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Proposta de projecto construída no âmbito da Pós-graduação em Gestão Autárquica e Modernização da Universidade Aberta.
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PROPOSTA DE PROJECTO DE
MODERNIZAA O ADMNISTRATIVA PARA
CASCAIS
Bruno Leal
Ps-graduao em
Gesto Autrquica
e Modernizao
1
ndice Geral
ndice Geral . 1
ndice de Figuras 2
Introduo ... 3
Administrao Pblica e Administrao Local ... 4
E-Governana e Participao Pblica . 7
E-Governana e Participao Pblica - em Portugal e em Cascais ............................. 10
Proposta de projecto de modernizao administrativa . 14
Concluses . 17
Bibliografia ... 18
Sitografia . 20
2
ndice de Figuras
Figura 1 Fases da metodologia de engenharia de e-governana proposta por K. B. C.
Saxena .... 8
Figura 2 Os trs tipos de envolvimento pblico . 9
3
Introduo
O presente trabalho integra-se na unidade curricular Modernizao Administrativa da Ps-
graduao em Gesto Autrquica e Modernizao da Universidade Aberta e centra-se na
modernizao administrativa das autarquias, nomeadamente na apresentao de um
projecto de e-governana e de fomento da participao pblica para um municpio.
A Administrao Pblica de hoje quer-se moderna e preparada para os desafios que
enfrenta e que espera enfrentar nos prximos tempos. As autarquias no escapam a esta
regra. Alis, uma regra que ser ainda mais verdadeira para as autarquias do que para o
restante Estado, pelo seu carcter de proximidade s populaes e, consequentemente,
pela sua maior exposio mudana de rotinas e de vontades destas. Nesta era do
conhecimento, da informao, da participao, em que as pessoas tm de estar preparadas
para a mudana, e de igual modo as empresas, tambm as autarquias tm de ser
suficientemente flexveis e ter ao seu alcance ferramentas que lhes permitam moldar-se s
transformaes apresentadas pela sociedade em que se inserem.
Nesta era torna-se premente a adopo de modelos de governao mais centrados nos
cidados, mais eficientes, mais transparentes.
O trabalho apresentado de seguida segue uma estrutura que visa uma contextualizao do
projecto via encadeamento de ideias, que se inicia com uma reflexo terica sobre a
evoluo dos modelos de administrao at aos dias de hoje, passando de seguida para
uma anlise da administrao num mbito geogrfico restrito e centrado, primeiro na
globalidade do pas, e posteriormente, no municpio escolhido para este trabalho Cascais.
Finalmente procede-se sugesto de um projecto de modernizao administrativa para
Cascais, salientando a sua necessidade e as vantagens que dele podero advir.
Se na fundamentao terica do trabalho se procede a uma anlise cuidada da literatura
consultada e dos dados estatsticos obtidos, no que concerne proposta do projecto, ela
baseia-se sobretudo na observao directa da realidade do municpio em causa enquanto
cidado atento desse municpio e pela consulta de documentao, boa parte dela,
disponibilizada pela prpria autarquia. No se pretende assim que a proposta do projecto
seja vista como algo que decorra de um estudo cientfico, mas antes um exerccio de
aplicao de conhecimentos numa vertente prtica.
4
Administrao Pblica e Administrao Local
Desde que os seres humanos se comearam a organizar em comunidades com alguma
dimenso, foi necessrio estruturar servios, naquilo que viria a constituir o conceito de
Administrao Pblica.
Segundo alguns autores, o civil service mais prximo daquilo que conhecemos hoje ter
comeado na Baixa Idade Mdia (Rocha, 2001). Nessa altura o servio era prestado por
servidores do rei e s mais tarde, quando o Estado deixou de ser identificado com o rei,
sobretudo aps a Revoluo Francesa, que nasceu o conceito de funcionrio pblico. Os
funcionrios deixaram de ser funcionrios do Estado para serem funcionrios pblicos,
assistindo-se paralelamente a uma separao entre a poltica e a administrao (Rocha,
2001).
So vrias as transformaes sofridas pela administrao pblica ao longo dos sculos e
mesmo a moderna digamos assim tem passado por alteraes, algumas de fundo, no
seu modelo organizativo e executivo. Estas alteraes tm ocorrido a diferentes nveis e
com diferentes resultados. A escolha de um modelo de administrao pblica tem impactos
profundos no Estado, na forma como se relaciona como os diferentes stakeholders e, em
ltima instncia, na prpria sociedade. Dependendo do modelo adoptado, poder haver
maior ou menor controlo por parte dos actores polticos, maior ou menor responsabilizao
dos vrios agentes, maior ou menor centralizao da deciso, maior ou menor abertura e
transparncia, maior ou menor eficincia, etc (Ferraz, 2013).
O Modelo Burocrtico, que reinou at h pouco mais de trs dcadas, assentava numa
preocupao com a separao efectiva entre a poltica e a administrao (Ferraz, 2013). De
facto, olhando em retrospectiva, uma preocupao que fazia todo o sentido na altura da
sua concepo e gnese, uma altura que os estados se libertavam das monarquias
absolutistas, em que os funcionrios pblicos respondiam figura do rei. Assim,
caracterizava-se pela existncia de normas rgidas, de uma hierarquia na organizao dos
cargos pblicos, pela existncia de funcionrios de carreira profissionalizados, e pela
implementao de processos estandardizados, que visavam incutir uma maior cientificidade
nos procedimentos e maior neutralidade poltica das decises e actos da administrao
pblica (Ferraz, 2013; Weber, 1971).
Com o tempo, este modelo foi-se tornando progressivamente obsoleto, muito por culpa do
alargamento das funes do Estado, sobretudo para reas mais sociais e fugindo ao papel
apenas administrativo. De igual modo, as dificuldades financeiras e endividamento que o
Estado foi apresentando, as acusaes de alguns sectores suposta obteno de
vantagens para si prprios por parte dos agentes pblicos, assim como o advento da
5
globalizao e das prprias novas tecnologias, tambm contriburam para o aparecimento
de novos modelos de administrao pblica (Ferraz, 2013).
aqui que surge o modelo do New Public Management (NPM), como resposta a um Estado
pesado e ineficiente, apresentando-se como um modelo de governao assente em
princpios como a competio, o controlo de custos ou o foco nos resultados. Cresceu
sobretudo nos pases anglfonos, como a gesto de responsveis polticos como Margaret
Tatcher ou Ronald Reagan, alastrando um pouco por todo o mundo na dcada de 80 do
sculo passado. Assentava num preconceito de que a gesto privada superior gesto
pblica e pretendia uma importao de prticas da primeira para a segunda, apostando
numa maior desregulao e descentralizao, e na criao de novas estruturas autnomas
da hierarquia normal ou at mesmo na privatizao de servios e estabelecimento de
parcerias pblico-privadas (Ferraz, 2013).
Embora assente em princpios facilmente compreensveis e pelos quais no ser difcil nutrir
alguma simpatia, o facto de se basear num preconceito no necessariamente justificado, e
de se acabar por verificar uma incapacidade de os governos conseguirem coordenar os
diversos servios e as variadas estruturas criadas no mbito do NPM, assim como a
consequente dificuldade no controlo das finanas pblicas, contriburam para que a sua
implementao no surtisse o efeito pretendido inicialmente (Ferraz, 2013; Diefenbach,
2009).
nesse contexto que viriam a surgir crticas ao New Public Management e propostas de
modelos alternativos.
Numa perspectiva de procura de maior eficincia, o modelo de Estado Neo-Weberiano
defende que o antdoto para as dificuldades do NPM no controlo e coordenao da mquina
administrativa est numa menor autonomia e descentralizao (Ferraz, 2013). Bem vistas as
coisas, o que se tem registado, no s em Portugal, mas tambm noutros pases da
Europa, num contexto de crise financeira do Estado, com a centralizao da administrao e
a reduo e perda de autonomia de algumas estruturas como os institutos pblicos ou
empresas pblicas.
Por outro lado, a crescente tendncia para uma exigncia de maior democratizao das
decises do Estado materializa-se em modelos como o de Governance. Ora, embora o
prprio termo governance seja impreciso por ser aplicado a diversas ideias, assume-se
aqui o conceito de uma governao assente em redes de organizaes autnomas, entre
sector pblico, privado, terceiro sector e sociedade civil em geral, dependendo da
participao de todos e valorizando a cidadania (Rhodes, 1996; Denhardt e Denhardt,
2003). Segundo esta acepo, o Governo apenas um dos muitos actores que influenciam
6
a forma de organizao da sociedade que constitui o pas a que superintende. um modelo
que vem ganhando relevo e que vai estando presente em muitos dos actuais discursos de
teoria poltica. As vantagens que apresenta residem em ganhos potenciais de transparncia,
de equidade, de participao poltica, de consenso, de valorizao das pessoas e da
cidadania; em suma, residem num potencial de melhor democracia.
Paralelamente, h autores que defendem a defesa no de um modelo especfico, mas a
adopo de uma abordagem de gesto que depende de cada contexto, de cada
circunstncia. aquilo que Alford e Hughes (2008) denominam de public value
pragmatism, onde o pragmatismo se refere precisamente ideia de utilizao dos meios
mais ajustados s circunstncias, desde que alinhados com os valores e objectivos pelos
quais se deve reger a governana (e tendo como pressuposto que o valor pblico no tem
necessariamente que ser gerado pelo sector pblico). uma linha de pensamento que se
afigura como interessante, sobretudo quando aplicada ao contexto das autarquias, j que
no h duas autarquias iguais, com situaes e limitaes idnticas ou localizaes e
populaes iguais.
7
E-Governana e Participao Pblica
No contexto de uma desejada governana, com maior participao da globalidade da
sociedade nos destinos da coisa pblica, e numa conjuntura de crescente importncia das
tecnologias de informao, h dois conceitos que emergem com destaque nas polticas
pblicas dos diversos pases: o de e-governance (ou e-governana) e o de participao
pblica.
E-governana
O termo e-governance deriva directamente da expresso electronic governance e o
conceito engloba a ideia de utilizar os meios desta era da informao para ajudar a
estabelecer um modelo de governao mais centrado nos cidados, menos centrado no
Estado no sentido estrito ajudar a estabelecer o tal nvel desejado de governana ,
contribuindo ainda com uma reduo de custos (Saxena, 2005, Riley 2001). Segundo a
definio utilizada por Thomas B. Riley (2001), e-governana o compromisso de utilizar
tecnologias apropriadas para melhorar as relaes governamentais, tanto a nvel interno
como externo, de modo a promover a expresso democrtica, a dignidade humana e a
autonomia, apoiar o desenvolvimento econmico e incentivar a justa e eficiente
disponibilizao servios.
No entanto, a e-governana tem apresentado dificuldades de implementao, de adeso e
de cumprimento dos objectivos que lhe so indicados. Em boa parte, porque dado o papel
que as tecnologias de informao desempenham neste mbito, a e-governana acaba por
ser vista e implementada muitas vezes como algo tcnico, quando muito mais do que
isso, uma deciso poltica com influncia social, que deve ser planeada e executada como
tal (Saxena, 2005).
K. B. C. Saxena (2005) define a boa e-governana como apresentando quatro
caractersticas: (i) centrada em finalidades; (ii) centrada no cidado; (iii) orientada para os
processos; e (iv) apoiada pela estrutura administrativa.
Prope (Saxena, 2005) igualmente uma metodologia de engenharia para projectos de e-
governana, que passa por quatro fases:
1. Planeamento (estabelecendo procedimentos, identificando stakeholders, definindo a
misso e os valores para as agncias governamentais envolvidas, identificando
problemas de governana com o apoio dos stakeholders, determinando as
necessidades e o mbito do processo de e-governana);
2. Definio (definindo a estrutura do processo de e-governana tcnica e poltico-
administrativa , definindo indicadores de performance, recolhendo informao
8
respeitante aos indicadores definidos e analisando-os com vista definio de
metas);
3. Implementao (desenvolvendo, ento, os processos de redesenho, fazendo a
gesto da mudana resultante);
4. Avaliao e Gesto (avaliando performance de forma contnua e proceder ao dever
de divulgao dos resultados obtidos).
Fig. 1 Fases da metodologia de engenharia de e-governana proposta por K. B. C. Saxena (2005)
Participao pblica
A participao pblica pode ser definida como a prtica de envolvimento dos cidados no
planeamento, tomada de deciso e definio de polticas (Rowe e Frewer, 2005) e contribui
defende-se para um aumento da transparncia e da confiana (Rowe e Frewer, 2005;
Ferraz e Alexandre, 2008).
Tal definio pressupe uma relao bidireccional entre cidados e agentes polticos
propriamente ditos. Infelizmente, a expresso participao pblica muitas vezes
utilizada para designar conceitos como comunicao pblica (public communication) ou
consulta pblica (public consultation), que se referem a coisas bem diferentes e que
comportam uma relao unidireccional, seja no sentido dos agentes polticos para os
cidados ou vice-versa. Na participao pblica, a informao trocada entre cidados e os
responsveis poltico-administrativos (Rowe e Frewer, 2005).
9
Fig. 2 Os trs tipos de envolvimento pblico; Fonte: Rowe e Frewer, 2005
A participao pblica pode e deve ocorrer a vrios nveis e de diferentes formas,
incluindo sesses de debate pblico, programas de informao ao pblico, referendos,
oramentos participativos, etc, desde que assegurado o pressuposto da interaco
bidireccional.
10
E-Governana e Participao Pblica em Portugal e em Cascais
O Livro Verde para a Sociedade da Informao em Portugal, publicado em 2007, delineou
os objectivos estratgicos do Governo Portugus em relao ao e-government e ao
desenvolvimento da sociedade de informao. Nele foram abordadas seis reas
consideradas particularmente importantes para a implementao de uma poltica de e-
government: (i) uma administrao pblica eficiente; (ii) a criao de incentivos utilizao
das tecnologias de informao na administrao pblica; (iii) o acesso digital informao
pblica; (iv) o estabelecimento de uma rede tecnolgica para a administrao pblica; (v)
arquivo electrnico; e (vi) democracia electrnica (Rodousakis e Santos, 2008; Misso para
a Sociedade da Informao, 1997).
J nessa altura existia a conscincia de que o futuro das Naes ser condicionado pela
forma como as novas tecnologias de informao e de comunicao forem assimiladas e do
xito e da rapidez dessa absoro. (Misso para a Sociedade da Informao, 1997: 6) e de
que Portugal no deveria perder um comboio que parte da Europa j havia apanhado, tendo
sido dado o sinal de partida pela Comisso Europeia, no final de 1993, atravs do Livro
Branco sobre Crescimento, Competitividade, Emprego Desafios e as Pistas para entrar
no Sculo XXI (Misso para a Sociedade de Informao, 1997).
Os princpios e objectivos explanados no Livro Verde para a Sociedade de Informao em
Portugal foram sendo alargados e refinados e, em Fevereiro de 2003, o Governo Portugus
apresentou um novo plano que voltava a destacar a estratgia governamental de tornar o
sector pblico mais orientado para os cidados. Assim, eram apresentados objectivos-chave
que passavam pela melhoria da eficincia dos servios pblicos, assim como pelo aumento
da satisfao dos cidados com esses servios, pelo reforo de transparncia da estrutura
administrativa, ou pela promoo da participao dos cidados nos processos democrticos
(Rodousakis e Santos, 2008).
Em 2006 foi apresentado aquele que ter sido o mais arrojado programa de e-governana
em Portugal: o SIMPLEX. Nele foram includas um grande nmero de medidas com vista
aproximao aos cidados, reduo da burocracia, ao aumento da eficincia e da
transparncia na relao entre cidados e governo (Rodousakis e Santos, 2008; AMA,
2014a).
Em Julho de 2008 foi lanado o Simplex Autrquico que dava continuidade aos intuitos do
Simplex mas que, como o prprio nome indica, continha medidas especficas para as
autarquias. Inicialmente, comeou por reunir medidas para apenas 9 municpios, mas em
2009/2010 j contou com a adeso de 60 municpios e com medidas de mbito municipal
11
restrito, mas tambm de carcter intermunicipal e mesmo intersectorial entre
administrao central e local (AMA, 2014b).
Merc desta aposta e destes programas, a e-governana foi-se desenvolvendo em Portugal,
ao ponto de, em 2007, o nosso pas ocupar o 3 lugar do ranking de pases da Unio
Europeia em termos de disponibilidade online de servios pblicos e o 4 lugar em termos
de sofisticao de servios online, com a particularidade de os dados disponveis apontarem
para um salto enorme face a 2001, ano do primeiro benchmark (Rodousakis e Santos,
2008).
Relativamente s autarquias, constata-se que desde o incio da dcada 2000, no s a
presena das autarquias na internet aumentou fortemente segundo dados do Laboratrio
de Estudo e Desenvolvimento da Sociedade da Informao, da Universidade do Minho, em
2007, 306 dos 308 municpios tinham presena na internet , como o nvel de sofisticao
acompanhou esse crescimento (Coelho, 2010; Santos e Amaral, 2008).
No entanto, o panorama diferente quando se analisa a participao pblica e o seu
fomento no nosso pas. Um estudo levado a cabo por David Ferraz e Helena Alexandre
(2008) concluiu que as reformas administrativas encetadas em Portugal no foram
suficientes para fomentar uma participao e uma cidadania activas.
Para esse facto encontram vrias explicaes. Desde logo porque, segundo os autores,
essas reformas foram executadas com um fim de, sobretudo, melhorar os ndices de
eficincia dos servios pblicos numa perspectiva na linha dos ideais do New Public
Management e no foram particularmente orientadas para um fomento da participao e
do empowerment pblicos. Mas tambm devido a uma srie de limitaes normativas e
orgnicas da gesto do prprio Estado e de limitaes sociais e culturais como o
caso da resistncia participao que tradicionalmente impera na nossa cultura cvica,
talvez resultado dos baixos nveis de qualificao de muitos portugueses (Ferraz e
Alexandre, 2008).
Ora, e em jeito de concluso do estudo, [n]o se pode pois concluir que as reformas
empreendidas fomentaram a participao pblica e, consequente, o exerccio de uma
cidadania activa. Se, por um lado a cultura cvica e de participao em Portugal no ainda
suficientemente robusta para permitir uma efectiva participao, ou at mesmo um
incremento da participao indirecta, por outro, o poder poltico, atravs das reformas
formuladas, no fomentou a criao de condies para que se dessem alguns
desenvolvimentos a este nvel (Ferraz e Alexandre, 2008: 10).
12
Um outro estudo, organizado pela Associao para a Promoo e Desenvolvimento da
Sociedade de Informao (2009), apresenta 7 reas para as quais possvel apontar com
vista a uma melhoria da eficincia da administrao pblica local e a um relacionamento
mais gil entre os cidados e essa mesma administrao, com recurso sociedade de
informao (Coelho, 2010):
Promover a democracia electrnica;
Capacitar todos os muncipes, em particular os mais jovens;
Melhoria dos processos administrativos e de gesto;
Melhoria da comunicao com muncipes e agentes externos;
Dignificar o correio electrnico como canal de comunicao;
Avaliao da utilidade do investimento;
Estabelecer mecanismos de cooperao entre Cmaras Municipais de menor
dimenso.
Sendo que o presente trabalho se debrua especificamente sobre um municpio, o de
Cascais, importa tambm conhecer um pouco do seu contexto, sobretudo no que e-
governana e participao pblica diz respeito.
Antes de mais, Cascais um concelho da regio da Grande Lisboa, situado na orla martima
a Oeste de Capital, e com uma populao que excedia o valor das 206 mil, segundo os
Censos de 2011 (INE, 2014).
A Cmara Municipal de Cascais foi uma das 9 pioneiras do Simplex Autrquico (AMA,
2014b). No entanto, no Relatrio do Simplex Autrquico 2010/2011, perodo em que o
programa contou j com 125 municpios, Cascais constava de um grupo de municpios
correspondente a um terceiro e ltimo nvel relativamente taxa de execuo (AMA,
2011). Mais, por essa altura, os projectos do municpio, integrados neste programa
limitaram-se a uma nica medida de mbito municipal (a realizao de um inqurito de
opinio aos leitores do boletim municipal, com vista prestao de um melhor servio) e
algumas medidas intersectoriais e transversais a vrios municpios (nomeadamente, a
implementao de balces do empreendedor, da rede comum do conhecimento, de uma
plataforma de reclamaes, elogios e sugestes e do projecto A minha rua). A taxa de
execuo da nica medida municipal registada era de 38%, enquanto que relativamente s
intersectoriais se registava uma taxa de 75% (AMA, 2011).
Esta aparente fraca aposta na e-governao e na utilizao das tecnologias de informao
foi contrariada nos anos seguintes com um programa prprio de modernizao, que visava
resolver algumas limitaes de eficincia interna, designadamente no que dizia respeito
13
existncia de departamentos estanques, de processos de licenciamento complexos, ao facto
de toda a documentao se encontrar ainda em papel, com interminveis impresses,
cpias e at com pesados arquivos a circular em viaturas (CMC, 2014).
O projecto inclua (CMC, 2014):
Uma nova plataforma informtica de gesto de compras;
Uma aplicao informtica de gesto documental;
A adopo de novas ferramentas tecnolgicas de comunicao interna;
Uma nova plataforma de indicadores de gesto;
Um site renovado e modernizado;
Um novo portal de servios online para registo de ocorrncias por parte dos
cidados;
Um novo servio online de urbanismo para gesto de licenas camarrias (e a
paralela transformao dos servios internos de urbanismo);
A gravao e disponibilizao online dos vdeos das reunies da Cmara e
Assembleia Municipal;
Um sistema de informao geogrfica (SIG) aplicado ao Concelho de Cascais;
O desenvolvimento de aplicaes mveis que integrem o SIG e outros servios como
o de registo de ocorrncias.
Nota-se uma clara aposta na modernizao por parte do municpio, mas tambm notria a
aposta sobretudo no incremento de eficcia e de eficincia e no tanto no fomento da
participao pblica. Um pouco na linha do que Ferraz e Alexandre (2008) argumentam que
prtica habitual em Portugal.
14
Proposta de projecto de modernizao administrativa
Do exposto anteriormente fcil constatar a existncia de um dfice de fomento da
participao pblica nas polticas seguidas pela administrao central e local. Tambm no
concelho em anlise Cascais assim acontece.
sabido que existem alguns mecanismos, de utilizao at de certa forma comum, que
permitem a participao directa dos cidados nas deliberaes municipais; como o caso
das consultas pblicas no mbito da aprovao de instrumentos de gesto territorial. No
entanto, verifica-se que esses processos acabam por decorrer de imposies legais e em
fases j muito adiantadas ou at mesmo em fase de concluso dos processos de
deciso (Ferreira, 2013).
algo que comum no Municpio de Cascais e sintomtico do que atrs se afirmou. Ainda
recentemente decorreu um processo de consulta pblico relativo a um projecto meditico, o
designado Plano de Pormenor do Espao de Reestruturao Urbanstica de Carcavelos-Sul
(PPERUCS) e o processo decorreu durante cerca de dois meses, tendo havido nesse
espao de tempo duas sesses pblicas de esclarecimento e duas exposies do projecto
ao longo de 4 dias (CMC, 2013a). Embora no se pretenda conhecer aqui em pormenor o
projecto em causa, importa mencionar que se trata de um projecto de reestruturao
urbanstica que visa a implementao de um parque urbano de grandes dimenses numa
rea at agora despovoada, junto orla martima, com a instalao de valncias de sade e
educao, assim como de um centro religioso, um ninho de empresas e parques desportivos
(CMC, 2013b; CMC, 2013c).
Dada a dimenso do projecto, e os efeitos no territrio e nos habitantes das zonas
circundantes, foi alvo de bastante interesse e tambm muitos protestos por parte da
populao. No entanto, o processo de consulta pblica acabou por ser pouco mais que isso,
consulta, e no verdadeiramente um processo de participao pblica.
Em primeiro lugar, pese embora os cerca de dois meses estabelecidos para a consulta
pblica, esta arrancou numa fase em que o projecto no s estava num estado final, como
era dado como um facto adquirido. A Cmara Municipal recebeu vrias propostas de
modificao por parte de cidados e movimentos cvicos e informou que os iria analisar a
todos, ao mesmo tempo que deu a entender que o projecto seria para ir para a frente como
est previsto. Ora, tal no corresponde a uma interaco bidireccional. Tambm de
salientar o facto de a documentao relativa ao PPERUCS muito extensa e complexa,
tambm devido, claro est, dimenso do projecto em si estar disponvel para consulta,
durante o prazo previsto, apenas de forma fsica, presencial, no edifcio da Cmara e nas
sedes das Juntas de Freguesia (CMC, 2013d), o que dificulta a obteno de informaes e a
15
formulao de uma opinio fundamentada por parte dos cidados. De igual modo, a prpria
submisso de propostas est sujeita a determinados constrangimentos processuais e at ao
nvel da formatao dos documentos que em nada se coadunam com um interesse legtimo
em fomentar a participao cvica.
No caso do PPERUCS, a complexidade do prprio projecto pode servir de alguma desculpa
para a no implementao de uma metodologia mais democrtica e convidativa
participao. Mas tambm verdade que, devido sua dimenso e implicaes, tambm
acaba por corresponder a um caso em que a participao pblica mais se impe. E esta
metodologia de funcionamento no nica deste projecto. Prev-se o arranque de novo
processo de consulta pblica para breve, sobre alteraes ao regulamento do
estacionamento municipal, tambm nos mesmos moldes.
Ora, apresentado o problema, sugere-se um projecto de modernizao administrativa que
visa agilizar e melhorar os processos de consulta pblica no Municpio de Cascais,
tornando-os mais participativos, mais democrticos e menos uma obrigao legal e / ou um
exerccio de marketing poltico.
Deste modo, o projecto assumiria um intuito de promover a participao pblica e a
governana no Concelho de Cascais, tirando partido de ferramentas de e-governance mas
no s. Passaria por:
Iniciar os processos de consulta pblica numa fase anterior da concepo dos
projectos, de modo a que se possa auscultar realmente a populao e saber quais
os problemas que os afectam e as ideias que tm para o seu prprio local de
residncia. Os responsveis polticos devem reger a sua aco pelo interesse
comum da populao que representam e isso implica conhecer as suas opinies e
no ter medo delas.
Simplificar a linguagem dos prprios projectos ou da forma como so apresentados
ao pblico. O projecto Portugus Claro (https://portuguesclaro.pt) serve para ilustrar
o sugerido. Embora seja certo que os projectos devam apresentar, na forma oficial,
uma linguagem tcnica e legal adequada, tambm no menos certo que essa
linguagem no a ajustada para informar boa parte da populao. E a informao
deve ser simplificada, mantendo a ideia original, ou seja, no deve ser simplesmente
transposta para uma comunicao propagandista ou que apenas se debruce sobre
os aspectos que do jeito.
Divulgar a documentao relativa aos projectos em consulta por outros meios que
no apenas o fsico, nomeadamente online.
16
Disponibilizar a informao atravs de meios alternativos, adequados natureza do
projecto, de modo a facilitar o seu estudo e compreenso. Por exemplo, no caso de
projectos de mbito territorial, produzir representaes grficas (3D) dos mesmos,
que permitam ter uma noo mais exacta das suas caractersticas.
Implementar um meio informtico gil para a submisso das propostas dos cidados,
assim como da sua consulta. Sugere-se aqui um meio que v para alm do mero e-
mail, uma plataforma informtica onde, no s seja possvel submeter propostas,
como facilite a construo da documentao dessas propostas no formato legal
adequado e que permita a qualquer pessoa consultar todas as sugestes formuladas
pelos seus concidados.
Produzir informao de feedback populao e uma comunicao peridica, durante
a durao da consulta pblica, sobre o andamento da mesma.
Criar campanhas de consciencializao para a participao junto da populao.
Implementar formao para os funcionrios do municpio sobre o presente projecto
de modernizao administrativa e as alteraes internas e externas que ele
produzir.
Proceder aos necessrios ajustes ao nvel da organizao interna para a correcta
adaptao nova realidade.
Ainda assim, e porque a implementao deste projecto deve obedecer a um processo
estruturado e bem delineado sugerindo-se a adopo da metodologia de engenharia de e-
governance defendida por Saxena seria crucial passar por todas as fases, comeando
pelo planeamento, onde se deveria primeiro identificar os stakeholders (em que os cidados
enquanto indivduos se assumem como os principais), discutindo com eles as necessidades
de melhoria e definindo com eles a prpria gnese do projecto. Com isto quer-se dizer que
as prprias facetas do projecto atrs sugeridas poderiam sofrer alteraes, se a isso
corresponder a necessidade e vontade da populao. S depois disso se poderia passar
definio do projecto, sua implementao e subsequente avaliao.
A implementao de um projecto nestes moldes poderia trazer benefcios ao nvel da
participao pblica e da cidadania e embora tal no seja garantido, certo que
possibilitaria uma melhor compreenso, por parte dos cidados, do que definido para o
seu territrio. Alguns dos seus componentes no sero de implementao fcil sobretudo
os que pressupe uma mudana mais profunda , mas h outros relativamente simples de
aplicar e que, s por si, j poderiam constituir uma mais-valia para a democracia no
municpio.
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Concluses
A Administrao Pblica de hoje quer-se moderna e preparada para os desafios que lhe vo
surgindo. Nesta era do conhecimento, tambm as autarquias tm de ser suficientemente
flexveis e ter ao seu alcance ferramentas que lhes permitam moldar-se s transformaes
que as afectam. De igual modo, h uma presso externa para a adopo de modelos de
governao mais centrados nos cidados.
No contexto de uma desejada modernizao administrativa, com maior participao dos
cidados, e numa conjuntura de crescente importncia das tecnologias de informao, h
dois conceitos que emergem com destaque nas polticas pblicas dos diversos pases: o de
e-governance (ou e-governana) e o de participao pblica, ou seja, a utilizao dos meios
tecnolgicos desta gerao na governao e o envolvimento dos cidados na tomada de
decises.
Embora a e-governana se tenha desenvolvido muito em Portugal, nota-se uma grande
dificuldade no domnio da participao pblica, algo que tem vrias explicaes.
O projecto de modernizao administrativa sugerido neste trabalho tem por fim fomentar a
participao pblica e valoriz-la, enquanto simultaneamente se modernizam os processos
administrativos autrquicos. Surge da observao de uma necessidade ao nvel dos
processos de consulta pblica e apresenta-se como uma possvel soluo que em todo o
caso teria de passar pela anlise e discusso com os agentes principais dessa mesma
modernizao os cidados.
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