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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE PEIXE – TO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE PEIXE – ESTADO DO TOCANTINS. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINS, por seu órgão de execução nominado, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, vem, com fundamento nos artigos 1º, III, 5º, caput e inc. XXXII, 127, 129, inc. III, 196, 197 e 199 da Constituição Federal; nos artigos 1º, incisos. II e IV, 5º e 12, da Lei nº 7.347/85; nos artigos 4º, 6º, 51, IV, 81, 82, 83, 84 e 117 da Lei nº 8.078/90; no art. 273 do Código de Processo Civil, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONSUMERISTA com pedido liminar, inaudita altera parte, contra UNIMED GOIÂNIA – Cooperativa de Trabalho Médico, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 02.476.067/0001-22, com sede na Praça Gilson Alves de Souza, nº. 650 (T-7, Esq. T-1), Setor Bueno, Goiânia-GO, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: I - DOS FATOS Em 11 de novembro de 2008, compareceu a esta Promotoria de Justiça de Peixe o senhor Manoel Francisco Dias, pessoa física, maior e capaz, Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Peixe -TO Av. Napoleão de Queiróz, Qd. 15, Lt. 14, Centro – CEP: 77.460-000 Tel.: (63) 3356 1173 1

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE PEIXE – ESTADO DO TOCANTINS.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINS,

por seu órgão de execução nominado, no uso de suas atribuições constitucionais

e legais, vem, com fundamento nos artigos 1º, III, 5º, caput e inc. XXXII, 127, 129,

inc. III, 196, 197 e 199 da Constituição Federal; nos artigos 1º, incisos. II e IV, 5º e

12, da Lei nº 7.347/85; nos artigos 4º, 6º, 51, IV, 81, 82, 83, 84 e 117 da Lei nº

8.078/90; no art. 273 do Código de Processo Civil, propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONSUMERISTA

com pedido liminar, inaudita altera parte, contra

UNIMED GOIÂNIA – Cooperativa de Trabalho Médico,

pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 02.476.067/0001-22, com

sede na Praça Gilson Alves de Souza, nº. 650 (T-7, Esq. T-1), Setor Bueno,

Goiânia-GO, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

I - DOS FATOS

Em 11 de novembro de 2008, compareceu a esta Promotoria

de Justiça de Peixe o senhor Manoel Francisco Dias, pessoa física, maior e capaz, Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Peixe -TO

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associado da Requerida, demonstrando ter celebrado contrato de adesão com

esta no ano de 2003, figurando como autêntico consumidor dos serviços de saúde

por ela prestados. Demonstrando o real exercício do poder familiar, o consumidor

Manoel fez incluir no referido plano médico (UNIBRASIL) sua filha MIKAELLE

SOUZA DIAS, à época com 10 (dez) meses de idade e, até então, sem

diagnóstico de qualquer debilidade física ou mental, tendo, inclusive, optado seu

genitor/contrante à Cobertura Parcial Temporária (Doc. Anexo), restringindo-o a

gozar “por um período de 24 (vinte e quatro) meses as coberturas para eventos

cirúrgicos, uso de leito de alta tecnologia e procedimentos de alta complexidade,

para tratamentos relacionados às doenças” existentes no momento da adesão

contratual.

Passados aproximadamente 8 (oito) meses da firmação do

contrato de prestação de serviços de saúde, descobriu-se que a beneficiada

Mikaelle Souza Dias sofria de uma má formação cerebral, resultando num

retardamento da maturidade das funções motoras, necessitando, destarte, de

tratamentos periódicos com médicos especializados nas áreas de fisioterapia e

fonoaudiologia, pois de fácil detecção é a dificuldade com que a paciente, hoje

com 06 (seis) anos de idade, utiliza-se da fala.

Desde então, o Sr. Manoel, vem utilizando o plano de saúde

nacional contratado para realização de tratamentos médicos em sua filha,

ocorrentes, em sua maioria, na cidade de Gurupi-TO, centro especializado mais

próximo de sua residência.

Ocorre que, no mês de outubro p.p., ao findar de 05 (cinco)

sessões de tratamento fonoaudiólogo, realizadas por médico especializado e

conveniado à requerida – Camila Vilela Arantes Turci, CRF 10.275 SP/T-TO –,

ante a evolução da paciente, fora solicitada mais 08 (oito) sessões (doc. anexo),

acompanhada, inclusive, de relatório técnico a demonstrar a imprescindibilidade

do tratamento requerido. Mas, surpreendentemente, o contratante, Sr. Manoel,

crente da assistência médica nacional adquirida e pontualmente reembolsada,

deparou-se com a possibilidade de interromper os tratamentos de sua filha, ante a Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Peixe -TO

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negação da prestadora de serviços de saúde, ora requerida, em autorizar a

realização das sessões de fonoaudiologia receitadas, sob a simples e desprezível

alegação de que a quantidade do serviço solicitado extrapolaria o limite

previsto no contratado de adesão firmado com o beneficiário (doc. anexo).

A interrupção do tratamento nesta fase de avanço clínico

apresentado pela paciente Mikelle, é abusiva e violadora dos mais comezinhos

princípios contratuais vigentes, além da inevitável retrocessão ao estado de

debilidade motora inicial. A contratação da requerida para a cobertura médica do

Sr. Manoel e de sua família foi impulsionada pela parca condição financeira que

sempre deteve, impedido-o de arcar, particularmente, com todos os gastos

médicos exigidos no tratamento de sua filha.

Não há o que comentar no caso vertente sobre a limitação de

consultas em plano de saúde, posto caracterizar cláusula nitidamente abusiva.

A fim de garantir os direitos básicos dos consumidores

abrangidos pela jurisdição da Comarca de Peixe, que estão sendo ou podem vir a

ser prejudicados com a conduta abusiva da ré, bem como os interesses esculpidos

no Estatuto da Criança e Adolescente, primados pelos princípios da proteção

integral e pessoa humana em especial estado de desenvolvimento, ajuiza o

Parquet a presente ação coletiva de consumo.

Como se verá detalhadamente a seguir, a fornecedora de

serviços UNIMED Goiânia não pode, sob pena de serem violados princípios e

normas inerentes ao nosso sistema protetivo ao consumidor, parte notoriamente

mais vulnerável nas relações de consumo, intervir nem impor restrições aos

procedimentos recomendados pelo médico responsável pelo tratamento dos

pacientes/consumidores.

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II - DOS DIREITOS COLETIVOS TUTELADOS PELA PRESENTE AÇÃO E DA

LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

É indiscutível a legitimidade do Ministério Público para o

ajuizamento da presente demanda.

O artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, diz

expressamente que uma das funções institucionais do Ministério Público é :

“promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção

do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros

interesses difusos e coletivos”.

A Lei nº 7.347/85, por sua vez, que disciplina a ação civil

pública, autoriza, em seu artigo 5º combinado com o artigo 1º, II, o órgão

Ministerial a propor a ação civil pública de responsabilidade por danos causados

ao consumidor.

Mais especificamente à matéria, observa-se o constante no

artigo 81, parágrafo único, inciso II, da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do

Consumidor), que prevê :

“ Art. 81 (...)

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se

tratar de :

II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para

efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível,

de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas

ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação

jurídica base.”

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O artigo 82 do mesmo diploma legal, autoriza o Ministério

Público, em seu inciso I, a postular em Juízo a defesa dos consumidores a título

coletivo, prevista no artigo 81 supra mencionado.

No caso concreto, está claro que a conduta abusiva da ré,

de impor restrições ao procedimento recomendado pelo médico que administra o

tratamento da paciente, atinge os direitos coletivos de outros

pacientes/consumidores que estão ou podem vir a estar na mesma situação em

que se encontra a associada Mikaelle Souza DIas.

Assim, sendo a relação jurídica existente entre o

consumidor e o fornecedor estabelecida mediante contrato de adesão, esta se dá

de maneira idêntica para todos os consumidores. Nesse caso, uma prática abusiva

exercida pelo fornecedor, prejudica não somente um consumidor individualmente,

mas atinge a todos os demais que aderiram ao contrato.

Na situação específica dos autos, conclui-se que a

prática abusiva da UNIMED Goiânia, de intervir ou impor restrições ao

procedimento recomendado pelo médico, negando-se a fornecer a sua beneficiária

sessões de fonoaudiologia ou outros tratamentos de necessidades periódicas,

quando imprescindíveis ao avanço, e porque não à cura, estando esta exigência

ratificada por um profissional especializado e tão capaz (por sinal, credenciado em

seus quadros), traduz-se em prática comum, que prejudica não só a Mikelle, mas

a todos os consumidores que necessitam, ou que no futuro poderão necessitar, da

cobertura pelo plano de saúde da UNIMED Goiânia nesta modalidade de

procedimento médico.

Ressalta-se que os direitos os quais o Ministério

Público pretende tutelar na presente ação são os da coletividade, na forma do

artigo 81, parágrafo único, do CDC. Não se trata de defender individualmente um

consumidor. A situação específica da paciente/consumidora Mikaelle Souza Dias

serve apenas para demonstrar uma prática usual, comum da ré.

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Além disso, a Requerida, ao negar o pedido de

liberação das sessões de fonoaudiologia fundamentou, em simplórias letras, estar

excedido o limite de consultas contratadas pelo genitor da paciente. Diante disso,

se o indeferimento das sessões recomendadas teve como fundamento limite

tabelado nesta espécie de contrato de adesão, é óbvio que poderá ocorrer

situação semelhante com outros pacientes/consumidores que necessitarem de

várias sessões para tratamento/cura de anomalias motoras e psicológicas,

demonstrando clarividente afronta a boa-fé do contratante que se imaginava

abrangido pela cobertura médica adquirida quando da assinatura do contrato.

Ademais, caso entendesse que os elementos trazidos acima

seriam insuficientes para comprovar que a prática abusiva de intervir ou impor

restrições ao procedimento recomendado pelo médico é ato comum da ré,

podendo atingir a uma infinidade de consumidores, legitimando o Ministério

Público para o ajuizamento da presente demanda, questiona-se: Quantos casos

concretos deveriam ocorrer para que então o agente Ministerial ficasse legitimado

para agir ? 5, 10, 20, 50 ? Quantos pacientes/consumidores teriam ainda que ter

seus direitos violados pela prática abusiva da ré, muitos deles correndo risco de

vida ou de obterem maus resultados em procedimentos médicos em que se

necessita de sessões contínuas com fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas

etc, e se vêm impedidos de usufruí-los, ao argumento de excesso contratual? É

cristalino Excelência, que o agente Ministerial, como membro de uma instituição

permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, dentre

outros, a defesa dos interesses sociais, difusos e coletivos, não pode ficar

esperando sentado em seu gabinete até que diversos casos concretos ocorram,

enquanto pacientes/consumidores, parte mais vulnerável nas relações de

consumo, fiquem a mercê de práticas abusivas exercidas com o intuito de

prejudicar seus direitos.

Neste sentido a jurisprudência:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INSURGÊNCIA CONTRA CLÁUSULAS ABUSIVAS EXISTENTES EM PLANOS DE SAÚDE.

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LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO. MULTA MORATÓRIA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA E CORREÇÃO MONETÁRIA. INACUMULABILIDADE. REABERTURA DO PRAZO DE CARÊNCIA. ILEGALIDADE. COBERTURA DO SEGURO SUSPENSA PELO ATRASO DE ALGUNS DIAS. INADMISSIBILIDADE.I - O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação civil

pública para impedir a validade de cláusulas abusivas e iníquas

nos planos de saúde, porque se trata de interesse coletivo previsto

no art. 81, inc. II do Código de Defesa do Consumidor. Ademais,

cuida-se de direito à saúde, previsto no art. 6º da Constituição

Federal.

II - São inacumuláveis comissão de permanência e correção

monetária.

III - A reabertura do prazo de carência, sabendo-se que o

pagamento atrasado é feito com a correção monetária, constitui,

nos termos do art. 51, inc. IV da Lei nº 8.078/90, cláusula abusiva

por colocar o consumidor em posição exageradamente

desvantajosa, rompendo o justo equilíbrio entre direitos e

obrigações das partes contratantes.

IV - A suspensão da cobertura prevista no seguro, pelo simples

atraso no pagamento das prestações, é abusiva e iníqua, pois

coloca o consumidor em desvantagem tal que, mesmo adimplindo

sua parte no contrato, passa a ter a cobertura suspensa

automaticamente, isentando a parte forte de qualquer indenização

ou cobertura.”(TJDF – 43.909/97 - DESEMBARGADOR NÍVIO GONÇALVES - 23/09/1998)

E mais, está-se diante de restrições ao direito de saúde, de

vida, de dignidade, de uma criança que tem neste curto período de

desenvolvimento físico-mental sua chance de ao menos poder falar, andar e

raciocinar como seus semelhantes. A vedação a continuidade do tratamento

médico de Mikaelle traz apenas um avanço, o duro aumento dos índices de

pessoas com seqüelas físicas e mentais decorrentes da ausência de pronto e

necessário tratamento médico, não só pela deficiência do sistema único de saúde,

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que neste caso poderia socorrê-la, mas pelos abusos praticados pelos planos de

saúde em detrimento aos reais interesses de seus associados, duramente

confirmados pela imprensa nacional dia-a-dia.

A bem da verdade, a requerida está, com as abusivas

limitações aos tratamentos médicos recomendados, transferindo o ônus

contratado e remunerado pelo associado ao Poder Público, garantidor universal do

direito à saúde pública. Está recebendo por um serviço contratado e não prestado,

ao menos integralmente.

Lado outro, diz o artigo 201, inciso V, do Estatuto da Criança

e do Adolescente:

“Art. 201. Compete ao Ministério Público:

….......................................................................................................

V – promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção

dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infância

e à adolescência, inclusive os definidos no artigo 220, § 3º, inciso

II, da Constituição Federal.”

A assistência à saúde sendo direito de todos e indisponível,

contendo previsões que possam abalar um imensurável numero de pessoas,

legitima a ação do Ministério Público.

III - DO OBJETO DA AÇÃO

Conforme se depreende dos documentos em anexo, verifica-

se que a médica responsável, Dra. Camila Arantes Turci, em 23/10/2008, lançou

relatório justificando a necessidade de 08 (oito) sessões mensais de

fonoaudiologia, ante o comprometimento motor e de fala da criança Mikaelle,

tendo como resposta a negação do tratamento, sob a alegação de excesso do

limite de sessões previstas no contrato de adesão firmado entre a requerida e o

genitor da paciente.

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Justificativas estas, confirmadas quando das informações

prestadas pela requerida à este Órgão de Execução, através do Ofício 195/08,

onde assenta:

“Com base nesse limite legal trazido pela RN n. 167, que a

Unimed Goiânia, em 21.10.2008, não autorizou a nova solicitação

de sessão de fonoaudiologia, pois que, a criança já havia realizado

01 (uma) sessão em 16.09.2008 e mais 05 (cinco) sessões em

03.10.2008, tendo, portanto, atingido o limite de sessões

estabelecido na própria resolução”.

Mais adiante menciona:

“Como pode ser verificado por V.S., na parte do rol que trata das

sessões de fonoaudiologia que ora juntamos, o procedimento é

limitado a 06 (seis) sessões, não havendo, portanto, base legal para obrigar a Unimed Goiânia a autorizá-lo.”

Contrariamente ao trazido pela requerida, há inúmeros

dispositivos constitucionais e legais vertidos contra abusos praticados no cerne de

contratos de adesão, em especial, os firmados com as operadoras de Plano de

Saúde. Vejamos.

A questão em análise encerra simples solução em níveis

legais, pois diz respeito à validade de uma cláusula restritiva imposta em desfavor

de um contratante consumidor em contrato de adesão e a sua análise em sede

judicial.

Destarte, o nosso Código Civil estabelece em seu artigo 424:

“Art. 424 – Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que

estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante

da natureza do negócio.”

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Esse entendimento, que já restava disposto no artigo 51 do

Código de Defesa do Consumidor, visa respaldar justamente os atos abusivos

praticados pelas empresas prestadoras de serviço em geral em detrimento de

seus consumidores. E, obviamente, a relação entre o autor e a ré é de natureza

consumerista.

Não parece justo, isonômico, transparente e de boa-fé que os

usuários sejam obrigados a pagar as mensalidades assumidas, quer se utilizem ou não dos serviços médico-hospitalares ou dos tratamentos disponibilizados

com os demais profissionais de saúde, ficando, por outro lado, assegurado ao

plano de saúde limitar, desarrazoadamente, os serviços contratados, ou seja, as sessões de tratamento de fonoaudiologia, mesmo reconhecidamente necessárias, como é o caso mencionado, pouco importando quanto já foi pago

por esses serviços.

Ademais, vislumbra-se a mesma discussão polêmica do

passado, quando ocorria a limitação nos dias de internação dos pacientes,

discussão esta, que gerou a Súmula 302 do STJ. Vale ressaltar, neste particular,

decisão do ano de 1998, do eminente magistrado Cézar Peluzo, em trecho do

acórdão transcrito, a seguir: “tal cláusula põe o consumidor em desvantagem

injuriosa e ofende os princípios fundamentais do sistema, que o protege como

pessoa humana, ao decepar-lhe direito fundamental inerente à natureza do

contrato e aniquilar a função sócioeconômica, deste, que é a de garantir

pagamento das despesas médico-hospitalares indispensáveis ao resguardo,

preservação ou recuperação da saúde do aderente” (TJESP, Ap. Cível 57.169-4).

Na mais balizada doutrina, são consideradas abusivas todas

as condições que venham a atribuir vantagem excessiva a parte impositora,

gerando onerosidade em demasia ao contratante-aderente, de forma tal que entre

eles se estabeleça desequilíbrio contratual.

Não se busca uma paridade de condições radical, eis que aí

têm lugar os contratos de natureza gratuita. A despeito disso, não se olvida, Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Peixe -TO

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persegue a legislação a paridade das posições contratuais e o equilíbrio razoável,

norteados pelos princípios da eqüidade e da boa-fé.

Nos contratos de adesão, em regra, ocorre que a empresa

contratada, prevalecendo-se de sua posição dominante - para exonerar-se de

suas responsabilidades ou mesmo minorá-las – impõe ônus e deveres,

desestabilizando assim o esperado equilíbrio contratual, gerando, destarte, as

cláusulas abusivas.

Respeitante às cláusulas abusivas, leciona Paulo Luiz Neto

Lobo, em obra dedicada especificamente a elas:

“O sistema de proteção contratual estabelecido no Código de

Defesa do Consumidor visa assegurar o justo equilíbrio entre

direitos e obrigações das partes (art. 51, § 4º), em virtude do

desequilíbrio originário entre a predominância do poder contratual

do fornecedor-predisponente e a debilidade jurídica do aderente.

Tal desequilíbrio presume-se inexistir quando haja acordo paritário.

Em suma, não é qualquer contrato ou cláusula que se conclua

entre fornecedor e consumidor que fica sujeito ao regime das

cláusulas abusivas. Requer-se a natureza de condição geral.

Não é suficiente o acordo aparente, formal. A cláusula pode ter

aparência de negociada, sendo, em verdade, condição geral

predisposta. O acordo terá de ser efetivo, em bases paritárias,

cabendo ao fornecedor o ônus de prová-lo” (in Condições Gerais dos

Controles e Cláusulas Abusivas)

Na mesma batida, com a autoridade que lhe é peculiar,

analisando as cláusulas abusivas nos contratos de consumo, vem o eminente

Desembargador SÉRGIO CAVALIERI FILHO, segundo o qual: "Rompendo com

a clássica noção do contrato, o Código do Consumidor consagrou a

concepção social do contrato, no qual o elemento nuclear não é mais a

autonomia da vontade, mas sim o interesse social. A eficácia jurídica do

contrato não depende apenas da manifestação de vontade, mas também, e Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Peixe -TO

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principalmente, dos seus efeitos sociais e das condições econômicas e

sociais das partes que dele participam."

Como se pode concluir, o contrato de adesão prevê limites

de utilização dos serviços contratados pelo segurado, em que pese sua fruição,

urgente e imediata, estar atestada por profissional especializado, único habilitado

a traduzir a necessidade dos atendimentos médicos e as possíveis seqüelas de

sua não prestação.

Os contratos de adesão oferecem inúmeras vantagens às

relações contratuais, especialmente às relações de consumo, dentre as quais a

racionalização contratual, a redução de custos e a uniformidade. Entretanto, em

virtude de ter suas cláusulas predispostas por apenas uma das partes, a mais

forte, dá margem à existência de cláusulas abusivas, isto é, que atentem à boa-fé

e coloquem o consumidor em posição mais desfavorável do que a já possuída.

Neste sentido surgem as disposições legais já encetadas,

com o objetivo de proteger integralmente o consumidor em face do fornecedor,

determinando que se cumpra a igualdade contratual. Desta forma, no controle das

cláusulas contratuais, prevalecerá a boa fé. Excedendo tal princípio, será

considerada abusiva e sem eficácia.

E neste ponto, versando a espécie de contrato de adesão de

prestação de serviços de saúde, onde o aderente, em sua simplicidade interiorana,

presumiu estar adquirindo um completo e eficaz plano de saúde para si e sua

família – Plano Uni-Brasil, sem co-participação nacional –, verte tal cláusula nula

de pleno direito, em razão do disposto no artigo 51, inciso IV combinado com o

seu parágrafo 1º, do Código de Defesa do Consumidor, que dispõe:

“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas

contratuais relativas ao fornecimento de produtos ou serviços

que:

…..................................................................................................

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IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas,

que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou

sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade.

Parágrafo 1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a

vantagem que:

I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que

pertence;

II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à

natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou

equilíbrio contratual;

III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor,

considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse

das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.”

Na análise e avaliação das práticas exercidas pelas

operadoras de seguro-saúde, como é o caso da ré, deve-se ter em mente que

estas empresas atuam no mercado prestando um serviço de relevância pública,

delegado pelo Estado, como se constata pela leitura dos artigos 197 e 199 da

Constituição Federal, in verbis:

“Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde,

cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua

regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução

ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por

pessoa física ou jurídica de direito privado.”

“Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.”

Ao mesmo tempo em que é dado às operadoras de planos

de saúde, como é o caso da UNIMED Goiânia, a autorização pelo Estado para

explorarem uma atividade considerada de relevância pública - a assistência à Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Peixe -TO

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saúde - o Poder Público impõe às operadoras o dever de terem que obedecer às

diretrizes impostas pelos princípios e normas que regem a atividade.

Um destes princípios fundamentais está expresso no artigo

1.º, inciso III, da Constituição Federal, que prevê como um dos fundamentos da

República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana.

Analisando-se o artigo 1.º, inciso III, acima citado, com os

artigos 5º, caput e inciso XXXII e 196, todos da Carta Magna, conclui-se que o

nosso sistema jurídico visa instituir, como alguns dos direitos fundamentais do

consumidor, o direito à vida, à saúde e à dignidade como pessoa humana.

Vejamos o que dizem os dispositivos legais

supramencionados:

“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,

nos termos seguintes:

XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do

consumidor.”

“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado,

garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à

redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso

universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,

proteção e recuperação.”

Específico à matéria em questão, o artigo 4º, caput, do CDC,

confirma que um dos objetivos da Política Nacional das Relações de Consumo é o

“atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade,

saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Peixe -TO

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qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de

consumo.”

E mais especificamente, a lei 9.656 de 03 de junho de 1998,

com a redação dada pela Medida Provisória número 2.177-44 de 24 de agosto de

2001, em seu artigo 35 – C, expressamente determina:

“Art. 35 – C – É obrigatória a cobertura do atendimento nos casos:

I – de emergência, como tal definidos os que implicarem risco

imediato de vida ou de lesões irreparáveis para o paciente,

caracterizada em declaração do médico assistente;”(...)

Como restou demonstrado à saciedade, sob qualquer prisma

por que se analise a presente questão, é inteiramente abusiva e, como tal, ilícita a

negativa da ré em fornecer as sessões de fonoaudiologia que necessita a criança

Mikaelli Souza Dias, seu consumidor de plano de seguro saúde.

Assim sendo, qualquer cláusula contratual ou prática

exercida pelo fornecedor que afronte tais princípios e normas, diretrizes do

sistema de proteção à saúde e dignidade do consumidor, é nula de pleno direito, posto considerada abusiva, pois ofende aos princípios do sistema jurídico ao

qual pertence.

Na obra “Questões Controvertidas no Código de Defesa do

Consumidor – 2ª Edição, Editora Livraria do Advogado”, os autores Cláudio

Bonatto e Paulo Valério Dal Pai Moraes, dissertam sobre o conceito de práticas

comerciais abusivas:

“Práticas abusivas, para nós, são condutas, comissivas ou

omissivas, praticadas por fornecedores, nas quais estes abusam

de seu direito, violam os direitos dos consumidores ou infringem

de alguma forma a lei.”

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Na esteira deste entendimento é o comentário de Ricardo

Hasson Sayeg, ao definir práticas comerciais abusivas como sendo :

“os atos de fornecimento ou aqueles ocorridos em razão deles

realizados irregularmente por empresas com abuso de direito do

fornecedor, violação ao direito do consumidor ou infração à Lei,

desde que dentro dos limites da relação de consumo.”

Assim, as práticas comerciais abusivas podem surgir a partir

do desrespeito de quaisquer dos dispositivos do Sistema Protetivo ao Consumidor,

dependendo, isto sim, da conduta do fornecedor e desde que ela ofenda a algum

dos três aspectos supra-apontados.

A conduta praticada pela ré, de intervir ou impor restrições ao

procedimento recomendado pelo médico responsável pelo tratamento do paciente/

consumidor, negando-se a fornecer aos seus beneficiários sessões de

fonoaudiologia superiores a certo número contratualmente previsto, quando

aquele, e somente ele (profissional médico responsável pelo tratamento de saúde

do paciente) entende que no caso concreto é necessária a realização deste

tratamento sequencial, não podendo haver a substituição por qualquer meio

recuperador, ainda mais no grau de formação da paciente em comento, além dos

ricos duradouros que esta omissão poderá acarretar nos contrantes, revela-se

uma afronta aos princípios constitucionais e infra-constitucionais já referidos, além

de ameaçar o próprio objeto do contrato firmado entre fornecedor e consumidor,

que é a prestação de assistência à saúde, conforme as diretrizes e fundamentos

do nosso sistema jurídico.

A ré provavelmente, em sua defesa, irá argumentar, como já

antecipou em suas informações administrativas, que a própria Agência Nacional

de Saúde - ANS – na Resolução Normativa – RN n. 167, de 09 de janeiro de 2007,

ao regular a questão, impôs patamar de 06 (seis) sessões anuais de

Fonoaudiologia por segurado, estando legalmente respaldada na não assistência

ora ofuscada.

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Pois bem, busca a requeria se imiscuir de suas obrigações

trazendo a baila regulamentação da Agência Nacional de Saúde, cujos fins de

criação norteiam a proteção dos usuários de Plano de Saúde, hipossuficientes, e

não a tutela dos interesses das prestadoras deste serviço. Ou seja, o que se

regulamentou para garantir direitos aos cidadãos/consumidores está sendo

colocado aqui, como limitação legal aos deveres mínimos dos fornecedores de

serviços de saúde, i. é, a requerida.

Nesta senda, imperioso trazer à baila a própria RN n.

167/2008:

Art. 1 – Esta Resolução atualiza o Rol de Procedimentos e

Eventos de Saúde, que constitui a referencia básica para a

cobertura mínimo obrigatória da atenção à saúde nos planos

privados de assistência a saúde, contratados a partir de 1 de

janeiro de 1.999 e naqueles adaptados conforme a Lei n. 9.656, de

3 de junho de 1998, passando a se constituir em um rol de ações

em saúde, na forma dos Anexos I e II desta Resolução Normativa.”

Art. 2 – O Rol de Procedimentos e Eventos de Saúde, atualizado

por esta Resolução Normativa é composto por dois Anexos:

I – O Anexo I lista os procedimentos e eventos de cobertura

mínima obrigatória, respeitando-se a segmentação contratada;

II – (...)”

De se ver, que a Resolução expedida pela ANS, intitulada de

obstáculo legal ao deferimento do objeto em testilha, traz regramento (garantias

mínimas para aos consumidores, firmadores de contratos de adesão com

operadoras de plano de saúde) básico às Operadoras de Plano de Saúde, não

teto de cobertura, pois assim não fosse, sequer as seis sessões já realizadas pela

paciente teriam ocorrido.

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Ora, o contratante do plano, Sr. Manoel Francisco Dias,

buscou adquirir um Plano de Saúde de excelência para si e sua família, tendo

optado por plano nacional de cobertura ampla ao invés do plano referência, para o

qual a ANS crio as disposições mínimas retro citadas.

As previsões de coberturas mínimas estampadas pela

legislação de saúde, em especial as emitidas pela ANS, dirigidas às operadoras

de Plano de Saúde, são, como propriamente dito, garantias mínimas que devem

ser asseguradas aos beneficiários contratantes e não regras de exaustão. Ora,

estes patamares são realmente delineados para a proteção do

consumidor/contratante, dispondo-os de forma genérica, ficando as exacerbações

(necessidades) para cada caso concreto, pois os beneficiários adquirentes de

Plano de Saúde não utilizarão de todas as coberturas contratadas, apenas de

tratamentos médicos esporádicos e específicos, de acordo com o caso.

Sem ressalvas, conclui-se que quem deve definir a

quantidade de tratamento fonoaudiólogo é o profissional capacitado a tanto, em

decorrência das necessidades clinicas do seu paciente, sob pena de ferir o

principio da igualdade material, tutelador das relações privadas contratuais, em

especial os contratos de prestação de serviços de saúde – contratos de adesão –,

ou seja, não pode a UNIMED Goiânia lançar clausula taxativa genérica a milhões

de contratantes, possuidores de necessidades médicas diversas, cujo uso da

cobertura dependerá do caso concreto. Uma coisa é a Operadora de Plano de

Saúde disponibilizar serviços médicos mínimos ilimitados de justificação e outra é

impor-los aos contratantes como absolutos, independente da necessidade clinica

devidamente atestada por médico àquela conveniado, conforme quer se fazer no

caso em apreço.

Caso assim não se entenda, mais uma vez o consumidor,

parte mais vulnerável nas relações de consumo, estaria sendo extremamente

prejudicado, pois, quem decidiria sobre sua vida e sua saúde seria não o

profissional médico a quem confiou e quem avaliou as suas condições pessoais,

mas sim a Operadora de seu Plano de Saúde, com quem possui uma relação de Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Peixe -TO

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consumo na qual, a boa-fé esperada não se concretizou, a começar pelo contrato

assinado (fls. 62/64 das Peças de Informação em anexo), onde o Sr. Manoel, ao

aderir ao plano escolhido, pôs-se a alcunhar no rosto de uma folha de papel,

carente de informações básicas necessárias à adesão manejada, cujo caderno de

Informações não traz a limitação levantada, ou menos diretamente.

Os princípios e deveres anexos que asseguram as relações

de consumo não foram observados quando da confecção do referido contrato,

deixando inerte a clareza do objeto.

IV - DO PEDIDO LIMINAR

O artigo 273 do Código de Processo Civil, ao prever a

concessão da tutela antecipada, diz que :

“Art. 273. O Juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total

ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial,

desde que, existindo prova inequívoca, se convença da

verossimilhança da alegação e:

I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação;

ou

II – fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o

manifesto propósito protelatório do réu.”

O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), em

seu artigo 84, § 3º, traz previsão semelhante, autorizando o Magistrado a

conceder a tutela pretendida liminarmente:

“§ 3º. Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo

justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao

Juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia,

citado o réu.”Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Peixe -TO

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No caso em questão, presentes estão os requisitos

necessários ao provimento liminar.

O ajuizamento desta ação coletiva de consumo baseia-se nos

artigos 1º, inciso III; 5º, caput e inciso XXXII; 127; 129; 196; 197 e 199 da

Constituição Federal; nos artigos 1º, inciso II e IV, 5º e 12 da Lei nº 7.347/85; nos

artigos 4º, 6º, 81, 82, 83, 84 e 117 do Código de Defesa do Consumidor e no artigo

273 do Código de Processo Civil, além de fundamentar-se nos Princípios da

Dignidade da Pessoa Humana e da Vulnerabilidade do Consumidor e nos Direitos

Fundamentais à vida e saúde do consumidor.

Diante dos dispositivos legais e princípios citados, indiscutível

a extrema relevância do fundamento da demanda, a justificar a concessão da

tutela antecipada.

Há prova inequívoca e verossimilhança das alegações

sustentadas na presente ação, consubstanciadas nos documentos juntados aos

autos.

O não deferimento do pedido liminar poderá acarretar danos

irreparáveis à vida e saúde dos pacientes/consumidores lesados, sendo ineficaz o

provimento somente ao final da ação.

Um exemplo disso pode ocorrer no caso específico da

paciente/consumidora Mikaelle Souza Dias, situação que desencadeou a presente

demanda, a fim de tutelar os seus direitos e de outros pacientes/consumidores que

possam estar ou virem a ser prejudicados com a prática abusiva da ré.

Caso não seja concedida a liminar, muitos consumidores que

necessitarem - embasados por relatório circunstanciado de médico conveniado à

ré – da realização de sessões excedentes àquelas estipuladas pela Agência

Nacional de Saúde, na Resolução Normativa n. 167/2008, cujo objetivo é Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Peixe -TO

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assegurar garantias mínimas a usuários de Planos de Saúde, diante da prática

abusiva da ré de intervir ou impor restrições ao procedimento recomendado por

médico assistente - e conveniado –, terão que arcar com o custo do tratamento

sob pena de galgarem lesões irreversíveis ou irem a óbito, além da imensurável

violação do principio da dignidade da pessoa humana.

Ou será que o Sr. Manoel Francisco Dias, após pagar mais

de 65 (sessenta e cinco) parcelas, o que corresponde, utilizando-se o valor

previsto no contrato, a mais de R$ 18.250,00 (dezoito mil e duzentos e cinquenta

reais), conseguirá arcar com as imprescindíveis sessões de fonoaudiologia para

sua filha Mikaelle, tratando-se de pessoas com parcas condições financeiras?

Obviamente não.

Nesta senda, imprescindível a colação de recente decisão

proferida pelo Titular da 2.ª Vara Cível da Comarca de Gurupi-TO, Dr. Saulo

Marques Mesquita, em idêntica ação manejada pelo Ministério Público do Estado

do Tocantins contra a UNIMED Gurupi, onde ao antecipar a tutela requestada

assim se manifestou (decisão em anexo):

“O justificado receio de ineficácia da medida também se mostra

evidente. Em se tratando de saúde, não se pode impor à população

o diferimento de seus direitos, afinal, a natural demora do processo

poderia inviabilizar o acesso a tratamentos imprescindíveis,

expondo a risco a incolumidade e a vida dos consumidores do plano

de saúde em tela.

Assim, pelo menos em princípio, a conduta da ré apresenta-se

abusiva. Naturalmente, terá oportunidade para demonstrar o

contrário, durante a ordinária instrução do feito. No entanto,

enquanto isso não ocorre, deve abster-se da conduta que

atualmente impõe a seus clientes.”

A confirmar o decisório, o Tribunal de Justiça do Estado do

Tocantins, nas penas do Desembargador Carlos Souza, assim se manifestou

(acórdão em anexo):Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Peixe -TO

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“O tratamento medico e medida urgente, valendo ressaltar que,

mesmo havendo laudo médico silenciado quanto à urgência, sem

duvida, deve-se zelar pela saúde a qualquer tempo, sempre, o

mais rápido possível. Afinal de contas, deve-se respeito ao

principio da dignidade da pessoa humana.

Por fim, sem adentrar às questões mais aprofundadas, evitando-se

assim, a antecipação do mérito da causa, quadra gizar que, não

vislumbro, na decisão guerreada, a ausência dos requisitos

autorizadores da medida deferida, sequer falta de razoabilidade.”

Diante do exposto, resta imprescindível a antecipação da

tutela requestada na presente demanda.

V - DOS DEMAIS PEDIDOS

Isso posto, requer o Ministério Público :

a) a concessão do pedido liminar, inaldita altera pars,

determinando à ré a obrigação de não fazer, consistente em abster-se de intervir

ou impor restrições ao procedimento recomendado por médico assistente,

autorizando as sessões de fonoaudiologia devidas para o correto tratamento dos

pacientes/conveniados que delas necessitem para evitar trauma grave e

irreversível, começando pela paciente Mikaelle Souza Dias, sob pena de multa no

valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por cada evento, a ser revertida para o

Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos - FID, criado pela Lei Estadual

1.250/2001, por força do seu art. 2º, conforme determina o art. 13 da LACP e art.

100, parágrafo único, do CDC.

b) a citação da requerida, no endereço exposto na exordial,

na pessoa de seu representante legal, para querendo, conteste a presente ação,

sob pena de revelia e confissão;

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c) a publicação do edital previsto no artigo 94 do Código de

Defesa do Consumidor, fixando-se o prazo de 20 (vinte) dias para que os

interessados possam intervir no feito como litisconsortes;

d) a produção de provas pelos meios admitidos no Direito,

invertendo-se o ônus da prova, de acordo com o artigo 6º, inciso VIII, do Código

de Defesa do Consumidor;

e) a condenação da ré ao pagamento das custas judiciais;

f) Por fim, postula a procedência integral da demanda,

com a confirmação e extensão do pedido liminar.

VI - VALOR DA CAUSA

À presente causa atribui-se o valor de R$1.000,00 (mil

reais), para os fins necessários.

Peixe-TO, 16 de dezembro de 2008.

LEONARDO GOUVEIA OLHÊ BLANCK

Promotor de Justiça Substituto

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