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Cursos & Eventos Sábado, 8 de Março de 2014 1:20:32 Para imprimir este artigo sem cortes clique no ícone da impressora >>> PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL: ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE A FORMAÇÃO DE UMA ÁREA DO CONHECIMENTO Tathiana Fernandes Biscuola Figueiredo, Luciana Roberta Donola Cardoso, Eliane Porto Di Nucci School Psychology and Educational: historical aspects of the formation of an area of knowledge. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Psicóloga pelo Centro Universitário Padre Anchieta. RESUMO A psicologia escolar é uma área ampla que envolve aspectos da psicologia e da educação. Psicólogos escolares e educacionais são aqueles que, devido a sua preparação universitária em psicologia e experiências subseqüentes nas áreas escolar e/ou educacional, trabalham para melhorar o processo ensino-aprendizagem no seu aspecto global do desenvolvimento, através de serviços oferecidos a indivíduos, grupos, famílias e organizações (Joly, 2000). Para tal, realiza avaliações e intervenções visando à prevenção ou remedição de problemas relacionados a: dificuldades de aprendizagem, escolarização em todos os níveis, desenvolvimento humano, inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais. Bem como faz avaliação psicológica, atua na formação de professores e estuda a história da psicologia. Este trabalho teve por objetivo levantar os aspectos históricos sobre a formação da área do conhecimento da psicologia escolar e educacional, bem como apresentar as questões que cerceiam as práticas do psicólogo escolar e educacional. Palavras-chave: Psicólogo Escolar e Psicologia Escolar. ABSTRACT The school psychology is a wide area that involves aspects of psychology and education. School psychologists and educational are those who, because of their preparation university in psychology and subsequent experiences in the areas school and / or educational, work to improve the teaching-learning process in its global aspect of the development, through services offered to individuals, groups, families and organizations (Joly, 2000). To that end, conducts assessments and interventions aimed at the prevention or resolution of problems related to: learning difficulties, education at all levels, human development, including people suffering from special needs. Well how Home Quem Somos Conteúdo Interesse Geral Serviços Busca

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PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL: ASPECTOS HISTÓRICOS

SOBRE A FORMAÇÃO DE UMA ÁREA DO CONHECIMENTO

Tathiana Fernandes Biscuola Figueiredo, Luciana Roberta Donola

Cardoso, Eliane Porto Di Nucci

School Psychology and Educational: historical aspects of the formation

of an area of knowledge. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como requisito parcial à obtenção do título de Psicóloga pelo Centro

Universitário Padre Anchieta.

RESUMO

A psicologia escolar é uma área ampla que envolve aspectos da

psicologia e da educação. Psicólogos escolares e educacionais são

aqueles que, devido a sua preparação universitária em psicologia e

experiências subseqüentes nas áreas escolar e/ou educacional,

trabalham para melhorar o processo ensino-aprendizagem no seu

aspecto global do desenvolvimento, através de serviços oferecidos a

indivíduos, grupos, famílias e organizações (Joly, 2000). Para tal,

realiza avaliações e intervenções visando à prevenção ou remedição

de problemas relacionados a: dificuldades de aprendizagem,

escolarização em todos os níveis, desenvolvimento humano, inclusão

de pessoas portadoras de necessidades especiais. Bem como faz

avaliação psicológica, atua na formação de professores e estuda a

história da psicologia. Este trabalho teve por objetivo levantar os

aspectos históricos sobre a formação da área do conhecimento da

psicologia escolar e educacional, bem como apresentar as questões que

cerceiam as práticas do psicólogo escolar e educacional.

Palavras-chave: Psicólogo Escolar e Psicologia Escolar.

ABSTRACT

The school psychology is a wide area that involves aspects of

psychology and education. School psychologists and educational are

those who, because of their preparation university in psychology and

subsequent experiences in the areas school and / or educational, work

to improve the teaching-learning process in its global aspect of the

development, through services offered to individuals, groups, families

and organizations (Joly, 2000). To that end, conducts assessments and

interventions aimed at the prevention or resolution of problems

related to: learning difficulties, education at all levels, human

development, including people suffering from special needs. Well how

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development, including people suffering from special needs. Well how

does psychological evaluation, operates in the training of teachers and

studying the history of psychology. This work was aimed at lifting the

historical aspects on training in the area of knowledge of the school

psychology and educational, as well as presenting the issues that

surround the practices of the school and educational psychologist.

Keywords: Educational psychology, school Psychologist.

INTRODUÇÃO

A psicologia escolar é uma área ampla que envolve aspectos da

psicologia e da educação, está em processo de desenvolvimento e faz

a interface entre psicologia e educação.

O psicólogo inserido na escola é responsável pela promoção de saúde

mental da mesma, atuando junto a todos os membros que fazem parte

da escola: alunos, educadores (diretores, professores e funcionários) e

os pais. O trabalho com estas pessoas é sempre contínuo e a

intervenção, sempre em grupo. O psicólogo atua não apenas na

remediação de problemas, mas também desenvolvendo trabalhos que

visem à prevenção dos mesmos. Por estar inserido na escola é preciso

que tenha conhecimentos relacionados à criança, suas fases de

desenvolvimento e de aprendizagem, e sobre o processo ensino-

aprendizagem.

Tendo em vista a importância do psicólogo escolar, é necessário que

pesquisas sejam desenvolvidas na área da psicologia escolar para

contribuir com a escola, com os alunos e a família. É através do avanço

da ciência que é possível aprimorar o processo ensino-aprendizagem, o

relacionamento entre os alunos, entre os alunos e a escola e entre o

aluno e a família e, em conseqüência, o relacionamento da família com

a escola. Para a melhoria do relacionamento e do processo ensino-

aprendizagem é preciso lapidar o papel do psicólogo escolar e as

possibilidades de intervenção visando à promoção da saúde mental na

escola, facilitando a aprendizagem dos alunos.

Os estudos relacionados à psicologia escolar proporcionam o

aprimoramento da literatura e das práticas possíveis e efetivas na

escola, contribuindo na construção do conhecimento da psicologia

escolar uma vez que ela ainda esta em desenvolvimento e muito longe

de ser concluída, já que o processo ensino-aprendizagem, a escola e os

alunos estão em constante mudança, não existindo uma padronização.

Com os estudos de levantamento bibliográfico do que esta sendo

publicado nessa área é possível verificar o que de real vem sendo

estudado e aplicado em psicologia escolar, construindo, assim, a

dimensão real e possível para a atuação do psicólogo dentro da escola,

a partir do que foi produzido e estudado nessa área.

Mediante experiências em escolas e ao longo da graduação foi possível

verificar que os psicólogos escolares têm práticas diferentes e por

estar inserida na área da educação, surgiu o interesse de estar

trabalhando com questões relacionadas com a psicologia escolar. Logo,

com o desenvolvimento da psicologia escolar e a construção de formas

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com o desenvolvimento da psicologia escolar e a construção de formas

de atuação profissional.

Este trabalho teve por objetivo levantar os aspectos históricos sobre a

formação da área do conhecimento da psicologia escolar e

educacional, bem como apresentar as questões que cerceiam as

práticas do psicólogo escolar e educacional.

HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA ESCOLAR E

EDUCACIONAL

O título berço da Psicologia Escolar vem sendo reivindicado por muitos

países da América e da Europa, já que concepções, procedimentos e

iniciativas eram apontados, na mesma época, em diversos países, não

sendo possível afirmar qual seria este. Dentre os países da América

têm-se os Estados Unidos da América, e entre os países da Europa, Grã-

Bretanha, Suíça, Bélgica, Alemanha, Itália e França (NETTO, 2001).

A asserção acima é confirmada por Oakanld (1993) em seus estudos

quando afirma que isso se configurou devido à ocorrência de

modificações sociais, tanto na América quanto na Europa: a sociedade

que era basicamente rural, baseada na agricultura, passa a ser urbana,

baseada na indústria. Essas modificações originaram a expansão do

ensino público nas cidades e o aparecimento de problemas com

crianças e adolescentes menores de idade relacionados à negligência,

abandono, delinqüência e com isso a necessidade de profissionais

preparados para contribuir com a escola e com os órgãos jurídico-

legais, surgindo, dessa forma, os estudos relacionados ao conhecimento

psicológico e assim, a psicologia escolar (OAKANLD, 1993).

Os americanos não só se interessavam em estudar as diferenças

individuais como queriam verificar como estas interferiam no

desempenho escolar. No ano de 1882 Granville Stanley Hall, um dos

pioneiros da Psicologia Escolar nos EUA publicou o artigo intitulado “O

conteúdo da mente das crianças quando ingressam na escola” que foi

resultante do trabalho que realizou com classes de ensino elementar.

Em 1892/93 fundou a “National Association for the Study” (Associação

Nacional de Estudos Infantis) que tinha como objetivo estudar

problemas educacionais e de desenvolvimento e que possuía como

órgão de divulgação dos seus estudos e pesquisas a revista Pedagogical

Seminary (posteriormente denominada Journal of Genetic

Psychologicay). Vale ressaltar que esse interesse de Hall por temas e

problemas relacionados ao desenvolvimento das crianças e questões

educacionais consequênciou inúmeros relatos de pesquisas, artigos e

livros (BARDON e BENNETT, 1981; NETTO, 2001).

Os estudos desenvolvidos por Hall relacionados à criança fizeram com

que em muitos países fossem criadas sociedades de estudos de

crianças, o que contribuiu para reconhecer a importância do estudo

empírico da criança, a realização e a avaliação crítica de pesquisas e o

fortalecimento de laços entre a psicologia escolar.

Lightner R. Witmer, que juntamente com Hall é considerado pioneiro

da Psicologia Escolar nos EUA, iniciou as clínicas psicológicas para

crianças, sendo o fundador da primeira Clínica Psicológica dos Estados

Unidos, na Universidade de Penssylvania no ano de 1896. A clínica

fundada por Witmer, juntamente com suas concepções é reconhecida

como ponto de partida tanto da psicologia escolar quanto da psicologia

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como ponto de partida tanto da psicologia escolar quanto da psicologia

clínica. Nesta clínica eram realizados trabalhos de avaliação

psicológicos individuais de crianças e adolescentes que eram suspeitos

de serem deficientes mentais, físicos ou morais. Um fator de destaque

na concepção de Witmer é o fato de considerar importante a influência

ambiental sobre o comportamento da criança e sobre o seu

desenvolvimento (NETTO, 2001)

Witmer fundou a revista The Psychological Clinic em 1896 com a

finalidade de divulgar os resultados de pesquisas e manteve a clínica

em funcionamento por mais de trinta anos. Witmer aponta que os

objetivos da clínica são: “a investigação dos fenômenos do

desenvolvimento mental em crianças escolares, como se manifestam

mais particularmente no retardamento mental e moral (...). Uma clínica

psicológica complementada por uma escola de treinamento com o

perfil de uma escola-hospital, para o tratamento de todos os tipos de

crianças retardadas ou com efeitos físicos que interferiam no processo

escolar... E oferecimento de condições para a realização e trabalhos

práticos às pessoas engajadas nas profissões de ensino e medicina, a

aos interessados em serviço social, na observação e no treino de

crianças normais e retardadas” (cit. em FRENCH, 1990, p. 3).

Outras pessoas também se destacam com relação à Psicologia Escolar

nos EUA, e estas pessoas são: H. H. Goddard (pioneiro em teste de

inteligência e no trabalho com subdotado e superdotados); Lewis M.

Terman (realizou trabalhos relacionados ao desenvolvimento de

superdotados e ampliação e modificação da Escola de Binet-Simon);

Arnold Gesell (recebeu o título oficial de Psicólogo Escolar). Vale

destacar que Gesell, em 1915, foi a primeira pessoa a receber o título

oficial de Psicólogo Escolar e o recebeu do Conselho Estadual de

Educação de Connecticut que lhe atribuiu a função de fazer avaliações

de crianças e recomendar tratamento e educação, originando assim, as

classes de educação especial que se propagaram por diversos países

(BARDON e BENNETT, 1981; NETTO, 2001).

Entre 1880 e 1890, as escolas dos EUA criaram classes chamadas de

regulares para aquelas crianças que não aprendiam ou não se

comportavam bem, sendo assim, a criação dessas classes foi o

resultado da aceitação das diferenças individuais e da exigência de

instrução universal para os jovens (BARDON e BENNETT, 1981).

A primeira definição de Psicologia Escolar surge na França no final do

século XIX, com o propósito de pesquisar, e realizar intervenções

concretas aos escolares (NETTO, 2001). Isso foi possível graças a vários

nomes como Alfred Binet, Henri Wallon, René Zazzo e Madame Gratiot-

Alphandery. Sendo que o “primeiro tratado de Psicologia Escolar” foi

publicado por Binet em seu livro Ideés modernes sur les enfantes

(GILLY, 1974).

Em 1904, neste país, inicia-se o desenvolvimento das escolas visando à

medição da capacidade intelectual do indivíduo, com Simon e Binet, e

a partir disso foram criados os testes de inteligência e de outras

capacidades, passando a ser aplicado nas escolas por psicólogos

(BARDON e BENNETT, 1981).

De acordo com Netto (2001) alguns nomes como Wallon, René Zazzo e

Gratiot-Alphadery foram de grande contribuição para a Psicologia

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Gratiot-Alphadery foram de grande contribuição para a Psicologia

Escolar na França. Wallon, teve a iniciativa de efetivar a criação e

funcionamento de serviços de Psicologia Escolar que foi caracterizado

por René Zazzo nas escolas primárias e por Gratiot-Alphadery nas

escolas secundárias. Wallon juntamente com Langevin, após a 2ª Guerra

Mundial elaborou um projeto de reforma de ensino, sendo o primeiro

texto mundial a definir oficialmente a Psicologia Escolar como campo

específico de atividades de natureza psicológicas. A concepção

orientadora na efetivação da reforma de ensino supra citado foi de

Zazzo e Gratiot-Alphandery que visava uma intervenção psicológica

contínua e permanente com cada aluno (NETTO, 2001).

Em 1910, na França, os aplicadores e interpretadores de teste

receberam o nome de psicólogos escolares, iniciando-se assim o uso da

denominação psicologia escolar, tendo sido no mesmo ano, inaugurado

o serviço de orientação profissional nesse país (BARDON e BENNETT,

1981).

Na Alemanha as pesquisas e intervenções relacionadas a escolares data

do final do século XIX. No ano de 1895 Ebbinghaus estudou a

possibilidade de determinados horários escolares serem prejudiciais à

criança e com base nestes estudos introduziu na prática escolar a

experimentação. Já no ano de 1899 foi fundada a “Vereinfür

Kinderpsychologie” (União para a psicologia da criança) que tinha como

presidente Stumpf, originando a revista Zeitschrift für Pädagogische

Psychologie, que era dirigida por Kemsies. Muitos dos estudos e

postulações originários na Alemanha influenciaram o mundo todo,

podendo ser destacado os três volumes das Vorlesungen zur Einführung

in die Experimentale Pädagogik que falava sobre a pedagogia

experimental, publicada em 1904 por Ernest Meumann; o Instituto de

Psicologia Aplicada dirigido por Wilhelm Stern e a revista científica

que Stern publicava.

Um país que deve ter destaque é a Itália com Sante de Sanctis por ter

sido o pioneiro na criação de uma equipe interdisciplinar para o

atendimento de escolares “anormais e atrasados”, esta equipe era

composta por psicólogos, psiquiatra, professor especializado e

assistente social. E com Maria Montessori que foi a pessoa que teve a

maior repercussão internacional por ter criado a escola: “Casa dei

bambini” e dissertado sobre a mente absorvente dos pré-escolares que

são capazes de resolver problemas e de realizar atividades antes da

chamada educação formal (NETTO, 2001).

Outros nomes importante são Ferrari com a publicação, em 1894, da

Rivista di Psicologia Applicata allá Pedagogia (Revista de Psicologia

Aplicada à Pedagogia) que relacionava questões referentes a problemas

psicológicos e emocionais no aprendizado e no mesmo ano Paola

Lombroso lança a obra “La vita dei bambini” (BARDON e BENNETT,

1981; NETTO, 2001).

Uma obra que se destaca na história da Psicologia Escolar com origem

na Suíça é de Eduard Claparède, que dirigia o Instituto Jean Jacques

Rosseau, e trazia o atendimento e a pesquisa em escolares.

Posteriormente outros nomes importantes deram contribuições como

Bovet, Ferrière, Descoeudres e Jean Piaget. Na sua obra de 1909,

Psychologie de I’enfant et pédagogie experimentale, compilou o que

estava sendo produzido em vários países sobre temas relacionados ao

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estava sendo produzido em vários países sobre temas relacionados ao

que hoje abrange a Psicologia Escolar (NETTO, 2001).

Os dois nomes de destaque na Inglaterra foram Francis Galton e Cyul

Burt. O primeiro fez pesquisas e contribuiu teoricamente para a

Psicologia Escolar e, além disso, criou em Londres, em 1886, um centro

de orientação infantil que era uma espécie de serviço psicológico. Já o

segundo, Burt, foi o primeiro Psicólogo Escolar da Inglaterra em 1913,

intitulado pelo “London County Council”. Segundo consta os ingleses

adotaram a terminologia Psicologia Educacional, ao invés da Psicologia

Escolar (NETTO, 2001).

Tratando-se do Brasil tem-se no ano de 1938, mesmo sem o

reconhecimento, neste país, da psicologia, o primeiro Congresso de

Psicologia no Brasil.

Em 1941, Mira y Lopez (psiquiatra cubano), pioneiro na psicologia

escolar no Brasil, publicou um livro sobre psicologia evolutiva da

criança e do adolescente. Em 1947 Mira y Lopez dirigiu o Instituto de

Orientação Profissional da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro e

publicou livros sobre orientação profissional. A literatura de Psicologia

aplicada à instituição escolar expandiu em 1950, e em 1962 foi

regulamentada a profissão do psicólogo e implementado nos currículos

da graduação a psicologia escolar (BARDON e BENNETT, 1981).

A ABRAPEE (Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional)

foi fundada em 1988 pela Dra. Solange M. Wechsler com o objetivo de

promover e aperfeiçoar a psicologia escolar no Brasil, muito pouco

divulgada até então (WECHSLER, 2001).

A psicologia escolar possui um processo de desenvolvimento comum,

apesar de não ter ocorrido de forma simultânea em todos os locais,

descrito a seguir. O processo de desenvolvimento divide-se em fases:

a primeira fase, no domínio da Psicologia Escolar, foi o emprego do

psicólogo como administrador de testes escolares, sobretudo os de

capacidade mental refletidos em escores de QI; a segunda fase foi o

psicólogo como clínico, diagnosticando e fazendo recomendações aos

professores e outros profissionais da escola, a terceira que acumula as

funções das duas fases anteriores, e com psicólogos dotados de uma

variedade de habilitações e conhecimentos que os amplia, de diversas

maneiras, num contexto específico que é a escola, sendo assim, o

psicólogo da terceira fase é resultante dos acontecimentos históricos

que o precederam e das condições e pressões antecedentes que

possibilitaram a sua existência (BARDON e BENNETT, 1981).

Mediante todos os dados históricos pontuados até o momento é

possível afirmar que a origem da psicologia escolar ocorreu a partir das

necessidades educacionais e escolares relacionadas aos problemas de

aprendizagem e de comportamento apresentados por diversos alunos

em diversas partes do mundo. O modelo tradicional da psicologia

escolar se sustenta na atribuição de culpa ao aluno, ou seja, problemas

de aprendizagem e de ajustamento de alunos dentro da escola são

explicados como conseqüência de dificuldades orgânicas, de

características individuais, de capacidade intelectual, de problemas

afetivos, de comportamentos inadequados, de carências psicológicas e

culturais, de dificuldades de linguagem, de desnutrição, falta de apoio

da família. Sendo assim, tem-se à construção de uma visão clínica para

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da família. Sendo assim, tem-se à construção de uma visão clínica para

a atuação do psicólogo escolar. No entanto, é preciso desvincular essa

visão clínica do psicólogo escolar, esse caráter individualista e limitado

à resolução de problemas de aprendizagem, é preciso que, o psicólogo

escolar atue de forma coletiva também com orientação preventiva

(ALMEIDA, 2002; GOMES, 2002; MARTINS, 2003).

Todo o processo de desenvolvimento da Psicologia Escolar, desde o

seu nascimento, passando pelo desenvolvimento e chegando a forma

como se apresenta hoje, foi calcada em três signos: utilidade social,

controvérsia e unidade na diversidade. Com relação a utilidade social,

desde o surgimento da psicologia escolar o intuito era promover o

bem-estar humano, na promoção em crianças que estão em fase

escolar, abrangendo os alunos “comuns” e os de classes especiais e com

o tempo ampliou-se para atingir adolescentes, pais, professores e a

comunidade, ou seja, passou a abranger todos aqueles que de alguma

forma influenciam no processo ensino-aprendizagem do educando ou os

próprios educandos. Com relação à controvérsia, pela existência de

muitos enfoques, modelos e concepções na psicologia, e também pelas

variadas posturas e perspectivas da educação escolar e o papel que a

escola tem na sociedade. Além das diversas formas de compreender a

atuação do Psicólogo Escolar, tanto pelos psicólogos quanto pela

instituição. Por último, tem-se a unidade na diversidade, pois há uma

generalização a nível nacional e internacional dos pontos essenciais da

Psicologia Escolar (NETTO, 2001).

O QUE É PSICOLOGIA ESCOLAR?

Hoje tem-se, segundo o dicionário de Psicologia Dorsch (2001, p. 763)

a definição de Psicologia Escolar como a “aplicação de conhecimentos

psicológicos, especialmente dos pedagógicos e da psicologia do

desenvolvimento às exigências da escola, bem como a pesquisa e

prática psicológicas no âmbito da escola, por exemplo, o diagnóstico

das causas das dificuldades de aprender e sua eliminação ou a análise

psico-organicossocial e a melhoria dos processos entre as pessoas (por

exemplo, as relações de estima, cadeias do mundo), dos fatores

situacionais (por exemplo, clima da escola, atmosfera do grupo) e das

estruturas institucionais (por exemplo, tamanho das instalações e sua

distribuição, regulamentos, no tocante à escolha das disciplinas e à

avaliação do rendimento)”, logo o mesmo dicionário traz que o

Psicólogo Escolar é “o psicólogo que age e trabalha no espaço de vida

e das relações da escola (em sentido amplo), com as tarefas principais

de diagnóstico e solução de problemas que aparecem, no âmbito da

atividade escolar, entre alunos e/ou professores. De acordo com esta

descrição das tarefas, as atividades do psicólogo escolar visam também

a eliminar deficiências individuais, - enquanto aparecem assim

condicionadas - como a eliminar deficiências da instituição escolar”

(DORSCH, 2001, p. 784).

A ABRAPEE (Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional)

se posiciona quanto à compreensão de Psicologia Escolar e

Educacional, atestando que “entende por psicólogos escolares e

educacionais aqueles profissionais que, devido a sua preparação

universitária em psicologia e experiências subseqüentes nas áreas

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universitária em psicologia e experiências subseqüentes nas áreas

escolar e/ou educacional, trabalham para melhorar o processo ensino-

aprendizagem no seu aspecto global (cognitivo, emocional, social e

motor) através de serviços oferecidos a indivíduos, grupos, famílias e

organizações” (JOLY, 2000, p. 52). Tem-se na literatura uma diferença

entre psicologia escolar e educacional que não é trazida no dicionário

citado anteriormente. De acordo com a ABRAPEE a distinção entre

psicologia escolar e psicologia educacional, esta calcado no fato da

atuação do psicólogo escolar estar mais voltada para intervenção na

prática, enquanto que a do psicólogo educacional se direciona,

geralmente, para as áreas de ensino e pesquisa.

O PAPEL DO PSICÓLOGO ESCOLAR

O profissional que trabalha com a psicologia escolar será o psicólogo

escolar que, mediante a sua formação, utiliza-se de métodos e técnicas

psicológicas para promover a melhora na qualidade e eficiência do

processo educacional, visando, não apenas a resolução de um

problema, mas também a promoção da saúde mental na escola

(NOVAES, 1972; REGER, 1986). Quando se fala em promoção de saúde

mental, se fala em promoção de bons relacionamentos interpessoais,

boa auto-estima, boas condições de aprendizagem/desenvolvimento,

facilidade de expressão, acesso à equipe pedagógica, preocupação

com os indivíduos e suas limitações. Sendo assim, como destaca Masini

(1981), o psicólogo deve ser não apenas uma pessoa treinada em

psicologia, como também treinada em educação, e se não for treinada

em ambas é preciso que seja treinada em uma e familiarizada com a

outra, para que possa desenvolver o seu trabalho satisfatoriamente, ou

seja, capaz de assistir e orientar professores e educadores no trabalho

com crianças. Essa orientação a professores deve estar relacionada a

forma como estes devem lidar e auxiliar aquelas crianças que tem

problemas relacionados a motivação, questões emocionais,

comportamentos inadequados em sala de aula a terem uma

aprendizagem satisfatória (MASINI, 1981).

O psicólogo precisa compreender a criança mediante o seu processo de

desenvolvimento, saber em qual estágio se encontra, que toda criança

passa por processos de mudanças e de que convive não apenas no

ambiente escolar, mas também em um contexto externo a este que é o

seu lar (ambiente social e familiar) composto por diversas relações.

Além desse conhecimento mais amplo é preciso que tenha o

conhecimento mais voltado ao processo educacional já que está

inserido no ambiente escolar, é preciso que saiba a história da

educação, quais as teorias existentes que a cerceiam e que tenha

conhecimento do método pelo qual a população com a qual trabalha irá

aprender. Apenas os conhecimentos relacionados à educação não são

suficientes, é preciso que tenha conhecimentos específicos de

psicologia que dizem respeito aos padrões de aprendizagem

apropriados para cada nível de desenvolvimento, entender a

importância da aprendizagem progressiva no programa de

desenvolvimento de currículo, entender as várias maneiras de ensinar

alunos de diferentes condições intelectual, social e emocional (MASINI,

1981).

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1981).

Para atender a toda essa demanda é preciso que o psicólogo tenha

conhecimento tanto no âmbito prático quanto no âmbito teórico dos

procedimentos e princípios psicológicos. Vale destacar que estes

conhecimentos não podem ser desvinculados da realidade na qual está

trabalhando, ou seja, precisa ter conhecimento do funcionamento da

escola, dos seus objetivos e do nível cultural da comunidade que a

escola atende (MASINI, 1981).

Para ser, o psicólogo, profissional da educação é preciso ter

habilidades que estão envolvidas na atuação que são a capacidade

analítica que é a capacidade de identificar elementos inerentes ao

processo educacional e às metas da instituição escolar, de avaliar

necessidades e possibilidades de mudanças e de planejar intervenções

orientadas para tais mudanças; e ter capacidade instrumental que

envolve as habilidades técnicas assimiladas na formação acadêmica

(estratégias de intervenção, avaliação, observação) e habilidades

pessoais (comunicação, afetividade, interação). Mediante estas

habilidades necessárias é possível observar que o psicólogo não será

aquele profissional que irá permanecer apenas dentro de sua sala, ou

dentro da sala de aula, ele será um profissional que precisará estar

atento a tudo o que está acontecendo, em todos os ambientes da

escola, desde dentro da sala de aula, até no pátio, além do

conhecimento da realidade externa a esta que os alunos encontram no

dia-a-dia, quando fora da escola (PATTO, 1997).

Além disso, é necessário uma série de conhecimentos em outras áreas

do conhecimento, dentro da própria psicologia que não particulares da

psicologia escolar, e de outras áreas a fim de que o psicólogo escolar

possa desenvolver o seu trabalho de forma satisfatória. É preciso,

então, que tenha conhecimentos referentes a psicologia

organizacional, psicologia do desenvolvimento, psicologia da saúde,

trabalho ou clínica, como stress e ansiedade, psicologia social

referentes a questão dos grupos, psicologia da criatividade, além dos

conhecimentos próprios da pedagogia (MARTÍNEZ, 2006)

Como traz Masini (1981) o papel do psicólogo escolar se baseia em:

1. Desempenhar um papel importante no processo educativo através de

sua atuação profissional, fundamentalmente preventiva;

2. Ter uma formação de alto nível teórico, uma vez que deverá estar

devidamente capacitado e qualificado para enfrentar diversas

situações, problemas e dificuldades de adaptação e aprendizagem

escolar;

3. Programar sistematicamente estágios supervisionados, pois o

psicólogo escolar deve não somente dominar as técnicas de observação

e de avaliação psicológica, como ter tido experiências relacionadas à

dinâmica das estruturas escolares, a ênfase deve ser dada aos estudos

práticos da psicologia evolutiva, diferencial, social, da aprendizagem e

à revisão contínua das técnicas de pesquisa e de avaliação psicológica;

4. Ser criteriosamente selecionado, pois necessita ter significativo

interesse por problemas da educação e particular motivação pelo

estudo e soluções dos problemas de desenvolvimento, ajustamento e

aprendizagem escolar;

5. Colaborar na elaboração do programa de testes adotados na escola,

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5. Colaborar na elaboração do programa de testes adotados na escola,

pois a atuação do psicólogo escolar num serviço de psicologia escolar

atingirá alunos, professores e pais, cabendo a ele a tarefa da avaliação,

diagnóstico e orientação psicológica;

6. Utilizar o processo do exame psicológico analítico, pois oferece

maiores recursos para um diagnóstico e prognóstico escolar válido;

7. Desenvolver pesquisas no campo da educação, bem como a

elaboração de testes específicos que tragam contribuição real para o

campo da psicologia escolar.

De forma sucinta é função do psicólogo escolar realizar a avaliação, o

diagnóstico e fazer a orientação psicológica escolar, cabendo a ele a

aplicação dos princípios da psicologia da aprendizagem, do

desenvolvimento, da motivação e fazer o ajustamento dos

comportamentos das crianças com o meio escolar para que dessa forma

a aprendizagem seja facilitada e tendo como conseqüência também o

desenvolvimento humano através da prevenção, identificação,

avaliação e reeducação dos problemas relacionados a educação nos

mais variados níveis escolares (NOVAES, 1972).

O Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo se coloca

sobre a atuação do Psicólogo especialista em Psicologia

Escolar/Educacional apontando que este profissional deve desenvolver

pesquisas, fazer diagnóstico e intervenções tanto de caráter

preventivo como de corretivo no ambiente da educação formal, em

grupo ou individualmente. Deve estar envolvido na sua atuação todos

os segmentos relacionados ao processo ensino-aprendizagem,

considerando o corpo docente e discente, o currículo, as normas da

instituição, o material didático utilizado, e outros elementos

relacionados ao sistema educacional, devendo fazer as intervenções

que achar necessário e que seja possível, a fim de promover a saúde

mental na escola. Para esta promoção também deverá atuar sobre o

âmbito administrativo, promovendo o clima educacional

(www.crpsp.org.br/a_servi/set_busca.htm).

A atuação do psicólogo não pode se restringir ao diagnóstico, ou

relatório aos pais ou professores, como já dito anteriormente, é

preciso que mediante estes levantamentos proporcione um ambiente

favorável para o crescimento e desenvolvimento da criança,

promovendo a saúde mental desta (PATTO, 1997).

O psicólogo escolar, por ser um profissional inserido dentro da

instituição escolar irá trabalhar com uma tríade: aluno, educadores

(diretores, professores e orientadores) e pais, sempre visando o bem

estar do aluno (NOVAES, 1972). Não há como trabalhar com o aluno e

entender como este está operacionando sem compreender o professor,

a forma como está atuando, as condições presentes em seu ambiente

de trabalho e as justificativas dadas por estes professores para o

problema instalado em sua sala de aula. Muitos professores acabam por

reduzir o processo ensino-aprendizagem como um processo mecânico,

não fazendo reflexões sobre a sua prática, e essa falta de reflexão faz

com que estes professores acabem colocando a culpa no outro, quer

seja este o sistema, os pais ou o aluno, dando a entender que acredita

que a sua prática está relacionada à observação, não se atentando para

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que a sua prática está relacionada à observação, não se atentando para

o fato de que é o principal agente desse processo e que precisa

constantemente estar refletindo sobre a sua prática docente, sobre as

causas dos problemas, sobre as condições nas quais os comportamentos

estão sendo originados. Dentro deste perfil de professor, enquadram-se

aqueles, que estão esperando a aposentadoria ou que são professores

não pelo prazer do que fazem, mas pelas vantagens que encontram na

profissão, ou até mesmo pela falta de oportunidades. Normalmente,

quando não é este o perfil de profissional, se encontra professores que

estão preocupados com o aprendizado de seus alunos, fazem constantes

reflexões de sua atuação e buscam soluções para as dificuldades

encontradas no dia-a-dia na escola (MANSUR, 1984). A partir dessa

diferença de professores, o psicólogo precisa ter conhecimento sobre

qual profissional esta trabalhando, para que assim possa desenvolver

um trabalho satisfatório. O psicólogo tem a “missão” de ajudar os

professores a compreenderem e aceitarem melhor a criança, e também

a si próprios, e isso gerará o melhor relacionamento professor-aluno

(NOVAES, 1972).

ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR

São inúmeras as possibilidades práticas de intervenção do psicólogo

escolar, podendo trabalhar a questão da avaliação em contexto

escolar, com a administração de testes, inventários, escalas e

questionários para o levantamento das mais variadas questões, sempre

com a finalidade de desenvolver algo que seja útil no estudo de

crianças e jovens, relacionando entre outras coisas a utilidade dos

testes, a validade destes no Brasil, já que muitos são produzidos em

outras realidades (GUZZO, et al, 1996; NORONHA, et al, 2003;

OAKLAND, 1996).

Como foi ressaltado é preciso que o psicólogo escolar tenha

conhecimento não apenas da área da psicologia, como também da

pedagogia, isso porque muitos dos trabalhos desenvolvidos pelo

psicólogo escolar e que se tem acesso na literatura é a intervenção do

psicólogo sobre os processos de leitura e escrita, tanto no

levantamento do perfil do leitor, quanto na avaliação dos processos,

bem como em estratégias de compreensão de leitura, desempenho em

escrita, letramento, entre outras questões (BASCONES e CASTILHO,

1997; BORUCHOVITCH, 2001; CUNHA, 2003; NUCCI, 2002, 2003; WITTER,

1996). Bem como ter conhecimentos do contexto escolar, como o

papel da escola com trabalhos de DUSI et al (2005), dos professores, de

SADALLA et al (2005), das inúmeras práticas educacionais com trabalhos

relacionados a avaliação dessas práticas, a forma de registro, a inclusão

escolar, violência, o brinquedo, dentre outras coisas (FLEITH, 2004;

SANTOS e SOUZA, 2005; TESSARO, 2005), além da criatividade que está

sempre presente e é necessário no contexto escolar (JOLY, 2001;

WECHSLER, 1998), não deixando de mencionar a aprendizagem, e

partir disso as teorias que as norteiam, a avaliação da aprendizagem,

os processos, as formas de facilitar a aprendizagem (VASCONCELOS,

2003; PACHECO E SISTO, 2003).

O conhecimento sobre o desenvolvimento cognitivo, motor e social do

indivíduo também é importante para o psicólogo escolar, e pesquisas

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indivíduo também é importante para o psicólogo escolar, e pesquisas

são desenvolvidas nessa linha com os trabalhos de Henrique Kopcke

Filho (1997) referentes ao desenvolvimento da metacognição; Pitta, et

al (2000) com estudos relacionados ao estilo cognitivo dos estudantes;

Sodré (2000) com trabalho relacionado ao desenvolvimento motor da

mão dominante e Saud e Tonelotto, (2005) com trabalhos relacionados

ao comportamento social (KOPCKE FILHO, 1997; PITTA, et al, 2000;

SODRÉ, 2000; SAUD e TONELOTTO, 2005).

Outra possibilidade de intervenção é aquela que intervêm não em

relação ao aluno, como já destacado, mas sim em outras pessoas que

fazem parte do contexto escolar, como a família e a escola, para que

juntos possam melhorar a qualidade de vida do aluno inserido na

escola, para isso são trabalhados e levantados questões como a forma

que o aprendizado esta ocorrendo, como os pais contribuem para isso,

qual a relação que os familiares e a escola tem com os alunos, as

influências de pais sobre o aprendizado das crianças, entre outras

coisas (DEL PRETTE et al, 2000; DESSEN e POLONIA, 2005).

Alguns estudos realizados se relacionam com os transtornos

diagnosticados no DSM-IV-TR (2002) e que são encontrados nos jovens

no contexto acadêmico, tais transtornos muito pesquisados em

estudantes são depressão, stress, déficit de atenção e de

comportamento diruptivo, personalidade e fonológico (BERESFORD e

COEDA, 2004; CAPELLINI e SALGADO, 2004; FERNANDES et al, 2005)

Vale a pena ressaltar nesse momento que o psicólogo não será aquele

que irá apenas intervir sobre problemas já instalados, este é apenas um

nível de intervenção possível, que é o denominado nível de

intervenção terciário, e quando se tem este nível é preciso, muitas

vezes de serviços especializados, o que fará com que seja preciso

encaminhar. Os outros dois níveis de intervenção são o primário que

ocorre quando ainda não se tem um problema instalado, mas que deve

ser desenvolvido um trabalho para que seja evitada a possível

instalação deste, ou seja, é um serviço de prevenção; e o segundo

nível de intervenção ocorre quando já há sinais de que problemas

podem se instalar, e então se faz um trabalho para que este não

ocorra, os trabalhos são realizados tanto com professores quanto com

os alunos. A partir disso, é possível afirmar que o psicólogo escolar

desenvolve tanto trabalhos de prevenção, quanto trabalhos de

remediação. O que é interessante ressaltar é que quando se faz um

trabalho com um grupo em que se detecta, em alguns indivíduos, o

problema, para estes a intervenção servirá como remediação, e para

os outros servirá como prevenção, logo, um mesmo trabalho de

intervenção do psicólogo pode servir tanto como prevenção quanto

como remediação (PATTO,1997).

A atuação do psicólogo escolar dentro de uma escola deverá seguir

diretrizes, muito bem explicitadas por Correa (2001): o psicólogo

escolar deverá fazer uma análise institucional verificando os aspectos

da escola que são: relações entre os componentes; cotidiano de sala de

aula; cotidiano da escola; comportamento influenciados pelo sistema;

organograma; relações família-escola e eficiência no processo. Com o

levantamento destes dados o psicólogo tem dados para fazer um

diagnóstico e propor a intervenção cabível (CORREA, 2001).

De acordo com Martinez (2006) todas as funções básicas de um

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De acordo com Martinez (2006) todas as funções básicas de um

psicólogo podem ser transpostas para o contexto escolar, porém, estas

funções precisam sempre estar relacionadas ao processo educativo na

instituição escolar. Estas funções são: diagnóstico/avaliação,

orientação/terapia, intervenção, formação/treinamento,

assessoria/consultoria e pesquisa.

Vale ressaltar que de acordo com Almeida e Neves (2006) o psicólogo

escolar perdeu seu espaço para o psicopedagogo, tanto dentro quanto

fora da escola, justamente por não saber atuar como psicólogo escolar,

pois acabava intervindo sob os problemas de aprendizagem das

crianças, reproduzindo o atendimento clínico e não incluindo a escola

no processo, acabando de certa forma culpabilizando este aluno por

não aprender, sem que houvesse outros responsáveis. Essa focalização

no indivíduo não é a proposta da psicologia escolar, já que é de

extrema importância desenvolver um trabalho com a escola como um

todo, bem como com a sala de aula em que este aluno está inserido

(ALMEIDA e NEVES, 2006)

Uma possibilidade de atuação do psicólogo escolar apontada por

Martinez (2006) é a da construção da proposta pedagógica da escola,

que é uma atuação fundamental para o estabelecimento da inter-

relação entre a psicologia e a educação. O psicólogo, a partir da

especificidade da sua formação e como integrante da equipe escolar

pode, através de seus conhecimentos, da contribuições efetivas e

importantes na construção da proposta pedagógica da escola. A

especificidade apontada pela autora se da pelo fato de a psicologia

escolar, através do objetivo do profissional, otimizar o processo

educativo que é entendido de forma ampla e complexa e o espaço que

possue para intervir, uma vez que não é um espaço limitado apenas a

escola, compreendendo mais do que isso, todo o contexto ao qual o

indivíduo esta inserido.

De acordo com as conclusões de Almeida (2002) a partir de uma

pesquisa desenvolvida por essa autora, a produção de conhecimentos

na área de psicologia escolar é muito diversificada, e apontam para

uma deficiência na área, pois não contribuem para formulações

teóricas consistentes, dando suporte teórico-metodológico a prática

profissional. Além do fato de os trabalhos, principalmente os

relacionados a prática de estágio, estarem mais relacionados a uma

intervenção mais remediativa do que preventiva, o que segundo a

autora não é o ideal. Ressalta ainda que a psicologia escolar ainda não

possue um espaço consolidado de atuação, dado apontado como

conseqüência do fato de a área não ter subsídios teóricos satisfatórios,

segundo os entrevistados.

Um outro autor que também aponta para essa falta de subsídios

teóricos é Santos (2002), afirmando que as pesquisas estão apontando

para o fato de fracasso escolar ser fruto da escola, e essa questão,

segundo ele deveria ser alvo das intervenções psicológicas, o que não

acontece, acreditando que a falta desse tipo de intervenção é

decorrente da formação lacunar encontrada nos cursos de psicologia

(SANTOS, 2002).

Aprimorando esta idéia da falta de subsídios teóricos para a atuação do

psicólogo escolar e de certo modo dando uma justificativa para essa

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psicólogo escolar e de certo modo dando uma justificativa para essa

lacuna está a idéia de Guzzo (2001), afirmando que não existe um

modelo de atuação para o psicólogo escolar brasileiro, pois as

intervenções devem ocorrer, não através do seguimento de um

padrão, mas sim a partir da caracterização da instituição que esta

inserido, das necessidades desta, bem como dos problemas existentes

e os recursos que possuem.

Nem sempre os psicólogos escolares encontram nas teorias existentes

respostas satisfatórias para os problemas vivenciados na prática, isso

porque a educação, a escola, os alunos, a família e a sociedade são

influenciados pelas questões econômicas, sociais, políticas e

ideológicas, sendo assim, é preciso adequar os constructos teóricos a

estas questões, e isso é um grande desafio. Logo, se faz necessário

buscar novas possibilidades de conceituação e atuação em uma

perspectiva crítica, dessa forma o que se percebe é que há uma grande

distância entre o enfoque teórico e suas implicações práticas. O

psicólogo escolar é o profissional que trabalha com diferentes pessoas

que reagem de forma diferente de acordo com cada circunstância

vivenciada e para, o psicólogo escolar, ser promotor de soluções para

os problemas é necessário que seja muito competente (GOMES, 2002).

Na prática, apesar de todas as explicações encontradas na literatura

sobre a atuação do psicólogo escolar e sobre os temas resultantes

desse, o que se percebe é uma atuação insatisfatória do psicólogo

escolar, pois o profissional acaba se limitando a atuar sobre o aluno

taxado como problemático: o que não aprende , o que é agressivo, o

que não para quieto e o que faz com que este profissional acabe tendo

um modelo de médico, ou engenheiro, chegando até a ter profissionais

que fazem terapia na escola e que lidam com questões não

relacionadas aos alunos (MARTINS, 2003). Essa inadequação e atuação se

dá, em muitos pela formação na qual o psicólogo foi submetido, ou

pelo valor que dá atuação do psicólogo escolar. Muitos optam pela

especialização de psicologia escolar por acreditar ser mais fácil, a

menos sobrecarregada e a mais acessível quanto aos estudos

programados, por outros, por acreditarem que o problema de

adaptação e de aprendizagem escolar parece exigir menos

comprometimento profissional, uma vez que acreditam que uma

orientação escolar errada surti menos efeitos do que uma orientação

errada na clínica. Essas duas visões são errôneas. O psicólogo escolar

precisa ter um grande conhecimento teórico e prático, como já

destacado anteriormente, e isso deve ser muito bem administrado na

graduação. Para que tal objetivo seja atingido é preciso que o

estudante tenha estágios supervisionados, para que domine não apenas

as técnicas de observação, de avaliação e de pesquisa, mas que

também tenha experiências relacionadas ao dinamismo das estruturas

escolares. Pois, um dos quesitos para ser um competente psicólogo

escolar é ele ter conhecimento não apenas da área da psicologia em

geral, como também da pedagogia (MARTINS, 2003; NOVAES, 1972).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Sandra Francesca Conte de; NEVES, Marisa Maria Br ito da Justa. A atuação da Psicologia Escolar no

atendimento aos alunos encaminhados com queixas escolares. In: Almeida, Sandra Francesca Conte de (org.).

Psicologia Escolar: ética e competências na formação e atuação profissional. Campinas, SP: Editora Alínea, 2006.

ALMEIDA, Sandra Francesca Conte de. O psicólogo no cotidiano da escola: re-significando a atuação profissional.