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UNIV FACULDAD CURS Proposta de Plan para uma Empre com B VERSIDADE DE PASSO FUND DE DE ENGENHARIA E ARQUITE SO DE ENGENHARIA AMBIENTA Raquel Lorenzoni Camera no de Gerenciamento de Res esa Metalúrgica da cidade de Base na Produção mais Limp Passo Fundo 2010 DO ETURA AL síduos Sólidos e Ibirubá-RS, pa.

Proposta de Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos

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A indústria atualmente vem buscando, a partir de exigências, sejam elas do órgão ambiental,ou de mercado, melhorias quanto ao impacto ambiental gerado pelo seu processo produtivo.Em especial as indústrias do setor metalúrgico, por gerarem resíduas indústrias perigosos,ocupando a terceira posição no Estado do Rio Grande do Sul, em relação à geração dosresíduos sólidos indústrias perigosos (Classe I), e a segunda posição quanto à geração deresíduos sólidos industriais não perigosos (Classe II).

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  • UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDOFACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA

    CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

    Proposta de Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos para uma Empresa Metalrgica

    com Base na

    UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDOFACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA

    URSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

    Raquel Lorenzoni Camera

    Proposta de Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos Empresa Metalrgica da cidade de Ibirubcom Base na Produo mais Limpa

    Passo Fundo 2010

    UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA

    URSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

    Proposta de Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos da cidade de Ibirub-RS,

    Produo mais Limpa.

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    Raquel Lorenzoni Camera

    Proposta de Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos para uma Empresa Metalrgica da cidade de Ibirub-RS,

    com Base na Produo mais Limpa.

    Trabalho de concluso de curso apresentado ao curso de Engenharia Ambiental, como parte dos requisitos exigidos para obteno do ttulo de Engenheiro Ambiental. Orientadora: Prof. Dr. Aline Ferro Custodio Passini

    Passo Fundo 2010

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    Foque sempre em uma

    soluo ao invs de ficar pensando em um problema

    Nelson Antonio Nicolodi

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    RESUMO

    A indstria atualmente vem buscando, a partir de exigncias, sejam elas do rgo ambiental, ou de mercado, melhorias quanto ao impacto ambiental gerado pelo seu processo produtivo. Em especial as indstrias do setor metalrgico, por gerarem resduas indstrias perigosos, ocupando a terceira posio no Estado do Rio Grande do Sul, em relao gerao dos resduos slidos indstrias perigosos (Classe I), e a segunda posio quanto gerao de resduos slidos industriais no perigosos (Classe II). Assim sendo, o presente trabalho teve como objetivo analisar as questes ambientais relacionadas aos resduos slidos industriais gerados por uma empresa metalrgica da cidade de Ibirub/RS, a fim de propor diretrizes para a elaborao de um Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos e da aplicao da metodologia da Produo Mais limpa. A metodologia utilizada foi a de uma pesquisa exploratria, atravs de dados coletados junto empresa, atravs da internet, de pesquisa bibliogrfica e documental. Assim sendo, a proposta do Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos (PGRS) foi baseada nos princpios da minimizao e da no gerao de resduos, que descreve as aes relativas ao seu manejo, segregao, acondicionamento, coleta, transporte interno e disposio final. J a metodologia de Produo mais Limpa, baseada nos mesmos princpios do PGRS, torna mais eficiente o uso dos materiais e energia, atravs de modificaes nos processos produtivos, nas prticas industriais e de reutilizao. Por fim, concluiu-se com este trabalho que fortalecer o conhecimento sobre essas metodologias e incentivar as indstrias metalrgicas na aplicao dessas ferramentas, torna-se uma opo bastante atraente para a sustentabilidade das organizaes.

    Palavras chaves: Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos, Resduos Slidos Indstrias, Metalrgica, Produo Mais Limpa.

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    ABSTRACT

    The industry is currently looking for, from requirements, whether the environmental agency, or market, improvements in the environmental impact generated by its production process. In particular, the industries of metallurgy sector, in industries generating hazardous waste, occupying the third position in the State of Rio Grande do Sul, in relation to solid waste industry hazards (Class I) and the second position on the generation of non-hazardous industrial solid waste (Class II). Therefore, this study aimed to analyze the environmental issues related to industrial solid waste generated by a metallurgical company in the city of Ibirub-RS, in order to propose guidelines for the preparation of a Management Plan for Solid Waste and the potential application the methodology of Cleaner Production. The methodology used was the exploratory research, using data collected from the company, the Internet, bibliographic and documentary research. Therefore, the proposed Management Plan is based on the principles of non-generation and minimization of waste generation, which describes activities relating to its management, segregation, storage, collection, internal transport and final disposal. Since the methodology of cleaner production aims to avoid the generation of waste, making more efficient use of materials and energy through changes in manufacturing processes, in industrial practices and reuse. Thus concluding with the aim to strengthen the understanding of these methodologies and metallurgical industries encourage these concepts. That does not necessarily require large investments to make their implementations of these tools use a very attractive option for the sustainability of organizations.

    Keywords: Metallurgy Sector, Cleaner Production, Solid Waste.

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    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1: Esquema da classificao dos resduos slidos......................................................... 18 Figura 2: Evoluo das questes ambientais. ........................................................................... 21 Figura 3: Motivao para proteo ambiental na empresa. ...................................................... 23 Figura 4: Fluxograma para caracterizao e classificao de resduos. ................................... 26 Figura 5: Processo industrial genrico. .................................................................................... 29 Figura 6: Gerao de resduos slidos industriais perigosos por setor industrial dos

    empreendimentos inventariados no estado do RS. ............................................................ 30 Figura 7: Gerao de Resduos Slidos Industriais Classe II por setor industrial. ................... 30 Figura 8: Destinao dos Resduos Slidos Industriais Classe I gerados pela indstria

    Metalrgica. ....................................................................................................................... 31 Figura 9: Destinao dos Resduos Classe II gerados por indstrias metalrgicas. ................. 31 Figura 10: Etapas envolvidas no gerenciamento de resduos slidos. ...................................... 32 Figura 11: Modelo do gerenciamento ambiental de resduo. ................................................... 35 Figura 12: Fluxograma das etapas de deciso para o gerenciamento de resduos slidos

    industriais. .......................................................................................................................... 36 Figura 13: Custos e benefcios com a implantao de Produo mais Limpa. ........................ 41 Figura 14: Fluxograma da Metodologia da Produo mais Limpa. ......................................... 42 Figura 15: Passos para implementao de Programa de Produo mais Limpa. ..................... 43 Figura 16: Fluxograma qualitativo do processo produtivo. ...................................................... 45 Figura 17: Fluxograma quantitativo do processo produtivo, elaborao do diagnstico

    ambiental e planilha de aspectos e impactos. .................................................................... 46 Figura 18: Anlise quantitativa de entradas e sadas do processo produtivo. .......................... 47 Figura 19: Mapa de Localizao da Cidade de Ibirub. ........................................................... 53 Figura 20: Mapa da localizao da empresa. ............................................................................ 54 Figura 21: Delineamento da pesquisa ....................................................................................... 55 Figura 22: Fluxograma do Processo Produtivo de empresa ..................................................... 56 Figura 23: Armazenagem das chapas de ao. ........................................................................... 58 Figura 24: Chapa cortada .......................................................................................................... 59 Figura 25: Retalhos do Setor de Furadeira e Solda .................................................................. 60 Figura 26: Pintura a jato ........................................................................................................... 61 Figura 27: Cdigo das cores, baseada na Resoluo do CONAMA. ....................................... 62 Figura 28: Exemplo do recipiente para os resduos metlicos ................................................. 63 Figura 29: Bancos confeccionados com restos de chapas. ....................................................... 66 Figura 30: Porta-canetas confeccionados com restos de molas. ............................................... 67 Figura 31: Madeiras reutilizadas no setor de recebimento de chapas. ..................................... 68 Figura 32: Substituio de telhas normais por telhas transparentes. ........................................ 68 Figura 33: Instalao de um Hidrmetro na empresa ............................................................... 69

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Unidades de destinao final do lixo coletado. ........................................................ 20

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................. 10 1.1 Problema e Contextualizao ................................................................................... 10 1.2 Justificativa ............................................................................................................... 12 1.3 Objetivos ................................................................................................................... 13

    1.3.1 Objetivo Geral ...................................................................................................... 13 1.3.2 Objetivos Especficos ........................................................................................... 13

    1.4 Estrutura do Trabalho ............................................................................................... 14 2 REVISO DE LITERATURA .......................................................................................... 15

    2.1 Questes Ambientais ................................................................................................ 15 2.1.1 Desenvolvimento Sustentvel............................................................................... 15 2.1.2 Problemtica dos Resduos Slidos ...................................................................... 17

    2.2 Evoluo Ambiental nas Indstrias .......................................................................... 21 2.3 Resduos Slidos ...................................................................................................... 24

    2.3.1 Resduos Slidos Industriais: Definio e Classificao ...................................... 24 2.3.2 Legislao Aplicvel a Resduos Slidos ............................................................. 26

    2.4 A Indstria Metalrgica ............................................................................................ 28 2.4.1 Histrico ............................................................................................................... 28 2.4.2 Gerao de Resduos e Impacto Ambiental .......................................................... 29

    2.5 Gerenciamento de Resduos Slidos Industriais ...................................................... 32 2.6 Produo Mais Limpa ............................................................................................... 37

    2.6.1 Benefcios e barreiras decorrentes da implantao de Produo mais Limpa ...... 39 2.6.2 Metodologia de Implantao de Produo mais Limpa ....................................... 41 2.6.3 Produo mais Limpa na Indstria ....................................................................... 49

    2.6.3.1 Estudos de Caso ............................................................................................ 49 3 METODOLOGIA .............................................................................................................. 53

    3.1 Caracterizao da Empresa e dos Resduos Gerados ............................................... 53 3.2 Delineamento da Pesquisa ........................................................................................ 54

    3.2.1 Primeira Etapa ...................................................................................................... 55 3.2.2 Segunda Etapa ...................................................................................................... 55 3.2.3 Terceira Etapa ....................................................................................................... 56 3.2.4 Quarta Etapa ......................................................................................................... 57 3.2.5 Quinta Etapa ......................................................................................................... 57

    4 RESULTADOS E DISCUSSES ..................................................................................... 58 4.1 Detalhamento dos Setores da Empresa e seus Respectivos Resduos e Impactos .... 58

    4.1.1 Recebimento de Chapas........................................................................................ 58 4.1.2 Corte, Dobra, Furadeira e Solda ........................................................................... 59 4.1.3 Limpeza de Peas e Pintura .................................................................................. 60 4.1.4 Secagem, Montagem e Expedio ........................................................................ 61

    4.2 Proposta do Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos (PGRS) ........................ 61 4.2.1 Conscientizao Ambiental da Empresa .............................................................. 62 4.2.2 Manejo dos resduos slidos ................................................................................. 62

    4.2.2.1 Segregao .................................................................................................... 62 4.2.2.2 Acondicionamento dos Resduos ................................................................. 63

    4.2.3 Coleta, Transporte Interno e Armazenamento Temporrio dos Resduos............ 63 4.2.4 Transporte Externo ............................................................................................... 64

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    4.2.5 Destinao Final dos Resduos ............................................................................. 64 4.2.6 Monitoramento e continuidade do Plano .............................................................. 65

    4.3 Produo mais Limpa ............................................................................................... 65 4.3.1 Formao do ECOTIME ..................................................................................... 65 4.3.2 Reaproveitamento das Chapas de Ao ................................................................. 66 4.3.3 Reaproveitamento da Madeira .............................................................................. 67 4.3.4 Aproveitamento da Luz Solar ............................................................................... 68 4.3.5 Reaproveitamento de gua .................................................................................. 69

    5 CONCLUSES E SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS .............................. 70 5.1 Concluso ................................................................................................................. 70 5.2 Sugestes para trabalhos futuros .............................................................................. 71

    REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................................... 72 ANEXO A - Tabelas de Controle de Resduos ........................................................................ 77

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    1 INTRODUO

    1.1 Problema e Contextualizao

    O crescimento populacional e conseqentemente econmico colocou o Planeta Terra

    em uma posio desprivilegiada com relao aos respectivos impactos ambientais decorrentes das atividades produtivas. A escassez e poluio das guas, o agravamento da poluio atmosfrica, as mudanas climticas, a gerao e disposio inadequada de resduos txicos, a poluio do solo e a perda da biodiversidade so exemplos desses impactos ambientais, que consideram o meio ambiente como um local de aquisio de matria-prima e destinao de resduos.

    A natureza dos problemas ambientais parcialmente atribuda complexidade dos processos industriais utilizados pelo homem. Todo produto no importa de que material seja feito ou finalidade de uso, provoca um impacto no meio ambiente, seja em funo de seu processo produtivo, das matrias primas que se consome, ou devido ao seu uso ou disposio final (CHEHEBE, 1997).

    Segundo Leripio (2004), somos a sociedade do lixo, cercados totalmente por ele, mas s recentemente acordamos para este triste aspecto de nossa realidade. Ele diz ainda que, nos ltimos 20 anos, a populao mundial cresceu menos que o volume de lixo por ela produzido. Enquanto de 1970 a 1990 a populao do planeta aumentou em 18%, a quantidade de lixo sobre a Terra passou a ser 25% maior.

    As indstrias tradicionalmente responsveis pela maior produo de resduos perigosos so as metalrgicas, segundo dados do Inventrio Nacional de Resduos Slidos Industriais e das Planilhas Trimestrais de Resduos Slidos Industriais (FEPAM, 2003), totalizando 506 empreendimentos, ocupando a terceira posio em relao aos resduos slidos indstrias perigos (Classe I), com uma gerao de 20.624 toneladas/ano, e a segunda posio quanto gerao de resduos slidos industriais no perigosos (Classe II), gerando um total de 296.472 toneladas/ano. Estes resultados devem-se, em grande parte, ao emprego de produtos qumicos nos processos produtivos e a gerao de resduos, tanto slidos, como lquidos e gasosos.

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    O resduo industrial um dos maiores responsveis pelas agresses ao ambiente. Nele esto includos produtos qumicos (cianureto, pesticidas, solventes), metais (mercrio cdmio, chumbo) e solventes qumicos que ameaam os ciclos naturais onde so despejados. Os resduos slidos so amontoados e enterrados, os lquidos so despejados em rios e mares, os gases so lanados no ar. Assim, a sade do ambiente, e conseqentemente dos seres que nele vivem, torna-se ameaada, podendo levar a grandes tragdias (MONOGRAFIAS, 2010).

    Neste contexto, a busca pela diminuio dos materiais utilizados pelo setor de fundamental importncia. A implementao de aes efetivas voltadas para a reduo do impacto ambiental representam a possibilidade de se atenuar o atual quadro de degradao ambiental presente tanto em pases desenvolvidos, como em pases em desenvolvimento.

    Para os pases em desenvolvimento como o Brasil, tcnicas de Produo Mais Limpa e Gerenciamento de Resduos Slidos, aparecem como uma alternativa para a busca de solues para os problemas ambientais. Com os Centros Nacionais de Tecnologias Limpas (CNTL), que tem o objetivo de promover praticas organizacionais ambientalmente corretas sob a perspectiva de preveno de resduos. Reduzir os impactos atravs do uso racional de matria-prima, gua e energia significam uma opo ambiental e econmica para muitos anos de processo. Assim diminuindo os desperdcios, gerando uma maior eficincia e menores investimentos em problemas ambientais.

    O Plano de Gerenciamento dos Resduos Slidos implica primeiramente em uma mudana de comportamento por parte de toda a comunidade. Sendo uma atividade que necessite de atitudes ambientais responsveis e devem ser praticas corriqueiras na indstria, necessitando do comprometimento das chefias e de todo o pessoal envolvido com as atividades de produo, para que o programa tenha chance de sucesso.

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    1.2 Justificativa

    As questes ambientais, no setor industrial, tem se tornado mais clara nos ltimos anos, apresentando-se como um fator de competio no comrcio internacional e nacional, pondo em desvantagem as empresas que no adotam prticas sustentveis em relao a processos produtivos e produtos. Regulamentos e legislaes tambm exigem que os resduos sejam gerenciados desde a sua fonte at a disposio final. Tornando assim a necessidade das empresas se adequarem as exigncias ambientais.

    A aplicao de tecnologias apropriadas e ecolgicas, com a reduo da utilizao de recursos naturais, de desperdcio, da gerao de resduos e poluio, uma ao de prioridade mundial, colaborando com as empresas a produzirem ecologicamente correto.

    por esse motivo que se faz necessria a elaborao e implementao de um Plano de Gerenciamento de Resduos slidos industriais em empresas metalrgicas e agregando a praticas de Produo mais Limpa.

    O Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos (PGRS) visa diminuio do impacto ambiental oriundo dos produtos e processos da empresa, atravs da reduo dos resduos gerados e do correto tratamento e destinao final dos mesmos. Assim o PGRS estabelece-se como uma importante ferramenta para a correta segregao e disposio dos resduos slidos.

    A tcnica de Produo mais Limpa tem com objetivo a aplicao de uma estratgia ambiental preventiva e integrada, aplicada a processos, produtos e servios para aumentar a ecoeficincia e reduzir riscos ao homem e ao meio ambiente. Podendo ser implantada pelas organizaes como uma estratgia gerencial que permite obter crescimento econmico ao mesmo tempo em que so gerenciados os impactos ambientalmente negativos oriunda do processo produtivo.

    neste contexto que o presente estudo visa propor um Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos para a metalrgica da cidade de Ibirub e, respectivamente, combinado com aes da prtica de Produo mais Limpa.

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    1.3 Objetivos

    1.3.1 Objetivo Geral

    Proposta de um Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos para uma empresa metalrgica da cidade de Ibirub RS, verificando a aplicao de possveis tcnicas de Produo mais Limpa.

    1.3.2 Objetivos Especficos

    a) Conhecer e analisar o processo produtivo da empresa; b) Diagnosticar a gerao de resduos e os impactos gerados pela empresa; c) Analisar as oportunidades de aplicao de um mtodo de Produo mais Limpa ao

    processo produtivo; d) Elaborar uma Proposta de Gerenciamento de Resduos.

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    1.4 Estrutura do Trabalho

    Este trabalho de Concluso de Curso est distribudo em cinco captulos. No presente captulo, esto apresentados o problema e contextualizao da pesquisa, a justificativa, os objetivos do trabalho, sendo subdivididos em objetivos gerais e especficos, e a estrutura do trabalho.

    O captulo dois apresenta uma ampla reviso de literatura, abordando temas importantes para o desenvolvimento deste trabalho. No terceiro captulo consta a metodologia do Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos para a empresa metalrgica e a possvel aplicao da Produo Mais Limpa na mesma.

    O captulo quatro expe os resultados e discusses e, por fim, o quinto captulo apresenta as concluses finais do presente trabalho e sugestes para trabalhos futuros. Aps so apresentas as referncias bibliogrficas.

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    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 Questes Ambientais

    2.1.1 Desenvolvimento Sustentvel

    A expanso do capitalismo no perodo ps-guerra trouxe consigo a intensificao dos sistemas de produo, a expanso dos parques industriais (principalmente para os pases do terceiro mundo) e a massificao da cultura do consumo. O mundo adotou um modelo de desenvolvimento baseado na produtividade e no consumo, e as indstrias passaram a desempenhar papel fundamental no crescimento econmico (SANTOS, 2005).

    De acordo com Rampazzo (2002), o crescimento econmico necessrio, porm no suficiente para garantir o desenvolvimento, devendo se submeter s regras de uma distribuio social equitativa e as imposies ecolgicas. No possvel continuar com um crescimento intensivo que utilize os recursos naturais. Faz-se necessrio pensar em

    crescimento intensivo que utilize os recursos de maneira cada vez mais eficaz, porm no pode-se basear total e somente na tcnica, considerando tambm a forma das estruturas de consumo e de estilos de vida.

    A deteriorao ambiental, que vista como um processo, no como um problema, apresenta-se de varias formas e com vrios resultados, o que afeta todos os pases em desenvolvimento. Alm de ser uma conseqncia do progresso humano, uma caracterstica do desenvolvimento econmico predominante, a qual traz consigo a insustentabilidade em termos ecolgicos, a desigualdade e a injustia social (RAMPAZZO, 2002).

    As discusses sobre o desenvolvimento sustentvel teve origem a partir do agravamento da crise ecolgica na segunda metade do sculo XX, poca em que o conceito de desenvolvimento significava apenas crescimento econmico. Surgindo neste perodo uma percepo de que este modelo de desenvolvimento causava intensa degradao ambiental e, por conseqncia, progressiva escassez de recursos. Era necessria, portanto, a incorporao da questo ambiental aos processos de desenvolvimento (SOUZA, 2000).

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    Em 1972 foi realizada a Conferncia das Naes Unidas sobre o Ambiente Humano ocorrida na cidade de Estocolmo. Nesta Conferncia foram discutidas duas posies relativas problemtica ambiental. A primeira posio defendia que as preocupaes com o meio ambiente eram exageradas e impediriam que os pases em desenvolvimento se industrializassem. Por outro lado, a segunda posio entendia que, caso o ritmo de crescimento econmico e demogrfico continuasse, a humanidade correria o risco de desaparecer. Uma posio intermediria surgiu destas discusses, ou seja, o crescimento econmico ainda se fazia necessrio, porm este deveria ocorrer de forma socialmente receptivo e implementado por mtodos favorveis ao meio ambiente (SACHS, 2002).

    De acordo com Sachs (2002) uma estratgia de desenvolvimento deveria objetivar o aproveitamento racional e ecologicamente sustentvel da natureza em benefcio das populaes locais, incorporando-se a conservao da biodiversidade aos interesses destas populaes, sendo necessrio adotar padres negociados e contratuais de gesto da biodiversidade. Assim, o eco desenvolvimento requer a harmonizao entre objetivos sociais, econmicos e ambientais.

    Em 1987 a World Commission on Environment and Development divulgou o documento Our Common Future (Nosso futuro comum) elaborado por uma comisso conhecida como Comisso Brundtland, o qual previa estratgias de desenvolvimento. Segundo este documento o desenvolvimento sustentvel quando satisfaz as necessidades das presentes geraes sem comprometer a capacidade das futuras geraes em satisfazer suas prprias necessidades (DERANI, 2001).

    Muller (2002) comenta que o desenvolvimento sustentvel diz respeito a uma sociedade ser capaz de manter, a mdio e longo prazo, um circulo virtuoso de crescimento econmico e um padro de vida adequado. Trata-se de melhorar os ciclos econmicos com suas flutuaes, com realizaes de melhoria no padro de vida, a despeito das flutuaes setoriais e crises econmicas localizadas, ou seja, a sustentabilidade uma questo multidimensional e intertemporal.

    Bellen (2003) prope que o desenvolvimento sustentvel a capacidade que a empresa possui de aproveitar ao mximo os recursos naturais observando a sua capacidade de regenerao, tambm integrar os sistemas econmicos, sociais e ecolgicos para que seja possvel um equilbrio entre os trs elementos, e de forma mais simples o desenvolvimento a capacidade humana de se desenvolver em harmonia com o meio ambiente objetivando o desenvolvimento em conjunto.

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    Segundo Romeiro (2007), desenvolvimento sustentvel tambm conhecido como eco desenvolvimento a capacidade de gerenciar o desenvolvimento econmico sem que para isto o meio ambiente sofra perdas, ou seja, o desenvolvimento econmico precisa se desenvolver juntamente e de forma ordenada a fim de preservar e melhorar as condies ambientais na qual a organizao esta inserida.

    Como destaca Shen (1995), o desenvolvimento sustentvel requer o reconhecimento das inter-relaes entre a economia e as metas ambientais. necessrio que exista um equilbrio entre os avanos tecnolgicos e a preservao ambiental, bem como um balano entre o desenvolvimento econmico e a proteo ambiental. E para tanto, preciso desenvolver novas estratgias para os desafios ambientais no apenas no presente, mas tambm no futuro. Esta tarefa requer um esforo conjunto do setor produtivo e dos consumidores, e segundo Braga et al. (2002), deve se apoiar nas premissas que formam a base do desenvolvimento sustentvel, que compreendem os seguintes preceitos:

    1. Uso racional da energia e dos recursos materiais com nfase na conservao em contraposio ao desperdcio;

    2. Preveno da poluio, gerando menos resduos a serem absorvidos pelo meio ambiente;

    3. Promoo da reciclagem e do reuso de materiais; 4. Controle do crescimento populacional de modo a propiciar perspectivas de

    estabilizao da populao; e, 5. Mudana de padres de consumo.

    2.1.2 Problemtica dos Resduos Slidos

    Segundo a Organizao Mundial da Sade (OMS), resduo algo que seu proprietrio no mais deseja, em um dado momento e em determinado local, e que no tem um valor de mercado (SANTANA, 2007) Existem varias definies de resduos slidos, dentre as quais se pode mencionar a da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), na Norma Brasileira NBR 10.004, que classifica os resduos slidos como:

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    Resduos Slidos so resduos nos estados slidos e semi-slidos, que resultam de atividades de origem industrial, domstica, hospitalar, comercial, agrcola, de

    servios e de varrio. Ficam includos nesta definio os lodos provenientes de

    sistemas de tratamento de gua, aqueles gerados em equipamentos e instalaes de

    controle de poluio, bem como determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel o seu lanamento na rede publica de esgotos ou corpos de gua, ou exijam para isso solues tcnica e economicamente inviveis em face melhor tecnologia

    disponvel. (ABNT, 2004).

    Na Figura 1, apresentado, de forma resumida, um esquema da classificao dos resduos slidos segundo a fonte geradora.

    Figura 1: Esquema da classificao dos resduos slidos. Fonte (Cabral, 2007).

    Os Resduos Slidos produzidos em um pas um indicador importante de desenvolvimento. Quanto maior o poder aquisitivo das pessoas, mais lixo ser produzido, pois o sinal de que h crescimento e consumo. Tudo aquilo que j foi utilizado uma vez e que no pode ser aproveitado dentro das possibilidades do homem considerado lixo (LOPES, 2006).

    Lopes (2006), ainda destaca que o problema esta ganhando uma dimenso perigosa por causa da mudana no perfil dos resduos. Na metade do sculo passado, a composio do

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    lixo era predominantemente de matria orgnica, de restos de comida. Com o avano da tecnologia, materiais como plsticos, isopores, pilhas, baterias de celular e lmpadas so presena cada vez mais constante na coleta.

    Na maioria das cidades brasileiras, o lixo descartado de forma irregular em lixes ou terrenos vazios, podendo provocar degradao ambiental. Porem a problemtica dos resduos no se restringe apenas a questo da destinao final dos mesmos, a falta de conscientizao da populao diante dos problemas relacionados aos resduos o ponto de maior importncia a ser trabalhado pelos agentes pblicos (LOPES, 2003).

    Segundo FRITSCH (2000), produzir resduos inerente ao ser humano, destin-los adequada e satisfatoriamente o maior desafio das administraes pblicas. Essa atividade no pode ser exercida sem a colaborao direta do muncipe.

    No Brasil, o crescimento populacional atingiu cerca de 2,2 milhes de pessoas entre os anos de 1999 e 2000, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2001).

    A produo mdia diria de lixo por habitante estimada em 600 gramas e nas cidades mais desenvolvidas, cerca de um quilo (EIGENHEER, 1998). Com isso, o lixo ocupa cada vez mais espao nos aterros, resultando em gastos pblicos, pois maior o volume do lixo, mais rapidamente o aterro vai sendo preenchido.

    Segundo dados do IBGE (1996), a maioria dos municpios brasileiros no possui aterro sanitrio, dispondo seus resduos de forma inadequada como vazadouros, encostas, rios e alagados.

    De acordo com JARDIM (1995), no Brasil os problemas relacionados com o lixo so recentes e as situaes se distinguem de municpio para municpio. Por ser um problema que aumenta diariamente, no h vantagem alguma para as cidades em deixar a busca por solues tardias. A colaborao da comunidade com a administrao municipal fundamental para a tomada de decises e a melhor maneira para encontrar solues mais adequadas e at formas mais inteligentes e proveitosas de financiamento.

    O Brasil apresenta avanos limitados na questo da minimizao da gerao dos resduos, pois a preocupao maior das administraes municipais ainda se concentra na destinao final dos resduos e no na preveno da poluio gerada por estes (LOPES, 2003), conforme Tabela 1.

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    Tabela 1: Unidades de destinao final do lixo coletado.

    Fonte: IBGE (2000), modificado

    Lopes (2003) destaca que o fato da populao no reivindicar locais apropriados para o depsito dos resduos, faz com que os rgos pblicos no se esforcem para melhorar a qualidade de vida nas cidades, j que os locais irregulares no so onerosos para os municpios. Assim, esses rgos deixam de buscar investimentos para a implantao de aterros sanitrios, coleta seletiva e reciclagem. Outro desafio no setor de limpeza urbana a falta de especializao dos agentes envolvidos, desde os funcionrios da prefeitura aos da empresa contratada para a realizao dos servios, o que essencial para a manuteno e bom funcionamento do sistema.

    A partir da dcada de 90, os municpios comeam a perceber que a dimenso da problemtica dos resduos slidos no pode ser de responsabilidade apenas dos Departamentos de Limpeza Pblica. Outras instituies podem interagir na questo ambiental, de acordo com a prpria Constituio Federal, a qual define que tanto o Ministrio Pblico, o cidado, as organizaes governamentais e no governamentais so responsveis pela qualidade ambiental (FRITSCH, 2000).

    Por tudo isso, a Gesto e o Gerenciamento dos resduos slidos so tarefas complexas e abrangentes, refletindo na dificuldade da maioria dos municpios, devido falta de autonomia e de recursos. Nesse sentido, o estabelecimento de uma Poltica Nacional para nortear as polticas locais dos resduos slidos fundamental, considerando as diferenas

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    regionais. importante tambm ressaltar a importncia do acompanhamento legal a continuidade dos programas ambientais e sociais bem sucedidos, apesar das mudanas na gesto municipal (KAPAZ, 2002).

    2.2 Evoluo Ambiental nas Indstrias

    Constata-se, ao longo da historia, que o homem sempre utilizou os recursos naturais do planeta e gerou resduos com baixssimo nvel de preocupao, os recursos eram abundantes e a natureza aceitava sem reclamar os despejos realizados, j que o enfoque sempre foi dispersar (MOURA 2002).

    Moreira (2001) afirma que as preocupaes ambientais no surgiram todas de uma s vez, elas mudaram de foco medida que o conhecimento cientfico e a tecnologia evoluram bem como as atividades produtivas se desenvolveram ao longo do tempo, gerando problemas de diferentes caractersticas.

    Analisando o histrico do gerenciamento ambiental pode-se visualizar nitidamente as tendncias seguidas pela evoluo das questes ambientais nas ltimas dcadas, conforme mostrado na Figura 2.

    Figura 2: Evoluo das questes ambientais. Fonte: CNTL (2003)

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    A dcada de 80 foi marcada como sendo aquela em que surgiram em grande parte dos pases, leis regulamentando a atividade industrial no tocante a poluio. Tambm nesta dcada teve impulso o formalismo da realizao de Estudos de Impacto Ambiental e Relatrios de Impactos Ambientais. Paralelamente a esses movimentos, ocorrem acidentes com grande impacto ambiental como Bhopal na ndia e Sevesso na Itlia, que despertam a ateno da sociedade a industrializao desenfreada (MOURA 2002).

    Na mesma dcada, no Brasil surgiu a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que trata sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, dando assim um salto nas exigncias legais, ate ento pouco eficientes. Surgem novos conceitos como o de minimizao da gerao de rejeitos e emisses, reciclagem e reutilizao, descontaminao de solos entre outros, que passam a se constituir em preocupaes dos setores de meio ambiente na indstria (MACIEL, 2005)

    Na dcada de 90, foi realizada a Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, tambm conhecida como Rio 92, onde foi produzido documentos em que se prope o uso racional de matrias-primas e energia para a produo de bens e servios, entre estes documentos os principais so Agenda 21 e a Declarao do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ANTUNES, et al, 2008).

    Ainda na dcada de 90 muitas empresas comearam a integrar o meio ambiente nas suas estratgias de negcios, havendo o surgimento de um novo e estratgico paradigma ambiental, que foi chamado de enviropreneurial marketing, que pode ser definido como as atividades de marketing benficas empresarial e ambientalmente, que atendem tanto a economia da empresa quanto aos objetivos de desempenho social. As aes da empresa na rea ambiental se tornaram mais pr-ativas e passaram a ser utilizadas como estratgias competitivas, vinculando-se a bom desempenho ambiental principalmente a melhoria na reputao das empresas (GHENO, 2006).

    De acordo com Rosen (2001), h basicamente trs razes para que as empresas tenham buscado melhorar a seu desempenho ambiental: primeiro, o regime regulatrio internacional esta mudando em direo as exigncias crescentes em relao proteo ambiental. Segundo, o mercado esta mudando (tanto de fatores quanto de produtos). E terceiro, o conhecimento esta mudando, com crescentes descobertas e publicidade sobre as causas e conseqncias dos danos ambientais.

    Na Figura 3, a seguir, pode se observar o que motivou as empresas a aceitarem a responsabilidade pela proteo do meio ambiente.

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    Figura 3: Motivao para proteo ambiental na empresa. Fonte: Callenbach et al (1993, pg. 26)

    As empresas que no aderirem a este sistema de gesto ambiental podero sofrer restries e perda de mercado, em especial num primeiro momento, o mercado internacional (MACIEL, 2005).

    Assim, a gesto ambiental nas empresas condicionada pela presso das regulamentaes, pela busca de melhor reputao, pela presso de acionistas, investidores e bancos para que as empresas reduzam o risco ambiental, pela presso dos consumidores e pela prpria concorrncia (GHENO, 2006).

    A empresa que aceita e bem conduz suas responsabilidades ambientais preservando seu lucro tem um desempenho sustentvel, ou seja, traduz o conceito de desenvolvimento sustentvel em prticas empresariais. Este conceito tem como caractersticas principais o

    lucro e o desempenho. O lucro como propulsor do movimento rumo ao desempenho sustentvel e tem como principal qualitativo de desempenho a melhoria de qualidade (KINLAW, 1997).

    Segundo Kinlaw (1997) a primeira meta das empresas no descobrir meios de crescer e expandir. E sim a qualidade total e a contnua melhoria dos processos, servios e produtos, exigidos pela era ambiental. Somente atingindo essa meta que se poder atingir e manter as metas de melhoria do meio ambiente, de lucratividade a longo prazo e de posio competitiva. A verdadeira chave da sustentabilidade a qualidade - no o desenvolvimento. O desempenho sustentvel representa uma nova forma de percepo da empresa como um sistema redefine as relaes tradicionais entre os elementos de insumo, processo de trabalho e produto final.

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    2.3 Resduos Slidos

    2.3.1 Resduos Slidos Industriais: Definio e Classificao

    A Resoluo n 313, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de 29 de outubro de 2002, define resduo slido industrial:

    todo o resduo que resulte de atividades industriais e que se encontre nos estados slidos, semi-slidos, gasoso quando contido, e liquido cujas particularidades tornem invivel o seu lanamento na rede publica de esgoto ou em corpos dgua, ou

    exijam para isso solues tcnicas ou economicamente inviveis em face da melhor tecnologia disponvel. Ficam includos nesta definio os lodos provenientes de

    sistemas de tratamento de gua e aqueles gerados em equipamentos e instalaes de controle de poluio. (CONAMA,2002)

    Os resduos so classificados em funo de suas propriedades fsicas, qumicas ou infecto-contagiosas e com base na identificao de contaminantes presentes na massa. Essa identificao, contudo bastante complexa em inmeros casos. Portanto, um conhecimento prvio do processo industrial imprescindvel para a classificao do resduo, identificao das substancias presentes nele e verificao de sua periculosidade. Quando um resduo tem origem desconhecida, o trabalho para classific-lo torna-se ainda mais complexo. (PINTO, 2004).

    Em funo da periculosidade oferecida pelos resduos, a NBR 10.004 classifica os resduos da seguinte maneira:

    Resduos Classe I Perigosos: aqueles que representam periculosidade ou caractersticas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade.

    Resduos Classe II No Perigosos Resduos Classe II A No inertes: resduos que no se

    enquadram nas classificaes de resduos Classe I ou Classe II B nos termos

  • 25

    da Norma. Estes resduos podem apresentar propriedades tais como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em gua.

    Resduos Classe II B Inertes: quaisquer resduos que, quando amostrados de uma forma representativa segundo a NBR 10.007, e submetidos ao contato dinmico e esttico com gua destilada ou deionizada, a temperatura ambiente, conforme a NBR 10.006, no tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentraes superiores aos padres de portabilidade da gua excetuando-se aspecto cor turbidez dureza e sabor.

    Muitas vezes, torna-se impossvel conseguir diagnosticar a origem dos resduos, sendo necessrio analisar parmetros indiretos ou realizar bioensaios (CETESB, 1993). O fluxograma da Figura 4 apresenta a metodologia a ser adotada na caracterizao e classificao de resduos.

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    Figura 4: Fluxograma para caracterizao e classificao de resduos. Fonte: ABNT (2004).

    2.3.2 Legislao Aplicvel a Resduos Slidos

    Segundo Almeida et al., (2004), as polticas ambientais so aquelas polticas que apresentam uma preocupao explicita quanto proteo, conservao e uso dos recursos naturais e do meio ambiente. Essas polticas, expressas na legislao e na organizao

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    institucional correspondente, definem os instrumentos de interveno do Estado na administrao dos recursos e da qualidade do meio ambiente.

    No Brasil, a classificao dos resduos slidos segue os critrios da Agencia de Proteo Ambiental Americana (USEPA), com algumas adaptaes. Em agosto de 2010 a Lei n 12.305, institui a Poltica Nacional de Resduos Slidos, altera a Lei n 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. A Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT) apresenta uma relao de normas relacionadas aos resduos slidos:

    NBR 7.500 (1987); Smbolos de risco e manuseio para o transporte e armazenagem de materiais Simbologia;

    NBR 7.502 (1983): Transporte de cargas perigosas classificao; NBR 8.418: Projetos de aterros de resduos industriais perigosos; NBR 8.419: Projetos de aterros sanitrios de resduos slidos urbanos; NBR 9.190 (1985): Sacos plsticos para acondicionamento de lixo

    classificao;

    NBR 10.004 (1987): Resduos Slidos classificao; NBR 10.005 (1987): Lixiviao de Resduos; NBR 10.006 (1987): Solubilizao de resduos; NBR 10.007 (1987): Amostragem de resduos procedimentos. NBR 10.157 (1987): Aterros de resduos perigosos critrios para projetos,

    construo e operao;

    NBR 11.174 (1989): Armazenamento de resduos classes II A (no-inertes) e II B (inertes);

    NBR 11.175 (1990): Incinerao de resduos slidos perigosos Padres de desempenho;

    NBR 12.235 (1987): Armazenamento de resduos slidos perigosos; NR 25: Resduos industriais;

    Res. CONAMA n 06/88: Dispe sobre a gerao de resduos nas atividades industriais;

    Res. CONAMA n 09/93: Dispe sobre uso, reciclagem, destinao refino de leos lubrificantes;

    Res. CONAMA n 275/01: Simbologia dos Resduos;

    Portaria MINTER n 53/79: Dispe sobre o destino e tratamento de resduos.

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    2.4 A Indstria Metalrgica

    2.4.1 Histrico

    A Indstria metalrgica o conjunto de tcnicas, onde o homem extrai e manipula metais assim gerando ligas metlicas. Os primeiros metais a serem descobertos foram os metais nobres, que podem ser encontrados na sua forma bruta na natureza. E com a descoberta do fogo, esses metais passaram a ser moldados e trabalhados. (METALURGIA E SIDERURGIA, 2010).

    Acredita-se que, os primeiros altos-fornos apareceram no sculo XIII, assim surgindo as primeiras ligas metlicas, com a adio de estanho ao cobre, gerando o bronze. O ferro demorou um pouco mais para comear a ser trabalhado, pois no se acha ferro bruto na natureza. A primeira fbrica de ferro surgiu em 1590, onde hoje fica Sorocaba, no interior do estado de So Paulo. Mas Portugal proibia o Brasil de possuir indstrias, para que no houvesse produtos que concorressem com os que eram importados da metrpole. Com a abundncia do ouro, fez surgir demanda por casas de cunhagem e de fundio, assim Portugal teve que ceder a construo de algumas forjas. Em 1795, uma fbrica de ferro fora liberada para se estabelecer em So Paulo e, em seguida, em Minas Gerais, dando seu enorme potencial para usinas de ferro e ao. (SO FRANCISCO, 2010).

    J no incio do sculo XIX, mesmo com permisso para se instalarem e operarem livremente, as indstrias de metais ainda encontrava dificuldades: muitos equipamentos eram importados da Inglaterra a preos elevados e as taxas de exportao dos metais tambm eram altas; no havia mo-de-obra suficientemente bem treinada (METALURGIA E SIDERURGIA, 2010).

    A partir de 1930, a indstria floresceu no Brasil, em razo da queda da economia cafeeira. Com o advento da produo em srie e em larga escala, muitos trabalhadores deixaram o campo, em busca de emprego na cidade. Surgindo o operrio industrial, o operador de mquinas, o encarregado de produo nos mais variados tipos de indstria e o metalrgico (METALURGIA E SIDERURGIA, 2010).

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    2.4.2 Gerao de Resduos e Impacto Ambiental

    O potencial poluidor de uma atividade industrial ou produto depende principalmente do processo empregado. Os resduos industriais (slidos, lquidos ou gasosos) so produzidos a partir de diversos processos, e a quantidade e a toxicidade do resduo varia de acordo com os processos indstrias especficos (SHEN, 1995).

    A Figura 5 mostra um processo industrial tpico, onde so gerados resduos contendo diferentes tipos de poluentes, de acordo com a entrada de matria e o design do processo.

    Figura 5: Processo industrial genrico. Fonte Shen (1995), modificado.

    A FEPAM (2003) selecionou os ramos industriais mais representativos no estado com potencial de gerao de resduos perigosos Classe I, ou seja, os setores metalrgicos, do couro, mecnico, qumico, de minerais no metlicos, txtil, papel e celulose e lavanderias industriais, e os resduos no perigosos Classe II, ou seja, alimentar, metalrgico, qumico, papel, bebidas, entre outros, para a elaborao de um Relatrio que descreve a Gerao de Resduos Slidos Industriais no RS.

    Na Figura 6, a seguir, apresenta a quantidade de resduos slidos industriais perigosos (Classe I), gerada por setor industrial.

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    Figura 6: Gerao de resduos slidos industriais perigosos por setor industrial dos empreendimentos inventariados no estado do RS.

    Fonte: FEPAM (2003).

    A Figura 7 apresenta a quantidade de resduos slidos industriais no perigoso, Classe II, gerados por setor industrial.

    Figura 7: Gerao de Resduos Slidos Industriais Classe II por setor industrial. Fonte: FEPAM (2003).

    Segundo o relatrio, as atividades com maior potencial de gerao de resduos perigosos (Classe I) so os setores couro, mecnico e metalrgico e os setores alimentar, metalrgico e qumico so os maiores geradores de resduos slidos industriais no perigosos (Classe II).

    Sendo que das 189.203 toneladas produzidas por ano dos resduos industriais perigosos Classe I, 20.624 toneladas so resduos das indstrias Metalrgicas, e das 2.174.682 toneladas produzidas por ano dos resduos industriais no perigosos Classe II, 296.472

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    toneladas por ano so resduos das indstrias Metalrgicas. O que significa que o setor um grande gerador de resduos (FEPAM, 2003).

    A Figura 8 mostra como se procede a destinao dos Resduos Classe I gerados pela indstria metalrgica.

    Figura 8: Destinao dos Resduos Slidos Industriais Classe I gerados pela indstria Metalrgica.

    Fonte: FEPAM (2003).

    A Figura 9 mostra a destinao dos Resduos slidos Industriais Classe II gerados por indstrias metalrgicas.

    Figura 9: Destinao dos Resduos Classe II gerados por indstrias metalrgicas. Fonte: FEPAM (2003).

    Conforme a Figura 8 e 9 pode-se notar que grande parte da destinao dos resduos gerados pela indstria metalrgica esta sendo feito reaproveitamento ou reciclagem.

    Em relao aos resduos, a preocupao se estende ao longo de todo o ciclo de vida de um produto, desde a extrao das matrias-primas, passando pela produo de energia que sustenta o processo, a produo, o transporte, a distribuio, a utilizao e a manuteno do

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    produto, ate que este, aps o termino de sua vida til, transforme-se em resduo, que precisa ser tratado ou disposto de maneira adequada.

    As emisses de substancias toxicas para o ar, gua e solo degradam a qualidade ambiental, e resultam na destruio de ecossistemas, na bioacumulao de substancias na cadeia alimentar, e provocam efeitos prejudiciais a sade humana a curto e longo prazo.

    2.5 Gerenciamento de Resduos Slidos Industriais

    Para Tchobanoglous et al. (1977), gerenciamento de resduos slidos pode ser definido com as etapas associadas ao controle da gerao, armazenamento, coleta, transferncia e transporte, processamento e disposio, dos mesmos. Essas etapas devem estar de acordo com os melhores princpios de sade publica, de economia, de engenharia, de conservao, de tica e outras consideraes ambientais, e que tambm venha ao encontro das atividades publicas. A Figura 10 ilustra as etapas envolvidas no gerenciamento de resduos slidos.

    Figura 10: Etapas envolvidas no gerenciamento de resduos slidos. Fonte: Tchobanoglous, Theisen e Eliassen (1977).

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    Segundo Valle (2000) o critrio bsico para a escolha da soluo a ser adotada para eliminar um resduo ou resolver um problema ambiental, devera ser sempre proteo da sade do homem e do meio ambiente. Conforme cita o Waste Minimization Opportunity Assessment Manual WMOAN (1988), a Agncia de Proteo Ambiental Americana (US EPA) sugere uma hierarquia de opes de manejo, dentro desta nova concepo de gerenciamento de resduos, observados sob os seguintes ngulos;

    a) Reduo na fonte significa a reduo ou eliminao de resduos na fonte, geralmente no processo. As medidas incluem modificaes no processo, substituio de matria-prima, melhoramento na purificao de matria-prima, na pratica de manejo e nas medidas bsicas operacionais simples, no aumento da eficincia do maquinrio e reciclagem dentro do processo. Reduo na fonte implica em qualquer atividade que reduza a quantidade de resduos existentes no processo.

    b) Reciclagem o uso ou reuso de resduos perigosos como um efetivo substituinte para o produto comercial ou como um ingrediente ou matria-prima no processo industrial. Isto inclui a recuperao de fraes de contaminantes dentro de um resduo ou sua remoo de forma que assim o resduo possa ser utilizado. Reciclagem pode incluir o uso de resduos como combustvel suplementar ou substituto.

    c) Tratamento qualquer mtodo, tcnica, ou processo que promova mudanas fsicas, qumicas ou biolgicas em qualquer resduo perigoso, neutralizando-o. Significa ainda, recuperar energia ou recursos materiais do resduo, ou devolver ao meio como resduo menos perigoso seguro para manejo, possvel de ser recuperado, estocado ou reduzido em volume.

    d) Dispor a deposio ou alocao de resduos perigosos dentro ou sobre qualquer terreno ou reservatrio de gua de forma que tal resduo ou quaisquer dos seus constituintes possam ser lanados a atmosfera, corpos receptores hdricos e solo.

    Para alguns gerenciar resduos diz respeito apenas aplicao de tecnologias para o tratamento dos mesmos, entretanto, segundo a CETESB (2005), no gerenciamento dos resduos, deve-se inicialmente buscar a minimizao da utilizao de recursos, sendo que isto inclui qualquer pratica ambientalmente segura, de reduo na fonte, reuso reciclagem e recuperao de materiais e do contedo energtico dos resduos, visando reduzir a quantidade

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    ou volume dos mesmos a serem tratados e, posteriormente, adequadamente dispostos (ADAMS et. al. 2000).

    A reduo dos resduos na fonte geradora a principal e mais eficaz forma de minimiz-los, sendo a reciclagem desses resduos ou o reuso dos mesmos uma segunda opo caso as tcnicas de reduo na fonte no se apliquem, uma vez que estas ultimas evitam a gerao de resduos, mas no evitam que esses materiais ainda devam ser manipulados e transportados para poderem ser reaproveitados (SCHALCH, 2002).

    As principais medidas para a reduo dos resduos na fonte incluem modificaes no produto, tais como substituio do produto ou mudana na composio do produo; modificaes de material, tais como purificao do material ou substituio do material e modificaes na tecnologia, tais como modificaes no processo, modificaes no layout, tubulaes ou equipamentos ou ainda modificaes no cenrio operacional e modificaes nas praticas operacionais, tais como a adoo de praticas de gerenciamento, preveno de perdas, segregao de fluxo de resduos, aperfeioamentos do manejo de material ou plano de produo (SCHALCH, 2002).

    A Figura 11 mostra um modelo de gerenciamento ambiental, onde visa a priorizar as aes de preveno a poluio, no contexto da minimizao de resduos e /ou poluentes.

    Segundo a metodologia proposta pelo Environmental Protection Agency (EPA), Agencia Ambiental dos Estados Unidos, para o gerenciamento de resduos industriais, deve considerar a definio de aes necessrias a obteno de solues adequadas do ponto de vista do desempenho industrial e do atendimento as exigncias dos rgos de controle ambiental. Onde basicamente deve ser respondida trs perguntas:

    1. Se a empresa produz resduos, quais so eles, quais suas taxas e seus pontos de gerao;

    2. Como os resduos gerados so classificados de acordo com os instrumentos legais disponveis; e

    3. Quais so os instrumentos de controle aplicveis e as tecnologias e metodologias disponveis para o gerenciamento desses resduos.

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    Figura 11: Modelo do gerenciamento ambiental de resduo. Fonte: CETESB (2002).

    De posse dessas informaes, aplica-se a metodologia escolhida para o gerenciamento dos resduos. A metodologia proposta esta baseada numa serie de etapas de deciso que devera ser aplicada seqencialmente, em ordem decrescente de interesse. A primeira etapa a mais favorvel, ou a melhor ao a preveno da gerao de resduos, por meio da adoo de tecnologias de Produo mais Limpa. A ultima a etapa menos favorvel a disposio do resduo em aterros industriais (PINTO, 2004). A Figura 12 apresenta o fluxograma das etapas de deciso para o gerenciamento de resduos slidos industriais.

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    Figura 12: Fluxograma das etapas de deciso para o gerenciamento de resduos slidos industriais.

    Fonte: LORA (2002).

    Desenvolver e implantar um Plano de Gerenciamento de Resduos (PGR) fundamental para qualquer empresrio que deseja maximizar as oportunidades e reduzir custos e riscos associados gesto de resduos slidos. O PGR deve assegurar que todos os resduos sero gerenciados de forma apropriada e segura, desde a gerao ate a disposio final (PINTO, 2004).

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    2.6 Produo Mais Limpa

    A adoo de metodologias de Preveno da Poluio, vm sendo proposta como estratgia eficaz para evitar os desperdcios de matrias-primas e energia, convertidas em resduos slidos, lquidos e gasosos, responsveis por adicionar custos aos processos produtivos e gerar problemas ambientais (KIPERSTOK et al, 2002).

    Produo mais Limpa (P+L) significa a aplicao contnua de uma estratgia preventiva, econmica, ambiental e tecnolgica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficincia no uso das matrias-primas, gua e energia, atravs da no-gerao, minimizao ou reciclagem de resduos gerados em todos os setores produtivos (CNTL, 2003).

    A Produo mais Limpa considera a varivel ambiental em todos os nveis da organizao. Caracteriza-se por aes que so implementadas dentro da empresa, principalmente as ligadas ao processo produtivo. Tem como objetivo tornar o processo mais eficiente no emprego de seus insumos, gerando mais produtos e menos resduos. (ARAUJO, 2002).

    Segundo a UNIDO (2001), o Programa de Produo mais Limpa tem por objetivo construir capacidades nacionais de Produo mais Limpa, promover o dilogo entre as indstrias e os governos e levantar investimentos para a transferncia e o desenvolvimento de tecnologias limpas.

    Segundo Furtado (2001) a Produo mais Limpa baseia-se em quatro princpios bsicos que buscam nortear os rumos para uma produo considerada limpa, so eles:

    1. Principio da precauo: tem como objetivo evitar doenas irreversveis para os trabalhadores e danos irreparveis para o planeta. A abordagem precatria no ignora a cincia, mas estabelece que o processo, produto ou material seja usado, desde que haja indcios que no cause danos ao homem ou ao ambiente. O principio da precauo, tambm, estabelece que outros elementos da deciso pblica devem opinar e no apenas os cientistas, pelo fato da produo industrial ter impacto social;

    2. Principio da preveno: consiste em substituir o controle de poluio pela preveno da gerao de resduos na fonte, evitando a gerao de emisses perigosas para o ambiente e o homem, ao invs de remediar os efeitos de tais emisses.

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    3. Principio do controle democrtico: pressupe o acesso a informao sobre questes que dizem respeito segurana e uso de processos e produtos, para todas as partes interessadas, inclusive as emisses e registros de poluentes, planos de reduo de uso de produtos txicos e dados sobre componentes perigosos de produtos.

    4. Principio da integrao: viso holstica do sistema de produo de bens e servios, com o uso de ferramentas como a Avaliao do Ciclo-de-Vida do produto (ACV).

    Valle (1995) afirma que com a adoo de tecnologias limpas, os processos produtivos utilizados na empresa devem passar por uma reavaliao e podem sofrer modificaes que resultem em:

    1. eliminao do uso de matrias-primas e de insumos que contenham substancias perigosas;

    2. otimizao das reaes qumicas, tendo como resultado a minimizao do uso de matrias-primas e reduo, no possvel, da gerao de resduos;

    3. segregao, na origem, dos resduos perigosos e no perigosos; 4. eliminao de vazamentos e perdas no processo; 5. promoo e estimulo ao reaproveitamento e a reciclagem interna; 6. integrao do processo produtivo em um ciclo que tambm inclua as

    alternativas para a destruio dos resduos e a maximizao futura do reaproveitamento dos produtos.

    A minimizao de resduos objetiva reduzir a gerao de resduos em uma instalao atravs de aes de cunho tcnico e gerencial, sendo que a mesma pode ser alcanada na fonte, evitando-se a formao do resduo em sua origem, como atravs de tcnicas de reciclagem e reaproveitamento interno, impedindo que o resduo chegue ao meio ambiente (VALLE, 1995). A Produo mais Limpa no trata simplesmente do sintoma, mas tenta atingir nas razes do problema.

    Na viso da Produo mais Limpa, resduos no devem ser vistos como lixo, mas como matria prima no utilizada, ou seja, quanto mais resduos, menor o lucro da atividade produtiva. Desta forma, reduzindo-se a quantidade de resduos, aumenta-se a quantidade de matria prima processvel disponvel, reduzindo-se o custo da produo e aumentando-se a lucratividade. Assim, o excedente pode ser utilizado para capacitar, aumentar a remunerao,

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    dar melhores condies sociais aos funcionrios e melhorar os processos produtivos, agregando desta forma valor as empresas (ECOAMBIENTAL, 2010).

    2.6.1 Benefcios e barreiras decorrentes da implantao de Produo mais Limpa

    De acordo com a UNIDO/UNEP (1995), existe uma grande relutncia para a pratica de Produo mais Limpa. Resumidamente, os maiores obstculos ocorrem em funo da resistncia mudana; da concepo errnea (falta de informao sobre a tcnica e a importncia dada ao meio ambiente); a no existncia de polticas nacionais que dem suporte as atividades de Produo mais Limpa; barreiras econmicas (alocao incorreta dos custos ambientais e investimentos) e barreiras tcnicas (novas tecnologias).

    Segundo a UNIDO (2001), as principais barreiras para implementao de Produo mais Limpa nas empresas podem ser classificadas nas seguintes categorias:

    a) Barreiras organizacionais: estariam vinculadas ao no-envolvimento dos empregados; a concentrao de poder de deciso no proprietrio da empresa; a nfase a produo, relegando a um segundo plano qualquer modificao em funo de tempo; alta rotatividade de pessoal tcnico, reduzindo o conhecimento da empresa e a falta de reconhecimento pelas iniciativas dos empregados.

    b) Barreiras sistmicas: envolvem falhas na documentao da empresa, falta de registros e controles de seus gastos; existncia de um sistema de gerenciamento inadequado ou ineficiente; falta de sistemas para promoo profissional (aprimoramento das habilidades individuais) e planejamento de produo dirio.

    c) Barreiras de atitudes: falta de cultura em relao s melhores praticas de operao, resistncia da mudanas; falta de liderana; falta de superviso eficaz; falta de segurana no trabalho e medo de falhar.

    d) Barreiras econmicas: predominncia de preos baixos e disponibilidade abundante de recursos; falta de interesse das instituies financeiras em projeto de Produo mais Limpa; excluso dos custos ambientais da analise econmica das medidas de reduo de resduos; planejamento inadequado dos

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    investimentos; capital restrito para investimentos rpidos e de pequeno valor e predominncia de incentivos fiscais relativos produo

    e) Barreiras tcnicas: falta de infra-estrutura; mo-de-obra limita ou no disponvel; acesso limitado a informaes tcnica; tecnologia limitada; dficits tecnolgicos e infra-estrutura limitada.

    f) Barreiras governamentais: polticas adotadas em relao a preos de determinados servios pblicos (como a gua subterrnea, por exemplo, que serve como recurso para a indstria e seu custo era baseado no gasto de bombear somente); nfase no fim de tubo; polticas industriais de iseno fiscal e falta de incentivos para esforos de reduo de resduos.

    g) Outras barreiras: falta de apoio institucional; falta de presso publica para o controle da poluio; sazonalidade nos processos de produo e espao limitado no layout das empresas, impedindo o investimento em melhorias operacionais.

    Considerando que a Produo mais Limpa foca-se na minimizao de resduos na fonte, Lora (2000) descreve os benefcios decorrentes:

    a) O controle de resduos na fonte leva a diminuio radical da quantidade. Conseqentemente, se reduz custos de produo devido utilizao mais eficiente das matrias-primas e da energia, bem como custos de tratamento;

    b) A preveno de resduos, diferentemente do tratamento de resduos, implica em benefcio econmico, tornando-a mais atrativa para as empresas;

    c) Melhoria da imagem ambiental; d) Maior facilidade em cumprir as novas leis e regulamentos ambientais, o que

    implica em um novo segmento de mercado;

    Para o CNTL (2000), a implantao da Produo mais Limpa possibilita garantir processos mais eficientes. Descreve que a minimizao de resduos no somente uma meta ambiental, mas, principalmente, um programa orientado para aumentar o grau de utilizao dos materiais, com vantagens tcnicas e econmicas. Considera que a minimizao de resduos e emisses geralmente induz a um processo de inovao dentro da empresa.

    Sem duvida, ao comparar as mudanas que so geradas na estrutura dos custos totais, quando se decide investir em Produo mais Limpa, os custos diminuem significativamente, devido aos benefcios gerados a partir do aumento da eficincia dos processos e dos ganhos,

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    no consumo de matrias-primas e energia e na diminuio de resduos e emisses contaminantes (MELLO, 2002). Na Figura 13, abaixo, ilustra os custos e benefcios com a implantao da Produo mais Limpa.

    Figura 13: Custos e benefcios com a implantao de Produo mais Limpa. Fonte: MELLO (2002).

    2.6.2 Metodologia de Implantao de Produo mais Limpa

    Segundo Becker (2007), a metodologia da Produo mais Limpa utiliza-se de varias estratgias para a reduo dos resduos nos processos produtivos, como podemos ver abaixo e na Figura 14.

    1) A prioridade ser sempre evitar a gerao de resduos, emisses e efluentes, caracterizada pelo nvel 1.

    2) Em segundo lugar, ser tentada a reintegrao dos resduos que no podem ser evitados ao processo produtivo, ou seja, o Nvel 2.

    3) Sendo impossvel aplicar estas duas primeiras estratgias, deve-se procurar medidas de reciclagem fora da empresa, o Nvel 3.

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    Figura 14: Fluxograma da Metodologia da Produo mais Limpa. Fonte: CNTL (2000).

    A implantao do Programa de Produo mais Limpa, numa empresa, com base na metodologia desenvolvida pela UNIDO/UNEP, consiste na avaliao do processo produtivo, seja qual for natureza, e na aplicao de tcnicas que possam envolver desde a mudana de matria-prima/insumo, consumo de gua e energia, tecnologia/processo, procedimento operacional, at mesmo a mudana do prprio produto, que pode ser considerado ambientalmente incorreto.

    A Figura 15 a seguir, mostra as etapas a serem seguidas para a implantao da Metodologia da Produo mais Limpa.

  • 43

    Figura 15: Passos para implementao de Programa de Produo mais Limpa. Fonte: CNTL (2003), adaptado

    O primeiro passo antes da implementao de um programa de Produo mais Limpa a pr-sensibilizao dos empresrios e gerentes mediante uma visita tcnica, procurando expor casos de sucesso da Produo mais Limpa e mostrando seus benefcios econmicos e ambientais. Nesta visita, importante fazer ver a importncia das atitudes preventivas em contrapartida s onerosas aes de fim-de-tubo e lembrar as presses exercidas pelos rgos ambientais, com leis cada vez mais severas, alm de outros fatores relevantes que tenham sido observados no caso especifico da construtora visitada, com grande volume de resduos, altos valores de multas, etc., que possam ser minimizados com a abordagem da Produo mais Limpa. Nesta visita, deve-se deixar claro que sem o comprometimento gerencial da empresa, no ser possvel desenvolver o Programa de Produo mais Limpa. preciso que os empresrios e gerentes se conscientizem e queiram fazer funcionar a Produo mais Limpa. Aps isso, a empresa poder implementar um Programa de Produo mais Limpa atravs de metodologia prpria ou atravs de instituio ou consultores que possam apoi-la nesta tarefa (BECKER, 2007).

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    Abaixo apresentam-se as Etapas necessrias para a implantao da Produo mais Limpa em empresas, conforme Becker (2007).

    ETAPA 1

    O primeiro passo para a implantao de um programa de minimizao de resduos , a obteno do comprometimento e conscientizao de todo o pessoal da organizao. Questes do tipo por que implementar um programa de reduo de resduos, quais so os benefcios e como atingi-los, devem ser amplamente esclarecidos.

    O passo seguinte consiste na identificao de barreiras implementao e busca de solues. Para que o programa tenha um bom andamento essencial que seja identificado s barreiras que sero encontradas durante o desenvolvimento do programa e buscar solues adequadas para super-las. necessrio definir em quais dos processos produtivos sero includos no Programa de Produo mais Limpa.

    E por fim formao e capacitao do Ecotime. um grupo formado por representantes dos diversos setores da empresa, que se encarregar de realizar o diagnostico implantar o programa, identificar oportunidades de Produo mais Limpa, monitorar o programa e dar continuidade ao programa.

    ETAPA 2

    Contempla o estudo do fluxograma do processo produtivo, realizao do diagnostico ambiental e de processo e a seleo do foco de avaliao. A analise detalhada do fluxograma permite a visualizao e a definio do fluxo qualitativo de matria-prima, gua e energia no processo produtivo, a visualizao da gerao de resduos durante o processo, agindo desta forma como uma ferramenta para obteno de dados necessrios para a formao de uma estratgia de minimizao da gerao de resduos, efluentes e emisses.

    Na Figura 16, abaixo, pode-se verificar um exemplo genrico de fluxograma de um processo produtivo:

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    Figura 16: Fluxograma qualitativo do processo produtivo. Fonte: CNTL (2000).

    Aps o levantamento do fluxograma do processo produtivo da empresa, ser necessrio levantar os dados quantitativos de produo e ambientes existentes, utilizando fontes disponveis como, por exemplo, estimativas do setor de compras, etc. Nesta etapa se procede quantificao de entradas (matrias-primas, gua, energia e outros insumos) e sadas (resduos slidos, efluentes, emisses, subprodutos e produtos), verifica-se a situao ambiental da empresa e levantam-se os dados referentes estocagem, armazenamento e acondicionamento. Como demonstrado na Figura 17 abaixo.

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    Figura 17: Fluxograma quantitativo do processo produtivo, elaborao do diagnstico ambiental e planilha de aspectos e impactos.

    Fonte: CNTL (2000).

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    Ainda nessa etapa selecionado entre todas as atividades e operaes da empresa o foco de trabalho, com base no diagnostico ambiental e na planilha dos principais aspectos ambientais. Estas informaes so analisadas considerando os regulamentos legais, a quantidade de resduos gerados, a toxicidade dos resduos e os custos envolvidos.

    ETAPA 3

    Nesta etapa elaborado o balano de material e so estabelecidos indicadores, so identificados as causas da gerao de resduos e feita a identificao das opes de Produo mais Limpa.

    Esta fase tem inicio com o levantamento dos dados quantitativos mais detalhados nas etapas do processo priorizadas durante a atividade de seleo do foco da Etapa 2. Como mostra a Figura 18.

    Figura 18: Anlise quantitativa de entradas e sadas do processo produtivo. Fonte: CNTL (2000).

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    Aps o levantamento dos dados pelo balano material quantitativo so avaliadas pelo Ecotime as causas da gerao dos resduos na empresa. Com base nas causas de gerao de resduos, possvel utilizar tcnicas ou medidas entendidas como de Produo mais Limpa visando minimizao de resduos

    ETAPA 4

    O produto final da Etapa 3 uma lista de opes de Produo mais Limpa que so avaliadas segundo os fatores dos quais dependem as implementaes dessas opes, quais sejam, aspecto tcnico, aspecto ambiental e aspecto econmico. Os resultados encontrados durante a atividade de avaliao tcnica, ambiental e econmica possibilitaro a seleo das medidas viveis de acordo com os critrios estabelecidos pelo Ecotime.

    ETAPA 5

    Esta etapa constitui-se do plano de implementao e monitoramento e do plano de continuidade. A eficincia da escolha das melhores opes de Produo mais Limpa comprovada na fase de implementao onde se compara o resultado obtido com os esperados. As aes que envolvem simples modificaes de operao, procedimentos e materiais, so implantadas to logo os benefcios ambientais, os potenciais de economia e viabilidade tcnica tenham sido determinados.

    Para modificaes mais complexas, que exigem mudanas ou instalaes de equipamentos, deve-se proceder de maneira usual em casos de implantao de projetos, ou seja, planejar, projetar, levantar recursos e instalar.

    Juntamente com o plano de implementao deve ser planejado o sistema de monitoramento das medidas a serem implantadas. Nessa etapa essencial considerar:

    1. Quando devem acontecer as atividades determinadas 2. Quem o responsvel por estas atividades; 3. Quando so esperados os resultados; 4. Quando e por quanto tempo devem-se monitorar as mudanas;

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    5. Quando avaliar o progresso; 6. Quando devem ser assegurados os recursos financeiros; 7. Quando a opo deve ser implantada; 8. Qual a data da concluso da implementao

    O plano de monitoramento devera ser dividido em quatro estgios: planejamento, preparao, implementao, analise e relatrio de dados.

    O programa de Produo mais Limpa antes de tudo um processo continuo. Uma vez avaliadas as linhas de fluxo de resduos prioritrias e implementadas suas propostas de minimizao, o programa de avaliao deve dar prosseguimento analisando os demais resduos e otimizando as tcnicas de minimizao em uso.

    O plano de continuidade deve criar condies para que o programa tenha sua continuidade assegurada atravs da aplicao da metodologia de trabalho e da criao de ferramentas que possibilitem a manuteno da cultura estabelecida, bem como sua evoluo em conjunto com as atividades futuras da empresa.

    2.6.3 Produo mais Limpa na Indstria

    Segundo Kiperstock et al (2002), a implementao de um programa de Produo mais Limpa numa empresa reconhecida como uma pratica de gesto ambiental de grande eficcia, no entanto, no visa certificao, como o caso da norma internacional ISO 14001.

    A Produo mais Limpa provoca uma mudana de cultura organizacional, de forma a atender aos requisitos ambientais e de mercado no sentido da minimizao de resduos. Trata-se, portanto, de um programa que contempla os aspectos qualitativos e quantitativos de melhoria dos produtos, servios e seus efeitos ao meio ambiente e a qualidade de vida das pessoas.

    2.6.3.1 Estudos de Caso

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    Primeiro Estudo de Caso: A cabine de pintura de uma empresa do setor metal-mecnico localizada no Estado do Rio Grande do Sul.

    o Nascimento et.al. - Produo Mais Limpa: Um impulso para a inovao e a obteno de vantagens competitivas. 2002

    O primeiro estudo de caso se trata de uma empresa de grande porte do setor metal-mecnico localizado no Estado do Rio Grande do Sul, que escolheu o mtodo de Produo mais Limpa em um dos setores considerados mais critico, o setor de pintura, mais especificamente uma das cabines de pintura.

    Analisando o sistema e as regulagens utilizadas na cabine de pintura e comparando-os com as informaes disponibilizadas pelo fabricante do equipamento, assim como pelo fabricante da tinta utilizada no processo de pintura, verificou-se que havia uma discrepncia entre os dados tericos e os que eram praticados pela empresa. O processo de pintura utilizava 70 psi de presso nas pistolas e as indicaes dos fabricantes eram de que, para o tipo de tcnica de pintura utilizada, seria suficiente a presso de 35 psi. Foram levantados os dados de consumo, por meio do balano de massa e, aps a adaptao a recomendao especifica, levantou-se os dados de consumo, efetuando-se a comparao com os dados histricos de consumo em relao produo, obtendo-se uma sensvel reduo no consumo de tinta e na gerao de resduos de tinta.

    Para o monitoramento a empresa utilizou como parmetro a media de consumo de tintas, verificando uma vez por ms o processo, com o objetivo de medir a quantidade media de tinta consumida por produto na pintura a pistola, devido reduo de presso.

    Assim, a empresa obteve beneficio ambiental, com a reduo na emisso de solventes e tintas no ar, menor consumo de tinta por pea produzida e melhoria no ambiente de trabalho, benefcios econmicos com a reduo na compra total de matria-prima (tintas e solventes) que era de R$ 186.888,00/ano e passou a ser de R$ 142.254,00/ano, resultando numa reduo de 23%, e beneficio de sade ocupacional, com a diminuio do contato dos empregados com os agentes qumicos gerados pela exposio ao processo de pintura da cabine. Alem disso, o ganho obtido no gerou investimentos, demonstrando que a Produo mais Limpa pode ser realizada de forma simples sem a necessidade de tecnologias sofisticadas.

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    Segundo Estudo de caso. Implantao da Produo mais Limpa: O caso da Metalrgica GG LTDA.

    o OLIVEIRA. M., A Produo Mais Limpa como ferramenta de gesto ambiental para as indstrias do municpio de Juiz de Fora. Monografia. Juiz de Fora, 2006.

    A Metalrgica GG Ltda. uma indstria do setor moveleiro que fabrica peas e acessrios para moveis, sendo peas em polmeros injetados e peas estampadas em ao.

    O processo de fabricao das peas plsticas tem inicio com o recebimento da matria prima, o polmero granulado. O material ento introduzido nas injetoras, resultando em peas no estado bruto. O operador da mquina seleciona o produto, retira manualmente as aparas e separa os rejeitos e sobras do processo de injeo. Aps este processo, as peas so encaminhadas para o setor de acabamento, onde so organizadas em ganchos para facilitar o manuseio. Recebem uma camada de verniz e, aps a secagem, so encaminhadas para metalizao.

    O processo de metalizao se d pela deposio de uma fina camada de alumnio sobre a pea envernizada. Em uma cmara de vcuo, so aquecidos, por corrente eltrica, vrios filamentos de alumnio que, ao se fundirem e evaporarem formam uma nevoa de p. Devido ao movimento de rotao e translao dos ganchos dentro da cmara, o p de alumnio depositado uniformemente sobre as superfcie das peas reagindo com a camada de verniz e resultando em um acabamento idntico a cromagem de metais. Aps esse processo, as pecas so retiradas dos ganchos e ento cada uma receber um parafuso ao longo de eixo central, o qual servira para sua fixao ao mvel a que se destina.

    E por fim a pintura, em cores selecionadas de acordo com o pedido do cliente. Por ultimo, as peas so embaladas individualmente de forma a preservar a qualidade do produto.

    O ecotime formando observou oportunidades de melhoria no abastecimento da empresa, sendo que a mesma abastecida por um poo, onde periodicamente o nvel de gua do poo baixava e a bomba aspirava areia, o que causava problemas mecnicos e deficincias no abastecimento. A maior parte da gua consumida utilizada na refrigerao das maquinas injetoras, sendo que era desperdiada ao final do ultimo turno, aproximadamente 1.800 litros. Isso acontecia porque, ao se desligar as maquinas, a gua do sistema de refrigerao retornava para a torre de resfriamento e para o reservatrio, porm a capacidade da caixa era inferior ao volume retornado e, por isso, transbordava para o sistema de captao de guas pluviais todas

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    as noites. Por conseqncia, na manha seguinte, era necessrio ligar novamente a bomba para retirar gua do poo resultando em maior consumo de gua e tambm de energia eltrica.

    Assim a soluo proposta foi inicialmente instalar um hidrmetro na sada da bomba do poo a fim de se quantificar o consumo de gua e a elevao do nvel da torre e do reservatrio do sistema de resfriamento.

    Sendo que com a elevao da torre e do reservatrio o transbordamento foi solucionado. Onde ao se desligar o sistema, parte da gua permanece nas tubulaes e equipamentos, o volume que retorna menor e compatvel com a capacidade do reservatrio. Com a mudana, o consumo dirio passou para aproximadamente 80 litros de gua, nmero bem inferior aos 1.800 litros consumidos antes da mudana. Foram investidos aproximadamente R$ 1.690,00 e resultou numa economia anual de 385.000 litros de gua.

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    3 METODOLOGIA

    3.1 Caracterizao da Empresa e dos Resduos Gerados

    A empresa utilizada nesta pesquisa foi fundada em 1998, atua no ramo metalrgico e est localizada na cidade de Ibirub, regio Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, com uma rea construda de 15.000 m de um total de 50.000 m. Especializada na produo de peas metlicas, sistemas e subsistemas montados, com investimentos bastante significativos em seus mais diversos departamentos a fim de atender a demanda do mercado nacional e internacional, com a colaborao de 190 funcionrios.

    Figura 19: Mapa de Localizao da Cidade de Ibirub. Fonte: Google (2010).

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    Figura 20: Mapa da localizao da empresa. Fonte: Google (2010).

    3.2 Delineamento da Pesquisa

    Segundo Laville e Dionne (1999), existem trs grandes grupos de categorias de pesquisa que levam em considerao seus objetivos, sendo as exploratrias, as descritivas e as explicativas. A presente pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa exploratria, que

    normalmente assume a forma de pesquisa bibliogrfica ou estudo de caso. A pesquisa objetiva conhecer e analisar detalhadamente o processo produtivo,

    realizando um levantamento direto de dados, analisando e interpretando-os, na busca da identificao dos impactos gerados, assim elaborando um plano de gerenciamento dos resduos e posteriormente a verificao da oportunidade de aplicao da metodologia de Produo mais Limpa.

    A Figura 21 a seguir representa o delineamento da pesquisa com o propsito de explicar de forma detalhada a maneira como o estudo foi desenvolvido.

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    Figura 21: Delineamento da pesquisa

    3.2.1 Primeira Etapa

    A primeira etapa concentrou-se no conhecimento da empresa, onde realizaram-se visitas in loco, obtendo conhecimento prvio de todo processo produtivo da mesma, de todas as atividades realizadas, desde o setor administrativo at o da faxina, e assim definindo-se os objetivos a serem alcanados.

    3.2.2 Segunda Etapa

    A segunda etapa focou-se no desenvolvimento da reviso bibliogrfica, com a inteno de conceituar e desenvolver uma lgica para o estudo, assim buscando conhecimento sobre o desempenho ambiental empresarial, metodologias para a elaborao de um Plano de

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    Gerenciamento de Resduos Slidos Industriais e metodologias para aplicao de Produo mais Limpa na empresa.

    3.2.3 Terceira Etapa

    Na terceira etapa desenvolveu-se o Fluxograma (Figura 22) do processo produtivo da empresa, onde, atravs dele, foi possvel identificar os resduos gerados em cada setor. Para a elaborao foi preciso ajuda de um funcionrio, pois o conhecimento de todo o processo produtivo da empresa seria de suma importncia.

    Figura 22: Fluxograma do Processo Produtivo de empresa

  • 57

    3.2.4 Quarta Etapa

    Na quarta etapa realizou-se a elaborao do Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos para a empresa, juntando-se os conhecimentos obtidos na reviso bibliogrfica, na visita e nas informaes passadas pela empresa. Sugeriu-se nesta etapa, a elaborao de Tabelas de controle dos resduos gerados.

    3.2.5 Quinta Etapa

    Nesta etapa, verificou-se possveis tcnicas de aplicao da prtica de Produo mais Limpa na empresa, utilizando-se de conhecimentos obtidos na literatura.

    O primeiro passo para a implementao de um programa de Produo Mais Limpa que tem a finalidade de evitar a gerao de resduos, emisses e efluentes e procurando medidas de reciclagem realizar uma sensibilizao do empresrio e gerente, salientando que o comprometimento gerencial da empresa de extrema importncia para que o programa siga em frente e tenha sucesso.

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    4 RESULTADOS E DISCUSSES

    4.1 Detalhamento dos Setores da Empresa e seus Respectivos Resduos e Impactos

    4.1.1 Recebimento de Chapas

    Dando inicio ao processo produtivo, a principal matria prima utilizada a chapa de ao, que como resduos gerados, identificam-se os resduos Classe II B (Inertes) como: plsticos que envolvem as chapas de ao e pedaos de madeira para a diviso das mesmas, e os resduos Classe I (Perigosos), como: caneta marcadora - que utilizada na marcao das peas, panos e estopas. A Figura 23, a seguir, demonstra como as chapas de ao so armazenadas.

    Figura 23: Armazenagem das chapas de ao.

    Este setor apresenta como impacto a ocupao no aterro e esgotamento/reduo da disponibilidade de recursos naturais.

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    4.1.2 Corte, Dobra, Furadeira e Solda

    O setor de corte o maior gerador de resduos em uma empresa metalrgica, cada pea fornecida tem um formato e uma estrutura diferenciada. A chapa colocada inteira em uma mquina de corte a laser, para melhor e maior aproveitamento da chapa de ao. Porm ainda gera resduos como retalhos de ao, panos e estopas. A Figura 24, abaixo, demonstra o resduo do corte a laser da chapa de ao.

    Figura 24: Chapa cortada

    Depois de cortada algumas peas podem seguir para o setor de dobra, furadeira e solda, ou furadeira, dobra e solda, ou somente da dobra para a solda ou da furadeira para a solda, vai depender do tipo de pea a ser produzida naquele momento.

    O setor de dobra no apresenta nenhum resduo relevante, somente quando alguma pea dobrada com falhas, que assim ser descartada. J no setor da furadeira e solda, encontram-se bastante retalhos das chapas, conforme a Figura 25.

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    Figura 25: Retalhos do Setor de Furadeira e Solda

    Estes setores apresentam como impactos a ocupao no aterro e esgotamento/reduo da disponibilidade de recursos naturais.

    4.1.3 Limpeza de Peas e Pintura

    A limpeza das peas feita para remoo de respingos provenientes do processo de soldagem, gerando apenas alguns retalhos de ao, mas no muito significantes e panos e estopas.

    No setor de pintura realizada a proteo da superfcie da pea, atravs da aplicao de tinta. A empresa trabalha de duas maneiras, utilizando a pintura a jato (Figura 26) e a pintura a p. Os resduos gerados nesta fase so classificados, segundo a NBR 10.004/2004 como Classe I Perigosos, sendo eles: tintas, solventes, embalagens, panos e estopas. Os lquidos seguem para a estao de tratamento de efluentes da empresa.

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    Figura 26: Pintura a jato

    Estes setores apresentam como impacto a ocupao no aterro e o esgotamento/reduo da disponibilidade de recursos naturais.

    4.1.4 Secagem, Montagem e Expedio

    Depois de pintada, a pea segue para o setor de secagem, onde permanece a uma temperatura de 100 C. Depois de seca, a pea vai para a montagem e para a expedio, onde carregada para o caminho, que transportar at o cliente.

    Nesta seo, os resduos gerados so panos e estopas, papel, plsticos, caneta marcadora e ainda, poluio atmosfrica. Como impacto, pode-se classificar a ocupao no aterro e o esgotamento/reduo da disponibilidade de recursos naturais.

    4.2 Proposta do Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos (PGRS)

    Neste tpico, ser apresentado uma proposta de PGRS para a indstria metalrgica avaliada, propondo-se melhorias para a mesma, solues disponveis no mercado para o destino dos resduos e mais aes em que no seja necessrio um grande investimento econmico.

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    4.2.1 Conscientizao Ambiental da Empresa

    Para um bom desempenho do PGRS, a principal medida a ser tomada a conscientizao dos administradores e funcionrios da empresa. Sugere-se cursos de capacitao e sensibilizao para os funcionrios da empresa, abordando a metodologia da prtica de Produo mais Limpa, que visa reduo na fonte dos resduos e um consumo sustentvel dos recursos. Este curso teria uma reviso peridica. Tambm, sugere-se nesta fase, mais incentivo aos funcionrios que se adequarem as novas exigncias da separao dos resduos, como por exemplo, expor uma foto no mural, destacando que foi o funcionrio mais ecologicamente correto dentro da empresa, prmios em forma de produtos ou at mesmo em dinheiro.

    4.2.2 Manejo dos resduos slidos

    4.2.2.1 Segregao

    A segregao proposta ter a funo de separar os resduos a fim de evitar contaminao de outros materiais. A segregao est baseada na Resoluo 275 do CONAMA, onde estabelece a segregao pelo cdigo de cores, conforme mostra a Figura 27, abaixo.

    Figura 27: Cdigo das cores, baseada na Resoluo do CONAMA.

    Para cada setor ser disponibilizado tambores com etiquetas amarelas identificadas (como mostra o exemplo da Figura 28), onde sero dispostos o maior resduo da empresa,

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    retalho de ao, esses tambores sero somente para acondicionar os resduos gerados diariamente, e quando cheio