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Propaganda ideológica no documentário “O Triunfo da Vontade” de
Leni Riefenstahl
Talita Rebouças de FREITAS,
graduada Comunicação Social – Publicidade e
Propaganda pela Faculdade Evolutivo – FACE, em Fortaleza – CE.
Meu trabalho buscou discutir a função do documentário “O Triunfo
da Vontade” de Leni Riefenstahl como veículo de propaganda ideológica
no governo nazista de Hitler. Através de uma análise detalhada do filme
procurei mostrar que imagem de Hitler e do nazismo são apresentadas neste
documentário, mas antes de iniciar está análise fílmica, apresento uma
contextualização do meu objeto de estudo onde mostro a situação da
Alemanha na década de 30, demonstrando em que ambiente a ação do
filme se desenrola. Também demonstro a situação do cinema Alemão nos
anos 30, tornando perceptível à importância das produções
cinematográficas alemã no cenário mundial. Este trabalho também trás um
breve relato da polemica historia da diretora Leni Riefenstahl, destacando
seu perfil de trabalho e as causas e conseqüências da sua escolha de usar o
nazismo como tema de seus filmes. Um dos pontos fortes deste trabalho é a
discussão que se abre a respeito das teorias de John B.Thompsom sobre a
relação entre ideologia e poder, mostrando como acontecem na prática os
modos de operação da ideologia como instrumento de dominação.
Autor: Talita Rebouças de FREITAS, graduada Comunicação Social –
Publicidade e Propaganda pela Faculdade Evolutivo – FACE, em Fortaleza
– CE.
E-mail: [email protected]
GT: Historia da Mídia Audiovisual
Palavras-chave: Cinema /Nazismo/ O Triunfo da Vontade
Propaganda ideológica no documentário “O Triunfo da
Vontade” de Leni Riefenstahl
1 – Alemanha Nazista.
É impressionante o poder que os governos autoritários tem de
dominar as pessoas, e isso não acontece somente através das leis que esses
governos criam, porque não se pode pensar que uma meia dúzia de pessoas
conduza uma sociedade inteira apenas com normas é preciso convencer a
maioria de que as regras criadas lhes trarão benefícios.
Para convencer o mundo de que o nazismo era a forma de vida ideal,
os nazistas precisaram criar todo um cenário que fizesse com que as
pessoas pensassem no autoritarismo como sendo a melhor solução para a
crise em que viviam.
Edward Burns (1989) relata em seu livro História da civilização que
a Alemanha ficou em uma situação difícil após a primeira guerra mundial
eles tiveram que pagar uma espécie de indenização aos outros países como
forma de amenizar os destroços da guerra. Eles também foram proibidos de
possuir exércitos e fabricas bélicas, e ainda sofreram com uma situação
econômica instável. Toda essa situação faz crescer nas classes operárias
idéias socialistas que incomodavam as elites. Assim tornou-se necessária à
criação de um governo mais centralizado e controlador que impedisse uma
revolução socialista.
... A Alemanha sucumbiu ao totalitarismo depois da
Itália. Durante um breve período, após a I Guerra
Mundial, os acontecimentos pareceram estar levando o
país para a esquerda. A maioria dos políticos que
integravam o governo instalado logo após o armistício
eram socialistas, membros do partido Social-
Democrático. Suas políticas reformistas, que antes da
guerra haviam parecido demasiado radicais,
afiguravam-se agora excessivamente brandas a um
grupo de marxistas extremados... (BURNS, pg 701 e
702, 1989).
Neste contexto, segundo relata Paula Diehl (1996) que surgiu o
Partido Nacional Socialista (NSDAP) a elite é claro aceitou de cara o novo
partido, mas era preciso convencer o restante da população. Criar leis mais
rígidas não seria suficiente para convencer o público.
Paula Diehl (1996) explica que os nazistas usaram todos os recursos
que estavam a sua disposição, para manipular as massas. Livros, bandeiras
tudo servia para convencer o povo. Símbolos, hinos e saudações foram
criadas para aumentarem a auto-estima dos alemães, que estava em baixa
desde o fim da primeira guerra, e também para gerar um sentimento de
submissão e respeito diante de Hitler.
... A propaganda desempenha um papel central no
nacional-socialismo, sem ela é impossível se pensar o
mundo totalitário. Para o NSDAP, a propaganda é a
principal base do partido, sendo responsável tanto pela
convenção dos simpatizantes como pela manutenção
da ordem artificial criada por ele. É necessário frisar
que, no caso, a propaganda não se restringe apenas aos
meios de comunicação de massa, mas tende a abranger
todas as atividades sociais... (DIEHL, p.81, 1996).
Foi nesse momento que os meios de comunicação se revelaram com
poderosas maquinas de manipulação. O rádio e o cinema foram usados de
forma intensa como veículos de propaganda nazista.
Os nazistas viam o cinema como um bom veículo de
propaganda por isso tentou convencer vários intelectuais a produzirem
filmes que valorizassem a raça ariana, poucos toparam o desafio ou por
serem contra o regime ou por preferirem se manter distante dos assuntos
políticos.
2 – Cinema Alemão nos anos 30.
De acordo com Ari Leite (entrevista 2005) o cinema Alemão esteve
muito presente nas salas de exibição brasileira nos anos 30, era o segundo
maior produtor, estando atrás apenas dos EUA. A UFA, maior produtora da
Alemanha estava entre as maiores produtoras do mundo.Grandes empresas
cinematográficas americanas abriram subsidiárias na Alemanha, e atores
Alemães partiram para os EUA para participar de filmes americanos.
Conforme Ari Leite (entrevista 2005) o cinema dos anos 30 ainda
não utiliza o recurso das cores, mas já possui som. Os temas dos filmes
Alemães eram os mais diversos: Comédia, musicais, natureza e
principalmente de temática nazista. Este veículo já tinha muita importância
na opinião pública, por isso o partido nazista o usou como instrumento de
propaganda. Os filmes de argumento nazista começaram a se tornar comum
no ano de 1934 e não eram exibidos somente na Alemanha, Ari Leite
possui registros de que filmes nazistas foram exibidos aqui no ceará, um
exemplo é o filme Mocidade Heróica (Hittlerjunge Quex) produzido pela
UFA em 1933. Essa obra foi exibida no Ceará no dia 20 de fevereiro de
1936, no cinema Moderno, um dos principais cinemas da época.
Ari Leite (entrevista 2005) conta que muitos cineastas produziram
filmes de temáticas nazistas, alguns por opção outros a pedido de Hitler e
Goebbels. Mas muitos também fugiram para os EUA, ou por serem judeus
ou por serem contra o regime nazista.
3 - Biografia de Leni Riefenstahl.
A cineasta Helene Amália Bertha Riefenstahl nasceu na cidade de
Berlim em 22 agosto de 1902.Começou sua carreira no cinema como atriz
nos anos 20, após ter sofrido uma lesão no joelho interrompendo a
promissora carreira de bailarina-solo. Como atriz trabalhou em filmes de
montanha, onde segundo Ari Leite era necessário ter disciplina e dedicação
já que os filmes exigiam grande esforço físico, podendo resultar em
acidentes. (Disponível em: <http//:dossiers.publico.pt/dossier.asp2ed=969>
: Acesso em: 09 out. 2005)
...um gênero extremamente popular no período, onde se glorificavam o vigor físico na pratica de montanhismo e a beleza do corpo e da natureza, símbolos intensamente apropriados pelo ideário nazista na produção do nacionalismo. (_________: Disponível: <www.goethe.de/br/sap/kultur/arch02/pr_rielf.tm>: Acesso em: 10 out. 2005)
Ari Leite acredita que o estilo adotado pela diretora Leni Riefenstahl
era resultado do que aprendeu como atriz, já que os filmes em que atuava
priorizavam as grandes paisagens filmadas em grandes ângulos
contrapondo os pequenos detalhes filmados em pequenos ângulos, Ari
Leite destaca a sua forma de montagem como sendo sua maior qualidade.
Sabe-se que Leni se consagrou porque desenvolveu uma nova estética em
seu filme, com novos ângulos e enquadramento, trazendo uma nova forma
de filmar movimentos de massa e nus.(Disponível em:
<http//:pt.wikipedia.org/wike/leni-riefenstahl>, Acesso em 09 out. 2005).
Cristiano Câmara (entrevista 2005) discorda dessa afirmação e diz que Leni
usa a técnica da escola expressionista Alemã dos anos 20, que se
caracterizava pelos jogos de claros e escuros e pelo uso contra-plogê
(câmera filmando de baixo para cima) para filmar autoridades.É dessa
forma que Lotte H.Eisher (1985) descreve o trabalho de Leni, para ele o
Triunfo da Vontade esta “carregando de elementos proveniente da antiga
escola Alemã”.(EISHER,Lotte.H: 1985: p-230). Cristiano Câmara
(entrevista 2005) diz que o mérito da diretora foi usar os recursos técnicos
com muita inteligência, principalmente na montagem.
Em 1932, Leni Riefenstahl dirigiu seu primeiro filme “A Luz
Azul”. A forma como dirigiu o filme chamou a atenção de Hitler. Leni
conheceu Hitler durante um de seus discursos, bastante impressionada com
o carisma e o poder de persuasão do ditador acabou cedendo ao convite
dele de produzir um documentário sobre os encontros do NSDAP (Partido
Nacional-Socialista). Há quem diga que ela mesma teria se oferecido para
fazer o filme, mas a diretora nega. Disponível em:
<http//:pt.wikipedia.org/wike/leni-riefenstahl>, Acesso em 09 out. 2005).
Helena Gouveia (2002) reproduziu um trecho da autobiografia de Leni
onde ela conta como foi feito o convite para dirigir o documentário “O
Triunfo da Vontade” :
‘Temo, meu Führer, não estar à altura déb fazer esse filme.’ ‘E porque não estaria à altura de fazer?’, interroga Hitler.’O conteúdo é-me totalmente estranho, nem sequer sei distinguir os SA dos SS...’, respondeu Riefenstahl. ‘ Está bem assim...’, replicou-lhe o Führer, ‘desse modo não verá senão o essencial. Não quero um filme monótono sobre o congresso. Quero um documentário artístico.’ (GOVEIA, Helena: 2002: Disponível em: <http://dossiers.publico.pt/dossier.asp2ed=969>, Acesso em 10 out.2005)
Leni produziu alguns filmes que foram usados pelo governo para
fazer propaganda nazista, mas mesmo assim ela não aceitou o titulo que lhe
foi dado de “Leni a nazista”. Dentre eles destacam-se “Triunfo da
Vontade” e “Olimpíadas”. No filme “Olimpíadas” Leni documenta as
olimpíadas de 1936 em Berlim. A cineasta procura mostrar a vitalidade, a
beleza e superioridade da raça ariana pura, mas o seu objetivo não foi
totalmente alcançado, pois o vencedor não foi um ariano e sim um negro
americano . Como se tratava de um documentário esse fato não poderia ser
excluído da obra, mas Hitler se retirou do evento antes da entrega das
medalhas para não ser obrigado a apertar a mão do negro Jack Owens.
(Disponível: <www.goethe.de/br/sap/kultur/arch02/pr_rielf.tm>: Acesso
em: 10 out. 2005)
Com a derrota de Hitler muitos daqueles que o apoiaram passaram
ser perseguidos e condenados, com Leni Riefenstahl não foi diferente, ela
foi acusada de usar ciganos prisioneiros de um campo de concentração em
seu filme “Tieflande” e a fim das gravações manda-los de volta para os
campos para serem mortos. Leni defendeu-se dessas acusações com o
argumento de que todos os ciganos que participaram do filme
sobreviveram. Em 2002 o caso foi arquivado por conta da idade avançada
de Leni e de uma declaração assinada por ela desmentindo todas as
acusações.(Disponível em: <http//:pt.wikipedia.org/wike/leni-riefenstahl>,
Acesso em 09 out. 2005)
Mesmo não sendo punida judicialmente sofreu a conseqüência dos
seus atos, com a punição do preconceito. Segundo Helena Gouveia (2002)
após o fim do regime Leni Riefenstahl ficou impedida de fazer novos
filmes, mesmo que esses fossem de produção própria. Entretanto o único
filme que fez foi boicotado pelo público. A parti daí passou a se dedicar a
carreira de fotografa, onde registrou a tribo Nuba do Sudão, em uma de
suas viagens para o Sudão sofreu um grave acidente, mas sobreviveu. Já
perto dos oitenta anos a cineasta mentiu sobre sua idade para conseguir
autorização para mergulhar e tirar fotos aquáticas. Morreu dormindo em
sua casa na Alemanha já com mais de cem anos.
Leni tem uma historia muito polemica, ela afirma ter sido
politicamente inocente quando apoiou Hitler, diz que não tinha
conhecimentos das atrocidades do regime nazista e seu empenho em fazer
os filmes com qualidade é uma característica comum a tudo que faz.
Cristiano Câmara (entrevista 2005) acredita ser impossível a cineasta não
saber o que se passava no seu país naquele momento. De acordo com ele
todo o mundo sabia, mas fechava os olhos, porém Cristiano Câmara
(entrevista 2005) também condena a perseguição feita a Leni, pois de
acordo com ele não se pode isolar Leni do contexto social. Ela errou, mas
não foi só ela, Leni não foi a única a compactuar com o regime, foi uma
sociedade inteira.
4 - O Documentário “Triunfo da Vontade”.
O primeiro longa metragem, dirigido por Leni Riefenstahl, a trazer
ideais nazistas foi o “Triunfo da Vontade”. Esse filme foi produzido na
Alemanha em 1934, com 36 câmeras, levou 2 anos para ser montado e em
1936 foi exibido com a duração de 110 min. O documentário tem como
tema o 6º Congresso do Partido Nazista no ano de 1934 em Nuremberg. É
um dos filmes de propaganda política mais conhecidos. Ele mostra os
eventos de abertura e encerramento do congresso, encontro de Hitler com
os jovens e com os trabalhadores, desfile das SS e SA e cerimônia de
benção da bandeira. Sabe-se que o Partido Nacional – Socialista usou o
filme para divulgar suas idéias. Desse modo fica evidente a utilização desse
filme como propaganda ideológica do nazismo.
Em toda a obra a diretora usou principalmente o Plano Geral, onde
uma grande parte do ambiente é mostrado e o close-up, onde pequenos
detalhes são mostrados bem de perto. Os planos mais abertos como o Plano
Geral foram usados para mostrar principalmente o grande número de
pessoas presente nos eventos e a forma como estão dispostos
organizadamente, como se fossem parte da arquitetura do local, uma clara
demonstração de força, aceitação e organização. Os planos fechados como
o close-up mostram pequenos detalhes, como a expressão de felicidade no
rosto do público, os pés das crianças que se esticam para ver Hitler. Tudo
dando uma idéia de que aquela multidão está presente por vontade própria,
e não por obrigação. Essas imagens também são passadas nos decursos de
Hitler, na cerimônia de encerramento, por exemplo, ele proferiu as
seguintes palavras: “200 mil homens estão reunidos aqui apenas atendendo
ao apelo do coração”. Observa-se que os apelos ideológicos procuravam
integrar símbolos, imagens e palavras que reforçam a idéia central de
legitimação do nazismo.
Todo o congresso acontece em forma de espetáculo, com um certo
misticismo, os ambientes estão preparados com símbolos como a águia,
a suástica e as bandeiras, também há flores e a noite tochas e luz eram
utilizadas. Os símbolos que são descritos por Thompsom (1995) como
um elemento unificador tem destaque no filme “Triunfo da Vontade”,
eles aparecem muitas vezes em close-up nos intervelos entre os
discursos, ganhando beleza e causando mais impacto no público.
A primeira imagem a aparecer é a da águia símbolo do nazismo em
seguida se segue a data “5 de setembro de 1934” e os letreiros: “20 anos
após o início da 1ª Guerra Mundial”, “16 anos após o início de nosso
sofrimento”. Esses letreiros retomam os sentimentos de revolta presente na
Alemanha devastada pela guerra e humilhada com o tratado de Versalhes,
mas o letreiro seguinte faz parecer que tudo mudou: “19 meses após o
início do renascimento Alemão”. Logo após aparece a imagem do céu vista
de dentro da cabine do avião, é a chegada de Hitler a cidade de Nuremberg
vindo do céu como um Deus. O documentário que deveria iniciar-se com a
abertura do congresso inicia com a chegada de Hitler, fazendo parecer que
o encontro do partido só se inicia com a chegada do Führer, isso é uma
clara demonstração do papel central de Hitler no governo nazista. Sua
imagem é um dos principais símbolos nesse processo ideológico.
Durante a chegada, Nuremberg foi filmada de cima está repleta de
bandeiras, as pessoas ocupam as ruas a espera do Führer. Quando o avião
pousa uma multidão o recebe aos gritos, seus rostos filmados em planos
fechados demonstram a ansiedade da espera por alguém que para eles era
tão importante. Hitler desfila em carro aberto, em direção ao hotel, em um
plano aberto a multidão aparece se empurrando para ver Hitler passar, ele
as acena e as pessoas respondem com gritos e acenos, seus rostos filmados
de perto demonstram alegria e êxtase. A multidão tenta se aproximar, mas
os soldados não deixam, essa cena é mostarda em muito dos eventos,
sempre deixando claro a vontade e ansiedade de está presente no
evento .No documentário a chegada de Hitler faz parte do congresso.
Durante o trajeto para o hotel, Hitler mantém o corpo ereto, demonstrando
força e firmeza, mas cumprimenta o público com um sorriso paternal. É
essa a imagem que Hitler transmite em todo o filme, de um pai rigoroso,
mas que ama seus filhos.
A noite, na frente do hotel a multidão mais uma vez aparece se
empurrando para ver Hitler, uma banda militar toca e membros da SA
controlam os presentes para que eles não se aproximem do hotel. Mesmo
Hitler não aparecendo na janela, as pessoas continuam a espera-lo. Na
janela do seu quarto a um letreiro: “Hiel Hitler”. No dia seguinte a chegada
de Hitler, dia da abertura do congresso, Leni mostra o amanhecer da cidade
acontecendo lentamente mais o ritmo do filme vai ganhando velocidade,
como se a cidade fosse despertando lentamente com o sol e com a abertura
do evento, em seguida aparece um enorme acampamento onde jovens
homens estão acampados. Todo o ambiente está descontraído, os homens
sem camisa brincam e trabalham com muita energia, os corpos saldáveis e
as feições de alegria ganham destaque na filmagem, mostrando o vigor e
beleza da raça ariana pura.
Em seguida Hitler presencia o desfile dos camponeses em tarjes
típicos, carregando alguns instrumentos de trabalho e alimentos coletados.
Em diversas partes do filme a uma tentativa de valorizar o trabalho no
campo, porém essa valorização é simbólica, a massa não participa das
decisões políticas.
Na cerimônia de abertura do congresso, vários membros do partido
discursam. No início e no fim de cada evento os membros da SA e da SS
desfilam, ao som de uma banda militar. Durante os decursos na maioria das
vezes a câmera fica fixa no orador dando mais importância ao que ele fala,
somente quando há um intervalo na fala do orador é que o a reação do
público aparece, se o orador ainda está discursando o público filmado bem
de perto demonstra atenção e contemplação, mas se o orador já encerrou
sua fala ou deu uma pausa o público aparece filmado em ângulo aberto
gritando e fazendo saudações, com sons de tambores ao fundo, o que
aumenta a sensação de aprovação sobre aquilo que está sendo dito. Em
todo o filme são exibidas cenas de confirmação e excitação as idéias e
lideres nazistas.
Os decursos refletem claramente a ideologia nazista. A historia do
partido é lembrada por Rosenberg sempre mencionada como uma
demonstração de heroísmo, despertando nas pessoas um sentimento de
orgulho do nacional-socialismo, nesse momento os jovens são convocados
a darem continuidade a ela. Os jovens são considerados pelo NSDAP o
futuro do movimento. Dies usa eufemismo para falar de censura: “A
verdade é fundação na qual a imprensa se apóia e cai. Nossa única
exigência é a imprensa... é que ela fale a verdade sobre a Alemanha”.E a
verdade a qual ele se refere é a proposta pelo nacional-socialismo. Outros
dois membros do partido falam da construção de obras públicas e de como
elas estão empregando pessoas, um terceiro membro fala da atividade
industrial, todos sugerindo que a crise econômica e a onda de desemprego
que assombrava a Alemanha desde o fim da guerra, estava chegando ao
fim.
Darré e Ley discursam sobre o trabalhador e algo comum ao discurso
deles e de Hitler é a valorização do trabalho, principalmente a valorização
do trabalhador rural, também se fala na educação desses trabalhadores e em
aumentar o orgulho deles. Ao contrário do que os discursos tentam passar,
o NSDAP não valorizou o trabalhador a ponto de inclui-lo na política, a
valorização dada ao trabalhador é ilusória, trata-se de uma estratégia para
mantê-los a favor do governo.
Goebbels, Ministro da cultura e da propaganda, ressalta a
importância da propaganda política para o governo: “Pode ser que o poder
baseado nas armas dê certo, entretanto é melhor e mais gratificante vencer
o coração da nação e mantê-lo”. Já Frank homenageia Hitler falando de
seu senso de justiça. Outros oradores que aparecem no decorrer do filme
também buscam atribuir qualidades a Hitler como a de ser o salvador da
nação, o menos egoísta, o líder da juventude. As palavras de Hitler são
percebidas como uma ordem. Os membros do partido por várias vezes
dizem está esperando a ordem do Fuhrer. As juras de lealdade também se
repetem no decorrer do filme. Nota -se uma preocupação em demonstrar
fidelidade a Hitler e ele mesmo cobra isso em seus discursos.
O segundo evento é um encontro com os trabalhadores, estes se
parecem mais com soldados, do que meros trabalhadores. Todos estão
fardados, distribuídos em fileiras, suas pás são apresentadas como armas.
Eles falam e se comportam como soldados, seu líder dá a ordem:
“Apresentar pás” fazendo alusão ao comando dado a soldados para
apresentar suas armas. Trata-se de uma estratégia chamada por Thompsom
(1995) de deslocamento, onde os atributos do soldado são passados para o
trabalhador de forma subliminar.
As palavras proferidas pelos trabalhadores a por seu líder são fortes
demonstram acreditar que seu trabalho é uma prova de fidelidade a Hitler e
a Alemanha. O líder dos trabalhadores diz que: “Quem não for para as
trincheiras nem ficar sobre o fogo das granadas não pode ser considerado
soldado” Ou seja, o homem alemão tinha duas escolhas servir ao Reich
trabalhador ou como soldado, mesmo sendo funções diferentes recebem
nesse discurso uma mesma denominação, que é a de soldado do Reich. O
líder também fala que eles precisam ser fortes e enfrentar até a morte, pois
ela não existirá para eles que sempre estarão vivos na Alemanha.
Hitler procura salientar em seu discurso que tudo que é feito no seu
governo é para o beneficio de todos, e por isso todos têm que colaborar
com o governo, pois assim estariam trabalhando em beneficio próprio. Ou
seja, o governo nazista faz uso da estratégia de universalização descrita por
Thompsom (1995) onde os interesses dos dominados são apresentados
como interesses gerais.
O líder dos trabalhadores se dirige a eles com o uso do termo
“camaradas”, o uso deste termo é comum entre os membros do partido, seu
significado está relacionado a amizade, chamar centenas de desconhecidos
de camaradas, como se eles fossem grandes amigos, quase irmãos, tramite
a sensação de proximidade. Expressões como “camaradas”, “Hiel Hitler” e
“fuhrer” tem a função de agrupar os pertencentes ao regime, pois estes
sempre que pronunciam estes termos sentem-se fazendo parte de um grupo
seleto.
Outro evento mostrado no documentário é o encontro com os
jovens.Hitler ao discursar para os jovens fala que não deve haver entre eles
classes e é dever dos jovens educar a sociedade para que nela não haja
classes.Mas isso é contraditório com o que se percebe em outros momentos
do documentário, onde se evidencia uma divisão, uma segmentação de
jovens, outra de trabalhadores e uma terceira de membros do partido. Até
mesmo no discurso final de Hitler ele afirma que no futuro todos serão
nacional-socialistas, mas somente alguns merecedores farão parte do
NSDAP, o que sugere uma hierarquia. Essa contradição acontece por que
Hitler quer fazer com que o povo haja em favor do grupo acreditando que
ele está falsamente unido em um só ideal, quando na verdade ele está
fragmentado e impedido de se rebelar devido a essa fragmentação.
No encontro com os jovens Hitler também fala sobre a importância
desses jovens serem fortes diante das privações, Hitler defende a
necessidade de uma nação forte e corajosa para alcançar a paz, suas
palavras falam em paz quando na verdade querem a guerra, pois a paz para
ele só será possível quando o mundo aceitar seus princípios. Por isso ele
fala que os jovens precisam endurecer, para tornar a nação forte para
enfrentar a luta armada. Nesses e em outros discursos os jovens são visto
como o futuro do movimento, e por isso sua educação é voltada para
aceitar os mandamentos nazistas.
Um dos eventos mais chocante é a Benção da Bandeira de Sangue,
essa cerimônia que a principio era restrita apenas aos membros do partido,
no congresso de 1934 contou com a presença da população. A câmera filma
de cima, de algum lugar mais alto, de longe se enxerga a grande quantidade
de pessoas presentes no evento, elas organizadas em blocos, de cima se
percebe a beleza e a ordem da forma como as pessoas dispostas no
ambiente. Mesmo de longe Hitler ganha destaque já que o público
permanece parado e apenas ele acompanhado de dois homens de
movimentam, os três personagens caminham até uma espécie de palanque
para por alguns minutos em frete a ele, como se parassem diante de um
altar, depois seguem para subir no palanque.
Após a entrada de Hitler os soldados da SA e da SS entram com as
novas bandeiras, pouco a pouco tomam conta dos espaços livres de maneira
assustadora após discursar, Hitler caminha entres os soldados acompanhado
de um homem que segura a antiga bandeira suja com o sangue de soldados
mortos na batalha em Munique, Hitler encosta a bandeira nova com a
bandeira suja de sangue em quanto um tiro de canhão é disparado, depois
ele cumprimenta o soldado portador da bandeira e segue a diante com o
ritual.
No discurso Hitler tenta desmentir a notícia da tentativa de golpe
organizada pelo líder da SA durante a tomada do poder, tentativa está que
resultou na criação das SS, mas Hitler afirma que tudo se trata de boato,
mas de forma indireta ameaça: “Se alguém se colocar contra a minha SA
seu desejo não romperá a SA apenas destruirá a si mesmo”.
O filme mostra um desfile da cavalaria e da artilharia, uma
demonstração de que a Alemanha está preparada para guerra o que é mais
uma prova de que o NSDAP não quer a paz como diz em seus discursos.
Na cerimônia de encerramento do congresso Hitler discursa
longamente e resume em suas palavras tudo que foi tentado passar em todo
o congresso. A cada pausa de sua fala, as pessoas aplaudem e gritam “Hiel
Hitler”. Durante esse e outros momentos em que Hitler aparece no
documentário, a câmera está posicionada abaixo dele, filmando-o de baixo
para cima, este recurso é comumente usado no cinema para atribuir
autoridade ao personagem, o público tem a sensação de está olhando para
alguém que está acima dele. Hitler, assim como os outros membros do
partido que discursam no filme, falam com muita empolgação quase a
gritar, também faz muitos movimentos com o braço. Durante as falas de
Hitler a câmera costuma mostrá-lo do busto para cima, dando ênfase as
suas expressões faciais, em alguns momentos a câmera abre um pouco mais
o seu campo de visão mostrando Hitler da cintura para cima, ou da coxa
para cima dando maior destaque aos seus gestos.
Hitler inicia sua ultima fala no congresso tentado desmentir a idéia
de que o encontro do partido é uma demonstração de poder político e mais
uma vez tenta mostrar que todos os presentes ali estão por vontade própria.
Hitler remete ao passado heróico do partido, apelando para a nostalgia que
esse tipo de argumento desperta nas pessoas.Ele coloca os interesses do
partido como sendo geral, usa a estratégia chamada por Thompsom (1995)
de reificação onde uma situação historicamente transitória é colocada como
permanente, quando ele diz: “O povo Alemão está feliz por saber que a
constante mudança de liderança agora foi finalmente substituída pela
força da instabilidade”. Nesse trecho de sua fala, Hitler tenta mostrar que a
liderança escolhida democraticamente nunca mais acontecerá, mas suaviza
este fato transformando em algo bom e que tem sua eternidade garantida
porque é do interesse de todos. Hitler promete um futuro maravilhoso, mas
que para ser conquistado precisa da adesão e fidelidade ao nacional
socialismo.
Após o discurso de Hitler um membro do partido tenta falar mais é
impedido pelos presentes que gritam sem parar: “Hiel Hitler”. A imagem
vai subindo e para no símbolo da suástica em cima do palanque, através de
uma fusão de imagens os homens aparecem marchando para partirem e
assim termina o filme “Triunfo da Vontade” de Leni Riefenstahl.
O filme “O Triunfo da Vontade” é um instrumento relevante para
analisarmos a importância do cerimonial, dos símbolos e das expressões no
período nazista. A legitimação o poder de Hitler e do nazismo usaram uma
interação de elementos que remetiam a autoridade, a força das armas, mas
recorreram a dimensão do simbólico e da adoração de uma líder, de um
partido como formas persuasivas para legitimar o nazismo.
Um elemento fundamental na propaganda Nazista foi a multidão. A
multidão aparece venerando o líder alemão e aclamando suas palavras.
Esse sujeito inexistia antes do século XIX, apesar de atuar na cena política,
somente após esse período passou a ser valorizado pelos governos, não
como opinantes na política, mas como parte dela. Deste modo a multidão é
fundamental para esse espetáculo, que foi muito bem retratada na obra de
Leni riefenstahl.
Referencias Bibliográfica:
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BURNS, Edward; LERNER, Robert; MEACHAM, Standish. História da civilização Ocidental. Rio de janeiro: Globo, 1989.
DIEHL, Paula. Propaganda e persuasão na Alemanha Nazista. São Paulo: Annablume, 1996.
EISNER, Lotter H. Tela Demoníaca: as influencias de Max Reinhardt e do expressionismo. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1985.
FISCHI, Bruno. Leni Riefenstahl. São Paulo: Instituto Goethe. 2002. Disponível em: <www.goethe.de/br/sap/kultur/arch02/pr_rielf.tm>: Acesso em: 10 out. 2005.
THOMPSOM, John B. Ideologia e Cultura Moderna. Petrópolis: Vozes,1995.
_______, Wikipeidia: a enciclopédia livre. [S.I,s.n], 2002. Disponível em: <http//:pt.wikipedia.org/wike/leni-riefenstahl>, Acesso em 09 out. 2005.