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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 PROPOSTA METODOLÓGICA PARA QUANTIFICAR A EXCLUSÃO SOCIAL NO MEIO RURAL [email protected] Apresentação Oral-Políticas Sociais para o Campo FABRÍCIA GLADYS FERNANDES DA SILVA 1 ; SIBELE MARIA AMOLARO DIAS 2 ; LEANDRO SAUER 3 ; SILVIO SILVESTRE BARCZSZ 4 . 1,2,4.UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL; 3.ASSOCIAÇÃO VILHENENSE DE EDUCAÇÃO E CULTURA, VILHENA - RO - BRASIL. Proposta metodológica para quantificar a exclusão social no meio rural Grupo de Pesquisa: Políticas Sociais para o campo Resumo O conhecimento dos fatores que interferem na elevação ou na redução da exclusão social mostra-se importante pelas consequências socioeconômicas que afetam as populações. O presente trabalho pretende contribuir com a elaboração de uma proposta de um modelo para posteriormente ser testados na construção de indicadores da exclusão social no meio rural. Foram levantadas duas metodologias de base para construir o modelo, sendo Mapa da Exclusão/Inclusão Social de São Paulo, produzido pelo Núcleo de Seguridade e Assistência Social da PUC/SP (SPOSATI, 1996) e a metodologia do Índice de Exclusão Social (IES), criada por Lemos (2002), dada relevância de ambos os trabalhos, justificou- se um novo estudo, que se deu mediante proposta do modelo explicativo que poderá servir como instrumentos norteadores da adoção de políticas públicas voltadas para as questões relacionadas à exclusão social no meio rural, uma vez que esse fenômeno é considerado, até o momento, como somente urbano, ou restringido aos problemas de assentamentos rurais. Utilizou-se como critério para a construção do modelo os preceitos de Amartya Sen (2000), economista laureado com o Prêmio Nobel, em 1998. No entanto, o modelo deste estudo serve apenas como referencial e não como um modelo acabado para ser aplicado em todos os Estados, pois apresenta ainda suas lacunas, como a construção de cada indicador, que será proposto com a continuidade deste trabalho. Palavras-chaves: Exclusão Social, Pobreza, Índice de Exclusão Social. Abstract Knowledge of factors involved in raising or reducing the social exclusion it is important for the socioeconomic consequences that affect people. This work aims to contribute to the development of a proposal for a model to be tested later in the construction of indicators of social exclusion in rural areas. We raised two methodologies as a basis for building the model, and map of Exclusion / Social Inclusion of São Paulo, produced by the Center for Security and Social Welfare of PUC / SP (SPOSATI, 1996) and the methodology of the Index of Social Exclusion (IES), created by Lemos (2002), given the relevance of both works, justify a new study, which was proposed by the explanatory model that can serve as

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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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PROPOSTA METODOLÓGICA PARA QUANTIFICAR A EXCLUSÃO SOCIAL NO MEIO RURAL [email protected]

Apresentação Oral-Políticas Sociais para o Campo

FABRÍCIA GLADYS FERNANDES DA SILVA1; SIBELE MARIA AMOLARO DIAS2; LEANDRO SAUER3; SILVIO SILVESTRE BARCZSZ4.

1,2,4.UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL; 3.ASSOCIAÇÃO VILHENENSE DE EDUCAÇÃO E

CULTURA, VILHENA - RO - BRASIL.

Proposta metodológica para quantificar a exclusão social no meio rural

Grupo de Pesquisa: Políticas Sociais para o campo

Resumo O conhecimento dos fatores que interferem na elevação ou na redução da exclusão social mostra-se importante pelas consequências socioeconômicas que afetam as populações. O presente trabalho pretende contribuir com a elaboração de uma proposta de um modelo para posteriormente ser testados na construção de indicadores da exclusão social no meio rural. Foram levantadas duas metodologias de base para construir o modelo, sendo Mapa da Exclusão/Inclusão Social de São Paulo, produzido pelo Núcleo de Seguridade e Assistência Social da PUC/SP (SPOSATI, 1996) e a metodologia do Índice de Exclusão Social (IES), criada por Lemos (2002), dada relevância de ambos os trabalhos, justificou-se um novo estudo, que se deu mediante proposta do modelo explicativo que poderá servir como instrumentos norteadores da adoção de políticas públicas voltadas para as questões relacionadas à exclusão social no meio rural, uma vez que esse fenômeno é considerado, até o momento, como somente urbano, ou restringido aos problemas de assentamentos rurais. Utilizou-se como critério para a construção do modelo os preceitos de Amartya Sen (2000), economista laureado com o Prêmio Nobel, em 1998. No entanto, o modelo deste estudo serve apenas como referencial e não como um modelo acabado para ser aplicado em todos os Estados, pois apresenta ainda suas lacunas, como a construção de cada indicador, que será proposto com a continuidade deste trabalho. Palavras-chaves: Exclusão Social, Pobreza, Índice de Exclusão Social. Abstract Knowledge of factors involved in raising or reducing the social exclusion it is important for the socioeconomic consequences that affect people. This work aims to contribute to the development of a proposal for a model to be tested later in the construction of indicators of social exclusion in rural areas. We raised two methodologies as a basis for building the model, and map of Exclusion / Social Inclusion of São Paulo, produced by the Center for Security and Social Welfare of PUC / SP (SPOSATI, 1996) and the methodology of the Index of Social Exclusion (IES), created by Lemos (2002), given the relevance of both works, justify a new study, which was proposed by the explanatory model that can serve as

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instruments guiding the adoption of public policies for issues related to social exclusion in the rural, as this phenomenon is considered to date, just as urban, or restricted to the problems of rural settlements. It was used as a criterion for building the model to the precepts of Amartya Sen (2000), an economist with the Nobel Prize laureate in 1998. However, the model of this study only serves as reference and not as a finished model to be applied in all states, because still has its shortcomings, such as the construction of each indicator, which is proposed to continue this work. Key Words: Social Exclusion, Poverty, Index of social exclusion. 1 Introdução

Diante de uma economia cada vez mais vulnerável às transformações, utilização de tecnologia avançada, desenvolvimento de novos campos de estudo, entre outros aspectos da vida moderna, o ser humano teve necessidade de se desenvolver, também, como forma de se adaptar às novas condições de vida. Sendo que esse desenvolvimento diz respeito, sobretudo, às questões sociais, ou seja, à vida do indivíduo na sociedade.

De acordo com as mudanças econômicas, políticas e sociais que os países enfrentam constantemente, os indivíduos acabam por terem seus direitos sociais comprometidos e se veem obrigados a lutar mais para que possam usufruir deles. É o caso do mercado de trabalho, que se torna mais exigente e acaba por excluir aqueles que não estão aptos a desempenhar funções complexas que exigem alto grau de desenvolvimento intelectual. Além disso, muitas pessoas são submetidas ao trabalho árduo em troca de baixos salários, por não terem uma formação escolar, e que, muitas vezes, não atendem nem às necessidades básicas.

Os aspectos mais relevantes no meio social se referem às condições a que as pessoas são submetidas e às suas necessidades básicas: alimentação, moradia, educação, emprego, saúde, vestuário, entre outras, que são traduzidas nas liberdades individuais.

O fato de deixar de fora indivíduos que poderiam ocupar um cargo, ter um lugar onde morar, poder se alimentar, frequentar um local ou adquirir conhecimento, entre outros encontrados na literatura, constitui o fenômeno chamado de exclusão social, que é o estado de privação de determinado direito ou a falta de acesso às condições normais de sobrevivência.

Nesse sentido, Amartya Sen (2000), economista laureado com o Prêmio Nobel, em 1998, traz uma contribuição à temática da pobreza com sua obra o Desenvolvimento como Liberdade, quando trata da ausência de liberdade para realizar coisas valiosas para as pessoas, os chamados funcionamentos. Sen apontou o caminho para explicar o paradoxo da pobreza e exclusão social, adaptando, nesse trabalho, o meio rural para construção da proposta metodológica. Para Sen, o papel instrumental da liberdade

[...] concerne ao modo como diferentes tipos de direitos, oportunidades e intitulamentos [entitlements] contribuem para expansão da liberdade humana em geral e, assim, para a promoção do desenvolvimento. A eficácia da liberdade como instrumento reside no fato de que diferentes tipos de liberdade apresentam inter-relação entre si, e um tipo de

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liberdade pode contribuir imensamente para promover liberdades de outros tipos (SEN, 2000, p. 53-54).

Sen (2000) identifica cinco tipos distintos de liberdade na perspectiva instrumental, são elas: 1) liberdades políticas, (2) facilidades econômicas, (3) oportunidades sociais, (4) garantias de transparência e (5) segurança protetora. A perspectiva instrumental subsidiou a formulação dos Indicadores de exclusão social do meio rural.

A espacialização constituiu-se, entretanto, um desafio e as dimensões territoriais, para separar o meio rural do meio urbano, são fundamentais, pois cada pessoa tem suas particularidades de acordo com o meio em que vivem, entendendo-se como rural a população e os domicílios recenseados em toda a área situada fora dos limites urbanos, inclusive os aglomerados rurais de extensão urbana, os povoados e os núcleos, conforme definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1996).

Os relatos encontrados na literatura sobre a exclusão social costumam apresentar variáveis que exercem influência sobre ela, porém não são frequentes os estudos que se preocupam com a quantificação dessas variáveis. Dessa forma, surge a problemática deste estudo, visando mostrar como diversas variáveis socioeconômicas podem explicar, mediante modelo, a exclusão social no meio rural. Para a compreensão do fenômeno e fatores diretamente relacionados à exclusão social, é necessário que sejam tomados como base os estudos demográficos que servem como apoio ao desenvolvimento de políticas públicas. No entanto, apesar da relevância do tema, a exclusão social está associada mais comumente aos aspectos da vida urbana, sendo de difícil mensuração sua manifestação no meio rural. Existe, portanto, a necessidade de estudar como ocorre esse fenômeno no âmbito rural e como os indivíduos desse meio enfrentam essa realidade.

É nesse contexto que se insere este trabalho, que procura dar uma contribuição ao conhecimento das questões relacionadas à exclusão social. A partir desses levantamentos chegou-se ao problema de pesquisa que se refere à questão: que elementos são necessários para compor uma metodologia para análise da exclusão no meio rural do Estado de Mato Grosso do Sul? 2.1 Histórico da exclusão social

O fenômeno exclusão social não surgiu nos tempos contemporâneos, sua existência remonta à Antiguidade grega, ocasião em que escravos, mulheres e estrangeiros eram excluídos, uma vez Aristóteles (1997, p. 78) considerava que “um cidadão integral pode ser definido pelo direito de administrar justiça e exercer funções públicas”. Nesse sentido, todos que não fossem considerados cidadãos eram excluídos; todavia, naquela época, o fenômeno era tido como natural. Entretanto, somente a partir da crise econômica mundial, que ocorreu na idade contemporânea, se dá evidência à pobreza, ou seja, a exclusão social toma visibilidade e substância (FISCHER; MARQUES, 2001).

A exclusão social ganha complexidade teórica na medida em que é aprofundada e em que novos elementos e hipóteses vão sendo considerados. O conceito surgiu na França, na década de 1960, e as situações abarcadas pelo termo eram múltiplas e distintas, como: moradores de favelas, trabalhadores sem-terra, desempregados (mesmo que oriundos da classe média), idosos, toxicômanos, mendigos e outros são considerados como excluídos, para interlocutores diferentes (LEAL, 2004). Costa (2001), observa que a exclusão social é um termo recente do discurso político e pertence à perspectiva da tradição francesa na análise de pessoas e grupos desfavorecidos. Portanto, ao trabalhar com a exclusão social, a

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tradição francesa dá ênfase aos aspectos relacionais, que serviu para que, rapidamente, o conceito da exclusão social se espalhasse pelo mundo afora, porém com diferentes propósitos e abordagens. Contudo, sem, ainda, gerar um consenso entre os mais diversos estudiosos do termo.

No primeiro momento, a exclusão social era enfatizada com o termo marginalidade. Assim, a marginalidade é definida em negativo em relação aos valores dominantes, ou seja, como carência em relação à inserção no mercado de trabalho, à proteção social, à habitação, à cidadania etc. (FASSIN, 1996). Kowarick (1977), após analisar as teorias da marginalidade, mostra que a noção diz respeito aos vários fenômenos que significam uma forma de exclusão dos benefícios possíveis nas sociedades urbano-industriais, isto é, baixa qualidade de moradia, habitação, serviços de saúde etc. Para Pereira (1984), a maioria das definições de marginalidade aponta para a falta de integração a alguma dimensão da vida social. Sua opinião é de que a marginalidade é uma forma específica de incorporação social, compreendendo as formas mais precárias de inserção.

Em ambas as formulações, o fator de privação, as inserções precárias no mercado de trabalho e as dimensões sociais são compreendidas a expressar a manifestação do fenômeno da exclusão social. A partir desse momento, surgem os primeiros usos da expressão exclusão social como noção de marginalidade que foram atribuídos, por Nascimento (1994b), a Hélio Jaguaribe (1989), no livro da década de 1980 (Brasil: reforma ou caos). Nesse livro, exclusão social identifica-se com pobreza, com origens nas raízes coloniais da sociedade brasileira e acentuada pela crise econômica do início da década de 80 do século passado.

Entretanto, debate sobre o fenômeno da exclusão social ganhou força no Brasil na década de 1990, tendo suas raízes nas ciências sociais francesas. Porém, outras noções como a de underclass, nos Estados Unidos, tornaram-se sinônimo de pobreza persistente (JENKS, 1992), associando-se à idéia de uma “cultura da pobreza” e marginalidade, na América Latina (LEAL, 2004), e ganhando visibilidade no País. A partir daí, várias correntes emergiram na tentativa de entender suas origens. Nota-se uma preocupação maior no contexto do debate, principalmente a partir dos anos 1990, devido a uma maior instabilidade do trabalho profissional, o que faz com que as pessoas sintam-se cada vez mais inseguras e vulneráveis, com medo de encontrarem-se em situações de desemprego prolongado, o que as colocaria num patamar de exclusão social.

Desse modo, o tema exclusão social ganhou notoriedade na sociedade brasileira, dentro e fora da universidade, sendo contemplado em diversas fontes e eventos: pesquisas científicas, reportagens na grande imprensa, campanha da fraternidade da Igreja Católica, de organizações não-governamentais (ONG’s) voltadas para a área, programas de partidos políticos e de governos entre outros (LEAL, 2004). Destaca-se, no entanto, que as ações e estudos realizados, até então, voltam-se tão somente para a ocorrência do referido fenômeno no meio urbano.

Portanto, em um conceito anterior à globalização, na exclusão social constavam os cidadãos analfabetos, com baixos salários, imigrantes da zona rural para a urbana. Hoje, com a nova realidade da economia globalizada, esse conceito se transforma. Agora, o cidadão excluído é aquele que, anteriormente, estava inserido no mercado de trabalho e usufruindo toda proteção trabalhista. Com esse novo enfoque, o cidadão a ser incluído é aquele que está precariamente inserido no mercado informal, e cuja renda está abaixo do mínimo necessário para se ter uma vida digna (MASCARENHAS, 2006).

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Em trabalho recente, organizado pela Professora Adaíza Sposatti, em que se propõe um modelo para retratar a exclusão social, na cidade de São Paulo, ela argumenta que

[...] a desigualdade social, econômica e política na sociedade brasileira chegou a tal grau que se torna incompatível com a democratização da sociedade. Por decorrência, tem se falado na existência da apartação social. No Brasil a discriminação é econômica, cultural e política, além de étnica. Esse processo deve ser entendido como exclusão, isto é, uma impossibilidade de poder partilhar o que leva à vivência da privação, da recusa, do abandono e exclusão inclusive, com violência, de um conjunto significativo da população, por isso, uma exclusão social e não pessoal. Não se trata de um processo individual, embora atinja pessoas, mas dá uma lógica que está presente nas várias formas de relações econômicas, sociais, culturais e políticas da sociedade brasileira. Essa situação coletiva é o que eu entendo por exclusão social. Ela inclui pobreza, discriminação, subalternidade, não equidade, não acessibilidade, não representação pública (SPOSATI, 1998, p. 4).

Dessa forma, ao tratar da exclusão social, é necessário fazer referência ao espaço de análise, e suas transformações político-social, bem como suas principais abordagens, frente aos precursores franceses (CASTEL, 1998; PAUGAM, 1996; SCHNAPPER,1996;) nesse sentido, exclusão social é vista como um estado ao qual se chega como resultado final a rupturas sociais (ESCOREL, 1999). O “excluído” é unicamente qualificado pela falta, pela ausência de inscrição nos circuitos habituais de trocas sociais (....) a exclusão é menos um estado do que um resultado e só sociologicamente compreensível quanto recolocada nesse percurso que a produz Castel (1998 apud Balsa; Boneti; Soulet, 2006, p. 71).

Castel propõe, nesse sentido, fazer dinâmica no mecanismo que exclui, pois apenas dessa forma pode ser entendida a dissolução social, uma vez que os indivíduos pertencem a grupos sociais. A dissolução, ou seja, a apartação do indivíduo do grupo social é o que levaria ao processo de exclusão social, pois esses grupos vivem de forma coletiva e organizada, com objetivos comuns aos membros. O autor deixa evidente, também, que podem existir formas de pertencer a um grupo e ter muito mais características negativas (pobreza, a inutilidade social, ressentimento, etc.) do que positivas. “Este é o motivo pelo qual será necessário olhar para estas questões duas vezes antes de falar em exclusão” Castel (1998 apud Balsa; Boneti; Soulet, 2006, p. 76),

É preciso reforçar a importância do aprofundamento da noção de exclusão, para que deixe de ser sinônimo de pobreza e de marginalidade, ou mesmo de um mesmo fenômeno, embora sejam articulados de forma a se convergirem as mais diversas formas de privações, rupturas e precariedade sociais. Apesar do conceito da exclusão social ter se espalhado pelo mundo, com diferentes propósitos e abordagens, ainda não gerou um consenso entre os mais diversos estudiosos do termo. Assim, é necessário chamar a atenção à utilização e banalização do termo exclusão social, uma vez que, qualquer sociedade, qualquer grupo social, ou mesmo um indivíduo, pauta-se em regras que estão impostas pelo meio em que vive, estabelecendo as diferenciações que permitem delimitar a exclusão social. Torna-se fundamental, então, entender quais os aspectos que podem ser determinantes da exclusão social. 2.2 Estado de Pobreza

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O termo pobreza também é muito usado e conhecido, pois convive com as mais diversas formas de suas manifestações no cotidiano. Porém, para definir pobreza, são necessários critérios metodológicos e aportes teóricos, uma vez que existem várias correntes de pensamento com as mais diversas definições e complexidade para esse termo.

A corrente nutricionista, citada por Lavinas (2002, p. 6), afirma que pobreza é “todo cidadão que não ingere quantidade mínima de valor calórico para sua subsistência.” Para essa corrente, a pobreza e a fome são sinônimos e se confundem na identificação de quem é pobre. Para Paugan (1991 apud Lavinas, 2002, p. 6), “a pobreza não é apenas um estado de uma pessoa que carece de bens materiais, mas corresponde também a um status social específico, inferior e desvalorizado, que marca profundamente a identidade daqueles que a vivenciam”.

Segundo o professor Maurício Romão, é preciso avaliar o conceito de pobreza sob vários enfoques, tais como: pela renda individual e familiar, pelas proteínas ingeridas por dia, pela falta de moradia, educação, saúde, e outros. Ele ressalta a importância do fator biológico, que deve ser priorizado por se tratar da manutenção da vida (MASCARENHAS, 2006). A questão da pobreza não deve ser entendida somente como a falta de renda ou pouca renda. Segundo Feudo (2001), sob o prisma sociológico, a falta de recursos afeta o indivíduo em vários aspectos de sua personalidade, pois ele perde a sua identidade de cidadão, fica destituído da capacidade de definir e exercer o controle do seu próprio ambiente. Ao analisar a pobreza, deve-se considerar a dificuldade de efetuar comparações interpessoais baseadas no comportamento de escolha individual e, por esse fato ser difícil de quantificar, existe muitas limitações, ao tentar comparar as rendas reais e a utilidades para cada pessoa.

Conforme relata Sen (2000), supostas comparações de utilidade são gravíssimas, em parte devido à total arbitrariedade (mesmo quando as funções de demanda de pessoas diferentes são congruentes) da suposição de que o mesmo pacote de mercadorias tem de gerar o mesmo nível de utilidade para pessoas diferentes e, também, em razão das dificuldades de indexar até mesmo a base de mercadorias da utilidade (quando as funções de demanda são divergentes).

Sen (2000) identifica cinco fontes distintas de variações pessoais, que são: • Heterogeneidades pessoais: cada um tem características físicas individualizadas,

relacionadas às incapacidades, tipos de doenças, idade, sexo, fazendo com que as necessidades sejam assimétricas.

• Diversidades ambientais: cada localidade possui suas características e suas variações ambientais.

• Variações no clima social: a qualidade de vida deve ser observada em relação às condições sociais existentes, podendo ser entendida como capital social.

• Diferenças de perspectivas relativas: a análise das necessidades de mercadorias específicas, levando em conta os padrões de comportamento de cada comunidade, e

• Distribuição de renda na família: como é feita a distribuição intrafamiliar. Dessa forma, as variações e particularidades de cada família tornam mais complexo

o processo de avaliação da pobreza, devido às necessidades individuais de cada pessoa, ou seja, a definição de pobreza torna-se insuficiente para definir o fenômeno de privações e acessos restritos. A pobreza conduz ao estado de privação e, segundo a literatura disponível, pode-se citar três principais formas de privações. A primeira delas é pela transitoriedade ou intermitência, ou seja, são os indivíduos passam por uma situação de

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sofrimento médio, mas possuem grande força para se mobilizar e esperar um futuro com condições melhores. São os otimistas (MASCARENHAS, 2006). Ainda o mesmo autor afirma que a segunda forma de privação é aquela de extrema pobreza, isto é, os indivíduos têm uma perda radical do controle da própria existência, apresentando um alto grau de sofrimento, são os derrotados. E, por último, segundo Ferreira et al. (2003), a terceira forma de privação, se faz visível na diferença de renda entre os cidadãos que convivem em um mesmo território, conforme o excerto abaixo, que indica que

[...] enormes diferenças na renda dos cidadãos de um mesmo país certamente implicam em diferentes graus respectivos de acesso a bens e serviços que as pessoas utilizam para satisfazer suas necessidades e desejos. No entanto, as disparidades se estendem muito além do consumo privado. Segundo Amartya Sen, existem profundas disparidades na liberdade ou capacidade de escolha que os diferentes indivíduos e grupos têm para levar a vida que escolheram para si, ou seja, fazer aquilo que julgam ser valioso. Os recursos privados e os padrões de prestação de serviços públicos afetam essa capacidade de escolha, enquanto a estrutura política e social incide sobre a possibilidade de participar de modo significativo na sociedade, influenciar nas decisões ou viver com dignidade (FERREIRA; PERRY; WALTON, 2003, p.6).

Nessa linha de pensamento, a heterogeneidade do conceito de pobreza trás a luz várias correntes de estudos, que buscam um entendimento dinâmico dos mecanismos que criam, processam e agravam a pobreza. A construção teórica do conceito de pobreza engloba as necessidades básicas dos indivíduos e suas liberdades concretas, no seu papel construtivo de suas potencialidades, como colocados por Sen. Porém, a determinação dos critérios vai além da corrente nutricionista, uma vez que as deficiências alimentares seriam simplistas na determinação no estado de pobreza. Nesse sentido, o conceito ressalta a problemática das necessidades básicas, fator biológico, desigualdades sociais, remetendo para as privações e, consequentemente, para a exclusão social. 2.2.1 Relação de Pobreza x Exclusão Social

Segundo Estivill (2000 apud Balsa; Boneti; Soulet, 2006), exclusão e probreza não são equivalentes. Para esse autor, é possível ser pobre e não excluído e, inversamente, há excluídos que não são pobres, embora alguns estudos demonstrem que existe um vasto círculo onde coincidem a pobreza e a exclusão. Ainda, para o autor, as noções de pobreza e exclusão social conjugam-se na relatividade, porque os que vivem, tanto uma situação como a outra, são designados em função das representações e normas que definem o bem-estar material e o grau de abandono que está em vigor em cada sociedade, numa determinada época. Por fim, o autor acrescenta que a pobreza e a exclusão se inscrevem num único processo, e que ambas encontram a explicação de suas causas nas estruturas centrais e são acumulativas e pluridimensionais. Os termos exclusão e pobreza não são sinônimos, mas, sim, complementares e se interpenetram, devendo, portanto, serem aplicados de forma rigorosa, evitando cair no risco de usar apenas um, ignorando o outro, e perdendo-se a capacidade de designação, de análise e de intervenção.

Estivill (2000 apud Balsa; Boneti; Soulet, 2006) fez uma série de questionamentos da existência dos dois termos, são hipóteses consideradas, algumas, por ele mesmo, como

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ambivalentes, uma vez que considera a importância de não cair no risco de ignorar ambos os fenômenos.

Pobreza Exclusão Noção de pobreza aparece historicamente de forma individualizada;

Tinha valor de novidade e aparecia como inovação conceitual e terminológica, permitindo destacar um debate que parecia estagnado.

Foi associada a falta de meios materiais, reduzida a dimensão econômica, a insuficiência de renda, mas concretamente a insuficiência de rendimentos;

Permitia superar noções de privações, miséria, penúria, que evocavam o sofrimento e o mal-estar dos que estão sujeitos a estas situações.

Pretendeu-se atribuir um caráter conjuntural, passageiro, ao mesmo tempo em que se definiu pobreza como algo inalterável.

Permitia interpretar fenômenos, apontando de forma mais clara para as características estrutural, pluridimensional e dinâmica de pobreza.

Ele remete para um passado que pensava ultrapassado, cuja persistência incomoda e é difícil de aceitar.

Adaptava-se melhor a nova situação, resultante da crise na década de setenta e permitia usar os conceitos como periferia, fractual social ou estigmatização.

O seu contrário é riqueza e, isso remete para a dificuldade de realizar repartição desta.

Dava conta, de forma mais precisa, da idéia de processo, na medida em que a exclusão e, ao mesmo tempo, uma causa e um resultado, se a pobreza era uma fotografia a exclusão seria o filme.

A sua quantificação, sujeita a debates metodológicos, é mais adequada à compreensão, mas adequada à gestão do que a transformação. Por outro lado, quando a pobreza alcança volumes elevados. Isso desanima os responsáveis políticos e faz emergir o cepticismo que se resume bem na frase “sempre existiram pobres e sempre continuarão a existir”.

Não parece fazer muito sentido lutar contra a riqueza - a menos que se taquem as formas de distribuição – e enquanto que lutar conta a exclusão ou por uma sociedade inclusiva não cria grandes temores e esta luta pode aparecer mais aceitável para um vasto aspecto de opções políticas.

Quadro 1 Relação de pobreza e exclusão social. Fonte: Elaborada pela autora a partir dos questionamentos de Estivill (2000).

Nesse contexto, no intuito de entender o conceito de exclusão social, é necessário

fazer uma diferenciação entre este e a pobreza, pois se torna inevitável a associação entre esses dois conceitos como sinônimos; no entanto, pode-se observar que são complementares. Segundo Sposati (1998), há

[...] uma distinção entre exclusão social e pobreza. Por conter elementos éticos e culturais, a exclusão social também se refere discriminação e a estigmatização. A pobreza define uma situação absoluta ou relativa. Não entendo esses conceitos como sinônimos quando se tem uma visão alargada da exclusão, pois ela estende a noção de capacidade aquisitiva relacionada à pobreza a outras condições atitudinais, comportamentais que não se referem tão só à capacidade de não retenção de bens. Consequentemente, pobre é o que não tem, enquanto o excluído pode ser o que tem sexo feminino, cor negra, idade avançada opção homossexual.

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A exclusão alcança valores culturais, discriminações. Isto não significa que o pobre não possa ser discriminado por ser pobre, mas que a exclusão inclui até mesmo o abandono, a perda de vínculos, o esgarçamento das relações de convívio que, necessariamente, não passam pela pobreza (SPOSATI, 1998, p. 89).

Conforme declara Castel (1998 apud Balsa; Boneti; Soulet, 2006), os “excluídos” não constituem, de fato, um grupo homogêneo, mas representam mais precisamente grupos de indivíduos separados de seus atributos coletivos, entregues a si próprios, e que acumulam a maioria das desvantagens sociais: pobreza, falta de trabalho, sociabilidade restrita, condições precárias de moradia, grande exposição a todos os riscos da existência etc. Já para Martins (1997), o conceito de exclusão social está totalmente vinculado ao da pobreza. Esse autor afirma não existir exclusão, mas, sim, contradição, vítima de processos sociais políticos e econômicos excludentes. A exclusão deixa de ser concebida como expressão de contradição no desenvolvimento da sociedade capitalista, para ser vista como um estado, uma coisa fixa. Deste modo, Martins (1997, p. 26) adverte sobre o sentido da expressão, ou seja,

[...] chamam de exclusão aquilo que constitui o conjunto das dificuldades, dos modos e dos problemas de uma inclusão precária e instável, marginal. A inclusão daqueles que estão sendo alcançados pela nova desigualdade social produzida pelas grandes transformações econômicas e para os quais não há senão, na sociedade, lugares residuais (1997, p. 26).

Porém, na busca de uma de uma definição que melhor representasse a pesquisa, utilizou-se a seguinte definição:

Em síntese, a exclusão é processo complexo e multifacetado, uma configuração de dimensões materiais, políticas, relacionais e subjetivas. É processo sutil e dialético, pois só existe em relação à inclusão como parte constitutiva dela. Não é uma coisa ou um estado, é processo que envolve o homem por inteiro e suas relações com os outros. Não tem uma única forma e não é uma falha do sistema, devendo ser combatida como algo que perturba a ordem social, ao contrário, ele é produto do funcionamento do sistema (SAWAIA, 2007, p. 09).

Pode-se dizer, portanto, que a pobreza diz respeito à privação de certos recursos por dada parcela da população, ou seja, questões econômicas, enquanto que a exclusão social remete a problemas de ordem: social, econômicos, políticos, relacionais, ou seja, apresenta um caráter multifuncional e interdisciplinar. Revela-se, assim, a enorme complexidade de situações que são abarcadas pelo conceito de exclusão social, fazendo com que a tentativa de sua conceituação teórica ainda esteja em discussão e não acabada.

Convém esclarecer, assim, que pobreza e exclusão social, neste estudo, são consideradas como complementares, uma vez que a ruptura e quebra dos laços sociais conduzem a um mesmo desfecho, pois o estado de pobreza leva as privações a remeterem a perspectivas da exclusão social, ou seja, as privações das liberdades constituem um estado de contemplação da exclusão social. 2.3 Perspectivas da liberdade no processo de exclusão social

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A importância de entender o termo e valoração da liberdade para as escolhas das pessoas está relacionada à oportunidade de participar e escolher os valores e prioridades individuais. Desde Protágoras (485-415 a. C.)1, “O homem é a medida de todas as coisas”, de modo que, apesar dos vários significados da liberdade, seja de direitos e garantias constitucionais, a referência essencial é o homem, como medida de todas as coisas, é ele no seu contexto. Dessa forma, a liberdade não é homogênea, pois está relacionada às necessidades e possibilidades individuais em vários contextos sociais, o que torna mais complexa a contemplação da exclusão social.

Segundo Sen (2003), a liberdade é individual, um produto social, com relação de reciprocidade entre a expansão e o uso da liberdade individual, não apenas para melhorar a própria vida, como, também, para tornar os dispositivos sociais mais adequados e eficazes. Entretanto, as concepções individuais são diferentes e cada indivíduo faz escolhas diferentes com sua liberdade.

Um modo de vida tradicional pode ser influenciado se tiver de ser sacrificado para escapar de um estado de pobreza ou de esperança de vida mínima; nesse caso, surge um conflito real entre o valor básico, que garante às pessoas a escolha livre de manter ou não suas tradições, e a insistência em que as tradições devem ser decididas pelas autoridades (SEN, 2003).

A influência de decisão de valor básico reside sobre o preceito, proposto por Sen, na abordagem do desenvolvimento sobre forma de liberdade humana, e isso implica no que pode ou não ser feito e decidido, em nome da tradição, pelo individuo e no que as autoridades devem interferir e, ao mesmo tempo, decidir em nome do bem-estar das pessoas. A liberdade é vista, assim, como principal fim e principal meio do desenvolvimento. A liberdade como fim corresponde ao seu papel constitutivo, enquanto a sua importância como meio equivale ao papel instrumental.

Para Sen (2003), a liberdade tem papeis constituídos, sendo: (1) Papel constitutivo: respeita a liberdade concreta, que inclui potencialidades elementares, como poder evitar provações elementares, tais como, fome, subnutrição, enfermidades evitáveis, mortalidade precoce, a participação da educação, participação política, liberdade de expressão etc.(2) Papel Instrumental: diz respeito ao modo como os diferentes tipos de direitos, oportunidades e habilitações contribuem para o alargamento da liberdade humana e promover o desenvolvimento. As diversas formas de liberdades vão se interligando e se relacionando entre si, o que proporciona o processo de expansão das liberdades humanas. Para Sen (2003, p. 52), “a liberdade instrumental contribui para a liberdade geral que as pessoas têm de viver segundo o modo que gostam”.

Os tipos de liberdade Instrumental servirão de aporte para a fundamentação e correlação dos índices de exclusão social propostos. São elas: a) Liberdades políticas: constituídas por meio dos direitos cívicos, oportunidade de as pessoas decidirem, segundo os seus princípios, quem deve governar, escolher sem restrições qualquer partido político, críticas, participações nas seleções dos poderes legislativos e executivo, e possibilidade de vigiar e criticar as autoridades políticas. B) Dispositivos econômicos: oportunidade das pessoas em utilizar os recursos econômicos para fins de consumo ou de troca. A capacidade econômica da população está relacionada com o desenvolvimento econômico

1 Citado por Platão em “theatetus” CF.Cohen, M.j e M. j., the penguin dictionary of quatations, England, Penquin Book, 1971. p.293(6).

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do País, bem como a distribuição de rendas e acesso ao financiamento. C) Oportunidades sociais: são os dispositivos que estão ligados ao acesso à saúde, à educação etc. Está relacionada à liberdade do indivíduo de viver melhor (liberdade concreta), porém está intimamente ligada com o desenvolvimento econômico do País, uma vez que proporcionam ao indivíduo acessos e oportunidades, além de desenvolvimento ao País. D) Garantias de transparências: liberdade de lidar com as pessoas sob garantia de clareza e esclarecimento. A confiança é fator determinante, pois atinge diretamente a vida das pessoas, podendo, assim, ser importante, à medida que tem papel instrumental na prevenção de corrupção, gestão irresponsável. Nesse sentido, a confiança funciona segundo uma presunção básica de confiança. E) Previdência social: proporciona uma rede de proteção social que evite que a população se reduza a uma miséria, caos, exposta a fome e a morte. O domínio da previdência social inclui dispositivos institucionais permanentes, tais como, subsídio de desemprego, suplementação de rendimentos, bem como esquemas ocasionais para proporcionar rendimento aos desamparados.

Cada liberdade instrumental se completa umas às outras, fornece subsídios às pessoas, e o seu papel fundamental é de exercer fortes pressões sob as políticas públicas, uma vez que se relaciona com as trocas econômicas, e faz as potencialidades impulsionarem o desenvolvimento econômico. Portanto, a criação de oportunidades sociais, por intermédio de serviços que proporcionem educação, saúde, meios de informações e outros serviços de comunicação, mecanismos legais, estrutura de mercado e desenvolvimento de liberdade concreta, contribuem para a redução de taxas de mortalidade, natalidade, analfabetismos, etc.

Segundo Sen (2003), é importante examinar as condições de liberdade de cada indivíduo, e quais as influências sociais, incluindo a intervenção do papel instrumental (direitos) que vai ajudar a definir a natureza e alcance da liberdade individual. Para Sen (2003), a liberdade concreta está concentrada nas potencialidades para escolher a vida que cada um estima, na oportunidade real do indivíduo e nas suas potencialidades, ou seja, uma forma de liberdade concreta (de levar diferentes estilos de vida), de poder escolher segundo seus valores.

No processo de valorização, é utilizada uma escala de valores em que haja um processo reflexivo dos juízos individuais, de diversidades associadas a fatores, como: a idade, o gênero, deficiências e doenças; assim, a posse de bens pode dizer muito pouco a respeito do tipo de vida que as diferentes pessoas podem levar. Os rendimentos reais podem ser indicadores muito pobres de componentes importantes do bem-estar e da qualidade de vida que as pessoas valorizam. Assim, ainda citando Sen (2003, p. 94),

[...] a verdadeira questão é saber se podemos usar para fins avaliativos alguns critérios que recebessem maior apoio público do que seus indicadores muitas vezes recomendados com base em razões alegadamente tecnológicas, como medidas de rendimento real.

A contribuição de Sen, para a continuidade do trabalho, levará o leitor a refletir sobre a utilização das Potencialidades, uma vez que algumas são mais difíceis de medir que outras, e na tentativa de colocar em escala métrica poderá se esconder informações relevantes. Existem fortes necessidades de decifrar as potencialidades, entre elas, a de avaliação para análise e prática de políticas públicas.

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2.4 Indicadores de exclusão social O debate conceitual sobre a exclusão social apresenta expressiva importância na

produção do universo das medidas, pois a concepção de diferentes modelos implica em diferentes indicadores estruturados para mensurar um determinado fenômeno (MAXWELL, 1999). Como expressa o autor, existe uma amplitude na construção de indicadores com as mais diversas fontes de dados, e de diferentes indicadores para cada território ou fenômeno estudado. Nesse caso, é imprescindível a apresentação das metodologias adotadas como parâmetros para a fundamentação de um novo modelo proposto.

Koga (2001) enfatiza que a metodologia utilizada para a confecção do “Mapa da Exclusão/Inclusão Social”, produzido pelo Núcleo de Seguridade e Assistência Social da PUC/SP (SPOSATI, 1996), constituiu a primeira experiência nacional na construção de indicadores intra-urbanos, e essa metodologia deixa explícito, através de inovações dos conceitos de exclusão social, a influência na determinação da estrutura proposta nos indicadores para interpretar esse fenômeno.

O objetivo da metodologia foi a produção de informações qualitativas e quantitativas e de geoprocessamento, que produziram dois índices territoriais (Iex - Índice de Exclusão/Inclusão Social e o Idi - Índice de Discrepância), hierarquizando regiões de uma cidade quanto ao grau de exclusão/inclusão social. Segundo Sposati (2000), o Idi consiste na medição da distância entre a pior e a melhor variável em cada uma das áreas intra-urbanas. Trata-se de uma medida do GAP da desigualdade.

A construção metodológica de Sposati (1996) partiu das utopias qualitativas do referencial teórico de inclusão social que, segundo a autora, são: sete: autonomia, qualidade de vida, desenvolvimento humano, equidade, cidadania, democracia e felicidade, porém, somente quatro são mensuráveis (SPOSATI, 1996, 2000b): Autonomia, Qualidade de Vida, desenvolvimento Humano, equidade. .Nesse viés, pode-se afirmar que existe correlação entres os dados quantitativos e qualitativos subjetivos que permite flexibilidade da proposta e facilita a visualização da exclusão social em diversas dimensões. Outra metodologia foi proposta por Lemos (2002), constituindo o Índice de exclusão social (IES) com objetivos de identificar os padrões de pobreza, o que, neste estudo, foi entendido como sinônimo de exclusão social.

Nessa metodologia, foram abordadas cinco dimensões para mensurar a exclusão, de maneira que são atribuídos pesos para cada indicador para que se possa fazer a interseção entre os indicadores; o produto da interseção representa o total da população privada. Para a composição dos indicadores, o autor lançou mão de métodos estatísticos, análise fatorial; para estimar os pesos e para hierarquizar os municípios, a técnica de regressão linear múltipla, portanto, com base nos pesos criados para cada variável, estima-se o índice de exclusão social para cada município. Como a proposta desta pesquisa é criar uma metodologia para mensurar a exclusão social no meio rural, serão abordados os conceitos tratados por Amartya Sen para compor a base teórica utilizada na confecção dos indicadores. As liberdades instrumentais irão compor as cinco dimensões de privações do índice de exclusão social do meio rural (IESR), porém, como na metodologia proposta por Sposati, também tem suas limitações e nem todas podem ser mensuradas.

Os conceitos propostos por Sen (2000) identificam, essencialmente, cinco fontes privação de liberdade Instrumental servirão de aporte para a fundamentação e correlação ara o modelo proposto. São elas: Liberdades políticas, dispositivos econômicos,

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oportunidades sociais; garantias de transparências e previdência social. Apesar de serem distintas, o autor alerta para existência de uma forte correlação entre essas formas de privação de liberdade. A identificação das diferentes formas de privação de liberdade permite distinguir que ela é limitada por processos inadequados, como a violação de direitos políticos e civis, tanto por oportunidades inadequadas, como por um sistema de educação precário ou a fome involuntária. Processos inadequados estão relacionados à privação de liberdades formais determinadas por lei, enquanto oportunidades inadequadas e que se associam à negação de liberdades substantivas (SEN, 2000). Nesse sentido, os direitos garantidos na Constituição Federal, em seu artigo 6º, Capítulo II, dos direitos sociais, reforçam importantes variáveis para compor os indicadores no meio rural.

[...] são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e a infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 1988, p. 19).

Para indicar as variáveis, para a composição da metodologia do índice de exclusão social do meio rural (IESR), é necessária sua legitimação, garantir o grau de confiabilidade, a qualidade das variáveis e coleta e a sintetização dos dados. A discussão sobre as dimensões adotadas e os indicadores será retomada no capítulo do método proposto.

3 Metodologia

Levando em consideração que o objetivo principal deste estudo é a criação de uma proposta metodológica para quantificar a exclusão social no meio rural, é de suma importância o estabelecimento de uma sequência lógica dos passos adotados para a estruturação do modelo. Para tanto, esta pesquisa foi dividida em cinco etapas básica, de acordo com o quadro a seguir: ETAPA ATIVIDADE DESCRICAO FONTE DA

COLETA DE DADOS

RESULTADOS (PRODUTOS)

1 Pesquisa bibliográfica

Descrição dos conceitos de marginalidade, pobreza e exclusão social e suas principais abordagens.

Pesquisa em trabalhos de autores nacionais e internacionais. (capítulo 3)

Construção de um aporte teórico sobre diversos enfoques da exclusão social e suas origens.

2 Pesquisa bibliográfica

Descrição das Perspectivas das liberdades no processo de exclusão social.

Livro de Amartya Sem, prêmio Nobel em economia: O desenvolvimento como forma de liberdade.

Possibilitou a criação do modelo proposto, através da dimensão de liberdades adotadas pelo autor e a construção teórica da manifestação da exclusão Social no Meio Rural.

3 Pesquisa de dados secundários

Busca dos dados a partir da base de dados dos ministérios e secretárias da: saúde, educação,

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) Ministério da

Seleção das Variáveis para elaboração de um novo banco de dados, contendo todos dados das variáveis a serem utilizadas na

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trabalho e justiça. E base dados do censo demográfico e agropecuário 2007

Justiça do Estado de Mato grosso Sul. Secretária da Educação. Ministério do Trabalho.

construção dos indicadores de exclusão social no meio rural.

4 Construção do modelo

Propor um modelo que explique a manifestação da exclusão social no meio rural, através de indicadores de privação pela técnica de analise multivariada dos dados.

Metodologias de construção do mapa da exclusão social Spossati (1996) e Exclusão Social (IES) criado por Lemos (2002). Dimensões da liberdade. Instrumentais Sem (2002).

Criação do modelo de Exclusão Social no Meio Rural (MESR) e criação dos indicadores de exclusão social rural (IESR).

Quadro 2 As etapas da pesquisa FONTE: Elaborada pela autora.

3.1 Modelo proposto

O presente trabalho tem por objetivo elaborar a proposta de um modelo para avaliar como a exclusão social se manifesta no meio rural, visando aplicar no Estado de Mato Grosso do sul, e podendo servir, subsequentemente, como instrumento norteador de políticas de melhorias para a população rural do Estado. Os modelos constituem uma representação simplificada do sistema real.

A partir de um grupo de variáveis e uma especificação de suas inter-relações, projetadas para representar um processo ou um sistema real, total ou parcialmente, um modelo é a descrição do funcionamento de um sistema, representando uma construção em particular, utilizando da teoria, o qual lhe serve como suporte conceitual (BAUREM, 1998, p.23).

Dentro desse contexto, Bunge (1974) explicita as formas que fazem parte desse jogo entre teoria e realidade. Uma vez que os modelos são abordados na medida em que se procuram relações entre as teorias e os dados empíricos. Esses são os intermediários entre o fazer científico de conceitos e medidas e ou teórico e empírico. Portanto, para Bunge (1974), as teorias por si só nada valem no contexto científico, pois sendo abstrações produzidas por nossa razão e intuição não se aplicariam, a priori, às coisas reais. Por outro lado, os dados empíricos apesar de mais próximos da realidade, não podem ser inseridos em sistemas lógicos e gerar conhecimento. Dessa aparente dicotomia entre teórico e empírico, é introduzida a modelização como instância mediadora. Bunge, em sua obra, deixa evidente que o modelo é como um simulador da realidade, e necessita de mecanismos internos que deem sustentação as relações neles existentes, sendo que, os modelos são a essência do próprio trabalho científico, pois ao construir modelos exercita-se a capacidade criativa com objetivos que transcendem o próprio universos científico. “A

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busca de construir não apenas modelos, mas modelos que incrementem forma de construir a realidade, acrescenta uma mudança de "qualidade" ao conhecimento científico” (BUNGE, 1974, p. 22). 3.2 Caracterização do modelo proposto

O modelo a ser construído é constituído de cinco pontos fundamentais: (1) o arcabouço teórico desenvolvido para a interpretação do fenômeno; (2) a Seleção das variáveis a serem utilizadas para a composição dos indicadores; (3) o método quantitativo para a construção dos Indicadores de Exclusão Social no Meio Rural IESR; (4) a definição de uma unidade territorial, onde os índices possam ser espacializados e analisados.e; finalmente (5) O Índice de Exclusão Social do Meio Rural (IESR).

Figura 1 Modelo para avaliar a Exclusão Social no Meio Rural (MESR) FONTE: Elaborada pela autora

3.2.1 Seleção e definição das variáveis

O critério de definição das variáveis segue de acordo com as contribuições de Sen (2003), definido pelas liberdades instrumentais. As liberdades instrumentais não só aumentam a capacitação geral de uma pessoa, como também se reforçam mutuamente. A ampliação das oportunidades sociais, como a melhoria do sistema de educação, pode contribuir para elevação das oportunidades econômicas, como o acesso ao crédito, por exemplo. No sentido inverso, o crescimento econômico favorece o aprimoramento dos serviços de saúde e educação.

A liberdade é relevante, não apenas por servir de critério para avaliação do êxito de uma sociedade, mas, também, por ser um determinante essencial da iniciativa individual e da eficácia social. 3.2.2 Espacialidade

2. Seleção das variáveis

IBGE Secretaria da Educação

Ministério do Trabalho

BANCO DE DADOS

3. Método quantitativo para construção do IESR

Construção dos indicadores

4. Definição da unidade territorial

Aplicação dos indicadores

Tribuna Eleitoral

Secretaria da Saúde

5. Índice de Exclusão no meio Rural- IESR

1. Base teórica

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Dentro da espacialidade está a distribuição da população no meio rural e no meio urbano como já mencionado seguirá os parâmetros adotados pelo IBGE (1996), onde a situação rural abrange a população e os domicílios recenseados em toda a área situada fora dos limites urbanos, inclusive os aglomerados rurais de extensão urbana, os povoados e os núcleos. 3.2.2.1 Distribuição geográfica da população CATEGORIA DE ANALISE VARIAVEIS INDICADOR

Demografia

% de População Economicamente Ativa

Índice de Demografia Rural IDR

Razão de Dependência Demográfica Domicílios Chefiados por Mulheres Dimensão das Famílias

Quadro 3 Índice de Demografia Rural FONTE: Elaborada pela autora 3.2.3 Liberdades políticas

Para Sen (2003), as liberdades políticas, incluindo os direitos políticos e civis, referem-se às oportunidades que os indivíduos têm de escolher seus governantes e seu partido político, à possibilidade de fiscalizar e criticar as autoridades que os representam, de se expressar politicamente sem interferência da censura, dentre outras. Trata-se de direitos políticos e civis associados às democracias no sentido amplo. 3.2.3.1 Participação política

A participação política será avaliada pelas variáveis de acesso da população rural para exercer o seu direito político; para tanto, serão mensurados o total da população que tem acesso a esse direito, e subtrair a população que se encontra privada desse direito, seja essa privação por motivos, de localização, de transporte, ou de qualquer outra justificativa que impossibilite o acesso dessas pessoas, não serão consideradas nesta pesquisa por se tratar de um estudo mais aprofundado das causas, e não fazem parte do objetivo deste trabalho. O quadro abaixo mostra como poderá ser feito a sua avaliação no modelo proposto. CATEGORIA DE ANALISE VARIAVEIS INDICADOR

Participação política Acesso à participação Política Pri-política=(1-IAP)

Quadro 4 Participação Política. FONTE: Elaborada pela autora 3.3.4 Dispositivo econômico

Os dispositivos econômicos representam as oportunidades que as pessoas têm para utilizar recursos econômicos destinados ao consumo, produção ou troca. O crescimento da renda, o bom funcionamento dos mercados, a estabilidade dos preços relativos e a disponibilidade de acesso ao crédito e a terra contribuem muito favoravelmente para expansão dos intitulamentos econômicos de uma pessoa. Nesse sentido, a inclusão de uma população depende de um conjunto de fatores, dentre os quais se destaca a renda familiar e os benefícios sociais públicos e privados usufruídos por essa população. 3.3.4.1 Distribuição de renda

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Com base nas contribuições de Pochmann, adotou-se como padrão, para avaliar o acesso à renda, o valor mínimo de pobreza e de indigência para o meio rural. Para analisar a evolução dos indicadores de pobreza no Mato Grosso do Sul, adotou-se o valor de 1/2 salário mínimo de janeiro de 2007 (R$ 160) como linha de pobreza, ou seja, o valor abaixo do qual as pessoas serão consideradas pobres. Para identificar situações de extrema pobreza, estimou-se ainda a percentagem de indigentes, ou seja, a parcela da população com rendimentos per capita inferiores a IA de salário mínimo de 2007(valor esse equivalente a R$ 80). Nessa linha de raciocínio, para avaliar a participação econômica, será levada em consideração a o limite da renda mínima da linha de pobreza, ou seja, todos que estiverem a baixo do limite desta linha serão considerados privados do acesso a renda mínima para satisfação das necessidades do individuo. CATEGORIA DE ANALISE VARIAVEIS INDICADOR

Participação econômica Acesso Econômico a renda mínima alinha de pobreza

Pri-renda=( 1-IAE)

Quadro 5 Participação econômica FONTE: Elaborada pela autora. 3.3.5 Oportunidades sociais

Oportunidades sociais incluem as disposições nos sistemas de emprego, educação, saúde, etc., as quais são importantes não só para qualidade de vida individual como também para participação na vida política e econômica. 3.3.5.1 Emprego

Para a dimensão social, especificamente a variável emprego, foram considerados apenas trabalhadores com emprego formal, uma vez que o banco de dados foi composto pela a declaração oficial do ministério do trabalho, pelos dados da Rais. No entanto, isso constitui uma limitação uma vez que, além do trabalho informal ser mais comum no meio rural, ainda esta desconsiderado o trabalho infantil e o trabalho escravo. CATEGORIA DE ANALISE VARIAVEIS INDICADOR

Participação social

% de população economicamente ativa formalmente empregada ( total de TPFA./PEA)

Pri-emprego=(1-PEAF)

Quadro 6 Participação Social-Emprego FONTE: Elaborada pela autora 3.3.5.2 Educação

A educação deve ser entendida como uma forma de promoção do desenvolvimento do homem como indivíduo e como parte de um ambiente complexo, segundo Pilon (1986), para que consiga interagir com a sociedade aprimorando sua qualidade de vida.

O padrão educacional é uma variável de grande relevância para as questões de inclusão da população, conforme afirma Heringer e Miranda (2005, p. 208):

[...] o acesso à educação é em geral apresentado pelos estudiosos como um dos principais fatores associados a melhores oportunidades no mercado de trabalho e, conseqüentemente, a melhor rendimento. Para um grande contingente da população, o aumento da escolaridade é visto como o principal fator de mobilidade social ascendente dos indivíduos.

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Nesse sentido, o acesso à educação torna-se uma variável que correlacionam com os demais acessos, uma vez que, o acesso a educação tem significado importante nas oportunidades de trabalho e, consequentemente, a um melhor rendimento.

CATEGORIA DE ANALISE VARIAVEIS INDICADORES

Participação social Acesso a educação Pri-educação=(1-IAE)

Quadro 7 Participação Social-Educação FONTE: Elaborada pela autora

3.3.5.3 Saúde Na última reforma da Constituição Brasileira, em 1988, a questão da equidade foi

posta como igualdade no acesso aos serviços de saúde, haja vista que foram garantidas a universalidade da cobertura e do atendimento, com a finalidade de fornecer igual oportunidade de acesso aos serviços de saúde para indivíduos com as mesmas necessidades (NERI; WAGNER, 2002). A Constituição Federal de 1988, Capítulo II, da Seguridade Social, art. 196, coloca que: [...] a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações de serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988, p. 114).

Os acessos aos serviços de saúde são importantes, pois auxiliam na qualidade de vida das pessoas e nas maiores expectativas de vida o que conseqüentemente alargam suas capacitações. Pode-se concluir que o direito está garantido na lei, contudo sua efetivação ainda é deficitária, e uma parcela da população consegue ter o acesso que deveria ao sistema único de saúde brasileiro. Contudo, pela inexistência de dados disponíveis principalmente para o meio rural, não foi possível incluir indicadores que também são essenciais como os da saúde que é uma garantia e direito da população independente da acessibilidade.

4. Discussão e considerações finais

O conhecimento dos fatores que interferem na elevação ou na redução da exclusão social mostra-se importante pelas consequências socioeconômicas que afetam as populações. Ao fazer o levantamento teórico utilizou-se de uma busca ao conhecimento para formular o que poderia ser entender como exclusão social, e como ela pode se manifestar , fez-se uma busca incessante até chegar a formulação dos preceitos propostos por Amartya Sen, para definir no modelo como seriam utilizado, sendo assim a exclusão social ficou entendida como a privação das liberdades instrumentais. Neste sentido foram estabelecido as variáveis selecionadas para compor o modelo.

O método quantitativo para a construção do Indicador de exclusão social no meio rural (IESR), e a seleção da unidade territorial, bem como os indicadores , ou seja, índice de privação ao acesso, serão abordados com a continuidade deste trabalho, que tem como objetivo a aplicação no Estado de Mato Grosso do sul. Neste sentido o presente estudo apresentou a estrutura do modelo para avaliar a exclusão social no meio rural, apresentando suas limitações para contribuições e continuidades da pesquisa. 5. Referências bibliográficas ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997.

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