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Quando o Amor é quase Perfeito

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Quando o Amor é quase Perfeito Primeiro Romance da Trilogia de Bhia Beatriz

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PREFÁCIO

Espero que você não seja uma pessoa como eu, que quase nunca lê prefácio. Quando pego um livro, geralmente vou direto para o primeiro capítulo, pulando prefácio, apresentação e introdução. Quero logo mergulhar na essência do escritor, no mar das suas idéias e navegar nas águas revoltas ou plácidas de suas memórias. Quando chego ao final do último capítulo, se o livro me emocionou, se me fez rir ou chorar, se me fez pensar, se me encantou, aí sim leio o prefácio e tudo mais que puder me manter ali mergulhada naquelas emoções, bem pertinho daqueles personagens que me emocionaram, que me encantaram, que durante algum tempo se tornaram reais na minha mente. Do contrário, os prefácios ficam esquecidos por mim nas páginas do tempo. Pelo menos era o que acontecia até agora. “Terminou o poema às pressas e saiu de cena correndo. Nem percebeu os aplausos que todos agora lhe dedicavam. Ela dominou e encantou aquela platéia, mas desconhecia o poder que possuía. E saiu dali julgando-se uma perdedora.” ..................................... “Phoenix sentia-se plena quando estava no palco, era o único lugar do mundo que a fazia feliz, forte, poderosa e iluminada.” Estes são dois fragmentos de QUANDO O AMOR É QUASE PERFEITO! Dois fragmentos que traduzem claramente a trajetória desta personagem em sua vida nesta dimensão chamada terra. Tudo em sua vida era muito intenso, fazendo-a deslizar do medo à glória, do anonimato à fama, da dor ao amor e do amor à dor sem reservas, por inteiro. Ao receber uma cópia desta delicada obra, QUANDO O AMOR É QUASE PERFEITO, era o final de mais um dia comum de trabalho, um lindo pôr-do-sol se fazia presente quando iniciei sua leitura. Quando terminei de ler, com o rosto banhado em lágrimas, o sol se fazia presente no céu novamente, só que agora ao nascer de um novo dia. Acompanhei a trajetória sofrida de Phoenix com emoção à flor da pele, com minha alma às vezes torturada por seu sofrimento e às vezes leve e lavada por seu espírito de liberdade, de

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amor, de sabedoria e de coragem para renascer sempre das cinzas das suas dores. Phoenix era sempre muito intensa em tudo que decidia fazer, talvez por isso, sofreu tanto em seu aprendizado neste planeta, mas certamente também por isso a vida lhe concedeu tantos momentos especiais como quando estava no palco atuando, livre, iluminada, forte e feliz. Mais feliz que no palco, só quando estava com Ícaro, quando a vida transcendia todos os sentimentos e se fundia em um único, muito maior: O AMOR. QUANDO O AMOR É QUASE PERFEITO é muito mais que uma história de amor, é uma reflexão sobre atitudes, oportunidades, momentos especiais que vivemos intensamente ou que deixamos passar sem nunca mais podermos resgatar apesar de todos os esforços. Nesta linda história, Phoenix e Ícaro... bem, se você faz como eu, que primeiro lê a história para depois ler o prefácio é sinal de que você já leu toda a história e conhece o seu final. Porém, se ainda não leu comece já, não deixe para mais tarde oportunidades que podem desaparecer e nunca mais voltar. Tenho certeza, que você vai adorar a leitura. De minha parte, após escrever este prefácio, o que fiz com muita honra, prometo que nunca mais vou deixar de ler todos os prefácios, preferencialmente antes de mergulhar no mar de idéias das histórias. Ler o prefácio dos livros nos torna próximos de alguém que já vivenciou a experiência, que conheceu a mensagem do autor antes de nós e que agora está compartilhando suas emoções. E um ato de compartilhar, de certa forma é sempre um ato de amor. Sentimento tão nobre e do qual o mundo tanto carece! Maria Helena Santos. Publicitária, Instrutora de Yoga e Escritora. Porto Alegre, 2012.

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Agradecimentos a todos que contribuíram para a criação e publicação desta obra.

Especial agradecimento a você que está lendo agora. Bhia Beatriz

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Capítulo 1 - O Primeiro Protesto

Capítulo 2 - As Rosas Amarelas

Capítulo 3 - A Iniciação

Capítulo 4 - A Dimensão da Poesia

Capítulo 5 - Os Menestréis

Capítulo 6 - Os Rituais

Capítulo 7 - O Palco

Capítulo 8 - A Escolha

Capítulo 9 - O Renascer das Cinzas

Capítulo 10 - A Cantora

Capítulo 11 - Os Sonhos de Ícaro

Capítulo 12 - O Destino

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uando o bebê chora ao nascer, todos ficam felizes, pois reconhecem, de imediato, o primeiro sinal de uma vida que se inicia saudável. Não foi diferente com ela. Todos se alegraram mas,

talvez porque eram adultos, não conseguiram perceber que aquele era um choro diferente, era um choro de protesto. Phoenix não queria nascer na Dimensão Terra, pois ali iniciava o período em que ficaria separada de quem lhe era muito caro. Mas, que bobagem, não era ela quem decidia o rumo que sua vida tomaria. Nasceu. .. Nasceu, e chorou, aparentemente o choro de todos os bebês, mas soube, naquele momento, que não seria compreendida por quem havia chegado aqui antes dela. Na casa muito pobre, curiosamente instalada à frente do único cemitério da cidade, foi onde Phoenix chorou pela primeira vez, com toda a força de seu sadio pulmão. Seu choro, embora aplaudido por aqueles que presenciaram o nascimento, era na verdade seu primeiro protesto, pois “sabia” que sua trajetória teria muito sofrimento. ... Ao nascer havia esquecido a razão que lhe roubara a felicidade, e agora, não podia entender o que estava acontecendo, pois sua vida na Dimensão Terra já completava sete meses, mas em seu íntimo continuava sofrendo, mesmo sendo ainda um bebê. Num processo inconsciente, seguia protestando, e nesses sete meses de existência, havia chorado a maior parte do tempo, não conseguindo alimentar-se nem dormir o bastante para continuar crescendo. Phoenix contraiu uma doença que lhe atingiu diretamente os ossos, transformando-a num bebê raquítico, que sofria dores horríveis, chorando dia e noite. Talvez Phoenix acreditasse que ainda poderia trilhar o caminho de volta, pois não havia outro colo que a acalmasse além do colo de sua mãe biológica. Todos naquela grande família, lutavam desesperadamente para salvar a vida de Phoenix. Até mesmo os vizinhos traziam suas contribuições. E tudo o que era ensinado, eles faziam, passando pela patologia clínica e indo até crenças e auxílios espirituais de toda a natureza.

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Mas ela lutava ardentemente para pôr fim à sua existência, e tudo o que desejava era voltar à Dimensão do Amor Perfeito, onde era feliz ao lado de sua alma gêmea. Havia, porém, um caminho traçado para ela e seus protestos não foram suficientes para interrompê-lo. Os Grandes Deuses que haviam trazido Phoenix para a Dimensão Terra colocaram no caminho da família dela um velho sacerdote que, num encontro bastante casual com seu pai biológico, trouxe a solução para a terrível doença que a menina havia contraído, interrompendo, dessa forma, os planos dela. E Phoenix, então, passou a ser tratada com as homeopatias do velho sacerdote, que nunca mais fora visto, mesmo sendo aquela uma cidade muito pequena. Assim tratada e recebendo alimentação especial durante alguns anos vinda de uma família tradicional da cidade, a menina cresceu, curando-se daquela terrível doença. Foi, aos poucos, recuperando a saúde e ganhando uma melhor aparência. Em virtude do problema enfrentado, Phoenix passou a ser o centro das atenções. Todos agora, dedicavam-se a ela, que crescia rapidamente e já experimentava o carinho de todos que a rodeavam. Até mesmo pessoas de longe, que não a conheciam, costumavam vir visitá-la, pois ouviam a história de como fora milagrosamente curada pelo velho sacerdote. ... Quando estava com quatro anos a menina começou a perceber que algo havia mudado à sua volta, mas não conseguia compreender o que era. Passava longas tardes brincando sozinha pois não havia ninguém que pudesse estar com ela e já não via mais pessoas estranhas que costumavam apertar suas bochechas e encantar-se com sua beleza. Phoenix brincava, sem saber o que fazer. Às vezes chorava longas horas, mas chorava baixinho, com medo que alguém viesse brigar com ela. A menina já estava até se acostumando. Embora tenha recebido outro nome, tão logo conseguiu, trocou-o para Phoenix, nome este que já lhe acompanhava

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desde o princípio dos tempos; pois, também aqui, na Dimensão Terra, haveria de renascer das cinzas. O dia nasceu, igual a qualquer outro. Um sol brilhante que já trazia com seus primeiros raios o calor intenso de mais um dia de verão. Tudo parecia igual. Phoenix já estava começando a acostumar-se com a idéia de que não poderia mudar a realidade. Ainda não gostava de estar na Dimensão Terra, pois a falta daquele que ficara lá na Dimensão do Amor ainda lhe machucava a alma. Sua saudade, porém, agora já fazia parte do plano inconsciente. Phoenix havia completado 4 anos de vida na Terra e isto mudara sua maneira de ver as coisas. Naquela manhã de verão, Phoenix acordou para mais um dia de brincadeiras, carinhos e manhas da sua infância. Já estava até gostando, pois era o centro das atenções daquela família. Mas o dia lhe reservava uma surpresa; a sua primeira grande perda haveria de acontecer assim, naquele cenário cheio de luz e calor. Mas a luz daquele sol de verão e o calor de todas as pessoas que faziam parte daquele dia na vida de Phoenix, não conseguiam aquecer sua alma. Ao contrário disto, a menina sentia-se triste e abandonada. Acordou sentindo um frio que não sabia explicar. Chorava e não queria sair da cama. A menina sentia-se fraca, sem energia, mas não saberia explicar, pois era ainda uma criança, e as crianças raramente são compreendidas pelos que já viveram um pouco mais, os chamados "adultos". Phoenix olhou ao redor, sabia que havia algo de errado e, embora não pudesse entender com clareza, sentia que estava perdendo alguma coisa. Fechou os olhos e tentou dormir outra vez. Mas vieram as "pessoas adultas" e disseram coisas que a menina não sabia traduzir em palavras, mas ficou com a sensação clara de que não a deixariam dormir. Entendeu que não conseguiria fugir daquele dia, que para ela estava triste e frio. A menina levantou, resmungou alguns sons de protesto, esfregou os olhos e, como a sensação de perda continuava muito forte, correu para os poucos brinquedos que possuía e pôs-se a conferir, desejando que sua perda estivesse alí. E quanto mais desejava descobrir o que faltava, maior era a certeza de não haver perdido nenhum daqueles pobres brinquedos.

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Desesperada, a menina correu até o quintal, na esperança de que sua sensação de perda ficasse resolvida pois, acabara de lembrar-se do mundo que havia construído com pedras, galhos de árvores e flores no quintal da casa em meio ao arvoredo. O quintal era o único lugar de seu mundo onde Phoenix podia ser feliz, quando conseguia ficar só. Brincava no meio daquelas árvores com seus "amigos invisíveis", para quem ela sempre confidenciava não gostar de estar na Dimensão Terra. Seus "amigos" explicavam que era necessário que ela permanecesse aqui, pois havia uma razão para isto, e falavam ainda o quanto esta dimensão era rica, e de como era um privilégio estar aqui. A menina sempre explicava aos seus "amigos", que não era a Dimensão Terra, o planeta, que a incomodava. E contava sempre, e repetia sempre a mesma história de seu grande amor, sua alma-gêmea que havia ficado na Dimensão do Amor, e que sua resistência a esta experiência de viver aqui era somente pela falta que sentia desse amor. Outro dia um adulto a viu brincando com os "amigos invisíveis" e escondeu-se para ouvir o que a menina falava; teria sido de grande prejuízo para ela se a "pessoa adulta" tivesse entendido o que ela falava. Mas os "amigos invisíveis" avisaram a menina e passaram a falar em outra língua. A "pessoa adulta", que era daquelas que pensam que criança é um ser que não se deve levar a sério, desinteressou-se pelo assunto, pois chegou à conclusão que ela estava só enrolando a língua, por não saber falar direito. Mas, naquele dia de verão, quando Phoenix correu ao quintal, encontrou seu mundo de brinquedo intacto, nada faltava, o que aumentou ainda mais seu desespero. De onde, então, viria aquela sensação de perda? O que estava perdendo? O que era aquilo que sentia antes de saber? Ela sabia que logo descobriria o que estava perdendo, mas a premonição lhe deixava louca, pois sentia nitidamente que perdia e nada podia fazer por não saber o que era que estava perdendo. Recorreu aos "amigos invisíveis", mas eles não estavam lá. Haviam se recolhido. Pareceu que o mundo desabava sobre sua cabeça. A menina desesperou-se, voltou a entrar na casa e foi chorando procurar a mãe. Aquela mulher era o único elo que a prendia a esta dimensão, pois havia passado um tempo dentro de seu corpo e fora a única coisa realmente boa que

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havia vivido desde que separou-se de sua alma-gêmea. Depois de algum tempo, que para Phoenix havia sido muito curto, fora expulsa daquele lugar quentinho; aquela mulher não a queria mais, talvez estivesse cansada de carregá-la em seu corpo, talvez a mulher não gostasse daquilo; Phoenix não sabia; só o que sabia era que fora expulsa dali e mal havia chegado naquele mundo desconhecido, sentindo-se toda melecada, seu corpo sofria o impacto de um ambiente hostil, não conseguia respirar, uma luz muito forte e clara feria seus olhos e, como se tudo isso não bastasse, sentiu um forte impacto numa parte do seu corpo macio. Só mais tarde foi entender que havia recebido um "tapa". Phoenix chorou forte. As pessoas que assistiram seu nascimento ficaram contentes de vê-la chorar. A menina já havia pensado muito sobre isso e não conseguia entender. Seu choro foi a maneira que encontrou de dizer "não quero nada disso, deixem-me voltar ao meu mundo, deixem-me em paz, eu quero a minha casa, lá onde sou muito amada, me tirem daqui, eu não quero ficar aqui" e, apesar de seu protesto, as "pessoas adultas" sorriam e diziam: - é uma menina saudável. Sua mãe havia chorado também, Phoenix lembrava agora que, naquela ocasião ainda pensou: "esta mulher é a única que me entende". O que Phoenix jamais saberia é que aquela mulher chorava pois não havia planejado este nascimento e sabia que seria mais um ser naquela casa a passar trabalho e, quem sabe, até fome. Correndo e chorando a menina procurou por sua mãe por toda a casa. Havia perdido a noção de tempo pois aquele dia estava muito diferente dos outros que já havia vivído. Mesmo sem saber onde poderia encontrar sua mãe, recorreu a todas as peças da casa, deixando por último o quarto dela, pois quando Phoenix acordava sua mãe sempre estava de pé. Nunca a encontrara na cama, até chegou a formar uma imagem de que aquela mulher era diferente de todos, talvez não fosse humana, pois parecia não dormir nunca; ou, talvez dormisse de maneira diferente, ela não conseguia entender, mas também não era uma questão muito importante, por isso não havia se aprofundado na busca de uma resposta que a convencesse. Agora tivera novamente a sensação de que esta mulher não era humana, mas seguiu procurando-a numa busca insana e desesperada, pois sabia que era sua única saída.

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De algum ponto dentro de sua alma vinha a certeza de que aquela mulher possuía a resposta para seu desespero. E Phoenix, que já se dividia entre o comportamento humano e os flasches de sua verdadeira origem, que vinham em sua memória, acreditou então que no momento que encontrasse sua mãe aquela sensação de perda a abandonaria e, no colo daquela mulher, ninguém poderia fazê-la perder coisa alguma. Alí estava a sua segurança, seu abrigo, sua fortaleza, sua felicidade. Quando a menina chegou à porta do quarto de sua mãe, pôde ouvir os gritos de dor que vinham lá de dentro. Reconheceu de imediato a voz de sua mãe e, por razões que não saberia explicar, esqueceu seus problemas e o desespero que sentia desde o amanhecer e que lhe torturava; e naquele momento desesperou-se por ela, pois percebeu que sua mãe sofria. Abrindo mão de sí mesma, correu em direção de sua mãe na doce ilusão infantil de que poderia levar conforto e carinho àquela mulher. Foi quando uma enorme mão a segurou pelo braço, impedindo-a de seguir. Ela, na sua inocência, explicou que precisava estar com sua mãe, pois esta estava sofrendo. A mão enorme e bruta apertou ainda mais seu bracinho infantil e a "pessoa adulta" disse: - isto não é lugar para criança, saia daqui, vá brincar. Phoenix chorou ainda mais e protestou como pôde, mas não foi o bastante. A "pessoa adulta" já lhe arrastava para fora, enfiou-lhe uma mamadeira na boca e deu ordens para que a menina parasse de chorar e fosse brincar, que não incomodasse mais, estavam todos muito ocupados e não havia tempo para se preocuparem com bobagens de criança. A menina só esperou que aquela "pessoa adulta" saísse de perto, atirou longe a mamadeira ainda cheia de leite que, apesar de gostar tanto, agora lhe causava ânsias de vômito e correu desesperada pelo quintal, que não era tão grande assim. Corria em torno das árvores e chorava desesperadamente chamando seus "amigos invisíveis"; chamava baixinho para que as "pessoas adultas" não ouvissem. E Phoenix correu no meio daquelas árvores até cair exausta. Quando seu corpo parou, a mente foi desacelerando, até que conseguiu atingir o lado racional de seu cérebro; embora essa razão não pudesse dispor de todos os elementos que necessitava, devido à transição que ainda vivia, passando

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com alguma facilidade entre os dois mundos. Talvez tenha vivido alí seu primeiro transe pois quando percebeu novamente o mundo à sua volta, Phoenix estava sentada numa pequenina cadeira de palha que havia sido feita especialmente para ela, e se viu dentro de um galpão que havia naquele quintal, todo coberto de sapê. O galpão não tinha paredes mas era tão cheio de madeiras e coisas que as "pessoas adultas" guardavam que ficava todo fechado, tendo apenas corredores pelo meio daquelas madeiras. E Phoenix estava paralisada, sem conseguir gritar, chorar ou proferir qualquer palavra. Seu rostinho delicado de criança, era agora a máscara do esgar, um pavor percorria todo o seu corpo, deixando-a paralisada. Phoenix não sabia o que fazer e, mesmo que soubesse, tinha a certeza de que não conseguiria fazer nada pois não conseguia mover nenhum músculo, nem mesmo da face. Conforme viria a descobrir mais tarde, toda a sua vida seria marcada pela intensidade. Qualquer que fosse a experiência que tivesse que viver, seria sempre muito forte, como naquela manhã de sol, quando então descobriu o medo. A experiência que estava vivendo naquele momento ia muito além do medo, era um medo que chegava às raias do pavor. Phoenix guardaria para sempre em sua memória aquela imagem, que lhe causara tamanho torpor; quando voltou a sí e viu aquela viúva negra, horrível, enorme, que descia de seu colo indo lentamente até o chão, onde desapareceu no meio daquelas tábuas. Phoenix não tinha forças para sair dali correndo e pedir ajuda, só conseguiu encolher-se toda em sua pequena cadeira e lembra de ter chorado baixinho. Chorava convulsivamente mas, apesar de ser criança, acabara de aprender que seu choro incomodava as "pessoas adultas" e Phoenix não gostava de incomodar ninguém. Foi por isso que chorou baixinho, o que repetiria por toda a vida, sempre se escondendo das pessoas quando as coisas não estavam bem. Phoenix não sabe quanto tempo ficou chorando abandonada, naquele galpão, só sabe que foi um tempo muito grande pois não havia tomado nenhuma mamadeira naquele dia. E aquela refeição que todos faziam juntos, sentados à mesa, também não havia acontecido naquele dia.

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E permaneceu alí chorando baixinho, e pedindo aos seus "amigos invisíveis" que viessem tirá-la daquela situação horrível, que a deixassem voltar para o seu mundo, que parecia cada vez mais distante e mais difícil de tocar. Quando o sol, de quem ela gostava tanto e naquele dia tinha sido tão ingrato e tão frio com ela, quando o sol já estava se despedindo e o escuro tomava conta de tudo muito rápido, a menina, que não havia parado de chorar, ouviu seu nome gritado pelas "pessoas adultas". E várias delas gritavam seu nome, e suas vozes vinham de várias direções, às vezes junto, outras vezes intercalando-se e, Phoenix pensava, no meio do seu choro "não vou responder, assim eles não poderão me encontrar neste escuro e vão me deixar em paz". O que ela não sabia, em sua inocência de criança, era que seu choro, por mais baixo que fosse, poderia ser ouvido àquela hora da noite, pois o barulho diminui quando o sol vai embora, dando lugar ao silêncio, que é fiel companheiro da noite em lugares como aquele onde ela se encontrava. E quando Phoenix foi encontrada, sem saber dos horrores que a menina havia passado e, sem ao menos pensar nessa possibilidade. Aquelas "pessoas adultas" tiraram Phoenix daquele lugar preocupadas apenas em chamar-lhe a atenção para o trabalho que ela havia lhes dado escondendo-se. Enfiaram a menina dentro de uma tina cheia de água morna, para um banho quente, com a preocupação de que ela não poderia adoecer. Novamente uma mamadeira na boca, sem considerar o fato de que a fome que Phoenix sentia não era a fome física mas a falta de carinho, de ternura. E foi dessa forma que colocaram Phoenix na cama dando ordens para que dormisse. A menina não se arriscou a dizer uma única palavra, não conseguia nem mesmo perguntar por sua mãe. Apenas jogou para o lado a mamadeira, novamente cheia de leite, pois não conseguia engolir coisa alguma, e chorou baixinho até que dormiu, vencida pelo cansaço daquele dia tão horrível. Foi a partir de então que começaram os pesadelos que lhe acompanhariam por muitos anos, até o dia em que conseguiu livrar-se deles. No dia seguinte Phoenix acordara cansada daquela noite cheia de pesadelos, ou talvez o dia anterior também tivesse sido um grande pesadelo.

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Mas logo seus problemas recomeçaram. Quando já estava decidida a viver, apesar de tudo, atribuindo a pesadelos o que havia acontecido, ouviu um choro de bebê. Sem entender, Phoenix pensou que a única boneca que possuía teria então chorado. Mas como poderia? Mesmo sendo uma criança ela sabia que bonecas não podiam chorar. Não, era uma coisa de dentro da sua cabeça, talvez ela só estivesse com muita fome, não havia nenhum choro de ninguém. Mal chegara a esta conclusão, o choro veio novamente. Largou sua mamadeira que mal havia começado a tomar e, movida pela curiosidade, correu em direção àquele choro, que era cada vez mais forte. O choro vinha do quarto de sua mãe. Não podia ser, aquele não era o choro de sua mãe e Phoenix conhecia alguns bebês que eram trazidos à sua casa, aquilo era o choro de um bebê. Ao chegar à porta do quarto de sua mãe, o choro havia parado. Foi o silêncio que trouxe à mente de Phoenix todas as imagens do dia anterior, passando tudo muito rápido pela sua cabeça, fazendo com que seu corpinho infantil paralisasse do lado de fora daquele quarto, cuja porta estava entreaberta. E, com uma sensação de pavor que lhe percorria todo o corpo, a menina saiu dali correndo e chorando, sem conseguir controlar-se, esbarrando numa "pessoa adulta" que vinha em direção ao quarto de sua mãe. A "pessoa adulta" pegou-a no colo querendo saber porque Phoenix chorava; fez um comentário do quanto a achava esquisita e levou-a para o interior do quarto. Phoenix assustou-se ainda mais quando viu sua mãe deitada, sorrindo, e dando de mamar a um bebezinho. Phoenix nunca tinha feito aquilo. Sempre que tinha fome lhe davam uma mamadeira, mas ela já havia visto as mães dos bebês que vinham à sua casa dando de mamar numa mamadeira que saía de seus próprios corpos, assim como sua mãe fazia agora com aquele bebê. Phoenix não saberia explicar mas, ainda assim, naquele momento, entendera que alí estava a sua perda, o que se confirmou logo em seguida, quando pediu para deitar-se com sua mãe e, novamente uma "pessoa adulta" disse que ela não podia ficar alí, pois sua mãe tinha que ficar com o bebê e não poderia cuidar dela, que certamente iria atrapalhar. A "pessoa adulta" levou-a para fora e mandou que Phoenix fosse brincar.