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PROPOSTA TÉCNICA PROPOSTA DE CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM TERRAS PÚBLICAS DA UNIÃO NO SUL DO ESTADO DO AMAZONAS Abril de 2015

Proposta de Criacao de Unidades de Conservacao Em Terras Publicas No Sul Do Amazonas Final

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Proposta de Criacao de Unidades de Conservacao Em Terras Publicas No Sul Do Amazonas Final

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PROPOSTA TÉCNICA

PROPOSTA DE CRIAÇÃO DE UNIDADES DECONSERVAÇÃO EM TERRAS PÚBLICAS DAUNIÃO NO SUL DO ESTADO DO AMAZONAS

Abril de 2015

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1.APRESENTAÇÃO

O Governo Federal instituiu a Lei nº 11.952/2009 que dispõe sobre a regularização fundiária dasocupações incidentes em terras situadas em áreas da União, no âmbito da Amazônia Legal. Destaforma foi criado o Programa Terra Legal, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário-MDA. No entanto, existem terras públicas da União que não são antropizadas ou possuemocupações humanas que não possui características previstas no Programa de Regularização. Nessecaso o Governo Federal destina estas áreas com outra finalidade pública, a exemplo da criação deunidades de conservação.

Para a destinação das áreas da União não afetadas na Amazônia Legal foi criada, através da PortariaInterministerial nº 369/2013 MMA/MDA, a Câmara Técnica de Destinação e Regularização deTerras Públicas Federais no âmbito da Amazônia Legal. A Câmara reúne representantes de diversosórgãos como: Ministério do Desenvolvimento Agrário-MDA, Ministério do Meio Ambiente- MMA,Secretaria do Patrimônio da União-SPU, Instituto Nacional de colonização e Reforma Agrária-INCRA, Fundação Nacional do Índio-FUNAI. Neste contexto um conjunto de glebas federais foramdestinadas ao Ministério do Meio Ambiente para a sua avaliação quando a sua pertinência para acriação de unidade de conservação federais.

As glebas objeto do estudo para a criação de unidades de conservação estão localizadas na regiãoSul do Amazonas, no entorno de 100 km da margem da BR-230, rodovia transamazônica, na regiãocompreendida entre a vila do Matupi e a divisa entre os estado do Amazonas e Pará. É uma regiãoque vem sendo alvo de pressões por diversos segmentos, tais como madeireiros, pecuaristas, produ-tores de soja, dentre outros, que vindos de estados vizinhos estão se apossando de terras e destruin-do áreas de floresta nativa de castanhais, serigueiras, dentre outras, como forma de ocupação dasterras

O inicio das atividades econômicas desenvolvidas nesta região se concentram ao longo dosprincipais rios e seus afluentes, associadas à exploração da borracha e de outros produtosextrativistas, como a castanha-do-Brasil. Nas décadas de 70 e 80 a região passou por profundastransformações socioeconômicas e ambientais. Esse período reflete a abertura das estradas BR-319e BR230, bem como a criação de projetos de colonização (assentamentos) na região. Iniciativas queforam associadas a intensas migrações e consequentemente processos desordenados de ocupação doterritório, com desmatamentos acelerados e exploração predatória dos recursos naturais.

Segundo o Macrozoneamento da Amazônia Legal em virtude do papel de escudo para a proteção docoração florestal essa região está enquadrada na unidade de contenção das frentes de expansão ondesão indicadas a criação e a consolidação das áreas protegidas e os usos alternativos da floresta.Reforça ainda que esta região é dotada de um grande potencial de desenvolvimento a partir doaproveitamento racional de seus recursos naturais.

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2.DESCRIÇÂO DA ÁREA

2. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS

2.1. CLIMADe acordo com a classificação de Köppen-Geiger, a região de estudo possui o clima tipo “Am”,sendo caracterizado como clima Tropical de Monções. Caracteriza-se por apresentar temperaturamédia do mês mais frio sempre superior a 18ºC apresentando uma estação seca de pequena duraçãoque é compensada pelos totais elevados de precipitação. Além disso, a precipitação total anual mé-dia geralmente é superior a 1500 mm e a umidade relativa do ar superior a 80% na maioria dos me-ses do ano, que permitem uma distribuição uniforme e suficiente da umidade necessária ao desen-volvimento e manutenção das florestas (RADAMBRASIL, 1978). Durante o inverno, a região deestudo sofre forte influência de frentes frias que atingem o sul da Amazônia (FISCH, 1995). Este fe-nômeno conhecido localmente como "Friagem", ocasiona uma brusca alteração nas condições me-teorológicas, causando uma diminuição da temperatura e umidade do ar e modificando as caracte-rísticas ambientais. Este esfriamento é causado pela entrada da frente fria proveniente da massa po-lar atlântica (mPa).

2.1.1. PrecipitaçãoA região possui os totais pluviométricos anuais compreendidos aproximadamente entre 2.156 mm a3.190 mm, irregularmente distribuídos ao longo do ano. A estação seca possui pequena duração nosmeses de junho, julho e agosto, com precipitação inferior a 40 mm no mês mais seco. Os mesesmais chuvosos são dezembro, janeiro, fevereiro e março (WORLDCLIM, 2005).

2.1.2. TemperaturaA temperatura média anual possui pouca variação, situando-se na faixa de 24 a 28ºC. O períodomais quente vai de maio até outubro, com temperaturas médias máximas superiores a 32 °C. O perí-

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odo frio é ausente, sendo as temperaturas mínimas na região geralmente acima de 20°C(WORLDCLIM, 2005).

2.1.3. Umidade RelativaA umidade relativa é bastante elevada e tem como limites as isohigras de 85 a 90% (RADAM-BRASIL, 1978).

2.2. GEOLOGIAA região de estudo possui rochas de idade pré-cambriana, como por exemplo, o embasamento poli-metamórfico (Complexo Xingu) e o Grupo Beneficente. No restante, a maior parte da região, sub-afloram unidades litoestratigráficas da Sinéclise do Amazonas, elaborada no fim do Pré-Cambrianoou início do Paleozóico. Durante o Cenozóico, a Formação Solimões recobriu predominantemente aárea da sinéclise e, escassamente, áreas cratônicas. Mais recentemente, nas margens e calhas dosrios e das lagoas as aluviões antigas e recentes completam a evolução geológica da área.

2.2.1. Províncias GeológicasA região pode ser dividida em duas províncias geológicas por guardarem características estratigráfi-cas e estruturais que se constituem histórias independentes: a) Área Cratônica do Guaporé� Complexo Xingu� Grupo Beneficenteb) Depósitos Cenozóicos� Formação Solimões� Aluviões Holocênicas

2.2.1.1. Área Cratônica do GuaporéPertencente à Plataforma Sul Americana, na região de estudo, esta área cratônica engloba os Com-plexo de Xingu, o Grupo Beneficente e as intrusões básicas. Com os processos de ativação de plata-forma a área foi submetida a eventos orogenéticos e episódios de “rejuvenescimento”, seguindo-semovimentos epirogenéticos proporcionando profunda erosão e sedimentação.Complexo XinguO Complexo Xingu é a unidade litoestratigráfica mais inferior de toda a coluna geológica da região.Corresponde ao embasamento cristalino, fazendo parte do Craton do Guaporé. Esta parcialmenterecoberta, discordantemente, pelo Grupo Beneficente e pelos sedimentos pliopleistocenicos da For-mação Solimões, sendo cortada pela formação Roosevelt, Granitos Rondonianos e intrusivas bási-cas. Essas rochas se estendem do Rio Aripuanã ao Rio Roosevelt, chegando até a Transamazônica eaos rios Manicoré, Marmelos e Maici. As rochas que constituem o Complexo Xingu são, no geral,migmatitos e gnaisses, granitos, adamelitos, granodioritos, metavulcânicas, granitos cataclásticos,granitos magmáticos transformados, xistos e metabasitos, granulitos e anfibólitos.Grupo BeneficenteResultantes de um ciclo sedimentar transgressivo/regressivo, neste Grupo englomba-se não somenteas porções de deposição marinha, mas também aquelas de deposição continental com contribuiçõesvulcânicas e piroclásticas. Essa unidade, localmente dobrada e intensamente falhada, é colocada so-breposta às vulcânicas ácidas da Formação Iriri do Grupo Uatumã e sotoposta às vulcânicas ácidas aintermediárias da Formação Roosevelt. O Grupo Beneficente foi tido como de idade pré-silurianaapenas por seu grau de metamorfismo, grau de perturbação e litologias. É colocado por outros auto-res no Pré- Cambriano Superior entre vulcânicas ácidas e uma seqüência vulcanossedimentar. As ro-chas que constituem o Grupo Beneficente são as formadas por arenitos ortoquartzíticos a arcosea-nos e arcóseos, claros a avermelhados e esverdeados, finos a médios, siltitos, argilitos e folhelhosesverdeados a avermelhados; tufos ácidos e riolitos intercalados; conglomerados intercalados, inclu-indo seixos de vulcânicas; quartzitos, metassiltitos e ardósias relacionados a zonas de falhas.

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2.2.1.2. Depósitos CenozóicosSão incluídos aqui os sedimentos da Formação Solimões e as Aluviões Antigas e Atuais de terraços e planícies fluviais. Formação SolimõesA Formação Solimões ocorre nos terraços dos interflúvios Madeira-Purus, margem direita do rioMadeira, parte do interflúvio Aripuanã-Madeira, e parte do interflúvio Aripuanã-Tapajós. Paraleloao rio Madeira, mais ao sul, no curso médio do rio Aripuanã, estão expostas as Formações Pré-Cambrianas (Beneficente, Prosperança, Xingu, Uatumã e outras). A Formação Solimões é constituí-da por sedimentos arenosos e síltico-argilosos depositados em lentes e camadas horizontais e subho-rizontais durante o Plioceno Médio ao Pleistoceno Superior. Esta Formação é composta por arenitosmuito finos a médios, com níveis grosseiros e conglomeráticos, matriz argilosa, localmente felds-páticos, micáceos e ferruginosos intercalados ou interdigitados com argilitos ou siltitos. Lentes dearenitos finos a médios localmente grosseiros, às vezes ferruginosos.Aluviões HolocênicasSão depósitos que acompanham os cursos d’água que fazem parte da Planície Amazônica. Estes de-pósitos registram a evolução da rede de drenagem instalada na região. As Aluviões Holocênicas po-dem ser separadas em atuais e indiferenciadas antigas. As aluviões antigas têm uma distribuiçãodescontínua (diferente das atuais) e representam marcas dos diferentes comportamentos dos agentesdeposicionais. Estas marcas denotam os movimentos dos meandros e a presença de diques aluviais.Os tamanhos destas formas assemelham se aos das planícies aluviais atuais, indicando que os riosapresentavam grandes dimensões. As atuais planícies fluviais são geralmente amplas e os cursos deágua têm padrão predominantemente sinuoso ou meândrico, com exceção do rio Madeira e seuprincipal afluente, o rio Aripuanã, que se apresentam mais retilíneos. Nestas áreas são freqüentesmeandros em lagos, meandros em colmatagem ou em furos resultantes da evolução dos rios. Todo orio Madeira, mais a foz do rio Aripuanã, apresenta solo aluvial (Holoceno) com argilas, siltes, areiasfinas e sedimentos de planície fluvial. Áreas de campinas ou “paleoplayas” são formações superfici-ais arenosas que são encontradas nos topos dos interflúvios tabulares. Geralmente são formadaspelo processo de “pediplanação” posterior a deposição da Formação Solimões, do Terciário. A for-mação destas campinas é do período “Neopleistocênico” e indica que a área foi submetida a altera-ções climáticas gradativas, desde o clima seco até o tropical úmido vigente. Nestes campos, a vege-tação florestal ainda não conseguiu penetrar totalmente.

2.3. GEOMORFOLOGIABaseando-se na altimetria relativa e na homogeneidade das formas do relevo, a interpretação eanálise da imagem de radar e dados da Missão Topográfica Radar Shuttle (acrônimo em inglêsSRTM), que são modelos digitais de terreno com alta resolução espacial (FARR, 2007), foi possívela identificação de 4 unidades morfoestruturais.

2.3.1. Planície AmazônicaA planície amazônica ao sul do rio Madeira é uma subunidade ilhada no Planalto Rebaixado daAmazônia (Ocidental). Por definição são consideradas como um conjunto das planícies propriamen-te ditas e de terraços fluviais e que apresentam fenômenos geomorfológicos, tais como: lagos de gê-neses diversas, furos, igarapés e paranás, áreas generalizadas com processos do tipo Slikke eSchorre, meandros confinados e depósitos lineares aluviais. Na região, verifica-se que as planíciesdo rio Madeira e do rio Aripuanã são estreitas em relação a outras encontradas ao norte. As planíciesgeralmente são sujeitas a inundações periódicas e eventualmente alagadas. No rio Madeira, a Pla-nície Amazônica tem seu limite na foz do rio Aripuanã, não ocorrendo à jusante. Os municípios deHumaitá e Novo Aripuanã localizam-se nas margens onde ocorrem relevos dissecados, não sujeitosa inundações.

2.3.2. Depressão Interplanáltica da Amazônia Meridional

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Constitui-se de uma superfície rebaixada, onde predominam interflúvios tabulares, colinas, cristas erelevos residuais dos tipos pontão, superfície tabular erosiva e grupamento de inselbergs, além deplanícies e terraços fluviais que orlam alguns rios da área. Observa-se que essa unidade morfoestru-tural apresenta a partir do rio Roosevelt para norte (região da área de estudo) padrões de drenagemparalela e retangular, enquanto que, para leste e para sul, predomina o padrão dendrítico. Estas for-mas estão esculpidas sobre rochas pré-cambrianas do Complexo Xingu e Grupo Beneficente ondese desenvolvem os solos Latossolo Vermelho Amarelo e o Podzólico Vermelho Amarelo.

2.3.3. Planalto Rebaixado da Amazônia (Ocidental)Sua principal característica são as extensas áreas conservadas e os relevos dissecados em interflú-vios tabulares. Caracteriza-se pela predominância de interflúvios tabulares de intensidade de apro-fundamento da drenagem muito fracos e índices de ordem de grandeza variáveis. Além dessa formaainda ocorrem superfície pediplanada e colinas. Há dois padrões de drenagens: dendrítico na partenoroeste e norte, e retangular no restante. Estas áreas são cobertas principalmente pelos sedimentospliopleistocênicos da Formação Solimões e litologias pré-cambrianas. Nesta unidade ocorrem gran-des paleovales em forma de Y (p. ex., entre os rios Atininga e Mataurá). O posicionamento dos riosPurus e Madeira, ao norte da área de estudo, permitiu dividir o Planalto Rebaixado da Amazônia(Ocidental) em três sub-unidades. Na região de estudo se encontra a sub-unidade sul do rio Madei-ra. Nesta sub-unidade se encontra os interflúvios tabulares onde se constatou a ocorrência de valesmortos, alguns largos, de fundo plano, onde se instalou vegetação do tipo Formação Pioneira emárea deprimidas, sobre cobertura arenosa, de tonalidade clara, correspondendo a Podzóis e AreiasQuartzosas Hidromórficas. Eles geralmente situam-se em posição interfluvial, em nível superior aosvales atuais, às vezes, no entanto, o interflúvio em que se posiciona o paleovale acusa leve caimentopara sua parte central, de modo a permitir que pequenos cursos de água vertam para o paleovale.Um exemplo é o paleovale entre o rio Manicoré e Manicorezinho, que se estende por 220 km, e éocupado por vegetação tipo Formações Pioneias (RADAMBRASIL, 1978). No entanto, são encon-trados vários paleovales entre os rios Madeira e Aripuanã.

2.3.4. Serras e Chapadas do CachimboEsta unidade é definida como um conjunto de relevos residuais em forma de cristas alinhadas para-lelamente, chamado de serras (ou colinas), e interflúvios tabulares, geralmente delimitados por re-bordos, e superfícies tabulares denominadas de chapadas. Alargadas na parte sul, estreitando grada-tivamente para norte, as Serras e Chapadas do Cachimbo em suas porções norte e sul e leste são cir-cundadas pelo Planalto Rebaixado da Amazônia (Ocidental), e a oeste pela Depressão Interplanálti-ca da Amazônia Meridional. Todos os rios que drenam esta unidade são afluentes ou subafluentesdo rio Aripuanã.

2.4. SOLOSA região apresenta grande variabilidade de classes de solos. As classes foram identificadas segundoa seção Pedologia do projeto RADAMBRASIL (1978). A área estudada ocupa a parte da FolhaSB20 Purus, entre as coordenadas 60-62° Oeste e 5-7° Sul. Foram identificadas as seguintes classesde solos: Latossolos Amarelos, Latossolos Vermelho-Amarelos, Podzólicos Vermelho AmarelosÁlicos, Solos Concrecionários Lateríticos Indiscriminados, Lateritas Hidromórficas, Solos Hidro-mórficos Gleyzados e Aluviais, Areias Quartsozas e Solos Litólicos.

2.4.1. Descrição das características físicas dos solos2.4.1.1. Latossolo AmareloCompreende solos minerais geralmente ácidos, muito profundos, friáveis, bem drenados, porosos epermeáveis. O horizonte óxico apresenta feições que estão em íntima relação com o avançado graude intemperismo sofrido pelo material de formação do solo. Caracteriza-se por apresentar predomi-nância de sesquióxidos, argila tipo 1:1, quartzo e outros minerais resistentes. Possuem baixa fertili-dade o que resulta a um aproveitamento limitado, muito embora apresente condições físicas e relevo

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favorável ao uso de fertilizantes e mecanização.Estes solos são dominantes no interflúvio dos riosMadeira e Aripuanã, sob cobertura vegetal de Floresta Ombrófila Densa. São variáveis as feiçõesgeomórficas onde ocorrem estes solos, constatando-se ocorrências sobre os interflúvos tabulares eraramente sobre as colinas. Estão associados às Areias Quartzosas Álicas, que aparecem em peque-na extensão na área. O material originário é representado pelos sedimentos da Formação Solimões,referentes ao período Plio-pleistoceno.

2.4.1.2. Latossolos Vermelho-AmarelosSão solos com horizonte B latossólico, possuindo características morfológicas, físicas e químicassemelhantes às do Latossolo Amarelo, entretanto apresentando teores de óxido de ferro mais eleva-dos e coloração mais avermelhada. Possui relação textural baixa, evidenciando a distribuição de ar-gila uniforme em todo o perfil, estando as argilas quase que totalmente floculadas. Assim como oLatossolo Amarelo, esta classe também possui baixa susceptibilidade à erosão, sendo que quasesempre nula, ou eventualmente laminar ligeira. Este solo esta associado principalmente ao Podzóli-co Vermelho Amarelo, com cobertura vegetal de Floresta Ombrófila Densa. Aparece em maior ex-tensão a sudeste da área e possui material originário proveniente da decomposição de rochas do pré-Cambriano.

2.4.1.3. Podzólicos Vermelho AmareloPertence a uma classe de solos não hidromórficos caracterizados por possuir um significante acú-mulo das argilas silicificadas. São solos minerais, profundos e medianamente profundos, de texturamédia a muito argilosa. Determinados fatores, como água das chuvas e remoção erosiva das cama-das superficiais, contribuem para a constante retirada de elementos, como cálcio e magnésio docomplexo coloidal do solo, conferindo ao perfil condições de intensa acidificação. O grau de flocu-lação é normalmente baixo, conferindo ao solo muita plasticidade e pegajosidade, influenciando po-sitivamente na erosão das camadas superficiais. Estes solos são bem drenados e moderadamentedrenados. Estes solos ocorrem, em maior evidência, nas superfícies pediplanadas, cristas e colinas,no sudeste da área em questão, principalmente entre os rios Manicoré e Marmelos. O relevo variade plano a fortemente ondulado e a vegetação predominante geralmente é a Floresta OmbrófilaDensa, porém muitas vezes associando-se à Floresta Ombrófila Aberta, onde a formação dos solosestá ligada aos sedimentos da Formação Solimões pertencente ao Pliopleistoceno. Ocorrem associa-dos ao Latossolo Vermelho Amarelo Álico, Laterita Hidromórfica Álica e Solos ConcrecionáriosLateríticos Indiscriminados.

2.4.1.4. Solos Concrecionários Lateríticos IndiscriminadosOs solos desta unidade tem como principal característica a ocorrência ao longo de todo o perfil dequantidade apreciáveis de concreções lateríticas, em conseqüência do intenso processo de oxirredu-ção a que é submetido as camadas superficiais do solo, acrescido de uma posterior exposição ao arpor agentes naturais ou pelo homem. Durante sua formação há o aparecimento de cores averme-lhadas, acompanhadas de concentrações de ferro e lixiviação das bases, tornando o solo bastanteácido. São geralmente de fertilidade natural baixa, as altas concentrações de concreções acarretauma significativa diminuição do volume real de terra, assim como da profundidade efetiva, condici-onando uma série de limitações ao uso agrícola quanto à fertilidade natural e desenvolvimento nor-mal das raízes. Apresentam-se sob cobertura vegetal do tipo Floresta Ombrófila Densa em relevosuave ondulado a forte ondulado, com material originário proveniente da decomposição de rochasdo Pré-Cambriano que se situam a sudeste da área.

2.4.1.5. Laterita HidromórficaEsta unidade encontra-se formada por solos minerais, pouco profundos, fortemente ácidos, bastanteintemperizados, moderadamente a imperfeitamente drenados, de textura argilosa a muito argilosa oumesmo indiscriminada, caracterizados por possuírem, próximo a superfície, um material mais argi-loso pobre em húmus, podendo ocorrer presença de mosqueados cinzento-claro em matriz averme-

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lhada, denominada plintita, que inicialmente tem consistência branda, conseqüência de continuadosperíodos de saturação com água, mas que quando em exposição permitem um endurecimento irre-versível. Possuem sérios impedimentos ao uso agrícola, principalmente na época de maior precipi-tação, uma vez que a drenagem insuficiente condiciona uma estreita zona de aeração que restringe aatividade das raízes e a fauna do solo. Este tipo de solo ocorre na microbacia do rio Marmelos, ocu-pando a parte mais plana dos interflúvios, coberta pela vegetação de Floresta Ombrófila Densa, Flo-resta Ombrófila Aberta e Savanas. Os sedimentos da Formação Solimões proporcionaram aos solosum predomínio de argilas cauliníticas de pouca capacidade de retenção de bases, conferindo umabaixa fertilidade e níveis tóxicos de saturação de alumínio.

2.4.1.6. Solos Hidromórficos Gleyzados DistróficosOs solos deste tipo são desenvolvidos sob grande influencia do lençol freático, próximo a super-fície. Portanto, estão submetidos a período de hidromorfismo, condicionando a redução do ferro e oaparecimento de cores gleyzadas. O horizonte A não é muito espesso ou com baixo conteúdo de ma-téria orgânica, apresenta cores próximas do cinzento-escuro. A textura mais comumente encontrada,dentre os solos, varia de franco-argiloso-siltoso a argila, com estrutura maciça e granular. Estão situ-ados ao longo dos rios Aripuanã, Manicoré e seus afluentes, que depositam sedimentos, condiciona-dos a períodos de hidromorfismo demorados, ocasionando processos de redução. A cobertura vege-tal é representada pela Floresta Tropica Ombrófila Densa Aluvial e Floresta Ombrófila Aberta Alu-vial, em relevo plano. Estes solos estão associados aos Solos Aluviais Eutróficos e à Laterita Hidro-mórfica.2.4.1.7. Areias QuartsozasSão solos que apresentam um perfil pouco evoluído, possuindo saturação de bases baixa e soma debases frequentemente muito baixa, alta saturação com alumínio trocável, com muito baixos teoresde argila nos horizontes superficiais. São solos minerais areno-quartzosos, profundos, que aparecemfortemente drenados, com baixa capacidade de retenção de umidade. São porosos, ácidos, de texturaarenosa, bastante degastados e apresentando horizonte A relativamente profundo. Desenvolvem-se apartir de sedimentos arenosos do Quartenário, sob vegetação de Formações Pioneiras das depres-sões, em relevo plano, ou de sedimentos arenosos inconsolidados de rochas do Pré-Cambriano, sobvegetação de Florestas Ombrófila e Savana, em relevo plano.

2.4.1.8. Solos LitólicosCompreendem uma classe de solos minerais rasos, pouco, desenvolvidos, apresentando um horizon-te A ausente sobre a rocha matriz, ou sobre um horizonte C de pequena espessura, ou ainda, em cer-tos casos, podem possuir um horizonte B incipiente. Possuem baixa fertilidade natural e são encon-trados a sudeste da área de estudo, geralmente sob Floresta Ombrófila Densa. São originados a par-tir de materiais provenientes da decomposição de rochas do Pré-Cambriano.

3. CARACTERÍSTICAS BIÓTICAS3.1. VEGETAÇÃO3.1.1. ContextualizaçãoA área em estudo faz parte do Bioma da Amazônia. Este bioma estende-se do oceano Atlântico àsencostas orientais da Cordilheira dos Andes, até aproximadamente 600 m de altitude, contendo par-te de nove países da América do Sul, sendo 69% dessa área pertencente ao Brasil, abrangendo osEstados do Pará, Amazonas, Maranhão, Goiás, Mato Grosso, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima,totalizando 4.871.000 km2 (INPE, 2001). Com relação à vegetação, na região de estudo foram iden-tificadas sete unidades fitoecológicas, sendo elas: Floresta Ombrófila Densa Terras Baixas, FlorestaOmbrófila Densa Submontana, Floresta Ombrófila Densa Aluvial, Floresta Ombrófila AbertaSubmontana, Floresta Ombrófila Aberta Aluvial, Floresta Ombrófila Aberta Terras baixas e Áreasdas Formações Pioneiras com influência Fluvial e/ou Lacustre. A fisionomia vegetal dominante naregião da área de estudo é a Floresta Ombrófila Densa e Aberta, que revestem as mais variadas for-mas de relevo pertencentes a diferentes épocas geológicas, abrangendo as estruturas geomorfológi-

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cas dos interflúvios tabulares, relevos dissecados e superficies pediplanadas. As áreas recobertaspela Floresta Ombrófila Aberta na região situam-se no interflúvio dos rios Madeira e Aripuanã, nasformas de manchas de vegetação em contato com a Floresta Ombrófila Densa. As palmeiras quemais se destacam na composição desta fisionomia são o babaçu (Orbignya phalerata) e o patauá(Oenocarpus bataua). As Formações Pioneiras localizam-se nas depressões dos interflúvios tabula-res e nas áreas de acumulação aluvial. Em ambos os casos, a fisionomia mais frequente é a arbóreae graminosa. As informações sobre a vegetação da região da Área Prioritária Manicoré/Aripuanã,principalmente ocorrência de espécies, foram retiradas das publicações do RADAMBRASIL (1978)e nas bases de dados do projeto Species Link, New York Botanical Garden (NYBG), Coleção doMuseu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e do Herbário do Instituto Nacional de Pesquisas da Ama-zônia (INPA).

3.1.2. Formações Fitoecológicas3.1.2.1. Floresta Ombrófila Densa Terras BaixasCaracteriza-se por apresentar dossel fechado, compacto, com altura entre 25 e 35 m, do qual sobres-saem as árvores emergentes, atingindo até 40 m, sendo comuns as Sapotaceae, Lauraceae, Lecythi-daceae, Myristicaceae, além das Fabaceae e Vochysiaceae. A luz solar raramente atinge o solo, tor-nando o sub-bosque, de modo geral, limpo e sombrio, onde proliferam as espécies herbáceas perten-centes às famílias das Maranthaceae, Musaceae e Zingiberaceae. Esta cobertura florestal apresentagrupamentos de árvores emergentes nas elevações mais pronunciadas dos interflúvios, como o an-gelim-da-mata (Hymenolobium petraeum), angelim-pedra (Dinizia excelsa), tauari (Couratari spp.),castanha-do-pará (Bertholletia excelsa), entre outras. E significativa a presença de palmeiras quecompetem em luz no estrato arbóreo superior, como babaçu (Orbignya phalerata), patauá (Oeno-carpus bataua), açaí (Euterpe oleracea), ocorrendo preferencialmente nos locais mais úmidos.

3.1.2.2. Floresta Ombrófila Densa SubmontanaEste grupo de formação cobre os platôs capeados pela cobertura de plataforma pré-cambriana e a dorelevo dissecado em colinas. A formação nos platôs apresenta a floresta com estrutura uniforme,composta de árvores grossas com altura, algumas vezes, superior a 40 m, com ou sem palmeiras elianas. Possui grande número de árvores emergentes. Não tem estrato arbustivo, mas apresenta in-tensa regeneração de espécies arbóreas. Nesta formação predominam as seguintes espécies: abiora-nas (Pouteria spp.), matamatás (Eschweilera spp.), caripé (Licania pruinosa), ucuúba-damata (Vi-rola carinata), matamatá-branco (Eschweilera coriacea) ingaxixi (lnga alba) e caxuá (Trichiliaparaensis) .

3.1.2.3. Floresta Ombrófila Densa AluvialFormação florestal característica das áreas inundáveis pelas cheias sazonais, ecologicamente adap-tadas as intensas variações do nível da água, beneficia-se, no entanto, da renovação regular do solodecorrente das enchentes periódicas. Durante a época das cheias, existe diminuição das atividadesbiológicas, ocorrendo, estado de dormência e seca fisiológica. A sumaúma (Ceiba pentandra) provi-da de enormes raízes tabulares, e a representante mais expressiva neste grupo de formação. Esta ar-vore vive ao lado de abundantes palmáceas, como o açaí (Euterpe oleracea) e buriti (Mauritiaf1exuosa).

3.1.2.4. Floresta Ombrófila Aberta SubmontanaFormação caracterizada fisionomicamente pela presença de grandes árvores espaçadas, possibilitan-do a penetração de luz até os estratos inferiores, permite o aparecimento de cipoal, cocal ou bam-buzal, nestes espaços abertos. Formação arbórea, total ou parcialmente envolvida por lianas, carac-teriza-se pelo adensamento de cipoal nas encostas e palmáceas nos fundos dos vales, o que possibi-lita uma separação em duas sub-formações distintas: com palmeiras e com cipós. Na sub-formaçãocom cipós, as árvores apresentam-se esparsas com galhos e copas envolvidas num emaranhado degrossos sarmentos pendentes. No cipoal destacam-se as seguintes espécies arbóreas: acapu (Voua-

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capoua americana), angelins (Hymenolobium sp. e Pithecelobium sp.) maçaranduba (Manilkarahuberi) e peroba (Aspidosperma macrocarpum). A subformação com palmeiras ocorre nos fundosdos vales, onde existe maior concentração de umidade e nutrientes, que nas condições climáticasatuais tendem a migrar por gravidade, acumulando-se neste setor. As espécies de palmeiras caracte-rísticas são: babaçu, patauá e açaí.

3.1.2.5. Floresta Ombrófila Aberta AluvialÉ uma formação arbórea com palmeiras que ocupa principalmente as planícies e terraços dos riosMadeira e Aripuanã. Este ambiente permanece encharcado durante todo o ano. O buriti caracteriza aassociação com alto índice de presença chegando a formar povoamento quase puro em determina-das áreas. O babaçu e o patauá também estão presentes na área, em escala pouco representativa.Além das espécies citadas anteriormente tem-se também: açaí, paxiúba-barriguda, bacaba, inajá,dendê e outras. Existe também a Floresta Ombrófila Aberta com Palmeiras, que esta localizada so-bre os interflúvios dominados pelo babaçu e patauá. Estas espécies ocorrem ora isoladas, ora juntas,combinando-se também com as outras espécies. Nos terraços do rio Madeira, as áreas tomam di-mensões mais amplas e a presença das palmeiras torna-se menos intensa, em direção a jusante dorio.

3.1.2.6. Floresta Ombrófila Aberta Terras BaixasApresenta feição mista de palmeiras e árvores latifoliadas, sempre verdes e bem espaçadas, de altu-ra irregular com grupamentos de babaçu (Orbignya phalerata) e patauá (Oenocarpus bataua), prin-cipalmente nos interflúvios do Terciário. Nos vales de fundo chato, de encharcamento constante,ocorre concentração de buriti (Mauritia f1exuosa). Na comunidade ocorrem espécies lenhosas,como tachi-branco (Tachigalia alba), sorva (Couma guianensis) e outras. As características pedoló-gicas predominantes são: solos Podzólicos nos interflúvios dissecados, e Laterita Hidromórfica nosinterflúvios conservados.

3.1.2.7. Áreas das Formações Pioneiras com influência Fluvial e/ou LacustreSão formações em fase de sucessão, instaladas em ambientes de solos azonais, que se encontram aolongo dos rios e em locais deprimidos dos interflúvios tabulares do Terciário. São caracterizadas pe-los depósitos aluvionais recentes, apresentando três estágios de desenvolvimento: graminoso, arbus-tivo e arbóreo. A comunidade que compõe esta área esta subdividida em três formações: arbórea, ar-bustiva e gramíneolenhosa.

Arbórea - Esta formação por sua vez apresenta duas sub-formações: com palmeira e sempalmeiras. As árvores mais comuns são: buriti (Mauritia flexuosa), caranã-grande (Mauritia ca-rana), imbaúbas (Cecropia spp.), babaçu (Orbignya phalerata), patauá (Oenocarpus bataua) e açaí(Euterpe oleracea).

Arbustiva - Na sub-formação arbustiva as espécies lenhosas não ultrapassam a altura de 10m. As especies arbustivas formam pequenos grupamentos, constituídos de número variado de indi-víduos e espécies. Estes grupamentos distribuem-se isoladamente, deixando espaços livres, cobertospor raras gramíneas, xiridáceas, ciperáceas, musáceas e outras, fazendo transparecer solos de areiabranca. As espécies rasteiras acima ocorrem densamente debaixo de arbustos. A florística caracte-riza-se no estrato arbustivo pela dominância de Humiria sp., Swartzia sp., Myrcia sp., Protium sp.,Parkia sp., Macrolobium sp., Macairea sp. e outras.

Gramíneo-lenhosa - Nesta sub-formarção dominam as espécies de porte rasteiro, como asgramíneas, ciperáceas, xiridáceas, pequenas melastomatáceas e outras. As principais especies são:Bambusa sp., Abolboda grandis, Xyris sp., Sandemania sp., e Tococa sp.

3.1.3. Espécies ameaçadas de extinçãoAs espécies ameaçadas de extinção encontradas na região de estudo são:� castanheira-do-pará (Bertholletia excelsa)� cerejeira (Amburana cearensis var. acreana)

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� mogno (Swietenia macrophylla)� pau-rosa (Aniba rosaeodora)

3.1.4. Espécies de importância econômicaO projeto RADAMBRASIL (1978) identificou várias espécies de importância econômica na regiãoem estudo sendo elas: arurá-branco (Osteophloeum platyspermum), cinzeiro (Vochysia spp.), cupiu-ba (Goupia glabra), ipêamarelo (Tabebuia serratifolia), itaúba (Mezilaurus itauba), muirapiranga(Brosimum paraense), muiratinga (Maquira sclerophylla), piquiarana (Caryocar glabrum), sucupira(Bowdichia nitida), ucuúba (Iryanthera sp.), Angelim-pedra (Hymenolobium nitidum), anani(Symphonia globulifera), cardeiro (Scleronema micranthum), copaíba (Copaifera langsdorfii ), cu-piuba (Goupia glabra), louro-canela (Ocotea fragantissima), roxinho (Peltogyne cf. subsessilis) emorototó (Schefflera morototoni).

3.2. FAUNA3.2.1. ContextualizaçãoA Área de estudo esta inserida na bacia do rio Madeira, uma região da Amazônia brasileira aponta-da com grande potencial de biodiversidade. No entanto, esta é uma região pouco estudada e, nos úl-timos anos, vem sofrendo uma pressão antrópica cada vez mais forte. Recentemente o lançamentoda publicação “Biodiversidade do Médio Madeira” (PY-DANIEL, 2007) mostrou a incrível diversi-dade de espécies de fauna desta região, o que gerou novos subsídios para propostas de criação deUnidades de Conservação nesta região. O interflúvio Madeira-Tapajós contém áreas de endemismode sagüis (gênero Callithrix) e pássaros (dos gêneros Capito e Rhegmatorhina, entre outros), quesugerem um grau de variação geográfica e endemismo biológico maior que em qualquer outro lugarna Amazônia. Nos últimos dez anos, pelo menos três espécies novas de primatas foram descritasdentro da área. Também dentro desta área, duas espécies novas de aves foram descobertas, porémainda não descritas, e há suspeitas de várias outras (Cohn-Haft, dados não publicados). As informa-ções sobre a fauna da região, principalmente ocorrência de espécies, foram retiradas da publicação“Biodiversidade do Médio Madeira” (PY-DANIEL, 2007), e das bases de dados do projeto SpeciesLink, Coleção do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e da Coleção Zoológica do Instituto Na-cional de Pesquisas da Amazônia (INPA). A seguir são apresentadas as informações sobre a ictio-fauna, herpetofauna, avifauna e mastofauna da região de abrangência da Área Prioritária.

3.2. Ictiofauna3.2.1. ChondrichthyesDentre os peixes cartilaginosos, predominantemente marinhos, apenas uma família de raias é endê-mica da região Neotropical. A família Potamotrygonidae se caracteriza por uma redução de teor deuréia no sangue e redução da glândula rectal, consequência de sua adaptação fisiológica à vida naágua doce. Dois gêneros podem ser encontrados na região: Potamotrygon, com as espécies P. mo-toro, P. scobina e P. cf. orbigny e o monotípico Paratrygon ayereba.

3.2.2. DipnoiA família Lepidosirenidae é a única representante dos peixes pulmonados na região Neotropical po-dendo ser caracterizada pelo corpo comprimido, coberto de escamas grandes, nadadeiras peitoral epélvica transformadas em filamentos e presença de um pulmão verdadeiro. A espécie Lepidosirenparadoxa (pirambóia) pode ser encontrada em rios, lagos e tributários da região, até mesmo sobre avegetação aquática.

3.2.3. OsteoglossomorphaAs duas famílias neotropicais, Arapaimatidae e Osteoglossidae, estão presentes na sub-bacia do rio Madeira. Arapaimatidae, cujo representante é Arapaima gigas, o pirarucu, um dos maiores peixes de água doce, é caracterizada pela extensa ossificação da língua, escamas muito desenvolvidas, cor-po roliço, cauda comprimida, crânio fortemente esculturado. Já, a família Osteoglossidae é repre-

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sentada na Amazônia por um gênero e duas espécies: Osteoglossum bicirrhosum (aruanã-branco) e O. ferreirai (aruanã-preto), e pode ser caracterizada pelo corpo alongado e comprimido, abertura bucal extensa e muito desenvolvida, presença de nadadeiras dorsal e anal longas.

3.2.4. ClupeomorphaNa área de estudo pode ser encontradas as famílias Engraulididae e Pristigasteridae. Este grupo épredominantemente marinho e se caracteriza por apresentar corpo fusiforme, de coloração prateadaou dourada, e comprimido lateralmente. Os Engraulididae são peixes de tamanho pequeno a médioe geralmente com o focinho prolongado. Espécies dos gêneros Anchovia, Anchoviella, Jurengraulise Lycengraulis, podem ser encontradas tanto no rio Madeira como no Aripuanã, geralmente associa-dos a águas rasas (praias ou margens de rio). Já a família Pristigasteridae, com exemplares de pe-queno a grande porte, é representada na região pelas espécies: Ilisha amazonica, Pellona castelnae-ana e P. flavipinnis (apapás, de certo interesse comercial), e as pequenas papudinhas Pristigastercayana e P. whiteheadi.

3.2.5. Ostariophysi3.2.5.1. Ordem CharaciformesNa região de estudo devem ocorrer pelo menos 196 espécies desta ordem. Esta ordem é caracteriza-da pela presença de escamas, ausência de barbilhões, corpo comprimido lateralmente na sua grandemaioria, predominância de uma a duas fileiras de dentes cônicos, olhos grandes e laterais. As es-pécies mais relevantes na área são: tambaqui, a piranha, o aracu, peixe-cachorro, o jaraqui, a curi-matã, a traíra, sardinhas e todas as piabas. Estas espécies podem ser encontradas em quase todos osambientes - praias, beiras, capins, igarapés, lagos e grandes rios – estando ausentes, porém, do fun-do dos grandes rios. O trabalho de Py-Daniel et al. (2007) cita a possibilidade de existir na regiãoespécies não descritas do gênero Hemiodus e Thayeria.

3.2.5.2. Ordem SiluriformesOs Siluriformes são caracterizados pelo corpo deprimido, presença de barbilhões, boca geralmenteampla e com dentes frágeis, dispostos em várias fileiras, olhos pequenos e corpo liso ou coberto deplacas ósseas. Este grupo inclui predadores de topo de cadeia alimentar, como os grandes bagres(Brachyplatystoma spp., Pseudoplatystoma spp.); peixes onívoros, detritívoros, necrófagos, raspa-dores de muco, semi-fossoriais (Phreatobius sp. n.) e até hematófagos (Trichomycteridae – candi-rús). Este grupo de peixes é amplamente distribuído tanto no rio Madeira como no rio Aripuanã etambém nos seus tributários e lagoas. A publicação “Biodiversidade do Médio Madeira” (PY-DANIEL, 2007) relata que várias formas novas para ciência foram encontradas nesta região recen-temente (Ochmacanthus sp. n., Paravandellia sp. n., Phreatobius sp. n., Pimelodus sp.n.), e novosregistros de espécies (Planiloricaria cryptodon, Propimelodus eigenmanni) e de gêneros (Phreato-bius só era conhecido para o baixo Amazonas).

3.2.5.3. Ordem GymnotiformesConhecidos como peixes elétricos, esses peixes se caracterizam pelo corpo alongado, comprimidolateralmente ou roliço, nadadeira anal longa e ausência das nadadeiras dorsal, pélvica e quase sem-pre, a caudal. Apresentam capacidade de gerar e detectar descargas elétricas. Esses peixes podemser encontrados, na bacia do rio Madeira, em igarapés (como por exemplo, as espécies Brachyhypo-pomus spp., Microsternarchus spp. e Gymnotus spp.), capim flutuante (Eigenmannia spp., Ster-nopygus cf. macrurus, Apteronotus spp.) e fundo ou calha dos rios (Gymnorhamphichthys spp.,Sternarchella spp., Steatogenys elegans, Rhabdolichops spp.).

3.2.6. Acanthopterygii3.2.6.1. Ordem PerciformesEste grande grupo é representado na região por quatro famílias: Cichlidae, Sciaenidae, Gobiidae ePolycentridae. Os ciclídeos podem estar presentes em vários ambientes, principalmente em áreas de

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igarapés. Esse grupo inclui os peixes conhecidos como carás, tucunarés, jacundás e outros. Os Scia-enidae incluem peixes conhecidos como pescadas e corvinas, de interesse comercial, de médio agrande porte, com escamas, boca ampla, dorsal longa e com vários espinhos e linha lateral contínua,que se prolonga até o fim da nadadeira caudal. Podem ser encontradas nos grandes rios, praias emargens, ou mesmo em capim flutuante. Os Gobiidae são representados por espécies como: Mi-crophilypnus macrostoma e M. amazonicus. Esses peixes são extremamente pequenos, podendo me-dir até 2cm, e apresentam duas dorsais frágeis e linha lateral evidente na cabeça. São peixes princi-palmente encontrados em igarapés ou praias. Os Polycentridae tem pouquíssimos representantes naAmazônia. A espécie Monocirrhus polyacanthus, conhecida como peixe-folha é a mais representati-va deste grupo.

3.2.6.2. Ordem CyprinodontiformesOs representantes neotropicais desta ordem são peixes altamente diferenciados, de tamanho peque-no, com a linha lateral principalmente na cabeça. Ocorrem na região as famílias Rivulidae e Poecili-idae. As espécies deste grupo podem encontradas em igarapés (de inundação e terra firme), tanto dorio Madeira como do rio Aripuanã.

3.2.6.3. Ordem BeloniformesOs peixes desta ordem são conhecidos como peixes-agulha e se caracterizam por apresentar um ex-tenso prolongamento de ambas as maxilas, corpo alongado, de coloração prateada ou com listras co-loridas e o hábito de nadar na superfície. É um grupo de ampla distribuição, sendo as espécies Pota-morrhaphis guianensis, P. eigenmanni e Belonion apodion geralmente encontradas nos grandes rios.

3.2.6.4. Ordem SynbranchiformesEste grupo é representado na Amazônia por apenas uma família, Synbranchidae, um gênero Syn-branchus, com uma espécie muito conhecida, o muçum (Synbranchus marmoratus). Ocorrem pre-dominantemente em capim flutuante e igarapés, em ambientes nos rios Madeira e Aripuanã.

3.2.6.5. PleuronectiformesEste grupo comporta as formas conhecidas como aramaçás, solhas, soias ou linguados. São peixescom corpo comprimido lateralmente, mas que nadam apoiados sobre o substrato, como as arraias.Apresentam os dois olhos em apenas um lado da cabeça nos adultos, enquanto que a boca permane-ce em sua posição “normal”. As espécies Pnictes aff. asphyxiatus, Apionichthys rosai e Hypocline-mus mentalis, podem ser encontradas no fundo dos rios Aripuanã e Madeira, e seus tributários.

3.2.6.6. TetraodontiformesApesar de predominantemente marinhos, os baiacus ocorrem nas águas doces da Amazônia, ondesão representados pela família Tetraodontidae. São peixes de tamanho pequeno, corpo roliço e nada-deiras pequenas com poucos raios. Os baiacus amazônicos têm corpo liso, dentes fortes e tambémapresentam um veneno alcalóide forte, que se aloja nas gônadas. São encontrados em praias, fundode rio (menos de dez metros) e capim. 3.3. HerpetofaunaDevido à escassez de trabalhos de herpetofauna para região, neste relatório serão compiladas as in-formações somente de um estudo (VOGT et al., 2007) realizado na bacia do rio Madeira. Neste es-tudo Foram registradas 47 espécies de anuros (22 gêneros, seis famílias), 24 espécies de lagartos(16 gêneros, sete famílias), 19 espécies de serpentes (16 gêneros, quatro famílias), seis espécies dequelônios (cinco gêneros, três famílias) e três espécies de jacarés (três gêneros, uma família) e umaespécie de anfisbena.

3.3.1. Anfíbios

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A família Hylidae e Leptodactylidae são as que possuem maior riqueza específica. Leptodactylusandreae e Dendrophryniscus minutus são espécies comuns e abundantes que ocorrem em toda áreade estudo. Outras espécies também são freqüentes, como Rhinella gr. margaritifer, Rhinella granu-losa, Dendropsophus walfordi, Ctenophryne geayi e Allobates gr. marchesianus. Possivelmente 16espécies de anfíbios anuros podem ocorrer nos interflúvios dos rios Aripuanã e Madeira em florestade terra firme. Além da ocorrência em floresta de terra firme, Sphaenorhynchus lacteus, Lepto-dactylus knudseni e Leptodactylus sp. podem ocorrer em bancos de macrófitas flutuante durante acheia. A espéce Dendropsophus leucophyllatus pode ser encontrada em áreas de campina e florestade terra firme e Pseudis paradoxa pode ocorrer em campinas alagadas e bancos de macrófitas flutu-ante. O registro de 47 espécies de anuros para a região, no estudo de Vogt et al. (2007), para o mé-dio Madeira está de acordo com a média de espécies registrada por Duellman (1999) para a regiãocentral da bacia Amazônica (média= 46,2 espécies) e com o trabalho de Heyer (1977), também nomédio Madeira, com 50 espécies de anuros.

3.3.2. SerpentesA família Colubridae é o grupo de serpentes mais numeroso da região, sendo representado por 13espécies. As demais famílias, Boidae, Elapidae e Viperidae, foram representadas por apenas duasespécies cada. No mínimo, quatro espécies de serpentes peçonhentas podem ser encontradas na re-gião: as jararacas Bothrops atrox, espécie mais comum, responsável por freqüentes acidentes nascomunidades ribeirinhas; B. brazili, espécie mais rara, constatada apenas no rio Aripuanã; e as co-rais verdadeiras Micrurus hemprichii e Micrurus spixii, detectadas no período da cheia. Ocorremtambém na região espécies como Boa constrictor, Helicops angulatus, Hydrodynastes gigas, Hy-drops martii e Siphlophis compressus.

3.3.3. LagartosPelo menos sete famílias de lagartos e uma espécie de anfisbena ocorrem nos interflúvios dos riosAripuanã e Madeira. As famílias mais numerosas são Gymnophthalmidae com sete espécies: Ar-throsaura reticulata, Bachia flavescens, Cercosaura ocellata, Iphisa elegans, Leposoma osvaldoi eLeposoma percarinatum; e Teiidae, com cinco espécies: Ameiva ameiva, Crocodilurus amazonicus,Kentropyx altamazonica, Kentropyx calcarata e Kentropyx pelviceps. A maioria das espécies é en-contrada nas Florestas Ombrófilas de Terras Baixas, sendo que algumas são mais abundantes nestesambientes, como é o caso de Coleodactylus amazonicus, Leposoma osvaldoi e Kentropyx pelviceps.O lagarto Coleodactylus amazonicus é a única espécie registrada em área de campina, e Crocodilu-rus amazonicus e Iguana iguana podem ser encontradas apenas em floresta de igapó. Entre as an-fisbenas, apenas Amphisbaena fuliginosa possui registro na área.

3.3.4. QuelôniosA Amazônia brasileira conta com 15 espécies de quelônios de água-doce e duas espécies de quelô-nios terrestres. Na região é possível encontrar, pelo menos, cinco espécies aquáticas e uma terrestre:Chelus fimbriatus, Peltocephalus dumerilianus, Podocnemis sextuberculata, Podocnemis unifilis,Phrynops gibbus, Geochelone denticulata. As populações de quelônios nos rios Aripuanã e Madeiraaparentemente são baixas. A pressão de pesca de quelônios nessas regiões foi muito elevada nopassado, a ponto de essas populações serem designadas como ameaçadas pela IUCN(http://www.iucn.org). Na cabeceira do rio Aripuanã são necessários mais esforços para ser registra-da a presença de Phrynops geoffroanus e Phrynops raniceps. A espécie Phrynops gibbus já foi en-contrada em poças temporárias na terra firme, este registro é um bom indicador da qualidade ambi-ental do local e estudos de longo prazo sobre a ecologia desta espécie, tão pouco conhecida para aciência, deveriam ser incentivados.

3.3.5. JacarésNo Brasil ocorrem cinco espécies de jacarés, quatro destas têm distribuição na Amazônia brasileira,sendo eles jacaré-açu (Melanosuchus niger), jacaré-tinga (Caiman crocodilus), jacaré-paguá (Pale-

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osuchus palpebrosus) e jacaré-coroa (Paleosuchus trigonatus). Durante o trabalho foi registrada apresença de três espécies, jacaré-açu, jacaré-tinga e jacarépaguá. Melanosuchus niger foi registradonos rios Aripuanã e Madeira e C. crocodilus, no rio Aripuanã. Para os jacarés a destruição do habitate exploração inadequada são as principais ameaças de suas populações. Estes animais são persegui-dos por sua carne, ovos e couro. A conscientização ambiental e melhorias na educação em comuni-dades rurais e sugestão de alternativas a estas atividades têm sido componentes importantes nas es-tratégias de conservação para essas espécies comercialmente importantes.

3.4. AvifaunaEstima-se que existe na bacia do rio Madeira cerca de 800 espécies de aves, representando quase ametade da avifauna brasileira. Esta região sem dúvida esta entre as mais ricas em aves de todo oplaneta. A explicação desta riqueza se deve pelo de uma conjunção de fatores. A heterogeneidade deambientes contribui para hospedar muito mais espécies do que uma região homogênea, e a FlorestaOmbrófila Densa e Aberta de Terras Baixas, juntamente com outros tipos de vegetação presentes naregião mantém uma riqueza de espécies que nenhum destes habitat teria sozinho. Destacam-se naavifauna da região, espécies especializadas em ambientes peculiares ou restritas a áreas de ende-mismo, como: Skutchia borbae, Conopophaga melanogaster e Odontorchilus cinereus. Também épossível encontrar exemplos de avifauna especializada em ilhas fluviais como Furnarius minor, Sy-nallaxis propinqua, Certhiaxis mustelina, Cranioleuca vulpecula e Stigmatura napensis. Ocorremna região também espécies raras, poucos conhecidas e/ou recém descritas, tais como: Micrasturbuckleyi, Micrastur mintoni, Odontophorus gujanensis, Aratinga pertinax, Touit huetii, Gypopsittaaurantiocephala, Amazona kawalli, Nyctibius bracteaus, Chordeiles pusillus, Streptoprocne zona-ris, Avocettula recurvirostris, Notharchus ordii, Eubucco richardsoni, Picumnus aurifrons, Myrmo-therula klagesi, Herpsilochmus rufimarginatus, Xiphorhynchus ocellatus, entre outros.

3.5. Mastofauna3.5.1. Pequenos mamíferos e morcegosO estudo de Silva et al. (2007) registrou sete gêneros e 12 espécies de marsupiais e oito gêneros deroedores para área de estudo. Dentre os roedores, foram registradas apenas quatro espécies de mu-rídeos, duas de equimídeos e dois esquilos. Na região o gênero Proechimys é o mais abundante. Asespécies de marsupiais Micoureus demerarae e Marmosops spp. também podem apresentar altaabundância na região. Apenas o marsupial Micoureus demerarae pode ser encontrado em todas aslocalidades. Quanto aos roedores, apenas os gêneros Oecomys e Proechimys são comuns no inter-flúvio dos rios Madeira e Aripuanã. Com relação ao grupo dos morcegos, o atual estado do conheci-mento biológico da diversidade na bacia do rio Madeira é escasso, comparado com outras regiõesda Amazônia brasileira. Os inventários da diversidade de morcegos amazônicos estão concentradosprincipalmente em áreas próximas a centros urbanos, como Manaus/AM, Belém/PA e Alter doChão/PA. Através dos mapas de distribuição das espécies de morcegos neotropicais proposto porEmmons & Feer (1997) e Eisenberg & Redford (1999) já foi registrado para bacia do rio Madeira92 espécies de morcegos o que corresponde a 74% das espécies de morcegos da Amazônia brasilei-ra. Espécies como Carollia brevicauda, Rhinophylla pumilio, Vampyressa brocki, Lophostoma sil-vicolum, Phylloderma stenops, Trachops cirrhosus e Pteronotus parnellii podem ser encontradasnaregião.

3.5.2. Médios e grandes mamíferosA bacia do rio Madeira apresenta uma grande diversidade de mamíferos, além de ser uma área deendemismo e de grande concentração de primatas. Somente na região da Área PrioritáriaManicoré/Aripuanã ocorrem 13 espécies de primatas. Sendo que três são novas espécies que foramdescritas recentemente (Mico manicorensis, Callibella humilis, Callicebus bernhardi). Ainda foi su-gerido que sete espécies de primatas encontradas às margens do rio Aripuanã são possivelmente no-vas para a ciência (Roosmalen & Roosmalen 2003). Por isso, esta região além de apresentar ende-mismos também apresenta alta concentração de espécie de primatas. Entre as espécies que ocorrem

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na área de estudo, nove são consideradas vulneráveis à extinção de acordo com as categorias daIUCN. Os endemismos são observados principalmente em primatas (ex: Mico manicorensis, M.Callibella humilis, Callicebus bernhardi).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A região possui alta heterogeneidade ambiental, grande diversidade biológica e possui baixa ocupa-ção antrópica, sendo uma das áreas com maior ocorrência de primatas da Amazônia e também commaior riqueza específica de aves do Brasil. Além disso, pelo menos três primatas são endêmicos daregião e diversas espécies novas de vários grupos de fauna são descobertas todo ano. A criação deUnidades de Conservação na região poderá conservar populações de grandes primatas (ex: Ateles eLagothrix) que necessitam de grandes áreas para manter populações viáveis, que sejam suficientespara manter não só populações destes primatas como também grandes carnívoros e ungulados. Aimplantação de Unidades com grandes áreas é fundamental para a manutenção de populações viá-veis de espécies como Speothos venaticus, Pteronura brasiliensis, de Felídeos ou de grandes Falco-niformes como o gavião-real (Harpia harpyja) e Morphnus guianensis. Com relação aos aspectoscênicos e geomorfológicos relevantes, nesta região se destaca a maior cachoeira da região, variascorredeiras e o aparecimento das formações denominadas paleocanais, que são vales mortos de fun-do plano, onde se instalou atualmente vegetação do tipo Formação Pioneira. Estas feições além deserem importantes por resguardarem ações de eventos geológicos do Quaternário, por estarem inse-ridas no meio das Florestas Ombrófilas, propiciam também um ambiente heterogêneo nos pedipla-nos rebaixados da região. Muitas espécies de aves, peixes e anfíbios usam estas formações comoberçários e como fonte de alimentação.

Com relação à ocupação humana, as áreas propostas para a criação das unidades apresentam baixastaxas de desmatamento quando comparadas com outras áreas da Amazônia legal. Além disso, prati-camente inexistem focos de calor, indicando incipiente ocupação na região.

Portanto, para a proteção deste inigualável patrimônio brasileiro estão sendo propostas diferentescategorias de criação de unidades de conservação, de acordo com as peculiaridades e tendências dolocal e da presença de ocupação humana.

Essa região está sendo alvo para a criação de unidades de conservação desde 2005 com a elaboraçãode estudos para a criação de uma reserva biológica, duas reservas extrativistas. Foram realizadas va-rias reuniões na região com lideranças locais e representantes de populações tradicionais com vistasa criação destas unidades.

A criação de unidades nesta região poderá ajudar a controlar o desmatamento que avança em dire-ção norte da rodovia BR-230. O diagnóstico dos aspectos naturais realizado na área demonstra suavocação para atividades que promovam a conservação florestal. A maioria dos solos da região é po-bre em nutrientes, ácidos, com baixos níveis de argila e com alto teor de laterita. Assim, possuembaixa aptidão para atividades agrícolas e também para formação de pastagens.

Existe uma tendência observada na região para a exploração florestal principalmente devido ásáreas próximas as estradas o que facilita o escoamento da produção madeireira. No entanto, retiradade madeira para posterior atividade agrícola e/ou agropecuária tem viabilidade questionável devidoa problemas de erosão, empobrecimento e laterização do solo, e até mesmo a necessidade de altosgastos com insumos agrícolas.

Na região onde está previsto a vicinal de ligação da vila Matupi a sede do município de Manicoréesta sendo proposta a criação de uma unidade de conservação de uso sustentável com o objetivo deordenar o processo de ocupação na região principalmente com relação a conciliação da conservação

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ambiental dos campos naturais, ambientes extremamente frágeis, e a construção da rodovia queconecta a sede do município de Manicoré à vila de Matupi. Contiguo aos limites dessa unidade estásendo proposta a criação de uma unidade de conservação de proteção integral, com o objetivo deproteger integralmente as áreas de campo natural e a manutenção dos atributos biológicosencontrados na região. A área em questão apresenta uma grande riqueza da fauna e flora, além deinúmeros endemismos.

Na região mais próxima á vila Matupi, à BR – 230 e o rio Aripuanã está sendo proposta a criação deuma unidade de conservação de uso sustentável, provavelmente uma Floresta Nacional comobjetivo o uso múltiplo da floresta procurando criar meios alternativos de geração de rendaconciliando com o manejo florestal sustentável.

Na divisa entre os estados do Amazonas e Pará está sendo proposta outra unidade de conservação deuso sustentável como objetivo de compatibilizar o manejo florestal sustentável com o potencialminerário da região.

Na porção central da área de estudo está sendo proposta a criação de uma unidade de conservaçãode proteção integral provavelmente um do Parque Nacional com o objetivo, entre outros deproteger os rios de grande beleza cênica possibilitando o desenvolvimento do turismo em contatocom a natureza. Nessa região se destacam os aspectos cênicos e geomorfológicos relevantes, nestaregião está presente a maior cachoeira da região e várias corredeiras. A área apresenta enormepotencial científico e ecoturístico devido principalmente ao grau de preservação da diversidadebiológica. A baixa densidade populacional é outro fator que contribui para a defesa e garantia doatual status de conservação da área. Criando novas alternativas econômicas para o município deApuí.

Ao sul desta região está sendo proposta a transformação de parte do Projeto de Assentamento- PASão Benedito em uma unidade de conservação de grupo ainda não definido e na região do PAGuaribas está sendo proposta a transformação de parte do assentamento em uma unidade de usosustentável e outra parte em unidade de conservação de proteção integral.

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BIBLIOGRAFIA

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