voltada

    para a pronncia. A dinmica consiste em selecionarmos as palavras consideradas com maior

    grau de dificuldade em serem pronunciadas, com sons ambguos, e criamos um pequeno

    glossrio com essas palavras e seus respectivos sons. Usamos, como auxlio, a tabela do alfabeto

  • 32

    fontico internacional para. Depois colocamos vrias informaes extras, como os nmeros,

    tempo, hotel, meios de transporte, refeies, compras e servios, futebol, ligaes de emergncia,

    banco, sade. Esses tpicos serviro para auxiliar os estrangeiros em situaes estratgicas.

    Vejamos algumas imagens do guia sobre os itens citados acima:

  • 33

    Consideraes Finais

    Todas as lnguas tm caractersticas que as tornam nicas e, consequentemente, as

    diferem das demais lnguas. No caso do portugus, no diferente. Pudemos constatar que o

    nosso idioma uma lngua de caso, com um padro de ordem Sujeito, Verbo e Objeto SVO,

    procltica e tem uma relao ntima com a cultura, pois, por meio desta, significada de acordo

    com os padres da comunidade que a fala.

    O Brasil um pas que tem traos multiculturais muito fortes, que se fazem presentes no

    povo, cultura, religiosidade e na lngua. Para um estrangeiro conseguir assimilar todas essas

    formas diversas que o povo brasileiro tem em sua identidade muito difcil, pois no possvel

    classificar todas essas vertentes sem produzir esteretipos e criar barreiras lingusticas e

    culturais, pois o desconhecimento tambm gera a insegurana e o preconceito em relao ao

    diferente.

    Entretanto, com base em informaes e esclarecimentos a respeito da cultura alvo,

    como sua organizao social, noes de espao, relao com a lngua e relao com os

    estrangeiros, que conseguiremos, durante a realizao da Copa do Mundo, desvencilharmo-nos

    de esteretipos e representaes errneas que no fazem jus ao povo brasileiro como um todo.

    No o nosso objetivo aqui pormenorizar cada um desses aspectos, mas sim trabalh-los de

    forma otimizada em tpicos aplicveis realidade dos estrangeiros.

    A lngua , com certeza, um dos instrumentos de comunicao mais eficientes que os

    seres humanos desenvolveram, porque a partir dela que expressamos nossos pensamentos,

    desejos, pontos de vista e tudo o que necessrio para poder haver uma organizao social.

    Entretanto, esse mesmo mecanismo que tem o poder de trazer identificao a determinado grupo,

    tambm capaz de promover excluso e desentendimentos aos falantes que no dominam a

    lngua estrangeira em um contexto de imerso.

    A necessidade de comunicar-se dos estrangeiros motivou nosso estudo, pois

    constatamos por meio da reviso literria feita, que apesar de muitas vezes os estrangeiros

  • 34

    dominarem as estruturas gramaticais, eles no conseguem comunicar-se em situaes reais de

    uso da lngua, porque no tiveram acesso ao seu conhecimento emprico, como o caso das

    expresses idiomticas, que assumem um significado pragmtico na nossa lngua, por meio dos

    contextos de uso.

    Por isso, propomo-nos a criar subsdios tericos e prticos para a produo de um guia

    que facilite a estadia dos estrangeiros no Brasil durante a Copa do Mundo de 2014, abordando

    expresses que j esto cristalizadas no portugus do Brasil, formas de saudaes e frases

    bsicas que podero auxiliar os estrangeiros nas mais diversas situaes que eles encontraro no

    seu dia a dia, como pedir um txi ou em uma conversa informal no shopping.

    Essas pequenas noes de espao, comunicao e tempo dos brasileiros podero ser

    encontradas no guia que foi concebido com o intuito de estabelecer uma comunicao eficiente

    entre brasileiros e estrangeiros, por meio de orientaes lingusticas. A ideia que o manual seja

    entregue a todos os estrangeiros nos aeroportos para que, a partir de sua chegada, eles possam

    sentir-se orientados, caso haja necessidade de comunicao com brasileiros em situaes

    especficas.

    No mercado brasileiro, ainda no existem muitos manuais ou guias que orientem os

    estrangeiros que chegam ao Brasil para participar da Copa do Mundo. Na verdade, o que existem

    so materiais que priorizam algumas cidades brasileiras, como o caso do Rio de Janeiro e da

    Bahia, que so as cidades mais visitadas por turistas estrangeiros.

    Nosso guia visa a melhor estadia do estrangeiro em qualquer uma das doze cidades-

    sede, apresentando situaes genricas que podem acontecer em qualquer uma das cidades. O

    fato de o manual ser bilngue ajudar muito os falantes de ingls e espanhol, pois eles podero ter

    acesso a estruturas equivalentes em suas lnguas. Acreditamos, portanto, que iniciativas como

    essa de criar um material voltado para estrangeiros em situaes especficas, podero despertar

    em outros estudiosos da lngua portuguesa como lngua estrangeira o desejo de elaborar e

    aprimorar materiais para a rea de LE, pois existem poucos trabalhos como esse. Entendemos

    que quanto mais materiais forem criados, melhores eles podero ser, pois novos olhares e

    perspectivas sero incorporados ao modo de conceber o ensino de portugus como segunda

    lngua.

  • 35

    Estamos em um grande momento, no qual os holofotes do mundo esto voltados para

    ns. Portanto, se aproveitarmos esse espao para mostrar o quanto estamos bem preparados para

    receber os estrangeiros no apenas com estrutura fsica dos estdios, aeroportos, hotis etc.,

    mas tambm com uma poltica lingustica forte, que capaz de fortalecer a lngua portuguesa

    com medidas eficientes e que ao mesmo tempo capaz de difundi-la em outros pases por meio

    dos estrangeiros que viro para o Brasil em 2014 , poderemos consolidar nossa posio de

    destaque nos campos da poltica e da educao, para que, por fim, acabemos com a viso de um

    pas que apenas preocupa-se com questes relativas ao turismo, demonstrando que defendemos e

    valorizamos nossa lngua, por meio de posturas legtimas de defesa da nossa cultura como um

    todo.

  • 36

    Referncias Bibliogrficas

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