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APARECIDA A. Z. P. SABADINI MARIA IMACULADA C. SAMPAIO SÍLVIA HELENA KOLLER (Organização) um Enfoque para a Revista Científica Psicologia Publicar em I P PUS

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  • APARECIDA A. Z. P. SABADINIMARIA IMACULADA C. SAMPAIO

    SLVIA HELENA KOLLER(Organizao)

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    A compreenso da realidade um desafio posto para a Humanidade desde temposimemorveis. Dentre as formas possveis para enfrent-lo, a cincia, entendida comoumcorpoordenado de conhecimentos produzidos na relao do homem com a natureza e com osoutros homens, mediante a utilizao de um mtodo especfico de investigao, tornou-se,nos tempos modernos, a forma hegemnica de compreenso da realidade. Contudo, paraalm de um procedimento e de um produto peculiares, a cincia , sobretudo, umempreendimento humano.

    A natureza e a destinao social da cincia magnificamente retratada pelo teatrlogogermnico Bertold Brecht (1955/1991), por meio das palavras de seu personagem, GalileuGalilei: "A Cincia... est ligada s duas lutas. Enquanto tropea dentro de sua bruma luminosade supersties e afirmaes antigas, ignorante demais para desenvolver plenamente as suasforas, a humanidade no ser capaz de desenvolver as foras da natureza que vocsdescobrem. Vocs trabalham para qu? Eu sustento que a nica finalidade da cincia est emaliviar a canseira da existncia humana. E se os cientistas, intimidados pela prepotncia dospoderosos, acham que basta amontoar saber, por amor do saber, a cincia pode sertransformada em aleijo, e as suas novas mquinas sero novas aflies, nada mais. Com otempo, possvel que vocs descubram tudo o que haja por descobrir, e ainda assim o seuavano h de ser apenas um avano para longe da humanidade" (p.165). [Brecht, B. (1991).Vida de Galileu. In (Vol. 6, 2a ed., pp. 51-170). Rio de Janeiro: Paz e Terra.(Texto original emalemopublicado em1955)].

    Democratizar o acesso informao, ao conhecimento produzido pela humanidade, umdosaspectos do processo de construo da cincia e da democracia. Um dos elementos dedestaque nesse processo, e que recebe ateno detalhada aqui, o peridico cientfico que,pelas suas caractersticas, constitui-se em uma das formas privilegiadas de disseminao doconhecimento cientfico.

    Teatro completo

    Oswaldo Hajime Yamamoto

    um Enfoque paraa Revista Cientfica

    PsicologiaPublicar em

    I PPUS

    1

    C:\Documents and Settings\ANA KARINA\Desktop\Titulos novos\publicar psicologia\capa\publicar psicologia_1edicao_2009.cdrquarta-feira, 24 de junho de 2009 14:45:01

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  • Publicar em Psicologiaum Enfoque para a Revista Cientfica

  • APARECIDA ANGLICA ZOQUI PAULOVIC SABADINIMARIA IMACULADA CARDOSO SAMPAIOSLVIA HELENA KOLLER

    (Organizao)

    Publicar em Psicologiaum Enfoque para a Revista Cientfica

    So Paulo

    Associao Brasileira de Editores Cientficos de PsicologiaInstituto de Psicologia da Universidade de So Paulo

    2009

  • Direitos desta edio reservados Associao Brasileira de Editores Cientficos de Psicolo-gia (ABECiP) e ao Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo (IPUSP)

    Esta verso PDF est disponvel na Biblioteca Virtual em Sade - Psicologia (BVS-Psi, www.bvs-psi.org.br)

    Obra financiada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP)

    Reviso, editorao, impresso e capa: Casa do Psiclogo

    Reviso tcnica: rica Beatriz P. Moreschi Oliveira

    Publicar em psicologia : um enfoque para a revista cientfica / Organizao de Apare-cida Anglica Zoqui Paulovic Sabadini, Maria Imaculada Cardoso Sampaio e Slvia Helena Koller. So Paulo : Associao Brasileira de Editores Cientficos de Psicologia / Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo, 2009.

    216 p.

    ISBN 978-85-86736-33-9

    1. Peridicos cientficos. 2. Psicologia. 3. Normas editoriais. I. Sabadini, A. A. Z. P. (Org.). II. Sampaio, M. I. C. (Org.) III. Koller, S. H. (Org.). III. Ttulo.

    LC PN 4705

    Associao Brasileira de Editores Cientficos de Psicologia (ABECiP)Biblioteca Dante Moreira Leite

    Avenida Prof. Mello Moraes, 1721, Bloco C, Cidade UniversitriaSo Paulo, SP, Brasil 05508-030

    www.bvs-psi.org.br

    Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo (IPUSP)Avenida Prof. Mello Moraes, 1721, Cidade Universitria

    So Paulo, SP, Brasil 05508-030www.ip.usp.br

    Conselho Federal de Psicologia (CFP)SR TVN, Quadra 702, Edifcio Braslia Rdio Center, Conjunto 4024-A

    Braslia, DF, Brasil 70719-900www.pol.org.br

    Casa do PsiclogoRua Simo lvares, 1020, Vila Madalena

    So Paulo, SP, Brasil 05417-011www.casadopsicologo.com.br

  • Agradecimentos

    Diversas pessoas ajudaram na construo do livro Publicar em Psicologia: um Enfoque para a Revista Cientfica. Somos imensamente gratas a todos e queremos agradecer nominalmente Diretoria da Associao Brasileira de Editores Cientficos de Psicologia (ABECiP) e ao Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo (IPUSP) pela publicao. Ao Conselho Federal de Psicologia (CFP), pelo financiamento da obra. Casa do Psiclogo pela reviso, editorao, im-presso e capa. Aos autores-colaboradores: Ana Ludmila Freire Costa, Andr Serradas, Claudette Maria Medeiros Vendramini, Cludia Borim da Silva, Irene Maurcio Cazorla, Maria Marta Nas-cimento, Oswaldo Hajime Yamamoto e Piotr Trzesniak. A rica Beatriz P. Moreschi Oliveira pela reviso tcnica dos captulos da obra. s professoras Emma Otta e Accia A. Angeli dos Santos pela colaborao e pelo apoio. Aos nossos familiares que foram privados de nossa presena em alguns momentos. equipe da Biblioteca Dante Moreira Leite do IPUSP e da Biblioteca Virtual de Psicologia, pelo apoio na elaborao deste livro. Aos autores, editores e demais usurios que nos incentivaram neste empreendimento e Providncia, que nos colocou juntas e nos dotou de empatia uma com a outra, o que vem permitindo uma bela parceria. Bela no sentido de pro-dutiva, porm mais ainda porque estar juntas nos faz felizes!

  • Sumrio

    Prefcio 13Apresentao 15

    Captulo 1 A Redao Cientfica Apresentada por Editores 19Piotr Trzesniak e Slvia Helena Koller

    1 O Texto Cientfico: Viso (e Cuidados) do(a) Autor(a) 20

    2 Objetivos da Cincia e a Escrita Cientfica 20

    3 Como Escrever 21

    4 Por que Escrever 22

    5 Onde e o Qu Publicar 24

    6 A ltima Verso 25

    7 O Texto Cientfico: Viso (e Cuidados) dos Editores 26

    8 A Trajetria de um Artigo: da Preparao Publicao 28

    Captulo 2 Preparando um Peridico Cientfico 35Aparecida Anglica Zoqui Paulovic Sabadini, Maria Imaculada Cardoso Sampaio e Maria Marta Nascimento

    1 Peridico Cientfico 36 1.1 Caractersticas do Peridico Cientfico 37 1.1.1 Normalizao 38 1.1.2 Periodicidade 38 1.1.3 Regularidade 39 1.1.4 Tempo de Existncia 40 1.1.5 Divulgao e Distribuio 40 1.1.6 Dimenses 40 1.1.7 Tiragem 41 1.1.8 Apresentao Grfica (Leiaute) 41 1.1.9 Nmero Internacional Normalizado para Publicao Seriada (ISSN) 41 1.2 Estrutura do Peridico Cientfico 42 1.2.1 Parte Externa do Peridico Cientfico 42 1.2.2 Parte Interna do Peridico Cientfico 51

  • 1.3 Projeto Grfico 58 1.4 Da Preparao Publicao: Recomendaes 58

    2 Revista de Divulgao 59

    3 Boletim de Sociedade Cientfica ou Informativo Profissional 59

    4 Revista Eletrnica ou Digital 60

    Captulo 3 O Movimento de Acesso Aberto, os Repositrios e as Revistas Cientficas 75Maria Imaculada Cardoso Sampaio e Andr Serradas

    1 Movimento de Acesso Aberto (OA) 76 1.1 Declarao de Budapeste (Budapest Open Acess Iniciative - 2002) 76 1.2 Declarao de Bethesda (2003) 76 1.3 Declarao de Berlim (2003) 76 1.4 Declarao de Salvador sobre Acesso Aberto: a Perspectiva dos Pases em Desenvolvimento (2005) 77 1.5 Declarao de Florianpolis (2006) 77 1.6 Declarao de Cuba (2007) 77

    2 Open Archives Iniciative (OAI) 78 2.1 Linha do Tempo das Iniciativas em Acesso Aberto 78

    3 Vertentes do Acesso Aberto 79 3.1 Repositrios Institucionais e Temticos (Green Road) 79 3.1.1 Exemplos de Repositrios Institucionais 81

    4 As Revistas Cientficas e o Acesso Aberto 82 4.1 Scientific Electronic Library Online (SciELO) 83 4.2 Red de Revistas Cientficas de Amrica Latina y el Caribe, Espaa y Portugal (Redalyc) 84 4.3 Peridicos Eletrnicos em Psicologia (PePSIC) 84

    5 Consideraes Finais 85

    Captulo 4 A Estrutura Editorial de um Peridico Cientfico 87Piotr Trzesniak

    1 Trs Requisitos para a Revista Cientfica 88

    2 Garantia de Perenidade: a Retaguarda Institucional e o Comit/Conselho de Poltica Editorial 88

    3 Garantia da Credibilidade Cientfica I: o Corpo Editorial Cientfico 89 3.1 Conceito e Atribuies 90 3.2 Constituio e Renovao do Corpo Editorial Cientfico 90

    4 Garantia da Credibilidade Cientfica II: Consultores (ou Revisores) ad hoc do Peridico Cientfico 91

    5 Garantia da Credibilidade Cientfica III: a(s) Editora(s) e/ou o(s) Editor(es) 92 5.1 O Editor Geral 92 5.2 A Equipe do Editor Geral 95 5.2.1 Assistente do Editor, Editor Assistente e Editor Adjunto 95 5.2.2 Editor Associado 96

  • 5.2.3 Editor Convidado 96 5.2.4 Editor de Seo 96 5.2.5 Editor Consultivo 966 Garantia da Credibilidade Cientfica IV: Funes e Responsabilidades no Processo Editorial 97

    7 Garantia da Credibilidade Cientfica V: Automatizando a Administrao com Submission e SEER 99

    Captulo 5 Indexao e Fator de Impacto 103Maria Imaculada Cardoso Sampaio e Aparecida Anglica Zoqui Paulovic Sabadini

    1 Indexao 104

    2 O Processo de Seleo das Bases de Dados 105

    3 Tipos de Bases de Dados 107

    4 Procedimentos para Indexao 109

    5 Consideraes Finais 113

    Captulo 6 Preparando um Artigo Cientfico 117Aparecida Anglica Zoqui Paulovic Sabadini,

    Maria Imaculada Cardoso Sampaio e Slvia Helena Koller

    1 O Artigo Cientfico 118

    2 O Manuscrito 118

    3 Estrutura e Contedo do Artigo Cientfico 119

    3.1 Ttulo 120 3.1.1 Subttulo 120 3.1.2 Ttulo Resumido 121

    3.2 Autoria 121 3.2.1 Afiliao Institucional dos Autores 122 3.2.2 Endereo Institucional dos Autores 124 3.2.3 Informaes sobre os Autores 125 3.2.4 Notas do Autor 125 3.3 Ttulo e Autoria: Recomendaes 126 3.4 Resumo 127 3.5 Palavras-chave e Descritores 129 3.6 Introduo 131 3.7 Desenvolvimento 132 3.7.1 Mtodo 132 3.7.2 Resultados 135 3.7.3 Discusso 146 3.7.4 Concluso ou Consideraes Finais 147 3.8 Citaes no Texto 147 3.9 Organizao dos Ttulos das Sees no Artigo 148 3.10 Referncias 149 3.11 Data de Tramitao dos Manuscritos 149 3.12 Tempo de Publicao 150

  • 3.13 Anexo(s) e Apndice(s) 150

    4 Outros Tipos de Contribuies 150

    5 Da Preparao Submisso do Manuscrito: Recomendaes 151

    5.1 Escolha do Peridico para Submisso do Manuscrito 151 5.2 Padronizao do Manuscrito 152 5.3 Submisso e Carta de Apresentao do Manuscrito 152

    6 DOI (Identificador de Documento Digital) 153

    7 Consideraes Finais 154

    Captulo 7 Autoria, Coautoria e Colaborao 163Maria Imaculada Cardoso Sampaio e Aparecida Anglica Zoqui Paulovic Sabadini

    1 Autor e Autoria 164

    1.1 Autoria Institucional 164

    2 Coautoria 165

    3 Autores e Colaboradores 166

    4 Coautoria Internacional ou Autoria Transnacional 167

    Captulo 8 Normas para a Apresentao de Informaes Estatsticas no Estilo Editorial APA 171Claudette Maria Medeiros Vendramini, Irene Maurcio Cazorla e Cludia Borim da Silva

    1 Mtodos de Apresentao de Informaes Estatsticas 172 1.1 Apresentao Estatstica em Texto 172 1.2 Apresentao Estatstica em Tabela 173 1.3 Elementos de uma Tabela 174 1.4 Apresentao Estatstica em Figura 177 1.5 Elementos de uma Figura 177 1.6 Tipos de Grficos Estatsticos 178 1.6.1 Grfico de Linhas 178 1.6.2 Grfico de Barras Verticais ou Colunas 179 1.6.3 Grfico de Barras Horizontais 179 1.6.4 Grfico de Setores 180 1.6.5 Grfico de Caixas 180 1.6.6 Histograma 181 1.6.7 Diagrama de Disperso e Reta de Regresso 181

    2 Apresentao de Resultados de Anlises Estatsticas 182 2.1 Apresentao de Medidas Descritivas ou Exploratrias 183 2.2 Anlise Estatstica Inferencial 183

    3 Consideraes Finais 186

  • Captulo 9 A Avaliao de Peridicos Cientficos Brasileiros da rea da Psicologia 189Oswaldo Hajime Yamamoto e Ana Ludmila Freire Costa

    1 A Avaliao de Peridicos: Modalidades e Finalidades 190 1.1 Indexao em Bases de Dados 190 1.2 Fomento 191 1.3 Incluso em Colees 192 1.4 Avaliao de Pesquisadores e de Instituies 193

    2 A Evoluo das Propostas de Avaliao de Peridicos 193

    3 A Avaliao de Peridicos na rea da Psicologia 194

    4 Reflexes sobre a Avaliao de Peridicos 196

    Notas sobre as Organizadoras 201

    Notas sobre os Autores-colaboradores 203

  • 13

    Publicar em Psicologia: um Enfoque para a Revista Cientfica

    PrefcioEmma Otta

    O livro Publicar em Psicologia, organizado por Aparecida Anglica Zoqui Paulovic Sabadini, Maria Imaculada Cardoso Sampaio e Slvia Helena Koller, destina-se a estudantes e profissionais de Psicologia e de reas afins interessados em editorao cientfica. Rene autores com larga ex-perincia na rea de publicao no Brasil e ser leitura obrigatria em instituies de ensino supe-rior e pesquisa, nos cursos de ps-graduao e graduao, tanto pelas orientaes prticas para os pesquisadores que desejam difundir suas descobertas como pelos subsdios que oferece para discusses mais amplas sobre poltica cientfica nacional. O professor Isaac Roitman nos ensina que o desenvolvimento cientfico e tecnolgico de um pas correlaciona-se com a qualidade de vida de seu povo. Assim, o conhecimento cientfico um capital de enorme importncia para o nosso pas. Investir na sua busca e na democratizao de tecnologias e ferramentas de produo e socializao do conhecimento acadmico investir na qualidade de vida da sociedade brasileira.

    O livro suscita importantes questes de poltica cientfica (captulo 3), o que vem ao encon-tro de uma demanda crescente da comunidade cientfica por acesso informao cientfica e livre acesso de brasileiros aos resultados de pesquisas financiadas com recursos pblicos. o que defendem as Declaraes de Salvador e de Florianpolis (2006), somando-se a iniciativas internacionais, notadamente as 3 Bs, as Declaraes de Budapeste (2005) e as Declaraes de Bethesda e Berlim (2003).

    H hoje insatisfao crescente da comunidade cientfica com o fato de as universidades pagarem trs vezes pelo processo de gerao do conhecimento, o que constitui um proble-ma srio, especialmente para as universidades pblicas onde a maior parte do conhecimento cientfico gerado. A universidade paga o salrio do docente/pesquisador que faz a pesquisa. O docente/pesquisador muitas vezes paga para publicar. Finalmente, a universidade paga para adquirir as revistas, e muitas bibliotecas tm dificuldade em manter colees completas.

    Acompanhando o que acontece internacionalmente, o Brasil destaca-se na construo e ma-nuteno de repositrios digitais, com ganho de autonomia com relao aos editores cientficos comerciais e consequente reduo de gastos. H 15 anos, essa iniciativa seria impossvel. Agora temos tecnologia para isso graas ao advento da Internet. Um exemplo na psicologia o Projeto Biblioteca Virtual de Psicologia coordenado pela Biblioteca Dante Moreira Leite do Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo, em parceria com o Conselho Federal de Psicologia.

    Uma coleo de acesso livre nas diversas reas do conhecimento que merece destaque a SciELO (Scientific Electronic Library Online), criada e mantida no mbito da BIREME/FAPESP, que cobre as principais publicaes peridicas brasileiras, disponibilizando, pela Internet, os textos integrais.

    Este livro um exemplo de iniciativa em acesso aberto. A publicao digital foi disponibili-zada, antes mesmo da verso impressa, no site da BVS-Psi (www.bvs-psi.org.br). A parceria com a Casa do Psiclogo possibilitou esse acesso imediato obra.

  • 14

    As diretrizes sobre coautoria discutidas no captulo 7 sero consideradas teis por orienta-dores e orientandos, assim como por equipes de pesquisa, que vm se ampliando pelas facili-dades da comunicao via rede e pelo incentivo das universidades internacionalizao. cada vez mais frequente a coautoria transnacional e internacional. A explicitao de princpios e a in-dicao dos problemas que podem ocorrer so importantes para a reduo de mal-entendidos a respeito da propriedade intelectual.

    Estudantes iniciantes e at mesmo pesquisadores experientes, que querem divulgar suas pesquisas, certamente encontraro nesta obra informaes valiosas sobre a preparao de ma-nuscritos/compuscritos (captulos 1, 2 e 6), incluindo a forma de apresentao de informaes estatsticas (captulo 8), e podero esclarecer dvidas sobre o processo editorial (captulo 1). Ao decidir para qual peridico iro enviar seu trabalho, podero encontrar subsdios nos captulos 2, 4, 5 e 9, que tratam da estrutura editorial, avaliao de peridicos e do fator de impacto e indexao. Novamente so suscitadas nesses captulos questes sobre poltica cientfica, cons-tatando-se os avanos que a psicologia como rea tem feito na avaliao de seus peridicos cientficos e na reflexo sobre questes de avaliao.

    Recomendo fortemente a leitura do livro Publicar em Psicologia.

    Prefcio

    Emma OttaProfessora titular do Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo (IPUSP). Atualmente diretora do IPUSP (Gesto 2008-2011). E-mail: [email protected]

  • 15

    Apresentao

    A elaborao deste livro atende a uma antiga demanda por parte da comunidade envolvida com os processos de editorao de revistas cientficas e produo de artigos cientficos na rea da Psicologia. Essa demanda, manifestada, muitas vezes, nos cursos Como Preparar Artigo Cient-fico, nas dvidas expressadas pelos usurios/autores e por autores e editores nas mais diferentes formas de interao, inclusive nas reunies da Associao Brasileira de Editores Cientficos de Psicologia (ABECiP), levou ao delrio de pensar que seramos capazes de dar respostas lgicas, claras e precisas s angstias da comunidade. Puro delrio, ledo engano! Quanto mais envere-dvamos pelos caminhos da revista e do artigo cientfico, mais transparecia a certeza de que estvamos muito distantes de conseguir explicar, de forma lgica, clara e precisa toda a magia, paixo e dificuldades que envolvem a fascinante tarefa de registrar e formatar conhecimentos.

    Algumas vezes parecia que a concluso dos captulos estava to distante e que no conse-guiramos. Quando voltava a motivao para continuar, surgia uma nova urgncia e tirava-nos do foco. Algumas vezes ramos tomadas pelo sentimento de ignorncia com relao ao que tentvamos explicar e buscvamos na sabedoria do emblemtico filsofo grego Scrates e na sua frase imortal S sei que nada sei, a coragem para seguir adiante. Lendo muitos autores, escutando outros, analisando os manuais de publicao da American Psychological Association (APA) e as normas editadas pela Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), fomos tecen-do nosso discurso, muitas vezes to frgil que vinha a sensao: se levantarmos os olhos do tex-to, essa informao j no verdadeira, tamanha a velocidade com que tudo muda atualmente. Scrates, to sbio, no escreveu nada do que pensou e refletiu. Por que ns que no somos sofistas temos de ser to atrevidas? Novamente o conforto vinha das palavras e dos ensinamen-tos do grande filsofo: o saber algo que est fora de ns, nunca vamos possu-lo, mas temos de am-lo e busc-lo sempre! Aquele que ama o saber caminha em sua direo!

    E seguamos escrevendo...Publicar os resultados de uma investigao cientfica uma forma de assegurar os direitos

    sobre descobertas e resultados, trata-se do registro legtimo das ideias e dos pensamentos de um(a) autor(a). Entretanto, sabe-se de antemo que escrever um ato de solido, por isso, mui-tas vezes, o ato de publicar encontra resistncia entre os pesquisadores. Na verdade, publicar exige muita coragem e ousadia, pois se trata de tornar totalmente transparente aquilo que fora gerado de forma reservada. abrir-se sem medos ao julgamento de todos, especialistas, curio-sos, crticos e toda sorte de pessoas; algumas de boa vontade, outras nem tanto.

    Ao publicar, o(a) autor(a) dissemina seu conhecimento e autoriza aos cientistas e pesquisadores o acesso sua produo, principalmente na era atual, em que no existem fronteiras nem barreiras fsicas para a circulao da informao. Publicar permite a outros pesquisadores refletirem sobre os resultados obtidos. Assim, possvel fazer-se inferncias

    Publicar em Psicologia: um Enfoque para a Revista Cientfica

  • 16

    e concluses sobre o alcanado, de forma que haja o intercmbio de ideias e experincias. O conhecimento avana!

    A publicao d a necessria visibilidade produo de um pas, preserva a memria e legi-tima o conhecimento gerado em uma determinada comunidade. O conhecimento s se trans-forma em cincia a partir do momento em que publicado, e o verdadeiro cientista aquele que publica os resultados de sua investigao, compartilhando com outros suas ideias e desco-bertas. Hoje, mais do que nunca, o que no est escrito no existe de fato!

    Desde que comearam a ser publicadas no sculo XVII, as revistas cientficas passaram a desempenhar relevante papel no processo de registro e divulgao dos resultados de pesqui-sas. Esse tipo de publicao importante por diversas razes, porm uma aparece como deter-minante da necessidade de se publicar: a ascenso e o xito de um(a) pesquisador(a) ou pro-fissional dependem, em grande parte, da quantidade/qualidade de trabalhos publicados e da frequncia com que esses trabalhos so citados por outros cientistas.

    O discurso cientfico tem suas normas prprias, e escrever para uma revista significa enqua-drar seus pensamentos em um modelo preestabelecido, com relao forma de apresentao dessas ideias. Sendo assim, um caminho para auxiliar os autores e os prprios editores a cria-o de normas bsicas que possam orientar na fase de elaborao do artigo e da prpria revista cientfica.

    A rea da Psicologia vivencia um sensvel crescimento de suas revistas cientficas no Brasil. Esse crescimento pode ser medido a partir do nmero de revistas indexadas no Index Psi Peri-dicos (www.bvs-psi.org.br), base de dados que tem por objetivo o controle bibliogrfico das pu-blicaes seriadas da rea. Outro indicador do aumento do crescimento das revistas na rea o Portal de Peridicos Eletrnicos de Psicologia (PePSIC, http://pepsic.bvs-psi.org.br), que amplia sua coleo latino-americana a cada dia. Se lanarmos o olhar para a Europa, os Estados Unidos da Amrica e outras regies, nosso argumento encontrar respaldo irrefutvel.

    Ento, na nsia de auxiliar os autores e editores que publicam em Psicologia, fomos buscan-do colaboradores que nos auxiliaram na construo dos textos que compem este livro.

    No primeiro captulo A Redao Cientfica Apresentada por Editores Piotr Trzesniak e Sl-via Helena Koller apresentam, do ponto de vista de editores experientes, o texto cientfico: viso e cuidado dos autores e os objetivos da cincia e a escrita cientfica. Conversam com o leitor sobre como escrever, por que escrever, onde e como publicar. Descrevem tambm a trajetria de um artigo: da preparao publicao.

    O captulo 2 Preparando um Peridico Cientfico escrito por Aparecida Anglica Zoqui Paulovic Sabadini, Maria Imaculada Cardoso Sampaio e Maria Marta Nascimento, orienta quanto aos elementos essenciais na composio do peridico cientfico. A normalizao, periodicida-de, regularidade, divulgao e distribuio, apresentao grfica, estrutura do peri dico e os elementos pr, textuais e ps-textuais tambm so descritos, comentados e exemplificados. A elaborao do captulo pautou-se na norma NBR 6021 da ABNT (2003b), nos manuais de publi-cao da APA (2001a, 2001b) e nas revistas editadas pela prpria APA.

    O terceiro captulo O Movimento de Acesso Aberto, os Repositrios e as Revistas Cientfi-cas tem como autores Maria Imaculada Cardoso Sampaio e Andr Serradas que discorrem sobre as declaraes de apoio ao movimento de acesso aberto, Open Archives Iniciative (OAI), reposit-rios institucionais e temticos. Finalizam situando as revistas cientficas no contexto eletrnico, enquanto a via dourada do acesso aberto.

    O quarto captulo Estrutura Editorial de um Peridico Cientfico elaborado por Piotr Trzesniak, conversa com os leitores e editores sobre a composio do corpo editorial e os papis de cada um dos envolvidos no processo de reviso e aceite do artigo. As funes dos assessores cientficos ou revisores ou referees ad hoc, assim como a nomenclatura dos diversos atores dessa importante tarefa de gerao da revista cientfica tambm so objetos de explanaes.

    Apresentao

  • 17

    Publicar em Psicologia: um Enfoque para a Revista Cientfica

    O captulo 5 Indexao e Fator de Impacto foi desenvolvido por Maria Imaculada Cardo-so Sampaio e Aparecida Anglica Zoqui Paulovic Sabadini e situa os leitores quanto ao processo de indexao e s principais bases de dados que promovem o conhecimento psicolgico.

    Preparando um Artigo Cientfico sexto captulo foi formulado pelas organizadoras do livro, Aparecida Anglica Zoqui Paulovic Sabadini, Maria Imaculada Cardoso Sampaio e Slvia He-lena Koller. Orienta quanto estrutura e ao contedo do artigo cientfico, explicando os trs principais elementos que constituem o artigo: pr-textuais (antecedem o texto com informa-es que ajudam na sua identificao), textuais (parte do trabalho onde exposta a matria) e ps-textuais (complementam o trabalho), com base nos manuais da APA (2001a, 2001b) e na norma NBR 6022 da ABNT (2003a).

    O captulo 7 Autoria, Coautoria e Colaborao escrito por Maria Imaculada Cardoso Sam-paio e Aparecida Anglica Zoqui Paulovic Sabadini discute as atribuies e responsabilidades dos envolvidos no processo de criao do artigo cientfico. O compromisso tico dos autores e co-autores tambm faz parte do contedo do texto.

    No captulo 8 Normas para a Apresentao de Informaes Estatsticas no Estilo Editorial APA Claudette Maria Medeiros Vendramini, Irene Maurcio Cazorla e Cludia Borim da Silva apre-sentam as normas para publicao cientfica de informaes que envolvem notaes, expres-ses, tabelas e figuras estatsticas, utilizando como modelo as normas da APA.

    Finalmente, no captulo nove A Avaliao de Peridicos Cientficos Brasileiros da rea de Psicologia Oswaldo Hajime Yamamoto e Ana Ludmila Freire Costa explicam a evoluo das pro-postas de avaliao de peridicos, enfatizando a rea da Psicologia. Encerram o texto refletindo sobre o que a avaliao representa para as revistas cientficas e sua efetividade na aferio do mrito cientfico dos peridicos.

    Assim, entregamos nossa contribuio comunidade. No como uma obra acabada, mas apenas como o incio de um dilogo. Acreditamos que esse dilogo ganhar eco nas vozes dos autores, editores e leitores em geral e nos conduzir para outros momentos de delrios e moti-vaes que nos possibilitaro rever, reescrever, melhorar...

    As organizadoras

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    Referncias

    American Psychological Association. (2001a). Manual de publicao da American Psychological Association (4a ed., D. Bueno, trad.). Porto Alegre: ARTMED. (Traduo da 4a ed. de 1994)

    American Psychological Association. (2001b). Publication manual of the American Psychological Association (5th ed.). Washington, DC: Author.

    Associao Brasileira de Normas Tcnicas. (2003a). Informao e documentao Artigo em publicao peri-dica cientfica impressa - Apresentao - NBR 6022. Rio de Janeiro: Autor.

    Associao Brasileira de Normas Tcnicas. (2003b). Informao e documentao - Publicao peridica cientfi-ca impressa - Apresentao - NBR 6021. Rio de Janeiro: Autor.

    Apresentao

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    Captulo 1

    A Redao Cientfica Apresentada por EditoresPiotr TrzesniakSlvia Helena Koller

    Carssimo(a) leitor(a), seja bem-vindo(a) ao nosso captulo. possvel que boa parte de nos-so texto seja diferente de todos os demais que voc j leu sobre redao cientfica. que ns, autor e autora, no somos escritores profissionais, e tambm no temos formao na rea de letras. Somos pesquisadores e, como todos os dessa espcie, tornamo-nos escritores (ser que nos tornamos mesmo?) por dever de ofcio.

    Ento, voc no vai encontrar por aqui apenas orientaes acerca de como escrever. Embora tratemos disso, especialmente na primeira metade do texto, mantemos todo o tempo uma outra viso, e a enfatizamos na Parte 2: vamos nos preocupar e lhe contar o que acontecer com o seu compuscrito (compuscrito o equivalente moderno de manuscrito), aps voc encaminh-lo a uma revista para publicao. Conhecendo e, tanto quanto possvel, assumindo os papis envol-vidos na tramitao editorial de um original, um(a) autor(a) poder melhor-lo significativamen-te e, em consequncia, reduzir substancialmente o tempo entre a submisso e a publicao.

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    Captulo 1 | A Redao Cientfica Apresentada por Editores

    1 O Texto Cientfico: Viso (e Cuidados) do(a) Autor(a)Escrever um texto cientfico como contar uma histria. O objetivo deste captulo dia-

    logar com autores em potencial sobre aspectos ligados a essa tarefa. Por se tratar de um texto didtico, apresenta uma linguagem coloquial e direta aos leitores, visando estabelecer um di-logo e inquiet-lo para materializar o seu texto cientfico. Trata basicamente de como e por que escrever e de onde e o qu publicar da histria de seu trabalho cientfico.

    Voc faz uma pesquisa e, naturalmente, quer contar o que descobriu, como alcanou seus resultados e o que estes acrescentam ao conhecimento j existente. Essa a motivao princi-pal dos cientistas querer que seus achados sejam disseminados e querer ser reconhecido por isso mas somente se pode receber reconhecimento por algo que se faa muito bem. A pes-quisa apenas se completa quando seu resultado se torna disponvel para a humanidade. Ento, escrever e publicar parte do processo investigativo e precisa ser muito bem feito tambm. No entanto, contar bem a histria de uma pesquisa exige um roteiro bastante peculiar, baseado em mtodo, linguagem e valores especficos. Voc est escrevendo uma parte da histria da cincia, contando um experimento, uma investigao, desvendando um fenmeno e precisa respeitar os pressupostos que ela lhe apresenta. S assim seu texto ser realmente compreensvel e ade-quado s expectativas de seus leitores, em geral tambm cientistas como voc.

    2 Objetivos da Cincia e a Escrita CientficaA cincia uma atividade coletiva, conduzida atravs de mtodos rigorosos e tcnicas espec-

    ficas, por membros de uma comunidade de pesquisadores e/ou estudiosos. Independentemen-te de seu mtodo ser quantitativo ou qualitativo, seus resultados devem ser comunicados atra-vs de uma linguagem exclusiva, que transmita objetivamente informaes sobre os resultados das investigaes conduzidas com rigor metodolgico. Os valores dessa comunidade permeiam e caracterizam a cincia que ela produz. Lembre-se, no entanto, de que a realidade vivida duran-te a pesquisa est acima do mtodo, como salienta Demo (1999). O mtodo usado para orga-nizar a realidade, no o contrrio. Portanto, o reducionismo cientfico no pode considerar real apenas o que cabe no mtodo (Demo, 2003). Aventure-se e conte a histria de sua investigao, acrescentando as potencialidades e as limitaes que a tornaram possvel e ainda mais prxima da realidade. Criatividade uma condio esperada para que a cincia se renove! Mas cincia no literatura potica, ento aqui se fala em criatividade cientfica. Voc no tem de fazer um texto esteticamente bonito, mas cientificamente correto. Uma pesquisa bonita no se caracteriza por uma linguagem retrica e rebuscada, mas pelo seu belo delineamento, assim qualificado por ser intrinsecamente rigoroso e bem descrito.

    O objetivo ltimo da cincia consiste em gerar conhecimento, cujo acmulo promova a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos. A histria cientfica que voc estar coescre-vendo obedece a uma srie de regras simples e fceis de entender. Seu texto expressa a verdade de sua pesquisa, obtida atravs dos procedimentos de coleta e anlise dos dados que foram uti-lizados para alcanar os objetivos ou responder s perguntas que a motivaram. Como pano de fundo da histria que voc est contando, h toda a cincia produzida anteriormente, descrita na literatura publicada, apoiando suas hipteses e seu problema e atestando por que o estudo empreendido relevante e se justifica investig-lo. Demo (2003) afirma que bons resultados so frutos de uma boa colheita, pois tendo mo um bom tema, uma boa hiptese de trabalho, uma boa base terica e metodolgica, ser possvel realizar bem a promessa da introduo. Voc deve manter o compromisso de apresentar argumentos adequados e coletar dados perti-nentes, para chegar a um bom desfecho de sua histria.

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    3 Como EscreverEscrever cincia no uma tarefa trivial, porque necessrio respeitar estritamente o deta-

    lhamento e a veracidade do fato que est sendo descrito. , alm disso, sempre uma tarefa de-safiadora e difcil de comear. Se voc no consegue escrever a primeira frase, no se preocupe! Escreva a segunda, e o seu texto fluir. No entanto, h um caminho infalvel para quem deseja aprender a escrever e quer escrever bem: leia muito e escreva muito! Lendo o que outros cientistas escreveram, voc conseguir nutrir o seu prprio processo criativo e gerar seus prprios textos.

    Outra peculiaridade da pesquisa cientfica e, portanto, tambm do texto que a descreve (e que, como j mencionado, faz parte dela!) que ele passar pela avaliao de pares, isto , de outros investigadores. , por isso, conveniente submeter seu original apreciao de seus cole-gas de trabalho, professores e supervisores, para obteno de avaliaes preliminares. Se esses seus primeiros leitores forem seus verdadeiros amigos, como aponta Bem (2003), faro crticas construtivas e o ajudaro a ter um original mais pronto para publicao.

    Um texto sempre pode ser melhorado, portanto, em nenhum momento (mesmo que o con-sidere definitivo), tome as crticas a ele como se fossem pessoais a voc. Agradea aos revisores prvios por ajud-lo a submeter um compuscrito mais aprimorado, o que, certamente, tornar o processo de tramitao editorial mais curto e far a alegria dos pareceristas e editores. Alm disso, voc poder conhecer antecipadamente algumas das possveis reaes dos leitores ao seu texto.

    Se algum revisor (pr ou ps-submisso) ficar um pouco exaltado e emitir um parecer no construtivo, pergunte-se por que isso aconteceu. Desconfie, tambm, de revistas que no lhe enviam pareceres bem consubstanciados e que publicam o seu texto na forma como o subme-teu. Elas o esto expondo a risco. Depois de publicado, seu artigo no pode mais ser alterado, e voc no teve garantido o seu direito de t-lo revisado e de melhor-lo antes que ele sasse.

    unanimidade entre os pesquisadores que escrevem e leem cincia que alguns pressupostos so fundamentais para uma escrita cientfica de boa qualidade (Bem, 2003; Day, 2001; Sternberg, 2003). O texto cientfico deve ser claro, objetivo, preciso, comunicativo e estar em linguagem correta. Isso quer dizer que o texto cientfico deve ser... cientfico, e no literrio ou coloquial. Toda informa-o que for colocada nele deve ser acessvel aos leitores a que se destina, permitindo que a cincia que contm seja realmente entendida. A leitura da histria de sua pesquisa precisa permitir que seja identificado exatamente o que foi feito e como foi feito, sem a possibilidade de dar margem imaginao de seus leitores. Os outros cientistas, que aprendem com a leitura de seu texto, podem discutir o que voc fez apenas em face do que est apresentado, sem ter de adicionar hipteses ou conjecturas. Deve ser possvel reconstruir seu trabalho a partir de seu relato, aproveitar suas ideias, criticar seu mtodo, reinterpretar seus achados e concluses. Os leitores podem at ter um momento de inspirao e se emocionar com o estudo que voc descreve, mas precisam apegar-se ao seu texto para realmente entender o que sua experincia pode ensinar e o que seguir a partir dela (ou no!).

    Ao contar a histria de sua pesquisa, fique, portanto, alerta para que o seu texto seja obje-tivo. Faa uma seleo criteriosa das informaes disponveis. Inclua todas aquelas imprescind-veis para que o trabalho e seus resultados sejam bem compreendidos. Voc tem de se perguntar ao longo de sua escrita se tudo que est dito necessrio e se algo que far falta ainda est au-sente. Voc fez a pesquisa, ela est toda em sua memria e em seus registros. Seus leitores no o acompanharam nesse processo e precisam de detalhes relevantes para poderem entender o que voc fez. Esta uma tarefa desafiadora, pois, muitas vezes, algumas informaes so to bvias aos cientistas que escrevem, por terem vivido o processo investigativo, que lhes passam despercebidas quando redigem o texto. Note que essas lacunas podem inviabilizar a (re)cons-truo do conhecimento. Entregue o ouro aos bandidos, no tenha medo! Eles sabero utiliz-lo muito bem. Pode ser mais saudvel receber crticas por alguma informao dada em excesso, do que ser atacado por ter omitido informaes necessrias.

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    Captulo 1 | A Redao Cientfica Apresentada por Editores

    Voc pode mencionar tambm alguma tentativa que no tenha funcionado como espera-do, mas tal meno tem de ter uma finalidade cientfica, no meramente alongar seu texto. Para isso, preciso apresentar e discutir hipteses e causas para o insucesso do que foi tentado e justificadamente desaconselhar a repetio ou apontar alternativas e modificaes que possam torn-la frutfera. Porm, cuidado: a nfase principal deve ser sempre efetiva contribuio para a ampliao do acervo de conhecimentos da humanidade. Informaes complementares ou se-cundrias podem aparecer, mas no ocupar um espao tal que se rivalizem, mascarem ou enfra-queam o contedo principal. Sim, a mencionada seleo criteriosa das informaes disponveis no tarefa fcil, especialmente quando ainda se iniciante. De novo, aqui, a cumplicidade de bons revisores de grande ajuda.

    Outro aspecto fundamental da escrita de um texto cientfico a correta utilizao das regras do idioma, da rea da cincia e do veculo ao qual ser feita a submisso. O uso de uma linguagem precisa evita expresses de sentido vago, que possam dar margem a diferentes interpretaes (Granja, 1998). De acordo com Secaf (2004, p. 47), preciso e objetividade so condies respon-sveis pela exatido do texto como um todo e pelo uso de palavras e conceitos universalmente aceitos. Mas isso tambm no significa que sua linguagem tenha de ser to especfica que s os iniciados no jargo de sua rea podero entender o que est escrito. Voc ganhar em comunica-bilidade e preciso ao cuidar desses detalhes. E ganhar muito mais do que isso: causar uma boa impresso aos editores! Portanto, se voc tiver dvidas quanto grafia, consulte dicionrios, livros de gramtica e o corretor de seu processador de texto. Limpe problemas ortogrficos, gramati-cais e de pontuao. Faa um texto sem erros, por no ter se cansado de revis-lo.

    Alm disso, siga as regras de publicao da rea na qual se enquadra seu texto. Se seu estudo pertence rea da Psicologia, conhea as regras da American Psychological Association (APA, 2001). Se voc no tem o manual, consulte as melhores revistas da rea, aquela para a qual voc quer submeter o texto, procure normas na Scientific Electronic Library Online (SciELO, http://www.scielo.org). No se omita por descaso. Um erro de apresentao nas normas ou na escrita culta de seu texto pode ser interpretado pelos revisores ou editores como desleixo. Mas, note, os editores no pensaro que esse desleixo ocorreu apenas com o texto, eles o imputaro a todo o processo de execuo de sua pesquisa. Um texto sujo, com erros, fora das normas depe con-tra a credibilidade dos cientistas que o submetem. No se justifique intimamente, por ser um(a) pesquisador(a) bem conceituado(a), achando que isso o autoriza a submeter um texto deslei-xado, convencido de que qualquer revista quer ter seu nome entre os autores. A cincia no terra de reis de um s olho... mope! Voc est, de antemo, desrespeitando os seus leitores.

    4 Por que EscreverSe to difcil assim escrever, h tantas regras, tantos cuidados a tomar, por que os cientistas in-

    sistem em faz-lo? Bem, alm de ser a publicao o ltimo e indispensvel passo da pesquisa, como foi apontado, escrever uma questo moral e tica que deve ser atendida pelos pesquisadores. Para alguns, seria mais fcil ficar indefinidamente internados em seus laboratrios, fazendo anlises, ou no campo, coletando dados. Todavia, sozinhas, essas atitudes no so cientficas, pois estancam o progresso da produo e disseminao de conhecimento e apenas satisfazem temporariamente o egosmo de um(a) pesquisador(a). Ele(a) no um cientista e, provavelmente, no conseguir o respeito devido em sua comunidade, assim como, afortunadamente para outros pesquisadores, ele(a) no receber auxlios ou financiamentos para seus futuros projetos infrutferos. Se voc no publicar seus achados, eles simplesmente no existiro! Somente com muita sorte, voc sobrevive-r ao dilema do publique ou perea! s vezes, voc assiste a outros pesquisadores apresentando resultados que voc j conhecia, dizendo que esses achados lhes pertencem: Como ousam? Pois

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    Publicar em Psicologia: um Enfoque para a Revista Cientfica

    eles esto evidentes (evidentes?) em sua pesquisa do sculo passado, que repousa no fundo de uma gaveta de sua mesa, ou em um arquivo perdido em seu computador. Voc provavelmente o nico que os conhece no isolamento de seu laboratrio ou atravs do gozo solitrio que eles lhe propi-ciaram, e voc no conseguiu dividi-los com o mundo cientfico. No ouse lamentar e acusar outros cientistas por apresentarem resultados que voc no divulgou. E tomara que voc no tenha usado recursos pblicos nem deseducado seus assistentes e colaboradores que participaram da execuo da pesquisa e constataram que voc, como coordenador(a) da equipe, no publicou seus achados!

    A Comisso Nacional de tica em Pesquisa do Conselho Nacional de Sade (CNS, 1996), ao implementar as normas e diretrizes regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, pela Resoluo n 196, de 10 de outubro de 1996, postulou no Artigo IX que, na operacionaliza-o da pesquisa, a responsabilidade dos pesquisadores indelegvel, indeclinvel e compreende aspectos ticos e legais. Acrescenta que estes devem seguir os princpios da biotica, autonomia, no maleficncia, beneficncia e justia, entre outros e devem assegurar os direitos e deveres que dizem respeito comunidade cientfica, aos participantes da pesquisa e ao Estado. Postula ainda, no Artigo IX, que, entre vrias outras tarefas relacionadas execuo do projeto e do relatrio, cabe aos pesquisadores desde submeter o projeto ao Comit de tica em Pesquisa (CEP) da insti-tuio ao qual afiliado at encaminhar os resultados para publicao, com os devidos crditos aos pesquisadores associados e ao pessoal tcnico participante do projeto (assim como, sendo o caso, apresentar uma justificativa, perante o CEP, da interrupo do projeto ou da no publicao dos resultados). Portanto, no publicar os seus achados, que uma exigncia de lei, equivale a no cumprir com os preceitos ticos de sua profisso de cientista e pesquisador(a).

    Alm de contar a histria de sua pesquisa comunidade cientfica, a devoluo de resultados estende-se tambm comunidade participante. O Artigo III da Resoluo n 196 (CNS, 1996), so-bre as exigncias para a pesquisa em qualquer rea do conhecimento envolvendo seres humanos, nas quais se inclui a Psicologia, informa que os pesquisadores devero garantir o retorno dos be-nefcios obtidos atravs das pesquisas para as pessoas e as comunidades onde as mesmas forem realizadas. Na rea da Psicologia especificamente, a Resoluo n 016/2000 do Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2000), que dispe sobre a realizao de pesquisa em Psicologia com seres hu-manos, tambm prev a devoluo, no Artigo 15, quando trata da divulgao dos resultados. Voc pode, no entanto, argumentar que o tpico de sua pesquisa no uma demanda preponderante na comunidade onde coletou seus dados. Mas no se esquea de que voc um profissional que tem uma formao ampla e pode atender a outras demandas que a comunidade lhe apresente. Procure identific-las e troque com a comunidade o seu conhecimento sobre algum tema pela par-ticipao dela em sua pesquisa. Se no est ao seu alcance devolver o que demandado, convide um(a) colega(a), explique-lhe a situao. No use os participantes de sua pesquisa troque com eles. Pode ocorrer, tambm, que, ao longo da execuo de seu estudo, no surja a necessidade de fazer essa troca. Ainda assim, voc deve levar seus achados ao conhecimento da comunidade no final do trabalho. Mas, veja bem, no estacione seu carro na frente da instituio na qual coletou os dados e entregue seu relatrio aos porteiros. Entregue-o mesma pessoa que o recebeu no incio do trabalho e a quem voc solicitou a assinatura para o Termo de Concordncia da Instituio. Sua devoluo no termina nessa mera entrega de relatrio: marque uma hora para discutir seu texto, convide todos os envolvidos, sugira que leiam e, ento, visite-os longamente para discutir o que a pesquisa concluiu. Lembre-se de que a interpretao de um texto escrito pode ser muito variada, especialmente quando feita por leigos. Os procedimentos de devoluo, portanto, podem exigir que voc escreva uma sntese estendida de seus procedimentos e resultados, com muito cuidado e clareza, mas diferente de seu relatrio tcnico, pois est direcionado a um outro grupo de leitores.

    No , porm, apenas por fora de lei que os cientistas devem publicar seus achados. a disseminao do trabalho que produz o progresso da cincia. Ningum se esquece da primeira vez que v seu nome escrito, como autor(a) de um artigo, nas pginas de uma revista cientfica

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    Captulo 1 | A Redao Cientfica Apresentada por Editores

    (ou nas telas de um peridico eletrnico)! Este um momento de auge dos pesquisadores. Todo seu esforo e sua dedicao pesquisa esto estampados nas pginas do texto e poder rever-ter dali em referncias, consultas, citaes, reconhecimento. Cada um dos pesquisadores que j passou por isso sabe exatamente qual o sentimento. A sua publicao pode agora gerar novas pesquisas e subsidiar aplicaes. a construo de conhecimento cientfico que conta com a sua participao. Os pesquisadores podem se sentir vaidosos por seus feitos e, mais que isso, podem divulgar seu estudo publicado. Eles podem fazer marketing de seu trabalho. Marketing? Sim, isso no pecado! Se voc no acreditar e no divulgar o seu trabalho, como esperar que algum estranho o faa? Mesmo fazendo a divulgao, bem possvel que o reconhecimento no venha como voc gostaria que viesse, mas algum certamente se beneficiar da leitura de seu texto. Assumir e fazer marketing pessoal so atitudes que s vezes geram crticas, mas que no devem amedrontar os pesquisadores. Na academia, com as condies de trabalho e sobre-vivncia a que os pesquisadores tm sido expostos, iniciar um projeto, executar uma pesquisa e publicar um trabalho so motivos de orgulho, sim. No se mostra uma humildade que, no fundo, esconde uma hipocrisia.

    5 Onde e o Qu PublicarLevando em conta todas as demandas que motivam os pesquisadores a escrever, impor-

    tante ficar atento e escolher bem o veculo ao qual submeter seu estudo. A quem voc quer se dirigir? Quem o seu pblico? Voc quer escrever para seus pares, para sua comunidade ou para seus alunos? O que quer atingir com seu texto: aplicaes na comunidade, outros cientistas, salas de aulas? Escolha, ento, um veculo que alcance as pessoas que lhe interessam, mas antes disso pergunte sobre a qualidade desse veculo, qual a sua capacidade de disseminar os seus achados, se as verses eletrnicas dos artigos vm acompanhadas dos respectivos metadados, quais so as bases de dados que o indexam, se tem penetrao nacional ou internacional etc.

    O veculo selecionado para publicao dos trabalhos deve ser confivel e ter qualidade de forma e contedo. Veja na pgina da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Psi-cologia (ANPEPP, http://www.anpepp.org.br) a lista de revistas avaliadas pela rea e suas clas-sificaes. Uma revista bem classificada tem melhores apresentao (normalizao), gerencia-mento e visibilidade. Aquelas que esto presentes em bases de dados e disponibilizadas em vrias bibliotecas podero divulgar mais amplamente seu trabalho. Atualmente, tal condio igualmente assegurada pela veiculao em formato eletrnico, com metadados e textos inte-grais disponveis na Internet.

    O processo de execuo de uma pesquisa pode gerar muitos textos. Um ensaio terico que revisa e problematiza a literatura em sua rea um exemplo. As revistas no gostam de publicar meras revises, mas um bom ensaio que questiona a literatura e acrescenta a ela tem sempre um lugar assegurado. Um estudo metodolgico outro exemplo de texto a ser publicado, es-pecialmente se seu estudo prope uma nova tcnica, a reviso de alguns procedimentos co-nhecidos ou uma nova ferramenta de investigao etc. Estudos empricos tm espao garantido quando acrescentam novas informaes ao que se sabe acerca do sistema ou do processo que abordam, ou se o enfocam sob uma viso alternativa. Tambm podem ser publicados relatos de experincias, quando descrevem sua trajetria profissional e/ou de pesquisa no contexto da realizao do estudo. H, ainda, os estudos propositivos que se constituem em uma novidade e que mostram passos a seguir a partir dos achados de sua pesquisa (mas claramente justificado, seja do ponto de vista de novos estudos ou de novas intervenes).

    E, ento, publique, mas, antes, no se esquea das recomendaes elementares: passe um revisor de texto; corrija a ortografia e a gramtica; imprima em papel limpo e de tamanho unifor-

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    Publicar em Psicologia: um Enfoque para a Revista Cientfica

    me; cuide para no derramar coca light nele; evite que seu sobrinho adorado rabisque corae-zinhos no verso das folhas. Examine concordncia, estilo, pontuao, palavras repetidas, vcios de linguagem, e assim por diante. Se as normas do veculo informam que a submisso deve ser feita por correio comum, use um envelope que acomode bem o texto, a cpia eletrnica, o re-gistro de contribuio, a carta de encaminhamento, o parecer do CEP de sua instituio, e tudo mais que solicitarem. Se a submisso for via correio eletrnico, siga os passos, certifique-se de que seu arquivo tem tamanho adequado e no lotar a caixa postal da revista, veja se as cores usadas em figuras so as exigidas, verifique os tamanhos e tipos de letra, pgina e espaamento recomendados etc. As citaes e as referncias a material impresso e eletrnico devem estar, tambm, normalizadas. Aproveite o fato de que muitos veculos disponibilizam um checklist em suas instrues aos autores e siga-o risca. O trabalho estar pronto para ser enviado revista quando estiver devidamente padronizado.

    Veja bem, evidente que o contedo cientfico de seu texto fundamental, mas o material a ser recebido pelo(a) editor(a) provocar nele(a) uma primeira e imediata impresso sobre o trabalho (e no s acerca do texto). Esforce-se em tudo para que essa impresso do editor seja boa. Rejeitar um texto, porque o contedo no se adequou ao veculo, sempre uma deciso difcil para o(a) editor(a), mas devolver um texto que foi enviado sem atender s normas da re-vista, que foram preparadas com expectativa de tornar possvel o cumprimento de sua tarefa, no ser assim to penoso. Quando os editores recebem trs ou quatro originais por dia til (setecentos a mil por ano), e s podem publicar oitenta, a sua vida s vivel se eles rejeitarem bem mais da metade deles antes de iniciar o processo de anlise rigorosa de contedo.

    6 A ltima VersoVoc j alcanou (aquilo que voc pensa que ) a ltima verso do texto e se prepara para

    submet-la. Leia e releia mais uma vez. Uma excelente verificao da qualidade do texto pode ser garantida com uma leitura em voz alta. No se preocupe com seus vizinhos ou co-habitantes, eles j sabem quem voc e entendero mais essa novidade no rol de suas manias. Solicite ago-ra a uma pessoa leiga em seu tema que leia sua ltima verso do texto. Bem (2003) sugere que a sua av deve entender o seu artigo cientfico. Contudo, em uma sociedade que no mandou mulheres da idade dela (pelo menos da minha av) universidade, ou muitas vezes, nem es-cola, talvez voc no possa ser to otimista. Mas um colega de outra rea que entende o que cincia poder lhe fazer comentrios bastante construtivos, especialmente com relao s pos-sveis lacunas que o texto apresenta. Solicite, ento, aos experts para fazerem uma ltima leitura crtica de seu texto. Como j foi mencionado, se eles forem realmente seus amigos, faro uma leitura bem detalhada e apontaro todos os pontos que ainda podem ser melhorados. Pea a eles para fazerem o papel do advogado do diabo. sempre melhor ouvir a verdade construtiva de seus amigos, do que a crtica cida dos desconhecidos. Confie neles, no teste a sua amizade. Argumente, claro, acerca do que voc no concordar. Mas no se esquea, seu amigo um(a) expert, foi por isso que voc o(a) escolheu para fazer essa leitura prvia de seu texto. Se h algo ali que no foi entendido por experts, apesar de seus doutoramentos e todas as premiaes, porque ou no est claro, ou objetivo, ou preciso etc. Portanto, no est bem escrito.

    Pesquisar e publicar so aes indissociveis. Uma das tarefas mais difceis na execuo de uma pesquisa escrever. A criao de um texto exige domnio do uso da linguagem e do assunto em discusso. Muitos renomados autores um dia pensaram que jamais seriam capazes de escrever um bom artigo de revista, um captulo, ou mesmo um livro na ntegra. Escrever para uma massa de leitores, sem dvida, tarefa rdua e exige habilidades especiais. Pode ser um dom para poetas e literatos, mas , certamente, uma expresso de competncia e tica para um(a) cientista.

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    Captulo 1 | A Redao Cientfica Apresentada por Editores

    O segredo para escrever um texto cientfico est mais na dedicao do que no talento. So necessrios persistncia e conhecimento de regras simples e padres/normas de apresentao das informaes. Escreva pensando em seus leitores. No possvel atingir todas as audincias com um mesmo artigo, portanto eleja o seu pblico-alvo, antes de se aventurar na empreitada da escrita cientfica. Nos artigos, pense sempre muito mais no que o pblico anseia aprender do que em provar que voc e sua pesquisa so maravilhosos isso todos percebero, se o trabalho for efetivamente bom. Voc prefere que as pessoas lembrem e descrevam voc por produzir resultados relevantes ou por ser aquela criatura arrogante e desagradvel?

    No escreva pela erudio, mas para relatar as experincias singulares de suas pesquisas bem ou malsucedidas. Cuidado com a retrica, ela pode afugentar seus leitores muito antes da metade do texto (e estes nunca mais acessaro seus artigos). Cite outros autores, especialmen-te os que labutam no mesmo pas que voc. Isso deve ser um compromisso. Leitores buscam aprender com os textos que leem. Querem entrar em textos inteligentes para extrarem deles respostas para suas inquietaes tericas e metodolgicas e, quem sabe, mesmo ticas. Auxilie os seus leitores a terminarem seu texto com sua autoeficcia nutrida! Relate sempre a histria de sua pesquisa. Apresente novas ideias sem tentar convencer de que so definitivas e irrefutveis. Permita que haja dilogo com voc. Sua histria uma verdade da cincia contempornea que foi obtida em sua pesquisa.

    Autore seu texto! Isso mesmo, leia-o e sinta que este um texto do qual voc se apropria. Essa no uma sensao facilmente obtida, mas inconfundvel. O trabalho seu, voc foi res-ponsvel pela totalidade da pesquisa, do incio ao final, aproprie-se dele, se ainda no o fez.

    7 O Texto Cientfico: Viso (e Cuidados) dos Editores

    As caractersticas do texto cientfico

    O texto cientfico tem vrias caractersticas que o diferenciam de todos os demais. H uma que nica, embora no seja a mais importante: os cientistas no escrevem com a expectativa de uma remunerao, de uma retribuio financeira direta pelo seu texto. Isso os distingue dos poetas, roman-cistas, cronistas e jornalistas, que vivem, todos eles, dos textos que produzem. Os pesquisadores, no: eles vivem da pesquisa, so remunerados para expandir o conhecimento disposio da humanida-de, visando melhoria da qualidade de vida. A compensao que buscam, quando publicam seus artigos, mais que dinheiro: reconhecimento, citaes, crdito pela sua contribuio cincia.

    Isso nos leva segunda diferenciao, a qual, porm, os jornalistas devem compartilhar com os pesquisadores: nos dois casos, totalmente indispensvel que o fato descrito no texto seja absolutamente verdadeiro. No entanto, mesmo respeitando esse aspecto bsico, jornalistas e pes-quisadores devem escrever de modo muito diferente, e h para isso pelo menos duas razes: a primeira que o texto jornalstico no precisa relatar o fato de modo a permitir sua completa re-constituio por outras pessoas, em outros pontos do universo. J o cientista no s relata a ver-dade, como precisa fornecer todos os elementos para que outros investigadores possam repro-duzir seus procedimentos e corroborar as concluses a que chegaram. A segunda tem a ver com perenidade: os pesquisadores escrevem para a eternidade, o conhecimento cientfico no tem um limite de validade1. Muitas vezes, o impacto de uma nova descoberta, o reconhecimento por uma contribuio da maior relevncia para a cincia, s surge anos, at dcadas, aps sua publi-

    1 Em certo sentido, os cientistas podem se tornar imortais atravs de uma contribuio representativa para a cincia, e isso talvez seja ao que eles, no fundo, aspiram..., mas essa interessante questo psicolgico-psicanaltica, infelizmente, no pode ser discutida neste manual.

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    Publicar em Psicologia: um Enfoque para a Revista Cientfica

    cao inicial. Os jornalistas no tm esse tempo nem a preocupao de que seu texto permanea. Pelo contrrio, eles carecem de imediatismo, de impacto, tm de produzir efeito e consequncias em curtssimo prazo, pois o jornal de hoje j ser candidato a papel reciclado amanh. Assim, eles no retratam o fato de maneira completa, mas se concentram naqueles aspectos capazes de chamar a ateno das pessoas e despertar nelas algum tipo de emoo, da indignao ao enter-necimento bem diferente da objetividade e impessoalidade da redao cientfica.

    Quando que se est pronto para escrever um artigo cientfico?

    Cientistas estaro prontos para escrever um artigo cientfico quando tiverem colecionado, em seu trabalho, um volume adequado de novos fatos relevantes, cujas difuso e utilizao por outras pessoas (sejam investigadores, em outras pesquisas, sejam profissionais, na aplicao pr-tica) impliquem direta ou indiretamente uma melhoria na qualidade de vida da humanidade. Esse um bom enunciado, mas tambm um enunciado subjetivo. O que significa um volu-me adequado de fatos novos e relevantes2? Infelizmente, no h uma resposta absoluta para essa questo. Depende da rea do conhecimento e da revista para a qual se est considerando sub-meter o texto. Em algumas (tanto reas como revistas), publica-se qualquer avano, por menor ou menos significativo que seja ou que possa parecer. Isto , o conhecimento tratado como se todos os pesquisadores fossem morrer amanh (ou at mesmo ainda hoje), e, se houver a veicula-o imediata, tambm no haver tempo para que ele possa surtir qualquer efeito. J, em outras, somente so publicados trabalhos de longa maturao, com muitas informaes, e que o proces-so editorial avalie como representativos de um avano muito expressivo do conhecimento. Estas lidam com a Cincia como se toda a comunidade de investigao fosse viver para sempre, po-dendo esperar o tempo que for pelos resultados da pesquisa. Entre os dois extremos, cada rea encontra o seu ponto de equilbrio e, em torno desse ponto, haver uma faixa de opes coberta pelas diversas revistas, algumas tendendo mais para um dos lados (morrer amanh), outras incli-nadas para o extremo oposto (viver para sempre, ver Trzesniak & Koller, 2004). A posio efetiva de um peridico nessa questo deve estar contemplada em sua poltica editorial.

    Influi, ainda, decisivamente nos aspectos novidade e relevncia da informao o momento pelo qual passa a rea do conhecimento. Aquilo que hoje uma tese de doutorado, dentro de algum tem-po poder no servir nem mesmo como iniciao cientfica. Um exemplo disso so os trabalhos do tipo caracterizao de sistemas, nos quais se busca obter o panorama instantneo de um grupo ou a configurao de um dado ambiente, atravs de questionrio, entrevistas ou observao sistemtica (descries no classificadas). Durante algum tempo, isso avano do conhecimento, mas h o mo-mento em que preciso mudar a abordagem, passando (sucessivamente) a agrupar processos simi-lares (descries classificadas), identificar e refinar as variveis (anlise), acompanhando sua evoluo temporal em estudos longitudinais, estabelecendo modelos (snteses) e formulando teorias abran-gentes (sntese magnas, ver Osada, 1972). Esse um processo lento e gradual (de dcadas em cada fase), e as transies no so explcitas. As comunidades cientficas, no entanto, acabam por perceb-las e aplic-las na avaliao de artigos para publicao, tanto no nvel dos pareceres ad hoc (peer review ou reviso pelos pares) como na deciso final sobre a publicao ou no de um original.

    Bons pesquisadores tm a sensibilidade necessria e conhecem sua rea de atuao sufi-cientemente bem para identificarem o momento de transformar as informaes que j cole-taram em um artigo cientfico. E existe, ainda, outro lado: o prprio conhecimento acumulado

    2 A esse respeito, conta-se entre os editores, que um referee, muito delicado, no querendo magoar o autor, emitiu o seguinte parecer: o artigo interessante, contendo informaes novas e informaes relevantes. Mesmo assim, minha opinio contrria publicao, j que as informaes relevantes no so novas. E as novas, no so relevantes....

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    Captulo 1 | A Redao Cientfica Apresentada por Editores

    pelos investigadores em seu trabalho exige, impe, o querer ser publicado. Pode-se usar, aqui, a imagem de uma gestao: h uma gravidez de conhecimentos acumulados que chegam a um grau de maturidade tal que tem de ser postos luz... queiram os pesquisadores ou no...

    8 A Trajetria de um Artigo: da Preparao Publicao

    Preparao

    Ento, voc, pesquisador(a), trabalhou, trabalhou, e sente que hora de escrever seu artigo. Ou o prprio conhecimento o est pressionando a faz-lo. Em algum momento, que pode ser anterior ou posterior escrita, voc ter de decidir para qual revista seu texto mais apropriado, e a resposta ser encontrada pela consulta poltica editorial dos peridicos. Ateno, no confunda poltica edi-torial com as instrues aos autores. A primeira descreve a personalidade da revista: seus objetivos, sua vocao (ou apenas) acadmica ou aplicada, seu perfil entre os extremos viver para sempre ou morrer amanh, o papel que pretende desempenhar dentro do panorama cientfico, as reas ou sub reas de interesse que abrange, o tipo de pblico-alvo e a filosofia, a ambio e os sonhos de seus editores e das entidades que lhe do respaldo cientfico e institucional. A poltica editorial norteia o trabalho de todos os envolvidos na anlise de seu compuscrito: editores, analistas do corpo cientfico, consultores ad hoc, revisores de texto, pessoal de secretaria e de apoio. extremamente improvvel que uma revista publique um artigo que no esteja de acordo com a sua poltica editorial.

    J instrues aos autores so mais fceis de obedecer: trata-se simplesmente dos aspectos formais que o peridico segue, os quais podem provir de diversas fontes: entidades de nor-malizao (como a International Organization of Standardization ou a Associao Brasileira de Normas Tcnicas, ou a American Psychological Association), rgos legais ou de regulamentao (por exemplo, os Conselhos Federais/Nacionais no que tange s questes ticas), peculiarida-des da rea do conhecimento e, finalmente, convices dos prprios editores. Todas devem ser escrupulosamente obedecidas. Bons peridicos fazem do atendimento s normas um requisito prvio entrada de um original no processo editorial: compuscritos em desacordo com as nor-mas no so cadastrados como recebidos, mas devolvidos sumariamente aos seus autores. A poltica editorial e as instrues aos autores, que podem ser um documento nico ou dois in-dependentes, devem ser publicadas pelo menos no primeiro fascculo de cada volume de uma revista impressa, fato que deve ser anunciado em todos os demais fascculos. Caso o peridico tenha um site, poltica e instrues devem estar nele, e a revista, impressa ou eletrnica, deve mencionar e apontar essa disponibilidade de modo bastante explcito.

    Processo editorial

    Superada a barreira normativa, seu compuscrito ser analisado pelos editores (geral ou ad-juntos), que avaliaro a conformidade com a poltica editorial e, se estiverem de acordo, ser dado como recebido nessa data e ingressar no processo editorial propriamente dito. A essncia deste a reviso pelos pares: o original vai para pelo menos dois pesquisadores especialistas do tema abordado, que faro uma anlise, emitiro uma apreciao geral em forma de texto e faro uma recomendao revista, que em geral ser de publicar com as alteraes sugeridas, ou re-formular e apresentar para nova avaliao, ou no publicar. O corpo editorial pode acatar ou no essa recomendao. Geralmente o far, caso receba dois pareceres convergentes. No sendo o caso, ou ele mesmo efetuar uma anlise e decidir o destino da contribuio, ou o far aps so-licitar uma terceira opinio. O trabalho ento devolvido para os autores, a fim de que tomem as

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    Publicar em Psicologia: um Enfoque para a Revista Cientfica

    providncias solicitadas, acatando as sugestes recebidas ou refutando-as fundamentalmente. E o processo segue, at uma deciso final.

    O que solicitado aos revisores ad hoc?

    H duas abordagens para essa questo. Pode-se encar-la inicialmente de modo geral, in-dependente de uma rea especfica do conhecimento. Nesse contexto, reproduzimos a parte final de um recente editorial do Interamerican Journal of Psychology (Trzesniak & Koller, 2005), que se encontra sob nossa responsabilidade desde 2003. Pede-se l que sejam levadas em con-siderao (na autoria e tambm nos pareceres) algumas questes decisivas de adequao do texto ao perfil da revista, visando antes de tudo ao interesse dos leitores.

    Qual o principal pblico do artigo?

    Algumas opes so: pesquisadores, professores universitrios, estudantes de ps-gradua-o ou de graduao, profissionais em servio, especialistas de outras reas e pblico em geral.

    Qual(is) a(s) caracterstica(s) inovadora(s) do artigo?

    Algumas opes so: aborda um problema indito, aborda de forma indita um problema conhecido, apresenta um aspecto terico de modo a possibilitar/facilitar o seu emprego na prti-ca profissional, d a uma teoria ou aplicao tratamento superior ao habitualmente empregado.

    O que os leitores tero ampliado aps o estudo do artigo?

    Algumas opes so: o seu nvel de informao dentro da rea, a sua formao como espe-cialistas da rea, a sua formao como pesquisadores em geral, a sua capacidade didtica, o seu elenco de alternativas de ao diante do problema prtico abordado.

    Que outras pesquisas podero beneficiar-se do contedo do artigo?

    Em outras palavras, avalie concretamente o potencial com que o artigo possa vir a ser cita-do como referncia em pesquisas futuras.

    A segunda viso do que se solicita aos consultores surge quando se leva em conta a rea do conhecimento a que se dedica o peridico. A ilustrao que usaremos aqui a pr-pria Ficha de Avaliao que elaboramos para o Interamerican Journal of Psychology, a qual no difere essencialmente de suas similares empregadas por outras revistas. Gostaramos, no entanto, de destacar especialmente o ltimo dos itens selecionveis, o qual insistimos que todo peridico brasileiro ou latino-americano deveria incluir. Nele, pergunta-se explici-tamente ao parecerista se ele tem conhecimento (e pede-se que relacione na folha seguinte, em caso positivo) de outros trabalhos de autoria de pesquisadores de idioma latino que sejam pertinentes ao tema e no estejam sendo citados. Infelizmente, identifica-se uma ten-dncia entre os autores de citar preferencialmente artigos de estrangeiros publicados em revistas do hemisfrio norte, omitindo aqueles originrios dos pases latino-americanos e do Caribe, mesmo quando relevantes. Isso altamente prejudicial cincia desses pases, que investem pesadamente em pesquisa, mas no obtm o crdito correspondente em termos de impacto. E o mais grave que, na verdade, em muitos casos os artigos so consultados, apenas a citao no feita, por razes que ningum sabe explicar. Talvez seja apenas um mau hbito, que todos precisam ajudar a mudar.

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    Captulo 1 | A Redao Cientfica Apresentada por Editores

    FORMuLRIO DE AVALIAO Seu trabalho beneficiar no apenas os(as) autores(as) e a revista, porm todo o campo da

    Psicologia. Por favor, assinale Sim ou No para cada um dos critrios indicados. Justifique breve-mente sua resposta na coluna Comentrios e inclua Comentrios Adicionais na prxima pgina.

    CRITRIOS COMEnTRIOS

    [ ] Sim[ ] No

    O manuscrito segue as normas de apresentao da American Psychological Association

    [ ] Sim[ ] No O problema investigado est estabelecido com clareza

    [ ] Sim[ ] No O problema investigado significativo e importante para a rea

    [ ] Sim[ ] No

    O problema investigado mostra relevncia Interamericana (no de interesse demasiado local)

    [ ] Sim[ ] No

    A literatura cientfica pertinente est discutida de modo completo e adequado

    [ ] Sim[ ] No A retaguarda terica est estabelecida com clareza

    [ ] Sim[ ] No O mtodo de investigao adequado

    [ ] Sim[ ] No O mtodo foi bem desenvolvido (incluindo a anlise dos dados)

    [ ] Sim[ ] No A apresentao dos dados est adequada

    [ ] Sim[ ] No

    As tabelas e figuras esto apresentadas com clareza e so discutidas no texto

    [ ] Sim[ ] No A qualidade dos dados est adequada

    [ ] Sim[ ] No

    A discusso e as concluses esto respaldadas pelos resultados e pelos dados

    [ ] Sim[ ] No O texto claro, coerente e bem organizado

    [ ] Sim[ ] No

    H outros estudos interamericanos mencionados nos Comentrios Adicionais (prxima pgina) que so relevantes ao tema e podem ser citados no manuscrito

    AVALIAO GERAL: selecione, por favor (clique), o nmero que melhor representa sua avaliao geral.InACEITVEL 1 [ ] 2 [ ] 3 [ ] 4 [ ] 5 [ ] 6 [ ] 7 [ ] 8 [ ] 9 [ ] 10 [ ]ExCELEnTE

    SELECIOnE, POR FAVOR (CLIQuE), A SuA RECOMEnDAO PARA O MAnuSCRITO:[ ] Aceit-lo como est ou com pequenas correes (especificadas na prxima pgina)[ ] Recomend-lo com as alteraes especificadas na pgina COMEnTRIOS ADICIOnAIS PARA

    OS(AS) AuTORES(AS)[ ] No aprov-lo, mas solicitar que seja reapresentado. Tem potencial para publicao, mas

    necessita de uma reviso significativa (reescrever, reanalisar os dados etc.)[ ] No aprov-lo

    As recomendaes para os(as) autores(as) devem ser especficas e construtivas ao mximo.

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    Publicar em Psicologia: um Enfoque para a Revista Cientfica

    Para emitir e como receber um parecer

    importantssimo que, todo o tempo, editores, autores e revisores mantenham o foco no objetivo primeiro e nico da publicao dos resultados da pesquisa: preciso fazer o conheci-mento cientfico chegar aos leitores com o mximo de qualidade e pertinncia. Um peridico cientfico deve ser o resultado de uma cumplicidade cordial desses trs atores, rumo excelncia do contedo. O restante desta seo, uma adaptao do Anexo de Trzesniak (2004), intitulado Analista e analisado, aborda algumas caractersticas dessa sempre delicada interao.

    PALAVRA FInAL SOBRE O PROCESSO EDITORIAL: QuEM SO OS RESPOnSVEIS PELOS ERROS?

    Analista e Analisado(a) (um cdigo de postura)Autor(a), aceite sem discutir o seguinte princpio fundamental: um texto pode sempre ser me-

    lhorado. obrigao [devida a(o) leitor(a), o principal cliente da revista cientfica] do(a) editor(a) e dos(as) revisores(as) apontar ressalvas, aspectos pouco claros, contedos colocados inade-quadamente nos artigos que lhes compete analisar. O problema que quase nunca o(a) autor(a) gosta de comentrios desse tipo para ele(a), o que ele(a) mesmo(a) escreveu est sempre claro e perfeito. S que isso quase nunca verdade:

    Analista, lembre-se de que tarefa de anlise, por sua vez, para merecer confiana e cre-dibilidade, tem de ser desempenhada com cuidado e ateno. O resultado, necessariamente construtivo e pedaggico, deve ser comunicado a(o) autor(a) com firmeza e seriedade, mas com delicadeza.

    Vale a pena investir algumas linhas nas peculiaridades da relao analisado(a)-analista, como meio de prevenir eventuais mal-entendidos. Ento:

    o(a) analista deve trabalhar com o seguinte esprito: o que, de mim, pode ajudar o(a) autor a publicar um artigo melhor? O(a) analista [editor(a) ou revisor(a)] um cmplice do(a) autor(a): cabe-lhe detectar eventuais aspectos menos bem colocados antes que o conhecimento se torne pblico, o que, no fim, se refletiria em prejuzo para o(a) prprio(a) autor(a);

    o(a) autor(a) deve partir do princpio de que o(a) analista seu(ua) cmplice e de que traba-lhou dentro do esprito acima. Deve ter em mente, tambm, que (como j foi dito) autores(as) sempre pensam que o seu texto est perfeito, mas que isso quase nunca verdade, de modo que lhes fica at difcil, s vezes, entender porque o(a) analista assinalou ou comentou uma determinada passagem ou construo. A recomendao, ento, de que nunca descartem levianamente uma anotao do(a) analista: ele(a) pode at no ter apanhado bem o esprito da coisa naquele ponto, mas sentiu algo estranho ali. Uma reviso certamente necessria.

    Outro ponto: o(a) autor(a) no se deve sentir atingido(a) pessoalmente pelos comentrios. O(a) analista j est dedicando tempo e esforo para ajud-lo(a), aquilo que escreve/diz e a ma-neira de faz-lo nem sempre passam por um filtro de delicadeza. Claro, ser gentil um ingre-diente importante, mas sempre pode escapar algum comentrio que parea um tanto custico ou agressivo. Com certeza, no . Anos de atuao como editores, como rbitros e como autores permitiram apreender (com ee) o suficiente da Psicologia do(a) analista e do(a) analisado(a) para poder garantir absolutamente que no h espao para mgoas ou rancores. Tudo deve ser visto e sentido com profissionalismo, iseno e objetividade [est-se discutindo o objeto artigo, e no o sujeito autor(a)].

    Sim, incrvel, mas erros ocorrem! Apesar de toda a dedicao, ateno e todo o cuidado, o processo editorial ainda deixa erros nos artigos publicados, que vo desde grafia e concordn-

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    Captulo 1 | A Redao Cientfica Apresentada por Editores

    cia, passam pela normalizao e chegam at o prprio contedo cientfico. Vamos nos manter apenas nos erros involuntrios, descartando os que resultem de aes de m-f, como procedi-mentos no ticos ou fraudes deliberadas.

    Tecnicamente, o grande responsvel por todas as imperfeies de uma revista cientfica o(a) seu(ua) editor(a), mas no abrimos esta seo para apontar culpados(as). Nosso prop-sito, sim, contribuir para que os erros se reduzam e, eventualmente, deixem de existir. Claro que isso no se consegue caando bruxos(as), porm sugerindo procedimentos, posturas e atitudes. Pois, ento, afirmamos: seja qual for o envolvimento da pessoa com um original, seja ela autor(a), editor(a) responsvel, revisor(a), diagramador(a), impressor(a), secretrio(a) ou te-lefonista, ao perceber um erro, deve chamar a ateno do responsvel para corrigi-lo. Pois todos so responsveis pela qualidade do produto final, pela forma e pelo contedo da cincia que entregue aos leitores. Quando o(a) editor(a) consegue transmitir esse esprito sua equipe de trabalho, no ser preciso procurar responsveis por erros, porque estes, simplesmente, deixa-ro de existir.

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    Publicar em Psicologia: um Enfoque para a Revista Cientfica

    Referncias

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    Bem, D. J. (2003). Writing the empirical journal article. In J. M. Darley, M. P. Zanna, & H. L. Roediger III (Eds.), The compleat academic. Washington, DC: American Psychological Association. Recuperado em 02 de maro de 2006, de http://dbem.ws/online_pubs.html

    Conselho Federal de Psicologia. (2000). Resoluo n 016. Recuperado em 02 de maro de 2006, de www.pol.org.br/legislacao/resolucoes.cfm?in_startrow=11&ano=2000

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    Granja, E. C. (1998). Diretrizes para a elaborao de dissertaes e teses. So Paulo: Servio de Biblioteca e Do-cumentao do Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo.

    Osada, J. (1972). Evoluo das ideias da fsica. So Paulo: Edgard Blcher.

    Secaf, V. (2004). Artigo cientfico: do desafio conquista (3a ed.). So Paulo: Green Forest do Brasil.

    Sternberg, R. J. (2003). The psychologists companion (4th ed). Cambridge, MA: Cambridge University Press.

    Trzesniak, P. (2004). Qualidade e produtividade nos programas de ps-graduao: a disciplina seminrios de dissertao. Revista Brasileira de Ps-graduao, 1, 111-125. Disponvel em http://www.capes.gov.br/rbpg/portal/conteudo/111_125 _qualidade_e_ produtividade_nos_programas.pdf

    Trzesniak, P., & Koller, S. H. (2004). Vivir para siempre pero maana morir: la paradoja de la literatura cientfica [To live forever and tomorrow to die: A paradox of the scientific literature]. Interamerican Journal of Psychol-ogy, 38, 147-149. Disponvel em http://www.psicorip.org/

    Trzesniak, P., & Koller, S. H. (2005). A difuso do conhecimento: editores e a comunidade cientfica [Diffusion of knowledge: Editors and the scientific community]. Interamerican Journal of Psychology, 3, 1-4. Disponvel em http://www.psicorip.org/

  • Publicar em Psicologia: um Enfoque para a Revista Cientfica

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    Captulo 2

    Preparando um Peridico CientficoAparecida Anglica Zoqui Paulovic SabadiniMaria Imaculada Cardoso SampaioMaria Marta Nascimento

    Neste captulo apresentamos aos profissionais da rea de Psicologia e cincias afins orien-taes quanto elaborao e padronizao do peridico cientfico. Arrolamos os diversos ele-mentos que o compem e observamos a diferenciao entre o peridico cientfico, a revista de divulgao e os chamados boletins de sociedades e associaes cientficas.

    Os aspectos aqui abordados foram baseados na norma Informao e Documentao Publi-cao Peridica Cientfica Impressa Apresentao NBR 6021, publicada pela Asso ciao Brasi-leira de Normas Tcnicas (ABNT, 2003a)1. Essa norma tem por finalidade especificar os requisitos para apresentao dos elementos que compem a estrutura fsica de uma publicao peridica, orientando o processo de produo editorial e grfica. Salientamos que a norma citada basea-da em padres aceitos internacionalmente na confeco de peridicos cientficos.

    Seguindo a tendncia observada nas publicaes da rea, tanto no Brasil como em outros pases da Amrica Latina, buscamos, tambm, orientaes nos Manuais de Publicao da Ame-rican Psychological Association (APA, 2001a, 2001b)2, nas revistas editadas por esta instituio e nos peridicos nacionais da rea de Psicologia que seguem as orientaes do manual de estilo da APA para fundamentar e consolidar as orientaes aqui apresentadas.

    Ressaltamos que os diversos aspectos que envolvem uma revista cientfica abordados neste captulo so vlidos tanto para publicaes impressas como para as eletrnicas.

    1 rgo responsvel pela normalizao tcnica no Brasil. A relao das normas e as orientaes para aquisio podem ser encontradas no site: www.abnt.org.br

    2 Informaes sobre o manual editado pela American Psychological Association (APA) podem ser encontradas tambm no site: www.apa.org

  • Captulo 2 | Preparando um Peridico Cientfico

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    1 Peridico Cientfico

    O peridico cientfico ou revista cientfica um tipo de publicao seriada que se apresenta sob a forma de revista, boletim etc., editada em fascculos com designao numrica e/ou crono-lgica, em intervalos prefixados (periodicidade), por tempo indeterminado, com colaborao, em geral, de diversas pessoas, tratando de assuntos diversos, dentro de uma poltica editorial definida, e que objeto de Nmero Internacional Normalizado (ISSN) (ABNT, 2003a, p. 3).

    Fachin e Hillesheim (2006) apresentam um levantamento histrico de conceitos de peri-dico, publicao peridica e publicao seriada encontrados na literatura (p. 20), partindo do ano de 1962, com as Normas de Catalogao de Impressos da Biblioteca Apostlica Vaticana at chegar definio da ABNT, concluindo que

    os peridicos cientficos so todos ou quaisquer tipos de publicaes editadas em nmeros ou fasccu-los independentes, no importando a sua forma de edio, ou seja, seu suporte fsico (papel, CD-ROM, bits, eletrnico, on-line), mas que tenham um encadernamento sequencial e cronolgico, sendo edita-das, preferencialmente, em intervalos regulares, por tempo indeterminado, atendendo s normaliza-es bsicas de controle bibliogrfico. (p. 28)

    De acordo com Griebler e Mattos (2007), as duas primeiras revistas cientficas publicadas no mundo foram o Journal ds Savans, editada pelo francs Denis de Sallo em 1665 que tinha por objetivo informar sobre livros editados na Frana e divulgar experincias cientficas. No mesmo ano, a Royal Society de London editou o Philosophical Transactions, que se propunha a divulgar correspondncias trocadas entre os membros da sociedade e seus colegas europeus (p. 74).

    Especificamente na rea da Psicologia, os dois peridicos mais antigos foram publicados na Frana e nos Estados Unidos. O American Journal of Psychology (AJP) teve seu primeiro fascculo publicado em 1887, pela Johns Hopinks University e foi fundado por G. Stanley Hall. Henry Beaunis e Alfred Binet foram os primeiros editores da revista LAnne Psychologique (AP), editada pelo La-boratoire de Psychologie Psysiologique de la Sorbonne, no ano de 1894. As duas revistas cientficas so editadas at hoje, sendo que o AJP incluiu a verso online no ano de 2006, com acesso restri-to, e a AP disponilizou, gratuitamente, os fascculos publicados de 1894 a 2005 (Sampaio, 2008).

    As duas revistas mais antigas no Brasil especializadas em Psicologia foram publicadas em So Paulo e no Rio de Janeiro. Em So Paulo, o Boletim de Psicologia, publicado desde 1949, teve como presidente Annita Castilho e Marcondes Cabral e editada at hoje sob a responsabili-dade da Sociedade de Psicologia de So Paulo. O peridico Arquivos Brasileiros de Psicologia foi editado no Rio de Janeiro em 1949, sendo o Instituto de Seleo e Orientao Profissional (ISOP) da Faculdade Getlio Vargas o primeiro responsvel. Inicialmente denominado Arquivos Brasi-leiros de Psicotcnica (1949-1968), passou a chamar-se Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada (1969-1978), sendo consolidado como Arquivos Brasileiros de Psicologia, em 1980. A revista ficou interrompida de 2002 at o ano de 2006, quando voltou a ser publicada exclusivamente em verso eletrnica (Sampaio, 2008).

    Acompanhando a evoluo das revistas cientficas publicadas no mundo, Wieers (1994) prognosticou que chegaria a 1 milho o nmero de ttulos publicados no ano 2000. Seu prog-nstico foi confirmado, sendo que depois nenhum autor se aventurou a fazer uma nova estima-tiva do crescimento do nmero de revistas publicadas. Dru Magge (2000, citado por Oliveira, 2006), em seu trabalho intitulado Seven Years of Tracking Electronic Publishing: The ARL Direc-tory of Scholarly Electronic Journals and Academic Discussion Lists faz um estudo comparativo do crescimento do nmero de peridicos eletrnicos registrados no diretrio da American Re-search Library entre a primeira edio de 1991 e a stima edio de 1997, no qual foi registrado

  • Publicar em Psicologia: um Enfoque para a Revista Cientfica

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    um crescimento de 110 para 3400 ttulos de peridicos e newsletters apenas em formato eletr-nico. Tenopir, Hitchcock e Pillow (2003, citados por Oliveira, 2006), com base na edio online de 2002 do Ulrichs International Periodicals Directory, afirmam existir aproximadamente 15 mil peridicos cientficos correntes, dos quais 12 mil esto disponveis online. Desses, a maioria so rplicas de publicaes impressas tradicionais.

    fato que o peridico cientfico o principal canal formal de disseminao da cincia, seja ele impresso ou eletrnico, e firma-se como o grande responsvel pela consolidao das reas e subreas do conhecimento. A publicao assegura a autoria e legitima os direitos dos produ-tores, alm de registrar a memria da Cincia (Secaf, 2004). Como afirmam Sampaio, Sabadini e Linguanotto (2002), a revista cientfica, ao divulgar resultados de pesquisas, assegura ao pes-quisador o direito sobre suas ideias e experincias cientficas e seu compromisso ser sempre com a cincia (p. 188).

    Conforme Miranda e Pereira (1996), o peridico cientfico transformou-se, de um ve culo cuja finalidade era publicar notcias cientficas, em um veculo de divulgao do conhecimento que se origina das atividades de pesquisa (p. 375). Esse processo foi gradual e as mudanas nas caractersticas dos peridicos so contnuas. A essncia de registrar e divulgar o conhecimento cientfico o grande pilar desse tipo de publicao, porm, o que temos hoje, em se tratando de peridicos cientficos, so publicaes que buscam especializao e padronizao na forma de apresentao.

    Nos ltimos anos, a Psicologia brasileira pde acompanhar a rpida transformao dos pe-ridicos que, a partir dos esforos dos publicadores e das orientaes das Comisses de Avalia-o de Peridicos da rea da Psicologia da CAPES/ANPEPP (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior/Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Psicologia), se profissionalizaram e adquiriram as caractersticas das revistas cientficas tal qual o exigido atualmente. Assim como na Psicologia, as revistas cientficas das outras reas do conhecimento vo se aprimorando e buscando a aproximao com o padro das publicaes reconhecidas internacionalmente.

    1.1 Caractersticas do Peridico Cientfico

    Os peridicos cientficos ou revistas cientficas apresentam caractersticas extrnsecas e in-trnsecas. Segundo Valrio (2005), caractersticas extrnsecas so: as prticas editoriais explici-tadas, critrios e procedimentos para seleo e avaliao de artigos, poltica editorial explcita, instrues aos autores, normalizao, durao do peridico (tradio, continuidade), regulari-dade de publicao, indexao em bases de dados nacional e internacional, tiragem e apresen-tao grfica. As caractersticas intrnsecas so corpo editorial, sistema de avaliao por pares e integrao do autor com o leitor. De acordo com a autora, essas caractersticas constituem indicadores para avaliaes de peridicos.

    Segundo Ferreira e Krzyzanowski (2003), o mrito de um peridico cientfico determinado pela qualidade de seu contedo, levando-se em considerao a qualidade de seus artigos, do corpo editorial e dos consultores. Aspectos como indexao em bases de dados, critrios de arbitragem dos textos, natureza do rgo publicador e abrangncia quanto origem dos traba-lhos tambm so destacados pelas autoras.

    Informaes sobre o corpo editorial do peridico cientfico e aspectos referentes indexao em bases de dados e fator de impacto so apresentados em captulos especficos neste livro.

    Outro ponto a ser ressaltado a questo da natureza do peridico, pois, como cada revista tem a sua essncia, encontramos revistas que publicam somente relatos de pesquisa, outras que publicam somente artigos de reflexo e ensaios e assim por diante.

  • Captulo 2 | Preparando um Peridico Cientfico

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    1.1.1 normalizao

    Como explicam Fachin e Hillesheim (2006) os padres e normas so necessrios para a evoluo de tcnicas, ferramentas, equipamentos e tantos outros recursos vivncia dos seres humanos, sendo, da mesma forma, largamente utilizados na rea da organizao da informa-o (p. 77).

    Antes de iniciarmos a discusso sobre a normalizao das revistas, importante desfazer uma confuso comum de etimologia: normatizao e normalizao. Normatizao o