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    Psicologia Geral

    Apontamentos de: Clara Palma e Elisabete BarrosoEmail: [email protected]: 2001/02

    A Sala de Convvio da Universidade Aberta um site de apoio aos estudantes daUniversidade Aberta, criado por um aluno e enriquecido por muitos. Este documento um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor , para que possa auxiliarao estudo dos colegas. O autor no pode, de forma alguma, ser responsabilizado poreventuais erros ou lacunas existentes neste documento. Este documento no pretendesubstituir de forma alguma o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questo.

    A Universidade Aberta no tem quaisquer responsabilidades no contedo, criao edistribuio deste documento, no sendo possivel imputar-lhe quaisquerresponsabilidades.

    Copyright: O contedo deste documento propriedade do seu autor, no podendo serpublicado e distribuido fora do site da Sala de Convvio da Universidade Aberta sem oseu consentimento prvio, expresso por escrito.

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    DEFINIO DE PSICOLOGIA Psicologia: Estudo cientfico do comportamento e da mente em termos de organizao e diversidade, que tem por objectivo descobrir leis e regularidades entre fenmenos ( semelhana das cincias fsicas e biol-gicas) formulando modelos e teorias consistentes para compreender, explicar e prever fenmenos humanos. Ao contrrio da Psicologia enquanto cincia, a psicologia popular ou de senso comum apresenta um corpo de saberes praticamente imutvel ao longo dos tempos. MBITO DA PSICOLOGIA CIENTFICA Dando-se como exemplo a investigao sobre o comportamento de ira ou clera, o objecto da psicologia analisado sob as seguintes perspectivas: Biolgica: activao de circuitos neuronais do crebro; leses cerebrais provocadas pelo parto; alteraes cromossomticas ou genticas e presena ou ausncia de certo nvel hormonal no organismo. Comportamental: gestos e expresses faciais. Cognitiva: experincias passadas, o modo como as organiza, representa e manifesta; a forma como tais vivncias afectam a maneira de pensar e raciocinar em situaes especficas. Scio-cultural: pertena a grupos sociais, meio residencial, contextos em que h ou no pblico (os acessos de ira so raros na ausncia de pblico. Psicanaltica: conflitos parentais no resolvidos; traumatismos de natureza sexual reprimidos. Fenomenolgica: histria de vida da pessoa; a imagem que tem de si prpria e o controlo que julga ter sobre as situaes. Tratando-se de um fenmeno comportamental e social de enorme complexidade, a ira est associada a guer-ras, violncia e agresses entre pessoas, grupos e naes. um fenmeno estudado desde a antiguidade cls-sica por filsofos, como foi o caso de Aristteles na obra tica a Nicmaco e Sneca em De Ira.

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    MARCOS DA HISTRIA DA PSICOLOGIA A psicologia, cientificamente falando, uma construo cultural europeia. Surgiu e desenvolveu-se na Euro-pa, onde se verificaram nos finais do sc. XIX e na primeira metade do sc. XX contribuies notveis: Wundt: fundou em 1879 o primeiro laboratrio de psicologia experimental, possibilitando assim a autono-mizao da psicologia como cincia. Ebbinghaus: realizou estudos experimentais sobre memria e esquecimento. Freud: atribuiu ao inconsciente um papel fundamental na origem das desordens do comportamento e props a psicanlise como mtodo de tratamento. Pavlov: fez descobertas no domnio do condicionamento com aplicao ao estudo da aprendizagem. Galton: investigou e desenvolveu o tema das diferenas individuais. Binet: elaborou uma escala de medida da actividade intelectual, cujos desenvolvimentos e ramificaes pos-teriores, influenciaram a psicologia aplicada ao longo do sc. XX. Piaget: fez descobertas no domnio do desenvolvimento intelectual da criana e do adolescente. Wundt definia a psicologia como a cincia da conscincia e props a introspeco como mtodo de estudo da experincia imediata, baseado na sensao, percepo e tempos de reaco, tendo realizado vrios estudo sensoriais (ex. 1 individuo provava um alimento e, em seguida, eram analisados elementos simples como o sabor doce, amargo ou cido presente na conscincia). A psicologia de Wundt (e do seu discpulo Titchener) ficou conhecida por psicologia estruturalista. Um mtodo contestado por um grupo de psiclogos alemes, nomeadamente Wertheimer, Khler e Koffka. Para estes autores a experincia imediata elementar e defenderam a posio de que os fenmenos percepti-vos eram antes percebidos imediatamente no seu todo (em alemo gestalt) em vez de serem percebidos nos seus elementos constituintes. Este sistema de investigao ficou conhecido por psicologia da forma ou ges-taltismo. Entretanto, nos EUA surgiu o beaviorismo, uma perspectiva radicalmente diferente das europeias da poca (princpio sc. XX) proposta por John Watson. Para o aparecimento do beaviorismo contriburam os estudos desenvolvidos pelo americano Thorndike e o russo Pavlov sobre a aprendizagem animal, que desenvolveram uma investigao experimental que permitiu maior rigor e objectividade na obteno de dados revelando grandes similaridades com os mtodos usados nas cincias naturais da poca.

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    O beaviorismo rejeita qualquer recurso introspeco e pretendia reduzir a psicologia a uma cincia natural que tinha por objecto somente o comportamento observvel do individuo, excluindo do seu mbito a cons-cincia e os processos mentais que a tinham lugar, como a ateno, a memria, a inteligncia e a vontade. Este tipo de investigao deu origem expresso psicologia do E-R (estmulo resposta). Na Europa o bea-viorismo teve uma influncia mnima e circunstancial. A viso simplista do ser humano , que o beaviorismo pressupe, foi refutada por George Miller, que defen-deu que o Homem um processador e um intrprete activo do meio ambiente que o rodeia, respondendo em funo da prpria experincia. Esta perspectiva veio a ser chamada de psicologia cognitiva por Neisser (1967), e tem alargado, progressivamente, at aos dias de hoje, a sua influncia. PSICOLOGIA E CINCIAS AFINS A psicologia apresenta similaridades com outras cincias afins de onde recolhe contributos, nomeadamente: a sociologia (estuda o comportamento de grupos em larga escala); a antropologia (estuda o modo como o homem forma comunidades e evolui ao longo dos tempos); a biologia (estuda a origem, desenvolvimento, funes, estruturas e reproduo dos seres vivos). MTODOS PSICOLGICOS Mtodo: procedimento ou tcnica especfica para recolha e anlise de dados. Os mtodos psicolgicos de recolha de dados mais comuns so: Observao naturalista; Estudo de Casos; Questionrios; Mtodo correlacional; Mtodo dos testes; Mtodo diferencial; Mtodo experimental. Observao Naturalista: Recolha atenta e cuidada de dados de animais e pessoas no seu ambiente natural. A observao realizada de modo flexvel e sem qualquer restrio. Margaret Mead (Antroploga 1901-1978), foi uma das primeiras investigadoras a utilizar este mtodo num trabalho desenvolvido com uma tribo asitica. Os mtodos naturalsticos tm sido usados em psicologia para estudar, entre outros, o comportamento social das crianas na escola; manifestaes de violncia em locais desportivos; comportamento dos condutores na estrada e em situaes de engarrafamento, etc. Estudo de Casos: Refere-se descrio detalhada de um nico indivduo em termos de passado ou histria usando-se, por vezes, a entrevista, fazendo avaliaes ou aplicando testes e discutindo os resultados. O estudo de casos tem sido considerado como o menos cientfico dos mtodos empricos usados em psicolo-gia por: envolver o caso especfico de uma pessoa no podendo ser reproduzido; interpretar o comportamen-to sob uma perspectiva terica; implicar (na maioria dos casos) uma relao do tipo teraputico que, pela sua natureza de ajuda dificilmente pode ser objectiva em termos de anlise. Questionrios: So formados por um conjunto de perguntas planeadas sobre um certo tema para serem administradas a um grande nmero de pessoas com o objectivo de se obter informao sobre atitudes, opi-nies e comportamentos. Um exemplo deste mtodo o questionrio da metamemria de Zelinski, que estu-da a frequncia do esquecimento e a qualidade de recordao em situaes do dia a dia , como a memria para nomes, datas, tarefas, moradas e nmeros de telefone, entre outros. Os questionrios tm como vanta-gem o permitir a recolha de muita informao em pouco tempo e, como limitaes a questo da fiabilidade das respostas, do contexto em que aplicado e a capacidade do entrevistador em conseguir colabora-o/cooperao dos entrevistados. Mtodo Correlacional: Tem por objectivo determinar uma relao entre duas ou mais variveis, podendo esta ser positiva, negativa ou inexistente. O tipo de relao determinado a partir de uma analise estatstica: o teste de correlao. Os valores de correlao variam entre 1 e +1. Quando as variveis esto relacionadas entre si o coeficiente aproxima-se de 1 ou +1. se a relao for nula o coeficiente 0. O coeficiente de correlao descreve de forma precisa e quantitativa o grau de relao, ao dar sinais positi-vos a variveis positivamente relacionadas e vice versa. Mtodo dos Testes: Os testes s mtodos objectivos de observao e medida de variveis. S constitudos por tarefas uniformes administradas individualmente ou em grupo com o objectivo de medir uma ou mais variveis ou construtos tericos. Em psicologia h centena de testes, escalas e medidas que podem ser divi-dir-se em vrios grupos: testes de aptido e inteligncia; testes de realizao; medidas de personalidade e escalas de valores e atitudes. Mtodo Diferencial: O mtodo diferencial tem por objectivo investigar o desempenho de dois ou mais grupos que se distinguem na base de uma varivel pr-existente (idade, habilitaes, gnero, etc).

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    Mtodo Experimental: considerado o nico mtodo cientfico em que possvel estabelecer-se uma relao de casualidade entre variveis ou fenmenos. Em termos gerais, uma experincia uma arranjo de condies, procedimentos e equipamento com o objectivo de se avaliar uma hiptese e mantendo sobre controlo todos os restantes factores. Em termos especficos, uma experincia a observao objectiva de um fenmeno que forado a ocorrer numa situao rigorosamente controlada, e em que um ou mais factores so manipulados enquanto que os restantes so controlados. As variveis manipuladas designam-se por experimentais, independentes ou de tratamento e os resultados da experincia a varivel dependente. PERSPECTIVAS DE INVESTIGAO PSICOLGICA Ao longo da histria da psicologia, o seu objecto e definio no tem sido consensual, pelo que se apresen-tam vrias perspectivas. Perspectiva Bio-Psicolgica (Psicolfisiologia, Neuropsicologia e Gentica Comportamental. uma rea de estudo e investigao que tenta explicar o comportamento numa base orgnica. Neste sentido, procura analisar os factores eu inicia e condicionam os comportamentos individuais a partir da anlise do sistemas nervoso, glandular, organizao e funcionamento do crebro, genes e bioqumica celular, partilhan-do muitas da tcnicas de investigao com a fisiologia, a biologia e a gentica. Devido aos avanos da tecnologia em termos de exames imagiolgicos do crebro (ltimos 20 anos), actualmente a bio-psicologia uma rea importante e activa da investigao, com o estudo do corpo e do crebro das pessoa em estado de viglia e a realizar tarefas especficas.

    EEG (electroencefalografia): registo da actividade elctrica do crebro que permite compreender os estados de viglia e sono e certas doenas como a epilepsia.

    TAC (tomografia axial computadorizada) e MRI (ressonncia magntica): registo de imagens que permitem a observao de natureza anatmica.

    PET( tomografia por emisso de positres): observao de natureza neuronal. No estudo dos fenmenos biolgicos do comportamento h duas grandes perspectivas: uma de natureza cor-relacional que procura identificar as correspondncias do comportamento deixando para a psicologia ou outras cincias humanas explicaes complementares e alternativas; a outra de natureza reducionista, que reivindica a explicao final da cognio e do comportamento com base em processos fisiolgicos e genti-cos. Esta corrente pretende reduzir a psicologia biologia, prevendo que o futuro da psicologia ficar limita-do apenas s explicaes que a gentica no for capaz de proporcionar. Perspectiva Evolucionista Darwin defendeu que as plantas e os animais evoluram ao longo de milhares e milhares de anos , acumulan-do caractersticas que os tornaram mais capazes de sobreviverem e de se reproduzirem. No livro A Origem das Espcies (1859) Darwin afirmou que, um dia, a psicologia instituir-se-ia sobre uma nova base ou funda-o. A psicologia evolucionista, desenvolvida nos ltimos anos assume o legado de Darwin, a procurar integrar as explicaes do comportamento na srie causal da biologia evolucionista. Esta vertente defende que os processos psicolgicos como a percepo, a memria a linguagem e o pensa-mento, os mecanismos como a atraco sexual, relaes parentais, a escolha e adaptao aos alimentos, entre muitos outros, evoluram ao longo de milhes de anos por meio de um processo de seleco natural. A se-leco natural considerada como o nico processo causal capaz de produzir organismos funcionalmente complexos. As caractersticas que no passado da espcie humana se revelaram teis em termos de resoluo de problemas associados com a capacidade de sobrevivncia e com o aumento das probabilidades de repro-duo, foram sendo incorporados no patrimnio gentico ao longo de milhes de geraes. Perspectiva Sociocultural O comportamento depende do meio socio-cultural em que a pessoa habita, cresce e se desenvolve. Esta perspectiva usa e adapta conceitos e temas das cincias sociais, nomeadamente da sociologia e da antropologia. Um dos conceitos adoptados a socializao. A aquisio de normas ou "regras" por parte de uma pessoa e a influncia social em geral, condicionam a escolha de um grupo, o estabelecimento de rela-es interpessoais, a maneira de pensar, o desenvolvimento da identidade e a construo da personalidade, etc. A socializao tem como reverso o etnocentrismo, ou seja, a tendncia para considerar as normas culturais e ticas do grupo de pertena como base da definio do que correcto e natural.

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    H a reter que, por maior eu seja a influncia do meio e da hereditariedade, o comportamento final sempre resultado de uma avaliao e deciso que o crebro e a mente de cada indivduo fazem da situao. nesta deciso e nos seus condicionalismos que se centra a psicologia. Perspectiva Cognitiva Esta perspectiva est subjacente s anteriormente referidas, reivindicando, no entanto, a primazia da "psi-que", ou da mente humana, na organizao do comportamento. O comportamento no est directamente dependente dos genes ou da cultura, mas sim da mente, ou seja, da deciso resultante do desenvolvimento e da organizao mental da pessoa. Em sntese, a perspectiva cognitiva defende que o comportamento humano no dia a dia depende do modo como a mente humana interpreta a experincia que tem do meio, quer interno quer externo. As pessoas no respondem ao meio ambiente de forma mecnica e irreflectida. Pelo contrrio, o comportamento dirio sobretudo organizado e sujeito a planos e regras de aco, que se pensam ser as mais adequadas para uma adaptao satisfatria e uma existncia digna e autnoma. REAS DA ESPECIALIZAO PSICOLGICA Psicologia Clnica: Tem por funo o diagnstico, tratamento, aconselhamento e ajuda de pessoas com pro-blemas de natureza emocional e comportamental (dificuldades de relacionamento, depresso, ansiedade, esquizofrenia, etc.). Psicologia Educacional: As principais funes incluem o diagnstico e aconselhamento de crianas e ado-lescentes e a realizao de estudos e investigao sobre problemas ocorridos no meio escolar (avaliao cog-nitiva e afectiva, aconselhamento e acompanhamento vocacional, etc.). Psicologia Organizacional: Analisa e tenta resolver problemas que surgem no mbito de uma organizao industrial, militar, escolar ou de servios (seleco de pessoal; problemas de motivao, etc.). Psicologia Cognitiva e Experimental: considerada por muitos como o ncleo da psicologia e uma das reas centrais da investigao ao focar as actividades mentais de nvel superior como a percepo, aprendi-zagem, memria, linguagem, raciocnio e resoluo de problemas. No estudo destes processos mentais, a metodologia experimental e o recurso investigao laboratorial s procedimentos frequentes e comuns. Psicologia Social: Estuda o modo como o comportamento individual afectado no contexto das interaces com outras pessoas e grupos. Alguns dos problemas mais importantes estudados por esta rea so a forma-o e mudana de atitudes, esteretipos e preconceitos, formao de grupos, coeso e conflitos. Psicologia do Desenvolvimento: Estuda o comportamento humano ao longo do ciclo de vida, tendo em consta os factores fsicos, cognitivos, afectivos e sociais que afectam as diversas fases de crescimento, matu-rao e declnio (psicologias da criana, adulto, idoso). Tipos de Aprendizagem A investigao sobre a aprendizagem organiza-se segundo cinco tipos diferentes, consoante o grau de com-plexidade: Habituao - Tendncia para ignorar um estmulo que se tornou familiar e cujo aparecimento no representa consequncias de maior. Condicionamento Clssico (Pavlov) - Envolve a aquisio de uma nova resposta face a um estmulo que inicialmente no a produzia. Condicionamento Operante (Thorndike e Skinner) - Abrange um tipo de resposta voluntria, seleccionada em funo dos efeitos ou consequncias produzidas e observadas. Aprendizagem Observacional - Consiste na observao e imitao posterior do comportamento de um modelo. Aprendizagem Verbal - Refere-se aquisio e recordao de itens verbais.

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    CONDICIONAMENTO CLSSICO Procedimento Experimental O que revelou crucial a investigao de Pavlov foi o facto do co aprender uma associao entre alimento e um sinal causal que precedia imediatamente o alimento. Reflexo condicionado: o co saliva ao ouvir o som da campainha. EI - Estmulo incondicionado: apresentao do alimento. RI - Reflexo incondicionado: salivao provocada pela apresentao do alimento. EN - Estmulos neutros: estmulos como o cheiro a cnfora; a luz, clics, etc. EC - Estmulo condicionado: som da campainha RC - Resposta condicionada: saliva ao ouvir a campainha Ver pg. 56/67 Generalizaes e discriminao A generalizao condicionada o processo pelo qual uma resposta condicionada a um estmulo tende a ser emitida com outros estmulos similares (ex. co ouve uma campainha idntica e saliva). A discriminao, ou diferenciao, uma processo complementar da generalizao. Enquanto a generaliza-o uma resposta a similaridades, a discriminao uma resposta a diferenas (ex. Pavlov descobriu que podia utilizar praticamente qualquer estmulo como EC). No entanto, a discriminao o processo que leva a responder a estmulos que so reforados e a no responder a estmulos similares que no foram reforados. Neurose experimental: Quando a discriminao exigida se torna excessivamente subtil o co parecia sofrer de uma "perturbao ou colapso nervoso", passando a reagir ao acaso, mesmo face s discriminaes iniciais mais diferenciadas. Relao Temporal entre EC e o EI O EC (campainha) precede normalmente o EI (alimento). Este considerado o procedimento padro, embora tenham sido investigadas outras sequncias temporais. Nas experincias realizadas com animais verificou-se que o intervalo ptimo de 0,5 segundos. Com intervalos maiores a resposta condicionada mais fraca. Se o som aparece depois do alimento a resposta condicionada no se estabelece. Condicionamento de respostas emocionais O procedimento do condicionamento usado por Pavlov tambm se aplica ao Homem, tendo-se efectuado estudos relacionados com os reflexos palpebrar e rotular, salivao, nusea e averso ao lcool e tabaco. Os resultados obtidos permitiram que hoje sejam adoptados em psicologia clnica com o objectivo de modificar comportamentos. O primeiro estudo de aplicao do paradigma do condicionamento de Pavlov a seres humanos foi realizado por Watson e Raynor (1920). Tentaram condicionar uma criana de 9 meses (Albert) a ter medo de ratos brancos. Dessensibilizao sistemtica (Wolpe) Tcnica utilizada no tratamento de estados fortes de ansiedade associados a situaes ou estmulos fbicos. Esta tcnica envolve a associao de um estado agradvel de relaxamento com uma srie gradual de estmu-los que desencadeiam o comportamento a modificar. CONDICIONAMENTO OPERANTE Expresso introduzida por Skinner (1938) envolve a aprendizagem entre uma resposta e as suas consequn-cias. O condicionamento operante relaciona-se com os estudos de psicologia animal realizados por Thorndike (1874-1949) que ficaram conhecidos por condicionamento experimental, com diferenas subtis a ponto dos investigadores inclurem os dois tipos de condicionamento no mbito do condicionamento operante. Thorndike: procedimento experimental Os seus estudos sobre aprendizagem relacionaram-se com a inteligncia animal, tendo estudado o modo como ces, gatos e maca os aprendiam a sair de uma caixa-problema para obter alimento, atravs da manipu-lao de dispositivos mecnicos, como roldanas, fechos e pedais. Com a repetio da experincia os animais diminuem progressivamente o tempo para conseguirem sair e comer.

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    Caractersticas de aprendizagem Os estudos desenvolvidos por Thorndike em situaes de controlo laboratorial, mediam, em cada ensaio, o tempo entre o momento em que os animais entram na caixa e a altura em que apoderam do alimento. Thorndike ressaltou trs aspectos deste procedimento experimental que estariam relacionados com situaes de aprendizagem:

    a aprendizagem efectua-se por ensaios e erros (ou ensaios e xitos e por tentativas) a aprendizagem gradual: o tempo necessrio para sair vai sendo progressivamente menor a aprendizagem motivada: a necessidade de alimento gera um impulso ou motivao para sair

    Leis da aprendizagem (ver pg. 70/71) Para Thorndike a aprendizagem o resultado de ensaios e erros seguidos por um sucesso acidental. Trata-se de um processo simples de conexionismo, ou seja, da conexo de uma resposta com uma situao ou estmu-lo. Neste sentido, Thorndike formulou duas leis de aprendizagem:

    a lei do exerccio: quanto maior for o n. de ensaios, maior a fora da conexo a lei do efeito: se um estmulo for seguido por uma resposta e o resultado for satisfatrio, a conexo

    entre o estmulo e a resposta ser fortalecida. Skinner: procedimento experimental Elaborou e desenvolveu um procedimento de investigao de aprendizagem em animais (ratos e pombos), usando uma gaiola que ficou conhecida como a gaiola de Skinner. Nesta gaiola Skinner coloca um meca-nismo (alavanca) que ao ser pressionado liberta alimento. Aps o rato pressionar a alavanca uma vez por acaso, o n. de presses vai aumentando progressivamente por unidades de tempo. Skinner distinguiu este tipo de condicionamento, a que chamou operante, do condicionamento de Pavlov, a que chamou respondente ou reflexo, ou seja na experincia de Skinner o prprio animal que obtm o ali-mento (ao pressionar a barra), enquanto que com Pavlov o animal responde por uma actividade reflexa de salivao ao alimento que lhe apresentado. O papel do reforo A frequncia de uma resposta pode aumentar ou diminuir se for ou no reforada, sendo um conceito centra no condicionamento operante. O reforo pode ser positivo ou negativo e, ainda, contnuo (quando toda as respostas so reforadas) ou intermitente/parcial (nas situaes em que apenas algumas respostas so refor-adas) Tipos e programas de reforo Numa situao de reforo intermitente a frequncia de respostas mais elevada e mais resistente extino. Ferster e Skinner efectuaram uma anlise sistemtica e descobriram quatro situaes de reforo, que se divi-dem em dois tipos diferentes com duas variveis cada: Programas de Proporo (fixo e varivel) e Progra-mas de Intervalo de Tempo (fixo e varivel). Intervalo fixo: o reforo s ministrado quando o animal responde correctamente aps um intervalo fixo (ex. 20) Intervalo varivel: estabelece-se um intervalo mdio varivel de ensaio para ensaio e imprevisvel (5 ou 30) no fim do qual uma resposta correcta reforada. Proporo fixa: o reforo s atribudo aps se ter produzido um n. fixo de respostas (ex. 10 presses na barra). Proporo varivel: estabelece-se uma proporo mdia de respostas (ex. 10), mas o n. de resposta necess-rio para obter um reforo varivel e imprevisvel (ex. 5 ou 15).

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    Reforo e/ou punio A tese central de Skinner e do condicionamento operante de que o comportamento depende das suas con-sequncias. Reforo e punio apresentam duas modalidades cada: o reforo pode ser positivo ou negativo e a punio pode ser fsica ou psicolgica. Ver pg. 78 Condicionamento de fuga e evitao Estudado num procedimento experimental, inicialmente por Miller com ratos e Solomon e Wynne com ces, que colocaram uma gaiola com dois compartimentos iguais sendo um deles electrificado que dava cho-ques ao fim de 10 aps o toque de uma campainha.com o decorrer dos ensaios a resposta de evitao (salta de um compartimento para outro dentro do intervalo de tempo dado) foi cada vez mais rpida. Chama-se condicionamento de fuga (ou escape) quando uma resposta interrompe o efeito de uma situao aversiva; e condicionamento de evitao quando o animal previne e se antecipa ao aparecimento do estmulo aversivo. Extino da resposta de evitao O tempo necessrio para a extino de uma resposta varia de acordo com a frequncia e programa de reforo usado na fase de aquisio. mais difcil extinguir o comportamento adquirido por reforo negativo do que atravs de reforo positivo. O medo da situao aversiva torna a aprendizagem de evitao muito difcil de extinguir. O desamparo apreendido Um fenmeno associado de evitao descoberto por Maier, Seligman e Solomon, que se desenvolve quando no possvel "evitar" uma situao aversiva, demonstrando-se atravs de uma atitude passiva como se qualquer resposta fosse intil. Verificou-se ainda que a exposio a estmulos aversivos incontrolveis tem repercusses fisiolgicas, como o aparecimento de lceras em pessoas e animais. Moldagem do comportamento Trata-se de uma tcnica do condicionamento operante que consiste na recompensa de respostas ocasionais que se aproximam do comportamento final desejado. Para modificar o comportamento de animais e crianas, Skinner props um mtodo de trs etapas:

    Definir o objectivo ou habilidade a adquirir Definir o comportamento inicia a reforar Reforar positivamente as respostas dadas em cada uma das etapas para atingir o objectivo desejado.

    Limitaes biolgicas do condicionamento Existem limitaes biolgicas que restringem o processo de condicionamento e moldagem. Biofeedback: tcnica ou procedimento que permite s pessoas aprender a controlar certas respostas fisiolgi-cas observando o seu estado por meio de aparelhos (ritmo cardaco; presso sangunea; ondas cerebrais alfa, etc.). Ver pg. 84/85 Condicionamento e cognio Tolman (dcadas de 30 e 40) desenvolveu uma interpretao cognitiva do condicionamento, segundo a qual, em vez de um mecanismo automtico, os animais tm expectativas, aprendem relaes causais e previsveis entre acontecimentos e o que leva a qu. Em experincias desenvolvidas, Tolman, demonstrou que o rato adquire uma espcie de representao men-tal do labirinto, ou mapa cognitivo, que lhe permite encontrar um caminho alternativo quando um caminho previamente usado e preferido estiver bloqueado. Esta perspectiva foi igualmente defendida por Rescorla (1967).

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    Aprendizagem por Observao Aprendizagem observacional = Aprendizagem social. A aprendizagem observacional uma teoria desenvolvida por Rotter e Bandura (1977-1986), tendo sido este ltimo o principal responsvel pela investigao, defendendo que uma parte importante da aprendizagem humana ocorre atravs da observao, desde a aquisio da linguagem na criana at muitas das respostas dadas no dia a dia. A aprendizagem observacional funciona a partir da observao de modelos e entre os seus principais postu-lados constam os seguintes:

    Modelo seria a pessoa cujo comportamento observado, e a modelagem representaria o processo da aprendizagem observacional

    A aprendizagem ocorreria espontaneamente sem qualquer esforo deliberado do observador ou in-teno de ensinar por parte do modelo

    Para que a aprendizagem tenha lugar suficiente a exposio ao modelo. Uma pessoa olha e aprende e aprende observando. A aprendizagem acontece sem reforo, mas o reforo fornece o incentivo para a expresso do comportamento aprendido. O observador no revela, no entanto, a aprendizagem adquirida se desconhecer as consequncias do comportamento a imitar. Segundo Bandura, a teoria da aprendizagem explica o comportamento humano em termos de interaco recproca dos factores cognitivos, comportamentais e ambientais. Para que esta aprendizagem ocorra fundamental o funcionamento dos quatro seguintes processos: Ateno: A simples exposio do modelo no suficiente. necessrio prestar ateno aos elementos dis-tintivos, afectivos e funcionais representados. So elementos a reter a sua sensibilidade sensorial, o grau de excitao corporal, a tendncia ou enviesamento perceptivo e os reforos passados. Reteno: O comportamento observado e desejado deve ser adequadamente retido e memorizado, tendo em conta as operaes de codificao, repetio verba e motora e organizao cognitiva. Reproduo motora: O comportamento a imitar deve ser preciso e de fcil repetio sem limitaes ao nvel das capacidades fsicas. Motivao: Os novos comportamentos adquiridos voltaro a ser reproduzidos mais facilmente se estiverem disponveis aos incentivos apropriados, quer sejam de natureza interna ou externa. Observao e imitao Os estudos desenvolvidos por Bandura provaram que as crianas (3/5 anos) imitam espontaneamente o com-portamento de um modelo mesmo sem qualquer reforo manifesto. No entanto, o factor mais relevante para o comportamento imitativo das crianas a observao do modelo a ser reforado ou punido pelo compor-tamento expresso, bem como o grau de simpatia que o modelo inspira. Estudos realizados em laboratrio indicam que a viso de filmes ou vdeos tm um forte impacto no comportamento da crianas. A observao influencia as emoes. A maioria das pessoas tem medo de cobras apesar de nunca ter presenciado nenhuma directamente. Este medo resultado da observao do medo expresso por terceiros. um medo por substi-tuio ou delegao de outrem, designado por condicionamento vicariante. Aprendizagem verbal A aprendizagem verbal refere-se capacidade humana para adquirir e recorda itens verbais. Ebbinghaus (1885)desenvolveu os primeiros estudos sobre a aprendizagem verbal que publicou no livro Sobre Memria. Neste livro o autor procurou explica o modo como se formam as associaes entre estmulos verbais e o tempo que permanecem na memria. Materiais e parmetros de avaliao Os materiais usados nos estudos sobre aprendizagem verbal so de 2 tipos: Materiais No Significativos: constitudos por slabas sem significado (1 consoante / 1 vogal / 1 consoante: ex. DEN; COF, etc.) e por trigramas de consoantes (siglas de 3 consoantes: ex. DTN; LXB, etc.) Materiais Significativos: formados por palavras de uma ou mais slabas; por frases; provrbios, textos e 8

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    materiais pictricos, como sejam desenhos e gravuras. Os parmetros mais usados na avaliao dos itens verbais significativos so: O Significado: medida obtida em termos do n. mdio de associaes de uma palavra que uma pessoa ca-paz de produzir durante 30 segundos. A Frequncia: medida objectiva, obtida a partir do n. de vezes num milho que uma palavra aparece em vrias publicaes. O ndice de Concreteza-Abstrao: definido a partir da maior ou menor referncia directa experincia sensorial (ex. mesa e banco = itens verbais concretos / facto e virtude = abstractos). O ndice de Formao-de-imagens: representa a maior ou menor facilidade das palavras sugerirem imagens mentais, nuns casos mais facilmente (ma; casa) noutros mais dificilmente (razo; zelo). A Idade de Aquisio de Palavras: ndice estabelecido a partir da estimativa feita sobre a idade em que uma palavra ter sido adquirida. Supe que palavras como bola e casa tenham sido adquiridos nos primeiros 3 anos, enquanto cone e benzeno tenham sido adquiridas vrios anos mais tarde. Tarefas de aprendizagem verbal H vrias tarefas que foram alvo de um grande n. de estudos experimentais e, que se supe, estejam relacio-nadas com a aprendizagem diria. Esta tarefas so: a aprendizagem seriada, a aprendizagem de pares asso-ciados e a aprendizagem por evocao livre. Aprendizagem seriada: sequncia de itens verbais com ordem (ex. meses e estaes do ano; dias da sema-na; n. de telefone; alfabeto; n.s, etc.). Ebbinghaus (1885) foi quem primeiro estudou este tipo de aprendizagem de forma sistemtica, tendo obser-vado que sries at sete itens exigiam em mdia uma nica apresentao para ser evocada correctamente. Caso a srie tivesse uma extenso superior eram necessrias 2 ou mais apresentaes. Esta descontinuidade em torno dos 7 itens foi objecto de um grande n. de estudos no sc. XX (Miller, 1956) tendo-se verificado que a maior parte dos adultos s consegue evocar uma srie correctamente , aps um nico ensaio, se o n. de itens estiver entre 4 e 7. Aprendizagem de pares associados: sequncia de pares de itens que o sujeito dever relacionar e associar entre si. O primeiro membro do par designado por estmulo e o segundo por resposta. Na segunda apresen-tao dos itens so apenas dados os itens estmulo por forma ao sujeito tentar emparelhar a resposta. Exemplos de situaes do quotidiano deste tipo de tarefa so a aprendizagem do vocabulrio de uma lngua estrangeira, a associao entre pases e respectivas capitais, smbolos e nomes, associao entre nomes e caras de pessoas, n.s de telefone, etc. Aprendizagem por evocao livre: apresenta-se uma lista de itens verbais, um de cada vez, e no final soli-cita-se para que os mesmos sejam recordados sem qualquer ordem obrigatria. Situaes tipo destas tarefas podem ser as categorias de frutos, animais, pases, cidades, elaborao de listas de compras ou agenda. A aprendizagem por evocao (recordao) permite analisar de forma quantitativa as actividades organiza-cionais do sujeito, atravs do tipo dos agrupamentos (ex. animais, cidades) e n. de itens que o indivduo evoca. A aprendizagem seriada e de pares associados foram objecto de estudo durante a primeira metade do sc. XX, perodo em que a explicao associacionista foi predominante. Na segunda metade do sc. XX a apren-dizagem por evocao livre mais representativa dos estudos realizados no mbito da psicologia cognitiva, que ressalta o papel activo do sujeito na acto de aprender e recordar e os agrupamentos so um indicativo da forma como a mente organiza e estrutura os elementos do mundo que nos rodeia. Tipos de aprendizagem verbal As pessoas adoptam procedimentos diferentes de aprendizagem. A opo que feita tem consequncias no desempenho das tarefas a realizar. No mbito da aprendizagem verbal foram estudadas as vantagens e inconvenientes de alguns procedimentos, nomeadamente, a aprendizagem intencional versus aprendizagem acidental aprendizagem global versus parcial e aprendizagem compacta (ou macia) versus distribuda. Aprend. intencional: aquisio de itens verbais em funo de uma prova de memria inicialmente prevista. Aprend. acidental: a aquisio realizada sem que haja informao sobre uma prova de memria posterior. Ao contrrio do que se possa supor, o desempenho na aprendizagem acidental , em determinadas condies,

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    to bom ou at superior ao obtido na aprendizagem intencional. A aprendizagem acidental responsvel por muitas das informaes adquiridas no dia a dia, representando um papel importante da adaptao ao meio (descrever um stio; onde estacionou o carro, etc). Por outro lado, a aprendizagem intencional aplica-se normalmente a situaes escolares. Quando duas alunas (ns) tm que estudar contedos extensos para um exame, a abordagem mais indicada ser efectuar uma aprendizagem global de toda a informao (repetindo-a 1, 2, 3 vezes), ou ser prefervel dividir o todo em partes (aprendizagem parcial)? Os resultados experimentais no so consensuais. H situaes em que a apreenso o todo d sentido s par-tes. Por outro lado, a aprendizagem parcial requer menos tempo para se conseguir assimilar cada uma da partes. Em geral, as vantagens da aprendizagem parcial s maiores, quanto maior for a quantidade de mate-rial a memorizar e mais diferenciadas forem as partes. E a aprendizagem de materiais verbais extensos e complexos dever ser distribuda por vrias sesses ou compactada numa s? Desde os primrdios da psicologia cientfica, os investigadores so unnimes em afirmar que a aprendiza-gem distribuda mais eficaz. Em termos de aquisio, a aprendizagem distribuda mais eficaz pois evita a fadiga e aborrecimento e faci-lita a concentrao. Em termos de recordao, a aprendizagem distribuda efectuada numa maior diversi-dade de contextos orgnicos, emocionais, psicolgicos, ambientais e temporais, do que a aprendizagem compacta. Esta diversidade contextual permite que os itens fiquem associados a uma rede associativa mais extensa e diversificada, servindo de pistas ou ndices facilitadores na altura da recordao. Aprendizagem e cognio Na segunda metade do sc. XX as investigaes sobre a aprendizagem comearam a debruar-se sobre a estrutura cognitiva do aprendiz humano, tendo surgido reas diferenciadas como o psicologia da linguagem, da aprendizagem e da memria. Numa perspectiva cognitiva, em que a informao processada ao longo das fases de aquisio, reteno e recuperao, pode-se afirmar que a aprendizagem e a memria esto interligadas. A aprendizagem ser res-ponsvel pelos processos de aquisio e organizao do conhecimento, enquanto a memria ser responsvel pelos processos de reteno e recuperao ou recordao. MEMRIA (mbito e perspectivas) Sem memria o comportamento inteligente no seria possvel. A memria um dos aspectos mais importan-tes que o homem dispe para se adaptar ao meio e est ligado a todos os aspectos do comportamento. A aprendizagem e a memria so interdependentes, porque a estrutura e significado do "material-a-ser-aprendido" est em grande parte dependente do conhecimento retido no memria. A memria (provavelmente) formada por vrios sistemas ou sub-sistemas, cada um com funes prprias e diferenciadas, podendo alguns deles deteriorar-se. Analogia memria / biblioteca Os livros entram na biblioteca so catalogados em ficha aquisio e codificao na memria; Os livros so colocados numa prateleira na estante processo de armazenamento, reteno e consolidao na memria; Os livros so requisitados e usados pelo leitor processo de recuperao na memria. Investigao sobre a memria Perspectiva estrutural: a memria constituda por vrios sistemas de armazenamento e reteno de infor-mao como a memria a curto prazo (MCP) e a memria a longo prazo (MLP). Perspectiva processual: a informao d entrada na memria (aquisio), objecto de diversos tipos de an-lise (processamento), os resultados so armazenados durante certo tempo (reteno) e, por fim, a informao usada e recordada (recuperao). Referncias histricas da memria A monografia Sobre a Memria (1885) de Ebbinghaus (alemo) iniciou o estudo cientfico sobre a memria

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    humana. O mtodo experimental usado foi o das cincias naturais, tendo obtido um grau de controlo e de rigor bastante elevados. As experincias realizadas ainda hoje so citadas. Ebbinghaus, nas suas experincias teve que ultrapassar duas dificuldades: aos nveis do material usado e da medio da reteno do material aprendido. Material usado Como as palavras apresentam significados e associaes diferentes de pessoa para pessoa de acordo com a sua formao e experincia passada, por forma a estabelecer situaes homogneas e equivalentes entre indivduos, socorreu-se de slabas-sem-significado compostas por uma consoante, uma vogal, uma consoante (ex. xib ou nej). Construiu cerca de 2300 slabas. Mtodo de medio da memria Ebbinghaus considerou no poder usar o mtodo introspectivo (vigente na altura), pois corria o risco dos estados de conscincia se sucederem e modificarem com frequncia, no permitindo estabelecer uma medi-o quantitativa. A soluo encontrada foi utilizar o mtodo de reaprendizagem. Medio da Memria atravs do Mtodo de Reaprendizagem (sequncia e procedimentos) Ebbinghaus seleccionava uma lista de 16 slabas impressa em cartes individuais que lia com uma cadncia de 2. Depois tentava recorda toda a sequncia. Repetia at conseguir a reproduo correcta, anotando o n. de ensaios feitos. Algum tempo depois (1 hora ou 1 dia) repetia a sequncia e procedimento. Normalmente, na segunda vez, o n. de ensaios necessrios era menor (poupana de 40% no grau de reteno). Ebbinghaus desenvolveu a curva de esquecimento (ou grau de reteno) ao longo de vrios intervalos desde os 19` a 1 h at 31 dias de acordo com o mtodo da reaprendizagem. Apesar deste mtodo ser rigoroso, foi considerado demorado e pouco prtico pelas geraes seguintes de estudiosos da memria, que o substituram pelos mtodos da evocao e do reconhecimento. O mtodo de Ebbinghaus foi recuperado nos anos 80 para avaliar a recordao de longo prazo (10/30 anos). A critica de Bartlett O ingls Bartlett (192) foi o primeiro a criticar Ebbinghaus, considerando que a utilizao das slabas sem significado no permitiam uma aprendizagem simples, mas sim complexa, pois obrigava os indivduos a recorrerem estratgias complexas para a sua memorizao. Mtodo de reproduo repetida Bartlett utilizou este mtodo num estudo sobre a memria com situaes do dia-a-dia desenvolvido com adultos. Leu-lhes uma histria (conto popular ndio) que pediu para reproduzirem por escrito 15, alguns meses e anos depois. Bartlett sublinhou os seguintes aspectos: h coerncia no relato de cada pessoa, mesmo que seja diferente do original; h uma abreviao do conto ao longo do tempo, com a omisso de pormenores, tornando-se a reproduo mais convencional; incluem-se alteraes nos episdios da histria, ficando uns mas salientes que outros. Bartlett considerado o pioneiro da teoria construtivista da memria, afirmando que o "passado est conti-nuamente a ser refeito e reconstrudo tendo em conta os interesses do presente". Sistemas e processos de memria Tpicos: At dcada de 50 a memria era considerada um sistema nico. A diviso em dois sistemas s comeou a ter relevncia a partir dos estudos de Peterson e Peterson. Waugh e Norman (1965) propem modelo de memria - primria e secundria considerando que a repeti-o era o principal processo responsvel pela passagem da informao de uma para outra. Atkinson e Schiffin (1968) propem modelo formado por 3 registos : memria sensorial, memria a curto prazo e memria a longo prazo MCP: natureza superficial / MLP profundidade da anlise da informao percebida. Dcada 70: os investigadores voltam a dividir-se na questo da unicidade da memria Distines de memria A memria humana tem sido dividida em funo de critrios temporais (memria imediata, MCP, MLP), em

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    funo do contedo (memrias episdica, semntica e procedimental), em funo estudo de conscincia envolvido ( memrias explicita e implcita), em funo dos processos envolvidos ( memrias declarativa procedimental). As provas de apoio distino entre MCP e MLP baseiam-se em dois critrios: (1) a presena de duas com-ponentes na curva de posio serial natureza cognitiva e comportamental; (2) estados de amnsia ou de tipos diferentes de desordem de memria natureza neurolgica. Curva de posio serial Percentagem de evocaes correctas para listas de 16 palavras repetidas imediatamente no final da sua apre-sentao (controlo); aps 20 de actividade interpolada (experimental). na representao da curva assinalam-se os efeitos de primazia e recncia no grupo de controlo. Estados de amnsia H pacientes com desordens de memria (sndroma de Korsakoff) que apresentam um desempenho normal em tarefas de MCP e nulo nas de MLP os danos cerebrais situam-se nos lobos temporais e nas zonas mais profundas como o hipocampo e o sistema lmbico. H um segundo tipo de amnsia em que os pacientes tm o desempenho oposto as zonas afectadas so os lobos pr frontais do crtex cerebral e a zona do hemisfrio esquerdo na regio de Silvius, regio tambm associada a afasias e problemas da fala. MCP MCP: construto terico proposto a partir dos resultados das experincias realizadas por Brown (1958) e Peterson e Peterson (1959): verificaram um grau de esquecimento considervel quando a repetio era difi-cultada ou bloqueada por outra tarefa. Estes resultados foram usados para apoiar a concepo de um tipo de memria com caractersticas de arma-zenamento diferentes de outro que armazena a informao durante intervalos de dias, semanas ou mesmo anos. A capacidade da MCP limitada no n. de itens armazenados, em termos da durao dos itens e da disponibilidade de recursos mentais para executar operaes da MCP, ou seja, h limites no que respeita quantidade de informao que se pode reter num dado momento, bem como na rapidez com que se podem usar as funes cognitivas para processar a informao recebida. Estes limites so fceis de demonstrar a partir de uma prova de memria de n.s. (amplitude mdia de 7 para dgitos e a variar entre 2 e 8 para consoantes, palavras cores e slabas sem significado). No entanto, o treino pode aumentar o valor de amplitude de memria. A codificao na MCP A codificao refere-se ao modo como a informao est representada na memria. Segundo experincias realizadas na dcada de 60 (Conrad e Baddeley) o tipo de representao na MCP tem uma componente predominantemente acstica ou fonolgica, que , igualmente, responsvel pelos erros de identificao. Quando se apresentam similaridades acsticas (ex. M-N; P;B); quando se apresentam figuras parecidas (F-T; Q-G). No que se refere MLP as investigaes revelaram que a reproduo da informao de natureza predomi-nantemente semntica. (ex. se se apresentar uma lista com as palavras fogo, saia, estrada verificam-se erros de evocao em termos de significado parecido tais como fogo-incndio; saia-vestido e estrada-avenida). Nesta tarefa podem ainda ocorrer erros de tipo acstico-perceptivo (ex. pombo-bombo). A codificao ainda caracterizada por cdigos sensorialmente dependentes, como o visual, o auditivo ou o olfactivo. 12

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    Durao e esquecimento na MCP Nos anos 50, o esquecimento observado nas tarefas de MCP foi explicado por 2 teorias: a teoria do desuso o trao de memria perde gradualmente a sua intensidade ou robustez ao longo do tempo por falta de uso; e a teoria da interferncia - segundo a qual o esquecimento o resultado da competio entre estmulos e res-postas similares, sendo o intervalo de tempo irrelevante. Entretanto (bengala?), Posner desenvolveu a teoria do banho de cido, numa analogia entre o processo de esquecimento e a desintegrao do metal quando colocado em cido corrosivo. O grau de desintegrao funo quer da fora do cido, quer do tempo em que fica submerso. Memria operatria Na MCP as limitaes em termos de armazenamento designam-se por memria primria. Quando as limita-es resultam do conjunto de armazenamento e processamento designa-se por memria operatria. Baddeley (1986) definiu a memria operatria como um sistema de armazenamento e manipulao tempo-rria da informao durante a realizao de um conjunto de tarefas cognitivas como a compreenso, aprendizagem e raciocnio. (ex. ao somarem-se as parcelas de uma operao aritmtica 5+50=10 e vai 1). MLP Armazena o conhecimento que possumos do mundo que nos rodeia durante longos perodos de tempo e esses conhecimentos so bastante diversificados: Tipo episdico: referenciada pelo tempo e pelo espao (ex. onde passmos frias; o que fizemos de manh) Tipo geral e enciclopdico ou semntico: como a sintaxe da lngua materna, significados das palavras ou a localizao de mares e continentes. Tipo motor e procedimental: como andar de bicicleta, escrever mquina ou tocar piano. Segundo o modelo mono-hierarquico e piramidal de Tulving (1985), a memria episdica situa-se no topo, a semntica na posio intermdia e a procedimental na base da pirmide. Tulving e Schacter (1990) acrescen-taram o sistema de representao preceptiva, que pressupe que um sistema superior no pode manter-se inclume com um sistema inferior deteriorado (ex. no pode haver um sistema episdico inclume em pes-soas com o sistema semntico danificado). Codificao na MLP Um dos procedimentos de investigao mais usados para se analisar a codificao na MLP foi o dos nveis de processamento de Craik e Lockhart (1972) e Craik e Tulving (1975). Modelo de nveis de processamento Considera que a informao codificada e processada a diferentes nveis. A durao da informao na memria produto de sries sucessivas de anlises efectuadas nos estmulos percebidos. O nvel mais bsico e ligeiro inclu a anlise sensorial e fsica envolvendo o processo de caractersticas dos estmulos coo sejam palavras em maisculas ou minsculas, apresentadas numa voz masculina ou feminina. O nvel intermdio envolve uma anlise de tipo fonolgico ou acstico, sendo a anlise de natureza semnti-ca a considerada a mais profunda. De acordo com as experincias realizadas o processamento semntico produz um melhor desempenho de memria do que os processamentos do tipo fonolgico ou clssico. Objeco: Morris (1977) argumentou que o nvel de processamento est dependente da prova de memria aplicada. Se o processamento inicial for semntico e a prova de memria for uma seleco de palavras que rimam o desempenho pior do que se o processamento inicial tiver sido fonolgico. Esta hiptese ps em causa a teoria de que o processamento semntico mais memorvel do que o fonolgico. H assim uma transferncia de um nvel de processamento para um tipo apropriado de prova de memria, que se designa por transferncia apropriada de processamento. Reteno na MLP Quando a aquisio de novas informaes se processa, o sistema cognitivo estabelece uma espcie de orga- 13

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    nizao automtica e implcita, nomeadamente em termos espaciais e temporais e, provavelmente em termos de agrado, ameaa e dor. No topo da organizao implcita, as pessoas so capazes de organizar activamente a informao atravs de processos voluntrios como a categorizaro, hierarquizao e formao de imagens. Codificao e hierarquizao A organizao da informao-a-ser-evocada fundamental para uma boa recordao futura. A organizao da informao pode ser interna (elaborada pela pessoa no acto da aprendizagem) e externa (imposta pela meio de transmisso da informao (ex. sumrio de uma aula). Uma das primeiras investigaes sobre os efeitos da organizao da memria foi o estudo clssico realizado por Bousfield (1953) lista de 60 palavras que incluam 15 exemplares de 4 categorias diferentes: vegetais, animais, profisses e nomes. A sua apresentao era aleatria. Os indivduos recordavam-nas por categorias. Bower et al defendeu que a forma como a informao est hierarquizada tem um efeito bastante positivo. Ver pg. 139 Formao de imagens A formao de imagens (imagery) uma varivel bastante eficaz para facilitar a reteno de informao na memria de forma mais permanente. As palavras tm um grau de criao e produo de imagens inferior ao dos objectos (ex. fcil e rpido for-mar uma imagem mental de um co, o mesmo no se pode dizer de inflao ou liberdade). As pessoas que revelam capacidades excepcionais de memria (mnemonistas) normalmente conseguem criar imagens visuais de n.s, cores, sons, etc. A eficcia das imagens em termos de memria tanto maior quanto mais bizarras, interactivas e cmicas forem as imagens associadas. A este fenmeno chama-se BIC. Uma tcnica de memorizao que explora intensamente a formao de imagens BIC a mnemnica dos lugares, uma das melhores tcnicas de apoio memria humana at hoje inventadas. Esta tcnica consiste na associao de lugares ao longo de um percurso com a formao de uma imagem mental entre o lugar seleccionado e a palavra, ideia ou acontecimento a memorizar. Recuperao da informao na MLP A memria o passado transportado para o presente de uma forma infiel. H diferenas entre o que foi ori-ginalmente aprendido no passado e o que recordado no presente. Esta diferena pode ser analisada de forma qualitativa a partir dos erros e distores no relato ou de forma quantitativa , expressa em termos de mdia ou % de recordao de itens verbais. Os principais mtodos, ou provas de memria, estudados so a evocao, o reconhecimento, a reaprendiza-gem e a reconstruo. Provas de memria Evocao: consiste na reproduo consciente e activa de uma lista de itens. Tipos de evocao: livre: sem obrigatoriedade de ordem; seriada: obrigatoriedade de respeitar a ordem apre-sentada; auxiliada: com apresentao da 1 slaba ou 1 elemento de um par de palavras. Reconhecimento: uma tomada de deciso sobre se um item apresentado se identifica e compara com uma representao na memria (deciso pessoal). Numa prova de reconhecimento o maior ou menor grau de difi-culdade depende do n. de alternativas e do grau de similaridade com a resposta correcta. s vezes pode ser mais difcil do que a evocao. Reaprendizagem: consiste em voltar a aprender algo aprendido antes (normalmente mais rpido do que a 1 vez) ex. matrias escolares, cujos contedos apenas esto acessveis na altura dos exames. Reconstruo (ou complementao): inicialmente usado com pessoas com desordens de memria, que se revelou bastante popular nas 2 ltimas dcadas quer com amnsicos quer com pessoas sem qualquer pertur-bao. Consiste na recordao de palavras com iniciais iguais, revelando a presena do passado no desempe-

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    nho presente, o que se classificou de memria implcita. O resultados das experincias com os referidos mtodos, permitem concluir que as dificuldades de memria se prendem fundamentalmente com problemas de recordao e no de aquisio. Schater (1987) props a classificao das provas de memria em duas categorias: mtodos explcitos: consti-tudos pelas provas de evocao e reconhecimento requerendo uma recordao consciente da experincias passadas; mtodos implcitos: constitudos por diversas provas que no envolvem uma recordao conscien-te. O problema do esquecimento O esquecimento a prova diria de que a nossa memria falvel. O esquecimento a dificuldade de recordar a informao no momento mais adequado. Pode ser definitivo: deteriorao completa do trao da memria - falando-se neste caso de esquecimento dependente do trao; temporrio: devido ausncia de uma pista ou indicador de informao que possa conduzir ao trao de memria retido - neste caso fala-se de esquecimento dependente do indicador ou pista, j que a informao existe mas no est imediatamente acessvel. As teorias mais importantes sobre a natureza do esquecimento so: teoria do desuso; da interferncia; incon-gruncia contextual e recalcamento. Teoria do desuso: tambm conhecida como teoria do declnio temporal do trao de memria, afirma que o esquecimento est dependente da falta de uso durante o perodo de tempo de permanncia da informao na memria. Esta teoria no conseguiu obter a confirmao ou rejeio experimental. Teoria da interferncia: afirma que o esquecimento o resultado da competio entre diferentes memrias. Conforme aumenta a quantidade de informao retida na memria, diminui a capacidade de identificar e localizar um determinado item. uma das teorias mais importantes. Divide-se entre a forma retroactiva (McGeoch 1932) e proactiva (Greenberg e Underwood 1950) Ver pg. 151. Incongruncia contextual: apoia-se e 3 pilares: o modo como os itens so percebidos afecta o modo como so retidos ou armazenados; os indicadores seleccionados na altura da codificao determinam o tipo de indicadores que facilitaro o acesso memria; quanto maior for a concordncia entre os indicadores usados nas fases de codificao e de recuperao, melhores sero os resultados. Recalcamento (ou memrias orgnicas): Freud sugeriu que o esquecimento era motivado, ou seja uma for-ma do prprio indivduo se preservar de recordaes negativas, que eram transferidas para o inconsciente. Assim, o inconsciente constitua-se essencialmente de memrias recalcadas, que exerciam os seus efeitos de forma indirecta atravs de tiques e averses. Para Freud (Psicopatologia da Vida Quotidiana) o acesso a esta memria apenas era possvel atravs da psicanlise. Esquecer recordar O esquecimento tambm benfico. Numa perspectiva clnica, um mecanismo cognitivo com grande poder teraputico e curativo, quando consegue apagr da mente memrias penosas e traumticas. Ao esquecer-se a mente liberta-se de futilidades diariamente adquiridas e reserva espao para guardar o que realmente importa recordar. H casos de indivduos, como memrias excepcionais, que no conseguem esquecer e pagam um preo alto por essa capacidade. A memria fica sobrecarregada de pormenores que se torna impossvel ler livros e pensar em termos abstractos. Jorge Lus Borges (1942/98) tinha razo ao afirmar Pensar esquecer diferenas, generalizar, abstair. Recordao e reconstruo A recordao nem sempre imediata e directa. Em psicologia cognitiva h uma distino entre processamentos ascendente e descendente. Processamento ascendente: comea na anlise da informao captada pelos rgos sensoriais e sobe pro-gressivamente at nveis mais complexos. A percepo directa. A informao extrada da matriz sensorial sem recursos a esquemas e representaes intermdias. Processamento descendente: parte do conhecimento e expectativas que se tem sobre o modo como os ob-jectos se parecem, influenciando a sua identificao. O conhecimento de que somos portadores influencia o

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    o modo como interpretamos os estmulos sensoriais recebidos. Loftus e Palmer (1974) desenvolveram estudos sobre a tendncia para reconstruir os acontecimentos passa-dos presenciados. A investigao desenvolvida ajudou a provar que a memria no se limita a um registo fiel dos factos. Os estudos do portugus Silvio Lima (1928) revelaram que perguntas tendenciosas deformam o contedo representativo e primitivo da imagem pela adio de pormenores, transferncias cromticas e transposies topogrficas A memria uma reconstruo de acontecimentos passados tanto mais distorcida quanto maior for o interva-lo de reteno, o tempo reduzido de aquisio, o elemento emocional envolvido e as reprodues efectuadas. Kant afirmou que ns vemos as coisas, no como elas so, mas como ns somos. INTELIGNCIA (mbito e definies) O estudo da inteligncia controverso em termos de definio, de medida e de grau de hereditariedade, sen-do considerada por vrios investigadores como uma capacidade (habilidade) cognitiva geral. Segundo Jesen (1998) o termo inteligncia deve aplicar-se a todo um grupo de processos ou princpios de funcionamento do sistema nervoso que tornam possvel as funes comportamentais responsveis pela adap-tao do organismo ao meio ambiente. Propostas de investigadores onde se indicam algumas dimenses consideradas essenciais: processo de adap-tao ao meio (Binet); capacidade para pensar racionalmente (Wechsler); habilidade para captar o essencial de uma situao (Heim). Principais componentes da inteligncia: inteligncia verbal, a resoluo de problemas e a inteligncia prti-ca. Histria dos testes de inteligncia Escala Binet-Simon (1905): baseia-se em competncias de memria, vocabulrio e conhecimentos comuns, e destinava-se a identificar crianas normais e atrasadas. (ex. eram apresentadas tarefas a um grupo de crian-as com 7 anos. Quando cerca de das crianas conseguiam resolver determinado grupo de tarefas, essas tarefas eram consideradas de resoluo tpica e adequada para essa idade. Binet e Simon atravs da reviso desta escala propuseram o conceito de idade mental (IM), que se compara-va depois com a idade cronolgica (IC). Baseado nestes estudos, o alemo Stern (1912) formulou o conceito de quociente de intelectual (QI), cal-culado segundo a formula QI=(IM/IC)x100. O objectivo era atribuir um valor mdio de 100 ao QI de uma populao. Assim, se a IM fosse igual IC o QI era igual a 100. A determinao do QI segundo a formula de Stern gera problemas a partir dos 18 anos, idade que se conven-cionou considerar como termo do desenvolvimento intelectual. Em 1916o americano Terman da Universidade de Stanford adaptou o teste de Binet-Simon para os EUA, designando-o por Escala de Inteligncia de Stanford-Binet. Em 1939 Wechsler desenvolveu outro tipo de teste que foi revisto ao longo das ltimas dcadas (ltima 1989), destinando-se inicialmente a adultos e posteriormente adaptado a crianas. As designaes mais re-centes de cada um so:

    - WAIS-III (Escala de Inteligncia de Wechsler para adultos) 16/74 anos: composta por 11 sub-testes , 6 de tipo verbal e 5 de realizao. O teste produz QIs verbal, de realizao e global. Ver pg. 172.

    - WISC-III (Escala de Inteligncia de Wechsler para crianas) 6/16 anos: 10 sub-testes, 5 de tipo verbal e 5 de realizao. O teste produz QIs verbal, de realizao e global, resultante da mdia dos 2 anteriores.

    Em contraponto, Raven (1938/89) props como medida de inteligncia um teste livre de influncias culturais e lingusticas, que designou por Matrizes Progressivas de Raven (MRP). O significado do QI um conceito estatstico que tenta representar o conceito psicolgico de inteligncia. O QI psicomtrico estabelecido por um teste no a inteligncia real de uma pessoa, mas pretende representa-la. O QI obtido

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    nos testes de uma medida relativa, uma vez que o valor real obtido comparado com uma amostra repre-sentativa de indivduos no mesmo grupo etrio. Inteligncia geral: o factor g Sinnimo de inteligncia global, um constructo matemtico que representa o que h de comum no desem-penho dos vrios sub-testes (por ex. WAIS) por parte de uma pessoa ou grupo atravs da anlise factorial, que consiste na medio de diferentes habilidades cognitivas expressas por uma matriz de inter-correlaes positivas. Caractersticas psicomtricas de um teste Quando se pretende cria um teste psicolgico, em primeiro lugar tem de se estabelecer uma definio precisa da varivel que o teste pretende medir. Depois elabora-se uma lista de questes ou itens para avaliar essa varivel. Esta lista tem que ser aplicada a um grupo que reuna caractersticas similares s que iro realizar o teste. Os ensaios servem para aperfeioar e corrigir erros at se chegar ao teste final. Fidelidade e validade So as duas principais caractersticas de um teste. Fidelidade: consistncia interna dos dados obtidos. Pode ser medida atravs do teste-reteste (cada metade do grupo amostra em diferentes tempos); formas equivalentes (2 verses semelhantes do mesmo teste aplicadas ao mesmo grupo9. Um teste considerado fiel quando o coeficiente de correlao elevado. Validade: relao dos dados com a caracterstica psicolgica (varivel ou constructo) que o teste suposto medir. Procedimentos para medir a validade de um teste: validade de rosto (anlise inicial do teste por peri-tos); validade do constructo (grau de ligao dos itens entre si e em relao ao objectivo e, entre testes simi-lares). Validade de critrio (compara os resultados de um teste com o comportamento da pessoa no mundo real, quer em termos de previso do desempenho futuro da pessoa, quer em termos de comparao concor-rente com o desempenho actual do indivduo numa rea especfica. Estabilidade e previso dos testes de inteligncia Estabilidade do QI: os valores permanecem estveis ao longo da vida. Realizao escolar: um factor preditivo da realizao escolar. Anos de escolaridade:os alunos mais inteligentes tendem a permanecer mais anos na escola. Variveis sociais:o QI est correlacionado com o estatuto scio-econmico da pessoa e com o desempenho profissional. Os valores de QI ainda negativamente correlacionados com alguns comportamentos sociais como o crime juvenil. Prtica e idade: parece haver provas de que o QI no diminui com a idade (at + os 56 anos) tendo tendn-cia para aumentar, nomeadamente nas provas relacionadas com as actividades que s objecto de treino regu-lar (ex. prof.). O efeito Flynn No mundo industrializado (em especial nos EUA) os resultados dos testes de aptido escolar tm baixado. Em contraste, nos testes de inteligncia tm aumentado. Este aumento conhecido por efeito Flynn (investi-gador que primeiro o identificou). Existe diversas explicaes para este fenmeno: Naisser considera a situao fico ou artefacto associado ao conhecimento e aplicao dos testes; Greenfield considera-o real e potenciado pela sociedade actual da informao e tecnologia. Limitaes dos testes H habilidades cognitivas que residem fora do mbito dos testes convencionais de inteligncia, como a sabe-doria, criatividade, conhecimento prtico e as competncias sociais; as culturas humanas no tm uma con-

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    cepo nica do que ou no um comportamento inteligente. Vantagens dos testes A principal vantagem a sua capacidade preditiva. So usados nos mundos escolar, profissional, militar, em grupos e etnias, sendo uma das aplicaes prticas mais importantes da psicologia Teorias e modelos de inteligncia Existem trs grandes abordagens tericas: psicomtrica (medio da inteligncia), processamento da infor-mao (funcionamento de processos mentais especificos e a desenvolvimental (mudanas qualitativas ao longo da vida). H ainda a perspectiva contextual (meio/personalidade). Spearman - o factor g: As pessoas com bons resultados num testes tendem a produzir tambm bons resulta-dos noutros testes. Este factor geral foi designado por factor g (correlao mltipla positiva). Os factores especficos eram designados por s. O factor g seria hereditrio. Esta teoria no foi muito popular. Spear-man inventou a anlise factorial. Thurstone - habilidades mentais primrias: o facto de uma pessoa ser inteligente numa rea no significa que o seja em todas. Thurstone props sete factores independentes: visualizao espacial, velocidade percep-tiva; raciocnio numrico; compreenso verbal; fluncia verbal, memria e raciocnio indutivo. Guilford - o cubo da inteligncia: rejeitou a hiptese de um factor geral da inteligncia e desenvolveu a teoria da estrutura do intelecto constituda por 150 habilidades distintas, representadas num cubo, cujas 3 dimenses designou por operaes (5) x contedos (5) x produtos (6). No entanto, a hiptese de existirem 150 inteligncias diferentes no foi aceite. Cattell e Horn - inteligncia fluda e cristalizada: diviso do factor g em duas dimenses - fluda (depen-dente dos genes e estruturas neurofisiolgicas) - habilidade para raciocinar em termos abstractos, formar conceitos; - cristalizada (base cultural) - produto das experincias do indivduo / capacidade aprendida. Carroll - teoria dos 3 estratos de inteligncia: desenvolveu a estrutura hierrquica da inteligncia. No topo o estrato III: Factor g; II: factores gerais; I: factor especficos. Jensen - o factor de inteligncia: continuador de Spearman. Defendeu que o g a componente mais impor-tante para o sucesso, aliando-lhe os desejos de realizao e motivao. Esta teoria no foi muito popular. Estrutura de inteligncia e anlise factorial As concepes iniciais de inteligncia aplicaram a anlise factorial com o objectivo de isolar factores ou habilidades gerais e especficas de inteligncia, mas este procedimento no permite fornecer informao sobre a natureza dos processos mentais envolvidos. Torna tambm difcil testar diferentes teorias alternati-vas. Esta hiptese parece ter actualmente pouco apoio, devido ao gigantesco trabalho desenvolvido por Carrol (1993) que verificou a presena de um factor g e de outros factores especficos, organizados num sistema hierrquico. No mbito da teoria psicomtrica o modelo de inteligncia mais aceite defende a existncia de diversas habi-lidades mentais especficas dependentes hierarquicamente de um factor geral, estando o desempenho do sujeito dependente de ambos. No entanto, saber se a inteligncia melhor representado por um factor ou outro ainda uma questo em aberto.

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    Teorias de processamento de informao A abordagem factorial dominou os estudos de inteligncia at dcada de 70. com o surgimento da psicolo-gia cognitiva experimental, a inteligncia passou a ser concebida como uma componente da mente que afecta as vrias fases de processamento da informao. Para o modelo de processamento da informao, a inteli-gncia resulta de uma srie de processos usados para resolver problemas. Alguns dos investigadores mais importantes nesta rea foram: Haier - inteligncia e o metabolismo da glicose: na dcada de 90 usou tcnicas de imageologia cerebral (PET) para observar o crebro durante a realizao de tarefas cognitivas inteligentes (ex. jogar tetris), tendo

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    verificado que os indivduos com melhor desempenho tendem a usar globalmente menos glucose ao nvel do metabolismo cerebral. Netteleck - inteligncia e tempo de inspeco: nas experincias desenvolvidas verificou-se que o menor tempo de inspeco (durao) est relacionado com valores maiores de inteligncia em vrios testes da WAIS, ou seja uma pessoa mais inteligente capaz de inspeccionar mais rapidamente uma figura simples e indicar onde se encontram as diferenas. Jensen - inteligncia e tempos de reaco de escolha: defendeu a hiptese de que a inteligncia est rela-cionada com a rapidez de conduo dos circuitos neuronais. Hunt - inteligncia e acesso lexical: tambm props que a inteligncia est relacionada com o tempo de reaco , nomeadamente ao nvel da velocidade lexical. Simon - inteligncia e resoluo de problemas: utilizou os problemas tpicos dos jarros de gua (8,5 e 3 litros = 2x 4 litros) e dos canibais e missionrios (3 / 3 para a mesma margem sem nenhum esta em maioria). Verificou que as pessoas mais inteligentes organizam a sequncia e as operaes mais rapidamente e reve-lam ter uma memria operatria com maior capacidade. Sternberg - inteligncia e analogias: defendeu que para se resolverem analogias necessrio dividir o pro-blema global em 5 fases: codificar o significado; relaciona-lo; ordena-lo; aplica a relao deduzida e indica a resposta. Aqui os indivduos mais inteligentes gastam mais tempo no planeamento global da tarefa e menos na execuo e aplicao de estratgias. Teorias de desenvolvimento cognitivo Estudam as mudanas qualitativas que ocorrem no pensamento da pessoa ao longo da vida, tendo em conta as influncias de natureza biolgica (maturao) e da experincia com o meio (aprendizagem). Teoria de Piaget: props uma teoria do desenvolvimento cognitivo assente em 4 fases qualitativamente distintas: sensrio-motora (0-2 anos); pr-operatria (2-7 anos); concreta (7-11 anos) e formal (acima dos 12 anos). Em cada fase h uma adaptao complexa crescente da criana, sobretudo nos processos fisiolgicos de maturao. O desenvolvimento intelectual tem 3 processos fundamentais: assimilao (incorporao de novos conhecimentos), acomodao (modificao ao nvel dos esquemas por forma a integrar novos elemen-tos do meio) e equilibrao (equilbrio entre as duas anteriores reflectido num processo de resoluo de esquemas conflituais e respectiva integrao em novas estruturas). Piaget considera que o desenvolvimento cognitivo se desenvolve atravs de um processo de maturao biolgica, que ocorre de dentro para fora. Teoria de Vygotsky: ressalta o papel do meio social no desenvolvimento intelectual da criana (aprende a linguagem e o pensamento por meio dos pais e da sociedade onde se inserem). Contrariamente a Piaget, Vygotsky diz que o desenvolvimento intelectual se processa de fora para dentro por meio do processo de interiorizao, que consiste na absoro do conhecimento a partir do meio ou contexto. Vygotsky introduziu a noo de zona de desenvolvimento proximal (ZDP) que se constitui no conjunto de habilidades que a criana ainda no domina mas que tem potencial de adquirir e aplicar se as circunstncias se proporciona-rem. Vygotsky considerou que os textes convencionais de inteligncia apenas testavam a inteligncia esttica e no a inteligncia dinmica que o conceito de ZDP implica. Teorias contextuais A inteligncia envolve factores universais comuns a todas as pessoas, havendo aspectos que so valorizados por umas culturas e considerados menos relevantes por outras. Tambm as caractersticas de personalidade de cada pessoa so capazes de potenciar ou limitar o desempenho intelectual. Sternberg Teoria Trirquica de Inteligncia: concebe a inteligncia como uma interaco complexa de capacidades de processamento de informao, experincias especficas e influncias contextuais ou culturais, ou seja, a inteligncia um conjunto de actividades mentais que tem por objectivo a adaptao, a regulao e a seleco de situaes ambientais relevantes para a vida de cada um. Para Sternberg a inteligncia inclui trs tipos de habilidades principais, que orientam a pessoa em relao ao mundo interno (analtica), ao mun-do externo (prtica) e ao mundo interno/externo (criativa). Habilidade Analtica: capacidade para realizar tarefas que envolvam diferentes passos ou componentes, tam-bm designada como inteligncia acadmica ou componencial (sries nmericas, resoluo analogias) Habilidade Prtica: capacidade para fazer face ao dia-a-dia. Componente adaptativa do comportamento ao meio ambiente, por forma a entender situaes, resolver problemas prticos e conseguir um relacionamento

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    adequado com os outros. Habilidade Criativa: habilidade para perceber solues criativas e inovadoras face a novos problemas. Baseia-se na experincia passada e pode designar-se tambm por inteligncia experiencial. Gardner Teoria das Inteligncias Mltiplas: concebe a inteligncia de forma modular, ou seja, o crebro est organizado em mdulos diferenciados, cada um dos quais responsveis por um tipo de inteligncia. Gardner props sete inteligncias: Lingustica: habilidades verbais usadas na fala, na leitura, escrita e audio. Lgico-Matemtica: raciocnio lgico e resoluo de problemas de tipo matemtico. Espacial: formar imagens espaciais (ler um mapa, encontrar o menor caminho entre dois locais, arrumar os pratos na mquina, etc.) Musical: criao de melodias e ritmos (tocar instrumentos e fazer apreciao musical) Corporal e Quinestsica: expressa atravs da dana, ginstica e ilusionismo. Intrapessoal: conhecer-se a si prprio, descobrir os pontos fracos e desenvolver o sentido de identidade. Interpessoal: compreender os outros e saber interagir. Esta teoria consoladora e reconfortante para a maioria das pessoas que se consideram melhores numa rea do que noutra, mas h investigadores que julgam que Gardner foi longe demais ao incluir no conceito de inteligncia certo tipo de talentos ou aptides. Inteligncia Emocional: conceito proposto por Salovey e Mayer (1990) foi desenvolvido por Goleman (1997). a habilidade para identificar e controlar os prprios sentimentos e emoes, usando a informao obtida para guiar o pensamento e a aco. As habilidades envolvidas incluem a identificao e compreenso das emoes no prprio e nos outros, a expresso e a regulao das emoes e o uso das expresses emocio-nais de forma adaptativa. O Problema da Hereditariedade-Meio A que se devem as diferenas de inteligncia? A razes hereditrias ou genticas ou devido influncia do meio sociocultural? Factores Genticos: os gmeos so estudados nas investigaes sobre a influncia da hereditariedade nas diferenas individuais de inteligncia. A hiptese gentica defende que quanto maior for a similaridade gentica entre duas crianas, maior ser o coeficiente de correlao de QI. Adopo de Crianas: diversos estudos (Fulker, Horn) apontam que as crianas adoptadas tm uma maior similaridade em termos de QI com as mes biolgicas. Factores Ambientais e Socioculturais: h vrios estudos que demonstram o importante papel destes facto-res nas diferenas individuais de inteligncia. Interaco Hereditariedade-Meio: a hereditariedade e o meio contam no desenvolvimento intelectual humano. O problema conseguir determinar qual a estimativa aproximada da influncia especfica de cada uma delas. MOTIVAO (definio) Segundo Nuttin a motivao uma fora que age sobre um sujeito e o pe em movimento; uma energia que ao libertar-se pe a mquina a funcionar. Nuttin considera ainda a motivao como uma tenso afecti-va, todo o sentimento susceptvel de desencadear e sustentar uma aco em direco a um objectivo. A motivao confere trs caractersticas a todo o comportamento: fora, direco e persistncia, consoante o valor atribudo ao objectivo. Conceitos Motivacionais: Necessidade - estado interno do organismo que est privado ou carente de alguma coisa biolgica, psicol-gica ou social; Impulso - tenso e urgncia na realizao de um comportamento, tornando-o mais energtico. Impulsos primrios, derivam de estados fisiolgicos. Impulsos secundrios, resultam de aprendizagens. Os impulsos podem ter vrias funes: homeosttica (tendncia para reduzir fome, sede, etc.); aversiva (tendncia para evitar a dor e mal estar); exploratria (tenso para experimentar novos comportamentos ou avaliar novos estmulos no ambiente); anticipatria (planear a satisfao de necessidades futuras; pausa (refere-se a situa-es de lazer). Incentivo estmulo externo que atrae ou repele um comportamento. Incentivo primrio (alimento); Incenti-

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    vo secundrio (salrio, prmios, posse de objectos). Motivo impulso para a aco substituindo progressivamente o conceito de impulso. Envolve uma compo-nente psicolgica acentuada e elementos emocionais (realizao pessoal, auto-estima, afiliao) Teorias da Motivao Biolgicas Teoria dos Instintos: O comportamento de um organismo ou pessoa impelido por instintos. O pressuposto desta teoria refere que todos os membros de uma espcie esto geneticamente programados para agir da mesma maneira ou de forma semelhante. McDougall foi um dos investigadores que ressaltou o papel dos instintos no comportamento (animais/homem). McDougall substitiu mais tarde o termo instinto por propen-so, devido ao criticismo de que foi alvo. O principal argumento contra esta teoria de que o ser humano no exibe comportamentos fixos, estereotipados e no aprendidos como os animais, quando muito possui alguns reflexos elementares (suco). Teoria Sociobiolgica: considerada uma ramificao da T. dos Instintos, estuda as bases genticas e evolu-tivas do comportamento em todos os organismos, tentando explicar os comportamentos sociais desde a vida em grupo, at ao altrusmo e cuidados parentais. A sua principal fora ou motivao fazer passar o maior nmero de genes para a gerao seguinte. Teoria de Freud: props a existncia de dois grandes instintos ou pulses nascena: a pulso da vida (eros) e a pulso da morte (tanatos). Estes instintos estariam presentes numa espcie de caldeiro de ener-gia (Id). O Id ou inconsciente retm os desejos ou memrias reprimidas. O ego o guardio da conscincia, recalcando os desejos devido a presses parentais ou sociais. Teorias da Motivao - Comportamentais Teoria da Reduo dos Impulsos: defende que os organismos so impelidos e motivados para a reduo de impulsos. Impulso um estado interno de tenso que determina um organismo a comportar-se determinado modo a fim de reduzir a tenso existente. O objectivo manter um estado constante ou correcto de equilbrio interno (homeostase) para uma certa necessidade. Teoria da Excitao: props a substituio do conceito de impulso pelo conceito mais geral de excitao. Diz que h motivos psicolgicos que em vez de terem por fim a reduo da tenso procuram antes aument-la. A explorao e descoberta de situaes novas um motivo que no parece satisfazer partida qualquer necessidade biolgica e no se enquadra bem na teoria da reduo de impulsos. Teoria do Incentivo/Reforo: as pessoas so puxadas pelo desejo de alcanar um objectivo. O incentivo promove ou penaliza o comportamento numa determinada direco a partir de um estmulo externo. Haven-do dois tipos de orientaes motivacionais: extrnseca quando se pretende alcanar uma recompensa exter-na e tangvel; intrnseca pela satisfao pessoal; a teoria do incentivo ignora o reforo intrnseco. Teorias Motivacionais Teoria Humanista de Maslow A teoria de Maslow uma teoria das necessidades humanas que tem subjacente trs postulados: as pessoas so motivadas no sentido de satisfazer as suas necessidades; as necessidades so hierarquizadas; as pessoas progridem na hierarquia das necessidades medida que as inferiores so satisfeitas. Para este autor cada indivduo possui um conjunto hierarquizado de sete necessidades:

    - Fisiolgicas: fome, sede, sexo; - Segurana: referentes a ameaas fsicas e emocionais - Sociais ou de Pertena: aceitao, amizade; - Estima: auto-respeito, autonomia, realizao, reconhecimento, status, ateno; - Cognitivas: curiosidade e desejo de obter novos conhecimentos; - Estticas: apreciao da beleza e arte, organizao da vida social; - Auto-realizao: realizao do potencial individual, crescimento pessoal.

    Maslow agrupa as primeiras quatro naquilo que denomina de necessidades carentes (cuja satisfao tem primazia sobre as restantes) e necessidades do ser ou de realizao e crescimento. Apesar desta sua classifi-cao Maslow reconhece que a sua organizao pode no ser fixa (as pessoas podem sacrificar temporaria-mente necessidades de ordem fisiolgica em favor de necessidades de ordem cognitiva ou esttica, por exemplo). Reconheceu ainda que muitas pessoas talvez no consigam satisfazer as necessidades do topo da hierarquia.

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    Teorias Cognitivas Bandura afirmou que o que leva uma pessoa a agir tem a sua raiz nas actividades cognitivas. A motivao um processo cognitivo e envolve a maior parte das vezes uma tomada de deciso consciente. As teorias cog-nitivas defendem que as pessoas agem no por motivos externos ou condies ambientais (reforos e incen-tivos) ou at mesmo fisiolgicas (fome), mas antes em funo das percepes e interpretaes que do aos acontecimentos, assim como em funo dos objectivos, planos e expectativas que formam. As pessoas so activas e curiosas, buscam informao e procuram atingir nvel de compreenso da realidade cada vez maio-res. Teoria da Dissonncia Cognitiva de Festinger: as pessoas sentem tenso e desconforto quando so induzi-das a dizer ou a tomar uma posio contrria s crenas e valores em que acreditam (dissonncia cognitiva). Esta tenso motiva a pessoa a reinterpretar a situao e a minimizar as inconsistncias a fim de restaurar um estado de consistncia cognitiva (p. 230). Resumidamente, a conscincia de uma atitude contrria s nossas crenas leva-nos a justificar essa atitude (o fumador conhece os malefcios do tabaco mas inventa desculpas para o seu vcio). A teoria sustenta que uma pessoa processa a informao de forma activa sempre que en-contra discordncias ou incongruncias em termos de conhecimentos e saber, faz um esforo para mudar de opinio e atitude de forma a conseguir um estado de coerncia e consistncia cognitiva. Modelos de Atribuio Causal: descries das justificaes, desculpas e porqus que as pessoas do para explicar os sucessos e fracassos no comportamento do dia a dia. O modelo do locus de controlo de Rotter, tenta situar a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso no interior ou no exterior das pessoas. As pessoas com um locus de controlo interno assumem a responsabilidade pelo seu comportamento e pelo seu destino. As pessoas com um locus de controlo externo acreditam que as for-as que determinam as suas vidas situam-se no exterior e fora do seu controlo, sendo a sorte ou a falta dela uma das causas frequentemente referidas. O modelo de Weiner diz que as causas dos sucessos ou fracassos podem ser caracterizados em funo de trs dimenses: Locus (causa situa-se no exterior ou no interior da pessoa); Estabilidade (a causa estvel ou instvel); Responsabilidade (a causa est sob a responsabilidade da pessoa esforo ou incontrolvel sade, sorte, dificuldade da tarefa). Weiner descreveu quatro atribuies (duas internas e duas externas) que as pessoas referem para justificar os seus sucessos e insucessos numa tarefa.

    - Habilidade (tiveram sucesso porque so espertos e habilidosos; falharam porque no o so); uma atribuio interna e estvel.

    - Esforo (tiveram sucesso porque se esforaram e trabalharam muito; falharam porque no trabalha-ram o suficiente); uma atribuio interna e instvel.

    - Dificuldade (tiveram sucesso, porque a tarefa tinha uma dificuldade aceitvel e razovel; falharam porque a tarefa era muito difcil); uma atribuio externa e estvel.

    - Sorte (tiveram sucesso ou fracasso por motivos de sorte ou por razes externas desconhecidas); atri-buio externa e instvel.

    A dimenso de locus interno e externo estaria relacionada com sentimentos de auto-estima. Se o sucesso ou fracasso fosse atribudo a factores internos, a pessoa sentiria orgulho e uma motivao crescente no caso de sucesso; ou uma reduo na auto-estima no caso de fracasso. A dimenso estabilidade est relacionada com expectativas sobre o futuro. Se o sucesso ou fracasso fosse atribudo a factores estveis como a dificuldade da tarefa, no caso de sucesso criava-se a expectativa de o mesmo vir a acontecer no futuro com tarefas de dificuldade semelhante ou maior. A dimenso de responsabilidade estaria relacionada com as emoes de orgulho e reconhecimento ou de ira e vergonha. Se a pessoa bem sucedida numa tarefa que sente como estando ao seu alcance, a pessoa sentir orgulho e satisfao; se falha sentir vergonha. Ma se percebe que a tarefa est fora do seu alcance, o sucesso ser atribudo sorte e o fracasso originar estados de ira contra o responsvel pela tarefa. A necessidade de ter uma imagem positiva de si prprias, leva as pessoas a atribuir os sucessos a factores internos e os fracassos a factores externos. Teorias Aprendizagem Social Tentam integrar influncias das teorias do comportamento (behavioristas) e cognitivas. A influncia beha-

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    viorista reflecte-se na importncia dada aos determinantes externos do comportamento e a influncia cogni-tiva ressalta o papel dos determinantes internos do comportamento. Teoria da Expectativa x Valor (Atkinson): a Motivao resultado da multiplicao da Probabilidade de sucesso vezes o valor do Incentivo ao sucesso (M = Ps x Is). Uma das caractersticas desta teoria o facto da frmula ser multiplicativa, o que implica que se um dos elementos for igual a zero, o resultado final ser tambm zero. Teoria de Nuttin: sublinha a abordagem interaccionista da motivao humana, baseada nas interaces dinmicas e preferenciais que se estabelecem entre pessoa e meio (eu-mundo). H interaces que so prefe-ridas a outras e no mbito deste relacionamento e desta valorizao selectiva que a personalidade humana se constitui e desenvolve. Modelo de Bandura: desenvolveu o conceito de auto-eficcia (crenas que uma pessoa tem sobre a sua competncia pessoal na realizao de uma tarefa e no controlo de uma situao). As pessoas tm tendncia a trabalhar mais e a persistir durante mais tempo numa tarefa quando tm um sentimento elevado de auto-eficcia (nada far um futuro bem sucedido como um passado bem sucedido). Bandura fala ainda do estabe-lecimento activo de objectivos; os objectivos estabelecidos determinam o critrio para uma pessoa avaliar o seu prprio desempenho. Motivao Intrnseca e Extrnseca A motivao intrnseca aquela que parte do indivduo que decide fazer uma tarefa, est consciente das suas capacidades para a realizar e pensa obter satisfao na sua realizao. A motivao extrnseca ocorre quando uma pessoa obtm uma recompensa agradvel ou evita uma situao desagradvel na realizao de uma tarefa. Deci e Ryan prope um contnuo motivacional que vai da amotivao (nvel zero de motivao) num extre-mo motivao intrnseca no outro extremo, passando pelas diversas cambiantes da motivao extrnseca. EMOO Comportamento observvel atravs do rosto, voz, gestos e posio corporal. A emoo inclui uma compo-nente de excitao fisiolgica, ao nvel do sistema nervoso autnomo (o medo, a alegria, a tristeza, so tra-duzidos fisicamente de diferentes formas e acarretam diferentes reaces qumicas). A emoo tambm uma interpretao cognitiva conjunta do estado fisiolgico e da situao que desencadeou a reaco (o mes-mo estado fisiolgico pode ou no dar origem a uma emoo). A emoo uma experincia subjectiva (uma situao desencadeia diferentes emoes; as emoes podem ser agradveis ou desagradveis; podem ser mais ou menos controladas, etc. Funes da Emoo Funo Adaptativa: ajudam os organismos a enfrentar questes chave de sobrevivncia postas pelo ambiente. Darwin defendeu que a comunicao o aspecto mais importante da emoo em termos de sobre-vivncia. Diz ele que as emoes so um sistema bsico da espcie, gravado no sistema nervoso para efeitos de comunicao, permitindo a adaptao a diferentes situaes. Nos homens quando o papel adaptativo da emoo desempenhado satisfatoriamente a emoo torna-se num estado racional, porque est adaptada percepo que a pessoa faz da situao. Funo Motivacional: as emoes mobilizam a pessoa para responder a situaes urgentes sem perda de tempo ou a ponderar qual a melhor reaco ou resposta. A rapidez com que as emoes surgem e nos domi-nam, essencial para mobilizar o organismo para reagir. Funo Perturbadora: estados contnuos e frequentes de tristeza e depresso perturbam a aco, enviesam a maneira de pensar e revelam-se desmobilizadores da aco. Conceitos Emocionais Desordem emocional: reaces emocionais no apropriadas a uma dada situao. Estados de ansiedade e fobias so desordens emocionais. Trao emocional: estado consistente e estvel no comportamento da pessoa.

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    Outros conceitos como sentimento, afecto podem ser considerados sinnimos de emoo sendo que descri-minam variaes ao longo da