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JORNAL DO AGOSTO 2004 ANO XIX Nº 631 SEG 23 TER 24 QUA 25 QUI 26 SEX 27 SÁB 28 DOM 29 sintufrj.org.br [email protected] Preconceito em alta Congregação da Medicina diz não às cotas e revela resistência à democratização do acesso à universidade. Essa decisão foi aprova- da pela Congregação da Faculdade em sua reunião. Estudantes do Centro Acadêmico avalizaram a posição. Página 8 STF aprova taxação dos aposentados O Supremo Tribunal Fede- ral aprovou o confisco dos aposentados instituído pela reforma da Previdência do Governo. Veja os ministros que votaram a favor da taxa- ção: Joaquim Barbosa Cezar Peluso Eros Grau Gilmar Mendes Carlos Velloso Sepúlveda Pertence Nelson Jobim Na página 3, veja como fica a situação dos aposen- tados na UFRJ. Incêndio no Instituto de Química Reação de produtos quí- micos armazenados no insti- tuto pode ter provocado sinis- tro. Doze pessoas foram in- ternadas. Página 6 O governo apresentou na sexta-feira sua proposta definitiva. O Comando Nacional de Greve identificou “avanços significativos” na minuta de projeto de lei, embora o texto não traga todos os elementos que compõe uma carreira, conforme entende o movimento. Na proposta, o step foi fixado em 3%, mas a complementação por Vencimento Básico (VB) incidirá sobre todas as rubricas constantes no contracheque. Publicamos a avaliação do Comando sobre o projeto de lei e, num encarte especial, a análise técnica do GT Carreira da Fasubra e a tabela salarial. A íntegra do projeto de lei com o seus anexos e a tabela estarão na nossa página na internet. Pressão na UFRJ Enquanto o CNG se reunia com o governo para negociar, na UFRJ a pressão aumentava. Após o ato realizado no pilotis do HU, na sexta, dia 20 de agosto, a categoria foi à Reitoria exigir do reitor um posicionamento sobre o movimento. “O atendimento desta reivindicação é crucial para o restabelecimento da normalidade institucional nas IFES”, diz trecho da carta de apoio ao movimento, enviada pelo Reitor aos ministérios da Educação, Planejamento e Casa Civil. Proposta (final) na mesa Assembléia nesta terça, dia 24, às 10h, no Quinhentão MOBILIZAÇÃO. Massa de trabalhadores das universidades federais diante do prédio do Ministério do Planejamento Foto: Edson Vargas

Proposta (final) na mesa · 2019. 7. 21. · num encarte especial, a análise técnica do GT Carreira da Fasubra e a tabela salarial. ... Cidade Universitária - Ilha do Fundão -

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JORNAL DO

AGOSTO 2004 ANO XIX Nº 631 SEG 23 TER 24 QUA 25 QUI 26 SEX 27 SÁB 28 DOM 29 sintufrj.org.br [email protected]

Preconceito em altaCongregação da Medicina diz não às cotas e revela resistência à

democratização do acesso à universidade. Essa decisão foi aprova-da pela Congregação da Faculdade em sua reunião. Estudantes doCentro Acadêmico avalizaram a posição. Página 8

STF aprovataxação dosaposentados

O Supremo Tribunal Fede-ral aprovou o confisco dosaposentados instituído pelareforma da Previdência doGoverno. Veja os ministrosque votaram a favor da taxa-ção:

Joaquim Barbosa Cezar Peluso Eros Grau Gilmar Mendes Carlos Velloso Sepúlveda Pertence Nelson Jobim

Na página 3, veja comofica a situação dos aposen-tados na UFRJ.

Incêndio noInstituto de

QuímicaReação de produtos quí-

micos armazenados no insti-tuto pode ter provocado sinis-tro. Doze pessoas foram in-ternadas. Página 6

O governo apresentou na sexta-feira sua proposta definitiva. O Comando Nacional de Greve identificou “avançossignificativos” na minuta de projeto de lei, embora o texto não traga todos os elementos que compõe uma carreira,conforme entende o movimento. Na proposta, o step foi fixado em 3%, mas a complementação por Vencimento Básico (VB)incidirá sobre todas as rubricas constantes no contracheque. Publicamos a avaliação do Comando sobre o projeto de lei e,num encarte especial, a análise técnica do GT Carreira da Fasubra e a tabela salarial. A íntegra do projeto de lei com o seusanexos e a tabela estarão na nossa página na internet.

Pressão na UFRJEnquanto o CNG se reunia com o governo para negociar, na UFRJ a pressão aumentava. Após o ato realizado no pilotis

do HU, na sexta, dia 20 de agosto, a categoria foi à Reitoria exigir do reitor um posicionamento sobre o movimento. “Oatendimento desta reivindicação é crucial para o restabelecimento da normalidade institucional nas IFES”, diz trecho dacarta de apoio ao movimento, enviada pelo Reitor aos ministérios da Educação, Planejamento e Casa Civil.

Proposta (final)na mesaAssembléia nesta terça, dia 24, às 10h, no Quinhentão

MOBILIZAÇÃO. Massa de trabalhadores das universidades federais diante do prédio do Ministério do Planejamento

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JORNAL DO SINDICATODOS TRABALHADORESEM EDUCAÇÃO DA UFRJ

Coordenação de Comunicação Sindical: Antonio Gutemberg Alves do Traco, Neuza Luzia e Gerusa Rodrigues / Edição: L.C. Maranhão / Reportagem: Ana deAngelis e Lili Amaral. Estagiária: Leticia Baumann e Elisa Monteiro / Projeto Gráfico: Luís Fernando Couto / Diagramação: Luís Fernando Couto e Caio Souto /Ilustração: André Amaral / Fotografia: Niko/ Revisão: Roberto Azul / Assistente de produção: Jamil Malafaia / Secretária: Kátia Barbieri/ Tiragem: 11 mil exemplares/ As matérias não assinadas deste jornal são de responsabilidade da Coordenação de Comunicação Sindical / Correspondência: aos cuidados da Coordenaçãode Comunicação. Fax: 21 2260-9343. Tels: 2560-8615/2590-7209 ramais 214 e 215.

Cidade Universitária - Ilha do Fundão - Rio de Janeiro - RJCx Postal 68030 - Cep 21944-970 - CGC:42126300/0001-61

Doispontos

Mais uma vez o governo não cumpresua palavra e rompe um acordo com ostrabalhadores. Dessa vez foi com o Sindi-cato Nacional dos Docentes das Institui-ções de Ensino Superior (Andes-SN). O go-verno decidiu parar as negociações com osdocentes e implementar unilateralmente,por meio de Medida Provisória, sua pro-posta de reajuste.

A proposta do governo foi rejeitada nasassembléias dos professores por manter adiferença entre ativos, aposentados e pen-sionistas, uma vez que mantém a gratifica-

O Sindicato reafirma a necessidade de os beneficiados pela ação do FGTS– que já tiveram suas contas liberadas e já sacaram – efetuarem o pagamentodos honorários do advogado. Se esta providência não for adotada, alertamosque os beneficiados estarão sujeitos à cobrança judicial, que implicarárestrições cadastrais (Serasa e SPC).

Conta do advogado:Banco do Brasil – agência 36528 – conta 15580-2

Os servidores que descontam imposto de renda terão umabatimento de R$ 100 de seus salários para efeito de cálculo doimposto a partir da folha de pagamento de agosto. O descontoé apenas para fazer o cálculo, não representando desconto realno salário. A informação é da Pró-Reitoria de Pessoal (PR-4).

Pela tabela de descontos, quem ganha até R$ 1.058 é isentodo pagamento do imposto de renda, quem ganha entre R$1.058,01 e R$ 2.115 desconta 15% e quem ganha acima de R$2.115 desconta 27,5%.

Assim, com o desconto, quem ganha, por exemplo, R$ 2.115e desconta 27,5% de imposto de renda vai passar a descontar15% de imposto, uma vez que com o desconto o servidor vaiestar incluído na categoria anterior.

Segundo o superintendente-geral de Pessoal da PR-4, Ro-berto Gambine, o governo não irá devolver o que foi retiradoanteriormente. O desconto de R$ 100 para o cálculo do descon-to do imposto de renda foi instituído pela Medida Provisórianº 202, publicada no dia 23 de julho.

Imposto de rendação diferenciada dos professores (GED).

Desde o início das negociações com ogoverno a proposta dos docentes era deextinção da GED, incorporação das gratifi-cações, paridade entre ativos e aposenta-dos e isonomia entre os professores de 1º,2º e 3º graus.

Com essa atitude o governo está ten-tando dividir a categoria e enfraquecer agreve. Porém, a Andes decidiu fortalecer aluta e continuar em greve. Até agora osprofessores de 15 universidades aderiramà greve.

A LUTA DOS BANCÁRIOS

Na última quinta-feira, 19, os bancários fizeram para-lisação e fecharam 80 agências do centro da cidade. Osbancários querem um reajuste de 25%, uma vez que osbancos lucraram apenas este ano 22% mais que o anopassado. Porém, a Federação Brasileira dos Bancos estáoferecendo apenas 6% de reajuste. Os bancários prome-tem parar por tempo indeterminado se as negociaçõesnão avançarem.

AVISO IMPORTANTE

Andes mantém greve

G I R O - G I R O - G I R O - G I R O - G I R O - G I R O - G I R O - G I R O

Golpe no imperialismoO presidente do Banco Central, Henrique Meirelles,

ganhou status de ministro, segundo determinação demedida provisória baixada pelo governo Lula. Comisso, Meirelles ganha foro privilegiado para respondera acusações de fraudes contra a Receita Federal e aJustiça Eleitoral: processos contra ele terão de serencaminhados, a partir de agora, ao Supremo TribunalFederal, como acontece com os deputados, senado-res, presidente da República e todos os ministros deEstado. A medida é um verdadeiro acinte, com ogoverno rompendo todas as barreiras éticas para pro-

teger um dos seus homensde confiança. Meirelles –

acusado dedois crimes –é banqueiroe quadro ta-lhado para

manter a políticade juros que faz a festade seus pares. En-quanto isso, a maioriada população...

O movimento – estimu-lado pelos Estados Unidos– organizado para deses-tabilizar o governo do pre-sidente da Venezuela,Hugo Chávez, foi frustra-do nas urnas: quase 60%de venezuelanos votarama favor da manutenção deChávez no poder até 2007,num referendo nacionalque mobilizou o país deponta a ponta. A posiçãosoberana de Hugo Chávezdiante do imperialismoamericano nunca foi engo-lida por Washington – es-pecialmente pelo governo George Bush. Isto incomoda o imperialismo pela posição daVenezuela como um dos maiores produtores mundiais de petróleo – responsável pelo abas-tecimento de 20% do petróleo consumido pelos Estados Unidos. A conspiração fracassou e oprojeto de construção de uma Venezuela independente se fortaleceu.

VITÓRIA. Referendo reafirmou liderança Chávez, que quertransformar a Venezuela num país soberano com apoio do povo

Foto: ABr

Governo quer impunidade

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BRASIL

O governo conseguiu oque queria: na quarta-feira dasemana passada, depois deuma sessão que durou maisde sete horas, o Supremo Tri-bunal Federal (STF) conside-rou constitucional o confiscodos servidores públicos apo-sentados criado pela Emen-da Constitucional que insti-tuiu a reforma da Previdên-cia. Trata-se da consolidaçãode mais um passo do gover-no Lula na direção contráriaaos interesses dos trabalha-dores. A lógica da reforma daPrevidência é a de reduzir opapel do Estado nas suasações de responsabilidadesocial, fazer caixa para pagarjuros astronômicos para osbanqueiros e implantar a pre-vidência privada, abrindo omercado para a ambição degrandes grupos privados in-teressados em vender previ-dência.

O Supremo é a instânciamáxima do Judiciário e so-bre a sua decisão não caberecurso. Os aposentados epensionistas da UFRJ esta-vam livres do imposto desdemaio, quando ele começou aser cobrado, por força deuma liminar e depois de sen-tença judicial favorável. Coma decisão do STF, esta sen-tença cai por terra. O Supre-mo, porém, ampliou a faixade isenção. Agora a cobrançade 11% só incidirá sobre asparcelas dos benefí-cios que excederem ovalor de R$ 2.508,72 –teto do regime geral daPrevidência. PelaEmenda que instituiua reforma, a contribui-ção de 11% era aplica-da sobre a parcela queexcedesse R$ 1.505,23(no caso de servidoresdo governo federal,como são os aposen-tados da universidade)e R$ 1.254,23 (no casode funcionários dosestados e municípios).

O QUE MUDA PARA OSAPOSENTADOS DA UFRJ – Apergunta, agora, é se os apo-

Supremo aprova

confiscoTribunalatende o

governo emantém

taxação dosaposentados

Entenda o CASOA assessoria do SINDICATO entrou com mandado de segurança

em abril contra a taxação dos aposentados e pensionistas da UFRJaprovada pela reforma da Previdência. Antes do início da cobrança dacontribuição em maio, a Justiça concedeu liminar ao mandado. Em 12de julho, o juiz da 27ª Vara Federal, Washington Juarez de Brito Filho,considerou procedente o mandado de segurança e proferiu sentençadeterminando a isenção da taxação. Agora, com a decisão do STF,instância máxima, a sentença será reformada.

GOVERNO PRESSIONOU – O pronunciamento do Supremo foiprovocado por uma ação de inconstitucionalidade movida pelo Mi-nistério Público. A ação defendia a tese segundo a qual a taxação erainconstituciona porque feria direitos adquiridos. O julgamento do

STF começou em maio, com o governo perdendo de 2 a 1 na votação. Diante disso o Palácio do Planalto pressionou e acontinuidade do julgamento foi transferida para maio. O governo ganhou tempo, pressionou os ministros e ganhou aparada.

sentados e pensionistas dauniversidade que ganham apartir de R$ 2.508,72, o novoteto da isenção, terão de pa-gar, através de descontos re-troativos nos seus salários, oque deixaram de contribuirdesde maio, quando o im-posto começou a vigorar. Oassessor jurídico do Sindica-to, André Viz, diz que essa éuma questão com a qual elevai se deparar nas próximassemanas: “Ainda estou to-mando conhecimento de for-

ma mais profunda do pro-nunciamento do STF para sa-ber os caminhos que vou se-guir.” Ele entende que o as-sunto vai gerar polêmica. Oadvogado explica que a deci-são do Supremo, para vigo-rar, vai depender da publica-ção do acórdão ( a decisão|)no Diário Oficial, o que deveocorrer dentro dos próximosdias. “Um acórdão pode le-var até 30 dias para ser publi-cado, mas como se trata deuma matéria de interesse do

governo, esse prazo pode serreduzido.” Ele disse tambémque os tribunais de instânci-as superiores, com sentençasque livravam os aposentadosda taxação, também de-vem ser oficiados (in-formado oficialmen-te) da decisão doSTF.

LULA, satisfeito com a decisão do Supremo,que pune os aposentados

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Reação deprodutosquímicos

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sinistro

Reação deprodutosquímicos

armazenadosno instituto

pode terprovocado

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FUNDÃO

Explosão provocaincêndio noInstituto de Química

homens do Grupo de Opera-ções com Produtos Perigosos,do 19º Grupamento de Bom-beiros, da Ilha do Governa-dor. Juntos com a Defesa Ci-vil, monitoraram o local atésexta-feira. A universidadecontratou uma empresa es-pecializada para retirar osprodutos químicos das gela-deiras que incendiaram e fa-zer a limpeza do prédio. A as-sessoria de comunicação daUFRJ divulgou nota infor-mando que as causas do aci-dente estão sendo apuradasem sindicância, que tambémapontará medidas preventi-vas a serem implementadaspara melhorar as condiçõesde segurança pessoal e ma-terial.

Substâncias ameaçamSegundo a diretora da DVST, Vânia Glória, o perigo é

constante naquele local, pelo número de substâncias ar-mazenadas nos entrepisos e também porque ninguém temidéia dos reagentes a que estão expostos. “Até o pessoal doInstituto de Química não sabe o que o outro está manipu-lando na sala ao lado. A questão é muito séria no bloco Ado CT exatamente pela concentração de laboratórios.”

Vânia espera que este acidente se “desdobre em algu-ma coisa que melhore as condições de trabalho na UFRJ” edefendeu a implantação do projeto Sábios, elaborado emparceria com a Escola Politécnica. O Sábios, explicou, con-siste no mapeamento das áreas de risco, na criação derotinas visando ao descarte de produtos químicos dos la-boratórios e à implantação de procedimentos de seguran-ça para os locais. Também inclui a elaboração de um ma-nual para usuários. Para sua viabilização, falta a FundaçãoJosé Bonifácio liberar verba. Vânia entende que o projetodeve ser implantado pelo CCS, por concentrar maior nú-meros de laboratórios na universidade.

PERIGO CONSTANTE - Obloco A do Centro Tecnoló-gico é considerado pela Divi-são de Saúde do Trabalha-dor (DVST) como um paiolde pólvora, sempre na imi-nência de explodir a qual-quer momento. Do terceiroao sexto andar do prédio fun-ciona o Instituto de Químicaque, pelas atividades que de-senvolve, armazena grandequantidade de diferentes sol-ventes e reagentes tóxicos, ci-lindros com produtos explo-sivos tais como hidrogênio,oxigênio e nitrogênio. Os de-mais andares são ocupadospelo Instituto de Física e peladecania do CT. No térreo fi-cam a agência do Banco doBrasil e livrarias.

SOCORRO. O Grupo de Operações com Produtos Perigosos, do 19º Grupamento de Bombeiros, no prédio do CT

Continua na página 11

Doze pessoas internadas,aulas e pesquisas suspensase interdição total do bloco Ado Centro Tecnológico. Eis osaldo da explosão de duasgeladeiras no sexto andar doInstituto de Química, na ter-ça-feira, dia 17. Nos freezer es-tavam armazenados solven-tes e reagentes tóxicos que,em dez minutos, formaramuma fumaça que se espalhoupelo ambiente. Os bombei-ros ainda não divulgaram ascausas exatas do sinistro, masa sub-diretora do instituto,Cássia Turci, admitiu que oacidente pode ter sido causa-do por uma reação de um dosprodutos químicos. A partirdesta segunda-feira, 23, as ati-vidades no prédio serão re-tomadas.

O acidente ocorreu porvolta das 11h da terça-feira,dia 17, e começou com umincêndio em uma das gela-deiras-freezer que logo se es-tendeu à outra, que estava aolado. Cerca de 300 pessoas,entre alunos, professores,pesquisadores e técnicos-ad-ministrativos, se encontra-vam no local. As doze pesso-as levadas ao HU foram libe-radas depois de realizaremexame de sangue e recebe-rem oxigênio. Duas pessoasficaram sob observação por24 horas no hospital: o dire-tor do Instituto de Química,Ângelo da Cunha Pinto e umpesquisador. Os dois foramos mais expostos à fumaçatóxica, porque tentaram con-ter o fogo, utilizando areia.

BOMBEIROS E DEFESACIVIL SOCORRERAM - O pri-meiro socorro a chegar aoInstituto de Química foi a Bri-gada de Incêndio da UFRJsediada no Centro de Ciên-cias da Saúde(CCS). Logo emseguida entraram em ação

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O texto vinculado na rededa UFRJ — que o diretor cha-mou de manifesto —, avalian-do as atuais condições do Ins-tituto de Neurologia e suge-rindo mudanças, é assinadopor oito professores, da Facul-dade de Medicina e dos Insti-tutos da Biofísica, Ciências Bio-médicas e Bioquímica Médi-ca. Pelas declarações anterio-res da vice-reitora, Sylvia Var-gas, confirmando a criação doInstituto do Cérebro, a inspi-ração do “manifesto” teria sidomesmo baseado no projeto daReitoria de promover a fusãodos Institutos de Neurologia ePsiquiatria e das neurociên-cias básicas.

MÁGOA – Gianni Tempo-ni disse que está magoadocom a atitude da Reitoria. Eledisse que numa reunião queteve com o reitor, Aloísio Tei-xeira não falou do projeto.Aloísio, segundo o diretor,apenas o informou de que irianomear um pro tempo,repara ocupar o seu lugar emsetembro, quando terá dedeixar o cargo por aposenta-ria compulsória e que depoisrealizaria eleição. E a sua res-posta à decisão do reitor foi aseguinte: “Aloísio, a comuni-dade quer eleição, agora.”

Para a vice-reitora SylviaVargas, o que está acontecen-

MUDANÇAS

do é uma sucessão de mal-en-tendidos e que o documentona Internet nada tem de ofi-cial, apenas foram sugestõesque surgiram depois de umaconversa informal a respeitodo projeto do Instituto do Cé-rebro. Mas, visivelmente irri-tado, Gianni Temponi respon-deu à iniciativa dos seus cole-gas de academia: “Até me co-movo com a preocupação de-les e com o manifesto que lan-çaram. Aliás, é um motivo de

alegria saber que eles agoraestão dispostos a fazer mudan-ças no instituto e usando asminhas propostas.” E exibiuuma grossa brochura com otítulo “Programa de Reestru-turação do Instituto de Neuro-logia Deolindo Couto”, data-da de 1996. “Só lamento quenão estarei aqui para viver asmelhorias”, ironizou, acres-centando em seguida: “As no-vas gerações irão usufruir de-las.”

Ansiedade no Institutode Neurologia

Diretor diz que anúncio de mudanças na unidade criou clima de insegurança entre funcionários

Há dez anos no co-mando do Instituto deNeurologia, o diretorGianni Temponi afir-mou que a “comuni-dade do instituto estáferida”. Segundo ele,há um clima de inse-gurança instaladoentre os 250 funcio-nários (médicos e téc-nicos-administrati-vos) causado, numprimeiro momento,pelo “manifesto” quecirculou na Internetcom sugestões parareestruturação daunidade. Os boatos deque a Neurologia iriafechar foram reforça-dos pelas informaçõesque foram chegandopor lá, também porterceiros, de que a Rei-toria pretendia criaro Instituto do Cérebro.

“Sem motivospara

mudanças” Para o diretor, não há

nenhum fato novo quejustifique a Reitoria que-rer promover mudançasno Instituto de Neurologia.“Não devemos dinheiro aninguém, o prédio não estácaindo e não está havendomortalidade de pacientes”,afirmou. “O que se supõe”,arriscou, “é que a área bá-sica quer vir para cá.” So-bre o instituto ter perdidoo auxílio do Fundo de In-centivo para o Desenvol-vimento do Ensino e Pes-quisa (Fidep), Temponiexplicou que o responsá-vel por isso foi o secretáriomunicipal de Saúde doRio, Ronaldo César Coe-lho, sob a alegação de quehavia poucos doentes naenfermaria, nada tendo aver com a falta de pesqui-sa.

Segundo Temponi, em-bora o instituto tenha ca-pacidade para internaçãode 69 pacientes, é obriga-do pelo SUS (Sistema Úni-co de Saúde) a internarapenas 45. Ele informouque a verba do Fidep erade R$ 20 mil, dinheiro queseria utilizado para pagara manutenção do tomó-grafo e dos elevadores.

Continuação...

Incêndio expõe riscosA construção de uma casamata —

que seria um prédio blindado comtoda a segurança necessária para guar-dar componentes químicos e biológi-cos utilizados pelas diversas unida-des da UFRJ — foi uma providênciacobrada por todos os envolvidos noacidente. A subdiretora do Instituto deQuímica, Cássia Turci, que estava naunidade quando o fogo começou eviu o risco a que foram expostos todosos que lá estavam, afirmou: “Mais umavez escapamos de uma tragédia, masa UFRJ tem que pensar seriamente emviabilizar o projeto da casamata quejá existe.”

O comandante do 19º Grupamen-to de Bombeiros Militar, coronel Sil-veira Martins, considerou como mui-to grave o ocorrido “porque ninguém

sabe o tipo de contaminação a que aspessoas foram expostas, com riscosde os produtos serem cancerígenos.Além disso, houve o perigo de explo-são”. Martins acha que está na hora dea UFRJ ter o seu quartel de Corpo deBombeiros. Uma área de 5 mil m2 jáfoi reservada pela universidade paraa construção, ao lado da empresa BioRio, no Fundão, onde está instalado o3º Posto Avançado do Corpo de Bom-beiros, equipado com uma ambulân-cia, mas que atende emergências notrânsito. COMANDANTE SILVEIRA MARTINS. "Foi muito grave o acidente ocorrido"

QUEIXAS. Gianni Temponi se disse magoado com o reitor

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ÚLTIMAPÁGINA

Na contramão do apro-fundamento da democraciano país, a Faculdade de Me-dicina da UFRJ é contra a po-lítica de cotas. Essa decisãofoi tirada pela Congregaçãoda Faculdade durante reu-nião do colegiado no dia 20julho. Os 32 membros pre-sentes foram unânimes nadecisão contrária a qualquertipo de reserva de vagas. Paraos integrantes da Congrega-ção as cotas iriam prejudicara qualidade do ensino da Fa-culdade. A Faculdade de Me-dicina é dirigida por Almir Va-ladares.

Em julho, o Conselho deEnsino e Graduação (CEG)debateu o estudo “Democra-tização de Acesso ao EnsinoSuperior” elaborado peloprofessor Maurício Luz, sob achancela da Reitoria. O traba-lho concluía pela proposta dese destinar 20% das vagas dovestibular deste ano para alu-nos que estudaram em esco-las públicas. Mas os conse-lheiros entenderam que otempo seria muito curto paramodificação de tamanha di-mensão ainda no vestibulardeste ano. A decisão da Con-gregação da Faculdade deMedicina não influencia naposição final da Reitoria so-bre as cotas, mas reflete a re-sistência de certos cursos con-siderados de elite a medidasque apontem para a demo-cratização do acesso à univer-sidade.

ExclusãoDe acordo com integran-

tes do Centro Acadêmico(CA) da Faculdade de Medi-cina, a posição do represen-tante discente na Congrega-ção está de acordo com opensamento dos alunos dafaculdade. Segundo o inte-grante do CA, Onofre de Oli-veira, esse posicionamentofoi tirado nas reuniões doCentro Acadêmico. As reu-niões do CA, segundo ele, sãoabertas à participação de to-dos os estudantes.

Preconceito em alta Medicina diz não às cotas e revela resistência à democratização do acesso à universidade

Maurício Luz é professor do Colégio deAplicação da UFRJ e desde o ano passadoestá trabalhando em cenários que seriamresultado da implantação de cotas. Paraisso se baseou na simulação de diferentestipos de reservas de vagas para alunos darede pública de educação, em cima dedados obtidos no questionário sociocultu-ral e no Instituto Nacional de Estudos ePesquisas Educacionais Anísio Teixeira(Inep), uma autarquia federal vinculada aoMinistério da Educação (MEC).

As investigações de Maurício Luz che-garam a conclusões bastante revelado-ras. A primeira delas é que a reserva de20% das vagas para os estudantes oriun-dos do ensino médio da rede pública teriacomo resultado uma diferença muito pe-quena em termos de nota e bastantesignificativa em termos de inclusão dealunos de baixa renda, principalmente

• “As cotas não iriam re-solver em Medicina, poisé uma faculdade muitocara e que exige muitoconhecimento. Acho quepara cursos como Histó-ria as cotas são válidas,mas para cursos comoMedicina, que precisamde mais conhecimento,não.” (Bruno Ferraz, alu-no do 7º período de Me-dicina)• “Nada de cotas, pois ocurso é bem difícil deacompanhar e quementra por cotas não tema mesma base de co-nhecimento de quementra por nota. Um alu-no que entre por cotasnão vai ter base. De 100alunos acho que 70%não conseguiriam acom-panhar o nível ”, afirmouo aluno Thiago AmaralLourenço, que cursa o1º período de Medicina.• “Sou contra as cotas. Oproblema é de base.Deveria ser feito investi-mento no ensino médiopara que todos pudes-sem competir igualmen-te. Se houver cotas, ouos alunos se sentirãoperdidos ou a faculdadeterá que baixar o nível.”(Glaycielli Pereira dosSantos, do 5º períodode Medicina)

A voz dopreconceito

nas carreiras em que a relação candida-to-vaga é mais alta.

Vestibular X CRSegundo Maurício, a alta nota no ves-

tibular não é garantia de bom desempe-nho. Pelo menos foi o que mostrou oexame do semestre inicial de 10 cursosda UFRJ, medicina, fonoaudiologia, odon-tologia, enfermagem e mais seis de enge-nharia.

Ao contrário do que poderia se espe-rar, apenas a metade dos alunos quereceberam as maiores notas no vestibu-lar conseguiu um coeficiente de rendi-mento (CR) alto ao final do primeiro se-mestre letivo. “O resultado dessa obser-vação é que esses dois fatores, nota dovestibular e CR, não estão diretamenterelacionados. O resultado foi meio a meio”,explica o professor.

Inclusão com desempenho à altura

Foto: Niko Júnior

HU. Construído e mantido com dinheiro do povo, o hospital forma estudantes de medicina

É bem verdade que o exercício da democracia permite divergências, mas a decisão daCongregação da Faculdade de Medicina traz à tona de forma nítida como a elite brasileirapensa a questão racial no Brasil e qual o lugar destinado aos afro-descendentes, diz acoordenadora-geral do Sindicato, Denise Góes, militante do Movimento Negro Unificado edefensora de cotas raciais para acesso às universidades.

As opiniões para fundamentar a decisão são todas extremamente preconceituosas,porém veladas pelo racismo estrutural da sociedade brasileira. No momento que o paísdiscute seriamente políticas de ações afirmativas, onde estão sendo pensadas formas deinclusão, a Congregação sai na contramão e mostra sua verdadeira face excludente.

Ajudaria na fundamentação se esta mesma Congregação tivesse aberto um espaçopara debater a questão e analisar historicamente o que representa um conjunto demedidas de ações afirmativas, e não partir do pressuposto da meritocracia para justificarseu pensamento segregacionista.

"Pensamento segregacionista"