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TÍTULO DO ARTIGO: Avaliação da Qualidade da Atenção Básica em Saúde Bucal nos Municípios Catarinenses Quality Assessment of Primary Oral Health in the municipalities of Santa Catarina TÍTULO RESUMIDO Qualidade da Atenção Básica em Saúde Bucal AUTORES: CLAUDIA FLEMMING COLUSSI Universidade Federal de Santa Catarina MARIA CRISTINA MARINO CALVO Universidade Federal de Santa Catarina JOSIMARI TELINO DE LACERDA Universidade Federal de Santa Catarina

Qualidade da Atenção Básica em Saúde Bucal · As ações que compõem a ... atenção básica são o Sistema de Informação da Atenção Básica ... Para o Provimento, foram

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TÍTULO DO ARTIGO:

Avaliação da Qualidade da Atenção Básica em Saúde Bucal nos

Municípios Catarinenses

Quality Assessment of Primary Oral Health in the municipalities of

Santa Catarina

TÍTULO RESUMIDO

Qualidade da Atenção Básica em Saúde Bucal

AUTORES:

CLAUDIA FLEMMING COLUSSI

Universidade Federal de Santa Catarina

MARIA CRISTINA MARINO CALVO

Universidade Federal de Santa Catarina

JOSIMARI TELINO DE LACERDA

Universidade Federal de Santa Catarina

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Resumo

Utilizando-se a avaliação como um instrumento de gestão e como um meio de promover a

melhoria contínua da atenção, foi desenvolvido um modelo para avaliar a qualidade da

atenção odontológica na atenção básica. O objetivo deste estudo foi aplicar esse modelo de

avaliação nos municípios catarinenses. Foram investigados alguns fatores que podem estar

associados ao desempenho apresentado pelos municípios. Para avaliar a qualidade da atenção

odontológica na atenção básica municipal foram utilizados os critérios de desempenho: valor,

mérito, eficiência, eficácia, efetividade e relevância, num total de 40 indicadores. A soma dos

escores dos indicadores resultou um valor final ao município, que foi considerado

insatisfatório, regular ou satisfatório. Participaram da avaliação 207 municípios (70,6%). De

um escore total de 40 pontos, os municípios atingiram uma média de 20,17 pontos. As

variáveis “gasto em saúde bucal”, “horas do cirurgião-dentista por habitante” e “IDH-M”

associaram-se significativamente com o desfecho “desempenho municipal” no modelo de

regressão logística. O produto desse trabalho pode contribuir para a melhoria da qualidade da

atenção odontológica, na medida em que gera informações que possibilitam a identificação

dos pontos nos quais os gestores municipais devem aperfeiçoar suas ações, assim como a

identificação do seu desempenho relativo em comparação a municípios de mesmo porte.

Palavras-chave: Avaliação de desempenho, Avaliação de serviços de saúde, Atenção Básica

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Introdução e Justificativa

A atenção em saúde bucal engloba um conjunto de ações de alcance individual e

coletivo com o objetivo de manter a saúde bucal. Tais ações transcendem o âmbito da

odontologia e do próprio setor saúde, abrangendo ações multissetoriais desenvolvidas no

conjunto da sociedade1, como abastecimento público da água e controle de alimentos e

medicamentos.

Em 2004, a publicação das diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal2 sugeriu

mudanças na reorganização da atenção em saúde bucal em todos os níveis de atenção. De

acordo com esse documento, cabe à atenção básica detectar as necessidades, providenciar os

encaminhamentos requeridos em cada caso, monitorar a evolução da reabilitação, bem como

acompanhar e manter a reabilitação no período pós-tratamento. As ações que compõem a

atenção básica subdividem-se em ações de promoção e proteção de saúde, que podem ser

realizadas a nível individual ou coletivo, e ações de recuperação, que estão vinculadas ao

atendimento clínico individual, constituindo-se no diagnóstico e tratamento de doenças.

A Estratégia Saúde da Família constitui-se na base da organização da Atenção Básica

em Santa Catarina, sendo que a inclusão da odontologia na equipe de saúde da família

iniciou-se somente em 2001, e desde então vem se ampliando em todo o estado.

Em âmbito nacional, os principais instrumentos de acompanhamento e avaliação da

atenção básica são o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) e o Pacto de

Indicadores da Atenção Básica.

Para a saúde bucal, até então, eram pactuados os indicadores “média anual da ação

coletiva escovação supervisionada” e “cobertura de primeira consulta odontológica

programática”. A Portaria no 2.669 de 3 de novembro de 2009

3, que estabeleceu os

indicadores de monitoramento e avaliação do Pacto para o biênio 2010-2011, não incluiu os

indicadores de saúde bucal. Somente em 2010, com a publicação da Portaria no 3.840 de 7 de

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dezembro de 20104, a saúde bucal foi novamente incluída no monitoramento e avaliação do

Pacto pela Saúde, com os indicadores “Cobertura Populacional estimada das Equipes de

Saúde Bucal da Estratégia Saúde da Família” e “Média da ação coletiva de escovação dental

supervisionada”. Em Santa Catarina, o monitoramento e a avaliação das ações básicas em

saúde bucal vêm sendo realizados a partir da análise desses indicadores.

No Plano Estadual de Saúde 2007-20105 foram identificados como problemas

prioritários em saúde bucal: a precariedade nas informações epidemiológicas e nos

indicadores de avaliação da atenção; o descumprimento das leis federal e estadual sobre a

obrigatoriedade de fluoretação das águas de abastecimento público; a baixa cobertura dos

procedimentos coletivos odontológicos e o déficit na oferta da Atenção Básica e nas ações

especializadas, principalmente em algumas macrorregiões. Nesse mesmo documento, dentre

as ações de saúde bucal previstas para o período 2007-2010, encontra-se a proposição de

“avaliar os padrões de qualidade e o impacto das ações de saúde bucal desenvolvidas”.

Nesse contexto, utilizando a avaliação como um instrumento de gestão e como um

meio de promover a melhoria contínua da atenção, foi desenvolvido um modelo para avaliar a

qualidade da atenção odontológica ofertada na atenção básica.

Objetivos

O objetivo desse estudo foi aplicar esse modelo de avaliação da qualidade da atenção

básica em saúde bucal nos municípios catarinenses, contribuindo para a melhoria da

qualidade da atenção odontológica, gerando informações que podem auxiliar nos processos de

tomada de decisão, planejamento, distribuição de recursos e priorização das ações em saúde

bucal. Além disso, foram investigados alguns fatores que podem estar associados ao

desempenho apresentado pelos municípios.

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Referencial Teórico

Em 2004, o Estado de Santa Catarina elaborou seu Plano para o Fortalecimento das

Ações de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica e contratou a Universidade Federal

de Santa Catarina para assessorá-lo na sua implementação. Dentre as várias atividades

desenvolvidas a partir dessa cooperação técnica, destaca-se a elaboração de um modelo de

avaliação da atenção básica para o estado.

A proposta de avaliação da qualidade da atenção odontológica desenvolvida e aplicada

nesse trabalho fundamenta-se nesse modelo, cuja descrição teórica e metodológica pode ser

visualizada on-line na página do Núcleo de Extensão e Pesquisa em Avaliação em Saúde

(NEPAS, 2009). Seu objetivo principal é subsidiar os gestores municipais e estaduais na

tomada de decisões que assegurem o adequado provimento da atenção à saúde nos municípios

catarinenses, com os pressupostos que seguem:

A atenção básica se concretiza de forma integral e global e, por isso, ela deve ser avaliada

em sua plenitude, e não fragmentada em programas e ações de saúde.

A atenção básica à saúde é prioridade constitucional e de responsabilidade primária dos

municípios, e por isso, ele deve ser o elemento de análise no processo de sua avaliação.

A finalidade da atenção básica é a mesma em todos os municípios, mas a priorização local

das ações pode ser diferente de município para município, pois neles são diferentes as

prioridades políticas e as necessidades da população.

Inexiste um padrão único de desempenho municipal no provimento da atenção básica,

uma vez que um município pode dar prioridade a determinados aspectos enquanto que

outros municípios podem dar a aspectos diferentes.

A qualidade da gestão municipal da atenção à saúde pode ser medida pela habilidade dos

gestores municipais em tomar medidas que reduzam o risco de doenças e de outros

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agravos e que tornam universal e igualitário o acesso de cada munícipe às ações e serviços

necessários para a promoção, proteção e recuperação da sua saúde.

A construção do referido modelo teórico orientou-se a partir do princípio de que a

gestão do sistema municipal de saúde pode ter como foco principal na tomada de decisão os

seguintes aspectos:

a capacitação do sistema municipal de saúde para promover os serviços de atenção básica

demandados pelos munícipes, considerando a responsabilidade constitucional de

assegurar o acesso universal e igualitário à assistência à saúde;

a qualidade dos serviços de atenção básica recebidos pelos munícipes, relacionada à

redução do risco a doenças e outros agravos.

Estes dois aspectos, portanto, compõem os pressupostos teóricos do modelo: o Acesso

universal e igualitário e a Redução do risco de doenças e de outros agravos. Eles

contemplam os princípios e diretrizes do SUS, ressaltando a responsabilidade do município

em formular e executar políticas sociais e econômicas que visem à redução de riscos de

doenças e de outros agravos, bem como possibilitar o acesso universal e igualitário às ações e

serviços, resultando na promoção, proteção e recuperação da saúde da respectiva população.

Métodos

Em 2004, o Estado de Santa Catarina elaborou seu Plano para o Fortalecimento das

Ações de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica e, a partir de uma cooperação

técnica com a Universidade Federal de Santa Catarina, foi elaborado um modelo de avaliação

da atenção básica para o estado. A avaliação da qualidade da atenção odontológica

desenvolvida nesse trabalho fundamenta-se nesse modelo, e sua descrição teórica e

metodológica pode ser visualizada on-line na página do Núcleo de Extensão e Pesquisa em

Avaliação em Saúde - NEPAS (www.nepas.ufsc.br).

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O modelo tem duas dimensões de avaliação: Gestão da Saúde Bucal (“Gestão”) e

Provimento da Atenção Básica em Saúde Bucal (“Provimento”). A primeira é composta pelas

subdimensões Atuação Intersetorial, Participação popular, Recursos humanos e Infra-

estrutura. A dimensão de Provimento da Atenção Básica em Saúde Bucal, com as

subdimensões Promoção/Prevenção e Diagnóstico/Tratamento, tem como focos a Criança, o

Adolescente, o Adulto e o Idoso.

O critério de desempenho utilizado foi qualidade, fundamentado nos conceitos de

Sander6 e Scriven

7. Para os autores, valor e mérito são condições necessárias para um objeto

exibir qualidade. O mérito trata do alcance dos objetivos e metas estabelecidos (eficácia) da

melhor forma que os recursos disponíveis permitirem (eficiência). O valor é o resultado do

desempenho expresso pelos resultados imediatos (efetividade) e pelo impacto das ações

(relevância). Assim os critérios de eficácia, eficiência, efetividade e relevância orientaram a

escolha dos indicadores da matriz avaliativa.

Na dimensão Gestão da Saúde Bucal, foram criados quatro indicadores para cada

subdimensão, totalizando 16 indicadores. Para o Provimento, foram criados três indicadores

para cada subdimensão, resultado da opção de expressar mérito apenas pelo critério de

eficácia, sendo 12 relativos à “Promoção e Prevenção” e outros 12 relativos ao “Diagnóstico e

Tratamento”. Portanto, para avaliar a qualidade da atenção odontológica na atenção básica

municipal foi utilizado um total de 40 indicadores (Quadro 1). Maior detalhamento do modelo

utilizado pode ser encontrado em Colussi e Calvo8, e na página eletrônica do NEPAS citada

acima.

Para o cálculo dos indicadores, foram utilizados dados primários e secundários,

referentes ao ano de 2007/2008. Os dados primários foram obtidos a partir de um formulário,

enviado aos 293 municípios de Santa Catarina nos meses de março a junho de 2008. Ao final

do período, 207 municípios responderam ao formulário. Os dados secundários foram obtidos

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nos bancos de dados eletrônicos oficiais (Datasus e IBGE) e na Secretaria de Estado da Saúde

de Santa Catarina, que forneceu planilhas eletrônicas com dados da produção ambulatorial

dos procedimentos relativos à saúde bucal.

Os valores dos indicadores foram convertidos para escala [0,1] e estratificados

segundo porte populacional em quatro categorias: menos de 5 mil habitantes, de 5 a 10 mil

habitantes, de 10 a 50 mil habitantes e mais de 50 mil habitantes.Com essa conversão, a

análise do desempenho dos indicadores não se baseou em parâmetros pré-definidos, mas

considerou o desempenho relativamente ao observado no conjunto de municípios por

categoria de porte populacional, sendo o valor máximo do indicador o maior valor observado

em algum dos municípios. A soma desses escores em cada dimensão e subdimensão resultou

um valor final ao município, cujo limite máximo equivale ao número de indicadores da matriz

avaliativa, 40 pontos.

A partir do valor final de todas as dimensões e subdimensões apresentado pelos 207

municípios, formulou-se um juízo de valor para a qualidade da atenção em saúde bucal na

atenção básica. Os pontos de corte para o julgamento foram estabelecidos em reuniões dos

pesquisadores envolvidos a partir da análise da distribuição dos escores. Tal análise

estabeleceu como “satisfatórios” os municípios que apresentaram escores maiores ou iguais

ao segundo tercil (22,15 a 40); como “insatisfatórios” os municípios que apresentaram escores

menores do que o primeiro tercil (0 a 18,30);.como “regulares” os demais municípios.

As categorias “regular” e “insatisfatório” do desempenho foram unidas numa

categoria, denominada “insatisfatório”, estabelecendo-se uma variável binária de desfecho em

um modelo de regressão logística múltipla não condicional. As variáveis independentes

consideradas foram “porte do município”, “IDH-M”, “Gasto em saúde bucal”, “Consultórios

odontológicos por habitante” e “Horas do cirurgião-dentista por habitante”. A variável “porte

do município” foi re-categorizada, unindo-se as duas categorias de porte intermediário. A

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categorização da variável IDH-M segue padronização internacional do indicador, porém, a

amostra compõe-se de municípios apenas nas categorias médio e elevado. A variável “Gasto

em saúde bucal” foi calculada a partir do “Total de recursos financeiros investidos em saúde

bucal em 2007”, obtido a partir de formulário enviado aos municípios, que foi dividido pelo

número de habitantes do município, obtendo-se uma nova medida do gasto em saúde bucal

per capita. Foram criadas 3 categorias a partir dos quartis da distribuição observada nos

municípios, sendo a categoria 1 com valores abaixo do 1º quartil (R$ 3,17 hab/ano), a categoria

3 acima do 3º quartil (R$ 14,53 hab/ano), e a categoria intermediária entre essas duas medidas.

A variável “Consultórios odontológicos por habitante” foi calculada a partir do número total

de consultórios do município dividido pelo número de habitantes, sendo categorizada a partir

da distribuição quartílica para os 207 municípios, da mesma forma que a variável “gasto em

saúde bucal”. A variável “Horas do cirurgião-dentista por habitante” consiste no número de

horas semanais dos dentistas da rede municipal dividido pela população total do município.

Suas 3 categorias também foram determinadas a partir dos valores dos quartis, conforme

descrito acima.

A associação das variáveis independentes com o desfecho foi testada em análise

bivariada pelo teste qui-quadrado de Pearson para selecionar as variáveis de inclusão no

modelo( valor de p<0,20). Para a análise por regressão logística, foi empregado o método

Enter. O nível de significância usado para os testes de hipótese e as variáveis do modelo final

da regressão logística foi de p ≤ 0,05. O ajuste do modelo foi avaliado pelo teste de Hosmer-

Lemeshow. Todas as análises estatísticas foram realizadas no SPSS 17.0.

Resultados

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Participaram da avaliação 207 municípios catarinenses, obtendo-se uma taxa de

resposta de 70,6%.

A tabela 1 ilustra sinteticamente os escores médios obtidos nas dimensões e

subdimensões do modelo de avaliação, após a conversão dos indicadores para escala [0,1].

Independentemente do porte do município, a pontuação média dos municípios foi baixa

alcançando 20,2 pontos (DP= 4,45), variando entre 7,95 e 32,47.

Os municípios com menos de 5 mil habitantes e com mais de 50 mil habitantes

atingiram pouco mais de 50,0% dos pontos possíveis, os demais ficaram abaixo, na análise da

média final. O desempenho foi melhor na dimensão Gestão com os municípios alcançando

56,3% dos pontos, enquanto no Provimento o desempenho médio correspondeu a 46,5% do

total. Os de menor porte obtiveram bons resultados na dimensão Provimento, com destaque

nas ações voltadas para adolescente e idoso com alcance de 63,0% e 54,0% dos pontos

respectivamente, melhores desempenhos nesta dimensão.

Na dimensão Gestão o desempenho dos municípios de maior e menor porte foi similar.

Diferenças foram observadas na análise das subdimensões. O melhor desempenho foi

observado em Recursos Humanos (63,3%) como destaque para municípios de porte até 5 mil

habitantes (67,0%) e de 5 a 10 mil habitantes (65,5%). Atuação intersetorial também foi

destaque com os municípios com porte acima de 50 mil habitantes atingindo 68,5% dos

pontos, seguido daqueles de porte entre 10 e 50 mil habitantes (64,0%). O melhor

desempenho na subdimensão Infra-Estrutura foi observado nos municípios de maior porte

populacional (62,5%).

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Tabela 1 - Média final e percentual de alcance máximo dos escores de desempenho da

qualidade da atenção em saúde bucal na atenção básica obtidos nas dimensões e

subdimensões, segundo porte populacional, SC, 2008.

Dimensão/subdimensão

Porte populacional (mil habitantes) TOTAL

< 5

(n=76)

5-10

(n=50)

10-50

(n=62)

> 50

(n=19) (n=207)

Média % Média % Média % Média % Média %

GESTÃO 9,3 58,2 8,7 54,2 8,8 54,9 9,4 58,7 9,0 56,3

Atuação intersetorial 2,4 58,8 2,2 55,8 2,6 64,0 2,7 68,5 2,4 60,5

Participação Popular 2,0 49,0 1,7 42,3 1,7 42,0 2,1 51,5 1,8 45,5

Recursos Humanos 2,7 67,0 2,6 65,5 2,4 60,8 2,1 52,0 2,5 63,3

Infra-estrutura 2,3 58,0 2,1 53,5 2,1 52,8 2,5 62,5 2,2 55,8

PROVIMENTO 12,1 50,2 10,5 43,6 10,7 44,5 11,0 46,0 11,2 46,5

Criança 2,2 37,2 1,8 30,5 2,0 34,0 2,5 41,0 2,1 34,8

Adolescente 3,8 63,0 3,2 53,8 3,0 49,2 2,5 42,0 3,3 54,7

Adulto 2,8 46,7 2,6 43,8 2,8 47,0 3,1 52,3 2,8 46,7

Idoso 3,2 54,0 2,8 46,2 2,9 47,8 2,9 48,7 3,0 49,7

Promoção e prevenção 5,8 48,2 4,9 40,8 4,7 39,2 5,0 41,7 5,2 43,1

Diagnóstico e tratamento 6,3 52,3 5,6 46,3 6,0 49,8 6,0 50,3 6,0 49,8

QUALIDADE FINAL 21,4 53,4 19,1 47,8 19,5 48,7 20,4 51,1 20,2 50,4

Amplitude total dos escores: Gestão (0-16); Atuação intersetorial, Participação Popular, Recursos Humanos e

Infra-estrutura (0-4); Provimento (0-24); Criança, Adolescente, Adulto, Idoso (0-6); Promoção e prevenção,

Diagnóstico e tratamento (0-12); Qualidade final (0-40).

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De maneira geral os piores desempenhos foram observados na Atenção à Criança

(34,8%) e Promoção e Prevenção (43,1%), ambas na dimensão Provimento, e Participação

Popular (45,5%), na dimensão Gestão.

Na análise do desempenho da qualidade da atenção em saúde bucal segundo porte

populacional, observa-se que o maior percentual de municípios classificados como

satisfatórios (42,1%) concentra-se na 1ª categoria, representada por aqueles com menos de 5

mil habitantes, e o maior percentual de classificados como insatisfatórios (44,0%) encontram-

se na categoria com porte de 5 a 10 mil habitantes (Tabela 2).

Na análise bivariada, as variáveis gasto em saúde bucal, consultórios odontológicos

por habitante e horas do cirurgião-dentista por habitante, mostraram-se significativamente

associadas com o desempenho dos municípios e foram inseridas no modelo de regressão

logística. Melhor desempenho associou-se a gasto em saúde bucal acima de R$ 14,53

(p<0,001), relação consultório odontológico acima de 0,67/mil habitantes (p<0,01) e horas do

cirurgião dentista acima de 0,58 horas semanais/mil habitantes (p<0,001).

Na análise multivariada (tabela 3) as variáveis gasto em saúde bucal (p=0,012), horas

do cirurgião dentista/ habitante (p=0,013) e IDH-M (p=0,025) apresentaram associação

independente com desempenho satisfatório dos município na atenção em saúde bucal.

Municípios com gasto acima de 14,53 apresentam quase quatro vezes chance de desempenho

satisfatório comparado aos que investem abaixo de 3,17. Municípios com disponibilidade de

horas semanais do cirurgião dentista acima de 0,58/mil habitantes apresentaram perto de

cinco vezes chance de desempenho satisfatório comparado àqueles com disponibilidade

abaixo de 0,24 horas. Municípios com IDH-M médio aprsentaram menor chance de

desemepnho satisfatório comparado aos de IDH-M elevado (Tabela 4).

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Tabela 2 - Distribuição dos municípios avaliados segundo porte e juízo de valor, Santa

Catarina, 2008

Porte insatisfatório regular satisfatório Total

n % n % n % n %

< 5.000 18 23,7 26 34,2 32 42,1 76 100,0

5.000 ├ 10.000 22 44,0 15 30,0 13 26,0 50 100,0

10.000 ├ 50.000 22 35,5 22 35,5 18 29,9 62 100,0

≥ 50.000 7 36,8 6 31,6 6 31,6 19 100,0

Todos 69 33,3 69 33,3 69 33,3 207 100,0

Tabela 3 – Análise multivariada do desempenho satisfatório na avaliação da atenção em saúde

bucal e fatores associados. Santa Catarina, 2008

Variáveis OR bruto

[IC 95%]

p OR ajustado

[IC 95%]

p

Gasto em Saúde Bucal (R$ hab/ano) 0,000* 0,012*

Abaixo 3,17 1,00 1,00

De 3,17 a 14,53 1,48

[0,74-2,99]

0,271 1,42

[0,66-3,06]

0,368

Acima de 14,53 5,69

[2,52-12,83]

0,000 3,83

[1,54-9,52]

0,004

Horas do cirurgião-dentista (/mil hab) 0,000* 0,013*

Abaixo 0,24 h semanais 1,00 1,00

De 0,24 a 0,58 h semanais 2,39

[1,07-5,34]

0,033 2,10

[0,86-5,12]

0,101

Acima de 0,58 h semanais 6,80

[2,81-16,44]

0,000 4,86

[1,69-13,95]

0,003

IDH - M 0,198 0,025*

Médio 0,68

[0,38-1,22] 0,198

0,45

[0,22-0,91]

Elevado 1,00 1,00

Consultórios odontológicos (/mil hab) 0,008* 0,591

Abaixo 0,27 1,00 1,00

De 0,27 a 0,67 2,39

[1,07-5,30]

0,033 1,38

[0,55-3,45]

0,488

Acima de 0,67 4,00

[1,66-9,63]

0,002 1,78

[0,59-5,33]

0,305

Porte do município 0,121 0,160

< 5.000 1,90

[1,03-3,52]

0,041 2,05

[0,97-4,31]

0,059

5.000 ├ 50.000 1,00 1,00

≥ 50.000 1,21

[0,42-3,45]

0,727 1,08

[0,33-3,48]

0,901

Hosmer e Lemeshow = 0,813

A referência foi o desempenho satisfatório

*Estatisticamente significativo (nível confiança 95%)

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Discussão

A taxa de resposta de 70,6% pode ser considerada satisfatória por se tratar de coleta

indireta, via formulário eletrônico9. Além disso, os municípios de pequeno porte (menos de 10

mil habitantes) corresponderam a 61% do total dos municípios participantes o que assegurou

a proporcionalidade por porte populacional com relação ao estado.

Os municípios com menos de 5 mil habitantes e aqueles com mais de 50 mil

habitantes foram os que tiveram melhores desempenhos nas duas dimensões e no escore final.

Os de menor porte destacaram-se no Provimento, lembrando que as ações de provimento são

aquelas relacionadas ao atendimento da população nas suas necessidades de promoção,

prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças e agravos, enquanto que as ações de gestão

estão voltadas à articulação com outras esferas, à participação popular, e à garantia de

condições de trabalho necessárias para o provimento da atenção básica em saúde bucal. A

finalidade da atenção básica é a mesma em todos os municípios, porém, a priorização local

das ações pode variar de município para município, de acordo com as necessidades políticas e

da população. Chaves e Vieira-da-Silva10

trabalharam com um modelo de avaliação

estruturado também em duas dimensões, denominadas “gestão da atenção à saúde bucal” e

“práticas de saúde bucal”, porém somente dois municípios foram avaliados, e o desempenho

com relação às duas dimensões foi divergente.

Na dimensão “Provimento”, os municípios tiveram pior desempenho na subdimensão

“Promoção e Prevenção” do que na subdimensão “Diagnóstico e Tratamento”. Lourenço et

al.11

encontraram um resultado parecido em Minas Gerais, onde constataram que a maior

parte das ações são voltadas ao atendimento clínico. Nesse estudo, realizado somente com

equipes de Saúde da Família, apenas 50% dos auxiliares (ACD e THD) participam de

reuniões com a comunidade, e 70,8% participam de atividade de prevenção e promoção de

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saúde, percentual este que deveria chegar a 100% em se tratando de equipes de Saúde da

Família.

A atenção à saúde bucal da criança, tradicionalmente prioritária na odontologia, ficou

aqui caracterizada como a subdimensão com pior desempenho dentre as demais do

“Provimento”. Este mau desempenho dos municípios pode estar associado à natureza dos

indicadores utilizados para sua avaliação, pois dos 6 indicadores que compõem essa

dimensão, 4 utilizam dados secundários. Por exemplo, um dos indicadores que compõem esta

subdimensão, denomina-se “atividades coletivas em saúde bucal”, e sua medida baseia-se na

cobertura de procedimentos coletivos em crianças. Este indicador apresentou um dos piores

desempenhos médios de todos os indicadores do “Provimento”, pois não havia informação

sobre procedimentos coletivos em 74 municípios. Além disso, houve uma grande

variabilidade para os que dispunham dos dados. Esses resultados sugerem que a maioria dos

municípios não os realizou na quantidade esperada no período avaliado e/ou não os registrou

corretamente. A instabilidade, a baixa confiabilidade e baixa qualidade dos dados secundários

tem sido apontada por diversos autores,12,13,14

como sendo um dos principais obstáculos à

implementação de processos avaliativos em saúde bucal.

Quanto ao desempenho dos municípios na dimensão “Gestão”, a “participação

popular” foi a subdimensão com pior desempenho dos municípios. A participação popular no

SUS tem se caracterizado no nível municipal pela desarticulação dos conselhos locais de

saúde, pela baixa representatividade dos segmentos, inclusive dos profissionais de saúde, e

pelo desconhecimento dos usuários sobre a existência desse espaço15

. O cirurgião-dentista,

que seria o representante dos interesses no que concerne às políticas de saúde bucal, também

não tem ocupado os espaços nas instâncias de participação popular, fazendo com que a

proposição das diretrizes em saúde bucal aconteça apenas no nível de gestão, trazendo

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conseqüências como inadequação à realidade e a insuficiência ou mau direcionamento de

recursos.

As variáveis ajustadas no modelo mostraram diminuição do odds ratio com relação ao

valor bruto. É possível inferir que este resultado seja devido ao efeito de confundimento

causado pelas inter-relações das variáveis independentes, pois o município que tem maior

número de horas dos CDs e maior número de consultórios proporcionalmente à sua

população, vai apresentar maior gasto em função de pagamento de recursos materiais e

humanos. As variáveis “consultórios odontológicos por habitante” e “porte populacional”

perderam significância estatística quando ajustadas no modelo.

O gasto em saúde bucal, que retrata o quanto o município investiu na área, aparece

como a variável mais fortemente associada ao bom desempenho do município na atenção

básica em saúde bucal. Municípios com gasto acima de R$14,53 por habitante/ano

apresentaram uma chance 3,8 vezes maior de ter desempenho satisfatório, quando

comparados aos municípios com menor gasto.

Faria, Jannuzzi e Silva16

, ao analisarem a eficiência dos gastos em saúde e educação

no Estado do Rio de Janeiro utilizando a análise envoltória de dados, encontraram que a

eficiência dos municípios não esteve relacionada à disponibilidade maior ou menor de

recursos. Os autores afirmam que “é possível que um município gaste muito e, ao mesmo

tempo, gaste mal os seus recursos, enquanto outro gasta pouco, porém, investe bem, usando-

os com eficiência. O mesmo pode ser dito a respeito da renda dos municípios e de suas

eficiências. Ou seja, municípios pobres podem ser eficientes nos gastos públicos, no caso

gastos em educação e saúde, enquanto municípios mais ricos podem obter eficiência muito

baixa”.

Com a mesma metodologia do trabalho anteriormente citado, o Instituto de Pesquisa e

Estratégia Econômica do Ceará - IPECE17

investigou os determinantes da eficiência dos

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gastos públicos municipais em educação e saúde no Ceará, e encontraram uma relação direta

entre o gasto em saúde per capita e a eficiência dos municípios. Porém, os autores colocam

que essa contribuição dos gastos para o aumento da eficiência se deu numa proporção bem

mais baixa do que o IDH-M, “confirmando assim o pressuposto de que o aumento da

eficiência está mais ligado a boas condições sociais (em educação, saúde e renda) que o

município oferece aos seus habitantes do que ao aumento dos gastos como tentativa de

melhoria de bem estar” 17

.

Chaves e Vieira-da-Silva10

, ao buscarem os fatores que podem estar contribuindo ou

obstando o processo de reorganização da atenção à saúde bucal no setor público, concluíram

que o financiamento por si só não é suficiente para justificar as diferenças na atenção à saúde

bucal. Diante do mesmo volume de recursos, as autoras encontraram diferentes impactos na

organização do setor de saúde bucal nos municípios avaliados.

Baldani, Almeida e Antunes18

, ao associarem o gasto em saúde com indicadores de

condição de vida (IDH-M, habitação, renda e escolaridade) no Paraná, verificaram que os

municípios que possuíam maior despesa total per capita eram aqueles com os piores

indicadores de condição de vida. Estes municípios também foram os que investiram mais

recursos próprios em saúde e receberam o maior montante de transferências PAB per capita.

A variável IDH-M mostrou-se significativamente associada ao desempenho municipal

na atenção básica em saúde bucal após ajuste do modelo, de modo que municípios com IDH

médio apresentam-se com menor chance de apresentar desempenho satisfatório do que

aqueles com IDH elevado.

A hipótese que fundamentou a busca de uma associação entre o IDH Municipal (IDH-

M) e o desempenho municipal na atenção básica em saúde bucal é a de que a estruturação dos

serviços de saúde de um município não está desvinculada de um contexto social que envolve

educação, renda, entre outros fatores. Souza e Roncalli19

, ao associarem o IDH-M com o

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desempenho dos municípios do Rio Grande do Norte na avaliação da incorporação da saúde

bucal no PSF, encontraram que os municípios classificados com um perfil insatisfatório ou

pouco satisfatório tinham IDH-M baixo ou médio, e os cinco municípios classificados em

condição de avanço do modelo assistencial, portanto com um perfil satisfatório, eram os que

tinham IDH-M alto.

Henrique e Calvo20

, ao investigarem a associação entre o grau de implantação do PSF

e indicadores sociais, encontraram uma tendência inversa, com maior proporção de

municípios com IDH-M médio na categoria satisfatório e com IDH-M alto na categoria

insatisfatório.

Na saúde bucal, o IDH-M tem sido mais freqüentemente associado às condições de

saúde bucal da população a partir de dados epidemiológicos, do que ao serviço e seu

desempenho. Baldani, Almeida e Antunes18

tentaram associar o IDH-M com o número de

equipamentos odontológicos e cirurgiões-dentistas atuando no serviço público nos municípios

do Paraná, e também não encontraram associação significativa.

A variável “horas do cirurgião-dentista por habitante” também se mostrou significativa

na análise multivariada, sendo que municípios que possuem mais de 0,58 horas semanais do

cirurgião-dentista por mil habitantes.apresentaram uma chance quase 5 vezes maior de ter o

desempenho satisfatório do que os municípios com menor quantidade de horas.

Junqueira et al.21

, ao relacionarem indicadores sociais com características do serviço

odontológico público municipal, encontraram que o número de equipamentos odontológicos

foi proporcional à maior porcentagem de analfabetismo e de renda insuficiente; e aos piores

índices de renda média e de condições de vida. No mesmo estudo, quanto melhor a receita

municipal per capita, maior foi o número de equipamentos odontológicos adquiridos pelos

municípios, e os municípios com menor renda média, porém com Índice de Gini maior,

apresentaram uma tendência de possuir maior proporção de equipamentos odontológicos.

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Quanto aos recursos humanos, os mesmos autores encontraram que quanto piores os

indicadores sociais (renda insuficiente, analfabetismo e renda média familiar), maior foi o

número de auxiliares e de CD no serviço público municipal.

O modelo apresentado teve melhor poder preditivo para o desfecho “insatisfatório”

(86,2%) do que para desfecho “satisfatório” (46,4%). Se o município não investe mais de

14,53 R$/hab/ano com saúde bucal, se não possui profissionais com carga horária de modo

que se tenha mais de 0,58 horas semanais/mil habitantes, e se não apresenta IDH-M elevado,

suas chances de ter desempenho insatisfatório ficam significativamente aumentadas.

Diante das controvérsias quanto aos fatores que determinam o melhor ou pior

desempenho dos municípios com relação à disponibilidade de recursos, sejam financeiros,

materiais ou humanos, Lubambo22

coloca que não há dúvidas sobre o fato de que os

municípios vêm assumindo maior autonomia e mais responsabilidades na provisão de bens e

serviços públicos, ainda que de forma seletiva e na medida de suas possibilidades. No entanto,

algumas gestões tem se destacado mais que outras, sem que se tenha chegado a justificativas

bastante convincentes para os seus desempenhos. Segundo o autor, se por um lado inexistem

referências teóricas que proponham a correspondência entre os determinantes do êxito e uma

dada tipologia de gestão, de outro, empiricamente, as análises têm focalizado estudos de caso

que acabam por atribuir forte significado aos contextos locais. Ele afirma que “embora as

especificidades locais sejam limitadoras à existência de um modelo único de gestão exitosa, é

possível identificar similaridades entre os fatores determinantes do bom desempenho em

gestões, sobretudo quando os casos se referem a municípios de pequeno porte”22

.

Nos municípios de menor porte dentre os 207 municípios avaliados, é possível

identificar essas similaridades referidas por Lubambo22

, pois aqueles que tiveram desempenho

satisfatório foram os que tiveram maior gasto com saúde bucal per capita, e tiveram maior

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proporção de horas de CDs. Já com relação aos municípios de maior porte, não é possível essa

identificação de características determinantes do seu bom desempenho.

Na aplicação deste mesmo modelo de avaliação em Santa Catarina, para a Atenção

Básica como um todo, os municípios de menor porte têm apresentado melhores desempenhos

do que os de maior porte 23

. Viana et al.24

colocam que apesar dos municípios de maior porte

terem maior disponibilidade de oferta de serviços de saúde relativos a outros níveis de

atenção, a qualidade e capacidade de resposta dos serviços fica limitada, e a atenção básica,

na maioria das vezes, encontra-se desarticulada, mal distribuída, mal-equipada, entre outros

fatores. Machado, Lima e Viana25

identificam alguns problemas com o PSF nos municípios

de grande porte, dentre os quais destaca-se a insuficiente cobertura populacional, as

deficiências de infra-estrutura, insumos e equipamentos, os problemas de sustentabilidade

financeira, de gestão e capacitação profissional, do sistema de referência para serviços de

maior complexidade e da diversidade dos modelos de inserção do PSF na Atenção Básica.

O fato de um município possuir serviços odontológicos em quantidade suficiente e

bem distribuídos, segundo Pinto26

, não é suficiente para garantir o controle dos problemas de

saúde bucal população, é preciso que estejam corretamente organizados e tenham fontes de

financiamento “sólidas e perenes”. Para Chaves e Vieira-da-Silva10

, a existência de um

projeto de reorganização das práticas de saúde, de capacidade técnica e governabilidade para

implementá-lo são aspectos favoráveis que podem influenciar no melhor desempenho dos

municípios quanto às ações de saúde bucal.

Considerações finais

Um dos principais obstáculos à implementação de processos avaliativos em saúde

bucal é a baixa qualidade dos sistemas de informações disponíveis, uma vez que os

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indicadores de avaliação invariavelmente envolvem a utilização desses dados. Considerando-

se as diretrizes do Ministério da Saúde em relação à reorientação do modelo de atenção em

saúde bucal, Padilha et al.14

ressaltam que tal fato é digno de preocupação, pois um dos

pressupostos dessa reorientação seria o acompanhamento do impacto das ações de saúde

bucal por meio de indicadores adequados, o que implicaria na existência de registros fáceis,

confiáveis e contínuos.

Apesar de alguns indicadores possuírem parâmetros estabelecidos na literatura, estes

não foram utilizados, assim como não foram estabelecidos padrão-ouro para os indicadores

sem parâmetros existentes. O desempenho dos indicadores foi relativizado com os demais

municípios de mesmo porte. Sobre isso cabe salientar que o modelo proposto pretende avaliar

a gestão municipal, o que implica em considerar as prioridades locais em detrimento de metas

impostas por parâmetros pré-definidos. Dessa forma, a comparação com semelhantes foi

considerada mais adequada que o estabelecimento de parâmetros fixos para todos os

municípios.

O produto desse trabalho pode contribuir para a melhoria da qualidade da atenção

odontológica, na medida em que gera informações que possibilitam a identificação dos pontos

nos quais os gestores municipais devem aperfeiçoar suas ações, assim como a identificação do

seu desempenho relativo em comparação a municípios de mesmo porte. Em contrapartida,

essas informações podem auxiliar nos processos de tomada de decisão, planejamento,

distribuição de recursos e priorização das ações em saúde bucal. Trata-se de um instrumento

que pode ser utilizado no gerenciamento e avaliação desses serviços, de forma a contribuir

para a incorporação da avaliação como prática sistemática nos serviços de saúde.

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