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PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título:

A lírica feminina de Adélia Prado em contraposição à lírica masculina de Carlos

Drummond de Andrade

Autor Vilma Wons

Escola de Atuação Colégio Estadual "Barão do Rio Branco" – Ensino

Fundamental e Médio

Município da escola Palotina- PR

Núcleo Regional de

Educação

Toledo

Orientador Professora, Drª Rita das Graças Felix Fortes

Instituição de Ensino

Superior

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste,

Campus Marechal Cândido Rondon

Disciplina/Área (entrada no

PDE)

Português

Produção Didático-

pedagógica

Produção Didático Pedagógica para implementação do

Projeto de Pesquisa

Relação Interdisciplinar

(indicar, caso haja, as

diferentes disciplinas

compreendidas no trabalho)

História e Sociologia

Público Alvo

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(indicar o grupo com o qual

o professor PDE

desenvolveu o trabalho:

professores, alunos,

comunidade...)

Serie: 1ª A – Ensino Médio / Período: Matutino

Localização

(identificar nome e endereço

da escola de

implementação)

Colégio Estadual Barão do Rio Branco – Ensino

Fundamental e Médio Rua Getúlio Vargas, s/n - Tel: (44)

3649-5315 - CEP: 85.950-000 – Palotina PR

Apresentação:

(descrever a justificativa,

objetivos e metodologia

utilizada. A informação

deverá conter no máximo

1300 caracteres, ou 200

palavras, fonte Arial ou

Times New Roman,

tamanho 12 e espaçamento

simples)

Este projeto resultou da necessidade de ter na literatura,

um elemento que ajude o aluno a compreender como a

literatura, pode contribuir para a compreensão da relação

entre o ser humano e o contexto social. Objetiva-se

analisar comparativamente “Poema de Sete Faces”,

“Cidadezinha Qualquer”, “O Beijo”, “Sina”, “Procura de

Poesia”, poemas de Drummond, visando compará-los ou

contrapô-los aos poemas adelianos; “Com Licença

Poética”, “Bucólica Nostálgica”, “Figurativa”, “Endecha

das Três Irmãs” e “Antes do Nome”, de acordo com a

perspectiva masculina de Drummond e feminina de

Adélia Prado contrapondo ou comparando a perspectiva

existencial através da ótica masculina e feminina,

relação homem natureza, relações familiares no século

XX, condição da solteirona, e metapoética. A perspectiva

lírica drummondiana e a adeliana revelam a maneira de

pensar de um determinado espaço social permitindo

compreender o espírito humano e, complexidade de

suas relações. Os alunos em geral, apresentam

dificuldades em estabelecer relações entre o uso da

língua falada, linguagem escrita e linguagem literária

seja em prosa, ou poesia. Questiona-se: Como se pode,

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fazer uso da linguagem visando levar o aluno a

compreender a linguagem literária para que esta deixe

de ser, apenas, parte do conteúdo obrigatório e se

transforme numa produção de sentido que possa ampliar

a visão de mundo? A partir de que enfoque se pode

adentrar na poesia? O presente estudo almeja os

objetivos que estarão centrados nas atividades

supracitadas.

Palavras-chave (3 a 5

palavras)

Literatura; Carlos Drummond de Andrade; Adélia Prado.

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARECHAL CÂNDIDO

RONDON (UNIOESTE)

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

COM O GÊNERO TEXTUAL: LÍRICA

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A lírica feminina de Adélia Prado em contraposição à lírica masculina de

Carlos Drummond de Andrade

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira. Cargo muito

pesado pra mulher, esta espécie ainda

envergonhada ... (Adélia Prado )

Palotina

2011

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Apresentação

Esta Unidade Didática – a partir do projeto acima intitulado – a ser

apresentada à SEED (Secretaria de Estado da Educação) e aos docentes e

aplicada aos alunos da primeira série A do Ensino Médio do Colégio Estadual

Barão do Rio Branco como material didático resultante do PDE (Programa de

Desenvolvimento Educacional), na disciplina de Língua Portuguesa, cujo

conteúdo estruturante é "Literatura e Escola: concepções e práticas".

O conteúdo específico consiste na leitura e análise comparativa dos

seguintes poemas: de Carlos Drummond de Andrade: “Poema de sete faces”,

“Cidadezinha qualquer”, “O beijo”, “Sina” e “Procura da poesia”;1 de Adélia

Prado: “Com licença poética”, “Bucólica nostálgica”, “Endecha das três irmãs”

“Figurativa” e “Antes do Nome” 2 O conteúdo específico consiste em leitura e

análise de poemas de Adélia Prado e de Carlos Drummond de Andrade, sendo

que o estudo recebe orientação da professora Rita Felix Fortes (UNIOESTE). O

projeto está direcionado aos alunos do primeiro ano A do Ensino Médio do

Colégio "Barão do Rio Branco" – Palotina, PR, mas também estará disponível a

todos os colégios paranaenses e alunos que frequentam as escolas públicas

do Paraná. Esta Unidade Didática foi elaborada de acordo com as orientações

contidas nas Diretrizes Curriculares Educacionais, sem perder de vista o perfil

socioeconômico e cultural dos alunos do colégio no qual será aplicado, bem

como o perfil dos alunos das escolas públicas paranaenses.

Trata-se, pois, de uma unidade didática que tem como objetivo principal

contrapor a perspectiva masculina do eu-lírico de Carlos Drummond de

Andrade à perspectiva feminina do eu-lírico de Adélia Prado em relação aos

seguintes temas: a composição poética; as questões existenciais; as relações

familiares; o homem e a natureza; a condição feminina na sociedade patriarcal.

1 Todas as citações de “Poema de Sete Faces”, “Cidadezinha Qualquer”, “Sina”, “Procura da Poesia”, e “O Beijo” – que serão analisados no presente estudo – referem-se a: ANDRADE, Carlos Drummond de. Carlos Drummond de Andrade: prosa e poesia. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, e, após cada poema, será inseridos, apenas, o número da página.

2 Todas as citações de “Com Licença Poética”, “Bucólica Nostálgica” “Endecha das Três Irmãs”,

“Figurativa” e “Antes do Nome” – que serão analisados no presente estudo – referem-se a: PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986 e, após cada poema, será inserido apenas o número da página.

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O presente estudo está organizado, portanto, a partir da utilização do

gênero lírico – poesia – para alavancar as propostas didáticas que serão

elaboradas e subdivididas em cinco módulos de estudos, de acordo com os

temas acima elencados. Nesse módulo serão apresentados aos professores a

fundamentação teórica que sustentou o projeto, a presente unidade e o artigo

final, bem como a produção textual direcionada aos alunos

Os módulos elaborados se atêm à leitura comparativa entre alguns

poemas de Carlos Drummond de Andrade e de Adélia Prado e, como a

Unidade Didática estará disponível para os professores da área de Língua

Portuguesa da rede estadual, serão também apresentados aos professores do

Colégio "Barão do Rio Branco" – Ensino Fundamental e Médio.

Para a aplicação deste projeto de intervenção é necessário considerar

que o homem, enquanto um produto do seu meio social pode manifestar seus

sentimentos em relação ao tempo histórico e ao espaço, tanto físico quanto

social, no qual está inserido, manifestação essa a ser realizada através das

várias linguagens, dentre as quais, as artísticas, seja pela literatura, pela

música, pela dança, pelas artes plásticas, dentre outras, mas também que o

homem pode manifestar-se pela oralidade bem como pela escrita.

Pretende-se, na presente produção didática, bem como no artigo final,

analisar os seguintes poemas de Carlos Drummond de Andrade: “Poema de

Sete Faces”. “Cidadezinha Qualquer”, “O Beijo”, “Sina” e “Procura da Poesia” e

de Adélia Prado: “Com Licença Poética” “Bucólica Nostálgica” “Figurativa”

“Endecha das Três Irmãs” e “Antes do Nome” Far-se-á uma

comparação/contraposição da perspectiva masculina versus a feminina em

relação aos seguintes temas: a natureza, as relações familiares, a condição

feminina, especialmente à da solteirona, a metapoética e a questão existência.

Além das análises que serão propostas aos alunos para o

desenvolvimento do referido projeto, a leitura também será desenvolvida como

parte do processo de pesquisa que embasará as análises dos poemas. Assim,

a leitura acontecerá concomitantemente à pesquisa e à análise, e ajudará o

aluno perceber a importância do ato de ler. É fundamental que o aluno perceba

que a leitura é um processo pelo qual o homem consegue atingir a

compreensão do mundo que o cerca e que muitas angústias, ansiedades e

dúvidas referentes ao conhecimento de si mesmo são dirimidas pela prática da

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leitura. Então, quando isso acontece, passa-se, de fato, a ter prazer com a

leitura tanto da prosa quanto da lírica, o que torna sua prática fundamental ao

conhecimento humano:

A leitura ocupa, sem dúvida, um espaço privilegiado não só no ensino da língua portuguesa, mas também no de todas as disciplinas acadêmicas que objetivam a transmissão de cultura e de valores para as novas gerações. (SILVA, 2005, p. 16).

Por isso, no processo de estudo da Língua Portuguesa deve-se dar

ênfase à leitura, pois é por meio dela que o aluno vai compreender melhor as

falas do sujeito, seja ela de forma direta, pelas leituras literárias, ou de forma

indireta, pelas leituras científicas, fundamentais às demais disciplinas.

A literatura é parte relevante no estudo de qualquer língua, tanto pela

estrutura linguística que apresenta, como pela diversidade de falas e de

perspectivas de mundo que nela podem ser encontradas.

Os discursos imbricados na literatura enquanto arte literária pode

proporcionar ao educando conhecimento estrutural da língua e também

oferecer subsídios capazes de conduzir o leitor à compreensão do homem

enquanto ser que se relaciona com o meio social, pois a literatura, assim como

outras linguagens, ajuda o ser humano a compreender a si mesmo e aos seus

pares, bem como refletir sobre o contexto cultural no qual ele está inserido.

Por isso, língua e literatura devem entrelaçar-se na escola, para que o

estudante possa compreender pelo menos parte do mundo que o cerca. E foi

com esse objetivo, visando ampliar o mundo da leitura e o conhecimento de

mundo em relação aos temas propostos – (i) a perspectiva existencial do

homem, (ii) relação homem versus natureza, (iii) relações familiares do século

XX, (iv) a condição feminina da solteirona na sociedade burguesa do século XX

e (v) a metapoética – que foram selecionados os poemas supracitados de

Carlos Drummond de Andrade e de Adélia Prado para a elaboração de

atividades que visam, se não de todo, pelo menos em parte, superar as

dificuldades dos alunos em relação à compreensão de textos literários. A

primeira atividade consiste em esclarecer para os alunos o contexto social ao

qual tanto a obra de Carlos Drummond de Andrade quando a de Adélia Prado

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se reportam, pois uma obra literária, sempre, está marcada por um contexto de

produção.

Problema

O problema do presente estudo pode ser delimitado pelos seguintes

questionamentos: Como se pode, a partir do uso corriqueiro da linguagem,

levar o aluno a compreender a linguagem literária para que esta deixe de ser,

apenas, parte do conteúdo obrigatório escolar e se transforme numa produção

de sentido que possa ampliar a visão de mundo? A partir de que enfoque se

pode adentrar na poesia sem que pareça algo estanque, sem qualquer

referência com a realidade?

Módulo 1

1.1 Desenvolvimento teórico-disciplinar

Carlos Drummond de Andrade entrou na adolescência no período em

que acontecia a Primeira Guerra Mundial e o desencanto que essa guerra

provocou se espraiou pelo mundo. Além do susto de ser o primeiro conflito de

tamanha amplitude, o sentimento de desencanto deu fim ao sonho de que o

século XX – dados os progressos alcançados desde a segunda metade do

século XIX – seria de progresso, alegria e paz. Esses sentimentos se

manifestaram em toda a geração após a Primeira Guerra Mundial e,

certamente, foram muito marcantes nos artistas, os quais procuravam

manifestar o desencanto provocado pela guerra em suas obras. Essas formas

de manifestações artísticas, em consonância com o abalo provocado pela

Primeira Guerra Mundial, receberam o nome de “vanguardas”. Como todas

elas têm origem na Europa, são chamadas de "vanguardas europeias", cujo

projeto estético visava uma ruptura que estivesse em consonância com a nova

visão de mundo que se espraiou pelo Ocidente. No Brasil, porém, naquele

momento ainda predominavam outras formas de manifestações artísticas que,

segundo Fortes (1994, p. 55),

[...] primavam pelo purismo linguístico. A linguagem muito em voga na época, inspirada na grandiloquência de Coelho Neto e Rui Barbosa, tanto na prosa quanto na poesia, era a do

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intelectual para o intelectual, desprezando a fala popular, o folclore ou qualquer outra forma de manifestação cultural menos erudita.

A Semana de Arte Moderna de 1922 teve como propósito desconstruir

essa grandiloquência passadista e se aproximar da tradição cultural popular,

que sempre existiu, mas que era desconsiderada pela academia. É nesse

contexto – já tributário do movimento de 1922, mas, ao mesmo tempo, distante

dos arroubos excessivos da Semana de Arte Moderna – que surge Carlos

Drummond de Andrade: poeta cuja lírica é marcada por identidade própria, que

não se deixou influenciar pelas ideias passadistas do “fazer arte pela arte”, nem

pelos desvarios exagerados da década de 1920, embora seja tributário da

geração vanguardista. Segundo Moraes (1978), Carlos Drummond de Andrade

primou por uma ética única, tanto no trabalho quanto no uso da palavra, que

nunca excedeu no rigor do cumprimento do dever.

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro, Minas

Gerais, em 31 de outubro de 1902, e morreu no dia 17 de agosto de 1987, aos

85 anos. Filho e neto de fazendeiros em decadência – já que sua família

perdeu quase todas as suas posses devido às constantes crises que afetaram

o sistema político-econômico do Brasil entre o final do Império aristocrata e o

da República Velha –, foi educado e formado nos moldes da família patriarcal.

Sua infância, no início do século XX, ainda guarda resquícios da organização

patriarcal, logo, autoritária e centralizadora. O “berço” do poeta é, portanto, a

sociedade rural brasileira, decadente e em busca de nova identidade.

A técnica usada por Drummond para a construção de seus poemas,

segundo Moraes (1978 p.102), consistia na “[...] perturbação das formas líricas

tradicionais [...] a qual quebra o ritmo interno das palavras relacionadas [...] e

constitui um dos mais poderosos instrumentos de encantação”.

Moraes afirma, ainda, que a organização rítmica de seus poemas é a da

repetição, sendo que há, ainda, aqueles nos quais Drummond imprime ritmo

dramático e essa maneira de compor drummondiana, juntamente com os

processos rítmicos, é um dos traços de maior originalidade de sua poesia. Bosi

(2005, p. 445) afirma:

A rima final ou interna, a assonância, a aliteração, o simples eco, no fundo a repetição do som-coisa, é a operação técnica

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que persiste depois de abolidos os liames com a sintaxe poética tradicional e “tradicional” vai aqui até o verso livre.

Sant’Ana (1992, p. 216) afirma que “a poesia drummondiana desdobra-

se em três atitudes: Eu maior que o mundo” – marcada pela poesia irônica,

marcante nos livros Alguma Poesia, Brejo da Almas e Sentimentos do Mundo;

“eu menor que o mundo” – marcada pela poesia social das obras José, em A

Rosa do Povo; “Eu igual ao mundo – marcada pela poesia metafísica” de

Lições da Vida; e "a fase final", caracterizada pelas obras memorialistas de

Boitempo; Menino Antigo (Boitempo II); Esquecer para Lembrar (Boitempo III);

Corpo; Amar se Aprende Amando e Amor Natural.

Em 13 de abril de 1935 nasce, em Divinópolis, também em Minas

Gerais, Adélia Prado. Filha de pai ferroviário recebeu uma educação que

estava em sintonia com os padrões femininos proletários da época. Quando ela

estava com quinze anos faleceu sua mãe e esse acontecimento foi

determinante na sua trajetória poética, pois ela começou a escrever como uma

forma de lidar com tão grande perda. Conclui o curso ginasial no Ginásio

“Nossa Senhora do Sagrado Coração”, em Divinópolis, e, em 1951, inicia o

curso de magistério na Escola Normal “Mário Casassanta” e o conclui em 1953.

A partir de então iniciou a carreira de professora e, em 1973, ela formou-se em

Filosofia.

Soares (1992, p. 4), em O Afã e a Insolvência: a marca do dilaceramento

na poética de Adélia Prado, afirma que: “Adélia Prado é uma escritora bastante

singular no cenário literário brasileiro. [...] apresenta-se como uma pacata

moradora de Divinópolis exercendo a função de dona-de-casa, mãe-de-filhos”.

Adélia Prado nunca escondeu sua fé, professando sua religiosidade

embasada no catolicismo.

O eu-lírico de Adélia Prado, em seus textos:

Assume o papel reservado à mulher [...] sem que isso implique em submissão [...]. Adélia Prado aceita o seu papel com consciência crítica [...]. Rebelde ao que, no papel aceito, possa implicar em limitação de possibilidades de experiências vitais, rebelde também à visão de certos feminismos que o interditam integralmente. (SOARES, 1992, p. 4, 5).

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Fazem parte do cotidiano poetizado por de Adélia Prado, além de seu

quintal e de sua bíblia, alguns ícones da literatura brasileira, dentre os quais

Carlos Drummond de Andrade. Como ela mesma diz:

Moça feita, li Drummond a primeira vez em prosa. Muitos anos mais tarde, Guimarães Rosa, Clarisse. Esta é a minha turma, pensei. Gostam do que eu gosto. Minha felicidade foi imensa. (Disponível em: <http://www.releituras.com/aprado_bio.asp>. Acesso em: 13 fev. 2001).

A poesia de Adélia Prado se volta constantemente para a

transcendência religiosa, mas esta se mescla ao mais prosaicamente humano

presente nas ações cotidianas e é nessa mescla que a poeta encontra sua

verdade poética, que está inserida no espaço de sua casa, família e da cidade

onde nasceu. Assim, a poesia adeliana, com seus versos e ritmos amplos,

ancorados em um tom confessional feminino, traz inovações para a lírica

brasileira contemporânea, “[...] residindo aí, paradoxalmente, um dos fatores de

seu sucesso” (SECCHIN, 1996, p. 110). Conforme Guimarães: (2006, p.19)

A lírica adeliana se alimenta do anseio em buscar uma expressividade, de como dizer a vida e a realidade em sua plenitude, incluindo as lembranças do vivido ou do sonhado pelo sujeito lírico. Desejo de ser plenamente, desejo que a linguagem em sua condição precária não consegue alcançar, mas insinua, refletindo o impasse entre a palavra e o mundo. Um eu poético que é múltiplo, mas que anseia ser uno. Busca a unidade pela sua temática memorialística, em que comparece a infância com as lembranças dos pais, dos espaços, dos objetos, dos parentes.

Ainda sobre Adélia Prado, Soares (1992, p. 4-9) faz a seguinte

afirmação:

Adélia Prado é uma escritora bastante singular no cenário literário brasileiro. [...], desde a publicação de seu primeiro livro (Bagagem, em 1976), apresentou-se publicamente como moradora de uma cidade do interior de Minas, de origem rural, que se propunha a traduzir em linguagem poética o dia-a-dia de sua realidade doméstica e provinciana.

Adélia Prado é conhecida por sua poesia singela, que realça os prazeres

e conflitos cotidianos da vida simples das pequenas cidades, aliada ao uso

coloquial da língua e à valorização dos elementos naturais. Em seus poemas,

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em geral, os versos são livres, sem ritmo acentuado, daí afirmar-se que a

poesia adeliana

[...] está marcada pela liberdade total de expressão retratada, especialmente, pelas cenas do dia-a-dia em que a vida humana familiar, social, profissional ou religiosa ressurge em meio à simplicidade e à profundidade do pensamento. O realce das cores e formas e o emprego de vocativos são frequentes, garantindo a proximidade da escrita com a oralidade. A vida, a angústia, o depauperamento, a humanização do divino ou a divinização do humano, os gestos dos membros da família, os pequenos acontecimentos sem importância ganham, na linguagem transparente de Adélia Prado, foros de universalidade. Há, por conseguinte, o resgate do conceito de experiência ligada à comunhão e aos relacionamentos humanos tecidos nos atos cotidianos apreendidos dos pequenos gestos e das situações particulares. (Disponível em: <www.rubedo.psc.br|Artigos|©ÉricaAntunes>. Acesso em: 25 maio 2011).

Carlos Drummond de Andrade e Adélia Prado possuem em comum a

arte de poetar. Devido a isso, conforme estabelecido nos objetivos, o proposto

no presente projeto é analisar poemas de Carlos Drummond de Andrade e de

Adélia Prado, para que, através dessa análise, o educando possa perceber o

leque de conhecimentos que podem se abrir através da lírica, descobrindo

ainda que a poesia é capaz de conter muitos segredos do homem e que, para

decifrá-los, basta o homem pesquisar os elementos que construíram esse

conjunto.

1.2 O gauche e a porta-bandeira: análise de “Poema das Sete Faces” e “Com

Licença Poética”

Adélia Prado, no poema “Com Licença Poética”, que abre seu primeiro

livro, Bagagem (1976), pede licença – de forma reverente, com admiração e

respeito – a Carlos Drummond de Andrade para adentrar ao mundo da lírica.

Nesse poema ela dialoga explicitamente com “Poema de Sete Faces”, que

abre o primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade, intitulado Alguma

Poesia (1930).

Drummond, no “Poema de Sete Faces”, dialoga com uma vasta tradição

lírica de desencantos e de desajustes que remete à lírica romântica, cujos

maiores referenciais são: Lorde Byron poeta inglês – Charles Baudelaire

poeta francês, Goethe escritor alemão pré-romântico – Álvares de Azevedo

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poeta romântico brasileiro, mas, especialmente com Cruz e Souza. Embora a

forma seja modernista, a tradição do desajuste e do desencanto tem uma larga

tradição lírica.

Essa tradição drummondiana remete à história masculina, ou seja, ao

universo literário e intelectual tradicionalmente masculino. À mulher cabia o

universo da casa e da família e a condição de “apêndice” do marido, conforme

afirma Freyre (1977, p. 108):

Da mulher-esposa, quando vivo ou ativo o marido, não se queria ouvir a voz na sala, entre conversas de homem, a não ser pedindo vestido novo, cantando modinha, rezando pelos homens; quase nunca aconselhando ou sugerindo o que quer que fosse de menos doméstico, de menos gracioso, de menos gentil; quase nunca se metendo em assuntos de homem.

Portanto a história feminina e sua tradição intelectual não tinham, ainda,

uma larga tradição, como a masculina. É essa história ainda por fazer que leva

Adélia Prado, simultaneamente, a dialogar, reverenciar e se contrapor à

perspectiva drummondiana no poema “Com Licença Poética”. O anjo da

guarda do eu-lírico no poema drummondiano é torto e sombrio, remetendo à

tradição de desencanto supracitada: “Quando nasci, um anjo torto / desses que

vivem na sombra” “Poema das Sete Faces” (p. 4). Como o eu-lírico adeliano

ainda tem que abrir caminho, seu anjo, ao contrário, não tem tradição de

desajuste e de desencanto, mas tem disposição para incentivá-la a abrir uma

trilha no mundo das letras e a ter coragem de, como uma porta-bandeira, ir à

frente abrindo possibilidades para que outras mulheres também adentrassem e

não só no mundo da lírica. Adélia Prado quer mostrar que, por ser mulher,

ainda precisa abrir caminho e que essa jornada será um pesado fardo.

Entretanto, isso não impede que ela carregue bandeira e abra caminhos

para uma nova história. Bandeira, no poema de Adélia Prado, tem o significado

que remete aos bandeirantes: “Os bandeirantes foram, praticamente, os

desbravadores do Brasil” (Disponível em: <portalsaofranciscocom://www

m.br/alfa/bandeirantes/bandeirantes-1.php>. Acesso em: 26 maio 2011).

Bandeira é, também, um pano fixado em um mastro que simboliza um país, um

estado, uma agremiação etc., e, em atividades festivas é carregado à frente

dos desfiles. Adélia não quer apenas ir à frente, e conquistar caminhos, ela

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quer também tomar posse e ampliar os limites das possibilidades femininas,

como uma bandeirante a fundar uma nova tradição:

As bases sobre as quais essa poética procura se edificar são, conforme enuncia o poema, a ótica do feminino, contraponto num mundo literário salvaguardado pela predominância do masculino, e a proclamação da “vontade da alegria”, em oposição à ideia do poeta gauche (coxo) de Drummond. (SOARES, 1992, p. 55).

Entretanto, se a tradição masculina no poema drummondiano é de

desencanto, a incipiente entrada do eu-lírico adeliano no mudo da poesia se dá

através do entusiasmo, da alegria do otimismo. O Anjo de Adélia Prado não

vive mais na sombra, como o de Drummond, mas, ao contrário, vai à frente da

legião, tocando trombeta, anunciando que Adélia abrirá caminhos.

Os caminhos abertos por Adélia Prado serão prosaicos, comuns,

originados no cotidiano, na preocupação com o casamento: “Não sou tão feia

que não possa casar/ creio em parto sem dor” (p.19).

Adélia Prado continua retratando, através de sua lírica, que não deixa de

ser uma “nova mulher”, que tem consciência de que – conforme o décimo

segundo verso – irá inaugurar uma nova linhagem e fundar outros reinos,

linhagem e reino esses que a mulher dominará e nos quais terá um papel de

destaque numa sociedade ainda tão desigual. E a semente está sendo

plantada através de sua poesia, da qual resultará uma literatura feminina e

amadurecida. Esse desejo a remete ao seu mil avô, pois, segundo ela, a

alegria e a vontade da mulher de ser livre, de ter participação na sociedade

carregando bandeira, sem com isso perder a essência de ser feminina, vem de

muito tempo

Se em Drummond há um desconforto institucionalizado e histórico, em

Adélia Prado há um desdobramento das várias possibilidades femininas.

Segundo Soares (1992, p. 56), “Drummond abarca os signos negativos

"coxo", "maldição" que se associam a "homem", enquanto o paradigma do

perfil adeliano assume os signos positivos, “esbelto", "trombeta”, “desdobrável"

associados à mulher”.

Ao finalizar o poema, o eu-lírico drummondiano ri da tradição masculina

e do seu anjo gauche, com o qual ele abriu seu poema dizendo: “Eu não devia

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te dizer/ mas essa lua/ esse conhaque/ botam a gente comovido com o diabo”

(p. 4).

Diferentemente, a lírica de Adélia Prado se contrapõe à de Drummond

ao afirmar que ela é capaz de tomar para si várias funções sem perder a

essência de ser feminina, de ser mulher, que “ser coxo” é maldição para o

homem, pois mulher é desdobrável, e ela, por ser mulher, o é.

1.3 Propostas de atividades

Na apresentação do projeto para os alunos é necessário que sejam

estabelecidos quais são os objetivos que se pretende alcançar e os meios que

serão utilizados para se obter êxito no desenvolvimento das atividades

pedagógicas propostas.

Antes de iniciar esse trabalho, é importante que tanto os professores

quanto os alunos tenham bem claro o que é lírica – forma de um poema – e

que há, ainda, a prosa poética, existindo também poemas que, muitas vezes,

resvalam na narrativa.

Será solicitado com antecedência que os alunos pesquisem e tragam

para a sala de aula os poemas “Com Licença Poética”, de Adélia Prado, e

“Poema das Sete Faces”, de Carlos Drummond de Andrade, e também façam

uma pesquisa biográfica sobre os poetas e sobre os poemas, para

apresentarem essas informações aos colegas e professores.

Com poemas disponíveis e pesquisa realizada pelos alunos, solicitar que

eles leiam silenciosamente os poemas supracitados. Após a leitura silenciosa

realizada, o professor fará a leitura para eles, atentando para a entonação

visando destacar os efeitos rítmicos e sonoros dos poemas a fim de que os

alunos percebam a beleza presente na organização das palavras. Durante a

leitura deve-se procurar suscitar reflexões sobre o conteúdo da poesia,

buscando fazer com que o aluno entenda o que está sendo lido e analisado.

Após a leitura realizada, pode-se também utilizar o recurso de

multimídia, Data Show, para apresentar os mesmos poemas, sendo que o

poema drummondiano pode ser apresentado na voz Paulo Autran, disponível

em <http://www.youtube.com/watch?v=G4fYFpHXF6g>,ou também cantado

pela banda Skank disponível em <

http://www.youtube.com/watch?v=imR24OrgvMo > e quanto a Adélia Prado o

professor poderá fazer a leitura do poema dando ênfase à leitura procurando

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com isso fazer que o aluno sinta a diferença no modo de ler um poema e um

outro texto. Antes de iniciar as atividades referentes aos poemas como

sugestão pode-se disponibilizar para os alunos uma fala de Adélia Prado

disponível em < http://www.youtube.com/watch?v=sisSlTXY6bM> na qual ela

fala sobre poesia com o intuito de os alunos perceberem diferentes emoções,

de quem lê e de quem faz poesia. Os vídeos foram acessados em 16 de maio

de 2011.

1.4 Análise reflexiva

Após as atividades supracitadas, far-se-á a análise dos dois poemas

dando ênfase às contraposições, com vistas a levar o aluno a refletir sobre

como Drummond sente o mundo da poesia e como Adélia Prado o sente.

Uma vez feita a análise, cabe buscar em fatos históricos a justificativa

que levou Carlos Drummond de Andrade a escrever “Poema das Sete Faces” e

Adélia Prado escrever “Com Licença Poética”, procurando deixar claro para o

aluno como os acontecimentos sociais influenciam a construção do

pensamento e como ele pode se tornar lírico.

Solicitar que os alunos pesquisem e respondam aos questionamentos abaixo:

1 Em que contexto social nasceram Carlos Drummond de Andrade e

Adélia Prado?

2 Qual era o comportamento da sociedade no início do século XX,

quando nasceu Drummond em relação ao homem e à mulher, e qual

era essa condição na década de 1930, quando nasceu Adélia Prado?

3 Adélia Prado vivia em uma sociedade que estava em luta pela busca

da igualdade social entre homens e mulheres. Transcreva, do poema

analisado, seus versos que comprovam essa afirmativa.

4 Transcreva os versos de Drummond e Adélia Prado nos quais é

possível fazer um paralelo entre a perspectiva masculina e a feminina

em relação à vida e às crises existenciais.

1.5 Produção textual

Dividir a turma em dois grupos: Grupo A e Grupo B.

Os alunos do Grupo A deverão encontrar uma pessoa em seu

bairro, rua, etc., do sexo masculino, acima de 65 anos de idade,

que se disponha em ir até o colégio para ser entrevistada com

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questões previamente elaboradas e supervisionadas pelo/a

professor/a sobre como foram a infância e a juventude do

entrevistado, quais mudanças ele testemunhou em relação à

forma de vida, processo de produção agrícola, etc. Serão, ainda,

feitas perguntas sobre a vida pessoal, afetiva, criação dos filhos,

educação, relacionamento do casal. O Grupo B fará o mesmo

procedimento, porém com alguém do sexo feminino na mesma

faixa etária.

Após a entrevista, os alunos farão uma pesquisa sobre as

características da sociedade patriarcal, sendo a do Grupo A

relacionada ao homem e a do Grupo B relacionada à mulher.

Essa pesquisa deverá ser apresentada ao grande grupo em forma

de tópicos e com slides.

Em seguida, o/a professor/a, conduzirá o grupo para uma

discussão, direcionando o debate para a sociedade atual. Depois

da discussão e das conclusões por parte dos alunos, eles deverão

formar duplas que farão um relatório sobre todas as atividades

propostas e, no final, cada dupla deverá produzir um texto cujo

título será: “A educação familiar e o contexto social na formação do

homem".

Módulo 2

2.1 Desenvolvimento teórico-disciplinar

No início do século XX, quando nasceu Carlos Drummond de Andrade, o

Brasil ainda era um país eminentemente rural, dominado pelas fazendas e por

cidadezinhas provincianas, nas quais o progresso ainda não havia chegado,

tornando-as monótonas se comparadas aos grandes centros urbanos, onde o

automóvel e a eletricidade causavam espanto e admiração. Drummond

sintetiza esse ambiente bucólico no poema "Cidadezinha Qualquer".

2.2 Tédio e nostalgia: uma leitura de “Cidadezinha Qualquer” e de “Bucólica Nostálgica"

O poema “Cidadezinha Qualquer” é breve e coloquial e remete ao

arcaico universo interiorano ao qual o eu-lírico drummondiano se reporta

dizendo que, nessas pequenas cidades, há um profundo sentimento de

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monotonia, visto que nada acontece de diferente que possa tirá-la do marasmo.

Ali é como se o tempo estivesse parado. Essa cidadezinha pode estar

representando qualquer pequena cidade do interior e, ao descrever essa

sensação de tédio, o eu-lírico cria imagens absolutamente cotidianas, comuns

às pequenas cidades no início do século XX, como: pomar, burro, casas entre

bananeiras e mulheres entre laranjeiras, revelando tédio e monotonia

reiterados pelo advérbio devagar, porque a percepção lírica drummondiana

assim a vê. O verso “Eta vida besta, meu Deus”, que fecha o poema, sintetiza

essa sensação, fechando magistralmente o poema.

Já a lírica feminina de Adélia Prado no poema “Bucólica Nostálgica” se

atém a uma simples choupana no campo, cujo cenário é tão bucólico quanto o

do poema de Drummond, mas muito mais solitária e isolada. Entretanto, a

perspectiva do eu-lírico adeliano é de encantamento face à singeleza da vida.

O cenário é absolutamente singelo, emoldurado pelas bananeiras e

pelas ervas comuns às casas de roça. Entretanto, a casa parece dourada pelo

sol do entardecer, mas também pela nostálgica e imemorial saudade do eu-

lírico, que a descreve como a um quadro composto de palavras como saudade

e nostalgia, conforme prenuncia o título.

O poema, de forma sintética, capta como em um flash – dada a sua

brevidade – o entardecer naquela cabana e as ações cotidianas dos

moradores, que, após um exaustivo dia de trabalho braçal, comem com a fome

“honesta” de quem “ganhou o pão com o suor do rosto”. Todas as ações, como

o hábito de comer rápido – dada a fome – em qualquer lugar, com o prato na

mão, como era – e pode ser que ainda seja – comum no interior, não

desmerecem o homem do campo, mas, ao contrário, envolvem-no em uma

aura de encantamento nostálgico, que remete a uma saudade imemorial do eu-

lírico em relação à singeleza daquela vida da qual ele já se sente distanciado.

A comida tipicamente brasileira ganha certo exotismo pela alusão às

verduras comuns em Minas Gerais, como a taioba3 ou o ora-pro-nóbis4, que

ajudam a compor esse cenário de singelo encantamento.

3 Taioba, segundo o site <http://www.infoescola.com/plantas/taioba/>, acessado em 9 de julho de 2011 é uma planta cujo nome científico é Xanthosoma sagittifolium (L.). Trata-se de uma monocotiledônea herbácea, tropical, perene, rizomatosa, que pode atingir até dois metros de altura. Possui como características grandes folhas cordiformes encontradas em tons de verde e roxo escuro, com enormes limbos cerosos e carnosos e com nervuras marcantes.

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Entretanto, os últimos versos do poema transcendem a essa descrição

meramente nostálgica e levam o leitor a refletir sobre quais são as reais

necessidades humanas, visto que o poema termina da seguinte forma: “Depois

do café na canequinha e pito./ O que um homem precisa pra falar, / entre a

enxada e o sono: Louvado seja Deus” (p. 50). Ou seja, a comida

absolutamente singela sacia, como qualquer outra, e é, ainda, acrescida do

prazer do café e do cigarro, mas o principal é que as necessidades básicas

humanas podem ser satisfeitas, apenas, pela comida, pelo trabalho e pelo

descanso, se seu espírito for sustentado pela fé. Tudo o mais é supérfluo

quando se pode encerrar um dia agradecendo ao criador da forma mais singela

possível: “Louvado seja Deus!”. Esta é a mais singela e sincera prece do

homem agradecendo ao Criador pela comida, pelo trabalho, pelo descanso,

enfim, pela vida.

Enquanto Drummond vê, apenas, melancolia em “Cidadezinha

Qualquer”, Adélia Prado vê encanto, saudades, singeleza e fé em “Bucólica

Nostálgica”

2.2 Atividades didáticas propostas:

Distribuir entre os alunos – previamente impressos –, os poemas

“Cidadezinha Qualquer” e “Bucólica Nostálgica” para que eles

leiam silenciosamente. Após essa leitura, o professor fará a leitura

dos poemas oralmente, dando ênfase à entonação.

Após a leitura, comentar sobre as possíveis palavras que não

fazem parte do conjunto vocabular do aluno e comentar sobre o

tema dos poemas procurando descobrir, sem auxílio do

dicionário, os significados dessas palavras e a importância

daquelas palavras para a beleza e a construção do poema.

3- Na sequência, o professor fará novamente a leitura dos poemas

fazendo concomitantemente a apresentação da análise dos referidos poemas.

4 Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), segundo Silveira Georgeton, em Jornal Estado de Minas, 18 de agosto de 2008, disponível no site <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ora-pro-nobis>, tem nome proveniente do latim e significa "rogai por nós". Trata-se de uma cactácea, um cacto trepadeira com folhas. Tem espinhos e pode ser usada em cercas-vivas, desenvolvendo bem tanto na sombra como no sol

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4- Perguntar aos alunos se eles conseguem estabelecer alguma relação

entre os poemas e o contexto no qual eles vivem e como eles veem sua

cidade, vila, ou casa na roça.

5- Dividir a classe em dois grupos: Grupo A e Grupo B. Solicitar ao

Grupo A uma pesquisa histórica de Palotina e aos do Grupo B um

levantamento junto aos moradores da cidade de Palotina, procurando saber: se

gostam, por que gostam, e, se não gostam, por que não gostam da cidade

onde residem...

6- Os alunos que fizeram o levantamento histórico da cidade deverão

montar slides sobre os locais que eles mais gostam da cidade e que eles

acham menos interessantes para serem mostrados aos demais alunos,

juntamente com o texto explicativo. O grupo que fará as entrevistas

apresentará as respostas dadas pelos moradores entrevistados para os

colegas e, em seguida, será promovido um debate entre os alunos sobre os

apontamentos favoráveis e desfavoráveis em relação à cidade, com o objetivo

de expressarem suas concordâncias ou não em relação à pesquisa.

2.3 Produção textual

Dividir os alunos em grupos. Cada grupo deverá ser formado por três

alunos, no máximo e solicitar que os grupos produzam um texto cujo título será:

“A cidade onde moro”

Módulo 3

3.1 Desenvolvimento teórico-disciplinar

Este módulo se desenvolverá em torno do tema "Entre o medo e o

amor" e terão como objeto de análise os poemas “O Beijo” e “Figurativa”.

Objetiva-se explicar a complexa relação familiar que existiu no Brasil no século

XIX e início do século XX e como a formação familiar influencia na formação do

pensamento humano e, muitas vezes, direciona até mesmo suas ações.

A família representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou um número de grupos domésticos ligados por descendência (demonstrada ou estipulada) a partir de um ancestral comum, matrimônio. Nesse sentido, o termo confunde-se com clã. Dentro de uma família existe sempre

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algum grau de parentesco. Membros de uma família costumam compartilhar do mesmo sobrenome, herdado dos ascendentes diretos. A família é unida por múltiplos laços capazes de manter os membros moralmente, materialmente e reciprocamente durante uma vida e durante as gerações. (MINUCHIN, 1990. p. 25).

A formação da família do século XX no Brasil foi fortemente marcada

pela estrutura da família patriarcal, família essa que imperou no Brasil desde a

chegada dos primeiros portugueses no século XVI até os meados do século

XIX, sendo que então uma nova família começa a formar-se, influenciada pelo

desenvolvimento econômico de alguns centros urbanos.

3.2 Entre o amor e o medo análise dos poemas “O Beijo” e “Figurativa”

A rigidez com que o patriarca se impunha sobre as pessoas que

estavam sob sua tutela criou hábitos e costumes que ficaram fortemente

impregnados no seio da família patriarcal. É sob esse prisma que será

analisado o poema “O Beijo”, de Drummond, no qual o pai é visto como a

autoridade máxima dentro da família, e é em relação a essa autoridade,

rememorada pela memória de infância do eu-lírico drummondiano, e traduzida

através desse poema, que se vai compreender o temor que os filhos nutriam

pelo patriarca.

Em contraposição ao poema “O Beijo”, será analisado o poema

“Figurativa”, de Adélia Prado, poema no qual o eu-lírico se atém a uma relação

familiar diferente daquela presente no eu-poético de “O Beijo”, devido à relação

de amor existente na família expressa pelo eu-lírico de “Figurativa”, de forma a

demonstrar a aproximação entre pais e filhos e não o distanciamento, como no

poema “O Beijo”, de Carlos Drummond de Andrade.

O poema “O Beijo”, de Drummond, retrata o costume, que ainda estava

fortemente arraigado nas famílias brasileiras do início do século XX, de se

tomar a bênção paterna, ato exteriorizado através da ação de beijar a mão do

pai e da mãe e de pedir a bênção. Esse gesto demonstrava toda a submissão

do filho em relação ao pai e, em menor grau, à mãe, deixando claro o poder

que eles – principalmente o pai – exerciam sobre o filho. O jovem então,

educado segundo as normas rígidas da família patriarcal, conhece o primeiro

mandamento inscrito nas tábuas da lei da família mineira: “Mandamento: beijar

/ a mão divino-humana / que empunha a rédea universal / e determina o futuro.

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/ Se não beijar, o dia / não há de ser o dia prometido, / a festa multimaginada, /

mas a queda – tibum – no precipício / de jacarés e crimes / que espreita, goela

escancarada...” (p. 509).

Esse era o destino, segundo a crença, dos filhos que ousassem não

beijar a mão dos pais – escorpiões, serpentes, jacarés – a empurrá-los no

precipício.

Pedir a bênção paterna era ritual a ser feito também antes de ir para a

cama, à noite. Esse beijo era demonstração de amor, de respeito, uma espécie

de “terror/amor”, que, ao mesmo tempo, lembrava ao filho a distância a ser

mantida entre ele e o patriarca. Quando esse beijo não acontecia, como no

caso de Nô – um exemplo a não ser seguido – no poema “O Beijo”, seu pai,

sem nenhuma demonstração de pena, dá um tapa na boca de Nô, como um

beijo às avessas, isto é, a punição face à falta de respeito e falta de reverência,

conforme os versos: “Olha o caso do Nô / cresce demais, vira estudante/ de

altas letras, no Rio e de outras normas./ Volta, não beija o pai/ na mão. A mão

procura /a boca, dá-lhe um tapa,/ maneira dura de beijar”, (p. 509). Nô, ao sair

para estudar em um centro maior, tem um novo comportamento, que parece ao

pai uma afronta à sua autoridade, porque:

O domínio do pai sobre o filho menor – e mesmo maior – fora, no Brasil patriarcal, aos seus limites ortodoxos: ao direito de matar. O patriarca tornara-se absoluto na administração da justiça de família, repetindo alguns pais, à sombra dos cajueiros de engenho, os gestos mais duros do patriarcalismo clássico: matar e mandar matar, não só os negros como os meninos e as moças brancas, seus filhos. (FREYRE, 2000, p. 99).

Enquanto o eu-lírico de Drummond retrata a mágoa de Nô, devido aos

costumes severos, oriundos de uma sociedade já decadente, o eu-lírico de

Adélia Prado, no poema “Figurativa”, descreve um relacionamento familiar mais

moderno, mais aberto, divertido. Essa forma natural de aproximação entre pais

e filhos pode ser percebida já nos três primeiros versos, quando o eu-lírico

adeliano escreve “... O pai cavando o chão mostrou pra nós /com o olho da

enxada, o bicho bobo/ a cobra de duas cabeças”, seguindo ainda, no verso

quatro, “Saía dele o cheiro de óleo e graxa...” (p. 136).

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A partir dos versos supracitados se evidencia a harmonia natural entre

os membros da família – com destaque para a ternura do pai – que, naquele

final de tarde, entre o anoitecer e o jantar, que faz das ações mais corriqueiras,

como o cavar a terra – pelo pai – seja um momento de encantamento que se

tornará perene na memória da menina, como uma espécie de epifania – no

sentido de revelação – de que os laços afetivos entre pais e filhos não

precisam ser demonstrados com rasgados gestos de amor, ou de

demonstração de subserviência, como no poema “O beijo”, mas que subjazem

às ações mais corriqueiras, que se convertem em uma memória perene: fonte

de amor e de harmonia a ser rememorada com ternura ao longo da vida.

Também a mãe, tocada por aquele momento de interação, tão

corriqueiro quanto o verdadeiro amor familiar, manda a filha à casa da avó

buscar polvilho para fritar uns biscoitos, através dos quais ela manifestará a

ternura da qual, assim como o pai, está tomada e que permeia toda a família.

Ou seja, aqueles momentos serão tão singelos, após um jantar com sua

simplicidade – angu, mostarda e a comida apimentada – converte-se em uma

autêntica comunhão que se manifesta na ternura do pai e da mãe e que fica

gravada de forma indelével na memória do eu-lírico, conforme demonstram os

últimos versos do poema: “... a menina embaraçada/ com a opressão da

alegria, o coração doendo, / como se fosse triste" (p. 136).

Em “Figurativa”, as relações estão sendo vividas sob um novo prisma,

ainda respeitoso, porém há o ar da liberdade e da afetividade demonstrada

sem medo.

Há que se destacar que o poema de Drummond remete à agonia da

família patriarcal, ainda muito presa aos valores do passado, mas já combalida

pelos novos valores urbanos que já se abeiram das casas patriarcais. Esses

novos valores, à revelia do patriarca, ao longo do final do século XIX e

primeiras décadas do século XX, mudarão em definitivo as relações entre pais,

filhos e a sociedade em geral e, nessa nova ordem, a figura do patriarca, com

seu poder efetivo, declinará categoricamente. No poema de Adélia Prado, a

família é pobre, mas há, ainda, uma relação muito respeitosa dos filhos e as

manifestações de amor são veladas, entretanto, a ternura está de tal forma

mesclada às ações mais cotidianas que chega a ser dolorido para a menina a

constatação de tamanha consciência do amor.

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3.3. Atividades didáticas propostas

1- Exibir para os alunos os poemas “O Beijo”, de Carlos Drummond de

Andrade, e “Figurativa”, de Adélia Prado, em slides e ler para os alunos

propondo uma discussão e análise sobre ambos

2- Propor aos alunos que comparem as relações familiares do poema “O

Beijo”, “Figurativa” e a família atual.

3.4 Produção textual

Parodiar os poemas “O Beijo”, de Carlos Drummond Andrade, e

“Figurativa”, de Adélia Prado, trazendo-os para os dias atuais.

Apresentação das paródias para a classe.

Confecção de um painel com as paródias

Módulo 4

4.1 Desenvolvimento teórico-disciplinar

Com frequência a condição e os papéis sociais femininos são objeto de

discussões e de estudo. Alguns desses papéis, como o de cuidar da casa, dos

filhos e do marido são imemoriais, outros são mais contemporâneos, e, em certa

mediada, deveu-se ao empenho da mulher, associado às mudanças sociais em

participar, de fato, do processo produtivo para além do espaço doméstico. Tais

mudanças ocorrerem de forma acentuada ao longo do século XX, mas, nas

primeiras décadas do século passado estas ainda estavam em processo, pois:

[...] o destino que a sociedade propõe tradicionalmente à mulher é o casamento. Em sua maioria, ainda hoje, as mulheres são casadas ou foram, ou se preparam para sê-lo, ou sofrem por não ser. É em relação ao casamento que se define a celibatária, sinta-se ela frustrada, revoltada ou mesmo indiferente ante essa instituição. (BEAUVOIR, 1960, p.141-142).

Devido a essa imposição social, parece que existe certa demonstração de

frustração se o casamento não acontecer, porque parece que a mulher só se

sentirá plenamente realizada através do casamento. Martha Medeiros, em seu

blog, faz o seguinte comentário:

Olhem bem para aquela garota sentada num bar, moderníssima. Ela quer casar. Mire nos olhos da balconista

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que acabou de atender você. Também quer. A aeromoça idem. Sua prima não vê a hora. Sim, elas são independentes, viajam, levam camisinha na bolsa, vão ao teatro e leem Camille Paglia. Mas querem casar. (MEDEIROS, Martha Disponível em: <http://concurseiras umpouconervosas.blogspot.com/2011/04/ mulher-solteira.html>. Acesso em: 1º jun. 2011).

Ou seja, se ainda hoje o casamento tem tal importância – a despeito das

grandes mudanças sociais e financeiras femininas –, imagine-se, então, como

era trágica a condição social da mulher que não se casava até o final do século

XIX e início do XX, período ao qual Carlos Drummond de Andrade se reporta

em sua poesia memorialista e que Gilberto Freyre descreve em Sobrados e

Mucambos com propriedade.

Nos sobrados, a maior vítima do patriarcalismo em declínio foi talvez a solteirona. Abusada não só pelos homens, como pelas mulheres casadas. Era ela quem nos dias comuns como nos de festa ficava em casa o tempo todo, meio governante, meio parente pobre, tomando conta dos meninos, botando sentido nas escravas, cosendo, cerzindo meia, enquanto as casadas e as moças casadouras iam ao teatro e à igreja. [...] Era ela também quem mais cuidava dos santos. Sua situação de dependência econômica absoluta fazia dela a criatura mais obediente da casa. Obedecendo até aos meninos e hesitando em dar ordens mais severas às mucamas. (FREYRE, 1977, p.126/127).

O tema da solteirona no final do século XIX e início do XX é recorrente

na poesia memorialista de Drummond. Conforme Fortes (1994, p. 65)

Carlos Drummond de Andrade tem vários poemas cujo tema é a melancólica condição da solteirona, que era tratada como pária, como indivíduo de segunda categoria”. O patriarcalismo, violentamente repressor em relação à mulher, enclausurava-a nos sobrados e, se a moça não casasse, perdia a possibilidade de cumprir o papel de mãe, esposa e dona de casa, única maneira de se integrar à sociedade, já que os demais papéis sociais e econômicos eram atributos masculinos.

Adélia Prado, no poema “Endecha das Três Irmãs” (p. 61), também se

ateve à condição da solteirona. Embora o olhar adeliano sempre se volte para

a mulher da segunda metade do século XX, portanto, época bem posterior ao

tempo rememorado por Carlos Drummond de Andrade em Boitempo e em

Menino Antigo, percebe-se que o destino da solteirona preserva certa

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melancolia que remete à mulher patriarcal e semipatriarcal rememorada por

Drummond. Esse poema será analisado paralelamente ao poema “Sina” (p.

608), de Drummond.

4.2 Análise dos poemas “Sina” e “Endecha das Três Irmãs”

Tanto em “Sina” quanto em “Endecha das três irmãs” a temática é a

mesma: melancólica condição da mulher que envelheceu sem se casar.

Entretanto, como “Sina” (p. 608) faz parte da obra memorialista, ele se volta

para a condição feminina no início do século XX, enquanto “Endecha das Três

Irmãs” se situa em um tempo impreciso da segunda metade do século XX,

mas, em ambos, não se casar reveste as solteironas de uma profunda

melancolia. Os três primeiros versos de “Sina”, quais sejam, “Nesta mínima

cidade/ os moços são disputados/ para ofício de marido” (p. 608), assim são

analisados por (FORTES,1994, p. 68).

No primeiro verso, a mínima cidade, é o primeiro indício da falta de perspectiva do meio social para a mulher; encontrar um homem que lhe garanta uma família e a condição de casada é a única possibilidade para as mulheres. Essa condição coloca as moças completamente à mercê dos rapazes disponíveis na cidade, já que eles são muito disputados para ofício de marido por uma, duas, vinte noivas.

Ou seja, é fundamental que as moças em idade de casar consigam um

marido e, como muitos moços deixam a cidade, “maridos de-vai-com-o-vento”,

cada possível pretendente é um marido potencial para várias moças, por isso

“Não há rapaz que não tenha/ uma duas vinte noivas (p. 608) O eu-lírico

drummondiano retrata a inferioridade feminina em relação ao homem, pois a

este dá-se a liberdade da escolha, conforme o interesse que melhor lhe

aprouver. Essa dependência, prenunciada pelo título do poema “Sina” (p. 608),

é a fatalidade da condição feminina, a de depender de que um homem a

escolha para esposa, do contrário, a mulher estará fadada a uma espécie de

“morte social”. Essa dependência faz com que as moças, ao mesmo tempo em

que bordam o enxoval, sonhem com um marido, esperança de realização

social e único caminho para a realização sexual e afetiva. Quando o sonho

bordado, fantasiado, do casamento não se concretiza, condenando as

preteridas à trágica condição de solteironas, as moças fenecem e murcham,

assim como seus sonhos não realizados.

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O tempo vai passando e o noivo não aparece, foi-se com o vento,

condenando a pretendente à solidão, acrescida do estigma de “pária social”. A

respeito dos versos “[...] as moças, murchando o luar,/ já traçam, de mãos

paradas,/ sobre roxas almofadas,/ hirtas grades de convento” (p. 608). A partir

desses versos, Fortes (1994, p. 68) conclui que:

[...] as esperanças tênues [...] vão se esmaecendo pela espera e pelos desenganos. [...] agora velhas, completamente sem perspectivas, parecem zumbis à espera do próprio funeral. As mãos estão paradas, as almofadas são roxas como paramentos ou mortalhas e as janelas são grades de conventos, advindas da certeza que elas estão, até a morte, emparedadas na sua condição social de solteironas.

Assim como em “Sina”, ficar solteira é uma fatalidade que implica um

melancólico destino, também no poema “Endecha das Três Irmãs”, o eu-lírico

adeliano remete à mesma melancolia resultante da condição de solteirona

presente no poema de Drummond, embora com algumas alterações.

Em “Endecha das Três Irmãs” o título já prenuncia um fúnebre e

melancólico e é exatamente esse o tom que permeia todo o poema. Essa

tristeza advém da condição de três mulheres já maduras, que já perderam o pai

e a mãe e cuja história, por não terem se casado, se torna tão trágica e

melancólica quanto àquela da mulher no poema “Sina”.

No poema, três tristes tipos femininos são representados, cada qual com

suas manias, costumes e, principalmente, de acordo com a moral social da

época e o diálogo que se estabelece entre elas, “aprisionadas” pela trágica

condição social de serem solteiras e sozinhas no mundo – ainda preso a um

modelo arcaico de família, no qual toda moça deve estar sob a proteção dos

pais e, depois de casadas do marido – e sufocadas pela atmosfera da chuva

que se anuncia o poema, com muita sensibilidade, é, de fato, um melancólico

lamento.

As mulheres levam consigo a sina de serem órfãs: “Nosso pai morreu,

diz a primeira,/ nossa mãe morreu, diz a segunda,/ somos três órfãs” (p. 61).

Embora cada uma delas fale de um sentimento e de um mal-estar diferente, o

tema gira em torno do casamento, pois:

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[...] sobre a solteirona pairava o estigma do fracasso, por não ter cumprido com a sina de toda mulher, dando vazão ao curso “natural” da feminilidade, ou seja, casar, ter filhos e devotar-se a eles e ao marido. Se as mulheres casadas e as mocinhas em idade de casar, conforme Freyre (2000) sofriam demasiadamente por causa das limitações e privações impingidas pela especialização dos gêneros, pelos papéis que a elas era imposto, mais sofredora e explorada ainda era a solteirona. (BRUN, 2008, p. 77)

Oprimidas pela melancólica condição de “moças velhas e sozinhas no

mundo”, as três irmãs canalizam suas neuroses da seguinte forma: a mais

nova para as doenças “tenho um abafamento aqui,/ e pôs a mão no peito”; (p.

61), a do meio para a culinária “sei fazer umas rosquinhas” (p. 61) e a mais

velha para a certeza de que seu tempo passou, ou seja, suas esperanças

mínguam na mesma proporção em que a idade avança “faço quarenta anos

já” (p. 61).

A vacuidade da vida é reiterada pelo lamento, pelas neuroses, mas

também pela necessidade de preencher o tempo emprestando sentido às mais

banais ações cotidianas, como recolher a roupa no quintal, indagar sobre o

tempo e chamar a atenção para as plantas. O que há de dissonante em relação

ao poema “Sina” de Drummond, é a gravidez da irmã do meio que, apesar de

não ser casada, está grávida, portanto não está fadada à virgindade.

Entretanto, isso não minora seu sentimento de solidão, muito semelhante ao

das outras duas irmãs e à solteirona do poema “Sina”. Os dois últimos versos

desvelam a profunda empatia do eu-lírico pelo trágico destino das três irmãs:

“Quando a chuva caiu ninguém ouviu os três choros, / dentro da casa fechada”

(p. 61).

4.3 Propostas de atividades

1- Entregar aos alunos os poemas “Sina” e “Endecha das Três Irmãs” –

impressos – e solicitar que eles acompanhem a leitura que será efetuada,

buscando dar ênfase à entonação de maneira que os alunos sintam a voz

poética neles contida.

2- Após a leitura, procurar fazer com que os alunos comentem sobre a

impressão que lhes causaram os poemas

3- Analisar os poemas conforme indicado acima.

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4- Após a análise, perguntar aos alunos sobre a situação da “solteirona”

na sociedade atual, fazendo um paralelo entre a condição feminina nos dois

poemas e na sociedade atual, de acordo com a forma como eles percebem

essa situação no seu meio

5- Fazer uma pesquisa entre as moças solteiras – habitantes da cidade

– sobre: (i) O que elas pensam a respeito do casamento? (ii) Se há pretensão

por parte delas de se casarem? (iii) Qual seria a melhor idade, segundo elas,

para se casarem? Por quê? (iv) O que elas acham da ideia de permanecerem

solteiras?

4.4 Produção textual

Separar em grupos os alunos, com no máximo cinco participantes

em cada grupo. Solicitar que façam um apanhado de suas pesquisas

e produzam um relatório expressando a opinião do grupo sobre o

assunto.

Módulo 5

5.1 Desenvolvimento teórico-disciplinar

O objetivo deste módulo é comparar a forma como Carlos Drummond de

Andrade, no poema “Procura da Poesia” (p. 95), e Adélia Prado, no poema

“Antes do Nome” (p. 30), se atêm à temática metapoética. Para tanto é

necessário que o aluno tenha um conhecimento prévio do que vem a ser a

metapoética.

Metapoética (ou metapoema) é um tipo de poesia que se diferencia por

promover questões elementares sobre como fazer e para que serve a poesia,

levantando, segundo Chalhub, “[...] problemas teóricos ao ato de poetar,

suscitando a mais essencial pergunta, aquela que funda o ato criativo. O que é

(fazer a) poesia?” (CHALHUB, 1986, p. 60). O metapoema obriga o leitor ao

confronto com o fazer poético

[...] no metapoema o plano temático, do conteúdo, expressa o nível estrutural, o processo de construção da poesia. Significa dizer, de maneira simples, que o “o que” do metapoema é o “como”. Assim, procura-se refletir sobre esta especialidade da

metapoesia. (Macedo 1/Mello 2 Disponível em: <http://web

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03.unicentro.br/pet/pdf/09_lucas.pdf>. Acesso em: 4 jun. 2011).

Carlos Drummond de Andrade, em “Procura da Poesia”, Rosa do Povo,

(1945), e Adélia Prado em “Antes do Nome”, discutem o esforço que demanda

a composição poética, já que é necessário saber fazer o uso correto da relação

entre a forma, a linguagem e a temática a ser tratada em um poema. Fortes

(1994, p. 81) escreve: “Drummond revela essa grande preocupação formal em

vários poemas, dentre os quais no poema “Procura da Poesia”, no qual ele diz

que poesia é, antes de tudo, um trabalho estético esmerado em relação à

linguagem”.

5.2 O lirismo masculino e feminino na arte de poetar: análise dos poemas

“Procura da Poesia” e “Antes do Nome”

No poema “Procura da Poesia” (p. 95), Drummond se atém ao tema

metapoético sobre o processo de construção poética, assim como o faz Adélia

Prado em “Antes do Nome” (p. 30). Drummond enfatiza que, no processo de

criação literária, é fundamental que o poeta se detenha sobre as palavras,

visto que elas serão, sempre, a matéria-prima da poesia. Também Adélia Prado

quer a essência primordial das palavras, pois chegar a essa essência é, de

certa forma, entender a gênesis não só da criação da poesia e da literatura,

mas também da criação do mundo, visto que Deus, no início do livro Gênesis,

fala e o mundo se faz. Ou seja, nesse sentido simbólico e religioso, a palavra

seria anterior a toda a matéria: ela seria a essência e o princípio, assim como

Deus é também chamado de o Verbo: “Deus disse: 'Haja luz' e houve luz...”,

como se pode constatar no livro Gênesis, capítulo 1, versículo 2. Essa

remissão ao princípio criador da linguagem, cuja plenitude sempre nos escapa,

é que dá nome ao poema “Antes do Nome” (p. 30), isto é, a busca da essência

das palavras e sua relação primordial com o poder da criação para o poeta e

para o criador: Deus.

Por isso, nos dois poemas acima mencionados, pode-se perceber que o

conceito poético de ambos passa pela palavra, mas não aquela palavra

desgastada, enfadonha, e sim enquanto conceito de mundo, sendo que, nesse

sentido, Adélia Prado busca comparação na gênese da criação ao falar do

“caos”, “dos sítios escuros” (p. 30), que podemos perceber nos versos “Não me

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importa a palavra esta corriqueira/ Quero o esplêndido caos onde emerge a

sintaxe” (p. 30). Ela deixa clara a preocupação com o fazer poético, processo

no qual é necessário mergulhar no mais profundo do nosso âmago, porque é

dali, juntamente com o conhecimento da sintaxe, e que, associada à forma,

resultará naquilo que o homem tem de mais belo dentro de si, o poema. Pois,

como Deus, segundo a bíblia, que usou apenas palavras para construir o

mundo, o homem também poderá produzir a poesia capaz de conduzi-lo ao

êxtase. Para tanto, é preciso, porém, que o homem deixe brotar dentro de si o

desejo de tornar belo aquilo que muitas vezes se apresenta desprovido de

beleza, assim como Deus, que, do “caos”, da “escuridão”, com suas palavras,

transformou o cosmos, em um mundo maravilhoso, cheio de vida: “No princípio

era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no

princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele” (JOÃO, cap.1,

vers.1-3), ou “No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe

e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as

águas. Deus disse então: 'Faça-se a luz! ' E a luz foi feita. Deus viu que a luz

era boa, e separou a luz das trevas” (GÊNESIS, cap. 1, vers. 2 a 5).

Adélia Prado deixa transparecer que, como Deus deu origem ao mundo

com suas belezas, também do lirismo humano, pode brotar a poesia, que é a

expressão do mais profundo sentimento do homem em relação ao mundo com

o qual convive. Enquanto que o eu-poético drummondiano no poema “Procura

da Poesia”, recusa-se em aceitar uma poética que se valha da linguagem

jornalística, pelo fato de ela se referir a temas corriqueiros, ou a uma poética

conteudística, situada na expressão direta dos inúmeros aspectos da realidade.

Para ele, poesia é pesquisa, luta, busca do mistério das palavras, porque:

[...] as palavras se opõem aos homens como coisas a decifrar. A grande metáfora do livro que se abre, que se soletra e que se lê para conhecer a natureza, não é mais que o reverso visível de uma outra transferência, muito mais profunda, que constrange a linguagem a residir do lado do mundo, em meio às plantas, às ervas, às pedras e aos animais. (MERLEAU-PONTY, 1974, p. 51).

Drummond, já na primeira estrofe do poema ”Procura da Poesia” (p. 95),

recomenda que não se façam versos sobre fatos, como notícias de jornais, por

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exemplo, que costumam falar sobre morte e coisas tristes como também não é

para fazer poesia sobre coisas banais do dia a dia do homem, aniversários,

incidentes: “Não faças versos sobre acontecimentos/ Não há criação nem

morte perante a poesia/ Diante dela, a vida é um sol estático,/ não aquece nem

ilumina” (p. 95). As afinidades, os aniversários e os incidentes pessoais não

contam: “Não faças poesia com o corpo,/ esse excelente, completo e

confortável corpo, tão infenso à efusão lírica” (p. 95).

Drummond retrata a arte de fazer poesia na sétima e oitava estrofes,

desvelando que este processo implica penetrar surdamente no mundo das

palavras, quando manda contemplá-las de mais perto, pois:

As línguas estão com o mundo numa relação mais de analogia que de significação; [...] Há uma função simbólica na linguagem; mas, desde o desastre de Babel, não devemos mais buscá-la – senão em raras exceções – nas próprias palavras, mas antes na existência mesma da linguagem, na sua relação total com a totalidade do mundo, no entrecruzamento de seu espaço com os lugares e as figuras do cosmos. (MERLEAU-PONTY, 1974, p. 53-54).

Vilson de Oliveira escreve, em Ecos da Poesia de Adélia Prado

(Disponível em: <http://www.filologia.org.br/ixcnlf/11/09.htm>. Acesso em: 21

maio 2011), que tanto Adélia Prado quanto Drummond revelam a necessidade

de conhecimento do “reino das palavras” (p. 95). E ainda, segundo o autor o

desafio maior do poeta consiste em dar sentido especial às palavras,

demonstrando a maneira como ele vê o mundo e como ele estabelece um

contato e uma inter-relação com o mesmo mundo.

Em ambos os poemas acima analisados, o que mais importa é a

linguagem, é nesta que está o mundo poético a ser desvelado, mas para tal o

poeta tem que ser capaz de dar um novo viço à linguagem, pois é ao atribuir

um novo sentido às palavras que a beleza da literatura se desvela.

5.3 Atividades didáticas propostas

1- Preparar os alunos para a posterior apresentação da análise dos

poemas “Procura da Poesia” de Drummond e “Antes do Nome” de Adélia Prado

com a música “Palavra” de Caetano Veloso (Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=Eu4jS2bT4uk&feature=fvsr>. Acesso em: 5

jun. 2011. Após os alunos e o professor terem ouvido a música procurar tecer

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alguns comentários sobre a letra da música ouvida, e em seguida, apresentar

os poemas supracitados impressos. Solicitar que os alunos façam uma leitura

silenciosa. Após a leitura, o professor lerá os poemas dando entonação à

leitura, para que o aluno perceba a beleza do ritmo e compreenda a

metaforização das palavras que compõem os versos.

2- Discutir com os alunos os poemas e só então apresentar a análise

feita sobre eles.

3- Questionar os alunos, procurando saber se eles conhecem alguém

que escreve poemas ou letras de músicas, textos que também se aproximam

da lírica, só que está relacionada à composição melódica da música, o que não

se aplica, sempre, à composição poética.

5.4 Produção textual

Agora o aluno será o poeta. Solicitar que o aluno deixe fluir o poeta

que nele existe, solicitando que ele escolha um tema – aqui não

sugerir qualquer tema, deixar o aluno livre para a escolha – e, a partir

das “receitas” dadas por Drummond e por Adélia Prado nos poemas

estudados, produzir seu próprio poema.

6.Avaliação

A avaliação levará em conta a oralidade e a escrita apresentada pelos

alunos no decorrer do desenvolvimento das atividades, sendo que na oralidade

o aluno será avaliado pelo uso do discurso de acordo a situação de produção,

apresentação de argumentos com clareza, organização e sequencia da fala

respeitado os turnos desta.

Na escrita será observado a elaboração dos textos que atendam as

situações de produção propostas como interlocutor, finalidade, coesão e

coerência.

7.Encerramento do Projeto

1- Fazer um levantamento de todas as produções realizadas no decorrer

da aplicação do projeto e criar um jardim poético, em cujo canteiro principal

deverão estar imagens de Adélia Prado e de Carlos Drummond de Andrade

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com os poemas analisados e, em canteiros próximos, as produções dos

alunos.

2- Escolher, dentre as produções dos alunos, algumas para – no

encerramento do projeto – serem declamadas. Serão, ainda, declamados, por

alguns alunos, os poemas de Carlos Drummond de Andrade e Adélia Prado

que foram analisados ao longo do presente trabalho.

3- Elaborar um convite escrito endereçado aos pais dos alunos que

participaram do projeto, convidando esses pais a que venham à escola para

visitarem o jardim de poesias e assistirem à recitação de alguns poemas por

alunos que participaram do projeto.

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Referências Bibliográficas

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