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PROMOVENDO O AUTO-C UIDA DO - TREINAME NTO E ASSISTÊ NCIA DE ENFERMAGEM A PACIENT�S PORTADORES DE BEXIGA NEUROGÊNIC A* Maria Augusta Junqueira Azevedo* * Ma Lui d a Silveira Sta Ma*** Lui Maria Alonso Soler**** RESUMO - Neste trabalho, as autoras fazem algumas considerações sobre a execução da assistência de enfermagem especificamente à pacientes portadores de Bexiga Neurogênica. A individualidad e de cada paciente é considerada para que os mesmos adquiram independência no auto-cui da do e convivam da melhor maneira possfvel com as suas limitações, facilitando, desta forma, sua reintro- dução na vida familiar e social. Apresentam uma sond a de vidro confeccionada no Hospital das Clfnicas da Faculdade d e Medicina de Ribeirão Preto, utilizada so- mente para pacientes do sexo feminino, tentando e stabelecer e desenvolver um programa de orientação ao auto-cateterismo intermitente. ABSTRACT - The authors make some consideration about a nurse assistance program specialy designed for those patients with neurogenic bladder. The individuality of each patients is considered so they can become independent regarding to their self-carefulness, getting along and even over coming certain limitations, facilitating their reintroduction in the social and familial enviroument. A new desice is introduced. It is a glass bu ilt probe for f emale patients. This device was designed and assembled at the Hospital das Clfnicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. It will m ake possible to st art and develop . an orientation al and self-probing p rog ramo 1 INTRODUÇÃO A expreso "Bexiga Neurogênica" é usada habi- tumente designar disfunção vesic decorn de lesão do sistema nervo. LEVY 1 o afa que es expssão é incorta, pois significa que a xiga orina do sistema nervoso; o corto sea - disfunção vesic de origem neurológica. No entto, a mo dos autos pfere o teo bexiga neurogênica. Segundo BORELLP "a micção no está su- jeita a mecismos voluntos e voluntios, deפn- dentes de centros neosos que se esconam desde o córtex cebr até o plexo-inco da p vesi- c. Assim, ququer leo nervosa que interf rra ness mismos causá modificação no funcionento da bexiga. Tereos então uma disfunção vesic de ori- gem neurológica, ou uma "xiga neugênica". De ordo com BORS2 "As lesões do sistema nervoso que interfem na micção em ser de ts s: 1 - neur�n motor superr, qudo estão lo- c a da medula sra, conrvdo rt- to a avide reflexa vesic. 2 - neur�n motor inferr, qudo a leo é ' abxo da medula sra, não havendo flexividade , vesic. 3 - o do tipo m to, caractea por disso- ciação de atividade ent o sistema autÔnomo e somá- co - sendo esta "ms rara". São m61tipl as causa- d da Bexiga Neurogênica, que dem ser de ogem adquirida ou congênita. BORS 2 salienta que qualquer lesão nervo, que inrf rra nos manismos pr6prios da xiga, causá modificações no seu funcionamento, indeפnden da cau que levou ao problema neoso. SHAPIRO et i1 3 af que entre inúr anomalias congêni desc-se do denvolvi- mento raquimedular. F pte deste grupo a espina bffica (meningeles, mielomeningele) que mui vezes está assia à hidrefia. D caus adquirid de-se citar as de origem orgânica c o mo: tumores, idente vular cerebr, acidente vcular mular, infções (menintes, mie- lites, encefit e s e outr). As de origem mânica são todos os s de traumasmos, ocionados r i- dentes automobcos, mergulhos em piinas, rios * Pmio Cin Vidal - 2� Lug - 41 � Con Bile de Enfeagem - Flori6lis-SC ** Dira do Seiço de Enfeagem de Andim Inado e Esialido - DE.4 - da Divio de Enfeagem do Hoi Clfni da Fuldade de Medic de Riio Preto da Univeidade de São Paulo . *** Enfeagem da S de Atendimen IV -Ambulario de Cigia Hospil Clfnic da Faculdade de Micina de Ribeio Pto da Univeidade de São Paulo **** Enfeeira da S de Andim IV - Ambulario de Endoopia do Hospil arnic da Faculdade de Medicina de Ribei P da Univeidade de São Paulo 52 R. B. Enfe., Bfiia, 43 (1, 2, 3/4): 52-57, janJdez. 19Z

PROMOVENDO O AUTO-CUIDADO - TREINAMENTO E

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PROMOVENDO O AUTO-CU IDADO - TRE INAMENTO E ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A PACIENT�S PORTADORES DE BEXIGA NEUROG ÊNICA*

Maria Augusta Junqueira Azevedo** Maria Luiza da Silveira Santa Maria*** Luiza Maria Alonso Soler****

R ESUMO - Neste traba l ho , a s autoras fazem a l g u m as cons ide rações s o b re a execução d a a s s i stênc ia de enfermagem e s pe ci f icamente à pac iente s po rtad o re s de Bex iga Ne u rogên ica . A i n d i v id u a l idade d e cada pac iente é cons ide rada para que o s mesmos adquiram i ndependên c i a n o auto-c u idado e conv ivam d a m e l h o r m a n e i ra poss fve l c o m a s suas l i m itações , fac i l i tando , desta forma, s u a re in t ro­du ção n a v ida fam i l i a r e soc ial. Apresentam uma sonda d e vidro confecc ionada no Hos p ita l das C l fn i c a s d a Fac u l d ade de Med ic i na d e R i be i rão Preto , u t i l i zada so­m e nte para pac iente s do sexo fem i n i n o , te ntando e stabe lecer e d e s e n vo lve r um programa d e or ien tação ao auto-catete r ismo i n term i tente.

ABSTRACT - T h e authors make some cons ide rat ion about a n u rse a s s i stance p rog ram spec ia ly d e s ig n e d fo r those pati ents with neu ro g e n i c b ladder . The i nd iv idua l i ty of each pat ients i s cons ide red s o they can become i ndependent reg a rd i n g to the i r s e lf-carefu l n es s , g etti n g a long a n d eve n over com ing c e rta in l i m itat ion s , fac i l i tat in g the i r re i ntrod u ct ion in the soc ia l and fami l ia l e n v i ro u m e nt . A new des ice i s i ntrod u ced . It i s a g la s s bu i l t probe for female p at ien ts . T h i s dev ice was d e s ig ned and assemb led at the H o s p ital das C l fn icas d a Facu ldade d e M e d i c i n a d e R i b e i rão Preto . I t wi l l m a k e pos s i b l e t o start and deve l o p . an or ientat iona l and s e l f-p rob ing p rog ram o

1 I NTRODUÇÃO

A expressão "Bexiga Neurogênica" é usada habi­tualmente para designar disfunção vesical decorrente de lesão do sistema nervoso. LEVY 1 o afmna que esta expressão é incorreta, pois significa que a bexiga se origina do sistema nervoso; o correto seria - disfunção vesical de origem neurológica. No entanto, a maioria dos autores prefere o tenno bexiga neurogênica.

Segundo BORELLP "a micção nonnal está su­jeita a mecanismos voluntários e involuntários, depen­dentes de centros nervosos que se escalonam desde o córtex cerebral até o plexo-intrÚlseco da pàrte vesi­cal. Assim, qualquer lesão nervosa que interfrra nesses mecanismos causará modificação no funcionamento da bexiga. Teretnos então uma disfunção vesical de ori­gem neurológica, ou uma "bexiga neurogênica".

De acordo com BORS2 "As lesões do sistema nervoso que interferem na

micção podem ser de três tipos: 1 - neur�nio m otor superior, quando estão lo­

calizadas acima da medula sacra, conservando portan­to a atividade reflexa vesical.

2 - neur�nio motor inferior, quando a lesão é

' abaixo da medula sacra, não havendo reflexividade , vesical.

3 - lesão do tipo m isto, caracterizada por disso­ciação de atividade entre o sistema autÔnomo e somá­tico - sendo esta "mais rara". São m61tiplas as causa­das da Bexiga Neurogênica, que podem ser de origem adquirida ou congênita.

BORS 2 salienta que qualquer lesão nervosa, que interfrra nos mecanismos pr6prios da bexiga, causará modificações no seu funcionamento, independente da causa que levou ao problema nervoso.

SHAPIRO et alii1 3 afmnam que entre inúmeras anomalias congênitas destacam-se as do desenvolvi­mento raquimedular. Faz parte deste grupo a espina bffica (meningoceles, mielomeningocele) que muitas vezes está associada à hidrocefalia.

Das causas adquiridas pode-se citar as de origem orgânica como: tumores, acidente vascular cerebral, acidente vascular medular, infecções (meningites, mie­lites, encefalites e outras). As de origem mecânica são todos os tipos de traumatismos, ocasionados por aci­dentes automobilísticos, mergulhos em piscinas, rios

* Prêmio Zaira Cintra Vidal - 2� Lugar - 41 � Congresso Brasileiro de Enfermagem - Florian6polis-SC ** Diretora do Serviço de Enfermagem de Atendimento Integrado e Especializado - DE.4 - da Divisão de Enfermagem do

Hospital das Clfnicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo . *** Enfermagem da Seção de Atendimento IV -Ambulaldrio de Cintrgia do Hospital das Clfnicas da Faculdade de Medicina de

Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo **** Enfermeira da Seção de Atendimento IV - Ambulaldrio de Endoscopia do Hospital das arnicas da Faculdade de Medicina

de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

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ou lagos, annas de fogo, ánna branca e outros. CASS, SPENCE5, citam que as principais

conseqüências da disfunção vesical são representadas por hidronefrose, refluxo vésico-uretral e grau varia­do de incontinência ou retenção urinária. Ressalta ain­da, que a infecção urinária está presente em todos os casos de disfunção vesical, como conseqüência do es­vaziamento incompleto da bexiga.

Atualmente a bexiga neurogênica é classificada pela resposta ou ação vesical e não pelo tipo ou locali­zação da lesão neurol6gica. Esta classificação é ini­cialmente proposta por Mc LELLAN 1 1 e popularizada por NESBIT et alii1 2•

Diferentes problemas neurol6gicos podem, então, resultar em uma "resposta"'semelhante da bexiga, isto é, bexiga neurogênica do tipo não Inibida, Reflexa, Paralítico-motora, Paralítico-sensitiva e autÔnoma.

Para melhor classificação do tipo de bexiga neu­rogênica, é importante considerar alguns componentes funcionais da bexiga normal, tais como:

'

- a micção pode ser iniciada ou interrompida vo­luntariamente;

- a sensação vesical para "quente" ou "frio", as­sim como a distensão está intacta;

- a primeira solicitação para esvaziamento da be­xiga ocorre, normalmente, com 150 m1 de urina;

- a capacidade vesical varia entre 350 a 500 mil; - a pressão endovesical permanece baixa durante

o enchimento gradual da bexiga, até que a capacidade total esteja preenchido (o músculo liso tem a proprie­dade de "acomodação");

- contrações não inibidas não devem ocorrer; - o reflexo bulbocavernoso está presente; - a sensibilidade perineal permanece. Podem ser usadas algumas modalidades diagn6s­

ticas como o teste de água gelada, eletromiografia e exames urodinâmicos para esclarecimento de difllcul­dades relacionadas do tipo de bexiga neurogênica. Es­tes testes ou procedimentos são realizados pela equipe médica no momento da avaliação do paciente.

Os pacientes com essa disfunção de modo geral utilizam-se da sondagem vesical de demora para que haja eliminação do volume de urina residual a qual freqüentemente pode acarretar infecção urinária.

Sabe-se porém que a sondagem vesical de demora pode trazer algumas conseqüências, tais como: ffstu­las, infecções, bem como podem tornar a bexiga inelástica dificultando a reeducação da função vesical.

Baseado nisto o cateterismo intermitente tem sido recomendado como o método de escolha para promo­ver o esvaziamento e a reeducação vesical.

GUTTMAN e FRANKEU foram os precursores desse método. Em 1966 realizaram um estudo durante 10 anos com 476 pacientes com lesão medular, utiliza­ram o cateterismo intermitente com técnica rigorosa­mente asséptica.

COMARR 6 em 1 972 introduziu o cateterismo vesical intermitente realizado por técnicos ou pelos próprios pacientes utilizando uma técnica asséptica menos rigorosa.

LAPIDES et alii", baseados na teoria de que os fatores de resistência do hospedeiro e o mecanismo vesical são mais importantes na prevenção de infecção urinária do que a introdução da bactéria no trato urinário de pacientes com bexiga neurogênica , intro­duziram o método do auto-cateterismo vesical inter-

mitente pela técnica limpa, não estéril, que consiste na introdução de uma sonda limpa, previamente lavada com água e Sabão.

Existe uma tendência maior da aceitação deste ti­po de procedimento pela facilidade de sua utilização fora 'de casa e por condizer com a realidade s6cio­econômica da maior parte dos pacientes portadores de bexiga neurogênica.

KUGA 8 , recomenda que o volume drenado é o que determina a periodicidade do cateterismo, isto é, caso a drenagem seja maior que 250 ml, faz-se catete­rismo a cada 4 horas, se menor a cada 6 horas. ,É re­comendado por LAPIDES" que o volume nunca ul­trapasse a quantidade de 400 mI.

Diante do número de pacientes portadores de Be­xiga Neurogênica que chegavam ao ambulat6rio de Urologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, observando que a equipe médica orientava esses pacientes de diferentes formas, surgiu a preocupação por parte das enfermeiras, de sistematizar o acompanhamento e as orientações a es­ses pacientes.

2 OBJ E T I VO

Estabelecer e desenvolver um programa de orien­tação ao auto-cateterumo intermitente em pacientes portadores de Bexiga Neurogênica, visando a reedu­cação da função vesical, facilitando sua reintrodução na vida familiar e social.

3 METODOLOG I A

Este estudo foi desenvolvido no ambulat6rio de Bexiga Neurogênica do Hospital das Clínicas da Fa­culdade de Medicina de Riberão Preto em um con-sult6rio disponível. ,

Os 29 pacientes incluídos no programa incialmen­te eram avaliados pelo médico urologista, após exame físico, exames laboratoriais de uréia, creatinina, urina tipo I, urocultura, urografia excretora, uretrocistogra­fia miccional e urodinâmica. Constatada a indicação do auto cateterismo o paciente era encaminhado à en­fermeira.

Etapas do P rograma de Reeducáção vesical

A enfermeira solicitava ao paciente informações relativas ao funcionamento da bexiga antes da insta­lação da lesão medular, avaliação da sensibilidade, se há sensação de bexiga cheia e conseqüentemente von­tade de urinar.

O aspecto psicol6gico foi considerado à medida que não iniciávamos a orientaç�o e treinamento da técnica propriamente dita quando o paciente referia "medo", "insegurança" etc.

Após esta fase iniciava-se a orientação através de um diálogo com o paciente e a fanúlia, onde eram transmitidas noções de anatomia e fisiologia do apare­lho urinário, noções de assepsia, a necessidade e im­portância da bexiga ser esvaziada em intervalos freqüentes através de uma sonda vesical. Neste mo­mento era apresentado o material a ser utilizado; a sonda vesical de "vidro" para pacientes do sexo femi­nino e sonda vesical nelaton para o sexo masculino . .

Eram enfatizados os. beneficios advindos desta

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técnica e as dóvidas apresentadas, repondidas, apro­veitando para enfocar a necessidade de grande quanti­dade de líquidos para a manutenção de um bom fun­cionamento renal.

Proporcionava-se ao paciente o reconhecimento de seu 6rgão genito-urinário, de maneira que a enfer­meira pudesse iniciar o desenvolvimento da técnica do cateterismo intermitente limpa.

Inicialmente a técnica era demonstrada passo a passo pela enfermeira com a devolução da mesma pelo paciente ou familiar que o acompanhava; coIbia-se urocultura antes de iniciar o auto-cateterismo, escla­recendo que a técnica é distinta para os sexos masculi-

4 R ESULTADOS E COMENTÁR IOS

no e feininino, descritas nos anexos I e 11. A orientação era feita para que a sondagem vesi­

cal fosse realizada a cada 3 horas, observando se havia perda de urina nos intervalos, quantidade de urina drenada, características das mesmas, higiene fotima, lavagem das mãos, manutenção e conservação da son­da. Solicitávamos a observação de todas as inter­corrências e dificuldades existentes a fun de que pudéssemos alterar o programa conforme a necessida­de; marcava-se retorno com a enfermeira 'em uma se­mana para avaliação e alterações necessárias.

Mensalmente o paciente era avaliado pela enfer­meira e pelo médico com controle de uroculturas.

TABELA I - Distribuição dos pacientes portadores de Bexiga Neurogênica, segundo as causas que o levaram a uma disfunção vesical e sexo, atendidos no Ambulatório de Urologia, outubro de 1986 a maio de 1989 - Hospital das Clfoicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

* causas que levaram � disfunção vesical Masc. Fem. Total

Mielomenin2occle Acidente de carro Mielite transversa Ese..,ina bffida ACldente de moto Ferimento p/arma de fogo MlelOradecuIopatía Tumor medular Neurofibromatose Outras Total

Conforme mostra a Tabela I, as causas que po­dem levar a uma disfunção vesical são variadas. Evi­denciou-se ainda que não há predominância do sexo feminino nos casos estudados, conforme preconiza a literatura consultada.

Os 7 pacientes do sexo masculino utilizaram a sonda vesical nelaton para a realização do auto Catete-

2 8 10 1 5 6 - 2 2 - 2 2 1 - 1 1 - 1 - 1 1 - 1 1 - 1 1 - 4 4. 5 24 29

rismo. Das 22 pacientes do sexo feminino apenas duas .

fizeram uso da sonda nelaton, pois as mães não se sen­tiram seguras para usar a sonda de vidro. . A sonda de vidro é confeccionada no proprio

Hospital das Clfoicas e fornecida às pacientes que rea­lizam o auto-cateterismo.

TABELA lI - DistribUição dos pacientes portadores de Bexiga Neurogênica atendidos no ambulatório de Urologia, segundo intervalo de tempo de cateterização · e sexo, de outubro de 1986 a maio de 1989 no Hospital das Clfoicas da Faculdade de Medicina de I.Ubeirão Preto da Universidade de São Paulo.

' � intervalo de tempo .

1 2 em 12 horas 8 em 8 horas 6 em 6 horas 4 em 4 horas 3 em 3 horas Total

• CaUSlis da diafimçAo

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Masc. 1 2 1

-

-4

Fem. Total � 3

1 3 6 7 1 1

1:) 15 25 29

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Na Tabela II o paciente que utilizou o auto cate­terismo a cada 1 2 horas apresentou vontade de urinar, usando o coletor de urina nos intervalos; apreSentou um alto fndice de infecção urinária em vista do volume residual existente. O cateterismo intermitente era rea­lizado pela esposa.

As pacientes de sexo feminino que utilizaram o auto-cateterismo a cada 12 horas eram crianças e per­diam urina nos intervalor. Os resultados das urocultu­ras foram n�gativos e as -mães é que realizaram as sondagens.

Três pacientes realizaram a sondagem a cada 8 horas; no primeiro deles a sondagem era feita pela es­posa, sendo que a cultura apresentou contaminação por E. coli, necessitando o paciente de quimioprofIla­xia; o segundo paciente era sondado pelo pai e as cul­turas foram negativas. A terceira paciente, do sexo feminino, permaneceu um período longo com sonda vesical de demora com infecções urinárias repetidas. Ap6s o início do auto-cateterismo apresentou três re­sultados de cultura com contaminação, recebeu trata­mento e até o momento as culturas estão negativas.

Das sondagens realizadas a cada 6 horas uma pa­ciente apresenta bastante resistência ao tratamento, não fazendo controle de urocultura e apresentando in­fecções urinárias freqüentes, necessitando alterar a sondagem para 4 horas. Mesmo apresentando cultura negativ�, a paciente continua fazendo uso de quimio­profIlático, fato este, talvez decorrente das próprias dificuld�des e re�istência que a paciente apresentou para aceItar as onentações e realizar o cateterismo em intervalos menores.

Um paciente apresentou culturas positivas com perda de urina nos intervalos, alterou-se a sondagem para o intervalo de 3 em 3 horas e as culturas torna­ram-se negativas.

Uma paciente foi orientada na enfermaria a usar sonda de vidro e as infecções urinárias persistiram até novembro de 1988. Não mais compareceu para ava-liação.

.

As quatro pacientes restantes apresentaram no período de dois anos uma média de quatro epis6dios de contaminação por E. coli, foram tratadas e atual­mente as culturas permanecem negativas.

A paciente que realizava a sondagem a cada 4 ho­ras é menor de idade, iniciou o cateterismo com nela­ton em junho de 1988, necessitou' colher urocultura a cad� 1 5 dias em vista das contaminações e infecções perSIStentes. Em novembro a mãe concordou em utili­zar a sonda- de vidro e as culturas tornaram-se negati­vas.

Das pacientes que realizaram a sondagem li cada 3 horas, ape!1as uma é resistente ao tratamento; pa­ciente de difícil entendimento e realiza técnica incor­reta apresentando infecções urinárias freqüentes. Des­te mesmo grupo de 15 pacientes, sete delas não mais compareceram para avaliação e, na época, apresenta­vam infecção urinária, recebendo tratamento quimio­profIlático. As sete pacientes restantes no início do

au�o-�a�terismo apresentaram episódios de infecção �rinária mtercaladas com contaminação por E.coli; ul­timamente as culturas estão negativas.

Do total de 29 pacientes podemos afirnIar que 20 d�les ating� o

_objetivo proposto por n6s, eviden­

CIadO pela aplicaçao da técnica correta de auto-catete­rismo e conseqüente diminuição de infecções urinárias e contaminações.

Duas pacientes que apresentaram resistência ao desenvolvimento do auto-cuidado, talvez necessitas­sem de um outro tipo de abordagem.

Quanto às sete pacientes que abandonaram o pro­grama, no momento estamos procurando chamá-las de volta ao programa através de cartas. Caso isto não ob­tenha resultado, tentaremos através do Serviço de En­fermagem de Satíde Ptíblica realizar uma visita domi­c� e verificar em que condições se encontram estas pacIentes.

5 CON S I D E R AÇÕES F I N A IS

É necessária a conscientização do paciente de sua limitação na eliminação vesical; portanto devemos es­timular para que ele se torne responsável pela manu­tenção das condições ideais de esvaziamento da bexi­ga; essa conscientização deve ser extensiva aos fami­liares que cuidam dos mesmos.

É muito importante a participação ativa do pa­ciente para que possa se tornar independente.

As dificuldades são enormes, a persistência da enfermeira, nas orientações junto ao paciente e sua família são de extrema importância, sendo este um processo demorado pode levá-los, enfermeira e pa­ciente, ao desânimo e a vontade de desistir, pois no decorrer do programa depara-se com frustações e de­cepções.

Nosso trabalho encontra-se em processo de con­tinuidade, cabendo salientar que as condições encon­tradas para o desenvolvimento da técnica do auto-ca­teterismo não são adequadas pois não se dispõe de um local próprio, utilizando-se de um consult6rio disponí­vel para a orientação e treinamento do paciente.

A utilização correta da técnica pode permitir ao indivíduo recuperar a função dentro de um período de tempo mais curto. _

Para que o acompanhamento do paciente seja mais eficaz, solicitaremos uma visita domiciliária ao Serviço de Saúde Pública existente na Instituição e di­vulgaremos os resultados do trabalho à toda Divisão de Enfermagem para maior interação e uniformidade nas orientações.

Cientes da nossa função educativa e acreditando no processo de reeducação vesical pretendemos conti­nuar o programa buscando aprimorá-lo. E desta ma­neira esperamos alcançar uma melhor assistência ao paciente, promovendo seu auto-cuidado.

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A N EXO I

T ÉC N I C A DO AUTO-CATETER I S MO I NTER MITE NTE PARA PAC I E NTES DO S EXO F E M I N I NO

- lavagem das mãos - decúbio dorsal, semi-sentada, pernas fletidas e joelhos separados - coloca-se o espelho entre as pernas para melhor visualizaç�o do meato urinário - exposição dos 6rgãos genitais - higiene íntima com água corrente e sabão no sentido antero-posterior - com a mão esquerda separa os pequenos lábios - visualiza o meato urinário - com a mão direita introduz a sonda vesical de vidro vagarosamente até a saída da urina - deixar a urina escoar no recipiente pr6prio ou vaso sanitário - aguardar toda a saída da urina - puxar a sonda vagarosamente para garantir a saída de toda a urina - fazer uma leve compressão sobre o abdomen para o completo esvaziamento da bexiga - retirar a sonda de vidro cuidadosamente

-

- medir o volume urinário - observar cor, odor e características da urina - lavar a sonda-com água corrente e sabão - ferver durante 10 a 15 minutos - secar e �uardar em um recipiente limpo ou envolvido em um pano limpo passado a ferro. Observação: � É reforçada a importância de as serem curtas e limpas para evitar contaminação e traumatismo. tlSmo .

• A posição utilizada pela paciente ficará a seu critério, desde que sejam obedecidos os princípios de higiene

A N EXO 1 1

T ÉC N I C A DO AUTO-CATETE R I S MO I NT E R M IT E N T E PARA PAC I E NTES DO S EXO MASCUL I NO

- lavagem das mãos - decúbito: sentado - exposição dos genitais

. .

_ higiene íntima com água corrente e sabão, reforçando a limpeza da glande pelo menos uma vez ao dIa _ colocar o pênis em posição perpendicular ao abdomen - lubrificar a uretra cOm xylocaína gel _ introduzir a sonda de nelaton n� 12 vagarosamente até a saída da urina - voltar o pênis em posição paralela ao abdomen - deixar a urina escoar no recipiente próprio - aguardar a saída de toda a urina . - puxar a sonda vagarosamente para garantir a saída de toda a urina . .

_ fazer uma leve cdmpressão sobre o abdomen para o compl!!to esvazIamen.to da beXIga - retirar a sonda nelaton cuidadosamente - medir o volume urinário - observar cor, odor e características da urina - lavar a sonda com água corrente e sabão - ferver a sonda durante 10 a 15 minutos _ secar e guardar num recipiente limpo ou envolvido em um pano limpo passado a ferro.

A N EXO 1 1 1

C R I A N ÇAS QU E UTI L I ZA M DO AUTO-CATETE R I S MO

- Em casos de crianças a técnica é orientada para pessoa responsável que irá executar o procedimento. Em crianças do sexo feminino com menos de 6 meses de vida utilizamos as sondas nelaton n�s 6, 8 ou 10 para depois introduzirmos a sonda de vidro.

56 R. Bras. Enfenn., Brasflia, 43 ( 1 , 2, 3/4): 52-57, janJdez. 1 990

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R EF E R Ê N C IAS B I B L IOG R Á F I CAS

1 BORELLI, M. Cirurgia do refluxo vesico-ureteral, tlssocia­da ao treinamento vesical na bexiga neurogênica congê­nita (neuronio motor inferior). Tese apresentada à Fa­culdade de Medicina da Universidade de São Paulo -USP, para concurso de livre docência da disciplina de Urologia de Cl!nica Cin1rgica, São Paulo, 1976.

2 BORS , E., COMARR, A.E. Classification N.eurological Urology Baltimore: University Park Press, 197 1 .

3 CAMPEDELLI, M.C. e t alli Processo de Enfermagem na prdtica. 1 ed. São Paulo: Ática, 1989. capo 4, p. 43-56.

4 CARVALHO, E.R. et alli. Bexiga Neurogênica um pro­blema de enfermagem. Revista Brasileira de Enferma­gem 29: 40-44, 1976.

5 CASS , A.S., SPENCE, A.R. Urinary incontinence in mye­Iomeningocele. J. Urol. l 10: 1 36- 1 37, 1 973.

6 COMMAR, A.E. lntemrittent catheterization for the trau­matic cord Bladder patient. J. Urol. l07: 762-765, May 1972.

7 GUT TMAN, L., FRANKEL, H. The value of intemrittent catheterization in the early management 01 traumatic

paraplegia and tetraplegia. Paraplegia, 4: 63-84, 1 966.

8 KUGA, C.K. Assistência de Enfermagem a pacientes com traumatismo da coluna vertebral darso-Iombar. 1 986 (mimeografado).

9 LAPIDES , J. et alli. Clean, intemrittent self-catheterization in the treatment of urinary trart disease. J. Urol. 107: 458-461 , Mar., 1972.

10 LEVY, J.A. Cistometria: seu valor no diagnóstico de alecções neurológicas. São Paulo: Faculdade de Medi­cina da USP, 1958, 257 p. Tese (Doutorado).

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