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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA
LEONEL LEAL DE OLIVEIRA SERVIÇOS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO NO BRASIL: UMA AVALIAÇÃO DOS
NÍVEIS DE ATENDIMENTO
Feira de Santana 2008
LEONEL LEAL DE OLIVEIRA
Serviços de esgotamento sanitário no Brasil: uma avaliação dos níveis de atendimento
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana como requisito à obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil.
Orientadora: Profª. Selma Cristina da Silva
Feira de Santana 2008
LEONEL LEAL DE OLIVEIRA
Serviços de esgotamento sanitário no Brasil: uma avaliação dos níveis de atendimento
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana como requisito à obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil. Aprovado com nota [ ]
__________________________________ Profª. Selma Cristina da Silva
Orientadora
__________________________________ Prof. Silvio Roberto M. Orrico
Membro da Banca Examinadora
__________________________________ Profª. Rosa Alencar S. de Almeida Membro da Banca Examinadora
Feira de Santana 2008
Resumo
O tema deste trabalho faz uma abordagem a respeito da evolução da cobertura com serviços de esgotamento sanitário nas regiões brasileiras no período entre 1996 a 2006. A avaliação foi realizada com base nos dados levantados pelo SNIS e pelo IBGE nas devidas regiões. Por se tratarem de regiões compostas por distintos prestadores de serviços, estas foram comparadas e, a partir disso, verificadas divergências nos dados levantados por cada uma. Outra comparação importante realizada foi entre algumas companhias a respeito de seus índices de abrangência em cada região. Foi realizado também um estudo a respeito do PLANASA (Plano Nacional de Água e Saneamento) e as modificações no saneamento básico brasileiro que vieram a ocorrer desde a sua criação até a sua extinção. Muitos fatores que impediram de alguma forma os avanços na cobertura dos sistemas de esgotamento sanitário também foram listados e discutidos para que se possa entender a atual situação brasileira.
Palavras-chave: Cobertura; Companhias de saneamento; Esgotamento sanitário.
Abstract
The theme of this work makes an approach regarding the evolution of the covering with services of sanitary exhaustion in the Brazilian areas in the period among 1996 to 2006.. The evaluation was accomplished with base in the data lifted by SNIS and for the IBGE in the areas. For if they negotiate of areas composed by different companies, these were compared and, starting from that, verified divergences in the data lifted by each one. Another accomplished important comparison was among some companies regarding its inclusion indexes in each area. It was also accomplished a study regarding PLANASA (Plane National of Sanitation) and the modifications in the Brazilian basic sanitation that came to happen from its creation to its extinction. Many factors that impeded in some way the progresses in the covering of the systems of sanitary exhaustion was also striped and discussed so that one can understand the current Brazilian situation.
Keywords: Covering; Sanitation companies; Sanitary exhaustion.
Lista de Tabelas
TABELA 4.1 – Prestadores de serviço com abrangência regional ......................... 14 TABELA 5.1 – Distribuição regional do investimento médio realizado no âmbito do PLANASA 1968-1992 .............................................................................................. 23 TABELA 5.2 – Distribuição dos investimentos realizados em saneamento no âmbito do PLANASA 1968-1996 ......................................................................................... 24 TABELA 5.3 – Percentuais dos serviços de água e esgoto no Brasil no âmbito do PLANASA ................................................................................................................ 24 TABELA 5.4 – Fontes de recursos do PAC para saneamento básico 2007-2010 .................................................................................................................................. 38 FIGURA 6.1 – Atendimento populacional com serviços de esgotamento sanitário no Brasil no período de 1996 a 2006 ............................................................................ 40 FIGURA 6.2 – Crescimento populacional no Brasil no período de 1996 a 2006 ................................................................................................................................... 41 FIGURA 6.3 – Domicílios atendidos com serviços de esgotamento sanitário no Brasil no período de 1999 a 2006 ...................................................................................... 44 FIGURA 6.4 – Crescimento domiciliar no Brasil no período de 1999 a 2006 ................................................................................................................................... 44 FIGURA 6.5 – Percentual dos municípios atendidos com serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, segundo as Grandes Regiões - 2000 ................ 46 FIGURA 6.6 – Investimentos anuais em serviços de esgotamento sanitário no Brasil no período de 1996 a 2006 ...................................................................................... 48 TABELA 6.7 – Companhias que não forneceram seus valores de investimento no período de 1996 a 2006 ........................................................................................... 49
Sumário
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 8 2. JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 10 3. OBJETIVOS .................................................................................................................. 11 3.1 GERAL ......................................................................................................................... 11 3.2. ESPECÍFICOS ........................................................................................................... 11 4. METODOLOGIA ........................................................................................................... 12 4.1. A METODOLOGIA DO SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÃO SOBRE SANEAMENTO - SNIS ..................................................................................................... 12 4.2. A METODOLOGIA DO Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE .... 15 4.2.1. Pesquisa Nacional do Saneamento Básico – PNSB .......................................... 15 4.2.2. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD..................................... 17 5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 20 5.1. HISTÓRICO DOS SERVIÇOS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO ...................... 20 5.2. SITUAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL ......................................... 21 5.2.1. O Planasa ............................................................................................................... 23 5.2.2. Aspectos Legais ................................................................................................... 29 5.2.3 Aspectos Institucionais ....................................................................................... 33 5.2.3.1 O BNH ................................................................................................................... 33 5.2.3.2 Ministério das Cidades......................................................................................... 34 5.2.3.3. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - MPOG ........................... 38 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 41 6.1. COBERTURA POPULACIONAL.............................................................................. 41 6.2. COBERTURA DOMICILIAR ..................................................................................... 44 6.3. ESGOTAMENTO SANITÁRIO X ABASTECIMENTO DE ÁGUA ......................... 47 6.4. INVESTIMENTOS ANUAIS EM ESGOTAMENTO SANITÁRIO REALIZADOS PELAS PRESTADORAS DE SERVIÇO DE ABRANGÊNCIA REGIONAL NO BRASIL............................................................................................................................................ 49 7. CONCLUSÃO ............................................................................................................... 51 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 53 ANEXOS ............................................................................................................................ 57
8
1. INTRODUÇÃO
A gama de atividades desenvolvidas pelos seres humanos para a manutenção da
vida depende da água e através da sua utilização são gerados os esgotos.
Os esgotos têm em sua composição matéria orgânica e mineral em solução e em
suspensão, assim como alta quantidade organismos patogênicos como
protozoários, bactérias, vírus, entre outros, que podem causar danos à saúde
humana. Além disso, os esgotos possuem altas concentrações de poluentes e,
quando lançados sem tratamento prévio nos corpos d’água, podem comprometer a
qualidade das águas, inviabilizando os usos a que se destinam. Desta forma, a
utilização das tecnologias existentes para coleta, tratamento e disposição adequada
dos esgotos são medidas de saneamento básico que influi diretamente na melhoria
da qualidade de vida da população atendida com esses serviços.
O crescimento acelerado da população urbana associado à maior demanda por
abastecimento de água causou um rápido aumento da produção de esgoto
doméstico, o qual requer coleta, tratamento e destino final. No entanto, o
atendimento com esses serviços de esgotamento sanitário não cresceu na mesma
proporção que o atendimento com serviços de abastecimento de água. Isso tem
como conseqüência uma grande deterioração ambiental, principalmente dos
mananciais superficiais que, ao receberem os esgotos com quantidade de poluentes
e organismos patogênicos elevados, deixam de ter qualidade adequada para
atender aos diversos usos. Esse fator impulsionou o desenvolvimento de medidas
para o avanço no atendimento com os serviços de esgotamento sanitário e também
o aprimoramento das técnicas para tratamento do esgoto.
A criação do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA) em 1968 foi um exemplo
de medida para conter a crise do saneamento básico no Brasil, porém, após a sua
extinção em 1992, o setor deixou de crescer e a oferta com os serviços parou de
acompanhar o crescimento populacional.
9
O setor inicia a tentativa de retomada do crescimento em 2005 com a promulgação
da Lei nº 11.107/05, que aborda sobre os consórcios públicos, possibilitando a
prestação conjunta dos serviços de saneamento por vários municípios (entes
consorciados) e facilitando, então, o aumento da cobertura dos serviços prestados
pelos mesmos.
Recentemente, em 2007, foi sancionada a Lei nº 11.445/07 – que estabelece as
diretrizes Nacionais para o saneamento básico no país. Essa lei traça novas
políticas setoriais e tem como alvo o aumento de investimentos para expandir o
atendimento com os serviços visando o acesso universal do saneamento, levando
em consideração as especificidades locais e o uso de tecnologias apropriadas que
estejam em linha com a capacidade de pagamento do usuário.
Paralelamente a esta lei foi criado o PAC – Programa de Aceleração do
Crescimento, o qual inclui investimentos significativos da ordem de R$40,2 bilhões
no setor saneamento durante o período de 2007 a 2010.
A partir disso, as leis nº 11.107/05 e nº 11.445/07, juntamente com o PAC, marcam
o incício da retomada do crescimento do setor saneamento no Brasil.
Com base nesse contexto, esse trabalho procura avaliar os avanços obtidos da
cobertura com serviços de esgotamento sanitário no país, baseando-se em dados
secundários gerados por instituições públicas que gerenciam o setor.
10
2. JUSTIFICATIVA
Com o crescimento acelerado da população brasileira e a falta de investimentos no
setor saneamento, os índices de cobertura com os serviços de esgotamento
sanitário passaram a representar motivo de preocupação, chegando ao ano 2000
com a maioria das cidades brasileiras carentes desses serviços. Esse processo de
crescimento e expansão das cidades ocorreu sem que houvesse um planejamento
urbano adequado levando a uma crise urbana sem precedentes, onde dezenas de
milhões de pessoas não têm acesso ao solo urbano e a moradia, senão através de
formas ilegais, tendo como principal característica à ocupação de áreas impróprias
ou de risco, onde o acesso aos serviços de saneamento básico quase inexistem.
Esse quadro sanitário acaba promovendo uma degradação ambiental e diversos
problemas socioeconômicos principalmente nas áreas periféricas das grandes
cidades. Esses problemas atingem não só a população local, que vive em um meio
ambiente degradado e não compartilha qualquer qualidade de vida, mas também
atinge a toda a sociedade, uma vez que, sendo o meio ambiente sistêmico, a
degradação local pode interferir em uma escala maior.
Diante da importância em se conhecer o quadro do atendimento com os serviços de
esgotamento sanitário nas regiões brasileiras, o tema abordado neste trabalho se
torna viável uma vez que se verifica se os recursos que estão sendo investidos no
setor favorecerão as regiões onde a situação é mais precária. Este estudo
demonstrará de forma implícita a preocupação existente das autoridades em dar
atenção e procurar investir o necessário nas devidas regiões.
11
3. OBJETIVOS
3.1 GERAL
Avaliar a evolução da cobertura com serviços de esgotamento sanitário nas regiões
brasileiras com base em dados disponibilizados pelas instituições pesquisadoras do
tema.
3.2. ESPECÍFICOS
• Levantar dados de cobertura com serviços de esgotamento sanitário
utilizando as fontes de pesquisas nacionais sobre o saneamento básico;
• Comparar os índices de cobertura de cada região;
• Comparar os índices de investimentos de cada região;
• Avaliar quais os fatores que impediram os avanços na cobertura com os
sistemas de esgotamento sanitário pelas companhias.
12
4. METODOLOGIA
A metodologia baseou-se em uma constante revisão da literatura a fim de se buscar
o máximo de conhecimento teórico a respeito de todo o tema e também na coleta de
dados sobre o atendimento com os serviços de esgotamento sanitário.
Os dados secundários foram levantados nas instituições nacionais que trabalham
com pesquisas na área de saneamento, tais como Ministério das cidades por meio
do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento – SNIS administrado desde
1995 pelo Programa de Modernização do Setor Saneamento – PMSS, e do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE por meio da Pesquisa Nacional do
Saneamento Básico – PNSB, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD
e pelo Censo Demográfico. Com o levantamento desses dados foram
confeccionados gráficos e tabelas para proporcionar uma melhor avaliação. A partir
daí, os dados obtidos foram confrontados e avaliados e, por fim, analisados e
discutidos.
Com o objetivo de esclarecer como esses dados foram obtidos pelas duas
instituições, um resumo das respectivas metodologias aplicadas é descrito a seguir.
4.1. A METODOLOGIA DO SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÃO SOBRE
SANEAMENTO - SNIS
Ao longo de seus doze anos de existência foi construída para o SNIS uma
metodologia de trabalho que contempla as diversas fases do processo de coleta,
tratamento, organização, armazenamento, recuperação e divulgação dos dados.
Para a divulgação, o SNIS publica anualmente o Diagnóstico dos Serviços de Água
e Esgotos no seu próprio site (www.snis.gov.br) e em um Aplicativo da Série
Histórica de Dados, divulgado em CD-ROM, também disponibilizado na Internet.
13
Apresentada até o ano de referência 2003 como anexo dos Diagnósticos, a
metodologia, hoje consolidada, passou a merecer maior destaque, sendo
apresentada, desde a versão do ano de referência 2004, no início do Diagnóstico,
tendo em vista a sua importância na efetivação do SNIS.
Nos serviços de água e esgoto os dados são coletados e atualizados anualmente
para uma amostra1 de prestadores de serviços do Brasil, desde o ano-base de
1995.
Esses dados são coletados através de um aplicativo específico desenvolvido para
esta finalidade e em seguida, carregadas em um banco de dados elaborado e
administrado com o aplicativo Microsoft Access. Após a coleta e verificação da
consistência dos dados, estes são tabulados e submetidos aos prestadores de
serviços para análise, críticas, sugestões e revisões, para posterior publicação. No
processo de coleta das informações são utilizados seis formulários para os
prestadores de serviços de abrangência local (autarquias e empresas municipais) e
doze para os regionais (companhias estaduais de saneamento) e microrregionais
(empresas privadas e consórcios municipais), cada qual com as informações
agrupadas segundo sua respectiva natureza.
Antes do envio do aplicativo nomeado “Coleta de Dados do SNIS”, os prestadores
de serviços da amostra são pré-cadastrados para que sejam inseridos no programa.
No pré-cadastro são obtidas informações descritivas referentes a endereço,
telefone, nome do mandatário, nome do encarregado pela informação, abrangência,
natureza jurídico-administrativa e acessos via Internet. Essas informações
cadastrais podem ser revisadas ou atualizadas pelo prestador e as correções, se
existentes, enviadas juntamente com o arquivo-resposta do aplicativo “Coleta de
Dados do SNIS”.
1 O SNIS contempla uma amostra de prestadores de serviços, incluindo, desde a sua criação, todas as companhias estaduais de saneamento, que fornecem seus dados globais referentes à companhia e, a partir do ano-base de 1996, também os desagregados referentes a uma amostra de municípios por eles operados. Contempla ainda uma amostra de prestadores de serviços municipais - autarquias, departamentos e empresas -, e, a partir de 1998, os serviços microrregionais, recentemente implantados no Brasil.
14
Quando o valor fornecido se mostra atípico, descolado de índices e parâmetros
usuais, como por exemplo, receita nula, volume tratado maior que volume coletado
de esgoto, o aplicativo exprime um aviso, com a suspeição de inconsistência. Estas
suspeições denominadas e tratadas como avisos não impedem a gravação do
arquivo-resposta. Solicita-se ao participante que, se desejar manter o valor que
causou a suspeição, explique no campo “Observações”, a razão da atipicidade
desse valor questionado.
Apesar do programa enviado aos prestadores para coleta dos dados possuir
ferramentas que identificam alguns erros, o procedimento de coleta utilizado pelo
SNIS não se torna confiável devido a falta de um instrumento regulatório que
obrigue os prestadores de serviços a fornecerem os dados para o SNIS. Outro fator
importante para a inconsistência desses dados é a falta de acompanhamento
(fiscalização) por parte do SNIS aos prestadores de serviços que fazem parte da
amostra. Isso faz com que esses prestadores não tenham a dedicação necessária
para o correto andamento da pesquisa. Com isso, esse procedimento acaba
gerando dados inconsistentes, que não relatam a real situação da prestação do
serviço, e muitas vezes as planilhas geradas acabam possuindo espaços vagos de
informações.
A Tabela 4.1 apresenta um exemplo de uma das planilhas com informações em
branco, as quais estão destacadas na cor vermelha.
Outro fator que também atrapalha bastante no andamento das pesquisas anuais
são as constantes alterações da metodologia do SNIS. Isso faz com que as
prestadoras de serviço não se adequem o bastante o fornecimento de dados
corretos, influenciando, assim, na qualidade dos dados coletados.
15
Tabela 4.1 Prestadores de serviço com abrangência regional.
Fonte: SNIS, Diagnóstico dos serviços da Água e Esgoto, IPEA, Brasília-DF, 2000.
4.2. A METODOLOGIA DO Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
4.2.1. Pesquisa Nacional do Saneamento Básico – PNSB
A última coleta realizada pelo IBGE através da Pesquisa Nacional do Saneamento
Básico – PNSB foi desenvolvida ao longo de três meses e teve o ano de 2000 como
ano-base de referência. A pesquisa foi dividida em quatro questionários:
Abastecimento de Água; Esgotamento Sanitário; Drenagem Urbana; e Limpeza
Urbana e Coleta de Lixo. Os questionários foram subdivididos em três áreas de
investigação. A primeira, comum a todos os questionários, identifica as entidades
16
prestadoras dos serviços, sua constituição jurídica e áreas de atuação. A segunda
investiga a natureza dos serviços prestados e o controle de qualidade exercido
pelas entidades responsáveis pela gestão do serviços de abastecimento de água,
esgotamento sanitário, drenagem urbana e limpeza urbana e coleta de lixo. A
terceira parte dos três questionários pesquisa a relação entre as entidades
prestadoras de serviços e a comunidade.
Além dos quatro questionários, foi aplicado o formulário sobre o tema de
“Levantamento Municipal dos Serviços de Saneamento Básico” – LMSB, que teve
como objetivo levantar dados sobre a situação dos serviços de saneamento básico
nos distritos.
O LMSB investigou a existência de rede geral de abastecimento de água,
esgotamento sanitário, drenagem urbana e limpeza urbana e coleta de lixo. Em
município2 onde não existia o serviço de rede geral de abastecimento de água e/ou
rede coletora de esgoto foi investigado junto às prefeituras a principal solução
alternativa adotada para atender à maioria da população do distrito.
Como objetos de pesquisas, foram consideradas empresas, órgãos públicos ou
privados, que prestam serviços de saneamento básico para atendimento à
população, tais como: Companhias estaduais e/ou municipais de saneamento
básico, Fundações, Consórcios intermunicipais, Empresas privadas de saneamento
básico e Associações comunitárias.
Os questionários da pesquisa foram aplicados pela rede de coleta do IBGE junto a
todas as entidades públicas e privadas do país que prestam serviços no setor
saneamento básico aos 5 507 municípios das 27 Unidades da Federação, sendo:
• Abastecimento de Água - os dados foram coletados por distritos;
• Esgotamento Sanitário - os dados foram coletados por distrito;
• Limpeza Urbana e Coleta de Lixo - os dados foram coletados por município;
2 De acordo com o IBGE, considera-se parte de um município: o distrito sede, distritos menores, vilas e favelas.
17
• Drenagem Urbana - os dados coletados foram por município.
4.2.2. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD
Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD é uma pesquisa por
amostragem probabilística de domicílios realizada anualmente em todo o território
nacional excluindo-se a área rural da Região Norte. A população alvo é composta
pelos domicílios e pessoas residentes em domicílios na área de abrangência da
pesquisa. A PNAD adota um plano amostral estratificado e conglomerado com um,
dois ou três estágios de seleção, dependendo do estrato.
A estratificação da amostra básica da PNAD é feita em duas etapas. Primeiro há
uma estratificação geográfica que divide o país em 36 estratos “naturais”. Nesta
estratificação, dezoito unidades da federação formam cada uma um estrato
independente para fins de amostragem. As outras nove unidades da federação (PA,
CE, PE, BA, MG, RJ, SP, PR, RS) dão origem a outros dezoito estratos, pois em
cada uma delas são definidos dois estratos naturais: um com todos os municípios
da Região Metropolitana sediada na capital, e o outro com os demais municípios da
unidade da federação.
Nos nove estratos naturais formados pelas Regiões Metropolitanas, o plano
amostral da PNAD é estratificado adicionalmente por município e conglomerado em
dois estágios. Nestes estratos (municípios), as unidades primárias de amostragem
(UPAs) são os setores censitários. As unidades secundárias de amostragem (USAs)
são os domicílios. Dentro de cada município, a seleção dos setores (UPAs) é feita
usando amostragem sistemática com probabilidades proporcionais ao tamanho
(PPT), usando como medida de tamanho o número de domicílios conforme obtido
do Censo Demográfico de 1991. Antes de efetuar a seleção dos setores em cada
estrato (município), os setores são ordenados segundo a situação (urbano, rural) e o
código geográfico, conferindo um efeito de estratificação implícita por situação
devido ao uso do sorteio sistemático.
18
Nos 27 estratos naturais formados com os municípios que não são situados em
Regiões Metropolitanas ou ficam nas unidades da federação sem região
metropolitana, o plano amostral da PNAD é conglomerado em três estágios. As
unidades primárias de amostragem são os municípios, as unidades secundárias são
os setores e as unidades terciárias de amostragem são os domicílios. Nestes
estratos naturais, alguns municípios considerados grandes em termos populacionais
são incluídos na amostra com certeza. Tais municípios são chamados de auto-
representativos, que são, portanto, estratos geográficos dentro dos quais o plano
amostral é igual ao utilizado nos municípios das regiões metropolitanas, isto é,
conglomerado em dois estágios, com os setores como unidades primárias de
amostragem e os domicílios como unidades secundárias de amostragem.
Os demais municípios não situados nas Regiões Metropolitanas são chamados de
não auto-representativos. Os municípios não auto-representativos são estratificados
por tamanho e proximidade geográfica, buscando formar estratos com população
total aproximadamente igual conforme os dados do último Censo Demográfico.
Em cada um dos estratos de municípios não auto-representativos, municípios são
selecionados através de sorteio sistemático com probabilidades proporcionais à
população existente na época do Censo Demográfico. No segundo estágio de
seleção, o sorteio de setores foi feito dentro de cada município contido na amostra
do primeiro estágio usando o mesmo método já descrito para a seleção de setores
nos estratos de Regiões Metropolitanas.
Se comparada com a metodologia imposta pelo SNIS, a metodologia utilizada pelo
IBGE tem como vantagem se mostrar mais firme na coleta dos resultados pelo fato
dos questionários serem aplicados pessoalmente por pessoas treinadas nas
companhias de saneamento. Contudo, isso não faz com que ainda apresente a real
situação do esgotamento sanitário em todas as regiões brasileiras.
Pelo fato de não haver uma obrigação de passar os dados ao IBGE, por parte dos
prestadores de serviços, ainda pode haver desvios dos resultados durante a coleta.
19
Esses desvios não podem ser realmente estimados enquanto não houverem
sistemas regulatórios consistentes que imponham às prestadoras de serviços o
dever de passar a real situação da prestação dos seus serviços e quais os
verdadeiros índices de cobertura com serviços de saneamento básico.
20
5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
5.1. HISTÓRICO DOS SERVIÇOS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Segundo FERNANDES (1997), os primeiros sistemas de esgotamento executados
pelo homem tinham como objetivo protegê-lo das vazões pluviais, devendo-se isto,
principalmente, à inexistência de redes regulares de distribuição de água potável
encanada e de peças sanitárias com descargas hídricas, fazendo com que não
houvesse, à primeira vista, vazões de esgotos tipicamente domésticas.
É importante citar que há mais de 3000 a.C. já haviam sítios escavados em
Mohenjo-Daro, no vale da Índia, e em Harappa, no Punjab contendo ruas alinhadas,
pavimentadas e drenadas com esgotos canalizados em galerias subterrâneas de
tijolos argamassados a, pelo menos 50 centímetros abaixo do nível da rua. Nas
residências constatou-se a existência de banheiros com esgotos canalizados em
manilhas cerâmicas rejuntadas com gesso.
Com a epidemia de cólera em Londres na década de 1830 esta passa a ser a época
mais importante na história científica da Engenharia Sanitária, pois acabou
despertando nos ingleses a preocupação com o saneamento das cidades,
evidenciando que a doença era mais intensa em áreas urbanas carentes de
saneamento efetivo, ou seja, em áreas mais poluídas por excrementos (esgotos) e
lixo, além de mostrar que as doenças não se limitavam às classes mais baixas.
Há quem admita ter sido Bunzlau, na Alemanha, em 1559, a primeira cidade a ser
beneficiada com um sistema de esgoto planejado para atender a seus reais
objetivos. Hamburgo merece destaque especial por ter possuído, em decorrência de
um incêndio que a destruiu parcialmente, em 1842, o primeiro sistema projetado de
acordo com as teorias inovadoras sobre o escoamento de águas residuárias,
levando em conta as condições topográficas locais. Os princípios fundamentais que
nortearam o projeto, hoje ainda válidos, nunca haviam sido anteriormente aplicados
(DACACH, 1984).
21
5.2. SITUAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL
Até 1864, o Rio de Janeiro, então capital do país, era desprovido de rede de esgoto,
apesar de ter sido, no mundo, uma das primeiras cidades a possuí-la. Naquela
época utilizavam-se nas casas barris de madeiras denominados cubos, que
permaneciam nos quintais para armazenamento da excretas humanos. Depois de
cheios, eram conduzidos à noite pelos escravos para serem esvaziados em áreas
próximas a destinadas para tal fim (DACACH, 1984).
No final da década de 1960, os sistemas de saneamento básico, entendidos como
água e esgoto, se encontravam na maioria dos casos sob a gestão das prefeituras.
A Constituição Federal de 1967 define a autonomia municipal para a organização
dos serviços públicos locais, dentre os quais se inclui o de saneamento. Dessa
forma, a titularidade dos serviços de saneamento foi determinada no âmbito
municipal e se manteve na Constituição Federal de 1988.
O período do regime militar representou um novo desenho das políticas
governamentais, pois centralizou suas ações no âmbito do executivo federal.
Segundo ALMEIDA (1996), essa centralização baseou-se em processos fechados
de decisão e na gestão centralizada com grandes burocracias.
A provisão pública de serviços de saneamento básico em grande escala no Brasil
começou apenas nos anos 70, quando o país passou a ser predominantemente
urbano, com 56% dos 93 milhões de habitantes vivendo nas cidades. A urbanização
havia se acelerado nos anos 60, crescendo a taxas de 5,2% ao ano. Entre as
décadas de 60 e 70, mais de 20 milhões de pessoas haviam trocado o campo pela
cidade, e apenas 11,8 milhões (12,6% da população total) contavam com serviços
públicos de abastecimento de água e 6 milhões (6,4% da população total)
dispunham de sistemas de esgotamento sanitário, concentrados precariamente nas
cidades de maior porte. (ARRETCHE, 2004)
22
A cidade de Salvador passou a ter seu verdadeiro sistema de esgoto sanitário em
1975, após atingir 1,2 milhões de habitantes, para complementar o sistema de água
pluvial, então existente, que indevidamente também recebia os despejos (esgotos)
das habitações. A rede de esgoto era constituída exclusivamente de 27km de
coletores instalados no princípio do século, além daqueles poucos posteriormente
construídos no Loteamento Jardim Ipiranga. Essa rede antiga, apesar de funcionar
satisfatoriamente, mal dava para cobrir 2% daquela população (DACACH, 1984).
Atualmente os índices de atendimento dos serviços de saneamento básico no Brasil
estão distantes da universalização. Em se tratando dos incrementos verificados na
oferta dos serviços nas últimas décadas, persistem grandes demandas para o setor,
especialmente nos estratos sociais de baixa renda, características da periferia das
grandes cidades e dos pequenos municípios. Nestes, além das dificuldades
financeiras há o despreparo técnico para a elaboração de projetos que requerem
profissionais e até empresas especializadas, devido ao alto grau de complexidade
para sua formulação.
Fatores como transparência na aplicação dos recursos e ações desenvolvidas;
eficiência na prestação dos serviços; planejamento integrado entre a União e os
entes federados; vários agentes intervenientes fomentando ações de saneamento;
paralelismo e superposição de competências entre os órgãos federais e a falta de
fundos orçamentários próprios para a área de saneamento geram concorrência com
outras áreas do governo, e não permitem a muitos municípios o acesso aos
recursos e aos serviços de saneamento básico.
O processo de levar o saneamento básico aos bairros urbanos pobres ainda
continua sendo um desafio que freqüentemente requer métodos não convencionais.
Enquanto o país tem sido pioneiro no uso de tecnologias de baixo custo (como por
exemplo, os sistemas condominiais de esgotos) e também na área de participação
comunitária em urbanização de assentamentos precários, o desafio dos
assentamentos informais (ou favelas) continua sendo muito grande. As favelas são
23
freqüentemente localizadas em áreas íngremes, com riscos de deslizamentos, ou
áreas baixas e planas que são facilmente inundadas.
5.2.1. O Planasa
O Plano Nacional de Saneamento – PLANASA foi a primeira iniciativa do Governo
Federal no setor saneamento. Criado em 1968, representou uma forma de
centralizar os capitais e a gestão do setor no país com a finalidade de viabilizar um
alto volume de investimentos no setor e, dessa maneira, tornar possível uma grande
expansão na indústria da construção civil durante o regime militar.
O PLANASA foi o mais importante modelo de regulação, que possibilitou os mais
significativos crescimentos no acesso a água tratada e aos mínimos índice de
cobertura com serviços de esgotamento sanitário em todos os tempos, e a sua
estrutura, em linhas gerais, ainda é predominante.
Segundo ARRETCHE (2004), com o PLANASA foram criadas as Companhias
Estaduais de Saneamento Básico (CESBs) em cada um dos estados da federação,
as quais ainda hoje são responsáveis pela prestação dos serviços de água de
esgoto dos maiores municípios do país. Até 1985, apenas estas empresas públicas
podiam obter financiamentos junto ao Banco Nacional de Habitação – BNH para
instalação de sistemas de água e esgoto em regime de monopólio, sendo
responsáveis pela construção, operação e manutenção dos sistemas. Para que as
CESBs pudessem operar em seus respectivos estados, foi necessária a concessão
municipal para a exploração dos serviços, através de contratos de longo prazo (20
anos), porque a Constituição já estabelecia que o município poderia repassar a
gestão dos serviços públicos de saneamento por meio de concessão.
Os valores percentuais investidos em esgotamento sanitário e abastecimento de
água nas regiões brasileiras no âmbito do PLANASA podem ser observados na
Tabela 5.1.
24
Tabela 5.1 Distribuição regional do investimento médio realizado no âmbito do PLANASA no período de 1968-1992. (ARRETCHE, 1996)
Como se pode perceber através da Tabela 5.1, apesar do PLANASA ter trazido
investimentos significativos para o Brasil durante o seu período, ainda não foi o
bastante para ser considerado como razoável. Dentre todas as regiões investidas,
apenas a Sudeste apresentou investimentos acima de 50% tanto em investimentos
em abastecimento de água como também em esgotamento sanitário. Todas as
outras apresentaram índices percentuais muito baixos (índices inferiores a 30%) em
abastecimento de água e, mais baixo ainda, (índices inferiores a 15%) em termos de
esgotamento sanitário.
Em se tratando de valores aplicados em todo o Brasil, a Tabela 5.2 apresenta os
números de investimentos realizados durante o período do PLANASA para o setor
saneamento básico.
A partir da Tabela 5.2 pode ser verificado que o PLANASA trouxe benefícios
significativos, em termo de investimos, somente durante os anos de 1981 a 1991. A
partir daí houve um decréscimo considerável após sua extinção. É válido ressaltar
que os valores negativos presentes na coluna “Variação” representam uma queda
percentual do investimento naquele ano, em relação ao ano anterior.
Na Tabela 5.3 está indicada a evolução dos serviços de abastecimento de água e
esgotamento sanitário durante as quatro décadas do PLANASA segundo dados do
IBGE.
25
TABELA 5.2 - Distribuição dos investimentos realizados em saneamento no âmbito do PLANASA no período de 1968-1996. (CEF, 1997)
ANO Valor Aplicado (R$ 1.000) Variação (%) 1968 937 100 1969 16.987 1.712,91 1970 39.593 133,08 1971 31.125 -21,39 1972 60.263 93,62 1973 139.282 131,12 1974 163.107 17,11 1975 222.549 36,44 1976 273.267 22,79 1977 354.365 29,68 1978 436.195 23,09 1979 480.855 10,24 1980 678.566 41,12 1981 1.156.676 70,46 1982 1.073.383 -7,20 1983 909.288 -15,29 1984 575.053 -36,76 1985 1.029.838 79,09 1986 751.056 -27,07 1987 1.144.269 52,35 1988 1.943.937 69,88 1989 1.143.897 -41,16 1990 1.247.526 9,06 1991 1.528.668 22,54 1992 645.464 -57,78 1993 495.853 -23,18 1994 593.811 19,76 1995 150.325 -74,68 1996 208.899 38,96
TABELA 5.3 Percentuais dos serviços de água e esgoto no Brasil no âmbito do PLANASA (IBGE, 1960; 1970; 1980; 1990)
26
A evolução da prestação dos serviços de abastecimento de água e coleta de esgoto
no Brasil, apresentada na Tabela 5.3, demonstra a forte elevação dos índices de
atendimento a partir da década de 70, com a instituição do PLANASA, época de
grande e crescente mobilização de recursos. Durante este período, pôde-se
perceber um avanço significativo, sendo “freado” após a extinção do PLANASA,
como pode ser visto nos índices percentuais da década de 90.
Os resultados do PLANASA e os previstos em sua meta foram bastante divergentes
entre os serviços de abastecimento de água e coleta de esgotos. Segundo o IPEA
(1995), a meta estabelecida pelo plano era de atender a 80% dos domicílios
urbanos com abastecimento de água e obteve sucesso alcançando 86,3% em 1990.
Já nos índices de coleta de esgotos, alcançou 47,9% em 1990, porém a meta
estabelecida pelo plano era de 50% dos domicílios. Isso devido ao fato de terem
sido investidos apenas 27,9% dos recursos do PLANASA.
Segundo ARRETCHE (2004), esta expansão da cobertura de modo desigual,
privilegiou os investimentos em água, pois estes representam menores custos e
propiciam retornos mais rápidos através de tarifas. Além disto, embora tenha
ocorrido uma significativa expansão dos serviços em todo o território nacional, o
PLANASA privilegiou as regiões mais ricas do Sul e Sudeste do país e a maior parte
dos investimentos esteve concentrada nas cidades mais populosas e, nestas, nos
segmentos populacionais de maior renda.
Como o PLANASA deveria atender às demandas geradas pelo crescimento
populacional urbano, a forma utilizada para tal, foi a realização de um esforço para
que as CESBs recebessem dos municípios as concessões dos serviços de
saneamento. A estratégia utilizada para tanto, baseou-se no estrangulamento
financeiro, ou seja, na exclusão dos municípios no acesso às fontes de
financiamento ao setor. Assim, as CESBs se tornariam as responsáveis por todas
as ações de saneamento nos estados brasileiros.
27
A lógica para tornar o modelo viável seria a operação de subsídios cruzados, por
meio dos quais os municípios com menor capacidade de auto-sustentação dos
serviços de saneamento seriam subsidiados por aqueles com melhores condições.
Desta maneira, seria cobrada uma tarifa única em todo o estado e esses recursos
deveriam ser suficientes para cobrir o custo da CESB e ainda as amortizações dos
financiamentos contratados promovendo a auto-sustentação tarifária.
Segundo o IPEA (1995), os recursos para a sustentação do PLANASA eram
provenientes do Sistema Financeiro do Saneamento (SFS), o qual deveria ser
composto por: 37,5%, dos recursos do Banco Nacional de Habitação – BNH que,
para isso, utilizaria recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS;
37,5% de recursos provenientes dos orçamentos dos governos estaduais, que
contribuíam com 5% de suas receitas tributárias, por meio dos Fundos de Água e
Esgoto (FAE)3; e 25% por recursos municipais.
De acordo com a ANA (2003), dados oficiais do setor registraram picos de
investimentos nos anos de 1981 e 1982 seguidos de declínio em 1983 e 1984 –
efeito da retração da economia brasileira, marcada por cortes nos gastos públicos,
quando se iniciou um longo período de dificuldades na economia.
A partir de 1985, houve uma série de mudanças no PLANASA, como por exemplo, o
fim das restrições para o financiamento aos serviços municipais, a criação do
Programa para as populações de baixa renda (PROSANEAR) e a avaliação de
viabilidade para a contratação de financiamentos passou a considerar a viabilidade
global da empresa.
A reformulação do PLANASA, a extinção do BNH e a reforma administrativa de
1988 implicaram em uma fragmentação das políticas de saneamento, que passaram
a ser definidas e implementadas, de forma desordenada, por diversos ministérios,
3 Cada um dos Governos Estaduais formaria um Fundo de Água e Esgoto, que receberia recursos equivalentes a 5% das receitas tributárias do estado. Tais fundos, administrados pelos bancos estaduais integralizariam a parte dos estados no SFS.
28
entre eles, o Ministério da Saúde, a Caixa Econômica Federal4 e o Ministério do
Interior.
A centralização do setor, estabelecida no PLANASA, aliada à crise mais geral da
economia brasileira, resultou em seu enfraquecimento porque houve uma
deterioração de suas receitas e, conseqüentemente, a capacidade de pagamento
dos financiamentos contraídos com o FGTS ficou comprometida. Isto aconteceu em
1980, quando as empresas estatais foram utilizadas como instrumento da política
econômica, principalmente através do congelamento das tarifas. Em decorrência
desse cenário, da extinção do Banco Nacional da Habitação (BNH), em 1986, e da
própria crise econômica (que implicou em um alto volume de saques em virtude do
desemprego vigente), o FGTS encontrou-se comprometido em sua capacidade de
financiamento.
De acordo com JUSTO (2004), a extinção efetiva do PLANASA ocorre em 1992,
quando suas linhas de crédito foram unificadas em uma única, denominada
Programa de Saneamento para Núcleos Urbanos (Pronurb), que, juntamente com o
Prosanear, passaram a ser as duas únicas linhas de crédito para o saneamento
com recursos do FGTS.
Em resposta a este quadro, uma alternativa de gestão para o setor saneamento
passou a ser buscada durante a década de 90. Muitos Municípios optaram por
desvincular-se da companhia estadual, na expectativa de poder oferecer serviços de
melhor qualidade a menores tarifas. Outros municípios fizeram concessões para a
iniciativa privada, após o término da concessão das CESB. Tal mudança tem sido
acompanhada de freqüentes conflitos com as empresas estaduais, que exigem
indenizações pelos investimentos realizados.
4 Com a extinção do BNH, a CEF passou a operar os recursos do FGTS.
29
5.2.2. Aspectos Legais
A primeira lei reguladora do saneamento básico no Brasil foi a Lei 5.318/67 a qual
instituiu a Política Nacional de Saneamento e também criou o Conselho Nacional de
Saneamento – CNS para exercer as atividades de planejamento, coordenação e
controle da política. Esse conselho tinha, entre outras competências, estabelecer
diretrizes e elaborar o PLANASA. Segundo Ângelo Antônio Picolo5, esta política
compreende o conjunto de diretrizes administrativas e técnicas destinadas a fixar a
ação governamental no campo do saneamento, conforme disposto no artigo 1º.
Conforme disposto no artigo 2º, abrangerá:
1. Saneamento básico, compreendendo abastecimento de água, sua
fluoretação e destinação de dejetos;
2. Esgotos pluviais e drenagem;
3. Controle de poluição ambiental, inclusive do lixo;
4. Controle das modificações artificiais das massas de água;
5. Controle de inundações e de erosões.
A constituição de 1988 também ajudou a regulamentar os serviços de saneamento
básico, fazendo referência aos mesmos nos seguintes artigos citados abaixo:
• Artigo 21 (XX): diz que compete à União, entre outras atribuições, "instituir
diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento
básico e transportes urbanos";
• Artigo 23 (IX): diz que é competência comum da União, dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios "promover programas de construção de
moradias e de melhoria das condições habitacionais e de saneamento
básico";
5 Angelo Antonio Picolo, advogado em Direito Empresarial e Meio Ambiente junto ao Durvalino Picolo Advogados Associados S/C. Especialista em Direito Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública e pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, especialista em Finanças dos Negócios pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
30
• Artigo 30 (V): atribui aos municípios competência para "organizar e prestar,
diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos
de interesse local";
• Artigo 200 (III): diz que compete ao Sistema Único de Saúde "participar da
formulação da política e da execução das ações de saneamento básico".
Cinco anos após a reformulação da constituição, foi criado um projeto de lei nº 199,
em 1993, que tinha como objetivo de dispor sobre a Política Nacional de
Saneamento, seus instrumentos e dar outras providências segundo os princípios da
descentralização, ações integradas (água, esgoto, lixo e drenagem) e controle
social. Apesar de ter sido aprovado pelo Congresso Nacional, o projeto foi vetado
integralmente em janeiro de 1995 pelo então Presidente da República, Fernando
Henrique Cardoso, apresentando uma mensagem com as seguintes manifestações
para provar que o projeto de lei seria contrário ao interesse público:
“a) Saneamento é atribuição do governo local, cabendo à União instituir as
diretrizes para o saneamento básico;
b) A criação do Sistema Nacional de Saneamento, do Conselho Nacional de
Saneamento e sua Secretaria Executiva, a instituição de Planos Qüinqüenais e a
exigência de elaboração de relatórios anuais sobre a situação de salubridade
ambiental no Brasil contribuirão não só para burocratizar, como para onerar a
ação governamental no setor;
c) A constituição do FUSAN, por sua vez, apresenta inconvenientes tais como:
i) possibilidade de transferir indiretamente à União gastos próprios de Estados e
Municípios; ii) dificuldades operacionais na administração do Fundo, vez que o
projeto de lei prevê recursos orçamentários de diferentes esferas (federal,
estadual e municipal); iii) conflito de objetivos com o FGTS e a Seguridade Social,
que têm políticas e administrações próprias.”
Em 2001 foi criado o Projeto de Lei nº 4.147 de urgência constitucional que teve
como objetivo instituir diretrizes nacionais para o saneamento básico e dar outras
providências. Porém, o Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA solicitou
31
ao Presidente da República a sua retirada do regime de urgência constitucional uma
vez que o projeto foi julgado inconstitucional.
A Lei nº 11.107, também chamada de Lei de Consórcios, aprovada no Congresso
Nacional em abril de 2005 e sancionada pelo Presidente da República, foi criada
com o objetivo de vir preencher uma lacuna importante para o exercício da gestão
associada de serviços públicos. A Lei estabelece normas gerais para que a União,
os Estados, o Distrito Federal e os municípios contratem consórcios públicos para a
realização de objetivos de interesse comum e dá outras providências. Esses
consórcios seriam formalizados por meio de contrato de consórcio público cuja
celebração dependerá da prévia subscrição de protocolo de intenções a ser criado
por lei específica nas casas legislativas dos entes federados envolvidos. A lei de
formalização dos protocolos de intenção deve estabelecer os termos do consórcio.
Para a prestação de serviços de saneamento, a Lei propicia o consorciamento de
municípios entre si, municípios (isoladamente ou em conjunto) com o Estado, assim
como vários outros arranjos, para que possam permitir a prestação de serviços das
mais diversas modalidades. Para exemplificar, algumas dessas modalidades são
citadas a seguir (CISMAE, 2005):
• Contratação da prestação de serviços de abastecimento de água por parte de
municípios a companhias estaduais de saneamento (o detalhamento desta
possibilidade é descrito mais adiante);
• Construção, manutenção e operação pública de estações de tratamento e a
disposição final de esgotos sanitários de interesse de mais de um município;
• Construção, manutenção e operação pública de aterros sanitários ou outras
unidades adequadas para destinação adequada de resíduos sólidos para
atender a mais de um município;
• Controle da qualidade da água para consumo humano de sistemas de
abastecimento de água para mais de um município (a exemplo do CISMAE
do Paraná);
32
• Construção, manutenção e operação pública de unidades destinadas à
produção de água para mais de um município;
• Construção, manutenção e operação de obras e serviços de manejo de
águas pluviais urbanas de interesse de mais de um município;
• Outras possibilidades deverão ser pensadas.
Com relação à regulação, fiscalização e planejamento de serviços públicos, ainda é
reconhecida a dificuldade a qual os municípios individualmente possam exercer a
regulação ou até mesmo a elaboração do planejamento de serviços de saneamento
ambiental. Tais dificuldades resultam da necessidade de técnicos especializados
para realizar uma avaliação de estruturas tarifárias e composição de custos dos
serviços, elaboração de normas fixando a qualidade da prestação de tais serviços, e
do reconhecimento das especificidades necessárias para o diagnóstico e
detalhamento dos planos municipais, regionais e intermunicipais quando for o caso.
Seja pela falta de definição do preço a ser cobrado, seja pela falta de regulação da
qualidade e quantidade, os serviços de água e esgotos prestados por municípios
autônomos em regiões metropolitanas, que compartilham unidades comuns na
prestação de parte de tais serviços, encontram dificuldades em se relacionar com as
companhias estaduais. Com a nova Lei, é possível a criação de consórcios entre os
municípios envolvidos com os serviços integrados, com a participação do estado
envolvido para que sejam feitas efetivamente as atividades de planejamento,
regulação e fiscalização dos serviços integrados de saneamento.
Mesmo reconhecendo que o fundamento da Lei que visa instituir a associação de
entes públicos e mesmo a despeito dos impedimentos que esta Lei traz para as
empresas venderem ações a ponto de perderem o controle acionário para a
iniciativa privada, deve-se monitorar a sua aplicação. Segundo JUSTO (2004), é
reduzida a contribuição do setor privado para a gestão e a universalização dos
serviços de saneamento no Brasil, com isso, é necessário ter muita cautela com as
formas de parcerias a serem realizadas entre os setores público e privado.
33
Após um período de negociações para a viabilização de novas propostas ao projeto
inicial que fossem de consenso entre os atores envolvidos, foi enviada à Câmara
Federal em 18 de Julho de 2006 uma nova proposta, por meio do Projeto de Lei
7.361/2006. Aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo Presidente da
República, transformou-se na Lei nº 11.445, de 05 de Janeiro de 2007. Esta lei
estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a política
federal de saneamento básico, instituindo dessa forma, um novo marco regulatório
para o saneamento básico no Brasil.
Diferentemente das diretrizes anteriores instituídas para saneamento básico, a nova
Lei contempla os serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário,
limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos, e também os serviços de drenagem
e de manejo das águas pluviais em todas as áreas urbanas.
5.2.3 Aspectos Institucionais
5.2.3.1 O BNH
O Banco Nacional de Habitação (BNH), criado em 1964 pela Deputada Sandra
Cavalcanti através da Lei 4.380, tinha por objetivo implantar uma política de
desenvolvimento urbano. Em 1967 foi encarregado de realizar o diagnóstico inicial
da situação do setor de saneamento, sendo responsável pela fiscalização das
atividades do Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
No âmbito do BNH foram criados fundos de água e de esgoto estaduais, além de
programas estaduais trienais. O financiamento aos municípios passou a ser
realizado conjuntamente pelo BNH e pelos governos estaduais, com contrapartida
obrigatória dos municípios e com a obrigação de que estes organizassem os
serviços na forma de autarquia ou de sociedade de economia mista. (BARAT, 1998)
34
À medida que crescia a atuação do banco, a execução dos programas passava para
a iniciativa privada, e muitos de seus diretores também. Oficiais da reserva, da
primeira geração de tecnocratas do BNH, abriram seus próprios negócios. Em 1971,
o banco enfrentava sua primeira crise, por conta de créditos mal concedidos e da
alta inadimplência. (BARAT, 1998)
Até o começo da década de 70, predominavam fortemente os serviços municipais,
havendo municípios em que a responsabilidade pela operação dos serviços era
estadual. A atuação do governo federal, sob a coordenação do BNH, já era
marcante. (BARAT, 1998)
De 1974 a 1980, o banco colocou em prática um modelo que autorizava os agentes
financeiros a operar em faixas livres, com juros liberados. Na prática, isto significou
a sangria dos recursos do FGTS para o financiamento de construções para as
classes média e alta. Ao final do regime militar, o BNH contabilizava a construção de
4,3 milhões de moradias, número inferior à própria estimativa de déficit habitacional
do primeiro governo fardado, da ordem de cinco milhões de unidades.
Em 1986, o então presidente José Sarney, determinou o fechamento do BNH
através do Decreto de Lei nº 2.291, sendo passada à Caixa Econômica Federal –
CEF suas obrigações e atribuições. A medida era apoiada em uma justificativa de
contenção de despesas e redução de pessoal. Com a extinção do BNH, foi
encerrada também a política habitacional desenvolvida pelo Governo Federal e
pelos Estados.
5.2.3.2 Ministério das Cidades
• Programa de Modernização do Setor Saneamento – PMSS
Em 1992, o esfacelamento técnico-financeiro e administrativo das companhias de
saneamento, produto também do esvaziamento da política de saneamento no País,
35
fez com que o governo do Presidente FHC, seguindo orientações do Banco Mundial,
concebesse e implantasse o Projeto de Modernização do Setor Saneamento
(PMSS), com vistas a fazer um diagnóstico e propor diretrizes para a
“modernização” do setor (MORAES e BORJA, 2001).
De início, foi concebido como um projeto piloto, mas acabou se transformando, no
ano de 2003, em um programa permanente do Governo Federal de suporte técnico
à Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA), no exercício de sua
missão de apoiar Estados, Municípios e sociedade civil organizada na formulação
de políticas públicas, na regulamentação do setor nos três níveis de governo,
preferencialmente com base no federalismo cooperativo e na assistência técnica
aos prestadores dos serviços de saneamento básico.
Para COSTA (2003), a disseminação dos estudos do PMSS em vários seminários
no País tinha por objetivo apresentar as novas idéias-força que sintetizam a nova
política, sendo que esse processo buscava construir uma nova hegemonia para a
política de saneamento proposta pelo Governo FHC.
O PMSS tinha como meta a privatização dos serviços de saneamento no Brasil,
seguindo o ideário neoliberal, tendo a elaboração de novo arranjo jurídico-
institucional como ponto fundamental (COSTA, 2003). Para MERCEDES (2002), no
escopo e diretrizes do PMSS se distinguem claramente as orientações de
liberalização econômica recomendadas pelas agências multilaterais. Para a autora,
a série de documentos do PMSS representa uma produção destinada a justificar e
defender a privatização dos serviços de saneamento.
Para dar suporte à futura privatização dos serviços, além de iniciativas no campo
legal, o Governo FHC adotou uma série de medidas, tais como: renegociação das
dívidas das concessionárias; liberação de recursos para o aumento de cobertura
dos serviços nos segmentos não rentáveis; liberação de crédito vinculada à
existência de planos de “modernização” institucional e operacional, dentre outros
(MERCEDES, 2002). Além dessas medidas, o governo do Presidente FHC
36
restringiu o acesso aos recursos públicos pelas companhias estaduais e ampliou o
acesso à iniciativa privada.
Na década de 90, os municípios, organizados em torno da Associação Nacional dos
Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE6 passam a representar uma forte
resistência aos esforços da privatização. Assim, a sociedade civil aparece como
outro protagonista no esforço da definição de uma política pública de saneamento
para o Brasil.
Atualmente o PMSS desenvolve inúmeras ações no campo da estruturação dos
serviços de saneamento brasileiro, compreendendo as etapas de planejamento,
regulação e fiscalização, e a própria prestação. Além disso, o Programa desenvolve,
dentre outros, projetos nas áreas de capacitação, gestão das perdas de água e do
uso de energia elétrica, cooperação técnica internacional, realização de estudos
sobre temas relevantes de interesse nacional, e divulgação e disseminação de
experiências.
Sendo considerado um dos principais programas do SNSA, o Programa tem suas
ações voltadas à criação das condições propícias a um ambiente de mudanças e de
desenvolvimento do setor saneamento no país.
O Programa alavanca o desenvolvimento institucional do setor mediante ações de
capacitação dos agentes que atuam no saneamento. Neste sentido, o PMSS
liderou, em parceria com diversos órgãos do Governo Federal e com a
operacionalização da Financiadora de Estudos e Pesquisas – FINEP, o processo de
criação e estruturação da Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica
em Saneamento Ambiental – ReCESA. Foram constituídos quatro Núcleos
Regionais, coordenados por 14 universidades e que agregam cerca de 80
instituições parceiras (entre prestadores de serviços, entidades do setor, sistema S
6 ASSEMAE é uma sociedade civil brasileira sem fins lucrativos, com sede em Brasília, fundada em 1984 que reúne quase 2 mil municípios brasileiros e administram de forma direta e pública os serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial, resíduos sólidos e controle de vetores.
37
e sistema CEFET). O PMSS exerce o papel de Núcleo Executivo do Comitê Gestor
da ReCESA. (PMSS, 2007)
• Sistema Nacional de Informação Sobre Saneamento (SNIS)
No ano de 1996 foi criado pelo Governo Federal o Sistema Nacional de Informações
sobre Saneamento – SNIS, por meio do Programa de Modernização do Setor
Saneamento – PMSS, sendo coordenado pela Secretaria Nacional de Saneamento
Ambiental – SNSA, do Ministério das Cidades.
O SNIS tem como objetivo implementar um sistema de abrangência nacional,
constituído por um banco de dados sobre saneamento ambiental administrado na
esfera federal, integrando uma rede descentralizada e articulada, destinada a
viabilizar o tratamento da questão sob o enfoque mais abrangente do saneamento
ambiental. O conteúdo do sistema engloba informações de caráter operacional,
financeiro e gerencial, coletadas junto aos prestadores de serviços, de forma
agregada para cada prestador e de forma desagregada por municípios.
O SNIS produz diagnósticos anuais, a partir de 1995, cujos dados são coletados de
forma não compulsória e nem são universais, ou seja, não está disponível para
todos os municípios brasileiros, tem caráter amostral, o que é um aspecto limitante.
Em geral, os dados disponíveis se referem a todas as CESBs e a cerca de duas
centenas de serviços municipais e micro-regionais.
Aos seus dez anos de existência, o SNIS consolidou-se como o maior e mais
importante banco de dados do setor saneamento brasileiro, servindo a múltiplos
propósitos nos níveis federal, estadual e municipal, dentre os quais se destacam:
planejamento e execução de políticas públicas; orientação da aplicação de recursos;
avaliação de desempenho dos serviços; aperfeiçoamento da gestão, elevando os
níveis de eficiência e eficácia; orientação de atividades regulatórias e de
fiscalização; contribuição para o controle social; e utilização de seus indicadores
38
como referência para comparação e para medição de desempenho no setor
saneamento brasileiro.
Com a Promulgação da Lei nº 11.445/07, foi criado o Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento – SINISA. Logo em breve o SNIS terá uma maior
abrangência e será transformado no SINISA para cumprir os objetivos especificados
pela referida lei.
5.2.3.3. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - MPOG
• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mais conhecido por sua sigla IBGE,
é uma fundação pública da administração federal brasileira criado por meio do
Decreto de Lei nº161 de 13 de fevereiro de 1967.
Atualmente o IBGE tem atribuições ligadas a geociências e estatísticas sociais,
demográficas e econômicas, o que inclui realizar censos e organizar as informações
obtidas nos mesmos para suprir órgãos das esferas governamentais federal,
estadual e municipal, para outras instituições e o público em geral.
Dentre as várias pesquisas realizadas pelo IBGE, pode ser citada a Pesquisa
Nacional de Saneamento Básico (PNSB), que é realizada de década em década e
tem como objetivo coletar dados sobre a oferta e a qualidade dos serviços de
saneamento básico no país.
A pesquisa resulta de um convênio com a Secretaria Especial de Desenvolvimento
Urbano da Presidência da República – SEDU/PR, a Fundação Nacional de Saúde –
FUNASA e a Caixa Econômica Federal – CAIXA, além da colaboração técnica e
financeira da Organização Pan-americana de Saúde – OPAS através de sua
representação no Brasil. A mesma tem como base levantamentos realizados junto
39
às prefeituras municipais e empresas contratadas para a prestação de
abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e limpeza urbana
e coleta de lixo, nos 5 507 municípios existentes na data da última pesquisa.
A última Pesquisa Nacional de Saneamento Básico aconteceu em 2000 e investigou
as condições de saneamento básico de todos os municípios brasileiros, através da
atuação dos órgãos públicos e empresas privadas. Assim, acabou permitindo uma
avaliação sobre a oferta e a qualidade dos serviços prestados e também análises
das condições ambientais e suas implicações diretas com a saúde e a qualidade de
vida da população.
• Programa de Aceleração do Crescimento – PAC
O PAC foi concebido como o instrumento governamental para enfrentamento dos
desafios setoriais. Inserido no contexto de um Plano Nacional de Desenvolvimento
tem como objetivo a recuperação da infra-estrutura nacional e o aumento do ritmo
de expansão da economia. Para isso, prevê um forte investimento do setor público
através de aplicações contínuas e suficientes. A Tabela 5.4 mostra os investimentos
do PAC em saneamento básico para o período de 2007 a 2010.
Tabela 5.4 Fontes de recursos do PAC para saneamento básico 2007-2010 (Bilhões) (PMSS, 2006) FONTE PRIORIDADES DE INVESTIMENTO VALOR
Saneamento integrado em favelas e palafitas (PPI) 4
Água, esgoto, destinação final de lixo e drenagem urbana em cidades de grande e médio porte
4 OGU
Água, esgoto, destinação final de lixo e drenagem urbana em cidades de até 50 mil habitantes
4
SUBTOTAL 12 Financiamentos a Estados, Municípios e Companhias de Saneamento 12 Financiamento a Prestadores Privados e Operações de Mercado 8 FGTS /
FAT SUBTOTAL 20
Contrapartida de Estados, Municípios e Prestadores 8
TOTAL 40
40
Segundo WEGRZYNOVSKI (2008), com esses investimentos, o governo estima que
conseguirá, em quatro anos, beneficiar mais 24,5 milhões de pessoas com
abastecimento de água; mais 25,4 milhões com a coleta de esgoto e mais 31,1
milhões com a destinação final de resíduos sólidos.
A alocação dos recursos do PAC fundamentou-se em mecanismos de cooperação
federativa e critérios técnicos mínimos para garantir a execução ágil e qualificada
dos empreendimentos. A seleção dos empreendimentos seguiu os seguintes
princípios: demanda livre, pré-seleção técnica e pactuação federativa (três níveis de
governo) em mesa de negociação. (WEGRZYNOVSKI, 2008)
Como resultado de todos esses investimentos, a expectativa do governo é de
alcançar em quatro anos a meta relativa a saneamento básico dentro do objetivo de
garantir a sustentabilidade ambiental, estabelecido pela ONU como um dos oito
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM): reduzir à metade a proporção da
população sem acesso permanente e sustentável a água potável e esgotamento
sanitário até 2015.
41
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A avaliação dos avanços no atendimento com os serviços de saneamento foi
baseada em dados sobre o assunto, disponibilizados pelas instituições
pesquisadoras.
6.1. COBERTURA POPULACIONAL
Confrontando os dados de atendimento populacional com os serviços de
esgotamento sanitário (FIGURA 6.1) com o crescimento populacional (FIGURA 6.2)
no período de 1996 a 2006, observa-se que, todas as regiões, exceto na região
Norte, houve aumento populacional e também da cobertura com serviços de
esgotamento sanitário.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
% d
e at
endi
men
to
Norte 1,75 1,72 1,72 1,67 1,52 1,79 1,49 1,81 1,79 1,84 1,87
Nordeste 8,58 9,45 10,28 11,33 12,20 13,00 13,60 14,11 15,20 15,98 15,56
Sudeste 31,78 33,72 34,91 35,17 36,41 35,02 35,70 35,96 37,23 37,64 37,41
Sul 11,67 11,89 12,60 14,13 15,17 15,55 16,77 17,24 17,23 18,08 18,26
Centro-Oeste 30,51 29,05 28,02 28,41 28,24 28,88 29,05 29,42 29,14 30,72 30,52
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
FIGURA 6.1 – Atendimento populacional com serviços de esgotamento sanitário no Brasil no período de 1996 a 2006. (SNIS, 1996-2006)
42
0
10.000.000
20.000.000
30.000.000
40.000.000
50.000.000
60.000.000
70.000.000
80.000.000
90.000.000P
opul
ação
Norte 11.842.176 12.149.157 12.458.090 12.770.670 13.086.357 13.404.011 13.725.040 14.049.222 14.374.207 14.698.878 15.022.060
Nordeste 45.804.471 46.364.832 46.928.757 47.499.342 48.075.599 48.655.440 49.241.450 49.833.207 50.426.433 51.019.091 51.609.027
Sudeste 68.845.311 69.879.803 70.920.857 71.974.212 73.038.040 74.108.486 75.190.313 76.282.758 77.377.911 78.472.017 79.561.095
Sul 24.009.223 24.327.766 24.648.333 24.972.686 25.300.262 25.629.878 25.962.999 26.299.387 26.636.610 26.973.511 27.308.863
Centro-Oeste 10.821.988 11.058.269 11.296.051 11.536.642 11.779.624 12.024.119 12.271.213 12.520.732 12.770.869 13.020.767 13.269.517
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
FIGURA 6.2 – Crescimento populacional no Brasil no período de 1996 a 2006. (IBGE, 2004) A desigualdade no atendimento com serviços de esgotamento sanitário entre as
regiões brasileiras é bastante significativa. Nas regiões Sudeste e Centro-oeste os
índices de cobertura são maiores em relação às outras regiões (Figura 6.1).
A região Norte apresentou os menores índices. Isso pode ser devido ao fato dessa
região ser basicamente rural, o que estimula o uso de soluções individuais como,
por exemplo, a fossa séptica. O fato da cobertura com estes serviços ter se mantido
praticamente constante pode ser explicado pelo baixo crescimento populacional
durante o período. Esses fatores contribuem para que os serviços supracitados não
sejam priorizados pelos elevados custos de implantação, operação e manutenção
dos sistemas de coleta, transporte e tratamento de esgotos para atendimento a um
número pequeno de pessoas.
Apesar do índice de atendimento populacional com serviços de esgotamento
sanitário na região Nordeste ter sido um dos mais baixos durante o período
avaliado, observou-se que ele dobrou no período pesquisado, o que explicitou uma
43
preocupação das concessionárias locais em aumentar a cobertura com estes
serviços. Apesar do avanço, ainda há muito que ser investido para ser alcançado
um nível de cobertura razoável para se manter níveis de saúde adequados.
Nota-se, que a região Sudeste apresentou os maiores índices de cobertura
populacional com serviços de esgotamento sanitário. Contudo, o aumento do
atendimento também não foi significativo uma vez que a região apresentou maior
crescimento populacional entre as demais regiões do país e a cobertura com os
serviços não chegou a atender 40% da população.
Na região Sul o aumento no atendimento foi maior que o crescimento populacional.
Isso induz a se concluir que houve mais investimentos no setor nessa região, porém
até 2006 somente 18,3% da população foram contemplados com os serviços de
esgoto sanitário.
Observou-se que entre 1996 e 1998, apesar do pequeno acréscimo na população
(230.000 habitantes) na região Centro-Oeste, o avanço dos serviços de
esgotamento sanitário se manteve nulo e, com isso, houve uma redução no
percentual de atendimento. Vários fatores podem ter contribuído para esse
acontecimento, entre eles a ausência na obtenção dos dados em algumas
companhias da região e até a coleta de dados distorcidos. A partir de 1998,
observou-se um aumento dos investimentos nos serviços devido ao índice
percentual ter crescido de 28,02%, em 1998, para 30,52%, em 2006.
No geral, pôde-se observar que no ano de 2006 houve uma possível distorção na
coleta dos dados devido ao fato da maioria das regiões terem sofrido uma queda
nos índices de atendimento dos serviços de esgotamento sanitário. As regiões que
não sofreram essa queda mantiveram seus índices praticamente constantes entre
os anos de 2005 e 2006.
No período entre 1981 e 1991, época do PLANASA, foram feitos investimentos
significativos, pois a meta para toda a década de 80 era atender a 90% da
44
população urbana brasileira com serviços de abastecimento de água de boa
qualidade e 60% com serviços de esgotamento sanitário (PNSB, 2000). A meta do
atendimento com abastecimento de água foi alcançada, porém não ocorreu o
mesmo com os serviços de esgotamento sanitário. Nota-se que até o ano de 2006,
em nenhuma das regiões brasileiras o índice de cobertura atingiu 40%, havendo
discrepâncias regionais significativas (Figura 6.1).
Se a meta estabelecida pelo PLANASA para atendimento populacional com serviços
de esgotamento sanitário não foi atingida até o ano de 2006, o quadro sanitário do
Brasil ainda é bastante preocupante, uma vez que as prestadoras de serviços de
abrangência regional (Companhias de saneamento básico) são responsáveis pela
administração dos serviços de água e esgoto dos municípios mais populosos do
país. Esses municípios demandam maior volume de água para suas necessidades
básicas e conseqüentemente geram um maior volume de esgotos sanitários.
6.2. COBERTURA DOMICILIAR
As figuras 6.3 e 6.4 apresentam os percentuais de atendimento com serviços de
esgotamento sanitário, em termos domiciliares, e os valores do crescimento
domiciliar nas regiões brasileiras no período de 1999 a 2006, segundo a PNAD.
Vale ressaltar que no ano de 2000 não houve a pesquisa pelo fato de ter sido o ano
da PNSB, abordada no item subseqüente.
45
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
% d
e at
endi
men
to
Norte 8,29 5,78 4,06 4,46 4,00 3,95 4,92
Nordeste 19,46 22,01 24,25 25,74 27,54 26,93 28,01
Sudeste 71,79 73,45 73,48 75,69 77,37 77,30 76,78
Sul 17,78 22,85 25,34 25,50 24,09 25,87 26,26
Centro-Oeste 32,61 30,79 31,65 33,27 32,42 33,17 33,93
1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006
FIGURA 6.3 – Domicílios atendidos com serviços de esgotamento sanitário no Brasil no período de 1999 a 2006. (IBGE-PNAD, 1999-2006)
0
5.000.000
10.000.000
15.000.000
20.000.000
25.000.000
30.000.000
Dom
icíli
os
Norte 1.866.871 2.263.971 2.345.008 2.469.430 3.561.524 3.716.000 3.777.000
Nordeste 11.509.024 12.053.041 12.231.916 12.651.062 13.090.124 13.359.000 13.788.000
Sudeste 20.092.776 21.207.265 21.742.063 22.443.270 23.157.114 23.801.000 24.531.000
Sul 7.160.277 7.554.319 7.725.335 7.927.374 8.198.266 8.387.000 8.554.000
Centro-Oeste 3.170.274 3.358.132 3.448.299 3.585.456 3.745.500 3.852.000 3.961.000
1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006
FIGURA 6.4 – Crescimento do número de domicílios no Brasil no período de 1999 a 2006. (IBGE-PNAD, 1999-2006)
46
Assim como nos valores apresentados anteriormente coletados do SNIS, a PNAD
também deixa clara a grande diferença percentual entre a região Sudeste e as
demais. A partir disso, pode-se verificar que a região apresentou percentuais
satisfatórios de atendimentos com os serviços de esgotamento sanitário nos
domicílios, ultrapassando a casa dos 70%. Esse fator também pode ser justificado
pela alta concentração domiciliar existente na região, sendo a mais populosa do
país, o que torna viável o investimento na rede de coleta de esgotamento sanitário.
A região Norte foi a que apresentou menores valores percentuais. Apesar de esta
região ter apresentado um aumento no número de domicílios aproximadamente
igual ao da região Centro-Oeste, o percentual de atendimento com os serviços de
esgoto sanitário foram bem inferiores ao dessa região. Isso possivelmente se deve
ao fato de os municípios da região Norte se mantenham distanciados uns dos
outros, tornando, na maioria dos casos, inviável a utilização da rede de coleta de
esgotamento sanitário.
As regiões Nordeste e Sul mantiveram seus índices praticamente iguais, havendo
apenas uma variação na colocação no gráfico durante o período avaliado,
finalizando em 2006 com a região Nordeste apresentando seu índice percentual um
pouco acima da região Sul, 28,01% contra 26,26%.
Nota-se que somente a região Sudeste apresentou índice de cobertura domiciliar
com serviços de esgotamento sanitário superior à meta estabelecida pelo PLANASA
para a década de 80, que era de atender a 50% dos domicílios urbanos com coleta
de esgoto sanitário (IPEA, 1995). As outras regiões não conseguiram atingir esse
percentual de domicílios até o ano de 2006.
47
6.3. ESGOTAMENTO SANITÁRIO X ABASTECIMENTO DE ÁGUA
9496,4
100 98,5 98,4
7,1
42,9
92,9
38,9
17,9
0
20
40
60
80
100
120
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Abast. de Água
Esg. Sanitário
FIGURA 6.5 – Percentual dos municípios atendidos com serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. (IBGE-PNSB, 2000)
Pode-se observar na Figura 6.5 que há uma grande diferença entre os percentuais
de atendimento com os serviços de abastecimento de água e com esgotamento
sanitário. Essa é uma questão crítica em quase todo o país, que, no geral se
preocupou muito pouco com a oferta dos serviços de esgotamento sanitário, desde
a época do PLANASA, por motivos já discutidos anteriormente.
Entre as regiões brasileiras, a Norte foi a que apresentou maior diferença percentual
entre os dois serviços, tendo 94% dos municípios pesquisados com serviços de
abastecimento de água, e apenas 7,1% dos municípios com serviços de
esgotamento sanitário. Isso se deve ao fato da região ser basicamente rural, o que
possibilita uma maior opção de utilização de fossas sépticas nas residências, por
ser um tipo de destinação final do esgoto com menor valor de investimento, se
comparado com a rede coletora de esgoto e ETE. Outro fator que impossibilita uma
maior utilização dos sistemas de esgotamento sanitário é a grande distância entre
48
as residências, que são predominantemente rurais, não se configurando como
melhor solução para coleta e tratamento dos excretas humanos um sistema
convencional de tratamento de esgotos.
A região que obteve melhores índices de cobertura municipal com serviços de
esgotamento sanitário foi a Sudeste com aproximadamente 93% dos municípios
atendidos. As regiões Nordeste e Sul mantiveram seus índices municipais com
serviços de esgotamento sanitário praticamente semelhantes, respectivamente de
42,9% e 38,9%. A região Centro-Oeste também teve seu índice muito baixo, com
apenas 17,9% dos municípios.
Observando esses dados, não se pode afirmar que os municípios onde inexistem
sistemas de esgotamento sanitário não há destinação final para seus esgotos
domésticos, uma vez que existem outras formas de destinação, a exemplo das
fossas sépticas. Porém, em muitos casos as fossas sépticas são construídas fora
dos padrões da engenharia e são denominadas de “fossas negras”, uma vez que
acabam contaminando o solo e o lençol subterrâneo devido a sua inadequada
construção. Assim, os dados passam a ser bastante preocupantes, uma vez que, os
índices de abastecimento de água são elevados e obviamente se está gerando uma
grande quantidade de esgoto doméstico que quando não coletados e tratados antes
do lançamento no meio ambiente, podem causar danos à saúde humana.
Em nenhuma das regiões brasileiras o índice de cobertura com abastecimento de
água acompanhou o índice de cobertura com esgotamento sanitário (Figura 6.5),
situação que seria ideal, pelo fato do esgoto doméstico ser composto por 99% de
água (FERNANDES, 1997). O fornecimento de água para a população sem
soluções de coleta e tratamento dos esgotos domésticos gerados causa, além de
problemas estéticos, a deterioração sanitária, principalmente pela contaminação dos
mananciais superficiais que são usados para abastecimento público. O lançamento
direto ou indireto dos esgotos sem tratamento nesses mananciais pode vir a
contaminá-los causando o surgimento de doenças de veiculação hídrica às pessoas
que têm acesso a essa água sem o devido tratamento.
49
6.4. INVESTIMENTOS ANUAIS EM ESGOTAMENTO SANITÁRIO REALIZADOS
PELAS PRESTADORAS DE SERVIÇO DE ABRANGÊNCIA REGIONAL NO
BRASIL
Abaixo está representada a Figura 6.6 com os valores anuais dos investimentos em
esgotamento sanitário realizado pelos prestadores de serviço entre os anos de 1996
a 2006, segundo o SNIS:
0
100.000.000
200.000.000
300.000.000
400.000.000
500.000.000
600.000.000
700.000.000
800.000.000
900.000.000
1.000.000.000
Inve
stim
ento
s (R
$)
Norte 26.769.511 22.752.262 501.616 12.057.212 7.368.504 6.137.669 17.073.181 5.995.241 8.863.244 24.727.840 15.601.080
Nordeste 82.832.345 128.614.54 184.995.25 134.480.55 198.231.43 217.443.60 186.523.49 141.389.84 344.528.81 144.017.76 211.169.82
Sudeste 420.929.15 909.735.06 791.768.16 361.103.02 456.307.25 534.891.57 503.028.77 577.236.19 597.730.34 633.853.22 877.629.54
Sul 104.372.76 183.858.41 235.673.42 129.091.75 120.542.25 187.585.15 173.574.00 138.321.09 142.910.91 230.269.90 290.979.74
Centro-Oeste 54.953.784 37.413.641 131.932.09 61.590.537 66.683.957 70.621.732 132.739.68 147.944.04 105.723.41 128.757.17 137.822.55
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
FIGURA 6.6 – Investimentos anuais em serviços de esgotamento sanitário no Brasil no período de 1996 a 2006. (SNIS, 1996-2006)
Os investimentos realizados pelos prestadores de serviços durante o período
pesquisado foram bastante variados. Dentre as regiões, a Sudeste foi a que
apresentou maiores investimentos pelo fato de ser a que concentra maiores
percentuais de atendimentos, já discutidos anteriormente.
As regiões Sul e Nordeste mantiveram seus investimentos no mesmo patamar
durante os anos, sendo maiores na região sul até o ano de 1999. A partir deste ano
50
a Nordeste manteve um maior investimento até o ano de 2003, chegando a investir
em 2006 um valor de R$211.169.820,00 quando a região Sul investiu
R$290.979.744,00.
Por motivos já discutidos, a região Norte foi a que apresentou os menores
investimentos, conseguindo alcançar apenas R$26.769.511,00 no ano de 1996.
Vale ressaltar que durante o período houveram prestadoras de serviço que não
forneceram dados para o SNIS (Tabela 6.7).
ANO COMPANHIA(s) 1996 CAERD/RO; SANEATINS/TO; CAGECE/CE 1997 CAERD/RO; CAESA/AP 1998 CAERD/RO; DEAS/AC; SANEATINS/TO 1999 CAERD/RO; DEAS/AC; CAEMA/MA 2000 CAER/RR; COSAMA/AM; DEAS/AC; CAEMA/MA 2001 COSAMA/AM; DEAS/AC 2003 CAERD/RO 2004 CAER/RR; CAERD/RO; CAEMA/MA; CASAL/AL 2005 CAER/RR; CAERD/RO; CAESA/AP; COSAMA/AM; DEAS/AC; AGESPISA/PI 2006 CAERD/RO, COSAMA/AM; DEAS/AC
TABELA 6.7 – Companhias que não forneceram seus valores de investimento de 1996 a 2006. (SNIS, 1996-2006)
Pode-se observar que os valores de investimentos das regiões Norte e Nordeste
apresentam-se inconsistentes devido ao alto número de prestadores de serviços
que não disponibilizaram seus dados de investimentos durante o período analisado.
51
7. CONCLUSÃO
A idéia que transcorreu o presente trabalho, desde seu início, foi a de realizar um
estudo das regiões brasileiras a respeito de seus respectivos crescimentos em termo
de investimento e atendimento com serviços de esgotamento sanitário. A análise
desses dados teve o intuito de tirar algumas conclusões sobre as diferenças
existentes para as referidas regiões.
Para isso, diversas questões sobre a situação do saneamento básico no Brasil foram
levantadas no decorrer do trabalho. Questões essas como os aspectos legais e
institucionais tiveram o intuito de dar uma visão da história do saneamento básico
brasileiro para se compreender a situação atual.
O PLANASA, como primeira e principal medida para o setor, implicou na criação das
Companhias Estaduais de Saneamento Básico centralizando as ações de
saneamento nos estados e concentrando a aplicação dos recursos do FGTS na
região Sudeste e nas áreas mais ricas dos estados das demais regiões do país.
Através dos dados levantados a partir das fontes de pesquisas nacionais sobre o
saneamento básico e do histórico dos investimentos desde o PLANASA, pôde-se
perceber a diferença dos investimentos entre as regiões brasileiras. Esse fator
influenciou nos resultados de cobertura de cada região, que, acompanhando as
diferenças de investimentos, também se mostraram bastante diferenciados. Notou-
se que a região Sudeste tem sido beneficiada pelos maiores investimentos e
atendimentos com os serviços, pelo fato de ser a região mais populosa e
desenvolvida do Brasil.
Outra diferença constatada foi com relação à falta de preocupação do país com a
cobertura do atendimento com os serviços de esgotamento sanitário. Esse fator
pôde ser percebido através da grande diferença entre os investimentos realizados
para os serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário desde a
época do PLANASA.
52
Por fim, os casos estudados, da situação do saneamento brasileiro, mostram que
ainda é preciso melhorar bastante a prestação dos serviços de esgotamento
sanitário para tentar estreitar a diferença existente, já que uma população crescendo
rapidamente sendo suprida, em sua maioria, com serviços de abastecimento de
água, vai gerar em proporção aproximadamente semelhante ao esgoto doméstico,
que, como já abordado anteriormente, precisa de tratamento antes de ser lançado
nos mananciais.
53
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGENCIA NACIONAL DE AGUAS - ANA – Plano Nacional de Recursos Hídricos. 2003. Disponível em: <http://www.ana.gov.br/pnrh/index.htm> Acesso em: 18 fev. 2008.
______. Saneamento Básico. Disponível em: <http://www.ana.gov.br/pnrh/DOCUMENTOS/5Textos/6-1Saneamento4_04_03.pdf> Acesso em: 27 ago. 2008. ALMEIDA, Maria H. T. Federalismo e Políticas Sociais, in AFFONSO, Rui & BARROS SILVA, Pedro L. Descentralização e Políticas Públicas, FUNDAP, 1996.
ARRETCHE, Marta T.S. Aspectos Regionais dos Gastos com Habitação e Saneamento Básico, in AFFONSO, Rui & BARROS SILVA, Pedro L. “Descentralização e Políticas Públicas”, FUNDAP, 1996. ______. Saneamento Básico. Disponível em: <http://www.tecsi.fea.usp.br/eventos/Contecsi2004/BrasilEmFoco/port/economia/saneam/apresent/index.htm> Acesso em: 16 ago. 2008. BARAT, J. O Financiamento da Infra-Estrutura Urbana: os Impasses as Perspectivas Institucionais, as Perspectivas Financeiras. Brasília: IPEA, 1998.
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FIGURA A1: Formulário da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico para levantamento dos serviços de esgotamento sanitário