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Pronunciamento do senador Armando Monteiro Efeitos danosos da substituição tributária sobre as micro e pequenas empresas 27/03/2012 Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, No momento em que discutimos reformas importantes no nosso sistema tributário - tais como as mudanças no ICMS, no âmbito do Projeto de Resolução nº1 de 2013, a ampliação da desoneração da folha de salários, a compensação aos exportadores de resíduos tributários ao longo da cadeia produtiva, o chamado Reintegra - e ainda a perspectiva de uma ampla mudança na legislação do PIS-Cofins, creio que seja fundamental esta Casa se inspirar no exemplo de um modelo de sucesso, que foi acolhido e aplaudido por todo País, que é a Lei Geral das Micro e Pequenas. Os seus princípios são norteadores e estão em linha com o que existe de mais moderno e eficiente em termos de sistema tributário: a simplificação – quando se unifica o recolhimento de oito impostos, seis federais e mais o ICMS, estadual e o ISS, municipal; a progressividade alíquotas 1

Pronunciamento efeitos danosos da st sobre as micro e pequenas empresas

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Pronunciamento do senador Armando Monteiro

Efeitos danosos da substituição tributária sobre as micro e pequenas empresas

27/03/2012

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores,

No momento em que discutimos reformas importantes no nosso

sistema tributário - tais como as mudanças no ICMS, no âmbito do

Projeto de Resolução nº1 de 2013, a ampliação da desoneração da

folha de salários, a compensação aos exportadores de resíduos

tributários ao longo da cadeia produtiva, o chamado Reintegra - e

ainda a perspectiva de uma ampla mudança na legislação do PIS-

Cofins, creio que seja fundamental esta Casa se inspirar no

exemplo de um modelo de sucesso, que foi acolhido e aplaudido

por todo País, que é a Lei Geral das Micro e Pequenas.

Os seus princípios são norteadores e estão em linha com o que

existe de mais moderno e eficiente em termos de sistema tributário:

a simplificação – quando se unifica o recolhimento de oito impostos,

seis federais e mais o ICMS, estadual e o ISS, municipal; a

progressividade – alíquotas diretamente proporcionais às faixas de

receitas e a economicidade – decorrente da exigência de menores

obrigações acessórias e facilidade de administrar a vida tributária

da empresa;

Os bons resultados desse sistema são incontestáveis: Hoje temos

cerca de quatro milhões e quinhentos mil micro e empresas no

Simples, além dos 3 milhões de microempreendedores individuais.

O alargamento da base de arrecadação, incentivada pela menor

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carga tributária e a simplicidade do sistema, garantiu o aumento da

formalização e o crescimento das receitas.

Entre 2011 e 2008, as receitas oriundas do Simples cresceram

quase 50%, quando alcançaram a marca de 42 bilhões de reais. O

número de empregados aumentou em 17% nesse mesmo período e

atualmente os optantes do Simples são responsáveis por um em

cada quatro empregos com carteira assinada no Brasil.

Pois bem, Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores,

A despeito de toda essa evolução positiva e do reconhecimento que

o País tem sobre o marco que é o Simples, é com preocupação que

venho a essa Tribuna alertar para o fato de que atuais disfunções

do nosso sistema tributário também já ameaçam as conquistas do

Simples.

A opção pela produtividade fiscal e a facilidade em arrecadar está

fazendo com que os fiscos estaduais usem de forma indiscriminada

e abusiva o instrumento da substituição tributária no ICMS, o que

está anulando os benefícios proporcionados pelo Simples.

O que significa Substituição Tributária? É quando a empresa

substituta recolhe o imposto pelo restante da cadeia produtiva e ou

comercialização considerando estimativas de margens de lucro.

Assim, a antecipação e substituição do recolhimento dos impostos

só desfavorecem a expansão dos pequenos negócios. Isso porque

reduz o capital de giro das empresas, atinge os empregos, inibe os

investimentos, o clima de confiança e a concorrência e além de

incentivar a informalidade. Ou seja, todos efeitos na contramão do

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que foi preconizado, idealizado e posto em prática pelo modelo do

Simples.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores,

Aqui não se trata de defender a eliminação completa do mecanismo

da Substituição Tributária que faz parte do conjunto de instrumentos

à disposição do Fisco.

Mas é preciso disciplinar o seu uso, previsto em situações clássicas

– em que há comercialização pulverizada, em setores com elevado

grau de contribuição arrecadatória ou com alta concentração de

fabricantes ou distribuidores. É um instrumento por excelência

seletivo, mas que infelizmente está se disseminando e hoje se

transformou de caráter geral atingindo duramente as Micro e

Pequenas Empresas.

Sr. Presidente,

Atento a esta situação, o SEBRAE, e então me gratifica aqui fazer

um parêntese, para destacar o papel dessa instituição que em todo

País desenvolve de forma competente uma missão das mais

importantes, que é a de capacitar, estimular e garantir um ambiente

mais propício ao pequenos negócios e empreendedorismo no País,

inclusive teve participação fundamental na mobilização pela

aprovação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas.

Portanto, o SEBRAE produziu uma pesquisa destacando os efeitos

danosos que a substituição tributária está causando aos optantes

do Simples Nacional.

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Segundo a pesquisa, entre 2011 e 2008, o valor total do

recolhimento da Substituição Tributária no âmbito das pequenas

empresas alcançou R$ 4 bilhões, um crescimento de 75%, bem

acima da expansão do número de empresas, da receita gerada no

Simples e do número de empregos.

Com isso, a carga tributária sobre os pequenos empreendedores

tem crescido significativamente, dado que a alíquota do

recolhimento pela Substituição Tributária no ICMS é

expressivamente maior do que a alíquota do Simples. Há Estados

em que essa diferença atinge em média mais de 220%.

A pesquisa também mostra que essa política é irracional dado que

dos seis Estados com menor carga tributária sobre as micro e

pequenas empresas, cinco deles estão na liderança na geração de

empregos, com resultados superiores à média nacional.

E o contrário também é válido, dos 6 estados com maior tributária

sobre os pequenos negócios, 4 deles estão nas últimas colocações

da geração de empregos, situando-se abaixo da média nacional.

Portanto, é preciso construir soluções para mitigar esse problema.

Eu já apresentei emendas a projetos que tramitam nessa Casa em

que se disciplina o uso da Substituição Tributária. Já levei a

proposta ao Ministério da Fazenda, que também tem a

compreensão da necessidade de se buscar um entendimento com

os Estados sobre essa questão.

Existem caminhos que podem ser trilhados. O fundo de

compensação de perdas pelas mudanças no ICMS na Medida

Provisória 599 poderia prever recursos orçamentários para essa

finalidade.

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Existem também exemplos de sistemas de modernização das

administrações tributárias, que permitem de forma eficiente a

fiscalização e o controle dos recolhimentos de ICMS, prescindindo

assim da Substituição Tributária.

É possível também dar flexibilidade aos Estados para definir uma

pauta de produtos, dentro de certos limites, em função do que o

Governo Federal adota como modelo de substituição tributária.

Ontem estive reunido com o Senador Lindbergh Farias, Presidente

da Comissão de Assuntos Econômicos, o Senador José Pimentel,

Líder do Governo no Congresso Nacional, o Senador José Pimentel

e o Gerente de Políticas Públicas do Sebrae, o Senhor Bruno Quick

com objetivo de discutir e apresentar uma proposta que possa ser

incorporada no âmbito da reforma do ICMS, de forma a mitigar os

efeitos danosos da substituição tributária sobre as micro e

pequenas empresas e a possibilidade de oferecer uma

compensação aos Estados, de forma a manter a neutralidade fiscal

dessa mudança.

Portanto, Sr. Presidente, soluções viáveis existem e creio que o

momento para construir este entendimento é extremamente

oportuno. O País precisa avançar na melhoria do ambiente

tributário, e o Simples é um marco nesse processo, não podemos

abrir mão dos seus ganhos, sob pena de estarmos penalizando e

sufocando a força empreendedora desse País, que nasce nos

pequenos negócios.

Muito Obrigado.

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