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Curso: PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE NA
INCLUSÃO SOCIAL
Disciplina: INTERVENÇÃO
PSICOPEDAGÓGICA NO ENSINO
FUNDAMENTAL E EDUCAÇÃO INFANTIL
Prof. MS. CEZAR AFONSO BORGES
Instituto Superior de Educaçaçãodo Vale do Juruena
Associação Juinense de Ensino Superior do Vale do Juruena Pós-Graduação Lato Sensu em PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE NA INCLUSÃO SOCIAL
Prof. MS. CEZAR AFONSO BORGES
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Av. Gabriel Muller, s/n– Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br – [email protected]
Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98.
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
Psicopedagogia desde suas origens mostrou-se uma área de atuação integrativa, abarcando conhecimentos de
diferentes áreas de modo a desenvolver um corpo teórico próprio sobre os problemas na aprendizagem humana. Daí
que, em nossa atuação, nos tornarmos especialistas em integração do sujeito humano, na medida que oportunizamos o
equilíbrio de suas características.
Quando se trata da aprendizagem humana, diferentes teorias tornam-se complementares. Daí a psicopedagogia
fazer uso, por exemplo, dos conhecimentos da Psicologia Cognitiva e da Psicanálise. Utilizamos, portanto, diferentes
pólos teóricos, pois estes se mostram complementares quando se trata da aprendizagem humana.
A própria aprendizagem é uma ação integradora uma vez que acontece segundo a adequação das diferentes
características que constituem o sujeito, somadas ao ambiente em que está inserido.
Segundo Fernandez, o sujeito aprendente é constituído por corpo, organismo, desejo e inteligência que inter-
relacionam-se harmoniosamente. Ela nos diz que,
“Assim como em todo processo de aprendizagem estão implicados os quatro níveis (organismo, corpo inteligência e
desejo), e não se poderia falar de aprendizagem excluindo algum deles, também no problema de aprendizagem,
necessariamente estarão em jogo os quatro níveis em diferentes graus de compromisso”. (Fernandez, 57:1990).
Entende-se o sintoma problema de aprendizagem como fruto do desequilíbrio resultante de fatores internos ao
sujeito, organismo e corpo, ou externos a ele, inteligência e desejo.
A inteligência e o desejo podem ser tomados como fatores externos ao sujeito se considerarmos que têm sua
existência inter-relacionada entre si e com o ambiente externo, do qual sofre constante interferência.
A Psicopedagogia na tentativa de entender os mecanismos envolvidos no surgimento do problema de
aprendizagem não se detém aos aspectos fisiológicos, obedecendo então a uma abordagem cartesiana, pois isso
restringiria sua visão.
A intervenção psicopedagógica no intuito de contribuir para sanar a patologia do aprender não se opõe à utilização de
medicamentos quando estes são necessários, como no caso de TDAH. Nem por isso sua atuação pode ser classificada
como organicista.
O tratamento medicamentoso, apesar dos ganhos no alívio de determinados sintomas, como por exemplo, no alívio da
hipercinesia, não complementa ou possibilita o preenchimento das aquisições instrumentais não adquiridas durante o
período anterior ao tratamento.
Se fixarmos a intervenção na eliminação do sintoma, não estaremos tratando do sujeito como um todo, e ele estará
muito provavelmente, predisposto ao surgimento de outros problemas.
Uma intervenção para ser eficiente deve buscar o que leva ao surgimento do sintoma, quais condições favorecem seu
surgimento.
Da mesma forma, dar excessiva ênfase às influências externas (família) de modo a direcionar o tratamento a ela pode
levar ao erro de se esquecer que o sujeito apresenta dificuldades por uma tendência própria a desenvolvê-las.
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Deve-se também atentar para a possibilidade de a manifestação do problema de aprendizagem trazer algum tipo de
benefício ou mesmo ser uma maneira própria de estabelecer relação com o seu mundo.
O psicopedagogo com uma postura integrativa levará em conta não só o sintoma fruto de um distúrbio orgânico, mas
também o afetivo e o emocional que o acompanham. A importância do afetivo emocional está em que não só podem
fazer parte do surgimento ou do agravamento do sintoma como também são importantes no processo de cura.
O surgimento do sintoma pode ser considerado como uma forma de expressar um desequilíbrio na constituição do
sujeito enquanto aprendente.
A conquista do equilíbrio está, não na ênfase em suprir o que falta ao paciente, mas em possibilitar-lhe uma ação
integradora do que ele já conquistou para que na ação possa construir ou resgatar o que lhe falta.
RESGATANDO O APRENDENTE
O não aprender pode ter sua origem em uma incapacidade alicerçada em distúrbios físicos ou em uma recusa, uma
evitação que tem a função de fuga de algo ameaçador que a aprendizagem, o conhecimento traz para o sujeito. Para
esses, conhecer, aprender repercute em uma ameaça a ser evitada.
Desde muito pequena a criança está na constante busca em conhecer. Há uma gradativa exploração do mundo e
uma concomitante criação de teorias que o explique.
Na primeira infância, seu pensamento a levará a criar teorias imaturas e até fantasiosas, daí ser muito fácil crianças
acreditarem, por exemplo, em cegonha, para explicar de onde vêem os bebês.
Gradualmente, com o desenvolvimento do pensamento, o contato com a realidade levará a outras explicações e ao
abandono das teorias imaturas.
Essa passagem do pensamento mágico para o pensamento lógico, mesmo este tendo mais confiabilidade, exigirá que a
criança faça um ajustamento das informações de tal forma que ela se sentirá ameaçada quanto mais apegada estiver
neste pensamento mágico e, mais apegada estará quanto mais a realidade lhe for desconfortável.
Dessa forma, há a possibilidade do aprendizado acadêmico tornar-se desinteressante, pois o sujeito não adquire o
progressivo amadurecimento de seu pensamento para considerar o conteúdo ministrado uma aprendizagem confiável e
desejável.
A manutenção do pensamento mágico pode se tornar um recurso para não incorporar conhecimentos da realidade que
incomodam.
O pensamento objetivo é lógico e real, comprova a realidade de maneira às vezes difícil, como por exemplo, o
conhecimento dos ciclos da vida ou a verdade sobre a origem de uma criança adotiva.
O pensamento mágico é reconfortante, pois leva a fantasias que fogem do peso que a realidade pode representar,
confortando, consolando o sujeito.
Assim, em casos onde o portador de problemas na aprendizagem é filho adotivo, deve-se atentar para uma correta
percepção do alcance do problema uma vez que a situação de adoção em si não leva necessariamente ao seu
surgimento, mas sim, como a família administra as informações sobre esse fato e como se dá sua dinâmica. Faz-se
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importante conhecer a maneira com a qual a criança estrutura seu pensamento, se o que sua família lhe apresenta como
real é diferente do que sua capacidade de percepção lhe mostra, esse tipo de situação pode gerar um conflito que inibe o
sujeito em sua possibilidade de explorar, investigar, tornando-o portador de uma modalidade de aprendizagem
patogênica.
Saber leva à consciência uma realidade, muitas vezes de difícil aceitação.
A aprendizagem de algo se dá porque o relacionamos ao que já temos internalizado e a partir desse contato fazemos
relações entre os conhecimentos anteriormente adquiridos e os novos.
O não aprender se dá quando o resultado desta assimilação repercutir em sofrimento, daí a não acomodação, o
esquecimento.
A criança então não ultrapassa os limites do conhecer para chegar ao saber, pois o saber lhe trará mudanças internas que
ela não está preparada para ter, daí um conflito e a recusa em aprender.
A aprendizagem nos possibilita uma constante mudança. A cada nova aprendizagem deixamos para trás algo e
adotamos o novo.
Um novo conhecimento repercute sempre em uma transformação e o não aprender, em algumas circunstâncias, pode ser
interpretado como uma evitação dessa mudança.
A família pode, sem o saber, desenvolver mecanismos que levam seus membros a desenvolverem problemas na
aprendizagem.
Com uma freqüência cada vez maior, nos deparamos com pais que buscam o prolongamento da dependência da infância
em seus filhos.
Vemos crianças que, já cursando o Ensino Fundamental ainda usam chupeta e mamadeira, ou dormem na cama com os
pais, adolescentes proibidos da satisfação de fazerem a barba pela primeira vez sob a alegação materna de que, “ainda é
cedo para o filho ter essas preocupações”(sic).
A criança vive mensagens ambivalentes que ora dizem que a querem “adulta” ora confirmam com rigidez seu estado
infantil, dificultando ou impossibilitando um avanço no aprender e na conquista da autonomia, tão necessários ao
desenvolvimento dos sujeitos.
Algumas atividades de aprendizagem repercutem conflitivamente em conteúdos já interiorizados e a única forma de
apaziguar a angústia que trazem é por meio da evitação do aprender.
A aprendizagem mantém uma relação constante com a família do sujeito. Isso porque é no ambiente familiar que se
processam as primeiras aprendizagens e estas acontecem sob o olhar e desejo dos pais, neste momento visto pela
criança como mais sábios, pois lhe apresentam o mundo e a amparam em aprendizagens básicas como andar falar e se
alimentar.
A criança que, até ir para a escola se coloca como depositária dos ensinamentos parentais, com a vida escolar passa a
possuir conteúdos próprios, e ser a detentora de experiências e conhecimentos que são apenas dela e os quais os pais só
terão acesso se ela assim o quiser.
Os pais passam então, frente ao filho, a serem também depositários, e a aceitação dessa nova condição será perceptível
segundo o interesse que tiverem sobre os conhecimentos que lhe são trazidos. A qualidade da receptividade parental
para essa nova condição fará diferença no desenvolvimento do sujeito frente ao conhecimento e conseqüentemente em
sua vida escolar.
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Se o exercício do papel de pai e mãe estiver alicerçado sob a condição de “saber mais”, o casal parental pode temer
perder o status de detentores do conhecimento e o suposto “poder” que este lhe trouxe até então sobre os filhos.
Essa movimentação da criança que, de aprendiz dos pais passa a também trazer conhecimento para eles, pode repercutir
em sofrimento segundo a dificuldade do casal parental em se adaptar a essa nova condição, o que pode levar a criança a
evitar este novo papel.
A criança sente-se capaz segundo o olhar que o outro lhe dirige e, a cada nova aprendizagem obtém material que será
unido às aquisições anteriores transformando a utilização destes e sua visão e ação sobre o mundo.
O que gera dificuldade é o desejo de não agir sobre sua realidade com este material novo, pois esta ação será conhecida
pelo outro.
A conexão de novos conceitos com experiências vividas pode trazer à tona angústias e uma maneira de evitá-las será
afastar-se da aprendizagem.
O trabalho psicopedagógico, frente à problemas de aprendizagem fruto de tais circunstâncias, buscará levar ao paciente
e sua família uma nova maneira de olhar as aquisições de conhecimento e as mudanças que elas trazem para a vida dos
sujeitos.
As aquisições de conhecimento, vistas como gratificantes e enriquecedoras, possibilitarão ao sujeito aprendente retomar
um processo de aprendizagem saudável.
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E FAMÍLIA
Márcia Goulart Tozzi Pego
Durante a intervenção psicopedagógica, a lentidão ou ausência de progressos é um fator que pode determinar a
necessidade de envolver a família do paciente no tratamento, isso porque há casos onde o trabalho individual por si
só, não consegue romper os padrões de aprendizagem patogênicos, necessitando de uma ação mais abrangente.
O envolvimento da família no atendimento deve ser considerado quando são percebidos em seu âmbito, distúrbios que
interferem sobre o paciente com problemas de aprendizagem. Estes distúrbios podem ser desde conflitos entre o casal
parental, dificuldades na comunicação de idéias, rivalidade entre irmãos, rituais, lealdades ou mesmo um mito que,
herdado de gerações anteriores, representa um peso para o sujeito que manifesta o sintoma.
Torna-se importante considerar a possibilidade de serem estes conflitos, participantes da dinâmica que leva ao
surgimento de uma paralisia do livre fluxo de ação e pensamento, necessários à construção de uma modalidade de
aprendizagem saudável.
A família passa por fases de desenvolvimento e mudanças que levam à necessidade de uma constante reorganização, de
maneira a mudar seus limites internos e externos. Nascimentos, casamentos, falecimentos e até a passagem de seus
membros da infância para a adolescência e vida adulta, fazem parte do que conhecemos como ciclo vital e exige, da
família, uma constante readaptação de seus membros que deverão adotar os comportamentos adequados a cada fase.
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Toda essa movimentação deverá ocorrer segundo as expectativas sociais sem, no entanto, impedir a conquista do espaço
de diferenciação de cada membro.
A intervenção psicopedagógica, quando assume a necessidade de intervir junto à família nuclear, deve cuidar para que
nessas sessões estejam presentes todos os seus membros, de modo que não fique implícita somente a um dos pais, a
responsabilidade sobre o filho que manifesta o sintoma.
Dessa maneira, é possível apreender o interjogo das ações de cada um e seu respectivo grau de comprometimento no
surgimento do sintoma. Atentando para as idéias e sonhos trazidos em seu discurso, nos é possível compreender como
se dá à apreensão do real e em que grau há fantasia prejudicando sua percepção.
Possibilitar melhoras de percepção entre os membros da família facilita o reconhecimento dos mitos que estão
determinando expectativas, as funções e os papéis de cada um e o que interfere em sua organização familiar sem que
tenha sido antes discutido.
Toda família se organiza sobre normas e leis que poderão ser colocadas verbalmente ou não. A intervenção
psicopedagógica voltada também para a família poderá ajudar no real conhecimento delas, caso não estiverem claras ou
forem apenas parcialmente compreendidas, criando a possibilidade de compreensão do outro, a adequação de papéis e
de limites.
Assim, o trabalho psicopedagógico requer do especialista uma real percepção de si, de maneira a não se deixar levar
pelos próprios valores durante a intervenção. Isso porque o reconhecimento de um problema de aprendizagem e a
intervenção mais adequada para solucioná-lo será resultado da bagagem cultural que ele traz consigo e que interferirá na
sua capacidade de observação e análise de cada caso.
Também sua postura frente à aprendizagem terá grande influência sobre o trabalho com a família e na
possibilidade de seus membros ressignificarem e sentirem segurança em seus papéis de ensinante e aprendente.
A atuação psicopedagógica, enquanto protetora e facilitadora das relações, repercutirá em envolvimento na
manutenção de um sistema familiar com uma saudável circulação do conhecimento, possibilitando o equilíbrio de poder
entre seus membros, clareza na definição de papéis e de limites.
Enfim, a intervenção psicopedagógica buscará não se limitar à compreensão da dificuldade, mas à aquisição de novos
comportamentos que levem à sua superação.
O ATENDIMENTO PSICOPEDAGÓGICO FRENTE O ADOLESCENTE
Márcia Goulart Tozzi Pego
Este trabalho tem o objetivo de reunir algumas informações sobre um período tão importante do desenvolvimento
humano que é a adolescência. Isso porque, é importante ao psicopedagogo, frente um adolescente com problemas na
aprendizagem, entender as características comuns a este período de modo a ajudar os pais a obterem uma melhor
compreensão da fase pela qual passa o filho e poderem juntos discriminar o que é fruto de problemas na aprendizagem e
o que faz parte de uma etapa de desenvolvimento normal dos sujeitos, de maneira a ser realizada uma adequada
intervenção.
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A adolescência não é conhecida como um período temido à toa. Se observarmos os estágios do desenvolvimento
humano, poderemos perceber que a adolescência é um período relativamente curto se considerarmos o grande número
de transformações a que o sujeito nesta fase é submetido.
Há uma verdadeira revolução que leva a mudanças biopsicossociais.
O surgimento da puberdade, marco de todo esse processo, inicia a entrada do sujeito no mundo adulto. Esta fase é
caracterizada por toda uma série de transformações, adquirindo o corpo, as características sexuais secundárias que
causarão a definitiva perda do corpo infantil.
A velocidade com que essas mudanças corporais ocorrem pode não ser acompanhada pela necessária mudança em
relação à representação mental do próprio corpo, daí a freqüência com que se encontra adolescentes desajeitados.
Isso se deve pelo fato de as alterações corporais que surgem serem mais rápidas que o desenvolvimento da percepção e
representação mental.
Há, conseqüentemente, mudanças no comportamento emocional, social e intelectual, isso porque o pensamento que dá
um salto no desenvolvimento, passará a funcionar das operações concretas para as abstratas.
O pensamento formal começa a se estruturar a partir dos 11/12 anos. A adolescência é o período no qual se espera que o
jovem supere as características do raciocínio lógico concreto e possa estruturar seu pensamento a partir de conceitos
abstratos. Passando a relacionar e pensar sobre conteúdos aprendidos e sobre fatos vividos ou imaginados.
O estágio das operações formais será alcançado segundo o estabelecido das fases de desenvolvimento anteriores a ele, e
sobre as quais irá alicerçar-se.
A criança que internalizou as figuras parentais e o ambiente segundo o desenvolvimento de sua percepção, passando
pelos estágios sensório motor, pré-operatório e operatório concreto terá, com o aprimoramento de sua cognição para as
operações abstratas, uma diferente percepção do mundo.
Isso quer dizer que amplia sua percepção do ambiente, passando a manipular idéias quando antes se limitava a
manipular objetos. A aquisição da capacidade de abstração e interpretação possibilita refletir sobre situações abstratas,
relacionando-as com outras informações e fazer julgamentos. Isso a leva a escolher para si novos valores.
A conseqüência disso recai imediatamente nas figuras parentais que passarão a ser vistas sobre um outro prisma e, com
isto, o questionamento às regras e a freqüente rejeição a qualquer idéia ou sugestão vinda deles.
Alterada sua percepção do mundo também terá mudado seus gostos e interesses. Passando a fazer escolhas
anteriormente rejeitadas e a se aproximar de pessoas diferentes. Mudam-se os gostos e simpatias.
É uma passagem evolutiva que depende não só de aspectos relacionados à individualidade do sujeito como também do
sistema familiar e social do qual ele participa.
Teremos então um sujeito que, simultaneamente às alterações físicas, sofrerá mudanças nos aspectos emocionais,
sociais, sexuais e intelectuais. No entanto, apesar dessas mudanças serem desencadeadas simultaneamente, elas
evoluirão em ritmos diferentes, repercutindo em um processo de desenvolvimento assimétrico.
A nível orgânico, o término desse processo irá ocorrer aproximadamente aos 16 anos. Não há, no entanto, uma idade
limite rígida, havendo a possibilidade de variações segundo cada um.
No entanto, se o organismo tem uma idade aproximada para o fim da adolescência esta fase não se reduz apenas às
alterações físicas, mas também psicossociais. Daí que o término da adolescência será considerado a partir da conquista
pelo sujeito da maturidade biopsicossocial.
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Quanto aos aspectos sociais que determinarão o término da adolescência, estes variarão segundo a cultura e o grupo no
qual o jovem está inserido, pois serão suas exigências e expectativas que contribuirão ou retardarão a entrada do sujeito
no mundo adulto.
O ADULTO FRENTE O ADOLESCENTE
As inevitáveis modificações físicas e orgânicas desta fase ocasionam um olhar diferente por parte do adulto, pais e
professores, que passam a cobrar dos jovens posturas “adultas” segundo as aquisições culturais do grupo.
Submetido às pressões dos grupos sociais surgirão mudanças na personalidade que por um tempo oscilará entre o
surgimento de comportamentos ora infantis, ora adultos.
O mundo adulto que antes protegia o jovem passa a cobrar-lhe maturidade segundo as características físicas
recentemente adquiridas, sem compreender a desigualdade no desenvolvimento do sujeito que ora se apresenta como
adulto, ora como criança.
O jovem, na busca de seu lugar no mundo passa a procurar além do círculo familiar, ajustar-se aos padrões de outros
grupos.
O casal parental, quando recorre ao atendimento psicopedagógico de um filho adolescente, apresenta-se freqüentemente
com sentimentos de menos valia em relação a seus papéis de pais. Sentem-se confusos com o crescimento dos filhos
que já não aceitam sua autoridade e idéias sem questionamento.
O enfrentamento que o jovem passa a manifestar contra qualquer situação que, mesmo remotamente, o lembrem de seu
período de infância, leva os pais a responderem com diferentes comportamentos. Alguns apresentam reação
depressiva, geralmente as mães, pela perda que sentem da maior proximidade que costumavam ter com os filhos, sendo
o crescimento e conseqüente independência, recebido com tristeza e até com o surgimento de distúrbios
psicossomáticos.
Encontramos pais absolutos sobre o que é certo e o que é errado em opiniões e atitudes as quais impõe ao jovem, sem
considerar sua possibilidade em diferir.
Há pais indiferentes que se omitem em dialogar com o jovem, ou por acharem que ele precisa se decidir sozinho, sem
interferência ou por se ressentirem do comportamento desafiador deste e assim deixam o jovem opinar e agir sem
parâmetros, pois não há com quem ele possa diferir de opinião. E pais negociadores que, conscientes do poder de
decisão que lhe compete enfrentam e argumentam, não temendo contrariar o jovem e nem reconhecer quando este tem
razão.
A entrada do filho na puberdade pode ser uma fase de grande sofrimento para pais que se ressentem da perda do corpo
infantil. Esse sentimento de perda pode ser indício de problemas se for acompanhado pela negação da natural e
crescente autonomia dos filhos.
Observamos com certa freqüência que o jovem que é submetido a uma proteção exagerada, traz consigo prejuízos pela
falta de possibilidade de independência e individuação decorrentes da superproteção. Conseqüentemente, apresenta
prejuízos no seu potencial criativo e de resolução de problemas.
A falta de possibilidades em tornar-se gradualmente independente culmina em uma entrada na adolescência permeada
de insegurança e vergonha pela falta de capacidade em se cuidar sozinho. Isso inevitavelmente repercute em crise no
relacionamento com os pais que, acostumados a exercer uma postura superprotetora, entrarão em confronto com o
comportamento adolescente de busca de liberdade e enfrentamento aos limites.
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Há pais que não se dão conta de que suas preocupações podem sufocar e/ou minar qualquer potencial que o filho possa
ter em sua vida.
Alguns pais podem sentir, no crescimento e autonomia dos filhos, a evidência de seu envelhecimento e tornam-se
confusos com a sobra de tempo que surge em decorrência de não serem mais tão necessários.
O casal parental pode ter pendente o enfrentamento de questões de seu relacionamento que o cuidado com os filhos
ajudaram a protelar. Ter tempo sobrando por não ser mais tão necessário ao filho exigirá um reposicionamento que o
casal, muitas vezes, não está preparado para viver.
A ênfase no insucesso que o jovem apresenta, em alguns casos pode ser interpretada como uma maneira de
aproximação mantendo os pais em uma posição de cuidados e atenção semelhante aos primeiros anos escolares.
Para muitos pais isso se torna motivo de grandes brigas e recriminações sobre o filho.
As excessivas queixas dos pais podem levar o jovem a mergulhar em um espaço onde só há o errado em sua vida.
O jovem desprovido de qualquer qualidade embarca nas queixas e lamentações que a escola e pais fazem dele, deixando
perdida qualquer possibilidade de sucesso.
Às vezes é dotado de qualidades tão diferentes do que a família espera dele que elas passam despercebidas.
Despertar o interesse do jovem pelos estudos e pela busca de caminhos de realização tem relação direta com
experiências de sucesso. Isso porque ser bem sucedido desperta o sujeito para a realização de atividades enquanto que, o
mau desempenho, o afastará das tentativas de realização. Possibilitar uma visão real sobre os talentos do jovem e
prestigiá-lo justamente, sem excessivas críticas, é a melhor postura para ajudá-lo em sua conquista do mundo adulto.
Frente à constante recusa dos jovens em acatar suas palavras, alguns pais passam a sofrer e considerar que educaram
mal os filhos, interpretando a necessidade que estes tem de manifestar idéias próprias como desafios à sua autoridade e
falta de respeito.
O jovem tende a interpretar a dependência como uma característica infantil e passa a confundi-la com a autoridade dos
pais, indo contra qualquer pedido ou sugestão destes por considerá-los manipulação. É uma ação de recusa em continuar
criança, uma demonstração de que já é capaz de ter vontade própria.
As mudanças físicas, psicológicas e sociais que ocorrem repercutem na conscientização de que não são mais crianças e
passam a ser mais forte em suas exigências, entendem que ser independente é fazer o que tem vontade e isso levará a
conflitos por ainda serem dependentes economicamente.
Lamentavelmente existe a tendência nas famílias de utilizarem os aspectos econômicos como o elo mais forte ao qual
mantém os jovens submetidos, utilizando-se deles com freqüência para impor sua vontade.
O sujeito superará a fase de adolescência quando ultrapassar a necessidade de oposição e auto-afirmação, ouvindo com
tranqüilidade opiniões diferentes das suas sem sentimentos de ameaça à sua pessoa, bem como aceitar para si as idéias
que lhe transmitem que lhe são convenientes.
O ADOLESCENTE E A ESCOLA
O período em que se desenvolve o pensamento formal é a adolescência e este período será mais bem desenvolvido
quanto melhor estiver a vivência social do sujeito, o que dá à escola um papel muito importante.
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Enquanto o desenvolvimento das fases anteriores ocorre independente da criança ir ou não à escola, o bom
desenvolvimento do pensamento formal está relacionado à interação entre o desenvolvimento maturacional e as
experiências de vida.
O gradual desenvolvimento que ocorre em cada estágio envolve condutas sociais que levarão a criança a confrontar-se
com situações, onde lhe é exigido considerar o outro em detrimento da realização de seus desejos. A princípio voltada
só para seus desejos, não considera ou percebe desejos e opiniões que não são dela.
A descentração que ocorre então, possibilitará a interação entre as idéias que o sujeito traz com as de outros,
repercutindo em uma troca que, para ocorrer satisfatoriamente, exigirá de cada sujeito envolvido que se comunique de
modo organizado e claro de maneira que consiga sustentar sua opinião.
O papel da escola neste período é de fundamental importância pelo leque de experiências sociais que oferece aos jovens
e pelo exercício constante que exige deles na elaboração de seu pensamento, na medida que utiliza a linguagem para a
transmissão de informações e cobra do jovem a organização destas, e da sua própria maneira de comunicá-las.
A vida acadêmica exige um desenvolvimento crescente das aquisições que envolvem a linguagem trazendo
vocabulários diferentes dos utilizados e que são muitas vezes difíceis de associar a palavras conhecidas. A evolução da
linguagem passa da utilização de palavras de sentido concreto para o abstrato.
A escola não só oferece palavras novas, mas também utiliza uma estrutura de frases onde o sujeito da oração não está
imediatamente após ou antes do verbo e, nem sempre aparece, o que pode levar alguns alunos a se confundirem ao
tentar compreender as informações.
As regras gramaticais podem levar a conflitos daí encontrarmos jovens que se expressam com palavras ou frases curtas,
de modo a não se verem obrigados a porem o pensamento em ordem na oração.
Esses jovens, não conseguem organizar suas idéias de modo a transformá-las em orações compreensíveis.
Percebemos em suas verbalizações e produções escritas, ordem confusa na colocação do sujeito e do verbo na oração
além de má utilização dos tempos verbais.
Frente à dificuldade em compreender orações complexas as informações nelas contidas ficam sem sentido.
Do Ensino Fundamental II ao Ensino Médio a complexidade em relação à estrutura das orações aumenta exigindo dos
estudantes a compreensão de mensagens implícitas, das ironias e dos trocadilhos.
Alunos com dificuldade no uso da linguagem terão declínio no desempenho acadêmico conforme a evolução e
complexidade das diferentes disciplinas.
Os professores, para dar conta das diferentes maneiras que cada aluno tem de se apropriar do conhecimento, devem se
utilizar não só da oralidade, mas também de ilustrações, da escrita, enfim de todas as formas de expressão para alcançar
seus alunos respeitando assim suas diferentes maneiras de estruturar o pensamento.
O sucesso escolar é possível para aqueles que conseguem utilizar a linguagem com facilidade isso porque as seguidas
instruções e informações apresentadas em sala de aula requerem uma certa facilidade em se apropriar de todo o
significado das mensagens para acompanhar o ritmo das aulas.
O professor que deseja manter seus alunos motivados deve possibilitar situações de desafio e sucesso para todos e não
só para alguns, os eleitos melhores.
É comum a escola estabelecer um trabalho pedagógico que atende a necessidade infantil até o término do ensino
fundamental I. A partir da entrada no ensino fundamental II (5a série) há uma mudança brusca no método que
desconsidera a assimetria do processo de desenvolvimento pelo qual está passando a criança.
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Isso repercutirá em grande angústia para pais e professores que elevam o nível de exigência sem que todos estejam
aptos a cumpri-la. Daí o surgimento do mito sobre a quinta série, muitos alunos ainda estão com as características
psicossociais bastante infantis e conseqüentemente, sua qualidade de pensamento também.
Os pais que se empenharam na transmissão de valores e referenciais que foram aceitos na primeira infância, passam a
ter suas ações e opiniões vistas com desconfiança pelo jovem que não as reconhece mais como universais.
A ocorrência de conflitos é inevitável tanto em relação à aprendizagem de conceitos que exigem uma maior abstração
quanto em relação ao comportamento social que passa a exigir escolhas, surgindo turmas, grupinhos, que cobrarão dos
jovens mudanças em seu comportamento para que este se sinta “parte” do grupo.
É comum haver uma queda do rendimento escolar no período em que a criança entra na adolescência.
Mesmo o jovem que nunca apresentou grandes dificuldades escolares pode passar por um declínio no seu rendimento
escolar e isso não deve ser interpretado como prenúncio de problema na aprendizagem porque quando há uma boa
estabilidade na fase de adolescência o jovem volta a se interessar e se empenhar nos estudos.
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E O ADOLESCENTE
O adolescente encaminhado para atendimento psicopedagógico está vivendo um período muito especial de sua vida. É o
reconhecimento de que algo não vai bem com ele somado a um período turbulento de seu desenvolvimento.
A adolescência se somada a problemas na aprendizagem pode levar a um grande sofrimento.
Lamentavelmente, quando encontramos um jovem que apresenta problemas na aprendizagem, constatamos com uma
certa freqüência que ele já apresentava um desempenho escolar aquém de suas reais possibilidades, denunciando antigas
dificuldades.
Geralmente é uma dificuldade que se arrastou por anos e que somada à turbulência da adolescência toma proporções
maiores a ponto de levar os pais a buscar ajuda.
A intervenção psicopedagógica deve trabalhar em paralelo com os pais, marcando encontros regularmente de modo a
esclarecer dúvidas sobre a intervenção além de liberar angústias e medos. Isso porque essa proximidade, com os pais
possibilita uma parceria onde todos se unem para alcançar algo comum.
Os pais podem se encontrar, de tal forma cansados e decepcionados, que nutrem sentimentos ambivalentes pelo jovem
e, proporcionar que eles coloquem esses sentimentos em palavras para melhor lidar com eles é um passo importante
para a compreensão e o encontro de equilíbrio entre o que é real, possível em relação ao filho e o que é imaginário e
ofusca suas reais possibilidades.
Uma boa intervenção psicopedagógica deve alcançar e sensibilizar pais e professores a juntos contribuírem para o não
agravamento da dificuldade além de por meio de medidas preventivas, evitar o surgimento de outras.
PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL – REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO
PSICOPEDAGÓGICO COM GRUPOS
O trabalho psicopedagógico institucional possibilita o processo de formação e
desdobramento das relações interpessoais e grupais de seus participantes. Cada
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participante é fruto da articulação de várias e diferentes dimensões vividas
simultaneamente. Portanto, trará consigo experiências de vida que, somadas às situações
de cada grupo com o qual interage, repercutirão em seus interesses e necessidades.
Se a princípio, o trabalho com o grupo cria uma dependência em relação à figura
do especialista, esta tenderá a se diluir com o transcorrer das sessões.
O psicopedagogo deverá desempenhar seu papel cuidadosamente de modo a
administrar, harmoniosamente e sem manipulação, o poder que lhe é dado pela
instituição, construindo assim o espaço próprio de exercício da autoridade que se
estabelece com as reuniões do grupo.
O grupo, formado a partir do poder atribuído ao psicopedagogo, será o espaço de exercício deste enquanto líder
instituído e especialista.
Articulam-se aí dois níveis de poder, o poder advindo da instituição e o outorgado pela condição de
especialista.
No entanto, a posição de liderança que exerce não deve justificar mandos e desmandos nem uma atuação
limitada a orientações ou práticas que envolvam a aplicação de conhecimentos (aulas). Sua condição frente ao grupo
deve ser transformada de modo a servir como um favorecedor da expressividade natural dos participantes, criando
condições para o fluir positivo das relações entre os sujeitos, e entre eles e os produtos que resultam das experiências
vividas, oportunizando sua troca e ressignificação.
O que interessa no encontro é o que surge a partir dos intercâmbios ocorridos entre os participantes e o
conjunto de relações estabelecidas, são as experiências e interesses dos participantes e o gradual estabelecimento da
descentralização da ação.
No trabalho com grupos há uma constante produção, fruto da inter-relação do coletivo e do individual, pois
ambos constituem-se, criando-se e recriando-se num exercício de constante reciprocidade.
Interessa-nos uma situação grupal que não seja interpretada com o peso da
responsabilidade em criar, mas que seja vista pelos participantes com a leveza do
que é dispensável, só tendo a utilidade de um espaço de experimentação que pode
ser muito enriquecedor.
Propiciar no encontro dos sujeitos com distúrbios de aprendizagem o livre exercício de criar, agir e ser
interagido, refletir e ser refletido, tendo a oportunidade de dar ao outro o que traz consigo e também receber deste a
bagagem adquirida de outros grupos.
Estar com o outro possibilita, a partir do contato e confronto com a diferença que traz cada um, a recriação de
si mesmo.
O trabalho em grupo se estabelece como um espaço onde se vive a autoria de frente ao outro, exercendo os
papéis de ensinante e aprendente num ir e vir que possibilita a cura do sujeito na medida que oportuniza que ele se
recrie enquanto participante criativo de um grupo onde age e é interagido. É um espaço de experimentação que
favorece, além de uma riqueza de trocas, o respeito ao ritmo de produtividade e às expressões, fruto da objetividade e
subjetividade de cada um, possibilitando a reorganização do sujeito aprendente enquanto social e enquanto indivíduo.
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Cada sujeito, em particular, experimentará a identificação e as diferenças com relação ao outro, à sua maneira
de expressar, criando e recuando os limites do seu eu.
A experiência grupal possibilita que o eu, enquanto sujeito individual, se dissolva no intercâmbio dinâmico e,
conseqüentemente, se reorganize a partir das experiências subjetivas e objetivas compartilhadas. Oportuniza que se crie
e produza exercitando o eu enquanto pessoal e enquanto parte de um grupo.
O sujeito individual frente à experiência com o grupo tem a possibilidade de perceber a si mesmo enquanto
presença motivada para a ação e a própria transformação que repercute como resposta da sua interação com o meio.
Quanto ao papel do psicopedagogo, este tem participação ativa como elemento do grupo, acompanhando e
criando com os sujeitos e assim participando e sofrendo os efeitos do processo grupal, tendo em conta não só os
aspectos objetivos, mas também os subjetivos.
Deverá manter-se atento para quando é ou não necessária sua intercessão no grupo, pois é comum que os
participantes tenham como mais importante às experiências de troca que efetuam uns com os outros.
Também deverá atentar para com o processo de relações que ocorre entre os pacientes de modo a possibilitar a
contínua expressão dos sentimentos deles e o fluir de sua criatividade.
Há momentos em que devem ser feitas orientações ou comunicados ora ao grupo ora a um sujeito
especificamente. Estes momentos devem ser claramente dirigidos para alcançar seu fim, quero dizer, quando se deseja
dar uma comunicação ao grupo não se deve dirigi-la a um só participante, da mesma forma, quando dirigir alguma
colocação a um determinado sujeito não se deve generalizá-la como se fosse para o grupo todo.
É importante a clareza na comunicação do psicopedagogo.
O grupo terá sua realidade constituída a partir da contribuição dos sujeitos, que trarão consigo suas
experiências, interesses, necessidades, medos e ansiedades.
Haverá a articulação entre os participantes de modo a dar cada um sua contribuição no desempenho das tarefas.
Esta articulação é saudável e desejável na medida que possibilita o sentimento do eu enquanto “produtor”,
“realizador” e capaz de contribuir para com os outros no alcance de objetivos comuns.
Há sujeitos que não sabem participar de grupos sem trazer transtornos, impedindo ou perturbando a realização
e desempenho dos participantes nas atividades.
O psicopedagogo atuará junto ao grupo respeitando as diferenças e não buscando reduzí-las, mas
oportunizando que se crie e recrie, possibilitando que haja uma transformação positiva da agressividade manifesta.
Cabendo-lhe uma ação que não perca de vista o respeito e a tolerância tanto pelos pacientes como por suas experiências
expressas, objetiva ou subjetivamente.
Os sujeitos precisam sentir-se confiantes, seguros em se exprimir e compartilhar o que no momento sentem ser
importante. Daí, a necessidade de estar preparado para as diferentes expressões que pode assumir a particularidade de
cada um, a importância da compreensão do sentido pessoal de cada ação que envolve o outro e a possibilidade que
surge, a partir dessa relação, da criação e recriação dos limites do próprio eu do sujeito.
Buscando sempre garantir que aflore, não só o potencial criativo e a livre expressão de sentimentos de cada
participante, mas também, o ajustamento criativo entre o sujeito e o mundo, respeitando os aspectos objetivos e
subjetivos que constituem a essência de cada um.
A ação do psicopedagogo fica então a serviço da expressividade natural e atualização das possibilidades de
autotransformação pessoal de seus pacientes.
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Deve favorecer a organização dinâmica dos sujeitos de modo que possam, agir e interagir, articulando as ações
de ensinante e aprendente harmoniosamente, trazendo de seus grupos de origem práticas de vida e informações que
serão utilizadas sob outra ótica e, tendo a oportunidade de experimentar a boa ou má receptividade do grupo a elas,
ressignificá-las.
Enfim, permitir a ocorrência da reelaboração criativa e ressignificação das experiências de seus pacientes de
maneira que estes se coloquem, enquanto sujeitos capazes de usufruir o exercício dinâmico e fluído da ação de
ensinante-aprendente.
A família e a intervenção psicopedagógica
Será em âmbito familiar que a criança irá começar a usufruir a sua capacidade de pensar e haverá estreita ligação entre o
pleno exercício desse potencial e as experiências vividas desde seu nascimento.
A mãe, como primeiro objeto de conhecimento, será uma facilitadora do contato do bebê com outros objetos.
O bom exercício desse papel dependerá de um desenvolvimento psíquico que possibilite que a mãe seja pessoa
amadurecida e posicionada como favorecedora do crescimento, independência e individuação do filho.
A mulher que viveu uma boa relação com a própria mãe terá na experiência da maternidade a oportunidade de dar um
novo significado para esse papel, repetindo o que lhe foi bom e melhorando ou rejeitando o que, enquanto filha,
experimentou como mau, libertando-se da angústia guardada do seu período de desenvolvimento infantil.
A adaptabilidade da mãe às necessidades do filho trará harmonia ao seu processo de desenvolvimento e a conquista de
sua identidade, possibilitando que passe de um período de aceitação e admiração das figuras parentais, para o período
em que se sinta capaz de julgamento, questionamento e individuação.
Esse desprendimento nem sempre é aceito pela mãe que se fixa no papel de facilitadora do filho, mantendo-o na
dependência e conflituando com ele a qualquer movimentação deste na direção da individuação.
A mãe que se mantém num constante cuidado ao filho, dedicando-se à manutenção da sua dependência, tem neste
comportamento a demonstração de que vive um papel maternal cristalizado, sem uma saudável movimentação.
O bom exercício de seu papel de mãe estará relacionado à sustentação, alimentação e investimento em seus outros
papéis enquanto mulher.
O pai que é aparentemente delegado a segundo plano, devido a extrema dependência que tem o recém nascido da mãe,
na verdade tem um papel fundamental no estabelecimento e manutenção do bom exercício de sua companheira no papel
de mãe.
O homem que consegue nutrir sua companheira em outros papéis consegue ter dela o melhor do papel de mãe.
São exercícios que se complementam e interatuam na formação de uma mãe suficientemente atenta e disposta a
compreender seu filho com todas as exigências que este faz.
Dessa maneira, podemos considerar que o bom exercício da função materna está diretamente vinculado ao adequado
suporte paterno, não só às necessidades físicas, mas também emocionais da mãe.
Da mesma maneira que a mãe deve se sensibilizar com a extrema dependência do seu bebê para ser paciente e buscar
adequadamente entendê-lo e ajudá-lo, o pai deve estar sensível à sua companheira, dando-lhe o amparo necessário para
que ela consiga exercer este novo papel.
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Este exercício de percepção do outro e de doação deverá acontecer ao nascimento de cada filho, pois cada um à sua
maneira, irá desencadear na mãe emoções diferentes fazendo-a única para cada um.
Com isso, os papéis de pai e mãe, apesar de serem aparentemente os mesmos pelas inúmeras exigências iguais que
todas as crianças tem, serão especiais e únicos para cada uma, e deverão estar sempre se adaptando às exigências delas.
O casal parental exercerá bem seu papel na medida que perceberem que não há uma receita específica para seus papéis
de pai e mãe e que eles nunca estarão prontos, mas desenvolvendo, crescendo junto com seus filhos.
Os conflitos que freqüentemente surgem nas famílias podem ser fruto da estagnação dos papéis dos pais que já se
julgam prontos e não tem a flexibilidade para adaptar-se às necessárias e constantes mudanças de seus filhos.
Encontramos casais que mantêm uma relação extremamente estreita e complementar e o surgimento do filho não
repercute na ampliação do grupo familiar. Há o estabelecimento de uma relação dual do casal parental cuja rigidez não
permite a entrada do terceiro na composição da relação familiar.
Nestes casos os cuidados são delegados a outras pessoas que tanto podem ser da família ou profissionais sob as mais
diferentes desculpas.
Há mães que se esquivam de suas funções delegando-as a outros. Estes poderão ser uma tia, avó, madrinha, o pai ou
uma empregada. Qualquer um serve para completar o espaço vazio que elas não conseguem preencher.
Há mães que não conseguem mudar a relação com seu filho, que é extremamente estreita, preservando-a na dualidade,
não permitindo a entrada do terceiro na relação. Aqui, há a manutenção da relação simbiótica entre mãe e filho que
continuam ligados por um cordão umbilical imaginário. Neste caso o pai fica excluído da relação e o filho
impossibilitado de um desenvolvimento saudável na medida em que não lhe é permitido ter contato com o outro.
Há uma cristalização do processo natural de desenvolvimento psicossocial, ficando a criança como propriedade da mãe.
À criança não é permitido o acesso ao conhecimento, haverá sempre a mãe entre ela e o conhecimento.
O esperado é que a mãe aceite o filho como alguém que existe e pode interagir no meio e se relacionar com um terceiro.
Solicitando a entrada do pai e favorecendo a passagem da relação diádica para a relação triangular.
A família constrói expectativas sobre os filhos que nem sempre ele é capaz de sustentar satisfatoriamente.
O nome dado à criança, seu sexo ou sua posição na ordem de nascimento dos filhos pode reverter a ela toda uma
expectativa familiar que, incapaz de separar o sujeito individual do sujeito sonhado passa a encará-lo como problema.
A inadequação de um dos pais ou de ambos no desempenho de suas funções levam invariavelmente a problemas, se não
a todo o grupo familiar, ao menos a um de seus membros que poderá apresentar sintomas na aprendizagem. Essa
inadequação no papel dos pais repercute em prejuízos que se agravarão se não houver a busca de mudanças.
O nível de dificuldade que surgir para atingir uma mudança satisfatória no membro desajustado será determinante no
estabelecimento de angústia e na soma de outras dificuldades, repercutindo no agravamento do problema.
Encontramos tipos de dinâmicas comuns em famílias que tem um membro com problemas na aprendizagem.
Quanto à organização e hierarquia entre os membros estes podem estar submetidos à rigidez ou completa falta de
normas.
A permissividade do casal parental ou de um dos pais leva os filhos a terem dificuldades em internalizar a ordem e
carregarem em si a sensação de estarem desprotegidos.
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As famílias, extremamente organizadas e com rigidez no exercício das normas, se mantém com um funcionamento
controlado de seus membros, os quais devem agir segundo o estabelecido, não havendo a mínima possibilidade de
mudança sem ocasionar um grande conflito.
Há um completo desrespeito pelas diferenças individuais. A espontaneidade e a criatividade são altamente
comprometidas.
Quanto à interação entre os membros da família pode ser percebido um baixo nível na união familiar ou uma ligação
extrema entre os membros.
A união excessiva dos membros tende a levar a família a uma imobilidade que dificulta o desenvolvimento individual e
conseqüentemente o desempenho de papéis.
A falta de discriminação dos papéis leva ao surgimento de conflito nas atitudes e no estabelecimento de normas.
Há um desequilíbrio na família na medida que possibilita a definição de papel apenas ao sujeito que apresenta o
sintoma. A indefinição se torna o padrão comum aos outros membros da família.
Um período curto nesta situação não acarreta problemas, mas se houver um prolongamento dele é inevitável o
desequilíbrio na dinâmica familiar e a possibilidade de surgimento de sintoma problema de aprendizagem.
A ocorrência de contradição nos papéis familiares pode levar a uma dinâmica familiar conturbada na medida que há
uma inversão do comportamento esperado.
É comum que conflitos familiares se estabeleçam pela incapacidade de seus membros renunciarem à posse uns dos
outros e exigirem que todos vivam para satisfazerem-se mutuamente.
Frente aos pais que agem dessa forma pode-se pensar que há aqui uma reedição da experiência de onipotência e
domínio vivida quando bebê com a mãe.
A família cuja existência vive sob este dinamismo dificulta que seus membros conquistem a autonomia, diferenciação e
conseqüentemente o crescimento individual.
A aprendizagem como impulso que pode distanciar os membros da família, levando-os para longe de seus domínios
pode ser querida, mas não desejada, o que repercutirá nos inúmeros entraves que podem ser colocados na vida escolar
dos filhos.
A intervenção psicopedagógica junto à família não deve ter em vista resolver o que leva ao sofrimento de seus
membros, mas o conhecimento do que repercute como saudável ou não em sua dinâmica de modo a oportunizar a
melhora da qualidade de comunicação para que todos possam usufruir o direito de expressar idéias e sentimentos.
Possibilitar que o sujeito enquanto indivíduo com escolhas, idéias e opiniões próprias não seja mais visto como ameaça
e que as fronteiras antes rígidas possam se tornar mais flexíveis.
A melhora da percepção e a possibilidade em se construir um novo olhar sobre si mesmo e o outro, repercute na
qualidade do conhecimento e de sua circulação.
Haverá mudanças na dinâmica do grupo a partir do momento que forem negociadas, partilhadas e aceitas as diferentes
opiniões de seus membros.
A repercussão disso será decisiva sobre o sujeito com distúrbios na aprendizagem que passará a ser um membro em
interação com o grupo e não alguém a quem todos dirigem o olhar.
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A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NA PARCERIA COM OS PROFESSORES
Ana Silvia Figueiral
De objetivo, o aluno passa a ser um meio. De problema, ele se transforma numa oportunidade.
Oportunidade de aprendizagem para o professor.
Historicamente, a intervenção psicopedagógica vem ocorrendo na assistência às pessoas que
apresentam dificuldades de aprendizagem, através do diagnóstico e da terapêutica. Diante do baixo
desempenho acadêmico, alunos são encaminhados pelas escolas que freqüentam, com o objetivo de
elucidar a causa de suas dificuldades. A questão fica, desde o princípio, centrada em quem aprende,
ou melhor, em quem não aprende.
Diferente de estar com dificuldade, o aluno manifesta dificuldades, revelando uma situação mais
ampla, onde também se inscreve a escola, parceira que é no processo da aprendizagem. Portanto,
analisar a dificuldade de aprender inclui, necessariamente, o projeto pedagógico escolar, nas suas
propostas de ensino, no que é valorizado como aprendizagem. A ampliação desta leitura através do
aluno permite ao psicopedagogo abrir espaços para que se disponibilize recursos que façam frente
aos desafios, isto é, na direção da efetivação da aprendizagem.
No entanto, apesar do esforço que as escolas tradicionalmente despendem na solução dos problemas
de aprendizagem, os resultados do estudo psicopedagógico têm servido, muitas vezes, para
diferentes fins, sobretudo quando a escola não se dispõe a alterar o seu sistema de ensino e acolher
o aluno nas suas necessidades. Assim, se a instituição consagra o armazenamento do conteúdo
como fator de soberania, os resultados do estudo correm o risco de serem compreendidos como a
confirmação das incapacidades do aluno de fazer frente às exigências, acabando por referendar o
processo de exclusão. Escolas conteudistas, porém menos "exigentes", recebem os resultados do
estudo como uma necessidade de maior acolhimento afetivo do aluno. Tornam-se mais
compreensivas, mais tolerantes com o baixo rendimento, sem, contudo, alterar seu projeto
pedagógico. Mantém, assim, o distanciamento entre o aluno e o conhecimento. Nelas também
ocorre o processo de exclusão.
O estudo psicopedagógico atinge plenamente seus objetivos quando, ampliando a compreensão
sobre as características e necessidades de aprendizagem daquele aluno, abre espaço para que a
escola viabilize recursos para atender as necessidades de aprendizagem. Desta forma, o fazer
pedagógico se transforma, podendo se tornar uma ferramenta poderosa no projeto terapêutico.
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No entanto, mudanças vem ocorrendo, sobretudo nos últimos anos. A ótica que privilegia a divisão
acadêmica, que categoriza os alunos, que valoriza o homogêneo, que considera o conteúdo como
um fim, começa a sofrer um esvaziamento. Realoca-se o conceito de aprender, a função do ensinar.
Dar conta da diversidade, do heterogêneo, possibilita o aprender coletivo, a riqueza da troca, o
aprender com o outro. O professor deixa de ser apenas o difusor do conhecimento e vive o fazer
pedagógico como o espaço para a estimulação da aprendizagem.
E, é no desdobramento desta nova condição do professor, que o estudo psicopedagógico (eu prefiro
usar a palavra estudo no lugar de diagnóstico, dadas as implicações daí decorrentes) pode adquirir
um novo recorte, ampliando sua função, que não se finaliza mais no aluno. De objetivo, o aluno
passa a ser um meio. De problema, ele se transforma numa oportunidade. Oportunidade de
aprendizagem para o professor. Refletindo acerca dos resultados, numa ação conjunta com o
psicopedagogo, o professor se sente desafiado a repensar a prática pedagógica, inscrevendo a
possibilidade de novos procedimentos.
Para o psicopedagogo, a experiência de intervenção junto ao professor, num processo de parceria,
possibilita uma aprendizagem muito importante e enriquecedora, sobretudo quando os professores
são especialistas nas suas disciplinas. Uma experiência bem sucedida que tive na intervenção
psicopedagógica em parceria com os professores, foi vivida numa escola regular, da rede particular
de ensino, na zona sul da cidade de São Paulo.
A escola encaminhou a família de A. para o estudo psicopedagógico. Os testes de avaliação
adotados à ocasião da matrícula nem puderam ser considerados, devido ao aparente desinteresse de
A. em participar. Acostumada aos desafios com alunos portadores de dificuldades, a escola
condicionou a possibilidade de aceitá-lo, aos resultados do estudo, desde que realizado por uma
profissional que estivesse familiarizada com as propostas de ensino da instituição. Visava, desta
forma, avaliar a adequação entre suas possibilidades e as condições de aprendizagem daquele aluno.
Como era de se esperar, os pais vieram muito ansiosos em busca de auxílio. Cansados de tantas
mudanças, referiram ser aquela a sétima escola que o filho iria freqüentar. Concluído o estudo, a
matrícula foi confirmada na 7a.série. Os resultados obtidos revelavam um quadro importante de
dificuldades na aprendizagem, com indicação para terapia psicopedagógica.Em virtude de outros
atendimentos a que se submetia, não havia nenhuma possibilidade de se introduzir uma nova
terapia. A solução encontrada foi intervir junto aos professores que iam atuar em sala de aula, sob
forma de orientação psicopedagógica. Este também seria o elo que vincularia todos os informes
profissionais disponíveis sobre o aluno com as observações de classe feitas pelos professores.
Visávamos favorecer a sustentação da parceria professor-aluno.
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A orientação psicopedagógica para os professores ocorreu através de reuniões mensais. Algumas
condições foram consideradas fundamentais para o trabalho de orientação. As reuniões não
deveriam ser individuais, mas com o grupo, favorecendo a troca de informações e possibilitando
uma maior compreensão. O apoio dado não deveria ocorrer através da descrição das patologias que
A. apresentava. Os nomes das dificuldades não ajudariam em nada. Do contrário, serviriam de
rótulo, desestimulando os professores e o nosso objetivo era o oposto. Queríamos desafiá-los.
Desafiá-los na descoberta das características específicas daquele aluno, sobretudo nas
possibilidades preservadas para a aprendizagem. A fala dos professores representava, também, a
possibilidade de ampliar a nossa compreensão, como especialistas, sobre o caso, permitindo uma
intervenção mais eficiente.
Iniciamos o trabalho pela escuta. Todos tinham o que dizer daquele aluno tão fora do padrão do
grupo, apesar da escola ter grande experiência no atendimento de alunos com dificuldades de
aprendizagem e dos professores passarem, freqüentemente, por reciclagem. Nos relatos, havia
pontos em comum: o aluno nada produzia, não fazia as lições, não se mobilizava para nada e, para
ter algum rendimento, precisava ser estimulado individualmente. Além da dificuldade na
compreensão da leitura, seus colegas não entendiam o que ele dizia, em função de problemas na
fala.
Associada a estas queixas, a defasagem no conteúdo era constatada em todas as áreas. Assim,
sugerimos a introdução de uma professora de apoio, que o auxiliaria fora do período escolar, mas no
ambiente da escola. Este procedimento também atenderia a preservação da relação mãe-filho,
desgastada sobretudo pelas questões escolares. Por isto, A. foi mantido em período integral na
escola, voltando para casa com todas as tarefas cumpridas.
Poder reconhecer e falar dos conflitos no lidar com a diferença, permitiu aos professores caminhar
numa nova direção, na direção das possibilidades daquele aluno. Assim, no final da primeira
reunião, diante de tantos nãos, combinamos relacionar, para o encontro seguinte, apenas os pontos
positivos, isto é, os aspectos preservados no desempenho de A.
Na reunião que se seguiu, todos os professores se mostravam muito ansiosos por falar. Além do
reconhecimento de pontos positivos, eles tinham podido lidar com as diferenças no grupo de alunos,
como eles próprios tinham vivido na reunião. Alguns já tinham desenvolvido novas estratégias de
trabalho com sucesso. Analisando estas propostas, extraímos o que havia em comum em todas elas
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e isto alavancou, durante a reunião, novos projetos. Alguns professores relatavam contatos
estabelecidos com o aluno que tinham se processado de diferentes maneiras. Concluímos que estes
vínculos seriam diferentes porque envolviam diferentes pessoas, de diferentes disciplinas.
Empolgados com a análise e com as possibilidades de intervenção em classe, os professores se
sentiram estimulados na direção das possibilidades de aprendizagem daquele aluno.
Assim, a cada encontro eram relatadas novas conquistas até que, entre os professores, instalou-se a
necessidade de um maior entendimento acerca do que explicava aquelas características tão
particulares do aprendizado, que eles agora conheciam melhor. Visavam, desta maneira, reconhecer
o significado da dificuldade no processo da aprendizagem. Este era o ponto, que pode ser
delimitado pela análise do desempenho do aluno, valorizando as habilidades que poderiam estar por
detrás de cada situação bem sucedida. Ampliando o nível de compreensão entre tarefas e
habilidades implicadas, os professores puderam associar sua experiência e criatividade com as
necessidades de A.
Foi um trabalho coletivo de criação. Como no processo de inclusão, o aprendizado era coletivo e o
desafio, inscrito na diversidade. Um aprendia com o outro. Ninguém ficou confinado na sua
disciplina e as propostas tinham uma característica comum: não eram as rotineiras. Através deste
exercício, todos saíram da reunião dispostos a fazer novas experiências em sala de aula para relatar
na reunião seguinte.
Paralelamente ao trabalho de orientação, a intervenção psicopedagógica também se propunha a
incluir os pais no processo, através de reuniões, possibilitando o acompanhamento do trabalho
realizado junto aos professores. Assegurada uma maior compreensão, os pais ocuparam um novo
espaço no contexto do trabalho. Abandonando o papel de espectadores, assumiram a posição de
parceiros, participando, opinando e cobrando. Incorporados ao trabalho de equipe, eles também
tinham função e responsabilidades bem definidas. Decididamente, eles sabiam a quem recorrer em
caso de necessidade. Ficaram menos ansiosos.
Na etapa que se seguiu com os professores, demos continuidade ao trabalho de ampliação da
compreensão dos sucessos, compondo, também, estratégias que pudessem diminuir o impacto das
dificuldades instrumentais, mais especificamente na leitura e na escrita. Estavam, todos eles,
francamente mobilizados para o ensino e, conseqüentemente, para a aprendizagem daquele aluno.
Os insucessos eram pontuados sem necessidade de serem descritos. O problema não residia ali. O
desafio era como conseguir. Achei, então, que era chegado o momento dos professores entenderem
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a dimensão dos resultados do trabalho que vinham fazendo, através do conhecimento dos
diagnósticos realizados. Havia um interesse genuíno de todos, porque ninguém parecia querer
procurar nas dificuldades, a justificativa para o insucesso. Assim, a cada diagnóstico referido, a
reação era de surpresa, porque A. não era o descrito. A. era o vivido por eles e, em todos, senti uma
sensação de vitória. Eles estavam conseguindo e reconheciam a importância do trabalho em
parceria, que incluía, além dos professores de classe e da psicopedagoga, a professora de apoio que,
através de um forte vínculo de confiança com o aluno, estava conseguindo empolgá-lo na direção da
aprendizagem significativa, mobilizando novos recursos.
Após um ano e meio após o início do trabalho, os professores já se sentiam mais seguros, mais
confiantes. Desta forma, decidimos interromper a intervenção psicopedagógica sistemática,
deixando em aberto a recorrência em caso de necessidade. A. continua apresentando uma
importante evolução global e está cada vez mais mobilizado para a aprendizagem. Atualmente,
revela interesse por se apropriar de novas linguagens e escolheu a escultura como meio de
expressão.
Descentralizado do aluno e deslocado para os professores, o trabalho psicopedagógico ampliou a
possibilidade de intervenção junto a quem ensina. Pais, professores, especialista uniram esforços na
busca de soluções. Ninguém ficou esperando resultados. Ninguém foi excluído da equipe de
trabalho. Somamos nossos conhecimentos e experiências. Todos aprendemos.
Utilizando a intervenção na busca de melhores resultados.
Fala-se de intervenção como uma interferência que um profissional , tanto o educador, quanto o psicopedagogo
realizasobre o processo de desenvolvimento ou aprendizagem do sujeito, o qual pode estar apresentando problemas de
aprendizagem. Entende-se que na intervenção o procedimento adotado interfere no processo, com o objetivo de
compreendê-lo, explicitá-lo ou corrigí-lo. Introduzir novos elementos para o sujeito, pensar poderá levar à quebra de um
padrão anterior de relacionamento com o mundo das pessoasdas idéias. Ocorre-se na intervenção terapêutica.
Exemplifica-se como intervenções psicopedagógicas uma fala, um assinalamento, uma interpretação que o
psicopedagogo realiza na escola em crianças com transtorno de déficit de atenção com a finalidade de desvelar um
padrão de relacionamento, uma relação com o mundo e, portanto, com o conhecimento.
Podemosconsiderar que um dos objetivos da psicopedagogia é a intervenção, a fim de " colocar-se no meio", de fazer a
mediação entre a criança e seus objetos de conhecimentos. Compreende-se que as causas do não aprender podem ser
diversas. Em vista dessa necessidade se reconhece que não é tarefa fácil para os educadores compreenderem essa
pluricausalidade. Torna-se comum constatar que as escolas rotulam e condenam esse grupo de alunos à repetência ou
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multirepetência, como também os classificam com adjetivos de alunos " sem solução e vítimas de uma desigualdade
social.
A postura do professor diante das dificuldades de seus alunos com transtorno de déficit de atenção, necessita-se prestar
mais atenção às dificuldades, já que evidenciam mais do que as potencialidades. Pensa-se em dificuldades de
aprendizagem pelos acertos dos alunos. Experimentam-se alguns sucessos que podem abrir portas para a construção de
um vínculo positivo com as demais áreas de aprendizagem que os alunos necessitam aprimorar.
Sugere-se aoprofessor junto com o psicopedagogo organizaremturmas para o trabalho em grupo, juntando alunos que
aprendem com facilidade e alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem pois as crianças que entendem suas
linguagens podem funcionar como professores uns dos outros. Propõe-se um guia para uma escuta psicopedagógica:
escutar, olhar, deter-se nas fraturas do discurso, observar e relacionar com o que aconteceu previamente à fratura,
descobrir o esquema de ação subjacente, ou seja, busca-se a repetição dos esquemas de ação, e interpretar a operação
mais do que o conteúdo.
Averigua-se que a psicopedagogia utiliza os termos " ensinantes e aprendentes"para denominar o par educativo que
comumente conhecemos por professor e aluno. Pensa-se que para a psicopedagogia esses papéis alternam-se o tempo
inteiro, no processo ensino- aprendizagem visto pela psicopedagogia também aprende-se sobre nós, sobre a nossa forma
de ensinar, na qual, o outro nos serve de espelho.
Deseja-se como todo professor querer que os alunos acertem sempre, mas deve-se adquirir um novo olhar sobre o erro
na aprendizagem, estuda-se que o erro é um indicador de como o aluno está pensando e como ele compreendeu o que
foi ensinado. Analisa-se com mais cuidado os erros dos alunos, pode-se elaborar a reformulação e práticas docentes de
modo que elas fiquem perto da necessidade dos alunos e atender as dificuldades que o mesmo apresenta.
Fundamenta-se a importância que o professor reflita sobre as causas do fracasso escolar não para se culpar, mas para se
responsabilizar. Responsabilizar-se significa abraçar a causa e procurar alternativas para solucionar o problema.
Procura-se compreender como ocorre o conhecimento, os que interferem na aprendizagem, seus diferentes estágios, e as
diferentes teorias que podem transformar o trabalho do professor em processo científico e assim ele percorrerá o
caminho prática- teoria- prática.
Recomenda-se que o professor, em conjunto com a equipe da escola e a intervenção do psicopedagogo, reflita sobre a
estrutura curricularque está sendo oferecida e a compatibilidade deste com a estrutura cognitiva, afetiva e social do
aluno com transtorno de déficit de atenção, afinal para a psicopedagogia a aprendizagem baseia-se no equilíbrio dessas
estruturas. Para Vigotsky (1993, p. 33):Todos os seres humanos são capazes de aprender, mas é necessário que
adaptemos nossa forma de ensinar.
Avalia-se o enfoquepsicopedagógico da dificuldade de aprendizagem em crianças com déficit de atenção compreende
os processos de desenvolvimento e os caminhos da aprendizagem, entende-se o aluno de maneira interdisciplinar,
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busca-se apoio em várias áreas do conhecimento e analisa-se aprendizagemno contexto escolar, familiar e no aspecto
afetivo, cognitivo e biológico.
Observa-se o papel do professor, com uma visão psicopedagógica, ser um investigador dos processos de aprendizagem
de seus alunos, evitando que o problema de aprendizagem leve a um fracasso escolar.
[...] Não pode haver construção do saber, se não se joga com o conhecimento. Ao falarde jogo, não estou fazendo
referências a um ato, nem a um produto, mas a um processo . Estou me referindo a esse lugar e tempo que Winnicott
chama espaço transicional, de confiança, de criatividade. Transicional entre o crer e o não crer , entre o dentro e o fora.
O espaço de aprendizagem "não pode ser situado na realidade psíquica interior do indivíduo , porque não é um sonho
pessoal: além disso forma parte da realidade compartilhada. Tampouco se pode pensá-la ( a área da experiência
cultural), unicamente em função de relações exteriores, porque acha-se dominada pelo sonho. Nesta entram ... o jogo e
o sentido do humor. Nesta área todo bom intelecto está em seu elemento de prosperar. (Fernandez,1991 p.165)
A citação acima preocupa-se com o principal objeto de intervenção, que é o próprio jogo, na qual para o psicopedagogo
interessa os procedimentos , ou seja, os meios, que o jogador utiliza e constrói. Possibilita uma aproximação ao mundo
mental da criança que sofre de desatenção facilitando-a suas ações no decorrer de suas ações ou jogadas. O jogo
possibilita que a dimensão simbólica da criança se manifeste em fazer o que pode ser partilhado com o outro,
resignificado e transformado.
Segundo Piaget (1976), uma ação não é necessariamente lúdica ou adaptativa na sua origem. Qualquer ação pode ser
transformada em jogo este é movido pelo desejo de experenciar prazer e poder. Em crianças com TDA do tipo
desatento deve-se observar como a criança planeja a jogada, se ela fica no mundo da lua, como se diz popularmente é
necessário traze-la de volta para a jogada seguinte.
Através de jogos, é possível trabalhar a afetividade e o social, desenvolvendo assim a criatividade na criança que sofre
desse distúrbio. O TDA é considerado o distúrbio infantil mais comum e é tido como a principal causa de fracasso
escolar, utiliza-se o jogo, com a finalidade de facilitar os exercícios escolares. Para Chateu o jogo é apenas um
substituto do trabalho, é por meio deste que a escola deve desembocar na vida, o jogo na escola deve ser visto como um
encaminhamento ao trabalho, uma ponte entre infância e a vida adulta.
Para Piaget (1976), o jogo na escola tem importância quando revestido de seu significado funcional, ou seja, é preciso,
uma coerência entre assimilação e acomodação. Ambos os autores correlacionam o jogo para uma utilização em
contextos escolares como situações psicopedagógicas.
Para Alicia Fernandes(2001) não pode haver construção do saber, se não se joga com o conhecimento. O jogo é um
processo que ocorre no espaço transicional, de confiança, de criatividade. É o único onde se pode aprender. Através do
jogo a criança expressa agressão, adquire experiência, controla ansiedade, estabelece contatos sociais como integração
da personalidade e prazer.
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Denomina-se atuação psicopedagógica as estratégias que visam à recuperação, por parte das crianças, de conteúdos
escolares avaliados como deficitários procedimentos de orientação de estudos e atividades como brincadeiras, jogos de
regras e dramatizações realizadas na escola e fora dela, com o objetivo de promover a plena expressão dos afetos e o
desenvolvimento da personalidade de crianças com e sem dificuldades de aprendizagem.
Refere-se às intervenções que têm como objetivo repassar os conteúdos escolares e os hábitos de aprendizagem, tendo
como hipótese que, sanando as deficiências nestes aspectos, transcorrerá sem nenhum problema. Trata-se de preencher
lacunas no nível dos conteúdos escolares, o que pode ser muito útil para a criança, se a razão de seu mau desempenho
for de ordem pedagógica. A última atividade psicopedagógica deve-se realizar com quaisquer crianças, pois seu
objetivo é auxiliar o processo de desenvolvimento do pensamento e afetividade, trata-se de atividades de natureza
psicológica, as quais poderão ser utilizadas em sala de aula ou fora dela para ajudar o desempenho pedagógico das
crianças, com ou sem transtorno de Déficit de Atenção.
PEDAGOGIA E PSICOPEDAGOGIA
Profa. Margaret Maria Schroeder
A PSICOPEDAGOGIA
A Psicopedagogia é um campo de conhecimento e atuação em Saúde e Educação que lida com o
processo de aprendizagem humana, seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio –
família, escola e sociedade – no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios.
Segundo BOSSA (2000), a Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de uma
demanda – o problema de aprendizagemi, colocado num território pouco explorado, situado além dos limites da
Psicologia e da própria Pedagogia – e evoluiu devido à existência de recursos, ainda que embrionários, para
atender essa demanda, constituindo-se, assim, numa prática.
A Psicopedagogia vem criando a sua identidade e campo de atuação próprios, que
estão sendo organizados e estruturados, especialmente pelas produções científicas que
referenciam o campo do conhecimento e pela Associação Brasileira de Psicopedagogia
(ABPp).
KIGUEL (1983) ressalta que a Psicopedagogia encontra-se em fase de organização de um corpo
teórico específico, visando a integração das ciências pedagógicas, psicológica, fonoaudiológica,
neuropsicológica e psicolingüística para uma compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem
humana.
O objeto de estudo deste campo do conhecimento é a aprendizagem humana e seus padrões evolutivos
normais e patológicos.
É necessário comentar que a Psicopedagogia é comumente conhecida como aquela que atende
crianças com dificuldades de aprendizagem. É notório o fato de que as dificuldades, distúrbios ou patologias
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podem aparecer em qualquer momento da vida e, portanto, a Psicopedagogia não faz distinção de idade ou
sexo para o atendimento.
Atualmente, a Psicopedagogia vem se firmando no mundo do trabalho e se estabelecendo como
profissão.
O Projeto de Lei 3.124/97 do Deputado Barbosa Neto que prevê a regulamentação da profissão de
Psicopedagogo e que cria o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicopedagogia, está em tramitação
na Câmara dos Deputados em Brasília na Comissão de Constituição, Justiça e Redação.
A regulamentação da profissão ocorrerá para o nível de especialização e o projeto já foi aprovado na
Comissão do Trabalho e na Comissão de Educação, Cultura e Desporto.
SOBRE A PSICOPEDAGOGIA
Historicamente, segundo BOSSA (2000) os primórdios da Psicopedagogia
ocorreram na Europa, ainda no século XIX, evidenciada pela preocupação com os
problemas de aprendizagem na área médica.
Acreditava-se na época que os comprometimentos na área escolar eram provenientes de causas
orgânicas, pois procurava-se identificar no físico as determinantes das dificuldades do aprendente. Com isto,
constituiu-se um caráter orgânico da Psicopedagogia.
De acordo com BOSSA (2000), a crença de que os problemas de aprendizagem eram causados por
fatores orgânicos perdurou por muitos anos e determinou a forma do tratamento dada à questão do fracasso
escolar até bem recentemente.
Nas décadas de 40 a 60, na França, a ação do pedagogo era vinculada à do médico. No ano de 1946,
em Paris foi criado o primeiro centro psicopedagógico. O trabalho cooperativo entre médico e pedagogo era
destinado a crianças com problemas escolares, ou de comportamento e eram definidas como aquelas que
apresentavam doenças crônicas como diabetes, tuberculose, cegueira, surdez ou problemas motores. A
denominação “Psicopedagógico” foi escolhida, em detrimento de “Médico Pedagógico”, porque acreditava-se
que os pais enviariam seus filhos com menor resistência.
Em decorrência de novas descobertas científicas e movimentos sociais, a Psicopedagogia sofreu
muitas influências.
Em 1958, no Brasil surge o Serviço de Orientação Psicopedagógica da Escola Guatemala, na
Guanabara (Escola Experimental do INEP - Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC). O
objetivo era melhorar a relação professor-aluno.
Nas décadas de 50 e 60 a categoria profissional dos psicopedagogos organizou-se no país, com a
divulgação da abordagem psico-neurológica do desenvolvimento humano.
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Atualmente novas abordagens teóricas sobre o desenvolvimento e a aprendizagem, bem como
inúmeras pesquisas sobre os fatores intra e extra- escolares na determinação do fracasso escolar, contribuíram
para uma nova visão mais crítica e abrangente.
CAMPO DE ATUAÇÃO
O campo de atuação está se ampliando, pois o que inicialmente caracterizava-se somente no aspecto
clínico (Psicopedagogia Clínica), hoje pode ser aplicado no segmento escolar (Psicopedagogia Institucional) e
ainda em segmentos hospitalares, empresariais e em organizações que aconteçam a gestão de pessoas.
O aspecto clínico é realizado em Centros de Atendimento ou Clínicas Psicopedagógicas e as
atividades ocorrem geralmente de forma individual.
O aspecto institucional, como já mencionado, acontecerá em escolas e organizações educacionais e
está mais voltada para a prevenção dos insucessos relacionais e de aprendizagem, se bem que muitas vezes,
deve-se considerar a prática terapêutica nas organizações como necessária.
A Psicopedagogia aplicada a segmentos hospitalares e empresariais está voltada para a manutenção de
um ambiente harmônico e à identificação e prevenção dos insucessos interpessoais e de aprendizagem. Pode
ser realizada de forma individual ou em grupo.
É possível perceber que a Psicopedagogia também tem papel importante em um novo momento
educacional que é a inserção e manutenção dos alunos com necessidades educativas especiais (NEE) no ensino
regular, comumente chamada inclusão.
Entende-se que colocar o aluno com NEE em sala de aula e não criar estratégias para a sua
permanência e sucesso escolar inviabiliza todo o movimento nas escolas. Faz-se premente a necessidade de um
acompanhamento e estimulação dos alunos com NEE para que as suas aprendizagens sejam efetivas.
ÉTICA PROFISSIONAL
Os psicopedagogos devem seguir certos princípios éticos que estão condensados no Código de Ética,
devidamente aprovado pela Associação Brasileira de Psicopedagogia, no ano de 1996.
O Código de Ética regulamenta as seguintes situações:
• os princípios da Psicopedagogia;
• as responsabilidades dos psicopedagogogos;
• as relações com outras profissões;
• o sigilo;
• as publicações científicas;
• a publicidade profissional;
• os honorários;
• as relações com a educação e saúde;
• a observância e cumprimento do código de ética; e
• as disposições gerais.
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A PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA NO CENTRO DE ATENDIMENTO PSICOPEDAGÓGICO –
CEAP DA UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
A Psicopedagogia Clínica desenvolvida no CEAPii tem como missão, retirar as pessoas da sua
condição inadequada de aprendizagem, dotando-as de sentimentos de alta auto-estima, fazendo-as perceber
suas potencialidades, recuperando desta forma, seus processos internos de apreensão de uma realidade, nos
aspectos: cognitivo, afetivo-emocional e de conteúdos acadêmicos. O CEAP foi constituído em 1988 e desde
então vem prestando serviço à comunidade.
Dentre as ações desenvolvidas pelos psicopedagogos no CEAP, pode-se destacar:
• Avaliar e diagnosticar as condições da aprendizagem, identificando as áreas de competência
e de insucesso do aprendente;
• Realizar devolutivasiii para os pais ou responsáveis, para a escola e para o aprendente;
• Atender o aprendente, estabelecendo um processo corretoriv psicopedagógico com o objetivo
de superar as dificuldades encontradas na avaliação;
• Orientar os pais quanto a suas atitudes para com seus filhos, bem como professores para com
seus alunos;
• Pesquisar e conhecer a etiologia ou a patologia do aprendente, com profundidade;
• Realizar os encaminhamentos necessários para sanar a problemática evidenciada;
• Oferecer cursos para capacitação docente e de Psicopedagogia Preventiva.
Para a prática diagnóstica da(s) dificuldade(s)
apresentada(s) pelos aprendentes, são considerados os
seguintes aspectos:
- orgânicos e motores: dizem respeito à estrutura
fisiológica e cinestésica do sujeito que aprende;
- cognitivos e intelectuais: dizem respeito ao
desenvolvimento, a estrutura e ao funcionamento da cognição,
bem como ao potencial intelectual;
- emocionais: ligados a afetividade e emotividade;
- sociais: relacionados ao meio em que o aluno se
encontra;
- pedagógicos: estão incluídas questões didáticas,
ligadas a metodologia de ensino e de avaliação, nível e
quantidade de informações, número de alunos em sala e outros
elementos que dizem respeito ao processo ensino-aprendizagem.
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Cabe destacar que cada área avaliada, necessita de recursos, provas e testes específicos.
De acordo com BOSSA (2000), em geral, no diagnóstico clínico, ademais de entrevistas e anamnese,
utilizam-se provas psicomotoras, provas de linguagem, provas de nível mental, provas pedagógicas, provas de
percepção, provas projetivas e outras, conforme o referencial teórico adotado pelo profissional.
O psicopedagogo deve ser um profissional que tem conhecimentos multidisciplinares, pois em um
processo de avaliação diagnóstica, é necessário estabelecer e interpretar dados em várias áreas. O
conhecimento dessas áreas fará com que o profissional compreenda o quadro diagnóstico do aprendente e
favorecerá a escolha da metodologia mais adequada, ou seja, o processo corretor, com vista a superação das
inadequações do aprendente.
É necessário ressaltar também que a atualização profissional é imperiosa, uma vez que trabalhando
com tantas áreas, a descoberta e a produção do conhecimento é bastante acelerada.
No que diz respeito à Pedagogia, a relação que se pode estabelecer com a Psicopedagogia, é que ela
representa uma das colunas de sustentação do emergente campo de conhecimento, assim como igual
importância, tem a Psicologia e outras áreas de conhecimento que o permeiam.
A Psicopedagogia nasceu, especialmente, da necessidade de compreensão e atendimento às pessoas
com dificuldades e distúrbios de aprendizagem e ao longo de sua estruturação, veio e vem adquirindo novas
perspectivas.
BIBLIOGRAFIA
BARBOSA, Laura Mont Serrat. O projeto de trabalho – uma forma de atuação psicopedagógica. Curitiba,
Paraná: Gráfica Arins, 1999.
BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre, Rio Grande do Sul: Artes Médicas Sul, 2000.
CASTANHO, Marisa Irene Siqueira. Artigo: Competências na Psicopedagogia: um enfoque para o novo
milênio. in Revista Psicopedagogia, volume 19 - n.º 59, 2002.
KIGUEL, Sonia Moojen. Reabilitação em Neurologia e Psiquiatria Infantil – Aspectos Psicopedagógicos.
Congresso Brasileiro de Neurologia e Psiquiatria Infantil – A Criança e o Adolescente da Década de 80. Porto
Alegre, Rio Grande do Sul, Abenepe, vol. 2, 1983.
FAGALI, Eloísa Quadros. VALE, Zélia Del Rio do. Psicopedagogia Institucional Aplicada. Petrópolis, Rio
de Janeiro: Vozes, 1993.
SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e Realidade Escolar. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1994.
SCOZ, Beatriz. RUBISTEIN, Edith. ROSSA, Eunice Maria Muniz. BARONE, Leda Maria Codeço.
Psicopedagogia – o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre: Rio Grande
do Sul: Artes Médicas, 1987.
VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Porto Alegre, Rio Grande do Sul: Artes Médicas, 1987.
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Sobre a psicopedagogia
Simaia Sampaio
1. O que é a psicopedagogia?
A Psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, tendo, portanto, um
caráter preventivo e terapêutico. Preventivamente deve atuar não só no âmbito escolar, mas
alcançar a família e a comunidade, esclarecendo sobre as diferentes etapas do
desenvolvimento, para que possam compreender e entender suas características evitando assim
cobranças de atitudes ou pensamentos que não são próprios da idade. Terapeuticamente a
psicopedagogia deve identificar, analisar, planejar, intervir através das etapas de diagnóstico e
tratamento.
2. Quem são os psicopedagogos?
São profissionais preparados para atender crianças ou adolescentes com problemas de
aprendizagem, atuando na sua prevenção, diagnóstico e tratamento clínico ou institucional.
3. Onde atuam?
O psicopedagogo poderá atuar em escolas e empresas (psicopedagogia institucional), na clínica
(psicopedagogia clínica).
4. Como se dá o trabalho na clínica?
O psicopedagogo, através do diagnóstico clínico, irá identificar as causas dos problemas de
aprendizagem. Para isto, ele usará instrumentos tais como, provas operatórias (Piaget), provas
projetivas (desenhos), EOCA, anamnese.
Na clínica, o psicopedagogo fará uma entrevista inicial com os pais ou responsáveis para
conversar sobre horários, quantidades de sessões, honorários, a importância da freqüência e da
presença e o que ocorrer, ou seja, fará o enquadramento. Neste momento não é recomendável
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falar sobre o histórico do sujeito, já que isto poderá contaminar o diagnóstico interferindo no
olhar do psicopedagogo sobre o sujeito. O histórico do sujeito, desde seu nascimento, será
relatado ao final das sessões numa entrevista chamada anamnese, com os pais ou responsáveis.
5. O diagnostico é composto de quantas sessões?
Entre 8 a 10 sessões, sendo duas sessões por semana, com duração de 50 minutos cada.
6. E depois do diagnóstico?
2. O diagnóstico poderá confirmar ou não as suspeitas do psicopedagogo. O profissional
poderá identificar problemas de aprendizagem. Neste caso ele indicará um tratamento
psicopedagógico, mas poderá também identificar outros problemas e aí ele poderá
indicar um psicólogo, um fonoaudiólogo, um neurologista, ou outro profissional a
depender do caso.
7. E o tratamento psicopedagógico?
O tratamento poderá ser feito com o próprio psicopedagogo que fez o diagnóstico, ou
poderá ser feito com outro psicopedagogo.
Durante o tratamento são realizadas diversas atividades, com o objetivo de identificar a
melhor forma de se aprender e o que poderá estar causando este bloqueio. Para isto, o
psicopedagogo utilizará recursos como jogos, desenhos, brinquedos, brincadeiras,
conto de histórias, computador e outras situações que forem oportunas. A criança,
muitas vezes, não consegue falar sobre seus problemas e é através de desenhos, jogos,
brinquedos que ela poderá revelar a causa de sua dificuldade. É através dos jogos que a
criança adquire maturidade, aprende a ter limites, aprende a ganhar e perder,
desenvolve o raciocínio, aprende a se concentrar, adquire maior atenção.
O psicopedagogo solicitará, algumas vezes, as tarefas escolares, observando cadernos,
olhando a organização e os possíveis erros, ajudando-o a compreender estes erros.
Irá ajudar a criança ou adolescente, a encontrar a melhor forma de estudar para que
ocorra a aprendizagem, organizando, assim, o seu modelo de aprendizagem.
O profissional poderá ir até a escola para conversar com o(a) professor(a), afinal é ela
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que tem um contato diário com o aluno e poderá dar muitas informações que possam
ajudar no tratamento.
O psicopedagogo precisa estudar muito. E muitas vezes será necessário recorrer a outro
profissional para conversar, trocar idéias, pedir opiniões, ou seja, fazer uma supervisão
psicopedagógica.
8. Como se dá o trabalho na Instituição?
O psicopedagogo na instituição escolar poderá:
- ajudar os professores, auxiliando-os na melhor forma de elaborar um plano de aula
para que os alunos possam entender melhor as aulas;
- ajudar na elaboração do projeto pedagógico;
- orientar os professores na melhor forma de ajudar, em sala de aula, aquele aluno com
dificuldades de aprendizagem;
- realizar um diagnóstico institucional para averiguar possíveis problemas pedagógicos
que possam estar prejudicando o processo ensino-aprendizagem;
- encaminhar o aluno para um profissional (psicopedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo
etc) a partir de avaliações psicopedagógicos;
- conversar com os pais para fornecer orientações;
- auxiliar a direção da escola para que os profissionais da instituição possam ter um
bom relacionamento entre si;
- Conversar com a criança ou adolescente quando este precisar de orientação.
9. O que é fundamental na atuação psicopedagógica?
A escuta é fundamental para que se possa conhecer como e o que o sujeito aprende, e
como diz Nádia Bossa, “perceber o interjogo entre o desejo de conhecer e o de
ignorar”.
O psicopedagogo também deve estar preparado para lidar com possíveis reações frente
a algumas tarefas, tais como: resistências, bloqueios, sentimentos, lapsos etc.
E não parar de buscar, de conhecer, de estudar, para compreender de forma mais
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completa estas crianças ou adolescentes já tão criticados por não corresponderem às
expectativas dos pais e professores.
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i As dificuldades ou problemas de aprendizagem caracterizam-se como déficits manifestados sob a forma de discrepância entre o nível de realização esperado e o atingido, nos processos: da linguagem falada, da leitura e da escrita, da ortografia, da caligrafia ou da aritmética.
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ii O Centro de Atendimento Psicopedagógico – CEAP, constitui-se em uma unidade da Universidade Tuiuti do Paraná que visa o atendimento a pessoas (crianças, adolescentes e adultos) com dificuldades de aprendizagem. O CEAP está instalado no campus Champagnat e no campus Barigui. iii A devolutiva é a transmissão do resultado encontrado no processo de avaliação psicopedagógica. iv Segundo Visca (1987), o processo corretor é o conjunto de operações clínicas através do qual se facilitam o aparecimento e a estabilização de condutas.