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Prólogo da 1ª edição “A ordem é a unidade resultante da conveniente disposição de muitas coisas” (Contra Gentes, 111-71). É a pluralidade, reduzida à unidade mediante o ordenamento dos fins. A lei da finalidade é inseparável de tudo o que se relaciona com a ordem. Há uma ordem natural e há uma ordem sobrenatural. Ambas exaltam e revelam a íntima unidade de Deus, tanto ad intra como ad extra. É por isso que o cosmos, o universo, sente em si mesmo uma metafísica exigência de ordem e de unidade. A ordem natural não é um submundo ou uma ordem de emergência. Tampouco é obra da livre determinação humana. A ordem natural é anterior ao homem. Fundamenta-se em Deus e participa do recôndito mistério do mesmo Deus, cuja ordem divina e eterna se reflete na ordem natural. A ordem natural é uma realidade acabada em si mesma, ainda quando a revelação nos descubra a ordem sobrenatural e nos mostre a que grau de perfeição e elevação se pode levar a ordem natural informada pela graça. Por sua própria natureza, a ordem natural é inviolável. A atitude do homem deve ser de total acatamento. A vulneração desta ordem introduz um tipo de violência interior, cuja vítima imediata é o mesmo homem que vulnera a ordem. O acatamento, a fidelidade às exigências da ordem natural, no fim das contas, são formas de acatamento a Deus e de aceitação de sua Vontade. Acatamento que aperfeiçoa o indivíduo e o liberta de servidões. A ordem natural é uma das leis essenciais da vida. Basta o simples exemplo do corpo humano. De sua ordem física depende a saúde, o crescimento, a perfeição física e grande parte de sua plenitude humana. Esta ordem resplandece, por fora, transformada em beleza. Assim se explica a profunda percepção da beleza da ordem natural por artistas, gênios e santos. A ordem natural, a seu modo, é uma maravilhosa epifania. Mas esta ordem natural se projeta de uma maneira múltipla: ordem moral, ordem social, ordem econômica, ordem

Prólogo da 1.doc

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Prlogo da 1 edio

Prlogo da 1 edio

A ordem a unidade resultante da conveniente disposio de muitas coisas (Contra Gentes, 111-71). a pluralidade, reduzida unidade mediante o ordenamento dos fins. A lei da finalidade inseparvel de tudo o que se relaciona com a ordem.

H uma ordem natural e h uma ordem sobrenatural. Ambas exaltam e revelam a ntima unidade de Deus, tanto ad intra como ad extra. por isso que o cosmos, o universo, sente em si mesmo uma metafsica exigncia de ordem e de unidade.

A ordem natural no um submundo ou uma ordem de emergncia. Tampouco obra da livre determinao humana. A ordem natural anterior ao homem. Fundamenta-se em Deus e participa do recndito mistrio do mesmo Deus, cuja ordem divina e eterna se reflete na ordem natural.

A ordem natural uma realidade acabada em si mesma, ainda quando a revelao nos descubra a ordem sobrenatural e nos mostre a que grau de perfeio e elevao se pode levar a ordem natural informada pela graa. Por sua prpria natureza, a ordem natural inviolvel. A atitude do homem deve ser de total acatamento. A vulnerao desta ordem introduz um tipo de violncia interior, cuja vtima imediata o mesmo homem que vulnera a ordem.

O acatamento, a fidelidade s exigncias da ordem natural, no fim das contas, so formas de acatamento a Deus e de aceitao de sua Vontade. Acatamento que aperfeioa o indivduo e o liberta de servides.

A ordem natural uma das leis essenciais da vida. Basta o simples exemplo do corpo humano. De sua ordem fsica depende a sade, o crescimento, a perfeio fsica e grande parte de sua plenitude humana.

Esta ordem resplandece, por fora, transformada em beleza. Assim se explica a profunda percepo da beleza da ordem natural por artistas, gnios e santos. A ordem natural, a seu modo, uma maravilhosa epifania.

Mas esta ordem natural se projeta de uma maneira mltipla: ordem moral, ordem social, ordem econmica, ordem poltica. Distintos aspectos e distintos fins de uma mesma ordem natural, com suas leis prprias.

Esta ordem lamentavelmente est sempre posta em xeque. fcil vulner-la, sobretudo porque na realizao dela o homem intervm com tudo o que seu. Por outro lado, a luz da razo no basta por si mesma ou lhe muito difcil para abarcar toda a ordem natural e definir, em concreto, as linhas mestras desta ordem.

Finalmente, a ordem natural, apesar de seu vigor intrnseco, de seu fundamento em Deus, de sua participao nas leis eternas, necessita da defesa do homem. E vice-versa. A ordem defende o homem, e o homem a ordem.

O contrrio dela a desordem uma excrescncia com razes abismais, nunca extirpadas a fundo.

Um grande Pensador e um grande Mestre, Carlos Sacheri, intuiu as profundas subjacncias no pensamento e no corao do homem atual. Subjacncias carregadas de erros e negadoras no s da ordem sobrenatural, como tambm da ordem natural.

O pensamento moderno se preocupa com o homem. Mas sua concepo de homem falsa. O homem mitificado, aparentemente convertido no fim e no centro da Histria, depois manipulado como coisa.

Sacheri percebeu que o muro se estava fendendo rapidamente com a recusa da ordem sobrenatural e da ordem natural. Viu o problema da ordem natural subvertida e revigorada por uma tcnica espantosa. E lanou-se de todo, no a lamentar, mas a restaurar a ordem natural. Aqui est a razo do seu sangue mrtir.

Contribuio sua foram os artigos que Sacheri publicara com o ttulo de A Igreja e o Social. Ele parte da Igreja como Instituio divina e, portanto, como Mistrio de F. O Magistrio dos Papas que ele analisa e aproveita tem a mesma raiz sobrenatural. Mas em todos os seus artigos sobressai ou subjaz a realidade da ordem natural, como requisito indispensvel para assentar depois a ordem sobrenatural.

Este livro merecia melhor prlogo. Que o afeto supra a pobreza destas linhas.

Paran, 15 de setembro de 1975.+ Mons. Adolfo Tortolo

Arcebispo de Paran

Aqui aparecem com o ttulo definitivo de A Ordem Natural (nota do editor argentino).